O POVO homenageou Francisco Carvalho no seu aniversário de 70

Transcrição

O POVO homenageou Francisco Carvalho no seu aniversário de 70
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sAli4.DOIO POVO
For1DkzG. c t; 7ljwtNJ
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2
DOI5
I Gilmar ãe Carvalho I
•
•
.A
psicografia é uma manifestação. no mínimo,
curiosa. A indústria editorial que o espiritismo
movimenta diz de sua força no Brasil. Sào tiragens surpreendentes e títulos a perder de vista.
Mais curiosa ainda são as relações entre psicografia e
literatura cearense. As iníormeções são do bibliófilo
Jorge Brito e começam com Bezerra de Menezes, considerado o Kardec brasileiro.
Já em Pílrnaso do AUm Túmulo, primeiro livro psicografado por OUro Xavier, em 1932. está presente nosso
Juvenal Galeno. morto no anoanterior e que mescla seu
estilo de recriação do popular com mensagens espiritualistas.
Na Anlologia do:s lmorlPis. ditada a Waldo Siqueira. a
professora e poeta Francisca Clotilde apresenta quatro
poemas e um desenho espiritual. Também deixou mais
_.
doislivros (TIn tino e Natal cU $Qbrina) psícografadoe por • Juvenal Galena
OUro Xavier. Sucessos de vendas.
•
José de Alencar nos teria legado. segundo os espiritualistas, Iam/ira e VoIlQ f"lra Ú1S/2, ambos
de 1946. psicogralados por Carmo Bianro.
Mas a presença mais marcante dos cearenses vai se manifestar no Hu morismo do A/hn. de
1983. Outra vez Iuvenal Galena. agora na companhia de Iovína Guedes. QuintinoCunha, U~
via Barreto, Carlos Gondim. Ulysses Bezerra e J06é Sombra escrevem pela mào de Guco Xa-
+ Ria em SP
+ Zozó e O Mangue
Performer cearense Costa Senna
apresentando o espetáculo Ria aft cair tÚ
. costas, cóm música, humor e literatura de
cordel: dia 17 de junho, às 19h3Omin, no
Centro Cultural Sào Paulo (Sala Adoniran
Barbosa). Apromoção é da Secretaria
Municipal de Cultura. Um artista
que tem lutado muito para conseguir
seu espaço.
+ Imagem do Indio
TItus Ríedl, alemão radicado no Crato.
redigindo tese de doutorado que será
defendida junto à Universidade de Colônia
(Alemanha), orientada pelo professor
Feldmann. Trata da imagem do Indio no
relato dos viajantes do século XIX. Meio
histórica, meio literária, no dizer do
próprio professor da URCA.
~
Ceará no Memorial
Peças de artesanato e arte popular cearenses
vier.
estão à venda na lojinha do Memorial da
Intrigante que obscuros poetas que não são conhecidos nem no Ceará, comoSabino Batista,
América Latina (estação Barra Funda do
Américo Palcâo, Soares Bukào Oú mesmo um Antonio Salesou José Albano se manifestem do _ Metrô), com seleção críteríosa e exigente da .
além... Estes últimos em ldtias t llustraç6ts, por conta do med.ium Chico Xavier. Dándís, "fotógrafa Maureen Bísilíet, que foi sócia de
padeiros", sarcásticos e telúricos tentam superar a morte e continuam a escrever. Uma quesuma loja que virou referênda nos anos 70:
tão de fé que bem pode ser objeto de urna tese.
O Bode.
I
EClitorial
ate o Sdbddo faz homenagem a Francis-
H co Carvalho, que chega aos 70 na
próxima quarta-feira. Nada mais justo. Poeta de
Russas, a.reserva em ~, .seu Francisco é
-'''I!l>''leum dos nossos grandes escritores de
verdade.Um daquelesque conseguiu vencer
as panelas, sobrev-iveu e acabou cânone da
nossa literatura- é sempre bom lembrar que
no inicio do ano organizamos o cênone e ele
foi o t1nico vivo, ao lado de Rachei de Qu eiroz, citado en tre clássicos como Caminha,
Alencar, Moreira Campos etc.
Temos pois um caderno francisoJno, onde
não faltam um perfil do eníverseríente, artigos sobre sua obra e até quatro poemas inéditos que vão estar no li...T O Cira.'>S6is tÚ &Im,
que comemora seus 70. Curiosidade muito
natural: foi diftdl convencer o arredio Pranrisco a falar com o SJbado e até abrir sua casa
para uma sessão de fotografia? Nem tanto,
poderia responder Felipe Araújo, que ficou
uma tarde inteira tirando histórias do poeta.
"Ele reststiu um pouco- é nossa versão - mas
acabou se mostrando atencioso e bem
humoredc".
o Sábado publiCil crfliCllS, opiniões, sugestôrs t dicas dos lt itorts. r.JJrtas para a rtlÚçlo:
•
A•. Ag1I4""",bi. 282, CEP 60055-102. For 255.6139. E·"",I ~_ .bi
Coo rdenoo;óo editoriol e ediç60
WALTE RCO E
Redoçóo fi' Rep001..."
ROORlGO DEA1.Mf10A. e
FEUPE AAAÚJO
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noite paulistana.
+ Geléia Geral
O preconceito é forre e consolidado. N2
relação da poesia que está sendo regísn
em 00, apenas o que está chancelado FIE
norma culta. Vale de Gregório de Mato:
Drommond, de Antonio Ocero a Torqo
Neto. Uma geléia geral. FIcam de fora
Patativa do Assaré e os discos de violen
anos-luz dos modismos e da chamada
indústria cultural.
+ Mostra Pedrosa
Bruno Pedrosa.. artista plãstico de Lavra
Mangabeira, ex-monge, inagurou expo!
de seus quadros no restaurante Dom
Manuel. em Nova F~ (RJ). Bruno,
final dos anos 80, esteve envolvido nun
rumoroso imhroglio envolvendo trabalhi
de Reís Cervalbo, o artista da expediçãc
camelos.
I Clube da Esquina I
I
Além de Francisco Carvalho, porém, o cademo também tem uma Polis que salta os
mwos do lPPS, quase flagra uma emboscada
e registra um pou co_da realidade daqueles
-homens que vivem e se tratam como bichos.
As resenhas, por sua vez, mostram aos leitores livros de um poeta grego e polêmico que
muita gente deveria conhecer - Nikos Ka. zantzakís -e um tratado sobre vida íntima na
Inglaterra vitoriana assinado pela professora
Phyltis Rose. Não um tratado qualquer, vale
salientar, mas uma boa fuxicada na vida de
escritores como Charles Dickers, John 5tuart
MiJI, Thomas Carlyle etc. Eita gente genial,
metida a besta e complicada...
Mas tem ainda uma matéria sobre Preud,
que aproveita o mole de uma peça em cartaz
no llA, e um comentário sobre o mais recente filme de Wood y AUen, Todos dium eu It
amo, que é uma prova perfeita de que um diretor pode se repetir e mesmo assim se renevaroPor enquanto, você vai ter que esperar
pelo próximo, qu e traz as histórias e uma
promoção do hoje já quase lendãrío Clube da
Esquina - veja ao lado.
Grande festa "rave" vai agitar Recife nl
próximo dia 14. No único hínel da d da
prefeito Augusto Lucena, em Boa Vlagt
nas imediações do canal de Setúbal. O I
na terra do mangue beat ficará por com
'lJ::JZiJ Amaral. o festeiro cearense que aI
istórias do Clube da Esquina.
Na primeira vez em
que ou vimos fa lar
que alguém, ou melhor, que um dos sócios p rop rietários
deste clube, Márcio
Borges, es tava contando sua história em
livro, deddímcs sair à
cata daquela mineirada . Primeiro nas livrarias - não. Depois
na própria editora>
qual era a editora
mesmo? O fato é que
o livro era um mistério. As pessoas procu·
revam, não achavam, ninguém tinha. Um
dia, porém, quando mal esperávamos, um
lote de livros da Geração Editorial trazia Os
Sonhos ruJo cnltlhemn. Quanto acaso..,
Com o livro na mão, a iniciativa seguinte'
foi procurar a editora , depois o próprio
Márcio, conversar com ele, e o que poderia
tenninar em resenha foi virando a poesíbilídade de uma matéria maior, um lançamento em Fortaleza, uma entrevista com Milton
Nascimento,
show de LO 801
uma promoção I
rente para o cade
De início, tud o c'
Começamos en t
pensa r o p rojet
temp o passa , m
vontade também
envelhece.
Pois bem . Dia!
po is, o Sábado te
privilégio de ser
dos p romo tores
lançamento de O
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Pro;elo llróflCO
MÁJOO GAAOA
Diogtomoç6o. pog;'""""óo ,Idrónir;o
ANTONIA MAAIA COUTINHO
T'ofu"..... lo de i,,~
CHAD! ES RQBERf,1SRAEl MfLD,
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nhos
d o t nt'flhl
em Fortaleza . to.
