Jornal da Imagem
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Caderno 2 Parte integrante da Edição nº 338 Outubro de 2006| 2006 São–Paulo | OUTUbro Jornal da Imagem Caderno 2 Este encarte contém quatro casos apresentados no Clube Roentgen de setembro pelos residentes do InRAD–HC/FMUSP e quatro Casos do Dia apresentados no X Curso Feres Secaf, em agosto de 2006 Caso 1 • História clínica Masculino, 44 anos, com hematúria microscópica em um exame de urina de rotina, em investigação. Figura 1 Tomografia computadorizada de abdome nas fases pré-contraste, cortical e medular evidencia formação expansiva cortical, bem definida, homogênea, com intenso realce heterogêneo pelo meio de contraste iodado delimitando área de cicatriz central e que determina lobulação do contorno renal e distorção do sistema coletor. Caso 2 Figura 2 – Radiografia das mãos em AP (A) caracteriza hipoplasia dos metacarpos e falanges da mão esquerda, facilmente notável quando se compara com a mão contra-lateral. A fotografia das mãos do paciente (B) demonstra esta deformidade. Radiografia de tórax em PA (C) demonstra hipoatenuação dos campos pulmonares superiores, em função da hipoplasia dos músculos peitorais menor e maior que é visto com a ausência da sombra e linhas dos contornos destes músculos, principalmente na projeção axilar. • História clínica Masculino, 15 anos, proveniente de zona rural, com “defeito” no membro superior direito a esclarecer. Trouxe algumas radiografias realizadas no “interior”. Jornal da Imagem São Paulo | OUTuBRO | 2006 Caso 1 Caso cedido pelo grupo de abdome do Centro de Medicina Diagnóstica Fleury – São Paulo Oncocitoma Diagnóstico Oncocitoma. Discussão A maioria dos oncocitomas é descoberta acidentalmente. Hematúria, dor lombar, hipertensão e febre são sintomas não específicos por vezes associados ao tumor. A maioria dos pacientes é acometida na quinta ou sexta décadas de vida, havendo uma discreta predominância em indivíduos do sexo masculino. Os oncócitos são células epiteliais transformadas, de múltiplas origens, com citoplasma abundante e homogêneo, acentuadamente eosinofílico, muito rico em mitocôndrias. A origem dos oncócitos Caso 2 e dos oncocitomas é desconhecida. Oncocitomas ocorrem em glândulas lacrimais, salivares, adeno-hipófise, glândulas mucosas brônquicas, tireóide, paratireóide, adrenais, pâncreas e rins. Nos rins, o oncocitoma é um tumor bem circunscrito, de cor amarronzada, uniforme, sem áreas de necrose ou hemorragia, por vezes encapsulado. Freqüentemente é vista uma cicatriz central em forma de estrela. Os tumores formados por oncócitos podem ter aspecto histológico benigno ou maligno; além disso, confusão adicional decorre do fato de que muitos carcinomas de células renais contém células oncocíticas, junto com os elementos tipicamente malignos. Assim, muitos autores reservam o termo oncocitoma para aqueles tumores formados única e exclusivamente por oncócitos. Na tomografia computadorizada (TC), a imagem padrão do oncocitoma é de um tumor bem definido, liso e relativamente homogêneo. Em cerca de um terço dos casos, uma cicatriz central em forma de estrela é observada (como nesse paciente). Entretanto, a homogeneidade ou heterogeneidade do tumor e a presença de cicatriz central são de pouca valia no diagnóstico diferencial entre oncocitoma e carcinoma de células renais. O padrão de realce também não é específico, visto que ambas as lesões freqüentemente apresentamse como tumores hipervasculares. A biópsia percutânea pode dar falsos resultados porque o carcinoma pode conter ilhas de oncócitos, induzindo a erro na interpretação citológica. O objetivo desse caso é demonstrar o aspecto típico porém não específico do oncocitoma na TC e nunca descartar a possibilidade de carcinoma de células renais dentre as hipóteses diagnósticas, pois o padrão tomográfico das duas lesões pode ser indistinguível. Referência