Festival Internacional Seixal Jazz: Historial

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Festival Internacional Seixal Jazz: Historial
Historial
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SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
Em meados da década de 90, o Seixal decide apostar numa iniciativa para colocar
o concelho no roteiro cultural da Área Metropolitana de Lisboa, e que a médio
prazo se pudesse tornar uma referência no País.
O objectivo era claro: criar uma nova centralidade, tendo em conta o Fórum Cultural, recentemente inaugurado, e dar visibilidade à intensa actividade cultural
desenvolvida pela autarquia.
Mas a forte oferta que chegava de Lisboa tornava a tarefa no mínimo difícil. Só um
acontecimento “fora de série” e com grande qualidade artística poderia conquistar
espaço na programação da Área Metropolitana.
Após contacto com o produtor Paulo Gil, foi sugerida a produção de um festival
de jazz diferente de tudo o que se tinha feito em Portugal até então. Foram os
primeiros passos do Seixal Jazz.
Este caderno pretende registar as anteriores edições do Seixal Jazz, através dos
cartazes que marcaram o ritmo dos festivais e reflectir pequenas peças, excertos
dos programas, sobre os artistas que por cá passaram.
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CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
1996
O ano de 96 marcou o arranque do Seixal Jazz como uma
consequência lógica da actividade cultural da autarquia.
Segundo os críticos, a fasquia
foi colocada bem alta com uma
programação de luxo que, pela
primeira vez, dava oportunidade de ver o mesmo grupo ou
formação duas vezes por noite
(algo inovador até aí).
O Sexteto de Laurent Filipe inaugurou os concertos. Seguiramse o Quinteto Carlos Barreto,
Gateway com John Abercrombie, Dave Holland e Jack DeJohnette, Tim Hagans Audible Architecture, Steve Coleman and
Five Elements, The John Scofield
Group e Michael Brecker Group.
21 Outubro
Sexteto
Laurent Filipe
“Mingus e Mais”
Sexteto Laurent Filipe “Mingus e Mais”
Quinteto Carlos Barreto com Convidados
(homenagem a Luís Villas-Boas)
Laurent Filipe (trompete e direcção)
Mário Santos (saxofones tenor e soprano)
Greg Moore (trombone e tuba)
Pedro Sarmiento (piano)
Pedro Gonçalves (contrabaixo)
Aldo Caviglia (bateria)
Nasceu em S. Paulo, Brasil, em 1962.
Começou a tocar e a gravar com apenas 15 anos. Licenciou-se em Teoria e
Composição Musical pela Universidade
de Kansas (EUA), obtendo o “Masters
em Composição Musical para Cinema”
pelo Berklee College of Music (EUA).
Estudou com os trompetistas Roger
Stoner e Greg Hopkins, tendo também
participado em seminários orientados
por Wynton Marsalis.
Apresentou-se um pouco por toda a
Europa, quer com o seu grupo, quer
como músico convidado, em concertos
e festivais de jazz, tendo igualmente
tocado nos EUA. Colaborou com músicos como Jimmy Mosher, Aldo Romano, Tete Montoliu, Maceo Parker, Bob
Sands, Pat Metheny, Walter Perkins e
Carlos Benavente, entre outros. (…)
Seixal Jazz 1996: programa, pp. 6,8
22 Outubro
Quinteto
Carlos Barreto
com Convidados
(homenagem
a Luís Villas-Boas)
Jesus Santandreu (saxofones alto e soprano)
Bob Sands (saxofones tenor, soprano e flauta)
Albert Bover (piano)
Carlos Barretto (contrabaixo)
Philippe Soirat (bateria)
Convidados:
Paula Oliveira (voz)
Netos do N’Gumbém:
Evaristo Silva (sikó, bombolom, coros)
Luís Mendes (reko, kalmás, coros)
Seko Balde (tina – tambor de água, coros)
Carlos Barretto nasceu em Lisboa, em
1957. Aos oito anos, iniciou os estudos
musicais em guitarra e piano, optando
mais tarde pelo contrabaixo.
Em 1979, concluiu o Curso Superior do
Conservatório Nacional de Lisboa com
a classificação máxima nas disciplinas
de contrabaixo, solfejo e harmonia. Frequentou os cursos de música da Costa
do Estoril, onde estudou com o Prof.
L. Streischer. A convite deste, Carlos
Barretto foi aperfeiçoar a sua técnica na
Academia Superior de Música de Viena
de Áustria (de 1980 a 1982). (…)
A insatisfação no plano artístico levouo a estabelecer residência em Paris em
1984, e a fazer da música improvisada a
sua carreira profissional.
De regresso a Portugal, em 1993, foi
convidado a leccionar na escola de
Jazz do Hot Club de Portugal. Integrou
formações nacionais actuando em con-
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certos e festivais em todo o país, dos
quais se destacam as prestações com
Lee Konitz, John Stubblefield, Georges
Cables, com o qual grava Alone Together (ed. Groove), Lynne Ariale, Cindy
Blackman e com a sua própria formação
(Carlos Baretto Quintet) com a qual
grava o primeiro cd como líder, Impressões (ed. Groove), tendo realizado
concertos em Lisboa, Porto, Madrid,
Terrassa, Barcelona, Paris, ClermontFerrand e Genebra.
Seixal Jazz 1996: programa, pp. 11,13
23 Outubro
The Gateway Trio
John Abercrombie (guitarra eléctrica)
Dave Holland (contrabaixo)
Jack DeJohnette (bateria e piano)
The Gateway Trio
Tim Hagans Audible Architecture
Steve Coleman and Five Elements
Este trio constitui-se para gravar para a
ECM há mais de 21 anos. Apesar da sua
actividade não ser permanente, todas
as reuniões destes três instrumentistas,
desde Março de 1975, têm-nos feito
ouvir uma música excelente, de certo
modo meditativa mas enérgica quando
necessário. Um equilibrado controlo
dos espaços e das dinâmicas é outra das
características da música deste agrupamento, onde o diálogo constante entre
solistas-acompanhadores é particularmente cativante.
John Abercrombie nasceu em Porchester, New York, em 16 de Dezembro de
1944.
(…) Em 1969, depois de se formar,
John Abercrombie partiu para New
York na esperança de poder tocar alguns dos mais importantes músicos de
então. (…)
Dave Holland nasceu em Wolverhampton (Inglaterra), em 1 de Outubro de
1946.
(…) Aos 16 anos, o seu interesse pelo
jazz era já intenso, o que conduziu à
compra de um contrabaixo no qual
começou a praticar ouvindo discos e
rádio. (…)
Jack DeJohnette nasceu em 9 de Agosto de 1942, em Chicago.
(…) É através do tio, Ray Wood, que
era discjockey e trabalhava na rádio,
que Jack DeJohnette começa a ouvir
jazz. (…)
Seixal Jazz 1996: programa, pp. 15,16, 17,19,20
24 Outubro
Tim Hagans
Audible Architecture
Tim Hagans (trompete)
Ben Monder (guitarra eléctrica)
Scott Lee (contrabaixo)
Billy Kilson (bateria)
Tim Hagans nasceu em Dayton, no
Ohio, em 19 de Agosto de 1954. A
música que os seus pais ouviam, dos
discos dos trompetistas Herb Alpert e
Doc Severinson, acabou por moldar os
interesses instrumentais do jovem TIM,
que viria a apaixonar-se pelo trompete.
(…)
O estilo de TIM HAGANS denota leves influências de Lee Morgan e Miles
Davis, combinando com elegante bom
gosto as influências do bebop, de algum jazz mais vanguardista e do jazz de
fusão. (…)
Seixal Jazz 1996: programa, pp. 23,25
25 Outubro
Steve Coleman
and Five Elements
Steve Coleman (saxofone alto)
Andy Milne (teclados e piano)
David Dyson (contrabaixo)
Sean Rickman (bateria)
Miguel Anga (percussão)
Roseangela Silvestre (dança)
Steve Coleman nasceu num dos centros
musicais tradicionais dos E.U.A., a cidade de Chicago, em 20 de Setembro de
1956. Cresceu na zona sul, a curta distância dos bairros onde o jazz, os blues
e os rhythm & blues se desenvolveram
mais intensamente na chamada “Windy
City”. (…)
STEVE COLEMAN tem estado envolvido, desde 1994, em vários projectos
musicais ao mesmo tempo: além do
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sexteto que se apresenta no SEIXALJAZZ96, Renegade Way, Metrics, Mystic
Rhythm Society e “The Secret Doctrine”
são as formações com as quais o saxofonista/compositor se apresenta regularmente. Todas estas experiências acabam por determinar, indiscutivelmente,
que STEVE COLEMAN é um excelente
saxofonista de jazz cuja forma única de
trabalhar as melodias sugere uma inteligência musical sofisticada.
Seixal Jazz 1996: programa, pp. 29, 31
26 Outubro
The John Scofield
Group
John Scofield (guitarra eléctrica)
Seamus Blake (saxofone tenor)
Kevin Hays (piano e teclados)
Larry Grenadier (contrabaixo)
Bill Stewart (bateria)
The John Scofield Group
John Scofield nasceu em Dayton, Ohio,
em 26 de Dezembro de 1951. Foi em
Wilton, no Connecticut, para onde a
família se mudou quando tinha onze
anos, que começou a estudar guitarra,
tendo começado a tocar com grupos
rock e de rhythm & blues. (…)
John Scofield é um guitarrista inspirado,
particularmente imaginativo, de grande
modernidade e com fraseado fluente
e fresco. Improvisa de forma brilhante,
tanto em baladas como em temas rápidos, sempre com grande segurança rítmica. Domina a utilização dos espaços
sonoros, fazendo variar a intensidade
do seu ataque. (…)
Seixal Jazz 1996: programa, pp. 32,35
27 Outubro
Michael Brecker
Group
Michael Brecker (saxofone tenor)
Joey Calderazzo (piano)
James Genus (contrabaixo)
Jeff “Tain” Watts (bateria)
Michael Brecker Group
Michael Brecker nasceu em 29 de Março de 1949, em Philadelphia, filho de
advogado, amador de jazz e talentoso
pianista. Ouvindo discos da colecção
do seu pai, de Dave Brubeck e Duke
Ellington, e o seu irmão mais velho,
Randy, a estudar trompete, Michael optou imediatamente pelo jazz depois de
assistir a um concerto de Miles Davis.
(…)
O estilo de Michael Brecker caracteriza-se por uma fluência impressionante,
uma precisão no ataque das notas, uma
agilidade rara na dedilhação do saxofone, de fraseado incisivo, caloroso e
cativante. (…)
Seixal Jazz 1996: programa, pp. 39,41
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1997
Depois de uma primeira edição
bem sucedida, aplaudida pela
crítica, músicos e público, surge uma segunda edição em que
durante 9 noites consecutivas
o jazz foi rei no palco do Auditório Municipal. Benny Golson,
Bob Nieske, Kenny Garrett, Carlos Martins, Larry Coryell, Bruce
Barth, Joe Lovano, Billy Kilson e
Roots Septet foram os grandes
nomes do Seixaljazz em 97.
Nesta edição, destaque ainda
para uma exposição de Guta de
Carvalho com imagens do ano
anterior, uma feira do disco e
dois workshops com músicos
participantes.
Benny Golson Quartet
17 Outubro
Benny Golson
Quartet
Benny Golson (saxofone tenor)
Kevin Hays (piano)
Dwaine Burno (contrabaixo)
Carl Allen (bateria)
Bob Nieske “Wolf Soup”
Kenny Garrett Quartet
O percurso deste saxofonista, que integrou durante algum tempo a formação de
«Roots», que ouviremos neste festival, é
sobretudo pouco vulgar. Golson nasceu
em 1929, em Filadélfia e começou a tocar
profissionalmente no princípio doa nos 50,
integrado num grupo de rhythm’n’blues
onde também estava o pianista, compositor e arranjador Tadd Dameron, cujo grupo Benny integrou a partir de 1953. Até
1956 tocou ao lado de Lionel Hampton
ou Johnny Hodges, entre outros, sendo
convidado nesse ano para integrar a Big
Band de Dizzy Gillespie, de que seria arranjador e com a qual participaria numa
das digressões patrocinada pelo Departamento de Estado. (…)
Seixal Jazz 1997: programa, p.7
18 e 19 Outubro
Bob Nieske
“Wolf Soup”
Jim Cameron
(saxofones alto, tenor, barítono e clarinete)
Tom Hall (saxofones soprano, tenor e barítono)
Jon Damian (guitarra)
Bob Nieske (contrabaixo)
Nat Mugavero (bateria)
A «Wolf Soup» do contrabaixista Bob
Nieske é, de algum modo, a formação
menos conhecida, quer enquanto projecto, quer ao nível dos músicos que a
integram, das nove que passarão pelos
palcos deste Seixal Jazz. Com dois álbuns no activo, My Desire e Wolf Soup,
este último editado este ano no catálogo Challenge, este é um quinteto que
cruza uma abordagem simultaneamente séria e humorística da música. Uma
atitude não muito distante da que o
próprio Nieske conheceu na Either Orchestra, do saxofonista Russ Gershon,
cujo trabalho consiste, essencialmente,
numa desmontagem e recontextualização de standards. (…)
O quinteto mergulha no passado do
jazz sem se fixar em géneros ou épocas, mas não é um grupo de repertório
do mesmo tipo que o septeto «Roots»,
que ouviremos neste festival, onde não
se brinca em serviço e o saxofone serve de bússola a revisitações de carácter
igualmente amplo no tempo, mas individualizadas saxofonista e saxofonista.
