Festival Internacional Seixal Jazz: Historial
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Festival Internacional Seixal Jazz: Historial
Historial WWW.CM-SEIXAL.PT SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL Em meados da década de 90, o Seixal decide apostar numa iniciativa para colocar o concelho no roteiro cultural da Área Metropolitana de Lisboa, e que a médio prazo se pudesse tornar uma referência no País. O objectivo era claro: criar uma nova centralidade, tendo em conta o Fórum Cultural, recentemente inaugurado, e dar visibilidade à intensa actividade cultural desenvolvida pela autarquia. Mas a forte oferta que chegava de Lisboa tornava a tarefa no mínimo difícil. Só um acontecimento “fora de série” e com grande qualidade artística poderia conquistar espaço na programação da Área Metropolitana. Após contacto com o produtor Paulo Gil, foi sugerida a produção de um festival de jazz diferente de tudo o que se tinha feito em Portugal até então. Foram os primeiros passos do Seixal Jazz. Este caderno pretende registar as anteriores edições do Seixal Jazz, através dos cartazes que marcaram o ritmo dos festivais e reflectir pequenas peças, excertos dos programas, sobre os artistas que por cá passaram. SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 1996 O ano de 96 marcou o arranque do Seixal Jazz como uma consequência lógica da actividade cultural da autarquia. Segundo os críticos, a fasquia foi colocada bem alta com uma programação de luxo que, pela primeira vez, dava oportunidade de ver o mesmo grupo ou formação duas vezes por noite (algo inovador até aí). O Sexteto de Laurent Filipe inaugurou os concertos. Seguiramse o Quinteto Carlos Barreto, Gateway com John Abercrombie, Dave Holland e Jack DeJohnette, Tim Hagans Audible Architecture, Steve Coleman and Five Elements, The John Scofield Group e Michael Brecker Group. 21 Outubro Sexteto Laurent Filipe “Mingus e Mais” Sexteto Laurent Filipe “Mingus e Mais” Quinteto Carlos Barreto com Convidados (homenagem a Luís Villas-Boas) Laurent Filipe (trompete e direcção) Mário Santos (saxofones tenor e soprano) Greg Moore (trombone e tuba) Pedro Sarmiento (piano) Pedro Gonçalves (contrabaixo) Aldo Caviglia (bateria) Nasceu em S. Paulo, Brasil, em 1962. Começou a tocar e a gravar com apenas 15 anos. Licenciou-se em Teoria e Composição Musical pela Universidade de Kansas (EUA), obtendo o “Masters em Composição Musical para Cinema” pelo Berklee College of Music (EUA). Estudou com os trompetistas Roger Stoner e Greg Hopkins, tendo também participado em seminários orientados por Wynton Marsalis. Apresentou-se um pouco por toda a Europa, quer com o seu grupo, quer como músico convidado, em concertos e festivais de jazz, tendo igualmente tocado nos EUA. Colaborou com músicos como Jimmy Mosher, Aldo Romano, Tete Montoliu, Maceo Parker, Bob Sands, Pat Metheny, Walter Perkins e Carlos Benavente, entre outros. (…) Seixal Jazz 1996: programa, pp. 6,8 22 Outubro Quinteto Carlos Barreto com Convidados (homenagem a Luís Villas-Boas) Jesus Santandreu (saxofones alto e soprano) Bob Sands (saxofones tenor, soprano e flauta) Albert Bover (piano) Carlos Barretto (contrabaixo) Philippe Soirat (bateria) Convidados: Paula Oliveira (voz) Netos do N’Gumbém: Evaristo Silva (sikó, bombolom, coros) Luís Mendes (reko, kalmás, coros) Seko Balde (tina – tambor de água, coros) Carlos Barretto nasceu em Lisboa, em 1957. Aos oito anos, iniciou os estudos musicais em guitarra e piano, optando mais tarde pelo contrabaixo. Em 1979, concluiu o Curso Superior do Conservatório Nacional de Lisboa com a classificação máxima nas disciplinas de contrabaixo, solfejo e harmonia. Frequentou os cursos de música da Costa do Estoril, onde estudou com o Prof. L. Streischer. A convite deste, Carlos Barretto foi aperfeiçoar a sua técnica na Academia Superior de Música de Viena de Áustria (de 1980 a 1982). (…) A insatisfação no plano artístico levouo a estabelecer residência em Paris em 1984, e a fazer da música improvisada a sua carreira profissional. De regresso a Portugal, em 1993, foi convidado a leccionar na escola de Jazz do Hot Club de Portugal. Integrou formações nacionais actuando em con- SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL certos e festivais em todo o país, dos quais se destacam as prestações com Lee Konitz, John Stubblefield, Georges Cables, com o qual grava Alone Together (ed. Groove), Lynne Ariale, Cindy Blackman e com a sua própria formação (Carlos Baretto Quintet) com a qual grava o primeiro cd como líder, Impressões (ed. Groove), tendo realizado concertos em Lisboa, Porto, Madrid, Terrassa, Barcelona, Paris, ClermontFerrand e Genebra. Seixal Jazz 1996: programa, pp. 11,13 23 Outubro The Gateway Trio John Abercrombie (guitarra eléctrica) Dave Holland (contrabaixo) Jack DeJohnette (bateria e piano) The Gateway Trio Tim Hagans Audible Architecture Steve Coleman and Five Elements Este trio constitui-se para gravar para a ECM há mais de 21 anos. Apesar da sua actividade não ser permanente, todas as reuniões destes três instrumentistas, desde Março de 1975, têm-nos feito ouvir uma música excelente, de certo modo meditativa mas enérgica quando necessário. Um equilibrado controlo dos espaços e das dinâmicas é outra das características da música deste agrupamento, onde o diálogo constante entre solistas-acompanhadores é particularmente cativante. John Abercrombie nasceu em Porchester, New York, em 16 de Dezembro de 1944. (…) Em 1969, depois de se formar, John Abercrombie partiu para New York na esperança de poder tocar alguns dos mais importantes músicos de então. (…) Dave Holland nasceu em Wolverhampton (Inglaterra), em 1 de Outubro de 1946. (…) Aos 16 anos, o seu interesse pelo jazz era já intenso, o que conduziu à compra de um contrabaixo no qual começou a praticar ouvindo discos e rádio. (…) Jack DeJohnette nasceu em 9 de Agosto de 1942, em Chicago. (…) É através do tio, Ray Wood, que era discjockey e trabalhava na rádio, que Jack DeJohnette começa a ouvir jazz. (…) Seixal Jazz 1996: programa, pp. 15,16, 17,19,20 24 Outubro Tim Hagans Audible Architecture Tim Hagans (trompete) Ben Monder (guitarra eléctrica) Scott Lee (contrabaixo) Billy Kilson (bateria) Tim Hagans nasceu em Dayton, no Ohio, em 19 de Agosto de 1954. A música que os seus pais ouviam, dos discos dos trompetistas Herb Alpert e Doc Severinson, acabou por moldar os interesses instrumentais do jovem TIM, que viria a apaixonar-se pelo trompete. (…) O estilo de TIM HAGANS denota leves influências de Lee Morgan e Miles Davis, combinando com elegante bom gosto as influências do bebop, de algum jazz mais vanguardista e do jazz de fusão. (…) Seixal Jazz 1996: programa, pp. 23,25 25 Outubro Steve Coleman and Five Elements Steve Coleman (saxofone alto) Andy Milne (teclados e piano) David Dyson (contrabaixo) Sean Rickman (bateria) Miguel Anga (percussão) Roseangela Silvestre (dança) Steve Coleman nasceu num dos centros musicais tradicionais dos E.U.A., a cidade de Chicago, em 20 de Setembro de 1956. Cresceu na zona sul, a curta distância dos bairros onde o jazz, os blues e os rhythm & blues se desenvolveram mais intensamente na chamada “Windy City”. (…) STEVE COLEMAN tem estado envolvido, desde 1994, em vários projectos musicais ao mesmo tempo: além do SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL sexteto que se apresenta no SEIXALJAZZ96, Renegade Way, Metrics, Mystic Rhythm Society e “The Secret Doctrine” são as formações com as quais o saxofonista/compositor se apresenta regularmente. Todas estas experiências acabam por determinar, indiscutivelmente, que STEVE COLEMAN é um excelente saxofonista de jazz cuja forma única de trabalhar as melodias sugere uma inteligência musical sofisticada. Seixal Jazz 1996: programa, pp. 29, 31 26 Outubro The John Scofield Group John Scofield (guitarra eléctrica) Seamus Blake (saxofone tenor) Kevin Hays (piano e teclados) Larry Grenadier (contrabaixo) Bill Stewart (bateria) The John Scofield Group John Scofield nasceu em Dayton, Ohio, em 26 de Dezembro de 1951. Foi em Wilton, no Connecticut, para onde a família se mudou quando tinha onze anos, que começou a estudar guitarra, tendo começado a tocar com grupos rock e de rhythm & blues. (…) John Scofield é um guitarrista inspirado, particularmente imaginativo, de grande modernidade e com fraseado fluente e fresco. Improvisa de forma brilhante, tanto em baladas como em temas rápidos, sempre com grande segurança rítmica. Domina a utilização dos espaços sonoros, fazendo variar a intensidade do seu ataque. (…) Seixal Jazz 1996: programa, pp. 32,35 27 Outubro Michael Brecker Group Michael Brecker (saxofone tenor) Joey Calderazzo (piano) James Genus (contrabaixo) Jeff “Tain” Watts (bateria) Michael Brecker Group Michael Brecker nasceu em 29 de Março de 1949, em Philadelphia, filho de advogado, amador de jazz e talentoso pianista. Ouvindo discos da colecção do seu pai, de Dave Brubeck e Duke Ellington, e o seu irmão mais velho, Randy, a estudar trompete, Michael optou imediatamente pelo jazz depois de assistir a um concerto de Miles Davis. (…) O estilo de Michael Brecker caracteriza-se por uma fluência impressionante, uma precisão no ataque das notas, uma agilidade rara na dedilhação do saxofone, de fraseado incisivo, caloroso e cativante. (…) Seixal Jazz 1996: programa, pp. 39,41 SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 1997 Depois de uma primeira edição bem sucedida, aplaudida pela crítica, músicos e público, surge uma segunda edição em que durante 9 noites consecutivas o jazz foi rei no palco do Auditório Municipal. Benny Golson, Bob Nieske, Kenny Garrett, Carlos Martins, Larry Coryell, Bruce Barth, Joe Lovano, Billy Kilson e Roots Septet foram os grandes nomes do Seixaljazz em 97. Nesta edição, destaque ainda para uma exposição de Guta de Carvalho com imagens do ano anterior, uma feira do disco e dois workshops com músicos participantes. Benny Golson Quartet 17 Outubro Benny Golson Quartet Benny Golson (saxofone tenor) Kevin Hays (piano) Dwaine Burno (contrabaixo) Carl Allen (bateria) Bob Nieske “Wolf Soup” Kenny Garrett Quartet O percurso deste saxofonista, que integrou durante algum tempo a formação de «Roots», que ouviremos neste festival, é sobretudo pouco vulgar. Golson nasceu em 1929, em Filadélfia e começou a tocar profissionalmente no princípio doa nos 50, integrado num grupo de rhythm’n’blues onde também estava o pianista, compositor e arranjador Tadd Dameron, cujo grupo Benny integrou a partir de 1953. Até 1956 tocou ao lado de Lionel Hampton ou Johnny Hodges, entre outros, sendo convidado nesse ano para integrar a Big Band de Dizzy Gillespie, de que seria arranjador e com a qual participaria numa das digressões patrocinada pelo Departamento de Estado. (…) Seixal Jazz 1997: programa, p.7 18 e 19 Outubro Bob Nieske “Wolf Soup” Jim Cameron (saxofones alto, tenor, barítono e clarinete) Tom Hall (saxofones soprano, tenor e barítono) Jon Damian (guitarra) Bob Nieske (contrabaixo) Nat Mugavero (bateria) A «Wolf Soup» do contrabaixista Bob Nieske é, de algum modo, a formação menos conhecida, quer enquanto projecto, quer ao nível dos músicos que a integram, das nove que passarão