Fev 2011 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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1 fev-mar/11 ÓRGÃO INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS / ARCO - ANO 5 - Nº 20 – FEVEREIRO / MARÇO 2011 fev-mar/11 2 O ARCO JORNAL é o veículo informativo da ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS – ARCO Av. 7 de Setembro, 1159 Caixa Postal 145 CEP 96400-901 – Bagé (RS) Telefone: 53 3242.8422 Fax: 53 3242.9522 e-mail: [email protected] home page: www.arcoovinos.com.br D A pauta para 2011 SUPERVISOR ADMINISTRATIVO Paulo Sérgio Soares e alguns estados brasileiros venho recebendo informações e convites para participar de discussões sobre um plano de desenvolvimento para a ovinocultura. Minha primeira reação é de alegria, pois parece que finalmente o setor começa a mobilizar as atenções dos governos que estão assumindo a condução das políticas de desenvolvimento em suas regiões, neste momento. Creio que parte deste movimento se deve ao boom de elevação de preços e de investimentos, por parte de criadores, na ovinocultura. Com mais pessoas envolvidas, a onda de reivindicações, de levantamento de necessidades começa a se intensificar e, acredito, a chegar nas mesas dos responsáveis por programas ou políticas para o setor. Como resposta, felizmente, chegam estes convites. No Rio Grande do Sul, desde o momento de elaboração do programa de Governo, de um candidato que se tornou o vencedor das eleições, a ARCO foi chamada a participar das discussões em torno de propostas para o setor. Elencamos temas que achamos que podem servir para a grande maioria dos estados brasileiros. São temas recorrentes que sempre aparecem nos encontros entre criadores, representantes de entidades e câmaras setoriais. Assuntos que temos colocado em nossos editoriais e que acredito, valem a pena ser relembrados porque podem se tornar sugestões para outros projetos governamentais. Em nossas conversas com o atual governo gaúcho pontuamos que era importante ter um programa de financiamento de retenção matrizes, pois com os preços do quilo vivo em alta, muitos criadores estão enviando suas fêmeas para o abate. E para reconstituição do rebanho, linhas de créditos que permitam a aquisição de reprodutores e ventres, mesmo pra rebanho geral, com juros compatíveis à atividade. Também listamos que é necessária uma ação muito forte contra o abigeato e o abate sem fiscalização, fatos que as vezes estão fortemente interligados e que significam a segurança no campo para o produtor trabalhar. Tenho ouvido estórias de produtores que estão liquidando seus rebanhos porque foram roubados em 30% do seu plantel PO em uma única noite. GERENTE ADMINISTRATIVO Bismar Augusto Azevedo Soares HUMOR DIRETORIA EXECUTIVA Presidente: Paulo Afonso Schwab 1º Vice-presidente: Suetônio Villar Campos 2º Vice-presidente: Arnaldo Dos Santos Vieira Filho 1º Secretário: Carlos Ely Garcia Júnior 2º Secretário: Almir Lins Rocha Júnior 1º Tesoureiro: Paulo Sérgio Soares 2º Tesoureiro: Teófilo Pereira Garcia de Garcia CONSELHO FISCAL Titulares Wilfrido Augusto Marques Joel Rodrigues Bitar da Cunha Thiago Beda Aquino Inojosa de Andrade Suplentes José Teodorico de Araújo Filho Ricardo Altevio Lemos Francisco André Nerbass SUPERINTENDÊNCIA DO R.G.O. Superintendente Francisco José Perelló Medeiros Superintendente Substituto Edemundo Ferreira Gressler CONSELHO DELIBERATIVO TÉCNICO Presidente: Fabrício Wollmann Willke ARCO JORNAL Coordenação Geral Agropress Agência de Comunicação Edição Eduardo Fehn Teixeira e Horst Knak Agência Ciranda Jornalista responsável Nelson Moreira - Reg. Prof. 5566/03 Diagramação/Redação Nicolau Balaszow Colaboradores Luca Risi - charge; Luciane Radicione - reportagem Fotografia Banco de Imagens ARCO e Divulgação Departamento Comercial Daniela Levandovski [email protected] Fone: 51 3231.6210 / 51 8116.9784 A ARCO não se responsabiliza por opiniões emitidas em artigos assinados. Reprodução autorizada, desde que citada a fonte. Colaborações, sugestões, informações, críticas: [email protected] Foto de Capa: Robespierre Giuliani Editorial Pontuamos ainda o tema da sanidade e de melhoramento do índice de desmama de cordeiros, algo que especificamente no Rio Grande do Sul, é crítico. Para isto indicamos a necessidade de recomposição dos quadros da Emater, responsável pela extensão rural, para que seja possível levar conhecimentos, tecnologias e ações práticas a todos os criadores de ovinos gaúchos. Pedimos ainda a reativação da Câmara Setorial da Ovinocaprinocultura, para termos um fórum permanente de discussões e proposições a toda a cadeia produtiva deste setor. E, neste sentido, um trabalho forte do Governo, no sentido de sensibilizar os componentes deste sistema produtivo, a participarem dos encontros para que realmente possamos criar os elos e a força produtiva neste setor. E, por último, mas não derradeiro, olhar a ovinocultura em todos os seus aspectos sociais e econômicos, ou seja, um ovino não produz só carne e lã, no caso do Rio Grande do Sul. Abaixo da lã tem a pele que pode ser processada para utensílios de couro. Existem também raças especializadas na produção de leite, já em atividade no estado gaúcho e existe ainda a necessidade de formação de mão de obra para atender a este renascer do setor. Olhando tudo isto tenho consciência que a “lista de tarefas” é grande. Isto se deve acredito, ao fato de que a ovinocultura esteve por um bom tempo, de certa forma, adormecida e que ao retornar deste sono, encontrou uma lista grande de coisas a serem feitas para recolocar o trem em movimento. São desafios que precisamos enfrentar e vencer. É uma das nossas pautas de trabalho para 2011. Conseguir sensibilizar os governos para estes itens, fazer projetos e levá-los a serem concretizados. Pauta esta que deixo como sugestão aos nossos companheiros de labuta na ovinocultura, em outros estados. Creio que de forma geral, os problemas são semelhantes e podem ser encaminhados aos seus Governos em busca da elaboração de um plano de trabalho. Penso, sinceramente, que devemos aproveitar este momento de alta nos valores do ovino, que nos trazem uma boa alto estima, para levantarmos nossas bandeiras e sairmos a luta em busca de melhorias e apoios. Em busca de posicionar nossa atividade como importante no cenário do agronegócio. E para isto, precisamos da união da nossa categoria, do apoio das entidades representativas e dos Governos. Esta é a hora, esta é a pauta que precisamos levar adiante e vê-la implantada em nível nacional. Paulo A. Schwab - Presidente da ARCO 3 fev-mar/11 fev-mar/11 Reportagem 4 Ovinocultura avança em todas as frentes O Sul do Brasil há muito perdeu a exclusividade na produção de ovinos. Embora seja o berço da atividade, há alguns anos a criação tomou novos rumos e hoje é realidade e por que não dizer, alvo de muitas iniciativas governamentais. No passado, era difícil imaginar que o reduto do Nelore no Brasil um dia poderia se tornar também atrativo para a ovinocultura. Fotos: Divulgação Luciana Radicione E m 2003, o Mato Grosso do Sul deu o primeiro passo para povoar parte das propriedades. Segundo Rubens Flavio Mello Corrêa, coordenador de Agronegócios da Pecuária da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo (Seprotur), a ideia inicial era incentivar a produção de uma carne diferenciada, e, ao mesmo tempo, ampliar noções de manejo para os rebanhos “solitários” existentes na região naquela época. “Se via de tudo, rebanho junto com o gado, desmamados, rústicos”, conta o médico-veterinário. Parcerias com universidades e a Embrapa mudaram a realidade do Estado. A raça Pantaneira, rústica adaptada às condições de clima e solo do Mato Grosso do Sul ganhou muitos adeptos, e a atividade “ovinocultura” deixou de ser amadora para se tornar uma fonte de rendas para muitos. O Estado ainda não possui estatísticas sobre o número de cabeças, mas calcula o crescimento vertiginoso com base na ampliação do número de frigoríficos abertos após o incentivo dado pelo governo. “Hoje possuímos três plantas para o abate, o que no passado era praticamente impossível de se imaginar. Também temos dez propriedades voltadas ao confinamento”, afirma Corrêa. O Estado com a maior rebanho bovino do Brasil quer continuar apostando na ovinocultura. Nos planos está a continuidade de cursos de capacitação que vêm contemplando diferentes regiões do MS, além da aplicação do Programa de Avanço da Pecuária – Programa Cordeiro, que prevê incentivo financeiro do Estado com rebate de 50% no ICMS, além de um plano de bonificação da indústria à carne produzida dentro de padrões técnicos e de qualidade. “Estamos transformando algo que não era tradição em fonte de receita”, comemora o coordenador da Seprotur. No Rio Grande do Sul, que já abrigou quase 14 milhões de cabeças – e A criação do ovino Pantaneiro deixou de ser amadora para virar fonte de renda para muitas famílias hoje tem apenas 3,5 milhões – a luta é fazer com que a atividade se torne mais competitiva. “Apesar dos reveses que sofreu, a atividade no Estado tem um grande potencial. O que falta são políticas de fomento à sua retomada”, afirma o secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa) do Rio Grande do Sul, Luiz Fernando Mainardi. A favor do Rio Grande do Sul, afirma o secretário, está fartura de material genético, mão de obra de qualidade e excelentes condições de clima e solo. “Portanto, todas as condições de retomar o setor e voltar a posições que antes ocupávamos.” O abate de matrizes é um dos gargalos que precisa ser contido entre os produtores gaúchos. Muitos, em busca de capital de giro em curto prazo, entregam as fêmeas aos frigoríficos, reduzindo ainda mais o já comprometido plantel. De acordo com dados da Seapa colhidos junto às estatísticas oficiais, no ano passado o abate de matrizes em frigoríficos sob inspeção oficial foi 82% superior ao de machos: foram abatidos 399.562 ovinos, sendo 182.456 matrizes e 100.456 e machos. Houve, ainda, o abate de 28.462 cordeiros fêmea com menos de seis meses e 88.188 cordeiros da mesma categoria. “Isso nos impede de ter competitividade no promissor mercado da carne ovina. Também temos problemas como à desorganização da cadeia produtiva e a falta de uma maior interação entre a pesquisa e a extensão rural. Algo que teremos que enfrentar, pois acreditamos na possibilidade de a ovinocultura voltar a ser uma das principais atividades do setor primário, resgatando seu valor social, econômico e cultural”, salientou Mainardi. Para reverter este cenário, o governo gaúcho lançou recentemente o Programa de Desenvolvimento da Ovinocultura “Mais Ovinos no Campo", com duas linhas de crédito que somam R$ 102 milhões, voltadas à retenção de matrizes e à aquisição de reprodutores e matrizes. “O programa ainda terá outras ações que estão em construção. Estamos dialogando com os setores representativos da cadeia, com os técnicos de diversas áreas dos governos e com todas as representações que têm interesse na retomada da ovinocultura. “Queremos recolher sugestões para montar um programa que venha, realmente, contribuir para a retomada da ovinocultura”, declarou o secretário. Com o programa, o Estado pretende ampliar, no mínimo, em 20% o encarneiramento de matrizes a partir