Argumentos em Favor do Uso de Instrumentos na Adoração

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Argumentos em Favor do Uso de Instrumentos na Adoração
Argumentos em Favor do Uso
de Instrumentos na Adoração
V
Jack P. Lewis
Vejamos de um modo sistemático argumentos específicos elaborados em defesa do uso de
música instrumental na adoração cristã. Vamos
avaliar também respostas apropriadas para cada
argumento.
“O CANTO CONGREGACIONAL
NÃO É AUTORIZADO
NO NOVO TESTAMENTO”
Alguns contestam que o canto fazia parte da
adoração neotestamentária e que, consequentemente, quem insiste no canto a capela como parte
da adoração cristã está cometendo um erro. Todavia, Hebreus 2:12 cita com aprovação Salmos
22:22 [21:23], que fala de louvar [uJmnh/sw, humneso) a Deus na congregação. Primeira Coríntios,
Efésios e Colossenses foram todos escritos para
congregações da igreja do Senhor. Primeira Coríntios 14 está expondo o que acontece na assembleia. Efésios fala de ensinar e admoestar uns aos
outros. Em 1 Coríntios 14 Paulo menciona cantar
numa exposição do que acontece quando a igreja se reúne. Em Efésios 5:19 e Colossenses 3:16,
o pronome reflexivo traduzido por “uns aos outros” (e˚autoi√ß, heautois) tem, por associação, o
significado de um quórum de duas pessoas (veja
Mateus 18:20), mas não há limite máximo1.
O argumento de que cantar não faz parte da adoração congregacional é ilógico e autocondenatório,
pois quem o apresenta pratica o canto com acompanhamento na adoração. Se cantar não fosse autorizado, incluir essa atividade na adoração seria errado com ou sem acompanhamento instrumental.
1 J. W. Roberts, “Is Singing in the ‘Worship’ Service Demonstrably Scriptural?” Firm Foundation 86, 26 de agosto de
1969, p. 532.
Usar este argumento, portanto, seria admitir que os
adoradores estão formulando suas próprias regras.
Os opositores seriam forçados a transgredir suas
consciências ou adorar em outro lugar.
A lei de Moisés autorizava o sopro de trombetas (Números 29:1), e Salmos fala desse ato
como “preceito para Israel... prescrição do Deus
de Jacó” (Salmos 81:3, 4). Se Salmos servisse de
modelo para a igreja, tanto as congregações instrumentalistas quanto as que cantam a capela estariam transgredindo esse modelo, pois nenhuma
delas toca a trombeta (rDpwøv, shofar) na lua nova, na
lua cheia, ou em quaisquer dias de festa.
Os cristãos têm louvado a Deus com cânticos
há dois mil anos. No primeiro século, Inácio, fazendo uma comparação, falou de “cantar em uníssono com uma só voz”2. Plínio, no segundo século, disse que os cristãos cantavam hinos a Cristo,
como a um deus3. Cantar como parte da adoração
a Deus não começou com membros do Movimento de Restauração nos Estados Unidos.
“INSTRUMENTOS MUSICAIS
SÃO MENCIONADOS NOS SALMOS
E EM APOCALIPSE”
Em Salmos
Alguns insistem que o uso de instrumentos em
Salmos justifica seu uso na adoração cristã. Isso
justifica fazer tudo que é mencionado em Salmos,
ou apenas as práticas que se quer adotar para a
adoração debaixo do Novo Testamento? Salmos
149:6 e 7 menciona a música instrumental. Se
Inácio, Primeira Epístola aos Efésios 4.
Plínio, Epístolas de Plínio 10.96.
2 3 1
usarmos isso como autoridade para usar instrumentos musicais na adoração cristã, não devemos
também nos prostrar diante do santo templo (Salmos 5:7; 138:2) e buscar a presença do Senhor no
templo (Salmos 27:4; 43:4)? Salmos é claro quanto
ao uso de instrumentos; o Novo Testamento não!
Pode-se argumentar que o incenso representa as
orações dos santos, mas temos de nos lembrar
que essa figura veio do Antigo Testamento. O fato
de que o termo tinha um sentido figurado não impede o uso de incenso literal, o qual foi ordenado
e praticado debaixo da Lei. Todavia, o incenso
não faz parte da adoração neotestamentária.
Talvez alguém questione: “Quando cantamos
palavras dos salmos, corremos o risco de falar de
coisas que já não devemos praticar?” Com certeza. Analisemos Salmos 66:13–15:
Entrarei na tua casa com holocaustos; pagar-te-ei
os meus votos, que proferiram os meus lábios, e
que, no dia da angústia, prometeu a minha boca.
Oferecer-te-ei holocaustos de vítimas cevadas,
com aroma de carneiros; imolarei novilhos com
cabritos.
Essas práticas podem ser incluídas na adoração
neotestamentária? Muitas atividades mencionadas nos Salmos não estão em harmonia com
a adoração neotestamentária, embora fossem
cabíveis naquela época. A Lei e todos os seus
sistemas foram cumpridos e anulados pela morte
de Jesus (Romanos 7:4; Colossenses 2:14; Hebreus
10:8–10). Todavia, ainda podemos aprender com
os exemplos do Antigo Testamento (veja Gálatas
3:24, 25). Podemos cantar sobre o que Deus fez
em eras passadas sem trazer práticas patriarcais
ou mosaicas para dentro da adoração da igreja.