pelos palcos deste Seixal Jazz. Com dois álbuns no activo, My Desire e Wolf Soup, este último editado este ano no catálogo Challenge, este é um quinteto que cruza uma abordagem simultaneamente séria e humorística da música. Uma atitude não muito distante da que o próprio Nieske conheceu na Either Orchestra, do saxofonista Russ Gershon, cujo trabalho consiste, essencialmente, numa desmontagem e recontextualização de standards. (…) O quinteto mergulha no passado do jazz sem se fixar em géneros ou épocas, mas não é um grupo de repertório do mesmo tipo que o septeto «Roots», que ouviremos neste festival, onde não se brinca em serviço e o saxofone serve de bússola a revisitações de carácter igualmente amplo no tempo, mas individualizadas saxofonista e saxofonista. (…) Seixal Jazz 1997: programa, p. 13 20 Outubro Kenny Garrett Quartet Kenny Garrett (saxofone alto) Kenny Kirkland (piano) Nat Reeves (contrabaixo) Jeff “Twain” Watts (bateria) Considerado um dos mais brilhantes altos da sua geração, ou o mais brilhante mesmo, de acordo com a votação anu- SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL al da Downbeat na qual pôs termo, no ano passado, a um reinado de 21 anos de Phil Woods, Kenny Garrett vem tocar ao Seixal Jazz num momento particularmente feliz da sua carreira. (…) Kenny Garrett estudou clarinete, saxofone e flauta na escola. Aos 15 anos, ainda na sua cidade natal, estudava com o trompetista Marcus Belgrave. Aos 18, integra a orquestra de Duke Ellington, então dirigida pelo trompetista e filho do compositor de Caravan, Mercer Ellington. Como muitos outros músicos da sua geração, parte essencial da sua rodagem é feita em grandes orquestras. (…) Seixal Jazz 1997: programa, pp. 17, 18 21 Outubro Quarteto Carlos Martins / Bernardo Sassetti Quarteto Carlos Martins / Bernardo Sassetti Larry Coryell Quartet Bruce Barth Quintet Carlos Martins (saxofones tenor e soprano) Bernardo Sassetti (piano) Essiet Essiet (contrabaixo) Cindy Blackman (bateria) Carlos Martins e Bernardo Sasseti formam o que se poderá designar por «representação nacional», nesta segunda edição do festival Internacional de Jazz do Seixal. A seu lado surgirão o baterista Gene Calderazzo, irmão do pianista Joey Calderazzo, e o contrabaixista Arnie Somogyi. O saxofonista e o pianista são dois expoentes de topo do jazz que se toca em Portugal e praticamente dispensam apresentações aos que seguem de perto a cena nacional. (…) Carlos Martins nasceu em Grândola, em 1962. O palco da sua aprendizagem musical foi a Sociedade Filarmónica da vila alentejana que José Afonso imortalizou através de uns passos gravados no parque do castelo/estúdio de Herouville. (…) Bernardo Sassetti nasceu em Lisboa, em 1970. Começou a estudar piano aos nove anos, com os professores Maria Fernanda Costa e António Meneres Barbosa. (…) Seixal Jazz 1997: programa, pp. 23,24,25 22 Outubro Larry Coryell Quartet Larry Coryell (guitarra) Bireli Lagrene (guitarra) Richard Bona (baixo eléctrico) Billy Cobham (bateria) (…) Em 1997, LARRY CORYELL decidiu constituir o actual quarteto a fim de, fundamentalmente, voltar a captar o espírito musical que se havia gerado nessa primeira gravação. Como frequentemente acontece no jazz, este encontro acabou por ser o ponto de partida deste novo projecto, onde a música se baseia em arranjos rigidamente estruturados, que permitem dirigir a improvisação dos solistas para um diálogo cativante. LARRY CORYELL diz que “é muitas vezes preferível não terminar uma frase, num solo, pois isso permite criar mais espaço, o que leva a que os músicos se ouçam melhor uns aos outros”. LARRY CORYELL nasceu em 1943, em Galveston, Texas. (…) Seixal Jazz 1997: programa, p. 29 23 Outubro Bruce Barth Quintet Steve Wilson (saxofones alto e soprano) George Garzone (saxofones tenor e soprano) Bruce Barth (piano) Robert Hurst (contrabaixo) Adam Cruz (bateria) Bruce Barth é o único pianista que surge como líder no cartaz deste SeixalJazz97. Como outros dos bandleaders que participarão no festival, casos de Tim Hagans ou Billy Kilson, é um músico na fase inicial da sua carreira. Não é porém um desconhecido do público português, já que a sua passagem pela cave do Hot Clube, em Junho, deixou forte impressão a quantos estiveram na Praça da Alegria. Barth está ainda nos antípodas da escola intimista e introspectiva de Mehldau. É um pianista de SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL um fraseado fluído e límpido, para quem as linhas melódicas são essenciais. É também um músico que sente ter chegado a fase do seu percurso em que deve investir nas suas composições. (…) Seixal Jazz 1997: programa, p. 33 24 Outubro Joe Lovano Quartet Joe Lovano (saxofones tenor e soprano) Kenny Werner (piano Dennis Irwin (contrabaixo) Yuron Israel (bateria) Joe Lovano Quartet Billy Kilson Quintet (…) Nascido em Cleveland, a 29 de Dezembro de 1952, Joe Lovano tornou-se, neste final de década, uma referência incontestável do saxofone contemporâneo. Agora que se tornou igualmente consensual dizer que a era dos grandes revolucionários do jazz acabou, a tendência é eleger os músicos que melhor assimilaram o património do passado, do bop ao free jazz. Assim acontece com Lovano ou com o James Cárter de Conversin’ With the Elders, por exemplo. Mas nenhum destes músicos seria mais do que um predador paleolítico caso se limitassem à mera prática da recolecção. No ranking anual da Blue Note, Lovano surgiu este Verão como o segundo na categoria dos tenores (atrás de Rollins) e o quarto na classificação do artista do ano (de novo atrás de Rollins, além de Ornette e Marsalis). (…) Seixal Jazz 1997: programa, p. 37 25 Outubro Billy Kilson Quintet Tim Hagans (trompete) Mike Sim (saxofones tenor e soprano) Charles Blenzig (piano) James Genus (contrabaixo) Billy Kilson (bateria) Roots Septet Na edição de 1996 do Seixal Jazz, o baterista Billy Kilson surgia como um dos membros do quarteto Audible Ar- chitecture, do trompetista Tim Hagans. Este ano, os termos inverteram-se. É Hagans quem integra o quinteto de Kilson, para um concerto que se antevê dedicado à memória do grande e recentemente desaparecido Tony Williams. O saxofonista Michael Sim, o pianista Charles Blenzig e o contrabaixista James Genus, que nos visitou também em 96, integrado no Michael Brecker Quartet (e participou no Jazz em Agosto com o sexteto de Dave Douglas) completam um quinteto formado por nomes que atingiram uma real notoriedade nos anos 90. (…) Kilson estudou bateria e composição com Alan Dawson na New School of Jazz de Manhattan. Além de Hagans e Holland, trabalhou com Diane Reeves, Bob Belden, Ahmad Jamal e Bob Jones. Com Hagans gravou o álbum Audible Architecture propriamente dito. Gravou com Greg Osby, o saxofonista Bill Evans, Terumasa Hino e Terence Blanchard, nestes dois últimos casos ao lado de James Genus. (…) Seixal Jazz 1997: programa, p. 43 26 Outubro Roots Septet Arthur Blythe (saxofones alto e soprano) Chico Freeman (saxofones tenor e soprano) Nathan Davis (saxofones alto e soprano) Jerome Richardson (saxofones alto, tenor, soprano e barítono) Kirk Lightsey (piano) Mike Richmond (contrabaixo) Ed Thigpen (bateria) (…) Fundado em 1991, de algum modo também como um corolário das colaborações entre o alto Arthur Blythe e o tenor Chico Freeman, que remontam à fundação de outro colectivo, o The Leaders, em 1985, ao lado de Lester Bowie, Roots é um grupo que se propõe recriar a história do jazz, através do mais emblemático dos seus instrumentos, o saxofone. Daí que a sua participação num festival que elegeu o saxofone como tema principal, como o do Seixal, seja mais do que oportuna. SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL Trata-se de um grupo de repertório que, desde a primeira apresentação ao vivo, no Festival de Leverkusen, em 1991 – uma actuação que ficou registada no álbum Salutes the Saxophone, no ano seguinte – tem homenageado tantos saxofonistas como os que podem ser encaixados no espaço físico de um CD ou no tempo de duração de um concerto. (…) Seixal Jazz 1997: programa, p. 49 SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 1998 O êxito obtido nas duas edições anteriores veio confirmar que este projecto é uma aposta ganha. Em 1998, ainda no rescaldo de uma exposição internacional que trouxe a Lisboa milhares de visitantes, surge mais uma edição. Danilo Perez, Ravi Coltrane, Brad Mehldau, Art Ensemble of Chicago, Chico Freeman e Gary Bartz, John McLaughlin, Tomás Pimentel e Chick Corea foram as 8 boas razões que transformaram o Seixal na capital do jazz durante mais de uma semana. Danilo Perez Trio 27 Outubro Danilo Perez Trio Danilo Perez (piano) John Benitez (contrabaixo) Antonio Sanchez (bateria) Ravi Coltrane Quartet Brad Mehldau Trio (…) Danilo Perez, para todos os efeitos, não é um pianista de «jazz latino». É, aos 32 anos, um pianista total. (…) O percurso musical de Danilo Perez começa muito cedo, no seu país natal. Filho de um cantor ele entra, aos cinco anos, para o Conservatório Nacional do Panamá. Aos estudos clássicos que aí fez acrescentou, 15 anos depois, a Berklee School onde entra em 1985. Trazendo na bagagem o caleidoscópio sonoro que homenageou em Central Avenue, ganhando com a troca a descoberta de, por exemplo, BillEvans. Os primeiros trabalhos profissionais fá-los ao lado de Jon Hendricks e de Paquito d’Rivera antes de ingressar, em 1989, na United nations Orchestra, de Dizzy Gillespie, onde o seu trabalho não tardará em dar nas vistas e onde Perez tem contacto directo com um dos músicos da era do be-bop que mais procurou introduzir as sonoridades latinas na revolução que então emergia no jazz. (…) Seixal Jazz 1998: programa 28 Outubro Ravi Coltrane Quartet Ravi Coltrane (saxofones tenor e soprano) Andy Milne (piano) Darryl Hall (contrabaixo) Steve Hass (bateria) O saxofonista Ravi Coltrane despontou na cena jazzística internacional no início da década de 90, carregando consigo o peso esmagador de ser filho daquele que muitos elegem o maior génio da história do jazz ou, na pior das hipóteses, um dos dois ou três músicos mais influentes desta música nascida praticamente com o século: John Coltrane. Como o pai, Ravi divide-se tanto pelo tenor, que o músico de Blue Train explorou até ao limite, tanto no intimismo de Ballads, como nos anos «free» da fase final da sua breve carreira, como pelo soprano que o genial músico reinventava em My Favourite Things. (…) Começou por tocar clarinete na escola (porque havia falta de trompetes) e, mais tarde, passou para o saxofone soperano. O jazz ainda vinha longe. E surge após a morte do seu irmão mais velho, John Júnior em 1982. (…) Seixal Jazz 1998: programa 29 Outubro Brad Mehldau Trio Brad Mehldau (piano) Larry Grenadier (contrabaixo) Jorge Rossy (bateria) (…) A sua estreia como líder aconteceu em 1995 (Introducing Brad Mehldau). Mas foi sobretudo o lançamento, no princípio de 1997, de The Art of the Trio Vol.1, acompanhado de uma aclamada semana e meia de espectáculos na cave do Village Vanguard, em Nova Iorque, que lançou uma onda de entu- SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL siasmo culminando, em Agosto desse ano, nos prémios anuais da «Downbeat», na distinção do músico como