(…)
Seixal Jazz 1997: programa, p. 13
20 Outubro
Kenny Garrett
Quartet
Kenny Garrett (saxofone alto)
Kenny Kirkland (piano)
Nat Reeves (contrabaixo)
Jeff “Twain” Watts (bateria)
Considerado um dos mais brilhantes altos da sua geração, ou o mais brilhante
mesmo, de acordo com a votação anu-
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al da Downbeat na qual pôs termo, no
ano passado, a um reinado de 21 anos
de Phil Woods, Kenny Garrett vem tocar
ao Seixal Jazz num momento particularmente feliz da sua carreira. (…)
Kenny Garrett estudou clarinete, saxofone e flauta na escola. Aos 15 anos, ainda na sua cidade natal, estudava com o
trompetista Marcus Belgrave. Aos 18, integra a orquestra de Duke Ellington, então dirigida pelo trompetista e filho do
compositor de Caravan, Mercer Ellington. Como muitos outros músicos da sua
geração, parte essencial da sua rodagem
é feita em grandes orquestras. (…)
Seixal Jazz 1997: programa, pp. 17, 18
21 Outubro
Quarteto
Carlos Martins /
Bernardo Sassetti
Quarteto Carlos Martins / Bernardo Sassetti
Larry Coryell Quartet
Bruce Barth Quintet
Carlos Martins (saxofones tenor e soprano)
Bernardo Sassetti (piano)
Essiet Essiet (contrabaixo)
Cindy Blackman (bateria)
Carlos Martins e Bernardo Sasseti formam
o que se poderá designar por «representação nacional», nesta segunda edição do
festival Internacional de Jazz do Seixal. A
seu lado surgirão o baterista Gene Calderazzo, irmão do pianista Joey Calderazzo,
e o contrabaixista Arnie Somogyi.
O saxofonista e o pianista são dois expoentes de topo do jazz que se toca em
Portugal e praticamente dispensam apresentações aos que seguem de perto a
cena nacional. (…)
Carlos Martins nasceu em Grândola, em
1962. O palco da sua aprendizagem musical foi a Sociedade Filarmónica da vila
alentejana que José Afonso imortalizou
através de uns passos gravados no parque do castelo/estúdio de Herouville.
(…)
Bernardo Sassetti nasceu em Lisboa, em
1970. Começou a estudar piano aos nove
anos, com os professores Maria Fernanda
Costa e António Meneres Barbosa. (…)
Seixal Jazz 1997: programa, pp. 23,24,25
22 Outubro
Larry Coryell
Quartet
Larry Coryell (guitarra)
Bireli Lagrene (guitarra)
Richard Bona (baixo eléctrico)
Billy Cobham (bateria)
(…) Em 1997, LARRY CORYELL decidiu constituir o actual quarteto a fim
de, fundamentalmente, voltar a captar
o espírito musical que se havia gerado
nessa primeira gravação. Como frequentemente acontece no jazz, este
encontro acabou por ser o ponto de
partida deste novo projecto, onde a
música se baseia em arranjos rigidamente estruturados, que permitem dirigir a improvisação dos solistas para
um diálogo cativante. LARRY CORYELL
diz que “é muitas vezes preferível não
terminar uma frase, num solo, pois isso
permite criar mais espaço, o que leva a
que os músicos se ouçam melhor uns
aos outros”.
LARRY CORYELL nasceu em 1943, em
Galveston, Texas. (…)
Seixal Jazz 1997: programa, p. 29
23 Outubro
Bruce Barth Quintet
Steve Wilson (saxofones alto e soprano)
George Garzone (saxofones tenor e soprano)
Bruce Barth (piano)
Robert Hurst (contrabaixo)
Adam Cruz (bateria)
Bruce Barth é o único pianista que surge como líder no cartaz deste SeixalJazz97. Como outros dos bandleaders
que participarão no festival, casos de
Tim Hagans ou Billy Kilson, é um músico na fase inicial da sua carreira. Não
é porém um desconhecido do público
português, já que a sua passagem pela
cave do Hot Clube, em Junho, deixou
forte impressão a quantos estiveram na
Praça da Alegria. Barth está ainda nos
antípodas da escola intimista e introspectiva de Mehldau. É um pianista de
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um fraseado fluído e límpido, para
quem as linhas melódicas são essenciais. É também um músico que sente
ter chegado a fase do seu percurso em
que deve investir nas suas composições. (…)
Seixal Jazz 1997: programa, p. 33
24 Outubro
Joe Lovano Quartet
Joe Lovano (saxofones tenor e soprano)
Kenny Werner (piano
Dennis Irwin (contrabaixo)
Yuron Israel (bateria)
Joe Lovano Quartet
Billy Kilson Quintet
(…) Nascido em Cleveland, a 29 de Dezembro de 1952, Joe Lovano tornou-se,
neste final de década, uma referência
incontestável do saxofone contemporâneo. Agora que se tornou igualmente
consensual dizer que a era dos grandes
revolucionários do jazz acabou, a tendência é eleger os músicos que melhor
assimilaram o património do passado,
do bop ao free jazz. Assim acontece
com Lovano ou com o James Cárter de
Conversin’ With the Elders, por exemplo. Mas nenhum destes músicos seria
mais do que um predador paleolítico
caso se limitassem à mera prática da
recolecção. No ranking anual da Blue
Note, Lovano surgiu este Verão como
o segundo na categoria dos tenores
(atrás de Rollins) e o quarto na classificação do artista do ano (de novo atrás
de Rollins, além de Ornette e Marsalis).
(…)
Seixal Jazz 1997: programa, p. 37
25 Outubro
Billy Kilson Quintet
Tim Hagans (trompete)
Mike Sim (saxofones tenor e soprano)
Charles Blenzig (piano)
James Genus (contrabaixo)
Billy Kilson (bateria)
Roots Septet
Na edição de 1996 do Seixal Jazz, o
baterista Billy Kilson surgia como um
dos membros do quarteto Audible Ar-
chitecture, do trompetista Tim Hagans.
Este ano, os termos inverteram-se. É
Hagans quem integra o quinteto de Kilson, para um concerto que se antevê
dedicado à memória do grande e recentemente desaparecido Tony Williams. O saxofonista Michael Sim, o pianista Charles Blenzig e o contrabaixista
James Genus, que nos visitou também
em 96, integrado no Michael Brecker
Quartet (e participou no Jazz em Agosto com o sexteto de Dave Douglas)
completam um quinteto formado por
nomes que atingiram uma real notoriedade nos anos 90. (…)
Kilson estudou bateria e composição
com Alan Dawson na New School of
Jazz de Manhattan. Além de Hagans e
Holland, trabalhou com Diane Reeves,
Bob Belden, Ahmad Jamal e Bob Jones.
Com Hagans gravou o álbum Audible
Architecture propriamente dito. Gravou com Greg Osby, o saxofonista Bill
Evans, Terumasa Hino e Terence Blanchard, nestes dois últimos casos ao
lado de James Genus. (…)
Seixal Jazz 1997: programa, p. 43
26 Outubro
Roots Septet
Arthur Blythe (saxofones alto e soprano)
Chico Freeman (saxofones tenor e soprano)
Nathan Davis (saxofones alto e soprano)
Jerome Richardson (saxofones alto, tenor,
soprano e barítono)
Kirk Lightsey (piano)
Mike Richmond (contrabaixo)
Ed Thigpen (bateria)
(…) Fundado em 1991, de algum modo
também como um corolário das colaborações entre o alto Arthur Blythe e
o tenor Chico Freeman, que remontam
à fundação de outro colectivo, o The
Leaders, em 1985, ao lado de Lester
Bowie, Roots é um grupo que se propõe recriar a história do jazz, através do
mais emblemático dos seus instrumentos, o saxofone. Daí que a sua participação num festival que elegeu o saxofone
como tema principal, como o do Seixal, seja mais do que oportuna.
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Trata-se de um grupo de repertório
que, desde a primeira apresentação
ao vivo, no Festival de Leverkusen, em
1991 – uma actuação que ficou registada no álbum Salutes the Saxophone, no
ano seguinte – tem homenageado tantos saxofonistas como os que podem
ser encaixados no espaço físico de um
CD ou no tempo de duração de um
concerto. (…)
Seixal Jazz 1997: programa, p. 49
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1998
O êxito obtido nas duas edições anteriores veio confirmar
que este projecto é uma aposta
ganha. Em 1998, ainda no rescaldo de uma exposição internacional que trouxe a Lisboa
milhares de visitantes, surge
mais uma edição. Danilo Perez,
Ravi Coltrane, Brad Mehldau,
Art Ensemble of Chicago, Chico Freeman e Gary Bartz, John
McLaughlin, Tomás Pimentel e
Chick Corea foram as 8 boas razões que transformaram o Seixal na capital do jazz durante
mais de uma semana.
Danilo Perez Trio
27 Outubro
Danilo Perez Trio
Danilo Perez (piano)
John Benitez (contrabaixo)
Antonio Sanchez (bateria)
Ravi Coltrane Quartet
Brad Mehldau Trio
(…) Danilo Perez, para todos os efeitos, não é um pianista de «jazz latino».
É, aos 32 anos, um pianista total. (…)
O percurso musical de Danilo Perez
começa muito cedo, no seu país natal.
Filho de um cantor ele entra, aos cinco
anos, para o Conservatório Nacional do
Panamá. Aos estudos clássicos que aí fez
acrescentou, 15 anos depois, a Berklee
School onde entra em 1985. Trazendo
na bagagem o caleidoscópio sonoro
que homenageou em Central Avenue,
ganhando com a troca a descoberta de,
por exemplo, BillEvans. Os primeiros
trabalhos profissionais fá-los ao lado
de Jon Hendricks e de Paquito d’Rivera
antes de ingressar, em 1989, na United
nations Orchestra, de Dizzy Gillespie,
onde o seu trabalho não tardará em dar
nas vistas e onde Perez tem contacto
directo com um dos músicos da era do
be-bop que mais procurou introduzir as
sonoridades latinas na revolução que
então emergia no jazz. (…)
Seixal Jazz 1998: programa
28 Outubro
Ravi Coltrane
Quartet
Ravi Coltrane (saxofones tenor e soprano)
Andy Milne (piano)
Darryl Hall (contrabaixo)
Steve Hass (bateria)
O saxofonista Ravi Coltrane despontou
na cena jazzística internacional no início
da década de 90, carregando consigo o
peso esmagador de ser filho daquele
que muitos elegem o maior génio da
história do jazz ou, na pior das hipóteses, um dos dois ou três músicos mais
influentes desta música nascida praticamente com o século: John Coltrane.
Como o pai, Ravi divide-se tanto pelo
tenor, que o músico de Blue Train explorou até ao limite, tanto no intimismo
de Ballads, como nos anos «free» da
fase final da sua breve carreira, como
pelo soprano que o genial músico reinventava em My Favourite Things. (…)
Começou por tocar clarinete na escola (porque havia falta de trompetes)
e, mais tarde, passou para o saxofone
soperano. O jazz ainda vinha longe. E
surge após a morte do seu irmão mais
velho, John Júnior em 1982. (…)
Seixal Jazz 1998: programa
29 Outubro
Brad Mehldau Trio
Brad Mehldau (piano)
Larry Grenadier (contrabaixo)
Jorge Rossy (bateria)
(…) A sua estreia como líder aconteceu em 1995 (Introducing Brad Mehldau). Mas foi sobretudo o lançamento,
no princípio de 1997, de The Art of the
Trio Vol.1, acompanhado de uma aclamada semana e meia de espectáculos
na cave do Village Vanguard, em Nova
Iorque, que lançou uma onda de entu-
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siasmo culminando, em Agosto desse
ano, nos prémios anuais da «Downbeat», na distinção do músico como o
melhor do ano na categoria dos pianistas merecendo maior reconhecimento.