As mudanças dos requisitos divinos para a
adoração podem ser ilustradas por muitos aspectos. A adoração no Antigo Testamento era no
tabernáculo e depois no templo. O etíope de Atos
8:27 foi para Jerusalém para adorar. Ele ainda não
tinha ouvido que não se adora nem no monte
Gerazim nem em Jerusalém (veja João 4:21). O
evangelho é para os que invocam o Senhor em
todos os lugares (1 Coríntios 1:2). Os cristãos podem orar em todo lugar (1 Timóteo 2:8). O pórtico
de Salomão (Atos 3:11; 5:12), residências (Atos
12:12), a escola de Tirano (Atos 19:9) e uma sala
no primeiro andar (“cenáculo”) em Trôade (Atos
20:7–9) foram todos lugares em que os cristãos se
reuniram. Não encontramos evidência do uso de
2
um instrumento em nenhum desses lugares.
A prática do casamento com um parente resgatador, o levirato, era uma obrigação mais antiga do que a lei de Moisés, como se vê na história
de Tamar (Gênesis 38:1–11), uma das cinco mulheres ascendentes de Jesus citadas na genealogia
do Evangelho de Mateus (1:3). Essa história era a
base da pergunta instigadora dos saduceus a Jesus em Mateus 22:23–32. Além da pergunta dos
saduceus em Mateus, o Novo Testamento só faz
alusão ao costume indiretamente. A lei de Moisés
incorporou esse antigo costume (Deuteronômio
25:5–10), mas o casamento por levirato não é incentivado nem proibido no Novo Testamento. Alguém disse que na Nigéria esse tipo de casamento
ainda é observado, mas ele não é uma exigência
da nova aliança.
Na época da Reforma, certas seitas pensavam
que deveriam seguir o exemplo dos patriarcas
quanto aos casamentos múltiplos. Os mórmons
praticaram a poligamia até Utah tornar-se um estado norte-americano, e algumas seitas ainda pregam isso. Um homem tentou justificar tal prática
apontando para as boas pessoas que a praticaram
no passado. Esse argumento poderia igualmente ser
usado em favor de quem se abstém do casamento.
Ao contrário do que alguns alegam, Hebreus
1:8 e 9 não fornece regras ou exemplos para a adoração. O texto cita as palavras de Salmos 45:6 aplicando-as a Cristo como uma profecia messiânica.
Este salmo fala de instrumentos de corda, mas o
escritor de Hebreus não citou essa parte do salmo. Além disso, o Salmo 45 é reconhecido como
um salmo de casamento e, de forma alguma, está
falando de adoração. Quem só permite música a
capela na adoração não se opõe necessariamente
ao uso de música instrumental numa cerimônia
de casamento (especialmente se a cerimônia não
for realizada no prédio da igreja). Uma cerimônia
de casamento não é um culto e o Novo Testamento não lhe impõe regras.
Em Apocalipse
Alguns acreditam que pode se justificar o uso
de instrumento na adoração pelo Livro de Apocalipse, ignorando a natureza figurada desse livro
profético. Apocalipse menciona muitas coisas no
céu que não estão na igreja, como “as taças da
ira de Deus” (15:7; veja 16:1), “um cálice de ouro
transbordante de abominações” (17:4), um santuário (15:5), taças de ouro cheias de incenso (5:8),
uma altar de ouro diante do trono (8:3), vinte e
quatro anciãos vestidos de branco e coroas de
ouro (4:4). Esses itens não estão incluídos na adoração do Novo Testamento.
“JESUS E OS APÓSTOLOS
ADORARAM ONDE
SE USAVAM INSTRUMENTOS”
Alguns desenvolveram o raciocínio de que Jesus e os apóstolos adoraram no templo, onde se
usava música instrumental e que isso abre precedente para o uso de música instrumental em nossos cultos públicos. Primeiramente, é preciso lembrar que Jesus viveu debaixo da Lei e guardou a
Lei. Em segundo lugar, não há descrições da adoração no templo no primeiro século, para nelas basearmos
qualquer argumento, e não há provas de que se usavam
instrumentos no templo nessa época. A premissa faz
pressuposições ou com base em descrições muito
anteriores do Antigo Testamento ou em descrições
muito posteriores de rabinos.
Desde o primeiro Pentecostes após a ressurreição, os cristãos passaram a se reunir diariamente no templo (Atos 2:46). Lucas registrou que
Pedro e João foram para o templo para a oração da
hora nova, ou das três horas da tarde (Atos 3:1),
embora não tenhamos nenhuma descrição contemporânea de um culto da “hora nona” ou “da
tarde”. Nem se diz nessa mesma narrativa alguma
coisa sobre os apóstolos participarem da adoração
no templo. Pela organização de Davi, a adoração
no templo, incluindo cânticos, era feira pelos sacerdotes e levitas—não pela congregação.
A reunião do povo nas horas de oração era
voluntária. A Lei não exigia a presença de todos
para os sacrifícios, embora os apóstolos encontrassem multidões ali e aproveitassem a oportunidade para ensinar. Sabemos que em Atos 4:4
Pedro dirigiu-se a uma multidão reunida—cerca
de cinco mil homens. Os apóstolos ensinaram sobre Jesus “no pórtico de Salomão” e “no templo”,
bem como em outros lugares (Atos 5:12, 42). O
templo era um local para reunião conveniente.