o melhor do ano na categoria dos pianistas merecendo maior reconhecimento. (…) A primeira escola de Brad Mehldau foi a música clássica, onde fez a usa aprendizagem, dos 6 aos 14 anos. E o jazz, pela formação que prosseguiu na Hartford High School of Conecticut, na Berklee School, onde foi considerado o melhor músico no primeiro ano em que lá esteve, e no programa de Jazz e Música Contemporânea da New School of Social Research. Passou da escola, onde estudou com Fred Hersch e Kenny Werner, para o palco, no grupo de Jimmy Cobb, outro dos seus mestres. (…) 31 Outubro 30 Outubro Chico Freeman e Gary Bartz Quintet Lester Bowie (trompete, fliscorne e percussão) Roscoe Mitchell (saxofones soprano, alto e tenor, clarinete baixo, flauta e percussão) Malachi Favors (contrabaixo e percussão) Don Moye (bateria e percussão) Chico Freeman e Gary Bartz Quintet Seixal Jazz 1998: programa Seixal Jazz 1998: programa Art Ensemble of Chicago Art Ensemble of Chicago tarde, Famoudou Don Moye, formulou, desde o início, uma saída para o «free», trabalhando a tradição do jazz como se fosse o objecto de uma colagem de um artista plástico. Uma saída inspirada directamente no dadaísmo, que trazia uma nova forma de abstracção e onde o impulso do «free», que músicos como Albert Ayler ligavam também ao passado, na busca de uma pureza original do jazz, abria caminho a uma abordagem mais conceptual da música. Sem que a improvisação colectiva alguma vez deixasse de ser central na música do Art Ensemble. Mike Hennessey disse que, com eles, «a música parou de gritar e começou a respirar». (…) «O que sentimos sobre o free-jazz é podermos ser livres para tocar tudo o que quisermos. Consideramos o bebop uma cor. O dixieland é uma cor. O rap é uma cor. Se se for suficientemente livre para andar dentro e fora destes estilos e combiná-los, pode-se enviar toda uma outra mensagem». A citação, abreviada, é de Lester Bowie, hoje com 57 anos, trompetista (e, como todos os outros membros do grupo, um ecléctico polinstrumentista), fundador do Art Ensemble of Chicago (AEC). Foi extraída de uma entrevista à Downbeat, revista onde este grupo há três décadas foi eleito pela crítica como a melhor formação acústica de jazz de 1998. A frase é adequada aos tempos de hoje, marcados pelos múltiplos cruzamentos de géneros, mas traduz a forma como o grupo de Bowie, Roscoe Mitchell, Joseph Jarman, Malachi Favors e, mais Gary Bartz (saxofones alto e soprano) Chico Freeman (saxofones tenor e soprano) George Gables (piano) Santi Debriano (contrabaixo) Victor Lewis (bateria) Sendo, na sua estrutura de base, o quarteto de Chico Freeman, no qual Gary Bartz surge com o estatuto de co-líder, este quarteto que portanto é um quinteto pode ser considerado uma das mais homogéneas formações que irão estar no auditório do Fórum Cultural do Seixal. (…) Por outras palavras, Chico Freeman, nos sax tenor e soprano, Gary Bartz, no alto e George Cables, no paino, terão por propulsor neste palco a dupla Santi Debriano / Victor Lewis, respectivamente no contrabaixo e bateria. (…) Nascido em Chicago, em 1949, Freeman começou por tocar trompete, mas virou-se rapidamente para o saxofone. Tocou com músicos de «blues» como Memphis Slim e bandas «soul» como os Temptations e os Four Tops (além de uma perninha pop, mais tarde, com os Eurythmics). (…) Mais velho que Freeman, Gary Bartz nasceu em 1940 em Baltimore e co- SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL meçou a estudar na Julliard em 1958. Escolheu o saxofone alto por causa de Charlie Parker e começou por admirar o trabalho de Monk, Coltrane e Miles. (…) Seixal Jazz 1998: programa 1 Novembro Heart of Things / John Mclaughlin 2 Novembro Septeto Tomás Pimentel Tomás Pimentel (trompete e fliscorne) Alexandre Frazão (bateria) Edgar Caramelo (saxofones tenor e barítono) Jorge Reis (saxofones alto e soprano) Mário Franco (contrabaixo) João Paulo Esteves da Silva (piano) António Pinto (Guitarra eléctrica) John McLaughlin (guitarras acústica e eléctrica – midi) Gary Thomas (saxophones tenor e soprano, flauta) Otmaro Ruiz (piano e sintetizadores) Victor Williams (percussão) Matthew Garrison (baixos eléctricos normal e fretless) Dennis Chambers (bateria) Heart of Things / John Mclaughlin Septeto Tomás Pimentel John McLaughlin é, com Jimi Hendrix, um dos dois músicos que, no final dos anos 60, transformaram por completo o universo da guitarra eléctrica e permitiram que esta passasse a desempenhar um papel totalmente novo (e aumentado) no próprio jazz. (…) No Seixal Jazz, ele surgirá à frente de um grupo eléctrico, «The Heart of Things», em cuja formação se destaca Dennis Chambers, quarto numa dinastia de bateristas e percussionistas essenciais no caminho de McLaughlin. Em «The Heart of Things» é o guitarrista que assimilou a electrónica e a tecnologia MIDI que se acrescenta ao guitarrista acústico e eléctrico que o autor de My Goals Beyond sempre teimou ser. Mas estamos evidentemente do lado da fusão, um outro passo nessa mesclagem de que McLaughlin foi um dos principais pioneiros. (…) Nascido no Yorkshire, em 1942, John McLaughlin começou a tocar aos 11 anos e cresceu a ouvir guitarristas de jazz e de blues como Wes Montgomery, Jim Hall, Joe Pass e Muddy Waters. (…) Seixal Jazz 1998: programa Chick Corea & Origin Caberá ao septeto formado em 1991 pelo trompetista Tomás Pimentel imprimir, no penúltimo dia, a marca dos músicos portugueses à edição deste ano do Seixal Jazz. (…) Com a constituição actual, o septeto de Tomás Pimentel mantém uma linha de continuidade com dois grupos formados nos anos 80, o sexteto do trompetista e o Sexteto de Jazz de Lisboa. Deste último transitaram para aquele septeto Tomás Pimentel e os saxofonistas Jorge Reis e Edgar Caramelo. (…) Nascido em 1960, em Lisboa, Tomás Pimentel cresceu numa família onde todos tinham ligações à música. Aos oito anos começa a estudar piano. Inicia-se no trompete aos 15 e, quatro anos depois, integra a Orquestra Girassol, de José Eduardo, a primeira grande formação de jazz surgida entre nós, e o grupo Sintagma. Nesse ano, pisa o palco do Cascais Jazz, com o quinteto de Pedro Mestre. No princípio dos anos 80 integra o Sexteto de Jazz de Lisboa, de que é um dos principais compositores, fundando posteriormente o seu sexteto. (…) Seixal Jazz 1998: programa SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 3 Novembro Chick Corea & Origin Steve Wilson (saxofone alto, flauta e clarinete) Chick Corea (piano) Bob Sheppard (saxofones tenor e soprano, flauta e clarinete baixo) Steve Davis (trombone) Avishai Cohen (contrabaixo) Jeff Ballard (bateria) Tal como John McLaughlin, Chick Corea, cujo sexteto Origin encerrará a edição deste ano do Seixal Jazz, é um músico essencialmente formado na escola dos grupos eléctricos de Miles Davis, dos quais partiu para se afirmar como um dos músicos fundamentais do movimento jazz/rock dos anos 70. Tal como o guitarrista britânico, o pianista nascido em 1941, no Massachusets, manteve, ao longo da sua carreira, uma alternância permanente entre os formatos acústico e eléctrico. (…) Tendo começado a tocar piano aos seis anos, Corea trabalhou, ao longo dos anos 60, ao lado de músicos como Mongo Santamaria, Herbie Mann e Stan Getz. Depois, em 68, começa a colaboração com Miles. Ele está presente nos três álbuns de referência da revolução eléctrica de Miles, In a Silent Way, Bitches Brew e Live Evil. Onde, além da electricidade, o trompetista explorava um novo conceito de espaço e de silêncio, mantendo-se muito próximo da liberdade do «free», mas trocando a energia libertária deste por uma arquitectura hipnótica onde, mais do que solos, os músicos envolviam-se através de curtas sequências improvisadas. (…) Seixal Jazz 1998: programa SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 1999 Em 1999, o palco do Auditório Municipal recebeu Tony Martinez & The Cuban Power, Carlos Bica, o Grand Slam de Joe Lovano, Jim Hall, George Mraz e Lewis Nash, Dave Holland, Lee Konitz, Myra Melford, Jacky Terrason, John Patitucci e Odean Pope. As memórias desta edição levam-nos ainda à exposição “Cem Capas Sem Discos”, que reuniu parte do espólio de Luís Villas Boas, numa homenagem a um dos nomes fortes da divulgação do jazz em Portugal. 24 Outubro Tony Martinez & The Cuban Power Tony Martinez (saxofones alto e tenor, flauta, piano e voz) Leandro Saint-Hill (saxofones tenor e soprano, flauta e voz) Tony Martinez & The Cuban Power Carlos Bica Quinteto Roberto Consuegra (trompete) Gendrickson Mena (trompete) Dany Martinez (guitarra eléctrica e voz) César Correa (piano e teclados sintetizados) Dudu Penz (contrabaixo) Joel Maruez (tumbadoras, percussão) Rodrigo Rodriguez (timbales, percussão e voz) Lukmil Peres (bateria e percussão) (…) É um nome recente na leva dos músicos cubanos, que fez falar de si no ano passado com a gravação de «La Habana Vive», um disco de estreia onde o músico presta homenagem à cidade que mais o inspirou. Mas a sua história musical começa na escola de Artes de Camaguey, onde estuda saxofone, formando-se em 1987. (…) Professor no conservatório de Camaguey, Tony Martinez dirigiu, entre 1987 e 90, três grupos alisando a música à dança e estudou géneros tradicionais como a rumba e o «son», esta última a mais remota das influências do músico. 1990 é o ano da mudança para Havana. O músico conhecera a capital em 1982, onde se deslocara para participar num concurso de música clássica. «A sua essência inspirou toda a minha obra criadora», afirma Martinez da cidade que, diz também, lhe abriu o caminho ao mundo. (…) Seixal Jazz 1999: programa 25 Outubro Carlos Bica Quinteto Ana Brandão (voz) Katharina Gramss (violino) Joseph Doherty (viola de arco, saxofone alto, clarinete e flauta) Jens Thomas (piano) Carlos Bica (contrabaixo e violoncelo) (…) Carlos Bica é aqui o compositor e director musical. Natural de Lisboa, estudou na Academia dos Amadores de Música e no Conservatório, terminando, em 1985, os seus estudos superiores, como bolseiro, em Wurzburg, na Alemanha. Fixar-se-ia depois naquele país, mais precisamente em Berlim. Estudou com Ludwig Streicher e, ao nível do jazz, com o contrabaixista Miroslav Vitous. Surge na cena jazzística portuguesa na década de 80. Trabalhou com Maria João, António Pinho Vargas, MárioLaginha, o grupo Cal Viva, Kenny Wheeler, Aki Takase, Julian Arguelles, Steve Arguelles e Alexander von Schlippenbach. Fora do jazz ou da música improvisada, foi possível ouvi-lo na Orquestra de Câmara de Lisboa e várias orquestras alemãs.