AHEv6n1 - CAIO ARES
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AHEv6n1 - CAIO ARES
Volume 6 • Número 1 Publicação Oficial do Projeto Alfa e Instituto H. Ellis Jan/Fev/Mar/Abr 2010 SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA ISSN 1981-7932 Reprodução Humana SUPER-ICSI: É ÚTIL OU NÃO? Jarys Borges Cabral Júnior página 3 COMO MANTER UM LABORATÓRIO DE FERTILIZAÇÃO IN VITRO DE PEQUENO PORTE, PORÉM DE BOA QUALIDADE? VANTAGENS E DESVANTAGENS DE NÃO SER GRANDE. Maria Cristina Santoro Biazotti página 6 CRIOPRESERVAÇÃO DE OVÓCITOS – A SALVAÇÃO DA FERTILIDADE FEMININA? Cristiano Eduardo Busso, Newton Eduardo Busso página 10 EVENTOS DO PROJETO ALFA página 15 Sexualidade Humana PRIAPISMO: NOVAS ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO. Fernando Facio Jr., Daniel C. Ayres, Luis Cesar Spessoto página 16 INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DA SEROTONINA E O IMPACTO NA FUNÇÃO SEXUAL DA MULHER. Claudia Golcman Glina Rubin página 20 FORUM DE DISCUSSÃO com CAIO ARES “O HOMEM MAIS INTELIGENTE DO MUNDO” sobre SEXUALIDADE HUMANA: CIÊNCIA DO AFETO. Caio Ares página 23 CONSIDERAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO ERÉTIL NO XII CONGRESSO BRASILEIRO DE SEXUALIDADE HUMANA INTERDISCIPLINARIEDADE & SAÚDE SEXUAL. Fernanda Robert de Carvalho Santos Silva página 24 INFORME ESQUEMÁTICO DOS AVANÇOS APRESENTADOS NA 15ª REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE DE MEDICINA SEXUAL DA AMÉRICA DO NORTE - SMSN, REALIZADA EM SAN DIEGO, CALIFÓRNIA, DE 19 A 21 DE NOVEMBRO DE 2009. Ruben Hernandez Serrano página 26 AGENDA DE EVENTOS página 28 Instituto H.Ellis Instituto H.Ellis SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA Carta aos Leitores Arquivos H. Ellis Revista Criada e editada pelo Instituto H. Ellis, para profissionais de saúde. Editores: Sidney Glina, Cila Ankier. Caro Leitor, A versão em espanhol dos AHE ampliou sobremaneira os horizontes de nossa revista. Na última semana recebemos correspondência dos Drs. Mariela Castro e Ramiro Fragas, de Cuba, que nos informaram que gostariam de estender o acesso aos AHE ao profissionais cubanos interessados em Medicina Reprodutiva e Sexual, mas que estavam tendo dificuldades técnicas pelo tamanho de nossos arquivos. Esse problema foi solucionado uma vez que nossa revista está indexada no banco de dados da Imbiomed do México, onde os artigos de cada número estão disponíveis em separado, o que facilita o download, sendo necessário apenas cadastrar-se. Tanto o cadastro quanto o acesso são gratuitos. E o link de acesso é: http://www.imbiomed.com.mx/1/1/articulos.php?method=showIndex&id_revista=98. Dessa maneira, nossos colegas cubanos estão tendo possibilidade de ler nossos artigos, o que muito nos honra. Essa é uma solução que pode ser adotada em outros países onde possa estar ocorrendo o mesmo problema. Este número está recheado de artigos interessantes. Na área de reprodução humana o Dr. Járys Borges Cabral Júnior compara duas técnicas de fertilização a ICSI com e sem a seleção de espermatozoides; a Dra. Maria Cristina Santoro Biazotti apresenta os aspectos funcionais e de manutenção de um laboratório de fertilização de pequeno porte; e os Drs. Cristiano Eduardo Busso e Newton Eduardo Busso abordam como a criopreservação de ovócitos pode auxiliar a fertilização de mulheres submetidas aos tratamentos oncológicos. Co - editor: Jeff Raul Cortés González Conselho Científico: Elvio Tognoti, Jonathas Borges Soares, Nelson Antunes Jr, Newton Busso, Sidnei di Sessa. Secretária: Lourdes Braga Diagramação: Núcleo de Criação Ophicina das Artes Endereço para correspondência: www.arquivoshellis.com.br [email protected] R. Cincinato Braga, 37 – s/102 Bela Vista - CEP: 01333-011 São Paulo - SP Tel: + 55 (11) 3515-7902. Fax: + 55 (11) 3515-7900 Em sexualidade humana os Drs. Fernando Facio Jr., Daniel C. Ayres, Luis Cesar Spessoto fazem uma revisão na literatura com a seleção dos artigos que trazem os novos tratamentos para o Instituto H. Ellis www.instituto-h-ellis.com.br priapismo; a Dra. Claudia Golcman Glina Rubin expõe sobre o impacto causado na função sexual feminina com o uso dos inibidores de recaptação da serotonina; o filósofo Caio Ares nos leva à Projeto Alfa www.projetoalfa.com.br reflexão para discutirmos sobre o papel dos profissionais da área de sexualidade como agentes de transformação social, moral e ética; depois temos dois informes sobre os congressos da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana e da Sexual Medicine Society of North America, apresentados, respectivamente, pelos Drs. Fernanda Robert de Carvalho Santos Silva e Ruben Hernandez Serrano. E para finalizar, apresentamos um calendário de eventos a serem realizados em 2010, gentilmente compilado e enviado pelo Dr. Ruben Hernandez Serrano. Boa leitura! Envie suas sugestões e artigos www.arquivoshellis.com.br - [email protected] Sidney Glina Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 R. Cincinato Braga, 37 – s/102 – Bela Vista CEP: 01333-011 - São Paulo - SP Tel: + 55 (11) 3515-7902. Fax: + 55 (11) 3515-7900 Os editores não se responsabilizam pelas informações de artigos assinados. É permitida a reprodução de parte ou de todo conteúdo desta publicação, desde que citada a fonte e o autor, sem alteração de conteúdo INSTRUÇÃO AOS AUTORES Saiba como colaborar com Arquivos H.Ellis, acessando wwww.arquivoshellis.com.br Página 2 REPRODUÇÃO HUMANA Instituto H.Ellis SUPER-ICSI: É ÚTIL OU NÃO? Járys Borges Cabral Júnior A micromanipulação de gametas surgiu como uma poderosa ferramenta terapêutica para o casal infértil. A técnica da injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI – intracytoplasmic sperm injection) revolucionou o tratamento do fator masculino severo na infertilidade conjugal. Homens outrora rotulados como estéreis passaram a ter oportunidade de paternidade. Nessa técnica, que suplanta uma das barreiras naturais da fertilização, que é a zona pelúcida do óvulo, um espermatozoide previamente selecionado é injetado diretamente no citoplasma do oócito, permitindo fertilização e obtenção de gravidez utilizando gametas masculinos obtidos seja por processamento de sêmen ejaculado ou por técnicas de punção de testículo ou epidídimo. Além dos casos de fator masculino severo (oligospermia e/ou astenospermia severas), a ICSI passou a ser utilizada também nos casos de falhas prévias de ciclos de Fertilização In Vitro (FIV). Alguns autores sugeriram ainda a sua aplicação em pacientes com morfologia espermática alterada (Neves 2002). Desde o seu desenvolvimento em 1992, a ICSI revelouse a mais eficiente técnica de tratamento de infertilidade masculina. A análise da morfologia espermática permite definir espermatozoides normais, mas a relação entre a morfologia espermática e fertilidade ainda não está estabelecida. Embora numerosos estudos não tenham reportado nenhuma relação entre morfologia espermática anormal e os resultados da ICSI, a taxa de sucesso da ICSI parece ser dependente de aspectos morfológicos do espermatozoide injetado. O exame detalhado da morfologia das organelas de espermatozoides móveis, com poderosa magnificação óptica (de 6600x a 12500x), surgiu como um novo método que permite selecionar o melhor espermatozoide antes da injeção no oócito. Desenvolvido por Bartoov em 2002, foi denominado IMSI (intracytoplasmic morphologically selected sperm injection), o que em nosso meio conhecemos como Super-ICSI. A aplicação desse novo método demonstrou que a integridade morfológica do núcleo espermático humano é um importante parâmetro associado com taxa de gravidez na ICSI. A partir de então, a presença de vacúolos na cabeça dos espermatozoides foi estabelecida como fator preditivo de qualidade espermática. Esses vacúolos parecem estar relacionados ao dano no DNA espermático (fragmentação ou desnaturação) e afetariam o desenvolvimento embrionário. Novas classificações de morfologia espermática foram surgindo, como o MSOME (motile sperm organelle morphology examination), com o objetivo de estandardizar essas observações e serem utilizadas na rotina, num futuro próximo, eventualmente substituirão o espermograma convencional (Junca et al. 2009). Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 O primeiro estudo prospectivo comparando resultados da ICSI convencional com os da ICSI modificada revelou melhora significativa na incidência de gestações após a injeção intracitoplasmática de espermatozoide morfologicamente selecionado. Casais com pelo menos duas falhas consecutivas de ciclos de ICSI foram triados para um terceiro ciclo precedido de seleção morfológica de espermatozoides com núcleos normais. Os resultados foram comparados com os de casais que foram para um terceiro ciclo de ICSI convencional. A seleção dos espermatozoides móveis foi estritamente definida por microscopia de alta magnificação óptica (> 6000x). As taxas de gestação após ICSI modificada e após terceiro ciclo de ICSI convencional foram de 66% vs. 30%, respectivamente (P < 0,02) (Bartoov et al. 2003). A partir de então, numerosos estudos foram desenvolvidos para avaliar os resultados dessa nova modalidade terapêutica na infertilidade conjugal. Espermatozoides com anormalidades morfológicas no núcleo podem apresentar baixo potencial de fertilidade. Embora algumas anormalidades nucleares não impeçam que o espermatozoide seja capaz de produzir gestação após ciclo de ICSI, alguns estudos demonstraram vantagens da IMSI em relação aos procedimentos de ICSI convencional, com maiores taxas de implantação (25.0 + 25.9 versus 5.9 + 12.9%, P < 0.01) e gravidez (52.6 versus 18.4%, P < 0.01), e menores taxas de abortamento (10.0 versus 57.1%, P < 0.02) nos casos de microinjeção de espermatozoide com núcleo morfologicamente normal, definido por critérios estritos (Berkovitz et al. 2005). O estabelecimento de critérios de inclusão para pacientes que potencialmente possam beneficiar-se com a realização de IMSI encontra-se ainda em debate entre os diversos autores. Evidências mais recentes apontam que quanto mais defeitos apresentarem os espermatozoides, menores serão as taxas de obtenção de blastocistos, e pior a qualidade dos mesmos. Tornarse-ia mandatória, desta feita, a investigação de anormalidades morfológicas nos espermatozoides que teriam um impacto negativo no resultado do tratamento, e que não são identificadas com o aumento óptico de 400X da ICSI convencional. A análise dos defeitos dos espermatozoides que poderiam afetar negativamente o desenvolvimento embrionário a partir do 5º dia observou pior qualidade dos embriões quando os espermatozoides utilizados na microinjeção apresentavam mais do que duas anormalidades Página 3 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA morfológicas, incluindo defeitos na cabeça e presença de largos vacúolos citoplasmáticos. A combinação dessas anormalidades pode resultar na ausência de fertilização em até 82,3% dos ciclos de ICSI (Cassuto et al. 2007). Pacientes com oligoastenoteratozoospermia severa que são submetidos à análise morfológica de organelas de espermatozoides móveis preliminar, numa magnificação óptica de 6600X, apresentaram vantagens em relação a ICSI convencional. A despeito do pobre prognóstico reprodutivo inicial, pacientes com duas ou mais falhas prévias de ICSI mostraram benefício com a IMSI, com melhora das taxas de gravidez (29,8% vs 12,9%, P = 0,017) e diminuição das taxas de abortamento (17,4% vs 37,5%) (Antinori et al. 2008). O uso da magnificação óptica na seleção de espermatozoide permite identificar com precisão o tamanho e o número de vacúolos nucleares que exercem forte efeito negativo no desenvolvimento embrionário, até o estágio de blastocisto. A ocorrência da formação do blastocisto é significativamente superior quando os espermatozoides selecionados apresentam nenhum ou pequenos vacúolos (56,3 a 61,4%), quando comparados com espermatozoides