do segundo ano da contratação da operação de retenção de matrizes. “Como efeito direto do programa, teríamos a partir de 2013 aproximadamente 80 mil matrizes a mais e 30 mil cordeiros. A partir disso, com o aumento do número de encarneiramentos (480 mil), teremos um efeito progressivo na oferta de cordeiros para o abate >>> 5 fev-mar/11 Foto: Divulgação/Seapa-RS Luiz Fernando Mainardi e no número de matrizes do rebanho ovino gaúcho”, calcula Mainardi. O programa “Mais Cordeiros no Campo” vai beneficiar criadores de todos os portes, com recursos do Banrisul. Do montante, R$ 50 milhões serão para a aquisição de matrizes e reprodutores, com prazo e pagamento de cinco anos e taxas entre 1% e 4% dentro do Pronaf, e de 6,75% para os demais criadores. Na linha que soma R$ 52 milhões exclusivamente à retenção de matrizes, o prazo será de três anos, com juros no Fotos: Divulgação Pronaf de 2%, e de 5,75% para os demais enquadramentos. Com mais de 3 milhões de cabeças, a Bahia se tornou referência em ovinocultura – destaque para as raças Santa Inês e Dorper -, especialmente a partir da criação da Câmara de Carne de Caprinos e Ovinos. “Foi quando o setor ganhou uma importância maior. Profissionais, técnicos, produtores e interessados se uniram para discutir sobre as dificuldades da cadeia e sugerir políticas públicas para atender tanto os produtores como o mercado”, conta Eduardo Salles, titular da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri). A Bahia incentiva seus criadores através de programas que prevêem a distribuição de matrizes e reprodutores aos criadores (já está em sua segunda etapa) e a entrega de kits de inseminação artificial através do Projeto de Melhoramento Genético, iniciativas que propiciaram mudanças significativas na qualidade do Fêmeas Morada Nova da Bahia rebanho. O governo baiano também vai dar continuidade às ações de assistência técnica direcionada e formação de convênios com Organizações Não-Governamentais visando à capacitação dos produtores. Também deve priorizar apoio às estruturas de abate de ovinos existentes no Estado. Ações voltadas a combater justamente os principais entraves da atividade: carência de informações técnicas e o abate irregular. • Informe Publicitário Resistência Parasitária: ameaça à ovinocultura rar um produto comercial (Kaminski et al. 2009). Tão logo seja aprovado pelos órgãos competentes também entrará no mercado nacional. Seu mecanismo de ação difere de todas as demais moléculas, permitindo eliminar parasitos internos mesmo com resistência às drogas convencionais. A rotação de medicamentos com diferentes modos de ação retarda o avanço de populações resistentes. Deve ser adotado com critérios e organização, permitindo o efeito desejado e não uma mera variação de marcas (erro comum) ou de moléculas aleatoriamente. Enfim, a melhor ferramenta de manejo ainda é a INFORMAÇÃO. O assessoramento técnico permite elaborar estratégias de manejo que favorecem a obtenção dos melhores resultados. Octaviano Alves Pereira Neto Gerente Técnico - Novartis Saúde Animal A ovinocultura é uma atividade com diversos desafios e muitas possibilidades de sucesso, tanto no mercado interno como externo. Neste cenário promissor, produtores e técnicos buscam aprimorar a alimentação, a genética e o manejo dos animais, porém muitas vezes esbarrando nas barreiras das verminoses e da resistência parasitária para crescer. As parasitoses gastrointestinais assumem papel importante no rol de ações dos produtores para aumento na produção de carne e lã de qualidade. As perdas sanguíneas e as lesões provocadas pelos parasitos internos no trato digestivo dos ovinos causam sérios danos ao desempenho animal, com perdas que vão desde um menor ganho de peso até a morte dos animais. A hemoncose é o exemplo mais grave. Muito se fala sobre o tema, mas afinal o que é mesmo resistência anti-helmíntica? Uma definição prática para resistência anti-helmíntica (RA) é a habilidade que uma população de parasitos internos (vermes) apresenta de sobreviver após ser exposta a um produto que normalmente age sobre sua espécie, ou seja, aplicado na dose e na maneira correta, não é capaz de eliminar estes parasitos e eles irão se reproduzir e gerar novos indivíduos, perpetuando o problema (Bonino 2004). Este conceito traz consigo várias informações. Primeiro, são os parasitos que se tornam resistentes e não os produtos que mudam de ação. Segundo, estes indivídu- os que sobrevivem irão povoar o ambiente com uma descendência igualmente resistente, portanto é um processo hereditário, transmitido entre gerações. Para piorar a situação, essa condição é permanente, ou seja, a população de parasitos “diferentes” (resistentes) nunca mais será afetada por aquele princípio ativo, mesmo após anos sem seu uso. Diversos levantamentos observaram a presença de RA para todas as moléculas tradicionais, especialmente o albenzazol, levamisol, ivermectina, moxidectina e outras drogas empregadas nos vermífugos para ovinos. Este fato é mais grave, pois a descoberta de novos princípios ativos é mais lenta que o aparecimento da RA nas populações de parasitos. Qual o papel do produtor para retardar a resistência parasitária? Impedir a ocorrência da RA é praticamente impossível, pois é um processo que ocorre também naturalmente. O produtor poderá reduzir a pressão de seleção geradora de indivíduos resistentes na população, estendendo, dessa forma, a vida útil dos produtos. A Novartis Saúde Animal descobriu um novo grupo químico com ação contra vermes internos, chamado de Derivados do Amino acetonitrilo, sendo o Monepantel o primeiro princípio ativo do grupo a vi- Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta publicação sem a autorização da Novartis Saúde Animal. Palestra na Feinco 2011 Local: FEINCO - Centro de Exposições Imigrantes Data: 24/03/11 - às14h Parasitoses Ovinas e a ResistênciaAntihelmíntica - barreiras à produtividade Por: Dr. Jorge Bonino - Secretariado Uruguayo de la Lana - Uruguay Dr. Octaviano Alves Pereira Neto - Novartis Saúde Animal - Brasil fev-mar/11 Reportagem 6 Mão de obra no campo: O analfabetismo e o despreparo convivem hoje nos espaços delimitados pelas cercas de arame ou de pedra. Depois da Revolução Verde, do avanço das tecnologias de produção – que pontuam na clonagem de animais e sementes, da informática e dos equipamentos que alavancam a produtividade, o campo continua tentando revolver um problema crônico: a qualidade da sua mão de obra. Há gente suficiente, há informação, há disposição e também capacidade de pagamento do produtor. Falta, antes de tudo, educação. Mas, como mostra esta reportagem, nem tudo está perdido, porque já surgem as primeiras idéias. Mais do que um meta do setor rural, resolver isso é uma missão para os próximos governos. Foto: Robespierre Giuliani/Divulgação Eduardo Fehn Teixeira A mão de obra no campo é um problema que se agrava a cada ano em todas as regiões brasileiras. E se for especializada, então, aí é realmente rara, e quando encontrada, muito, mas muito cara. Na maioria das vezes incompatível com os níveis de receita obtidos principalmente pelas atividades relativas à pecuária, e o aperto cresce ainda mais em se tratando da ovinocultura. Mas se para cuidar de gado a campo, que é um trabalho bem mais tranquilo e lento, a escassez de mão de obra já é grande, para lidar com ovinos a coisa se complica e muito, porque todos sabem que a ovinocultura exige muito mais tratamentos, muito mais manejo e com maior frequência. Mas não há quem ainda não viu filmes norte-americanos onde, nas fazendas os trabalhos diários, via de regra, são executados basicamente pelos pais (os donos da propriedade) e por seus filhos e até filhas. E por certo isto não acontece Foto: Nelson Moreira/Agropress Arnaldo Vieira por acaso. É que esta realidade, do custo elevado e do despreparo dos trabalhadores rurais, no primeiro mundo é bem mais antiga, e também grave. Apesar de cara, a mão de obra rural, em comparação com as áreas da indústria e dos serviços, é uma das mais despreparadas e desqualificadas que se conhece. É comum encontrar numa fazenda trabalhadores analfabetos e sem treinamento algum para a atividade. Mas apesar de soar como um contrassenso, por incrível que possa parecer o meio rural tem assistido nos últimos anos ao maior boom tecnológico, desde o início da Revolução Verde, na década de 70. O campo foi invadido por novos softwares, fertilizantes de última geração, apuradas tecnologias de inseminação artificial em massa de transferên- cia e sexagem de embriões, clonagem, cultivares mais resistentes e produtivos nas lavouras, máquinas computadorizadas e animais precoces ao extremo, em síntese. Mas também, ao mesmo tempo, se toma conhecimento de verdadeiras histórias tragicômicas ocorridas no campo, de tratores que foram parar dentro de açudes por inabilidade do tratorista, de touros e carneiros reprodutores de primeira linha que foram castrados porque estavam no lote errado ou de motores que fundem por simples falta de manutenção, da mais básica troca de óleo. Fatos como esses ainda abundam no campo e renderiam vários livros, cômicos, por certo, porém economicamente dramáticos. >>> 7 fev-mar/11 despreparo que custa caro Foto: Nelson Moreira/Agropress O mercado da ovinocultura está atualmente aquecido e em suas várias áreas de atividades, está em ebulição”, dispara o Coordenador de Formação Profissional Rural do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS), médico veterinário Giovane Bolzoni. Segundo ele, a partir da identificação de áreas de interesse, o Senar trabalha com treinamentos tanto de trabalhadores como de produtores rurais. “E as solicitações para a capacitação são constantes”, diz. vés do Senar. Ele destaca ainda o Programa Empreendedor Rural, que visa a elaboração e a implantação de projetos capazes de impulsionar a atividade. “A capacitação é um investimento feito no funcionário, e deve ser avaliado por ele como parte da remuneração, uma vez que ele será o grande beneficiado, crescendo profissionalmente”, sugere Giovani Bolzoni. Montagem de parcerias Já o presidente do Sindicato Rural de Osório, no Litoral Norte gaúcho, Clairton Marques, acredita que o maior problema da dificuldade da mão de obra no campo talvez seja a verdadeira sedução que as cidades exercem sobre os trabalhadores. “Está certo que na maior parte dos casos falta preparo técnico, formação. Mas o que está tirando o funcionário das fazendas são as vantagens que ele e sua família passam a ter quando se deslocam para as cidades. Vai desde as maiores opções de emprego, até a escola para os filhos, creches, bolsa isso e bolsa aquilo, que o governo libera. Não é a incapacidade de pagamento do produtor, como muita gente possa pensar ...”, fuzila o dirigente. “Por mais de uma vez já ofereci salários acima da média para não perder funcionários, mas nem isso foi superior ao sonho, muitas vezes visto através da televisão, de ir para a cidade, conta o selecionador. Bolzoni esclarece que o Senar atua sempre através da montagem de parcerias, que na maioria dos casos são estabelecidas com Sindicatos patronais ou de trabalhadores rurais, entre outras entidades. “Havendo uma demanda por determinado treinamento – ou curso de capacitação – a partir