Além d e Márcio
ges, os leitores
conferir também show do irmâo Lô 50
e comprar o livro em condições espec
Bem especiais. Tudo isso na quarta-f
dia 18 de junho. Antes, no próximo sãb
você ganha uma edição especial, bem
netre, contando todas aquelas história
Clube da Esquina que a gente queria 50
no infào. Com entrevista de Miltv.1 e t1
Aguarde. Vai ver mesmo os sonhos N <
velhecem...
~ RAlMUNDO, .K>ÁO MANUEL, VlADlMIl
MOREIRA E t..EONAAOO FERREIRA
FoIoJiros fi' IfflP"lISSÓO
EmptMO Jomolfslic;a O I\m) S/A
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A-enido /lqual'lOmbi, 282. Fortoleto • CeorÓ.
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SÁBADO/o POVO
N J1alnIJ. CF.. 71jWl!97
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Em Ascese, ogrego Ni1ws Kawntznkis, rom tradução
de José PauloPaes, recusa os cdnones docatolicismo, mostrasuavi.sào
ascéticaefaz uma exaltação da vida .
lad o de poetas como Ággelos Sikelta-nós e
Ascese· Os ..tv~ de Deus . Nikos Kazantzákir;
Kõstas Vámalis · Nikos Kazantzákís encontreintroduçJo e tritdlJl)o.lo\é Paulo Paes; Atica; 152 pigí.
se entre os nomes de proa respon.·•.éveis pela
nas; R$13,90
instauração da modernidade na literatura grega, sendo justamente a sua a primeira geração
+ FLORIANO MAfmNS
a contribuir para o surgimento de uma nova visão do mundo na poesia de seu pais. Além dos
livros aqui mencionados, escreveu os romantemo nada. Não espero nada. ces Cris.to "CTUcifiC<lJo, LiM "
Sou livre ". Estas palavras com- Jade ou morte e Os irm40s inimigos., livros que, segundo Jo-'" ..~. ~l.. ! l
põem o epitáfio de Ni.kos Kazantzákis (1~1 957), o poeta e romancista grego
sé Paulo Paes, abafaram um
que os brasileiros conhecem mais pela adaptapouco a importância de sua
ç ê o ci:ltiuatográfica de ZorN, (I grego e A últi11UJ
obra poética.
Embora não conheçamos
ttrl l4lp1o. Cristo do que propriamente por seus
romaJUS homônimos que originaram tais fil - senão uma mínima parcela de
Odisséia d e Kazantz ãkís mes. MorIo naSuiça.seu corponâofoienterra·
do em Atenas graças a uma recusa do ercebismostrada na excepcional anpo lOOl1 ~nada importou o duplo contributo
tologia Poe:sÍll modmw J.I Grtde K.u2ntz'kis: sua obra literária e sua ação
da _ e absolu tamente nada d as TtrçQS rimas
política. tanto pela ofi cialização do dem ôríco
(1960), traz-nos agora J05é Paulo Paes (sempre
ele) a íntegra dos versículos de A(Cl'St, em ediquanto pela campanha de repatriação dos milhares de gregos banidos no decorrer da prí- çêo 'graficamente elegante da Editora Ática. A
meira guerra mundial. Levou-se em conta tão
melhor idéia da ambientação filosófica deste lin o já a encon trãvamos em
somente seu atesmo coOdissiia, quando afi rma
munísta.
Leitor atento de
Um dos integrantes da geração Odtsseu que " a vid a é um
Níetzsche. a quem trarelâmpago e a morte
de 1905, Kazan tzákis
d uziu para o dem ét ico,
encontra-se entre os nomes de infinita", o que nos remete à
domina a obra de Kapostulação exasperada d e
Rimbaud : "a verdadeira viproa responsáveis pela
zantzákis a presença de
um niilismo heróico,
instaura ção da moden,idade da está ausente".
Nâo se definem. contudo.
acentuado largamente
na literatura grega
pelo jorro metafórico e o
as idéias de Kazantzékis copredomínio de uma hnmo uma negação da vida,
guagem simbólica. Em seu ambicioso poema
mas sim como a necessidade imperiosa de uma
épico Odl~s.t'iJJ (1938) põe nos lábios. do herói que consdêncía das ações de tais forças que regem
considera essencial ao homem "lutar sem tréa natureza humana: vid a e morte. Trata-se de
uma 1'I:'CUSa, isto sim, aos cânones do Catolícisguas contra o fado e apagar o que estava
escrito", segundo ele a única maneira que cabe
mo, baseada em uma ampla leitura que inclui
ao homem de ultrapassar seu próprio deus.
tanto a palavra dos. santos ocidentais quanto os.
Versos à frente. acrescenta: "Deus é argila nos
postulados do budismo, acrescentando aí a vimeus dedos, sou eu próprio quem o molda", ao são de mundo de hereges, poetas e heróis. Desta soma de inúmeras vertentes advém a noção
mesmo tempo em que agradece a Deus "o insad avel coração que me deste: I ele festeja tudo
extrema de liberdade que permeia toda a obra
sobre a terra e nâo se apega a nada".
de Ni.kos Kazantzékís.
A..~ é um livro poderoso. Trata-se de uma
Além da clara presença de Homero, a obra
poética de Kazantzákis também estabelece diá- exaltação da vida, de uma profunda demonslogovigorosocom Santa Teresa d'Ávila, Dante e
tração de vitalismc, de uma expressão da sínreHenri Bergscn. Acerca de seu niilismo heróico se como fonna única de definição e aprimoradisse José Paulo Paes tratar-se de "uma relígíosí- mento do humano em rós. Trata-se, portanto,
dade sem deus cuja expressão mais sistemática de uma efirmeçêo de fé no homem. o que natuestá nos versículos de Ascese". Escrito em 1927.
ralmenle contraria uma regência dogmá tica.
porém tomado público somente em 19-15, as
Investigar os malefícios causad os ao homem
idéias ali expressas fariam com que Kazantzákis
pela religião católica não constitui açêo polipassasse a ser visto como inimigo da fé pela
cialesca. mas sim uma indagação veemente
Igreja Ortodoxa. Logo em seguida o próprio go-- da própria dinárnica do espírito humano.
vemo grego empenhar-se-ia em inutilizar sua
o que fez Kazantzákis em toda a sua obra,
indicação ao prêmio Nobel. por sinal uma ininão somente neste A<;Q'$t'.
••
• . cíatíva conjunta,de .Thomea.Menn e.A lbert . .
. , . .-, ) ;r, !. 'o- .. •.' j'-' .: \ ;"j' _. ",.,
· , ~'eiF-er,.-.l ,,;) ;;1;. l' I. :.(;.l i . 1·,1 1';'.UI.....' 11-"::; , ., . ,fL olIJ"''''OM.umws. é por"', /t~JiiJta e tradllklr. ".....
Auror de f i coralÓn dPI infinito t Tum ultumvlos
Um dos integrantes da geração de 1905 - ao
''NãO
A Querela do Brasil - A questIo da kMnti·
. . brasileira - Carlos I ilio; s elume numa-
rá; 140páginas; RS 27.00
O titulo é na verdade quilométrico. A. Querela
do Brasil - a quesUo da identidade brasileira: a
obra de Tamla, Oi Cavalcanti e Portinari / 19221945 e nem é preciso escrever que faz uma interpretação dos elementos qUI! cootribulram na
formaçIo da arte moderna brasileira através da
obra dos três artistas citados. Produçêo ceprtd\ada qUI! ganha reedição depois de 15 anos.
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Fanny HiII - Memórias de uma mulher de
prazer - l ohn Cleland; tradução Eduardo A.I·
ves, Estação liberdade; 31 1 páginas; RS 28,00
Que tipo de hist6ria poderia contar uma prostituta do ~ulo 181 Certamente as que estão
neste clássico de John Oeland, que ganha agora edk êc reviste e ilustrada no Brasi1. Combinação de paródia e entretenimento sensual, o
livro impressionou seus ccntempcrênecs. escandalizou, mas acabou se revelando uma importante contribuição ao Ilumi ni ~o e à nbercede de pensamento.
Marctllo Mastrolannl. La &eUa Yrta _Enzo
8iagi; traduçJo Gibson 50ares; Ediouro; 173
páginas; RS15,00
Maior ator latino do cinema. Marcello Mastrctannt que morreu no ano pessedc. não ia
demorar a merecer as ma is diversas hcmenegens. Uma delas é certamente esta espécie de
biografia e entrevista escrito pelo italiano ~n zo 8iagg1. SJ.o hist6il.lJs'dI! bà>stido r~·~cme.
ma, Felli ni. deusas do sexo e boa mostra do
mundo em qUI! este grande italiano viveu.
