contabilidade, tomada de decisão e ambiente

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contabilidade, tomada de decisão e ambiente
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CONTABILIDADE, TOMADA DE DECISÃO E AMBIENTE: CONTRIBUTOS PARA
REFORÇO DO DESEMPENHO ECONÓMICO DAS ORGANIZAÇÕES
Maria da Conceição da Costa Marques, Ph.D
Doutora em Gestão, especialidade em Contabilidade
Professora Adjunta do
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra
Área temática: D) Contabilidad y Control de Gestión
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CONTABILIDADE, TOMADA DE DECISÃO E AMBIENTE: CONTRIBUTOS PARA
REFORÇO DO DESEMPENHO ECONÓMICO DAS ORGANIZAÇÕES
Resumo
O crescimento industrial dos países ricos e a escassez de regulamentação colocou a gestão
ambiental fora das prioridades das empresas. Os gestores encaravam-no como um assunto
menor que lhes consumia tempo e dinheiro. O panorama actual é radicalmente diferente. Os
governos estão a investir em programas de apoio, a criar legislação mais eficaz e a controlar
a eficácia dessas medidas. As normas internacionais de qualidade ISO 9000 já incluem a
vertente ambiental.
Este artigo aborda o interesse social em favor do respeito pelo meio ambiente, bem como a
forma como as empresas hão-de registar e racionalizar o que até agora tem constituído
externalidades da mesma.
1. INTRODUÇÂO
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Até há bem pouco tempo a ideia de uma empresa responsável perante o ambiente e a
sociedade era
apenas um sonho dos movimentos ecologistas. No século passado, o
crescimento industrial dos países ricos e a escassez de regulamentação colocou a gestão
ambiental fora das prioridades das empresas. Os gestores encaravam-na como um assunto
menor que lhes consumia tempo e dinheiro. Hoje o panorama é radicalmente diferente, os
governos estão a investir em programas de apoio, a criar legislação mais eficaz e a controlar
a eficácia dessas medidas.
Mas a mudança decisiva teve origem na crescente preocupação ecológica dos
consumidores, cujos hábitos de compra passaram a premiar as empresas e os produtos
respeitadores do ambiente. Actualmente, os factos demonstram que o trade-off (crescimento
inversamente proporcional) entre lucros e ecologia parece ter acabado finalmente.
A maioria das multinacionais está a apostar cada vez mais nos chamados produtos verdes,
o que é bom para todos nós. A Contabilidade de Gestão Ecológica é aquela que tem em
conta o impacto do meio ambiente.
Ter em conta o impacto do meio ambiente significa recolhê-lo no âmbito da contabilidade de
custos e racionalizá-lo no âmbito da contabilidade de gestão. A empresa é obrigada a
registar e racionalizar o que até agora tem constituído externalidades da mesma, na medida
em que os custos até agora considerados como sociais, se vêm convertendo em custos
meio ambientais privados, e assumidos pela organização empresarial como custos normais.
Em termos contabilísticos, as demonstrações financeiras deverão recolher a quantia e
valorização dos custos meio ambientais, para evitar a distorção das margens industriais
empresariais que actualmente se produzem, e que impedem a avaliação de uma maneira
séria e com uma projecção estratégica de determinadas actividades.
Para demonstrar que a organização respeita a ecologia e que cumpre com as normas legais
a este respeito, estão proliferando as eco auditorias cujo objectivo é medir a repercussão
ecológica da actividade empresarial. As eco auditorias apresentam vantagens como a
responsabilização dos administradores e conselheiros que incorrem nos chamados delitos
ecológicos.
É por isso preciso proteger a qualidade de vida tornando compatível o crescimento
económico com a conservação meio ambiental.
2. O IMPACTO DO MEIO AMBIENTE NA CONTABILIDADE
A Contabilidade de Gestão Ecológica é aquela que tem em conta o impacto do meio
ambiente. Ter em conta o impacto do meio ambiente significa recolhê-lo no âmbito da
contabilidade de custos e racionalizá-lo no âmbito da contabilidade de gestão.
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Tudo isto, evidentemente, terá de ser encarado no seio da organização empresarial onde se
põe em relevo a sua flexibilidade e a integração dos clientes, fornecedores, opinião social,
etc, já que esta maneira de actuar será o factor primordial para a sobrevivência da empresa.
Tratando de conjugar todos os entes que se encontram relacionados com a empresa, devese consumir o mínimo de recursos e usar o mais possível matérias recicláveis, assim como
investir em todo o que produz o mínimo de poluição. Isto pode-se completar com o
envasilhamento e embalamento dos produtos com artigos reciclados e reutilizados.
Tudo isto provoca um cada vez maior interesse social em favor do respeito ao meio
ambiente, que provoca um compromisso entre fornecedores e empresa, gerando mudanças
nos processos produtivos e a substituição de materiais poluidores por outros que respeitem
o meio ambiente.