de oito, 12 ou mais participantes, já temos condições de identificar um local para o desenvolvimento do trabalho e de deslocar para este local, para ministrar o curso/treinamento, um instrutor credenciado. E dependendo das condições e interesses, este trabalho pode acontecer inclusive numa fazenda”, diz o coordenador do Senar. Atualmente o Senar opera com nove treinamentos voltados à ovinocultura, que vão desde a tosquia e áreas de manejo, até a produção de embutidos e defumados. Também existem formações na área de gestão, que vão desde informática até administração e custos. Bolzoni sugere que os produtores identifiquem seus interesses e necessidades e procurem especialmente os Sindicatos Rurais em suas cidades, que vão tomar as medidas necessárias para viabilizar a operação de implantação de cursos e treinamentos atra- A cidade: uma sedução Educação, eis a questão! Num primeiro momento até surpreende, mas pensando bem a gente se dá conta de que é isso mesmo. O problema maior está na educação e na estrutura familiar. É o que afirma, do alto de sua larga experiência como Foto: Divulgação Mão de obra da esquila exige treinamento e especialização Suetônio Campos: estrutura familiar não educa sobre a importância do trabalho criador de ovinos, em Taperoá, no estado da Paraíba, o selecionador Suetônio Vilar Campos, que só na produção de reprodutores já tem mais de 56 anos. Segundo ele, é por isso que a problemática da mão de obra no campo – e especialmente para ovinos – é tão grave. “Não há uma estrutura familiar capaz de educar as crianças, de fazê-las perceber a importância de estudar, de se ter um trabalho, um compromisso, de se conquistar a independência e a dignidade. Isso é o mais importante na formação de um cidadão e a falta desse prérequisito torna a questão da mão de obra ainda mais preocupante”, ensina Suetônio. “Se a criança teve desde cedo essa educa- >>> fev-mar/11 Reportagem Fotos: Nelson Moreira/Agropress 8 ção em casa, aí quando adolescente é só dar formação técnica que passaremos a ter uma mão de obra comprometida e especializada. E que por certo, será bem remunerada”, reflete o criador. Para ele, é preciso criar cursos realmente eficientes, que ensinem especialmente aos jovens as tarefas que eles verdadeiramente vão encontrar na lida com os ovinos. É urgente parar com essas discurseiras e teorizações, que nem de longe devem interessar a quem está realmente voltado a aprender a lidar com ovelhas. “E já está mais do que na hora do nosso Ministério da Agricultura parar de se preocupar com os sem terras e outras questiúnculas e cuidar melhor da área que realmente produz”, critica Suetônio, que entre as funções que já teve na vida, é atualmente vice-presidente da ARCO. Sem vícios, o lado positivo Embora o Estado de São Paulo ainda não tenha a importância do Sul ou do Nordeste brasileiros quando à criação de ovinos, os problemas com a mão de obra também são sentidos de forma preocupante pelos criadores. É o que revela o presidente da Associação Paulista de Criadores de Ovinos e vice presidente da ARCO, Arnaldo Vieira, para quem este é certamente o maior gargalo da ovinocultura. “Por mais motivado e eficiente que seja o criador, ele não consegue fazer tudo sozinho, e na hora de buscar funcionários, de montar equipe, se depara com a falta de fixação na atividade e com o despreparo dos candidatos, que com raras exceções não tem nenhum comprometimento com o trabalho”, acusa o dirigente. Segundo ele, em São Paulo os grandes vilões que atraem a mão de obra das fazendas são basicamente a construção civil e os canaviais. Mas Vieira faz uma ressalva. Alega que se por um lado há dificuldades para a obtenção de colaboradores, por outro, esses operários, quando gostam de trabalhar com ovinos e são admitidos numa fazenda, passam a aprender tudo do zero, não tem vícios, o que é bastante positivo. Para Vieira, o caminho para a busca de solução para a mão de obra rural é um maior Foto: Horst Knak/Agência Ciranda Clairton Marques Marconi Sales: drogas e interesse por bicos rápidos também contribuem para escassez de mão de obra qualificada e mais direcionado investimento oficial na área de extensão e a profissionalização do trabalhador em campos de utilização imediata desta mão de obra. “Aquele que se especializa na ovinocultura, por exemplo, passa a ganhar mais, a ser mais valorizado”, aponta o dirigente. De João Pessoa, que é sua base de operações na Paraíba, o agrônomo e técnico da ARCO Marconi José Dias Sales revela, com tristeza e preocupação, o péssimo estágio por que passa aquela parte do Brasil no que se refere ao trabalho. “O maior problema é que as pessoas, principalmente os jovens, não querem trabalhar. Não foram preparados para ter este item como algo importante para suas vidas. “Eles preferem fazer bicos rápidos, nos quais não tenha envolvimento algum. E outros vão direto para a contravenção, tendo as drogas como o alvo mais evidente”, aponta Sales. Formação técnica substitui assistencialismo Longe ainda de formar mão de obra específica para a ovinocultura, em todos os segmentos da sociedade já existem projetos em andamento, apoiados por pessoas, instituições ou empresas. Mas nada havia ainda na área rural, onde faltam perspectivas de estudo, trabalho e renda para os jovens. Normalmente, para os meninos resta o serviço militar e depois algum emprego na lavoura ou pecuária da região. Para as meninas, o futuro será cuidar da própria casa, casar-se ou trabalhar de doméstica. No litoral gaúcho, município de Mostardas, um projeto pioneiro foi realizado na Fazenda Cavalhada, por iniciativa do criador Edgardo Velho. O produtor buscou parceiros - o Projeto Pescar e o Senar - para colocar em prática seu projeto, que já está em seu sétimo ano. Lá, Marcos Vinícius de Matos, 20 anos, desenvolve o aprendizado no projeto Pescar Fazenda Ranchinho, que tem por objetivo dar uma formação mínima de conhecimentos em atividades rurais aos jovens com idade mínima de 16 anos e que estejam em situação de risco social. Selecionado entre jovens fora da escola, Marcos cumpriu um roteiro diário de aulas que tratavam de questões sociais, noções de matemática, português, higiene, mecânica de máquinas agrícolas, noções de pecuária, entre outros temas. Ele diz que participar deste curso fez toda a diferença para o trabalho que realiza. “Mesmo não tendo a prática muito desenvolvida, sabendo como funciona a atividade na parte teórica já ajuda muito. Eu acho que rendo mais do que se viesse para cá e tivesse que aprender tudo sozinho”, afirma, acrescentando que esta oportunidade mudou sua vida. Este projeto não assistencialista dá uma nova perspectiva aos jovens, preparando-os para trabalhar nas diversas funções das propriedades rurais”, afirma Edgardo Velho. O Projeto Pescar, que quebra décadas de assistencialismo, nasceu da iniciativa de um empresário gaúcho, Geraldo Link, que queria proporcionar aos jovens com idades entre 16 e 19 anos, uma perspectiva melhor de vida através do ensino de uma profissão. Mas para ele não bastava entregar tudo pronto aos alunos. Era preciso ensiná-los o caminho da conquista das vitórias. “Seu pensamento estava ligado a um provérbio chinês que diz que se quiseres matar a fome de alguém, dálhe um peixe. Mas se quiseres que ele nunca mais passe fome, ensina-o a pescar”, relata Silvia Ramirez, pedagoga e Gerente de Qualificação e Acompanhamento da Fundação, uma entidade que já tem escolas em fábricas no Brasil inteiro e também na Argentina e no Paraguai. • No semi-árido nordestino, mão de obra também é escassa 9 fev-mar/11 Reportagem Homeopatia: vigor para o seu rebanho Nicolau Balaszow A veterinária homeopática segue os mesmos princípios da medicina: vê o animal como um todo sustentado pela força vital. E, ao contrário do que muitos pensam, a homeopatia aplicada na ovinocultura é uma realidade que tem apresentado excelentes resultados, trazendo vigor para os rebanhos, desmistificando alguns conceitos e apresentando vantagens sobre a medicina oficial. - É viável sim a homeopatia em ovinos! Esta afirmativa é sustentada pela médica veterinária homeopata, agrônoma e bióloga, Maria do Carmo Arenales que, em seus mais de 20 anos de atuação, testemunha os benefícios da homeopatia em ovinos, demonstrando suas vantagens sob os aspectos de cura e financeiro. É sabida a existência de uma falsa crença que sugere ser o medicamento homeopático de ação lenta. “Na verdade, esse é um preconceito gerado por uma desinformação popular, que muitos contrários à homeopatia gostam de divulgar”, alerta a profissional, ao mesmo tempo dizendo já estar demonstrado que o tempo de reação do organismo é proporcional ao tempo da afecção. Se estivermos diante de um processo agudo, teremos a resposta em poucas horas, porém, explica a médica, se a afecção estiver instalada há meses, já crônica, teremos a resposta em algumas semanas e a cura instalada em meses. Viabilizando o uso dos remédios homeopáticos, o produtor aufere dividendos e garante alimentos saudáveis para o consumidor, além do que os medicamentos homeopáticos custam menos que os alopáticos e permitem que a recuperação do organismo ocorra em curto período de tempo. Mastite Tecnicamente, a mastite é definida como a inflamação da glândula mamária, caracterizada por alterações físicas, químicas e bacteriológicas no leite e alterações no tecido glandular. Esta doença em ovinos é fator importante de perdas econômicas e está presente em todo o mundo, com incidência principalmente nas raças com aptidão leiteira, contudo, recentemente descreveu-se que a mesma pode ter efeitos sobre o ganho de peso dos cordeiros também em raças de carne. Fatores ambientais, alimentares e o manejo incorreto são os principais motivadores do problema. “As bactérias são os agentes isolados e identificados com maior frequência em casos de mastite ovina, entretanto, sabe-se que os fungos, leveduras e algas também podem infectar a glândula mamária das ovelhas”, orienta Maria do Carmo. Durante surtos de mastite podem ocorrer casos Por volta de 2.500 a.C. a homeopatia teve enunciado alguns de seus princípios gerais por Hipócrates, o pai da medicina. Mas foi só no século XVIII que o médico alemão, Samuel Hahnemann, organizou e definiu os preceitos básicos conhecidos na atualidade. Apesar de toda contestação à aplicação da medicina homeopática, ela evoluiu em sua prática e está mais forte do que nunca. Não só o ser humano tem descoberto os seus benefícios, como também o segmento do agronegócio começa a reconhecer a sua eficácia no tratamento de todas as afecções que acometem aos ovinos, entre elas: a mastite e a diarréia. Foto: Divulgação Arenales: homeopatia oferece economia de pneumonia em cordeiros, provocados pelo mesmo microrganismo. A mastite é mais comum em ovelhas amamentando cordeiros de 2 a 3 meses de idade. Do ponto de vista clínico, a mastite pode ser tratada com medicamentos homeopáticos com absoluta segurança e, por ser uma doença bastante comum nos rebanhos brasileiros, os custos acabam sendo bem menores. Mas, para que as despesas não sejam constantes, a médica veterinária diz que o manejo é um dos principais responsáveis pela ocorrência da mastite e recomenda uma alteração nesses procedimentos. Quando a finalidade da exploração é