Sustentabilidade empresarial. Guia de práticas econômicas
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Sustentabilidade empresarial. Guia de práticas econômicas
Sustentabilidade empresarial. Guia de práticas econômicas, ambientais e sociais João Salvador Furtado Copyright 2005 Centro de Recursos Ambientais (CRA) Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 5.988, de 14/12/73. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida sem autorização prévia por escrito da Editora, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA Paulo Ganem Souto SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS - SEMARH Jorge Khoury Hedaye CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS - CRA Maria Lucia Cardoso de Souza DIRETORIA DO NÚCLEO DE ESTUDOS AVANÇADOS DO MEIO AMBIENTE - NEAMA Júlia Maria Santana Salomão Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 504.03 F992 Furtado, João Salvador. Sustentabilidade empresarial: guia de práticas econômicas, ambientais e sociais / João Salvador Furtado – Salvador:NEAMA/ CRA, 2005. 177 p. ; 23 cm. ISBN 85-88595-29-X 1.Desenvolvimento Sustentável. 2. Gestão Ambiental. 3. Política Organizacional. I. Furtado, João Salvador. II.Título Capa: ELIAS MONTEIRO Projeto gráfico: ROSANA ZUCOLO SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................... 7 PREFÁCIO .............................................................................................................................................................. 9 SOBRE O GUIA .................................................................................................................................................... 11 02. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE ....................................................................................... 15 03. ORIENTAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL(DS). AÇÕES, CONCEITOS E ATITUDES PARA DIRECIONAMENTO DOS ESFORÇOS .................................................................................................................................................. 25 PERSPECTIVAS PARA A INCLUSÃO DE DS NAS PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS .................................................................................................. 25 Iniciativas para a adoção de práticas de Sustentabilidade ......................................................................................................... 25 Opções para a inserção de práticas de sustentabilidade nas operações da Organização ................................................. 28 Opções para inserção de ações incrementais em práticas correntes ..................................................................................... 28 Aprendizagem organizacional global: integração gestão - processo produtivo -produto - consumo descarte e destinação ambiental ....................................................................................................................................................................... 31 Construção de conceitos, temas, paradigmas e direcionadores para práticas de Sustentabilidade ................................. 32 Criação de ecotime organizacional e definição de papéis, designação formal do grupo encarregado das ações e desdobramentos ............................................................................................................................................................................... 44 Pressupostos para elaboração da Visão e dos Princípios de Sustentabilidade. Fundamentos conceituais e de política de Sustentabilidade Organizacional ............................................................................................................................................. 50 Construção definitiva da Visão de Sustentabilidade. Elaboração de texto formal de direção a ser seguida ...................... ............................................................................................................................................................................................................. 54 Construção definitiva dos Princípios de Sustentabilidade. Elaboração de texto formal de valores a serem praticados . ............................................................................................................................................................................................................. 55 Validação de proposta de DS. Reconhecimento e aceitação pelos interessados internos e externos relevantes ......... 55 Sugestão de fontes para eleição do sistema econômico e socioambiental ............................................................................. 56 Identificação de conduta de responsabilidade socioambiental organizacional. Definição de padrões de conduta perante todos os interessados ...................................................................................................................................................... 61 Validação – pelos interessados relevantes – de caso organizacional e demais documentos propostos. Transparência, exposição, diálogo e construção de compromissos ................................................................................................................. 61 Validação operacional da Proposta. Documentos de Visão e de Princípios de Sustentabilidade. Formalização da Política ... ....................................................................................................................................... ...................................................63 Estratégias para inserção de DS no eixo principal de negócios e atividades organizacionais. Operacionalização de práticas organizacionais .................................................................................................................................................................. 64 Consolidação de parcerias estratégicas. Compartilhamento de riscos e benefícios ............................................................. 66 04. ESTABELECIMENTO DE MACRO-OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS SUSTENTÁVEIS (MACRO-PLANEJAMENTO) ...................... 73 CORRELAÇÃO ENTRE GOVERNANÇA E MACRO-OBJETIVOS SUSTENTÁVEIS - ALINHAMENTO DE PROCESSOS DECISÓRIOS E DISTRIBUTIVOS .............. 73 Revisão do sistema de tomada de decisão ..................................................................................................................................... 73 DEFINIÇÃO DE GRANDES ALVOS SUSTENTÁVEIS ............................................................................................................................................. 75 Definição de perfis críticos e relevantes para a construção de macro-objetivos da Organização ................................... 75 Construção de conceitos e processos para definição de macro-objetivos sustentáveis......................................................75 3 João S. Furtado IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO DE CRIAÇÃO DE MACRO-OBJETIVOS ............................................................................................................... 77 Criação de ato de descontinuidade no modelo de gestão (management) e produção (processo e produto) ............... 77 Capacitação para formulação de macro-objetivos ....................................................................................................................... 78 Relacionamento entre eco-inovação e formulação de macro-objetivos .................................................................................. 78 05. ESTABELECIMENTO DE ESTRATÉGIAS E TÁTICAS PARA A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIOAMBIENTAL .............. 81 CONSTRUÇÃO DE INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIOAMBIENTAIS ............................................................................................................... 81 Identificação de indicadores importantes para a Organização ............................................................................................... .81 Construção do conceito de indicador integrado econômico-socioambiental para a Organização ................................. 83 Estabelecimento do processo para construção do quadro ou esquema apropriado de indicadores econômicosocioambientais integrados para as atividades ou negócios da Organização .................................................................... 84 Construção do esquema de indicadores apropriados para as atividades ou negócios da Organização ........................ 88 ESTABELECIMENTO DE CENTROS DE CUSTOS PARA O DESEMPENHO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL INTEGRADO ........................................... 88 Identificação de custos, de acordo com a natureza do evento ................................................................................................. 88 Classificação por centros de custos ................................................................................................................................................ 90 Definições gerais internacionais ....................................................................................................................................................... 91 REAFIRMAÇÃO DA POLÍTICA ORGANIZACIONAL .......................................................................................................................................... 92 Procedimentos para estabelecer a linha de base da Proposta de Sustentabilidade ............................................................. 92 ARTICULAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AOS DEMAIS ELEMENTOS DA POLÍTICA ORGANIZACIONAL .................................................................... 94 ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES ............................................................................................................................................................. 94 Consolidação da Linha de base para o desempenho, abrangendo efeitos e impactos de Resultado Final Tríplice. Propostas de Políticas de Sustentabilidade ................................................................................................................................ 95 CONSOLIDAÇÃO DE COMPETÊNCIAS ............................................................................................................................................................ 96 06. GESTÃO E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COM RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ............................................... 99 PRESSUPOSTOS E ENTENDIMENTOS ............................................................................................................................................................... 99 Bases estratégicas ................................................................................................................................................................................. 99 FLUXO DE ATIVIDADES .............................................................................................................................................................................. 100 Conceitos e princípios relevantes .................................................................................................................................................. 100 CONSTRUÇÃO DO MODELO DE GESTÃO E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SOCIOAMBIENTAL INTEGRADO ...................................................... 102 Caracterização macroeconômica ................................................................................................................................................... 102 Alinhamento dos princípios de RSA na gestão da Organização ............................................................................................ 102 Identificação das características socioambientais do mercado ................................................................................................. l04 Inserção dos princípios de desenvolvimento sustentável (Rio-92 - Princípio 4) na gestão .............................................. 104 Elaboração do plano estratégico socioambiental integrado .................................................................................................... 106 Definição da Política de Ação Alinhada à RSA, ao DS e à Visão de Produto ...................................................................... 107 Definição de Planos e Programas Sociambientais Responsáveis ............................................................................................ 108 Medição de desempenho dos indicadores socioambientais ..................................................................................................... 108 IMPLEMENTAÇÃO DE PRODUÇÃO LIMPA - PL ........................................................................................................................................... 109 Tópicos e subtópicos para implementação de Produção Limpa ............................................................................................ 112 Migração para PL ............................................................................................................................................................................... 112 Gestão da Produção Limpa ............................................................................................................................................................. 112 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Formulação do plano de sustentação de Produção Limpa ...................................................................................................... 113 07. MEDIAÇÃO E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO SUSTENTÁVEL ................................................................................... 115 DEFINIÇÃO DO ARCABOUÇO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ................................................................................................................. 115 Relações de Causa e Efeito .............................................................................................................................................................. 123 Listagem de efeitos ou impactos ..................................................................................................................................................... 125 Sugestão de tabela para organização dos efeitos ou impactos ................................................................................................ 131 08. ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO DE DESEMPENHO SUSTENTÁVEL ............................................................................................ 139 FUNDAMENTOS PARA ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO ..................................................................................................................................... 139 Seleção do modelo de relatório ..................................................................................................................................................... 142 Composição de ítens ......................................................................................................................................................................... 142 Como usar o modelo de RDS ........................................................................................................................................................ 142 RDS PARA GRANDE E MÉDIA ORGANIZAÇÃO ........................................................................................................................................ 142 1.Título e Período .............................................................................................................................................................................. 142 2.Declaração do dirigente máximo ............................................................................................................................................... 142 3. Aspectos gerais .............................................................................................................................................................................. 143 4. Perfil da Organização ................................................................................................................................................................... 144 5. Resumo executivo ......................................................................................................................................................................... 144 Módulo I. Políticas e sistemas de gestão ....................................................................................................................................... 145 6. Política organizacional de sustentabilidade ............................................................................................................................. 145 Módulo II. Indicadores de desempenho ........................................................................................................................................ 150 7. Capital Natural .............................................................................................................................................................................. 151 8. Capital Social .................................................................................................................................................................................. 157 8.1. Práticas e condutas laborais .................................................................................................................................................... 157 8.2. Direitos humanos ...................................................................................................................................................................... 158 8.3. Impactos econômicos indiretos .............................................................................................................................................. 165 Modulo III ............................................................................................................................................................................................. 165 Relacionamento com as partes interessadas ............................................................................................................................... 165 Módulo IV. Indicadores integrados de Desempenho Sustentável ............................................................................................ 170 RDS para pequena e média Organização .................................................................................................................................... 170 GLOSSÁRIO E ABREVIATURAS ...................................................................................................................................................................... 175 5 João S. Furtado 6 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS APRESENTAÇÃO Introduzir o conceito de Produção Limpa nas empresas e instituições é uma tarefa bastante árdua, a envolver mentes e mãos, as mais diversas, tal como o eco-sistema. Envolve não apenas o esclarecimento do que ela, a Produção Limpa representa, mas estratégias competentes e contínuas para sua implementação. Entretanto, mesmo diante dos desafios, é um caminho que inevitavelmente será percorrido e seguido, por uma simples razão: a humanidade tem que encontrar os meios para se sustentar na Terra. Produção Limpa envolve uma visão ampla, às vezes penso ampla demais, para o que estamos acostumados a considerar no nosso dia a dia, tanto do ponto de vista espacial como temporal. Implica em considerar desde aspectos internos a um processo até sua inter-relação com toda a cadeia produtiva e entorno ambiental e social. Implica num esforço que vai da concepção do produto à sua utilização e re-inserção na economia após uso. Produção Limpa representa um apelo a não nos conformarmos com a geração de resíduos. Em entender que perdas materiais impactam o ambiente e a competitividade da nossa economia por igual. Que os ganhos ambientais são ganhos sociais e econômicos. É fazer compreender que não existem ganhos econômicos sustentáveis se eles não representarem também ganhos sociais e ambientais. Produção Limpa é a convicção de que o conceito Resíduo foi inventado para encobrir a falta de competência produtiva, num determinado momento e lugar. Mas é também a convicção que temos de poder superar este equívoco conceitual. Este Guia para Organizações é uma publicação cuja falta era sentida no meio produtivo e acadêmico pelo fato de aliar reflexões consistentes a propostas concretas para orientar e colocar as organizações no caminho da sustentabilidade. Editar e publicar este livro de João Salvador Furtado é motivo de orgulho para a Rede de Tecnologias Limpas da Bahia, TECLIM. Mas é também um reconhecimento do coletivo de empresas, órgãos públicos e universidades, que formam a rede, à colaboração que João têm prestado ao desenvolvimento da Produção Limpa na Bahia e no Brasil. Este projeto não teria chegado a público se não fosse o esforço de Mario Pino, da Braskem e Ângela Teixeira, Rosana Zucolo, Lilian Reichert , Tássia Novais e Gabriel Anjos, dentro do Projeto Prata da Casa, do TECLIM, Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal da Bahia. O projeto Prata da Casa foi concebido para divulgar os esforços e resultados da Produção Limpa na Bahia, como mais uma parceria entre empresas, NEAMA/CRA, órgão ambiental da Bahia e UFBA. Mas, como entra o paulistano João no Prata da Casa da Bahia? Entra porque, mesmo suas idéias e publicações, antecedendo o próprio surgimento da Rede TECLIM, e fomentado sua consolidação, nos consideramos João Salvador Furtado prata da nossa casa, da mesma maneira que nos consideramos prata da casa dele. Nossa casa é a mesma. Asher Kiperstok Coordenador da Rede de Tecnologias Limpas da Bahia-TECLIM Curso de Mestrado Profissional em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo- Ênfase em produção Limpa. Departamento de Engenharia Ambiental, Escola Politécnica/UFBA. 7 João S. Furtado 8 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS PREFÁCIO Uma questão que se apresenta nos dias atuais, a título de desafio, é como “equilibrar o Desenvolvimento Sustentável”. Por meio de analogia, torna-se possível oferecer uma resposta bastante simplificada. Explico-me. Imagine-se o conceito de Desenvolvimento Sustentável como uma bola de cristal. Essa bola, embora bem definida, pode ser percebida de diversos modos, cada olhar contendo experiências múltiplas, registros, fluxo de pensamentos articulados e articuladores.... Cada pessoa que para ali se dirige vê parte de si refletida naquele objeto. Isto nos permite compreender porque empresários, ambientalistas ou agentes sociais entendem o conceito do Desenvolvimento Sustentável cada um sob determinado ângulo, à sua maneira. O Desenvolvimento Sustentável, segundo agentes mais interessados na economia, favoreceria a “ecoefi-ciência”, ou seja, os ganhos econômicos a partir da produção de mais bens com um uso relativamente menor de recursos naturais. Favoreceria também as atitudes voltadas ao aumento da “produtividade social” com foco na melhoria das condições de trabalho (melhoria do clima organizacional, das condições de saúde e segurança etc.). Entretanto, os agentes centrados no social argumentam ser insuficiente o desenvolvimento econômico que não promova a “eqüidade econômica” e a “eqüidade ambiental”, o que também implica em acesso mais uniforme aos recursos econômicos e ambientais. Agentes mais interessados nas questões ambientais, defendendo o Desenvolvimento Sustentável, certamente questionam o desenvolvimento apenas focado na ecoeficiência, deixando claro que já se atingiu uma situação tal que se torna premente reduzir o uso dos recursos ambientais em valores absolutos, o que é chamado de “ecoeficácia”. Questionam também, estes profissionais, a respeito da distribuição da renda sem que a sociedade indague a respeito do consumo, de como este se processa, o que é denominado “sufici- ência”. Tais abordagens nos conduzem a refletir, uma vez mais, sobre o que já foi dito de outras formas: seriam necessários vários planetas Terra para que toda a humanidade tenha um nível de consumo similar à sociedade dos países desenvolvidos. Há, em um artigo de Bieker e outros (2003)1 , uma ilustração bastante pertinente que pode ser utilizada para o entendimento dessa idéia. Então, diante do que se apresenta, de qual desenvolvimento sustentável o professor João Furtado está falando? Creio que o professor tenta dar um equilíbrio a essas visões. Apesar de o texto estar principalmente dirigido a organizações privadas e, por esse motivo, a meu ver, estar inicialmente mais próximo do vértice superior do triângulo, o texto vai se desenvolvendo em paralelo com o propósito de nos presentear com uma série de recomendações objetivando que cada organização, utilizando-as, aproxime suas 9 João S. Furtado estratégias e ações da base do triângulo. É, sem dúvida, uma contribuição preciosa o bastante para se “Equilibrar o Desenvolvimento Sustentável”! Para concluir, ressalto um outro lado do equilíbrio que aflora do texto. Como biólogo, o professor João Furtado tenta equilibrar essas visões tal como um ecossistema, onde todas as partes interagem, onde os seres são, ao mesmo tempo, predadores e presas a interagirem em várias cadeias alimentares. Principalmente aqueles que estão na base da pirâmide, onde se situariam os conceitos. Compete a cada leitor buscar organizar suas ações em uma linha de tempo que lhe permita tirar o maior proveito do conhecimento exposto neste guia do professor Furtado. E, assim o fazendo, possa, de fato, promover ações concretas que lhe permita contribuir efetivamente para iluminar essa bola de cristal, ou seja, efetivar o Desenvolvimento Sustentável. Que essa luz nos ilumine! Jorge Soto Engenheiro químico e mestre em Engenharia Química. Gerente Corporativo de Saúde, Segureança e Meio Ambiente da Braskem S.A NOTA 1 Bieker, Thomas; Dyllick, Thomas ; Gminder, Carl-Ulrich e Hockerts, Kai (2003), “Towards A Sustainability Balanced Scorecard - Linking Environmental and Social Sustainability to Business Strategy”, 11th International Conference of Greening of Industry Network, San Francisco, USA 10 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS SOBRE O GUIA As práticas sugeridas neste Guia são destinadas, essencialmente, para Empresas produtoras de bens e serviços que desejam caminhar em direção à sustentabilidade econômica, ambiental e social. Entretanto, as recomendações também servem para quaisquer outros tipos de Organizações, de direito privado ou público, aqui incluídas as agências reguladoras, instituições de ensino e pesquisa e as organizações do chamado Terceiro Setor, por exemplo. Por isso, o texto está em alinhamento com agências multigovernamentais criadas pela Organização das Nações Unidas (ONU); governos de vários países, especialmente os de economia avançada; ONGs ambientalistas e sociais como Instituto Socioambiental, Greenpeace, Amigos da Terra, e empresariais tais como Instituto Ethos, Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável CEBDS e sua matriz World Business Council for Sustainable Development; GEMI, SustainAbility, levando em conta as diferenças ideológicas existentes. A decisão de criar o Guia teve várias motivações. Inúmeras manifestações de líderes empresariais, governantes e porta vozes da sociedade civil organizada estão apontando para a importância do caminho para o Desenvolvimento Sustentável (DS), também referido como Sustentabilidade. Entretanto, fica a impressão de que os discursos não são acompanhados de prática equivalente. Enquanto isso, considerável tempo e energia é dedicado à discussão de divergências a respeito do significado do termo e a comentários de uso inadequado da expressão DS, por diferentes partes interessadas. Líderes de Organizações Não-Governamentais (ONGs) sociais e ambientalistas questionam a maneira como as grandes Corporações Transnacionais de negócios e ONGs representativas de interesses econômicos privados têm se apropriado da expressão. De outro lado, ícones de negócios dizem que DS não foi concebido por ambientalistas e que muitas definições são excessivamente “verdes” e predominantemente focadas no futuro. Governantes, por sua vez, apregoam a Sustentabilidade como sendo indispensável, mas são poucos os que estabelecem políticas públicas, planejamento e programas de DS com visão estratégica dos ativos e passivos ambientais e sociais nacionais, ou sequer incorporam ações ambientais e sociais aos aspectos econômicos. As práticas ambientais, quando implementadas, alinham-se, geralmente, às questões econômicas e, dessa maneira, acabam atendendo aos pressupostos de gestão ambiental, segundo as Normas da Série ISO14000 ou, em casos mais diferenciados, à ecoeficiência, aqui entendida como o resultado econômico resultante da relação entre criação de valor e conseqüências ou impactos ambientais. As questões sociais – quando tratadas – enfocam o público interno. O público externo, considerado em casos ainda mais diferenciados, não é tratado como parte interessada, em consonância com a Missão, Visão e Princípios organizacionais. No geral, as ações sociais são implementadas pela ótica da Responsabilidade Social Organizacional ou Corporativa, separada da Missão e implementada como algo que ultrapassa o papel a ser cumprido pela Empresa no mercado. Os fatos e condutas de conhecimento geral e a experiência como consultor e observador da cultura de 11 João S. Furtado Organizações e seus gestores mostram a predominância da prática de fim-de-tubo, com perdas materiais volumosas, emissões exageradas e impactos não-prevenidos, resultando na transferência de custos ou de externalidades para a sociedade, em nome do pragmatismo de negócios e da garantia de competitividade. Algumas Organizações diferenciadas adotaram mudanças de paradigma e conduziram esforços para a implantação de Produção Mais Limpa, mas não de Produção Limpa, próximas em nomenclatura, mas distintas quanto a compromissos e resultados, conforme abordado no Glossário. Poucos são os casos de ações de ecodesign e de uso de informações de Avaliação de Ciclo-de-Vida de Produto. O enfoque de Sistema de Produto, do-berço-àcova, com fechamento de ciclos, ainda não faz parte da agenda das Organizações. A proposta de ecoefetividade, orientada para o modelo do-berço-ao-berço ainda não aparece em discussões acadêmicas mais amplas. A motivação mais forte para a produção do Guia foi decorrente da oportunidade de abordar a inserção de práticas de DS na Braskem S/A, durante 2004. Mesmo tendo sido em bases preliminares – foi experiência importante, graças à iniciativa da gerência ambiental corporativa, fundamentada em documentos da Política Organizacional e na declaração pública da Empresa de orientar-se para a Sustentabilidade. Assim, o Guia foi produzido contendo grande diversidade de práticas gerenciais, de bases econômica, ambiental e social, decorrentes da seleção, ajuste, combinação, adaptação ou inserção direta de sugestões extraídas das fontes mencionadas ao longo do texto. A publicação do texto tem como propósito compartilhar conceitos, informações e sugestões, para o uso de diferentes partes interessadas em aumentar o valor da empresa e, conseqüente do acionista, da imagem organizacional perante fornecedores, clientes, consumidores, beneficiários e demais membros ou organizações da sociedade. A metodologia desenvolvida tem como propósito estimular a reflexão para a construção de conceitos e entendimentos, no âmbito da Organização, com fortes implicações para a execução das tarefas sugeridas. As recomendações consideram a gestão integrada de processo-produto-consumo e descarte, com fechamento de ciclos a montante e a jusante, segundo o modelo do-berço-à-cova e, idealmente, do-berço-aoberço. Os termos DS e sustentabilidade são usados como sendo sinônimos. O vocábulo socioambiental é expresso com freqüência, principalmente pela dificuldade de estabelecer limites precisos para as conseqüências dos impactos para a saúde humana e a qualidade dos recursos e dos serviços naturais. O sentido será esse, mesmo quando os vocábulos social e ambiental estiverem grafados individualmente. O grande número de tarefas sugeridas e a amplitude do conteúdo de várias delas decorre da complexidade dos temas envolvidos. Portanto, os interessados poderão, após a devida análise, eleger as ações que melhor se adaptarem às condições de sua Organização. O Guia propõe ações organizacionais orientadas para mudança na conduta de processos e produtos, com vistas ao aprimoramento no desempenho. As recomendações não estão restritas às questões ambientais ou aos impactos diretos causados pela Organização, mas, em detalhes, aos aspectos de impactos diretos e indiretos de base tríplice (Triple Bottom Line) econômicos, ambientais e sociais, com ênfase nos socioambientais, aqueles que resultam da relação de causa-e-efeito. Por isso, a abordagem envolve o Capital Econômico (ou construído pelo homem), o Capital Natural e o Capital Social, neste incluídos os aspectos institucionais, huma12 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS nos e culturais. O Guia ultrapassa a abordagem das relações entre negócios, nas Empresas, e atividades, em Organizações sem fins lucrativos, e as operações gerenciais, no sentido de management propriamente dito. As recomendações abrangem também e em especial as práticas e ferramentas técnicas relativas a processo de produção e produto. O foco é de múltiplas partes interessadas, envolvendo as visões do-berço-à-cova e do-berço-ao-berço, incorporando o comportamento dos diferentes atores na cadeia de negócios, inclusive o consumidor. As ações inspirativas, geralmente recomendadas para atitudes pró-ativas ou além-de-conformidade, são ilustradas por sugestões de tarefas com expectativas de resultados tangíveis e intangíveis, com foco em partes interessadas relevantes. O texto não contém exemplos de Cases, como acontece em diversas publicações. A citação da fonte de referência foi feita para que o leitor interessado possa ampliar a leitura de argumentos, condutas e pensamentos de diversos autores. Os Cases mencionados nas fontes consultadas e outras conhecidas não abordam aspectos relativos à integração de elementos de Sustentabilidade Ecológica e Sustentabilidade Social como parte ou em alinhamento ao eixo principal de negócios ou de atividades da Organização. A ausência de argumentação, para convencimento de dirigentes de Alta e Média Gerência poderá ser considerada, por leitores habituados a Cases, como falha do Guia. É preciso enfatizar, porém, que o texto parte da premissa de que a Organização interessada já tomou a decisão de caminhar em direção ao DS. Como conseqüência, a Alta Administração irá assumir a responsabilidade de determinar as ações necessárias, designar e atribuir responsabilidade a grupo ou equipe de transição, denominada de Ecotime, para atuação trans- versal, trans e interdepartamental, envolvendo todas as atividades Organizacionais. De outra forma, as recomendações permaneceriam no terreno da inspiração e não do engajamento e compromisso. O Guia sugere a necessidade de sólida construção de paradigmas e de conceitos e a execução de ações de curto, médio e longo prazo, bem como de opções estratégicas de implementação orientadas para incremento de práticas correntes ou para aprendizagem organizacional global. Isto desloca o centro de atividades, usualmente atribuído a unidades que cuidam de meioambiente, saúde e segurança, para todas as unidades administrativas e produtivas. Como resultado, propõe a elaboração de Visão e Princípios de Sustentabilidade incorporada à Missão Organizacional, devendo resultar na elaboração de Proposta de sustentabilidade, decorrente de ampla e profunda revisão do modelo de Governança, das práticas gerenciais e produtivas correntes e da construção de visão de futuro desejado. A sugestão de empoderamento de equipe transdisciplinar e transdepartamental – o Ecotime – é passo importante para o sucesso da jornada, para o que são apresentadas tarefas visando a validação institucional e o fortalecimento das relações com todas as partes interessadas, sem desconsiderar aspectos de conformidade mandatária e acordos voluntários definidos por códigos de conduta. A formação de parcerias estratégicas e compartilhamento de riscos e benefícios tem o propósito de ampliar o diálogo interno e externo e fortalecer princípios de ética, transparência, respondência e outros elementos relacionados à imagem, confiança e credibilidade da Organização. O Guia propõe tarefas para construção de macroobjetivos sustentáveis, para serem alinhados ao eixo de interesse organizacional, com embasamento na cons13 João S. Furtado trução de indicadores de ecoeficiência (econômicoambiental) e de sustentabilidade (econômico, ambiental e social integrados), com recomendações para a construção de centros de custos correspondentes para permitirem a contabilização apropriada e aferição de custo total. Como não poderia deixar de acontecer, as propostas conduzem para a construção de modelo de planejamento estratégico incorporando aspectos ambientais e sociais aos econômico-financeiros clássicos (Bottom Line) e alinhamento a Responsabilidade Socioambiental e DS. Como corolário, é apresentada sugestão estratégica de implementação de Produção Limpa no modelo de produção de bens e serviços. As sugestões para a construção de arcabouço de avaliação de desempenho levam em conta os elementos selecionados para caracterizar os aspectos de DS adotados para a Organização, do ponto de vista de ações gerenciais e produtivas e considerando aspectos tangíveis e intangíveis. Especial atenção é dada para o estabelecimento das relações de causa-e-efeito de impactos positivos e negativos das atividades organizacionais focadas em DS, com extensa lista de indicadores de base tríplice, a fim de que a Organização elabore seu próprio quadro de referência. O capítulo dedicado ao relatório de desempenho sustentável apresenta embasamento teórico-conceitual e propõe tópicos e respectivos conteúdos, para Organizações que desejarem adotar o modelo proposto pelo GRI - Global Reporting Initiative ou procedimento simplificado, recomendado pelo PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Por último, o glossário é composto de expressões, termos e siglas direta ou indiretamente relacionados ao conceito e às práticas apresentadas, para que sirvam de referência e permitam que a Organização construa seu vocabulário próprio. O mérito das ações recomendadas deverá ser creditado aos respectivos autores e fontes. Os equívocos na escolha são meus. João Salvador Furtado 14 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 02 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE Crescimento significa acesso e acumulação de materiais físicos e financeiros em termos quantitativos. Desenvolvimento representa o acesso a bens e condições em bases qualitativas e medidas por índices de eficiência. Neste contexto, “crescimento” e “desenvolvimento” ficam na dependência de direcionadores representados por aumento populacional, globalização, ambiente, economia, tecnologia e governança, os quais, por sua vez, estão sujeitos a forças determinadas por valores e necessidades, entendimento, estruturas de poder e cultura. Em conjunto, crescimento e desenvolvimento determinam o destino da humanidade e servem para a busca de respostas a questões fundamentais como: onde estamos? para onde estamos indo? onde pretendemos chegar? e como chegaremos lá? DS representa, portanto, a maneira de se buscar a melhoria das condições de bem-estar, com consumo de qualidade – por envolver relações harmônicas, de longuíssimo prazo, para o crescimento e desenvolvimento da comunidade humana, com eqüidade e garantia da qualidade física e biológica dos sistemas ecológicos, que fornecem e garantem os meios para a sustentabilidade da própria sociedade humana. Reduzir consumo não significa, necessariamente, diminuir o nível de atividade produtiva e, conseqüentemente, econômica. É importante destacar que o modelo atual do sistema produtivo é considerado extremamente ineficiente, de acordo com as medições de Pegada Ecológica, Intensidade Material Total e Fardo Ecológico tendo em vista as afirmações de que 90% dos materiais retirados da natureza não chegam ao con- O termo “Sustentabilidade” tem sido utilizado com intensidade e, em muitas situações, como sinônimo de Desenvolvimento Sustentável (DS). Falta, entretanto, consenso quanto ao entendimento do significado de ambos, especialmente quando governantes e atuantes no setor financeiro referem-se a crescimento sustentável e economia sustentável, sem qualquer correlação ao DS. DS representa a aquisição quantitativa e qualitativa de bens e serviços providos pela natureza para atendimento das necessidades econômicas, ambientais e sociais dos atuais integrantes de todos os setores da sociedade humana – sem comprometer o direito das gerações futuras de disporem de bens e serviços naturais para atenderem a suas próprias necessidades, de acordo com o espírito da definição proposta pela Comissão Brundtland, em 1987. É neste sentido, portanto, que os termos DS e Sustentabilidade são usados ao longo do Guia. O termo “sustentável” significa defensável, suportável, capaz de ser mantido e preservado, se determinadas condições e recursos não forem depletados, debilitados ou danificados permanentemente. Em decorrência, a palavra “sustentabilidade” representa um processo contínuo, de longo prazo, capaz de impedir a ruína de determinado sistema ou de conjunto de bens e meios, pela garantia de acesso e de reposição de bens e serviços. A permanência de longo prazo demanda a conservação, proteção, reposição ou o desenvolvimento de recursos intra, inter e trans-gerações. Os termos “crescimento” e “desenvolvimento” são usados como se fosse a mesma coisa. A distinção entre os dois é fundamental para a compreensão de DS. 15 João S. Furtado sumo final sob a forma de bens e serviços. Assim, ainda há suficiente espaço de manobra para o sistema produtivo implementar o Fator 10 de ecoeficiência nos processos de manufatura.1 Algumas interpretações servem para orientar a reflexão a respeito do uso do conceito de DS. Entre elas, a de que no Brasil, o entendimento jurídico diz que o DS consiste na exploração equilibrada dos recursos naturais, nos limites da satisfação das necessidades e do bem-estar da presente geração, assim como de sua conservação no interesse das gerações futuras2 . Para a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) DS significa a rota de desenvolvimento ao longo da qual a maximização do bem-estar do ser humano na geração atual não leve ao declínio do bem-estar futuro3 . Outra definição, que merece ser citada, é a do World Business Council for Sustainable Development, muito próxima da definição original de DS: “a forma de progresso que atende as necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades”4 . A linguagem utilizada na área empresarial considera que “desenvolvimento sustentável significa a adoção de estratégias de negócios e atividades que atendam às necessidades da organização e suas partes interessadas, ao mesmo tempo em que protege, mantém e aprimora os recursos humanos e naturais que serão necessários no futuro”5 . Outras concepções propõem que o DS é considerado processo evolutivo de aperfeiçoamento da economia, do ambiente e da sociedade, para o benefício das gerações presentes e futuras (Interagency Working Group Indicators), ou o progresso da qualidade da vida humana, enquanto viver em consonância com a capacidade de sustentação dos ecossistemas (UNEP, WWF World Wildlife Foundation e IUCN International Union for Conservation of Nature). A diversidade de conceitos é representada por interpretações e opiniões6 que foram produzidas antes e depois da definição clássica da Comissão Brundtland, em 1987. A falta de unanimidade no entendimento de DS também acontece quanto às divergências na implementação das idéias, uma vez que DS permanece, praticamente, no plano de declarações públicas, sem ações concretas por parte de governos, empresas em geral, pessoas e de organizações civis que se declaram paladinas da sustentabilidade. As causas da divergência de entendimento e aceitação de conceitos são atribuídas a diversas razões. 