com largos vacúolos (0 a 5,1%) (Vanderzwalmen et al. 2008). Casais com história prévia de falhas de implantação beneficiam-se com a seleção de espermatozoides sob alta magnificação óptica, alcançando melhores taxas de gravidez. Classificando-se os espermatozoides após magnificação de 12500x em: Grau I - livre de qualquer anormalidade; Grau II - máximo de 2 vacúolos pequenos (< 4% da superfície da cabeça do espermatozoide) e cabeça normal; Grau III - pelo menos um vacúolo grande (> 4%) e cabeça normal; e Grau IV - presença de vacúolos grandes e cabeça com morfologia anormal (MSOME); verificou-se que a formação do blastocisto foi diretamente correlacionada com o tipo de espermatozoide injetado. Oócitos fertilizados com espermatozoides Graus I e II alcançaram o estágio de blastocisto em 73,3% e 45%, respectivamente, dos quais 46,7% e 25,4% foram classificados como blastocistos de boa qualidade. Por outro lado, após IMSI com injeção de espermatozoides Graus III e IV, apenas 9,3% e 0,4% de embriões, respectivamente, desenvolveram o estágio de blastocisto, com 3,5% e 0,1% de embriões de boa qualidade. A IMSI mostrou a importância da seleção de espermatozoide com poucos defeitos nucleares específicos, como vacúolos. A existência de vacúolos largos no núcleo do espermatozoide reduz dramaticamente a proporção de embriões que desenvolvem o estágio de blastocisto, sugerindo dano na integridade do espermatozoide (Zech et al. 2007). Após pelo menos duas falhas de ciclos de ICSI, a IMSI ofereceu melhores taxas de fertilização e melhor qualidade embrionária, o que se associou com maiores taxas de formação de blastocisto e transferência de embrião. Em casais inférteis com falhas prévias de ciclos de ICSI convencional, os resultados de IMSI apresentaram taxas de fertilização (72,2% vs 63,3%, P = 0,02), e porcentagem de embriões top obtidos significativamente superiores (89% vs 81,7%, P = 0,03). O estágio de blastocisto foi alcançado em 41,3% dos ciclos de IMSI, comparados aos 26,7% dos ciclos prévios de ICSI (P = 0,04). A média do número de blastocistos obtidos também foi maior nos ciclos de IMSI (1,5 + 1,9 vs 1,0 + 1,2 – P = 0,03). A transferência de blastocisto, que havia sido possível em apenas 4% dos ciclos de ICSI, aconteceu em 18,7% dos ciclos de IMSI (P = 0,007). O tratamento com IMSI resultou em gravidez clínica e taxas de nascimento de 29,3% e 18,6%, respectivamente, com todos os bebês nascidos saudáveis (Yazbeck et al. 2008). Em outra série, a porcentagem de embriões que alcançaram o estágio de blastocisto foi de 42,8% e 25,2% em ciclos de IMSI e ICSI convencional, respectivamente (P < 0,001), com taxas de blastocistos de alta qualidade de respectivamente 72% e 27,5% (P < 0,001). No entanto, taxas de fertilização, clivagem e qualidade embrionária não foram diferentes entre os dois grupos analisados. Taxas de gravidez clínica e implantação igualmente não mostraram diferenças entre os dois grupos. Nesse caso, a IMSI não teve impacto positivo nos resultados clínicos, contrariando a maioria dos estudos sobre essa técnica (Balaban et al. 2009). A IMSI foi introduzida para proporcionar um melhor resultado clínico em relação à ICSI convencional. Embora a IMSI seja uma opção viável particularmente em alguns grupos de pacientes, como aqueles com falhas repetidas de ICSI, pacientes com idade materna avançada ou sem qualquer abordagem prévia de reprodução assistida possivelmente não se beneficiam com esse procedimento. Comparando-se as técnicas em casais com história de infertilidade masculina, que estavam sendo submetidos à primeira abordagem de reprodução assistida, foi possível observar taxas de gravidez similares em ambos os grupos (36,7% e 37,6% para ICSI e IMSI, respectivamente). Já nos casais com falha prévia de ICSI, as taxas de gravidez na IMSI mostraram-se superiores (27,8% vs 21,4%) (Takeuchi et al. 2009). A fragmentação de DNA é uma das possíveis causas das falhas repetidas em ciclos de ICSI. Avaliando os potenciais benefícios de IMSI em pacientes com falhas repetidas de ICSI convencional causadas pelo fator masculino, e considerando pacientes com diferentes graus de fragmentação de DNA espermático, foi possível observar que a IMSI proporcionou melhores taxas de gravidez e menores taxas de abortamento www.profertilidade.org.br Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Página 4 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA precoce, especialmente em casos de alto e moderado graus de fragmentação de DNA espermático. Além disso, taxas aceitáveis de gravidez também podem ser obtidas em casos de baixo grau de fragmentação de DNA dos espermatozoides, em que as falhas repetidas de ICSI provavelmente não estariam relacionadas à fragmentação do DNA espermático (Hazout et al. 2005). Verificou-se ainda que a alteração morfológica do núcleo do espermatozoide é associada com aparecimento de má-formações congênitas maiores em crianças nascidas após ICSI. A despeito da semelhança estatística nas taxas de abortamento espontâneo tardio, má-formações fetais e mortalidade perinatal, pacientes que realizam ICSI apresentaram um risco significativamente mais alto de má-formações congênitas maiores do que pacientes que realizam IMSI (7,9% vs 2,8%, P < 0,02). A injeção de espermatozoide com núcleo morfologicamente normal poderia diminuir a prevalência de má-formações cardíacas, cromossômicas, gastrintestinais, genitais, dentre outras (Berkovitz et al. 2007). A Super-ICSI ou, tecnicamente, a IMSI vem apresentando-se útil em falhas prévias de ciclos de ICSI convencional, onde predomina o fator masculino severo. Aliás, desde o desenvolvimento da ICSI, a IMSI parece ser o maior avanço no tratamento da infertilidade masculina. Taxas de implantação e gravidez subsequente apresentaram melhores índices em diversas séries. Estudos com maiores casuísticas ainda são necessários para melhor definir outros critérios de inclusão para esse método e apresentar resultados mais consistentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Antinori M, Licata E, Dani G, Cerusico F, Versaci C, d'Angelo D, Antinori S. Intracytoplasmic morphologically selected sperm injection: a prospective randomized trial. Reproductive BioMedicine Online. 2008;16(6):835-41. Balaban B, Yakin K, Isiklar A, Sahin M, Urman B. Clinical outcome of ICSI using morphologically selected spermatozoa by high power magnification: a prospective randomized study. Fertil Steril. 2009;92(3):S88. Bartoov B, Berkovitz A, Eltes F, Kogosovsky A, Yagoda A, Lederman H, Artzi S, Gross M, Barak Y. Pregnancy rates are higher with intracytoplasmic morphologically selected sperm injection than with conventional intracytoplasmic injection. Fertil Steril. 2003;80(6):1413-9. Berkovitz A, Eltes F, Yaari S, Katz N, Barr I, Fishman A, Bartoov B. The morphological normalcy of the sperm nucleus and pregnancy rate of intracytoplasmic injection with morphologically selected sperm. Hum Reprod. 2005;20(1):185–90. Berkovitz A, Eltes F, Paul M, Adrian E, Benjamin B. The chance of having a healthy normal child following Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 intracytoplasmic morphologically selected sperm injection (IMSI) treatment is higher compared to conventional FIV-ICSI treatment. Fertil Steril. 2007;88:S20. Cassuto GN, Vanderzwalmen P, Plouchart JM, Balet R, Larue L, Bouret D. How to improve the rate of good quality blastocysts after ICSI in a new approach for classification of motile human spermatozoa. Fertil Steril. 2007;88(suppl 1):S90. Hazout A, Bacrie PC, Junca A, Tesarik J. Outcomes of High-magnification ICSI in Cases With Low, Moderate and High Degrees of Sperm DNA Fragmentation. Fertil Steril. 2005;84(suppl 1):S78-9. Junca AM, Cohen-Bacrie P, Belloc S, Dumont M, Ménézo Y. La tératozoospermie à l'heure de l'intracytoplasmic morphologically selected sperm injection (IMSI). Gynécologie Obstétrique & Fertilité. 2009;37:552–7. Neves PA. Micromanipulação de gametas. In: Neves PA, Netto Jr. NR, editores. Infertilidade Masculina. São Paulo: Editora Atheneu; 2002. p.211-7. Takeuchi T, Tanaka M, Seida K, Oshima S, Nakamura T, Yoshida A. Is morphologically selected sperm injection useful for non-selected patients? Fertil Steril. 2009;92(3, suppl, sep):S83. Vanderzwalmen P, Hiemer A, Rubner P, Bach M, Neyer A, Stecher A, Uher P, Zintz M, Lejeune B, Vanderzwalmen S, Cassuto G, Zech NH. Blastocyst development after sperm selection at high magnification is associated with size and number of nuclear vacuoles. Reproductive BioMedicine Online. 2008;17(5):617-27. Yazbeck C, Delaroche L, Jacquesson L, Ayel JP, Selva J, Rougier N. Intracytoplasmic morphologically selected sperm injection (IMSI): Is it a good choice after two or more IFV or ICSI failures? Fertil Steril. 2008;90:S416. Zech NH, Bach M, Neyer T, Stecher A, Zintz M, Vanderzwalmen P. Blastocyst formation after intracytoplasmic morphologically selected sperm injection (IMSI) according to the morphological integrity of human sperm nuclei. Fertil Steril. 2007;88(suppl 1, sep):S137. Járys Borges Cabral Júnior:: Urologista do Hospital Getúlio Vargas; Membro Titular da Sociedade Brasileira de Urologia. Recife (PE), Brasil. E-mail: [email protected] Página 5 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA COMO MANTER UM LABORATÓRIO DE FERTILIZAÇÃO IN VITRO DE PEQUENO PORTE, PORÉM DE BOA QUALIDADE? VANTAGENS E DESVANTAGENS DE NÃO SER GRANDE. Maria Cristina Santoro Biazotti É importante compreender que se a medicina reprodutiva pode ser precisa, a chegada de um bebê não é uma certeza com programação cartesiana. Muitos são os mistérios ainda não elucidados pela medicina. Do ponto de vista prático, a assistência médica à reprodução assistida deve se embasar em dois fatos: ? não se trata de um paciente único, mas de um casal; ? os métodos diagnósticos e terapêuticos necessitam de uma equipe com competência multidisciplinar e um centro clínico e biológico, interligados. A qualidade e o êxito dessa terapêutica exigem que profissionais éticos, competentes e estruturados emocionalmente atuem em um centro equipado com recursos tecnológicos atualizados para diagnósticos específicos e execução plena do método. ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL DO CENTRO DE FERTILIZAÇÃO IN VITRO (FIV) consentimento informado, específico para tal procedimento. Faz-se necessária a identificação das fichas e amostras biológicas de forma eficaz com etiquetas contendo a identificação do paciente (de preferência códigos de barras com objetivo de rastrear os espécimes em todas as etapas) para garantir a segurança do processo. Essas etiquetas podem ser emitidas do próprio sistema gerenciador da clínica. Uma linha telefônica deverá estar à disposição para elucidar as dúvidas. Dossiê Após avaliação clínica do casal, considerando todos os prováveis fatores de infertilidade (infeccioso, hormonal, genético, imunológico, etc.), o especialista deverá registrar em um dossiê as informações necessárias: anamnese, exames complementares, conclusões diagnósticas e tratamentos realizados. Os dados serão então computados em um programa próprio e um sistema diário de back up deverá ser realizado. Consultório Os consultórios e o laboratório deverão estar adaptados e próximos de maneira a facilitar a realização de tratamentos específicos. Laboratório de Biologia da Reprodução Laboratório de sêmen TÉCNICAS REALIZADAS Avaliação seminal. Recepção A recepção dos pacientes é de responsabilidade da secretária da clínica que deverá ser experiente, ter boa comunicação e apresentação pessoal. Deverá ainda estar familiarizada com os protocolos e conhecer a dinâmica dos procedimentos. A organização das fichas clínicas e exames complementares também serão de responsabilidade da secretária ou de uma enfermeira com treinamento especializado e experiência na área. Cada casal deverá ser orientado quanto ao procedimento a que será submetido e esclarecido e às chances de sucesso, só então assinará um termo de Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Teste penetração in vitro. Marcadores bioquímicos. MATERIAIS NECESSÁRIOS Microscópio contraste fase e placa aquecida. Centrífuga. Estufa CO2. Pesquisa de anticorpos. Material para preencher e marcar palhetas. Preparação do sêmen. Nitrogênio líquido. Congelamento do sêmen Fluxo laminar. LOCALIZAÇÃO Local da coleta: - próximo ao laboratório - com toilette. Local para estocar os botijões: - próximo aos consultórios. Câmara de segurança. Página 6 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA Avaliação hormonal Ciclos de Fertilização Assistida e Embriologista TÉCNICAS REALIZADAS Dosagens rápidas para monitorização da indução da ovulação: -Estradiol, -Progesterona, -LH, LOCALIZAÇÃO Próximo da recepção das pacientes submetidas à indução da ovulação. NÚMERO DE CICLOS NÚMERO MÍNIMO DE EMBRIOLOGISTAS 1-150 2 151-300 3 301-600 4 >600 1 adicional/200 ciclos Fertilização in vitro TÉCNICAS REALIZADAS Avaliação seminal. Preparação do sêmen. Inseminação dos oócitos. Injeção intracitoplasmática. Cultura de oócitos e embriões. Congelamento de óvulos e embriões. MATERIAIS NECESSÁRIOS Microscópio de contraste de fase e placa aquecida. Câmara de fluxo laminar. Microscópio invertido e micro-manipulador. Fonte: ASRM Practice Comittee. Revised minimum standards for ART programs. Fertil Steril, 2008. LOCALIZAÇÃO Em contiguidade ao centro cirúrgico. Próximo ao local de coleta do sêmen. Próximo à sala de repouso. Centrífuga. Material para congelamento de gametas e nitrogênio líquido. Centro Cirúrgico O centro cirúrgico deverá ter uma ou duas salas reservadas aos procedimentos de reprodução assistida (de acordo com a atividade do centro). Trata-se de uma sala equipada para procedimentos cirúrgicos, permitindo anestesia e reanimação dos pacientes, quando preciso. O equipamento necessário compreenderá um aparelho de ecografia com sondas abdominais e endovaginais para procedimentos intervencionistas. A contiguidade ao laboratório de fertilização in vitro permitirá maior entrosamento entre médicos e biologistas durante a punção dos oócitos e a transferência dos embriões além de maior agilidade na comunicação e tomada de decisão. Organização dos Profissionais A equipe deve ser formada por profissionais especializados e experientes: ? Diretor médico: especialista em infertilidade e endocrinologia reprodutiva; ? Médico: responsável pela punção de óvulos (tendo feito pelo menos vinte aspirações sob supervisão); ? Embriologista (2: 1-150 ciclos); ? Enfermeira: especializada em reprodução assistida; ? Profissionais para serviços gerais. Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Todos os profissionais deverão assinar um contrato de confidencialidade reservando sigilo às informações dos clientes, dessa maneira cria-se responsabilidade judicial frente à clínica. Nesse contrato deve constar por escrito o recebimento de todos os equipamentos de proteção individual (avental, óculos, etc.). O treinamento das normas de biossegurança deverá ser realizado antes do início das atividades profissionais assim como a conferência da vacinação contra tétano e hepatite B. Periodicamente a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) revisa e publica orientações que definem os padrões mínimos necessários para os programas de fertilização assistida, embriologia humana e laboratórios de andrologia. Esse documento vem sendo elaborado para orientar os programas de reprodução assistida (RA) e estabelecer critérios que atendam ou excedam as exigências preconizadas pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) para certificação de laboratórios de RA. O laboratório deverá submeter-se à certificação por organismos próprios e estar em conformidade com os regulamentos e/ou licenciamentos municipais, estaduais ou federais. A escolha da certificação ficará a critério da empresa contanto que o órgão acreditador seja reconhecido no ambiente nacional e/ou internacional da Reprodução Humana. O importante é que a cultura do sistema de gestão da qualidade seja assimilada pela alta administração e seus colaboradores, garantindo a qualidade de todos os processos que envolvam o atendimento do cliente. Deverá estar apto a procedimentos laboratoriais específicos conhecidos como técnicas de fertilização assistida: fertilização in vitro convencional; injeção intracitoplasmática, criopreservação de espermatozóides, óvulos e embriões. O profissional responsável pelo laboratório deverá ter especialização em biologia molecular e fisiologia da reprodução com um período de treinamento de pelo menos seis meses tendo realizado pelo menos 60 procedimentos de Reprodução Assistida sendo que um procedimento é definido como uma combinação entre: identificação e inseminação dos oócitos, incubação dos gametas, Página 7 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA avaliação e transferência de embriões. Esse treinamento deverá ser documentado por um certificado de conclusão do curso sob supervisão de profissional competente. O diretor do laboratório deverá ser responsável pela elaboração e execução dos protocolos em estreita relação com o médico clínico otimizando os resultados nos tratamentos. A manutenção preventiva dos equipamentos será realizada, sempre que possível, pela assistência técnica e na periodicidade estipulada pelo fabricante. Os registros de manutenções corretivas deverão ser arquivados, permitindo futura análise crítica, para eventual substituição do equipamento. Equipamentos para execução das técnicas: Os biólogos e/ou biomédicos, para executarem procedimentos no laboratório, deverão ter realizado sob supervisão, no mínimo, 30 procedimentos de fertilização assistida. Além do treinamento qualificador faz-se necessário realizar um planejamento de treinamentos futuros para colaboradores, sempre no início do ano, a fim de garantir a educação continuada e reciclagem da equipe. Será necessário, para atender às normas vigentes, um gerenciamento de riscos inerentes ao laboratório, compreendendo mapa de risco e sinalizadores. O laboratório deverá ser localizado em local seguro e fisicamente isolado dos outros ambientes, porém próximo da sala de punção de folículos. Novamente atendendo às normas, o piso e as paredes do laboratório deverão ser construídos com materiais de fácil limpeza e higienização. É vetado o uso de produtos químicos ou potencialmente tóxicos, incluindo materiais de limpeza e aerosois para controle de pragas. O fluxo de materiais destinados para a higienização e esterilização deverá estar separado da área de manipulação dos gametas. As incubadoras, geladeiras e botijões, para armazenamento de gametas e embriões congelados, deverão ser monitorados garantindo, respectivamente, o controle da concentração de CO2, temperatura e nível de nitrogênio. Os dados deverão ser tabulados, diariamente, em uma ficha controle assinada pelo técnico responsável pela averiguação. Uma empresa especializada em ar ambiente deverá fazer controles semestrais de partículas, em cada uma das salas, mantendo as classes exigidas em cada ambiente, segundo a resolução de diretoria colegiada nº 33 (RDC/ANVISA nº 33, de 17 de fevereiro de 2006). Na área administrativa serão mantidos registros eletrônicos com todos os eventos da clínica. Essas informações estarão disponíveis para consulta permanente e um back up das mesmas será diariamente gerado. Nos projetos de pesquisa voltados para publicações e participações em eventos científicos o consentimento informado deverá ser previamente tomado e registrado, preservando o sigilo. Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 ? Incubadora com sistema de alarme, visualização digital dos controles de temperatura e CO2. Em casos de emergência deverá haver energia suplementar. ? Câmara de fluxo laminar e placas aquecidas para manter a temperatura e o pH do meio de cultura durante a manipulação dos gametas e embriões. ? Microscópios especiais para recuperação dos oócitos, inseminação dos espermatozoides e identificação dos embriões. ? Materiais descartáveis para as etapas que envolvam extrações de tecidos e fluídos. Antes de qualquer procedimento de reprodução assistida os profissionais envolvidos no processo deverão seguir, rigorosamente, as normas de trabalho encontradas no Manual de Procedimentos para Laboratório de Reprodução Assistida publicado pela Red Latinoamericana de Reproducción Asistida e NCCLS (National Committee for Clinical Laboratory Standards). Esse último é uma organização internacional, interdisciplinar, sem fins lucrativos que visa contribuir com a comunidade de saúde, pela educação e desenvolvimento de padrões e diretrizes. É importante que todos os procedimentos realizados, bem como o emprego de pessoal, formação, avaliações e atividades de educação continuada sejam documentados. Esses registros serão mantidos por período de tempo estipulado pelas legislações municipal, estadual e federal. A equipe médica deverá ser estimulada, por intermédio de patrocínio (contratual), a realizar atualização científica continuada com participação em congressos, oferecimento de assinaturas de revistas especializadas e outras publicações. Manutenção e Funcionamento de um Pequeno Centro de FIV A análise do desenho de um centro de FIV nos permite identificar que as necessidades para atender à legislação são semelhantes, independentes da grandeza do empreendimento, enquanto que a apropriação dos custos dos recursos humanos e da área física obedecem à proporcionalidade. Os custos relacionados aos equipamentos têm valor agregado por menor que seja a unidade e vai exigir um mínimo de procedimentos para Página 8 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA suprir a depreciação, a manutenção e prever substituições enquanto que uma clínica de grande porte terá esses valores diluídos. Naturalmente, eventuais fusões ou incorporações com outros laboratórios do mesmo segmento é a maneira mais rápida de reduzir o custo fixo, no entanto não é a única, visto que outras alternativas, como acima demonstrado, levarão a um crescimento rápido em função da facilidade administrativa que decorre da eficiência e proximidade com o paciente. A vantagem competitiva do pequeno centro reside na melhor relação com o paciente e o empresário com essa visão poderá experimentar a evolução de seu empreendimento aliada à boa qualidade na prestação de serviço. Desvantagens ? Custo: na instalação, o investimento é semelhante e quanto maior a escala menor o custo fixo. ? Rentabilidade: a rentabilidade é diretamente proporcional à grandeza do empreendimento. ? Controle de qualidade: demora na identificação de problemas pontuais. ? Fragilidade no sistema humano: a responsabilidade técnica em um pequeno centro repousa sobre poucos profissionais, podendo constituir dificuldade na substituição. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ANVISA. Resolução RDC nº 33. DOU - Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 05/03/2003. p.1-20. ANVISA. Resolução RDC nº 33. DOU - Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 17/02/2006. p.1-24. Borrero C, Franco Júnior JG. Manual de Procedimentos - Laboratório de Reprodução Assistida. Red Latinoamericana de Reproducción Asistida, 2006. Burk MD. Laboratory medicin in the 21 century. Am J Clin Pathol. 2000;114:841-6. Karaeren Z, Elmali E, Akan AO. Evaluation of preanalytic errors in clinical laboratory practice. Labmedicine. 2006;37(8):478-80. Revised minimum standards for practices offering assisted reproductive technologies. Fert Steril. 2008;90(3):166-8. Sharkey F (ed.). Laboratory Accreditation Manual. College of American Laboratory Pathologists; 2007. p.1-155). Westgard JO, Westgard SA. The quality of laboratory testing today. Am J Clin Pathol. 