“INSTRUMENTOS MUSICAIS
NÃO SÃO DIFERENTES
DE HARMONIA DE VOZES”
Para justificar o uso de um instrumento, alguns o igualam a cantar em harmonia. A harmonia das quatro vozes não é descrita no Novo
Testamento e só foi criada vários séculos depois
da era apostólica. Todavia, o uso desse fato como
um argumento em favor da música instrumental
é falacioso. Embora não tenhamos nenhuma descrição contemporânea de cânticos nas sinagogas
palestinas do primeiro século, Filo de Alexandria
descreveu o canto dos terapeutas (filósofos judeus) em Alexandria, no Egito. O canto não era
sempre igual. Às vezes homens e mulheres cantavam versos:
...o coral dos terapeutas de ambos os sexos, o
responsório de notas e vozes, o soprano das mulheres se misturando com o baixo dos homens,
cria um concerto harmonioso, música no sentido
mais verdadeiro.4
Isto não sugere uma harmonia de quatro vozes,
mas indica claramente uma harmonia de duas
vozes. Nem todos os cânticos eram em uníssono.
Todos os estilos de canto, em uníssono, responsivo, a duas ou quatro vozes, são igualmente canto
e é isso o que o Novo Testamento ordena.
“PSALLEIN REQUER O USO
DE UM INSTRUMENTO”
Alguns contestam que o uso de um instrumento é exigido pelo verbo yallein (psallein),
uma vez que o sentido primário geralmente atribuído a esse verbo inclui tanger as cordas de um
instrumento. Se essa definição estiver correta, só
se pode fazer o que o verbo exige usando acompanhamento instrumental.
A falácia desta contestação é que, se fosse válida, provaria mais do que seus defensores pretendem. As ocorrências de psallein em Salmos onde
não se menciona nenhum instrumento excedem
em muito os dezesseis salmos que mencionam
instrumentos.
Se este argumento fosse válido, o uso de um
instrumento seria obrigatório, e não opcional.
Ninguém quer contestar esta noção. Os instrumentalistas só querem que os instrumentos musicais na adoração sejam opcionais, de modo que
um grupo possa usá-los ou não, como julgarem
conveniente. Imaginemos uma reunião em que,
por falha técnica, os instrumentos não funcionam.
Isso impediria a congregação de cantar? Claro que
não! Uma explicação ou desculpas seriam dadas,
e os membros cantariam sem acompanhamento.
4 Filo, The Contemplative Life 88. [N. Trad.: obra ainda não
publicada em português.]
3
Os instrumentalistas estão dispostos a adorar juntamente com os que cantam a capela.
“O INSTRUMENTO É APENAS UM
RECURSO PARA SE CANTAR”
Segundo outro argumento, o instrumento
musical não faz parte da adoração, mas é apenas
um recurso para adorarmos. Vejamos as analogias propostas: uma bengala ajuda a caminhar,
óculos ajudam a enxergar e um aparelho auditivo
melhora a audição. Daí, partem para a analogia
de que o instrumento musical é como o uso de
um diapasão, de um hinário, de luzes elétricas,
de bancos, cálices para o fruto da videira e de microfone.
Obviamente, essas analogias não são plausíveis. Uma bengala não anda por si só, mas um
instrumento pode ser—e geralmente é—tocado
sem acompanhamento vocal. O diapasão não é
geralmente ouvido pelo público que canta e, além
disso, o som que ele emite cessa antes que comecem a cantar. Se um instrumento fosse usado somente para dar o tom e depois silenciasse, talvez
não haveria objeções a ele.
Não se pode argumentar logicamente que um
instrumento musical não faz parte da adoração
e ao mesmo tempo recorrer à adoração descrita nos Salmos para justificar o uso dele. Os dois
argumentos são mutuamente exclusivos. Os Salmos mostram explicitamente que instrumentos
eram usados no louvor a Deus no templo no Antigo Testamento. Vejamos a lista de instrumentos
e o uso repetido de “louvor” (ai˙nei√te, aineite) em
Salmos 150:1–5 na Septuaginta (LXX). Esses instrumentos faziam parte do louvor a Deus, como
também a dança (Salmos 150:4). Davi organizou
os instrumentos para oferecer louvor a Deus
(1 Crônicas 23:5, 6). Não eram meros recursos para
a adoração. Instrumentos também foram usados no
louvor a Deus quando Salomão dedicou o templo
(2 Crônicas 5:12–14). Deus não deve ter se indignado com isso, pois fogo do céu consumiu o sacrifício,
e a glória dEle encheu a casa (2 Crônicas 7:1, 2).
A parte mais importante do ato de cantar—a
mensagem—está na letra. As letras para os cânticos de adoração podem ser extraídas de Salmos,
de uma página escrita ou de cor. Elas podem ser
lidas, memorizadas ou projetadas numa tela ou
parede. É impossível cantar com a mente sem se
usar as palavras (1 Coríntios 14:15), e estas não
são comunicadas por instrumentos.