7 Ícones da indústria dizem que a expressão DS não foi inventada por grupos ambientalistas. Outra refere-se à atitude do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), quando introduziu a expressão Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável. Afirma-se ainda, que a proposta de DS é considerada excessivamente “verde” pelos desenvolvimentistas e enfaticamente orientada para as necessidades do futuro, ao invés do presente. Ou que o entendimento é vago, permite múltiplas definições e não atende ao modelo disciplina-orientado do mundo acadêmico. Por todas as razões levantadas, os críticos dizem que o conceito de DS tornou-se vago e confunde o público em geral, que deveria abrir mão de práticas de consumo às quais está habituado. Estes comentários também estão sujeitos a críticas, o que serve para demonstrar a complexidade que envolve a compreensão e abrangência do conceito de DS8 . Apesar das diferenças, DS trará importante contribuição para reorientar as atividades humanas, se as resistências e objeções ideológicas puderem ser removidas. Há, entretanto, o fato inconteste de que a questão da sustentabilidade não deve, nem pode, ser atribuída 16 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS unicamente ao setor produtivo com fins lucrativos, mas a todos os integrantes da sociedade humana. Qualquer que seja o enunciado adotado, DS tem que ver com as pessoas, as comunidades e a justiça. Portanto, requer a obrigatória integração dos objetivos econômicos aos sociais e ambientais; a manifestação inequívoca de vontade política, de âmbito global para sua implementação; o envolvimento e co-responsabilidade de todos os agentes e atores, nos diferentes setores da sociedade humana, e a inclusão no topo das agendas dos protagonistas. A busca do DS deveria significar a mudança estratégica de rumo a ser adotada por toda a sociedade humana, sem a necessidade de estabelecimento de legislação nacional e internacional que representasse marco regulatório obrigatório. No presente, a maior cobrança recai sobre as Organizações produtoras de bens e serviços. As empresas são consideradas os agentes primários da crise ambiental, derivada da ineficiência dos processos produtivos que geram e despejam no ambiente volumes crescentes de resíduos tóxicos e perigosos. Outro fato incontestável é de que o atual modelo econômico estimulou a apropriação dos bens naturais de modo predatório e a transferência dos custos ambientais – chamados pelos economistas de externalidades - para a sociedade como um todo. Contemporaneamente, os sistemas privado e público têm condições de mitigar os efeitos e mudar o rumo atual da situação. Mas, o consumidor não pode ser excluído da problemática, por ter sido ator coadjuvante da sociedade do desperdício. A partir de 1992, grandes Corporações Transnacionais (CTNs) começaram a divulgar a necessidade do setor produtivo incorporar práticas de DS em suas atividades. Tal processo foi reforçado por várias ONGs defensoras do ambientalismo de resultado, criadas e mantidas pelas mesmas CTNs. Desde 2002, as CTNs e ONGs pró-setor produtivo privado estabeleceram fortes relações e, conseqüentemente, mecanismos de influência sobre as agências da Organização das Nações Unidas (ONU) que se dedicam ao tratamento de questões ambientais globais. Desde então, vários desdobramentos foram marcados pela emergência de novos movimentos, eventos, programas e projetos, tecnologias, ferramentas gerenciais, publicações e negócios que ultrapassam US$600 bilhões anuais, cristalizando o mercado ambiental. Parcerias foram estabelecidas envolvendo empresas, governos, ONGs e instituições acadêmicas em diversas partes do planeta. Levantamentos de casos empresariais de sucesso e análises de desempenho são realizados, com premiações e apontamento de ícones nacionais e internacionais de sustentabilidade. Mas, a ênfase na sustentabilidade corporativa não foi clara nem suficientemente integrada ou condicionada à sustentabilidade ambiental, humana e social. O desempenho das empresas promotoras do DS continuou sendo medido pelo resultado econômico clássico (Bottom Line), sem incorporar componentes sociais e ambientais nas decisões de negócios. As práticas produtivas também ficaram de fora. Em muitos casos, transformou-se em instrumento de relações públicas e, em casos mais avançados, em ações de responsabilidade social corporativa. Nestas condições, a integração de custos e ganhos econômicos, ambientais e sociais, que consiste no Resultado Final Tríplice (Triple Bottom Line), ficou longe de ser contabilizada. Além disso, as Organizações não atenderam à expectativa das ONGs, que reivindicam transparência e auditoria externa de conduta e desempenho socioambiental das CTNs e, por extensão, das empresas de negócios. A declaração do setor privado de introduzir as prá17 João S. Furtado ticas de DS em suas operações deve ser vista como reconhecimento de que o rumo precisa ser mudado. Todavia, os críticos mais severos consideram que grande parte dos casos organizacionais de sustentabilidade são exemplos de greenwashing (maquiagem verde), ou seja, representada por falsos apelos ecológicos e ambientais inexistentes em produtos e processos; e também de bluewashing (maquiagem azul), no caso de grandes CTNs que aderiram ao código de conduta Global Compact, criado pela ONU, ou em parcerias com agências das Nações Unidas. Tudo isso resultou da falta de acompanhamento externo ou de divulgação pública de informações e resultados dos compromissos assumidos. A ausência de articulações entre as declarações e a adoção de práticas de sustentabilidade ou de DS também acontecem nas organizações de educadores (em vários níveis de escolaridade), dirigentes e técnicos de órgãos públicos, políticos e governantes. O cidadão comum está incluso nesse processo e, muitas vezes, é estimulado pela repetição de termos na mídia popular. Em geral, a sociedade acaba praticando o modelo fim-de-tubo, em que os resultados do consumo de bens e serviços são acumulados para descarte através do lixo urbano, via de regra sem coleta seletiva, uma vez que as administrações municipais adotam a mesma prática de descarte de resíduos. Desenvolvimento Sustentável significa mais do que aumentar os índices percentuais no crescimento econômico definido pelo Produto Interno Bruto (PIB), ignorando a marca ou Pegada Ecológica (Ecological Footprint) deixada pelo modelo de crescimento convencional, que compromete a capacidade de recuperação da superfície bioprodutiva da Terra – a Ecosfera. É importante reforçar, por isso, que a prática de DS e Sustentabilidade por Organizações e demais setores da sociedade precisa considerar a integração das três di- mensões de necessidades humanas, o Resultado Final Tríplice (Triple Bottom Line). Neste contexto, a dimensão econômica é representada por prosperidade e aquisição de bens materiais e financeiros das partes interessadas (stakeholders), incluídos os acionistas (shareholders) e investidores nas empresas de negócios. A dimensão social, por seu turno, se caracteriza pelo bem-estar e justiça social (equidade e inserção) das pessoas, individualmente ou em comunidade, enquanto a dimensão ambiental é expressa pela conservação e qualidade dos estoques de recursos renováveis, extensão de vida útil dos não-renováveis e sustentação dos serviços naturais, como clima, recuperação de fertilidade do solo, garantia da cadeia de nutrientes entre outros indicadores. As Organizações – principalmente as produtoras de bens e serviços – terão que pensar o que fazer em relação à Sustentabilidade planetária e sua própria sobrevivência, enquanto dependente de suprimento de recursos naturais e dos serviços ambientais dependentes da Sustentabilidade Ecológica. Entre 2005 e 2015, a Organização deverá repensar e reorientar os processos de produção e produtos, visando à incorporação de elementos causadores de impactos socioambientais a valores econômicos relacionados à eficiência energética, poupança de água e de matérias-primas; ao reaproveitamento de materiais, na planta e fora dela; ao uso ou à geração de não-produtos (resíduos) tóxicos e perigosos. Também será necessário articular todas as partes interessadas e assumir níveis elevados de Responsabilidade Socioambiental Total (transparência, capacidade de resposta e conformidade), entre outras condições, como estão abordadas nesse Guia. Além disso, deverá implementar ferramentas de base econômica e socioambiental já disponíveis e suficientes para atendimento das necessidades de governantes, produtores e consumidores. 18 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Tendências atuais indicam o caminho para a mudança na legislação ambiental, passando do modelo de controle de níveis de emissões (threshold) para limites de uso de recursos. Será preciso internalizar os custos sociais e ambientais e outros efeitos sistêmicos, abrangendo as cadeias de valor e hábitos de consumo que fazem parte do processo social. As mudanças poderão começar antes do previsto, através de pressões de mercado e de marcos regulatórios (nacionais e internacionais). O desafio será maior no período de 2015 a 2055, ou seja, entre 10 e 50 anos, período no qual será exigido que as organizações estejam preparadas para mudanças mais radicais, a fim de ultrapassar o nível de processo, de produto, alcançando o modelo econômico e o sistema de produção de bens e serviços como um todo. Nesse contexto, a disponibilidade de recursos naturais, progressivamente exaurida ou ameaçada de extinção, será mais crítica, devido a questões como o aquecimento do planeta. É preciso considerar que o aquecimento global é decorrente, em grande parte, do próprio modelo industrial e de consumo atual (business as usual). Parte das ferramentas existentes e em desenvolvimento deverá ser aplicada no futuro. Outras que ainda nem foram pensadas deverão ser criadas, juntamente com eco-inovações tecnológicas inexistentes, de caráter radical, visando produtos também não imaginados no momento. Produtos e materiais tóxicos gerados pelas indústrias desaparecerão ou serão proibidos. Produtos inúteis, supérfluos, ineficazes ou ineficientes terão dificuldades de aceitação ou não resistirão a avaliações de custobenefício do próprio portfólio das empresas. E os sistemas de produção fechados, com balanço próximo de zero de material e de energia, serão fatores de competitividade elevados para as empresas sustentáveis. Assim, a concepção, desenho e implementação de uma proposta de sustentabilidade representam iniciativas muito importantes para o incremento dessa jornada. Tais atitudes, no entanto, não garantem isoladamente que as Organizações passem a ter meios para permanecerem competitivas em seus ramos de atividades ou de negócios por longo período de tempo. É necessário que as empresas estejam seguras de que terão acesso a meios e recursos naturais e humano-sociais por tempo indeterminado. Portanto, não poderão jogar “roleta russa” com os bens comuns. A sustentabilidade organizacional precisa relacionarse à sustentabilidade ambiental, humana e social. Justamente por isso, as ações aqui incluídas estão ancoradas, orientadas ou alinhadas a inúmeros temas, questões ou condições que envolvem a inseparável tríade - econômica, ambiental e social. O sucesso das ações na Organização dependerá da iniciativa e do engajamento do dirigente ou líder, com poder de decisão de alto nível administrativo e da constituição e operacionalização – com dedicação e intensidade – de grupo, equipe de transição ou ecotime, para executar as tarefas, ações ou atividades necessárias. O caminho para a sustentabilidade poderá ser iniciado e conduzido de diferentes maneiras. Pode acontecer pela aprendizagem organizacional e construção da visão global de sustentabilidade ou através da seqüência e forma das tarefas ou ações incluídas neste Guia, selecionadas e ajustadas aos interesses e condições da Organização. A identificação de práticas organizacionais já em curso, consideradas prioritárias ou relevantes, e a seleção de ações propostas que resultem no aprimoramento incremental das operações gerenciais e produtivas escolhidas, é outro caminho que pode ser adotado. Ou ainda a combinação e simultaneidade das opções. É difícil estimar quantos anos uma organização – especialmente a empresa com fins lucrativos – irá ou 19 João S. Furtado poderá durar no segmento ou setor de atuação. Organizações públicas estão sujeitas às transitoriedades político-administrativas. Empresas privadas passam por distintos ciclos de fusões, aquisições, falência ou fechamento por diferentes razões. Apesar de tudo, é possível afirmar que, atualmente, as condições que mais contribuem para a sobrevivência da empresa de negócios são o desempenho correto das finanças e da gestão de patrimônio (especialmente o intangível) e a influência na economia e nos impactos sociais e ambientais.8 Nessa perspectiva, cabe salientar que o sistema gestão-processo produtivo-produto-consumo, repetidamente mencionado neste Guia, deve ser entendido como o conjunto de operações gerenciais e produtivas embasado no sistema de produto do-berço-ao-berço, isto é, da fonte de matérias-primas à destinação final e reaproveitamento de não-produtos (resíduos), impactos baseados na Avaliação de Ciclo de Vida e fechamento de ciclos. Isso deve acontecer tanto à montante (upstream) - para incorporar os métodos extrativos, conservação e recomposição de fontes, inclusive o processamento e transporte de matérias-primas e bens intermediários quanto à jusante (downstream) – para incluir os hábitos e condutas dos consumidores e processos de descarte e destinação final de embalagens, restos e os próprios produtos ao final da vida útil. O conceito atual de riqueza é mais amplo do que o de crescimento econômico. A riqueza real da comunidade inclui bens ou situações que as pessoas valorizam, como emprego, educação, acesso à informação, saúde, segurança, liberdade, direito de escolha, qualidade social e ambiental, participação, lazer e equidade. A riqueza da pessoa é representada pelo acesso individual aos bens e serviços. Já a riqueza da nação é definida pela totalidade dos bens e serviços acessíveis à sua população.9 A proposta de DS, portanto, é substituir o cerne do modelo econômico clássico que coloca o homem no centro do universo, ignorando, deliberadamente ou não, as diferenças entre crescimento e desenvolvimento. Além disso, opera no sentido de acumular e valorizar o estoque de capital material (físico) construído, através do aumento da produção e, em decorrência, do consumo de bens e serviços. O modelo de desempenho prevalente está em conformidade com a legislação estabelecida, a qual favorece a prática de fim-de-tubo (end-of-pipe), caracterizada por contenção de emissões de não-produtos (resíduos) e posterior tratamento ou descarte para aterros e incineradores; ações de comando-e-controle, baseadas em padrões sócio-ambientais restritos ao processo e ao produto, mas que não fecham os ciclos a montante (upstream), relativo à fonte de recursos, nem a jusante (downstream), correspondente ao consumo e à destinação final e à ausência de discriminação entre crescimento e desenvolvimento. Do ponto de vista propositivo, a definição clássica de DS 10 foi incorporada como Princípio 3 da Declaração do Rio 92. Os limites sociais, econômicos e ambientais para o DS, no entanto, ganharam novas dimensões, de natureza ideológica, a partir da articulação da questão da sustentabilidade (Princípio 3) da Declaração do Rio11 , ao Princípio de Participação (Princípio 10), Prevenção e Precaução (Princípio 15), Poluidor Pagador (Princípio 16) e Avaliação de Impacto (Princípio 17), entre outros. Implementação de desenvolvimento sustentável A leitura e a implementação do DS no mundo ultrapassam ações de ordem técnica, econômica e 20 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS socioambiental. Requerem, acima de tudo, vontade política, instrumentos normativos e iniciativas de governos nos âmbitos global(multilateral) e nacional. A conduta atual das Organizações, inclusive de muitas que defendem e promovem o DS, é a ausência de ações para sua própria sustentabilidade. Exemplos podem ser analisados a partir de iniciativas que reivindicam sustentabilidade ao setor privado, mas que não fazem sua parte, tais como: agências ambientais, universidades e instituições de pesquisa, entidades de classe, bancos, escolas, clubes e organizações não governamentais – ONGs - tanto sociais, como ambientalistas, entre outras. Entre as organizações – principalmente as de negócios - que buscam seu lucro na extração e uso de recursos naturais – , são pouquíssimas as que tomaram a iniciativa de integrar a sustentabilidade econômica e socioambiental em os seus procedimentos operacionais regulares. Dentre cinco mil empresas, que representam 95% do mercado de capitalização em economias desenvolvidas e 80% de mercados emergees, 996 demonstraram seu interesse em DS, em respostas a consultas realizadas a 450 delas e análises de 546 anúncios publicitários. Cerca de 50% publicam, de alguma forma, informações sociais e ambientais, mas apenas uma em cada três publica informações ambientais e sociais que cobrem todas as operações.12 Tomando como base o conceito original e as interpretações de DS e sustentabilidade em função das características de atividades e negócios das organizações, nota-se que muitas ações de caráter social e ambiental, que abrangem âmbito interno ou interno/externo, tornaram-se publicamente reconhecidas como de responsabilidade social organizacional/corporativa, com enorme alcance social mas, em grande parte, não estão alinhadas ao eixo de negócios, nem estão articuladas aos procedimentos operacionais regulares. Outras iniciativas atendem ao desempenho de ecoeficiência e representam avanços notáveis do ponto de vista ambiental (algumas vezes com reflexos sociais), mas não incorporam, nem contabilizam, aspectos de justiça social, como inserção e eqüidade. Inúmeras atividades incorporam, de fato, o conceito de DS, porém apenas alguns itens das operações, o que foi suficiente para que o “caso Organizacional” se tornasse ícone de referência internacional. Os comentários reforçam, portanto, o entendimento de que a inclusão de sustentabilidade nas atividades ou nos negócios das organizações está em sua infância e que não é fácil, nem pode ser considerada como opção momentânea e temporária. Trata-se na realidade, de um processo contínuo, de longo prazo, que implica em mudanças profundas e abrangentes na cultura e nos modelos de governança, de gestão organizacional, de processos e produtos; fechamento de ciclos desde a exploração das fontes de materiais, até o descarte e destinação de não-produtos, ou resíduos, durante o processo produtivo; características do produto e nos impactos do ciclo de vida, inclusive no tipo de uso ou de consumo do bem ou serviço – por todos os integrantes da cadeia de valor – até o descarte e destinação pós-uso ou ao final da vida útil. Os casos mais citados de sustentabilidade empresarial são de grandes corporações transnacionais. Mesmo assim, não faltam críticas quanto à atuação parcial, não necessariamente de Resultado Final Tríplice (Triple Bottom Line); maquiagem verde (greenwashing) e duplo padrão de comportamento, principalmente nos casos em que a conduta declarada não é cumprida por filiais, subsidiárias ou empresas associadas que operam em diferentes países. No Brasil, por exemplo, o Ministério Público ini21 João S. Furtado ciou ação de responsabilidade civil por infração ao Código Ambiental Nacional, contra empresas ícones internacionais de alegada sustentabilidade, cujos dirigentes máximos tornaram-se formadores de opinião em DS corporativo. Além disso, ainda não foram identificados vários indicadores econômicos mensuráveis que demonstrassem com clareza os ganhos financeiros para os acionistas que, hoje, são classificados como intangíveis ou menos tangíveis. Ironicamente, as maiores dificuldades para a incorporação do paradigma de sustentabilidade ocorrem nas organizações públicas, inclusive nas agências de regulamentação e controle ambientais. Nestas, há várias dificuldades a serem superadas. A transitoriedade, instabilidade e descontinuidade político-administrativa nos diversos níveis diretivos, gerenciais e de liderança, acompanhadas da falta de modelo coerente de governança organizacional, impedem o estabelecimento, com clareza, de missão, visão, princípios, valores, objetivos, planejamento estratégico e outros elementos de política organizacional. O modelo de comando e controle de fim-de-tubo (inclusive em agências que promovem prevenção de poluição, produção mais limpa, ecoeficiência, avaliação de ciclo-de-vida, etc) e a deficiência do sistema interno de informação e de comunicação, falta de aceitação de papéis, lideranças, coesão, identificação e engajamento das partes interessadas são antagônicas à sustentabilidade. Os conceitos e entendimentos adotados levam em conta os limites naturais determinados por condições biológicas, físicas, químicas e geológicas para atendimento das necessidades do presente e das gerações futuras. Independente do tipo de organização, a sustentabilidade econômica e socioambiental integrada depende de iniciativas básicas voltadas para a reunião de gestão, produção e consumo de bens e serviços, com visão de avaliação de ciclo de vida; visão de sistema de produto, do tipo do-berço-à-cova ou, idealmente, doberço-ao-berço; foco na cadeia de valor (algumas vezes denominada cadeia de negócios, cadeia de supri- O caminho para a sustentabilidade Antes de iniciar a rota para a sustentabilidade, é indispensável que os gestores organizacionais reflitam sobre o esforço coletivo a ser exigido, para que não inicie um processo com o objetivo exclusivo de promoção de imagem, ou de uso como instrumento de relações públicas, fracassando no objetivo primordial. Uma vez decidida a empreitada, é preciso estabelecer o entendimento do conceito original de DS e de sustentabilidade e sua aplicação à realidade e ao dia-adia da organização. Para as empresas com fins lucrativos “sustentabilidade” significa a qualidade do modelo de gestão para manter a presença competitiva da organização por longo prazo, com garantia de acesso a bens e serviços, através da preservação, conservação e reposição de recursos e serviços proporcionados pelo Capital Econômico e Financeiro, Capital Natural, Capital Humano e Capital Social (ver Glossário). Numa Organização sem fins lucrativos, o conceito de sustentabilidade é o mesmo, partindo-se do ajuste de linguagem em função dos instrumentos de política organizacional, com destaque para missão, visão, princípios, valores e objetivos organizacionais. As principais causas da não-aderência das organizações às práticas de sustentabilidade estão relacionadas a resistências determinadas por modelos de governança hierárquicos, patriarcais e monolíticos e à cultura prevalente, uma vez que ambas dificultam ou, no extremo, impedem as inovações necessárias para o DS. 22 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS mento ou de logística); envolvimento e atendimento às expectativas dos interessados – também chamados de agentes, atores ou partes que afetam ou são afetados pelo sistema (os stakeholders). No caso das organizações com fins lucrativos, deverão ser incluídos os acionistas e investidores (shareholders). Assim, a sustentabilidade implica na adoção de práticas adequadas, do ponto de vista econômico e socioambiental, envolvendo: extração e uso de materiais (inclusive água e energia); processo de produção, distribuição e comercialização de bens e serviços; descarte, disposição e destinação ambiental de não-produtos (resíduos), embalagens, restos pós-uso ou produtos ao final da vida útil e que levem em conta a obrigatoriedade de impedir a ruína dos recursos naturais, sociais e humanos; estender a disponibilidade dos recursos não-renováveis (abióticos); conservar, garantir a capacidade de bio-reprodução e a biodiversidade dos recursos renováveis (bióticos); prevenir ou – na falta temporária de recursos ou meios científicos, tecnológicos e econômicos para isso – reduzir ao máximo a ineficiência econômica e socioambiental das práticas gerenciais e de produção (ecoeficiência); os danos ou impactos maléficos para a qualidade de vida, inclusão e justiça social, a qualidade dos ecossistemas e dos meios ar, água e solo. A jornada para a sustentabilidade organizacional é complexa, trabalhosa e árdua, pelo fato de mexer com a cultura institucionalizada, em geral monolítica e acostumada com o fim-de-tubo, as externalidades e o acesso irrestrito aos recursos naturais. Mas, é caminho sem volta no qual o preço da desistência será a incerteza da permanência da Organização no mercado. pp. Texto de livre acesso em www.teclim.ufba.br/jsfurtado 2 Maria da Graça Krieger & col. 1998. Dicionário de direito ambiental. Ed. Universidade. UFRGS, 511 pp. 3 http://www.oecd.org/EN/glossary/0,,EN-glossary-21nodirectorate-no-no-311-21,00.html 4 www.wbcsd.org 2002. The business case for sustainable development. 5 Business strategies for sustainable development. 19 pp. www.bsdglobal.com/pdf/business_strategy.pdf Acessado em jan 03. 6 Murcott, Susan. 1997. Sustainability principles, ecosystem principles. Appendix A, B, C, D. www.sustainableliving.org 7 Síntese feita a partir da leitura de Holliday, Jr C. O. & col. 2002. Walking the talk. 288 pp. Greenleaf Publ. 8 Para revisão parcial, ver Furtado, J.S. 2003. Gestão com Responsabilidade Socioambiental. Desenvolvimento Sustentável e comunidade. 46 pp. Texto de livre acesso em www.teclim.ufba.br/jsfurtado 9 Schmidt-Bleek, F. & col. 1999. A report by the The Factor 10 Club.Chapter I.Factor 10:making sustainability accountable. Putting resource productivity into praxis. 67 pp. www.factor10-institute.org 10 http://www.ceres.ca.gov/tcsf/sustainable_development.html relatório apresentado à ONU, em 1987 pela The World Commission on Environment and Development (The Brundtland Commission), centrado em política global e no debate “crescimento versus ambiente” 11 Antonio Fernando Pinheiro Pedro. 2001. Aspectos ideológicos do meio ambiente. Ver. Cult. R. IMAE, S. Paulo ano 2, nr. 4, pp. 43-46.http://www.une p.org/Documents/Default.asp? DocumentID=78&ArticleID=1163 Rio Declaration 12 Holliday, Jr. C. O. & col. 2002. Walking the talk. The business case for Sustainable Development. 288 pp. Greenleaf Publ. NOTAS Ver Furtado, J.S. 2003. Gestão com Responsabilidade Socioambiental.Ferramentas e tecnologias socioambientais. 1 23 João S. Furtado 24 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 03 ORIENTAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL(DS) AÇÕES, CONCEITOS E ATITUDES PARA DIRECIONAMENTO DOS ESFORÇOS 1. PERSPECTIVAS PARA A INCLUSÃO DE DS NAS PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS atividade praticada e a Visão, entendida como a motivação que mantém a Organização no caminho do futuro e expressa o que ela é, e em que deverá tornar-se; sob quais princípios ela se orienta, que valores e compromissos assume. Nesta etapa, é preciso identificar o estilo de governança, a partir da análise do processo de tomada de decisões e comando de operações gerais, e o modelo de gestão, que poderá ser do topo-para-base, da basepara-o-topo, ou ainda processos combinados. É importante verificar se o modelo de gestão é hierárquico, patriarcal, com as decisões tomadas do topo-para-a-base, e ações na forma de comando e controle. Nesses casos, são comuns argumentos como: “Este é o modo como as coisas são feitas aqui”, ou, “É assim que as coisas têm sido feitas e estão dando certo”. Ou se o modelo é sistêmico, com decisões transversais e descendentes, baseado em um processo adaptativo, com responsabilidade em cascata, inovativo e empreendedor. “Você também é responsável por ações estratégicas e aprimoramento contínuo para o sucesso”. Os argumentos, agora, serão distintos:“Suas idéias para inovação são importantes, mesmo que antagônicas ou contraditórias às prevalentes”. “Queremos que você ultrapasse sujas próprias metas”; “Seja um direcionador além-da-conformidade, capaz de superar o sistema atual”. Nesse contexto, é fundamental a análise de conduta de executivos da alta administração, dos executivos seniores, dos gerentes médios, dos líderes, dos formadores de opinião. Isso requer a o levantamento do entendimento, das formas de percepção, da crença e da Iniciativas para a adoção de práticas de Sustentabilidade A inclusão de DS nas organizações pressupõe a identificação e a análise das características organizacionais e o indispensável aporte de recursos e meios que afetarão o modelo de gestão e, certamente, a cultura institucional e o comportamento de dirigentes e colaboradores. O primeiro passo é a Decisão Organizacional, no plano dos dirigentes máximos que deverão reconhecer a necessidade da implementação de novas práticas. Dependerá, também, da identificação e do empoderamento de lideranças - definido como a autorização, atribuição ou concessão de poder para que as pessoas possam se organizar, manifestar e participar de decisões. Idealmente, recomenda-se a designação de membros do quadro interno, para conduzirem as atividades, na condição de Ecotime de caráter permanente ou provisório, com a função principal de relacionar-se a outros dirigentes, lideranças ou gerências, para transmitir a decisão da alta administração, e conduzir o desenho das iniciativas que resultarão na formalização da Proposta de Sustentabilidade Organizacional. Em continuidade é preciso proceder a análise de documentos e práticas gerais relevantes, de acordo com a política organizacional vigente. Há de se considerar a Missão – como razão de ser ou intenção original do fundador da organização, de acordo com o tipo de 25 João S. Furtado prática ou abertura para a proposta de inclusão de DS perior, para implementação de proposta de sustennos procedimentos operacionais regulares da Organi- tabilidade organizacional. Proporcionará, também, cozação. Em algumas organizações predomina a condu- nhecimento sobre a ocorrência efetiva ou das possibita do tipo “faça como eu faço” (walking the talk), en- lidades de aceitação de condições internas para a inserquanto em outras é de “faça o que eu digo, mas não o ção de princípios e conceitos de DS nos procedimenque eu faço”. tos organizacionais regulares, com base em declarações A avaliação de conduta e práticas relevantes, segun- de política organizacional e no comportamento de dido a Política Organizacional, abrange instrumentos ou rigentes e demais colaboradores do quadro orgaferramentas administrativas usadas, os meios e os pro- nizacional. Produzirá, ainda, o entendimento, a percepcedimentos para desenho, implementação e valoriza- ção, a prática ou a abertura do quadro de colaboradoção do sistema de educação e aprendizagem organi- res para a inclusão de DS nos procedimentos opezacional, enfocados na gestão do conhecimento, no racionais regulares da Organização. direcionamento de mudanças e nas formas de desenvolvimento e empoderamento de lideranças, de empreendedores e de agentes de inovações, es- SUGESTÃO DE INSTRUMENTOS PARA LEVANTAMENTO, ANÁLISE E REGISTRO DE OPINIÕES DE pecialmente quando a COLABORADORES DA ORGANIZAÇÃO A RESPEITO DO MODELO DE GESTÃO PRATICADO Organização está orientada para iniciativas radicais, além-da-conformidade. Para ampliar o conhecimento a respeito do tipo de conduta ou de governança é recomendável o levantamento de percepção ou opinião de outros interessados internos e – idealmente – de outros externos, importantes para a Organização. O levantamento irá gerar maior entendimento ou compreensão dos colaboradores a respeito de processos de decisão su26 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS INSTRUMENTO PARA ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE ACEITAÇÃO POR DIRIGENTES E DEMAIS COLABORADORES DAS SITUAÇÕES QUE OCORREREM NA ORGANIZAÇÃO 27 João S. Furtado e iniciar ações gerais, na Organização, como parte de processo de aprendizagem global. Cada opção irá requerer tempos distintos. A primeira poderá demandar cerca de 10 anos (até 2015), enquanto a segunda – caracterizada pela Sustentabilidade Organizacional – poderá ser alcançada entre 2025 e 2050. Por último, recomenda-se a produção de documento avaliativo sobre o que representa a sustentabilidade ou DS para a Organização, e as vantagens e desvantagens percebidas. Opções para a inserção de práticas de sustentabilidade nas operações da Organização 3a. Incremento de práticas em curso 2004 O exame de cenários futuros é instrumento 2015 1. Decisão e 2. Conceitos e 3. Opções essencial, para a incorporação de práticas de liderança limites básicos para início 2025 Sustentabilidade 3b. Ação global Organizacional sustentabilidade nas operações da Organização, para 2050 aprendizagem desde que sejam englobados os aspectos e imorganizacional pactos econômicos, ambientais e sociais. Para tanto, devem ser considerados: crescimento populacional; afluência econômica; relações entre PIB A escolha da opção para inserir as práticas de DS - Produto Interno Bruto e IGP - Índice Genuíno de Progresso (determinado pela Pegada Ecológica); a De- deve levar em consideração as características desejáveis manda Total de Material por Unidade de Serviço para Organização, quanto aos direcionadores e os eleAmbiental; Análise de Fluxo de Material; tendências na mentos para a sustentabilidade. Uma vez reconhecida Legislação de 2ª geração, que incluem Prevenção e Pre- a importância e necessidade de preparar a Organizacaução, Padrões de Excelência de Desempenho e Con- ção, será o momento para a escolha de opções: insersumo de Recursos Ambientais em substituição a Limi- ção de ações incrementais em práticas correntes ou tes de Emissões (thresholds), Comando e Controle e Fim- aprendizagem organizacional global. de-tubo; globalização versus o controle de desempeOpções para inserção de ações nho de CTNs (Corporações Transnacionais); marcos incrementais em práticas correntes de referência, como crescimento continuado versus Economia de Estado Estável; previsões e projeções Para inserir ações incrementais em práticas correnreferentes a água, energia, alimento, clima, camada de ozônio, pobreza, migrações, doenças infecto-contagi- tes é necessário revisar conceitos e estabelecer limites osas, terrorismo, tecnologias de autodependência, mínimos iniciais, observando as sugestões seguintes: Crescimento Sustentável, Sustentabilidade e Desentecnologias desorganizadoras do tecido social, entre volvimento Sustentável. outras. Tendências: pressões de diferentes partes interessaUma vez tomada a decisão superior para o caminho da sustentabilidade, a estratégia para iniciar a inserção das; legislação e regulamentação; barreiras econômicas poderá seguir dois caminhos ou opções: aprimorar e socioambientais; concorrência; novos paradigmas de práticas gerenciais e produtivas em curso ou adotadas mercado; questões globais, regionais, nacionais, estaduais 28 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS mento incremental, tais como as recomendadas. As operações gerenciais envolvendo política e governança, processos de conformidade legal, processos gerenciais, formulação de estratégia, planejamento, orçamento e controle, gerenciamento de desempenho organizacional, suprimento de materiais e serviços/logística, gestão e desenvolvimento de RH, soluções de TI, captação e administração de recursos financeiros, engenharia e automação, comunicação com o segmento de atividade/mercado e stake-holders, desenvolvimento de novos produtos, marketing e vendas, expedição, entrega e pós-venda. As operações de produção englobam plantas ou grandes instalações produtivas, sítios ou unidades de produção e linhas ou tipos de produção; e (c) produtos propriamente ditos, como bens ou como serviços. É necessário também selecionar ferramentas aplicáveis ao aprimoramento incremental de operações/atividades/ práticas correntes selecionadas, como as seguintes: Ações de fim-de-tubo que precisam migrar para P+L e Ecoeficiência. Ações de P2 – Prevenção de Poluição – focadas no processo – que devem alcançar o produto e os impactos econômicos e socioambientais (de acordo com o enfoque de Avaliação do Ciclo-de-Vida) e posterior migração para P+L e Ecoeficiência. Ações de ecoeficiência, medidas através da relação entre produção/construção de valor e efeito ou influência ambiental, reconhecendo que os fatores sociais e institucionais não são incluídos no conceito original de ecoeficiência proposto pelo WBCSD - World Business Council for Sustainable Development. Ações de P+L que atendem ao conceito de produção e produtos mais limpos, com prevenção ou minimização da geração de não-produtos (resíduos) tóxicos e perigosos, visão holística ou por inteiro, avaliação do ciclo-de vida, poupança de água e recursos, eficiên- e municipais; novos arranjos físicos – parcerias; investimentos convencionais e fundos éticos. Sistema de Produto Fator 10 PIP - Política Integrada de Produto P2 - P+L Ecodesign Avaliação do Ciclo de Vida Ecoeficiência Indicadores SGA Contabilização Total Resultado Final Tríplice Também é importante identificar e selecionar prátcas correntes relevantes para aprimoramento incremental. Daí ser necessário determinar o estágio atual das práticas, do ponto de vista da sustentabilidade, levando em conta: identificação do estágio em que cada ação ou atividade se encontra, de acordo com os critérios e recomendações anteriores; análise e avaliação dos indicadores métricos econômicos, sociais e ambientais usados para identificar os impactos positivos (ativos) e negativos (passivos) da ação; análise e avaliação do modelo de desempenho adotado para a ação, em relação à Política da Organização e à Cadeia de Valor na qual as atividades ou negócios da Organização estão inseridos; análise das relações entre as ações e os melhores resultados obtidos por outras iniciativas na própria organização ou em Organizações competitivas, no âmbito local, nacional e internacional (conforme o caso); diagnóstico das competências atuais e definição das competências necessárias. Depois, a elaboração de um plano para atendê-las. O passo seguinte será escolher os tipos de práticas que poderão ser abordadas para efeito de aperfeiçoa29 João S. Furtado interessados ou parceiros relevantes ou críticos; elementos comparativos (benchmarking); definição de temas e alvos métricos prioritários, como: água e energia, matérias-primas e outros insumos, investimentos, recursos humanos, processos e produtos (bens ou serviços); gestão dos principais riscos envolvendo instalações, processo, produto, negócio, mercado, legislação; manejo adequado dos aspectos relacionados à criação de valor e oportunidades para redução de custos ou otimização de poupança/ganhos. Recomenda-se também: rever o arcabouço de indicadores métricos e o sistema de informação que deverão ser adotados; determinar as operações mais relevantes, para cada ação ou prática selecionada; eleger as ferramentas de base econômica e socioambientais, entre as já existentes, que poderão ser usadas em cada operação relevante, além de estabelecer as prioridades. O plano incremental deverá definir a natureza ou resultado da prática e as atividades ou negócios da Organização; dominar as questões relativas à complexidade e viabilidade de sucesso em escala de tempo apropriada com as metas da Organização; definir o tipo de aprendizagem necessária e que deverá ser consolidada; identificar e disponibilizar o suporte interno e externo ou os recursos (naturais, humanos, sociais e econômicos) necessários; programar a inserção de melhorias incrementais nas práticas selecionadas, abrangendo, por exemplo: Processo de produção Produtos Suprimentos e Logística Gestão de RH Gestão Financeira Marketing - Vendas cia energética, ecodesign para concepção e implementação de processos e produtos, fechamento de ciclos a montante (upstream) e a jusante (downstream), através de reuso, reciclagem, remanufatura e outras estratégias de aproveitamento de não-produtos. Evolução para ações de PL que requerem as condições mencionadas para P+L, porém, que estabelecem: o princípio da precaução para substâncias que podem causar danos ou riscos de danos permanentes ou de longa duração; a prevenção, mas, não a minimização de não-produtos tóxicos e perigosos, orientada ou caminhando para o balanço de material zero; direito público de acesso à informação sobre segurança e risco de processo e produto, em todo o ciclo-de-vida; controle democrático da tecnologia, quanto às questões ambientais, sociais e institucionais; e responsabilidade socioambiental total com verificação através de auditoria externa. É preciso estabelecer o plano de trabalho, para mudança de patamar em cada atividade selecionada, a partir do diagnóstico e tendo como horizonte o arcabouço e os limites básicos de sustentabilidade estabelecidos para a Organização, levando em consideração: estabelecimento de meta de aprimoramento desejada; revisão e, conforme apropriado, definição do novo arcabouço de indicadores métricos; eleição de ferramentas econômicas e socioambientais apropriadas para a evolução de desempenho e definição de cronograma de mudanças. As operações gerenciais e de produção devem ser complementadas por: implementação de projetos de educação corporativa, focado em competências críticas; gerenciamento de impactos que afetam (a) as atividades ou negócios, (b) os interessados, (c) os objetivos e metas temporais estabelecidos, (d) as prioridades; gestão da documentação interna, interagindo com 30 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Tecnologia da Informação Automação Engenharia Relações com o mercado Desenvolvimento de produtos Balanço de Materiais construção de indicadores e definição do sistema de contabilização total. Planejamento estratégico de base tríplice. Responsabilidade Socioambiental Total e engajamento das partes interessadas. Medição e avaliação de desempenho final tríplice (Triple Bottom Line). Relatório de Sustentabilidade, Desenvolvimento Sustentável ou de Resultado Final Tríplice. Manutenção do sistema. Se preferir, poderão ser usados os modelos de recomendações de autores nos quais as propostas do Guia foram inspiradas, especialmente os seguintes: Sigma Guidelines - Liderança e visão; planejamento; entrega; monitoramento, medição, auditoria e realimentação. GEMI Planner – Triagem; auto-avaliação; estabelecimento de alvos; análise de descontinuidade; planejamento de ações; geração de relatórios; personalização e manutenção. Doppelt – Leading changes toward sustainability - mudança de cultura; reorganização do sistema; mudança de objetivos, criação de visão e princípios de sustentabilidade; mudança do fluxo de informações; correção de ciclos do sistema e encorajamento da aprendizagem e inovação; ajuste de parâmetros do sistema e alinhamento de estruturas para a sustentabilidade; alinhamento da governança; convergência (fechamento) de idéias sobre o processo de mudança. Grayson & Hodgers - Compromisso social e gestão empresarial - identificação de gatilhos; preparação de argumentos sólidos; avaliação da abrangência das questões; comprometimento para com a ação; integração de estratégias; envolvimento dos interessados; avaliação e relatórios. Holliday & col. – Walking the talk – the business case for sustainable development - Fundações – O caso de negócio O sucesso do plano demanda recursos na perspectiva de perfis multiprofissionais e transfuncionais e programa de estímulo e incentivos para participação ativa e efetiva, para cumprimento de cronograma. É indispensável configurar os mecanismos e instrumentos de acompanhamento, avaliação e comunicação de resultados, em alinhamento com a proposta global de inserção de práticas de Sustentabilidade nas operações organizacionais. (Ver capítulo referente à Medição e Avaliação de Desempenho Sustentável). Aprendizagem organizacional global: integração gestão – processo produtivo – produto – consumo descarte e destinação ambiental Trata-se de opção complexa, que poderá demandar várias décadas para que as organizações estejam preparadas para atenderem às necessidades e exigências para o Desenvolvimento Sustentável. Além de incorporar as questões incluídas na opção para inserção de ações incrementais para práticas gerenciais e produtivas correntes, a Organização terá que se preparar para o futuro, com a visão de 25 a 50 anos. Para isso, poderá utilizar as sugestões agrupadas nos grandes blocos de tarefa que compõem este Guia: Construção de Conceitos, Visão e Princípios de Sustentabilidade. Macro-estratégia para definição de macro-objetivos, 31 João S. Furtado para o desenvolvimento sustentável; dez blocos construtores; o mercado; o arcabouço correto; ecoeficiência; responsabilidade social corporativa; aprendizagem para mudança; do diálogo à parceria; informando e provendo a escolha para o consumidor; inovação; refletindo o valor da terra; fazendo o mercado trabalhar para todos; outros procedimentos. É importante enfatizar que a aprendizagem global para a sustentabilidade ultrapassa os limites das unidades organizacionais envolvidas com ou com atribuições para cuidar de questões ambientais, mesmo nas organizações que hoje são consideradas mais avançadas e que criaram unidades ligadas diretamente ao dirigente máximo da Organização para cuidarem das questões ambientais. Tais organizações terão que migrar, rapidamente, para a criação de unidade dedicada ao Desenvolvimento Sustentável e ligada ao alto poder decisório, uma vez que a Sustentabilidade será o principal direcionador do futuro dos negócios e atividades de organizações com ou sem fins lucrativos. O modelo de governança não poderá ser patriarcal, mas sistêmico, transversal, inter e transdepartamental, para o engajamento de todas as funções administrativas e produtivas de bens e serviços. Sem isso, o sucesso não estará garantido ou, para colocar de forma mais objetiva, o fracasso será inevitável. Por isso, é cabível indagar por quanto tempo a Organização conseguirá sobreviver, se as mudanças não forem feitas. Além das mudanças organizacional, cultural e, portanto, de valores, a Organização terá que adotar paradigmas, ferramentas ou instrumentos operacionais mais avançados, dentre os quais se destacam: Resultado Final Tríplice, Produção Limpa, Passos Naturais, Ecoinovação, Capacidade de carga, Valoração de recursos e de serviços ambientais, Demanda Material Total Intensidade Material por Unidade de Serviço, Fardo Ecológico, Emissão Zero, Pegada Ecológica. No futuro – hoje incerto – serão necessárias atitudes hoje consideradas esdrúxulas, facilmente ridicularizadas pela engenharia, como “balanço material zero”, que, talvez, venha a ser surpreendida pela nanotecnologia ou novas formas de pensar e agir sequer imaginadas. Construção de conceitos, temas, paradigmas e direcionadores para práticas de Sustentabilidade É fundamental consolidar o entendimento do conceito de DS no âmbito da Organização, com o propósito de harmonizar a linguagem, integrando os conceitos de sustentabilidade organizacional aos de sustentabilidade ambiental, social e econômica. E também, relacionar o entendimento e o foco para aplicação dos conceitos nas operações e procedimentos administrativos e produtivos regulares da Organização. A dimensão do desafio, representado pela necessidade de entendimento e aplicação correta ou adequada dos conceitos e práticas de sustentabilidade, está representada pelos resultados do levantamento feito por Pricewaterhouse (Coopers, em 2002, em grandes corporações. ( Ver tabela ao lado) É oportuno reforçar a importância do leitor estar revendo, com freqüência, as definições e os conceitos apresentados nos diversos capítulos do Guia – especialmente os iniciais e o glossário – uma vez que as sugestões oferecidas estão alinhadas a dois paradigmas fundamentais. Um representado pelo pensamento contemporâneo que entende a interdependência de Sustentabilidade e integração das dimensões econômicas, ambientais e sociais. O outro correspondente à responsabilidade socioambiental, entendida como a obrigação ou o dever de responder as todas as partes que 32 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS afetam ou são afetadas pelas atividades das organizações. Quando se tratar de empresa de negócios, é conveniente analisar e avaliar a elasticidade ou capacidade de recuperação da Organização, diante de pressões ou novos paradigmas. Esse atributo representa elemento indispensável para a sobrevivência da empresa no mercado, cuja efetividade pode ser verificada através de diferentes elementos: sensibilidade e adaptabilidade ao ambiente de atividades ou negócios, por meio de flexibilidade para enfrentar situações novas ou desfavoráveis e da existência ou não de coesão e senso de identidade, através de forças unificadoras ou inter-relacionamentos; tolerância para a diversidade de múltiplas formas de atuação e descentralização e a eficiência no desempenho, com consumo modesto de recursos e uso conservador de capital. Confira as características dos sistemas elásticos a seguir, conforme leitura livre da tabela de Fiskel, apresentada na página seguinte. Outro elemento importante, no universo de conceitos da Sustentabilidade, resultam da análise dos determinantes de valores de significação real ou potencial para as partes interessadas nas atividades da Organização. Neste sentido, a identificação e avaliação dos 33 João S. Furtado tes interessadas, como: entendimento dos interessados a respeito dos instrumentos de Política Organizacional; capacidade de gestão, direcionamento; práticas operacionais; monitoramento, avaliação de desempenho e re-orientação ou correção de rumos; auditorias, relatórios públicos de desempenho tríplice econômico-socialambiental; efeitos de ações civis; gestão de não-produtos (resíduos); passivos e ativos socioambientais; indicadores tríplices métricos, entre outros aspectos de governança. Outros conceitos relativos aos intangíveis compreendem: o compromisso explícito de responder por mudanças ou impactos socioambientais e demonstração efetiva de ações neste sentido; demonstração efetiva de custos socioambientais e tendências, tais como metas temporais qualificadas e quantificadas, relações ou relevância entre as tecnologias empregadas; a gestão global de custos e a demonstração de tendências, inclusive as relações com as metas, alvos específicos mensuráveis e tecnologias operacionais (management) praticadas; o provimento de meios e recursos para responsabilidade civil e penalidades; elementos tangíveis constituem prática regular das Organizações, cabendo enfatizar a importância de questões ou elementos organizacionais como as operações comerciais, o atendimento a usuários, o custo de gestão e os custos de investimento/capital. A abordagem aos valores intangíveis tem significação especial para a prática de Sustentabilidade, uma vez que tais elementos são dificilmente incluídos nos balanços econômico-financeiros, mas representam ou são reconhecidos como indicadores de Organizações de sucesso. Encontram-se, nessa condição, os indicadores intangíveis já conhecidos por analistas, tais como: a habilidade em gestão, reputação, posicionamento estratégico, patentes e direitos autorais, indicadores socioambientais de relevância crescente. Devem ser destacados, outros não mensuráveis ou de difícil mensuração, porém percebidos por inúmeras par34 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS o valor de marca e confiança, satisfação dos interessados; a capacidade para eco-inovação, entendida como desenvolvimento de novos bens, serviços ou processos que agregam valor, previnem ou reduzem, significativamente, os impactos ambientais. Novos elementos para intangíveis abrangem: capacidade para eco-inovação, análise de ciclo-devida, ecodesign, fardo ecológico, intensidade material por unidade de serviço, balanço de massa, revalorização de materiais não-ecoeficientes, extensão da função ou do serviço e outras ferramentas; conhecimento e a capacidade de aprendizagem, a gestão integrada da sustentabilidade atual e futura; responsabilidade que incorpora a ética, a transparência, a respondência e a conformidade. A capacidade de resposta, prontidão e preparação para acidentes e a identificação de riscos servem para diferenciar, significativamente, as Organizações mais avançadas. Por isso, deve-se reconhecer o valor de empresas nas quais os procedimentos para detecção de riscos dispõem de sistema de “antenas”; de mecanismos de percepção e determinação de alvos efetivos ou potenciais; a efetividade das medidas de precaução, prevenção, correção e mitigação; os critérios para opções, os registros e avaliações de impactos, e a comunicação aos interessados. Ainda no âmbito dos riscos: é bom entender valores intangíveis que correspondem a riscos cumulativos – como proteção de saúde humana e qualidade ambiental; a contabilização sustentável e socioambiental; gestão e contabilização de externalidades e outros aspectos relacionados a processos e produtos, de acordo com o foco, do berço à cova ou, idealmente, do berço-ao-berço; periculosidade e a operacionalidade – esta última en- tendida como desvios de funções