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Fon d/,w. cs; 71jUN'97
CAPA
6
erso
•
e
eca o
Nos 70 anos de Francisco carvalho, 11m perfil
caseiro do poda estadual qlle segue Umidoesemjeito, mas já virou
um câuolle tln'O da literatura cearenst .
na Reitoria da Universidade Federal do Ceará, onde é assessor do reitor para OS colegiaDa Editori. do Sáb.ldo
dos de administração superior.''Mesmo senlguns críticos do Sul não gostaram do coisas completamente distintas - a buromuito, mas tiveram que engolir. O cracia e a poesia - eu tenho essa luta com as
vencedor do Prêmio Bienal Nestlé
palavras aqui no conselho. Quando eu redijo
de Literatura daquele ano de 1982, na categouma ata. tenho que fazer com um poder de
ria poesia, era um cearense. QwJdn11ltt SolJJr. síntese muito grande. E isso obriga uma certa
de Francisco Carvalho, tinha desbancado os disciplina formal Então, talvez tenha atéajtr
mais de sete mil concorrentes de todo o país e
dado no meu desempenho na poesia".
levava para casa a bolada de um milhão de
Quanto à família, a esposa - Doreci. procruzeiros. Ninguém entendeu muito bem o fessora aposentada com quem é casado há 38
que tinha acontecido, nem O próprio autor - anos - os três filhos e os oito netos são com" fi quei espantado quando vi que tinha
panhia obrigatória nos passeias à chácara no
vencido". Não que a obra não fizesse jus ao Pacheco e ao sitio de dois hectares no Jabuti,
prêmio. Acontece que Carvalho era um ilus- "ali no começo da BR-116". ~ lá que Francistre desconhecido por lá e Quadrantt Solar era co Carvalho costuma passar os finais de seo mesmo trabalho que fazia haYia mais de 30 mana. escreven do (muito) e lendo (ainda
anos, sem que nunca tivesse qualquer tipo de mais). Na lista. "uma constelação de grandes
repercussão nacional, Mesmo por aqui sua _ livros" que o poeta vez por outra volta a ler.
poesia só era saudade por uma restrita, em- contos de Tchecov, Gutrra e Paz, que já leu
boraliel, roda de iniciadas.
três vezes, Ana KiJrrnina e outros.Se bem que
Também pudera. Tímido e reservado, Car- atualmente, com a escassez do tempo, • prevalho nunca foi um escritor de muita badalaferência tenha sido pelos 1i\'J'Os de poesia ção, Tanto que na época do prêmio. preferiu Drummond. Jorge de Uma, Cesério Verde.
nem viajar para São Paulo, evitando as sole- Camões. Fernando Pessoa. Rilke e da.
nidades de premiaçãoe to_
"'O meu tempo é muida aquela via crucis de ento curto. e se voc ê pega
MEu não gosto de Ilndar de
trevistas, coquetéis. aparium romance de quições aquie ali etc. Ma.<; lon- trombeta na mão alardeando
nbentas páginas, é muige dele qualquer atitude de minhas poucas virtudes. Tem
to massud o não é? E
arrogância. tão comum enainda tem os jomais pacamarada que faz isso com
tre algumas primas donas
ra ler, revistas. Então no
bons resultados. Mas eu...
premiadas. Carvalho é
fim de semana é aquela
realmente a reserva em
confusão ". Mas é nessa
pes.."Oil, "Eu não gosto de andar de trombeta confusão que o poeta vai catar a matéria-prina mão alardeando minhas poucas virtudes. ma pa ra os próximos versos, Atento como
Tem camarada que faz. Isso com bons resulta- ele SÓ, em meio a tanta.... íruormeções, vai fildos. Ma s eu, infelizmente, não ti ve este trando o mundo e decantando-o em versos,
talento".
naquilo que considera um instrumento de
Hoje, passados quinze anos do episódio, paz e solidariedade entre as pessoas .
Francisco Carvalho continua o mesmo.
Segundo Carlos D'Alge, professor de IiteraPrestes a completar 70 anos na próxima tura e amigo de longa data, Prarcisco Carvaquarta-feira, dia 11, não gosta muito de apa- lho. a despeito de sua timidez, é um escritor
recer na imprensa. tem alergia a grandes de um senso critico e de uma ironia muito
eventos e mesmo a rodas literárias não é aguçada. o que lhe permite analisar o mundo
chegado, O movimento na Academia Cea- como poucos. A poesia de Francisco Carvarense de Letras. por exemplo. só acompanha lho, ao mesmo tempo que consegue expressar
à distância. "Ele é uma pes.';;oo muito reserva- a amargura de um mundo que o poeta nào
da. Não vai a lançamento de tinos nem gos- consegue ccosertar, também celebra as prazeta de festividades. Prefere fica r cultivando res da vida. os pra.zeres do corpo".
sua arte, sozinho", conta o escritor e amigo
Natural de Russas. Francisco Carvalho de
Sânzio de Azevedo.
Oliveira p.1!'sou boa parte da infância metido
Para Carvalho, dedicação mesmo, além da num sitio no Di...trito de Borges. a doze quilopoesia, só com a famíha e com O expediente metros da sede do municipio. Foi lá que
<00 Ft LlP'f A RA ÚJO
A
N
• Francisco Carva lho ' sem jeito para sai, alardeando suas virtudes
aprendeu as primeiras letras e começou a ter
contato com as histórias e, principalmente,
com o sofrimento da vida sertaneja, que tanto lhe impressionaram e fin caram as bases
para sua poesia. "Francisco Carvalho é um
poeta essencialme nte agrário, inserido no
universo nordestino", afirma a professora de
letras da Universidade Estad ual do Ceará,
Ana Vládia Mourão, em seu livro Tris Di17lt"tI.Sllts ..w Pottial de Franci....;ro Gmwlho.
O ginasial, tenninou no Ateneu São Bereardo. em Russas, e, aos 19 anos seestabeleceu definitivamente em Fortaleza . Um pouco antes, com um manual de metrificação debaixo do braço, já havia debutado na poesia
com o pequeno cordel A StoI noCcmí, Iançado quando tinha 16 anos. " Na época eu escrevía dentro daquela minha vi sâc de mundo mais parnasiana. O meu aprendizado foi
feito dentro disso, o que foi bom porque me
deu instrumentos para que eu pudesse partir
para outro tipo de ritmo".
N, capital, Francisco entra em con tato
com o Modernismo e a guinada foi a que se
imagina. Como resultado, em 1955. veio o
primeiro livro, Cri.~I4I ..w Memória. que ainda
hoje causa arrepios no autor."É um livre pésstmo. Foi uma experiência absolutamente
primária. Eu tinha tomado conhecimento do
Modernismo, lia Drommond, mas não tinha
assimilado corretamente a nova filosofia.
Hoje, Cris/al da Mnnória é um livro que eu
chamaria de quasímodesco".
Entretanto, mesmo com tantas ressalves do
próprio poeta. o livro serviu para chamar
atenção sobre o trabalho do novo escritor.
"CrisliJI da Mtmóriamastroua voceçêo e o nortede quem realmente seconsolidou, de modo
irrecuséveí. como poeta. pelo talento e força
da palavra", defende Ana Vládia_Realmente.
Aproduçãoque seseguiu a CrislaJ 4.J MmuSrW
- 21 liV1U5, dois de prosa. 19 de poesia - virou
referência obrigatória em nossa literatura.
Prova disso é que num dnone recentemente
organizado pelo Sábado. Prencísco Carvalho
ficou entre os treze escri to~ cearenses mais
otados por leitores, professores. jomahstas e
escritores. Um feitoe tanto do senhor recato.
- -
I'----_~7
CAPA
EmCasa
"
For14JJr.A CE. 71i-'97
I
Moderado Modernista
~St:rt1l/ tlpmu/r ~ o mdhor do IInt01'
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fi NJ1 da frs-
IIt/SoUWoltomti um ponr ik mia porO:l~ ik
[noJ. Tu404CpM.Io " Di.ino Stor1limmtal de um
Crecc. r nlnasaJ ÚlrtalJIo
"Eu não \ 'OU a.sesim ao pot:"JN rom tanta taàlidade. Uma idéia me visita e eu pa.-.so dias
com aquela coisa assim comigo. Não é nada
pLme)ado. Eu não rre sento e decido que vou
fazer um poema esperando que a coisa caia
feita docéu. Eaícomeça a luta", Eaí começa a
luta!Prestes a escrever mais um poema. Francisco Carvalho arregaça as mangas e começa
Casado há38 com dona
Domei, Francisco Caroalho
tem três filhos . "Um i o
Carvalho Ir., que t "dflo~~ado,
outra i a Tarciana, qu~ é
nutricionista, e a outra r a
Litl Mônica, bailarina
dássic,, ", explica orgulhosa a
espo5d. Os três drmm oito
netos ao casal.
s,.{&WO/ O P(}\"(J
Notas
Mtsmo armIio, cJ..,-.,rulilo com a
Quanto aos temas, nada de novo. "A temática na poesia é a mesma desde Homero. Avida do homem, as suas limi tações, o amor. a
tragédia de ter ron.liCiéncia da morte. O que
muda '1inguaP""-' abordagem poética ao
longo dos tempos, Além disso, a vivência da
imp'OlS4. F~ ÚJroalho nos
~ mudo ~. Dunmtr 'fWl~
.purtro ~ dr Ctlt1 r't I5a, tntrt o
tsenlório rIQ Rnkrir ,. rtSiI/nCUI di)
,..m.• fim" lU "'in'ofrdWo t ik
é
,...". " . _ Oolo ""'!I"". f.sUT<
""'I""' ik bom-ilu""". •_ prob/<mD
I qut' nAo eí cont.zT uma 00a /l1'ItIÚIIJJ.
pt'S-'"Oa tem muita influência na poesia, porquese você não vive você tem pouco a dizer".