(…) Seixal Jazz 1999: programa, p. 11 SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 26 Outubro Grand Slam Joe Lovano (saxofones tenor e soprano) Jim Hall (guitarra eléctrica) George Mraz (contrabaixo) Lewis Nash (bateria) Grand Slam Dave Holland Quintet A estreia, em palcos portugueses, de um guitarrista tão importante como Jim Hall é, por diversas razões, um dos acontecimentos mais significativos desta edição 1999 do Seixal Jazz. A primeira, claro, é que obedecendo há muito a política de vários promotores de concertos à tradição de trazer até nós os gigantes do jazz, pelo menos uma vez, é estranho que Hall tenha escapado a tão apertada teia. Depois, porque encontraremos o guitarrista num evento onde estarão outros músicos próximos da sua sensibilidade intimista, como o grande Lee Konitz, com quem Hall trabalhou em duo, em 1960. Enfim, o músico de Buffalo surge integrado numa das formações mais consistentes do festival, ou mesmo a mais consistente, o «Grand Slam». Jim Hall surgirá ao lado de um dos grandes melodistas do nosso tempo, Joe Lovano – de quem não estará esquecida a estupenda «performance» no Jazz num Dia de Verão - , e uma secção rítmica, com George Mraz (contrabaixo), ouvido há dois anos em Portugal com Paul Bley e o soberbo Lewis Nash na bateria. Pianista, como é sabido, dispensa-se, a partir do momento em que Jim Hall está por perto. Sonny Rollins «dixit». (…) Seixal Jazz 1999: programa, p. 11 27 Outubro Dave Holland Quintet Chris Potter (saxofones tenor e soprano) Robin Eubanks (trombone) Steve Nelson (vibrafone) Dave Holland (contrabaixo) Billy Kilson (bateria) Lee Konitz – Martial Solal Quartet Um aspecto talvez pouco aparente, mas nem por isso menos interessante, no percurso do contrabaixista britânico Dave Holland, 53 anos completados este mês, é esse percurso parecer dividido em várias etapas muito coerentes, equivalendo estas a parcerias específicas com músicos tão diferentes como Sam Rivers ou Kenny Wheeler. O músico de Wolverhampton estudou na Guildhall School, entre 1964 e 1967 e, enquanto estudante, era possível ouvilo ao lado de outros músicos britânicos que então despontavam, como John McLaughlin ou John Surman, ou acompanhando «jazzmen» norte-americanos, Ben Webster ou Coleman Hawkins, por exemplo, no Ronnie Scott’s. Numa dessas noites no clube do Soho, uma surpresa mudou a história da vida de um músico, que começamos por afirmar ser mais coerente do que correndo ao sabor das coisas. Era Miles Davis quem estava na audiência e, meses depois, Holland estava nos EUA para ser um dos pilares da «revolução eléctrica» que o trompetista introduziria com «Bitches Brew». (…) Seixal Jazz 1999: programa, p. 21 28 Outubro Lee Konitz – Martial Solal Quartet Lee Konitz (saxofone alto e clarinete baixo) Martial Solal (piano) Marc Johnson (contrabaixo) Billy Drummond (bateria) Dois músicos cujas abordagens do jazz são o mais pessoal e heterodoxo possível. Formado na escola precursora do genial Lennie Tristano, no final dos anos 40, parceiro de Miles Davis em «Birth of the Cool» e inegável príncipe desta corrente abstracta e intelectualizada, um dos raríssimos altos a construir uma personalidade musical à margem da influência esmagadora de Parker, Konitz é um músico de estilo inconfundível, aliando complexidade e subtileza a SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL uma exploração inteligente e filtrada das emoções. Um «blues» estranho, apenas sugerido, uma tristeza que se analisa. Solal foi sempre considerado um músico «à parte» logo pela questão da nacionalidade. A riqueza harmónica é a sua marca. Ou seja, aquilo a que chamaram a «solalização» dos temas, um constante trabalhar da harmonia até muito longe dos limites que esta préestabelece. Ambos partilham o facto de percorrer os anos 90 com grande vitalidade. (…) Seixal Jazz 1999: programa, p. 25 29 Outubro Myra Melford Quintet Cuong Vu (trompete) Chris Speed (saxofone alto e clarinete) Myra Melford (piano) Eric Friedlander (violoncelo) Michael Sarin (bateria) Myra Melford Quintet (…) O quinteto de Myra Melford é classificado como estando na categoria dos grandes grupos que influenciaram uma época. Recebeu uma formação clássica e, ao mesmo tempo, tocava ragtime ou boogie-woogie. Conta que decidiu deixar a música, mas um dia viu Marty Ehrlich tocar com John Lindberg e decidiu que ela também podia tocar a sua própria música. Estudou com Gary Peacock e, em 1984, chegou a Nova Iorque, onde estudou ainda com HenryThreadgill e Don Pullen. A sua gravação mais antiga é «Live at the Knitting Factory», uma compilação de registos a solo na Meca da vanguarda do «downtown» de Manhattan. (…) Seixal Jazz 1999: programa, p. 31 Jacky Terrasson Quartet 30 Outubro Jacky Terrasson Quartet Dan Faulk (saxophones tenor e soprano) Jacky Terrasson (piano) George Mitchell (contrabaixo) Gerald Cleaven (bateria) (…) A singularidade de Terrasson começa na sua própria história pessoal. Nasceu em Berlim, filho de um francês e uma americana negra do Sul, cresceu em Paris entre a influência do piano clássico que o pai tocava e a colecção de discos de jazz da mãe. Ainda em paris estudou com Jeff Gardner e tinha por colega o filho de Francis Paudras, personagem real a partir da qual foi construído o Francis (Lady Francis, diria Dexter Gordon) de “Round Midnight”, de Bertrand Tavernier. De Paris foi para Berklee, de Berklee voltou para fazer o serviço militar em França. E foi tocando, entre outros, com Dee Dee Bridgewater e Ray Brown. Em 1990 fixa-se em Nova Iorque. As coisas começam a tomar forma. Terrasson grava com Wallace Roney e Tex Allen. Em 1991, junta-se ao veterano baterista Art Taylor, com o qual faz inúmeros concertos e grava “Wailin’at The Vanguard”. O pianista forma o seu próprio trio em 1993, com Ugonna Okegwo (que já encontrara quando gravou com Tex Allen) e Leon Parker. Entra para a Blue Note com o saxofonista Javon Jackson, participando em “When The Time Right” (1993 e “For One Who Knows” (1995), os primeiros de Jackson para a editora. (…) Seixal Jazz 1999: programa, p. 35 SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL John Patitucci Quartet 31 Outubro 1 Novembro John Patitucci Quartet Odean Pope Saxophone Choir Mark Tuner (saxofone tenor) John Beasley (piano) John Patitucci (contrabaixo) Horatio Hernandez (bateria) Musico convidado: Billy Harper (saxofone tenor) Odean Pope (saxofone tenor e direcção) Julian Pressley (1.º saxofone alto) Sam Reed (2.º saxofone alto) Robert Landham (3.º saxofone alto) Bob Howel (1.º saxofone tenor) Terry Lawson (2.º saxofone tenor) Robert Barnes (3.º saxofone tenor) Elliot Levin (4.º saxofone tenor) Anawin Manuel Ávila (saxofone barítono) Clifton Green (piano) Michael Boone (contrabaixo) Webb A. Thomas (bateria) O contrabaixista John Patitucci que se apresenta no Seixal Jazz 99 à frente do seu quarteto é um músico que tem andado a dizer às pessoas que não é apenas o baixista John Patitucci. O facto é que o músico ficou marcado pela sua prestação, em meados da década de 80, na Chick Corea Elektrik Band. Menos lembrada é a sua muito superior prestação com a Akoustik Band do mesmo Corea e com o mesmo baterista do grupo eléctrico, Dave Weckl. Seja como for, o concerto do quarteto de Patitucci, no Seixal, pode ser descrito como a reunião de um contrabaixista que, nos últimos anos, procurou alargar horizontes e redefinir-se como músico, com um saxofonista, Mark Turner que, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, vem desenvolvendo um trabalho que tem gerado as maiores expectativas quanto ao seu desempenho no jazz dos próximos anos. (…) Sobre os dois músicos que completam o quarteto onde Patitucci e Turner serão protagonistas principais, existem poucas referências. Horácio Hernandez foi baterista do excelente pianista Gonzalo Rubalcaba, que gravou recentemente com Lovano, e o pianista John Beasley gravou com Sal Marquez. Seixa Jjazz 1999: programa, p. 39, 41 O encerramento da edição de 1999 deste Seixal Jazz vai estar a cargo do saxofonista Odean Pope, músico que se destacou em inúmeros trabalhos ao lado do baterista Max Roach. Natural de Filadélfia, activo desde a década de 50, altura em que conheceu e se tornou muito próximo de John Coltrane, Odean Pope trará ao Fórum Cultural uma das duas formações que lidera. Tratase do Odean Pope Saxophone Choir, incluindo, como músico convidado, um…saxofonista: Billy Harper. O grupo integra, além de Pope e Harper, três altos (Julian Pressley, Sam Reed e Robert Landham), quatro tenores (Bob Howell, Terry Lawson, Robert Barnes e Elliot Levin) e um barítono (Anawin Manuel Ávila). Clifton Green (piano), Michael Boone (contrabaixo) e Webb A. Thomas (bateria) completam a formação onde Pope é ainda compositor e director musical. (…) O Saxophone Choir toca essencialmente composições de Pope, cuja escrita denota influências de Duke Ellington, nomeadamente ao nível da tensão entre a improvisação e as partes compostas. Seixal Jazz 1999: programa Odean Pope Saxophone Choir SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 2000 Mark Shim / Mark Shim Quartet Entre 25 de Outubro e 1 de Novembro, o Seixal voltou a receber os sons do jazz. Neste ano, a novidade foi para a criação de um novo espaço dentro do festival: o Seixal Jazz Clube, um local de animação e convívio que recebeu música ao vivo com formações jazzísticas nacionais, debates à volta deste estilo e visionamento de vídeos. Pelo palco principal, os concertos continuaram a ser o prato forte do festival. Mark Shim, Paul Motian, Stefon Harris, o trio de Louis Sclavis, Henri Texier e Aldo Romano, Santi Debriano, Mark Whitecage, Maria João e Mário Laginha e Tom Harrell. 25 Outubro Mark Shim / Mark Shim Quartet ta, que começaram em Charlie Parker, visitaram Sonny Rollins, John Coltrane, Eddie “Lockjaw” Davis e, finalmente, Henderson. O percurso musical do tenor é ainda breve e rápido de contar. (…) Seixal Jazz 2000: o melhor programa 26 Outubro Paul Motian / Paul Motian Trio Chris Potter (saxofones tenor e soprano) Marc Johnson (contrabaixo) Paul Motian (bateria) Quando se fala da evolução da bateria no jazz, é difícil negar a Paul Motian um lugar firme entre os grandes inovadores, os que, geração após geração, foram relendo o papel do instrumento e, consequentemente, os conceitos rítmicos do jazz. Além do tanto que ajudou a redefinir a esse nível, em particular nos anos históricos em que, com o genial Scott Lafaro, integrou o trio de Bill Evans, Motian é um baterista absolutamente singular. Trata-se de um músico de extraordinária versatilidade, que desenvolveu uma linguagem única. (…) Seixal Jazz 2000: o melhor programa Mark Shim (saxofones tenor e soprano) David Gilmore (guitarras acústica e eléctrica) Drew Gress (contrabaixo) Bruce Cox (bateria) Paul Motian / Paul Motian Trio Stefon Harris / Stefon Harris Quartet A presença do quarteto do saxofonista Mark Shim na noite de abertura deste festival é esclarecedora quanto a uma das tónicas centrais da edição 2000 do Seixal Jazz: a participação de algumas novíssimas vozes do jazz contemporâneo. É o caso de Mark Shim e do vibrafonista Stefon Harris. Com apenas um ou dois álbuns gravados como líderes, conseguiram o respeito e a atenção da crítica norte-americana a afirmaram rapidamente a originalidade dos respectivos trajectos como improvisadores e compositores. (…) Falando sobre as suas influências numa entrevista à Jazzweekly.com, Mark Shim menciona fases, ou ciclos de descober- 27 Outubro Stefon Harris / Stefon Harris Quartet Stefon Harris Quartet (vibrafone) Orrian Evans (piano) Reid Anderson (contrabaixo) Terreon Gully (bateria) O vibrafonista nasceu em Albany, Nova Iorque, cresceu a ouvir música clássica e estudou percussão. Descobre o jazz através de Charlie Parker e Dexter Gordon, mas é ouvindo o vibrafone de Milt Jackson que Stefon Harris abandona os estudos clássicos de percussão e se envolve no jazz. Jackson e