(…)
A primeira escola de Brad Mehldau
foi a música clássica, onde fez a usa
aprendizagem, dos 6 aos 14 anos. E o
jazz, pela formação que prosseguiu na
Hartford High School of Conecticut, na
Berklee School, onde foi considerado o
melhor músico no primeiro ano em que
lá esteve, e no programa de Jazz e Música Contemporânea da New School of
Social Research. Passou da escola, onde
estudou com Fred Hersch e Kenny Werner, para o palco, no grupo de Jimmy
Cobb, outro dos seus mestres. (…)
31 Outubro
30 Outubro
Chico Freeman
e Gary Bartz Quintet
Lester Bowie (trompete, fliscorne e percussão)
Roscoe Mitchell (saxofones soprano,
alto e tenor, clarinete baixo, flauta e percussão)
Malachi Favors (contrabaixo e percussão)
Don Moye (bateria e percussão)
Chico Freeman e Gary Bartz Quintet
Seixal Jazz 1998: programa
Seixal Jazz 1998: programa
Art Ensemble
of Chicago
Art Ensemble of Chicago
tarde, Famoudou Don Moye, formulou,
desde o início, uma saída para o «free»,
trabalhando a tradição do jazz como
se fosse o objecto de uma colagem de
um artista plástico. Uma saída inspirada
directamente no dadaísmo, que trazia
uma nova forma de abstracção e onde
o impulso do «free», que músicos como
Albert Ayler ligavam também ao passado, na busca de uma pureza original do
jazz, abria caminho a uma abordagem
mais conceptual da música. Sem que a
improvisação colectiva alguma vez deixasse de ser central na música do Art
Ensemble. Mike Hennessey disse que,
com eles, «a música parou de gritar e
começou a respirar». (…)
«O que sentimos sobre o free-jazz é
podermos ser livres para tocar tudo o
que quisermos. Consideramos o bebop uma cor. O dixieland é uma cor. O
rap é uma cor. Se se for suficientemente livre para andar dentro e fora destes
estilos e combiná-los, pode-se enviar
toda uma outra mensagem».
A citação, abreviada, é de Lester Bowie,
hoje com 57 anos, trompetista (e, como
todos os outros membros do grupo, um
ecléctico polinstrumentista), fundador
do Art Ensemble of Chicago (AEC). Foi
extraída de uma entrevista à Downbeat,
revista onde este grupo há três décadas
foi eleito pela crítica como a melhor
formação acústica de jazz de 1998. A
frase é adequada aos tempos de hoje,
marcados pelos múltiplos cruzamentos
de géneros, mas traduz a forma como
o grupo de Bowie, Roscoe Mitchell,
Joseph Jarman, Malachi Favors e, mais
Gary Bartz (saxofones alto e soprano)
Chico Freeman (saxofones tenor e soprano)
George Gables (piano)
Santi Debriano (contrabaixo)
Victor Lewis (bateria)
Sendo, na sua estrutura de base, o quarteto de Chico Freeman, no qual Gary
Bartz surge com o estatuto de co-líder,
este quarteto que portanto é um quinteto pode ser considerado uma das
mais homogéneas formações que irão
estar no auditório do Fórum Cultural do
Seixal. (…)
Por outras palavras, Chico Freeman, nos
sax tenor e soprano, Gary Bartz, no alto
e George Cables, no paino, terão por
propulsor neste palco a dupla Santi
Debriano / Victor Lewis, respectivamente no contrabaixo e bateria. (…)
Nascido em Chicago, em 1949, Freeman começou por tocar trompete, mas
virou-se rapidamente para o saxofone.
Tocou com músicos de «blues» como
Memphis Slim e bandas «soul» como
os Temptations e os Four Tops (além
de uma perninha pop, mais tarde, com
os Eurythmics). (…)
Mais velho que Freeman, Gary Bartz
nasceu em 1940 em Baltimore e co-
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meçou a estudar na Julliard em 1958.
Escolheu o saxofone alto por causa de
Charlie Parker e começou por admirar
o trabalho de Monk, Coltrane e Miles.
(…)
Seixal Jazz 1998: programa
1 Novembro
Heart of Things /
John Mclaughlin
2 Novembro
Septeto
Tomás Pimentel
Tomás Pimentel (trompete e fliscorne)
Alexandre Frazão (bateria)
Edgar Caramelo (saxofones tenor e barítono)
Jorge Reis (saxofones alto e soprano)
Mário Franco (contrabaixo)
João Paulo Esteves da Silva (piano)
António Pinto (Guitarra eléctrica)
John McLaughlin (guitarras acústica
e eléctrica – midi)
Gary Thomas
(saxophones tenor e soprano, flauta)
Otmaro Ruiz (piano e sintetizadores)
Victor Williams (percussão)
Matthew Garrison
(baixos eléctricos normal e fretless)
Dennis Chambers (bateria)
Heart of Things / John Mclaughlin
Septeto Tomás Pimentel
John McLaughlin é, com Jimi Hendrix,
um dos dois músicos que, no final dos
anos 60, transformaram por completo o
universo da guitarra eléctrica e permitiram que esta passasse a desempenhar
um papel totalmente novo (e aumentado) no próprio jazz. (…)
No Seixal Jazz, ele surgirá à frente de
um grupo eléctrico, «The Heart of Things», em cuja formação se destaca Dennis Chambers, quarto numa dinastia de
bateristas e percussionistas essenciais
no caminho de McLaughlin. Em «The
Heart of Things» é o guitarrista que assimilou a electrónica e a tecnologia MIDI
que se acrescenta ao guitarrista acústico e eléctrico que o autor de My Goals
Beyond sempre teimou ser. Mas estamos evidentemente do lado da fusão,
um outro passo nessa mesclagem de
que McLaughlin foi um dos principais
pioneiros. (…)
Nascido no Yorkshire, em 1942, John
McLaughlin começou a tocar aos 11
anos e cresceu a ouvir guitarristas de
jazz e de blues como Wes Montgomery, Jim Hall, Joe Pass e Muddy Waters. (…)
Seixal Jazz 1998: programa
Chick Corea & Origin
Caberá ao septeto formado em 1991
pelo trompetista Tomás Pimentel imprimir, no penúltimo dia, a marca dos
músicos portugueses à edição deste
ano do Seixal Jazz. (…)
Com a constituição actual, o septeto
de Tomás Pimentel mantém uma linha
de continuidade com dois grupos formados nos anos 80, o sexteto do trompetista e o Sexteto de Jazz de Lisboa.
Deste último transitaram para aquele
septeto Tomás Pimentel e os saxofonistas Jorge Reis e Edgar Caramelo. (…)
Nascido em 1960, em Lisboa, Tomás
Pimentel cresceu numa família onde
todos tinham ligações à música. Aos
oito anos começa a estudar piano. Inicia-se no trompete aos 15 e, quatro
anos depois, integra a Orquestra Girassol, de José Eduardo, a primeira grande
formação de jazz surgida entre nós, e o
grupo Sintagma. Nesse ano, pisa o palco
do Cascais Jazz, com o quinteto de Pedro
Mestre. No princípio dos anos 80 integra
o Sexteto de Jazz de Lisboa, de que é um
dos principais compositores, fundando
posteriormente o seu sexteto. (…)
Seixal Jazz 1998: programa
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
3 Novembro
Chick Corea & Origin
Steve Wilson
(saxofone alto, flauta e clarinete)
Chick Corea (piano)
Bob Sheppard (saxofones tenor e soprano,
flauta e clarinete baixo)
Steve Davis (trombone)
Avishai Cohen (contrabaixo)
Jeff Ballard (bateria)
Tal como John McLaughlin, Chick Corea, cujo sexteto Origin encerrará a edição deste ano do Seixal Jazz, é um músico essencialmente formado na escola
dos grupos eléctricos de Miles Davis,
dos quais partiu para se afirmar como
um dos músicos fundamentais do movimento jazz/rock dos anos 70. Tal como
o guitarrista britânico, o pianista nascido
em 1941, no Massachusets, manteve, ao
longo da sua carreira, uma alternância
permanente entre os formatos acústico
e eléctrico. (…)
Tendo começado a tocar piano aos
seis anos, Corea trabalhou, ao longo
dos anos 60, ao lado de músicos como
Mongo Santamaria, Herbie Mann e Stan
Getz. Depois, em 68, começa a colaboração com Miles. Ele está presente nos
três álbuns de referência da revolução
eléctrica de Miles, In a Silent Way, Bitches Brew e Live Evil. Onde, além da
electricidade, o trompetista explorava
um novo conceito de espaço e de silêncio, mantendo-se muito próximo da
liberdade do «free», mas trocando a
energia libertária deste por uma arquitectura hipnótica onde, mais do que solos, os músicos envolviam-se através de
curtas sequências improvisadas. (…)
Seixal Jazz 1998: programa
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
1999
Em 1999, o palco do Auditório
Municipal recebeu Tony Martinez & The Cuban Power, Carlos
Bica, o Grand Slam de Joe Lovano, Jim Hall, George Mraz e Lewis
Nash, Dave Holland, Lee Konitz,
Myra Melford, Jacky Terrason,
John Patitucci e Odean Pope.
As memórias desta edição levam-nos ainda à exposição
“Cem Capas Sem Discos”, que
reuniu parte do espólio de Luís
Villas Boas, numa homenagem a
um dos nomes fortes da divulgação do jazz em Portugal.
24 Outubro
Tony Martinez
& The Cuban Power
Tony Martinez (saxofones alto e tenor, flauta,
piano e voz)
Leandro Saint-Hill (saxofones tenor
e soprano, flauta e voz)
Tony Martinez & The Cuban Power
Carlos Bica Quinteto
Roberto Consuegra (trompete)
Gendrickson Mena (trompete)
Dany Martinez (guitarra eléctrica e voz)
César Correa (piano e teclados sintetizados)
Dudu Penz (contrabaixo)
Joel Maruez (tumbadoras, percussão)
Rodrigo Rodriguez (timbales, percussão e voz)
Lukmil Peres (bateria e percussão)
(…) É um nome recente na leva dos
músicos cubanos, que fez falar de si no
ano passado com a gravação de «La Habana Vive», um disco de estreia onde o
músico presta homenagem à cidade
que mais o inspirou. Mas a sua história
musical começa na escola de Artes de
Camaguey, onde estuda saxofone, formando-se em 1987. (…)
Professor no conservatório de Camaguey, Tony Martinez dirigiu, entre 1987
e 90, três grupos alisando a música à
dança e estudou géneros tradicionais
como a rumba e o «son», esta última a
mais remota das influências do músico.
1990 é o ano da mudança para Havana.
O músico conhecera a capital em 1982,
onde se deslocara para participar num
concurso de música clássica. «A sua essência inspirou toda a minha obra criadora», afirma Martinez da cidade que,
diz também, lhe abriu o caminho ao
mundo. (…)
Seixal Jazz 1999: programa
25 Outubro
Carlos Bica Quinteto
Ana Brandão (voz)
Katharina Gramss (violino)
Joseph Doherty (viola de arco, saxofone alto,
clarinete e flauta)
Jens Thomas (piano)
Carlos Bica (contrabaixo e violoncelo)
(…) Carlos Bica é aqui o compositor e
director musical. Natural de Lisboa, estudou na Academia dos Amadores de
Música e no Conservatório, terminando,
em 1985, os seus estudos superiores,
como bolseiro, em Wurzburg, na Alemanha. Fixar-se-ia depois naquele país,
mais precisamente em Berlim. Estudou
com Ludwig Streicher e, ao nível do
jazz, com o contrabaixista Miroslav Vitous.