previstas no design original; falhas na confiabilidade e desempenho de engenharia; falhas de efeito no funcionamento de processo e produto (bens e serviços) e no ecodesign de produto. Finalmente, constituem, também, elementos para valores intangíveis o atendimento às partes interessadas e a percepção pública correspondente; o atendimento às expectativas de usuários, clientes e consumidores; e a visão de novas atividades ou de mercado, em função do desempenho integrado econômico e socioambiental. Uma vez identificados, selecionados, analisados e entendidos os valores tangíveis e intangíveis, é preciso comparar o significado dos dados obtidos com os fundamentos econômicos e financeiros adotados por analistas de mercado, que afetam ou são afetados pelas atividades ou negócios da Organização. Para isso, as comparações poderão abranger: rentabilidade e custo de capital; custos operacionais clássicos; custos totais (full-cost pricing) capazes de incluir externalidades e deficiência de informação; efeitos positivos e negativos para o valor da Organização, segundo interessados relevantes; Valor Econômico Agregado (EVA Economic Value Added), como indicador retroativo para avaliar a lucratividade, eficiência do capital, custo do capital e do crescimento; integridade, transparência, credibilidade e responsabilidade socioambiental total em relação ao conjunto dos interessados, como ativos para desempenho futuro, em face de confiança do mercado, investimentos sustentáveis de longo prazo e especulações; valor estratégico organizacional, tais como ética, confiabilidade, gestão de riscos, segurança, P&D, visão de futuro (cenários), governança e responsabilidade 35 João S. Furtado organizacional, focada em Resultado Final Tríplice de longo prazo; métodos para apropriação e contabilização total econômico-financeira e socioambiental; capacidade de gestão de custos e de operações gerenciais; gestão de projetos de curto, médio e longo prazos, e o uso de instrumentos econômicos, sociais e ambientais de mercado. A análise das forças de mercado representa outro elemento fundamental para estabelecimento de relações entre elementos de valor econômico e Sustentabilidade. Neste caso, poderão ser analisados aspectos como uso eficiente de recursos, soluções custo-efetivas, liberdade de escolha, competitividade, criatividade e inovação, flexibilidade, informação e comunicação com transparência e criação de valores e riquezas. A análise e discussão das questões que envolvem a regulamentação socioambiental e os instrumentos de mercado constituem fonte rica de dados e informações para a construção do caminho para a Sustentabilidade Organizacional, especialmente quando o desafio for comparar a prática de fim-de-tubo versus o modelo de prevenção. Poderão ser considerados aspectos como: condições de licenciamento, taxas e penalidades; utilização de certificados de crédito de emissões; eficiência econômica; flexibilidade de resposta; viabilidade administrativa; introdução gradual e implementação progressiva do modelo preventivo; neutralidade fiscal; transparência de conformidade; acordos negociais; governança; corrupção e subornos; infra-estrutura institucional; 36 escolaridade e educação; saúde preventiva; justiça social e justiça civil; capacidade inovativa; responsabilidade socioambiental como moda, crença e ferramenta para competitividade. Sugere-se realizar análise das vantagens e oportunidades resultantes da prática da sustentabilidade com foco econômico e socioambiental, representadas por criação de valor para o negócio ou atividades de organizações que, embora em número limitado, reorientaram os respectivos modelos de gestão, produção e comercialização. Neste caso, é preciso discutir tendências sociais, legais e mercadológicas que envolvem, entre outros temas: a formação de preço total (full-cost princing) e a contabilização socioambiental total (total accounting); as exigências de informações de ciclo-de-vida de produto; as metas de desempenho; o uso de melhores técnicas disponíveis (BAT Best Available Techniques) – economicamente viáveis e socioambientalmente adequadas; os limites de uso de recursos; a contabilização e a comunicação transparente e auditável; a responsabilidade e a previsibilidade de intervenções governamentais e de políticas públicas; a valoração dos capitais natural, social e humano; taxação de falhas de mercado por externalidades socioambientais e deficiência de informação e acesso à informação para tomada de decisão, justiça e corrupção. Outros elementos imprescindíveis para avaliação de oportunidades são os conceitos direcionadores e estratégias para implementação das práticas de DS econômico e socioambiental, abrangendo: a criação de princípios de sustentabilidade, articula- SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS dos à missão, visão, valores e princípios gerais da Organização; a concepção de política de sustentabilidade holística ou integrada deve ser capaz de expressar as vontades e expectativas para promover a permanência da Organização no mercado por período de longa duração; a incorporação dos princípios, práticas e ferramentas de sustentabilidade nos processos decisórios e do eixo central de negócios ou de atividades, como prática sistematizada que abranja todas as unidades da Organização; o envolvimento e o engajamento dos interessados, os entendimentos e os atendimentos de suas expectativas, conforme o modelo de responsabilidades compartilhadas e parcerias estratégicas; o acompanhamento, medição, avaliação e comunicação dos resultados obtidos, frente a prioridades e compromissos assumidos com clareza, transparência e sujeitos à verificação externa. É necessário fazer reconhecimento e análise de causas, obstáculos e limitações para a introdução de práticas de sustentabilidade econômica e socioambiental. Entre estes estão: a ausência de políticas de governo centradas no DS e, conseqüentemente, de instrumentos e mecanismos direcionadores para a conduta dos diversos agentes nos setores público, privado e civil da sociedade; a falta do hábito de consumo responsável e de políticas públicas que o incentivem ou promovam; o estágio atual da legislação e regulamentação ambiental, baseada em padrões de emissões, modelo de fim-de-tubo e comando-e-controle, privilegiando as organizações que não conseguem manter o passo (retardatárias), em prejuízo das líderes, orientadas para padrões de prevenção, ecoeficiência e excelência de desempenho; a falta de capacitação ou de iniciativa para lidar com externalidades, sistemas fechados de ciclos de produção (a montante e a jusante), eliminação de produtos tóxicos e perigosos; o não reconhecimento da inutilidade de produtos supérfluos e com obsolescência programada, e reatividade negativa ao banimento de produtos e substâncias tóxicas e perigosas. Recomenda-se a identificação e a documentação da importância e imprescindibilidade para a definição de indicadores, com base em indicadores de desempenho sustentável em relação aos bens ou questões globais; e de resultados métricos comparativos no setor e excelência de desempenho. Vê-se, portanto, que o estudo dos elementos intangíveis é abrangente, complexo e diversificado. Portanto, deve-se levar em conta a tendência na importância dada a valores intangíveis importantes para indicar a Organização de sucesso, no que se refere à habilidade gerencial, reputação, posicionamento estratégico, patentes e direitos autorais, transparência, capacidade de resposta a pressões externas, eco-inovação, sustentabilidade integrada (econômica e socioambiental), ética, diversidade e melhores práticas de responsabilidade socioambiental. Assim, a definição e o entendimento dos limites de atuação e de responsabilidade socioambiental, a ser feita em nome da Alta Administração, deverá considerar e reconhecer, devidamente, as conseqüências e implicações estratégicas e táticas que deverão acontecer em decorrência da inserção da sustentabilidade nas decisões de negócios ou das atividades da Organização. Por isso, a proposta de DS deve abranger aspectos como: integração das dimensões econômicas e socioambientais nas decisões de negócios ou das atividades, como operação gradual, porém permanente e de longa duração; 37 João S. Furtado identificação e engajamento das partes interessadas e de indicadores de desempenho segundo as melhores práticas e padrões elevados de responsabilidade socioambiental total (Accountability); combate à corrupção, em relação a todos os interessados, nos setores privado, público e civil; transparência no acesso à informação, à justiça e aos mecanismos de tomada de decisões; contabilização total de custos (full cost pricing) e sua incorporação nos produtos, ofertados sob a forma de bens ou serviços; desempenho produtivo de excelência (ecoeficiência), contabilização total (total socioenvironmental accounting), medição, avaliação e comunicação pública dos resultados econômico-financeiros e socioambientais (avaliação de Resultado Final Tríplice); aprendizagem permanente e interativa com os demais agentes interessados e oportunidades para autodesenvolvimento e desenvolvimento tecnológico, com forte apelo para eco-inovações radicais, especialmente quando se tratar de prevenção de riscos. As atividades ou ações propostas até aqui, estão relacionadas ao processo de tomada de decisão da Alta Administração, à escolha de opções para iniciar e conduzir o processo de mudança e à construção de conceitos para embasamento do modelo de atuação Organizacional, focado em práticas de Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Socioambiental. Para isso, as sugestões envolveram ações gerenciais articuladas a temas, paradigmas e direcionadores para práticas de Sustentabilidade com resultados tangíveis e intangíveis, ambos capazes de contribuirem para a construção de valor para a Organização e para as demais partes interessadas. O fluxo ou encadeamento das discussões deve ser definido pela Organização, a qual poderá adotar, se assim o desejar, o esquema para inclusão de DS nas operações organizacionais, sugerido na figura que se segue: O esquema toma como ponto de partida o modelo de fim-de-tubo e estabelece o caminho para sustentabilidade. Assim, cada elemento de passagem no fluxo deve ser analisado por ecotimes e os demais interessados, levando-se em consideração os aspectos conceituais e as conseqüências de cada componente para o processo gerencial, bem como os resultados gerados para sociedade e o ambiente. É esperado que as iniciativas resulte na produção 38 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS de declaração formal, pela Alta Administração, da decisão de assumir o caminho para a sustentabilidade e de serem introduzidas questões relacionadas ao DS nas práticas de gestão administrativa, processos de produção e produtos. A declaração formal da Alta Administração deverá expressar, com clareza, o reconhecimento da importância da inclusão de componentes ou dimensões apropriadas para a construção de proposta de sustentabilidade, tais como: definição de visão inspirada e ideal e dos princípios imperativos de sustentabilidade; abertura para a revisão do modelo de governança e da cultura organizacional; reorganização do modelo hierárquico de gestão, para o sistêmico e dos relacionamentos do-topo-para-a-base e vice-versa; alteração de alvos; modificação dos processos de envolvimento e expansão dos critérios para identificação e engajamento dos interessados; revisão dos possíveis represamentos, fluxos e qualidade das informações e os respectivos destinos e modificação do modelo padrões-comando-e-controleconformidade, para melhores-práticas-excelência-dedesempenho. O documento declaratório deverá ser claro e objetivo, para todos os integrantes da Organização e demais partes interessadas quanto à seleção, eleição e descrição de características e componentes de forças direcionadoras para a Organização Sustentável. Para isso, é recomendável que a mensagem reconheça e demonstre, entre outros elementos: a capacidade de aprendizagem; a coesão e senso de identidade; a capacidade para encontrar a coerência provocada por desordens causadas por inovações e mudanças; a diversidade de pessoas e idéias, com confiança e respeito mútuo; o empoderamento de todos os interessados (stakeholders e shareholders); o conjunto de objetivos audaciosos, que deve ir além de ganhar dinheiro; a superação das próprias metas, com base no trabalho de equipes, foco em resultados e respeito e atenção aos colaboradores. É importante analisar, selecionar e reconhecer os direcionadores para a Sustentabilidade, apropriados ou aplicáveis para a Organização, para entender o significado de DS no âmbito da Organização, considerando procedimentos e ferramentas socioambientais, tais como: melhores práticas de governança organizacional; definição de prioridades e identificação de causas e efeitos tríplices (econômicos, sociais e ambientais); identificação de elementos pertinentes aos capitais natural, social, humano, financeiro e manufaturados que se relacionam à Organização; adoção de melhores práticas e códigos de conduta, de caráter global e setorial; dimensões e princípios de passos naturais e de fatores de desmaterialização; sistema de produto do-berço-ao-berço; design para o ambiente; ecoeficiência; indicadores métricos; códigos de conduta e normas certificadas; Responsabilidade Social e Responsabilidade Socioambiental total em relação a todos os interessados (stakeholders e shareholders), abrangendo a identificação e o engajamento das partes; a transparência das ações perante eles; a respondência, capacidade e necessidade de responder a todos os interessados, internos e externos; a conformidade no atendimento ou cumprimento de 39 João S. Furtado obrigações estatutárias, legais e voluntárias assumidas e a verificabilidade dos atos e atitudes por terceiros, através de auditoria interna e externa. Política Integrada de Produto – PIP e Controle. Integrado de Processo e Produto - CIPP. Melhores Técnicas Disponíveis - MTD. Produção Limpa para sistemas fechados e balanço material e energético zero ou próximo de zero. A declaração formal da Alta Direção deverá incluir, também, a identificação de aspectos positivos e oportunidades que a introdução dos princípios de sustentabilidade irá representar ou resultar para a Organização, cuja verificação poderá ser feita por meio de: correlações entre os princípios de DS e as políticas e estratégias já praticadas pela Organização; os casos ou temas relevantes para os quais a sustentabilidade poderá resultar em aumento de valor na cadeia de negócios; os impactos positivos para o sistema de gestão geral (management) e integração ao processo-produto-consumo sustentável e oportunidades para aprimoramentos; as medições, avaliações e relatórios de responsabilidade socioambiental verificáveis; a mudança de cultura e aprendizagem para a visão de sustentabilidade para 10, 20, 50 e 100 anos, envolvendo a transição do modelo “negócios convencionais ou como são hoje”(business as usual) para inovações radicais, processos e produtos atóxicos, balanço zero e preparação para tecnologias e produtos sequer imaginados. Recomenda-se o estabelecimento formal de componentes básicos para inclusão do paradigma de sustentabilidade na Organização, como: a definição de propósitos; a criação da visão e dos princípios de sustentabilidade, com definição do prazo estimado em 5, 10, 20, 50 anos, no mínimo; o desenho das estratégias para mudanças, envolvendo governança e operações organizacionais; a definição das táticas e padrões apropriados, e ainda, desenhar o modelo de gestão para incorporar a sustentabilidade nos procedimentos operacionais regulares, além de criar e empoderar o ecotime Organizacional, para conduzir a implementação da proposta. Uma tarefa complexa e longa – a ser feita com o máximo de cuidado e atenção – consiste na análise e seleção de ferramentas de base socioambiental que serão usadas para a integração gestão-processo-produto-consumo e transição para o DS. Para isso, são relacionadas as ferramentas consideradas importantes e aplicáveis a diferentes aspectos para a Sustentabilidade. CONSTRUÇÃO DE VISÃO Sistema de produto do berço-ao-berço ou do-berço-à-cova. Fator 4 ou Fator 10. Passos naturais. Política Integrada de Produto - PIP. Controle Integrado de Processo e Produto – CIPP. FERRAMENTAS PARA ORGANIZAÇÃO P+L – Produção Mais Limpa (Cleaner Production). PL – Produção Limpa (Clean Production). Ecodesign. Eco-inovação incremental (p/P+L) e radical (p/ PL). Registro e Transferência de Emissões (para transição de Fim-de-tubo, P2, P+L, Ecoeficiência). Emissão Zero/100% de produto. Sistema de Gestão Ambiental. Auditoria Socioambiental. Contabilização socioambiental INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO 40 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Balanço de materiais. Capacidade de carga. Indicadores métricos. Demanda material total. Fardo ecológico. Pegada ecológica. Resultado Final Tríplice. cias tóxicas e perigosas e, em futuro breve, balanço material e energético zero. O caminho para a sustentabilidade será longo, mas deverá ser marcado por ganhos expressivos nessa direção. Nas condições atuais do sistema econômico e industrial, as seguintes questões precisam ser consideradas, para serem estabelecidos os passos para a jornada e evitar maquiagens verdes (greenwashing), intencionais e não-intencionais, de condutas organizacionais. A abordagem a seguir tem o propósito de apresentar o espectro geral de tecnologias chamadas “ambientais”, na maior parte consideradas clássicas e as possibilidades de usos. INSTRUMENTOS PARA AVALIAÇÃO Avaliação de ciclo-de-vida. Avaliação de impacto. Avaliação de risco. Estudo de impacto ambiental. GESTÃO DE POLUIÇÃO - controle de poluição do ar, gestão de água residuária, gestão de resíduos sólidos e perigosos, descarte e destinação, proteção ambiental, transporte de produtos perigosos, tratamento de resíduos, remediação e recuperação, gestão de locais (sites), redução de ruído e vibração, monitoração, análise e avaliação ambiental. Envolve as tecnologias de limpeza (cleaning technologies) ou de “fim-de-tubo” (end-of-pipe), testes e serviços analíticos, limpeza e recuperação de locais contaminados, pois se preocupam com a remoção, o isolamento e o tratamento de resíduos e efluentes. Corresponde a segmento maduro do mercado, que engloba: equipamentos para manipulação de ar; conversores catalíticos; sistemas químicos de recuperação; coletores de partículas; separadores e precipitadores; incineradores e lavadores; equipamentos de controle de odores; sistemas de aeração; sistemas biológicos de recuperação; sistemas de sedimentação gravitacional; separadores óleoágua; coadores e peneiras; tratamento de esgoto; equipamento para controle de poluição e reuso de água residuária; estocagem de resíduos perigosos; coletores FERRAMENTAS PARA COMUNICAÇÃO Balanço socioambiental. Rotulagem. Relatório de impacto ambiental. Relatório de ecoeficiência. Relatório de sustentabilidade ou de DS. Relatório de Resultado Final Tríplice. Certificado de reconhecimento. Premiação. As ferramentas deverão ser selecionadas, fundamentadas no entendimento das limitações, vantagens e desvantagens da prática de fim-de-tubo e de conformidade reativa e nas vantagens do modelo preventivo, com excelência de desempenho. Para isso, é preciso considerar que a sustentabilidade jamais será alcançada com os modelos fim-de-tubo, P2 (Prevenção de Poluição, no conceito original, restrito ao processo produtivo), nem com P+L (Produção Mais Limpa), mas com sistemas produtivos com fechamento de ciclos, prevenção de geração de substân41 João S. Furtado de resíduos; equipamentos de manipulação e destinação de resíduos; separadores de resíduos; equipamentos de reciclagem; incineradores de resíduos; equipamentos para recuperação (clean-up); serviços do tipo chave na porta (turnkey); design e engenharia; preparação construção, instalação, montagem, reparo e manutenção de sites; gestão de projetos de serviços ambientais; P&D; coleta, destinação e descarte; identificação, avaliação e remediação de áreas contaminadas; medições e manutenção de instalações; auditorias; operação, gestão e manutenção de água e resíduos sólidos e, em especial, os perigosos; design, gestão, controle e redução de ruídos e vibrações. mas, proteção de cenários e ambientes naturais e seminaturais; educação, treinamento e informação para profissionais e público em geral, operadores de áreas e instalações; serviços de reciclagem. A identificação e reconhecimento dos elementos relevantes para a construção do conceito de Sustentabilidade aplicado à Organização deve estabelecer, por fim, a organização dos componentes relevantes para o estabelecimento de conceitos e definições envolvendo as diferentes inter-relações, que abrangem: tecnologias integrativas de gestão-processo de produção-produto-consumo; entradas e saídas no sistema de produção de bens e serviços; governança; ferramentas ou tecnologias de base socioambiental; articulação dos elementos acima de valores ou dimensões econômicas e socioambientais; combinação de todos aos instrumentos de Política Organizacional, declarações de Visão e Princípios de Sustentabilidade; correlação aos macro-objetivos e às metas de excelência de desempenho; síntese do quadro de atuação atual, que caracteriza a Linha de Base de Sustentabilidade; proposição de metas avançadas, com objetivos, alvos quantificados, respectivos indicadores métricos e critérios de avaliação; previsão de estratégias e táticas para orientação do curso de ações; indicação de marcos de referência métricos para as metas avançadas; construção de indicadores ou índices de medição comparativa entre a Linha de Base e as metas de excelência; foco no modelo de avaliação tríplice (Triple Bottom Line). Cada organização irá elaborar documento agregando elementos capazes de demonstrar os âmbitos para GESTÃO DE TECNOLOGIAS/PRODUTOS LIMPOS/MAIS - tecnologias e processos limpos/mais limposrecursos eficientes, produtos limpos/mais limpos-recurso-eficientes e a modificação de materiais. Estão englobadas as tecnologias integradas que otimizam produto e processo limpo (clean-process-integrated technologies), o design do produto e processo, em todas as etapas, desde a entrada de materiais até a saída de produto para o uso ou consumo, inclusive embalagens, destinação e descarte pós-uso. Inclui, também, consultoria ambiental: avaliação de impactos, auditoria ambiental, monitoramento, gestão de riscos, avaliação de ciclode-vida, ecodesign, avaliação de desempenho, sistema de gestão ambiental; sistemas especialistas, análise financeira, gestão de base de dados. LIMPOS GESTÃO DE RECURSOS - controle de poluição do ar interno (indoor), suprimento de água, reciclagem/materiais reciclados, planta de energia renovável, gestão da poupança de calor/energia, agricultura e aqüicultura sustentáveis, florestas sustentáveis, gestão de áreas naturais e seminaturais (capital natural), gestão de riscos naturais, eco-turismo. Abrange avaliação de ecossiste42 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS inclusão de Sustentabilidade nos procedimentos operacionais a fim de revelar a Linha de Base da Sustentabilidade organizacional atual e os principais elementos da sustentabilidade futura. O esquema a seguir deve ser visto como sugestão para elaboração do termo de referência. 43 João S. Furtado Criação de ecotime organizacional e definição de papéis, designação formal do grupo encarregado das ações e desdobramentos mas de informação e de envolvimento de interessados. Sugere-se selecionar os colaboradores críticos, relevantes para levar o projeto de sustentabilidade avante, considerando: a clareza de objetivos:o que fazer? Como fazer? Com quais ações? Onde implementá-las e como fixá-las? A clareza de perfis necessários, tais como liderança, habilidades técnicas, conformação multiprofissional, com visão plural da organização (departamental, interdepartamental), capaz de articular os diversos aspectos gerenciais, produtivos e comerciais; a clareza de papéis traduzidas em credibilidade, influência, entendimento das funções Organizacionais e os relacionamentos destas com o desempenho sustentável integrado econômico e socioambiental (Triple Bottom Line), em todas as unidades e operações gerenciais. O passo seguinte é estabelecer os recursos necessários, mecanismos, instrumentos e critérios para funcionamento e atuação do Ecotime Organizacional. Faz-se necessário fixar os pré-requisitos fundamentais para o desempenho do Ecotime Organizacional, considerando-se os seguintes. Diversidade de composição. Reconhecimento e reafirmação de suporte e empoderamento pela Alta Administração. Recursos, instrumentos e mecanismos para mobilização dos interessados. Clareza de regras e liderança para direcionar, interligar, traduzir e harmonizar as ações e iniciativas, por todos os interessados envolvidos no projeto de sustentabilidade. Mecanismos e instrumentos para estimular (a) a geração de opiniões e informações, (b) a análise, a avaliação e a utilização de idéias e sugestões. Posicionamento da Visão e dos Princípios de Sustentabilidade no topo da agenda organizacional. Para executar essa meta é necessária a identificação de agentes e questões econômicas, sociais e ambientais que afetam ou poderão ser afetadas pelas atividades da Organização. Inicialmente é preciso definir o perfil do Ecotime Organizacional. Daí identificar pessoas, dentro do quadro de colaboradores internos, que conheçam elementos da Política Organizacional (missão, visão, valores, compromissos, objetivos, metas, diretrizes), a estrutura organizacional e transorganizacional, a setorial e transsetorial, o modelo e o estilo de governança, os aspectos e as atividades globais, departamentais e interdepartamentais, os procedimentos operacionais, os processos de produção de bens e serviços, as tecnologias, as práticas de gestão e a cultura organizacional. Dependendo do interesse da Organização, é preciso identificar os prováveis convidados externos, conhecedores da política e do desempenho organizacional, que podem contribuir decisivamente para a qualidade da implantação da proposta de sustentabilidade. Uma outra exigência é a de que os membros do Ecotime Organizacional tenham os seus papéis essenciais definidos com clareza. Para tanto, deve-se observar as questões relacionadas à mudança das interações da Organização ou de unidades específicas com os componentes da antroposfera e ecosfera, levando em conta todos os interessados; o arranjo físico entre a Organização ou de Unidades específicas com parceiros na cadeia de valor; a inclusão da sustentabilidade na cultura e nas práticas sociais da Organização e no âmbito das pessoas, individualmente, em grupos ou em comunidades, e a orientação e redirecionamento de siste44 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS de sustentabilidade, além de prover informações e proporcionar o treinamento necessário para o funcionamento do ecotime organizacional e outros grupos formados. É indispensável que as atividades gerais do Ecotime Organizacional sejam bem definidas, acompanhadas da articulação de ações gerenciais (management), de produção (processo e produtos limpos) e consumo, levando em conta: princípios de (a) integração (visão holística de impactos multimeios na cadeia, segundo o sistema de produto do-berço-ao-berço), (b) visão de mercado (agregação de valor e melhor informação para o consumidor) e (c) alinhamento a outras políticas organizacionais; medições, avaliações e engajamento dos interessados, abertura e transparência. O Ecotime deverá apresentar, discutir e consolidar conceitos e entendimentos fundamentais, relacionados à proposta de DS, realizando reuniões com os participantes do ecotime organizacional, com a presença de observadores; abordar conceitos e avaliar entendimentos; levantar e identificar opiniões a respeito dos conceitos e fundamentos para a proposta de sustentabilidade organizacional. Recomenda-se, como passo seguinte, caracterizar o entendimento dos interessados sobre a inserção de sustentabilidade nos procedimentos operacionais regulares da Organização. (Ver sugestão de instrumento na página seguinte). Aplicado e analisado o instrumento, o Ecotime Organizacional estará preparado para elaborar e conduzir o trabalho proposto nos demais capítulo do Guia. É necessário que dirigente com poder de decisão superior possa, formalmente, definir e designar os participantes do Ecotime que irão formalizar a Proposta de Sustentabilidade; estabelecer o formato e a agenda de trabalho, de acordo com os termos abor- Dedicação prioritária ao projeto de sustentabilidade e regime de trabalho permanente para evitar a descontinuidade (trabalho do tipo fim-de-semana, participação em reuniões e eventos, engajamento descompromissado). Proteção contra ações ou atitudes de agentes destrutivos, antagônicos, tanto internos como externos. Suporte para lideranças e interessados relevantes. Direcionadores-chave da Política Organizacional. Recursos, mecanismos e instrumentos para divulgação e disseminação de idéias, sugestões, propostas e resultados, tanto interna como externamente. Envolvimento e engajamento de executivos seniores; facilitadores para mudanças, com habilidades políticas e técnicas; patrocinadores; conselheiros técnicos, econômicos, científicos e gerenciais, e comunicadores e editores de documentos. Adequação do Ecotime Organizacional ao porte, natureza dos negócios ou atividades, abrangência e complexidade dos procedimentos operacionais, processos, produtos e serviços. Localização do Ecotime em posição apropriada no organograma, a fim de otimizar as iniciativas, visando influenciar ou efetivar a tomada de decisões e evitar a ensilagem (confinamento) de informações e dos problemas. Treinamento adequado. A partir daí, tem-se condição de criar o modelo de governança para o Ecotime Organizacional e envolvimento de outros interessados internos e externos. Para isso, é preciso elaborar esquema básico com previsão de infra-estrutura e recursos necessários e descrever as condições essenciais para funcionamento do Ecotime Organizacional. Do Ecotime deve-se também determinar a localização adequada na Organização, para a articulação e integração necessárias e garantir o sucesso do projeto 45 João S. Furtado SUGESTÃO DE INSTRUMENTO 46 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS dados nos itens anteriores do presente capítulo. O Ecotime e os outros grupos eventualmente convidados, deverão examinar e avaliar o esquema de trabalho e a conformação da proposta de sustentabilidade (observe o esquema de proposta de sustentabilidade organizacional nas páginas seguintes), a fim de verificar a adequação do modelo às características e às condições da Organização e referendar, modificar e ajustar o esquema - ou produzir esquema apropriado, levando em conta todos os resultados obtidos pela realização das tarefas dos capítulos anteriores. Recomenda-se analisar a viabilidade administrativa para implementação do modelo definido para a proposta de sustentabilidade organizacional, identificando as lideranças críticas e realizando entrevistas para levantar entendimentos e percepções. A seguir, sugere-se fazer avaliação (percepção) da aceitabilidade da proposta pelos interessados internos e externos críticos, identificando-os e entrevistando-os para o mesmo fim. É necessário analisar o esquema atual de centros de custos e outros procedimentos contábeis Organizacionais, correlacionando-o, identificando tópicos, itens ou elementos sociais e ambientais que deveriam ser contabilizados, conforme recomendação de organizações líderes no tratamento das questões relacionadas ao DS. Deve-se também articular a proposta de sustentabilidade aos termos e recomendações de acordos voluntários aplicáveis ao ramo de negócios e à conformidade legal praticada pela Organização. Neste caso, é preciso identificar aspectos relacionados à administração-supervisão; condições de trabalho e emprego justo; práticas de negócios justas; cumprimento de regras e da lei; respeito aos direitos humanos; cidadania; combate ao suborno, falsidades e corrupção; responsabilidade; excelência de desempe- nho, medição e comunicação pública de resultados. Os elementos de conduta aplicáveis à proposta de sustentabilidade baseados, entre outras fontes, em: Códigos de conduta internacionais. Accountability 1000. Caux Roundtable. Center of Applied Ethics. Ceres Principles. European Governance Institute. Global Compact. Global Sullivan. Good Corporation Standards. Greenpeace Bophal Principes. Institute for Global Ethics. International Center for Applied Commerce, Business Charter for Sustainable Development Prin ciples. International Chamber of Commerce. Labor Practice. London Benchmarking Group. OECD Principles of Corporate Governance. Responsible Care. Social Accountability SA 8000. The Human Rights. The Natural Steps. UN Global Compact. World Business Council of Sustainable Develop ment. Códigos de desempenho econômico-socioambiental – Indexadoras internacionais: Calvert. Dominici. Dow Jones Sustainability Group Index. FUTSE4Good Global Investment. Goodmoney. Greenmoney. Innovest. 47 João S. Furtado ESQUEMA DE PROPOSTA DE SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL 48 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Jantzi Social Index. Códigos de conduta nacionais: ABN-AMRO Asset Management no Brasil – Fundo Ethical. IBASE – Balanço Social. IDEC-Instituto de Defesa do Consumidor. Instituto Ethos. Transparência Brasil. Estrategicamente, é importante relacionar a Proposta de Sustentabilidade a Normas e práticas certificadas ou consolidadas, como: ISOs e NBrs – Série 14000,18000, 19011, 9000, 9001. AA 1000. SA 8000. 0HSAS 18001. GAAP Generally Accepted Accounting Practice. Outra atitude necessária consiste em correlacionar os componentes da Visão de Sustentabilidade a elementos socioambientais e sócio-econômicos, como: 49 João S. Furtado bilidade às características da Organização e ao DS. Para tal, é preciso analisar registros, anotações e informações, derivados de documentos, estudos e opiniões de lideranças e interessados (internos e externos) que se manifestaram nas ações, e produzir documento conclusivo de alinhamento. equidade no acesso a recursos, terra e localização dos altos impactos ambientais provocados por instalações industriais e de serviços; criação de emprego, distribuição justa de riquezas, oferta de bens e serviços para necessidades sociais, investimento na educação dos empregados, acesso de fornecedores minoritários aos mercados e doações; ecoeficiência na produção de bens e serviços, agregação de valor financeiro e econômico à Organização, responsabilidade e transparência. A diversidade de expectativas pode limitar a aceitação de códigos de conduta. Portanto, para facilitar o diálogo com as partes interessadas é recomendável compreender as relações entre a Proposta de Sustentabilidade e as Normas e Códigos, a partir do levantamento de: opinião organizacional, envolvendo o reconhecimento por empresas líderes e por governos; a abrangência da aplicação dos códigos, e a consistência com investidores socioambientalmente responsáveis; opinião de ONGs a respeito de medição de responsabilidade baseada em melhores práticas, abrangendo: consciência, política definida, sistema administrativo, desempenho, monitoramento e orientação; resultado de desempenho, marcado por melhoria contínua, marcos de referência externos, expectativas sociais, legislação, códigos de conduta e acordos internacionais; prática de auditoria externa independente. A revisão da política e estratégias em uso na Organização e a verificação da compatibilidade com os termos da Proposta de Sustentabilidade, deverá ser feita através do exame de documentos internos aplicáveis ou úteis para consolidar a base de conhecimento necessário à construção da proposta de sustentabilidade, com o auxílio de entrevistas com interessados críticos, internos e externos, para coleta de subsídios. Por fim, deve-se alinhar a Proposta de Sustenta- Pressupostos para elaboração da Visão e dos Princípios de Sustentabilidade Fundamentos conceituais e de política de Sustentabilidade Organizacional Para a elaboração da visão e dos princípios de sustentabilidade, a primeira etapa envolve a análise do esquema geral de montagem da Proposta de Sustentabilidade. É preciso rever a documentação organizacional que define Política – princípios de governança que estabelecem as escolhas, compromissos e bases normativas para o relacionamento entre a direção e a platéia interna e externa (todos os interessados), a fim de que a organização alcance os fins desejados. A missão e a visão são conceitos já apresentados. Valores são direcionadores de conduta pública e operacional; padrão, aspectos, pontos ou posições defendidas. A partir desse entendimento, reexaminar e refinar a proposta, para implantação de sustentabilidade e esclarecimento de dúvidas. A seguir, deve-se analisar os elementos ou descritores sugeridos na Proposta para Sustentabilidade, em especial a construção da visão e dos princípios de sustentabilidade organizacional, capazes de expressar o rumo, a orientação, as intenções, os valores e as regras para situações repetitivas. Para isso, é preciso analisar e interpretar os conceitos que envolvem os elementos sugeridos, para escolher aqueles que expressam o estado ideal de susten50 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS impactos, conforme a avaliação de Ciclo-de-Vida do produto; a organização seria vista, ao passar do modelo de fim-de-tubo (pegar recursos, usá-los e gerar resíduos), para o de prevenção na fonte (tomar emprestado, usar e devolver); qual deveria ser a opinião dos interessados, internos e externos, sobre a imagem da Organização; ela contribuiria para as expectativas de sustentabilidade dos respectivos interessados, e a organização irá se preparar para os desafios ambientais, sociais e institucionais mais restritivos, nas próximas cinco décadas. O próximo passo é analisar as pressões sociais e ambientais que poderão afetar ou que poderão ser afetadas pelas atividades organizacionais executadas em função de políticas públicas, legislação, taxas, incentivos ou condutas dos consumidores. Para tanto, é preciso correlacionar a definição de visão e de princípios aos aspectos da sustentabilidade e ao que a visão e os princípios passariam a representar para: a Organização, agregando valores em benefício dos acionistas e investidores, oferta de emprego e renda; os consumidores, proporcionando bens e serviços mais adequados, do ponto de vista socioambiental; as Comunidades, como instrumentos para o desenvolvimento das pessoas e da nação; e o Ambiente, como forma de respeito, responsabilidade e integridade. E ainda, o levantamento de informações internas, por meio de contatos com lideranças relevantes e externas, a partir de casos (mercado e literatura) e de sugestões de interessados críticos, indispensável, para que possam ser incorporadas na visão e nos princípios de sustentabilidade. Em seguida, é preciso identificar oportunidades ou implicações da visão global e setorial de futuro para a tabilidade desejado pela e para a Organização, em longo prazo, integrando aspectos econômicos, sociais e ambientais nas operações gerenciais e produtivas, como parte da cultura e procedimentos em todas as áreas, unidades e atividades. Esse procedimento permite que todos os interessados possam perceber, com clareza e rapidamente, as diferenças organizacionais entre a condição atual, chamada situação convencional ou business a usual, e a desejada, a qual pode ser determinada (a) a partir da prospecção de futuro (forescasting) ou (b) através de visão ideal de futuro, pela regressão ao presente e estabelecimento do que fazer para atingí-la (backcasting). É necessário identificar e reforçar os direcionadores a fim de articular DS e orientação para a competitividade de mercado e aumento da qualidade de vida, com atenção para: a eco-inovação (tecnológica, econômica e socioambiental); a ecoeficiência de processo, produto e consumo; a informação pública para livre escolha do consumidor; o aperfeiçoamento de políticas públicas para a estrutura de resultados no mercado; a valoração dos bens naturais da terra; o acesso universal ao mercado e a transparência. É preciso prever os meios e mecanismos para que a função econômico-financeira – congênita do propósito da empresa de negócio – não fique ofuscada, mas reforçada pelo foco de Responsabilidade Socioambiental Total, capaz de aumentar a competitividade e mostrar o caminho de futuro a ser trilhado pela Organização, no longo prazo, isto é, superior a 50 anos. Para que tal ocorra, é necessário incorporar, na visão e princípios de sustentabilidade, a maneira como: os processos e produtos seriam vistos, de acordo com o sistema de produto do-berço-ao-berço e os 51 João S. Furtado Organização. Isso pode ser feito pela identificação de situações ou ocorrências de mercado ou recomendações na literatura, com especial referência a estudos de cenários, que poderão ter significado relevante para serem incluídas na visão e nos princípios de sustentabilidade, em relação ao entendimento de DS e sustentabilidade. Para tanto, é fundamental distinguir e considerar a conceitualização de sustentabilidade nas dimensões econômica, ambiental, humana, social, ecológica e Desenvolvimento Sustentável - nos termos da proposta da Comissão Bundtland, citada internacionalmente: o desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades. Consolidado o entendimento dos conceitos, abordados no capítulo teórico, é possível estabelecer as relações entre os documentos organizacionais, a visão de negócios futuros e as possíveis correlações aos princípios de sustentabilidade. A etapa seguinte consiste em analisar os processos de gestão e de conduta de liderança na Organização, cujo intuito é identificar questões críticas ou relevantes para a elaboração ou a efetividade de implementação da visão e dos princípios de sustentabilidade. Para tanto, é necessário considerar os elementos ou condições a seguir, para avaliar as prováveis contribuições ou influências negativas na efetividade da visão e dos princípios de sustentabilidade. Missão – razão de ser ou intenção original do fundador da organização; ou tipo de atividade praticada. Valores – direcionadores de conduta pública e operacional; padrão, aspectos, pontos ou posições defendidas. Visão – motivação que mantém a organização no caminho de futuro e expressa o que a organização é, deseja ser e em que deverá tornar-se. SISTEMA DE GESTÃO ORGANIZACIONAL Variáveis econômicas, tecnológicas, ambientais, sociais, demográficas, físicas e fiscais. Configuração organizacional. Tecnologia organizacional e softwares. Estratégia – maneira de pensar e de agir, padrão de conduta, designação de recursos, posição ou percepção para a construção de plano ou arcabouço preparatório antes que ações concretas sejam postas em prática. Tática – forma como os recursos são manejados durante as ações. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Meios e métodos para alcançar o fim desejado, envolvendo: determinação da direção, caminho ou curso a ser seguido para que a política de atuação da organização seja praticada, levando-se em conta a missão, valores e visão organizacionais; estabelecimento das forças direcionadoras – que abrange produtos, usuários e beneficiários, necessidades e oportunidades no meio, marketing, tecnologias, capacidade produtiva, recursos naturais, porte e crescimento, retorno e lucratividade – para que a organização possa alcançar as mudanças e os fins desejados; DOCUMENTOS QUE DEFINEM Política – princípios de governança, que estabelecem as escolhas, compromissos e bases normativas para o relacionamento entre a direção e a platéia interna e externa (partes interessadas; interessados e sharehol-ders), a fim de que a organização alcance os fins desejados. 