Parker estão entre os músicos que o vibrafonista nomeia como suas principais influências, acrescentando-lhe Bobby Hutcherson e SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL Lionel Hampton, Red Garland, Wayne Shorter, Miles e Coltrane – “Coltrane captou a essência de quem era, espiritualmente, na sua música”, diz Harris sobre Trane. (…) Seixal Jazz 2000: o melhor programa 28 Outubro Romano – Sclavis – Texier Trio Louis Sclavis (saxofone soprano, clarinete e clarinete baixo) Henri Texier (contrabaixo) Aldo Romano (bateria) Dave Holland (contrabaixo) Romano – Sclavis – Texier Trio No triângulo de concertos que neste festival estarão organizados em torno de álbuns-ponte entre o jazz e outras paragens, musicais ou geográficas do globo, a prestação do europeíssimo trio formado por Louis Sclavis, Henri Texier e Aldo Romano permite, à partida, alimentar as maiores expectativas. (…) A busca do “swing” que pode estar escondido numa forma de folclore, por mais distante que esta possa estar das tradições afro-americanas na raiz do jazz. Uma busca que parte do interior das vivências próprias do músico europeu, mas que afirma também a universalidade humana do jazz. (…) Seixal Jazz 2000: o melhor programa 29 Outubro Santi Debriano / ”Circlechant” Santi Debriano / ”Circlechant” Abraham Burton (saxofone tenor) Miri Ben-Ari (violiono) Helio Alves (piano) Santi Debriano (contrabaixo) Tommy Campbell (bateria) Mark Whitecage / Mark Whitecage quartet Considerado um dos contrabaixistas mais importantes da nova geração, Santi Debriano estreia-se este ano como líder no Seixal Jazz. E fá-lo à cabeça de um projecto singular, transversal, abrindo novas pontes entre o jazz e a música latina, das Caraíbas ao Brasil. Trata-se do projecto “Circlechant”, correspondente ao álbum do mesmo nome, o quarto da discografia como líder do contrabaixista de origem panamiana. A noite de “CHICLECHANT”, apresentando no Seixal uma formação quase igual à do disco, define-se assim como a de um concerto “temático” e colocando o jazz em diálogo com outras latitudes geográficas e musicais. (…) O projecto de Santi Debriano reúne músicos como o notável pianista brasileiro Hélio Alves e a violinista Miri Bem-Ari. Entre a leveza desta última e a riqueza das cores harmónicas de Alves joga-se muito da identidade de “CHICLECHANT”, onde Debriano se integra em todos os papéis possíveis, improvisando, construindo motivos rítmicos ou comentando melodicamente o jogo de Alves e Bem-Ari. (…) Seixal Jazz 2000: o melhor programa 30 Outubro Mark Whitecage / Mark Whitecage quartet Mark Whitecage (saxofones alto e soprano, clarinete e clarinete baixo) Sabir Mateen (saxofone alto e tenor, clarinete, flauta) Dominic Duval (contrabaixo) Jay Rosen (bateria) O quarteto de Mark Whitecage surge nesta edição do Seixal Jazz como representante das formas do jazz mais próximas das vanguardas nascidas na senda do “free” e das múltiplas abordagens à música improvisada que lhe são posteriores. Saxofonista e clarinetista, explora também os instrumentos electrónicos. Nascido em 1937 no Connecticut, é um músico activo desde a década de 60, tendo percorrido inúmeros géneros a partir do bop e do pós-bop. (…) Seixal Jazz 2000: o melhor programa SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 31 Outubro 1 Novembro Maria João e Mário Laginha / M. João e M. Laginha Sexteto Tom Harrel / Tom Harrel Octet Maria João (voz) Mário Laginha (piano) Toninho Ferragutti (acordeão) Nico Assumpção (contrabaixo) Helge Norbakken (bateria e percussão) Mingo Araújo (percussão) Maria João e Mário Laginha / M. João e M. Laginha Sexteto (…) O trabalho em duo permitiu ao pianista e à cantora atingir uma notoriedade internacional única quanto a músicos do panorama português e, a nível interno, atingiram um estatuto que lhes permite chegar a inúmeros públicos. Imensas digressões, a presença em grandes festivais, tem sido assim o percurso dos dois músicos ao longo dos anos 90. Maria João e Mário Laginha pertencem ambos, no entanto, à geração de músicos surgida no início dos anos 80, afirmando-se ambos como os valores de referência nos respectivos instrumentos, a nível nacional. Após ter estudado na escola do Hot Clube, a cantora optou bem cedo por sair do país. Lentamente, tocando muitas vezes com outro músico emigrado, o contrabaixista Carlos Bica, conquistou um público na Alemanha, onde viveu, que hoje continua a seguir o seu trabalho. Grava pela primeira vez com o Quinteto de Maria João, formado em 1983. (…) Com um percurso onde desenvolveu tanto o registo clássico como o jazzístico, Mário Laginha trabalhou com inúmeras formações ao longo dos anos 80. Desde o início, o músico evoluiu no sentido da busca de um discurso próprio. Nos anos 90, gravou em duo com Pedro Burmester, com o qual deu inúmeros espectáculos e, a solo, lançou ainda “Hoje” (1994), num momento em que trabalhava já com Maria João. (…) Seixal Jazz 2000: o melhor programa Tom Harrel / Tom Harrel Octet Tom Harrell (trompete e fliscorne) Donny McCaslin (saxofones tenor e soprano) Jimmy Green (saxofones tenor e soprano) Howard Johnson (saxofone barítono) Conrad Herwig (trombone) Xavier Davis (piano) Ugonna Okegwo (contrabaixo) Ralph Peterson (bateria) Um observador inadvertido da cena jazzística poderia ser tentado a pensar em Tom Harrel como um trompetista emergente na última década do século. Porém, isso não é verdade mas, ao mesmo tempo, é verdade. A especificidade do percurso do trompetista de Urbana, Illinois – de facto, um músico de São Francisco – torna aceitável aquela contradição. Harrel entrou no universo do jazz em finais dos anos 60 tocando em clubes da “Bay Área”, e manteve uma actividade intensa desde então. O reconhecimento crítico generalizado do músico, que visitará o Seixal Jazz à frente do seu octeto, chegou apenas nos anos 90 e, de algum modo, na segunda metade da década. (…) Seixal Jazz 2000: o melhor programa SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 2001 O sucesso do Seixal Jazz Clube (em embrião na edição de 2000), fez com que este clube ganhasse um novo espaço, maior e com uma programação própria e independente feita, à semelhança do ano anterior, com formações nacionais. O local perfeito para o público ir, antes ou depois dos concertos principais, num ambiente de convívio, conversa e, claro está, música. Quanto aos concertos principais, os artistas de 2001 foram: Dave Douglas, Carla Cook e René Marie, Abraham Burton, Mário Delgado e Nuno Ferreira, Mingus Big Band, Sam Rivers, Tom Varner e Freddie Hubbard & The New Jazz Composers. 24 Outubro Dave Douglas Sextet “Witness” Dave Douglas Sextet “Witness” Carla Cook / René Marie Quintet Dave Douglas (trompete) Chris Speed (saxofone tenor, clarinete) Bryan Carrott (vibrafone, marimba, glockenspiel) Drew Gress (contrabaixo) Michael Sarin (bateria) Ikue Mori (percussão electrónica sintetizada) (…) «Witness» não é um projecto surgido do vazio, é antes um produto da postura cultural e artística de Douglas. Nascido no estado de New Jersey, em 1963, o trompetista encontrou no universo de Nova Iorque o melhor ambiente para a sua aprendizagem enquanto músico de jazz e também o espaço sem paralelo que a cidade, agora vítima de terrorismo global, representa do ponto de vista do cruzamento de culturas. Dave manteve sempre uma postura de artista «engagé» e, até ao contrato que assinou recentemente com a BMG, gravou exclusivamen- te para editoras independentes, como a Arabesque, a Soul Note ou a Songlines. «O jazz é a verdadeira música alternativa», afirmou, numa entrevista à Down Beat. Douglas é uma individualidade de horizontes culturais vastos. Algumas das «testemunhas» que evoca no projecto que ouviremos neste festival pertencem ao universo das suas leituras, como é o caso da feminista egípcia Nawal el Saadawi (autora de Woman at Point Zero, um livro que dificilmente poderíamos encontrar em Cabul) ou o autor de The Cairo Trilogy, o também egípcio Naguib Mahfouz. (…) Seixal Jazz 2001: programa 25 Outubro Carla Cook / René Marie Quintet Carla Cook e René Marie (voz) John Toomey (piano) Vashon Johnson (contrabaixo) Montez Coleman (bateria) (…) Nascida em Detroit, Carla Cook começou a cantar aos cinco anos, num coro de igreja. Fez estudos clássicos de canto, chegando a participar numa digressão da Orquestra Mundial da Juventude. Quando se mudou para Nova Iorque, alargou os seus interesses musicais ao jazz. Apesar de ter o treino de uma soprano lírica, preferiu o território onde encontrou a possibilidade de improvisar e desenvolver a sua personalidade musical. «É óptimo ter a disciplina, mas preciso de sentir o gozo», disse, em entrevista, à revista Jazz Times. (…) A (ainda) René Croan costumava cantar para os filhos. E Michael, o mais velho, insistiu que a mãe era melhor do que a vocalista que escutara. E esta última, ainda por cima, era paga para cantar! Com a ajuda da cunhada, que tocava um pouco de piano, a nossa companheira de espectáculo fez-se à luta. Foi tocando em clubes de Richmond até ao dia em que, no final de um «gig», o patrão da editora independente Max Jazz, apareceu-lhe no camarim. (…) SEIXALJAZZ 2001: Programa SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 26 Outubro 27 Outubro Abraham Burton Quartet “Filactera” / Mário Delgado e Quinteto Nuno Ferreira Abraham Burton (saxofone tenor) James Hurt (piano) Yosuke Inoue (contrabaixo) Eric Mcpherson (bateria) Abraham Burton Quartet (…) Um aspecto específico do percurso de Abraham Burton ou, melhor, uma hesitação compreensível para um músico ainda novo, é a transição entre o alto e o tenor. Burton começou por tocar os dois e é enquanto sax alto que surge na primeira fase da sua carreira. Posteriormente, decidiu consagrar-se exclusivamente ao tenor. Por isso, McLean e Coltrane misturam-se como as suas principais inspirações. Abraham Burton tem um lugar indiscutível na primeira linha dos jovens saxofonistas de hoje. Cause and Effect, terceiro trabalho assinado pelo músico, deixa no ouvinte uma indelével impressão de força e amplitude sonora que Burton transmite ao próprio quarteto. Vários críticos encontram neste músico a ousadia de quem procura retomar o caminho no sítio onde ficou o quarteto de John Coltrane, McCoy Tyner, Elvin Jones e Jim Garrison na década de 60, não só pela influência de «Trane» no fracasso de Burton, mas pelo modo como a música de quarteto respira. (…) Seixal Jazz 2001: programa “Filactera” / Mário Delgado e Quinteto Nuno Ferreira Andrzej Olejniczak (saxofones tenor e soprano) Claus Nymark (trombone) Mário Delgado (guitarras) Carlos Barretto (contrabaixo) Alexandre Frazão (bateria) Kris Bauman (saxofones alto e tenor, clarinete) Nuno Ferreira (guitarras) Albert Sanz (piano) Alexis Cuadrado (contrabaixo) Jochen Rueckert (bateria) (…) Nascido em 1962, Mário delgado vem ao Seixal com o seu mais recente projecto, “Filactera”, para o qual se rodeou de músicos como o contrabaixista Carlos Barretto, o baterista Alexandre Frazão, o saxofonista polaco, radicado no País Basco, Andrzej Olejniczak e o trombonista dinamarquês Claus Nymark, há muito estabelecido no nosso país. “Filactera” é um projecto para o guitarrista convoca a memória da banda desenhada e um imaginário