bibliográfica 1.Prando A, Prando D, Caserta NMG, Bauab Jr. T. Urologia – diagnóstico por imagem. Sarvier, 1997, pp 146-8. Caso cedido pelo Dr. Guinel Hernandez Filho, do Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Santa Casa de São Paulo Síndrome de Poland Diagnóstico Síndrome de Poland. Discussão Em 1841, Alfred Poland, realizou uma autópsia em um jovem de 27 anos, evidenciando ausência do músculo peitoral menor e hipoplasia da porção esterno-costal do músculo peitoral maior, serrátil anterior e músculo oblíquo externo abdominal. A mão hipoplásica ipsilateral apresentava sindactilia de quatro dedos no nível das interfalângicas proximais com agenesia de três falanges médias e hipoplasia da quarta. Os vasos torácicos intercostais também apresentavam dimensões reduzidas. Desde a descrição original de Poland, foram publicados vários casos de anomalias ipsilaterais torácicas e de membro superior associadas, tornando-se assim conhecida como síndrome de Poland. A intensidade e extensão das anomalias do tórax e das mãos podem variar. As alterações torácicas incluem hipoplasia ou ausência do peitoral maior, peitoral menor, deltóide, serrátil anterior, oblíquo externo e latíssimo do dorso, anomalias de arcos costais, clavícula e esterno, herniação de pulmão, deformidade de Sprengel, escoliose, hemivértebra, dextrocardia, hipoplasia ou ausência da mama. As deformidades do membro superior são caracterizadas por sindactilia, hipoplasia ou ausência dos metacarpos ou falanges, ausência dos tendões flexores ou extensores, coalisão carpal com ou sem hipoplasia, encurtamento do úmero, rádio e/ou ulna, sinostose radioulnar e agenesia ungueal. Anomalias associadas podem incluir deformidades dos pés, síndrome de Möbius, síndrome de Bonnevie-Ullrich, trombocitopenia, leucemia, linfoma e esferocitose. A incidência é estimada em 1:32000 nascidos vivos e é encontrada em 10% dos pacientes com sindactilia, sendo mais comum em homens, 75% dos casos do lado direito, embora em mulheres seja mais comum do lado esquerdo. A etiologia é desconhecida, porém foi levantada a possibilidade de malformação vascular levando a uma irrigação insuficiente da cintura escapular e membro superior, no período crítico do seu desenvolvimento em torno da sétima semana de gestação. Anomalias arteriais e estenoses foram documentadas em arteriografias. Referências bibliográficas 1.Lord MJ, Laurenzano KR, Hartmann Jr RW. Poland´s Syndrome. Clinical pediatrics vol 29(10), 10, oct 1990 (1/2). 2.Resnick & Niwayama. Diagnosis of bone and joint disorders, second edition, pp. 3560-3561, 1988. Caderno 2 São Paulo | OUTUbro | 2006 Caso 3 • História clínica Masculino, 12 anos, queixando-se de fadiga e dores nas grandes articulações há meses. O hemograma demonstrou uma anemia hipocrômica. O mielograma evidenciou algumas células fortemente positivas ao ácido periódico de Schiff. Figura 1 – Radiografia do abdome em AP (A) demonstra hepatoesplenomegalia. Radiografia das coxas em AP (B) evidencia osteopenia e expansão medular na extremidade distal do fêmur caracterizando a deformidade em “frasco de Erlenmeyer”. Caso 4 • História clínica Feminino, 40 anos, nódulo palpável na mama esquerda Figura 4 – Mamografia nas incidências oblíqua (A), crânio-caudal (B) e com compressão localizada (C), demonstra grande lesão heterogênea, entremeando áreas radiodensas e radiolucentes, bem delimitada e com fina cápsula localizada no quadrante ínfero-lateral da mama esquerda. Jornal da Imagem São Paulo | OUTuBRO | 2006 Caso 3 Caso cedido pelo Dr. Guinel Hernandez Filho, do Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Santa Casa de São Paulo Doença de Gaucher – tipo 1 Diagnóstico Doença de Gaucher – tipo 1 (não-neuronopático crônico ou tipo adulto). Discussão A doença de Gaucher é um distúrbio metabólico caracterizado pela deposição anormal de glicocerebrosídeos no interior das células fagocitárias do sistema