a produção de leite deve-se praticar uma ordenha higiênica. Em situação oposta, quando o cordeiro mama na ovelha durante 60 a 120 dias, o controle é dificultado pela possibilidade da transmissão de agentes patogênicos pela boca do cordeiro. Assim, devem-se evitar lesões traumáticas no úbere para não predispor à contaminação por patógeno presente na boca do cordeiro, bem como no ambiente. Por outra parte, é preciso impedir a estase láctea ocasionada pela perda de cordeiros ou por ovelhas com alta produção de leite após o desmame, restringindo água e alimento até cessar a produção de leite. A palpação rotineira dos úberes e descarte de ovelhas com evidência de alterações, permitem remover as menos produtivas e reduzir a fonte de infecção. Diarréia A incidência da diarréia no rebanho é causa de muita preocupação para o pecuarista. O desequilíbrio orgânico fica visível ao se perceber debilidade, depressão, cólicas e fezes líquidas. A diarréia será fétida, os animais perdem o apetite, os pelos ficam arrepiados e pode haver desidratação. Também a homeopatia pode intervir potencializando vigor aos ovinos, mas não basta a medicação e deixar de lado alguns procedimentos, tais como: oferecer profilaxia por meio da alimentação controlada, limpeza e desinfecção das instalações, evitar superlotação, isolar e proteger os filhotes e separar os doentes. Para o produtor rural, João Batista da Silva, em sua propriedade no município de Jacareí, interior de São Paulo, a homeopatia tem trazido excelentes resultados para o rebanho de ovinos. “Estou a oito anos nesta atividade e tenho aprendido muito sobre esses animais e, neste caminho descobri as vantagens que a homeopatia oferece”, diz Silva. Ele utiliza este recurso há três anos e explica que não só os resultados são positivos como reconhece, especialmente, a facilidade em ministrar os remédios no rebanho. “Tenho mil ovinos, imagine se eu tiver que abrir a boca de todos para aplicar os medicamentos?”, questiona ao lembrar que a sua maior dificuldade é erradicar a verminose nos ovinos. Ele disse ainda que em certa ocasião a diarréia atacou muitos de seus animais e quando procurou ajuda homeopática, viu que a eficácia e a rapidez no tratamento são verdadeiras. Uma pergunta muito comum entre os criadores é: como administrar os remédios? A facilidade de administrar o medicamento homeopático é outra vantagem que dever ser considerada. “Os remédios são preparados de acordo com a palatabilidade individual, não havendo necessidade de ingerir grandes doses, podendo ser adicionado ao sal mineral do animal sem alterar o seu sabor”, explica a médica. Com isso, é possível evitar o estresse ocasionado pela administração forçada de medicação oral, pelo uso de seringas e demais manobras dolorosas. • fev-mar/11 10 Reportagem Integração lavoura, pecuária e floresta: um passo à frente A agricultura, a pecuária e a silvicultura no Brasil tradicionalmente executam as suas atividades produtivas isoladamente, quer dizer, não há a integração entre elas e o que se percebe, no decorrer dos tempos, é o inevitável processo de degradação das áreas de pastagens assim como das florestas e lavouras. Isso coloca o produtor rural diante de um desafio: como produzir alimentos, incorporando o conceito de sustentabilidade? S ustentabilidade pode ser definida como a garantia de produção de alimentos para esta e para as próximas gerações, através da preservação contínua do meio ambiente. Daí entender que toda a ação que venha a unir as três atividades de campo se constitui em uma alternativa racional. A Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), é conhecida como um sistema misto de produção ou diversificação, rotação e sucessão de procedimentos agrícolas, pecuárias e florestais na propriedade, de forma equilibrada e que traga benefícios gerais. As formas de integração que englobam a pecuária com a agricultura ou com a floresta predispõem à rotação de culturas agrícolas com plantas forrageiras anuais, também em culturas anuais combinadas com pastos perenes, além da agricultura destinada à suplementação e ao confinamento de animais e os sistemas agrossilvipastoris. Uma visão geral A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária está trabalhando com 18 projetos de ILPF, dentro do Sistema Embrapa de Gestão (SEG). Desses projetos, atualmente, a Embrapa Transferência de Tecnologia, coordena uma rede que reúne profissionais de 26 centros de pesquisa Embrapa, organizações do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, instituições de ensino e agentes de assistência técnica e extensão com objetivo de organizar as ações aplicadas à ILPF. Este projeto propõe a transferência de tecnologias e conhecimentos para a recuperação de pastagens em degradação e de lavouras com problemas de produtividade e sustentabilidade. Dadas as características de biodiversidade do território nacional, o potencial desse sistema está sendo aprofundado por bioma. São seis os biomas (conjunto de diferentes ecossistemas, que possuem certo nível de homogeneidade): da Amazônia, do Pampa, da Caatinga, do Cerrado, do Pantanal e da Mata Atlântica. Para atender a essa demanda, a empresa já colocou em campo 130 empregados, entre técnicos e pesquisadores, de 30 centros de pesquisa que atuam em rede tanto para ações de pesquisa como de transferência de tecnologia. As equipes já montaram 128 campos de demonstra- Fotos: Divulgação Agregar a pecuária com a lavoua e a floresta traz benefícios ao produtor ção, denominados Unidades de Referência Tecnológica, que contam com a participação de produtores e num só tempo servem de observadores e vitrines do sistema. Com isso, a expec- Nilzemary: bioma caatinga tativa é de que num futuro próximo a ILPF esteja presente em um número cada vez maior de propriedades rurais, viabilizando assim o aumento da produção aliado à conservação dos recursos naturais. O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Jamir Luís Silva da Silva destacou que os sistemas produtivos visam otimizar o ciclo natural de crescimento de plantas e de animais, conservando a atividade biológica do solo, melhorando a ciclagem de nutrientes, preservando a quantidade e qualidade da água. “Pretendem ainda minimizar a utilização de agroquímicos, aumentar a eficiência de uso de máquinas, equipamentos e mão de obra, gerar empregos, renda e melhorar as condições sociais no meio rural, além de reduzir impactos ambientais”, destacou. Bioma Caatinga O Sistema de Produção Agrossilvipastoril para o Bioma Caatinga foi implementado pela Embrapa com o objetivo de integrar a criação de ovinos e caprinos com agricultura e na floresta. A técnica consiste na divisão da área em três partes: “Um subsistema agropastoril destinada à lavoura, a outra é o subsistema silvipastoril com base em caatinga manipulada e, a terceira, outro subsistema silvipastoril, com base em um lote florestal”, informa a pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos, Nilzemary Lima. Ela diz ser muito importante a conjunção entre os subsistemas, com os animais desempenhando importante papel na redistribuição de nutrientes. Mas reitera que a prática de queimadas deve ser evitada, mesmo sendo um expediente ainda muito utilizado no desmatamento, principalmente na agricultura de subsistência. Por outro lado, é preciso que o agricultor também evite uma grande população de animais por área, o que colocará em risco os resultados. A importância ambiental da ILPF é sustentada por vários motivos e, um exemplo são os efeitos positivos da matéria orgânica do solo pela manutenção e/ou aumento dos estoques de carbono, o que contribui para a diminuição do aquecimento global. No sistema, com a rotação lavoura/pasto, em >>> 11 fev-mar/11 áreas onde se associem culturas proporcionadas aos sistemas de agrícolas anuais com pastos e a produção agropecuários, refletipresença de animais em pastejo, das nas alterações benéficas soalém da preservação da floresta, bre o solo, na melhor utilização e os conhecimentos científicos dos recursos naturais renováem fertilidade do solo e plantas veis com consequente aumento invasoras, têm se tornado pos- de produção nos componentes sível a semeadura de culturas vegetal e animal, na diversificasobre pastos sem preparo de ção da produção, no controle de solo. O pasto pragas, doencontribui com ças e plantas a palhada que, daninhas, no além de manter aspecto fio solo cobernanceiro e to, permite que no alívio de ocorra a adição impactos ame aumento da bientais. Um matéria orgâbom exemplo nica. “Também do sistema se a conservação dá na Fazendos recursos hída Creoula, dricos, do solo em Sobral e da biodiver(CE), pois sidade animal e num período vegetal são be- Marília tem bons resultados de nove anos, neficiados”, ena produtividafatiza Nilzemary ao ressaltar que de agrícola da cultura do milho, no sistema são utilizadas igual- por exemplo, saltou para 1.300 mente práticas agroflorestais que kg/ha, enquanto que a média do preservam matas ciliares e as que estado cearense é de 500 kg/ha evitam processos de erosão. de grãos. Além disso, com o SisUma vez consolidada a prá- tema de Produção Agrossilvipastica da ILPF, as vantagens são toril é possível produzir 60 kg/ Fotos: Divulgação A ILPF é uma alternativa dinâmica e confere lucros adicionais ha de peso vivo de cordeiro desmamado, enquanto que o modo convencional oferece 8 kg/ha de peso vivo animal. Para implantar o sistema, o produtor pode começar fazendo a arborização da sua propriedade. Para a área agrícola, recomenda-se a manutenção de cerca de 150 árvores por hectare e, para a área pecuária, 300 a 350. Nilzemary orienta os produtores a implantarem o sistema por módulos, preparando um hectare a cada ano. Bioma Pampa A produtora rural e médica veterinária, Marília Terra Lopes, com fazenda no município de Barra do Ribeiro, RS, informa que já faz a prática de integração entre lavoura e pecuária e tem obtido excelentes resultados. “Brevemente, pretendo também incrementar a plantação de floresta em minha propriedade”, diz ao informar que participa de trabalhos no município de São Nicolau (RS), integrante do Bio- ma Pampa e que neste ano começa a etapa de plantação de floresta nesta mesma região. Ela destacou ainda que com a criação recente de uma Estação Experimental em Guaramano, região de Guarani das Missões, noroeste gaúcho, novas pesquisas serão desenvolvidas com o objetivo de implantar a sistemática da ILPF no Estado. Vantagens do sistema As vantagens desta tecnologia em âmbito nacional são comprovadas pelas possibilidades de integrações: lavoura e pecuária, floresta e lavoura, pecuária e floresta, conferindo grande versatilidade ao sistema e possibilitando que componentes culturais, econômicos e ambientais sejam considerados para a sua perfeita adequação à realidade das regiões. Objetivamente, a prática da ILPF proporciona a substituição da prática da agricultura itinerante do desmatamento e das queimadas, redução da emissão de gás carbônico para a atmosfera, diminuição da exploração pastoril do sobrepastejo e da extração predatória da madeira, diversificação da produção de alimentos, estabilidade da renda familiar, entre outros benefícios. • fev-mar/11 12 Sanidade Para evitar a Coccidiose, limpeza e bom manejo Os