onde muitas pessoas da sua geração se reconhecerão com facilidade. (…) O outro grupo presente nesta noite no Seixal Jazz é o quinteto do jovem guitarrista Nuno Ferreira, músico que, nos últimos anos, conquistou as atenções da crítica, desde que iniciou a sua actividade regular, em 1995. Nuno Ferreira apresenta-se neste evento liderando um quinteto formado por músicos que conheceu em Espanha e em Nova Iorque, o saxofonista Kris Bauman, o pianista Alberto Sanz, o contrabaixista Alexis Cuadrado e o baterista Jochen Rueckert. (…) Seixal Jazz 2001: programa Mingus Big Band SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 28 Outubro Mingus Big Band Alex Sipiagin (trompete) Craig Handy (saxofones alto e soprano) Sherman Irby (saxofone alto, flauta) John Stubblefield (saxofones tenor e soprano) Ronnie Cuber (saxofone barítono) Conrad Herwig (trombone) Frank Lacy (trombone) Boris Kozlov (contrabaixo) Jonathan Blake (bateria) Mingus Big Band Sam Rivers Trio “Com 56 anos de idade, morreu sextafeira em Cuernavaca, México, o célebre músico de jazz Charles Mingus”. Este era o «lead» de uma curta notícia, publicada a duas colunas, na edição de 9 de Janeiro de 1979 do Diário de Lisboa. Uma curta menção ao falecimento de um enorme músico, um de muitos obituários que por esses dias se publicaram por todo o mundo. A Mingus Big Band não foi o primeiro esforço para recriar a obra do genial criador. Três anos após a morte deste, era lançado Reincarnation, primeiro dos três trabalhos do projecto Mingus Dinasty. Era já um projecto onde surgia o nome da mulher de Mingus, Sue. Na prática, como referem Richard Cook e Brian Morton, tratava-se de uma «ghost band» mantida pelos músicos de Mingus após a morte deste, como aconteceu com as orquestras de Duke Elligton e Count Basie. Jimmy Knepper, Reggie Johnson e Ricky Ford eram alguns desses músicos. O projecto evoluiu, até integrar alguns membros da actual Mingus Band, como Frank Lacy e Craig Handy, que encontraremos no Seixal. (…) Seixal Jazz 2001: programa 29 Outubro Sam Rivers Trio Sam Rivers (saxofones tenor e soprano, flauta, piano) Doug Mathews Tom Varner Quintet (baixo eléctrico, contrabaixo, clarinete baixo) Anthony Cole (bateria, saxofone tenor, piano) «O novo trio de Sam Rivers não é apenas um trio», escreveu o crítico David R. Adler, referindo-se assim a Firestorm, título gravado já este ano, pelo grupo formado em 1966, pelo lendário saxofonista e por dois jovens músicos, Doug Mathews e Anthony Cole, um contrabaixista e um baterista que integram a secção rítmica de um outro projecto de Rivers, a Riv-Bea All Star Orchestra. (…) Qualquer um dos três músicos desdobra-se por vários instrumentos. Além dos saxofones tenor e soprano, Rivers toca flauta e piano. Mathews acrescenta ao contrabaixo o baixo eléctrico, o violino baixo e o clarinete baixo. Além da bateria, Cole toca piano e sax tenor, pelo que algumas das variantes da formação incluem dois pianos ou dois saxofones. (…) Seixal Jazz 2001: programa 30 Outubro Tom Varner Quintet Tom Varner (trompa) Steve Wilson (saxofone alto) Tony Malaby (saxofone tenor) Cameron Brown (contrabaixo) Tom Rainey (bateria) Procurar viver no universo do jazz escolhendo um instrumento tão heterodoxo, naquele contexto, como é a trompa, significa, ao mesmo tempo, um desejo de afirmar a diferença e, inevitavelmente, ter a consciência de que o caminho a trilhar é dos mais difícieis. Tom Varner, cujo quinteto subirá ao palco do Auditório Municipal do Seixal, na penúltima noite deste festival, conhece bem essa realidade. O facto de se tratar de um instrumento tão pouco utilizado no jazz, tem por consequência imediata, para os seus praticantes, serem pouco solicitados ou apenas encontrarem lugar em grandes formações. Varner, um músico de 43 anos, natural do estado de New Jersey, conseguiu ultrapassar essas fronteiras e, ao longo dos anos, logrou afirmar-se como solista e gravar, com alguma frequência, em seu pró- SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL prio nome. Foi, no entanto, um processo moroso: se remonta a 1981 a primeira gravação do músico com um grupo seu, apenas a partir da segunda metade da década de 90 os seus projectos pessoais começaram a surgir com alguma regularidade. (…) Seixal Jazz 2001: programa 31 Outubro Freddie Hubbard & The New Jazz Composers Octet Freddie Hubbard (fliscorne) David Weiss (trompete) Myron Walden (saxofone alto) Jimmy Greene (saxofones tenor e soprano) James Farnsworth (saxofone barítono) Andrew Williams (trombone) Xavier Davis (piano) Dwayne Burno (contrabaixo) Nasheet Waits (bateria) (…) Aos 63 anos, Hubbard enfrenta um desafio diferente dos da primeira metade dos anos 60, em que o talento, a inovação e a diversidade de estéticas fluíam com uma intensidade irrepetível. Conhecido como um músico enérgico, levando o instrumento ao limite, fosse puxando os agudos ao máximo ou soprando para se fazer ouvir sobre o «drumming» poderoso de Art Blakey, Hubbard acabou por enfrentar problemas de saúde, que o obrigaram a afastar-se da música nos últimos anos. Esse hiato chegou ao fim, com o músico a dedicar-se apenas ao fiscorne, recuperando tranquilamente as suas capacidades técnicas, embora sem se enganar a si próprio ou aos outros. «Não há pressa na cura», disse. «Mas há coisas que não toquei e que quero tocar». As ideias estão cá, como o ‘feeling’ e o som. Mas, quanto à força, tenho de ter calma». (…) Seixal Jazz 2001: programa Freddie Hubbard & The New Jazz Composers Octet SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 2003 Com um novo modelo a nível da programação, o Seixal Jazz 2003 decorreu entre 17 de Outubro e 1 de Novembro, manteve a sua base, apresentando os principais concertos no Auditório Municipal. O Seixal Jazz Clube continuou a receber exclusivamente formações jazzísticas nacionais. Uma exposição dedicada à Blue Note, patente no espaço Seixal Jazz Clube, e duas mostras fotográficas das edições anteriores com imagens de Guta de Carvalho e Rosa Reis, foram algumas das actividades paralelas a decorrer nesta edição, cujo programa principal contou com a presença de: Jason Moran e Sam Rivers, Quarteto Pedro Madaleno, Kenny Werner, Ted Nash Quintet, The Schulldogs e Andrew Hill. 23 Outubro Jason Moran Trio + Sam Rivers Jason Moran Trio + Sam Rivers Jason Moran (piano) Tarus Mateen (contrabaixo) Nasheet Waits (bateria) Sam Rivers (saxofones tenor, alto e soprano, flauta) Quarteto Pedro Madaleno Foi ao som de Thelonious Monk que o jovem Jason Moran decidiu retomar as lições de piano, que havia começado aos seis anos e abandonado perto da adolescência. Não queria estudar mais a música de Monk fez despertar o desejo de aprender e logo se dissiparam as dúvidas: Moran queria ser músico de jazz. Assim, no Houston High School for the Performing and Visual Arts, tornou-se membro activo do programa de jazz e deu os primeiros passos na liderança de um quarteto. (…) Sam Rivers começou a sua carreira musical muito cedo. Proveniente de uma família de músicos, estudou violino, piano e trombone, mudando para o saxofone aos treze anos. Hoje, de idade já avançada, é dos multi-instrumentalistas mais conceituados e uma das figuras mais carismáticas do jazz – como o demonstrou na edição de 2001 deste festival. (…) Seixal Jazz 2003: programa 24 Outubro Quarteto Pedro Madaleno Wolfgang Fuhr (saxofone tenor) Pedro Madaleno (guitarras) Bernardo Moreira (contrabaixo) Dejan Térzic (bateria) Pedro Madaleno estudou na Escola de Jazz do HotClub de Portugal, no início da década de oitenta, seguindo-se-lhe dois anos de piano clássico e a conclusão do sexto ano de educação musical, no Conservatório Nacional. Mais tarde, nos EUA, foi bolseiro na Berklee School of Social Research (Jazz Program), em Nova Iorque, onde permaneceu durante quatro anos. (…) De regresso a Portugal em 1990, Madaleno estabeleceu-se como professor na escola onde havia estudado, o Hot Clube, leccionando as disciplinas de Harmonia, Educação Musical e Composição. Desde então actuou em diversos concertos, entre os quais o de Karl Berger no Festival de Jazz de Lisboa, em 1990, e o de Lee Konitz, no Hot Clube, em 1991. Os projectos Pedro Madaleno Grupo e Pedro Madaleno Trio foram o mote para actuações por todo o país, entre 1991 e 1996. Participou também em diversos concertos com os irmãos Moreira, com o saxofonista Carlos Martins, com o trompetista Laurent Filipe e mesmo com Pedro Abrunhosa. (…) Seixal Jazz 2003: programa SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 25 Outubro Kenny Werner Trio Kenny Werner (piano) Johannes Weidenmueller (contrabaixo) Ari Hoenig (bateria) Kenny Werner Trio Kenny Werner tem uma carreira musical precoce: aos onze anos gravou um tema com uma orquestra, aparecendo na televisão tocando piano, naquilo que seria apenas o começo. Inicialmente estudava piano clássico mas o seu desejo de improviso - «gosto da desorientação; definições não me inspiram», diria anos mais tarde, aquando do lançamento de Form and Fantasy – levou-o a enveredar pelo jazz e enquanto ainda estudava no liceu, já frequentava a Manhattan School of Music, de onde se transferiu para a Berklee School, em Bóston. (…) Werner é hoje tido como «um dos segredos mais bem guardados do jazz norte-americano, inovador e com uma imaginação viva» (Jazziz), um pianista que «nunca segue pelo caminho mais fácil e previsível» (FanfareMagazine). Seixal Jazz 2003: programa 30 Outubro Ted Nash Quintet / Jazz Composers Collective Ted Nash Quintet / Jazz Composers Collective The Schulldogs Marcus Printup (trompete) Ted Nash (saxofones tenor e soprano) Frank Kimbrough (piano) Ben Allison (contrabaixo) Matt Wilson (bateria) Como muitos, Ted Nash começou por aprender piano mas aos treze anos mudou para o saxofone. Enquanto frequentou o liceu, teve aulas de improvisação em jazz com o vibrafonista Charlie Shoemake. E foi também sob direcção de um outro vibrafonista, Lionel Hampton, que Nash se estreou nos palcos, aos dezasseis anos, e se lançou no jazz profissional. (…) Actualmente, para além da sua carreira a solo, Ted Nash é membro da Jazz Composers Collective, uma organização criada em 1991, sem fins lucrativos, dirigida por músicos e cujo principal objectivo é a divulgação de trabalhos originais e de novos compositores. Fazem parte do grupo fundador da JCC, a par de Nash, Bem Allison e Frank Kimbrough – ainda Michael Blake (saxofone) e Ron Horton (trompete). (…) Seixal Jazz 2003: programa 31 Outubro The Schulldogs Herb Robertson (trompete) Rich Perry (saxofone) Ed Schuller (contrabaixo) George Shuller (bateria) George Schuller, baterista, compositor e produtor, nasceu em Nova Iorque, mas foi em Bóston que cresceu e estudou, no Conservatório de New England. Foi também naquela cidade que se iniciou no palco, ao lado de Herb Pomeroy, Jaki Byard, Ran Blake, Billy Pierce e outros. (…) Em cinco anos de actividade os Schulldogs já produziram dois álbuns, Tenor Tamtrums (1998) e Hellbent (2000), este último, uma gravação de um concerto dado pelos músicos, com temas «pesados na improvisação e leves nos arranjos», mas «intuitivo, espontâneo e muito divertido de se ouvir» (All About Jazz). (…) Seixal Jazz 2003: programa SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 