O compromisso da empresa com a comunidade baseia-se em respeitar e proteger o meio
ambiente, fabricar e distribuir produtos ecológicos, pois a sociedade quer garantir a
qualidade de vida a longo prazo, por exemplo, a maioria da população mostra-se contrária à
instalação de indústrias que geram emprego se estas vão poluir a região.
Por exemplo, quando no mar Alaska houve o derramamento de crude, provocando um
desastre ecológico, o preço da cotação das acções da ESSO foi afectado por este
acontecimento.
Os custos decorrentes da recuperação da imagem e da indemnização dos prejuízos
causados vão afectar as condições de competitividade e o próprio desenvolvimento da
actividade das empresas em questão.
O impacto ambiental não somente se reflecte nos custos operativos empresariais, mas
também nos custos não operativos que incidiram mais directamente nas margens
comerciais e nos resultados da actividade, já que no planeamento e na racionalização das
actividades não operativas vão ter um importante papel critérios como os seguintes: a
análise ecológica dos produtos, as redes comerciais que geram um aforro de recursos, os
novos canais de distribuição mais sensibilizados com os produtos ecológicos, etc.
Isto é, a empresa é obrigada a registar e racionalizar o que até agora tem constituído
externalidades da mesma, na medida em que os custos até agora considerados como
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sociais se vêem convertendo em custos meio ambientais privados, e assumidos pela
organização empresarial como custos normais. Tentando assim garantir que se realize a
actividade empresarial sem por em perigo as condições, capacidade e desenvolvimento das
gerações actuais e futuras, através do máximo respeito dos recursos naturais renováveis
(água, ar, solo e subsolo, flora e fauna) e dos não renováveis.
Em termos contabilísticos, as demonstrações financeiras deverão recolher a quantia e
valorização dos custos meio ambientais, para evitar a distorção das margens industriais
empresariais que actualmente se produzem, e que impedem a avaliação de uma maneira
séria e com uma projecção estratégica de determinadas actividades.
Os custos meio ambientais que se registam nas demonstrações financeiras subdividem-se
em ecológicos e em custos meio ambientais, a estes últimos alguns autores chamam
induzidos. Os primeiros referem-se aos custos relacionados com a prevenção no terreno
meio ambiental, isto é, aqueles incorridos pela empresa para tratar de atalhar e prevenir os
efeitos nocivos meio ambientais das suas actuações, tanto industriais, como de distribuição,
administração, aprovisionamento, etc. Dentro deste grupo de custos ecológicos incluem-se,
todos os relacionados com actividades de medição, auditoria controlo, etc, dos aspectos
meio ambientais da empresa.
E os segundos, ou seja os custos meio ambientais têm, em princípio, uma conotação algo
mais negativa, pois derivam de uma afectação ou dano do meio ambiente causado pela
empresa. Trata-se, concretamente, dos custos relacionados, por um lado, com a redução
dos efeitos nocivos que a empresa já originou no meio ambiente, por outro lado, com os
custos derivados das actuações de reparação, compensação ou reposição dos danos
causados, e que entraram no âmbito preventivo e corrector do controlo da gestão meio
ambiental da empresa.
A matriz dos custos meio ambientais ficará completa com a folha analítica do impacto
ambiental acontecido em cada um dos objectos de custo, reflectindo em cada momento os
recursos empregues e os danos originados a nível qualitativo e quantitativo.
Estes documentos permitem repartir os custos ecológicos dos diferentes agentes às
diferentes actividades, e uma vez feito isto, pode-se imputar em função dos diferentes
critérios os custos das actividades aos produtos, estabelecendo uma verdadeira margem
meio ambiental diferente das margens tradicionais. Aquelas recolhem não somente os
custos meio ambientais ocorridos, mas também os proveitos meio ambientais derivados da
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implementação da política ecológica da empresa, permitindo não somente registar o
proveito e o dano ecológico, mas também avaliar em função das suas características
qualitativas e quantitativas a gestão meio ambiental da empresa.
A abordagem tradicional não dava importância ao fenómeno da gestão ambiental, baseando
a análise nas condições internas de exploração e abstraindo-se da estreita conexão que
existe entre as condições internas de exploração e o seu meio envolvente.
È neste contexto que a contabilidade tem de intervir procurando encontrar meios que
facilitem a análise global nos planos táctico e estratégico da empresa.
Para demonstrar que a organização respeita a ecologia e que cumpre com as normas legais
a este respeito, estão proliferando as eco auditorias cujo objectivo é medir a repercussão
ecológica da actividade empresarial. As eco auditorias apresentam vantagens como a
responsabilização dos administradores e conselheiros que incorrem nos chamados delitos
ecológicos.
A empresa que não cumpre com as normas vigentes em matéria meio ambiental, para além
das multas, sanções e penalizações que sofrerá, perde competitividade e inclusivamente
pode ver-se perante o seu desaparecimento se a magnitude do dano ecológico é muito
importante.