E por falar em escola, Carvalho se define
como um modernista moderado. Ingresso
na literatura em pleno domínio da geração
de 45, atravé-s do movimen to Clã . o poeta
ainda hoje dedica uma parte de sua produuma briga. Uma briga muito intima . Com
seus medos e angustiass. Não tão d iferentes ção a construções como o soneto. "Oitenta
dos J'IOE'S(J5. bom kmbrar: a
por (8'\10 de minha produques tão da sociedade tec"A temática na poesia i a ção é de versos livres. mas
nocrata, a consciência da
eu ainda uso os sonet os.
mesma desde Homero. A Drummond escreveu, Pestransitoriedade d a vida, o
vida do homem, as suas
sortilégio do mistério da
soa também escreveu.:",
morte, a inelutável e instinHoje, com mais de 50
limitações, o amor, a
anos de poesia, Francisco
tiva inclinação erótica do
homem. as memórias da in- tragédia de ter consciindA Carvalho faz uma avaliada morte. O que muJ.a i a ção positiva de seu trabafâncià. etc.
lnspiraç âoj t Tudo. Mas
lho. " A minha produção
linguagem"
hoje tem mais qualidade
Francisco Carvalho prefere
falar em estímulos. "Essas
em termos de desempenhe
coisas acontecem por estímulos. As vezes, formal. No passado me ressentia muito da
até a leitura de um bom livro de poemas faz Iínguagem, Talvez tmha abusedoda retórica.
com que você se tome um campo fecundo do uso do adjetivo, essas coisas. Mas nesses
para escrever poesia". Assim, é aparecer o últimos livros, não. Neles eu tenho uma coreestimulo e lá está o poeta rabiscando os pri- ciência muito mais forte, pa-...sei a trabalhar
meiros versos. Apenas o esboço, porque o mais com o substantivo". Boas perspectivas,
poema só vai estar pronto mesmo depois de portanto, em relação ao próximo livro, Giraspa-..sar pela máquina de escrever.
,.;;, <k &m>. que o poeta Ianç> nosegundo se"E....se é um problema meu. Tem gente que mestre, em rornemocaçào aG'õ SiPUS 70 .
escreve manuscrito e ali mesmo j.l faz a revi Tristeza mesmo só quando se escuta que
são. Eu nào consigo fazer isso. Porque o as.- Francisco Carvalho está pensando em parar
pecto visual do poema é importante. Eu pro- com a poesíe.rEu ainda escrevo poesia, mas
curo a assimetria. Se eu escrevo uma estrofe às vezes penso que j.l é hora de parar, sabe?".
e vejo que dois versos têm o mesmo tama- zer ouvido de mercador e sair lendo a aarOJ
nho, têm o mesmo comprimento, eu já corto dt15 Snrlidos, QwJrantt Solar, MnnorWl d~ Orlogo e refa.;o. ~ a assirnt"tria que me fa.."'Cina". fru , Pasll.lnJ1 ~ Di.as AWums,rie.
POlTQ mtm,o mJiriduo qut'
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COPlitndo i1gurtt r frango, mlZ$ rw
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qur mn~'llt17! qwt'StJOna, 'l1fC. A miJlD
t5tá toda amt:prQdA ,-do gotmw; t U1'1ll'
roi."", impre.si(mQ"tt'. Até rnt'SrtJll ~
p<1SlrlJo d, óptr. "",,...,. d,
rsqumiD. oAmoldo '.r.1I>Jt i um
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nos.iO sitio
•
• O poeta em sua biblioteca: uma consteJaçJo de grandes livros
•
s,.(&4DOIO POVO
Fo"o/~lA
CE, 7/j1Ull97
8
C A PA
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oe
A
ca
oe
+ ANA VLÁOIA M oURÁo
As angústias, os aamtecimentos comqueiros,
EspKial para o SAbado
a memória do pai, dns so/rrados ecasarões desua terra 'os temas
ltUlis recorrentes da poesia de Fmncisco Gm>allw _
poeta Francisco Carvalho, que ora
completa 70 anos, se constitui numa
das vozes maisexpressivas de nossa
literatura atual.
Poeta de fôlego, trabalha incansavelmente, produzindo arte de boa qualidade há
mais de 40 anos, desde sua estréia, em 1955,
com Cristal da MemóriIl .
A poesia de Francisco Carvalho é uma das
mais volumosas, tanto no critério quantitatívo - publicou até agora 21 livros de poesia e 2
livros de prosa - como no tocante à qualjdade, que é, sem dúvida , uma coerente " COIl$truçâc de um projeto literário inteiramente
voltado para a poesia. nas suas mais diversas formas de expressão", conforme ressalta
Gilberto Mendonça Teles.
Sua poesia é forte e, muitas vezes, contun- •
dente, nos atingindo de forma devastadora,
como as águas barrentas do rio Iaguaribe,
enfurecidas pelos tempos invernosos. Outras vezes, é tranqüila, serena remo a imagem do poeta falando, mansamente, de sua
experiência criadora.
O poeta mexicano Octavio paz nos adverte que precisamos observar o poema com
muito cuidado, pois " mal desvia mos os
olhos do poético para fíxé-lo no poema, apa·
rece-nos a multiplícídade de forma que assume esse ser qu e pensávamos único".
Apreend ida a lição, é assim qu e devemos
observar a poética de Francisco Carvalho.
Ela é múltipla e vária a um só tempo.
Dentre os tem as mais recorrentes na p0esia de Francisco Carvalho, já apontamos, anteriormente, em nossos estudos, a presença
da matemática social, onde o poeta se apresenta como autor de uma produção literária
que adverte e desperta consciências, realçando as angústias, criticando o posicíonemento
das elites responsáveis pelas eternas desigualdad es sociais. Registramos. ainda, seu
questionamento sobre o efeito da palavra
poética, seu compromisso com a poesia, desde o momento da elaboração mental, passando pela raiz da palavra, que funda o Sere
o mito, na proglU.....êo da origem do verso, da
descoberta da hora do poema, até a fase de
sua concretização; e apontamos a temática
da infância, sempre recorrida e percorrida
pelo poeta, na tentativa de recuperar seus
extraviados caminhos, pois a infância, conforme Francisco Carvalho, " é a pátria dos
poe tas, a matriz das nossas sensações, do
nosso alumbramento, da nossa magia".
Certa vez. em depoimento, Francisco Carvalho afirmou que "o poema pode não ser a
med ida do homem, mas certamente pode
ser definido como parâmetro das nossas sensações, das nossas expectativas diante da vida e da História. Pelo poema se medem as
mai.... profunda..s alternâncias da sub;etivida-
•
nando / plenitude vazia. E mergulhando as
raízes/ na carne da súplica. A morte é um
pássaro negro/ de perfil famélico. Um pássaro de grito/ aceso nos olhos gelados. Um
pãssaro que tegolpeia / com seus olhos velozes. Um pássaro que te apascentai na noite
O
,
,
•
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I
•
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.
unensa
o
• Painel sobre capa de Quadrante SoJar; vencedor do Prémio Nert/e
de conflitad a". ~ nessa perspectiva que p0demos afirmarser a poesia de Francisco Carvalho uma luta entre seus conflitos pessoais
e subjetivos, denunciando, ao mesmo tempo, num planocoletivo. os dramas da humanidade, como se observa no poema "Raíz",
inserto em RDSfl dos Ewntos: " O coração do
mundo pulsa inteiro em minha ~/ e em
tudo o que nela é presença de abismo! ou
solidão guardada num santuário da areia. O
coração do mundo é esta primavera de asas
que se enrosca/ no caule de toda exislEnci.a.
pura palpitação/ do ser convertido em fogo
ou pilastra."
Outro tema sobre o que reflete sua poesia
é a presença da morte, como algo "consu bstandal à condição humana", pois é nesse rumo que caminhamos todos os dias. Consciente de seu papel. o poeta nos diz que
"morrer é apagar a chama de todos os sentidos. Esvaziar a taça da solidão/ como se vinho fosse", e numa concepção metafísica diz
que "morrer é atravessar a encruzílha / da
quarta dimensão. Transitar/ pela matéria e
pelo fogo./ Cinza e ventoque se abraçamcomo as asas das pombas".