2000;125:343-54. Vantagens ? Satisfação pessoal: o profissional responsável pelo laboratório tem mais autonomia e, consequentemente, mais facilidade para administrar a empresa controlando a eficácia dos protocolos e o rigor na execução das técnicas, potencializando assim os resultados. ? Qualidade na prestação do serviço: o paciente recebe tratamento personalizado. Considerando as vantagens e as desvantagens, um pequeno centro tem seu lugar e deve estar sempre pronto e estruturado para um crescimento orgânico. Maria Cristina Santoro Biazotti: Especialista em Reprodução Humana com formação na Clinique Saint-Antoine, em Rouen, e Maternité Port-Royal, em Paris, França; Especialista em Cirurgia Robótica com formação nos hospitais Americano, em Paris, França e Ambroise Paré, em Mons, Bélgica; Mestra e Doutora em Tocoginecologia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Nova Campinas (SP), Brasil. E-mail: [email protected] 12e-manipulacaodafertilidade.blogspot.com Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Página 9 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA CRIOPRESERVAÇÃO DE OVÓCITOS – A SALVAÇÃO DA FERTILIDADE FEMININA? Cristiano Eduardo Busso, Newton Eduardo Busso INTRODUÇÃO C om o aumento da sobrevida após o tratamento de neoplasias malignas, a melhora da qualidade de vida dos sobreviventes passou a fazer parte do escopo dos profissionais que tratam desses pacientes. A saúde reprodutiva está diretamente relacionada à qualidade de vida, principalmente em pacientes do sexo feminino tratadas durante o menacme. Os tratamentos para o câncer podem ser extremamente gonadotóxicos e muitos casos evoluem para a falência ovariana prematura. Entre as diferentes estratégias propostas para preservar a fertilidade, algumas delas experimentais, a criopreservação de ovócitos é uma das mais promissoras. A criopreservação de ovócitos evoluiu rapidamente nos últimos três anos, e os protocolos, que antes ofereciam baixo rendimento, hoje proporcionam taxas de sobrevivência de mais de 90% e a utilização de ovócitos descongelados com o mesmo desempenho de ovócitos frescos. Outra aplicação para a criopreservação de ovócitos seria a de preservar a fertilidade de mulheres que optaram por postergar a maternidade, expondo-se ao envelhecimento ovocitário e outras patologias que podem levar à infertilidade. CRIOPRESERVAÇÃO DE OVÓCITOS (CO) Em 1972 demonstrou-se por primeira vez que embriões de mamíferos têm a capacidade de resultar em gestação e nascimento (Whittingham et al. 1972). Em 1983 e 1984 foram reportados os primeiros nascimentos provenientes de embriões humanos criopreservados (Trounson e Mohr 1983, Zeilmaker et al. 1984). Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Na década de 1990 inúmeros estudos sobre a CO foram publicados e em 1997 conseguiu-se a primeira gestação utilizando-se essa técnica (Porcu et al. 1997). Apesar de o aparente sucesso, a CO não teve aplicabilidade prática ou difusão durante muitos anos devido aos resultados pobres, principalmente relacionados às taxas de sobrevivência. Nos últimos anos, contudo, estudos focados na fisiologia ovocitária e melhora dos meios de cultivo e crioprotetores aumentou expressivamente o número de relatos de nascimentos pós CO (Borini et al. 2007, Coticchio et al. 2007, Chang et al. 2008, Parmengiani et al. 2008, Shapiro et al. 2008, Nagy et al. 2009). O método de congelamento rápido que induz à vitrificação de ovócitos abriu novo horizonte no campo da criopreservação. As técnicas de vitrificação de ovócitos permitem resultados similares aos obtidos com ovócitos frescos e muito superiores se comparados ao método de congelamento lento. Nos últimos três anos, foram relatadas, em diferentes centros, taxas de sobrevivência de mais de 95% após vitrificação/desvitrificação, taxas de fertilização de 75%-90%, taxas de gestação de 32%-65% por transferência de embriões e taxas de nascidos vivos de mais de 50% (Katayama et al. 2003, Kuwayama et al. 2005, Stehlik et al. 2005, Lucena et al. 2006, Selman et al. 2006, Vajta e Kuwayama 2006, Al-Hasani et al. 2007, Antinori et al. 2007, Kagawa et al. 2007, Kuwayama 2007). Ana Cobo, em estudo prospectivo randomizado, comparou o desempenho de ovócitos vitrificados e frescos de doadoras. Não foram encontradas diferenças significativas entre os resultados clínicos (Cobo et al. 2008). Além disso, o processo de vitrificação é mais barato, tecnicamente menos complicado e mais rápido que o congelamento lento. O número de óvulos necessários a serem congelados para proporcionar às pacientes boas chances de gestação ainda não está estabelecido. Sabe-se que o processo de fertilização in vitro é uma sequência de perdas: nem todos os folículos proporcionam ovócitos, nem todos os ovócitos obtidos são maduros, por melhores que sejam as taxas de sobrevivência, essas não chegam a 100%, as taxas de fertilização variam entre 70 e 80% e as taxas de implantação por embrião não passam de 30%. Portanto, supõe-se que quanto maior o número de ovócitos a ser preservado, maior a chance de a paciente conseguir uma gestação no futuro. Para tanto, é necessário que a paciente seja submetida a um protocolo de estímulo ovariano controlado. Esse tratamento não é isento de riscos e a síndrome de hiperestímulo ovariano é uma das complicações mais temidas (Busso et al. 2008). Página 10 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA ? Transposição ovariana: é o deslocamento lateral dos CÂNCER E FERTILIDADE Estima-se que em 2008 aproximadamente 230.000 casos de câncer em mulheres foram diagnosticados no Brasil (Brasil. Ministério da Saúde 2008). Estima-se ainda, que entre 8 e 10% desses casos ocorreram em mulheres em idade fértil. Todos os anos, centenas de mulheres e crianças são expostas a tratamentos potencialmente esterilizantes para o tratamento de câncer. Com os novos protocolos de tratamento para o câncer em pacientes jovens, as taxas de cura podem alcançar cifras acima de 90% (Ries et al. 1999), no entanto, muito frequentemente, esses tratamentos resultam em infertilidade por falência ovariana prematura (FOP) (Sonmezer e Oktay 2004, 2006). O impacto sobre a reserva ovárica depende da idade em que o tratamento é realizado, do tipo de câncer e das doses de quimioterapia (QT) e radioterapia (RT). Os agentes alquilantes são os quimioterápicos responsáveis pelo maior risco de morte de folículos primordiais. Entre esses agentes, a ciclofosfamida é um dos mais comumente utilizados, presente na maioria dos protocolos para câncer de mama e na QT pré transplante de medula óssea. Mais de 90% dos casos de câncer de mama são diagnosticados em estadio local ou loco-regional. Nesses casos, as taxas de sobrevida em 5 anos podem ultrapassar 90%. Pacientes submetidas a tratamento para o câncer de mama podem ter até 89% de FOP (Goodwin et al. 1999). ovários, por via laparoscópica, para fora do campo de irradiação, em direção às goteiras parieto-cólicas, evitando assim sua exposição à radiação. Essa técnica tem aplicabilidade limitada já que é indicada somente em casos de irradiação pélvica. ? Criopreservação de tecido ovariano: apenas 7 nascimentos estão descritos após autotransplante de tecido ovariano criopreservado e não está claro se foi a utilização dessa técnica que permitiu a ocorrência da gestação (Donnez et al. 2004, Meirow et al. 2005, Deemestere et al. 2006, Oktay 2006, Silber 2008). ? Criopreservação de embriões: largamente utilizada em clínicas de reprodução assistida, essa é uma abordagem interessante e com resultados palpáveis, porém não atende às mulheres sem parceiros, além de gerar dilemas éticos, legais e até religiosos. ? Criopreservação de ovócitos: em pacientes oncológicas, muitas vezes não se dispõe de tempo para realizar o protocolo de estímulo ovariano, o que pode impedir que a CO seja realizada. Além disso, o estímulo ovariano aumenta os níveis de estradiol, o que pode ser prejudicial em alguns tipos de câncer, como os de endométrio e mama. Nesses casos, protocolos alternativos podem ser utilizados. Estudos utilizando tamoxifeno e letrozol mostraram recuperação de menor número de ovócitos em relação aos protocolos tradicionais, porém as taxas de sobrevida e recidiva não foram alteradas pelo uso desses protocolos (Oktay et al. 2003, Azim et al. 2007). A sobrevida de pacientes com câncer na infância também aumentou sensivelmente devido ao transplante de medula óssea (TMO). A QT e a irradiação corporal total utilizada no tratamento pré TMO pode resultar em FOP em grande parte das pacientes (Meirow 2000). As pacientes e/ou seus parentes devem ser informados dos potenciais riscos do tratamento para o câncer sobre a fertilidade futura e discutir métodos para tentar preservá-la. Muitas são as abordagens para tentar preservar a função ovárica de pacientes que se submeterão a tratamento potencialmente gonadotóxico. A estratégia dependerá do tipo de câncer, da idade da paciente, da existência ou não de parceiro além de outros fatores. Algumas das estratégias para preservar a fertilidade são experimentais e outras têm eficácia reduzida. As mais importantes estão listadas abaixo: ? Agonistas do GnRH: a administração desses fármacos durante a QT/RT pode diminuir o dano à reserva ovárica. Os mecanismos de ação não são conhecidos e os resultados dos estudos são controversos (Sonmezer e Oktay 2006). Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Anne Guedes POSTERGAR A MATERNIDADE A proporção de mulheres que têm sua primeira gestação depois dos 35 anos de idade aumentou consideravelmente nos países industrializados. Nos Estados Unidos, a taxa de nascimentos por 1000 mulheres entre os 35-39 anos de idade aumentou de 19.0 em 1976 para 37.4 em 1998 (Ventura et al. 1988, Guyer et al. 1999). No mesmo período, inúmeros estudos mostraram que mulheres com 35 anos ou mais têm maior frequência de problemas reprodutivos: infertilidade, aborto espontâneo, má-formações Página 11 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA congênitas e complicações obstétricas (Schwartz e Mayaux 1982, Newcomb et al. 1991, Roberts et al. 1994, Nybo Andersen et al. 2000). CONCLUSÃO Estudos demográficos mostram que atualmente mais mulheres estão postergando a maternidade (Botting and Dunnell 2000). Essa tendência causa aumento na idade média de mulheres apresentando infertilidade. A sobrevida pós-câncer, principalmente em crianças e adultos jovens aumentou sensivelmente nas últimas duas décadas. Apesar desse fato, pouco se fala sobre a fertilidade futura desses pacientes, que pode ser gravemente comprometida durante o tratamento químio ou radioterápico. A idade da mulher é o fator determinante mais importante para predizer as chances de gestação, seja ela espontânea ou por meio de tratamento, com declínio após os 35 anos de idade (Menken et al. 1986, Templeton et al. 1996). A qualidade de vida pós-câncer contempla a possibilidade de a mulher gestar e ter filhos e o tema (risco de infertilidade e possibilidades de preservação da fertilidade) deve ser abordado e discutido com as pacientes e/ou familiares antes do tratamento. Muitos dos problemas acima citados se devem ao fato de que a mulher nasce com estoque limitado de ovócitos, com os quais contará durante todo seu menacme. A partir dos 35 anos, essa reserva corresponde a menos da metade da inicial. Além disso, a qualidade dos ovócitos diminui com o tempo. Para pacientes oncológicas a CO traz benefícios e chances palpáveis, principalmente àquelas sem parceiro, porém o tempo entre diagnóstico e início da QT/RT e o tipo de protocolo utilizado ainda são dificuldades importantes a serem sobrelevadas. Grande parte das mulheres não tem ciência das potenciais consequências de postergar a maternidade. O ginecologista deve realizar um aconselhamento préconcepcional e proporcionar às pacientes orientação para que se realize um planejamento familiar adequado (Tough et al. 2006). Embora muitos serviços já estejam comercializando a criopreservação de ovócitos como meio de impedir o envelhecimento ovocitário, em outubro de 2007 a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva publicou um parecer dizendo que a criopreservação de ovócitos é experimental e não deve ser comercializada como maneira de postergar a maternidade (ASRM 2007). A “Human Fertilization and Embryology Authority” no Reino Unido considera legítima a indicação de CO para mulheres com risco de dano à reserva ovárica secundária ao tratamento de câncer mas seria “eticamente questionável” a CO em mulheres que o fazem simplesmente por decisão sobre seu estilo de vida. A pílula anticoncepcional proporcionou liberdade reprodutiva à mulher, no entanto essa liberdade é limitada, já que o potencial reprodutivo feminino tem diminuição importante a partir do 35 anos de idade. Para mulheres que desejam postergar a maternidade, a CO é uma ferramenta bastante interessante e promissora, porém são necessários estudos de seguimento dos nascimentos utilizando a técnica, especialmente a vitrificação, uma vez que suas implicações biológicas não estão completamente estabelecidas. Em um futuro próximo haverá a possibilidade de criação de bancos de ovócitos, para utilização autóloga ou heteróloga o que representará uma revolução para a fertilidade feminina, tanto para mulheres que desejam “guardar” seus óvulos para sua utilização no futuro, como para aquelas submetidas a tratamentos que possam afetar sua reserva ovárica. Para todos os efeitos, as pacientes devem ser orientadas em relação às limitações desse método e a criopreservação de ovócitos deve ser oferecida como técnica experimental. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Al-Hasani S, Ozmen B, Koutlaki N, Schoepper B, Diedrich K, Schultze-Mosgau A. Three years of routine vitrification of human zygotes: is it still fair to advocate slow-rate freezing? Reprod Biomed Online. 2007;14:288–93. Antinori M, Licata E, Dani G, Cerusico F, Versaci C, Antinori S. Cryotop vitrification of human oocytes results in high survival rate and healthy deliveries. Reprod Biomed Online. 2007;14:72–9. Almada Negreiros, Maternidade, 1935 Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 ASRM - American Society for Reproductive Medicine. ASRM Urges Caution, Strong Counseling for Women Página 12 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA Seeking Egg Freezing. 2007. Disponível em: http://www.asrm.org/Media/Press/ AM07urgecautioneggfreezing.html. Azim AA, Costantini-Ferrando M, Lostritto K, Oktay K. Relative potencies of anastrozole and letrozole to suppress estradiol in breast cancer patients undergoing ovarian stimulation before in vitro fertilization. J Clin Endocrinol Metab. 2007;92(6):2197-200. 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Contrasting patterns in in vitro fertilization pregnancy rates among fresh autologous, fresh oocyte Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Cristiano Eduardo Busso: Especialista em Medicina Reprodutiva – Projeto Alfa. São Paulo (SP), Brasil. E-mail: [email protected] Newton Eduardo Busso: Especialista em Medicina Reprodutiva – Projeto Alfa. São Paulo (SP), Brasil. Página 14 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA EVENTOS DO PROJETO ALFA Reunião científica mensal aberta a todos os profissionais da área de reprodução. www.spmr.com.br Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Página 15 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA PRIAPISMO: NOVAS ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO Fernando Facio Jr., Daniel C. Ayres, Luis Cesar Spessoto INTRODUÇÃO A palavra priapismo originou-se da mitologia Grega. Priapus foi o deus da fertilidade, e o seu grande falo representava o símbolo do poder masculino (Figuras 1a e 1b) (Papadopoulos e Kelami 1988). O primeiro caso de priapismo foi publicado por Tripe em 1845 (Pautler e tradicionais são empíricos, sem metodologia e protocolo rígido a seguir. Os resultados do retorno da função erétil normal são pobres, especialmente nos casos de priapismo recorrente. Assim, é fundamental o conhecimento dos mecanismos moleculares para a formulação de tratamentos racionais, estratégicos e de prevenções da população de alto risco, como os portadores de doença falciforme e casos de priapismo recorrente (Yuan et al. 2008). Esta revisão busca focar os recentes avanços do conhecimento molecular em priapismo e a utilização de estratégias para o tratamento e prevenção. MATERIAIS E METODOS Figuras 1a e 1b. Duas representações de Priapo, que na mitologia grega era considerado o deus da fertilidade. Brock 2001). O priapismo é uma disfunção sexual onde ocorre ereção peniana prolongada e persistente sem estímulo ou desejo e acompanhada de dor por mais de 4 horas (Burnett e Bivalacqua 2007). Deve ser considerado uma urgência urológica, devido à possibilidade de isquemia, necrose e lesões fibróticas do tecido erétil cavernoso, além de alterações celulares endoteliais e na musculatura lisa cavernosa irreversível (Bennett e Mulhall 2008). O processo etiológico e fisiopatológico do priapismo ainda é pouco conhecido. Hemodinamicamente, por intermédio da dosagem dos gases sanguíneos intracavernosos, o priapismo pode ser classificado em dois tipos distintos: a) isquêmico (venooclusivo, baixo fluxo) e b) não isquêmico (arterial, alto fluxo). O priapismo pode apresentar-se na forma: aguda, crônica (geralmente de alto fluxo) e intermitente (recorrente,”stuttering”), baseado no Guidelines da “American Urological Association”(AUA) (Montague et al. 2003, Bivalacqua e Burnett 2006). As alterações contínuas, prolongadas, recorrentes e lesivas são devidas às múltiplas etiologias que podem resultar em disfunção erétil (DE) irreversível. Condutas atuais sofrem com o pouco entendimento da fisiopatologia, especialmente em nível molecular. Os tratamentos Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Realizou-se revisão da literatura por meio do Pubmed, utilizando as seguintes palavras chaves: “priapismo“, “priapismo de baixo-fluxo”, “priapismo de alto fluxo”, “síntese de óxido nítrico endotelial”, “disfunção erétil”. A pesquisa foi limitada à literatura publicada em inglês. Restrita a artigos publicados entre os anos de 2006 e 2009. Durante a revisão foram encontrados 136 artigos. Os resumos e os artigos foram revisados independentes dos autores. Foram selecionados apenas 17 artigos que abordavam os avanços no tratamento do priapismo. FISIOPATOLOGIA DO PRIAPISMO 1 - Mecanismo do priapismo isquêmico Priapismo isquêmico consiste em uma disfunção entre os mecanismos de relaxamento e constrição, onde predispõem o pênis a condições de hypoxia e acidose (Figura 2). Figura 2. Ultrasson Doppler representando priapismo de baixo fluxo. Página 16 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA De acordo com estudos experimentais, sabe-se que o dano irreversível do pênis acontece depois de 12 horas de apresentar esse tipo de priapismo (Bivalacqua e Burnett 2006). O tipo mecânico está associado com 80% de aparecimento, relacionado aos múltiplos distúrbios de fluxo de sangue para o pênis e refere-se à etiologia de fenômenos tromboembólicos, síndromes de hiperviscosidade como visto em leucemias agudas e em alterações congênitas da hemoglobina que ocasiona a anemia das células falciformes, que é comum na população negra. Associado a essa condição clínica, há outros exemplos como: abcessos pélvicos, tumor de pênis, tumores perianais e uso de medicamentos tais como a trazodona, maconha, cocaína, álcool e injeções intracavernosas de agentes vasoativos. O tipo nervoso, considerado ser primariamente em 20% dos casos, refere-se à suspeita de desordens neurológicas que supostamente afetam o centro da ereção. Essa categoria inclui as infecções como a sífilis, tumores cerebrais, epilepsia, intoxicações e lesões cerebrais e trauma da medula espinhal (Hinnman 1960). 2 - Mecanismo do priapismo não-isquêmico Priapismo não-isquêmico geralmente é de origem traumática. Essa forma apresenta alto fluxo de sangue oxigenado (Figura 3a,b) e baixa pressão intracavernosa o que a diferencia do priapismo isquêmico (Ciampalini et al. 2002). Inicialmente, o mecanismo do priapismo não-isquêmico foi postulado devido a relatos de lesões arteriogênicas. Assim, com arteriografias penianas, cavernosografias e embolização seletiva, os investigadores determinaram que o trauma induzia à formação de fístula entre a artéria cavernosa e os espaços lacunares do tecido cavernoso, permitindo a passagem de sangue arterial e desenvolvendo um priapismo não-isquêmico (Brock et al. 1993). 3 - Mecanismo do priapismo intermitente (Stuttering) Priapismo intermitente (stuttering) é a forma isquêmica onde o achado de ereções que podem ser de alto ou baixo fluxo, ocorrem repetidamente com períodos de detumescência peniana e tipicamente inicia-se durante o sono. Esse histórico identifica o paciente que mantém priapismo recorrente e assim sinaliza ao médico a necessidade de buscar opções para prevenção de futuros episódios (Montague et al. 2003). A proposta para o mecanismo molecular é similar ao mecanismo não farmacológico de indução do priapismo isquêmico: devido a deficiência endotelial de óxido nítrico no pênis o que gera desregulação do cGMPproteino- kinase, PDE5 e RhoA/Rho-kinase (Champion et al. 2005). Isso segue a base científica de que há uma desregulação da fosfodiesterase 5, que se modifica em sentido positivo com o uso crônico da sildenafila. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tratamento Medicamentoso do Priapismo No priapismo não-isquêmico, a conduta conservadora é a primeira linha de tratamento; assim a embolização seletiva e as cirurgias são reservadas para casos refratários e traumas severos. Contrário a isto, o priapismo isquêmico necessita de intervenção imediata, como a aspiração com o objetivo de desfazer a síndrome compartimental instalada (Figura 4). Figura 4. Punção de aspiração para priapismo de baixo fluxo. Figura 3a,b.Priapismo de alto fluxo arterial (trauma peniano). Com base nesse mecanismo, a conduta tornou-se conservadora e, caso haja persistência do priapismo, a embolização super seletiva em muitos casos traz resultados desejados (Burnett 2003). Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 A primeira parte do tratamento deve ser a aspiração do corpo cavernoso usando scalp 19 ou 21F e a extração de 5 a 20 cm3 de sangue com três objetivos: 1º) diagnóstico, nessa forma de priapismo, obtêm-se um sangue escuro, quase preto, que pode ser analisado por gasometria, onde pode-se encontrar hipoxemia, hipercapnia, acidose e, assim, ratificar essa forma de priapismo; 2º) somente com a extração de sangue também se pode diminuir a dor; 3º) a aspiração também pode ocasionar uma contração do músculo liso do pênis, portanto, terminar com o evento do priapismo e, dessa forma, ajudar no tratamento do paciente. A aplicação intracavernosa de simpaticomiméticos segue como a melhor opção caso não ocorra a resolução do quadro. O agente da injeção é a fenilefrina a uma diluição de 100 a 500 µg/ml e isso deve ser feita em injeções repetidas intracavernosas a cada 5 minutos Página 17 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA durante a primeira hora. Finalmente, se necessário, está indicado o tratamento cirúrgico com a realização de shunts. O objetivo é resolver rapidamente o quadro de ereção indesejada e prevenir danos ao tecido erétil cavernoso. Embora a conduta em casos de priapismo intermitente esteja em desenvolvimento, terapias medicamentosas atuais incluem: anti-androgênios, baclofen, cetoconazol, digoxina, azul de metileno, terbutalina, entre outros que têm baixa eficácia ou não atendem aos mecanismos de neurotransmissão na vascularização peniana (Burnett 2003, Montague et al. 2003). O guideline da “American Urological Association” (AUA) dá suporte apenas ao uso de tratamento hormonal como terapia de primeira linha, no entanto, esse traz complicações na esfera sexual e sistêmica devido à deficiência androgênica (Montague et al. 2003). Aliados à necessidade contínua de novas terapias e condutas preventivas naturais, de aplicação prática que possam mostrar que os episódios de priapismo recorrentes diminuam, principalmente na população de alto risco (anemia falciforme) estudos moleculares estão em andamento. Recentes evidências mostram que o priapismo está relacionado com desregulação da expressão da fosfodiesterase 5 (PDE5) no pênis (Champion et al. 2005). A fosfodiesterase tipo 5 é uma molécula importante para regulação da resposta erétil e tem influência marcante no tono vascular. Estudos demonstraram que períodos longos em uso de inibidores de PDE5 podem corrigir ou restaurar a atividade enzimática e assim evitar recorrência de episódios de priapismo. Champion e colaboradores (2005) estabeleceram um modelo experimental de priapismo em ratos com deficiência de eNOS, onde esse fenótipo estava relacionado com a desregulação da PDE5 no pênis (tolerante a reserva de nitrato). O uso crônico de sildenafila nesses fenótipos resultaram em regulação da PDE5 no pênis e subsequentememte, nenor incidência de episódios de priapismo. Burnett e colaboradores (2006) administraram 25 mg de sildenafila diariamente e compararam com o uso de 5mg de tadalafila 3 vezes por semana em uma série de homens com anemia falciforme e acharam, a longo prazo, que os episódios de priapismo diminuiram em ambos os grupos (Burnett et al. 2006). A terapia de baixa dose com inibidor de PDE5 vem tornando-se um tratamento paradoxal para o priapismo, pois esse é semelhante ao uso de medicação que normalmente é prescrita para a melhora das ereções. No entanto, enquanto os inibidores de PDE5 mostrarem sinais de eficácia na prevenção do priapismo recorrente, ainda assim outras condições adicionalmente devem ser estudadas. Outro estudo experimental demostrou o papel da TGF-beta1, uma citoquina que é vital na reparação tecidual está envolvida no progresso de fibrose que ocorre no priapismo. A regulação de TGF-beta1 ocorre durante o período de hipoxia e em resposta ao stress oxidativo. Investigadores recentemente mostraram que a administração precoce de TGF-beta1 neutralizou a ação de anticorpos em ratos, limitando a ação fibrótica. Enfim, evidências mostram que tanto em modelo animal como em humanos, o inibidor de PDE5 atua como regulador de óxido nítrico, dessa forma sinalizando a redução de complicações como fibrose e restabelecendo as condições fisiológicas do pênis (Rajfer et al. 2006). CONCLUSÃO Embora o priapismo seja uma ocorrência incomum afetando apenas uma parcela pequena da população de homens, o diagnóstico precoce e condutas corretas são necessários para prevenir e reverter as complicações de caráter irreversível. O entendimento dos mecanismos moleculares envolvidos na patogênese irão trazer grandes avanços nas intervenções médicas no futuro. Atualmente, drogas que atuem na cascata NO/cGMP/PDE5 e previnam a liberação de citoquinas estão na lista de investigação terapêutica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bennett N, Mulhall J. Sickle cell disease status and outcomes of African-American men presenting with priapism. J Sex Med. 2008;5(5):1244-50. Bivalacqua TJ, Burnett AL. Priapism: new concepts in the pathophysiology and new treatment strategies. Curr Urol Rep. 2006;7(6):497-502. Brock G, Breza J, Lue TF, Tanagho EA. High flow priapism: a spectrum of disease. J Urol. 1993;150(3):96871. Burnett AL. Pathophysiology of priapism: dysregulatory erection physiology thesis. J Urol. 2003;170(1):26-34. Ciência na mídia Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Página 18 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA Burnett AL, Bivalacqua TJ. Priapism: current principles and practice. Urol Clin North Am. 2007;34(4):631-42, viii. Burnett AL, Bivalacqua TJ, Champion HC, Musicki B. Long-term oral phosphodiesterase 5 inhibitor therapy alleviates recurrent priapism. Urology. 2006;67(5):1043-8. Champion HC, Bivalacqua TJ, Takimoto E, Kass DA, Burnett AL. Phosphodiesterase-5A dysregulation in penile erectile tissue is a mechanism of priapism. Proc Natl Acad Sci U S A. 2005;102(5):1661-6. Rajfer J, Gore JL, Kaufman J, Gonzalez-Cadavid N. Case report: Avoidance of palpable corporal fibrosis due to priapism with upregulators of nitric oxide. J Sex Med. 2006;3(1):173-6. Yuan J, Desouza R, Westney OL, Wang R. Insights of priapism mechanism and rationale treatment for recurrent priapism. 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Fernando Facio Jr.: Doutor em Medicina da Saúde pela FAMERP; Professor Adjunto da Disciplina de Urologia da FAMERP; Responsável pelo ambulatório de Andrologia FAMERP/FUNFARME; Pesquisador CNPq; Research Fellow Johns Hopkins Hospital, Baltimore (MD), Estados Unidos. São José do Rio Preto (SP), Brasil. Email: [email protected] Daniel C. Ayres: Residente da Disciplina de Urologia da FAMERP/FUNFARME. São José do Rio Preto (SP), Brasil. Luis Cesar Spessoto: Prof. Assistente da Disciplina de Urologia da FAMERP; Pós-graduando da FAMERP. São José do Rio Preto (SP), Brasil. www.arquivoshellis.com.br - [email protected] Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Página 19 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DA SEROTONINA E O IMPACTO NA FUNÇÃO SEXUAL DA MULHER Claudia Golcman Glina Rubin 1- INTRODUÇÃO 2 - INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DA SEROTONINA E A SEXUALIDADE DA MULHER Anatomia e Fisiologia Sexual Feminina A função sexual normal depende da musculatura genital, inervação sensorial, e uma extensa irrigação vascular. Os músculos genitais, ou assoalho pélvico, incluem o músculo bulbo cavernoso (BC) e ísquio cavernoso (IC) (Carey 2006). As disfunções sexuais da mulher e do homem são muito prevalentes, mas pouco diagnosticadas. Muitas vezes isso ocorre porque a paciente não se sente incomodada pelo problema e não procura o médico; em outras, a disfunção sexual tem impacto negativo em sua vida, mas a paciente tem vergonha de procurar auxílio médico para esse problema e frequentemente o médico não avalia a função sexual de suas pacientes, dificultando ainda mais o diagnóstico e o tratamento das disfunções (de Berardis et al. 2002, Abdo et al. 2004, Markwick 1999). O BC ajuda a manter o assoalho íntegro enquanto o IC age levando sangue para o corpo cavernoso do clitóris feminino (Carey 2006). Nas mulheres, o orgasmo envolve contrações dos músculos genitais que são caracterizadas pela contração rítmica da vagina, ânus e útero (Carey 2006). O trato genital é inervado pelos nervos hipogástrico e pudendo. Os dois terços superiores da vagina são exclusivamente inervados por receptores dolorosos, enquanto o terço inferior é inervado por receptores táteis (Carey 2006). A vascularização vaginal é irrigada pela artéria ilíaca, artéria uterina, artéria vaginal e pudenda. Durante a relação sexual há ingurgitamento desses vasos que resulta em lubrificação vaginal e possivelmente propicia o orgasmo. A excitação sexual feminina resulta da vaso congestão da vagina, vulva, clitóris, útero e ureter que fica três vezes maior do que na mulher não excitada (Carey 2006). Mecanismo da Serotonina A serotonina é sintetizada e armazenada no tecido em que será usada. Estudos em humanos e animais revelam que algumas áreas do trato genital feminino contêm serotonina, sugerindo que ela tem papel ativo nessa região. Mas até hoje não foi provado qual seu efeito na vascularização vaginal. Em humanos, células contendo serotonina foram achadas em biópsias de vulva, mais frequentemente no epitélio das glândulas de Bartholin. A presença de serotonina na região genital indica que essa substância é ativa na fisiologia genital, e hipoteticamente na fisiologia sexual, sendo esperado que afete os sistemas periféricos ativos durante a resposta sexual através dos sistemas vascular, muscular, endócrino e nervoso (Carey 2006). Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Em geral, as disfunções sexuais (DS) são multifatoriais e uma complexa relação entre os sistemas nervoso, cardiovascular, hormonal, fatores psicológicos e genitais rege a função sexual normal. Esse sistema pode sofrer influências originárias dos mais diversos fatores, de estresse a doenças sistêmicas e também de medicamentos. Para afirmarmos que um determinado fármaco causa DS devemos seguir três etapas. A primeira, é a verificação da alta prevalência da disfunção em homens e/ou mulheres utilizando a droga comparando os resultados a placebo e estratificando o risco de DS no grupo. A segunda, é verificar novamente uma alta prevalência em indivíduos utilizando uma determinada droga em comparação a outra de mesmo efeito terapêutico em estudos randomizados e controlados. A última etapa, é a verificação da fisiopatogenia em estudos animais. As disfunções sexuais femininas têm recebido menos atenção em termos de pesquisas nos últimos anos do que as disfunções sexuais masculinas e por isso, as evidências e os trabalhos são em menor escala. É importante lembrar que as DS femininas são divididas em: desejo sexual (libido) hipoativo, aversão sexual (fobia), transtorno da excitação (frigidez), anorgasmia (dificuldade ou ausência de orgasmo), dispareunia (dor na relação sexual não causada por fatores orgânicos), vaginismo (contração involuntária dos músculos pélvicos impedindo a penetração), disfunção sexual devido a causas orgânicas e disfunção sexual induzida por substâncias (Tejada et al. 2005). A disfunção sexual é comum na população em geral, porém é mais incidente em mulheres com Página 20 SEXUALIDADE HUMANA diagnóstico de depressão. O diagnóstico diferencial entre disfunção sexual causada pela depressão e causada pelos antidepressivos é difícil, pois a ausência de libido tanto é um sintoma da depressão, quanto um efeito do antidepressivo (Frank et al. 2008). Já é bem estabelecido que dificuldades sexuais sejam efeitos colaterais comuns de antidepressivos e é possível que esses efeitos, pelo menos em parte, venham das propriedades periféricas dessas medicações. A vaso congestão é de extrema importância para o funcionamento normal da sexualidade feminina e a serotonina é um potente vasoativo nos tecidos periféricos. Por isso, as mudanças nos níveis de serotonina impactam a função sexual. Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) comumente apresentam diminuição do desejo sexual e anorgasmia, e o mecanismo mais aceito é o aumento da quantidade de serotonina na área da sinapse que age centralmente atrapalhando essas funções (Marwick 1999). Um estudo europeu com 502 pessoas em uso de ISRS mostrou que 32,5% das mulheres apresentavam disfunção sexual por uso de antidepressivo (Marwick 1999, Higgins 2007, Frank et al. 2008). Duloxetina e Paroxetina têm maior incidência de disfunção sexual aguda, quando comparados com placebo (Marwick 1999, Carey 2006, Higgins 2007, Frank et al. 2008). Estudos indicam que a disfunção sexual causada pela Fluoxetina pode ser dose-dependente e pode ser controlada com diminuição da dose. Uma revisão bibliográfica realizada por Meston e colaboradores (1997) sugeriu que os homens são mais suscetíveis aos efeitos colaterais de antidepressivos do que as mulheres, mas isso pode ocorrer porque os homens levam as queixas sobre esse assunto ao conhecimento do médico. Além disso, um estudo comparando homens e mulheres mostrou uma incidência maior e com Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Instituto H.Ellis sintomas mais severos nas mulheres do que nos homens. As mulheres que reportaram dificuldades na função sexual tiveram perda de libido mais importante, assim como anorgasmia (Moris e Vanderkolk 2005, Tejada et al. 2005, Higgings et al. 2006). As mulheres têm maiores níveis séricos de 5-HT mas menores concentrações de 5-HIAA, sugerindo que elas não metabolizam a serotonina com a mesma rapidez (Moris e Vanderkolk 2005, Tejada et al. 2005, Higgings et al. 2006). A nefazodona, um antidepressivo, tem um mecanismo de ação diferente dos outros ISRS e por isso tem menos efeitos colaterais. Esse fármaco é um antagonista do receptor 5-HT2, assim como inibidor da recaptação de 5-HT. Como os outros ISRS, o uso crônico de nefazodona produz redução do número de receptores 5-HT2. Apesar dos antagonistas produzirem aumento dos receptores pós sinápticos, a atividade do 5-HT em um receptor pode influenciar a atividade de outro receptor, como a nefazodona aumenta a atividade dos receptores 5-HT exceto pelo 5-HT2, isso pode sugerir uma menor quantidade de efeitos colaterais. Um estudo em mulheres diabéticas revelou que o antagonismo do receptor 5-HT2 produziu um aumento do fluxo sanguíneo, o que sugere outra explicação para a menor intensidade de efeitos colaterais produzidos pela nefazodona (Moris e Vanderkolk 2005, Tejada et al. 2005, Carey 2006). Outro estudo sugeriu que o uso crônico de antidepressivos altera a atividade serotoninérgica central pela alteração da sensibilidade do receptor, diminuindo o número de receptores 5-HT2 e 5-HT1 (Carey 2006). O uso crônico de fluoxetina também produz diminuição do 5-HT, indicando que a síntese de 5-HT está diminuída. Há evidências de que os ISRSs exacerbem lesões vasculares e, quando usados cronicamente, causam a Página 21 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA degeneração do endotélio e vaso constrição excessiva, o que pode prejudicar a vaso dilatação necessária para a lubrificação vaginal e até para o orgasmo. É importante lembrar que a lesão endotelial causada pelos ISRSs não é suficiente para produzir outras vasculopatias em pacientes saudáveis (Frohlich e Meston 2000, Bancroft 2002). Os ISRSs podem alterar a sensibilidade dos receptores 5-HT nos nervos periféricos e como eles estão envolvidos na propriocepção, a alteração da sensibilidade pode causar hiperestesia ou hipoestesia. Evidências sugerem que o uso crônico de ISRSs pode causar parestesia vaginal, quando comparados com placebo. Se os ISRSs realmente causam disfunção sexual impedindo a vaso congestão genital, seria esperado que medicamentos que aumentassem o fluxo sanguíneo para a região genital melhorassem a função sexual. Diversos estudos com a sildenafila foram eficazes na reversão da disfunção sexual causada por RSS, mesmo em mulheres, aumentando os indícios dessa teoria (Huybater e Simon 2008). Carey JC. Pharmacological effects on sexual function. Obstet Gynecol Clin. 2006; A33:599–620. De Berardis G, Franciosi M, Belfiglio M, Di Nardo B, Greenfield S, Kaplan SH, Pellegrini F, Sacco M, Tognoni G, Valentini M, Nicolucci A; Quality of Care and Outcomes in Type 2 Diabetes (QuED) Study Group. Erectile dysfunction and quality of life in type 2 diabetic patients: a serious problem too often overlooked. Diabetes Care. 2002;25(2):284-91. Frank JE, Mistretta P, Will J. 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Com base na revisão bibliográfica realizada pode-se concluir que a disfunção sexual feminina ainda precisa de um número maior de estudos randomizados já que esse é um distúrbio pouco estudado, o que leva a um menor conhecimento do mesmo por parte dos médicos, subestimando-se o real número de mulheres com essa afecção dificultando seu tratamento. Hubayter Z, Simon JA. Testosterone therapy for sexual dysfunction in postmenopausal women. Climateric. 2008;11:181–91. Marwick C. Survey says patients expect little physician help on sex. JAMA. 1999;281:2173-4. Meston CM, Gorzalka BB, Wright JM. Inhibition of subjective and physiological sexual arousal in women by clonidine. Psychosom Med. 1997;59(4):399–407. Morris GL, Vanderkolk G. Human sexuality, sex hormones, and epilepsy. Epilepsy Behav. 2005; 7(supl 2):S22–8. Tejada IS, Angulo J, Cellek S, González-Cadavid N, Heaton J, Pickard R, Simonsen U. Pathophysiology of erectile dysfunction. J Sex Med. 2005;2:26–39. 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O assunto era tabu e, não raro, pertencia à religião, que se incumbia de ditar regras e práticas que deveriam ser seguidas por todos, indiscriminadamente, sem o menor respeito às particularidades individuais. Impunha-se um padrão comum e ponto final. O mais revolucionário pesquisador da sexualidade humana, Kinsey, foi alvo de duras críticas, quando em pleno clima de pós-guerra, na década de 1950, ousou abrir o tema para o mundo discutir, ao lançar o Relatório Kinsey, fruto de suas pesquisas junto à sociedade norteamericana, majoritariamente protestante e pequena burgesa. Da apresentação do bombástico Relatório Kinsey até nossos dias, o mundo mudou profundamente, caíram barreiras e certezas milenares. Em todos os quadrantes, a fim de sobreviver diante dos novos desafios, os homens do Século XXI partem em busca de novas respostas e de novos padrões comportamentais. Um outro horizonte está se desenhando bem à frente de nossos olhos. Henry Havelock Ellis Sendo assim, mais recentemente, vemos que os profissionais dedicados à sexologia vêm ganhando o respeito da mídia e do grande público, à medida que conseguem demonstrar que a ciência da Sexualidade Humana desempenha um papel crucial na evolução das relações sociais, afetivas e produtivas dos seres humanos, por estar intimamente ligada aos fenômenos biológicos e comportamentais que formam e sustentam a dinâmica geradora da vida, nos variados aspectos de mudança e transformação. Cada vez mais, fica claro que o estudo da sexualidade humana é racional, em complemento ao estudo da sexualidade animal que é instintiva e ligada aos padrões do cerebelo, pode e deve contribuir decisivamente com a ascensão dos indivíduos, das culturas e das sociedades civis planetárias. A sexualidade verdadeiramente humana diz respeito tão somente à esfera comportamental dos padrões pertinentes ao funcionamento do lobo frontal, parte do cérebro que nos remete à humanidade, enquanto estado de ser pessoa não animalizada. Dada a importância da sexualidade humana na evolução do comportamento moral e ético, trago a vocês leitores, uma carta que tem sido divulgada nas últimas semanas, via internet, para milhões de brasileiros assombrados com seu conteúdo. A leitura da “Denúncia Aberta à Nação Contra o Estadão” (http://www.caioares.com/epistolas/ 1epistolas.html), mais o material apêndice que a acompanha, convida-nos à reflexão e nos conduz a questões paralelas fundamentais, como por exemplo: ? Como a moral e a ética modelam o comportamento sexual de cada povo? ? Como o avanço do estudo da sexualidade humana pode contribuir com a evolução da moral e da ética ao povo brasileiro, em particular? ? O estudo da sexualidade moderna deve prestar mais atenção à evolução humana dos indivíduos e das sociedades, ao invés de focar-se nas práticas sexuais, enquanto veículos de satisfação dos instintos, das fantasias, dos apetites ou dos desejos? ? Como um todo, a ciência da sexualidade humana precisa de novos interesses e diretrizes, para ser capaz de atender plenamente às exigências evolutivas do Desta feita, não é mais possível querer compreender a sexualidade humana sem interligá-la ao estudo comparado dos demais saberes, entre eles, a sociologia, a psicologia, a filosofia, a política e a economia. Graça à visão atual do papel da sexualidade no desenvolvimento da sociedade moderna, os profissionais dessa área ganham status e poder renovados, por serem tomados como agentes de transformação social, moral e ética. século XXI? Caio Ares: filósofo, escritor e coaching internacional. São Paulo (SP), Brasil www.caioares.com Opine sobre esse assunto, enviando-nos seus comentários para nosso email: [email protected]. Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Página 23 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA CONSIDERAÇÕES SOBRE DISFUNÇÃO ERÉTIL NO XII CONGRESSO BRASILEIRO DE SEXUALIDADE HUMANA - INTERDISCIPLINARIEDADE & SAÚDE SEXUAL Fernanda Robert de Carvalho Santos Silva O presente relato tem como objetivo compilar exclusivamente considerações específicas de disfunção erétil (DE) de Mesas Redondas sobre Sexualidade Masculina do XII Congresso Brasileiro de Sexualidade Humana Interdisciplinariedade & Saúde Sexual, realizado na cidade de Foz do Iguaçu (PR), entre os dias 04 e 07 de outubro de 2009. A relevância científica dos temas abordados associada à necessidade de maior informação dos profissionais que atuam na área de urologia e psicologia e, principalmente, www.webluxo.com.br disseminação do conhecimento para a população geral originaram este artigo. Com vistas a divulgar informações que infelizmente ficam retidas às mesas e conferências dos congressos. Momento em que profissionais e estudantes dialogam sobre o conhecimento científico produzido nas academias e suas vivências clínicas; na tentativa de uma melhor compreensão das relações entre teoria e prática. A primeira mesa foi composta por Miguel Rivero (Argentina) que abordou o “Tratamento médico da ejaculação prematura”, Sidney Glina (Brasil) discorreu sobre o “Manejo dos pacientes submetidos à prostatectomia radical”, o tema de Luis Otávio Torres (Brasil) foi o “Futuro do tratamento de disfunção erétil” e de Mário Bernardo Filho (Brasil) foi a “Importância da fisioterapia no tratamento de disfunção erétil”. Na apresentação “Manejo dos pacientes submetidos à prostatectomia radical” o Dr. Sidney Glina fez considerações importantes com relação às informações que deveriam ser transmitidas a todos os pacientes a serem submetidos à prostatectomia radical. A primeira é que toda a prostatectomia interfere na função sexual masculina. Não se pode tratar apenas o câncer, é preciso olhar o impacto da enfermidade na sexualidade e explicar ao paciente as consequências da cirurgia, entre elas destaca-se: alteração do desejo sexual, impossibilidade definitiva de ejaculação (devido à retirada da próstata e rompimento dos nervos que cruzam a uretra), disfunção erétil e incontinência urinária. Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 A impossibilidade de ejaculação impacta diretamente na fertilidade masculina, trata-se de um processo irreversível! Para os homens jovens que apresentarem a doença é recomendado pelo médico congelar o sêmen antes da cirurgia, caso tenham o desejo de ter filhos. Após a cirurgia existirá a sensação psicológica da ejaculação, mas não a resposta física (ejaculação seca). Segundo o Dr. Sidney, os pacientes depois da cirurgia apresentam disfunção erétil, seu restabelecimento, quando possível, pode chegar a dois anos. Variáveis como: idade do paciente, tamanho do tumor e diagnóstico precoce interfere no prognóstico positivo do tratamento. Para aqueles que não conseguirem reverter o quadro com tratamento urológico e psicoterapêutico o único caminho é a prótese peniana (recomendada para homens mais idosos, acima de 55 anos). Na presença de incontinência urinária, o homem urina ao ter orgasmo. Isso gera desconforto e dificuldades na relação a dois, assim, é importante o uso de camisinha nas relações sexuais. Para o homem, vale a pena buscar entender um pouco mais dos impactos dos tratamentos urológicos na sexualidade! Uma postura preventiva em relação à saúde só trará benefícios. Nesse caso, adiar um tratamento pode custar muito para o paciente e sua sexualidade. Na apresentação “O futuro do tratamento da disfunção erétil” do Dr. Luis Otávio Torres, urologista, foram destacadas as pesquisas que podem auxiliar a prevenção da DE com o avanço nos tratamentos com medicamentos e curativos. Como aspectos preventivos à disfunção erétil o urologista elencou algumas mudanças no hábito de vida dos pacientes, tais como: uso de drogas, distúrbios hormonais, medicamentos, diminuição do stress e da obesidade e fatores psicossociais, tais como: educação sexual e sintomas psicológicos. Pesquisas gênicas internacionais estão sendo