4
“A ADORAÇÃO CRISTÃ
NÃO TEM REGRAS, POR ISSO NÃO
PRECISA DE AUTORIZAÇÃO”
Um dos argumentos feitos para justificar a
música instrumental na adoração é que o Novo
Testamento não contém regras para a adoração,
e não é preciso autorização bíblica para o uso de
instrumentos. Este argumento tenta provar demais. Ele nega todos os outros esforços para justificar a música instrumental. Se fosse válido, todos
os outros seriam inúteis.
Se este argumento relativo à adoração for aceito, não há base para se rejeitar a prática de orar a
Maria, o uso de água benta ou outros acréscimos.
A adoração fica sujeita apenas ao gosto individual do adorador. Uma pessoa que lê apenas o Novo
Testamento jamais teria a impressão de que Deus
nos permite adorar como bem desejarmos.
O tema da música instrumental na adoração
não é mencionado no Novo Testamento. Alguns
líderes da Reforma se opuseram ao uso de instrumentos na adoração com base no que leram no
Novo Testamento.
Não existe nenhum indício no Novo Testamento de que os primeiros cristãos pensavam que
podiam adorar a Deus sem seguir a Sua vontade.
Paulo advertiu os coríntios a viverem de acordo
com o que estava escrito (1 Coríntios 4:6), ou seja,
a vontade revelada de Deus nos escritos do Novo
Testamento.
Se a contestação de que Jesus jamais tocou no
assunto de música tivesse alguma validade, tanto
os instrumentalistas como os que cantam a capela
seriam culpados de presunção em suas práticas.
Obviamente, Jesus jamais alegou ter abordado
todos os assuntos que a igreja enfrentaria. Antes
de Sua morte, Ele disse aos discípulos que Ele tinha muitas coisas a dizer que eles não suportariam ouvir. Jesus prometeu que o Espírito Santo
os guiaria a toda a verdade (João 16:12, 13). Baseados no que lemos em Atos, podemos dizer que
o Espírito Santo guiou-os a cantar, porém não os
guiou a usar música instrumental.
“A IGREJA RECEBEU LIBERDADE”
Alguns afirmam que o Novo Testamento nem
prescreve nem proíbe o uso de música instrumental na adoração. Acreditam estes que a igreja local
tem liberdade para escolher como vai adorar a
Deus. Na igreja primitiva, os que vinham do judaísmo que acreditavam e praticavam a circun-
cisão de crianças e/ou a observância de dias de
festa tiveram permissão para continuar tais práticas, mas não tiveram permissão para impor essas
práticas aos gentios. Sendo assim—dando continuidade a este tipo de raciocínio—se no Antigo
Testamento se adorava a Deus com instrumentos,
a igreja tem que ter liberdade de escolha para usálos ou não. Paulo discutiu as questões da circuncisão, dos alimentos e das festas; mas não da música
instrumental. Portanto, temos que considerar o
que significa o silêncio das Escrituras aqui. Um
comerciante que vende a seu cliente um item cuja
transação este não autorizou está errado perante o código do consumidor. O silêncio do cliente
em relação a essa transação significa que ela está
proibida, e não permitida.
CONCLUSÃO
Ainda não encontrei uma pessoa que consiga
argumentar com sucesso que o Novo Testamento
autoriza o uso de música instrumental na adoração congregacional, mas muitos querem que tal
uso seja opcional. Onde na Bíblia a obediência
a qualquer mandamento ou admoestação é opcional? Os que aprovam a música instrumental
sempre estiveram dispostos a cantar quando os
instrumentos estão ausentes ou quando é impossível usá-los. Todos concordamos que crer em
Jesus é uma ordenança—então crer é uma coisa
que os cristãos podem escolher fazer ou não fazer, conforme sua preferência? Concordamos que
o arrependimento e o batismo são ordenanças,
mas essas ordenanças são opcionais? Ordenanças
bíblicas opcionais seriam um contra-senso.
A questão do uso de música instrumental permanece exatamente onde empacou desde que os
instrumentos foram introduzidos nos cultos, cento
e cinquenta anos atrás. A atmosfera religiosa geral
mudou para uma tolerância maior do que antes,
mas a questão básica permanece na mesma.
Em ambos os lados há cristãos que se consideram igualmente sinceros, tementes a Deus, dedicados, pessoas informadas que estão tentando viver
à altura de elevados padrões. Nenhum dos grupos
diz que tudo é permitido na adoração. Ambos são
opostos a uma longa lista de práticas de adoração
fundamentadas somente em tradição humana e,
portanto, condenadas na ótica de Deus.
Entretanto, na questão da música instrumental nos cultos ao Senhor, os dois grupos se dividem. Os que usam instrumentos acreditam que
estão protegidos pelo princípio de liberdade cristã nessa escolha. Não percebi nenhuma disposição da parte deles para abrir mão dessa alegada
liberdade em prol da unidade ou de qualquer outro propósito. Buscam a aceitação para si mesmos
e para suas práticas daqueles que acreditam que
só a música a capela é adequada e agradável a
Deus na adoração congregacional.
Entres os que cantam a capela, agora parece
haver uma onda de pessoas dispostas a fazer concessões em nome da unidade, aceitando música
instrumental desde que também se cante a capela.