A problemática meio ambiental gera de modo permanente ameaças e oportunidades para a
organização, por isso a contabilidade de direcção estratégica deve captar dados e
informações da envolvente empresarial para elaborar, analisar e interpretar informação
suficiente, relevante e oportuna que permita à direcção estabelecer diferentes opções tendo
como objectivo a optimização da gestão do meio ambienta.
Uma vez avaliadas as alternativas consideradas em relação aos respectivos resultados e
riscos que suportam, a direcção elege a estratégia mais apropriada para a correcta gestão
meio ambiental. Podendo assim existirem dois tipos principais de estratégias:
a) Estratégia de Adaptação.
Corresponde às empresas que decidem cumprir estritamente com a normativa
vigente em matéria meio ambiental.
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b) Estratégia para a Obtenção de Vantagens Competitivas.
Neste tipo de estratégia pretende-se aproveitar as oportunidades que se geram no
meio ambiente. Corresponde à estratégia que adoptam as empresas excelentes,
as quais não se conformam com o cumprimento da legislação vigente em matéria
ecológica, mas que querem obter vantagens comparativas que permitam
aumentar o seu grau de competitividade, de maneira que os proveitos que
recebem
pela
sua
politica
ambiental
sejam
superiores
aos
custos
correspondentes. Este tipo de estratégia apresenta algumas vantagens, das quais
destacamos:
- Obter incentivos por superar as exigências legais na gestão meio ambiental.
- Melhorar a imagem pública da empresa, com todas as suas consequências.
- Poupar o valor das multas e sanções.
- A obtenção de eco etiquetas e a venda de produtos ecológicos representam
factores chaves de êxito. Os clientes preferem os produtos ecológicos.
- Poupar os custos dos prémios de seguros de responsabilidade civil meio
ambiental.
Em resumo, e igual ao que acontece com a estratégia da qualidade total, o incremento da
satisfação diminui os custos da organização, pois possibilita um aumento do valor final. Isto
é, o contribuir para o aumento da qualidade de vida da população não trás mais custos para
a empresa, porque no final permite gerar um maior valor na organização.
3. A CONTABILIDADE E A INFORMAÇÃO MEIO AMBIENTAL
A necessidade de uma luta eficaz contra a poluição arrasta a multiplicação de textos que
encarregam as empresas de novas restrições em matéria de meio ambiente e que
generalizam o princípio do poluidor-pagador.
Hoje em dia em matéria de contabilidade do meio ambiente, como ontem em matéria de
contabilidade geral, a ausência de codificação e de uniformização deixa às empresas uma
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margem que não permite nem informação objectiva nem a comparação das empresas entre
elas. A informação dada é principalmente descritiva, não quantitativa e parcial. A maior parte
das informações fornecidas diz respeito a programas terminados. Significa isto que apenas
a informação favorável é fornecida. A tendência geral é a ausência de informação objectiva
sobre os delitos das empresas no meio ambiente.
As empresas encontram-se actualmente no centro de uma problemática do meio ambiente,
porque há uma tomada de consciência colectiva desses problemas e a regulamentação,
neste âmbito, está em pleno desenvolvimento.
Mas, mesmo sem uma rigorosa regulamentação, as empresas tem necessidade de poder
produzir informação meio ambiental para fazer face aos grupos de pressão:
- pressão do público para que a empresa redefina a sua estratégia de marketing e os
seus processos de produção e distribuição, no intuito de proteger o meio ambiente;
- pressão do pessoal com objectivos de segurança;
- pressão dos organismos regulamentadores para uma actuação em conformidade
com a regulamentação, implicando uma responsabilização maior;
- pressão dos seguros face ao aumento dos riscos e respectivos custos.
Contudo, a informação do meio ambiente tal e qual é usualmente publicada não vai de
encontro à satisfação dos utilizadores, porque ela não corresponde às suas expectativas. Os
Anglo-saxónicos têm desenvolvido esforços importantes para definir características
qualitativas e quantitativas para que a informação meio ambiental seja útil. De entre elas
salientamos:
- Oportuna
- Fiável
- Legível/Compreensível
- Aceitável/Comparável
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Cada utilizador pode interpretar os dados à sua disposição de acordo com os diferentes
sistemas de valor, em função dos seus objectivos, dos seus horizontes temporais, da sua
sensibilidade ao risco, da sua situação dentro ou fora da organização, etc.
No entanto, a utilidade da informação ambiental é definida pela sua capacidade de permitir
atingir os seguintes objectivos:
- Avaliar e administrar os riscos ambientais;
- Determinar a incidência da performance ambiental sobre os resultados financeiros.
4. CONCLUSÃO
Se a empresa for capaz de obter uma informação clara e em tempo oportuno da sua
vertente meio ambiental, tanto interna como externa, contará sem dúvida com o factor
estratégico de competitividade, tanto a nível de custos meio ambientais, como a nível de
minimização de riscos.
Para concluir podemos dizer que é preciso proteger a qualidade de vida tornando
compatível o crescimento económico com a conservação meio ambiental.
Não nos devemos esquecer que, afinal, “ a terra, apenas, nos está emprestada pelos
nossos netos”.
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