monocítico-macrofágico, envolvendo principalmente o fígado (células de Küpffer), baço, medula óssea e linfonodos, devido a uma deficiência da atividade enzimática da glicocerebrosidase. Esse material lipídico acumulado no interior das células é altamente positivo ao ácido periódico de Schiff (PAS). O Caso 4 tipo 1 (mais comum) tem uma herança autossômica recessiva, sem predileção por sexo, manifestando-se habitualmente durante a primeira ou segunda décadas. Os sinais clínicos mais comuns são fadiga excessiva, anemia hipocrômica e esplenomegalia. Dores ósseas e articulares, bem como uma tendência a fraturas e sangramentos (epistaxes recorrentes) também costumam acompanhar o quadro. O exame radiológico na doença de Gaucher revela achados característicos. Há osteopenia difusa freqüentemente associada a expansão medular. Mais comumente na extremidade distal do fêmur, essa expansão é denominada deformidade em “frasco de Erlenmeyer”, como evidenciado nesse doente, constituindo um sinal radiográfico precoce do envolvimento ósseo, presente em mais da metade dos pacientes. Também pode ocorrer uma destruição óssea localizada, que assume uma aparência em “favo de mel”. Tardiamente, alterações escleróticas são comuns, secundárias a um processo de reparo ou infartos ósseos. A complicação óssea mais comum da doença é a osteonecrose da cabeça do fêmur. Alguns dos diagnósticos diferenciais de deformidade em “frasco de Erlenmeyer” são doença de NiemannPick, raquitismo, anemia, displasia fibrosa, osteopetrose, envenenamento por metais pesados, displasia metafi- sária, S. de Down, acondrodisplasia e artrite reumatóide. Observe também a acentuada hepatoesplenomegalia na radiografia simples do abdome. O curso clínico é variável, sendo que a anemia, trombocitopenia e associação com leucemia são freqüentes, aumentando a morbidade. Referências bibliográficas 1.Cecil. Textbook of Medicine. WB Saunders. 1992, p. 1091-1092. 2.Greenspan A. Radiologia Ortopédica. Guanabara Koogan. 1996. Caso cedido pelo Dr. Carlos Alberto Ferreira, do Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Santa Casa de São Paulo Fibroadenolipoma (hamartoma) mamário Diagnóstico Fibroadenolipoma (hamartoma) mamário. Discussão O hamartoma é uma proliferação de elementos nodulares fibrosos e adenomatosos na gordura, cercados por uma cápsula de tecido conjuntivo. Esta lesão foi descrita com vários nomes que são permutações de seus componentes (por exemplo, fibroadenolipoma, lipofibroadenoma, adenolipofibroma). É uma lesão benigna relativamente incomum. Em uma série, 16 casos foram diagnosticados em 10.000 mamografias. Como o fibroadenolipoma contém os elementos principais da mama em uma lesão encapsulada, acredita-se que represente um hamartoma mamário, embora alguns acreditem que represente apenas um lipoma com elementos retidos da mama. Por conter ductos, lóbulos, tecido fibroso e adiposo podem apresentar-se como nódulo palpável ou como um achado incidental na mamografia. A menos que a cápsula seja evidenciada, a lesão pode não ser diagnosticada ou ser diagnosticada erroneamente como um fibroadenoma. A importância desta lesão benigna está em sua aparência diagnóstica típica na mamografia, evitando-se a necessidade de cirurgia. Na mamografia, os hamartomas são usualmente característicos em sua aparência e o diagnóstico pode ser feito com certeza pelo método (Figura 1). As lesões são heterogêneas, com partes radioluzentes devido ao seu componente gorduroso e outras radiodensas, devido aos elementos fibrosos e adenomatosos. Possuem margens nítidas e cercadas por uma fina cápsula de tecido conjuntivo, radiodensa, que é evidente se houver gordura ao redor da lesão (como nesse caso). À exceção de um único relato de caso de um sarcoma com uma aparência similar, esta lesão é sempre benigna. Densidades lobuladas dispersas dentro da gordura encapsulada dão ao hamartoma sua aparência característica, que alguns compararam a uma fatia de “salame”. Como em um lipoma ou cisto sebáceo, a aparência mamográfica do hamartoma é tão característica que geralmente não há nenhuma indicação para a utilização de ultra-som na análise desta lesão. Referência bibliográfica 1.Kopans, DB. Imagem da mama. Lippincot-Raven. 