Estes consideram a unidade mais importante do
que estar apto a mostrar no Novo Testamento que
o que estão fazendo agrada a Deus. O silêncio das
Escrituras já não é honrado. Se alguém chega a ser
tão presunçoso a ponto de arriscar fazer o papel
de um falso profeta, essa onda jamais trará unidade; onde antes havia dois grupos, haverá três.
Os instrumentalistas continuarão cantando com
acompanhamento instrumental. Os que insistem
na adoração a capela continuarão cantando como
sempre fizeram. E surgirá um terceiro grupo, cantando das duas formas até que seus jovens façam
todos cantarem com acompanhamento musical.
O resultado é inevitável.
Para se justificar o uso de música instrumental
nos cultos da igreja do Novo Testamento, é preciso mostrar que Deus se agrada dela. E isto não
pode ser feito. Só Deus tem o direito de escolher o
que Ele quer que se faça no culto a Ele prestado.
Perguntas Frequentes
P: Todas as coisas que um cristão faz não são
adoração?
R: Não. Alguns raciocinam assim: “Se tudo
o que fazemos é adoração, podemos trazer para
a adoração tudo o que fazemos. Tocamos instrumentos musicais fora das reuniões cristãs, então
deve ser correto usá-los nos cultos”. O verbo grego para “adorar”, proskune÷w (proskuneo) significa
“prostrar em reverência diante de” e “expressar
reverência a”. Literalmente, significa “beijar em
respeito reverente pelo outro”. Este ato ocorre em
momentos específicos, que têm começo e fim. Se tudo
fosse adoração, as pessoas não teriam que ir a algum lugar para adorar. Todavia, vemos pessoas
na Bíblia geralmente indo a determinados lugares
para adorar e vemos que elas começam e termi5
nam essa adoração em momentos específicos:
• Judeus e gregos foram para a festa a fim de
adorar (João 12:20).
• O eunuco etíope viajou muitos quilômetros
até Jerusalém para adorar (Atos 8:27).
• Paulo terminou sua terceira viagem missionária indo para Jerusalém para adorar (Atos
24:11).
• Pessoas impressionadas com o dom miraculoso de falar em línguas nunca estudadas poderiam prostrar-se com a face em terra para
adorar a Deus (1 Coríntios 14:24, 25).
• O Livro de Apocalipse mostra a adoração começando em determinadas horas (4:10; 11:1;
14:7; 15:4; 19:10; 22:8, 9).
Outra palavra grega, que significa “culto” ou
“serviço”, latreu/w (latrueo; Romanos 12:1), às
vezes é traduzida por “adoração”. Essa palavra
engloba todo o nosso serviço prestado a Deus, incluindo a adoração. Podemos servir a Deus em
todos os momentos, mas não se espera que O
adoremos a cada minuto do dia. Neste sentido,
deixamos o nosso “serviço” e vamos “adorá-lo”.
Sentado junto ao poço de Jacó, Jesus conversou com uma samaritana sobre o lugar em que
se deve “adorar” (proskuneo). Os judeus sabiam
adorar em Jerusalém, a cidade que Deus escolheu
(1 Reis 11:13), e rejeitar a introdução de qualquer
coisa na adoração que Deus não tivesse incluído.
Como justificativa para a música instrumental, esse raciocínio é inerentemente nulo, pois
nem tudo o que fazemos é adoração.
P: Deus não quer que usemos nossos talentos
para glorificá-lO?
R: Sim, mas alegar que Deus espera que usemos nossos talentos individuais na adoração abriria as portas para um amplo leque de atividades.
Jesus ensinou que a adoração a Deus deve ser em
espírito e em verdade (João 4:24). Ele não ensinou
que cada pessoa deve incluir na adoração o talento que tiver.
Se fosse para exibirmos nossos talentos nos
cultos ao Senhor, não nos limitaríamos a demonstração à música. Entre os talentos dos cristãos
estão a arte, a culinária, a dança e as proezas atléticas, para mencionar alguns. Se todos os cristãos
fizessem apresentações perante a congregação
para que Deus fosse louvado por seus talentos,
6
não haveria limite para o que praticariam na reunião de adoração.
P: A igreja primitiva não evitava instrumentos porque tinha medo da perseguição?
R: Os cristãos do primeiro século muitas vezes
tiveram que se reunir secretamente, por isso alguns
alegam que eles só estavam com medo de usar música instrumental. O raciocínio deles é que seria difícil esconder os instrumentos quando estivessem a
caminho das reuniões e que os cristãos perseguidos
temiam que o som revelasse onde estavam.
Este argumento teria alguma validade se a igreja tivesse usado instrumentos na adoração antes da
perseguição começar ou após seu término. Todavia,
a Igreja foi aceita pela sociedade romana no início
de 300 d.C., mas os instrumentos só foram introduzidos nos cultos sete séculos depois. A ausência
universal de instrumentos musicais na adoração
cristã por dez séculos é prova de que o medo da
perseguição não foi a causa da omissão de instrumentos nos cultos de adoração. Eles não eram usados por que não foram autorizados pelo Senhor.
P: A igreja do primeiro século não permitiu
instrumentos para que o povo visse que eles eram
diferentes dos outros grupos religiosos?