52 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS identificação e distribuição de meios e recursos e definição de como aplicá-los; indicação de focos estratégicos, representados pelos fins a serem alcançados, os meios, os modos e os recursos para obtê-los, a organização dos recursos e meios propriamente ditos, principalmente os disponíveis e a tática para o uso; previsão da triagem estratégica, no setor de atividades e, no caso das organizações com fins lucrativos, a concorrência, com base em ferramentas de análise como FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças), correspondente à prática de SWOT (do inglês). Corresponde à gestão de (i) dados de cenário externo, que representam variáveis ou fatores externos (macro e micro) e internos (a serem monitorados), (ii) os quais constituem efeitos no desempenho, (iii) de grande força, neutralidade, fraqueza ou grande fraqueza e (iv) de importância grande, média ou pequena, (v) em relação à política e objetivos da organização. Estabelecimento de metas de melhoria para aspectos prioritários e de baixo desempenho; aproveitamento de oportunidades e prevenção de ameaças. indicação do direcionamento estratégico para a competitividade, por processos de diferenciação, foco, objetivos e metas, para que a organização possa competir e se contrapor a movimentos ou acontecimentos, previstos ou já em curso, no ambiente, os quais representam ameaças ou prejuízos para os interesses internos e das demais partes interessadas. A implementação e efetividade da Visão de Princípios de Sustentabilidade não poderão prescindir das diferenças de expectativas para a aceitação dos códigos de conduta. Opinião organizacional, que inclui o reconhecimento por empresas líderes e por governos; a aplicação ampla e a consistência com investidores socioambientalmente responsáveis. Opinião de ONGs que envolve diversos aspectos como: Medição de responsabilidade baseada em melhores práticas, abrangendo: consciência, política definida, sistema administrativo, desempenho, monitoramento e orientação. Resultado de desempenho, marcado por: melhoria contínua, marcos de referência externos, expectativas sociais, legislação, códigos de conduta e acordos internacionais. Transparência, respondência e conformidade. Auditoria externa independente. Honestidade e combate à corrupção. Não-intervenção nas estruturas sociais e institucionais, especialmente nos modelos e sistemas democráticos. Não-interferência em práticas de governo. Segurança alimentar. Comprometimento com marcos legais globais de Resultado Final Tríplice. A validação das opções será fortemente amparada através de entrevistas com lideranças relevantes, visando consolidar entendimentos acerca da adoção dos princípios propostos. Recomenda-se, a seguir, a revisão de planos de atividades ou de negócios correntes e futuros da Organização, a partir do exame de documentos internos, identificando as relações reais e potenciais dos planos à visão e aos princípios de sustentabilidade. O passo seguinte consiste na análise da conduta organizacional quanto às práticas de transparência e de conformidade ambiental regulamentada, a partir da definição das possíveis relações entre os modelos de padrões regulamentados, e comando e controle versus excelência de desempenho. Realizado isso, sugere-se a análise da conduta organi53 João S. Furtado a demanda total ou intensidade material por unidade de serviço; o resultado final tríplice, entre outros. Recomenda-se ainda: Integrar, inserir ou combinar os elementos de sustentabilidade à missão ou eixo central de atividades ou de negócios da Organização, de maneira direta, objetiva e transparente, para ultrapassar, no caso Organizações com fins lucrativos, o objetivo de ganhar dinheiro. Adotar postura positiva do que fazer em futuro de longo prazo, e não a negativa, do que não fazer. Assumir clareza de propósito ou intenção, para mostrar caminhos a serem seguidos por todos, não gerar dúvidas, nem conflitos ou polêmicas intermináveis e sem saídas. Pensar de maneira ideal, majestosa, provocativa e desafiadora, quase inatingível, mas com demonstração de critérios e foco em objetivos, a fim de estimular o estado permanente para a tomada de decisões, ecoinovações, para excelência e conseqüente superação de metas. Redigir de forma simples, clara, objetiva, pertinente, relevante, e que sirva para nortear práticas de sustentabilidade em todos os procedimentos e em todas as operações na Organização. A segunda medida consiste no alinhamento ou articulação da Visão de Sustentabilidade à visão organizacional geral. É preciso que o texto produzido seja bem entendido por todas as partes interessadas, com especial atenção de: dirigentes seniores, lideranças e gerência média; executores; acionistas e investidores e outros integrantes da cadeia de valor. E uma outra ação importante consiste em desenvolver atividades para a prevenção de desentendimentos, desinformação e assimetrias informacionais relacionadas à Visão de Sustentabilidade. zacional em relação ao monitoramento do desempenho social e econômico e à transparência nos relatórios e comunicação produzidos e divulgados e sua provável correlação com a formulação de visão e de princípios de sustentabilidade. Para tanto, é preciso examinar os documentos internos e realizar entrevistas com interessados críticos, internos e externos. O último passo é a análise da efetividade dos processos de diálogo praticado entre a Organização e os múltiplos agentes interessados (shareholders e stake-holders), em sintonia com a documentação interna e os resultados das entrevistas com interessados críticos, internos e externos. Construção definitiva da Visão de Sustentabilidade Elaboração de texto formal de direção a ser seguida Duas medidas são importantes nessa direção. A primeira é a análise e avaliação de textos, para construção de mensagem, como visão de futuro desejado ou de direção a ser seguida pela Organização. Ao redigir a visão de sustentabilidade, é indispensável considerar definições, conceitos, propostas, entendimentos, práticas, cenários e outros aspectos pertinentes ao DS. Eleger os fundamentos ou combinações de fundamentos de DS que melhor se aplicarem às atividades ou negócios da Organização, como visão de futuro. Entre eles: os passos naturais – The Natural Steps; a Produção Limpa; a ecoeficiência; a Emissão Zero; 54 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Construção definitiva dos Princípios de Sustentabilidade Elaboração de texto formal de valores a serem praticados mecanismos para prevenir desentendimentos, desinformação e outras assimetrias informacionais. Validação de proposta de DS Reconhecimento e aceitação pelos interessados internos e externos relevantes Este procedimento requer, inicialmente, a análise e avaliação de textos de Política Organizacional e elaboração de documento contendo os critérios éticos e morais que irão representar ou permitir a construção de valores a serem seguidos na Organização. Para isso, é importante reconhecer os conceitos de princípios – como guia, arcabouço ou conjunto de elementos, fatores ou condições que estabelecem valores organizacionais a serem respeitados e seguidos, e de valores – enquanto conjunto de crenças, princípios e motivos normativos de conduta, declarados interna e publicamente, determinantes e reveladores de como as pessoas – individualmente ou em grupos – devem se comportar e agir, em relação à missão, visão, planos, programas, projetos ou qualquer atividade. Exige, também, a revisão das definições, conceitos, propostas e entendimentos de normas e códigos de valores voluntários e regulamentados já adotados. Assim, recomenda-se elaborar a proposta de Princípios de Sustentabilidade articulada aos processos operacionais já praticados e em alinhamento com os interesses de todos os envolvidos. Isso implica analisar a proposta de visão de sustentabilidade, os conceitos e os instrumentos que resultaram na visão. E ainda, relacionar os fatores, elementos ou condições, de caráter orientador e normativo, a fim de que tais princípios sejam praticados em todos os procedimentos operacionais regulares e em todas as unidades organizacionais. Da mesma forma como recomendado para a construção definitiva da Visão de Sustentabilidade, a formalização dos Princípios deverá estabelecer critérios e O primeiro passo constitui delinear o plano de sensibilização e disseminação da visão e de princípios de sustentabilidade organizacional para as partes interessadas e os devidos mecanismos de realimentação (feedback). Isso exige: produzir a lista de interessados-alvo que deverão ser envolvidos; identificar e relacionar as atividades-chave a serem abrangidas; estabelecer a pauta e a agenda para a comunicação com os interessados; programar eventos, organizar a pauta, e realizar e alocar recursos; prever e relacionar os resultados esperados e os instrumentos para controle, avaliação e realimentação. E ainda, prever, definir e relacionar focos críticos: como os agentes vão reagir e se comportar em relação à orientação futura da Organização para a sustentabilidade; quais as melhores opções para o engajamento, o comprometimento e a participação dos interessados, para cima (bottom-to-top) e para baixo (top-down); lideranças reativas e pró-ativas e, mecanismos para aprimoramento do projeto e documentos apropriados. O segundo passo é organizar ecotimes, envolvendo as diversas áreas e unidades da Organização. Para tanto, faz-se necessário: 55 João S. Furtado adotar práticas já experimentadas e outras resultantes de lições aprendidas; analisar e avaliar resultados, para incorporar as contribuições; preparar o caso organizacional de DS de longo prazo; identificar, com clareza, o eixo principal de atividades ou de negócios da Organização; garantir que a alta direção reconheça os termos da proposta de sustentabilidade e forneça o suporte institucional, através de dirigentes e lideranças relevantes, da Organização; fortalecer as pessoas por meio da seleção e recrutamento de colaboradores preparados ou com potencial para participação na construção do caso organizacional, preparar e implementar atividades de capacitação e qualificação de pessoal para a construção do caso. E ainda, identificar ou eleger o sistema (econômico e socioambiental) a ser conservado ou protegido, que contribua para a sustentabilidade organizacional e sustentabilidade socioambiental. lidade de vida, de curto, médio e longo prazo para o bem-estar humano e de outras espécies do planeta, a partir dos quais o homem obtém ou cria sua riqueza. CAPITAL SOCIAL – valores e normas sociais, cultura, lazer, confiança; cooperação, aprendizagem, respeito, interações, relacionamentos (amizades, afinidades, etc.), parcerias, cooperação; inserção econômica e ambiental, equidade, empoderamento; redes sociais, canais de comunicação, famílias, comunidades, empresas, entidades de classe, Organizações Não-Governamentais (Terceiro Setor ou Setor Cívico). CAPITAL HUMANO – saúde, conhecimento, habilidades, produção intelectual, motivações, engajamento, comprometimento, reputação, liderança, capacidade para relacionamento. CAPITAL CONSTRUÍDO, FÍSICO OU FINANCEIRO – bens materiais construídos e acumulados, como edificações, bens manufaturados e os valores físicos e monetários acumulados e direitos de propriedade industrial. IMPACTOS BENÉFICOS E DANOS – intencionais e nãointencionais, percebidos e não-percebidos, reais ou potenciais – causados pelo modelo atual de processo produtivo e de produto (bens e serviços). PRINCIPAIS DIRECIONADORES DE CENÁRIOS, em suas condições atuais e visão de futuro (forecasting e backcasting), como paz e segurança, diante de regimes opressores, conflitos, guerras e os eventos decorrentes, como aumento da violência e criminalidade, insegurança, ecoterrorismo, migrações e urbanização, marginalização socioeconômica. Incluem-se aqui os conflitos econômicos e conseqüências da afluência e pobreza e diferentes níveis de bem-estar e saúde, equidades e inserção socioeconômica. Há também a influência do setor financeiro e de Corporações Transnacionais sobre as organizações globais/multigovernamentais (ONU, FMI, OMC, Banco Mundial) e conseqüências da globalização para as economias em transição ou não- Sugestão de fontes para eleição do sistema econômico e socioambiental CAPITAL NATURAL – (i) recursos renováveis - ecossistemas , biomas, seus componentes (biodiversidade) e dinâmica (produtividade) e água; (ii) recursos nãorenováveis e (iii) serviços naturais - oxigênio, energia renovável (solar, eólica, marés) e fóssil, fossas (ou sumidouros naturais), capacidade de carga (assimilação, bioconversão), regulação climática, prevenção de erosão, topografia, depuração de água, regeneração de solo, controle natural de vetores, cadeia alimentar, recreação, paisagens e cenários, destinados ao abrigo, alimentação, defesa, educação, lazer e outros aspectos da qua56 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS feito por meio de textos mencionados no Guia1; arquivos de buscas na Internet2; ou sugestões oferecidas por diferentes autores e fontes, tomando o cuidado para não perder de vista o que ficou estabelecido para a Organização, através de: Visão, Princípios e Proposta de Sustentabilidade. Linha de Base da Sustentabilidade Atual e Sustentabilidade Futura. Padrões de Excelência – cobertura, profundidade, relevância e pertinência. Responsabilidade Socioambiental – escopo, objetivos sustentáveis, metas e alvos métricos. Os exemplos incluídos a seguir foram extraídos e simplificados, para efeito de listagem, de GEMI SD Planner, Sigma Business Case Tool e Grayson & Hodges Sete Passos para Minimizar os Riscos e Maximizar as Oportunidades.3 Grayson & Hodges propõem ações fundamentadas em questões, desafios e crises econômicas e socioambientais que devem ser abordadas no âmbito do compromisso social e gestão empresarial4. Os modelos abordam fundamentações e propõem modelo com amplo espectro de práticas relevantes para a Sustentabilidade Organizacional, as quais foram, em grande parte – ou pelo menos em sua essência -, usadas na montagem do presente Guia. A estratégia para adoção ou implementação das propostas varia de um para outro. desenvolvidas. É preciso considerar os desníveis em tecnologia, produção e consumo de bens e serviços e as diferenças em consumo de matérias-primas, água, energia e outros fatores de produção, disparidades em valor agregado por produção/produto. Outro ítem a ser levado em conta são as condições dos bens comuns ou globais decorrentes da ética e da qualidade de desempenho em governança, atuação no mercado globalizado e qualidade das instituições – com atenção especial para mudanças climáticas: poluição e degradação de rios, oceanos e criadouros aquáticos; efeitos sobre a camada de ozônio; degradação do solo e desertificação; destruição de florestas (principalmente as tropicais); perda da biodiversidade. a escassez de alimentos, de água e de energia; os desastres naturais, e a legislação e marcos regulamentares globais relacionados a padrões uniformes e responsáveis de conduta econômica e socioambiental, o monitoramento do estágio das questões econômicas e socioambientais selecionadas, abrangendo, percepção ou latência; em curso ou crescimento acelerado; em expansão ou sistematização; natura ou institucionalizada. É recomendável levantar exemplos (benchmarking) de casos de sucesso ou já implementados. Neste caso, é importante considerar que este Guia inclui princípios que não são considerados em modelos ou situações mencionadas por outros autores como o Princípio da Precaução, o Princípio da Prevenção, o Direito Público de Acesso à Informação, o Controle Democrático da Tecnologia, e a Política Integrada de Processo-Produto, com enfoque em Avaliação de Ciclo-de-Vida e Sistema de Produto do Berço-ao-Berço, entre outros amplamente abordados na apresentação das Tarefas. O levantamento de marcos de referência pode ser GEMI SD PLANNER5 Bem-estar dos colaboradores. Direitos. Práticas responsáveis no local de trabalho. Saúde e segurança no trabalho. Equilíbrio trabalho-lazer-família. Respeito à diversidade. Compensação/remuneração justa. 57 João S. Furtado apoiá-lo, e manter a dinâmica e a atualização. Áreas de impactos para a construção do Caso Organizacional de Sustentabilidade e que remetem aos custos operacionais; antecipação e gestão de riscos; relacionamento com os interessados; produtividade; recrutamento e retenção de colaboradores; finanças; diferenciação no mercado e vendas; marca e reputação. Atitudes e procedimentos importantes para considerar o caso como elemento estratégico, relacionado às atividades ou negócios da Organização; incluir informações relevantes sobre os processos operacionais e oportunidades para melhores práticas de sustentabilidade, com destaque para questões relacionadas a diferentes tipos de riscos, além de mencionar as práticas sustentáveis ou relacionadas à sustentabilidade, correntes na Organização. Qualidade de vida. Equidade social. Necessidades humanas básicas. Capital Humano. Ética nas atividades e negócios. Direitos humanos fundamentais. Impactos positivos. Cultura e povos indígenas locais. Competição justa e aberta. ÂMBITO ECONÔMICO Criação de valor para o acionista/financiador. Retorno e proteção de patrimônio competitivos. Marca e reputação. Desenvolvimento econômico. Estímulo ao desenvolvimento local. Apoio às comunidades em desvantagens. SETE PASSOS PARA MINIMIZAR OS RISCOS E MAXIMIZAR AS OPORTUNIDADES DIMENSÃO AMBIENTAL Identificar gatilhos: moções de acionistas, pressão de investidores, pressão de ONGs, exigências legais, pressão governamental, recessão econômica, ação de funcionários, de concorrentes e de consumidores, exigência de compradores, crise de produto ou trabalhista, pressão de novo dirigente e inspiração. Preparar argumentos sólidos (Caso Organizacional): diversidade e direitos humanos, comunidades, necessidades de fortalecer as pessoas, o negócio e a reputação, conquistar os interessados Avaliar a abrangência das questões: mapeamento de questões relacionadas às comunidades, à ecologia e ao meio ambiente, saúde e bem-estar, diversidade e direitos humanos, avaliação de abrangências, consulta às partes interessadas, como os investidores, funcionários, consumidores, fornecedores, governos, comunidades locais, comparação com outras Organizações, ava- Minimização de impactos. Emissões e resíduos. Acidentes operacionais. Produtos e serviços. Proteção de recursos naturais. Recursos biológicos. Energia. Água. Matérias-primas. SIGMA BUSINESS CASE TOOL 6 Passos principais que se constituem em entender o significado dos impactos; identificar as questões-chave relacionadas aos interessados; tornar o Caso relevante; 58 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS liação de impactos sociais, investimento social e uso de cenários futuros. Assumir compromisso, agir e garantir a supervisão. Integrar as estratégias fazendo a revisão e a ampliação de procedimentos: qualidade e excelência, gestão da cadeia de suprimentos, conformidade, gestão de riscos, inovação. E ainda, construir as novas políticas e práticas operacionais. Envolver os interessados, através da comunicação e diálogo; do comprometimento de colegas; da participação em discussões públicas; do envolvimento dos interessados em parcerias; da busca de benefícios mútuos, e a abordagem de necessidades. Fazer avaliações e relatórios, tendo claro questões como: porque medir? O quê e como medir? Indicadores, e a elaboração de relatórios. Uma vez conhecidos os casos de referência, o passo seguinte é construir ou escolher situação real, desejada ou simulada, para demonstrar como a Organização seria em longo prazo. Para isso recomenda-se, integrar os aspectos econômicos sociais, que afetam todas as partes, internas e externas à Organização, além dos aspectos ambientais, relacionados à conservação e à qualidade de ecossistemas e à extensão de disponibilidade de recursos não-renováveis. É essencial para tanto, eleger os indicadores de sustentabilidade de médio e longo prazos, com base, por exemplo, em cenários, previsões ou projeções de agências globais, como: Saúde – redução de 1/3 da mortalidade infantil (base de 1990) até 2015. Educação – redução de 50% do analfabetismo (base de 2000) até 2015 e eliminar as diferenças de acesso aos graus 1º e 2º entre homens e mulheres até 2005. Fome – redução de 50% (base de 2000) até 2015 e eliminação de doenças causadas por deficiência de vitamina A. Pobreza – redução de 50% (base de 2000) das pessoas que recebem menos de US$1/dia até 2015 Habitação – garantia de acesso a serviços de saneamento para 75% da população humana em seus lares ou em instalações comunitárias (meta prevista para 2000 e, portanto, ultrapassada). Gases com efeito-estufa – redução global de pelo menos 5% (abaixo do limite de 1990) entre 2008-2012 e de emissões (em diferentes níveis estabelecidos em acordos específicos). Produtividade oceânica – estabilização da condição biológica (indicadores não quantificados). Mudança da cobertura e da qualidade da terra – redução de uso de superfície/mudança de condições (indicadores não quantificados). Manutenção da biodiversidade – indicadores não quantificados. Emissões de dioxinas e furanos – prevenir ou eliminar as emissões não-intencionais, como estabelecido no Protocolo de Estocolmo. Recomenda-se também: estabelecer objetivos, metas e alvos métricos que revelem expectativas de benefícios e os respectivos interessados; identificar ou caracterizar os vínculos ou relações entre crescimento (aquisição quantitativa de bens, em geral de curto prazo) e DS (aquisição qualitativa e reposição de bens, necessariamente de longo prazo); determinar o padrão de desempenho a ser adotado pela Organização, podendo incluir limites legais ou regulamentares estabelecidos, aprimoramento de limites, determinado pela Organização e limites mais restringentes (estabelecidos a partir de benchmarking); estabelecer as relações ou articular o padrão de desempenho desejado a instrumentos e ferramentas já em uso na Organização, como códigos de conduta e processos e métodos específicos. E mais, selecionar os 59 João S. Furtado direcionadores socioambientais para as tecnologias organizacionais e de produção a serem adotadas, envolvendo questões como: respeito à cidadania das comunidades, inclusive as indígenas, contribuição para a coesão social e melhoria da qualidade de vida das pessoas, utilização de materiais renováveis, de baixo impacto socioambiental, redução do uso de energia por unidade de bens e serviços, redução de impactos negativos (emissões, descargas, resíduos) nos ecossistemas, redução do consumo de materiais por reciclagem, reuso, remanufatura, por unidade de bens e serviços, a redução de custos de investimentos e crédito, por medidas socioambientais, redução da obsolescência e aumento da vida útil de produtos, gestão responsável de acidentes internos e externos, provocados por processos e produtos, redução de impactos globais (aquecimento do planeta, depleção da camada de ozônio, biodiversidade, transporte transfronteiriço de resíduos perigosos e tóxicos e a destinação e descarte responsáveis de lixo industrial, embalagens e produtos pós-uso). É necessário estabelecer o método ou o processo de medição de desempenho em relação ao sistema de indicadores escolhido para a Proposta de Sustentabilidade (de acordo com as recomendações para o tipo de padrão de desempenho escolhido), levando em conta, por exemplo: criação de renda; criação de empregos; expansão de atividades ou negócios na cadeia de valor e em regiões selecionadas ou específicas; desenvolvimento de recursos e serviços ambientais; desenvolvimento de recursos humanos; desenvolvimento sócio-institucional; participação e expansão de atividades ou negócios internacionais; democratização tecnológica e de informação sobre segurança e uso de processos e produtos; oferta de processos e produtos econômica e socioambientalmente mais adequados do ponto de vista da sustentabilidade. Sugere-se a consulta aos capítulos e tarefas específicas para “Construção de Indicadores”, “Contabilização” e “Medição e avaliação”. É preciso identificar as partes interessadas, envolvidas, afetadas ou que afetam o sistema identificado ou escolhido; os beneficiários dos resultados esperados ou previstos; e identificar ou indicar as possibilidades de agregação de valores relativos aos capitais econômico construído, natural, social e humano. Sugere-se também: indicar ou identificar os resultados econômico-financeiros ou vantagens competitivas de mercado para interessados com fins lucrativos ou institucionais, com enfoques socioambientais ou em políticas públicas, sem fins lucrativos; identificar as correlações entre o caso organizacional de DS e códigos legais e voluntários e os respectivos processos ou mecanismos de execução (enforcement); as possíveis penalidades (pela não execução da atividade ou o não alcance dos padrões eleitos para abordagem ao sistema escolhido) e premiações (tangíveis e intangíveis); as perspectivas de vantagens competitivas e comparativas no setor de negócios, nacional e internacionalmente. Faz-se necessário: alinhar o caso organizacional à visão e princípios de 60 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS to de informações nas diversas áreas e unidades organizacionais nas quais as atividades são realizadas. Identificar áreas ou unidades relevantes, se as questões, princípios e conceitos relacionados ao DS fazem parte da agenda e quais são as reações das pessoas em relação a eles. O esquema sugerido na página seguinte, sintetiza a proposta. Com base nela, conclui-se que as informações obtidas devem ser organizadas e usadas na preparação de termos de referência apropriados para a realização de eventos ou de atividades necessárias para ajuste, aprimoramentos ou mudanças de valores e cultura que permitam levar avante o projeto de DS desejado. DS construídos para a Organização; determinar o roteiro geral para relacionamento do caso de sustentabilidade às operações gerais da Organização; estabelecer as bases para confiabilidade do Caso com base em clareza de propósito e ações; alinhar à estratégia organizacional; inserir nas atividades do dia-a-dia; diferenciar no macroambiente e no segmento de atividades ou de negócios. Clarificar o objetivo principal do caso, estabelecendo os limites: organizacional; geográfico (local, regional, nacional, global); econômico-socioambiental; caracterizar os agentes interessados e identificar as principais bases ou meios para implementação, de acordo com os parâmetros, indicadores ou elementos que delimitam a Proposta. Além disso, é necessário: estabelecer os processos gerenciais envolvidos e relacionados a gestão geral como processos produtivos, produtos, consumo ou uso - efeitos pós-consumo, eco-inovações e reorientação de conduta para a Sustentabilidade, aprendizagem organizacional, inserção nas práticas regulares, e o engajamento de parceiros estratégicos e outros interessados. E identificar agentes internos e externos relevantes, tais como especialistas, gerentes e líderes em diferentes níveis, tomadores de decisões, formadores de opiniões, líderes externos com influência na cadeia de valor, em outras cadeias do segmento e no macroambiente em geral. Validação – pelos interessados relevantes – de caso organizacional e demais documentos propostos. Transparência, exposição, diálogo e construção de compromissos A primeira medida trata de garantir adesão dos interessados relevantes. Para tanto, faz-se necessário entrevistar, reunir e debater, em eventos com a participação do ecotime organizacional e os demais interessados, os documentos para validação e divulgação, com a adoção de práticas já concluídas e experiência acumulada de lições aprendidas e teste interno das sugestões, idéias e documentos, por meio de entrevistas, reuniões, oficinas e outros mecanismos de comunicação. Outras ações são recomendadas em seguida. Promover o engajamento e estabelecer o compromisso de aderência dos diversos ecotimes e demais interessados, individualmente, em grupos ou em comunidades; avaliar as opiniões de interessados relevantes e de benchmarking; Identificação de conduta de responsabilidade socioambiental organizacional. Definição de padrões de conduta perante todos os interessados É recomendável conduzir entrevistas e levantamen61 João S. Furtado 62 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS revisar e formatar os textos de visão e de princípios de sustentabilidade, a partir da experiência obtida com o caso organizacional. E mais, analisar e avaliar o conteúdo de comentários e sugestões dos diversos interessados, para estabelecer as correlações entre a visão e os princípios em pauta, levando em conta questões como a proposta de sustentabilidade organizacional (forma e conteúdo), o entendimento, comentários e recomendações dos interessados, e os aspectos estratégicos e táticos envolvidos. Validar, reconhecer e referendar a proposta e demais documentos pertinentes pela alta direção, com o apoio e o engajamento (compromisso) de lideranças relevantes e outros colaboradores (internos e externos). Outras medidas são úteis para delinear o plano inicial para implementação da proposta de projeto de DS e promover sua disseminação. Sintetizar os processos atuais de desempenho sustentável da Organização. Identificar e priorizar as ações-chave de sustentabilidade em curso, seus impactos ou resultados (positivos e negativos). Analisar os mecanismos e procedimentos para tomada de decisões. Rever as principais questões que afetam ou podem ser afetadas – na cadeia de valor – pelas ações que serão realizadas, com base na proposta de sustentabilidade econômica e socioambiental. Estabelecer diretrizes estratégicas gerais para alinhamento progressivo do modelo de DS aos processos de gestão e de produção, com previsão de meios para avaliação e gestão de impactos e resultados. Identificar os principais recursos e meios táticos para ações de curto prazo que apóiem e garantam as estratégias de DS, com objetivos, alvos mensuráveis e atribuição de papéis e responsabilidades. Por último, é necessário ampliar a identificação, engajar e dialogar com os interessados, através de ações como as seguintes: expandir a relação de interessados e elaborar os esquemas para engajamento dos agentes críticos ou relevantes para dar início à implementação da Proposta de sustentabilidade Organizacional; identificar e propor estratégias para engajamento de interessados internos e externos relevantes; identificar e organizar os interessados, em função de seus perfis, qualificação e capacitação para ações e iniciativas que contribuam para o aprimoramento das atividades previstas na Proposta de Sustentabilidade; criar e implementar instrumentos, mecanismos e práticas de comunicação efetiva e com qualidade a todos os interessados relevantes, inclusive o sistema de controle de qualidade e de realimentação do processo. Validação operacional da Proposta documentos de Visão e de Princípios de Sustentabilidade.Formalização da Política A formalização da política de sustentabilidade pressupõe os várias iniciativas. Inicialmente, realizar atividades piloto com grupos internos e interessados externos na cadeia de negócios selecionada. Nesse caso, é preciso: definir, selecionar e envolver agentes relevantes para análise, avaliação e busca do comprometimento e aderência das pessoas à proposta de sustentabilidade e definir e preparar questõeschave para o engajamento, buscando respostas para questões como: os instrumentos de Política Organizacional foram assimilados e incorporados pelas pessoas? as pessoas sabem do que se trata? Estão preparadas para o que se espera delas? 63 João S. Furtado Têm recebido tratamento e atenção adequados de parte da Organização? Seus progressos de desempenho têm sido reconhecidos? Os supervisores têm cumprido suas funções adequadamente, em relação aos supervisionados? As opiniões emitidas pelas pessoas têm merecido a devida atenção? Há relacionamentos de amizade, no ambiente de trabalho e fora deste? São oferecidas e aproveitadas oportunidades para aprendizagem e desenvolvimento pessoal? A mensagem da proposta de sustentabilidade está clara e bem elaborada, em forma e conteúdo? O processo e os recursos para comunicação adotados estão bem elaborados e definidos? O mecanismo de realimentação está bem definido? Os participantes estão preparados para assumir seus papéis? Os indicadores métricos para avaliação dos resultados esperados estão definidos? A continuidade do processo está definida? Uma vez que o quadro geral for melhor conhecido é preciso estabelecer os temas ou alvos relevantes para: implementação de políticas sociais, oportunidades de ação tripartite (econômica, social, ambiental), reconhecimento, premiação e remuneração, condutas e diversidades, práticas sociais, inserção, equidade e justiça social, responsabilidades compartilhadas, diálogos, etc. metas e alvos quantificados econômicos e socioambientais. O Ecotime organizacional deve programar e realizar reuniões (seminário, oficina, palestra, curso) com agentes interessados selecionados, para apresentar, discutir e obter a contribuição dos participantes, a fim de aprimorar a proposta de sustentabilidade, de documentos relevantes e do caso organizacional. A seguir, é preciso aprimorar do caso organizacional, o que exige rever a documentação e os subsídios e avaliar: os termos e descritores (em forma e conteúdo) da proposta, dos conceitos de DS, da visão e dos princípios de sustentabilidade organizacionais; as análises de comentários e outras manifestações de interessados internos e externos relevantes e outros Casos organizacionais de sustentabilidade selecionados (benchmarking). O aprimoramento do caso organizacional é feito com o alinhamento máximo às práticas operacionais orga-nizacionais de gestão(management)-processo-produto-consumo, levando-se em conta: o sistema de produto do-berço-ao-berço; os impactos previstos na avaliação de ciclo-de-vida e as ferramentas ou instrumentos para Resultado Final Tríplice. E ainda, a realimentação do sistema de informação e comunicação com os interessados. Estratégias para inserção de DS no eixo principal de negócios e atividades organizacionais Operacionalização de práticas organizacionais de DS Nesse aspecto é recomendável: estabelecer as bases e propor o modelo de planejamento estratégico organizacional, com a inserção de elementos focados no DS; dominar conhecimentos e conceitos, analisar e avaliar casos de sucesso e suas relações com as atividades organizacionais regulares; identificar, corretamente, o eixo principal de atividades 64 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS ou de negócios da Organização e estabelecer as relações destes com a missão, visão e valores organizacionais gerais; revisar o caso organizacional, à luz dos textos de visão e princípios de sustentabilidade. Recomenda-se: rever o modelo geral de operações da Organização, com foco nas principais dimensões – gestão (management), produção, marketing, vendas, finanças, pósvenda, atos, atitudes e conduta do consumidor ou usuário, na cadeia de valor; identificar riscos, oportunidades, desafios e metas temporais qualificadas e quantificadas relacionadas aos indicadores econômicos e socioambientais, nas atividades ou gerências específicas de recursos humanos, compras e suprimentos, marketing e vendas, inovações e tecnologias, desenvolvimento de produtos, logística e gestão da cadeia de valor, comunicações e informações, finanças e contabilidade, conformidade e legislação, unidade de produção; analisar as oportunidades, desafios e dificuldades para a integração de ações compartimentadas ou ensiladas, com base em documentos e instrumentos de política de sustentabilidade organizacional, caso organizacional de sustentabilidade e proposta de sustentabilidade. rever os resultados de diálogo com os interessados e identificar os principais aspectos de relacionamentos críticos que poderão ser aprimorados, na cadeia de valor, sob as perspectivas econômica e socioambiental, com vistas à visão de sustentabilidade da Organização; analisar as áreas ou atividades da Organização, em sintonia (parcial ou total) com a visão e princípios de sustentabilidade e das oportunidades para a prática de excelência em desempenho integrado de plataformas de produção que pratiquem o modelo gestão-processo-produto focado no princípio do-berço-ao-berço; analisar também as áreas de represamento ou confi- namento (silos) de informações e manutenção de condutas convencionais (business as usual) e as novas tendências para integração de saúde, segurança, ambiente e desenvolvimento social à valorização do capital construído (inclusive o financeiro); analisar as oportunidades para a transformação de condutas reativas (conformidade legal) em pró-ativas (metas qualificadas e quantificadas de excelência de desempenho) no que se referem à gestão de resíduos, conservação e uso de recursos, eco-inovações e outros aspectos convencionais, como elementos para agregar valor à cadeia de negócios. E também, analisar as qualidades e potencialidades para mudanças de foco integrado, com fechamento de ciclos a montante (upstream) e a jusante (downstream), combinando gestão e produção e tomando o produto como alvo principal para interligar negócios com desempenho socioambiental e potencializar a competitividade e permanência de longo prazo (sustentabilidade organizacional); promover a participação de lideranças nas diferentes áreas ou unidades organizacionais – jurídica, finanças, suprimento, marketing, recursos humanos, produção –, para identificação de valores socioambientais referentes aos diversos tipos de interessados, agregação desses valores aos econômicos tradicionais, e combinação deles para a remuneração de financiadores, acionistas e investidores; prever e executar programas de treinamento envolvendo os interessados indispensáveis e outros importantes, na cadeia de valor da Organização; prever e implementar esquemas e instrumentos de reconhecimento e recompensas para desempenho diferenciado dos agentes e atores que contribuírem para o aprimoramento da proposta de sustentabilidade organizacional. É preciso: 65 João S. Furtado recomendar temas ou sugestões e garantir a implementação de campanhas para a divulgação do modelo e do novo cenário de sustentabilidade, nos diversos níveis de interesse e através dos diferentes meios de comunicação, com foco aos distintos tipos de interessados; priorizar as oportunidades de sucesso com foco na visão e princípios de sustentabilidade organizacionais; identificar, recrutar e engajar os recursos humanos relevantes da Organização, para participação nas ações e atividades relacionadas à proposta de sustentabilidade organizacional; organizar e implementar projetos e atividades para capacitação dos participantes, inclusive os processos de comunicação interna. E mais: comunicar a importância da proposta em toda e através da Organização e construir o entendimento das questões e a importância do caminho a ser percorrido; rever, consolidar e divulgar os indicadores métricos de sustentabilidade e os de desempenho da Organização; estabelecer as bases para articular a proposta de sustentabilidade nas atividades organizacionais de todas as unidades da Organização. cos, tecnológicos, gerenciais, produtivos e mercadológicos; selecionar temas ou focos relevantes para a integração gestão-processo-produto-consumo, segundo o modelo do-berço-ao-berço e o potencial de competência e de contribuição de cada parte, como a independência do setor civil, as habilidades gerenciais, estratégicas, financeiras e produtivas, do setor produtivo privado e os dispositivos regulamentares do setor público governamental. É necessário também identificar e prevenir obstáculos e dificuldades, tais como desconfiança, causada pela diversidade de expectativas e interesses; expectativas não-realísticas e agendas ocultas; desigualdade em capacitação gerencial, técnica, informações e poder para manifestação, participação e intervenção e ineficácia dos métodos de monitoramento, avaliação, medição e comunicação de resultados verificáveis. Outro passo recomendado é identificar os interessados críticos e outros de importância genérica, abrangendo aspectos de natureza política, gerencial, técnica, financeira e estratégica para a proposta de sustentabilidade organizacional, os interesses dos parceiros e outras potencialidades cooperativas. Para que se efetive, é necessário levantar os pressupostos e requisitos técnicos e gerenciais, no intuito de desenhar o modelo de trabalho ou as ferramentas que deverão ser usadas para estruturar o processo de engajamento e a participação dos interessados, levando em consideração. Exemplos a seguir. Quem e quais são os atores e seus vínculos? Redes de comunicação existentes e formas de relacionamento (individual, comunitário, social, etc.). Opções derivadas de análises de pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades como, por exemplo: o envolvimento gradual de dois ou mais tipos de interessados e subseqüente incremento de participantes; Consolidação de parcerias estratégicas Compartilhamento de riscos e benefícios A consolidação de parcerias estratégicas com compartilhamento de riscos e benefícios exige que se identifique os fatores ou elementos críticos de sucesso, focados na visão e nos princípios de sustentabilidade e de responsabilidade socioambiental total, como o primeiro passo para a consolidação de parcerias estratégicas e compartilhamento de riscos e benefícios. Para isso é necessário, considerar as metas e os alvos políticos, econômi66 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS definir os objetivos comuns e individualizados, com base em critérios de relevância, materialidade e respondência, estabelecer os limites de responsabilidade (Accountability) das partes envolvidas, determinar os processos e indicadores de contabilização, medição, avaliação e comunicação pública e transparência para todas as partes interessadas, estabelecer a abrangência e o escopo para o diálogo: limites físicos (unidades e instalações), geográficos (distribuição) e operacionais (atividades), definir o quadro de indicadores métricos de desempenho para os objetivos e as aspirações comuns e individuais das partes envolvidas, com foco em questões globais (sustentabilidade), negócios ou atividade-específicos (ecoeficiência), os métodos de medição, auditagem e comunicação periódica, com metas negociadas de excelência de desempenho que ultrapassem a conformidade baseada em padrões gerais e comando-e-controle de fim-de-tubo, estabelecer o mecanismo e o sistema de coleta, tratamento, produção e disseminação de informações e o devido processo de realimentação (feedback). Para que o processo se consolide, é preciso: abrir canal de comunicação de duas mãos e estabelecer qualidade e integridade das mensagens; consolidar a credibilidade das propostas; garantir a coerência e continuidade dos procedimentos e a adequação de linguagem ao tipo de interessadoalvo. Recomenda-se explicitar o Caso organizacional usado para demonstrar o modelo de conduta desejado, como plano de longo prazo, e estabelecer as relações entre o modelo de conduta da Organização e a visão de sustentabilidade local, nacional e global, para a qual é preciso construir parcerias estratégicas sólidas. Durante o processo de comunicação da proposta seleção de interessados que contribuem para aumento de valor, seguido de outros neutros e que potencial ou efetivamente contribuem para a redução de valor na cadeia de negócios; contatos pessoais ou à distância; entrevistas, seminários, oficinas, reuniões públicas, questionários, internet; gestão de conflitos, coleta de informações, construção de consenso, identificação e engajamento institucional, construção de confiança; Quem são os interessados? Que mensagens são emitidas e captadas? Qual é o entendimento de risco ou dano? Qual e como é o processo de comunicação? Também é recomendável identificar e promover os direcionadores favoráveis, tais como: os ideais das partes e confluências; os objetivos comuns, complementaridade e empatia, definição e distribuição balanceada de direitos, papéis e responsabilidades; a definição do modelo e do processo de tomada de decisões; o exercício de governança responsável, em cada setor, segmento ou componente envolvido ou participante, levando em consideração a realimentação aberta e transparente, a assunção de compromisso e o compartilhamento de benefícios. São consideradas ações indispensáveis: estabelecer os níveis ou padrões de ética e valores de sustentabilidade assumidos para determinar a linha de base para o entendimento da responsabilidade socioambiental organizacional, a visão e os princípios de sustentabilidade. Consolidar parcerias, requer: identificar valores e princípios comuns e conflitantes, delimitar as questões e os temas envolvidos e suas articulações aos fundamentos de DS, 67 João S. Furtado organizacional, é necessário definir as expectativas de conduta dos parceiros, de acordo com o princípio de responsabilidade total compartilhada, abrangendo os papéis da Organização, dos consumidores (em todas as fases da cadeia de valor), dos agentes de governo e da sociedade como um todo. Somente assim haverá o exercício pleno da sustentabilidade e compartilhamento de oportunidade e atribuições nos diferentes setores. Ao proceder o levantamento de expectativas, é necessário tomar algumas precauções, uma vez que várias partes interessadas poderão ser involuntariamente omitidas, do ponto de vista do conceito de responsabilidade socioambiental total proposto no Guia. Isto pode acontecer, por exemplo, com seguradoras e o próprio sistema financeiro. No caso de seguridade, é importante destacar a influência dos planos privados de previdência. Em relação aos geradores de tecnologia, merece atenção especial o fato de que as atividades não estão restritas ao setor empresarial, considerando que os governos financiam projetos de inovação, pelo menos até a fase pré-competitiva. As fontes de incentivos fiscais são outro segmento considerável, levando-se em conta que os recursos podem ser concedidos para realocamento de empresas. Parcelas de impostos são transferidas para entidades do setor empresarial aplicarem em capacitação de recursos humanos e outras atividades de interesse específico dos setores representados, como acontece nas Federações de Indústrias, SEBRAE, Sistema SENAI-CNI, entre outros que atuam no Brasil. De maneira geral, os setores civil, público e empresarial tendem a enfatizar expectativas próprias. Para o setor civil, é necessário considerar, no plano dos esforços individuais, a educação, imaginação, herança, criatividade e individualidade. No plano do conhecimento popular, campanhas, diálogo, difusão, presta- ção de serviços, contratos e voluntariado, educação e sistema de treinamento, saúde, instalações públicas e transporte. Em relação à cultura e a tradição, a transmissão de cultura e identidade nacional da comunidade. Quanto à legitimação, destacam-se o consentimento e autorização para atuar, aceitação de instituições líderes e endosso ao processo democrático. No setor público, as expectativas quanto à regulamentação abrangem: impostos, aplicação da lei, anticorrupção, segurança e saúde, ambiente, direitos trabalhistas e comércio. Para a infra-estrutura: estradas, transportes, energia, telecomunicações, saneamento básico e distribuição. Na infra-estrutura social: sistema educacional e profissionalizante, assistência de saúde, prédios públicos de atendimento e transporte. Para os sistemas de seguridade: seguridade social e serviços sociais, pensões, seguros, benefícios e prevenção da rejeição. Em segurança e proteção: forças armadas nacionais, parcerias e projetos comunitários interculturais. O setor empresarial comporta expectativas de investimentos sociais, abrangendo: projetos sociais e econômicos em parcerias, instituições educacionais, cultura e projetos comunitários e capacitação. Na discussão de políticas públicas: políticas educacionais e de treinamento, políticas ambientais e políticas econômicas. Para definição e aperfeiçoamento de padrões: governança empresarial, segurança e saúde, ambiente, qualidade e ética. A formação de cadeia de suprimentos comporta: produtos e serviços e desenvolvimento de fornecedores locais. O desenvolvimento de recursos considera: treinamento da força de trabalho e aprimoramento da rede local de ensino. Quanto a finanças: privatização, tecnologia e multiplicação de riquezas locais. Por fim, cabe identificar os recursos necessários para o estabelecimento de parcerias, os respectivos papéis e as responsabilidades para o provimento dos meios e recursos financeiros, materiais, humanos e institucionais. 68 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Recomenda-se: revisar os princípios de Ecologia Industrial e fechamento de ciclos de sistemas produtivos de bens e serviços no eixo da cadeia de valor e em cadeias secundárias; examinar os modelos ou casos de ecoparques industriais e avaliar as possibilidade de estimular a implantação deste modelo ou de participar de caso já existente, de acordo com o porte, estágio ou poder de influência da Organização; e participação ou montagem de sistema de reaproveitamento de não-produtos (resíduos), inclusive água e energia (Emissão Zero), envolvendo sua esfera de influência na cadeia de valor ou além desta, considerando-se as atividades atribuídas aos diferentes tipos de participantes envolvidos, nos distintos níveis do sistema. Ver esquema de configuração dos participantes do Sistema de Emissão Zero ou de Conceito Zeri. 69 João S. Furtado Uma das maneiras para desenhar o modelo geral de inserção de temas e ações relevantes para parcerias estratégicas é através da ancoragem social das atividades. Qualquer que seja o procedimento adotado para estabelecer as parcerias, é preciso assegurar o estabelecimento de estratégias, processos, instrumentos e outras ferramentas para organizar o diálogo com os interessados. Para que isso ocorra, é recomendável: organizar e implementar redes ou grupos multi-interessados de diálogo (painéis, comitês, grupos de discussão, confe- 70 rências, seminários, consultas e outras formas convencionais de contatos). A partir daí, selecionar agenda e temas relevantes e de interesses comuns alinhados ao eixo principal de negócios e atividades organizacionais, no âmbito do DS, abrangendo, por exemplo: perfil de produtos, eco-inovações, indicadores, elementos e relações de causa-eefeito, medições e avaliações de impactos, responsabilidades compartilhadas, destinação de não-produtos e de produtos pós-uso, consumo sustentável e prevenção/minimização de impacto socioambiental, mercado e comercialização, regulamentação, políticas públicas. Os resultados das ações executadas devem estabelecer a natureza e o conteúdo de interrogativas para discussão tais como: como será o futuro? Quais são as incertezas? Como deverão ser as condutas futuras dos vários agentes e partes interessadas? Como articular as atividades socioambientais e econômicas? Quais são os principais alvos mensuráveis? Estabelecer as dimensões ou âmbitos gerais para abordagem tais como visão, missão e diretrizes de política; objetivos estratégicos de RSA na parceria, aspectos significativos, atividadeschave de alta, média e baixa relevância, respostas esperadas e respectivos requisitos, linha de base de RSA, metas qualificadas e quantificadas. SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS instrumentos jurídicos apropriados; compartilhamento de ganhos e perdas. Concluídas as tarefas, será preciso: distribuir e compartilhar informações e conhecimento; definir prioridades, alvos e objetivos comuns; identificar, envolver, distribuir, atribuir e reconhecer os poderes envolvidos nas parcerias; estabelecer e demonstrar os valores agregados aos processos, produtos ou outras formas de interesses específicos ou comuns; desenvolver confiança e flexibilizar; estabelecer a temporalidade, freqüência e intensidade dos relacionamentos e processos, e formar redes de relacionamento institucional. É recomendável a definição do padrão de excelência gerencial para os projetos ou ações de parceria, com base na negociação de condições, critérios e outros parâmetros gerais para atuação dos parceiros, conforme demonstrado no quadro na página a seguir, sobre o processo de comunicação na Organização. Sugere-se a negociação do processo de comunicação dos parceiros; a avaliação e a construção das bases para a busca de fatores de sucesso nas negociações e fortalecimento de parcerias estratégicas. E analisar, por exemplo, a matriz de Long-Arnold (abaixo) de fatores de sucesso de parcerias, especialmente com ONGs. Para solidificar as parcerias estratégicas é preciso caracterizar alguns aspectos relevantes. Segurança, riscos e impactos – benéficos e maléficos – de processos e produtos. Partes interessadas que afetam ou possam afetar os negócios ou atividades. Temas socioambientais relacionados direta ou indiretamente ao eixo principal de negócios ou atividades dos agentes na cadeia de valor. Variáveis ou elementos econômicos e socioambientais relevantes aos temas. Indicadores métricos e suas unidades de medição. Métodos de medição, avaliação e comunicação (relatório), com transparência e responsabilidade, para todas as partes interessadas. Além disso, a solidificação de parcerias passa por: definição de quem estará envolvido no engajamento; da capacitação gerencial e técnica; representatividade e liderança no tema e respectivo âmbito (local, nacional, internacional); expectativas individualizadas e integradas; efeitos ou impactos esperados que afetam ou possam afetar todas as partes interessadas; temas, atividades e questões envolvidos; onde e quando o engajamento ocorrerá, e por quanto tempo; contribuições e aportes financeiros, materiais, técnicos e informacionais; como será a estrutura gerencial da parceria; funcionamento do fluxo de informação e comunicação; processos e mecanismos de tomada de decisões; processos e mecanismos de acompanhamento e avaliação de resultados; 71 João S. Furtado Por fim, a concepção e a implementação de esquemas que favoreçam e recompensem as lideranças em DS. NOTAS 1 São quase 300 códigos de conduta, mundialmente. Ver Furtado, J.S. 2003. Princípios, códigos de ética e capacitação para Responsabilidade Socioambiental RSA. Livre acesso em 72 www.teclim.ufba.br/jsfurtado macropágina. Gestão com Responsabilidade Socio-ambiental. 