1998, p. 558-560. Caderno 2 São Paulo | OUTUbro | 2006 Caso 5 • História clínica Identificação: Feminina, 72 anos, natural e procedente de São Paulo/SP. Histórico: Paciente previamente hígida. Há 6 meses apresentando perda ponderal significativa, dor no andar superior do abdome e náuseas. Figura 1 – TC Pré-contraste Figura 2 – TC Portal Figura 3 – TC Portal Antecedentes pessoais: Nada digno de nota. Exame físico: Paciente emagrecida e descorada. Restante do exame sem alterações significativas. Exames laboratoriais: Discreta anemia hipocrômica e microcítica. • Achados de Imagem Figura 4 Reformatação Coronal TC Portal Figura 5 Reformatação Coronal TC Portal Tomografia computadorizada: Tumor sólido com realce pós-contraste e extensa área de ulceração central que envolve e se comunica com a luz duodenal. Caso 6 • História clínica ID: 48 anos, natural e procedente de São Paulo. HPMA: Paciente com antecedente de DM tipo II apresenta há 90 dias quadro de poliúria, polidipsia, episódios de hipotensão e perda de 10 kg. Há 1 semana da internação, evolui com quadro de sonolência e confusão mental, tendo apresentado febre de 38,5oC. Exames laboratoriais confirmam diabetes insipidus. HIV negativo. Ressonância Magnética: Alteração de sinal caracterizada por leve hipersinal em T1 (Fig 1), hipersinal em T2 e FLAIR (Fig 2 e 5) e intenso realce pelo contraste na região hipotalâmica (Fig 3 e 4) , maior à esquerda, associada a discreto efeito expansivo. Exame realizado 1 mês depois evidenciou significativo crescimento da lesão (Fig 6). Figura 1 – Coronal T1 Figura 2 – Coronal T2 Figura 3 – Coronal Gd Figura 4 – Sagital T1 Gd Figura 5 – Axial Flair Figura 6 – Controle Evolutivo Coronal T1 Gd Jornal da Imagem São Paulo | OUTuBRO | 2006 Caso 5 Dr. Rodrigo Lautert de Azambuja – INRAD HC-FMUSP Tumor do estroma gastrointestinal localizado no duodeno Diagnóstico Tumor do estroma gastroinestinal localizado no duodeno, com áreas de necrose e hialinização. Discussão Os tumores estromais do trato gastrointestinal (da língua inglesa GIST – “Gastrointestinal Stromal Tumors”) são os tumores mesenquimais mais freqüentes do trato gastrointestinal (TGI). São originados em células precursoras intersticiais de Cajal e expressam um receptor transmembrana de tirosina quinase (KIT). Os GIST podem ocorrer do esôfago até o ânus, eventualmente acometem primariamente o omento, mesentério e retroperitônio. O estômago é o local mais freqüente (70%), seguido pelo intestino delgado (2030%), ânus e reto (7%), cólon e esôfago. Geralmente surgem junto à parede muscular da alça e crescem para a sua luz atingem tamanho suficiente, provocam sintomas obstrutivos. Necrose, hemorragia ou degeneração cística podem ocorrer. A idade de apresentação gira em torno da 5ª década, sendo particularmente rara a ocorrência abaixo dos 40 anos, com pequena predileção pelo sexo masculino. Podem ser assintomáticos ou se manifestar clinicamente com dor abdominal, náuseas, vômitos, sangramento digestivo alto ou baixo, anemia, emagrecimento ou sinais de oclusão / suboclusão intestinal. Avaliação por imagem US: Nódulos ou massas hipoecogênicas, que podem apresentar áreas císticas de hemorragia ou necrose, adjacentes à parede de alças intestinais. TC: Freqüentemente são tumores cir- cunscritos, heterogêneos que apresentam realce periférico pelo meio de contraste. Quando grandes podem apresentar áreas liquefeitas de necrose ou hemorragia. Calcificações são raras. Metástases ocorrem para o fígado, peritônio e menos freqüentemente para os pulmões. Caracteristicamente após o tratamento quimioterápico as metástases hepáticas tornam-se homogeneamente císticas. Outra característica destes tumores é a quase ausência de disseminação linfonodal, aspecto que auxilia no diagnóstico diferencial com outros tumores, como os linfomas ou os adenocarcinomas. RM: Os achados são variados, dependendo do grau de necrose e hemorragia. As porções sólidas do tumor têm hipossinal em T1, hipersinal em T2 e exibem realce intenso pelo gadolínio. As áreas de hemorragia terão sinal variado em T1 e Caso 6 T2, conforme o tempo decorrido. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial entre os tumores de origem mesenquimal é difícil, pois tanto os GIST, quanto os liomiomas e os liomiosarcomas apresentam as mesmas características de imagem. Critérios de malignidade por imagem dos GIST ainda não estão estabelecidos, porém características como tamanho da lesão, invasão dos tecidos adjacentes e grau de disseminação, podem auxiliar. O tratamento proposto quando possível é cirúrgico, seguido de quimioterapia, particularmente com mesilato de imatinib (inibidor da KIT). Referências bibliográficas Os interessados podem obter as referências via e-mail ([email protected]). Dr. Alberto Peters Bambirra – INRAD HC-FMUSP Linfoma de grandes células B Diagnóstico Linfoma primário do sistema nervoso central. Discussão São linfomas do tipo não-Hodgkin que acometem apenas o sistema nervoso central. Também conhecido como microglioma, sarcoma de células reticulares e sarcoma perivascular. Neoplasia rara (0,5% a 1,2% dos tumores cerebrais e 1,6 % dos linfomas extranodais) associada a imunodeficiências congênita ou adquirida, como Síndrome de Wiskott-Aldrich, transplante renal, terapias de imunossupressão e, sobretudo, HIV (1,9% a 6%; apresentando grande queda após terapia anti-retroviral). É mais freqüente nos pacientes com CD4 < 30/ mm3. Houve aumento recente e inexplicado nos pacientes imunocompetentes, principalmente em idosos. Ocorre em todas as idades com pico de incidência na 6ª e 7ª décadas de vida nos imunocompetentes e 4ª e 5ª nos imunocomprometidos. Geralmente são sintomas subagudos (iniciados poucas semanas antes do diagnóstico) e relacionados com a região acometida (encéfalo, leptomeninge, medula espinhal ou órbitas) e o efeito expansivo local. O método diagnóstico de escolha é a ressonância magnética. Apresenta-se tipicamente como tumor infiltrativo de contornos mal definidos, com isossinal em T1 (sendo iso ou hiperatenuante em relação à substância cinzenta na tomografia computadorizada), com realce após administração do contraste paramagnético em 90% dos casos, sendo do tipo intenso e difuso em metade deles, multifocal em 30% dos casos (70% nos imunocomprometidos) e apresenta variável edema peri-lesional. Nos imunocomprometidos são comuns apresentações menos características como realce periférico, presença de áreas císticas, de hemorragia e de necrose central, que são raras nos imunocompetentes. Quanto à localização, a maioria é supratentorial, com acometimento preferencial do lobo frontal, corpo caloso, substância branca profunda e periventricular. Na espectroscopia possui picos de colina e lípides/lactato mais altos que nos astrocitomas. Como diagnósticos diferenciais destacam-se os tumores primários de alto grau como o glioblastoma, além das metástases. Já nos imunocomprometidos pode ter aspecto indistinto de processos infecciosos como toxoplasmose (um fator que pode ajudar é o menor acometimento da superfície ependimária pela toxoplasmose). Histologicamente indistinto do linfoma secundário, sendo necessária exclusão de acometimento fora do sistema nervoso central. O tratamento com corticóide dificulta tanto o diagnóstico pelos métodos de imagem (ressaltando-se a supressão do realce ao contraste paramagnético), quanto o exame histológico. Referências bibliográficas Os interessados podem obter as referências via e-mail ([email protected]). Caderno 2 São