R: Mais um argumento apresentado é que os
instrumentos foram evitados no começo da igreja
ou para se fazer uma distinção clara do judaísmo
e do paganismo ou para impedir que os convertidos voltassem e se envolvessem nos cultos pagãos
e judaicos.
...certos tipos de música talvez tenham sido
evitados, não por causa de um erro intrínseco,
mas pelas fortes relações nas mentes de alguns
que vieram de experiências pré-cristãs, judaicas
ou pagãs. Todavia, o princípio cristão radical em
vigor era evitar tudo o que pudesse ofender uma
consciência fraca, não porque isso tivesse intrinsecamente o poder de mudar comportamentos. A
distinção, portanto, entre o conceito pagão de autorização de coisas e o conceito cristão de discernimento entre as coisas, os quais não são impuros
em si mesmos (Romanos 14:14) nem autorizados,
sobrepuja qualquer opinião que afirme que a
Igreja Primitiva estabeleceu um padrão para a
música que era rígido, imutável e limitado.1
Cristãos foram admoestados a não se envolve1 H. M. Best and D. Huttar, “Music, Musical Instruments”, The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, ed.
Merrill C. Tenney. Grand Rapids, Mich.: Zondervan Publishing House, 1975, vol. 4, p. 319.
rem em culto pagão (Colossenses 2:18), mas isto
não significa que o que deveriam usar na adoração se baseava somente num desejo de serem diferentes dos outros ou tinha em vista impedir que
os convertidos voltassem às práticas religiosas do
passado. Os novos cristãos tinham que aprender
a adorar com Jesus (Mateus 28:18–20), o cabeça da
igreja (Efésios 4:11–15; Colossenses 2:19).
P: Os instrumentos não são apenas uma questão de conveniência?
R: Baseando-se em 1 Coríntios 6, algumas pessoas concluem que os instrumentos musicais não
são ordenados, mas são convenientes, oportunos.
Paulo escreveu: “Todas as coisas me são lícitas,
mas nem todas convêm” (v. 12a; veja 10:23a).
A ideia principal de Paulo aqui não era que
tudo é correto para os cristãos. Em outras passagens ele alistou coisas que são contrárias ao verdadeiro ensino (1 Timóteo 1:9, 10; veja Romanos
1:24–32; 1 Coríntios 6:9, 10; Gálatas 5:19–21; Efésios
5:3–12; Colossenses 3:5–9; 2 Timóteo 3:2–7; Tito 3:9–
11). Paulo ensinou claramente que não convém aos
cristãos fazer tudo que é lícito, legal. Embora comer
comida sacrificada a um ídolo fosse lícito, não seria
conveniente se isso ofendesse a consciência de um
irmão ou o levasse a tropeçar (1 Coríntios 10:25–29;
veja também 8:13). Embora Paulo tivesse o direito
de comer todos os tipos de comida, ele disse que
teria de se abster de comer, se o seu ato fosse prejudicial a outros cristãos (1 Coríntios 8:7–13).
Em relação aos instrumentos musicais, é preciso primeiramente se provar que o uso deles é
lícito, antes de se provar que convém usá-los.
Considerando que eles não estão incluídos como
parte da adoração neotestamentária, eles não são
lícitos. Mesmo que fossem lícitos, não deveriam
ser usados se, por causa deles, outros cristãos são
ofendidos ou tropeçam.
P: O uso de música instrumental na adoração
não é apenas uma simples questão de opinião, e
não uma questão de sã doutrina?
R: Alguns pensam que o uso de instrumentos
musicais na adoração é uma questão pequena demais para tanta discussão. Geralmente, acreditam
que os irmãos contrários ao seu uso estão sendo
legalistas demais, criando regras mais restritivas
do que as que o próprio Deus criou.
Jesus falou severamente contra as regras pesadas dos fariseus, inventadas por homens, mas
Ele não estava condenando a observância cuidadosa da Lei. Ao contrário disso, Jesus estava ensinando que os judeus deveriam obedecer a toda
a Lei, sem escolher ou negligenciar alguns mandamentos como se fossem menos importantes do
que outros aspectos da Lei.
Só Jesus tem o direito de determinar o que
constitui as questões de maior peso na doutrina
cristã. Nosso papel é sermos fieis em fazer exatamente o que Deus ordenou (veja Mateus 7:21–24;
15:9; Atos 2:42; Hebreus 5:8, 9; 3 João 3, 4). Usar
somente o que Deus especificou e não usar o
que Deus não autorizou é simplesmente ser fiel
a Deus. Ir além da escolha ou determinação de
Deus é transgredir a Sua vontade (2 João 9).
Apesar de Jesus usar a seguinte frase numa
parábola referente ao uso do dinheiro, ela estabelece um princípio geral: “Quem é fiel no pouco
também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco
também é injusto no muito” (Lucas 16:10). A maneira como reagimos às questões que consideramos de menor relevância reflete nossa verdadeira
atitude para com os princípios importantes.
Fazer o que Deus disse e somente o que Ele disse
é obediência. Agir de outra forma é desobediência.
P: Um hinário não é também um recurso
“musical”?
R: Alguns dizem que os grupos que só cantam
a capela se contradizem quando usam hinários ou
folhas de cânticos com partitura musical. Segundo
esse raciocínio, os instrumentos musicais e os hinários são igualmente aceitáveis. A diferença é que um
hinário ou uma partitura não emitem som musical.