2 www.google.com,www.wisenut.com, www.copernic.com 3 www.projectsigma.org oferece inúmeras ferramentas, modelos e exemplos, abrangendo diversos aspectos envolvidos na construção de sustentabilidade organizacional. 4 Grayson, D. & Hodges, A. 2002. Compromisso social e gestão empresarial. 320 pp. Publifolha, S.Paulo. 5 http://www.gemi.org/sd/ 6 http://www.projectsigma.com/Toolkit/SIGMABusinessCase.pdf SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 04 ESTABELECIMENTO DE MACRO-OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS SUSTENTÁVEIS (MACRO-PLANEJAMENTO) CORRELAÇÃO ENTRE GOVERNANÇA E MACRO-OBJETIVOS SUSTENTÁVEIS ALINHAMENTO DE PROCESSOS DECISÓRIOS E DISTRIBUTIVOS Revisão do sistema de tomada de decisão O processo de revisão do sistema de tomada de decisões exige a análise dos efeitos positivos e negativos do modelo de governança praticado e o estabelecimento das relações com a Visão e com os Princípios de Sustentabilidade definidos para a Organização. Assim, é preciso considerar o modelo de governança organizacional vigente, para definição de objetivos e a tomada de decisão, levando-se em conta as características dessa governança. Se é vertical, monolítica, patriarcal, controladora, fechada a agentes externos ou se é transversal ou horizontal, adaptativa, comunitária, distributiva, aberta às expectativas e objetivos de agentes externos. Se adota o modelo de cima para baixo ou de baixo para cima, o envolvimento de executivos e os mecanismos adotados para aproximação ao quadro de colaboradores. Deve-se observar a ensilagem ou confinamento de questões econômicas, sociais e ambientais e seu alinhamento (ou desalinhamento) ao eixo de negócios ou de atividades da Organização. É necessário, além disso, ater-se à Visão de resultado final (Bottom Line) versus resultado final tríplice (Triple Bottom Line), aos mecanismos de aprendizagem e treinamento, além de oportunidades para institucionalização de novos valores e cultura organizacionais. Uma outra ação consiste em rever o processo para envolvimento, engajamento e comprometimento de lideranças e demais colaboradores à participação na definição de macro-objetivos que atendam ao modelo integrado de gestão-processo-produto-consumo sustentáveis. É preciso situar o objetivo entendido como o que se pretende fazer, o espaço ou distância entre a realidade presente e a esperada, os resultados, tangíveis (métricos) ou intangíveis (valores indiretos, contextuais ou potenciais), esperados. E ainda, o macro-objetivo sustentável traduzido em objetivo de larga escala, grande volume ou de alcance de longo prazo, alinhado ao conceito de DS, em suas três dimensões. É necessário verificar como o modelo atual de governança opera em relação à prática de mercado representada pela definição de objetivos não-sustentáveis, que resultam em aumento sistemático e crescente uso de recursos naturais e energia, materiais procedentes da produção e consumo de bens e serviços. E também no desarranjo da superfície da terra, especialmente da camada fértil do solo, dos recursos na natureza e a degradação biogeofísica e dos ciclos naturais, decorrente de atividades humanas, relacionada à produção e fruição de bens e serviços. Faz-se imprescindível, rever o conceito expandido de “produto”, considerando-se o valor incorporado (porém, não necessariamente medido) de volumes distintos de recursos bióticos e abióticos desorganizados em seu arranjo natural, material retirado da natureza (capital natural); área (superfície) da terra comprometida para a bioprodução e serviços naturais; energia usada para a extração e o transporte de materiais; energia e materiais usados na produção; 73 João S. Furtado ser executadas, como: emissões de resíduos e de energia dissipada; rever os macro-objetivos estabelecidos e identificar energia entrópica no processo, produto e emissões; missões e energia para o funcionamento do produto; os aspectos econômicos, sociais e ambientais explícitos materiais descartados em embalagem e restos do pro- e implícitos; identificar os principais direcionadores (drivers) – no duto ao final da vida útil; energia para transporte e tratamento de descartes e, setor ou no mercado – que determinam a concepção destinação ambiental de resíduos, embalagens e pro- de macro-objetivos focados na sustentabilidade global duto ao final da vida útil, levando em conta, a biode- da Organização, além de identificar os macro-objetigradabilidade, a bioacumulação, o deslocamento na vos sustentáveis de organizações atuantes no setor (benchmarking), necessidades ou indicadores mercado-oriencadeia alimentar e lixiviação (percolação, mobilização). Outra ação importante na análise dos efeitos do mo- tados, que possam atender, incluir ou corresponder, delo de governança é identificar as áreas ou unidades na implícita ou explicitamente, a cada uma das três dimenOrganização, onde existam ou possam existir zonas de sões do DS. Verifique a sugestão de direcionadores no esquema perigo para a efetiva sustentabilidade integrada. Tais zonas são representadas pelo pensamento patriarcal e a seguir: pelo falso senso de segurança, pela abordagem socioambiental e econômica confinada, pela visão obscura da sustentabiDIRECIONADORES DE MACRO-OBJETIVOS INTEGRADOS lidade, pela confusão sobre causa e efeito, pela falta de informação, pelo insuficiente mecanismo para aprendizagem e falha na institucionalização da sustentabilidade. A revisão do sistema de gestão exige também correlacionar os Princípios de Sustentabilidade definidos para a Organização aos macro-objetivos já estabelecidos, baseados em padrões de excelência de produção já praticados. Algumas ações devem 74 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS macionais relevantes para a construção de macro-objetivos sustentáveis. E construir a definição do que se entende por “objetivo economicamente viável e socioambientalmente adequado”, quando comparável ao chamado “objetivo não-sustentável ou socioam-bientalmente inadequado”, no âmbito da Organização, com metas temporais e alvos mensuráveis. Construir o arcabouço ou sistema para estabelecer os macro-objetivos sustentáveis para a Organização é outra exigência. Para tanto, é preciso a identificação e análise dos processos para definição de objetivos e regras de engajamento, de acordo com as práticas organizacionais correntes; dos fluxos de informação e de comunicação mais relevantes e os pontos críticos para fechamento de ciclos de informações – a montante e a jusante. Deve-se eleger prioridades, no âmbito de negócios ou de atividades, de acordo com a missão da Organização, que possam servir para a definição de macroobjetivos sustentáveis alinhados à visão e aos princípios de sustentabilidade e representativos da proposta de melhoramento contínuo das práticas de gestão geral, processo de produção, características dos produtos e o desempenho destes últimos no ambiente de consumo. É preciso utilizar os recursos e as habilidades (pessoais e institucionais) disponíveis em relação aos interessados críticos para o estabelecimento de técnicas ou metodologias (por exemplo, backcasting, forecasting, Delfi), a fim de identificar, selecionar e priorizar temas ou problemas (distância entre a realidade atual e a futura desejável) mais impactantes, no setor de atuação e outros, de caráter global. Certos temas e problemas que deverão receber atenção imediata, por estarem diretamente relacionados a tipo de negócios, processo, produto ou natureza do consumo e destinação pós-consumo devem ser identificados, além de outros que deverão ser DEFINIÇÃO DE GRANDES ALVOS SUSTENTÁVEIS Definição de perfis críticos e relevantes para a construção de macro-objetivos da Organização É importante selecionar os colaboradores críticos e relevantes, levando em consideração a clareza de macroobjetivos, no sentido de questionar o que deve ser feito e como deve ser feito, por meio de quais ações, onde implementá-las e como fixá-las. Deve-se também ter clareza quanto aos perfis necessários relacionados à liderança, às habilidades técnicas, à conformação multiprofissional, com visão plural da organização (departamental, interdepartamental), capaz de articular os diversos aspectos gerenciais, produtivos e comerciais. A clareza de papéis no âmbito da credibilidade, influência, entendimento das funções Organizacionais e os relacionamentos destas com o desempenho sustentável integrado econômico e socioambiental (Triple Bottom Line), em todas as unidades e operações gerenciais também é um fator relevante na construção de macroobjetivos organizacionais sustentáveis. Construção de conceitos e processos para definição de macro-objetivos sustentáveis Nesse processo, é importante definir as bases conceituais, organizacionais, produtivas e de mercado, relacionadas à prática de DS na Organização, para uso na construção de macro-objetivos sustentáveis. Isso pressupõe analisar os resultados obtidos com a execução das Tarefas; selecionar e consolidar os conceitos, os princípios, as diretrizes e outros elementos infor75 João S. Furtado atendidos em prazos maiores, em conseqüência dos estágios tecnológico, econômico ou das estruturas institucionais nos setores governamental, social e privado. Os temas priorizados do ponto de vista econômico e socioambiental, para que sejam objeto de abordagem integrada de gestão-processo-produto-consumo sustentável e de acordo com o foco do berço-ao-berço e fechamento de ciclos a montante e a jusante. É preciso adotar e implementar o modelo de prevenção ou de processo de transição acelerada, para migrar de fim-de-tubo para prevenção e ecoeficiência. Adotar e institucionalizar os termos e condições para cumprimento do compromisso de longo prazo, porém com metas temporais pré-estabelecidas, por exemplo, levará 5, 10, 15, 25 anos ou mais. Combinar e priorizar as alternativas para o uso de ferramentas como, por exemplo, Fator 10 (para desmaterialização e substituição), orientação por indicadores, ecodesign, dados de análise de ciclo-de-vida, produção limpa, ecoeficiência, emissão zero, fardo ecológico, entre outras necessidades. É recomendável identificar as reais possibilidades gerenciais e produtivas, na Organização, para tornar os macro-objetivos viáveis, levando em consideração diferenças de pontos de vista e influências internas e externas, como: os diferentes níveis hierárquicos que poderão influenciar a aceitação, a harmonia no entendimento de conceitos envolvidos e os níveis de responsabilidade compartilhada pelos diversos interessados (aqui incluídos os shareholders), as informações necessárias, disponíveis e faltantes, levando-se em consideração os aspectos como urgência, seriedade, relevância, consistência, clareza, atualidade e originalidade dos dados e informações com juízo de valor, e a necessidade ou conveniência de construção de parcerias estratégicas. Identificar de que maneira determinado macro-objetivo poderá contribuir para a competitividade da Organização no mercado, levando em conta: efetiva agregação de valor ao produto e ao valor da Organização, em longo prazo, prevenção ou minimização de falhas de mercado causadas por externalidades e informações deficientes, diferenciação de produto-serviço-consumo no mercado setorial ou área de atividade, visibilidade, reputação e construção de confiança na marca ou no nome da Organização perante todos os interessados, importância ou significação da sustentabilidade dos resultados previstos, na cadeia de valor. É preciso estabelecer os critérios, os instrumentos, os mecanismos e os demais elementos do arcabouço para a definição e a avaliação de macro-objetivos sustentáveis alinhados ao eixo de negócios ou de atividades e inseridos na visão e nos princípios de sustentabilidade da Organização. Os elementos apresentados a seguir, entre outros de interesse próprio para a Organização: articulação ao eixo central de negócios ou de atividades organizacionais, à visão e aos princípios de sustentabilidade estabelecidos; alinhamento às três dimensões do DS. A seguir alguns indicadores integrados, de caráter econômico, social e ambiental, de importância local e global, envolvendo saúde, qualidade de vida e dos sistemas naturais. Acesso a bens pessoais: bens materiais, emprego, educação, acesso à informação, saúde, segurança, liberdade, proteção, liberdade de escolha, direito de participação, qualidade de vida social e ambiental, lazer e eqüidade. 76 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Sustentabilidade social: qualidade de interações e relacionamentos, valores, cooperação, aprendizagem, confiança e respeito. Recursos renováveis: ecossistemas; biomas, junto com seus componentes (biodiversidade) e dinâmica (produtividade); fluxos de energia e de água. Extensão de disponibilidade de longo prazo dos recursos minerais. Manutenção dos serviços ou utilidades naturais - oxigênio, energia renovável (solar, eólica, marés) ou fóssil, fossas ou sumidouros naturais, onde os materiais e energia são depositados, capacidade de carga (assimilação, bioconversão), regulação climática, prevenção de erosão, topografia, depuração de água, regeneração de solo, controle natural de vetores, cadeia alimentar, recreação, paisagens e cenários. O uso da natureza para o bem-estar humano e outras espécies do planeta, a partir dos quais o homem obtém ou cria suas riquezas. fandegárias, perda de produtividade, perda de competitividade, passivos socioambientais, ações judiciais e oposições cívicas). Isso feito, é necessário identificar oportunidades para: redução de custos, ao ingresso em novos mercados, tecnologia, produtos socioambientais diferenciados, diferenciação em gestão integrada econômica e socioambiental, avaliação positiva de colaboradores e outros interessados, retenção de pessoal qualificado, avaliação por terceiros, à qualificação de fornecedores, qualificação e confiança de consumidores, imagem perante a comunidade, receptividade local, parcerias estratégicas fortes, balanço neutro de CO2, diálogo com oponentes, trabalho voluntário pelos colaboradores. Depois, é recomendável avaliar as situações e sistematizá-las de acordo com critérios de abrangência, relevância, pertinência e emergência e, se apropriado, estabelecer comparações (benchmarking), além de identificar pressões, expectativas e restrições de interessados relevantes para a Organização, por exemplo: acionistas/investidores/analistas de mercado, ONGs, agências reguladoras, colaboradores/funcionários, concorrentes, participantes na cadeia de valor, consumidores, compradores, seguradoras, formadores de opinião, lideranças internas e externas, tendências internacionais e nacionais, ícones, paradigmas e ferramentas emergentes, parcerias, investimentos, mercado. Os próximos passos comportam ações como, preparar argumentos de convencimento sobre as questões identificadas e selecionadas com análise de FOFA, IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO DE CRIAÇÃO DE MACRO-OBJETIVOS Criação de ato de descontinuidade no modelo de gestão (management) e produção (processo e produto) É preciso criar um ato simbólico de descontinuidade no modelo de gestão, produção e produto, segundo a visão do-berço-ao-berço, para demonstrar a importância do modelo de criação de macro-objetivos sustentáveis. Para isso deve-se identificar os riscos (que incluem: acidentes, falhas, penalidades, custos ocultos, gastos contingenciais, expansões, externalidades, não-conformidades, mudanças de legislação, barreiras não al77 João S. Furtado fortalezas, oportunidades, fraquezas e ameaças, produzir e distribuir texto com reafirmação de compromissos para e com o DS, reforçando a necessidade de participação de todos; destacar ações inovadoras das pessoas; apresentar aos colaboradores internos resultados de auditoria socioambiental já realizada ou documento equivalente com resultados de ações sociais e ambientais e levantar opinião a respeito. Também é importante selecionar textos de terceiros ou da Organização que abordam as vantagens comparativas ou competitivas baseadas em medidas de redução de consumo de materiais (inclusive água e energia), prevenção ou minimização de emissões de resíduos (não-produtos), principalmente os tóxicos e perigosos. Feito isso, deve-se submetê-lo à análise dos colaboradores internos, solicitar comentários a respeito da importância dos resultados econômicos para a Organização, oportunidades de emprego e apoio da comunidade ou da sociedade. Consistem ações relevantes nesse contexto: solicitar a manifestação de colaboradores internos e interessados externos a respeito dos resultados mais importantes alcançados pela Organização e a indicação ou sugestão de temas importantes que ainda não foram abordados; estimular os colaboradores a pensarem em macro-objetivos orientados para consumidor verde, marketing ecológico, acesso público à informação socioambiental, compras governamentais verdes e confiabilidade de marca; demonstrar as vantagens competitivas e comparativas do alinhamento dos macro-objetivos à visão e aos princípios de sustentabilidade. Uma outra ação a ser implementada é identificar as questões legais e regulamentares críticas a serem evitadas e, até mesmo, superadas, e os pontos fortes para o salto no desempenho qualitativo e quantitativo em relação aos resultados esperados ou percebidos. Também é recomendável comparar os macro-objetivos sustentáveis a outros não-sustentáveis ou até mesmo parcialmente sustentáveis, preferencialmente afins e com valor de mercado. Nesse sentido, deve-se considerar: os impactos e os resultados socioambientais faltosos, deficientes, maléficos ou insatisfatórios; a prevenção de situações indesejáveis em curto, médio e longo prazo; os mecanismos de prevenção e, quando impossível, temporariamente (nível de estágio tecnológico), de minimização, preparação e prontidão para riscos e acidentes. Por último, é necessário estabelecer o foco em interessados responsáveis, parcerias estratégicas, cadeia de valor e no compartilhamento de bens e responsabilidades. Capacitação para formulação de macroobjetivos As ações devem ser concentradas em: identificar meios e instrumentos para mudanças; identificar as condições e características do treinamento interno e externo; identificar a necessidade, a capacidade e a qualidade das habilidades necessárias para a implementação do modelo de DS; delinear ou desenvolver programa de treinamento para o quadro interno e externo. Relacionamento entre eco-inovação e formulação de macro-objetivos Para isso, torna-se necessário analisar sistema implantado (in place) de avaliação (assessment) para tecnologias avançadas e ambientalmente adequadas com foco em 78 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS DS e considerar os aspectos: econômico (mercado-orientado, valoração dos capitais financeiro, natural, humano e social); ambiental (condições, efeitos e impactos multimeios água, ar, solo, saúde e segurança humana e comunitária); ecológico (princípios e ciclos biogeofisicoquímicos, produtividade biológica e biodiversidade); social (eqüidade, construção de relacionamentos, inserção, empoderamento, instituições, etc.) e cultural (parâmetros não monetários, tradições, crenças, monumentos, etc.). Outras ações previstas implicam, detectar estudos prospectivos, analíticos e de avaliação de políticas públicas; conhecer os ecossistemas e o valor dos serviços ou utilidades ambientais proporcionados pelo capital natural; corrigir as falhas de mercado causadas por informações deficientes e preços não apropriados para a competição e, por fim, avaliar modelos ou critérios de precaução e prevenção para uso de recursos críticos ou perigosos. O processo de eco-inovação envolve sistemas integrados - visão do berço-ao-berço e permutação (tradeoff), multimeios, água, ar, solo - para identificação de tendências e lideranças tecnológicas. Depois, deve-se desenvolver oportunidades para estratégias inovadoras que levem em conta o equilíbrio ou balanço entre os componentes regulatórios e mercadológicos;. É importante avaliar tendências em formulação de políticas tecnológicas, orientadas para a economia, sociedade e ambiente (ecodesign). Para isso: formar parcerias nacionais e internacionais com foco na cadeia de valor; identificar oportunidades eco-inovadoras para o consumo sustentável responsável de produtos e, prevenir ou minimizar os efeitos do consumo final na cadeia de valor - a montante e a jusante. Os passos seguintes referem-se a envolvimento dos consumidores industriais e prestadores de serviços para matérias primárias e secundárias e consumidores finais de produtos (bens e serviços), e reconhecimento das forças e dos paradigmas de mercado como direito de escolha, diversidade de produtos ofertados, multiplicidade de interessados e dos riscos (relações de causa e efeito existentes ou previstas) de acordo com a visão de avaliação do ciclo de vida. A identificação das oportunidades eco-inovadoras para tecnologias remuneratórias e promotoras de liderança de mercado envolve: medição e avaliação dos impactos (positivos e negativos) de processos e produtos em relação ao aprimoramento ou reconstrução socioambiental; consideração de fatores ou elementos críticos como redução do consumo de energia e recursos, efeitos globais como acordos, protocolos, e arcabouços internacionais, além dos efeitos locais e nacionais, e passagem de conduta reativa baseada em processos com padrões mínimos regulamentados para pró-ativa - melhores práticas para excelência em desempenho integrado ao DS. A construção de programas de capacitação e aprendizagem para eco-inovação abrange, explicitação de demandas ao setor público de financiamento, geração da fase pré-competitiva de tecnologias para sustentabilidade (em oposição às tecnologias de fimde-tubo) nas universidades e institutos de pesquisa, passagem para tecnologias custo-competitivas (ou de mercado) pelas empresas para tecnologias sustentáveis; adoção da linha de base representada pela avaliação de ciclo de vida, cenários prospectivos (forescasting) e 79 João S. Furtado retroativos (backcasting), junto com os fatores aprimoramento 4 e 10 (50 em alguns estudos) da ecoeficiência e eco-reestruturação. Há, ainda, outras ações que merecem ser desenvolvidas. Entre elas estão os desafios a serem abordados em programas de capacitação para a construção de macro-objetivos sustentáveis a fim de determinar o que foi feito para que a Organização atingisse a situação atual. Avaliar aspectos ou questões fundamentais para a concepção de macro-objetivos sustentáveis, tomando-se o futuro ideal e construindo o caminho em sua direção e quais as ferramentas recomendáveis e mais eficazes para isso. Analisar os critérios que deverão ser usados para selecionar impactos e indicadores integrados (econômicos e socioambientais) de processo-produto-consumo e usá-los como elementos estratégicos a partir de entendimento global ou geral do tema. Para isso é preciso compreender a situação atual com relação aos padrões ou impactos quali-quantitativos; apontar possíveis soluções e prioridades fundamentadas em viabilidade econômica e técnica dentro de limites de excelência de desempenho socioambiental e com margens de retornos adequadas e apropriadas às expectativas dos interessados. Deve-se também procurar ações ou iniciativas, no âmbito da Organização, que contribuam para prevenir ou eliminar a concentração sistemática de substâncias na superfície da terra, resultante ou derivada dos processos geradores de bens e serviços, como o consumo de combustíveis fósseis em relação a renováveis, desma- terialização e substituição, prevenção ou minimização do fardo e da pegada ecológica. Na busca por alternativas à concentração sistemática de substâncias na superfície da terra derivadas do uso e da fruição de bens e serviços pela sociedade em todos os níveis de consumo, torna-se pertinente desenvolver ações como: o uso de tecnologias e materiais menos dissipativos e emissores não-intencionais de resíduos, a prevenção do uso e de geração de materiais persistentes (especialmente os bioacumulativos), a adoção de modelos de resíduo zero, os ecoparques industriais e outras formas de parcerias estratégicas. Observa-se que a degradação e o desarranjo dos recursos na área bioprodutiva da terra (ecosfera) são causados por processos, produtos, resíduos e hábitos de consumo em toda cadeia de valor resultantes da má-gestão da parte bioprodutiva (ecosfera) da terra, de instalações ou complexos produtivos que necessitam de grandes superfícies, grandes volumes de biodiversidade, áreas e transporte massivo. Outro fator negativo é a redução sistemática da capacidade da sociedade em encontrar meios sustentáveis para atender a suas necessidades, derivada da oferta de produtos desnecessários, não-sustentáveis, processos e produtos com elevada externalidade, tecnologias de autodependência para o consumidor e elevados preços socioculturais com venda de produtos que poderiam ser substituídos por venda de serviços. Outras questões como falta de contabilização total de preços (full cost pricing), falta de orientação e educação para o consumo sustentável/responsável nas cadeias de valor estão incluídas no processo. 80 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 05 ESTABELECIMENTO DE ESTRATÉGIAS E TÁTICAS PARA A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIOAMBIENTAL parência, capacidade de resposta, prontidão e preparação para acidentes, habilidade para identificação de riscos e oportunidades, riscos cumulativos (proteção da saúde humana e qualidade ambiental, contabilização total socioambiental) gestão de externalidades e outros aspectos relacionados a processos e produtos, conforme o foco do berço-ao-berço. Existem fatores negativos, como periculosidade e operacionalidade, representados por desvios de funções previstas no design original, falha na confiabilidade e desempenho de engenharia; falha de efeito no funcionamento de processo e produto (bens e serviços) e falha no ecodesign de produto. Por isso, há necessidade de revisar o modelo adotado de gestão de emissões e transferência de resíduos, a fim de identificar os aspectos, efeitos ou agentes de impactos provocados pelas atividades da Organização. Rever os manuais de produção ou de geração de emissões.1 E ainda, revisar as recomendações de quadros de referência de indicadores econômicos e socioambientais (oficializados, propostos ou simplesmente mencionados) para a atividade ou negócio da Organização, em dois níveis fundamentais. Sustentabilidade Global – contribuição para o esquema estabelecido pelo IBGE para o Brasil e sua harmonização aos modelos ou esquemas de Organizações internacionais ou agências multigovernamentais que monitoram a sustentabilidade do planeta. Sustentabilidade Setorial (mais apropriadamente, Ecoeficiência), envolvendo indicadores de negócio-específicos e genéricos, aplicáveis ao eixo principal de atividades, bens e serviços ofertados pela Organização, em sintonia com políticas públicas às quais a Organiza- CONSTRUÇÃO DE INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIOAMBIENTAIS Identificação de indicadores importantes para a Organização Consistem de procedimentos necessários para identificar, analisar, avaliar e selecionar indicadores métricos que expressem as relações entre as atividades ou negócios da Organização e os aspectos positivos (ativos) e negativos (passivos) econômicos, ambientais e sociais em relação aos interesses e expectativas de todos os interessados. Sugere-se examinar, também, a inserção no capítulo Medição e Avaliação de Desempenho Sustentável. Os indicadores intangíveis organizacionais, que já são conhecidos pelos analistas, como capital humano, incluem a habilidade em gestão, informação, cultura organizacional, reputação, posicionamento estratégico, patentes e direitos autorais. Outros indicadores socioambientais intangíveis de relevância crescente, são valor de marca e confiança, satisfação dos interessados, capacidade para eco-inovação e desenvolvimento de novos bens, serviços ou processos que agregam valor, mas previnem ou reduzem, significativamente, os impactos ambientais, com base em elementos como: análise de ciclo de vida, ecodesign, fardo ecológico, intensidade material por unidade de serviço, balanço de massa, revalorização de materiais não-ecoeficientes, extensão da função ou do serviço e outras ferramentas, conhecimento e capacidade de aprendizagem, gestão integrada da sustentabilidade atual e sustentabilidade futura, ética, trans81 João S. Furtado ção está sujeita nos níveis federal, estadual e municipal. Além disso, deve-se criar instrumentos de mercado em relação às partes interessadas, de acordo com parâmetros fundamentais, como integrantes na cadeia de valor a montante (upstream) e a jusante (downstream) e responsabilidade organizacional total, abrangendo, entre outros aspectos, a capacidade de gestão econômico-financeira e socioambiental, transparência, capacidade de resposta, conformidade e verificabilidade perante todos os interessados. O enfoque atual de conceito de riqueza deverá ser relacionado com os bens pessoais, compostos por bens materiais, emprego, educação, acesso à informação, saúde, segurança, liberdade, proteção, liberdade de escolha, direito de participação e decisão, qualidade de vida social e ambiental, lazer e justiça social (inserção socioeconômica e equidade). O de bens nacionais - à totalidade de bens e serviços acessíveis ao povo sem distinção. Há de se considerar os problemas gerados pelo modelo atual de produção e consumo de bens e serviços para as próximas cinco décadas, conforme o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) no que diz respeito aos setores industriais (energia, agricultura, construção civil, indústria de transformação, serviços, transportes, saúde) que, por sua vez, relacionam-se com temas econômicos e socioambientais, como mudança do clima, resíduos em geral, poluição do ar, ambiente marinho e costeiro, depleção de recursos, poluição de água, assentamentos urbanos, dispersão de tóxicos, perda de biodiversidade, depleção da camada de ozônio. De acordo com o World Resources Institute, assuntos relacionados à população são desafios para países nãodesenvolvidos ou de economia em transição. Nisso deve-se considerar as características da população em crescimento como: aumento de desigualdades; renda crescente, porém, ainda menor do que nos países de- senvolvidos; aumento da força de trabalho apesar de continuar os problemas de emprego; aumento da expectativa de vida, mas com sérios problemas de saúde; dificuldades de acesso à disponibilidade de alimentos, necessidade crescente de educação formal e de habilidades profissionais; dificuldade de acesso à água (estima-se 40% da população em áreas de escassez) e aumento notável da população urbana. Além disso há demandas especiais, como: a mudança do modelo de produção, transporte e armazenagem de alimentos, agricultura orgânica e fazendas pesqueiras (fish farming); Emissão Zero e Produção Limpa, fontes alternativas de energia e tecnologias com eficiência energética, Capital Natural com valor de mercado; tecnologias poupadoras de água; sistema de transporte sustentável, tecnologia democrática de informação e comunicação; democracia pluralística e responsabilidade das Organizações. Em tal contexto, é necessário falar sobre controle democrático, ou seja, esforço organizado para aumentar o controle sobre os recursos e instituições reguladoras em uma situação social de parte de grupos ou movimentos dos excluídos. E também sobre controle democrático da informação, isto é, direito público de livre acesso à informação, que afeta os interesses dos indivíduos e comunidades. Outro aspecto a ser observado são os enfoques para eco-inovações tecnológicas: inventário de resíduos, balanço de material e de energia, e efeitos integrados econômicos e socioambientais. É preciso ficar atento para as influências de legislação e regulamentação ambiental (mudança de modelos) relacionadas com a 1ª geração (até anos 90), que comando-e-controle e fim-de-tubo para a de 2ª geração (tendências atuais), com prevenção-sistemas de desempenho-responsabilidade socioambiental de acesso público. Observe o esquema na página ao lado. 82 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS ou elementos-chave que possam ser medidos e utilizados para construir estatísticas, revelar a exatidão de situações ou eventos, sinalizar sintomas ou índices, visualizar a condição de um determinado sistema, revelar ou permitir antever tendências cronológicas sobre aspectos importantes acerca de fenômeno, estado ou condição, aspecto ou atividade cujo significado ultrapassa as propriedades associadas às estatísticas. Construção do conceito de indicador integrado econômico-socioambiental para a Organização É necessário estabelecer o conceito levando em conta que os indicadores constituem, em geral, unidades 83 João S. Furtado O indicador deve ser unidade de medida - elemento informativo de natureza física, química, biológica, econômica, social ou institucional - representado por um termo ou expressão que possa ser medido, ao longo de um espaço de tempo para caracterizar ou expressar os efeitos e as tendências e avaliar as inter-relações entre os recursos naturais, saúde humana e a qualidade ambiental dos ecossistemas. destruição ou recomposição de criadouros (manguezais, brejos, matas ciliares) superior à taxa de recuperação natural. Outro fator relevante é o valor cênico ou estético natural, como: conservação ou destruição de monumentos e outras formas de belezas cênicas e, atividades turísticas benéficas ou predatórias, que atrapalham a capacidade de regeneração dos sítios naturais e arqueológicos. Vale mencionar a importância do Capital Humano, com referência aos impactos positivos ou negativos para habilidades humanas, saúde e educação, e do Capital Social como: construção ou danos sobre os relacionamentos interpessoais e comunitários, permitindo ou impedindo que as pessoas possam se organizar para atuar com poder de voz e voto; a consolidação ou destruição das condições para a justiça e eqüidade em relação à capacidade de organização das comunidades e outros segmentos sociais. Contribuições ou danos às organizações, instituições e governos, em relação à capacidade de resposta ou de reorganização não devem ser ignoradas. O Capital Físico construído pela comunidade refere-se a edificações, infra-estrutura, informações que atendam as necessidades humanas dentro de padrões de qualidade, sem comprometer a capacidade de suprimento de materiais pela natureza e a otimização dos materiais existentes. É importante construir visão integrada a longo prazo, que abranja os aspectos sociais, econômicos e ambientais, justiça, equidade, visando as gerações atuais e futuras.2 Observe as sugestões de passos para possíveis situações de construção de indicadores, nas páginas a seguir. Estabelecimento do processo para construção do quadro ou esquema apropriado de indicadores econômicosocioambientais integrados para as atividades ou negócios da Organização Considerando as possíveis situações para construção de indicadores, é preciso observar os recursos naturais renováveis e não-renováveis do planeta, como: a extinção de espécies animais e vegetais a taxa maior do que a garantia da biodiversidade, a extração de madeira acima da capacidade de reposição natural dos estoques florestais, a recomposição de biodiversidade e dos estoques de recursos naturais e, valoração de recursos bióticos. Os serviços naturais, excluem: depósito ou prevenção de resíduos sobre a crosta da terra (ecosfera ou biosfera), em relação aos limites de bioconversão ou biorecuperação dos rejeitos e resíduos depositados, consumo de água maior ou menor do que a capacidade da recuperação dos ciclos e reposição dos estoques, proteção ou erosão do solo acima da capacidade de recuperação das áreas degradadas, 84 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS SUGESTÃO DE ESQUEMAS DE PASSOS 85 João S. Furtado 86 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 87 João S. Furtado Construção do esquema de indicadores apropriados para as atividades ou negócios da Organização nização e incorporá-los na decisão de negócios ainda não estão suficientemente desenvolvidas nem utilizadas. Porém, há várias propostas, sugestões e até mesmo manual para lidar com instrumentos que visem a redução de custos através do enfoque ambiental 3. Trata-se de um aspecto importante a ser consolidado para revelar custos e ganhos ambientais que, na maior parte, ainda não são visíveis para as Organizações. Nessas condições estão, por exemplo, o consumo excessivo de matérias-primas, água, energia e outros insumos, o mau uso do produto pelo consumidor, processos industriais de riscos, passivo ambiental, multas e obrigações para remediação, impactos visuais e sonoros, matérias-primas inadequadas, auditoria e avaliação de riscos, controle de acidentes e emergências, seguro ambiental com prêmio de alto risco, perda de subprodutos úteis, sistema inadequado de segurança de processo, gastos com manejo e destinação de resíduos e danos à imagem. Primeiro, deve-se produzir a relação completa de indicadores criados nas categorias sustentabilidade, negócio ou atividades específicos e genéricos com potencial de uso para a Organização. Por último, é necessário selecionar os indicadores por categoria, que serão utilizados pelas unidades e em todas as operações gerenciais da Organização, e caracterizar, descrever e delimitar cada indicador, a fim de designar a respectiva unidade e o método de medição; fixar a periodicidade de aferição e avaliação de desempenho com base nos indicadores eleitos e, por fim, estabelecer a relação entre indicador e centro de custos no sistema de contabilidade da Organização. ESTABELECIMENTO DE CENTROS DE CUSTOS PARA O DESEMPENHO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL INTEGRADO Classificação por centros de custos Segundo a ONG Global Environmental Management Initiative (GEMI), os custos diretos estão diretamente relacionados a projetos, produtos ou processos; os custos de capital, com operações e manutenções. Os custos ocultos são os gastos inaparentes, associados a produtos, processos, projetos, serviços, entre outros. Já os custos de responsabilidade (contingent liability) são decorrentes de eventos, impactos, efeitos e outras ações da Organização em relação ao meio social e ambiental, inclusive as penalidades. Custos menos tangíveis são gastos de difícil quantificação, mas percebidos na cadeia de valor. A classificação mais próxima aos custos de qualidade4 propõe os tipos seguintes: Custos de prevenção que compreende substituição Identificação de custos, de acordo com a natureza do evento Os custos das atividades próprias das organizações produtoras de bens e serviços, os custos privados ou custos internos, são gerados pelo próprio negócio. Os valores impostos aos consumidores e ao ambiente, são custos sociais também chamados de externalidades ou custos externos, não podem ser legalmente imputados ao negócio. As ferramentas para contabilizar e entender o amplo espectro de custos ambientais causados pela Orga88 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS ma ou da planta de produção. Custos operacionais: gastos durante a execução de processos, produtos, sistemas e sites. de matérias-primas; implantação de melhorias e prevenção; participação em atividades de prevenção e melhorias; treinamento para ações preventivas; controle de processos, tratamento e acondicionamento de resíduos. Custos prospectivos (back-end): que ocorrem após a vida útil de processo e produto, já que podem estar (ou não) incluídos no modelo de gestão. Resultam na futura desmobilização de laboratórios, fechamento de aterros, desmonte de depósito de resíduos e atendimento a legislações futuras. Custos de avaliação: abrangem avaliação de novos processos; avaliação ambiental de fornecedores; monitoração ambiental na produção; monitoração ambiental na expedição e avaliação de passivo ambiental. Já os custos de falta de controle, correspondem a: Custos de falhas internas: correção de não-conformidades, saúde ocupacional, disposição de efluentes e resíduos e remediação de passivos internos. Custos de falhas externas: reclamações, remediação de passivos externos e recuperação de imagem. Custos intangíveis: perda de valor da Organização por efeitos ambientais relacionados a projeto, processo, produto. Custos convencionais: familiares às Organizações (capital, trabalho.). Definições gerais internacionais Custos de imagem e relacionamento: geralmente intangíveis ou “menos tangíveis”, como fruto de percepção dos gerentes, consumidores, empregados, comunidades e agentes reguladores. Envolvem comunicação ambiental, relatórios, melhoria ambiental, programas de educação ambiental etc. Custos contigenciais: de caráter probabilístico que poderão ocorrer (ou não) no futuro, como remediação ambiental, acidentes com poluentes, multas ambientais, conformidade a novas regulamentações. São chamados, às vezes, passivo (liability) ambiental, custos com passivo e passivos contingenciais. As definições gerais internacionais são relativas aos custos ambientais privados. Custos regulamentários: gastos com atendimento à legislação e regulamentação, isto é, das responsabilidades obrigatórias, ou custos para conformidade. Overhead : termo genérico, sinônimo de custos indiretos ou escondidos que, obviamente, não podem ser identificados como custos diretos. Custos voluntários: compromissos resultantes de acordos ou códigos de ética voluntários, ou seja, das ações pró-ativas da Organização, além das obrigações legais. A sequência de tabelas que se seguem nas próximas páginas, mostra exemplos de custos de acordo com as categorias mencionadas e que estão no texto da EPAUS, “An introduction to environmental accounting as a business management tool: key concepts and terms”.5 Custos antecedentes (upfront, no original): operações e gastos prévios à aquisição ou pré-produção e que afetam a operação de um processo de produção, siste89 João S. Furtado 90 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 91 João S. Furtado REAFIRMAÇÃO DA POLÍTICA ORGANIZACIONAL Recomenda-se engajar o departamento financeiro e contábil para estabelecer as relações de indicadores de desempenho econômico e socioambiental integrado e o sistema de contabilidade da Organização. E também articular grupo-multiprofissioal, transorganizacional e com interessados externos relevantes e construir as relações entre indicadores integrados e centros de custos estabelecidos, com enfoque no Resultado Final Tríplice ( Triple Bottom Line). Observe o esquema a seguir baseado em J. Fiskel. Procedimentos para estabelecer a linha de base da Proposta de Sustentabilidade. Primeiro, deve-se reforçar e reafirmar, com freqüência, os elementos da proposta de sustentabilidade, produzir documentos e disseminá-los. Depois, analisar e avaliar entendimentos, percepções e sua incorporação pelos interessados. Em terceiro lugar, deve-se analisar todos os elementos de cada campo do esquema sugerido na página 26, tendo como base os fundamentos da proposta de sustentabilidade,com atenção especial para visão e os princípios de sustentabilidade criados pela execução de capítulos específicos e pelos fundamentos do conceito de sustentabilidade. Os fundamentos se apóiam: nas inter-relações de gestão geral-processo produtivo-produtoconsumo, no modelo do-berço-aoberço, nas questões, efeitos ou impactos durante o ciclo de vida de bens e serviços, no comportamento do consumidor, no destino final de embalagens e restos de materiais pós-uso, e na visão de cadeia de valor. 