Paulo | OUTUbro | 2006 Caso 7 • História clínica Dispnéia progressiva há 4 anos associada a episódios de febre intermitente há 2 anos, com piora nos últimos 4 meses. Repetidos tratamentos para pneumonia nos últimos 8 anos e internação em 2002 para tratamento de abscesso pulmonar • Achados de imagem RX: Opacidade no campo pulmonar inferior direito presente desde 1998, de evolução lenta e progressiva, com broncogramas aéreos de permeio. Na radiografia realizada em 2004, notam-se opacidades perihilares também no hemitórax esquerdo. Figura 2 – RX Março de 1999 Figura 2 – TC Abril de 2002 Figura 3 – TC Abril de 2002 TC: Tomografia de tórax demonstrando extensas áreas de consolidação ocupando o lobo médio e inferior à direita, associadas a broncogramas aéreos e bronquiectasias varicosas, com progressão indolente. Anátomo-patológico: Massa monomorfa de células linfóides típicas arredondadas e pequenas, sem a formação de centros germinativos, lesões linfoepiteliais ou diferenciação plasmocelular. Figura 4 – RX Dezembro de 2004 Figura 5 – TC Axial Janeiro de 2006 Figura 6 – TC Coronal Janeiro de 2006 Caso 8 • História clínica Figura 1 – RX AP Figura 2 – RX Perfil Figura 3 – RM Sagital DP M. C. O. S., feminina, 48 anos, natural e procedente de São Paulo/SP. Há 2 anos surgimento de massa palpável na fossa poplítea esquerda, dolorosa. Realizada biópsia cirúrgica na época. Perdeu-se o seguimento sem a instituição do tratamento adequado. A paciente retorna ao serviço relatando crescimento da lesão. Amputação do pé esquerdo há 7 anos. Cicatriz cirúrgica na fossa poplítea esquerda (biópsia prévia). Massa palpável endurecida na porção lateral da fossa poplítea esquerda, levemente dolorosa, sem limitação à flexão e extensão do joelho. Sinais de atrofia da musculatura na perna esquerda. • Achados de imagem Figura 4 – Sagital T2 Fat Sat Figura 5 – Coronal T2 Fat Sat Figura 6 – Sagital T1 Gd Fat Sat RM: Lesão infiltrativa, mal delimitada, com sinal heterogêneo em todas as seqüências, destacando-se focos caracterizados por alto sinal e halo de baixo sinal em T2, permeados por diminutos focos de marcado hipossinal nesta seqüência, acometendo a fossa poplítea (com invasão dos músculos poplíteo e gastrocnêmio), região metadiafisária distal do fêmur e a articulação adjacente. Há realce difuso e heterogêneo da lesão após a administração endovenosa do meio de contraste paramagnético. Jornal da Imagem São Paulo | OUTuBRO | 2006 Caso 7 Dr. Danillo Cunha Loula – INRAD HC-FMUSP Linfoma primário do pulmão Diagnóstico Linfoma de células B pulmonar, com subtipo associado a mucosa (BALT) de baixo grau. Discussão O linfoma pulmonar primário é uma doença rara, que engloba um amplo espectro patológico e representa menos de 1% dos linfomas não-Hodgkin. O subtipo mais freqüentemente encontrado (60 – 90 %) é o linfoma de baixa malignidade associado ao tecido linfóide bronquial (BALT), o outro subtipo encontrado é o linfoma pulmonar primário de alto grau que está associado a estados de imunodepressão. O diagnóstico diferencial entre estas condições só é possível em bases histológicas, mas os sintomas gerais (febre, astenia e sintomas respiratórios) costumam ocorrer nos casos dos linfomas de alto grau, enquanto os de baixo grau costumam ser assintomáticos manifestando-se como achados radiológicos atípicos ou consolidações sem resolução após tratamento antibiótico. Achados de imagem O achado de imagem mais comum é a consolidação pulmonar solitária com margens bem definidas de lento crescimento associado a broncogramas aéreos ou áreas em vidro fosco que pode ter uma distribuição lobar e imitar um processo pneumônico. Os achados de imagem podem permanecer inalterados ou com Caso 8 pequenas alterações por muitos anos antes do diagnóstico histológico. Outros achados menos freqüentes seriam nódulos pulmonares uni ou bilaterais, opacidades ao longo do feixe broncovascular ou