Somente quando a pessoa começa a cantar ou
quando o instrumento começa a ser tocado é que
ouvimos os sons musicais. Hinários e partituras
não estão na mesma categoria dos instrumentos
musicais, pois não acrescentam sons musicais ao
canto autorizado por Deus.
P: Usar ou não música instrumental realmente tem algo a ver com a salvação?
R: Dizer que usar instrumentos musicais na
adoração não é uma “questão de salvação” consente que os instrumentos não são justificados
pelo ensino do Novo Testamento. A alegação é
que quem usa não será condenado à perdição.
O que é uma “questão de salvação”? Alguns
concluem que as únicas questões essenciais à salvação são os requisitos iniciais para se tornar um
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cristão. Todavia, a salvação não inclui apenas o
que Jesus exigiu de uma pessoa para que ela seja
salva, mas também inclui que ela se abstenha do
pecado. O pecado é aquilo que é “ilegal”, ou seja, é
agir fora do escopo do que está escrito (1 Coríntios
4:6). Uma vez que os instrumentos musicais não se
encontram no ensino do Novo Testamento, quem
os usa está excedendo o que está escrito. Não está
permanecendo no ensino de Cristo (2 João 9).
Jesus ensinou que a adoração apropriada é
uma questão essencial à salvação. Ele disse à samaritana em João 4: “Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque
a salvação vem dos judeus” (v. 22). Deus escolheu
Jerusalém (1 Reis 11:13). A implicação é clara:
quem não adorava em conformidade com o que
Deus escolhera não seria salvo.
As ofertas de Caim e Abel foram uma “questão
de salvação”. O sacrifício de Caim não agradou a
Deus, enquanto o de Abel agradou (Hebreus 11:4).
João escreveu que Caim “era do Maligno e assassinou a seu irmão... Porque as suas obras eram más,
e as de seu irmão, justas” (1 João 3:12). A comparação é entre as ações dos dois irmãos. Abel ofereceu o
melhor sacrifício, “pelo qual obteve testemunho de
ser justo” (Hebreus 11:4). Caim ofereceu o sacrifício
errado, que mostrou que seus feitos eram maus.
As mortes de Nadabe e Abiú também servem
de prova de que Deus espera obediência quando
procuramos adorá-lO. Eles pagaram um preço
altíssimo por oferecerem fogo estranho no tabernáculo, em vez de seguirem as especificações de
Deus (Levítico 10:1). Obedecer a Deus é crucial
para a salvação.
P: Deus não se agrada quando os instrumentos melhoram a nossa adoração com cânticos?
R: Deus se agrada quando obedecemos a Ele.
Aceitar o argumento de que os instrumentos musicais melhoram o canto abriria portas para qualquer
preferência humana nos cultos a Deus. Alguns regentes de coral têm a opinião de que as apresentações musicais mais belas são a capela. Obviamente,
isso gera um conflito de opinião. Quem deve ter
suas preferências honradas, senão Deus?
Se este argumento for levado ao extremo, a ceia
do Senhor poderia ser modificada. Alguns poderiam acreditar que o gosto do pão ficaria melhor
com o acréscimo de mel. O batismo poderia ser feito
dentro de uma bela cerimônia em que o candidato
mergulharia em pétalas de rosa, em vez de se mo8
lhar submetendo-se a um sepultamento em água
(veja Atos 8:38, 39; Romanos 6:4; Colossenses 2:12).
Não podemos ter a presunção de que podemos melhorar aquilo que é perfeito aos olhos de Deus.
P: O uso de instrumentos não atrai pessoas
não-cristãs para os cultos?
R: Talvez muitas pessoas que, de outra forma,
não frequentariam os cultos estariam presentes
para se entreterem com a música instrumental. Se
este fosse o nosso padrão para decidir como adorar a Deus, então todos os tipos de entretenimento
poderiam ser acrescentados nas reuniões de adoração. Deus quer que os adoradores sejam atraídos
por Ele e pelo desejo de terem comunhão com Ele
e adorá-lO conforme a Sua vontade. Ele quer que
obedeçamos a Ele; até os que estão no céu fazem
a Sua vontade (Mateus 6:10; 1 Pedro 3:22). Quem
não se satisfaz com as escolhas de Deus para o culto
congregacional não pode prestar adoração de modo
agradável a Deus, mesmo que use seus meios de
adoração preferidos, os quais Deus não escolheu.
P: O desejo de usar instrumentos musicais
não é um desejo que Deus implantou na natureza
humana?
R: A conclusão de que os instrumentos fazem
parte da natureza humana não pode servir de fundamento para se decidir como adorar a Deus. Se os
métodos de adoração fossem ditados pelo que fazemos naturalmente, qualquer atividade apreciada
pelas pessoas poderia ser acrescentada à adoração.
Este pensamento é o que desencadeou as práticas
sensuais na adoração pagã. Os padrões de Deus
não significariam nada se a adoração fosse realizada com base em nossas inclinações naturais.
Esta abordagem traria para a adoração todo
tipo de prática. Paulo advertiu explicitamente:
“não mais sejamos como meninos, agitados de um
lado para outro e levados ao redor por todo vento
de doutrina” (Efésios 4:14a). Nenhuma passagem
bíblica convida pessoas a adorarem de acordo
com seus instintos naturais. A adoração deve ser
em conformidade com a vontade de Deus, e não
com os nossos caprichos.