92 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Logo após, é preciso decidir sobre a aplicabilidade do esquema para a Organização, a fim de selecionar os tópicos relevantes ou indispensáveis, e avaliar a relevância e pertinência do esquema e dos respectivos tópicos em relação às atividades ou negócios correntes. para a sustentabilidade; processos de eco-inovação em questões gerenciais e produtivas; mecanismos de avaliação de desempenho; reconhecimento e recompensas e sistema de distribuição de recursos para unidades e transorganizacional. Outras ações relevantes implicam: identificar os recursos ou ferramentas de base socioambiental em uso; registrar os resultados obtidos pelo Ecotime Organizacional e outras equipes, na consolidação de conceitos e procedimentos; definir macro-objetivos interpretação dos resultados apurados de inserção de sustentabilidade nos procedimentos e no desenho do padrão de desempenho socioambiental atual da Organização; estender a sustentabilidade, desejada para período de tempo pré-determinado (1-5, 10-15, 15-25 e mais que 25 anos). Recomenda-se ainda promover a integração de dados e informações de natureza ambiental e social às econômico-financeiras, por meio de entrevistas e avaliação de documentos, levantamentos locais e identificação de eventos, efeitos, impactos e os respectivos indicadores métricos sobre os diferentes tipos de fontes de meios e recursos – os capitais natural, social, humano e construído. Outro aspecto é relacionar as informações aos elementos normativos e de Política Organizacional. Para tanto, é necessário levar em cosnideração instrumentos normativos para a conduta na Organização baseados na proposta e nos princípios de sustentabilidade e na missão. Faz-se necessário relacionar as atividades e os procedimentos reconhecidos como articulados à sustentabilidade aos macro-objetivos sustentáveis e às metas de excelência de desempenho. Outras avaliações incluem: ajustar o conteúdo e esquema definitivo à realidade da Organização; levantar informações nas unidades organizacionais a respeito dos tópicos selecionados para o esquema a ser definido; analisar, avaliar e enquadrar as ações, iniciativas ou os procedimentos já realizados ou que estejam em curso e que correspondam a cada tópico nos distintos âmbitos do esquema da página 26 que contemplem ou atendam à proposta de sustentabilidade e contribuam para a integração econômica e socioambiental na prática organizacional de gestão-processo-produção-consumo de bens e serviços. Deve-se destacar com particular atenção: os procedimentos nas unidades de produção de bens e serviços com avaliações a montante e a jusante, de acordo com os conceitos e instrumentos socioambientais e também os procedimentos de governança. São aspectos relevantes: na integração gestão- processo-produto-consumo; exercício de poder e autoridade; mecanismos de coesão; construção de identidade e articulação entre pessoas e grupos; inserção de valores e princípios relacionais à proposta de sustentabilidade nos aspectos topo para base, base para topo e mecanismos de livre associação e construção de mudanças não lideradas; sistema de informação, comunicação, treinamento e aprendizagem, em relação às questões e ferramentas 93 João S. Furtado ARTICULAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AOS DEMAIS ELEMENTOS DA POLÍTICA ORGANIZACIONAL Articulação de estratégias e táticas de sustentabilidade socioambiental com as de sustentabilidade econômica, deve levar em conta elementos que estejam de acordo com o interesse da Organização. A redução de custos pode ser alcançada por: gestão de operações; tecnologia de informação; P&D; gestão e formação de preços de produtos; procura e foco na cadeia de suprimentos; manufatura – gestão de demanda e inventário; produção enxuta; sincronização de planta de produção; manufatura integrada de produto; supervisão gerenciada (stewardship) e arrumação da casa (housekeeping); PIP (Política Integrada de Produto), CIIP (Controle Integrado de Processo e Produto), marketing; venda e serviços; logística e distribuição. Além da redução de custos, deve-se pensar na articulação dos meios, instrumentos, recursos e atividades à missão, visão, princípios e valores no estabelecimento de objetivos (gerais e específicos), metas, planos, programas, projetos e atividades repetitivas, alinhadas ao Desenvolvimento Sustentável. Constituem ações relevantes: detectar conflitos, discutir, aprimorar o entendimento e eliminar problemas de entendimento e de práticas, para o que será estabelecido e determinado; identificar, analisar, avaliar e promover o compartilhamento de valores , o entendimento e cooperação 94 na implementação de missão, visão e princípios de sustentabilidade, em todos os níveis e unidades organizacionais; articular estratégias e táticas de sustentabilidade integrada econômica e socioambiental através do engajamento e desempenho de recursos humanos, com conhecimento de seus papéis, atribuições, responsabilidades na Organização. Para atingir tal objetivo, as sugestões são: preparo para o desempenho sustentável integrado; disponibilidade de recursos materiais; oportunidades para o melhor desempenho no local de trabalho; cooperação, parcerias e reconhecimento; empoderamento e participação em decisões; reconhecimento de progressos alcançados e oportunidade para aprendizagem e progresso pessoal. Deve-se também: estabelecer as bases e meios para definir o foco sustentabilidade em todas as atividades e operações da Organização, e estabelecer as conexões entre o quadro de colaboradores e a Alta Direção; consolidar Ecotimes operacionais nos diversos níveis organizacionais; estabelecer os mecanismos e meios para engajamento dos interessados relevantes e em alinhamento ao eixo de negócios ou atividades da Organização, e desenvolver meios, instrumentos e processos para as melhores práticas de sustentabilidade tríplice (econômica, social e ambiental). Atribuições e responsabilidades A construção das bases operacionais para otimizar os fluxos decisórios do topo para a base, vice-versa e SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS vés de comparação ao desempenho de outras organizações consideradas relevantes (benchmarking). A etapa seguinte consiste em analisar como se chegou à condição ou posição, quais são os marcos de referência relevantes que deverão ser destacados e o que fazer para chegar ou alcançar, onde não se conseguiu. Deve-se ainda identificar, analisar e avaliar objetivos (temas ou questões específicas a serem atendidas ou alcançadas), alvos (marcos de referência mensuráveis), resultados de desempenho tangíveis e intangíveis alcançados. Outros esforços a serem inclusos são: priorizar ações para a correção de desvios e falhas de mercado, superação de metas e outras situações consideradas importantes para o aprimoramento além da conformidade, e incluir as decisões no planejamento estratégico. A realimentação do processo de execução de atividades integradas de gestão-processo-produto-consumo inclui rever as prioridades organizacionais correntes e, entre estas, as que atendem à Sustentabilidade – no todo ou em parte. Para isso, sugere-se analisar ou estabelecer prioridades futuras que atendam à visão e princípios de sustentabilidade Organizacional. A definição da Sustentabilidade futura precisa considerar a análise ou o estabelecimento de prioridades futuras que atendam à visão e princípios de sustentabilidade Organizacional. Portanto, é preciso identificar e relacionar questões, elementos ou ações previstas para os objetivos futuros, do ponto de vista de exigências legais ou de códigos de conduta voluntários, inclusive os certificados e focados em sustentabilidade; impactos socioambientais (positivos e negativos); objetivos, metas e alvos métricos; direção, caminhos e cursos; forças direcionadoras; meios, recursos,distribuição de atribuições e responsabilidades. Recomenda-se para tanto: definir focos estratégicos para integrar elementos eco- outros mecanismos de participação não liderada, envolve recursos, instrumentos e questões que afetam ou são afetadas pela inserção dos elementos de sustentabilidade nos negócios e atividades organizacionais. Para isso, é necessário rever o esquema de distribuição de responsabilidades, atuação e desempenho de papéis, definindo quem fará o quê, quando, onde, como, com que propósito e como o progresso será rastreado. Também é importante identificar, analisar, avaliar e propor medidas para prevenção ou correção de conflitos dando ênfase: à objetividade, a eventos, a questões ou situações reais ou acontecidas, a entendimentos alternativos, dúbios ou substitutos, dispersões ou divagações. Além disso, deve-se implementar, acompanhar, analisar e avaliar o processo e o desempenho dos mecanismos e instrumentos de comunicação de desempenho sustentável. CONSOLIDAÇÃO DA LINHA DE BASE PARA O DESEMPENHO, ABRANGENDO EFEITOS E IMPACTOS DE RESULTADO FINAL TRÍPLICE. Propostas de Políticas de Sustentabilidade É importante estabelecer as condições básicas para a prática da sustentabilidade, abrangendo, por exemplo, questões ou situações como o tipo de negócio ou atividade envolvidos, a direção ou caminho seguido, a posição assumida ou defendida pela organização, a situação, condição ou estágio desejado, em relação à prática da sustentabilidade e de responsabilidade socioambiental Organizacional. Em seguida, deve-se analisar e avaliar as condições básicas em determinado período de tempo ou estágio alcançado em relação à linha de base proposta ou atra95 João S. Furtado treinamento disponibilizado e requerido pelos colaboradores e demais interessados; riscos, acidentes e impactos relevantes, preparação, prontidão e respostas a riscos e acidentes; oportunidades para aprimoramento; contribuições para formulação de políticas públicas; diferenciação no mercado, resultado de comunicação com os interessados; efeitos na cadeia de valor; conduta frente a modificações globais e setoriais, conduta frente a situações similares no setor; eventos relacionados a questões globais de sustentabilidade e aos princípios de Precaução, Poluidor Pagador, Responsabilidade Objetiva e Responsabilidade Continuada do Produtor. Outra ação a ser destacada é a criação de procedimentos para a avaliação de desempenho diferenciado, com atenção para a metodologia adequada, com os respectivos critérios e padrões de identificação, medição e avaliação de desempenho, aplicados; à gestão-processo-produto-consumo; a experiências relevantes e campeãs; às ferramentas em uso; aos procedimentos gerenciais notórios; aos marcos de excelência; aos riscos críticos superados ou prevenidos; à opinião de interessados relevantes e os efeitos; à oportunidade para aprimoramento, e à diferenciação no mercado. Outros elementos para avaliar desempenho são: resultados de comunicação com interessados; efeitos na cadeia de valor; lições aprendidas; treinamento oferecido e necessitado; preparação, prontidão e resposta a riscos e acidentes; conduta frente a situações similares no setor; nômicos e socioambientais e o melhor modelo de Governança compartilhado; conceber ações e mecanismos de favorecimento a práticas inovadoras; criar e implementar procedimentos para estimular a criação de processos otimizados, e estabelecer procedimentos e mecanismos para identificar e implementar iniciativas que resultem na agregação de valor na cadeia de negócios. CONSOLIDAÇÃO DE COMPETÊNCIAS Para consolidar competências é preciso proceder a avaliação de desempenho. Para tanto necessita-se: definir o que se pretende atingir, alcançar, preservar, evitar e eliminar; prever meios e mecanismos para incorporar indicadores de excelência, relacionamentos, competitividade e liderança; identificar e analisar causas e efeitos; avaliar condutas reativas e pró-ativas; prever medidas futuras corretivas ou para melhor desempenho; desenvolver novas ações estratégicas ou táticas; priorizar ações, descrevê-las e comunicá-las. Recomenda-se ainda, em relação à avaliação, estabelecer o melhor desempenho global, a partir de focos, situações ou condições representadas por políticas organizacionais de sucesso; ações civis (liability) e iniciativas preventivas, mitigantes, corretivas ou reparadoras; operações gerenciais (mecanismos de decisão), processos produtivos, produtos, consumo (cadeia de valor) e pós-uso; benchmarking em relação à linha de base de sustentabilidade e melhor desempenho no setor, lições aprendidas; 96 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS eventos relacionados a questões específicas de ecoeficiência local; eventos relacionados aos princípios de Precaução, Poluidor Pagador, Responsabilidade Objetiva e Responsabilidade Continuada do Produtor. Para a revisão das condutas de conformidade e ações para a superação de limites, deve-se levar em conta o compromisso para com a criatividade e a ecoinovação, o estabelecimento de alvos métricos correspondentes a objetivos esperados ou desejados e sua relação com a política organizacional de sustentabilidade (Missão, Visão, Princípios e Macro-objetivos), além dos mecanismos e indicadores de monitoramento, análise e avaliação de progressos. Prevê-se também o estabelecimento de conduta relacionada a acordos internacionais; regulamentação nacional, estadual, municipal, contratual, voluntária, estatutária; governança organizacional, setorial e mercadológica; interessados e acionistas/investidores. Na consolidação das competências, pode-se considerar ainda, os padrões de excelência de desempenho organizacional, processo-produto-consumo; os marcos de referência organizacionais e comparativos (benchmarking); as unidades gerenciais e plantas industriais, com destaque para desempenho ou resultados negativos, estacionários e evolutivos; a designação e a atribuição de papéis e responsabilidade para implementar os padrões, procedimentos, mecanismos, instrumentos e outros atributos gerenciais e operacionais de práticas sustentáveis e sua articulação com os demais componentes ou elementos da política corporativa, em todos os níveis organizacionais internos e, externamente, na cadeia de valor. Outros elementos úteis são: resultados e impactos, positivos e negativos; metas propostas e alcançadas, com avaliação individualizada de resultados relevantes ou críticos, passados e presentes, com projeção ou percepção de comportamento necessário para o futuro; dados e resultados de ecoeficiência; avaliação de ciclode-vida; ecodesign; desmaterialização; Produção Limpa; acesso público à informação; auditorias independentes; códigos de ética e normas socioambientais, envolvendo matérias-primas como água, energia, emissões, reuso, remanufatura, reciclagem, recuperação; benchmarking setorial; projeção de atividades futuras e Avaliação de Resultados Tríplice, esperados ou percebidos; alinhamento dos resultados ao projeto de sustentabilidade corporativa e a comunicação com os interessados. NOTAS 1. Ver Furtado, J.S. & col. 2001. Prevenção de resíduos na fonte e economia de água e energia. 209 pp. Texto de livre acesso em www.teclim.ufba.br/jsfurtado macropágina Produção Limpa 2. Para ver listagem ampla de indicadores, é sugerido que se consulte Furtado, J.S. 2003. Indicadores de sustentabilidade e ecoeficiência. Livre acesso em www.teclim.ufba.br/jsfurtado macropágina Gestão Socioambiental Responsável. 3.Moura, L.A.A. 2003. Economia ambiental. Gestão de custos e investimentos. 2ª. ed. 214 pp. Editora Juarez de Oliveira, S.Paulo. 4. http://www.epa.gov/oppt/acctg/indexold.html EPAUS Environmental Accounting Project. 5. Fiksel,J. &col.1999.Measuring procgress Towards Sustainbilitypriciples, Process and best practices.36pp. Greening of Industry Network Conference Best Practice Proceedings. http://www.eco-nomics.com/pages/8/index.htm. 97 João S. Furtado 98 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 06 GESTÃO E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COM RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL PRESSUPOSTOS E ENTENDIMENTOS meios ambientais, que afetam a saúde humana e a qualidade dos ecossistemas naturais. No que diz respeito ao tema social citado, a organização pode optar por definir responsabilidade, a fim de estabelecer seus limites e dos demais interessados. Pode, ainda, aceitar a definição segundo a qual Responsabilidade Socioambiental representa o compromisso ou dever de toda e qualquer organização de responder pelas conseqüências de seus atos, atividades, processos produtivos, bens e serviços introduzidos no meio público. Algumas condições são importantes para a gestão e planejamento estratégico integrado- este último compreendido como a combinação das dimensões ou aspectos econômico, social e ambiental-, como: selecionar, conceituar e estabelecer os limites para entendimento e prática de instrumentos, ferramentas e recursos, incluindo o modelo de fluxo ou de seqüência, cujas etapas são listadas abaixo. Avaliação de ciclo-de-vida. Balanço de material e fluxo de massa. Controle integrado de processo e produto. Demanda material total e intensidade de material por unidade de serviço. Desenvolvimento integrado de produto. Desenvolvimento sustentável (DS). Design para o ambiente (DPA) ou ecodesign. Desmaterialização e substituição. Ecoeficiência. Emissão zero. Fator 10. Política integrada de produto (PIP). Produção limpa (PL). Bases estratégicas Trabalhar na perspectiva da responsabilidade socioambiental pressupõe entender que planejar estrategicamente consiste em estabelecer os conceitos, a interpretação e os limites de entendimento dos termos ou dimensões econômica, social e ambiental, para uso da Organização. Compreende também aceitar, no todo ou em parte, que o termo socioambiental incorpora questões sociais e ambientais indissociáveis, devido às relações de causa-e-efeito dos eventos que compõem o binômio, abordados de diferentes maneiras pelas organizações. Nesse contexto, os temas sociais convencionais podem ser visualizados de duas formas pelas organizações. A primeira engloba questões relativas ao que é entendido, tradicionalmente, por Responsabilidade Social das Organizações, usualmente desarticulado do eixo principal de negócios ou atividades organizacionais. A outra questão refere-se aos eventos sociais que resultam de impactos ambientais provocados tanto por atividades produtivas ou comerciais das organizações quanto pelo modelo de consumo de bens e serviços determinado pelo próprio sistema produtivo ou de hábitos de consumidores, em conformidade ou não com regulamentações ou políticas públicas. Tais eventos são representados por pobreza, favelização e outros, de base ambiental. Além dos temas sociais, existem os temas ambientais propriamente ditos, representados por cargas, impactos, danos físicos, químicos ou biológicos sobre os 99 João S. Furtado Sistema de produto, visão do-berço-à-cova ou doberço-ao-berço. As atividades estratégicas apresentadas não esgotam as possibilidades. Elas incorporam sugestões, comentários ou recomendações feitas por diversos autores1 , ordenadas de maneira a representar o modelo genérico de seqüência, a ser ajustado às características, interesses ou práticas gerenciais de cada organização. FLUXO DE ATIVIDADES Conceitos e princípios relevantes É preciso admitir que a inserção de questões socioambientais nas operações da organização resulta em situações complexas, sendo prudente levar em conta pelo menos três tipos de limitações. A primeira refere-se à ecosfera, ou seja, ao espaço entre a parte rochosa (litosfera) da terra e a atmosfera, sistema não-linear e complexo. Atualmente, e possivelmente para sempre, será difícil ou impossível conhecer, com certeza, todos os efeitos ambientais das atividades humanas. Devido às condições de incerteza e os riscos permanentes, recomenda-se adotar o Princípio da Precaução2 . Em segundo lugar, é necessário reconhecer que os relacionamentos entre objetos, meios e objetivos são múltiplos e acontecem em diferentes momentos das ações estratégicas. A listagem a ser apresentada, portanto, não permite estabelecer, necessariamente, os vínculos imediatos entre as etapas. Por último, deve-se considerar que as seqüências podem ser modificadas – tanto em componentes, como nos momentos em que os passos acontecem – de acordo com a forma de entendimento dos interessados a partir dos princípios e conceitos gerenciais. A proposta de seqüência das etapas pode seguir o modelo de gestão e planejamento estratégico praticado na organização, tendo em vista os procedimentos, a composição dos blocos de ações gerenciais e outras práticas estratégicas adotadas. As ações gerenciais de base socioambiental abrangem vários Princípios da Declaração Rio-923 sobre o ambiente e desenvolvimento e são imprescindíveis para a construção da visão integrada e sistêmica de iniciativas como: definição e implementação dos modelos gestão e planejamento estratégicos integrados elaboração de programas socioambientais responsáveis definição de política socioambiental integrada aos negócios ou atividades acompanhamento e medição do desempenho dos indicadores socioambientais implantação do modelo de produção limpa para manufatura de bens e serviços produção de relatórios de desempenho, inclusive o balanço socioambiental. A gestão e planejamento estratégico integrados inclui a missão, os valores e a visão da organização, considerados os pilares para o planejamento, a sustentação ao longo do tempo4 e a prática da sua política. Os termos destacados têm significados bastante precisos. Compreende-se missão como a razão de ser ou a intenção original do fundador da organização; ou tipo de atividade praticada. Os valores são os direcionadores de conduta pública e operacional; abrange padrão, aspectos, pontos ou posições defendidas. Visão diz respeito à motivação que mantém a organização no caminho de futuro e expressa o que ela é e o que deverá tornar-se. Finalmente, por política entendem-se os princípios de governança que estabelecem as escolhas, os compromissos e as bases normativas para o relaciona- 100 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS mento entre a direção e a platéia interna e externa (partes interessadas), a fim de que a organização alcance os fins desejados. No universo das organizações, estratégia está correlacionada a plano, padrão, arcabouço, percepção, posição, perspectiva, podendo ser interpretada e definida de diversas maneiras. A definição a seguir foi elaborada a partir de textos acessíveis na Internet5 , a saber: estratégia é a maneira de pensar e de agir, padrão de conduta, designação de recursos; posição ou percepção adotadas para a construção de plano ou arcabouço preparatório antes que ações concretas sejam postas em prática. Tática, por sua vez, consiste na forma como os recursos são manejados durante as ações. Outro termo importante é Planejamento Estratégico, que engloba os meios e os métodos utilizados para alcançar o fim desejado, em tempo ou futuro determinado, com vários sentidos. Estabelecimento da direção, caminho ou curso a ser seguido, para que a política de atuação da organização seja praticada. Determinação das forças direcionadoras, que abrange produtos, usuários e beneficiários, necessidades e oportunidades no meio, marketing, tecnologias, capacidade produtiva, recursos naturais, porte e crescimento, returno e lucratividade, para que a organização possa alcançar as mudanças e os fins desejados. Identificação e distribuição de meios e recursos e definição de como aplicá-los. Indicação de focos estratégicos, representados pelos fins a serem alcançados, os meios, modos e recursos para obtê-los, a organização dos recursos e meios propriamente ditos, principalmente os disponíveis e a tática para o uso. Previsão da triagem estratégica, no setor de atividades e, no caso das organizações com fins lucrativos, a concorrência, com base em ferramentas de análise como SWOT-FOFA (fortalezas, oportunidades, fraquezas e ameaças). Indicação do direcionamento estratégico para a competitividade, através de diferenciação, foco, objetivos e metas, para que a organização possa competir e se contrapor a movimentos ou acontecimentos, previstos ou já em curso, no ambiente, os quais representam ameaças ou prejuízos para os interesses internos e das demais partes interessadas. O planejamento estratégico estabelece aonde a Organização deseja ir e como chegará lá. Para isso, abrange esquemas, medidas e atitudes, previamente concebidos, para que a missão, os objetivos e metas, pré-definidos, possam ser alcançados, dentro de determinado período de tempo e com o uso de recursos pré-estabelecidos, tendo em vista os cenários imaginados. O papel do planejamento estratégico é maximizar o uso de recursos e aprimorar o desempenho, a fim de contribuir para que a organização possa consolidar sua posição e diferenciar-se dos demais participantes ou concorrentes no meio onde atua. Para tanto, requer o estabelecimento de objetivos gerais e específicos, levando em consideração o que alcançar, preservar, evitar e eliminar6 . Nas empresas com fins lucrativos, as ações estratégicas são lineares e verticalizadas, isto é, são propostas do topo para a base. Refletem o modelo organizacional de acordo com as características do segmento socioeconômico ou conforme particularidades da organização e têm como foco a lucratividade econômicofinanceira, com base em qualidade. Neste caso, as gerências de empresas consideram o Valor Presente Líquido - VPL como o principal direcionador dos negócios. Em tais condições, a RSA torna-se sinônimo de filantropia e trabalho voluntário e, de modo geral, desenvolvimento sustentável constitui apenas parte de um 101 João S. Furtado discurso, sem ações práticas. Em outros tipos de organizações, o planejamento estratégico é orgânico, reflexivo, com orientação do geral para o específico. Por isso, a inserção da RSA na estratégia de negócios ou de atividades demanda mudança de foco: de vertical para transversal e, com freqüência, circular; de desarticulada, para sistêmica e integrada. De temporal para permanente, com metas de aprimoramento contínuo e aproveitamento das inter-relações em todas as unidades operacionais e em estreita articulação com todos os interessados, inclusive acionistas. Podese observar, a partir do exposto, que o modelo conceitual de planejamento estratégico com RSA requer considerável diversidade de elementos, cuja identificação depende de um conjunto de sugestões contidas em propostas de boas práticas gerenciais consideradas essenciais7 . A implementação de planejamento estratégico é, com freqüência, motivo de conflitos internos, do ponto de vista metodológico e, em especial, para ajuste e alinhamento da estratégia à missão, valores, visão e objetivos institucionais, determinados do topo-para-a-base. Questões importantes, relativas ao que alcançar, evitar, preservar ou eliminar são motivos de desgastes. As divergências serão maiores quando o planejamento estratégico for orgânico e incorporar as questões de RSA na política de negócios ou atividades e expressar a governança corporativa responsável (accountability). As diferenças entre pragmáticos e reflexivos serão maximizadas e podem exigir a contribuição de agentes externos (especialmente de consultores) para solucionar problemas e eliminar dissonâncias. Para finalizar, pode-se dizer que a gestão e planejamento socioambiental integrados abrangem diversificado número de ações. Cabe ao interessado ajustar as sugestões ao porte e tipo de organização, natureza das atividades, características dos produtos e impactos à saúde humana e à qualidade do ecossistema. O maior desafio do gestor, portanto, consiste em combinar o plano estratégico convencional ao modelo de planejamento e gestão socioambiental integrados. Observe, nas páginas seguintes, o fluxograma da definição do modelo de Gestão e Planejamento Estratégico Socioambiental Integrado. CONSTRUÇÃO DO MODELO DE GESTÃO E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SOCIOAMBIENTAL INTEGRADO Caracterização macroeconômica8 Os fatores a serem considerados são: o estabelecimento dos indicadores de desenvolvimento, a definição do papel da organização no modelo econômico e a identificação da tendência global das questões socioambientais. Alinhamento dos princípios de RSA na gestão da Organização Definir, posteriormente, os marcos de referência, que incluem tanto as práticas externas de sucesso quanto os marcos para aprimoramento de práticas internas. Além disso, é preciso estabelecer o código de conduta, isto é, adotar o código de conduta do setor ou segmento socioeconômico ou selecionar os códigos ou modelos utilizados por indexadoras internacionais e nacionais, relevantes para a Organização. Outro passo importante é a definição de mecanismos para a criação de idéias ou práticas, que pode acontecer pela incorpo- 102 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 103 João S. Furtado ração de práticas e padrões externos e pelo estabelecimento de diretrizes para a criação de novas idéias ou novas práticas. É preciso selecionar os indicadores de RSA e também identificar os padrões de excelência, que abrangem: liderança, gestão de temas, construção de relacionamentos, estratégia, infra-estrutura e medições. custos/aumento de lucratividade, por meio de demandas públicas ou de colaboradores; ação pró-ativa em relação à conformidade, que implica no estabelecimento de legislação e regulamentação, normas técnicas, códigos de conduta, padrões de excelência etc.; ecoeficiência e eco-marketing e, finalmente, DS. Inserção dos princípios de desenvolvimento sustentável (Rio-92 - Princípio 4) na gestão Identificação das características socioambientais do mercado Investidores, acionistas e demais interessados são elementos estruturais do mercado e devem ser levados em consideração. O processo de identificação da conduta socioambiental na cadeia de negócios compreende várias etapas, a saber: descrever as características socioambientais do segmento, identificar o comportamento socioambiental da concorrência, listar e caracterizar os órgãos normativos oficiais, listar e caracterizar as organizações normativas voluntárias, identificar as barreiras tarifárias legais e não-tarifárias e identificar os marcos de referência – benchmarking. A concorrência também é um fator relevante, por isso deve-se caracterizar os padrões de desempenho socioambiental de produção a partir das seguintes ferramentas: Melhor Tecnologia Disponível (fim-de-tubo), P2 (Prevenção de Poluição), P+L (Produção Mais Limpa), PL (Produção Limpa), DpA (Design para o Ambiente ou Ecodesing) e Ecoeficiência, entre outras. É preciso, ainda, identificar procedimentos negociais e comerciais como eco-marketing, maquiagem verde (greenwashing) e outras práticas irregulares (whitewashing e bluewashing). As estratégias de orientação para inovação tecnológica de base socioambiental precisam ser identificadas. São elas: processo-produtividade, isto é, redução de A fim de cumprir a inserção proposta, deve-se, em primeiro lugar, identificar os princípios gerais da ecosfera/biosfera, considerando-se a subdivisão do ecossistema em humano e natural. O ecossistema humano engloba os aspectos social, econômico e ambiental. O primeiro diz respeito ao capital social ou humano, formado por critérios, valores, princípios, ética e paradigmas. O aspecto econômico compreende o capital físico construído e financeiro, que inclui as medições monetárias, quantitativas, e a medida da taxa de eficiência (intensidade de uso em serviços, eqüidade na distribuição e uso dos estoques), de ordem qualitativa do desenvolvimento econômico. Por fim, o aspecto ambiental ou ecológico, referente ao capital natural e à viabilidade ecológica (Economia de Estado Estável – Steady State Economy), considerando a disponibilidade dos estoques para a vida atual e a sustentabilidade futura; a maximização dos serviços, com estoques constantes e a maximização de saída. O ecossistema natural consiste nos seguintes elementos: princípios ecológicos, com aspectos biológicos, físicos, químicos; ciclos biogeoquímicos e ações humanas. Apontados os princípios gerais da ecosfera/biosfera, é necessário identificar os fluxos da sustentabilidade (Rio-92 Princípio 3). Dentre eles, destacam-se os fluxos 104 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS litosfera-ecosfera, relativos à concentração de materiais na crosta, observáveis por critérios como intensidade, balanço e equilíbrio, qualidade final dos depósitos. Outros são os fluxos sociedade-ecosfera, que compreende a concentração de substâncias produzidas pela sociedade, e podem ser vistos pelos critérios anteriores, com um acréscimo: a degradabilidade. As ações humanas físicas também influem, por meio da destruição física, da manipulação do ambiente e das colheitas e podem ser analisadas a partir de fatores como produtividade, qualidade final dos recursos e disponibilidade de bens. O atendimento a necessidades humanas e fruição de bens, que inclui as perspectivas ambientais e sociais, consiste na concentração de esforços relativos à saúde relacionada à poluição, à toxicologia e epidemiologia, à interação de substâncias com sistemas biológicos e à disponibilidade e distribuição de recursos. Na seqüência, definem-se os indicadores de competitividade sustentável (Rio-92 Princípio 8), que abrangem: a eficiência administrativa, revelada pelo progresso continuado em ciência e tecnologia, pelos fatores de produção e vantagens competitivas e pelo aprimoramento gerencial continuado; a responsabilidade governamental (Rio-92 Princípio 9), avaliada pela infra-estrutura, pela educação e treinamento e pela cooperação; legislação e regulamentação (Rio-92 Princípios 2, 11, 13); fiscalização e penalização. Outro passo é a definição dos indicadores de sustentabilidade de sistemas de vida (Rio-92 Princípio 1), a partir do estabelecimento dos atributos para os indicadores, compreendidos em dois grandes grupos compostos por condição, estado ou pressão, de um lado, e a classificação proposta pelo Banco Mundial (entradas e saídas) de outro. Deve-se, ainda, classificar ou categorizar os indicadores por grandes blocos, que incluem: alimentação; equidade e discriminação; educação; emprego; energia; saúde, bem-estar pessoal e comuni- tário; direitos humanos; renda; sustentabilidade econômica e distribuição de renda; infra-estrutura e serviços públicos; segurança pessoal e comunitária; abrigo/habitação e identidade cultural; participação social (liberdade e conquista de poder); lazer e uso do tempo e transporte. Também é necessário definir o sistema de produto aplicado a processos de produção e de produtos, pela identificação de impactos ou efeitos, benéficos e maléficos (Rio-92 Princípios 8, 15, 16 e 17). Para isso, devese reconhecer os efeitos: sobre a sustentabilidade das fontes de matérias-primas, considerando-se fatores como transporte, processamento e embalagem; resultantes da manufatura, a partir de critérios como aquisição, estocagem, logística de produção, processo de produção e embalagem; da distribuição e logística; do uso ou consumo; e do descarte. No processo de inserção dos princípios de desenvolvimento sustentável na gestão, deve-se também detectar o envolver das partes interessadas (Rio-92 Princípio 10), pelo estabelecimento dos mecanismos para engajamento de agentes selecionados. Para isso, é preciso seguir algumas etapas. A primeira consiste em identificar agentes-chave e seus perfis de origem. Eles podem ser oriundos: da área de ciência e tecnologia, de universidades, institutos de pesquisa, consultoria, alianças estratégicas, associações empresariais; de grupos sociais, consumidores, ONGs sociais, comunidade internacional, classes excluídas e minoritárias, desafios e carências; de segmentos comerciais, concorrentes, fornecedores, distribuidores, financeiras, seguradoras e serviços; da área institucional, ligados à legislação, fiscalização, políticas públicas e incentivos; de influências globais como organismos multilaterais, ONGs ambientais e empresariais, órgãos governamentais de referência internacional. 105 João S. Furtado Outras etapas compreendem a identificação de temas ou questões de interesses comuns, a definição de prioridades, a partir das características socioambientais e econômicas da região ou área de influência de interesse e do quadro de referência para a geração de propostas, atividades, projetos e outras ações no âmbito de interesse da organização. Deve-se também definir critérios e mecanismos para negociação, como: mecanismos de comunicação, objetivos e prioridades, responsabilidades e credibilidade, flexibilidade, gestão de conflitos e decisões compartilhadas. Deve-se ainda identificar interesses comuns pela previsão de diferenças e conflitos, detecção tanto de valores e interesses comuns quanto específicos, identificação de indicadores significativos e qualidade dos atributos. Por fim, é preciso identificar e estabelecer parcerias estratégicas. A identificação de marcos de referência (benchmarking) socioambientais, para a organização, pode ser de dois tipos: marcos internacionais e nacionais, gerais e do segmento, especialmente de concorrentes; e marcos próprios. Para definir e delimitar a área ou campo de atividades ou de negócios da organização é necessário identificar e descrever os aspectos econômicos, sociais e ambientais mais relevantes, de maneira a permitir a geração de indicadores de desempenho. A identificação dos recursos para a gestão socioambiental responsável compreende, de um lado, o estabelecimento dos componentes ou elementos constituintes, por procedimentos que considerem fatores como capacitação e treinamento, marketing, relacionamento e cadeia de negócios/suprimento, partes interessadas, finanças e contabilidade, regulamentação e legislação, pesquisa e desenvolvimento de produtos, produção de bens e serviços, infra-estrutura física e emergências. Do outro lado, deve-se definir os níveis de comando, distinguindo-se o nível hierárquico superior da localização da unidade de gestão socioambiental responsável, compostas por staff, linha ou comitê (holding). Elaboração do plano estratégico socioambiental integrado A elaboração do plano estratégico socioambiental integrado prevê ações necessariamente interligadas. É preciso, antes de tudo, identificar as variáveis que afetam e são afetadas pela Organização – econômicas, sociais, ambientais, industriais, comerciais e tecnológicas, para elaborar análises gerais compostas pelos aspectos conjuntural, socioambiental e capacitação organizacional. Outro fator importante é a construção de cenários integrados, de forecasting e backcasting, mais provável, pessimista e otimista. Deve-se também caracterizar os impactos socioambientais, a partir do setor de atividades, do tipo de organização (industrial, comercial ou de serviços), e do tipo de impacto, de acordo com o setor de atividade (econômico concentrado, semi-concentrado, misto, diferenciado, competitivo, financeiro, especializado, público). No plano estratégico socioambiental devem ser introduzidos: os elementos e fatores para alinhamento de RSA, que compreende seus limites na organização, os principais agentes interessados, as competências principais, as competências ancoradas socialmente; as alianças estratégicas, as competências para RSA; a inserção de RSA nos processos produtivos e produtos da organização; o desenho e a implementação de atividades socioambientais não integradas em projetos, mas em consonância com o eixo principal de atividades ou de negócios da empresa. 106 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS É preciso também inserir os fatores de desenvolvimento sustentável a partir da identificação de alguns elementos, como: investimento estratégico (que incluem visão de sucesso no futuro, flexibilidade para evitar pontos cegos, isto é, sem retorno, boa taxa de retorno e princípio da precaução); princípios sociais (que abrangem diálogo e encorajamento, transparência, os meios para ação política (policy), impostos e incentivos, subsídio, privilégios tradicionais, normas e padrões, acordos internacionais, acordos comerciais multilaterais e legislação. O foco do desenvolvimento sustentável pode ser observado a partir da equidade, da qualidade de vida, da geração e uso de energia (preferivelmente, renovável), do transporte, do uso da terra, da habitação, das comunidades saudáveis ou sustentáveis, da eco-indústria, da biodiversidade. As atividades sustentáveis compreendem conservação, poupança, recuperação, reuso, renovação, reciclagem de recursos, inclusive água e energia, especialmente o uso responsável de recursos renováveis e não-renováveis. As não-sustentáveis são observadas pelo ingresso contínuo de recursos nãorenováveis ou em maior velocidade do que a natureza tenha condições de renovar e provocam acumulação continuada na superfície da terra, destruição da biodiversidade e prejudicam o bem-estar da população. São importantes as ferramentas de gestão como desmaterialização e substituição, passos naturais(the natural step), pegada ecológica(Ecological footprint) , fator 10 (Factor 10 ou Factor X), emissão zero (Zeri emmission), fardo ecológico (ecological rucksak) e desenvolvimento de tecnologia sustentável(sustainable technology development). Outros elementos que influem no processo de desenvolvimento sustentável são ferramentas operacionais como: Produção Limpa, ecodesign, ecoeficiência, cadeia ou gestão integrada de produto (Life Cycle Management), avaliação de impacto ambiental, avaliação de risco, a auditoria socioambiental, contabilização socio- ambiental e a avaliação do ciclo-de-vida. Lembra-se também: Sistema de gestão ambiental, padrões internacionais, certificação e reconhecimento (accreditation ) e fluxo material total (total material flow TMF); comunicação, responsável pela rotulagem socioambiental, pelo apontamento dos indicadores e pelo relatório de desempenho. Finalmente, é necessário definir os fatores críticos para o sucesso socioambiental, com foco em elementos como: perspectivas econômicas, sociais e ambientais; treinamento e fixação de competências; comunicação; implementação; controle operacional preventivo, gerencial, estratégico e de apoio ou suporte e preparação e atendimento a acidentes e emergências. Definição da Política de Ação Alinhada à RSA, ao DS e à Visão de Produto A fim de alcançar a definição da política de ação alinhada à RSA, ao DS e à visão de produto, é necessário cumprir algumas etapas. Em primeiro lugar, devese definir a missão, isto é, estabelecer a razão de ser específica ou para que serve a Organização, além de especificar o tipo de clientela, usuário ou beneficiário a quem a empresa serve. Depois, estabelecer a visão, o foco da missão, considerando-se a convicção ou aspiração para realizá-la. Deve-se também identificar as variáveis ou grandes temas socioambientais que afetam ou são afetados pela Organização. Outra etapa consiste em definir os bens socioambientais comuns ou globais (sustentabilidade) negócio ou atividade-específicos (ecoeficiência) principais para a empresa. 107 João S. Furtado Além disso, é preciso estabelecer os objetivos socioambientais organizacionais, discriminadamente: objetivo central, alvo principal ou foco concreto maior a ser atingido, objetivos secundários e alvos intermediários previstos, até o alcance do objetivo central. É necessário ainda, definir as metas estratégicas globais, atividade-específicas ou negócio-específicas e alvos ou marcos de referência métricos socioambientais mensuráveis, dentro de tempo previsto. Outras atividades devem ser realizadas, como: descrever a orientação, rumos ou linhas a serem seguidos por todos; estabelecer as normas ou regras de conduta e procedimentos para o curso das ações e definir; atribuir as responsabilidades pessoais, e apresentar as justificativas. Definição de Planos e Programas Sociambientais Responsáveis No que diz respeito à definição de planos e programas socioambientais responsáveis, é preciso descrever as diretrizes para apresentação das definições e instruções para execução das atividades e os objetivos estratégicos (a partir de critérios bem definidos), que compreendem as atividades principais e os resultados esperados, os aspectos significativos do programa e os aspectos significativos para o desenvolvimento sustentável. Outros elementos a serem identificados são os relativos às atividades, às saídas-chave, às partes interessadas (e respectivos temas), classificadas como alta, média e baixa. Além disso, é necessário descrever os alvos e apontar as respostas e exigências de desempenho, incluindo os requisitos necessários. As metas devem expressar os resultados mensuráveis em tempo previsto, por meio de marcos de referência (benchmarking) ou linha de base para o melhor processo ou produto e de indicadores de resultados, de acordo com cronograma pré-determinado. Medição de desempenho dos indicadores socioambientais Esta ação socioambientais implica na apresentação da Organização ou estruturação dos indicadores por objetivos, metas ou produtos, incluindo itens como: descrição, unidade e método de medição. Para efetivar a medição necessita-se de medidas potenciais de desempenho pelo modo de gestão do programa e pelos focos, como gestão de riscos, recursos, padrões de gestão, práticas operacionais, análise de conteúdo e análise de longo prazo. Outras ações incluem a descrição do tipo de informação e a linha de base (referencial) para cada medição prevista e do nível de recurso ou de esforço exigido para alcançar os objetivos. A descrição da adequação da medida de desempenho envolve avaliação apropriadas para acompanhar o desempenho quanto ao conteúdo e a qualidade esperada, e se as medidas de desempenho são compreensíveis, relevantes, comparáveis, confiáveis e práticas. A execução das tarefas requer o estabelecimento das relações entre a responsabilidade e os recursos para a implementação, envolvendo: resultados, saídas, atividades e recursos. Outro fator relevante é a identificação das atribuições, a partir dos seguintes elementos: O quê? – Bem ou serviços Para quem? - Alvo Por quê? - Vantagens Com quê? – Ferramentas e tecnologias Como? – Prioridades e alvos 108 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS A organização das ações deve ser descrita, a partir da configuração organizacional, da classificação de funções e sistematização de tarefas por função. A atribuição de encargos e responsabilidades, requer critérios para engajamento, formalização de compromissos, definição e implementação de registros e comunicação, atribuição de responsabilidades por função/tarefa e meios e prazos para execução. As operações demandam: o estabelecimento dos recursos de tecnologia de informação e as bases para a ação sistêmica que envolvem a definição de: temas ou níveis para integração sistêmica, equipes interativas/interfuncionais, interfaces internas e externas, fluxos e nexos, mecanismos transversais de interação sistêmica - os indicadores de gestão (socioambientais, de qualidade, de desempenho gerencial), e processos operacionais (críticos e não-críticos) e de execução das atividades. Para fins de acompanhamento e medição é importante gerenciar o procedimento, definir rotinas e estabelecer padrões de excelência. Na atividade de avaliação do desempenho, deve-se concentrar as ações em: avaliar previamente os resultados gerais; avaliar criticamente; avaliar as informações produzidas, os tipos de desempenho (social e ambiental) e a estratégia organizacional; comparar missão versus desempenho socioambiental, objetivos versus metas alcançadas, executar a avaliação de Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças – (FOFA). SWOT - para indicadores selecionados de (a) sustentabilidade e (b) ecoeficiência; avaliar o desempenho estratégico (políticas, diretrizes e processos de gestão) e as alternativas. IMPLEMENTAÇÃO DE PRODUÇÃO LIMPA - PL Neste tópico serão apresentadas sugestões para implementar o modelo de PL para a produção de bens e serviços, independente da natureza jurídica, dos objetivos comerciais, porte e tipo de Organização. Em primeiro lugar, a empresa precisa conhecer e medir os focos de consumo de recursos e emissão de resíduos, consumo excessivo de água e energia, e dispor de meios para implementar medidas preventivas apropriadas ao porte, objetivos imediatos e de médio e longo prazos. Para isso, poderá dispor de auditorias externas ou utilizar manuais apropriados, inclusive de acesso livre, através da Internet7. Para a perfeita efetivação, é fundamental conhecer o processo de produção adotado e as características socioambientais associadas ou decorrentes do processo produtivo e uso do produto, conforme o conceito do-berço-ao-berço. A rede do Centro Nacional de Tecnologias Limpas - CNTL-RS utiliza manual para P+L adotado em Centros Nacionais de vários países, mantidos pela parceria Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial - PNUMA-UNIDO. Outros grupos adotam a mesma tecnologia ou seguem esquemas próprios. No geral, são feitos o diagnóstico do processo de produção, produto e atividades correlatas, a identificação dos problemas com resíduos e consumo de materiais (inclusive água e energia), e a proposição, em geral, das correções das situações, com aferição de custos e benefícios. O PNUMA disponibilizou, recentemente, na Internet7(UNEP, 2001b), um guia para a implementação de P+L, introduzindo interessantes avanços com a abrangência dos conceitos de responsabilidade socioambiental, ecoeficiência e relatórios de desempenho. 109 João S. Furtado Nos termos da nova visão, a P+L dos anos 80, segundo o PNUMA, aproxima-se de PL originalmente proposta pela Greenpeace (informar o que é o Greenpeace em nota), acrescida da visão atual da teoria dos múltiplos agentes interessados (multistakeholders). As novas sugestões do PNUMA são didáticas e apresentadas de forma programada, porém, sem a indicação de prioridades e de cronograma. Estas são questões a serem estabelecidas pela própria empresa, em função de suas características, porte e condições atuais. O guia acima citado propõe o aprimoramento contínuo e recomenda: o estabelecimento de princípios que envolvem: compromissos, influência sobre outras partes interessadas, geração de idéias, mudança de atitudes e nova geração de força de trabalho, gestão integrada aos negócios, sistema de gestão ambiental (para substituição do modelo de fim-de-tubo), ecoeficiência, diálogo com as partes interessadas externas, definição da linha-de-base em operação e mudança de patamar, financiamento, adoção de acordo voluntário, e a execução de cada princípio, através de passos, com sugestão de ações de planejamento e execução de atividades. Qualquer que seja a estratégia escolhida, a Organização interessada somente irá maximizar sua competitividade no mercado sob a influência das questões ambientais se os critérios definidos para PL estiverem ancorados a elevados padrões e código de conduta, definição de missão, visão e planejamento estratégico. Assim, a organização terá melhores condições para lidar com temas ou questões como: respeito à cidadania das comunidades (inclusive as indígenas); contribuição para a coesão social e melhoria da qualidade de vida das pessoas; utilização de materiais renováveis, de baixo impacto socioambiental; redução do uso de energia por unidade de bens e serviços; redução de impactos negativos (emissões, descargas, resíduos) nos ecossistemas; redução do consumo de materiais através de reciclagem, reuso, remanufatura, por unidade de bens e serviços; redução de custos de investimentos e crédito por medidas socioambientais; redução da obsolescência e aumento da vida útil de produtos; gestão responsável de acidentes internos e externos, provocados por processos e produtos; prevenção de impactos globais, como aquecimento do planeta, depleção da camada de ozônio, biodiversidade, transporte transfronteiriço de resíduos perigosos e tóxicos; destinação e descarte responsáveis de lixo industrial, embalagens e produtos pós-uso; prevenção de penalidades e investimentos em remediação e recuperação de áreas impactadas. É fato notável que a boa idéia, representada por P+L ou a melhor idéia, caracterizada por PL, serão incentivadas por legislações, consumidores e concorrentes. A reação do empresário à mudança, sob a justificativa de aumento de custos e perda de competitividade tende a desaparecer, em virtude das vantagens econômicas e financeiras já registradas. O esquema para a implementação do modelo de produção limpa é apresentado em fluxograma simplificado, seguido da relação de tópicos e subtópicos, com detalhes de procedimentos e indicação de conteúdo para as etapas sugeridas. A proposta é fruto de análise de várias estratégias e de opinião própria, resultante de experiência em treinamento para profissionais com diferentes interesses e formações. 