Surge na cena jazzística portuguesa na
década de 80. Trabalhou com Maria
João, António Pinho Vargas, MárioLaginha, o grupo Cal Viva, Kenny Wheeler,
Aki Takase, Julian Arguelles, Steve Arguelles e Alexander von Schlippenbach. Fora do jazz ou da música improvisada, foi possível ouvi-lo na Orquestra
de Câmara de Lisboa e várias orquestras
alemãs.(…)
Seixal Jazz 1999: programa, p. 11
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
26 Outubro
Grand Slam
Joe Lovano (saxofones tenor e soprano)
Jim Hall (guitarra eléctrica)
George Mraz (contrabaixo)
Lewis Nash (bateria)
Grand Slam
Dave Holland Quintet
A estreia, em palcos portugueses, de
um guitarrista tão importante como
Jim Hall é, por diversas razões, um dos
acontecimentos mais significativos desta edição 1999 do Seixal Jazz. A primeira, claro, é que obedecendo há muito
a política de vários promotores de concertos à tradição de trazer até nós os
gigantes do jazz, pelo menos uma vez,
é estranho que Hall tenha escapado a
tão apertada teia. Depois, porque encontraremos o guitarrista num evento
onde estarão outros músicos próximos
da sua sensibilidade intimista, como o
grande Lee Konitz, com quem Hall trabalhou em duo, em 1960. Enfim, o músico de Buffalo surge integrado numa
das formações mais consistentes do
festival, ou mesmo a mais consistente, o
«Grand Slam». Jim Hall surgirá ao lado
de um dos grandes melodistas do nosso tempo, Joe Lovano – de quem não
estará esquecida a estupenda «performance» no Jazz num Dia de Verão - , e
uma secção rítmica, com George Mraz
(contrabaixo), ouvido há dois anos em
Portugal com Paul Bley e o soberbo
Lewis Nash na bateria. Pianista, como
é sabido, dispensa-se, a partir do momento em que Jim Hall está por perto.
Sonny Rollins «dixit». (…)
Seixal Jazz 1999: programa, p. 11
27 Outubro
Dave Holland
Quintet
Chris Potter (saxofones tenor e soprano)
Robin Eubanks (trombone)
Steve Nelson (vibrafone)
Dave Holland (contrabaixo)
Billy Kilson (bateria)
Lee Konitz – Martial Solal Quartet
Um aspecto talvez pouco aparente,
mas nem por isso menos interessante,
no percurso do contrabaixista britânico
Dave Holland, 53 anos completados
este mês, é esse percurso parecer dividido em várias etapas muito coerentes,
equivalendo estas a parcerias específicas com músicos tão diferentes como
Sam Rivers ou Kenny Wheeler. O músico de Wolverhampton estudou na
Guildhall School, entre 1964 e 1967 e,
enquanto estudante, era possível ouvilo ao lado de outros músicos britânicos
que então despontavam, como John
McLaughlin ou John Surman, ou acompanhando «jazzmen» norte-americanos,
Ben Webster ou Coleman Hawkins, por
exemplo, no Ronnie Scott’s. Numa dessas noites no clube do Soho, uma surpresa mudou a história da vida de um
músico, que começamos por afirmar
ser mais coerente do que correndo ao
sabor das coisas. Era Miles Davis quem
estava na audiência e, meses depois,
Holland estava nos EUA para ser um
dos pilares da «revolução eléctrica»
que o trompetista introduziria com «Bitches Brew». (…)
Seixal Jazz 1999: programa, p. 21
28 Outubro
Lee Konitz
– Martial Solal
Quartet
Lee Konitz (saxofone alto e clarinete baixo)
Martial Solal (piano)
Marc Johnson (contrabaixo)
Billy Drummond (bateria)
Dois músicos cujas abordagens do jazz
são o mais pessoal e heterodoxo possível. Formado na escola precursora do
genial Lennie Tristano, no final dos anos
40, parceiro de Miles Davis em «Birth
of the Cool» e inegável príncipe desta
corrente abstracta e intelectualizada,
um dos raríssimos altos a construir uma
personalidade musical à margem da influência esmagadora de Parker, Konitz
é um músico de estilo inconfundível,
aliando complexidade e subtileza a
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
uma exploração inteligente e filtrada
das emoções. Um «blues» estranho,
apenas sugerido, uma tristeza que se
analisa. Solal foi sempre considerado
um músico «à parte» logo pela questão
da nacionalidade. A riqueza harmónica
é a sua marca. Ou seja, aquilo a que
chamaram a «solalização» dos temas,
um constante trabalhar da harmonia até
muito longe dos limites que esta préestabelece. Ambos partilham o facto
de percorrer os anos 90 com grande
vitalidade. (…)
Seixal Jazz 1999: programa, p. 25
29 Outubro
Myra Melford
Quintet
Cuong Vu (trompete)
Chris Speed (saxofone alto e clarinete)
Myra Melford (piano)
Eric Friedlander (violoncelo)
Michael Sarin (bateria)
Myra Melford Quintet
(…) O quinteto de Myra Melford é
classificado como estando na categoria
dos grandes grupos que influenciaram
uma época.
Recebeu uma formação clássica e, ao
mesmo tempo, tocava ragtime ou boogie-woogie. Conta que decidiu deixar
a música, mas um dia viu Marty Ehrlich
tocar com John Lindberg e decidiu que
ela também podia tocar a sua própria
música. Estudou com Gary Peacock e,
em 1984, chegou a Nova Iorque, onde
estudou ainda com HenryThreadgill e
Don Pullen. A sua gravação mais antiga é «Live at the Knitting Factory», uma
compilação de registos a solo na Meca
da vanguarda do «downtown» de Manhattan. (…)
Seixal Jazz 1999: programa, p. 31
Jacky Terrasson Quartet
30 Outubro
Jacky Terrasson
Quartet
Dan Faulk (saxophones tenor e soprano)
Jacky Terrasson (piano)
George Mitchell (contrabaixo)
Gerald Cleaven (bateria)
(…) A singularidade de Terrasson começa na sua própria história pessoal.
Nasceu em Berlim, filho de um francês
e uma americana negra do Sul, cresceu
em Paris entre a influência do piano
clássico que o pai tocava e a colecção
de discos de jazz da mãe. Ainda em
paris estudou com Jeff Gardner e tinha
por colega o filho de Francis Paudras,
personagem real a partir da qual foi
construído o Francis (Lady Francis, diria
Dexter Gordon) de “Round Midnight”,
de Bertrand Tavernier. De Paris foi para
Berklee, de Berklee voltou para fazer o
serviço militar em França. E foi tocando,
entre outros, com Dee Dee Bridgewater
e Ray Brown. Em 1990 fixa-se em Nova
Iorque. As coisas começam a tomar
forma. Terrasson grava com Wallace
Roney e Tex Allen. Em 1991, junta-se
ao veterano baterista Art Taylor, com
o qual faz inúmeros concertos e grava
“Wailin’at The Vanguard”. O pianista
forma o seu próprio trio em 1993, com
Ugonna Okegwo (que já encontrara
quando gravou com Tex Allen) e Leon
Parker. Entra para a Blue Note com o
saxofonista Javon Jackson, participando
em “When The Time Right” (1993 e “For
One Who Knows” (1995), os primeiros
de Jackson para a editora. (…)
Seixal Jazz 1999: programa, p. 35
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
John Patitucci Quartet
31 Outubro
1 Novembro
John Patitucci
Quartet
Odean Pope
Saxophone Choir
Mark Tuner (saxofone tenor)
John Beasley (piano)
John Patitucci (contrabaixo)
Horatio Hernandez (bateria)
Musico convidado:
Billy Harper (saxofone tenor)
Odean Pope (saxofone tenor e direcção)
Julian Pressley (1.º saxofone alto)
Sam Reed (2.º saxofone alto)
Robert Landham (3.º saxofone alto)
Bob Howel (1.º saxofone tenor)
Terry Lawson (2.º saxofone tenor)
Robert Barnes (3.º saxofone tenor)
Elliot Levin (4.º saxofone tenor)
Anawin Manuel Ávila (saxofone barítono)
Clifton Green (piano)
Michael Boone (contrabaixo)
Webb A. Thomas (bateria)
O contrabaixista John Patitucci que se
apresenta no Seixal Jazz 99 à frente
do seu quarteto é um músico que tem
andado a dizer às pessoas que não é
apenas o baixista John Patitucci. O facto é que o músico ficou marcado pela
sua prestação, em meados da década
de 80, na Chick Corea Elektrik Band.
Menos lembrada é a sua muito superior prestação com a Akoustik Band do
mesmo Corea e com o mesmo baterista
do grupo eléctrico, Dave Weckl. Seja
como for, o concerto do quarteto de
Patitucci, no Seixal, pode ser descrito
como a reunião de um contrabaixista
que, nos últimos anos, procurou alargar
horizontes e redefinir-se como músico,
com um saxofonista, Mark Turner que,
ao mesmo tempo e no mesmo lugar,
vem desenvolvendo um trabalho que
tem gerado as maiores expectativas
quanto ao seu desempenho no jazz dos
próximos anos. (…)
Sobre os dois músicos que completam
o quarteto onde Patitucci e Turner serão protagonistas principais, existem
poucas referências. Horácio Hernandez
foi baterista do excelente pianista Gonzalo Rubalcaba, que gravou recentemente com Lovano, e o pianista John
Beasley gravou com Sal Marquez.
Seixa Jjazz 1999: programa, p. 39, 41
O encerramento da edição de 1999
deste Seixal Jazz vai estar a cargo do
saxofonista Odean Pope, músico que
se destacou em inúmeros trabalhos ao
lado do baterista Max Roach. Natural
de Filadélfia, activo desde a década de
50, altura em que conheceu e se tornou
muito próximo de John Coltrane, Odean Pope trará ao Fórum Cultural uma
das duas formações que lidera. Tratase do Odean Pope Saxophone Choir,
incluindo, como músico convidado,
um…saxofonista: Billy Harper.
O grupo integra, além de Pope e Harper, três altos (Julian Pressley, Sam
Reed e Robert Landham), quatro tenores (Bob Howell, Terry Lawson, Robert
Barnes e Elliot Levin) e um barítono
(Anawin Manuel Ávila). Clifton Green
(piano), Michael Boone (contrabaixo) e
Webb A. Thomas (bateria) completam
a formação onde Pope é ainda compositor e director musical. (…)
O Saxophone Choir toca essencialmente composições de Pope, cuja escrita
denota influências de Duke Ellington,
nomeadamente ao nível da tensão entre
a improvisação e as partes compostas.
Seixal Jazz 1999: programa
Odean Pope Saxophone Choir
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
2000
Mark Shim / Mark Shim Quartet
Entre 25 de Outubro e 1 de Novembro, o Seixal voltou a receber os sons do jazz. Neste ano,
a novidade foi para a criação
de um novo espaço dentro do
festival: o Seixal Jazz Clube, um
local de animação e convívio
que recebeu música ao vivo com
formações jazzísticas nacionais, debates à volta deste estilo e visionamento de vídeos.
Pelo palco principal, os concertos continuaram a ser o prato
forte do festival. Mark Shim,
Paul Motian, Stefon Harris, o
trio de Louis Sclavis, Henri Texier
e Aldo Romano, Santi Debriano,
Mark Whitecage, Maria João e
Mário Laginha e Tom Harrell.
25 Outubro
Mark Shim /
Mark Shim Quartet
ta, que começaram em Charlie Parker,
visitaram Sonny Rollins, John Coltrane,
Eddie “Lockjaw” Davis e, finalmente,
Henderson. O percurso musical do tenor é ainda breve e rápido de contar.