1 Novembro Andrew Hill Sextet Ron Horton (trompete) Marty Ehrlich (saxofones alto e soprano, clarinete) Greg Tardy (saxofones tenor e soprano) Andrew Hill (piano) John Hebert (contrabaixo) Nasheet Waits (bateria) Galardoado pela Jazz Journalists Association, com o prémio de Compositor do Ano, Andrew Hill viu confirmado o seu estatuto de referência. Apontado por muitos músicos como uma das suas principais influências, o pianista goza de uma experiência imensa, fruto de quem vive o jazz há mais de cinquenta anos. Hill começou por acompanhar Charlie Parker, depois ensaiou com Miles Davis, trabalhou com Dinah Washingon e Coleman Hawkins e só mais tarde juntou um trio e gravou o seu primeiro álbum, So In Love. A visão incomum que tinha da música, juntamente com o seu imensurável talento, levaram a Blue Note a editá-lo durante a década de sessenta. Foi nessa época que gravou Point of Departure, considerando uma das obras-primas do jazz moderno, onde se juntou a Eric Dolphy, Joe Henderson, Kenny Dorham, Richard Davis e Tony Williams. (…) Seixal Jazz 2003: programa Andrew Hill Sextet SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL 2005 A edição 2005 do Seixal Jazz apostou em nomes menos conhecidos, mas que a crítica considera como os nomes sonantes do futuro. O Auditório Municipal recebeu, ao longo de seis noites, a música de: Wayne Escoffery Quintet, Quinteto Laurent Filipe, Kurt Rosenwinkel Quintet, David Binney Sextet, Miguel Zénon Quartet e Mike Fahn & Mary Ann McSweeney Quintet, enquanto que pelo palco do Seixal Jazz Clube passaram algumas das melhores formações jazzisticas nacionais. Entre as iniciativas paralelas, destaque para a exposição CF051Ks, uma mostra sobre os quatro anos da Editora Clean Feed, o Workshop de Saxofone realizado pelo saxofonista e compositor George Garzone, o lançamento do livro Jazz com fotografias de Rosa Reis e o Jazz Vai à Escola, iniciativa em estreia nesta edição, constituída por sessões pedagógicas de divulgação do jazz nas escolas nas quais os alunos puderam aprender e experimentar este estilo musical. 20 Outubro Wayne Escoffery Quintet Wayne Escoffery (saxofones tenor e soprano) Jeremy Pelt (trompete) Rick Germanson (piano) Hans Glawischnig (contrabaixo) Jason Brown (bateria) Wayne Escoffery Quintet Wayne Escoffery é inglês, daqueles de Londres. Mas a surpresa não vai muito longe, uma vez que, para não fugir à regra, Escoffery descobriu o jazz e for- mou-se musicalmente do outro lado do oceano, nos EUA, terra para onde ruma quem quer aprender isto do jazz. E para cumprir com a restante imagem predefinida e clássica do músico de jazz, Escoffery também é negro e também faz caretas daquelas de prazer e esforço, que qualquer fotógrafo deseja registar. Apenas dois detalhes parecem desafinar esta pauta: Escoffery não é barrigudo, antes tem um corpo trabalhado de modelo; e não entrou ainda nos “enta”, pois que é um jovem de apenas 30 anos. Escoffery pode andar por aí há pouco tempo, mas já se mostrou maduro. O saxofonista é dono de um vistoso currículo, de que fazem parte dois discos assinados por si, uma dezena de registos em que participou, um composto rol de colaborações, e uma bela lista de formações com que actua, sendo a principal a Mingus Big Band – certamente estão recordados destes catorze senhores, que encheram o palco em 2001. Três dos músicos que aqui se apresentam são responsáveis por Intuition (2004), o segundo disco de Escoffery, e aquele que definitivamente o apresentou à cena jazz internacional – Jeremy Pelt é o homem do trompete e Rick Germanson quem manipula o piano. O contrabaixista de serviço é Hans Glawischnig e sentado à bateria está Jason Brown. Intuition granjeou a Escoffery bons elogios por parte da crítica norte-americana. Dele se disse ter um domínio exemplar do saxofone, robusto em todos os registos, e ser capaz de deslumbrar – Coltrane é uma das suas grandes influências. Mas não se perca de vista o trompete de Jeremy Pelt. Igualmente jovem, desde que começou a gravar, como sideman, em 2001, Pelt não mais parou e já soma mais de trinta discos, quatro com o seu cunho – Identity tem selo de 2005. O registo Close to My Heart (2003), interpretação de temas alheios, valeu-lhe o epíteto de “estrela emergente” pela crítica nova-iorquina, e nas páginas do Wall Street Journal comentou-se que SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL Pelt teria big hears – gíria para designar um músico talentoso. Este trompetista toca habitualmente com Lewis Nash e pode ainda ser visto na Cannonball Adderley Legacy Band. É de ficar atento. O pianista Rick Germanson, Talento do Ano 2004 pela All About Jazz, é igualmente um dos nomes que correm pela cidade que nunca dorme. Actualmente trabalha com a cantora Carla Cook, é membro da já referida banda de tributo ao histórico do saxofone-alto, e é ainda professor de piano na Universidade de Nova Iorque. Inventivo, melódico, capaz de solos fortes, Germanson também tem discos, dois, escritos por si. São precisos melhores argumentos? Seixal Jazz 2005: programa URL: www.escofferymusic.com Discografia selectiva Wayne Escoffery 2004 Intuition Nagel Heyer 2038 2001 Times Change Nagel Heyer 2015 21 Outubro Quinteto Laurent Filipe Laurent Filipe (trompete) Mário Delgado (guitarras) Rodrigo Gonçalves (piano) Nelson Cascais (contrabaixo) Alexandre Frazão (bateria) Quinteto Laurent Filipe Vive-se por aí uma escassez de trompetistas. Laurent Filipe vem matar essa sede, com a apresentação do seu mais recente disco, A Luz (2004). Multi-facetado, este paulista de nascimento, já lá vão mais de 40 anos, é hoje músico executante e compositor, produtor, orquestrador e ainda professor, esse “ôr” de grande responsabilidade, na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, no Porto. A música entrou muito cedo na sua vida, já em Portugal, e desde então é grande parte dela. A formação de Filipe passou pela Universidade do Kansas e por um Master em Composição Musical para Cinema, em Berklee, após o que se apresentou um pouco por toda a Europa e EUA, liderando formações ou como músico convidado. Uma olhada ao seu currículo desvenda nomes como Jimmy Mosher, Aldo Romano, Maceo Parker ou Walter Perkins. Premiado e largamente requisitado, Filipe compôs e tocou em certames internacionais como a Capital Europeia da Cultura de Madrid, Lisboa e Porto, e também na Expo 98. O seu repertório é extensíssimo e transversal à música tradicional, jazz e afro-cubana, além de várias composições para documentários televisivos, cinema e teatro, incluindo um musical. Actualmente integra várias bandas jazz e enquanto sideman ou produtor assina o seu nome em dezenas de discos, um deles o da cantora Jacinta, A Tribute to Bessie Smith (2003). Ao Seixal traz consigo um leque bastante conhecido de músicos: Mário Delgado na guitarra, Rodrigo Gonçalves no piano, Nelson Cascais no contrabaixo e Alexandre Frazão na bateria. O contrabaixista Nelson Cascais é produto cem por cento nacional: alfacinha de gema, estudou no Conservatório Nacional e na escola de jazz do Hot Clube, onde lecciona desde 1995. Enquanto instrumentista acompanhou muitos músicos portugueses e alguns estrangeiros, entre os quais se destacam Perico Sambeat, Aaron Goldberg e Maria Schneider. Passou também pelos palcos de vários festivais de jazz portugueses, de Loulé a Serralves, passando pela Gulbenkian. O músico disponibiliza duas obras em disco, um primeiro Ciclope (2002) e agora Nine Stories, produto da safra deste quente ano de 2005. Cascais é um interessante contrabaixista, figura de uma nova geração de músicos jazz portugueses que lentamente vai emergindo, devidamente amadurecida. SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL E nisto tem muita responsabilidade a escola de jazz ali à Praça da Alegria. Rodrigo Gonçalves, o homem do piano, é outro dos que lá ajudam a moldar talentos, além de integrar a Big Band da casa há mais de uma década. Tribology (2005) é o seu cartão de visita. Mário Delgado e Alexandre Frazão dispensam grandes apresentações. O primeiro é dos mais reputados guitarristas da nossa praça, senhor de uma discografia de que se destacam Filactera (2002) e TGB-Tuba, Guitarra e Bateria (2004). O segundo, que descobriu os encantos desta praia à beira-mar plantada na década de oitenta, é uma das presenças mais comuns no que é jazz em português, requisitado por Delgado, Carlos Barreto, Mário Laginha e outros. Seixal Jazz 2005: programa URL: www.laurentfilipe.com Discografia selectiva Laurent Filipe 2004 A Luz Trem Azul – Clean Feed 1994 Ad Lib(itum) Groove 1992 Divertimento for Duke and Monk Numérica 1991 Laura Numérica Kurt Rosenwinkel Quintet 22 Outubro Kurt Rosenwinkel Quintet Chris Cheek (saxofone tenor) Kurt Rosenwinkel (guitarras) Aaron Goldberg (piano) Joe Martin (contrabaixo) Eric Harland (bateria) Guitarra no jazz – a mistura pode incomodar os cépticos ou mais puritanos. Kurt Rosenwinkel é quem neste festival vem deitar por terra esse preconceito. Natural de Filadélfia, em tempos estudante da Berklee School of Music de Boston, foi no entanto à boa maneira de “o hábito faz o monge” ou da “necessidade que aguça o engenho” que este jovem guitarrista aprendeu o jazz. Tornou-se, então, um número dos índices de abandono escolar para agarrar a oportunidade de tocar profissionalmente com Gary Burton, em 1992, passando logo de seguida para a Electric Bebop Band de Paul Motian, onde se manteve durante uma década. Corajoso. Rosenwinkel até começou por seguir o instrumento da família, o piano, mas, imagine-se, apaixonou-se pela guitarra quando ouviu o tema Sgt. Pepper’s dos Beatles. Rodeado de formação clássica em casa, o jazz apareceu mais tarde e pela rádio lá da zona – foi amor à primeira vista, uma paixão que continua acesa e a crescer nos dias de hoje. A prová-lo estão seis discos, quatro deles pela Verve, etiqueta que certamente dispensa apresentações. O primeiríssimo de todos chamou-se East Coast Love Affair (1997) e foi editado por uma catalã e bastante sugestiva Fresh Sound New Talent Records. Tudo a condizer, portanto. Mas foi desde que se mudou com a bagagem para a Verve, em 2000, que Rosenwinkel se tem feito notar e vindo a ser apresentado como uma aposta ganha daquela casa. Deep Song, disponível nos escaparates desde Janeiro, quebrou com a linha mais electrónica e experimentalista do disco anterior, oferecendo sons menos complexos, ain- SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL da assim pouco melódicos, mas muito interessantes pela dialéctica entre os homens por detrás dos instrumentos. Isto porque em Deep Song o guitarrista também mudou de companhias, levando para o estúdio Brad Mehldau – pianista nosso conhecido, pois esteve neste palco na edição de 1998, além de amigo de longa data e há muito cobiçado por Rosenwinkel para uma gravação – e o saxofonista Joshua Redman. Na sua apresentação em Portugal, Rosenwinkel faz-se acompanhar de Chris Cheek no saxofone tenor, Aaron Goldberg no piano, Joe Martin no contrabaixo e Ari Hoenig na bateria, um conjunto que, à excepção de Cheek, já gravou com o músico. Quem também soma créditos, e numa área tão difícil quanto a bateria, é Ari Hoenig. Criativo e exímio tecnicista