ovinos, especialmente os jovens, apresentam uma diarréia severa, ficam bastante abatidos, não se alimentam, perdem peso, definham e podem até morrer. A maior parte tem condições de se recuperar, mas em termos econômicos, uma vez acometidos pela doença, o mal já está feito, pois os animais vitimados não mais voltam a ganhar peso, se atrasam e geram prejuízos aos produtores. C omo acontece com a ocorrência de várias outras doenças, que acabam por provocar enormes prejuízos aos criadores, a falta de cuidados com a limpeza dos locais onde se localizam os ovinos acaba por contribuir de forma eficaz para o aparecimento da Eimeriose, ou Coccidiose. Trata-se de uma doença causada por um protozoário de ordem Coccidia, da família Eimeriidae e gênero Eimeria. Mas palavreado técnico-científico à parte, este parasita ataca o sistema (epitélio) digestivo dos ovinos, provocando insistente e grave diarréia, que debilita os animais. Atinge principalmente os ruminantes (caso dos ovinos), mas também ocorre em aves. Esta doença, segundo relata a veterinária Débora Carvalho Meldau - mestranda em Ciência Animal pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – é responsável por grandes perdas econômicas relacionadas aos ruminantes, devido à mortalidade e também pelo desempenho insa- tisfatório dos animais, e sua ocorrência é relatada por todas as regiões do Brasil. “É conhecida também como “curso de sangue” ou diarréia vermelha, em decorrência da diarréia líquida e de coloração escura, de odor forte e que contém muco e sangue”, descreve Débora, lembrando que apesar de na maioria das vezes atacar animais jovens, pode também ocorrer em ovinos mais velhos, em casos de propriedades onde há um manejo incorreto, ou onde os animais estão submetidos a estresse. Pois é justamente o que diz o médico veterinário Luiz Vieira, parasitoligista e pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral, no Ceará. Segundo ele, a Coccidiose ocorre com mais frequência quando há um grupo de ovinos em condições de confinamento. “Para evitar esta doença, o criador precisa manter as instalações limpas, inclusive cochos (comedouros) e também bebedouros sempre com água nova e se possível corrente, e arejadas e, na medida do possível, deixar Fotos: Divulgação A Coccidiose ocorre quando há um grupo de animais submetidos ao estresse os animais longe da umidade. O especialista também recomenda que o criador sempre mantenha os animais jovens separados dos mais velhos. “O bom mesmo é separar os ovinos por categorias (faixa etária) e evitar superlotações ou de campos ou de currais e que todos de diferentes idades, fiquem juntos, pois agindo assim, o contágio será mais difícil”, ensina Vieira. Como surge a doença A contaminação se dá pela ingestão de água contaminada ou através de alimentos onde exista a presença de fezes de animais portadores do coccidio. “Quando entram nas células intestinais, ocorre a reprodução assexuada e sexuada, causando uma destruição destas células e, quando este parasitismo é muito intenso, pode ocorrer destruição de áreas muito extensas do intestino, desprendimento de fragmentos de mucosa e até hemorragia”, alerta Débora Meldau. Isso, segundo explica a técnica, fará com que haja um acúmulo de líquido na luz intestinal, que resultará em diarréia, podendo evoluir para choque e morte, devido ao desequilíbrio eletrolítico. Os sinais clínicos e comportamentais apresentados pelos ruminantes são a forma mais objetiva para o diagnóstico da doença, diz Débora, citando diarréia sanguinolenta, desidratação, anorexia, letargia, alta mortalidade e redução do ganho de peso. “Em casos de ovinos e também de bezerros infectados pela Coccidiose (parasitados pela E. zuernii), os animais podem também apresentar sintomas nervosos. Já nos ca- Falta de limpeza no ambiente é fator decisivo para o surgimento da doença prinos os destaques são sede, sonolência e pêlos arrepiados”, aponta a veterinária, alegando que o diagnóstico pode ser realizado através de uma boa anamnese (histórico de informações dos animais colhidas pelo veterinário que atende o rebanho), sendo observados aspectos como manejo, sinais clínicos, lesões observadas na necropsia de animais mortos, e também através de exame de fezes, mesmo que estes não sejam muito confiáveis. Prevenção é o melhor caminho O pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos alega que no caso da ocorrência desta doença, a medicação tem efeito limitado, porque justamente na fase mais prejudicial para o animal, a medicação não tem a eficácia que seria necessária. “A máxima é a prevenção”, alerta Luiz Vieira. Para ele, o ideal é que os animais passem a ser medicados (e assim protegidos) com um grupo de antibióticos ionóforos, de forma preventiva, a partir de dois meses após o nascimento, inicialmente no leite e, após a desmama, diretamente na ração. Tanto para Vieira quando para Meldau, os cuidados sanitários juntamente com um manejo eficiente é que vão manter esta doença longe dos rebanhos. E embora os índices de mortalidade dificilmente ultrapassem a casa dos 10%, a ocorrência desta doença pode gerar grandes perdas econômicas aos produtores, especialmente porque os animais atingidos definham e não ganham peso, que é o principal item gerador de receita ao criador. • 13 fev-mar/11 Genética MV MSc. Edson Siqueira Filho A valorização da ovinocultura na última década despertou o interesse de muitos pecuaristas e investidores para a atividade. Guiados pelos grandes valores praticados na comercialização de animais em feiras e leilões, muitos criadores fizeram grandes investimentos em ovinos. O que vimos durante esses anos foi uma mudança dos animais chamados de elite, com uma seleção baseada em características visuais e raciais. Enquanto os rebanhos comerciais seguiram, de maneira geral, estagnados em seus padrões produtivos. O aumento do mercado consumidor de carne ovina tem despertado cada vez mais o interesse dos criadores para a criação de ovinos destinados ao abate. A cadeia produtiva vem se organizando, os criadores investindo em sanidade e manejo. Mas de maneira geral os rebanhos comerciais brasileiros não são selecionados para a produção em pasto, isso retarda o ciclo produtivo, aumenta os custos e diminui a eficiência econômica do rebanho. Uma das formas de incrementar a eficiência produtiva dos rebanhos é com a aplicação de programas de seleção e melhoramento genético que busquem a melhoria e evolução das características produtivas dos animais, baseados na expressão do mérito genético dos indivíduos, dos rebanhos e da população, expressas em DEPs (Diferença Esperada na Progênie). Um dos principais objetivos de um programa de avaliação e melhoramento genético é o encurtamento do ciclo de produção e aumento da rentabilidade, como ocorreu em outros setores da pecuária como suinocultura, avicultura e vem sendo alcançada pela bovinocultura. Para o sucesso de um programa de seleção genética o produtor deve ser bem assessorado por instituições, centros de pesquisa ou Avaliação Genética: ferramenta para o aumento de produção técnicos capacitados a orientá-lo. A realização da coleta dos dados econômicos e zootécnicos dos rebanhos que são repassados às centrais de processamento de dados é o ponto fundamental para o sucesso do programa. A veracidade das informações é que permite identificar os pontos fortes e fracos do rebanho. Em geral os dados coletados consistem em mensurações de peso e medidas em datas predeterminadas, pelo programa. Os resultados obtidos são repassados ao produtor, na forma de DEPs, e nelas estão comparadas as taxas de produtividade do rebanho em relação à média dos demais rebanhos avaliados. Com esses dados é possível detectar quais características devem ser melhoradas no rebanho para ampliar sua eficiência. O acasalamento entre indivíduos capazes de transmitir melhores características produtivas, é uma das técnicas de seleção utilizadas e é possível a identificação destes indivíduos pelo desempenho de seus filhos. O descarte dos animais “menos produtivos”, ou abaixo da média do rebanho, também é proporcionado pela avaliação destes dados. Nestes casos a orientação técnica é imprescindível para que o produtor siga o caminho da evolução em seu rebanho e tenha um programa de melhoramento realmente. Nem sempre os resultados acontecem rapidamente, isso depende de diversos fatores tanto do próprio rebanho, quanto de toda a população avaliada. Mas certamente a seleção baseada em genética é um trabalho de resultados garantidos, desde que bem executada. A avaliação visual, aliada às mensurações realizadas, pode ser usada na seleção genética a fim de que os animais identificados como os melhores ganhadores de peso, tenham também a conformação mais desejada. Características como a precocidade sexual e de acabamento e a proporção na distribuição das massas musculares, devem ser consideradas, pensando sempre na qualidade do produto final, que é a carne de cordeiro, e na relação custo/benefício da atividade. A avaliação por escores visuais pode auxiliar a seleção e, consequentemente, a produção de animais com características desejadas pela indústria frigorífica. Afinal um animal não é só peso, a distribuição de tecidos tem que ser harmônica por seu corpo. O desenvolvimento produtivo e econômico dos indivíduos e sua consolidação como produtores de carne é um dos principais objetivos do melhoramento genético. A identificação de reprodutores e matrizes mais produtivos também pode ser um bom agregador de valor, na comercialização de indivíduos ou sêmen de reprodutores provados. A velocidade de ganho de peso e características de qualidade de carcaça propiciará um produto final diferenciado podendo ser mais valorizado pela indústria frigorífica ou pelo consumidor final. O momento de mercado é propício para o investimento em genética de alta produtividade e eficiência tornando os ciclos de produção mais curtos e lucrativos. Em países tradicionais em produção de ovinos, os programas de seleção genética já são uma realidade há muitos anos e os produtores reconhecem a sua importância. Um dos programas de seleção mais consistente em ovinos é o Lamb Plan, da Austrália, que engloba uma grande base de dados de animais de diversas raças e de varias regiões daquele país. Os produtores que aderiram ao programa observam a cada ano a produtividade e a lucratividade de seus rebanhos aumentarem. Na seqüencia citaremos alguns testemunhos de sucessos, de produtores participantes do programa australiano. No criatório Peppertown Stud, o proprietário o Sr. Roger Trewick acresceu, em 6 anos, 33% no peso de carcaça de seus animais e em um período relativamente curto passou a comercializar carcaças tipo exportação. Também o mesmo criador cita que passou de 80 para 200 reprodutores comercializados anualmente e pelo dobro do preço. Com os resultados obtidos Sr. Roger relata “No meu rebanho houve um aumento significante dos índices principalmente no desenvolvimento pós desmama (60%), musculosidade (20%) e deposição de gordura (-20%). Certamente os ovinocultores progressistas devem basear sua seleção em programas de avaliação genética.” Em outra região, o criador Sr. Linton Arney, da fazenda Inverbrackie, aumentou, em 10 anos, 3kg na média do peso a desmama e acrescentou