(…)
Seixal Jazz 2000: o melhor programa
26 Outubro
Paul Motian /
Paul Motian Trio
Chris Potter (saxofones tenor e soprano)
Marc Johnson (contrabaixo)
Paul Motian (bateria)
Quando se fala da evolução da bateria
no jazz, é difícil negar a Paul Motian um
lugar firme entre os grandes inovadores, os que, geração após geração, foram relendo o papel do instrumento e,
consequentemente, os conceitos rítmicos do jazz. Além do tanto que ajudou
a redefinir a esse nível, em particular
nos anos históricos em que, com o genial Scott Lafaro, integrou o trio de Bill
Evans, Motian é um baterista absolutamente singular. Trata-se de um músico
de extraordinária versatilidade, que desenvolveu uma linguagem única. (…)
Seixal Jazz 2000: o melhor programa
Mark Shim (saxofones tenor e soprano)
David Gilmore (guitarras acústica e eléctrica)
Drew Gress (contrabaixo)
Bruce Cox (bateria)
Paul Motian / Paul Motian Trio
Stefon Harris / Stefon Harris Quartet
A presença do quarteto do saxofonista
Mark Shim na noite de abertura deste
festival é esclarecedora quanto a uma
das tónicas centrais da edição 2000 do
Seixal Jazz: a participação de algumas
novíssimas vozes do jazz contemporâneo. É o caso de Mark Shim e do vibrafonista Stefon Harris. Com apenas um
ou dois álbuns gravados como líderes,
conseguiram o respeito e a atenção da
crítica norte-americana a afirmaram rapidamente a originalidade dos respectivos trajectos como improvisadores e
compositores. (…)
Falando sobre as suas influências numa
entrevista à Jazzweekly.com, Mark Shim
menciona fases, ou ciclos de descober-
27 Outubro
Stefon Harris /
Stefon Harris Quartet
Stefon Harris Quartet (vibrafone)
Orrian Evans (piano)
Reid Anderson (contrabaixo)
Terreon Gully (bateria)
O vibrafonista nasceu em Albany, Nova
Iorque, cresceu a ouvir música clássica
e estudou percussão. Descobre o jazz
através de Charlie Parker e Dexter Gordon, mas é ouvindo o vibrafone de Milt
Jackson que Stefon Harris abandona os
estudos clássicos de percussão e se
envolve no jazz. Jackson e Parker estão
entre os músicos que o vibrafonista nomeia como suas principais influências,
acrescentando-lhe Bobby Hutcherson e
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
Lionel Hampton, Red Garland, Wayne
Shorter, Miles e Coltrane – “Coltrane
captou a essência de quem era, espiritualmente, na sua música”, diz Harris
sobre Trane. (…)
Seixal Jazz 2000: o melhor programa
28 Outubro
Romano – Sclavis
– Texier Trio
Louis Sclavis (saxofone soprano, clarinete
e clarinete baixo)
Henri Texier (contrabaixo)
Aldo Romano (bateria)
Dave Holland (contrabaixo)
Romano – Sclavis – Texier Trio
No triângulo de concertos que neste
festival estarão organizados em torno
de álbuns-ponte entre o jazz e outras
paragens, musicais ou geográficas do
globo, a prestação do europeíssimo trio
formado por Louis Sclavis, Henri Texier
e Aldo Romano permite, à partida, alimentar as maiores expectativas. (…)
A busca do “swing” que pode estar escondido numa forma de folclore, por
mais distante que esta possa estar das
tradições afro-americanas na raiz do
jazz. Uma busca que parte do interior
das vivências próprias do músico europeu, mas que afirma também a universalidade humana do jazz. (…)
Seixal Jazz 2000: o melhor programa
29 Outubro
Santi Debriano / ”Circlechant”
Santi Debriano /
”Circlechant”
Abraham Burton (saxofone tenor)
Miri Ben-Ari (violiono)
Helio Alves (piano)
Santi Debriano (contrabaixo)
Tommy Campbell (bateria)
Mark Whitecage / Mark Whitecage quartet
Considerado um dos contrabaixistas
mais importantes da nova geração, Santi Debriano estreia-se este ano como
líder no Seixal Jazz. E fá-lo à cabeça de
um projecto singular, transversal, abrindo novas pontes entre o jazz e a música
latina, das Caraíbas ao Brasil. Trata-se
do projecto “Circlechant”, correspondente ao álbum do mesmo nome, o
quarto da discografia como líder do
contrabaixista de origem panamiana. A
noite de “CHICLECHANT”, apresentando no Seixal uma formação quase igual
à do disco, define-se assim como a de
um concerto “temático” e colocando o
jazz em diálogo com outras latitudes
geográficas e musicais. (…)
O projecto de Santi Debriano reúne
músicos como o notável pianista brasileiro Hélio Alves e a violinista Miri
Bem-Ari. Entre a leveza desta última e a
riqueza das cores harmónicas de Alves
joga-se muito da identidade de “CHICLECHANT”, onde Debriano se integra
em todos os papéis possíveis, improvisando, construindo motivos rítmicos ou
comentando melodicamente o jogo de
Alves e Bem-Ari. (…)
Seixal Jazz 2000: o melhor programa
30 Outubro
Mark Whitecage /
Mark Whitecage
quartet
Mark Whitecage
(saxofones alto e soprano,
clarinete e clarinete baixo)
Sabir Mateen
(saxofone alto e tenor, clarinete, flauta)
Dominic Duval (contrabaixo)
Jay Rosen (bateria)
O quarteto de Mark Whitecage surge
nesta edição do Seixal Jazz como representante das formas do jazz mais
próximas das vanguardas nascidas na
senda do “free” e das múltiplas abordagens à música improvisada que lhe
são posteriores. Saxofonista e clarinetista, explora também os instrumentos electrónicos. Nascido em 1937 no
Connecticut, é um músico activo desde a década de 60, tendo percorrido
inúmeros géneros a partir do bop e do
pós-bop. (…)
Seixal Jazz 2000: o melhor programa
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
31 Outubro
1 Novembro
Maria João
e Mário Laginha /
M. João e M. Laginha
Sexteto
Tom Harrel /
Tom Harrel Octet
Maria João (voz)
Mário Laginha (piano)
Toninho Ferragutti (acordeão)
Nico Assumpção (contrabaixo)
Helge Norbakken (bateria e percussão)
Mingo Araújo (percussão)
Maria João e Mário Laginha /
M. João e M. Laginha Sexteto
(…) O trabalho em duo permitiu ao
pianista e à cantora atingir uma notoriedade internacional única quanto a
músicos do panorama português e, a
nível interno, atingiram um estatuto que
lhes permite chegar a inúmeros públicos. Imensas digressões, a presença em
grandes festivais, tem sido assim o percurso dos dois músicos ao longo dos
anos 90.
Maria João e Mário Laginha pertencem
ambos, no entanto, à geração de músicos surgida no início dos anos 80, afirmando-se ambos como os valores de
referência nos respectivos instrumentos,
a nível nacional. Após ter estudado na
escola do Hot Clube, a cantora optou
bem cedo por sair do país. Lentamente,
tocando muitas vezes com outro músico
emigrado, o contrabaixista Carlos Bica,
conquistou um público na Alemanha,
onde viveu, que hoje continua a seguir
o seu trabalho. Grava pela primeira vez
com o Quinteto de Maria João, formado em 1983. (…)
Com um percurso onde desenvolveu
tanto o registo clássico como o jazzístico, Mário Laginha trabalhou com inúmeras formações ao longo dos anos
80. Desde o início, o músico evoluiu no
sentido da busca de um discurso próprio. Nos anos 90, gravou em duo com
Pedro Burmester, com o qual deu inúmeros espectáculos e, a solo, lançou
ainda “Hoje” (1994), num momento em
que trabalhava já com Maria João. (…)
Seixal Jazz 2000: o melhor programa
Tom Harrel / Tom Harrel Octet
Tom Harrell (trompete e fliscorne)
Donny McCaslin (saxofones tenor e soprano)
Jimmy Green (saxofones tenor e soprano)
Howard Johnson (saxofone barítono)
Conrad Herwig (trombone)
Xavier Davis (piano)
Ugonna Okegwo (contrabaixo)
Ralph Peterson (bateria)
Um observador inadvertido da cena
jazzística poderia ser tentado a pensar
em Tom Harrel como um trompetista
emergente na última década do século.
Porém, isso não é verdade mas, ao mesmo tempo, é verdade. A especificidade
do percurso do trompetista de Urbana,
Illinois – de facto, um músico de São
Francisco – torna aceitável aquela contradição. Harrel entrou no universo do
jazz em finais dos anos 60 tocando em
clubes da “Bay Área”, e manteve uma
actividade intensa desde então. O reconhecimento crítico generalizado do
músico, que visitará o Seixal Jazz à frente do seu octeto, chegou apenas nos
anos 90 e, de algum modo, na segunda
metade da década. (…)
Seixal Jazz 2000: o melhor programa
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
2001
O sucesso do Seixal Jazz Clube
(em embrião na edição de 2000),
fez com que este clube ganhasse um novo espaço, maior e com
uma programação própria e independente feita, à semelhança
do ano anterior, com formações nacionais. O local perfeito para o público ir, antes ou
depois dos concertos principais, num ambiente de convívio,
conversa e, claro está, música.
Quanto aos concertos principais, os artistas de 2001 foram:
Dave Douglas, Carla Cook e
René Marie, Abraham Burton,
Mário Delgado e Nuno Ferreira,
Mingus Big Band, Sam Rivers, Tom
Varner e Freddie Hubbard & The
New Jazz Composers.
24 Outubro
Dave Douglas
Sextet “Witness”
Dave Douglas Sextet “Witness”
Carla Cook / René Marie Quintet
Dave Douglas (trompete)
Chris Speed (saxofone tenor, clarinete)
Bryan Carrott (vibrafone, marimba, glockenspiel)
Drew Gress (contrabaixo)
Michael Sarin (bateria)
Ikue Mori (percussão electrónica sintetizada)
(…) «Witness» não é um projecto surgido do vazio, é antes um produto da postura cultural e artística de Douglas. Nascido no estado de New Jersey, em 1963,
o trompetista encontrou no universo de
Nova Iorque o melhor ambiente para a
sua aprendizagem enquanto músico de
jazz e também o espaço sem paralelo
que a cidade, agora vítima de terrorismo
global, representa do ponto de vista do
cruzamento de culturas. Dave manteve
sempre uma postura de artista «engagé»
e, até ao contrato que assinou recentemente com a BMG, gravou exclusivamen-
te para editoras independentes, como a
Arabesque, a Soul Note ou a Songlines.
«O jazz é a verdadeira música alternativa», afirmou, numa entrevista à Down
Beat. Douglas é uma individualidade de
horizontes culturais vastos. Algumas das
«testemunhas» que evoca no projecto
que ouviremos neste festival pertencem
ao universo das suas leituras, como é o
caso da feminista egípcia Nawal el Saadawi (autora de Woman at Point Zero,
um livro que dificilmente poderíamos
encontrar em Cabul) ou o autor de The
Cairo Trilogy, o também egípcio Naguib
Mahfouz. (…)
Seixal Jazz 2001: programa
25 Outubro
Carla Cook /
René Marie Quintet
Carla Cook e René Marie (voz)
John Toomey (piano)
Vashon Johnson (contrabaixo)
Montez Coleman (bateria)
(…) Nascida em Detroit, Carla Cook
começou a cantar aos cinco anos, num
coro de igreja. Fez estudos clássicos de
canto, chegando a participar numa digressão da Orquestra Mundial da Juventude. Quando se mudou para Nova Iorque, alargou os seus interesses musicais
ao jazz. Apesar de ter o treino de uma
soprano lírica, preferiu o território onde
encontrou a possibilidade de improvisar e desenvolver a sua personalidade
musical. «É óptimo ter a disciplina, mas
preciso de sentir o gozo», disse, em entrevista, à revista Jazz Times. (…)
A (ainda) René Croan costumava cantar
para os filhos. E Michael, o mais velho,
insistiu que a mãe era melhor do que
a vocalista que escutara. E esta última,
ainda por cima, era paga para cantar!
Com a ajuda da cunhada, que tocava
um pouco de piano, a nossa companheira de espectáculo fez-se à luta. Foi
tocando em clubes de Richmond até ao
dia em que, no final de um «gig», o patrão da editora independente Max Jazz,
apareceu-lhe no camarim. (…)
SEIXALJAZZ 2001: Programa
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
26 Outubro
27 Outubro
Abraham Burton
Quartet
“Filactera” /
Mário Delgado
e Quinteto
Nuno Ferreira
Abraham Burton (saxofone tenor)
James Hurt (piano)
Yosuke Inoue (contrabaixo)
Eric Mcpherson (bateria)
Abraham Burton Quartet
(…) Um aspecto específico do percurso de Abraham Burton ou, melhor, uma
hesitação compreensível para um músico ainda novo, é a transição entre o alto
e o tenor. Burton começou por tocar os
dois e é enquanto sax alto que surge
na primeira fase da sua carreira. Posteriormente, decidiu consagrar-se exclusivamente ao tenor. Por isso, McLean
e Coltrane misturam-se como as suas
principais inspirações.
Abraham Burton tem um lugar indiscutível na primeira linha dos jovens
saxofonistas de hoje. Cause and Effect,
terceiro trabalho assinado pelo músico,
deixa no ouvinte uma indelével impressão de força e amplitude sonora que
Burton transmite ao próprio quarteto.
Vários críticos encontram neste músico
a ousadia de quem procura retomar o
caminho no sítio onde ficou o quarteto
de John Coltrane, McCoy Tyner, Elvin
Jones e Jim Garrison na década de 60,
não só pela influência de «Trane» no
fracasso de Burton, mas pelo modo
como a música de quarteto respira.
(…)
Seixal Jazz 2001: programa
“Filactera” / Mário Delgado e Quinteto Nuno Ferreira
Andrzej Olejniczak
(saxofones tenor e soprano)
Claus Nymark (trombone)
Mário Delgado (guitarras)
Carlos Barretto (contrabaixo)
Alexandre Frazão (bateria)
Kris Bauman (saxofones alto e tenor, clarinete)
Nuno Ferreira (guitarras)
Albert Sanz (piano)
Alexis Cuadrado (contrabaixo)
Jochen Rueckert (bateria)
(…) Nascido em 1962, Mário delgado
vem ao Seixal com o seu mais recente
projecto, “Filactera”, para o qual se rodeou de músicos como o contrabaixista
Carlos Barretto, o baterista Alexandre
Frazão, o saxofonista polaco, radicado
no País Basco, Andrzej Olejniczak e o
trombonista dinamarquês Claus Nymark, há muito estabelecido no nosso
país.