O poema "Esfíngeograma", extrafdo de
As Vts&s do Corpo, nos mostra os conceitos
metafóricos da morte:"Amorteé a derradeira/ cavalgada do homem. Asolidão germí-
Falando de sua poesia. Francísco Carvalho
nos confessou que todos os temas são poetizáveis, menôs, presumivelmente. as lágrimas do avarento que teve seu tesouro surrupiado pelos ladrões. Realmente, Francisco
Carvalho alcança a maestria de poetizar sobre diversos temas, como a morte, a infância
revtsitada, as questões de ordem metafísica.
os conflitos individuais do homem angustiedo, os problemas sociais. Porém, tema dos
mais interessantes ~ a transformação de simpies objetos ou acontecimentos aparentemente corriqueiros em pura poesia; aquilo
que O poeta Gilberto Mendonça Teles denominou de "celebração das coisas comuns e
dos acontecimentos do cotidiano", como se
observa em "Mesa de jacarandá": " Nesta
mesa de jacarandá / já houve muita paz/ o
vinho já acendeu corações/ taças já en toaram / seus cânticos de cristal."
A engenharia poética que compõe a obra
de Francisco Carvalho é sustentada na sua
base pela temática rural, onde o poeta percorre, através da memória, à sua terra natal,
visitando os velhos sobrados e casarões, o aJ...
pedre da fazenda, a cadeira de balanço, ressaltando, sobretudo, a figura do pai: " Eram
estes/ os campos semeados/ por meu pai...
Eram estes/ os campos fe rtilizados/ pelo
suor/ de meu pai / e a solidão dos
trabalhadores". Através da "E legia Pastoril",
o poeta desenvolve a simbologia rural, que
trad uz o desencanto daqueles que trabalham a terra para o plantio, na esperança da
existência de uma quadra invernosa.
• ~
Esse rol de temas elencad os encontra-se
disseminado ao longo de sua produção Iiter ár ia, às vezes de forma mais explícita, outras vezes mais sutil. A verdade é que. de
uma maneira geral. a arte é um meio que serve ao homem para acertar ascontas da compreensão de si mesmo, devendo, por seu intermédio, testemunhar e mostrar fatos que
não podem ser apresen tados por outros
meios. ~ nesse sentido que o poeta assume
um papel extremamente relevante, o de ser o
interloecutor, o intérprete de nossos enseios,
de nossos sentimentos mais dominantes.
Assim pensamos sobre a poesia de Francisco Carvalho, como a ex pressão de uma
consciência critica aguda, revelada lentamente, ao longo desses anos de exercid os
poéticos. num jogo de palavras com imensas
possibilidades de interpretação, mas transformadas em puro lirismo.
+AN.rr, VU DI" MOI,IIÁo ~ pro fpnora ck literatura da
UECE Pittltord de tré'5'ó1~da'lWtil2ck Fraft'. ' I .
cscc Carv<1lho
.' ...
•
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9
SÁMOO/ O POVO
ForIaJr..... CE. 11jwt197
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OS ·
Há quase meio século, Fra"ciscoCarvalho,
dtscrndrnle das p ieis lavouras de Russas, ara sua paes;"
tiaS lavouras di Fortaleza •
I
A
velha Skl Bernardo das Éguas R~
sa.s de 11 de junho de 1927. Francisco Carvalho. um filho de tua gleba. fenômenos como a chuva que. simbolizando
que. ainda adolescen te, dai se transferiu pa- o tempo da floração, convoca rerruníscêncías
ra Fortaleza. completa 70 "bolos de vida",
da infância perdida e dos ancestrais.
conlonne o próprio poeta escreveu no "PoeTais ft'('UlS06 palecem funàonar na lorma
ma dos Cinquent' Anos". de CrôniQ2 dIl5 Ralde valores co mpensatórios da in exo rável
usoTIvesse eu nascido também de solo tão morte. A eles soma -se o recurso primordial
fértil, garimparia um poema de reverrênda
que aparenta ser sob reposição à morte: o
ao homem cuja poesia.. no percurso de quase
amor. Não que algo possa sobrepu}á-la. mas
50 anos. é busca ontológica. Esse homem ~
o amor é uma espécie de ilusão corajosa que
procura do Ser, vai " ao Mercado Público!
transparece írwísibdízer a morte. Amar é es-para decifrar o enigma das pessoas ! Ainvi- tu acompanhado. é não ser SÓ. é. portanto.
sível mola de ouro que as empurra! para os não deixar a morte se aproxímar, Desse m0abismos da stt"evivência" ("Pragmatismo",
do. a imensa solidão, a preocupação tempoRAfus d.I Voz).
ral ou ainda a busca de Deus. tudo na poesia
Ver.;os meus em honraria ~ data tão comodesse cearense está respaldado na consciênvente não há, mas há breves e humildes coria da írremetd ével morte.
mentários, Inspirados num preceito do poeta
A partir de O Trmpo t os Amantt5 (19'l6),li·
[osé Alcides Pinto, ao referir a obra de Carvrc de inspiração no Q ntico dos C4nticos,
valho: "sua poesia já nào lhe pertence, é pa·
Francisco Carvalho e mpreende uma literatrimônio da humanidade". Em quase meio
tura também d e símbolos eróticos que. disséculo. edificaram-se quatro portmtosas pibibuid os em laivos ao longo de toda a obra.
lascas na poétic' de Fran<isro Carvalho. readquirem êatase especialmente em Pastoral
pl't"l'oeÕta(Jas por: Dítnnl540 dAs coisa5 (1%7), dos dias madlll'US. SonalR dos PinJwi5 e Ri154J das.
Pl1StonJl dos dilzs nWul"l'l$ (l rrm. Barol' das. StnMinlltos.
tidos (1989) e RDSIJ dos Minutos (l996). Dentre
A seqüência de trechos mostra um pouco
estes, o livrode 1989 assemelha-se a uma foz
do amor que invistbiliza a morte e ilude
para onde afluíram os anteriores. &rC4 dos
quanto à dimensAo do tempo. aparentemenStntidos é. ainda. a nascente de onde escor- te infinito: "A espera estou de que rt:gns,··,e à
rem as valorosas obras conseqüentes. rutída- concha rugosa do húmus placentário. Vem,
mente aperfeiçoadas em todos os aspectos.
para que eu seja fortifica da contra a visita do
Desde Cri~lill dll Mtmória (1955) até Rafus
anjo negro da morte" (O Trmpo t os Amantts.
dJI Voz (1996), passando por Qusldrantt So1Dr p. 12); "Teu co reç ão é a ilha em que me es(1982 - Prêmio Nestlé) ou por quaisquer outou.! süente eenterrecdo, ermo e total.! patros. toda a obra de Carvalho compartilha,
ra triunfar da morte" (Dimt71.S&l das Coisas. p.
indistintamente. da mesma argamas..~ que
73); " Beijam-se os amantes... (...). A boca só
constitui sua temática reiterativa: a morte.
modela a arquitetura! do gosto que peleja
Assim, desde seu primeiro poema até os contra a morte" (MrnkJrWI de~ . p. 1(3);
mais recentes, esta é uma vertente perene.
"Como não bebe'! do amor! se à míngua de
Se não é segredo que o Poeta considera
amor morremos?" (& ru dos SmtiJos. p.
suas produções iniciais apenas um exercício
53); " Bebe ao seio da amada
primário de suas experiências modemistas. quantas vezes! Puderes.
com muitas falhas comuns aos principian- Os dias, anos e metes, tal proces..."O certamente contribuiu para
ses! Sêo como a esa culminância de poemas lapidares, dentre puma errática dos
os quais se inclui " Va ri açõe~ sobre a
Morte". publicação de íncrívelluddez. em
RClSIJ dos Minutos. de onde se transcrevem
versos: "Qu ando o homem perde! o primeiro fio de cabelo! começa a dialogar com
a morte. (...). Ningué m consegue fugir da
morte! pela simples razão de que! somos
hosped eiros dela. (...). Morte. ó ceiíado ra
velo.z.! Quantas são as espigas! que abastecem o teu celeiro?"
' '''-.r:'' • ~
Essap~,JlYi...rpfl.~!,Io1~. ~,~r.an- , -1' ~ '
i,"(.~ A m' ,). rlt~"" ",1
cisco Carvalho atrai sua antítese: a Vida . De ,." ,. ('''' ,
tal modo que inúmeros poemas estão conta-
O
,
,
•
I
minados por um intenso clima d e celebração. através dos elementos da natureza, sejam animais. vegetais ou minerais. onde não
fal tam tigres. gatos, bois. pássaros ou cedros.
orquídeas. ro mãs. antú rios. associados à
água, ao vento, ao sol. à cor azul do céu e a
rios" (114"" doe S<n/iJo>, P' 245); · Ó rotação
de ventres explodindo! antes que retormemos à poeira! das lápides" (SonatJ1 dos Pu·
nMis. P: 111 ). "Comédia de poucos atos!
vai-se a vida veloz! entre Eros e Tanaros"
(JI"tfiI"".k Ama, p. 58).