em 5% o número de cordeiros desmamados. “A ovinocultura na Austrália não teria futuro sem o programa de avaliação genética. Os custos aumentaram muito e certamente nós regrediríamos; essa tecnologia nos permitiu permanecer competitivos”, relata o criador. É importante citar que em ambos os casos os rebanhos são criados totalmente em pasto. Outros países do mundo, como Nova Zelândia, Inglaterra, Uruguai e outros também já trabalham com sucesso em programas semelhantes. No Uruguai, por exemplo, existe o programa “Corriedale fino” em que produtores estão trabalhando para afinar a espessura da lã desta raça, e assim aumentar o valor comercial do produto e concomitantemente melhorar as características de carcaça, e estão evoluindo a cada geração. O sucesso e as conquistas desses países podem sem dúvida ser obti- do no Brasil. Já existem programas de avaliação genética brasileiros disponíveis como o Programa de Melhoramento Genético do Santa Inês, desenvolvido pela parceria ASCCO/USP; o programa Dorper Brasil 2020, da ABCDorper e USP, o Genecoc da Embrapa. A iniciativa privada, também apóia os programas de avaliação como é o caso da Alta Genetics, que possui o programa OvinoPlus®, que consiste na assessoria e fomento aos criadores participantes dos programas de avaliação citados anteriormente. A utilização de ferramentas modernas de produção, como programas de melhoramento genético, é fator preponderante para o crescimento do rebanho com a qualidade e eficiência que o mercado exige. A evolução genética trará animais cada vez mais eficazes na reprodução, crescimento, conversão alimentar, musculosidade e outras características economicamente importantes. Os sistemas de produção eficientes, programas de manejo nutricional e sanitário adequados, são imprescindíveis para colher os melhores resultados com os programas de melhoramento e conseqüentemente para o desenvolvimento do rebanho comercial e abastecimento do mercado. O momento é o ideal para ampliar o rebanho comercial, aumentar a qualidade dos cordeiros abatidos e a lucratividade do criatório, e os programas de avaliação serão ponto chave para isso, afinal o mercado quer cada dia mais carne e com qualidade cada vez maior. • Médico-veterinário, mestre em reprodução animal, pela FMVZ UNESP-Botucatu e especialista em ovinocultura. Gerente de Produtos Caprinos e Ovinos da Alta Genetics do Brasil e Diretor Técnico da Pecora Assessoria Pecuária fev-mar/11 14 Especial Em Roraima – um rebanho em construção Com um rebanho ainda em formação, utilizando as raças Santa Inês, Morada Nova e Barriga Negra, a ovinocultura de Roraima apresenta os mesmos problemas da maioria dos estados: falta de assistência técnica, tecnologia rudimentar e falta do principal insumo para a produtividade: alimento de qualidade. Mesmo assim, programas de fomento distribuem lotes de animais a pequenos produtores, que poderão se tornar o embrião dos ovinos desta região de savanas ainda distante do conhecimento da maioria dos brasileiros Fotos: Divulgação/Embrapa Roraima Horst Knak E mbora os dados oficiais não sejam muito precisos, o rebanho de Roraima é estimado em 40 mil cabeças. A Região Norte, de acordo com o último Censo Agropecuário realizado pelo IBGE, em 2010, possui apenas 3,26% do rebanho nacional, com pouco mais de 500 mil cabeças. O rebanho é formado por animais mestiços, com tendência para o Santa Inês, que vem sendo introduzida nos últimos 10 anos, oriunda principalmente do Nordeste. O rebanho mestiço também indica a presença de Morada Nova, Bergamácia e Barriga Negra, um tipo que apresenta excelente adaptação às savanas da região Norte do País. Segundo o pesquisador da Embrapa de Roraima, Ramayana Braga, o Barriga Negra não representa mais do que 5% do rebanho, “mas se mostra uma raça bastante rústica, prolífera e bem adaptada para as condições de Roraima. Os animais existentes estão muito aquém do que se poderia esperar em termos de qualidade racial, isso porque antigamente animais dessa raça entravam em Roraima pelas fronteiras com a Venezuela e a Guiana”, justifica. A Embrapa Roraima possui um núcleo de conservação da Barriga Negra no município de Boa Vista, num total de 60 animais - 41 matrizes e 9 reprodutores - realiza pesquisas com o lote. A Embrapa desenvolve atualmente um projeto em agricultores familiares voltados Boas pastagens são importantes para um rebanho saudável e profífico para o manejo alimentar por considerar que hoje esse é um grande entrave na criação. Para o pesquisador, “se fosse colocar em ordem de prioridade como limitante à produção ovina no estado diria que a questão alimentar estaria em primeiro lugar”. Afinal, a despeito das altas temperaturas, as fêmeas procriam o ano todo e só não vão bem devido à alimentação deficiente. “Os criadores ainda não têm plena consciência de que boas pastagens, bem manejadas e a busca por alternativas para suplementação durante o período de menor precipitação (período seco) interferem negativamente nos índices técnicos e na susceptibilidade dos animais para os problemas sa- Borrego Barriga Negra nitários”, afirma. Neste aspecto, os principais problemas sanitários do rebanho são a hemoncose, ectima contagioso, mal-do-caroço, pododermatite, mastite, bicheira e alguns casos de encefalomalacia. O rebanho de Roraima é formado por pequenos criadores, que possuem entre 50 e 200 cabeças, com cerca de 10 criadores com rebanhos entre 300 e mil cabeças, que utilizam a ovinocultura como complemento de renda e fonte de alimentação. Uma tentativa de incremento do rebanho foi iniciada em 2009, quando a Secretaria Estadual de Agricultura do estado importou do Nordeste cerca de sete mil cabeças Santa Inês e distribuiu um reprodutor e seis matrizes para cerca de mil pequenos agricultores, em projetos de assentamentos agrícolas e comunidades indígenas. A área de savanas de um ecossistema muito peculiar, chamada de Amazônia setentrional, com chuvas de dezembro a fevereiro, há necessidade de proteção solar do rebanho. Afinal, nesta região de baixa altitude, na linha do equador, as temperaturas variam de 23 a 37 graus. As árvores propiciariam maior conforto térmico aos animais e, por certo, aumentariam a produtividade. A raça Barriga Negra, descrita ainda como ideal para as regiões de savanas do >>> 15 fev-mar/11 sua capacidade de reprodução os coloca como um rebanho de bom desempenho econômico. “Essas ovelhas têm mais partos duplos que as outras raças”, explica. Em sua última pesquisa, de 2009, registrou a ocorrência de partos duplos em 50% dos casos. “É uma opção interessante para áreas que apresentam um estresse climático muito grande e para o pequeno produtor que não tem ainda uma boa infraestrutura”, afirma Mattos. Ramayana Braga Brasil Central (Cerrado), possui pêlo é marrom, em variadas matizes. Os membros e a barriga são negros. Os animais da raça têm tamanho médio, pescoço fino, sem chifres, cauda baixa e costelas bem arqueadas. Mas as vantagens em relação as outras raças devem-se a outras características da Barriga Negra: rusticidade, resistência a doenças e prolificidade (proporção de cordeiros nascidos por matrizes). Segundo o pesquisador Paulo Sérgio Mattos, da Embrapa Roraima, os animais da raça já estão bem adaptados à região Norte e Fotos: Divulgação/Embrapa Roraima Utilizando tecnologias simples, como os apriscos elevados e o cultivo de pastagens, produtividade promete crescer Carne – produto informal Com uma base produtiva ainda desorganizada, o mercado de carnes é totalmente informal, sem qualquer frigorífico instalado. Segundo fontes locais, a prefeitura de Boa Vista está construindo uma unidade de abate de ovinos, caprinos e suínos, com previsão para início de funcionamento em até dois anos. O comércio de carne atende praticamente o mercado de Boa Vista onde as carcaças variando de 15 a 20 kg são comercializadas em feiras livres, açougues, casas de carne e supermercados, principalmente nos bairros onde predomina a classe média a alta. Somente uma casa de carnes comercializa cortes embalados a vácuo. Entretanto, nem 10% do mercado potencial são atingidos. Segundo observa Ramayana Braga, no comércio predomina um sistema em que o cliente escolhe um pedaço de carcaça, sendolhe cobrado o mesmo preço, independentemente se for dianteiro, traseiro, espinhaço, na faixa de R$ 14,00/kg. Entretanto, há sinais de que este quadro pode mudar: Após a importação de animais com boa genética pelo governo estadual, da Embrapa e da iniciativa privada, o tempo de engorda caiu de 12 para seis meses, para carcaças de 15 kg. Nos últimos dois anos, criadores que investem em suplementação e tecnologia de manejo estão reduzindo sensivelmente a mortalidade e também a idade de abate, produzindo uma carne de melhor qualidade. Em um programa de fomento – que utiliza recursos federais -, o governo do Estado está distribuindo lotes de seis ovelhas e um macho para famílias rurais. Além dos animais, os agricultores vão receber por um período de um ano o sal mineral específico, vacinas e vermífugos. Os técnicos da Secretaria de Agricultura darão assistência aos produtores. O total de beneficiados nos sete municípios contemplados pelo programa será de 1.037 famílias, perfazendo um total de 7.259 animais. • fev-mar/11 Notícias do brete Feira Nacional do Ile de France A Feira Nacional do Ile de France foi realizada nos dias 14 e 15 de janeiro, em Alegrete, RS, na sequência da feira de verão para ovinos daquela cidade, reunindo a melhor genética dos diversos criatórios do País. Entre os 78 animais inscritos (28 a galpão e 60 rústicos), o jurado Roberto Azambuja escolheu como Grande Campeão PO o carneiro Cordilheira LF 43, da Cabanha Cordilheira, de Vilson e Lourdes Ferreto, Uruguaiana, RS. A Grande Campeã PO foi a ovelha Macena 764, da Cabanha da Macena, de Marcelo Graziottin – Vacaria, RS. O melhor trio de machos rústicos foi da Cabanha da Macena e o melhor trio de fêmeas, da Cabanha Cordilheira. Com destaque para a qualidade dos animais apresentados, os negócios realizados no Parque de Exposições Lauro Dornelles correram bem, com a venda de 65% dos animais ofertados, informa o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ile de France, Carlos Ely Garcia Jr. A média de valores foi de R$ 1.431,00 para os borregos PO, R$ 558,00 para as borregas PO e R$ 350,00 para as borregas SO. • 16 Sucesso comercial e político na Feovelha 2011 Ao ser encerrada, no dia 30 de janeiro, em Pinheiro Machado, RS, a Feovelha comemorou dois resultados: um na área comercial, outro no campo político. As vendas fecharam em R$ 1,1 milhão, com a comercialização de 5.921 animais, num incremento de 70% sobre o ano passado. O remate de rebanho geral negociou 5.589 animais por R$ 737.210,00, com média geral de R$ 131,90 por exemplar. No Leilão de elite, realizado dia 29/01, foram vendidos 78 exemplares Corriedale e outros 87 Ideal, que registraram média geral de R$ 1.052,67 e faturamento de R$ 173,7 mil. No domingo, foram arrematados outros 157 animais das raças Crioula, Hampshire Down, Ile de France, Merino Australiano, Poll Dorset, Romney Marsh, Suffolk e Texel por R$ 199.150,00, que registram média geral de R$ 1.268,47. O outro momento, político, configurou uma nova imagem para o setor: a união entre produtores e o