“Filactera” é um projecto para o guitarrista convoca a memória da banda desenhada e um imaginário onde muitas
pessoas da sua geração se reconhecerão com facilidade. (…)
O outro grupo presente nesta noite
no Seixal Jazz é o quinteto do jovem
guitarrista Nuno Ferreira, músico que,
nos últimos anos, conquistou as atenções da crítica, desde que iniciou a sua
actividade regular, em 1995. Nuno Ferreira apresenta-se neste evento liderando um quinteto formado por músicos
que conheceu em Espanha e em Nova
Iorque, o saxofonista Kris Bauman, o
pianista Alberto Sanz, o contrabaixista
Alexis Cuadrado e o baterista Jochen
Rueckert. (…)
Seixal Jazz 2001: programa
Mingus Big Band
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CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
28 Outubro
Mingus Big Band
Alex Sipiagin (trompete)
Craig Handy (saxofones alto e soprano)
Sherman Irby (saxofone alto, flauta)
John Stubblefield (saxofones tenor e soprano)
Ronnie Cuber (saxofone barítono)
Conrad Herwig (trombone)
Frank Lacy (trombone)
Boris Kozlov (contrabaixo)
Jonathan Blake (bateria)
Mingus Big Band
Sam Rivers Trio
“Com 56 anos de idade, morreu sextafeira em Cuernavaca, México, o célebre
músico de jazz Charles Mingus”. Este
era o «lead» de uma curta notícia, publicada a duas colunas, na edição de 9
de Janeiro de 1979 do Diário de Lisboa.
Uma curta menção ao falecimento de
um enorme músico, um de muitos obituários que por esses dias se publicaram por todo o mundo.
A Mingus Big Band não foi o primeiro
esforço para recriar a obra do genial
criador. Três anos após a morte deste, era lançado Reincarnation, primeiro
dos três trabalhos do projecto Mingus
Dinasty. Era já um projecto onde surgia
o nome da mulher de Mingus, Sue. Na
prática, como referem Richard Cook e
Brian Morton, tratava-se de uma «ghost
band» mantida pelos músicos de Mingus após a morte deste, como aconteceu com as orquestras de Duke Elligton
e Count Basie. Jimmy Knepper, Reggie
Johnson e Ricky Ford eram alguns desses músicos. O projecto evoluiu, até
integrar alguns membros da actual Mingus Band, como Frank Lacy e Craig Handy, que encontraremos no Seixal. (…)
Seixal Jazz 2001: programa
29 Outubro
Sam Rivers Trio
Sam Rivers
(saxofones tenor e soprano, flauta, piano)
Doug Mathews
Tom Varner Quintet
(baixo eléctrico, contrabaixo, clarinete baixo)
Anthony Cole (bateria, saxofone tenor, piano)
«O novo trio de Sam Rivers não é apenas um trio», escreveu o crítico David
R. Adler, referindo-se assim a Firestorm,
título gravado já este ano, pelo grupo
formado em 1966, pelo lendário saxofonista e por dois jovens músicos, Doug
Mathews e Anthony Cole, um contrabaixista e um baterista que integram a
secção rítmica de um outro projecto
de Rivers, a Riv-Bea All Star Orchestra.
(…)
Qualquer um dos três músicos desdobra-se por vários instrumentos. Além
dos saxofones tenor e soprano, Rivers
toca flauta e piano. Mathews acrescenta ao contrabaixo o baixo eléctrico, o
violino baixo e o clarinete baixo. Além
da bateria, Cole toca piano e sax tenor,
pelo que algumas das variantes da formação incluem dois pianos ou dois saxofones. (…)
Seixal Jazz 2001: programa
30 Outubro
Tom Varner Quintet
Tom Varner (trompa)
Steve Wilson (saxofone alto)
Tony Malaby (saxofone tenor)
Cameron Brown (contrabaixo)
Tom Rainey (bateria)
Procurar viver no universo do jazz escolhendo um instrumento tão heterodoxo,
naquele contexto, como é a trompa,
significa, ao mesmo tempo, um desejo
de afirmar a diferença e, inevitavelmente, ter a consciência de que o caminho a
trilhar é dos mais difícieis. Tom Varner,
cujo quinteto subirá ao palco do Auditório Municipal do Seixal, na penúltima noite deste festival, conhece bem
essa realidade. O facto de se tratar de
um instrumento tão pouco utilizado no
jazz, tem por consequência imediata,
para os seus praticantes, serem pouco
solicitados ou apenas encontrarem lugar em grandes formações. Varner, um
músico de 43 anos, natural do estado
de New Jersey, conseguiu ultrapassar
essas fronteiras e, ao longo dos anos,
logrou afirmar-se como solista e gravar,
com alguma frequência, em seu pró-
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prio nome. Foi, no entanto, um processo moroso: se remonta a 1981 a primeira gravação do músico com um grupo
seu, apenas a partir da segunda metade
da década de 90 os seus projectos pessoais começaram a surgir com alguma
regularidade. (…)
Seixal Jazz 2001: programa
31 Outubro
Freddie Hubbard
& The New Jazz
Composers Octet
Freddie Hubbard (fliscorne)
David Weiss (trompete)
Myron Walden (saxofone alto)
Jimmy Greene (saxofones tenor e soprano)
James Farnsworth (saxofone barítono)
Andrew Williams (trombone)
Xavier Davis (piano)
Dwayne Burno (contrabaixo)
Nasheet Waits (bateria)
(…) Aos 63 anos, Hubbard enfrenta um
desafio diferente dos da primeira metade dos anos 60, em que o talento, a
inovação e a diversidade de estéticas
fluíam com uma intensidade irrepetível.
Conhecido como um músico enérgico,
levando o instrumento ao limite, fosse puxando os agudos ao máximo ou
soprando para se fazer ouvir sobre o
«drumming» poderoso de Art Blakey,
Hubbard acabou por enfrentar problemas de saúde, que o obrigaram a afastar-se da música nos últimos anos.
Esse hiato chegou ao fim, com o músico
a dedicar-se apenas ao fiscorne, recuperando tranquilamente as suas capacidades técnicas, embora sem se enganar a si próprio ou aos outros. «Não há
pressa na cura», disse. «Mas há coisas
que não toquei e que quero tocar». As
ideias estão cá, como o ‘feeling’ e o
som. Mas, quanto à força, tenho de ter
calma». (…)
Seixal Jazz 2001: programa
Freddie Hubbard & The New Jazz Composers Octet
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CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
2003
Com um novo modelo a nível
da programação, o Seixal Jazz
2003 decorreu entre 17 de Outubro e 1 de Novembro, manteve a
sua base, apresentando os principais concertos no Auditório
Municipal. O Seixal Jazz Clube
continuou a receber exclusivamente formações jazzísticas
nacionais. Uma exposição dedicada à Blue Note, patente no
espaço Seixal Jazz Clube, e duas
mostras fotográficas das edições anteriores com imagens
de Guta de Carvalho e Rosa Reis,
foram algumas das actividades
paralelas a decorrer nesta edição, cujo programa principal
contou com a presença de: Jason Moran e Sam Rivers, Quarteto Pedro Madaleno, Kenny
Werner, Ted Nash Quintet, The
Schulldogs e Andrew Hill.
23 Outubro
Jason Moran Trio
+ Sam Rivers
Jason Moran Trio + Sam Rivers
Jason Moran (piano)
Tarus Mateen (contrabaixo)
Nasheet Waits (bateria)
Sam Rivers
(saxofones tenor, alto e soprano, flauta)
Quarteto Pedro Madaleno
Foi ao som de Thelonious Monk que o
jovem Jason Moran decidiu retomar as
lições de piano, que havia começado
aos seis anos e abandonado perto da
adolescência. Não queria estudar mais
a música de Monk fez despertar o desejo de aprender e logo se dissiparam
as dúvidas: Moran queria ser músico de
jazz.
Assim, no Houston High School for the
Performing and Visual Arts, tornou-se
membro activo do programa de jazz e
deu os primeiros passos na liderança
de um quarteto. (…)
Sam Rivers começou a sua carreira musical muito cedo. Proveniente de uma
família de músicos, estudou violino,
piano e trombone, mudando para o saxofone aos treze anos. Hoje, de idade
já avançada, é dos multi-instrumentalistas mais conceituados e uma das figuras mais carismáticas do jazz – como o
demonstrou na edição de 2001 deste
festival. (…)
Seixal Jazz 2003: programa
24 Outubro
Quarteto
Pedro Madaleno
Wolfgang Fuhr (saxofone tenor)
Pedro Madaleno (guitarras)
Bernardo Moreira (contrabaixo)
Dejan Térzic (bateria)
Pedro Madaleno estudou na Escola de
Jazz do HotClub de Portugal, no início
da década de oitenta, seguindo-se-lhe
dois anos de piano clássico e a conclusão do sexto ano de educação musical,
no Conservatório Nacional. Mais tarde,
nos EUA, foi bolseiro na Berklee School of Social Research (Jazz Program),
em Nova Iorque, onde permaneceu durante quatro anos. (…)
De regresso a Portugal em 1990, Madaleno estabeleceu-se como professor
na escola onde havia estudado, o Hot
Clube, leccionando as disciplinas de
Harmonia, Educação Musical e Composição.
Desde então actuou em diversos concertos, entre os quais o de Karl Berger
no Festival de Jazz de Lisboa, em 1990,
e o de Lee Konitz, no Hot Clube, em
1991.
Os projectos Pedro Madaleno Grupo
e Pedro Madaleno Trio foram o mote
para actuações por todo o país, entre
1991 e 1996. Participou também em
diversos concertos com os irmãos Moreira, com o saxofonista Carlos Martins,
com o trompetista Laurent Filipe e mesmo com Pedro Abrunhosa. (…)
Seixal Jazz 2003: programa
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25 Outubro
Kenny Werner Trio
Kenny Werner (piano)
Johannes Weidenmueller (contrabaixo)
Ari Hoenig (bateria)
Kenny Werner Trio
Kenny Werner tem uma carreira musical precoce: aos onze anos gravou um
tema com uma orquestra, aparecendo
na televisão tocando piano, naquilo
que seria apenas o começo.
Inicialmente estudava piano clássico
mas o seu desejo de improviso - «gosto da desorientação; definições não
me inspiram», diria anos mais tarde,
aquando do lançamento de Form and
Fantasy – levou-o a enveredar pelo jazz
e enquanto ainda estudava no liceu, já
frequentava a Manhattan School of Music, de onde se transferiu para a Berklee
School, em Bóston. (…)
Werner é hoje tido como «um dos segredos mais bem guardados do jazz
norte-americano, inovador e com uma
imaginação viva» (Jazziz), um pianista
que «nunca segue pelo caminho mais
fácil e previsível» (FanfareMagazine).
Seixal Jazz 2003: programa
30 Outubro
Ted Nash Quintet /
Jazz Composers
Collective
Ted Nash Quintet / Jazz Composers Collective
The Schulldogs
Marcus Printup (trompete)
Ted Nash (saxofones tenor e soprano)
Frank Kimbrough (piano)
Ben Allison (contrabaixo)
Matt Wilson (bateria)
Como muitos, Ted Nash começou por
aprender piano mas aos treze anos
mudou para o saxofone. Enquanto
frequentou o liceu, teve aulas de improvisação em jazz com o vibrafonista
Charlie Shoemake. E foi também sob
direcção de um outro vibrafonista, Lionel Hampton, que Nash se estreou nos
palcos, aos dezasseis anos, e se lançou
no jazz profissional. (…)
Actualmente, para além da sua carreira a solo, Ted Nash é membro da Jazz
Composers Collective, uma organização criada em 1991, sem fins lucrativos,
dirigida por músicos e cujo principal
objectivo é a divulgação de trabalhos
originais e de novos compositores. Fazem parte do grupo fundador da JCC, a
par de Nash, Bem Allison e Frank Kimbrough – ainda Michael Blake (saxofone) e Ron Horton (trompete). (…)
Seixal Jazz 2003: programa
31 Outubro
The Schulldogs
Herb Robertson (trompete)
Rich Perry (saxofone)
Ed Schuller (contrabaixo)
George Shuller (bateria)
George Schuller, baterista, compositor
e produtor, nasceu em Nova Iorque,
mas foi em Bóston que cresceu e estudou, no Conservatório de New England. Foi também naquela cidade que
se iniciou no palco, ao lado de Herb
Pomeroy, Jaki Byard, Ran Blake, Billy
Pierce e outros. (…)
Em cinco anos de actividade os Schulldogs já produziram dois álbuns, Tenor
Tamtrums (1998) e Hellbent (2000),
este último, uma gravação de um concerto dado pelos músicos, com temas
«pesados na improvisação e leves nos
arranjos», mas «intuitivo, espontâneo e
muito divertido de se ouvir» (All About
Jazz). (…)
Seixal Jazz 2003: programa
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1 Novembro
Andrew Hill Sextet
Ron Horton (trompete)
Marty Ehrlich
(saxofones alto e soprano, clarinete)
Greg Tardy (saxofones tenor e soprano)
Andrew Hill (piano)
John Hebert (contrabaixo)
Nasheet Waits (bateria)
Galardoado pela Jazz Journalists Association, com o prémio de Compositor
do Ano, Andrew Hill viu confirmado o
seu estatuto de referência. Apontado
por muitos músicos como uma das suas
principais influências, o pianista goza
de uma experiência imensa, fruto de
quem vive o jazz há mais de cinquenta
anos.