A tese de Eros. que luta a fim de enfraquecer Tanatos. é compactuada pelo filósofo francês Ceorges Bataille, em O Eroti.....
mo (1957). Para ele. o Homem é um "ser
descontínuo que morre isoladamente
numa aventura Iníntelígfvel". Porém.
o erotismo coloca-o perante a obstinação de continuidade por meio de um
outro ser. Esse significado erótico
não pereuza a vida. mas fortalece-a
em contraposição à morte. Acerca de
tal vertente. o exposto é somente um
dos vários sentidos da morte, veiculados pelo poeta cearense no decorrer de
sua poesia. donde se depreende a imensidade de toda a obra.
Como disse Alcides Pinto. a poesia de
Francisco Carvalho já é patrimônio da humanidade. No entanto. esta humanidade vive em débito contigo. Poeta de Tenatos e de
Eros. pois nào identifica. na multidão, um
homem para quem "a tarde é a soma de todas as tardes" e não apenas um " retângulo
de sol", igual ao que transperece a um homem brilhante. Ó Poeta. Profeta. são plenos
70 "bolos de vida" e vo vento da morte sopra
onde quer! que este bolo se repita"! Todavia, não podemos permitir que o av atar do
amor dobre os joelhos diante da esfinge que
a cada um de nós espreita. Estes ensinamentos são teus, Poeta, e sào vida
• M",U.M,l
vecoccnos Dl SotJo<; ,l ~ tne'Jt,~nd~
pmllPtr.n (UFO
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v'
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CONTRACAPA
IL--
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irassois aos
12
.:.=..
.L-<BADO/ O povo
Fo"dinA CE. 71JwtR1
~
a
Dos sonetos confessionais às utopias, passondo
pelas ovelhas, o Sábodo publica hoje quatro poemas inéditos
do paeIa Francisco de Carvalho .
Memória de urna
Utopia
Soneto Triangular
Aqui estou, perdido entre os eleitos.
A vida passo e os sonhes n4D retornam.
Pesom mais as virtudes que os deftitos.
Canção da Ovelha
Uma """Iha balia mas n4D era
porque estivesse longe do pastor.
Balia pela cria que perdera.
Pela distãneio epelo seu odor
Já rulo ctlebro as núpcias do destino.
Trigo e palavras, vozes que semeio
por que n4D morra oaoustopaladino.
Niú> sei quem sou, n4D sei oquanto
valho.
Sei que carrego dmtro do meu peito
um roraç4ovestido de espantalho.
de relva ehúmus. Talvez pelo mito
ou pelosangue derramoda em Wo.
Uma "",,1Iw baliu junto de Cristo
e rumina o prodlgio, desd< então.
Sou um monarca qlU' perdeu Q glóriJl
efoi dormir à sombradas arcadas
de um tempo sem regresso esem
memóriIl.
Uma """Iha balia para o tempa
epela chum. Mas tambbn balia
pelo regresso doutra OtJf/ha incauta
ertroviada nos C1JIIfins dodia.
Nesse fluir de causas e de efeitos
pesam mais as virtudes que os defeitos.
,. ,."
I
, '.
f
Bolia pela fome epelo oemo
que tambbn é pastor etoca flauta .
Foi à jarrela quando .
as sombras do entardear caiam
SUI1Vt1tlt1Jte sobre a COliM .
Na rolina hovia uma tumba à espera
dos ancestrais, mcada de rel",s
e dum rumor de ovelhas.
Imaginou que IalvezJosse larde
demais pora ser ronvidado ao banquete
de uma "'Iúpia chomoda utopia.
Veio di' longe o repicar de um sino
arrastando folhas amarelas
e pás...'õQros tardios.
O odor da chu", edas núpcias da tma
o levou Q recordar certo rio
de águas dilacemdas. onde os meninos
costumavam mergulhor à procura
decoflc1uls ereminiscências
entre os cabelos dos afogados.
os
Igualdade
Sou um pequmo burguês
romo todos vocês
jáestudei javanês
romo todos vocês
jáfui cretino talvez
como todos vocês
jáfui vitima das leis
como todos vocês
já venci o dragtlochinês
romo todos vocês
já namom num C011t't?s
como todos vocês
jáfui súdito dos reis
como todos oocês
já lIIe embriaguei de xerez
como todos vocês
já tive umgato siamês
"""0todos vocês
já morri mais de uma vez
como todos vocês
já pernoitei no xadrez
como todos vocês.
, - .-
.l.
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CONTRACAPA IL....
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povo
CE. ftJlcJKG"97
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arca e a
Quatro livros """Iam OS sustentáculos da ""ta abra
pottim dL FrancisaJ OzrvaIho. qut será lema dL paltstra das 5enJinAriDs
Escrifores úmrnses na UfC .
I
F
versos IapNlan5' Ptd>ein>s ~ <ir I»8 UfI" I ton tos dt l2rr,nM-du, p"SSQm dt
biridn4" (Mucuripe Latitude Amo.-). Atendência do poeta ~ dizer mais, dizendo menos objetivamente. deixando ao leitor, cada
vez mais, o silencio. onde reside o precioso
sentido..
B4rca dos Sentidos ~ o terceiro pi.lar da
obra de Francisco Carvalho. Ai, o fazer
poético vira um valor destacável. Embora
já enfatizado. o poeta dispõe de ímperatívos pa ra a "Transformação do Poema".
" Esqutct o ptdantismo do lltTSO Qrigor. (...).
Esclltl2 o choro dos Qflitos". Porem. a maior
representatividade de 8araI das Smtidas está no fato de aparentar ser a foz para onde
afluíram os livros anteriores. Comporta,
assim. todas as temáticas comuns à poesia
de Carvalho, em todas as suas diversas formas, numa versatilidade que premia esse
livro. ainda a nascente de onde surgem
as valorosas obras conseqüentes, nitidamente aperfeiçoedas.
ROS4 dos Minutos propaga-se como o
quarto pilar, onde convivem imagens admiráveis . No entanto, o que transparece
marcar tal livro é a segunda parte, pnndpalmente por "Desenhos Eróticos". doze
poemas que ganham sentidos menos vela..
dos, delineando um erotismo mais explkito, como mostram 05 versos: Qutro ttT-ft o
trmpo todo I dtsandrn tt tU igw1 mo"rQ I rtganJod minJw ltmnua. (...). Qutro m-.fr li mi-
i
rar<isco Carvalho. pleoos 7() anos. já
deu a público 24 livros de poesia,
através dos quais esse cearense faz
uma busca onto&6gica. O homem à pl"OC'W'3.
do Ser vai "ec Mm:ado PJibliat/pgr4 dAifltH
omiE""l d4s pt~llJS " (PnlgtnJJNsmo, R.OS4J dos
Etmlos). Essa busca data de CrisfJI.l dil Mt·
m6ria. 1955. Quase meio século de poesia
que merece destaque. Assim, o presente
texto trata. em linhas bem gerais, da pales-
tra a ser proferida no dia 26, no auditório
da Reitoria. UFC. fazendo parte da programação dos Seminários Escritores Cearenses, que acontece de 25 a 29 de agosto.
De toda a obra de Carvalho, a vertente
p rimordial é a morte, d e onde edv ém a
•
imensa solidão do homem, originária do
sentimento de se saber irremediavelmente
mortal Contrária a essa angústia que surge da certeza da finitude humana, o poeta
empreende a celebração da vida, especialme nte pelo amor, forma tão fulgurante
que invisibiliza a morte, que é, na poesia
de Carvalho, uma entidade que vale a vida. Sentir-se consoenre da irreversibilídade da morte, significa aumentar o fulgor
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da existência. Abrangendo a antítese morte - vida, edificaram-se quatro portentosos
pilares na poesia de Carvalho; DimtnS40
d"5 em- (1967). P"w..! dos a;" MoI"""
dos
(1977). & .... dos SnohJos (1989) e _
Minutos (1 996).
Antes de Dimmsdo 411S COiS4S (1967),
Deus aparenta ser uma fé incontestável:
"N""" pnI;' I rxusl N""" gNn.U UM" (Ode
IIL do GirllSSOl t dA NIIMJl): Em DjlTlLJ't.Sdo
tÚS Coiws, o poeta já nã o o encontra: Ah,
pm;o-~ I'W busaa .h DtId/ Nos Llhirintos d.l
"""""' <ir rxus" (AGdade EIegia<a).Ne>se livre de 1967, Francisco Carvalho inaugura uma certa ousadia que lhe permite até
se equiparar ao supremo: "Sc um 4i.2 tufrr
com Orus, nos seas azuis longínquos, roLmJo
ptlos ll5Jros dois nrgalrundos intimos" (Segundo Poema do Absurdo).
