A melodia mágica - Histórias para os mais pequeninos

Transcrição

A melodia mágica - Histórias para os mais pequeninos
Já foi examinada pelos médicos mais famosos do mundo! Que mais podemos fazer pela minha filha, meu bom conselheiro? Cada vez fica mais melancólica! É verdade que são tristes os dias sem sol? Pois tristes corriam os dias de para a Princesa Dina. Vivendo embora no meio de uma Corte brilhante, sentia a ausência de alguma coisa que afastasse a sombria melancolia da sua alma. E se escolhesse um esposo?
Se conseguir enamorar‐se de um Príncipe nobre e bom, talvez pudesse afastar para sempre a tristeza da sua alma. Nada nem ninguém conseguia distrai‐la. Temo que não exista no mundo remédio para ela, Majestade. Assim fez o Rei. Na véspera da festa, numa estalagem próximo do palácio… Eh, Osvaldo! Por que não vais à festa do Rei? Tocas maravilhosamente a cítara! Tentai‐o, senhor. Oferecei uma festa no palácio e con‐
vidai todos os príncipes do mundo! Claro que irei! Todos sabem que sou um artista e tenho grande interesse em que a Princesa Diana também saiba… Ah! Ah! Ah!
Aspiras a que ela se enamore de ti, hein? Ah! Ah! Ah! Pensa que é um artista! Eh! Eh! Eh! E é, sem dúvida!
Quando toca o alaúde, o céu começa a nublar‐se! Eh! Eh! Eh! E tu, Rolando?
Pensas em cativar a Princesa com a tua música? Ah! Ah! Ah! As palavras de Osvaldo eram ditadas pela inveja e pelo despeito, porque, quando Rolando tocava… Que lindas melodias interpreta aquele trovador! Tem alma de artista…
E é tão simpático! Chegado o dia da festa, o Rei mandou chamar todos os músicos. Vendo a Princesa, Osvaldo suspirou… Que formosa é! Ah, quanto daria para fazê‐la minha esposa! Osvaldo enamorou‐se da princesa… e não há dúvida de que seria feliz se pudesse desposá‐la! Rolando a tocar… Então, esquecendo as zombarias de que fora objecto, o generoso coração de Rolando concebeu uma ideia… tomou o alaúde e começou Eh!
É a isso que chamais música? É horrível! Disseram‐me que sois os melhores músicos do país…
Demonstrai‐o! Em continuação, o soberano deu uma ordem
e Osvaldo começou o seu concerto… Maravilhoso!
Isto é que é música! Silenciai esse alaúde de uma vez e retirai‐vos, jovem trovador! A vossa música é insuportável! Sou um verdadeiro génio!
A princesa acabará por gostar de mim Toquei deliberadamente mal e isto facilitará a ilusão de Osvaldo… Talvez a Princesa se enamore dele! Naquele momento, Rolando ouviu um leve rumor a seu lado, e… A Fada Melodia! Com efeito, Rolando… A tua generosa acção não pode ficar sem o devido prémio! Aprecio muito Osvaldo, com quem dei muitos concertos por este mundo… Fazei‐o feliz para que deixe de ser invejoso, Fada Melodia! Possuis um elevado conceito da amizade, além de um grande coração. Pede‐me o dom que mais desejes! A inveja é um feio defeito, Rolando! Ele deve corrigir‐se, sendo feliz ou inditoso. És tu que deves pedir um favor! Mas Rolando, sempre humilde, não se atreveu a pedir coisa alguma. Então, a fada disse‐lhe … Vou fazer de ti o músico mais famoso de todos os tempos… Gozarás sempre do dom da inspiração! Só um dos que assistiram à festa me interessou… é o pobre trovador fracassado! Mas, como dizer isso a meu pai, se não é mais de que um músico em desgraça! Entretanto, no seu distante Reino, a Fada melodia não esquecia o pobre trovador… Ordenai às nuvens que descarreguem as suas águas sobre a terra, ao vento que sopre as suas fúrias e ao raio que incendeie os caminhos… Entretanto, terminava a festa no palácio … Não te divertiste, minha filha? Percebi que nenhum dos Príncipes te despertou a atenção . Naquele instante, Osvaldo chegou à estalagem…
Olá, artista! Como caíste em ridículo na Corte, amigo! Ah! Ah! Ah! E eu te felicito pelo êxito, Osvaldo! Com tudo isso, Rolando, o trovador, comporá a mais famosa melodia jamais ouvida pelos homens! E assim ocorreu, com efeito. No seu humilde quarto da estalagem, Rolando reproduziu, no seu alaúde, os sons grandiosos provocados pela tempestade. E tão linda era a melodia que as suas notas, dominando o fragor da trovoada e o gemido do vento, chegaram à alcova onde repousava a
Princesa Diana. Oh!
A Princesa Que música sorriu! maravilhosa! Sim… a Princesa havia sorrido pela primeira vez na sua vida! A música maravilhosa de Rolando curou‐a para sempre da sua estranha melancolia. E tão grande foi o júbilo do Rei, que… Ide buscar o músico que foi capaz deste prodígio! A partir deste instante, viverás no palácio e tocarás para a minha filha e para mim. Em troca, pede o que bem desejares! Mas Rolando, sempre humilde e generoso, nada pediu para ele… Talvez por isso foi sempre favorecido ‐pela sorte ou, o que vem a ser o mesmo, pela sua boa fada protectora. E um ano depois… A Princesa sorriu…
A Princesa sorriu, Majestade! Uma hora mais tarde…. Vejo‐me obrigado a rectificar a minha opinião a teu respeito, trovador… És o músico mais genial do mundo! Obrigado, Majestade! Foi ele quem mereceu casar‐se com a Princesa… Sempre foi melhor do que eu… É um artista de coração, sem que jamais se tornasse presumido por isso! Revista Princesinha, nº49, Junho 1960