Hill começou por acompanhar Charlie
Parker, depois ensaiou com Miles Davis,
trabalhou com Dinah Washingon e Coleman Hawkins e só mais tarde juntou
um trio e gravou o seu primeiro álbum,
So In Love. A visão incomum que tinha
da música, juntamente com o seu imensurável talento, levaram a Blue Note a
editá-lo durante a década de sessenta. Foi nessa época que gravou Point
of Departure, considerando uma das
obras-primas do jazz moderno, onde
se juntou a Eric Dolphy, Joe Henderson, Kenny Dorham, Richard Davis e
Tony Williams. (…)
Seixal Jazz 2003: programa
Andrew Hill Sextet
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CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
2005
A edição 2005 do Seixal Jazz
apostou em nomes menos conhecidos, mas que a crítica
considera como os nomes sonantes do futuro. O Auditório
Municipal recebeu, ao longo de
seis noites, a música de: Wayne
Escoffery Quintet, Quinteto
Laurent Filipe, Kurt Rosenwinkel
Quintet, David Binney Sextet, Miguel Zénon Quartet e Mike Fahn
& Mary Ann McSweeney Quintet,
enquanto que pelo palco do
Seixal Jazz Clube passaram algumas das melhores formações
jazzisticas nacionais.
Entre as iniciativas paralelas,
destaque para a exposição
CF051Ks, uma mostra sobre os
quatro anos da Editora Clean
Feed, o Workshop de Saxofone
realizado pelo saxofonista e
compositor George Garzone,
o lançamento do livro Jazz
com fotografias de Rosa Reis
e o Jazz Vai à Escola, iniciativa
em estreia nesta edição, constituída por sessões pedagógicas
de divulgação do jazz nas escolas nas quais os alunos puderam aprender e experimentar
este estilo musical.
20 Outubro
Wayne Escoffery
Quintet
Wayne Escoffery (saxofones tenor e soprano)
Jeremy Pelt (trompete)
Rick Germanson (piano)
Hans Glawischnig (contrabaixo)
Jason Brown (bateria)
Wayne Escoffery Quintet
Wayne Escoffery é inglês, daqueles de
Londres. Mas a surpresa não vai muito
longe, uma vez que, para não fugir à
regra, Escoffery descobriu o jazz e for-
mou-se musicalmente do outro lado
do oceano, nos EUA, terra para onde
ruma quem quer aprender isto do jazz.
E para cumprir com a restante imagem
predefinida e clássica do músico de
jazz, Escoffery também é negro e também faz caretas daquelas de prazer e
esforço, que qualquer fotógrafo deseja
registar. Apenas dois detalhes parecem
desafinar esta pauta: Escoffery não é
barrigudo, antes tem um corpo trabalhado de modelo; e não entrou ainda
nos “enta”, pois que é um jovem de
apenas 30 anos.
Escoffery pode andar por aí há pouco
tempo, mas já se mostrou maduro. O
saxofonista é dono de um vistoso currículo, de que fazem parte dois discos
assinados por si, uma dezena de registos em que participou, um composto
rol de colaborações, e uma bela lista
de formações com que actua, sendo
a principal a Mingus Big Band – certamente estão recordados destes catorze
senhores, que encheram o palco em
2001.
Três dos músicos que aqui se apresentam são responsáveis por Intuition
(2004), o segundo disco de Escoffery, e
aquele que definitivamente o apresentou à cena jazz internacional – Jeremy
Pelt é o homem do trompete e Rick
Germanson quem manipula o piano. O
contrabaixista de serviço é Hans Glawischnig e sentado à bateria está Jason
Brown.
Intuition granjeou a Escoffery bons elogios por parte da crítica norte-americana. Dele se disse ter um domínio exemplar do saxofone, robusto em todos
os registos, e ser capaz de deslumbrar
– Coltrane é uma das suas grandes influências.
Mas não se perca de vista o trompete de
Jeremy Pelt. Igualmente jovem, desde
que começou a gravar, como sideman,
em 2001, Pelt não mais parou e já soma
mais de trinta discos, quatro com o seu
cunho – Identity tem selo de 2005. O
registo Close to My Heart (2003), interpretação de temas alheios, valeu-lhe
o epíteto de “estrela emergente” pela
crítica nova-iorquina, e nas páginas do
Wall Street Journal comentou-se que
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Pelt teria big hears – gíria para designar
um músico talentoso. Este trompetista
toca habitualmente com Lewis Nash e
pode ainda ser visto na Cannonball Adderley Legacy Band. É de ficar atento.
O pianista Rick Germanson, Talento do
Ano 2004 pela All About Jazz, é igualmente um dos nomes que correm pela
cidade que nunca dorme. Actualmente
trabalha com a cantora Carla Cook, é
membro da já referida banda de tributo
ao histórico do saxofone-alto, e é ainda professor de piano na Universidade
de Nova Iorque. Inventivo, melódico,
capaz de solos fortes, Germanson também tem discos, dois, escritos por si.
São precisos melhores argumentos?
Seixal Jazz 2005: programa
URL: www.escofferymusic.com
Discografia selectiva
Wayne Escoffery
2004
Intuition
Nagel Heyer 2038
2001
Times Change
Nagel Heyer 2015
21 Outubro
Quinteto
Laurent Filipe
Laurent Filipe (trompete)
Mário Delgado (guitarras)
Rodrigo Gonçalves (piano)
Nelson Cascais (contrabaixo)
Alexandre Frazão (bateria)
Quinteto Laurent Filipe
Vive-se por aí uma escassez de trompetistas. Laurent Filipe vem matar essa
sede, com a apresentação do seu mais
recente disco, A Luz (2004). Multi-facetado, este paulista de nascimento, já
lá vão mais de 40 anos, é hoje músico
executante e compositor, produtor, orquestrador e ainda professor, esse “ôr”
de grande responsabilidade, na Escola
Superior de Música e Artes do Espectáculo, no Porto.
A música entrou muito cedo na sua
vida, já em Portugal, e desde então é
grande parte dela. A formação de Filipe
passou pela Universidade do Kansas e
por um Master em Composição Musical
para Cinema, em Berklee, após o que
se apresentou um pouco por toda a
Europa e EUA, liderando formações ou
como músico convidado. Uma olhada
ao seu currículo desvenda nomes como
Jimmy Mosher, Aldo Romano, Maceo
Parker ou Walter Perkins.
Premiado e largamente requisitado, Filipe compôs e tocou em certames internacionais como a Capital Europeia
da Cultura de Madrid, Lisboa e Porto, e
também na Expo 98. O seu repertório
é extensíssimo e transversal à música
tradicional, jazz e afro-cubana, além de
várias composições para documentários
televisivos, cinema e teatro, incluindo
um musical. Actualmente integra várias
bandas jazz e enquanto sideman ou produtor assina o seu nome em dezenas de
discos, um deles o da cantora Jacinta, A
Tribute to Bessie Smith (2003).
Ao Seixal traz consigo um leque bastante conhecido de músicos: Mário Delgado na guitarra, Rodrigo Gonçalves no
piano, Nelson Cascais no contrabaixo e
Alexandre Frazão na bateria.
O contrabaixista Nelson Cascais é produto cem por cento nacional: alfacinha
de gema, estudou no Conservatório
Nacional e na escola de jazz do Hot
Clube, onde lecciona desde 1995.
Enquanto instrumentista acompanhou
muitos músicos portugueses e alguns
estrangeiros, entre os quais se destacam Perico Sambeat, Aaron Goldberg e
Maria Schneider. Passou também pelos
palcos de vários festivais de jazz portugueses, de Loulé a Serralves, passando
pela Gulbenkian. O músico disponibiliza duas obras em disco, um primeiro
Ciclope (2002) e agora Nine Stories,
produto da safra deste quente ano de
2005. Cascais é um interessante contrabaixista, figura de uma nova geração
de músicos jazz portugueses que lentamente vai emergindo, devidamente
amadurecida.
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E nisto tem muita responsabilidade a
escola de jazz ali à Praça da Alegria.
Rodrigo Gonçalves, o homem do piano, é outro dos que lá ajudam a moldar
talentos, além de integrar a Big Band da
casa há mais de uma década. Tribology
(2005) é o seu cartão de visita.
Mário Delgado e Alexandre Frazão dispensam grandes apresentações. O primeiro é dos mais reputados guitarristas
da nossa praça, senhor de uma discografia de que se destacam Filactera (2002)
e TGB-Tuba, Guitarra e Bateria (2004).
O segundo, que descobriu os encantos
desta praia à beira-mar plantada na década de oitenta, é uma das presenças
mais comuns no que é jazz em português, requisitado por Delgado, Carlos
Barreto, Mário Laginha e outros.
Seixal Jazz 2005: programa
URL: www.laurentfilipe.com
Discografia selectiva
Laurent Filipe
2004
A Luz
Trem Azul – Clean Feed
1994
Ad Lib(itum)
Groove
1992
Divertimento for Duke and Monk
Numérica
1991
Laura
Numérica
Kurt Rosenwinkel Quintet
22 Outubro
Kurt Rosenwinkel
Quintet
Chris Cheek (saxofone tenor)
Kurt Rosenwinkel (guitarras)
Aaron Goldberg (piano)
Joe Martin (contrabaixo)
Eric Harland (bateria)
Guitarra no jazz – a mistura pode incomodar os cépticos ou mais puritanos.
Kurt Rosenwinkel é quem neste festival
vem deitar por terra esse preconceito.
Natural de Filadélfia, em tempos estudante da Berklee School of Music de
Boston, foi no entanto à boa maneira
de “o hábito faz o monge” ou da “necessidade que aguça o engenho” que
este jovem guitarrista aprendeu o jazz.
Tornou-se, então, um número dos índices de abandono escolar para agarrar a
oportunidade de tocar profissionalmente com Gary Burton, em 1992, passando
logo de seguida para a Electric Bebop
Band de Paul Motian, onde se manteve
durante uma década. Corajoso.
Rosenwinkel até começou por seguir
o instrumento da família, o piano, mas,
imagine-se, apaixonou-se pela guitarra
quando ouviu o tema Sgt. Pepper’s dos
Beatles. Rodeado de formação clássica
em casa, o jazz apareceu mais tarde e
pela rádio lá da zona – foi amor à primeira vista, uma paixão que continua acesa
e a crescer nos dias de hoje. A prová-lo
estão seis discos, quatro deles pela Verve, etiqueta que certamente dispensa
apresentações. O primeiríssimo de todos
chamou-se East Coast Love Affair (1997)
e foi editado por uma catalã e bastante
sugestiva Fresh Sound New Talent Records. Tudo a condizer, portanto.
Mas foi desde que se mudou com a
bagagem para a Verve, em 2000, que
Rosenwinkel se tem feito notar e vindo a ser apresentado como uma aposta
ganha daquela casa. Deep Song, disponível nos escaparates desde Janeiro,
quebrou com a linha mais electrónica e
experimentalista do disco anterior, oferecendo sons menos complexos, ain-
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da assim pouco melódicos, mas muito
interessantes pela dialéctica entre os
homens por detrás dos instrumentos.
Isto porque em Deep Song o guitarrista
também mudou de companhias, levando para o estúdio Brad Mehldau – pianista nosso conhecido, pois esteve neste palco na edição de 1998, além de
amigo de longa data e há muito cobiçado por Rosenwinkel para uma gravação
– e o saxofonista Joshua Redman.