110 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS O principal desafio está na mudança de cultura e na capacidade de aprendizagem interna para a inserção das questões socioambientais no negócio das empresas ou no eixo de atividades das organizações sem fins lu- crativos. As organizações avançadas sabem que, sem isso, não sobreviverão. O fluxograma abaixo ilustra a implantação e gestão de sistema de PL. FLUXOGRAMA PARA IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO LIMPA 111 João S. Furtado Tópicos e subtópicos para implementação de Produção Limpa Designação de Ecotime para implementar as ações de mudança através da seleção de colaboradores com visão multidisciplinar e da definição de papés e responsabilidades. Identificação e descrição do modelo atual de produção, que inclui melhor tecnologia disponível para reduzir emissões (fim-de-tubo), P2, P+L e PL. Migração para PL Identificação dos impactos e aprimoramento do produto, que abrange: estrutura e componentes, impactos benéficos e maléficos, número/volume de produto desperdiçado e peso/intensidade total de material por unidade de produto. Durabilidade (anos, meses, dias, horas) e oportunidade para extensão da vida útil, compreendendo: separabilidade, utilidade, funcionalidade, adaptabilidade, atualização, reciclabilidade, reparabilidade, estímulo ao mercado de segunda mão e substituição de produtos perigosos por outros menos perigosos. Identificação dos impactos e aprimoramento do processo de produção. No que se refere às matériasprimas, deve-se avaliar o consumo de matéria-prima por volume/número ou outro indicador de produção de produto selecionado. A avaliação de periculosidade envolve a corrosividade, a flamabilidade e a explosividade. A avaliação de toxicidade, engloba os efeitos agudo e crônico, dano permanente, bioacumulatividade e biodegradabilidade. Outros fatores influem na identificação dos impactos, como: oportunidade para redução de consumo de matéria-prima, oportunidade para reuso, remanufatura, reciclagem de sobras e resí- duos (não-produtos) e oportunidade para substituição por matéria-prima ambientalmente mais segura. Água – deve-se considerar o consumo total por volume/número ou outro indicador de produção de produto selecionado, o reaproveitamento ou reuso no processo e a oportunidade de poupança. Energia – envolve o tipo usado, e pode ser: solar, eólica, biomassa, hidroeletricidade, gás, termelétrica a carvão, termelétrica a gás, óleo diesel e nuclear. Também é preciso levar em conta o consumo total de energia por volume/número ou outro indicador de produção de produto selecionado, o controle de fuga de energia, a oportunidade de redução de consumo e a oportunidade para privilegiar o consumo de energia renovável. Embalagens – são classificadas como recebidas e despachadas. Ambas devem apresentar descrição e identificação do material, de duas formas: renovável x não-renovável e sintético inorgânico x sintético orgânico x natural. Deve-se considerar também reciclabilidade e reuso, volumes recebidos e descartados e destinação. Emissões – consideram-se aspectos como: natureza (sólida, liquida, gasosa), volumes, impactos para ar, água, solo, destinação, estação de tratamento, rede pública, aterro industrial, incineração. Considera-se também oportunidade para minimização e prevenção da geração. Gestão da Produção Limpa Os gestores da organização ao emitirem a declaração de compromisso para a implementação de produção limpa na manufatura de bens e serviços e a obrigatoriedade de todos os colaboradores na adoção dos critérios, princípios e diretrizes de gestão com RSA e planejamento estratégico socioambiental integrado deflagram um processo que implica na produção de 112 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS material para treinamento interno e para a implementação do modelo. A delimitação e implementação de princípios e critérios de PL envolvem: precaução, prevenção, visão integral ou holística (ciclo-de-vida), participação democrática e direito público de acesso à informação. A identificação, a obtenção e a implantação de recursos e ferramentas auxiliares (manuais, diretrizes, procedimentos, softwares, material para treinamento e outros recursos) devem ser ajustados ao tipo e ao porte da Organização. Formulação do plano de sustentação de Produção Limpa A gestão e o planejamento estratégico da produção limpa demanda: definir a linha de política de produção, de acordo com os princípios e procedimentos em sintonia com o modelo de gestão e planejamento estratégico socioambiental integrado, alinhado ao plano de negócios ou atividades da Organização, e estabelecer procedimentos e rotinas para auditoria e monitoramento e difusão de informações de desempenho socioambiental, no nível de processo e produto. A operacionalização do plano de produção limpa consiste na: definição da linha de base socioambiental de processo e produto em alinhamento com os critérios e princípios declarados; disseminação de idéias e deliberações, no engajamento e comprometimento de outras partes; no estabelecimento de processo de comunicação interna, para todas as áreas operacionais; na produção de manuais, diretrizes, treinamento, consultoria, estudos de caso, projetos sob medida. Necessita-se, também: implementar programas de capacitação institucional, organizacional e funcional em parcerias com centros de produção limpa, universidades, institutos de pesquisas, escolas técnicas, ONGs; estabelecer diálogo com as partes interessadas externas por meio de relatórios, publicações, seminários, oficinas, visitas técnicas, casos de sucesso, parcerias estratégicas, permuta de informações, qualificação de fornecedores. Outras estratégias consistem: na integração do processo de produção ao modelo de gestão socioambiental responsável e planejamento estratégico socioambiental integrado; no estabelecimento de alvos de qualidade socioambiental para a produção, com foco em custos mais baixos para a organização e a sociedade, com base nas diretrizes de gestão socioambiental responsável, desenvolvimento sustentável e sistema de produto; na identificação de regulamentação, princípios e estatutos de responsabilidade socioambiental aplicáveis poluidor pagador, responsabilidade objetiva, princípio da prevenção, princípio da precaução, e outras iniciativas de conformidade e ação pró-ativa; na aplicação dos princípios e critérios de ecodesign e ecoeficência e outras ferramentas apropriadas ao processo e produto. Também funcionam como fatores operacionais de relevância: aplicação de gestão supervisionada (product stewardishp) e arrumação da casa (good housekeeping); criação e operação de sistema de monitoramento e auditoria do processo produtivo; implantação de sistema de gestão da informação no processo de produção; definição dos investimentos e financiamentos para a 113 João S. Furtado produção com responsabilidade socioambiental, por procedimentos como a avaliação de barreiras e dificuldades, alocação de fundos preferenciais, casos de sucesso econômico-financeiros, incentivos, investimentos diferenciados, premiações e recompensas; o estímulo à participação democrática para aprimoramento do processo produtivo, com formação de ecotimes, revisores e grupos de discussão. O estabelecimento da tecnologia de processo e produto envolve fatores importantes, como: auditoria no chão-de-fábrica, com identificação de perdas, balanço de material, água e energia; definição de política para seleção e uso de matériasprimas, que abrange levantamento e registro de matérias-primas preferenciais, seleção de critérios para a escolha de materiais (naturais, renováveis, atóxicos, simples, reusáveis, remanufaturáveis, reclicáveis, biodegradáveis, duráveis); definição de estratégias de redução de riscos de produtos, pela aplicação do princípio da precaução e pela avaliação de risco e de perigo (hazard) de produto. A substituição de produtos perigosos por outros menos perigosos é realizada: a partir da avaliação de efeitos de produtos químicos para a saúde humana e o ambiente, por orientação dos operadores, uso de métodos e equipamentos para manuseio seguro de produtos perigosos, participação em programas de devolução garantida (takeback), participação em programas de banimento (phase out) e rotulagem ou selo ambiental. Por último, é necessário promover a integração do desempenho socioambiental ao marketing do produto. NOTAS 1 Foram usadas diversas fontes já mencionadas ao longo do texto e, em especial, as seguintes: (1) Andrade, R.O.B. de & col. 2002. Gestão ambiental. Enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. 232 pp. Makron Books. (2) Robert, K.H. & col. 2002. Strategic sustainable development – selection, design and synergies of applied tools. Jour. Cleaner Production 10(2002): 197-214. Elsevier www.cleanerproduction.net (3) . www.oag-bvg.gc.can/domino/ cesd_cedd.nsf/html/pmwork_e.html (acesso em out. 2002). Developing performance measures for sustainable development strategies. p. 1-6. (4) Environment Canada. Acessado em out. 2002. Green government. www.ec.gc.ca/grngvt/ apnd_e_e.htm . (5) Zero Emission. 1998. Zero emission approach. Slide show presented at 4th Annual World Congresso n ZE in Namíbia, 14-17 Oct. www.zeroemission.de/start.htm (acesso nov. 2002). (6) Schmidt-Breek & col. 1999. A Report by the THE FACTOR 10 CLUB, 67 pp. www.factor10.org . (7) Diversos textos na REAd Revista de Administração, Edição Temática 2002. Sistema de Gestão na Empresa. 2 Referência (6) da nota anterior. 3 A relação entre o procedimento estratégico proposto e item da Declaração da Rio-92 está identificada pela citação do número do Princípio, no tópico em que isso se aplica. 4 Adams, D. The Pillars of Planning: Mission, Values, Vision. 4 pp. http://arts.endow.gov/pub/Lessons/Lessons/ADAMS.HTML Acessado jan 2003. 5 (1) McNamara, C. Strategic Planning (in nonprofit or for-profit organizations). http://www.managementhelp.org/plan_dec/ str_plan/str_plan.htm - (2) Nickols, F. 2000. Strategy: Definitions and Meaning. http://home.att.net/~nickols/ strategy_definition.htm -(3) Nichols, F. 2000. Three forms of strategy. Corporate, competitive and strategy in general. 7 pp. http:/ /home.att.net/~nickols/three_forms_of_strategy.htm - (4) Jones, J. E. & Bearley, W.L. 2002. Strategic planning, 2 pp. www.improve.org/stratplan.html Acessos em jan. 2003 6 Nickols, F. 2000. The Goals Grid. A Tool for Clarifying Goals and Objectives. http://home.att.net/~nickols/goals_grid.htm 77 Vários tópicos foram extraídos de Andrade, Rui O. B. & col. 2002. Gestão ambiental. Enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. Makron 232 pp. 114 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 07 MEDIÇÃO E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO SUSTENTÁVEL DEFINIÇÃO DO ARCABOUÇO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO Definir o arcabouço para avaliação de desempenho pressupõe a seleção de grandes direcionadores para a Avaliação de Desempenho de Sustentabilidade Organizacional. Entre eles: os elementos da política organizacional de sustentabilidade, determinados por missão, visão, princípios, valores e macro-objetivos; os direcionadores de sustentabilidade organizacional; a integração gestão-processo-produto-consumo e os corolários visão de sistema de produto do-berço-aoberço e dados de avaliação de ciclo-de-vida; os princípios e condutas de Eco-gestão organizacional com especial atenção para governança, estratégia, contabilização total e relacionamento com todos os interessados; definição de objetivos estratégicos e metas temporais qualificadas. São levados em conta também os critérios para a construção de indicadores de sustentabilidade, genéricos e atividades/negócios específicos, mas comparáveis a outros no segmento/setor de atividade/negócios, que expressem ou reflitam as relações de objetivos e escala de tempo entre as Organizações e as expectativas dos interessados na cadeia de valor; os alvos métricos específicos, e os tipos de recursos reconhecidos como relevantes para a Organização (que abrangem os capitais econômico, natural, humano/cultural e social/ institucional). Desse modo, define-se eco-gestão enquanto qualquer método, processo ou procedimento para contro- lar, minimizar, eliminar ou prevenir os efeitos maléficos e potencializar os benéficos para a Organização, ambiente e a sociedade humana, causados por ações e produtos criados pelo homem. Outro aspecto importante para definir tal arcabouço é a seleção de aspectos considerados relevantes para a sustentabilidade da Organização levando à integração de elementos econômicos e socioambientais relacionados a processo(s) de produção, produto(s), bem ou serviço, modalidade ou conduta do consumidor ou usuário e operação (ou operações) gerencial específica. Para o estabelecimento de objetivos e respectivos alvos (marcos de referência) mensuráveis sugere-se: rever o caso organizacional de sustentabilidade atual (linha de base) e futura; levar em consideração a proposta de política organizacional (por exemplo, integração gestão-processo-produto-consumo, com enfoque na avaliação de ciclo-devida e sistema de produto do-berço-ao-berço, etc.); analisar os macro-objetivos sustentáveis; destacar os principais direcionadores para o desenvolvimento econômico e socioambiental da Organização; rever o modelo ou meta de padrões de excelência; analisar os resultados alcançados por Organizações com os melhores desempenhos de DS, como: dispêndios socioambientais totais e ecoeficiência; poupança de recursos, produtividade, competitividade e remuneração do acionista; redução de externalidades e benefícios para bens globais, regionais e locais; incorporação de avaliação de ciclo-de-vida nas 115 João S. Furtado práticas e operações gerenciais em unidades administrativas e de produção e os resultados para os diferentes interessados; qualificação e qualidade do capital humano interno, decorrentes de práticas de sustentabilidade; benefícios públicos de programas de poupança de água; dividendos econômicos originados de eliminação/prevenção/não uso de substâncias tóxicas e perigosas; aumento de lucratividade derivada de poupança de matérias-primas; aumento do valor econômico-financeiro da Organização, determinado por elementos intangíveis; acesso a fundos éticos/incentivados oriundos de valorização da imagem/marca/reputação da Organização; transferência de valor econômico para integrantes identificados da cadeia de valor, devido à qualificação de agentes interessados em práticas de sustentabilidade. criação de valor integrado econômico e socioambiental, por criação/expansão/aprimoramento de reciclabilidade de subprodutos, na cadeia de valor; criação de valor para os setores privado, governamental e civil (sociedade em geral), pela implementação de sistema de Emissão Zero para determinado(s) tipo(s) de não-produto(s); incorporação ou reposição de recursos de biodiversidade e significado para os capitais econômico, natural, humano e social/institucional; aumento da capacidade de eco-inovações, decorrente de ações de participação democrática e de acesso público a informações econômicas e socioambientais integradas; resultados econômicos e ganhos socioambientais originados do redesenho de processo/produto com base em estratégias de ecodesign; aprimoramento do sistema de Gestão Ambiental Certificado, oriundo da implementação de ferramentas de Produção Limpa; aumento de competitividade e acesso a novos mercados, em razão de estratégias de ecomarketing e Responsabilidade Socioambiental Total (transparência, respondência, conformidade e além-de-conformidade). Outro aspecto a ser considerado na definição do arcabouço é a revisão, análise e identificação de pontos fortes e oportunidades, fraquezas e ameaças (FOFASWOT) para a Organização. Nela, deve-se observar os critérios ou elementos convencionais, usados por analistas de mercado e investidores que avaliam as organizações, especialmente as com fins lucrativos; através da rentabilidade e custo de capital; dos custos operacionais clássicos; do Valor Econômico Agregado (EVA Economic Value Added), como indicador retroativo para avaliar a lucratividade, eficiência do capital, custo do capital e do crescimento. A capacidade de gestão de custos e de operações gerenciais,o comportamento e critérios na leitura de relatórios para tomada de decisões de investimento ou avaliação de desempenho devem ser considerados(Ver quadro explicativo sobre tempo e fatores para decisão econômico-financeiro na página seguinte). Outra medida para a definição do arcabouço para a avaliação do desempenho é a seleção de procedimentos já adotados na Organização que sirvam de foco para a avaliação e que possam revelar a qualidade das ações de sustentabilidade para os diferentes interessados, na cadeia de valor e fora desta, tais como: gestão-processo-produto-consumo, ancorado na avaliação de ciclo-de-vida e sistema de produto do berço-ao-berço; experiências relevantes já consolidadas e outras em curso, bem como os respectivos campeões; ferra- 116 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS TEMPO E FATORES PARA DECISÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA mentas com destaque, aplicadas a operações gerenciais e processos de produção de bens e serviços; procedimentos gerenciais notórios; marcos de excelência em relação aos melhores desempenhos no setor e à própria Organização; riscos críticos superados ou prevenidos; opinião de interessados relevantes e os efeitos; uso prático de oportunidade para aprimoramento; diferenciação no segmento/mercado; resultados relevantes de comunicação com interessados; efeitos positivos na cadeia de valor; lições aprendidas; treinamento oferecido, especialmente o coincidente com o esperado ou necessitado; preparação, prontidão e resposta a riscos e acidentes; conduta frente a situações similares no setor; eventos relacionados a questões específicas de ecoeficiência local; eventos relacionados aos princípios de Precaução, Poluidor Pagador, Responsabilidade Objetiva e Responsabilidade Continuada do Produtor; resultados e impactos, positivos e negativos (em re- 117 João S. Furtado lação a metas propostas e alcançadas, com avaliação individualizada de resultados relevantes ou críticos, passados e presentes, com projeção ou percepção de comportamento necessário para o futuro); dados e resultados de ecoeficiência, avaliação de ciclo-de-vida, ecodesign, desmaterialização, Produção Limpa, acesso público à informação, auditorias independentes, códigos de ética e normas socioambientais, etc., envolvendo matérias-primas, água, energia, emissões, reuso, remanufatura, reciclagem, recuperação, etc. A definição do arcabouço exige ainda, que bases para a avaliação sejam solidificadas por meio de fatores como: enunciados da visão e princípios de sustentabilidade; quadro de indicadores métricos de sustentabilidade, genéricos aplicáveis e atividade/negócio específicos; contabilização de resultados expressos pelos indicadores selecionados; relacionamento com todos os interessados relevantes; análise, interpretação e divulgação pública de resultados; revisão dos direcionadores para a Organização Sustentável e dos elementos para a sustentabilidade que definem o arcabouço conceitual e os limites desejados para a Organização. Ver quadro com sugestões nas páginas seguintes. É necessário estabelecer o quadro de elementos contabilizáveis tangíveis, relacionados aos capitais natural, humano/cultural, social/institucional e econômicofinanceiro. E ainda, os elementos intangíveis, que precisam ser contabilizados a fim de revelar o seguinte: habilidade em gestão; reputação; posicionamento estratégico; patentes e direitos autorais; custos totais (full-cost pricing), para incluir externalidades e deficiência de informação; efeitos positivos e negativos para o valor da Organi- zação, pelos interessados relevantes; confiabilidade, integridade, transparência, credibilidade e Responsabilidade Socio-ambiental Total em relação a todos os interessados, como ativos para desempenho futuro, em face de confiança do mercado, investimentos sustentáveis de longo prazo e especulações. Também se recomenda concentrar esforços no sentido de especificar: o valor estratégico organizacional - como ética, confiabilidade, gestão de riscos, segurança, P&D, visão de futuro (cenários), governança e responsabilidade organizacional focada em resultado final tríplice de longo prazo. Incluem-se ainda os métodos para apropriação e contabilização total econômico-financeira e socioambiental; o valor de marca e confiança, satisfação dos interessados; capacidade para eco-inovação (desenvolvimento de novos bens, serviços ou processos que agregam valor e previnem ou reduzem, significativamente, os impactos ambientais, com base em análise de ciclo-de-vida, ecodesign, fardo ecológico, intensidade material por unidade de serviço, balanço de massa, revalorização de materiais não-ecoeficientes, extensão da função ou do serviço e outras ferramentas); conhecimento e capacidade de aprendizagem; gestão integrada da sustentabilidade atual e sustentabilidade futura; ética,transparência e capacidade de resposta; prontidão e preparação para acidentes. Um outro fator a ser considerado enquanto elemento intangível é a identificação dos riscos e das oportunidades que revelem: os riscos cumulativos (relativos à proteção de saúde humana e à qualidade ambiental); a contabilização sustentável e socioambiental (referente à gestão de externalidades e outros aspectos rela 118 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 119 João S. Furtado Direcionadores para organização sustentável (continuação) cionados a processos e produtos, segundo o foco do berço-ao-berço); a periculosidade e a operacionalidade (desvios de funções previstas no design original); falha na confiabilidade e desempenho de engenharia; falha de efeito no funcionamento de processo e produto (bens e serviços) e, falha no ecodesign de produto. Procuram-se respostas a desafios socioambientais crescentes, como: maior crescimento, mas com aumento de desigualdades; renda crescente, porém menor do que nos países desenvolvidos; aumento da força de trabalho, porém com problemas de emprego; aumento da expectativa de vida, mas com sérios 120 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS problemas de saúde; dificuldades de acesso à disponibilidade de alimentos; necessidade crescente de educação formal e de habilidades profissionais; dificuldade de acesso à água. Cerca de 40% da população estará em áreas de escassez, com aumento notável da população urbana. Nesse contexto são necessárias respostas a demandas especiais como: mudança do modelo de produção, transporte e armazenagem de alimentos, agricultura orgânica e fazendas pesqueiras (fish farming); Emissão Zero e Produção Limpa; o uso de fontes alternativas de energia e tecnologias com eficiência energética; atribuir ao capital natural o valor de mercado; empregar tecnologias poupadoras de água; implantar sistema de transporte sustentável; promoção de tecnologia democrática de informação e comunicação; desenvolvimento da democracia pluralística e responsabilidade das Organizações. Há que se considerar ainda, o consumo excessivo de matérias-primas, água e energia e outros insumos; o mau uso do produto pelo consumidor; processos industriais de riscos; a perda de subprodutos úteis; sistema inadequado de segurança; gastos com manejo e destinação de resíduos; danos à imagem e o uso de matérias-primas inadequadas. Por outro lado, recomenda-se ações que revelem a implementação de passivo ambiental, multas e obrigações para remediação; o uso de recursos de impacto visual e sonoro; o estabelecimento de auditoria e avaliação de riscos; o controle de acidentes e emergências; o seguro ambiental com prêmio de alto risco. A redução de custos pode ser concretizada por meio de: gestão de operações; tecnologia de informação; P&D; gestão e formação de preços de produtos; procura e foco na cadeia de suprimentos e manufatura. Esta abrange: gestão de demanda e inventário; produção enxuta; sincronização de planta de produção; manufatura integrada de produto; supervisão gerenciada (stewardship) e arrumação da casa (housekeeping); PIP - Política Integrada de Produto, CIIP - Controle Integrado de Processo e Produto); marketing, venda e serviços; logística e distribuição; impactos e resultados socioambientais faltosos, deficientes, maléficos ou insatisfatórios; prevenção de situações indesejáveis em curto, médio e longo prazos; mecanismos de prevenção e, quando impossível, temporariamente (em razão do estágio tecnológico) de minimização, bem como preparação e prontidão para riscos e acidentes. A análise e avaliação de resultados econômico-financeiros integra o quadro de definição do arcabouço de avaliação do desempenho. Nesse sentido, é preciso rever o quadro ou conjunto de centros de custos estabelecidos para a contabilização da Organização, capazes de revelar os efeitos negativos (custos) e positivos (lucros) relativos aos tópicos eleitos como indicativos para a visão de sustentabilidade organizacional. Outras sugestões são: estabelecer as correlações entre os indicadores sustentabilidade, atividade/negócio específicos e gené- 121 João S. Furtado rico), com o desempenho econômico-financeiro e, construir esquema, escala ou sistema de qualificação/classificação/pontuação para o desempenho referente a indicadores intangíveis ou pouco tangíveis. Recomenda-se a utilização de esquemas de cores: vermelho (crítico), amarelo (atenção), verde (em melhoria), azul (satisfatório) e de pontuação: 0 (nenhum), 1 (muito baixo), 2 (baixo), 3 (médio), 4 (alto). Outro critério pode ser o SWOT- FOFA. Deve-se proceder a avaliação do desempenho resultante da articulação de estratégias e táticas de sustentabilidade socioambiental com as de sustentabilidade econômica. É preciso levar em conta os seguintes elementos, de acordo com o interesse da Organização: a relação custos/lucros, para redução de custos (como apontado em tópico anterior); e engajamento e desempenho de recursos humanos, por meio de ações como conhecimento de papéis, atribuições, responsabilidades na Organização; preparo para o desempenho sustentável integrado; oportunidades para o melhor desempenho no local de trabalho; cooperação, parcerias e reconhecimento; empoderamento e participação; participação em decisões; reconhecimento de progressos alcançados e oportunidade para aprendizagem e progresso pessoal. A seguir, considerar a avaliação das expectativas/ previsões de desempenho desejado, em relação às efetivamente alcançadas, por objetivo, meta, alvo métrico, indicador mensurado e resultado contabilizado (resultado tangível) ou pontuado (intangível ou pouco tangível). Deve-se ainda levar em conta questões como as a seguir. Quais foram as políticas Organizacionais de maior sucesso? Que valores, índices, níveis ou outro tipo de indicação foram atingidos, preservados, evitados ou eliminados? Com que taxa ou nível de sucesso os meios e mecanismos para incorporar indicadores de excelência, relacionamentos, competitividade e liderança foram implementados? Qual foi a taxa/nível de sucesso das práticas análise de causas e efeitos, relacionadas às questões socioambientais no eixo de atividades/negócios da Organização? Quais foram as condutas reativas e as pró-ativas? Que medidas (previstas) para correção de falhas e melhor desempenho gerencial e produtivo foram alcançadas? Que novas ações estratégicas ou táticas foram implementadas? As medidas preventivas para ações civis e passivos (liability), mitigação de danos e impactos, correção e recuperação de sítios ou áreas foram efetivas? Quais foram as taxas/níveis de sucesso das operações envolvendo gestão (inclusive mecanismos de decisão), processos produtivos, produtos, consumo (cadeia de valor) e pós-uso de produtos/serviços oferecidos pela Organização? O benchmarking em relação à linha de base de sustentabilidade e melhor desempenho no setor foi estabelecido? Quais as principais lições aprendidas, treinamento disponibilizado e requerido pelos colaboradores e demais interessados? Quais as taxas/níveis de sucesso na previsão de riscos, acidentes e impactos relevantes, preparação, prontidão e respostas a riscos e acidentes? Quais foram as oportunidades para aprimoramento efetivamente implementadas? Quais foram as principais contribuições da Or- 122 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS ganização para formulação de políticas publicas? Qual foi a diferenciação alcançada pela Organização, no segmento de atividade/negócio? Quais foram os principais resultados de comunicação com os interessados? Quais os principais efeitos – tangíveis e intangíveis – provocados pela Organização na cadeia de valor? Quais foram as principais condutas frente a modificações globais e setoriais no campo/negócio da Organização? Quais foram as principais condutas diferenciadas da Organização, frente a situações similares no setor? Quais foram as principais ações – positivas e negativas – da Organização, em relação a eventos ou questões globais de sustentabilidade e aos princípios de precaução, poluidor pagador, responsabilidade objetiva e responsabilidade continuada do produtor, entre outros? Quais foram as experiências mais relevantes e quais foram os campeões que as conduziram? Quais foram as ferramentas de base socioambiental mais relevantes ou importantes para a qualidade de desempenho econômico-socioambiental da Organização? Quais foram os marcos de excelência econômico-socioambientais mais relevantes que foram alcançados? Quais os riscos críticos (previstos) que foram evitados? E, finalmente, quais as principais opiniões (positivas e negativas) dos interessados mais relevantes? Relações de Causa e Efeito Para o estabelecimento das relações entre causas e efeitos é necessário tomar como base, o sistema de gestão-processo-produto-consumo; identificar os efeitos, impactos, aspectos ou elementos (que representem resultados positivos ou negativos decorrentes das atividades); selecionar os efeitos ou impactos que afetam ou são afetados pelas atividades, práticas ou ações, no Sistema de Gestão-Processo-Produto-Consumo; organizar os efeitos ou impactos selecionados, de maneira a estabelecer as relações de causa-e-efeito. É recomendável que as relações de causa-e-efeito prevejam o maior número possível de interações ou reflexos como, por exemplo, a poupança de água no processo representa, entre outros aspectos ou efeitos: a redução de custos diretos (preço pela água) e outros indiretos (redução operações de manuseio na planta); a diminuição no volume de emissões de água na rede pública (esgoto); a diminuição de pressão (uso) no fornecimento de água tratada, aumentando a oferta para outros fins e diminuição de demanda sobre os estoques de água tratada; a redução de custos de serviços de produção e distribuição de água; a redução de consumo de energia e materiais, principalmente produtos químicos usados para tratamento e distribuição de água; a redução de pressão (estresse) sobre as fontes de captação de água. Qualquer que seja o modelo adotado para a organização dos efeitos ou impactos, é recomendável separá-lo em grandes blocos, para caracterizar (a) operações ou funções gerenciais e (b) operações produtivas de bens e serviços. Cada uma delas pode ser subdividida, de acordo com o tipo de interesse, características e nível de detalhamento desejado pela Organização. Neste sentido, sugere-se os seguintes procedimentos: 123 João S. Furtado selecionar – para cada dimensão ou âmbito, o maior número de efeitos, impactos, elementos ou componentes afetados – de modo positivo ou negativo – por ações ou atividades executadas; hierarquizar – os elementos mais relevantes para expressar o nível de responsabilidade socioambiental da Organização, frente a todos os interessados, na cadeia de valor; correlacionar os elementos hierarquizados aos indicadores métricos (de sustentabilidade, genéricos e negócio/atividade específicos), que vierem a ser criados e estabelecidos como representativos para avaliação de desempenho da Organização. Estabelecer – para o conjunto de elementos hierarquizados, a escala de tempo a ser adotada, a fim de que as relações de causa e efeito de subconjuntos venham a ser implementadas, como parte de ações gerenciais regulares ou padronizadas na Organização; rever o conjunto de elementos contábeis ou centros de custos que forem estabelecidos para a Organização, relacionados aos indicadores métricos, e estabelecer as relações de causa e efeito, abrangendo o conjunto de elementos hierarquizados, de maneira a incluir as atividades executadas nas unidades organizacionais e de acordo com o cronograma estabelecido. Feito isso, é recomendável fazer a listagem de efeitos ou impactos. Entretanto, é necessário, antes, expor alguns comentários e recomendações. Um deles refere-se ao fato de que a lista incluída neste Guia, embora extensa, não está, necessariamente, completa. Muitos efeitos estão representados por termo sintético; outros estão desdobrados em diversos níveis de subcategorias. O propósito é oferecer ampla base de opções para que cada Organização possa selecionar os efeitos que melhor representem, para as diferentes partes interessadas: os impactos, de modo positivo ou negativo, ge- rados pelo negócio ou atividade da Organização; e as características das práticas ou operações gerenciais e produtivas e a demonstração inequívoca do compromisso para o Desenvolvimento Sustentável. A escolha dos efeitos precisa ser feita com cuidado, de maneira que a Organização tenha meios e recursos para gerenciar as informações mais representativas, levando em conta que o objetivo final é permitir a avaliação de Resultado Final Tríplice (Triple Bottom Line). A listagem dos efeitos está organizada com base nas dimensões ambiental (capital natural), humana (inclusive a cultural), social, sócio-institucional, econômica (capital monetário, financeiro ou construído). Acredita-se que o desdobramento dos efeitos sociais em capitais permite mais detalhamento dos indicadores de desempenho, em que pese não constitua critério universal. Pretende-se que a segmentação dos efeitos, na forma apresentada, favoreça: a integração de questões econômicas e socioambientais; a identificação de efeitos ou impactos relacionados a interesses diretos e indiretos de negócios ou atividades; a demonstração da sustentabilidade da Organização; o correlacionamento às expectativas de partes interessadas específicas e a demonstração dos esforços organizacionais em relação à sustentabilidade ambiental e social globais. De acordo com os Princípios e Escopo, recomenda-se que os efeitos sejam escolhidos para cada etapa do sistema Gestão Integrada de processo-produto-consumo e a visão do Sistema de Produto do berço-aoberço. Desta maneira, o uso de determinado tipo de elemento ou recurso natural poderá ter efeitos em diferentes etapas, a montante e a jusante dos fluxos, em distintas situações na cadeia de valor e para várias partes interessadas, como nos exemplos a seguir. 124 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Consumo de água: efeitos diretos em operações gerenciais, processo e produto; efeitos para aqüíferos naturais, para ecossistemas e seus componentes (biodiversidade), para o sistema de abastecimento para a localidade, município, Estado e país; água como serviço natural ou bem planetário comum. Consumo de materiais: efeitos diretos para produção de bens e serviços; esgotamento de recursos renováveis e não-renováveis; materiais não recuperados em descartes e destinação; materiais reaproveitados (reuso, reciclagem, aproveitamento energético). Consumo de energia: efeitos diretos para operações gerenciais e produtivas; conseqüências para o tipo de matriz energética; efeitos para o sistema provedor de energia, de acordo com a matriz energética. Listagem de efeitos ou impactos CAPITAL NATURAL Recursos não renováveis Disponibilidade de minerais Disponibilidade de recursos energéticos (petróleo, gás, carvão/xisto e nuclear). Qualidade de ecossistemas Acúmulo de resíduos na superfície bioprodutiva, decorrente de: atividades extrativistas, mineração; sistema produtivo, entre outros. Desorganização do arranjo natural dos recursos e perda de bioprodutividade natural. Esgotamento de recursos exauríveis (não-renováveis): aumento de demanda, esgotamento de fontes alternativas e descoberta de novos usos. Renovação de recursos por processos: manutenção de ciclos biogeofisicoquímicos; capacidade de su- porte ou sustentação (carrying capacity); conservação de estoques; recomposição natural, entre outros. Poluição: Emissões (de CO2 Dióxido de Carbono, CO Monóxido de Carbono, N2O Dióxido de Nitrogênio, NOx Óxidos de Nitrogênio, SO2 Dióxido de Enxofre, NH3 Amônia, P Fósforo, CH4 Metano; N Nitrogênio; CFCs Clorofluorcarbonos; HFCs Hidrofluorcarbonos; PFCs Perfluorcarbonos; COV compostos orgânicos voláteis e outros), internalização de danos e impactos (externalidades), internalização de custos de controle, controle integrado de processo-produto-consumo, efeitos sobre bens locais, efeitos sobre bens nacionais, efeitos sobre bens regionais (poluição transfronteiriça), efeitos sobre bens globais ou planetários (convenções, protocolos, acordos e diretrizes), que englobam: pesca marítima, danos nucleares, áreas úmidas (RAMSAR), comércio de espécies em extinção (CITES), poluição do mar por navios, poluição marinha por fontes terrestres, espécies migratórias, cooperação amazônica, camada de ozônio (Montreal), transporte transfronteiriço de resíduos perigosos (Basiléia), Antártida, Agenda 21, Diretrizes para o Desenvolvimento Sustentável, biodiversidade, mudança do clima (Quioto), armas químicas, desertificação, poluentes orgânicos persistentes (Estocolmo), Fórum Internacional de Segurança Química, entre outros. Estressantes ambientais (ácido sulfúrico, água ácida, aldeído, alumínio, amônia, ar ácido, arsênio, chumbo, cianeto, clorados, cromo, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), dióxido e monóxido de carbono, fenol, ferro, fluoreto de hidrogênio, fluoretos, fosfatos, fósforo, herbicidas, hidrocarbonos, íons metálicos (na água), material particulado, mercúrio, metano, níquel, nitrogênio (na água), óleo, óxido de etileno, óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio, pesticidas, querosene, sólidos dissolvidos, sólidos em suspensão, sulfitos, vários produtos orgânicos, 125 João S. Furtado zinco, outros. Água – deve-se considerar: disponibilidade, qualidade, depuração de água. Solo – levar em conta: disponibilidade de terra, desertificação, erosão, recuperação de fertilidade. Ecossistema marinho e estuarino. Ecossistemas frágeis. Disponibilidade de água. Capacidade de carga (assimilação e bioconversão). Fossas/sumidouros naturais. Biodiversidade-extensão e disponibilidade, taxa de crescimento, extinção de espécie, recomposição de espécies em riscos de extinção (o que abrange: fauna e flora silvestres, florestas plantadas, nativas, exóticas e certificadas). Recursos pesqueiros, microbiota, os efeitos do sistema produtivo de bens e serviços (fauna, flora, microbiota, sítios arqueológicos, monumentos, áreas protegidas, ecossistemas ou biomas sensíveis, habitats e nichos). Efeitos do consumo, efeitos do pós-consumo, mudanças de habitats, cadeia alimentar, eutrofização, salinização, acidificação, controle de vetores e pragas, nitrificação, contaminação de aqüíferos (DBO-DQO), ecotoxicidade, uso da terra, paisagem e monumentos históricos, energia renovável Efeitos locais Valor cênico e estético (monumentos naturais e históricos). Qualidade do micro-clima. Criadouros naturais (manguezais, várzeas, brejos e matas ciliares). Periculosidade (envolve fatores como: flamabilidade, corrosividade, explosividade, estabilidade e incompatibilidade). Toxicidade por: ingestão, inalação, absorção, irritação, efeito agudo, efeito crônico, bioacumulação, irreversível e resíduos nucleares. Ruído. Esgotamento de oxigênio. Eutrofização de lagos e outros corpos de água. Nuvem de poluição (smog). Produtos recalcitrantes. Transporte perigoso. Práticas de descarte (transferência para tratamento, reciclagem, co-geração de energia, aterro industrial, incineração). Efeitos regionais Disponibilidade de recursos. Disponibilidade de água. Efeitos globais Ciclos bio-geo-fisico-químicos. Mudança climática, GEE - Gases de Efeito Estufa: CO2, CH4, N2O, HFCs, PFCs, SF6 (Ton equivalentes de CO2); substâncias incluídas no Protocolo de Montreal (ton. equivalentes de CFC-11 (potencial de depleção da camada de Ozônio); NOx, SOx, outras regulamentadas e convenções internacionais: Estocolmo (POPs), Roterdam (PIC), Basiléia (transporte transfronteiriço de resíduos perigosos). Exposição a altas temperaturas. Eventos ambientais extremos. Vetores de doenças, Alteração de alimentos 126 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Enchentes Doenças imunes Migrações e deslocamentos Ionização Radiação Substâncias em banimento. Produção intelectual Engajamento Reputação Liderança Reconhecimento Relacionamento Equilíbrio trabalho-lazer-família Padrões e práticas no local de trabalho Compensação-remuneração justa Retenção de talentos Participação em decisões Habilitação para direito de voz e voto Rotatividade Segurança e saúde no trabalho Saúde ocupacional: condições, critérios, direitos e deveres Programas Comitês Conformidade legal e acordos voluntários aplicáveis. CAPITAL HUMANO Saúde humana Carcinogenicidade: [lista em Eco-indicator 99 http://www.pre.nl/ecoindicator99/ei99-reports.htm]. Doenças respiratórias: particulados, SO3, O3, CO2, NO4, COV-compostos orgânicos voláteis, particulados. Desorganizadores endócrinos Desorganização do sistema imune Efeitos de metais pesados (cardiovasculares: arsênico, chumbo, cádmio, cobalto; alergia e hipersensibilidade: níquel, cromo; reprodução: chumbo e mercúrio; sistema nervoso: chumbo, manganês e alumínio; osteoporose: chumbo, cádmio, alumínio, selênio). Efeitos neurocitotóxicos Efeitos teratológicos Doenças veiculadas pela água Doenças por vetores Doenças por poluição urbana Poluição domiciliar Produtos químicos e industriais Doenças por resíduos sólidos Acesso a alimentos Qualificação e capacitação Conhecimento Treinamento: programas e atividades Habilidades pessoais CAPITAL SOCIAL Direitos humanos Não discriminação Trabalho infantil Trabalho forçado/compulsório Capacitação do quadro interno Programas e práticas Empoderamento das partes interessadas Respeito a populações indígenas Justiça social Combate ao suborno e corrupção Transparência em contribuições (filantropia, patrocínios e campanhas políticas). Oportunidades: aprimoramento das condições de vida e da saúde da população rural e urbana; dispo- 127 João S. Furtado nibilidade de recursos naturais; qualidade ambiental e de ecossistemas; acesso a água e saneamento e qualidade do ar. Segurança: redução da vulnerabilidade a mudanças ambientais. Estabilidade ecológica (capacidade de superar desastres naturais). Empoderamento: aumento da participação em tomada de decisões; direito de propriedade aos recursos naturais; acesso à informação ambiental; confiança e respeito; inserção socioeconômica e coesão social. Acesso a alimentos e segurança alimentar. Diversidade (étnica, cultural, política, estética, institucional, e de gênero). Qualidade de vida Educação (renda e emprego, cultura, povos indígenas, relacionamentos e amizades, habitação, segurança pessoal e comunitária, acesso a energia, saúde humana, pública e ocupacional, percepção social de crise). Infra-estrutura (transporte, telecomunicações, serviços e utilidades, infra-estrutura social, capitais natural, humano, social e cultural). Espiritualidade Cooperação Parcerias Equidade Coesão social Redes sociais Canais de comunicação Respeito ao consumidor Combate à propaganda enganosa e à maquiagem (greenwashing, white washing) Direito público de acesso à informação sobre o produto Direito público de acesso à justiça Segurança no uso do produto Assistência técnica Responsabilidade Continuada do Produtor Ressarcimento de danos e perdas por processos e produtos faltosos ou defeituosos Cultura Crença Comportamento Valores espirituais Tradições Arte e recreação CAPITAL SOCIOINSTITUCIONAL Questões relacionadas à organização e funcionamento social, abrangendo conformidade legal, códigos de ética, questões negociais e organizacionais, entre outras. Competências constitucionais envolvidas ou afetadas Acordos e legislação internacional (Quioto, Estocolmo, Basiléia, biodiverdade, biossegurança, Fórum Intergovernamental de Segurança Química. Cooperação nacional e internacional (parcerias, amparo ao desenvolvimento de tecnologias de base econômica e socioambiental, transferência de tecnologia). Âmbito federal (legislação, modelo de governo, políticas públicas e economia nacional). Âmbito estadual (legislação, modelo de governo, políticas públicas e economia estadual). Âmbito municipal (legislação, modelo de governo, políticas públicas e economia municipal). Assentamentos humanos Aprimoramento Densidade populacional 128 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Habitação Alimentação/nutrição Suprimento de água Saúde pública Saneamento Lixo Educação Espaço verde Energia Transporte Recreação/lazer Segurança individual Segurança pública Qualidade Expectativa de vida ao nascer Empoderamento (autorização para participar e decidir) Direito público de acesso à informação Inserção econômica Crédito/microcrédito Coesão social/relacionamentos Inserção digital Outro (identificar) Regulamentação social Liberdade civil e política Instituições democráticas Diversidade Dinâmica populacional Direito público Direitos humanos Direito administrativo Direito econômico Direitos do consumidor Direito comercial Propriedade intelectual ou industrial Responsabilidade fiscal Honestidade Transparência Combate à corrupção Regulamentação ambiental Legislação ambiental (Princípio da Precaução, Princípio da Prevenção, Princípio do Poluidor Pagador, Princípio da Cooperação, Código do processo civil, responsabilidade civil objetiva: responsabilidade por danos; responsabilidade solidária da administração; litígios; criminalização dos danos ambientais; legislações futuras). Remediação e obrigações Compensação por danos socioambientais e a propriedades Destinação de não-produtos de longo prazo Acesso público à informação Acesso à justiça Participação social Engajamento das partes interessadas Controle democrático da informação Participação em decisões Desenvolvimento Sustentável Estratégias para o DS Integração econômica e socioambiental Regulamentação e legislação para o DS Instrumentos e mecanismos Programas governamentais Ciência & Tecnologia para o DS Decisões 129 CAPITAL MONETÁRIO, FINANCEIRO OU CONSTRUÍDO Renda individual (per capita) Renda de comunidades PNB per capita IGP Índice Genuíno de Progresso per capita Renda do acionista/investidor Gestão de patrimônio João S. Furtado Prevenção de riscos financeiros Garantia de conformidade Retorno dos investimentos Lucro Novos mercados Redução de custos Retorno sobre as vendas Valor econômico agregado Valores pouco tangíveis Valores intangíveis Vida útil do produto Materiais perigosos usados Conteúdo de materiais reciclados Reciclabilidade do produtos Desenvolvimento econômico Desenvolvimento local Comunidades em desvantagens Desenvolvimento na cadeia de valor (reconhecimento de papéis, atribuições e valor dos integrantes; gestão sistêmica, com base em sinergia, confiança, responsabilidade solidária, interdependência com todos os interessados; compartilhamento de ganhos de produção e financeiros). Criação de empregos (diretos, contratados, indiretos). Lisura e pagamento de taxas e impostos Potencial de retorno de investimentos Crescimento de mercado (aumento de participação, aumento de vendas, diferenciação do produto, lealdade do cliente/consumidor, entrada em novos mercados, aprimoramento de inovação e qualidade, aumento de competitividade, aprimoramento das relações com o cliente e o público, produtos úteis e duradouros, produtos atóxicos e sistema de garantia de retorno ou de Emissão Zero). Aprimoramento do lucro e produtividade (aumento de eficiência e design; taxas e permissões; con- formidade; produto seguro e confiável; treinamento e capacitação; certificação, rotulagem e acreditação; redução de custos de materiais, energia e descarte de nãoprodutos, por processos como: desmaterialização, reuso, remanufatura, reciclagem, obrigações e remediação). Desenvolvimento de Recursos Humanos – por procedimentos como: aprimoramento da moral, produtividade e criatividade dos colaboradores; diversidade (étnica, de gênero, credo); aumento da lealdade e satisfação dos colaboradores; melhoria do recrutamento de novos talentos; redução de custos de treinamento e supervisão; melhoria da capacidade para e da qualidade de aprendizagem e inovações. Aprimoramento do acesso a capitais Percepção de riscos e de falta de controles (riscos cumulativos – proteção de saúde humana e qualidade ambiental; desperdícios, trabalho, não-conformidades, interrupções e eventos socioambientais (saúde, segurança, etc.) na planta de produção; gestão financeira de externalidades; produto de risco; gastos com vazamentos, limpeza e remediação; aumento de preço/ redução de oferta de matérias-primas; deficiência de fornecimento de energia; necessidade de substituição de matérias-primas; desvios de funções previstas no design original; falha na confiabilidade e desempenho de engenharia; falha no funcionamento de processo e produto; falhas externas: reclamações, remediação ambiental, multas, acidentes ambientais, demandas por acidentes; riscos de mercado; banimentos e restrições legais a vendas; gastos com devolução garantida; boicotes ou redução de aceitação de produtos pelo consumidor; redução de demanda de mercado e redução da qualidade ambiental do produto). Riscos ambientais (responsabilidade por passivos; seguros de riscos; instalações de riscos e operações ou processos de risco). Redução de custos de capital (de giro em produ- 130 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS to, serviço e custos operacionais; fixos, através de prevenção e redução de exigências; através de relacionamento público e com investidores; avaliação e qualificação econômica e socioambiental de interessados relevantes na cadeia de valor; e gestão de custos ocultos e intangíveis). Aprimoramento da função organizacional (qualidade da informação para tomada de decisões; clareza na responsabilidade organizacional (accountability); estabilidade moral e consistência operacional e nos processos negociais; correção e pontualidade no tratamento de fornecedores; gestão de temas controversos; qualidade da gestão; participação em parcerias e Joint Ventures; posicionamento estratégico; programas estabelecidos de melhoria contínua) que envolvem: estabilidade de quadro qualificado de colaboradores; controle de qualidade; fidelidade na cadeia de valor; prevenção de consumo inadequado de materiais e energia; prevenção de acidentes no local de trabalho; gestão responsável de transportes e armazenagem na Organização e nos demais elementos da cadeia de valor; prevenção de processos industriais de risco; substituição de produtos perigosos e tóxicos; eliminação de resultados socioambientais faltosos, deficientes, maléficos ou insatisfatórios; prevenção de situações indesejáveis em curto, médio e longo prazo; eliminação/redução de externalidades; prevenção de passivos socioambientais e penalidades de curto, médio e longo prazo; prevenção de seguros ambientais com prêmios de alto risco; prevenção de riscos determinados por legislações futuras; previsão de custos de descomissionamento e interrupção de produção de bens e serviços; prevenção de perdas de não-produtos úteis; eco-inovações para a cadeia de valor; gestão da demanda e inventário; sincronização na planta de produção; manufatura integrada de produto; gestão supervisionada de processo e produto (stewardship) e registros para arrumação da casa (house- keeping); PIP - Política Integrada de Produto (visões de ciclo-de-vida e do-berço-ao-berço) e orientação a todos os consumidores na cadeia, para enfoque no modelo de PIP - Política Integrada de Produto; serviços assistenciais e filantrópicos; e projetos de desenvolvimento social articulados à Responsabilidade Socioambiental Organizacional). Outros fatores são relevantes, como: mix de produtos, compras/suprimentos, logística de distribuição, marketing e vendas, investimentos de capital, aprendizagem organizacional, treinamento, relatoria – comunicação, superação de metas, além-deconformidade e benchmarking de referência. Ecoeficiência Produção ou criação de valor (bem e serviço). Influência ambiental (na criação, na produção e no uso) Uso de recurso (energia, água, matéria-prima, recurso humano, não-produto – emissões). Contabilização Relatório Auditoria Comunicação Sistema de Gestão Ambiental (não-certificado, certificado e auditoria) Utilização de instrumentos de mercado (taxas, incentivos, isenções, projetos e programas, títulos comercializáveis, prêmios e compras “verdes”). Observe, na página seguinte, o esquema gráfico do modelo de gestão a montante, na planta e a jusante para produtos ou atividades na Organização. Sugestão de tabela para organização dos efeitos ou impactos As Organizações não precisam criar, necessariamente, modelos ou arcabouços próprios, contendo 131 João S. Furtado os efeitos ou impactos. Para isso, poderão adotar as sugestões de Códigos de Conduta e propostas já disponíveis na Internet. As grandes empresas – particularmente as maiores Corporações Transnacionais – adotam sugestões de modelos setoriais, propostas de Associações Industriais ou ONGs representativas de interesses setoriais privados.1 O propósito da tabela é facilitar o registro das relações de causa-e-efeito tanto negativas (indicativas de dano ou passivo) como positivas (indicativa de vantagem ou ativo). Os blocos ou campos permitem estabelecer as relações entre os efeitos ou impactos nas operações (a) gerenciais, (b) processos produtivos, (c) produtos e (d) consumo. Esta última considera a conduta do consumidor e as conseqüências do descarte e destinação de embalagens, sobras do produto propriamente dito, ao final da vida útil. Para processo e produto, estão previstas as relações de causa-e-efeito entre os efeitos ou impactos: a montante (upstream), na planta e a jusante (downstream). Para produto, poderá haver também o registro de efeitos ou impactos: no retorno, se a devolução garantida (takeback) estiver prevista no modelo de ecogerenciamento da Organização e no descarte e destinação para o lixo urbano ou depósito certificado, de acordo com a legislação aplicável. Além disso, a tabela propõe que, para cada efeito ou impacto selecionado, seja feito o registro da: ocorrência ou não de efeito econômicofinanceiro, valoração em reais e identificação de centro de custo-benefício (contabilização). O modelo de tabela nas páginas que se seguem têm caráter apenas ilustrativo. Se adotado, é necessário que o tipo de classificação e demais terminologia sejam definidos com clareza, para o entendimento dos leitores. 