espessamento dos septos interlobulares. As linfonodomegalias não são tão freqüentes nos linfomas pulmonares primários (ocorrendo em menos de 30% dos casos), e, se muito proeminentes, outros diagnósticos devem ser considerados. Tratamento O tratamento ainda é controverso e passa pela quimioterapia, cirurgia ou mesmo acompanhamento clínico. Dentre estes a maioria dos centros preconiza o uso da quimioterapia. Diagnósticos diferenciais • Linfoma primário de alto grau • Linfoma secundário • Carcinoma bronquíolo-alveolar • Consolidações infecciosas Leitura Recomendada 1.Marin FF, Inglês MF; Linfoma pulmonar de bajo grado no BALT. Oncologia, 2006; 29(3): 124-128 2.Bragg DG, Chor PJ, Murray KA, Kjeldsberg CR; Lymphoproliferative disorders of the lung: Histopathology, clinical manifestations and imaging features. AJR, 1994; 163: 273-281 3.Lewis ER, Caskey CI, Fishman EK; Lymphoma of the lung: CT findins in 31 pacients. AJR; 1991, 156: 711-714 Dr. Eduardo J. Mortani Barbosa Jr. – INRAD HC-FMUSP Micetoma Diagnóstico anátomo-patológico Micetoma. Discussão Síndrome clínica decor rente de infecção crônica granulomatosa da pele e do tecido subcutâneo, podendo envolver músculos, ossos e estruturas adjacentes, caracterizada pelo aumento de volume da região, associada a presença de fístulas que drenam material seroso ou sero-purulento, no qual podem ser encontrados grãos (aglomerados de microorganismos). A tríade de tumefação, fístulas e presença de grãos na secreção é usada no sentido estrito para definir o termo micetoma. Micetomas podem ser decorrentes tanto de infecção bacteriana (bactérias do gênero Actinomyces – actinomicetomas – 60% de prevalência) quanto de infecção fúngica (fungos verdadeiros ou eumicetos – eumicetomas – 40% de prevalência. As etiologias mais comuns são bactérias do gênero Actinomadura e fungos dos gêneros Madurella e Streptomyces. A infecção dos pés ou, menos comummente, das mãos, antebraços ou pernas resulta de invasão após trauma penetrante por organismos que são habitantes normais do solo. O curso da infecção é crônico, progressivo e insidioso. Gradativamente ocorre severo aumento de volume da área acometida, com endurecimento, fissuras cutâneas e formação de fístulas, que podem drenar grãos visíveis a olho nu. A disseminação ocorre por via linfática, podendo acarretar sepse por infecção bacteriana secundária, que pode evoluir a óbito. O tratamento envolve desbridamento cirúrgico extenso associado a antibióticos ou antifúngicos por período prolongado. Achados de imagem A ultra-sonografia pode demonstrar cavidades císticas sem reforço acústico posterior com ecos hiperrefringentes de permeio, correspondentes aos grãos de microorganismos. As alterações de partes moles podem ser mais bem delineadas por TC ou RM. A RM ponderada em T1 demonstra lesões com isossinal em relação à musculatura; em T2 as lesões apresentam leve hipersinal, sendo descrito um aspecto característico, caracterizadas por regiões arredondadas de alto sinal, entremeadas e envoltas por focos e áreas de marcado hipossinal - especula-se que a matriz de baixo sinal periférica represente tecido fibroso, que as áreas de alto sinal central correspondam aos granulomas, e que os focos centrais de alto sinal correspondam aos elementos fúngicos organizados (grânulos). Este aspecto, chamado de “sinal do ponto dentro do círculo” (dot-in-circle sign) poderia refletir as características patológicas específicas desta doença na ressonância magnética. A TC define melhor as alterações estruturais ósseas, caracterizadas por trabeculado grosseiro, reação periosteal, proliferação endosteal e lise cortical focal. Ambos os métodos tem boa correlação com os achados cirúrgicos para definir a extensão do acometimento de partes moles. Referências bibliográficas Os interessados podem obter as referências via e-mail ([email protected]).
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