Noentanto, o destaque maior desse livro
está no povo: "A, numn depuro... ! ... numn
pro/ttária. / não duira btm.fnk" (A N uvem
com Sede); "11001 o trigo fldll se rommtt I trn
,-lo, flor, miJdrigal, ((forno:I ~ scmprr um
homem do poro, I W/'W flor 'la laptliJ do pot.cr
(Uma Aor na Lapela do Povo). Adimensào
da s coisas ass-umida n~$a poesia. certamente, es;tJ. relacionada .1 preocupação hu-
.-
•
nJwtspn' /i _dos <=lip""/01Nlgon-
• FrMdsco earv.lho: a morte,. a sofidão e simb%s eróôcos como tema
mana do poeta a nível social.
ca dez longos poemas à mulher e ao jubilo
O segundo pilar da obra de Carvalho re- • do corpo, intitulando-os "Eros r' Ira", de
vela-se em PlI5tond.tos Dias ~Url'lS , quanonde são os versos: " Meus.ústj<:rs Ir irrigam.
do a1 se registra UITl.t1 marca inédita: os símE II/11lJ flor di frltro I drs.llnocluJ scltrltmmlt
bolos eróticos. Nos lÍ\'TOS anteriores havia (11l min1LJs mJos. LJ. Coxas qUt mt lUom 11apenas sinais que n âo constituíam essên- tMm frito lineara./ CnoJ-mr nmr tu.z purr.A di..
laCtrdiLl. (...). Trnllo Sl'dt iLl fvn tr qur t a tWJ
cia. Os versos excedem nas adjetivações
pouco expressivas. quase só um joguete de looJ.ITeu rorpo t profunJbromoas ci.~ Il'Tl1<1S ".
Há um erotismo velado. simbólico, porém
palavras: "Doces igUl25 dmartl«o / com SUl!5
l'Ultw trtgra..~ irr;gaJ.L~ I rtQ tst<1ÇJo dos wliprnão mais simplesmentede palavras soltas.
Nesse livro, existe outra reveleçâc indisdts cmtMUM: . L J. Era um ttmpoJt grlln'S cLlrú:6rdios; I FmHl()S rom ~I ~ptmw inllmmí..
pens ével à poesia de Carvalho. Salta aos
t"tll frcllnJo.ram mulhrrrs )(miJt uSdS, l 'l(Ir olhos a garantia e\'olutiva quanto às imaooi."5llis 1/l(FIll'rolS írrigaJl1S" (Canto I, M:mo- gens utilizadas pelo poeta. Em PIJ5fond...
elas amad urecem, tal se pode sentir nos
riIl/ M Orfru'. Em Plt~toral... , o f'Ol'l.1 já dt."di-
•
•
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..' .
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do o.mror óIf.6 gritc15. (...). B ltSCQ- ft, tmrJZda. tItti
c/'uriras / plra ctiJitr os trw gorrws rom 11 m;"
nhoJ fuiet" . Além de "Desenhos Eróticos",
há ai outros poemas que celebram igual
magnitude, feito "Burocracia". "OIwmtns
dr iJ/iJu I6gicds I tsCrtWi um tnl2drigal / às
d"5 d.JlilÓli"fi"".
Ressaltado o porte dos quatro pilares
que bem sustentam a poética de Francisco
Carvalho, enfoque-se que os dem ais li..
vros têm dos mencionados os mesmos alicerces. Fique, portanto, distante a idéia de
lhes atrib uir menos fulgor. Foram apenas
assinalados quatro momentos em que algumas das características marcantes se revelam. pois é a grandeza de toda a poesia
de Carvalho que a transforma mesmo em
" pa trimôn io da humanidade ", segundo
as sábias palavras do poeta José Alcides
Pinto.
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\ 'tiCO!'ICflO'> O( Sol.;s" ~ '"'"tr.ltXt.J f'm
L it~r"fur" na UFC
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U2 ESPECIAL
Numa preparaçdo para os shou'S do Ul ,qlleacontfu m 110 comfÇO de 1998 110Brasil,aMTVveiculaapartir
dehojeuma sirie deatra(ÕfS dedicadasàbanJa. Lego mais,às 19110ras, roi aoar "Col/tagem RRgressim",
cOr/tmrlto atrajetória dos irlll1ldeses ded e 1976. Às 2311. "PresenteMTV"traztlltret'ista comotocalista &11I0
Voxecomo baterista Ltrry M uI/c". EmlUmhii, às 2111, "Luz, Câmera, Ciip"exibe:õÓ l'ídt'OS do:-,""II//(I
vida & arte
29 de setembro de '997
Raízes da Voz, litro de poeeia do cea re.,,~ ,' Fmncisco Gzn'flllllJ, é o
quartofascíCli/odoVestutras,t'1lcartadoho/e pelo O POVo. A obra
t'Stá entre os dezlittrOS indicados para o l~t i IJll la r 97/2.
da Unit-.midadeFederal doCeará· UFC .
te ano, o poeta Francisco Carvalh o co memorou seu s 70
no s e m gra nde e stilo co m o
lan çam ento d o novo livro, Gi ra~sôis
di Bar1O. Nêo poderia ser d iferen te .
Afin a l este ce arens e te m uma d as
ma is va sta s obras lite rári as d e su a
geração. sendo um a d as persora hdades ma is pronncas d e sua geraçãoSolo ao tod o 22 livros de poesia e dois
d e pros.a. O livre de poesias Rllíus da
Voz, lan çado ano passad o, é- um dos
d ez ind icados para o vestibular 9712
da Uruversid ade Fed eral do Cea r.i UFe, e é- tema do q uarto fascículo d o
V~ t Le lTas, que vem encarta do hoje
no O PO\'O.
Nascid o no mu nidp io d e R USSolS,
regiào do Vale do )aguaribe, em 11 de
junho de 1927, Francisco de Oh\'eira
Car..-alooestudou no AIt'nl"U $.}o Ber·
rardo. ord e tezo ginobiaJ. Em 19-kI, se
transfenu em definiti vo pa ra Fortaleza onde tTaNlhoo rocométoo até in~ r como tuncion.\rio da Umver»dadc Federa l do Ceará pa ra ser assessor da Reitoria Hojt', ~ Secn·t.'irio
do Corce lho Universitário d,l UFC Ê
membroda União Bra~ileira de Escrito res e ocupa, desde 26 d e abnl d e
19%, a cadri rJ de n· 31. d a Academi a
Ceareree de letras, cujo pa trono é- o
ecmcee tik....oío Faria-" Bnto.
Au tora de rr,'s Dllllffl>O:\:S da P,"'1J(a
J( fr'l1Ici~ Gmwfllt1, a pro~'i(lra J<,
l itera tu ra Bral>l leir a d a Umversid ade Estad ua l d o Ce ará - UECe -, Ana
Vl.'id la Mo u rão traça um painel d a
p\lt'SiJ d e Fr.mcisco CJ T\'J lh<>lt'n do
• O poeta Francisco Carvalho comemorou seus 70anos com o lançamento de maisum livro
como pri ncip al refprência o bvto RllíU'S dd Voz '-Sua poesia privilegia a tem:itica social, as qu es tões de ordem
meteftsica ou mesmo a morte co mo
condiçãosubstanc ial à vida, bem como as preocupações com o fazer pcétice , atravé:; d a elaboração e agrupamen to das palavras quP irêo compo r
o poema. tud o isso tendo co mo alicem! a rem.thca da inf.inciap sua orige m rural ", t 'SO'eW a professora em
um d os trechos d o
fasdculo d e h..-;e no
Te m características d e qu em abserveu as experiências ino va do ras do
Mod ern ismo de 22, mas lTv. u m certo rigor forma l e o sabor enigm.'itico,
descend ências d o parnasia nism o e
d o s imbolismo, respectivamente.
Acima de tud o, sua obra tem uma caractertsticauruca, própria, on ginal.
O escritor Ca io Po rfirio Ca rneiro
afirm ou , em trecho rep rod uz ido no
fascículo de hoje, " a poesi a de Francisco Cary alho, ao correr do tempo e
ao suceder dos livros . evo luiu e ama dcrecec. naturalmen te, mas gua rdou
sua essencialidade m:igica e filC/!ôÓfi ca". A prova é- que seu QuaJr.l"' t »
14, ganhou o PrénuoNesuéde Ineratu ra de 1983,
lUius da V(lZ, a
vestteees.
O nome d e FranCISCO
Carv.rlho
ob ra escol hida,
representa exala mente es ta fase
be m poder ia ser
mad ura e cons islistad o entre os a utent e d a ob ra d e
tores d a cha m a d a
Francisco CervaCereçêo de "\5.
lho. A o bra teve
aqueles que faziam
sua p rimei ra edioposição às inova ç âo
pu b lica d a
ções es t éticas p roano passad o pE"la
pos tas pelos mo pela lmpronsa
dermst as e rt"CUpeUruversitária,
ravam mod elo s
den tro d a Co ledos pa rnasian os e
ção Alaga d iço
Francisco Caroa ího é
simbolistas. AcnnNovo, do Prograca es pec ia liz adJ
ma Ed itorial Cas.J
autor lte 22lir>ros 11e poesia e
chege a co m paráde José de Alenlo a Carlos Drurnde dois em I'rosll
car Co m sue ecomon d de And rade
lha como oora ree João C.JI;>ral de Melo Neto . Foi coe- fe rencial para o H'l' llb u la r rn /'1., a
tempcr àneo do Grupo CU. queron- editora decidiu publi car uma n(l\"a ti soüdou noCeará os idt'd is do ~ Iod er­
ragem \'oluda aos objctt \' O'o dos vesni...mos, sem se Ii~ar a seu s mtegrantibul and os , O f'l.... ma que d oi ritul.) ,lU
tes. Mt'smo assi m, sua ob ra nâo se hvro . "Raizes da Voz"", diz respcno a
vin cula es pec ialmen te a nen h um a
história do hom em l ' sua rt>laç,](l l,\lm
tt' nd en c;J o u ml,)v iml'n to co le tiv o .
a pa lal" ra. e pvrtantn .1 f'l...·s ia,
·••
..