realizadas em laboratórios americanos com animais cultivando os tecidos no corpo cavernoso e desenvolvendo músculo liso o que poderia, em humanos, auxiliar no tratamento de DE, ao substituir células mortas e os tecidos danificados. Nos próximos anos, os avanços científicos podem contribuir com novidades no tratamento das disfunções sexuais. No entanto, o comportamento preventivo, o esclarecimento dos profissionais e da população em geral favorecerá a diminuição das perspectivas de incidência de DE na população masculina, tornando a população mais consciente e responsável por sua saúde e sexualidade. Página 24 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA INFORME ESQUEMÁTICO DOS AVANÇOS APRESENTADOS NA 15ª REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE DE MEDICINA SEXUAL DA AMÉRICA DO NORTE SMSN, REALIZADA EM SAN DIEGO, CALIFÓRNIA, DE 19 A 21 DE NOVEMBRO DE 2009. Ruben Hernandez Serrano Em San Diego, cidade muito tranqüila, sem trânsito, de 2 milhões de habitantes e na fronteira com o México, nos reunimos 300 participantes para revisar 200 trabalhos científicos, em 3 dias. Cada expositor, por mais importante que fosse, teve 7 minutos para sua apresentação, a qual foi cumprida matematicamente. ? Pequenas mudanças significam anos de vida com QUALIDADE. ? Novas tecnologias imagenológicas para medir a rigidez da parede e o lume das artérias. ? A importância dos fármacos neuromoduladores. ? No exame físico é indispensável verificar os reflexos sexuais ? A nanotecnologia já está chegando. ? Níveis de testosterona total menor que 300 ng/ml implica em tratamento. ? Em 1972 foi colocada a primeira prótese peniana. www.about.com O que houve de novidade ? Um novo aparelho para medir a RIGIDEZ do pênis, com tecnologia Doppler. ? Demonstrado o efeito FUMAR na função sexual. 2% têm efeito cardiovascular depois de 2 anos de fumar. 11% têm efeito cardiovascular depois de 5 anos de fumar. 80% têm efeito cardiovascular depois dos 40 anos de idade. Fumar aumenta a incidência de disfunção erétil de 14 a 24%. ? Cada vez mais é importante o Índice de Massa Corporal e a medida da cintura abdominal como fator preditor... para abaixar de PESO, JÁ. ? Proteína C reativa, é outro fator que prediz inflamação arterial. ? Idade, colesterol LDL, genética, antecedentes familiares, fumar e síndrome metabólica são determinantes de disfunção erétil e ejaculação prematura. ? A Hb glicosilada também é um fator preditor de infecções. ? Todo paciente deve ser avaliado do ponto de vista cardiovascular. Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 ? Em breve, será possível a regeneração dos nervos. ? A Betadina, Vancomicina e Gentamicina constituem a primeira linha de ataque. ? Já estão chegando a Libigel, Intrina e Flibanserina. ?A OMS estima que, no mundo, a cada segundo, são realizados 1182 coitos. ? A Síndrome da Glande Suave é apresentada. ? O Lupron como o primeiro elemento para abaixar a TESTOSTERONA, quando é indicado. ? A Flibanserina atua diminuindo a serotonina e aumentando a dopamina e a NAD nos transtornos do desejo sexual. ? Regras que determinam o adulto idoso: nunca perde a oportunidade de ir ao banheiro, de perder a ereção ou de relembrar eventos positivos. ? Medir a qualidade de vida e a satisfação sexual, hoje é um desafio. ? A ejaculação prematura pode ser definida de forma simples: se chega ao clímax muito cedo, sem controle. ? O uso do cronômetro é útil na investigação. Nunca na clínica ou no tratamento. Página 26 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA Outra Mesa sobre Sexualidade Masculina foi composta por João Afif Abdo (Brasil) com o tema “Compreendendo a sexualidade masculina, tratamento medicamentoso e cirúrgico: seus limites”; Sidney Glina (Brasil) “Síndrome metabólica e disfunção erétil”, Roberto Yamada (Brasil) “Disfunção sexual e medicina complementar”, Maria Helena Matarazo (Brasil) “São os homens múmias emocionais?”. O Dr. Sidney Glina abre sua apresentação com a frase “Disfunção erétil é um problema de saúde pública!” – segundo o NIH Consensus Development Panel on Impotence (1992). Vale esclarecer que o National Institutes of Health, em 1992 no “Consensus Development Conference on Impotence” estabelece um consenso internacional para área. Substituiu o termo impotência por disfunção erétil. A mudança da nomenclatura teve como objetivo retirar a conotação pejorativa presente no termo impotência. A alteração da função sexual masculina é um processo natural do envelhecimento masculino, no entanto, envelhecer não prediz disfunção erétil (DE). A dificuldade em ter ou manter uma ereção pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento sexual masculino, ser reversível ou irreversível, e sofre interferência de fatores: fisiológicos, neurológicos, biológicos e emocionais. Essas alterações responsabilizam os homens e o Sistema Único de Saúde por questões relacionadas à sexualidade. Responsabilizar-se por sua sexualidade passa por compreender que seus comportamentos terão impacto no futuro de sua saúde sexual, uma vez que o universo da sexualidade masculina corrobora aspectos reversíveis e irreversíveis em relação à sua função sexual. Responsabilizar-se por sua sexualidade passa ainda por conhecer o que é uma dificuldade sexual: como ocorre, quem atinge e quais suas consequências. Segundo os resultados do Estudo da Vida sexual do Brasileiro – EVSB realizada com 7103 participantes maiores de 18 anos (54,6% homens e 45,4% mulheres), 1 a 2 de cada 5 homens divorciados consideram a DE como a causa do fim do matrimônio, isso evidencia que a disfunção erétil está presente em quase metade da dissolução dos relacionamentos dos homens participantes da pesquisa. ? Se poucas pessoas têm DE, o que a fez ser considerada problema de saúde pública? ? O homem está se responsabilizando por nossa saúde sexual? ? Será que somos responsáveis pela insatisfação sexual do outro? ? Como seu comportamento tem contribuído para sua insatisfação sexual? ? Quanto custa ao homem e à sua saúde sustentar a DE como inexistente? Pesquisas internacionais apontam que em 1995, a DE atingia perto de 152 milhões de homens no mundo e chegará a 322 milhões em 2025. Glina atentou para estudos nacionais que destacam como fatores de risco para DE: idade superior a 40 anos; diabetes, hipertensão, obesidade, e/ou depressão. Fatores emocionais mais encontrados: estresse emocional, infelicidade geral, insatisfação com a parceira e baixo rendimento. Com base nos dados da Vital and Health Statistics, 1999, surgem a cada ano 220.000 novos casos de Câncer de Próstata nos Estados Unidos da América, sendo que desses 50.000 perdem permanentemente a função eretiva após prostatectomia radical. Esses dados mostram a necessidade de ações preventivas em relação à criação de políticas públicas de prevenção à sexualidade masculina e ao câncer de próstata. O Urologista recomenda a alteração dos hábitos de vida como em qualquer outro problema de saúde. E para não ter uma disfunção erétil destaca que o homem não tenha: doença cardiovascular ou neuropatia, não se submeta a operações ou radioterapia na pelve, não tenha diabete, mas se tiver controlar bem, não tenha câncer de próstata, eduque-se, não fume, beba moderadamente, não se estresse ou se deprima, faça exercícios, tenha uma parceira ativa e permaneça jovem. Será isso possível!? Fernanda Robert de Carvalho Santos Silva, São Paulo (SP), Brasil. Destes 7103 participantes, 24,1% dos homens e 19,5% das mulheres sentem-se culpados pela insatisfação sexual do parceiro. Aproximadamente 43% da amostra se sente responsável pela insatisfação sexual da parceria, o que nos sugere que quase metade dos participantes, mais de 3000 pessoas identificaram alguma insatisfação em sua vida sexual. Esses dados sugerem algumas questões: ? Será que a disfunção erétil é algo tão particular e individual? Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 www.baixaki.com.br Página 25 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA ? Chega a dapoxetina, já avaliada na prática na Europa, México e Coreia. ? O tempo de latência intravaginal é útil na investigação. ? Chega a prilocaína e a lidocaína, de uso local. Volta- se ao passado... ? Publicado o livro “Porque as Mulheres têm Sexo”, de Buss e Meston. NY Times Ed. Principalmente: atração física, prazer, amor, compromisso, experiência, ter filhos, aventura, sucesso econômico, vingança, curiosidade, alegria, intimidade, dever, competência, tédio, entre muitas outras causas. tripmuitolouca.blogspot.com ? A ejaculação prematura é a mais frequente das disfunções sexuais em todos os estudos epidemiológicos realizados até hoje... ? A importância do cheiro como fator de atração ou rejeição. No pico da ovulação é mais sensível. Estabelece compatibilidde. ? Discute-se o consenso de 1 ou 2 minutos como fator diagnóstico. ? O valor da simetria em parceria. ? A atração pelo poder ou pensam em celebridades. ? O valor do HUMOR na atividade sexual. ? O problema da ejaculação prematura é a incapacidade de controle que produz insatisfação. ? Dificuldades interpessoais e angústia são fatores importantes de prevalência. ? A vestibulodinia é descrita. ? Solidão, inadequação e depressão são fatores ? Técnicas para resolver a fimose do clitóris. concomitantes. ? Fases de uma resposta sexual: excitação, desejo, recompensa, inibição. ? Creme com lidocaína e prilocaína reaparece (EMLA e TEMPE). ? A excitação depende da dopamina, NAD, ? A tadalafila em doses mínimas de 2,5mg pode melanocortina e oxitocina. solucionar muitos casos de disfunção erétil. ? A inibição depende da serotonina, opioides e prolactina. ? O uso diário de MVA é recomendável em pessoas com mais de 60 anos de idade. ? O conceito da angústia sexual. ? Aparecerá uma superpílula com estatina, agente hipotensor, ácido acetil salicílico (aspirina) de 81 mg, metformina. ?A importância do exame físico e neurológico da vagina e do períneo. ? ? Cada vez mais são importantes as fantasias sexuais. Próxima reunião anual, em Miami, Flórida, de 11 a 14 de novembro de 2010. ? A visão do(a) parceiro(a) é fundamental em qualquer Ruben Hernandez Serrano, Caracas, Venezuela. diagnóstico e terapia sexual. www.tripadvisor.com.br Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Página 27 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA AGENDA DE EVENTOS FEVEREIRO 18-21 Congresso Anual da ISSWSH - International Society for the Study of Women's Sexual Health St. Petersburgo (FL) www.isswsh.org Estados Unidos ABRIL 16-20 Congresso Europeu de Urologia Barcelona www.euabarcelona2010.org Espanha ABRIL 16-19 5º Congresso Anual de Transtornos Afetivos Vancouver www.isad.elsevier.com Canadá MAIO 09-13 Congresso Europeu de Sexologia – EFS Porto www.efs2010.com Portugal MAIO 29-03 Congresso da AUA - Associação Americana de Urologia São Francisco (CA) www.auanet.org Estados Unidos MAIO 21-27 Congresso da APA – Associação Americana de Psiquiatria Nova Orleans (LA) www.psych.org Estados Unidos JULHO 01-05 XII Congresso Venezuelano de Sexologia e VI Reunião da AISM – Academia Internacional de Medicina Sexual Maracaíbo www.svsm.com.ve Venezuela SETEMBRO 26-30 Congresso Bienal da ISSM – International Society for Sexual Medicine Seul www.issm2010.info Coreia OUTUBRO 18-22 Congresso Espanhol de Psiquiatria Barcelona Espanha OUTUBRO 21-23 XV CLASES, 30 anos da FLASSES - Federación Latinoamericana de Sociedades de Sexología y Educación Sexual Alicante www.flasses.net - www.sexologia2010.com Espanha OUTUBRO 29-02 XXVI Congresso da APAL - Asociacion Psiquiatrica de America Latina Puerto Vallarta www.anfitriones.com.mx México NOVEMBRO 10-13 Congresso Anual da Sociedade de Medicina Sexual da América do Norte Miami (FL) www.smsna.org Estados Unidos NOVEMBRO 19-21 XVIII Simpósio Internacional de Sexualidade: Sexo Total Caracas www.rubenhernandez.com Venezuela Volume 6 • Número 1 • Jan/Fev/Mar/Abr 2010 Página 28