são alguns dos elogios, que a revista francesa Jazzman resumiu num «desconcertante fenómeno da bateria». Tudo isto parece ficar mais que provado com o seu disco de 2002, The Life of a Day, registado totalmente em solo, uma peça «essencial para jovens bateristas, para que se saiba que isto é possível ser tocado com uma bateria normal!», escreveu a All About Jazz. Ficaram curiosos? Seixal Jazz 2005: programa URL: www.kurtrosenwinkel.com Discografia selectiva Kurt Rosenwinkel 2005 Deep Song Verve Records 2003 Heartcore Verve Records 2001 The Next Step Verve Records David Binney Sextet 2000 Enemies of Energy Verve Records 27 Outubro David Binney Sextet David Binney (saxofone alto) Mark Turner (saxofones tenor e soprano) Adam Rogers (guitarras) Craig Taborn (piano) Scott Colley (contrabaixo) Dan Weiss (bateria) David Binney ganhou destaque por algo mais que a sua música. Os seus discos tiveram sempre o selo de pequenas e independentes casas, o músico fundou a sua própria editora e Binney é uma das vozes que mais se fazem ouvir contra o establishment do mercado do jazz. O monopólio das grandes editoras, o bloqueio criativo por vezes imposto ou, por outro lado, caso o artista seja vendável, a necessidade desenfreada de gravar novos trabalhos, a tudo isto Binney tem apontado o dedo e incitado a uma tomada de posição de músicos e público, as duas partes do processo – porque os primeiros trabalham para os segundos e porque estes exigem dos primeiros um trabalho sempre único e de elevada qualidade. Esta não é a primeira actuação do músico em Portugal – Binney já por cá se apresentou com diferentes quartetos de músicos portugueses e americanos – mas é a estreia liderando um sexteto. Dele fazem parte o guitarrista Adam Rogers, o pianista Craig Taborn, o contrabaixista Scott Colley, o baterista Dan Weiss e o saxofonista Mark Turner, aqui em substituição de Brian Blade e Chris Potter, respectivamente. Este é o conjunto responsável pelo aclamado Welcome to Life (2004), um disco que, quase quinze anos depois da primeira gravação do saxofonista, transferiu Binney da categoria dos talentos emergentes para a dos confirmados. A música deste norte-americano está longe de ser consensual, ou não fosse ele um dos vanguardistas mais referidos. Os seus discos alternam composições duras e eléctricas – Balance (2002) será talvez o melhor exemplo SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL – com intensos improvisos ao saxofone e à guitarra, seguindo-se-lhes baladas melódicas e minimalistas. Impossível ficar indiferente. Aliás, o conjunto que acompanha Binney aqui ao Seixal é, todo ele, controverso. Senão, olhemos para Adam Rogers, o guitarrista de serviço, cujo Allegory (2003) provocou alguns amargos de boca entre a crítica. «Música séria para ouvintes sérios», disse-se acerca de uma guitarra «demasiado controlada que acaba não tendo espaço para voar», ao passo que outros acharam o disco e o executante de «state of the art». Então, em que ficamos? Ficamos para ver, pois claro. Craig Taborn, que estará aos comandos do piano, é outro dos jovens que se fazem notar na cena nova-iorquina, especialmente quando opta pelo revivalismo do Fender Rhodes, forçando-se sempre a novos limites. A sua música não é, então, fácil de apreciar, mas não se trata de querer soar difícil – fronteiras não são barreiras e Taborn é um aventureiro, como se pode confirmar em Junk Magic (2004). Certamente que se lembram dele em 2001, acompanhando Dave Douglas. Este singular grupo de músicos conta ainda com o contrabaixista Scott Colley, músico experiente e requisitado várias vezes por históricos como Jim Hall e Herbie Hancock, ou mesmo Joe Lovano e Greg Osby, além de dezenas de outras participações. Colley é também um dos divulgadores da plataforma Artist Share, um novo modelo de criação artística, no qual o público tem parte activa, pois financia o produto final. O processo criativo é a grande mais valia, e ao fã e financiador são dadas contrapartidas, que se traduzem num tratamento personalizado, que vai desde o acompanhamento do processo de criação até à prioridade no acesso ao produto acabado, passando por edições especiais de coleccionador. Os músicos do século XXI. Seixal Jazz 2005: programa URL: www.davidbinney.com Miguel Zenón Quartet Discografia selectiva David Binney 2005 Bastion of Sanity Criss Cross 2004 Welcome to Life Mythology Records 1998 Free to Dream Mythology Records 1995 The Luxury of Guessing Adioquest Records 1991 Point Game Owl Records/Mesa-Bluemoon Records 28 Outubro Miguel Zenón Quartet Miguel Zenón (saxofone alto) Luis Perdomo (piano) Hans Glawischnig (contrabaixo) Henry Cole (bateria) Um rapaz porto-riquenho que emigra para os EUA – esta é uma estória banal. E é a estória de Miguel Zenón, jovem saxofonista que vem dando que falar desde o início do ano, quando lançou o seu terceiro disco, Jíbaro. O vocábulo designa os mestiços, frutos da colonização espanhola e escravatura africana com os nativos de Porto Rico, e serve também para caracterizar a sonoridade musical igualmente surgida dessa mescla. Assim, não estamos longe se encontrarmos em Jíbaro um jazz algo latinizado, passagens a sugerir ambientes tropicais ou exóticos, a remeter para o que é tradicional da terra onde nasceu e cresceu Zenón. O percurso deste músico é ainda curto, estando muito próximas as passagens pelas obrigatórias escolas de música SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL Mike Fahn & Mary Ann McSweeney Quintet de Berklee e Manhattan, esta última que deixou em 2001, trazendo no bolso um Master em interpretação de saxofone. No mesmo ano e já na companhia de dois músicos dos que vêm consigo a esta estreia em Portugal, Zenón gravou um sugestivo Looking Forward, distribuído por uma etiqueta espanhola. O seu quarteto é composto por Henry Cole na bateria, Hans Glawischnig no contrabaixo e Luís Perdomo no piano. Este último editou em 2004 o seu primeiro disco enquanto líder, intitulado Focus Point, que contou com as participações de alguns dos músicos com quem vem gravando há já anos enquanto sideman, um deles sendo Ravi Coltrane – foi, aliás, acompanhando este saxofonista que Perdomo brilhou e deixou muito boas referências a quem o viu, no Verão do ano passado, ali para os lados de Oeiras. Diga-se, em boa verdade, que o seu disco é o coroar de um percurso ascendente, embora sempre e de certa forma encoberto pela sombra de quem fica de frente – que raio, isto dos pianistas ficarem de costas para a plateia!.. Este pianista nascido em Caracas e formado em Nova Iorque é um músico «refrescantemente inovador», para citar a crítica, intenso na sua interpretação, exímio na técnica e se mais não veio provar o seu disco, então indubitavelmente deixou boas indicações quanto às suas capacidades como compositor. Olhos postos neste senhor. E se a viagem de Miguel Zenón para Boston não tem nada de extraordinário, a que o austríaco Hans Glawischnig fez até à mesma cidade também mais não é que a aplicação prática do conceito de “aldeia global”. Certamente que quando estudava violino, em miúdo, Glawischnig estaria longe de adivinhar que viria a integrar uma banda de sons e ritmos mais quentes – mas fê-lo, fá-lo, e bem. Este contrabaixista ronda o meio jazzístico nova-iorquino há cerca de dez anos, acumula a aprendizagem de ter tocado com Billy Hart, David Binney, Steffon Harris e David Sanchez, entre outros, e assinou todas as composições de um Common Ground, editado em 2001. Seixal Jazz 2005: programa URL: www.miguelzenon.com Discografia selectiva Miguel Zenón 2005 Jíbaro Marsalis Music 2004 Ceremonial Marsalis Music 2001 Looking Forward Fresh Sound/New Talent 29 Outubro Mike Fahn & Mary Ann McSweeney Quintet Rick Margitza (saxofones tenor e soprano) Mike Fahn (trombones) John Hart (guitarras) Mary Ann McSweeney (contrabaixo) Tim Horner (bateria) Mike Fahn e Mary Ann McSweeney têm várias coisas em comum. Ora essa, são marido e mulher, o que se havia de esperar? Mas há mais: ambos tiveram um percurso variado até chegar ao que fazem hoje, e os dois são excelentes nisso. Fahn é hoje um reputado trombonista, que começou pelo trompete. McSweeney toca contrabaixo, a sua quarta escolha depois de um arranque no piano. Fahn maneja um estranho trombone de válvulas, para além do de varas, e o contrabaixo de McSweeney aparece misturado por cima dos outros instrumentos nos seus discos. Que raio. O currículo de Fahn não inclui aqueles nomes compridos das escolas norteamericanas, uma vez que o músico é em grande parte um autodidacta, aperfeiçoado pelas experiências práticas com dezenas de nomes conhecidos do jazz. Dizzy Gillespie, Chet Baker, Freddie Hubbard, Bill Perkins e Ted Nash, entre muitos outros e até Diana Krall. Steppin’ Out (1989) marcou a sua es- SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL treia em gravações, mas foi com Close Your Eyes and Listen (2002) que Fahn conseguiu um trabalho forte, a que a crítica reconheceu o devido valor. «É sem dúvida uma das referências contemporâneas do trombone de válvulas» – a dedicação a um instrumento tão peculiar como aquele tipo de trombone dava, finalmente, os seus frutos. A formação de que se faz acompanhar neste palco inclui o guitarrista Rick Margitza e o baterista Tim Horner, que gravaram consigo, além do guitarrista John Hart e da sua mulher, Mary Ann. Esta, por seu lado, teve uma formação clássica, primeiro no piano e depois no violino. O contrabaixo chegou mais tarde e foi já com ele que McSweeney se mudou para Nova Iorque, onde vive e actua desde 1993. O seu primeiro disco, Thoughts of You (1999), revelou o seu talento enquanto executante e compositora, ao passo que Swept Away (2002) confirmou McSweeney e deu-lhe o consenso geral por parte da crítica. Influenciada pelas tonalidades indiana, sul-americana – como prova o primeiro tema do disco, com uma deliciosa tendência bossa-nova – e clássica europeia, há muitas McSweeney em Swept Away. Este quinteto tem especial propensão para subidas a pulso. O saxofonista Rick Margitza é mais um exemplo disso mesmo. Depois de se ter lançado ao lado de Miles Davis, no final da década de oitenta – com quem gravou Amandla, Live Around the World e Live in Montreux –, Margitza foi alvo das intenções inflacionadas da Blue Note, do que resultaram três discos e a porta da rua – vendável, mas não tanto. Desde então, o músico influenciado por Wayne Shorter tem reconstruído a sua carreira em pequenas editoras e ao lado de várias formações, como o Moutin Reunion Quartet, por exemplo. Os seus discos mais recentes enquanto líder, Heart of Hearts (2000) e Memento (2001), confirmam a imagem de saxofonista romântico. Seixal Jazz 2005: programa URL: www.mikefahn.com / www.maryannmcsweeney.com Discografia selectiva Mike Fahn 2002 Close Your Eyes...and Listen Sparky 1 Productions 1995 Steppin’ Out Cexton Records Discografia selectiva Mary Ann McSweeney 2002 Swept Away Sparky1 Productions 2001 Thoughts of You Jazz Magnet Records Seixal Jazz 2005: programa SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL SEIXALJAZZ EM CARTAZ 1996 1997 1999 2000 2001 1998 SEIXALJAZZ HISTORIAL CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL SEIXALJAZZ EM CARTAZ 2003 2005