A leitura,
do ponto de v'ista
de um leitor f()ra
do comum.
Be fez uma leitura superoriginal do prazer de ler. Apraveite,
agara é a sua vez. O escritorargentinoAlberto Mangue',
naturalizado canadense, está vindoa Fortaleza lançar seu livro
Uma hist6ria da le nura. Éo mais recente sucesso da
Companhia das Letras, que apenas nos quatro primeiros dias nos livrarias venc /eu 3 mil
exemplares. O segredo? O autorescreve movido o paixão, poro contarsua odis. séia de
livros e leituras. Assim estava escrito: ele não poderiajamaisser um leitor com l Im. Aos
16anos, liaparoninguém menos queJorge w is Borges. Essa história e muitos l ições
estõono livro. Tudo a vercom O POVO, no esforçode valorizar o leitura e busco, -sua
fUncionalidade. Tonto que o jornalestá trazendo até você o autor e sua obra. VOt :ê vai
ter prazer em conhecer.
,
Eler pélra crer.
Lançamento hoje, às 19h, no Náutico. Com autógrafos e pc destra do autor.
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WF?feK:l:hX._
CO ~IPANHL' D AS L ETRAS
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Cea rense de Letras
Niulico Atlético Ctlrtnse
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OPQYQ
RESENHA
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~ O'I:OVO
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A
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Fo~tE,l/~
nle
,
esrom
1
Em Girassóis de Barro.livroque comerrwra seus 70anDS, Fnmcis<o
GIrm/ho mostra que o ritmo ih SUJJ lingUJJgem é um frnômmD Taro em nossa
t
lituatura e que poetas como elt silo pouros .
+Cts.ulLu
~
se refere a "vento pálido", também fala de
li " fel da lágrima", que efetivamente pode aludir a algo referente a dor, desgosro. jã que a
~ lágrima se associa. à idéia de choro, de sofrimento, dai o amargor do fel. Mas "o azul
metilico/ da égua árabe"!ança o leitor no
núcleo do "absurdo como recurso de
liberdade". Ou seja, nos atira bem no centro
de uma expressão surrealista. Também se
pode observar posições tipicamente ultramodernas romo:
i
O
poeta Francisco Carvalho publica
Girass6is d~ Barro,
poemas que justificam a entusiástica
recepção de sua obra
entre os melhores leitores de poesia brasileira neste fim de sé--
Hoj" oibodo
oomtoip6;:do
, ludo ! s6lido.
culo. Mas, quando
digo sua "obra poética", é claro que não me
refiro apenas a Gir/JS5ÓiS de &mo. Falo também dos 21 livros que jei publicou ao longo
Contudo, o terceiro verso da última estrofe - o poema tem seis estrofes - desfaz o terceiro da primeira; "e nada é sólido".
é. essa técnica de oposições deliberadas a
pedra de toque dos poetas da modmo;ms. como ensinam os téoricos da poesia. Francisco
Carvalho pex tence a esta familia, que não é
tão grande quanto se julga. São poucos os
que cultivam tais flores em seus jardins. E
possuem o dom de ver o quanto hJ. de belo e
de duradouro em poesia ronstrulda dentro
desses padrões de exuberànda e rigor. Os romanistas - e os mais completos entre eles. para doxalmente são alemêes - definem tal poesia como "romantismo desromantizado", algo equivalente à poesia que vem sendo
cultivada pelos mais completos poetas do
de sua vida. Aesses livros anteriores. ele junta mais este.
algo assim como a " palavra de fogo l
gravada no umbral/ das cem portas de
I ebes", ou se o leitor prefere, o "abutre verÊ
melho/ roendo as entranhas/ dos muros de
Tróia". Assim é a poesia de Francisco Carvalho: um poeta moderno co m uma densa
compreensão da importância dos conceitos
de Antiguidade e Coot:emporaneidade. Pois
sem um inter-relacionamento desses conceitos, os termos moderno e pôs-moderno não
passam de meras abstrações teôricas.
Mas N Ose pode ficar indiferente li beleza de avenidas como estas: " o pássaro no
espaço/ o pássaro no asfalto! O pássaro no
espelho! o pássaro na escarp.! O pássaro
século xx.
Eessa é. melbor definilâo par.> Francis<t>
na estepe/ O pAssam a estibordo/ o pássaro no exfiiol o p.issaro no ventre l o pássaro no vértice/ o p.issaro na bússolal o pás-saro na lâmpada! o pássaro na nuca/ o
Carvalho: " romântico desromantizado", o
que equ ivale a ser " moderno", " pósmoderno" - valha o termo com toda a sua
carga de imprecisão. Por isso, quando presta
homenagem • Minas, através da grande Y..
da Prates Bemiseoutros, adverte:: "'Não imaginem os desavisados que este poema 5eja
uma tentativa de voltar aos tempos e 11 prática da poesia bucólica dos ãrcades", advertência desnecessária, já que é evidente o
abismo que separa sua expressão das formas
cultivadas pelo Poeta de Marilia, que na realidade foi um criador de belos poemas, e ao
modo de Francisco Carvalho. um homem do
seu tempo. E isso está presente nessas tOlies
e avenidas de palavras presentes em Cir/1.5s6is dt Barro. um livro que coroa muito bem
os 70 anos de vida do poeta brasileiro.
pássaro no tempo! o pássaro na cúpula! o
pássaro no estio / o pássaro na aurora / o
pássaro na voz".
Faço o elogio dessas formas com plena
ronsciência das forças mágicas que nelas se
concentram. E se tivesse que demonstrar a
sinceridade do que afirmo, a minha. própria
poesia seria um exemplo. Só um poeta competente - e Fnnci.sco Carvalho é competentíssímo - poderia escrever estes versos:
•Agutw "" <hUM
I
no tlm'''' tm cMtn4S
no~.. , .sdmmto-.
t
I
Poetas à semelhança de Francisco Carvalho 5.\0 poucos em cada século.O aJogirismo
• Frands<o earv.lho: paI.",. de fogo
de sua linguagem é característico da melhor
arte do nosso tempo; isso já seria suficiente
para situar Francisco Carvalho em posição
singular no quadro da f'O'S" brasileira contemporânea. O alogicismo da poesia intensificou o sentido de suas linhas a partir do século XIX. em especial com Rimbaud, e alcançou grande força neste século em certa fase
da poesia de Paul Eluard. Mas o alogicismo
sempre existiu entre os grandes poetas, e
continuará a existir através dos tempos. en•
quanto houver poetase poesia.
No poema "Sábado", Francisco Carvalho
,
•
••
o hornen. que confundiu sua mufher com
wn chapt ~ . Ofrver Sacb; tTadllÇJo La..-a Mal·
to; Com"... hia das letra< 264 P'9.... 25.00
Mais um lil. ro em que casos dinicos do newologista ol ~ Sacb viram livro. Um deles" que dá
Utulo a est , volume. já virou inclusive peça de
Peter Brook.. freud já fez parecido. Na mesma linha. o que Sacks faz é mostrar como alguns casos ~:os podem virar histórias impagMis
e muitas vezes ponto de parti da para um bons
os
romances.
lJngua Mata
i.-
Demtf1ia Martinez; traduçao
Alice M.tOmo; Record,; 176 paginas;; R$ 18.00
Refugiados ilegais na América, um romance irnpossiveI como pano de fundo e uma boa GUSa.
Estes Solo 05 elementos do romance M t5trN de
DttT.etlÍl Martinez. americana de origem latina
que mora no Texas. Puam a seufavor o ef'l'I'Ototi.
mento com a causa dos refugiados nos EUA chegou a ser pl (li . I ada por 50 - e r ao'\as Pl>
sitivas em jornais americanos..
-.
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l"
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FASCISMO
ESTÁ
VOLTANDO?
•
o til
._.
-._>,
-
I .10 esU voIta ldo? - Jacques: JuJrlo1rd;
nduç.'o Guilherme Teixeira; Vozes; 138 páginas; R$ 14,00
O subtltulo A queda do comunismo e a cee do
capitalismo podem ajudar a explicar este livro do
frances Julliard. que tem a guerra na Iugoslávia
como ponto de partida. Diante da indiferença
das delTloo acias e da desfaçatez das ditaduras. o
nistoriadof se questiona se chegamos ao nível de
cinismo completo, cenário perfeito para um indesejá>el retomo do fascismo.

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