Estado para o fortalecimento da cadeia produtiva da ovinocultura. O projeto Mais Ovinos no Campo foi oficialmente pelo Governo do Estado durante a abertura oficial da Feovelha 2011. Primeira de uma série de ações que integram o Programa de Desenvolvimento da Ovinocultura Gaúcha, o programa que colocará à disposição dos produtores R$ 102 milhões através de linhas de crédito para a retenção de matrizes, com taxas de juros subsidiadas. “Além do prazo de três anos para quitar o financiamento, os ovino- Fotos: Nelson Moreira/Agropress cultores terão um ano de carência antes de iniciar o pagamento”, destacou o governador gaúcho, Tarso Genro, presente ao evento. O secretário da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, lembrou que dois novos frigoríficos instalados no Estado obtiveram habilitação para exportar carne ovina, porém ainda não há produção nem para o mercado interno. “Em quatro anos teremos um rebanho muito maior e estaremos produzindo ovinos com muito mais qualidade”, projeta. Outro aspecto a festejar foi o convênio assinado entre o Grupo Marfrig e o Sicredi – Sistema de Crédito Cooperativo, que prevê financiamentos de R$ 20 mil para a compra de matrizes e reprodutores, com prazo de dois anos e juros de 6,75% ao ano. • Registro de Ovinos Coloridos No dia 03 de fevereiro, a ARCO iniciou o controle dos ovinos naturalmente coloridos. Com participação do Superintendente de Serviço de Registro Genealógico da ARCO, Francisco Perelló Medeiros e seu substituto, Edemundo Gressler, foram inspecionados animais de duas propriedades em Dom Pedrito. Foram selecionados animais das raças Ideal e Corriedale, avaliados com bastante rigor na seleção de animais de plantel, com características muito definidas das duas raças. A proposta dessas primeiras seleções é testar os padrões raciais definidos para as raças em conjunto pelo Conselho Técnico da ABCONC e SRGO da ARCO e padronizar este serviço para que em abril, técnicos da ARCO de todo o Brasil possam ser orientados em treinamento a ser realizado em Bagé. A ARCO confeccionar um sinete com o símbolo NC, que será utilizado na tatuagem dos animais naturalmente coloridos das diferentes raças. Os animais tatuados nessa 1ª etapa serão considerados como base para o início do registro dos Naturalmente Coloridos quando o mesmo for aprovado pelo MAPA. O objetivo da ARCO é continuar este trabalho de seleção para esta e também iniciar nas demais raças, de forma a aumentar o número de animais selecionados. • 17 fev-mar/11 Ranking Dorper e White Dorper 2010 A Associação Brasileira de Criadores de Dorper (ABC Dorper) divulga o resultado do Ranking Nacional 2010, para as raças Dorper e White Dorper, grande termômetro que evidencia as conquistas dos principais criadores e produtores brasileiros no aprimoramento genético. O Ranking Nacional e as exposições oficiais proporcionam o intercâmbio de ideias, a troca de experiências e informações entre técnicos e criadores, além de ensejar a adoção de métodos de manejo, criação e seleção. Segundo o presidente da ABC Dorper, criador e empresário Valdomiro Poliselli Junior, a programação do ranking e das exposições, consagram um programa sério e contínuo, além de promover e difundir as qualidades das raças Dorper e White Dorper em todo o território nacional. "O Ranking demonstra a garra do criador brasileiro em investir no desenvolvimento genético e na abertura e fidelização de mercado”, avaliou Valdomiro Poliselli Junior. Como criador Dorper, foi vencedor Mário A. de Castro, de São Paulo, seguido de Valdomiro Poliselli Jr e João Carlos Pedreira Andrade . No Ranking Criador White Dorper, foi vencedor Mário A. de Castro, seguido por Fotos: Divulgação COMUNICADO DA SUPERINTENDÊNCIA DO SRGO Perelló, Valdomiro e Schwab durante a Nacional de Dorper em Uberaba, MG Valdomiro Poliselli Jr. e Jamer e Jaqueline Marques. Já no Ranking de expositores, Mário A. de Castro venceu na Dorper, seguido por Gabriel Jorge Neto e Pedro Nacib Jorge Neto, ficando em terceiro Valdomiro Poliselli Jr. No White Dorper, mais uma vez Mário A. de Castro foi o primeiro colocado, seguido por Valdomiro Poliselli Jr e Gabriel Jorge Neto e Pedro Nacib Jorge Neto. Confira o Ranking completo no site da ABC Dorper: www.abcdorper.org.br • Ranking final da Apacco 2010 A Associação Paraibana dos criadores de Caprinos e ovinos divulgou o resultado final do ranking Paraibano das exposições de 2010 - melhores criadores e expositores. Na Raça Dorper, o vencedor foi Júlio Curvelo Pedrosa, seguido da Emepa PB e por Paulo Siqueira Ivanildo Santana e Júlio Pedrosa Notícias do SRGO Souza. Na raça Santa Inês, José Monteiro Filho foi o grande vencedor, seguido de Ivanildo Santana da Silva e Lavoisier Paixão/Maurício Bezerra. Na raça Somalis, o primeiro colocado foi Roberval e Rosenês Lima dos Santos, seguido de Thiago Cavalcanti de Almeida. Na Morada Nova, Ricardo Madruga foi o campeão, seguido por Mosés Maia de Andrade. No Ranking de Expositores, raça Dorper, Júlio Curvelo Pedrosa foi o grande vencedor, secundado pela Emepa PB e Paulo Siqueira Souza. Na raça Santa Inês, o melhor expositor foi José Monteiro Filho, seguido por Ivanildo Santana da Silva e Thiago Cavalcanti de Almeida. No Somalis, Roberval e Rosenês Lima dos Santos venceram, seguidos por Thiago Cavalcanti de Almeida. No Morada Nova, o melhor expositor foi Ricardo Madruga. • Orientação sobre o uso e preenchimento de documentos NOTIFICAÇÃO DE COBERTURA A Notificação de Cobertura pode ser feita: a) utilizando o formulário do talão de Notificação de Cobertura, que será enviado para o associado quando solicitado. Deve notificar a cobertura unicamente por Monta Natural, e ser específica para PO ou para PC. Deve ser enviada pelo correio. b) utilizando o formulário disponível no site da ARCO, para informar unicamente Monta Natural, e ser específica para PO ou para PC. Deve ser enviada pelo correio. c) notificação on-line via “área de sócio” na opção Notificação de Cobertura. OBSERVAÇÃO: para uso desta ferramenta o criador deve ser sócio da ARCO e possuir login e senha. Nesta opção pode ser informado Monta Natural ou IA com sêmen fresco ou congelado. RELATÓRIO DE COLHEITA, CONGELAMENTO E TRANSPLANTE DE EMBRIÕES ou FIV, via página da ARCO na opção formulário, tem que ser assinada pelo médico-veterinário que realiza o procedimento e enviada pelo correio. RELATÓRIO do IA Via página da ARCO, específico com sêmen congelado pelo método de laparoscopia, assinada também pelo médico-veterinário e enviada pelo correio. Ao preencher os citados formulários ou por via on-line, o criador deve informar: o nome do associado, raça, afixo, tatuagem, sexo, FBB (registro), período de cobertura, ou data do IA, data do processamento dos embriões e transplante, número de embriões - coletados, congelados, doadores, doadoras e receptoras. As Notificações de Cobertura devem ser enviadas para a ARCO no máximo até um mês após a data do fim do período de cobertura. Os Relatórios de IA, Colheita, Congelamento, Transplante de Embriões e FIV – Coleta e Congelamento de Sêmen - devem ser enviados para a ARCO no máximo até um mês após a data do procedimento. Quando o sêmen ou embriões forem adquiridos para constituírem banco de sêmen ou de embriões, ou serem utilizados de imediato, devem ser acompanhados de Nota Fiscal. fev-mar/11 Artigo 18 Ovino e Caprino no Semi-Árido Até quando o abandono? Tadeu Pontes O s fundamentos básicos para qualquer que seja uma atividade sustentável e lucrativa no campo da criação dos animais domésticos são o manejo alimentar, o manejo sanitário e o manejo reprodutivo. Temos também a consciência de que só funcionarão a sanidade e a reprodução se a nutrição estiver adequada, ajustada, particularmente sem pendência de forrageiras leguminosas e gramíneas de qualidade para todo o período do ano. No Nordeste, tanto no litoral como no sertão (caatinga), o peso da criação está voltada para a produção de leite, seja bovino ou caprino. Nesse sistema os criadores já têm a consciência da importância da suplementação protéica e energética dos animais se quiserem algum retorno de produção. Nestas regiões existem ainda algumas “ilhas” de produção de bovinos e ovinos voltados para a produção de carne que apresentam certa viabilidade econômica, porém para os caprinos não se pode dizer o mesmo. Falando em relação ao rebanho caprino e ovino que habita na caatinga semi-árida, o que representa 80% do Nordeste brasileiro, o sistema ainda é extensivo ou semi-extensivo e sem assistência técnica. Quando muito, surge a Emater que infelizmente não possui meios para o acompanhamento e acaba por realizar uma simples visita técnica que muito deixa a desejar. Nessas condições, no período de inverno, por manejo inadequado e falta de abrigos, morre percentual considerável de animais, particularmente as crias, mas também animais adultos. De maneira similar, no período de seca há a perda de animais que escaparam do inverno pela falta de alimentação nos pastos, seja forragem nativa ou ausência de reserva alimentar. Precisamos de responsabilidade e seriedade nos trabalhos voltados para a caprinovinocultura, há 13 anos, em 1997, iniciou-se uma onda que se tornou uma febre, a importação de animais, embriões e sêmen de raças exóticas com o sonho da redenção produtiva para os rebanhos regionais. Porém, o trabalho foi realizado sem planejamento e sem o devido acompanhamento técnico em todas as regiões do Brasil, inclusive Semi-árido. No lugar de direcionar as ações para a produção de carne, enveredaram-se por um caminho sem volta, a formação de novas raças por cruza deteriorando o que havia de mais precioso em termos de genética adaptada. Estas ações trouxeram para o semi-árido um prejuízo sem precedentes no que diz respeito aos rebanhos nativos, devido ao decréscimo da rusticidade, fertilidade e prolificidade dos descendentes frutos dos cruzamentos, além do visível retardo no crescimento dos rebanhos. Os trabalhos de cruzamentos deveriam ter ficado a cargo das instituições de pesquisa, com a finalidade de produção de raças ou tipos adaptados e só assim estes animais poderiam ser introduzidos nos rebanhos do semi-árido, e mesmo assim com o propósito de produção exclusiva da primeira geração para o abate. Recentemente, 2009 e 2010, podemos constatar duas situações completamente extremas, no primeiro ano chuva demasiada, e no segundo ano chuvas abaixo da média, não sendo suficientes sequer para encher os reservatórios quem dirá para garantir a manutenção de pastagem nos campos. Diante dessas condições os rebanhos caprinos e ovinos do semi-árido não evoluíram e nos dois anos a mortalidade das crias ficou em torno dos 60%, e dos animais adultos em torno dos 30%. E pensar que esse quadro se repete todos os anos na região, com maior ou menor intensidade. Ao abordar o assunto sanidade para caprinos e ovinos, vêm à tona as parasitoses, fator limitante na produção de pequenos ruminantes. No entanto, com o avanço da ciência, o controle e convivência com as parasitoses é possível, particularmente por meio do controle integrado com utilização do Método Famacha e utilização de ionóforos como a Salinomicina e Monensina Sódica na profilaxia da eimeriose. Quanto às outras doenças, principalmente as exóticas, que se alastraram