P: A igreja não precisa acompanhar o progresso da modernidade?
R: Alguns sugerem que instrumentos musicais
são necessários para se acompanhar os avanços da
sociedade. Pensam que o futuro da igreja depende
dela se manter em dia com os tempos atuais.
Quem promove essa opinião ignora o fato de
que havia muitos instrumentos diferentes quando
a igreja começou. Os primeiros cristãos poderiam
ter usado esses instrumentos, se Jesus tivesse ensinado Seus seguidores a incluírem-nos na adoração. O silêncio do Novo Testamento com respeito
a isso—apesar de outras religiões presentes na
região onde o cristianismo começou—comprova
que Jesus não optou por usá-los na adoração. Tendo em vista que os apóstolos foram guiados a toda
a verdade (João 16:13)—a verdade que nada ensinou sobre os instrumentos—devemos concluir
que Jesus não desejou que eles fossem usados nos
cultos congregacionais em que se adora a Deus.
Os cristãos são responsáveis por preservar o
ensino de Jesus, e não por seguir as tendências dos
tempos. Paulo advertiu que pessoas abandonariam a verdadeira doutrina para seguir caprichos
da sociedade (1 Timóteo 4:1–3; 2 Timóteo 4:2–4).
do enquanto outros tocam instrumentos.
Um argumento semelhante poderia ser apresentado com respeito à ceia do Senhor. Anos atrás,
uma equipe foi fazer uma campanha evangelística
no Canadá. Para surpresa deles, todos os pães de
suas refeições estavam com manteiga porque os
canadenses daquela cidade pensavam que o pão
deve ser servido já com manteiga. Seria certo passar
manteiga no pão da ceia? Embora o pão sem manteiga não seja mencionado, pão não implica mais
do que “cantar” implica um instrumento musical.
A instrução divina para os cultos na era cristã é
o canto. Se a palavra “cantar” implica instrumentos, Deus não teria tido que revelar por meio de
Davi e Natã que eles deveriam ser usados. Israel
não incluiu instrumentos musicais em sua adoração até Deus especificar o uso deles. Se Deus
quisesse que os cristãos usassem instrumentos
musicais nos cultos, Ele teria nos dado um mandamento ou exemplo neste sentido.
P: A igreja primitiva não teria usado instrumentos, se ela tivesse acesso a eles?
R: Quem argumenta que os instrumentos não
eram usados porque não existiam na época da
igreja primitiva está desinformado de quão antigos são os instrumentos musicais. Eles já existiam
antes mesmo do dilúvio. Jubal, que estava sete
gerações à frente de Adão, foi “o pai de todos os
que tocam harpa e flauta” (Gênesis 4:19–21). Labão, que viveu cerca de 1900 anos antes de Cristo,
mencionou que teria feito uma despedida de Jacó
“com alegria, e com cânticos, e com tamboril, e
com harpa” (Gênesis 31:27).
Os instrumentos eram amplamente conhecidos e usados no primeiro século, tanto em atividades seculares quanto na adoração pagã. Estariam
à disposição da igreja, se esta tivesse autorização
para usá-los.
P: Se é certo usar instrumentos em casa, não é
aceitável usá-los nos cultos?
R: Essa lógica traria tudo o que fazemos em
casa para dentro da adoração congregacional. Muitos tipos de alimento são comidos em casa, mas somente o pão e o fruto da videira foram escolhidos
por Jesus para estarem na Sua mesa. As famílias
ouvem música secular e participam de muitas outras atividades que não são apropriadas nem nos
cultos familiares nem nas assembleias cristãs.
Os sacerdotes não deveriam beber vinho ou
bebida forte quando fossem realizar as atividades
religiosas, pois deveriam estar aptos a “fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e
o limpo” (Levítico 10:10; veja 21:12). Evidentemente, Nadabe e Abiú profanaram o santuário oferecendo “fogo estranho” que não fora ordenado para
ser usado no altar de incenso (Levítico 10:1–3).
Através de Ezequiel, Deus acusou os sacerdotes de profanarem as coisas santas porque “não
faziam diferença, nem discerniam o imundo do
limpo” (Ezequiel 22:26b). Os sacerdotes deveriam
ensinar às pessoas a diferença entre o santo e o
profano (Ezequiel 44:23a). O que Deus escolheu
para o serviço dos sacerdotes deveria ser considerado santo. O que Ele não escolhera, se fosse
inserido no culto pelos sacerdotes, deveria ser
considerado profano. Práticas não-autorizadas
profanam a adoração.
Owen D. Olbricht
P: O uso de instrumento musical não está implícito na palavra “cantar” (psallo)?
R: Psallo significa simplesmente “cantar”. Alguns concordam que a palavra “cantar” implica
um instrumento. O raciocínio destes procede da
seguinte maneira: se o solista de uma banda diz:
“Eu vou cantar para vocês”, ele quer dizer que
vai cantar com os instrumentos tocando ao fundo.
Esta é uma descrição correta do que o solista faz,
mas o que os membros da banda estão fazendo?
Um espectador diria que há uma pessoa cantan-
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