Na sua apresentação em Portugal, Rosenwinkel faz-se acompanhar de Chris
Cheek no saxofone tenor, Aaron Goldberg no piano, Joe Martin no contrabaixo e Ari Hoenig na bateria, um conjunto que, à excepção de Cheek, já gravou
com o músico.
Quem também soma créditos, e numa
área tão difícil quanto a bateria, é Ari
Hoenig. Criativo e exímio tecnicista são
alguns dos elogios, que a revista francesa Jazzman resumiu num «desconcertante fenómeno da bateria». Tudo isto
parece ficar mais que provado com o
seu disco de 2002, The Life of a Day,
registado totalmente em solo, uma
peça «essencial para jovens bateristas,
para que se saiba que isto é possível
ser tocado com uma bateria normal!»,
escreveu a All About Jazz. Ficaram
curiosos?
Seixal Jazz 2005: programa
URL: www.kurtrosenwinkel.com
Discografia selectiva
Kurt Rosenwinkel
2005
Deep Song
Verve Records
2003
Heartcore
Verve Records
2001
The Next Step
Verve Records
David Binney Sextet
2000
Enemies of Energy
Verve Records
27 Outubro
David Binney Sextet
David Binney (saxofone alto)
Mark Turner (saxofones tenor e soprano)
Adam Rogers (guitarras)
Craig Taborn (piano)
Scott Colley (contrabaixo)
Dan Weiss (bateria)
David Binney ganhou destaque por algo
mais que a sua música. Os seus discos
tiveram sempre o selo de pequenas e
independentes casas, o músico fundou
a sua própria editora e Binney é uma das
vozes que mais se fazem ouvir contra
o establishment do mercado do jazz.
O monopólio das grandes editoras, o
bloqueio criativo por vezes imposto
ou, por outro lado, caso o artista seja
vendável, a necessidade desenfreada
de gravar novos trabalhos, a tudo isto
Binney tem apontado o dedo e incitado
a uma tomada de posição de músicos e
público, as duas partes do processo –
porque os primeiros trabalham para os
segundos e porque estes exigem dos
primeiros um trabalho sempre único e
de elevada qualidade.
Esta não é a primeira actuação do músico em Portugal – Binney já por cá se
apresentou com diferentes quartetos
de músicos portugueses e americanos
– mas é a estreia liderando um sexteto. Dele fazem parte o guitarrista Adam
Rogers, o pianista Craig Taborn, o contrabaixista Scott Colley, o baterista
Dan Weiss e o saxofonista Mark Turner,
aqui em substituição de Brian Blade e
Chris Potter, respectivamente. Este é o
conjunto responsável pelo aclamado
Welcome to Life (2004), um disco que,
quase quinze anos depois da primeira
gravação do saxofonista, transferiu Binney da categoria dos talentos emergentes para a dos confirmados.
A música deste norte-americano está
longe de ser consensual, ou não fosse ele um dos vanguardistas mais referidos. Os seus discos alternam composições duras e eléctricas – Balance
(2002) será talvez o melhor exemplo
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– com intensos improvisos ao saxofone
e à guitarra, seguindo-se-lhes baladas
melódicas e minimalistas. Impossível
ficar indiferente.
Aliás, o conjunto que acompanha Binney aqui ao Seixal é, todo ele, controverso. Senão, olhemos para Adam
Rogers, o guitarrista de serviço, cujo
Allegory (2003) provocou alguns amargos de boca entre a crítica. «Música séria para ouvintes sérios», disse-se acerca
de uma guitarra «demasiado controlada que acaba não tendo espaço para
voar», ao passo que outros acharam o
disco e o executante de «state of the
art». Então, em que ficamos? Ficamos
para ver, pois claro.
Craig Taborn, que estará aos comandos do piano, é outro dos jovens que
se fazem notar na cena nova-iorquina,
especialmente quando opta pelo revivalismo do Fender Rhodes, forçando-se
sempre a novos limites. A sua música
não é, então, fácil de apreciar, mas não
se trata de querer soar difícil – fronteiras não são barreiras e Taborn é um
aventureiro, como se pode confirmar
em Junk Magic (2004). Certamente que
se lembram dele em 2001, acompanhando Dave Douglas.
Este singular grupo de músicos conta
ainda com o contrabaixista Scott Colley, músico experiente e requisitado
várias vezes por históricos como Jim
Hall e Herbie Hancock, ou mesmo Joe
Lovano e Greg Osby, além de dezenas
de outras participações. Colley é também um dos divulgadores da plataforma Artist Share, um novo modelo de
criação artística, no qual o público tem
parte activa, pois financia o produto final. O processo criativo é a grande mais
valia, e ao fã e financiador são dadas
contrapartidas, que se traduzem num
tratamento personalizado, que vai desde o acompanhamento do processo de
criação até à prioridade no acesso ao
produto acabado, passando por edições especiais de coleccionador. Os
músicos do século XXI.
Seixal Jazz 2005: programa
URL: www.davidbinney.com
Miguel Zenón Quartet
Discografia selectiva
David Binney
2005
Bastion of Sanity
Criss Cross
2004
Welcome to Life
Mythology Records
1998
Free to Dream
Mythology Records
1995
The Luxury of Guessing
Adioquest Records
1991
Point Game
Owl Records/Mesa-Bluemoon Records
28 Outubro
Miguel Zenón
Quartet
Miguel Zenón (saxofone alto)
Luis Perdomo (piano)
Hans Glawischnig (contrabaixo)
Henry Cole (bateria)
Um rapaz porto-riquenho que emigra
para os EUA – esta é uma estória banal.
E é a estória de Miguel Zenón, jovem
saxofonista que vem dando que falar
desde o início do ano, quando lançou
o seu terceiro disco, Jíbaro. O vocábulo
designa os mestiços, frutos da colonização espanhola e escravatura africana
com os nativos de Porto Rico, e serve
também para caracterizar a sonoridade
musical igualmente surgida dessa mescla. Assim, não estamos longe se encontrarmos em Jíbaro um jazz algo latinizado, passagens a sugerir ambientes
tropicais ou exóticos, a remeter para o
que é tradicional da terra onde nasceu
e cresceu Zenón.
O percurso deste músico é ainda curto,
estando muito próximas as passagens
pelas obrigatórias escolas de música
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Mike Fahn & Mary Ann McSweeney Quintet
de Berklee e Manhattan, esta última que
deixou em 2001, trazendo no bolso um
Master em interpretação de saxofone. No
mesmo ano e já na companhia de dois
músicos dos que vêm consigo a esta estreia em Portugal, Zenón gravou um sugestivo Looking Forward, distribuído por
uma etiqueta espanhola.
O seu quarteto é composto por Henry
Cole na bateria, Hans Glawischnig no
contrabaixo e Luís Perdomo no piano.
Este último editou em 2004 o seu primeiro disco enquanto líder, intitulado Focus
Point, que contou com as participações
de alguns dos músicos com quem vem
gravando há já anos enquanto sideman,
um deles sendo Ravi Coltrane – foi, aliás, acompanhando este saxofonista que
Perdomo brilhou e deixou muito boas
referências a quem o viu, no Verão do
ano passado, ali para os lados de Oeiras.
Diga-se, em boa verdade, que o seu disco
é o coroar de um percurso ascendente,
embora sempre e de certa forma encoberto pela sombra de quem fica de frente – que raio, isto dos pianistas ficarem
de costas para a plateia!.. Este pianista
nascido em Caracas e formado em Nova
Iorque é um músico «refrescantemente
inovador», para citar a crítica, intenso na
sua interpretação, exímio na técnica e se
mais não veio provar o seu disco, então
indubitavelmente deixou boas indicações quanto às suas capacidades como
compositor. Olhos postos neste senhor.
E se a viagem de Miguel Zenón para
Boston não tem nada de extraordinário,
a que o austríaco Hans Glawischnig fez
até à mesma cidade também mais não é
que a aplicação prática do conceito de
“aldeia global”. Certamente que quando
estudava violino, em miúdo, Glawischnig
estaria longe de adivinhar que viria a integrar uma banda de sons e ritmos mais
quentes – mas fê-lo, fá-lo, e bem. Este
contrabaixista ronda o meio jazzístico
nova-iorquino há cerca de dez anos, acumula a aprendizagem de ter tocado com
Billy Hart, David Binney, Steffon Harris e
David Sanchez, entre outros, e assinou
todas as composições de um Common
Ground, editado em 2001.
Seixal Jazz 2005: programa
URL: www.miguelzenon.com
Discografia selectiva
Miguel Zenón
2005
Jíbaro
Marsalis Music
2004
Ceremonial
Marsalis Music
2001
Looking Forward
Fresh Sound/New Talent
29 Outubro
Mike Fahn
& Mary Ann McSweeney
Quintet
Rick Margitza (saxofones tenor e soprano)
Mike Fahn (trombones)
John Hart (guitarras)
Mary Ann McSweeney (contrabaixo)
Tim Horner (bateria)
Mike Fahn e Mary Ann McSweeney têm
várias coisas em comum. Ora essa, são
marido e mulher, o que se havia de
esperar? Mas há mais: ambos tiveram
um percurso variado até chegar ao que
fazem hoje, e os dois são excelentes
nisso. Fahn é hoje um reputado trombonista, que começou pelo trompete.
McSweeney toca contrabaixo, a sua
quarta escolha depois de um arranque
no piano. Fahn maneja um estranho
trombone de válvulas, para além do de
varas, e o contrabaixo de McSweeney
aparece misturado por cima dos outros
instrumentos nos seus discos. Que raio.
O currículo de Fahn não inclui aqueles
nomes compridos das escolas norteamericanas, uma vez que o músico é
em grande parte um autodidacta, aperfeiçoado pelas experiências práticas
com dezenas de nomes conhecidos do
jazz. Dizzy Gillespie, Chet Baker, Freddie Hubbard, Bill Perkins e Ted Nash,
entre muitos outros e até Diana Krall.
Steppin’ Out (1989) marcou a sua es-
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treia em gravações, mas foi com Close
Your Eyes and Listen (2002) que Fahn
conseguiu um trabalho forte, a que a
crítica reconheceu o devido valor. «É
sem dúvida uma das referências contemporâneas do trombone de válvulas»
– a dedicação a um instrumento tão peculiar como aquele tipo de trombone
dava, finalmente, os seus frutos.
A formação de que se faz acompanhar
neste palco inclui o guitarrista Rick Margitza e o baterista Tim Horner, que gravaram consigo, além do guitarrista John
Hart e da sua mulher, Mary Ann.
Esta, por seu lado, teve uma formação
clássica, primeiro no piano e depois
no violino. O contrabaixo chegou mais
tarde e foi já com ele que McSweeney
se mudou para Nova Iorque, onde vive
e actua desde 1993. O seu primeiro
disco, Thoughts of You (1999), revelou o seu talento enquanto executante e compositora, ao passo que Swept
Away (2002) confirmou McSweeney e
deu-lhe o consenso geral por parte da
crítica. Influenciada pelas tonalidades
indiana, sul-americana – como prova o
primeiro tema do disco, com uma deliciosa tendência bossa-nova – e clássica europeia, há muitas McSweeney em
Swept Away.
Este quinteto tem especial propensão
para subidas a pulso. O saxofonista Rick
Margitza é mais um exemplo disso mesmo. Depois de se ter lançado ao lado
de Miles Davis, no final da década de oitenta – com quem gravou Amandla, Live
Around the World e Live in Montreux –,
Margitza foi alvo das intenções inflacionadas da Blue Note, do que resultaram
três discos e a porta da rua – vendável,
mas não tanto. Desde então, o músico
influenciado por Wayne Shorter tem reconstruído a sua carreira em pequenas
editoras e ao lado de várias formações,
como o Moutin Reunion Quartet, por
exemplo. Os seus discos mais recentes
enquanto líder, Heart of Hearts (2000) e
Memento (2001), confirmam a imagem
de saxofonista romântico.
Seixal Jazz 2005: programa
URL: www.mikefahn.com / www.maryannmcsweeney.com
Discografia selectiva
Mike Fahn
2002
Close Your Eyes...and Listen
Sparky 1 Productions
1995
Steppin’ Out
Cexton Records
Discografia selectiva
Mary Ann McSweeney
2002
Swept Away
Sparky1 Productions
2001
Thoughts of You
Jazz Magnet Records
Seixal Jazz 2005: programa
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
SEIXALJAZZ EM CARTAZ
1996
1997
1999
2000
2001
1998
SEIXALJAZZ HISTORIAL
CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL
SEIXALJAZZ EM CARTAZ
2003
2005

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