em grandes proporções nos últimos dez anos, deve-se instituir programas de defesa e sanidade a nível estadual e federal. Na nossa concepção, já existem nos estados em todo o Brasil, estrutura, condições e meios para a implantação de um programa nacional de sanidade de caprinos e ovinos, o que falta é vontade e determinação política das autoridades nordestinas principais interessadas, já que 95% dos caprinos e 58% dos ovinos do rebanho nacional estão na região. Os responsáveis pela execução das leis e responsabilidades a cerca do assunto nos estados são as Secretarias Estaduais de Agricultura, através dos Institutos de Defesa e Inspeção Agropecuária e o Ministério da Agricultura, através de suas delegacias estaduais. Aqui é oportuno fazer uma pergunta, porque essa discriminação em relação à defesa e sanidade dos caprinos e ovinos? Será porque os rebanhos estão concentrados quase que totalmente no nordeste brasileiro? As associações também devem mudar seus rumos de atuação, já é mais do que tempo de sair do “cartório”, ou seja, concentrar as responsabilidades da associação apenas no registro de animais e regulamentação de exposições. É tempo das entidades atuarem na linha de produção, incentivando movimentos de aproximação entre as representações estaduais e nacionais, particularmente promovendo a articulação entre as associações de criadores do nordeste. Dessa forma, passaríamos à elaboração de documento que cobre ações efetivas voltadas à produção sustentável economicamente de carne caprina e ovina. A meu ver, isso só acontecerá quando se resolver dois pontos principais: Alimentação compatível com os rebanhos durante todo o ano e instituição do programa nacional de defesa e sanidade com mudanças na metodologia de atuação no controle às parasitoses, que como já foi dito, fator de grande limitação para a produção. Outro assunto que deve estar presente nas escritas do documento diz respeito às raças nativas, às consideradas nativas e às exóticas. Para as nativas, deverá ser desenvolvido trabalho planejado e acompanhado exclusivamente de seleção. A execução estaria a cargo de qualquer criador, sem discriminar, e para as raças exóticas os cruzamentos teriam que ser autorizados e acompanhados e a distribuição aos criadores do produto final pelo Governo Federal, através do MAPA. Com o documento em mãos as associações juntamente com os políticos podem transformar a região do Semi-árido nordestino em referência na produção de carne orgânica, que somando às outras qualidades da carne como o baixo teor de gordura e os elevados níveis de minerais, podem fazer do produto um alimento funcional diferenciado capaz de competir internacionalmente a preços também diferenciados para o produtor, representando mudança sustentável e econômica para as famílias do campo no Semi-árido do Nordeste brasileiro. • Médico Veterinário e Diretor Técnico - Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos Soinga do Brasil - ACOSB 19 fev-mar/11 Artigo Por que consumir carne vermelha faz bem? Julcemar Dias Kessler 1, Profª. Drª. Maria Teresa Moreira Osório 2 Dr. José Carlos da Silveira Osório 3 A tualmente os estudos têm avançado para detectar os efeitos que a gordura provoca na saúde dos consumidores. Grandes são os paradigmas a respeito, entretanto, o maior detalhamento dos constituintes da gordura tornase fundamental para desmistificar o conceito que há tantos anos se tem sobre a carne vermelha. Trabalhos relacionandos à carne de cordeiro têm demonstrado que a gordura dessa espécie é rica em ácidos graxos monoinsaturados, sendo o ácido graxo oléico predominante, conforme observado por Kessler (Dissertação, 2009), o qual encontrou teores de 32 % de oléico na gordura de cordeiros. Segundo o mesmo, No que se refere aos ácidos graxos poliinsaturados, estes também são encontrados em grande quantidades, sendo os ácidos graxos C20:4 (Araquidônico), C20:5 (EPA), C22:5 (DPA) e C22:6 (DHA), fundamentais para o desenvolvimento cerebral de crianças e adolescentes. Sendo o alfa linolênico (C18:3) juntamente com o linoléico (C18:2) substratos para a ação das enzimas (elongases) responsáveis pela síntese de ácidos graxos de cadeia longa e como precursor de hormônios, desta forma, são considerados ácidos graxos essenciais para o funcionamento orgânico. Grande parte dos trabalhos dão enorme importância na relação omega (Ω) 6:3, salientando que uma relação baixa de Ω 6:3 seria o ideal, segundo Enser et al. (1998), o valor recomendado da relação Ω 6:3 na dieta seria menor ou inferior a 4. Já uma relação alta de Ω 6:3 é de grande importância para crianças em fase de crescimento até a puberdade (Harbige, 2003). Evidenciando que nossas exigências são variáveis no decorrer da vida, ora necessitamos relação menor ou maior dependen- do da fase fisiológica que estamos. Desta forma, salienta-se que o consumo de carne vermelha além de suprir as necessidades de aminoácidos essenciais, também contribui com minerais (zinco e ferro, por exemplo), vitaminas (complexo B) e gorduras essenciais a manutenção funcional do organismo, principalmente por ser a carne um alimento completo e de alta digestibilidade, ou seja, grande aproveitamento orgânico para as funções vitais dos seres humanos em diferente faixa etária. McAfee et al. (2010), ao revisarem a literatura encontraram grandes problemas metodológicos na inferência de que a carne vermelha faz mal a saúde. Relataram que grande parte dos males são devidos ao tabagismo associados ao alcoolismo e o sedentarismo, agravados pelo estresse e pela predisposição genética. Muitas vezes a idéia erronia de que comer carne vermelha é maléfico a saúde é fomentada por trabalhos que relacionam como carne vermelha os hamburguês e demais carnes processadas mecanicamente, como as utilizadas nos “fast food” que na sua elaboração há grande reutilização de gordura vegetal (óleos) que ao ser excessivamente manipulado em altas temperaturas torna-se maléfico a saúde das pessoas. Enquanto o consumo de carne vermelha magra, em estudos com pessoas, não foi encontrado qualquer efeito negativo sobre a concentração de colesterol sanguíneo, fatores trombóticos, marcadores do estresse oxidativo ou pressão arterial em indivíduos sadios e indivíduos hipertensos (O’Dea et al., 1990; Li et al., 1999 ; Hodgson et al., 2006; Hodgson et al., 2007). Enser et al. (1998) ao retirarem o excesso de gordura da carne, essa advinda da gordura de cobertura ou mesmo intermuscular, o percentual encontrado foi menos de 5 % de gordura total. Kessler (Dissertação, 2009) relatou quantidade de gordura na carne do músculo Longissimus dorsi de cordeiros, teores inferiores Foto: Divulgação A ideia de que a gordura animal faz mal à saúde começa a ser quebrada a 1 % de gordura. Segundo Chan et al. (1996), o teor de gordura saturada na carne vermelha muitas vezes é igual ou inferior as carne brancas. Kessler (Dissertação, 2009) observou que fêmeas apresentam mais monoinsaturações na carne que os machos, sendo 33 % corresponde ao ácido graxo oléico (C18:1), segundo Bonanome et al. (1992), este ácido graxo tem ação hipocolesterolêmica. Já os machos apresentaram maior teor de ácido graxo esteárico (C18:0) em relação as fêmeas, segundo Woollett et al. (1992), relataram que o ácido graxo esteárico não diminui a captação do LDL (colesterol ruim), em contra partida, também não aumenta a taxa de sua produção, sendo assim, considerado como um ácido graxo neutro. Torres Netto e Torres (texto publicado no site da APROCCIMA) comentam sobre o paradoxo Gaúcho que, “apesar do maior consumo de carne, não há maior incidência no RS de doenças cardiovasculares, em relação aos demais Estados”. Vários estudos não encontraram benefícios ao consumir carne de aves e peixe em vez de carne vermelha, em relação aos efeitos sobre a concentração de lipoproteínas no sangue (Watts et al., 1988; Wolmarans et al., 1999; Beauchesne-Rondeau et al., 2003). Outro ácido graxo que vem sendo muito estudado é o ácido linoléico conjugado (CLA) que constitui um grupo de isômeros geométrico e posicional do ácido linoléico (C18:2 cis-9, cis-12). Os ácidos graxos predominantes na biohidrogenação são o C18:2 cis-9, trans-11 e o C18:2 trans-10, cis-12, que perfazem entorno de 80% do CLA formado (Cook e Pariza, 1998). Estes isômeros encontram-se naturalmente na gordura animal, com maior concentração nos ruminantes (bovinos, caprinos e ovinos), conforme Szynczyk et al. (2000) e Chin et al. (2001). Além da carne, o leite e seus derivados são ricos em CLA. Os isômeros foram identificados na biohidrogenação da gordura pela flora microbiana ruminal. Também nos monogástricos foi encontrado, entretanto, sua concentração é muito inferior aos ruminantes. Como um antioxidante, o CLA pode prevenir o estresse oxidativo que leva a aterosclerose. Sendo possível tratamento contra doença cardiovascular (DCV) (Whigham et al., 1994 e Macdonald, 2000). Estudos em ratos, camundongos e coelhos tem mostrado o benefício do CLA sobre a prevenção e tratamento da aterosclerose (Lee et al., 1994 e Nicolosi et al., 1997). Além do beneficio anticarcinogênico (Macdonald, 2000 e Pariza et al. 2000). O teor de ácido linoléico conjugado, encontrados por Kessler (Dissertação, 2009) foram em torno de 0,60 g/100g de carne. Ao contrastar com carnes de outras espécies, notase sua maior concentração que nos monogástricos, corroborando com Chin et al. (1992), com média de 0,56; 0,43; 0,09 e 0,06 g/100g, para carne de cordeiros, bovinos, suínos e aves, respectivamente. Aurousseau et al. (2004), notaram que o conteúdo de CLA no músculo não depende somente da dieta, mas também da taxa de crescimento. Várias pesquisas mostram que a maior concentração de CLA é devido à dieta exclusivamente a pasto. Knight et al. (2004) relataram teores em carne de cordeiros alimentados com pastagem de azevém (1,90 g/100g de carne). Portanto, a gordura animal tem sido nominada como vilã a saúde dos seres humanos, entretanto, esse conceito na atualidade vêm sendo sobreposto pelos avanços das pesquisas que identificaram propriedades nutracêuticas da gordura animal, principalmente dos ruminantes. Várias linhas de pesquisas estão mostrando os benefícios dos lipídios na saúde animal e identificando os ácidos graxos responsáveis por estas funções no organismo. Logo, os paradigmas de que a gordura animal faz mal a saúde começa a ser quebrado e uma nova concepção tem tomado corpo nos estudos bioquímico e metabólico. Grande responsável pelas mudanças ocorridas sobre a carne (e sua gordura) é que atualmente consome-se carne de animais jovens (cordeiros), cuja gordura tem um perfil mais mono e poliinsaturada, sendo benéfica a saúde em relação aos animais mais velhos (capões e ovelhas). Podemos salientar também a maior capacidade dos ovinos em incorporar o CLA na gordura intramuscular que as demais espécies, principalmente se esses animais forem terminados em pastagens temperadas, principalmente. As pesquisas evoluem em torno desta temática no sentido de elucidar a população sobre os benefícios da carne vermelha em nossa dieta. • Doutorando em Produção Animal – UFPel, Bolsista CAPES. 2 UFPel, Bolsista de Produtividade do CNPq, 3 Bolsista de Produtividade do CNPq. 1 fev-mar/11 20
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