132 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS É preciso seguir, portanto, as etapas abaixo discriminadas: Selecionar para cada dimensão ou âmbito – o maior número de indicadores que afetam de maneira positiva ou negativa as atividades processo produtivo e produto. Incluir os indicadores selecionados, e indicar se os efeitos afetam as fases ou etapas citadas para processos (a montante, na planta e a jusante) e para produto (na planta, no consumo e na destinação). Mencionar para cada efeito, sempre que possível, os valores em R$ envolvidos – de modo positivo ou negativo; calcular o saldo para cada etapa ou fase e o resultado final para o efeito. Hierarquizar os elementos mais relevantes ou representativos para expressar o nível de Responsabilidade Socioambiental da Organização, frente a todos os interessados, na cadeia de valor. Correlacionar os elementos hierarquizados aos indicadores métricos (de sustentabilidade, genéricos e negócio/atividade específicos), que foram criados e estabelecidos como representativos para avaliação de desempenho da Organização. Estabelecer para o conjunto de elementos hierarquizados, a escala de tempo a ser adotada, a fim de que as relações de causa-e-efeito de subconjuntos venham a ser implementadas, como parte de ações gerenciais regulares ou padronizadas na Organização. Rever o conjunto de elementos contábeis ou centros de custos estabelecidos para a Organização, relacionados aos indicadores métricos. Estabelecer as relações de causa-e-efeito abrangendo o conjunto de elementos hierarquizados, de maneira a incluir as atividades executadas nas unidades organizacionais e de acordo com o cronograma estabelecido. Unidade Operacional: Período Descrição do Processo/Produto/Evento Descrição da situação, condição ou problema a ser tratado. NOTAS Ver Furtado, J.S. 2003. Indicadores de sustentabilidade. Livre acesso em www.teclim.ufba.br/jsfurtado macropágina Gestão Socioambiental Responsável]. 1 133 João S. Furtado 134 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 135 João S. Furtado 136 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 137 João S. Furtado 138 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 08 ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO DE DESEMPENHO SUSTENTÁVEL FUNDAMENTOS PARA ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO Há vários tipos de modelos e arcabouços de Relatórios, propostos ou sugeridos por agências multilaterais, organizações não-governamentais, associações ou entidades de classes, organismos indexadores e, em certos casos, Governos de diferentes países1 . Para as grandes corporações, o modelo mais citado é o da Global Reporting Initiative - GRI2 . A crescente adoção de modelos de RDS não surpreende, especialmente quando se trata de empresas que captam recursos em Bolsas de Valores e já passaram a incluir informações sociais e ambientais exigidas por Bancos, Fundos de Pensão e outros investidores éticos. As informações e sugestões introduzidas neste Capítulo estão baseadas em várias fontes, com destaque para duas, consideradas fundamentais para a montagem do “cardápio” de informações, desde que sejam levados em conta o tipo de negócio ou atividade, o porte e o estágio de desenvolvimento da Organização interessada: o modelo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente -PNUMA3 e o arcabouço sugerido pelo GRI. Muitas empresas de negócios já adotam os modelos de relatórios propostos por associações representativas. São arcabouços fechados, restritos ou limitados às associadas e com distinto acesso público ao conteúdo. Um exemplo é o acesso ao relatório de desempenho, mas não ao modelo para elaboração, como no caso do Relatório de Sustentabilidade proposto pelo World Business Council for Sustainable Development -WBCSD, implementado, localmente, pelo CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável e elaborado pelas empresas associadas4 . Ou ainda, o acesso ao arcabouço de indicadores para produção do relatório, mas não aos dados de desempenho das empresas, como no caso do Instituto Ethos5 . Neste capítulo, os modelos do PNUMA e GRI são combinados, desdobrados e adicionados de outros elementos, os quais foram extraídos de recomendações de outras organizações ou do conteúdo dos Capítulos anteriores deste Guia. A Organização interessada em produzir seu RDS deverá escolher itens e a seqüência que melhor atenderem a seus propósitos, compromissos, estágio, porte, tipo de negócio ou de atividade. Baseado em sugestão do PNUMA, será recomendado o modelo simplificado de RDS para pequenas e médias empresas. Para essas, o modelo do GRI é considerado muito extenso6 . É preciso reconhecer que a produção do RDS não é simples. Requer o envolvimento de diversos participantes da Organização, depende de dados e informações de diferentes fontes, internas e externas, e pode ser substancialmente enriquecido com o envolvimento e a contribuição de outras partes interessadas, especialmente as atuantes na cadeia de valor, no segmento ou ramo de negócios ou de atividades. O custo financeiro para a elaboração do Relatório não é pequeno, levando-se em consideração o planejamento, as rotinas de geração, coleta, processamento, análise, interpretação, produção de materiais de mídia e comunicação. 139 João S. Furtado Por isso, as pessoas envolvidas na elaboração do RDS devem estar preparadas para evitar que ele seja simples peça de marketing ou de relações públicas, mas devem valorizá-lo para que se torne uma ferramenta eficiente no aperfeiçoamento de processos e favoreça o ganho em competitividade. Estas recomendações são mais bem entendidas por membros de empresas com fins lucrativos, mas não deveriam ser ignoradas por dirigentes de organizações sem fins lucrativos, cujas atividades estão focadas na função social ou pública. A elaboração do RDS requer análise, combinação e comentário de elementos econômicos, ambientais e sociais e a Organização terá que definir indicadoreschave de desempenho tríplice (econômico, ambiental e social). Para tanto, recomenda-se que sejam considerados: os aspectos de governança – ética, missão, visão e princípios de sustentabilidade da Organização; as expectativas e o engajamento das partes interessadas – especialmente os parceiros estratégicos – em relação à Organização; as relações entre alvos, objetivos e metas organizacionais, gerais e de Sustentabilidade, idealmente quando forem estabelecidas a linha de base de Sustentabilidade da Organização; as relações entre consumo de materiais e outros recursos, a geração de produtos ou de resultados intencionados; e a demonstração comparada e por inteiro – isto é, sem omissões – dos efeitos ou impactos benéficos (positivos) e maléficos (negativos) das práticas organizacionais, abrangendo a hierarquia da eco-gestão responsável: o negócio, o processo produtivo, o produto (bem ou serviço), as práticas de condutas no consumo e hábitos ou práticas de pós-consumo (destinação e descarte final). o modelo de eco-gestão com fins de substituição do paradigma de fim-de-tubo pelo preventivo, envolvendo a prevenção da geração de resíduo na fonte e o reaproveitamento – reuso, remanufatura, reciclagem (na planta ou fora desta), recuperação, uso para geração de energia. os critérios para identificação e seleção de indicadores métricos de desempenho. as apropriações de custo-benefícios explicitadas por modelo transparente de contabilidade socioambiental; os resultados do planejamento estratégico adotado, com inserção de elementos tríplices, econômicos e socioambientais; a medição e a avaliação de causa-e-efeito, que afeta o processo produtivo, produto, consumo e pós-consumo de bens ou serviços introduzidos no mercado; a demonstração da qualidade, da transparência e da credibilidade da Organização para produzir relatórios administrativos e econômico-financeiros (contábeis), voluntários e obrigatórios. É fundamental destacar o fato de que a análise dos aspectos relacionados à governança organizacional ou corporativa está cada vez mais presente em RDS nos países de economia em transição, nos quais prevalece a ênfase na avaliação de conformidade, como se esse atributo não fosse obrigatório por lei. E, nas nações de economia desenvolvida, onde as empresas diferenciadas trabalham para validar a licença de operação, conferida por diferentes segmentos da sociedade, particularmente as ONGs. Nestas, a incorporação de fatores ambientais e sociais no modelo de governança está ultrapassando a área de interesse de investidores e acionistas, para abranger setores e segmentos mais amplos da sociedade. As Organizações que incorporam os fatores de governança ambiental e social estão ganhando mais reconhecimento dos que defendem a conexão entre me- 140 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS lhores mercados de investimento – sociedades mais sustentáveis7 . Uma vez reconhecida a dificuldade de produzir o RDS, a superação de obstáculos consiste em compor eco-time pluriprofissional, transdisciplinar e multidepartamental que conheça a Organização, os processos gerenciais e os fluxos de procedimentos e informações e esteja preparado para entender e incorporar as expectativas dos agentes financeiros e demais partes interessadas, conhecer a mídia e os canais adequados de comunicação das informações8 . Temas ou questões a serem incorporadas O entendimento de Desenvolvimento Sustentável apóia-se, indispensavelmente, na visão integrada de fatores e respectivos indicadores métricos, para três dimensões: a econômico-financeira, representada pelo capital construído, monetário ou produzido pelo setor privado, setor governamental, comunidades e pessoas, individualmente; a ambiental, caracterizada pelo capital natural, representado por bens e serviços naturais e a social, representada por capital humano, capital social propriamente dito e capital sócio-institucional. Cada dimensão poderá abranger questões ou fatores específicos, que afetam ou são afetados pelas atividades dos integrantes da sociedade e outros que resultam da interseção das dimensões entre si. DIMENSÃO ECONÔMICA: valores econômico-financeiros tangíveis e intangíveis agregados. DIMENSÃO AMBIENTAL: cargas, impactos e danos físicos, químicos, biológicos sobre meios naturais, com conseqüências para a saúde humana e qualidade dos ecossistemas naturais, representados por bens e serviços naturais. DIMENSÃO SOCIAL: alimentação; abrigo; saúde e atendimento médico; educação; desenvolvimento econômico; relacionamentos e interação social, senso de pertinência e enriquecimento espiritual. INTERFACE ECONÔMICO -SOCIAL (ES): inserção econômica, por emprego, distribuição justa de riqueza, oferta de bens e serviços para necessidades sociais, educação de colaboradores e contratados, acesso de fornecedores minoritários aos mercados, doações. INTERFACE ECONÔMICO-AMBIENTAL (EA): fatores de ecoeficiência na produção de bens e serviços, agregação de valor econômico-financeiro para a Organização, responsabilidade e transparência. INTERFACE SOCIOAMBIENTAL (SA): impactos sociais causados por fatores ambientais, derivados do sistema de produção (fome, pobreza, favelização, doenças de base ambiental) e impactos ambientais decorrentes de comportamento social e de consumo (geração de lixo, depleção de recursos e comprometimento de serviços ambientais). INTERFACE ECONÔMICO-SOCIOAMBIENTAL (ESA): fatores integrados das três dimensões, tais como: acesso público à informação; compromissos para a sustentabilidade, proteção e conservação da biosfera; mudança climática e temas correlatos; planejamento econômico-socioambiental; poupança e conservação de energia e água; prevenção de emissões de resíduos; prevenção e gestão de riscos; processos e produtos socioambientalmente responsáveis; regulamentação ampliada para responsabilidade por passivos causados por produtos e serviços; transparência e Responsabilidade Socioambiental Total; uso sustentável de recursos naturais. 141 João S. Furtado Seleção do modelo de relatório É necessário apresentar as justificativas, motivos ou razões para a escolha do modelo de relatório. Recomenda-se que a Organização, ao optar pelo modelo ampliado, consulte o manual do GRI, lembrando-se de que seu arcabouço é complexo e demanda padrão de excelência na geração, coleta e tratamento de dados, produção de informações para cobertura de amplo espectro de elementos, aspectos ou questões de natureza econômico-financeira, ambiental e social. Isto poderá ser ainda mais difícil para as pequenas e médias empresas. Para estas, é sugerido o modelo de Relatório Simplificado. do Relatório; escolher os componentes ou itens que forem considerados mais adequados para o RDS da Organização; selecionar, para cada item escolhido, os subitens e – quando disponíveis – os indicadores recomendados ao respectivo ítem; construir o arcabouço apropriado de itens e subitens; definir e atribuir poder e competência para o Ecotime encarregado de produzir o texto para o RDS; estabelecer as regras básicas, definir papéis, atribuir responsabilidades, encomendar e aprovar o projeto para elaboração do RDS; produzir o relatório. RDS PARA GRANDE E MÉDIA ORGANIZAÇÃO Composição de ítens O modelo de RDS Simplificado será apresentado ao final, sendo caracterizado pelo uso de menor número de itens, mas, não necessariamente, por cobertura dos itens selecionados. Os itens do modelo são apresentados com os respectivos títulos, descrição e indicadores, quando disponíveis. Como usar o modelo de RDS Analisar o tipo de negócio (fins lucrativos) ou de atividade (sem fins lucrativos); considerar o tipo, o porte e a estrutura organizacional; avaliar o porte financeiro, o quadro funcional, as características de processo produtivo, produto, consumo e pós-consumo, em relação a efeitos ou impactos socioambientais; estabelecer os contornos ou limites físicos-organizacional (unidade, planta, localidade, filial) para a geração 1.Título e Período 2.Declaração do dirigente máximo Manifestação firme, objetiva e, idealmente, desprovida de retórica, que dê credibilidade ao RDS, abordando os elementos-chave do Relatório, o compromisso assumido pela empresa quanto às questões socioambientais, expressando a opinião do dirigente máximo, de maneira a colocar o desempenho ambiental no contexto estratégico e de negócios ou de atividades da indústria, corporação ou organização sem fins lucrativos. Deve contemplar: visão de sustentabilidade; valores e crenças; compromissos assumidos; a síntese de FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fra- 142 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS quezas, Ameaças) nas dimensões do Desenvolvimento Sustentável (capitais construído/econômico, ambiental, humano-cultural e social-institucional); os marcos de referência (benchmarking) relevantes e comparativos do conteúdo do RDS, como desempenho reportado em relação aos melhores resultados da própria Organização e melhores resultados de organizações similares, do mesmo setor ou segmento de atuação; desafios e metas (vitórias e fracassos); benefícios e malefícios; verdade por inteiro; governança e preparação da Organização para o caminho da sustentabilidade econômica, ambiental e social; envolvimento e engajamento das partes interessadas; principais desafios para a integração de resultados econômico-financeiros, ambientais e sociais no período reportado e previsões futuras nestes aspectos. INDICADORES: orientação estratégica; inspiração; honestidade; envolvimento; afirmação dos objetivos pessoais; evidências de como as questões socioambientais são tratadas nas reuniões e discussões da direção superior; principais oportunidades, desafios ou obstáculos na caminhada para a sustentabilidade. 3. Aspectos gerais Descrição de temas e questões abordadas neste capítulo, levando em consideração o estágio, o porte e as demais características organizacionais. Deve permitir que o leitor compreenda as relações entre o conteúdo relatado e o contexto de Desenvolvimento Sustentável, em geral. Sugere-se o roteiro abaixo para sua elaboração. 3.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO RDS Provimento de informações sobre impactos, bené- ficos e maléficos, para que a Organização cumpra o dever de responder, a todos os interessados, pelas conseqüências de atos, atitudes, processos e produtos resultantes de negócios e atividades, com ou sem fins lucrativos. Não omissão de dados que representem expectativas e relacionamento das partes interessadas com a Organização. Distinção clara entre dados factuais e comerciais. Orientação do leitor para entendimento do que for relatado, com especial atenção para indicadores, medições e comentários sobre desempenho. Introdução de comentários sobre as bases ou fundamentos que poderão ajudar o entendimento a respeito da natureza, da forma e do conteúdo de determinados itens ou tópicos do Relatório. Destaque para os aspectos que ajudam a tomar decisões sobre a escolha de informações que compõem o Relatório. Informações que contribuam para a avaliação, independente de Resultado Final Tríplice. Revelação de tendências e padrões de excelência, através de resultados presentes comparados com anteriores e propostas concretas de aprimoramentos subseqüentes. Honestidade, materialidade, relevância, verificabilidade, credibilidade, utilidade, comparabilidade, transparência. Transparência e respondência. Não omissão, isto é, relatório por inteiro. Critérios de classificação de resultado de desempenho ou atendimento de alvos e metas, como conformidade e além-de-conformidade, pontuação – valores numéricos, porcentagens-, conclusão ou não-conclusão, marcos alcançados, dificilmente atingíveis. Incluem-se: PERÍODO ABRANGIDO-Anual, bienal ou outro período. ÂMBITO-Desempenho contábil-financeiro; administrativo; 143 João S. Furtado produção de bens e serviços. TIPO-Independente (stand alone); junto com o relatório financeiro; ou juntamente com o Relatório Anual EXTENSÃO OU COBERTURA - Cadeia de suprimentos; organização total; organização parcial; linha de negócio ou atividade; processo ou produto. CONTEÚDO - Arranjo organizacional; atividades; eventos; atitudes; resultados; proposições. ABORDAGEM - Patrimônio; mercado; conformidade e além-de-conformidade; gestão (management); qualidade, segurança, saúde e ambiente; tecnologia. PERCEPÇÃO proprietário; patrimônio total; outros indicadores de valor econômico-financeiro; informações segmentadas por: planta, localidade, região, país; modificações relevantes no período reportado: aspectos organizacionais, jurídicos, econômicos, negociais, produtivos, tecnológicos e funcionais. As informações técnicas e legais devem incluir ainda a Política de Informação: fontes, acessibilidade, disponibilidade. EXPECTATIVAS GERAIS E ESPECÍFICAS DE DIFERENTES PARTES 5. Resumo executivo INTERESSADAS AUDITAGEM INTERNA E EXTERNA INDEPENDENTE 4. Perfil da Organização Apresenta as informações técnicas/legais da Organização como: o nome da Organização; operações principais; produtos principais; estrutura operacional; natureza jurídica e composição proprietária; principais subunidades, afiliadas, associadas e afins; características do setor, segmento de mercado ou da cadeia de valor; informações relevantes; faturamento ou orçamento total; volume total de produção (massa, volume, quantidade) ou de atividades (número, quantidade); número de colaboradores: quadro e prestadores de serviços contratados; empregos indiretos; vendas/receita: bruta e líquida; valor agregado da cota do acionista, investidor ou Abordagem sucinta de aspectos selecionados e relevantes do Relatório, com destaque para os seguintes: Visão, princípios e compromissos para a sustentabilidade: atitudes em relação aos desafios presentes e futuros de base econômica, ambiental e social. Governança e ética – valores, condutas e padrões de negócios, cidadania e direito para operar. Políticas e sistemas de gestão em funcionamento: missão, compromissos para com os princípios de Precaução, Prevenção, Visão integrada de ciclo-de-vida total de produto, direito público de acesso à informação e controle democrático de tecnologias socioambientais. Aspectos mais relevantes de sucesso e de fracasso no desempenho econômico, ambiental, recursos humanos, sociais e integrados. Comparativos relevantes (benchmarking) próprios e do setor (local, nacional, internacional). Indicadores selecionados mais relevantes globais, genéricos e negócio ou atividade-específicos, que mostram tendências de progresso da Organização, na direção da Sustentabilidade, tais como: investimentos e resultados financeiros; 144 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS valores agregados e outros indicativos de lucros para criação de valor para investidores, outras partes interessadas e sociedade em geral; partes interessadas (expectativas e opiniões); parcerias estratégicas; condições sistêmicas naturais ou ambientais fundamentais; recursos naturais (conservação e restauração); redução de uso ou de consumo; reuso, reciclagem; uso de materiais reciclados e de pós-consumo; água (poupança); energia (eficiência); carbono (neutralidade); química verde ( princípios); riscos (gestão e prevenção); Qualidade, Segurança, Saúde e Ambiente -QSSA- ; código de conduta; Capital Humano e Capital Social. direção do aprimoramento de desempenho; respostas e atitudes perante o público; códigos de conduta assumidos. POLÍTICA SOCIOAMBIENTAL Inclusão da última versão da política e seus princípios, que orientam as atividades para o desempenho ambiental na empresa e os critérios para aferir resultados e compará-los aos objetivos e metas previamente estabelecidos. INDICADORES: princípios de atuação; datas e demais registros formais da fixação da política; metas quantificadas para atender aos princípios; medição do desempenho frente aos princípios da política; exigências ou novos marcos de referência para aprimoramento. SISTEMA DE GESTÃO SOCIOAMBIENTAL Módulo I. Políticas e sistemas de gestão 6. Política organizacional de sustentabilidade MISSÃO, VISÃO, PRINCÍPIOS E COMPROMISSOS PÚBLICOS E CÓDIGOS DE CONDUTA Descrição de escolhas, compromissos e bases normativas para o relacionamento da Organização com os meios interno e externo, para que os fins desejados possam ser alcançados. INDICADORES: razão de ser, intenção original ou tipo de atividade ou negócio praticado (missão); motivação que mantém a organização no caminho de futuro e o que pretende ser, onde deseja chegar (visão); direcionadores de conduta pública e operacional, pontos ou posições defendidas (princípios ou valores); passos na Caracterização da maneira adotada pela empresa para administrar as questões e responsabilidades socioambientais e indicação dos compromissos assumidos em relação a determinados padrões ou normas relevantes para assuntos socioambientais. Introduzir a declaração de princípios relevantes para a sustentabilidade (precaução, prevenção, visão integral – holística - ou de pensamento de análise de ciclo-devida de produto, direito público de acesso à informação, controle democrático da tecnologia socioambiental, outros princípios mandatários ou voluntários) INDICADORES: controles operacionais em funcionamento para o aprimoramento no desempenho socioambiental; descrição das práticas efetivas de uso dos princípios, em desenvolvimento de processos e produtos; datas e outros dados objetivos de aplicação dos 145 João S. Furtado princípios; ganhos materiais e econômico-financeiros decorrentes da utilização dos princípios; foros ou níveis com poder decisório em questões de princípios socioambientais; escopo e deveres nos diferentes níveis organizacionais e gerenciais; quantificação e qualificação de ações efetivas envolvendo o uso dos princípios; diferenciação da Organização em relação a outras, no setor, segmento de mercado ou cadeia de valor; principal legislação atendida; código de conduta adotado; afiliação a associações não-governamentais industriais de classe ou de defesa socioambiental; políticas sistemas implantados de gestão de elementos ou de impactos a montante (upstream) ou a jusante (downstream); certificação, acreditação e outros reconhecimentos formais, certificados ou não (selos, normas, atestados.) MODELO DE GOVERNANÇA SOCIOAMBIENTAL Relato da política geral de governança, abrangendo, entre outras questões: estrutura, composição e atribuições da direção superior da Organização; processo de tomada de decisões e conduta de dirigentes e relacionamento com as partes interessadas no negócio ou nas atividades da Organização; ética organizacional e percepção social para construção e preservação de valores das partes interessadas, mediante a construção de benchmarking; transparência na estrutura, processos de negócios organizacionais e tomada de decisões e responsabilidade (accountability) dos diferentes corpos que compõem a alta direção; sistema, modo ou processo, formal ou informal, contínuo e sistemático de direitos e controles, internos e externos, sobre o poder na organização (pública ou privada); processo e práticas de distribuição de decisões, incluindo as bases, normas, princípios, regras, relacionamentos, mecanismos e papéis; revelação total, acurada e atualizada de dados e informações financeiras e socioambientais, pela contabilização socioambiental total; integridade de estratégias e sistemas operacionais e de controles, com gestão clara e forte de programa de auditoria, inclusive a estrutura e práticas de auditorias internas e externas independentes; sistema e práticas de compensações e remunerações; formalização de política e registro de dados sobre cidadania e outros temas relevantes para os usuários do sistema de informações; acesso das partes interessadas ao executivo principal e participação em questões, especialmente processos decisórios; registros e informações sobre violações à legislação e questões relacionadas à ética e à gestão de fatos relacionados à corrupção e subornos. INDICADORES: distribuição de atribuições, responsabilidades e poder; condutas econômico-financeiras, ambientais e sociais; incentivos, benefícios, recursos, reconhecimento e recompensas; política e sistema de gestão; meios e instrumentos usados; objetivos alcançados; eco-inovações. DIRECIONADORES ORGANIZACIONAIS PARA A SUSTENTABILIDADE Descrever o modelo de Organização em relação ao foco para a sustentabilidade. INDICADORES: governança e liderança; redução de custos e aumento de valor; conquistas de novos espaços e mercados; contabilização total; transparência; envolvimento de todas as unidades/departamento e compromissos de dirigentes. 146 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Indicadores métricos Demanda material total Fardo ecológico Pegada ecológica Resultado Final Tríplice FERRAMENTAS USADAS DE BASE SOCIOAMBIENTAL Declaração dos tipos de ferramentas ou tecnologias de base socioambiental, para gestão de operações e produção de bens e serviços usadas na Organização, bem como a definição, conceito ou entendimento de cada uma delas, na prática ou no dia-a-dia. Identificar e descrever as decisões organizacionais e para operações gerenciais e produção. Além disso, identificar e descrever, entre as listadas e outras não mencionadas. FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO Avaliação de ciclo-de-vida Avaliação de impacto Avaliação de risco Estudo de impacto ambiental FERRAMENTAS PARA VISÃO FERRAMENTAS PARA COMUNICAÇÃO Sistema de Produto do berço-ao-berço Fator 4 ou Fator 10 Passos Naturais PIP – Política Integrada de Produto CIPP - Controle Integrado de Processo e Produto FERRAMENTAS PARA ORGANIZAÇÃO P+L – Produção Mais Limpa (Cleaner Production) PL – Produção Limpa (Clean Production) Ecodesign Eco-inovação incremental ( P+L) e radical ( PL) Registro e Transferência de Emissões (transição de Fim-de-tubo, P2, P+L, Ecoeficiência) Emissão Zero Sistema de Gestão Ambiental Auditoria Socioambiental Contabilização socioambiental FERRAMENTAS PARA MEDIÇÃO Balanço de materiais Capacidade de carga Balanço socioambiental Rotulagem Relatório de impacto ambiental Relatório de ecoeficiência RDS ou de DS Relatório de Resultado Final Tríplice Certificado de reconhecimento Premiação INDICADORES: tipos de ferramentas incorporadas nas práticas gerenciais e produtivas; resultados comparativos internos e externos, no segmento e/ou na cadeia de valor. LINHA DE BASE PARA A SUSTENTABILIDADE Apresentar as características gerais da linha de base para a sustentabilidade (o case Organizacional) do período anterior e relatar os sucessos e fracassos, ameaças e oportunidades. INDICADORES: macro-objetivos sustentáveis; direcionadores organizacionais para sustentabilidade; relatar os resultados comparativos do desempenho alcançado. 147 João S. Furtado MODELO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E INSERÇÃO funções, número de telefone, fax, e-mail, das pessoaschave em assuntos socioambientais na empresa. DE ELEMENTOS ECONÔMICOS E SOCIOAMBIENTAIS Relatar como as questões econômicas e socioambientais estão inseridas no processo e nas práticas de planejamento estratégico (visão de futuro) e o uso de recursos tal como ocorre no dia-a-dia (tática). INDICADORES: focos (alvos) e objetivos (situações ou resultados), estratégicos estabelecidos e alcançados; unidades envolvidas; sucessos e fracassos, pontos fortes e fracos; lições aprendidas. GESTÃO ADMINISTRATIVA Descrever o modelo administrativo adotado. INDICADORES: arranjo; atribuições, responsabilidades e respectivos nomes e localização de responsáveis; fluxos e pessoas-chave; comunicação e informação; relacionamento na cadeia de suprimentos; aprendizagem e capacitação. GESTÃO DA PRODUÇÃO DE BENS E SERVIÇOS Relatar a política e o sistema de gestão dos processos de produção de bens e serviços. INDICADORES: ferramentas usadas no processo de produção; resultados positivos e negativos; pontos fortes e fracos; lições aprendidas. SISTEMA DE AUDITORIA SOCIOAMBIENTAL EM PRÁTICA Descrição do programa de auditoria adotado e dados que dão sustentação à qualidade e confiabilidade no sistema de gestão ambiental na empresa e da política de revelação de tais informações para o público interno e externo, apesar do aspecto controverso dessa questão. INDICADORES: escopo e objetos da auditoria; esquemas e unidades (sites) de produção; resultados; áreas para progresso; verificação e manifestação de auditores externos, referendando a qualidade do sistema de manejo ambiental. OBJETIVOS, ALVOS E METAS SUSTENTÁVEIS Correlação do desempenho ambiental a alvos e metas internas, estabelecidas pela empresa, que ultrapassem os limites de conformidade à legislação. INDICADORES: alvos futuros; metas qualificadas e quantificadas e acompanhadas de critérios e medições atingidos. CONFORMIDADE SOCIOAMBIENTAL À LEGISLAÇÃO E ACORDOS VOLUNTÁRIOS PESSOAS, CARGOS E RESPONSABILIDADES GERENCIAIS PARA ASSUNTOS DE SUSTENTABILIDADE Identificar, de maneira completa e clara, os responsáveis pelos assuntos socioambientais na empresa, para que possam ser localizados e contatados por pessoas interessadas. INDICADORES: organograma com nomes, cargos, Descrição das atividades e resultados alcançados, no atendimento à legislação ambiental, inclusive os aspectos negativos ou inatingidos, acompanhados de informações sobre medidas e estratégias para aperfeiçoar o atendimento à legislação. Trata-se de questão extremamente complexa e difícil. Poucas empresas já responderam a este desafio. 148 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS INDICADORES: acidentes e incidentes registrados; percentual de conformidade; ações sofridas, multas e ações corretivas. INDICADORES: descrição dos prêmios e detalhes dos esquemas de avaliação premiação de honrarias internas e externas. PROGRAMA DE PESQUISA & DESENVOLVIMENTO VERIFICAÇÃO E AUDITORIAS EXTERNAS Integração de fatores e questões socioambientais ao programa de P&D da empresa e esforços para enfrentar os desafios existentes ou emergentes. Informações sobre os compromissos internos, para revelar aos agentes econômicos a proposta de desenvolvimento da empresa, a curto, médio e longo prazos. INDICADORES: número e custos de projetos de P&D; resultados obtidos e suas relações a metas socioambientais; cronogramas; colaboradores e parceiros no programa de P&D. Informações sobre os resultados de verificação independente, quando existir, envolvendo o que for correto, verdadeiro e justo, revelado pelo sistema de auditoria ambiental realizados na empresa. Este tema é parte das discussões para implantação de normas voluntárias internacionais, como ISO 14000 e Eco-Management and Audit Regulation - EMAS. INDICADORES: resultados da verificação por terceira-parte; descrição de resultados benéficos e maléficos; descrição do escopo da verificação; metodologia adotada e precisão de linguagem; áreas para progresso. PROGRAMAÇÃO GERAL DA ORGANIZAÇÃO Comentários sobre o programa global de produção e os produtos da empresa, com destaque para os acontecimentos e fatos mais relevantes e suas relações à política ambiental e às questões socioambientais mais importantes. INDICADORES: espectro de iniciativas globais da empresa; atitudes, atividades e investimentos em sistemas de produção ambientalmente mais aperfeiçoados; envolvimento em produção limpa; parceiros e colaboradores; resultados alcançados. PREMIAÇÕES E RECONHECIMENTOS Referências a premiações externas em saúde, segurança e gestão ambiental conquistadas, com informações sobre os critérios de julgamento e das organizações concedentes, para fortalecer a credibilidade no relatório da empresa junto aos empregados e agentes econômicos. POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO Razões para a comunicação ambiental, periodicidade, opiniões sobre a significação das auditorias internas e verificação por terceiras-partes. Breves comentários sobre os métodos usados para a geração de relatórios, dos cálculos e medições realizados, para definição dos indicadores-chave, para relatar o desempenho ambiental da empresa. INDICADORES: descrição da metodologia; definição de termos ou elementos-chave; hierarquia de valores adotados; identificação dos responsáveis pela geração de relatórios; cronologia e periodicidade dos mesmos. INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS E DO CONTEXTO Breve perfil das características e das operações da empresa, com indicações sobre os pontos em que ha- 149 João S. Furtado verá implicações para o desempenho ambiental. INDICADORES: porte da empresa; localização das unidades de produção; principais linhas de negócios; quadro geral de funcionários; programas de saúde, segurança e desempenho ambiental; natureza das questões socioambientais causadas pelas operações da empresa. GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS OU DE VALOR Informações a respeito do desempenho dos participantes da cadeia de suprimento, focadas na produção e no consumo sustentáveis de bens e serviços, sob a influência da Organização. INDICADORES: práticas organizacionais relacionadas aos integrantes da Cadeia de Suprimento; informações produzidas e transferidas para os agentes relevantes; suporte técnico-gerencial e ações da organização para aprimorar o desempenho sustentável das diferentes partes interessadas na cadeia de suprimentos, visando à prevenção de impactos econômicos e socioambientais causados por partes interessadas relevantes, abrangendo benefícios e malefícios, sucessos e fracassos, pontos fortes e fracos, novas oportunidades e desafios. Selecionar, entre os itens ou tópicos usados para o RDS da Organização, aqueles considerados adequados para cada agente, na cadeia de valor, em função de seu tipo de negócio ou atividade, porte, estágio, recursos. velação de informações, como a de categoria, entendida como grandes agrupamentos de temas ou preocupações; a de aspecto concebido como assunto específico dentro de categoria, e a de indicador ou o elemento de medida de desempenho durante determinado período, que expressa visão, sinal, sintoma, índice, estado, condição ou resposta de um sistema, capaz de medir o progresso ou mostrar a direção9 . Apesar da ênfase dada à construção de indicadores métricos, é preciso reconhecer a importância dos indicadores qualitativos, desde que seu uso não represente subterfúgio ou conveniência para a não inclusão dos mensuráveis. A terminologia e a tipologia adotadas para os indicadores estão em expansão, como resultado natural do crescente uso e da importância desses elementos para avaliar o desempenho do sistema de produção e consumo de bens e serviços. Os comentários seguintes abordam questões gerais para a seleção de indicadores que expressam o desempenho sustentável. É indispensável que cada Organização crie seu próprio conjunto de indicadores, em função dos tipos de riscos e de impactos relacionados ao negócio ou atividade e próprios do setor ou segmento para o qual os produtos são oferecidos. A listagem de efeitos e impactos oferece grande número de opções para isso. PRÉ-REQUISITOS Módulo II. Indicadores de desempenho É fundamental que o RDS contenha informações sobre os critérios e os procedimentos adotados para a seleção de indicadores de desempenho para a Organização. Com freqüência, o termo indicador é usado como elemento, fator, variável ou questão. Além isso, é também usual o emprego de níveis hierárquicos de re- São pré-requisitos a adoção de critérios para a construção e a medição de indicadores; a caracterização dos indicadores selecionados ou adotados, tais como: indicadores globais, que afetam todo o planeta; indicadores genéricos, que afetam vários tipos de negócios ou atividades; indicadores negócio-específicos, próprios do segmento. 150 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS E ainda, o estabelecimento dos métodos e critérios de utilização: coleta, medição, processamento, verificação e controle de qualidade dos indicadores usados. CARACTERÍSTICAS DOS INDICADORES DE DESEMPENHO Demonstração de impactos benéficos e maléficos das atividades gerenciais e produtivas para: acionistas e investidores; outras partes interessadas; sociedade em geral. Classificação em tipos ou categorias - Dimensões econômica, ambiental e social - Elementos ou tipos Indicador de conformidade legal ou voluntária – padrões e normas de comando-e-controle fim-detubo, remediação, recuperação, emergências Indicador estratégico além-da-conformidade como: - Indicador estratégico do foco de negócio ou de atividade da Organização -Indicador de sistema de produto “do-berço-aoberço” (fechamento de ciclos a montante e a jusante). -Indicador de Produção Limpa: prevenção, precaução, ciclo-de-vida, ecodesign, tecnologia limpa, controle democrático da tecnologia, acesso público à informação. -Indicador de ecoeficiência organizacional, correspondente às relações entre custos (em volumes ou quantidades) no processo produtivo ou no produto (numerador) e os de efeitos ou influência ambiental (denominador). - Indicador específico de negócio ou atividade – que diz respeito a acionistas ou investidores e a outras partes diretamente interessadas na Organização e sua cadeia de valor. - Indicador de efeito ou de impacto geral, direto ou indireto, que afeta as características econômicas da Or- ganização em sua cadeia de valor ou segmento de negócios ou atividades. Indicador composto, integrado, de Sustentabilidade ou de Resultado Final Tríplice (Triple Bottom Line), econômico, ambiental e social, que afeta os bens comuns da Nação ou da sociedade planetária. Critério de escolha de indicadores, quanto às características e detalhes descritivos, adotados pela Organização. Sugestões do Guia (ver capítulos correspondentes). Recomendações específicas do GRI Global Reporting Initiative10 . 7. Capital Natural Representado por recursos renováveis - ecos-sistemas, biomas, seus componentes (biodiversidade) e dinâmica (produtividade) e água; recursos não-renováveis e serviços naturais - oxigênio, energia renovável (solar, eólica, marés) e fóssil, fossas (ou sumidouros naturais), capacidade de carga (assimilação, bioconversão), regulação climática, prevenção de erosão, topografia, depuração de água, regeneração de solo, controle natural de vetores, cadeia alimentar, recreação, paisagens e cenários, destinados ao abrigo, alimentação, defesa, educação, lazer e outros aspectos da qualidade de vida, de curto, médio e longo prazo para o bem-estar humano e de outras espécies do planeta, a partir dos quais o homem obtém ou cria sua riqueza. São recursos renováveis e não-renováveis, providos pela natureza e a partir dos quais são produzidos materiais e serviços destinados ao abrigo, alimentação, defesa, educação, lazer e outros aspectos da qualidade de vida, de curto, médio e longo prazo. Comporta materiais recicláveis ou potencialmente 151 João S. Furtado recicláveis e os serviços naturais, representados por manutenção do clima, recuperação de fertilidade do solo, sustentação do ciclo de água, garantia da cadeia de alimentação, controle natural de pragas e vetores de doenças e moléstias, entre outros. não-renováveis; materiais para outros processos (catalisadores); matérias-primas primárias e secundárias para conversão; consumo de substâncias tóxicas ou perigosas; porcentagem de material procedente de resíduo; uso de materiais recicláveis e efetivamente reciclados. BIODIVERSIDADE 7.1.Entradas SUSTENTABILIDADE DAS FONTES DE RECURSOS, INSUMOS OU DE MATÉRIAS-PRIMAS Descrição das fontes de recursos (materiais, insumos, matérias-primas) e do modo de extração e transporte. INDICADORES : matéria-prima, fontes renováveis; modo de extração da matéria-prima e reposição dos estoques naturais; modelo e práticas de extração de recursos não-renováveis; medidas para garantia de sustentabilidade do ecossistema provedor de recursos; poupança de água e energia durante a extração; prevenção de uso materiais atóxicos para o ambiente; preservação das características sócioculturais da comunidade local; transporte de matéria prima sem riscos ou com riscos mínimos para os trabalhadores e o ambiente. USO DE MATERIAIS NÃO RENOVÁVEIS E RENOVÁVEIS Inventário de materiais ambientalmente significantes, classificados, quando apropriado, como perigosos, tóxicos ou associados a potenciais impactos socioambientais. Relato de objetivos e práticas de reciclagem de materiais na planta (on-site) industrial ou fora (off-site). INDICADORES: balanço de material; percentual de perdas para determinado espectro de materiais; toneladas/por ano de uso por tipo de materiais renováveis e Informação sobre uso de recursos biológicos (biodiversidade), com particular referência a espécies em/ ou ameaçadas de extinção; locação de unidades produtivas ou extrativistas em áreas de habitats ricos ou sensíveis a impactos. INDICADORES: áreas de conservação e reposição de espécies nativas e de outros estoques biológicos; ações resultantes na impermeabilização ou contaminação do solo de habitats protegidos, importantes ou sensíveis; recuperação de áreas degradadas; destruição e/ou regeneração de espécies em/ou ameaçadas de extinção. CONSUMO DE ENERGIA Indicação da composição da matriz energética e das porcentagens de uso de cada tipo de fonte usada; consumo de energia, em termos comparativos a programas setoriais ou nacionais de eficiência energética ou redução de consumo, ou em relação a questões socioambientais globais, como chuva ácida, aquecimento do planeta, diversificação de fontes, padrões de demanda. INDICADORES: consumo de energia total e segmentado, por tipo de uso; índices e alvos para redução de consumo em quilowatts/hora (para o modelo do PNUMA) ou em Joules (para o GRI); equivalência de toneladas de óleo combustível; toneladas de emissão de carbono; metas (percentuais) de redução de consumo por escala de tempo definida e indicação do alvo 152 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS anual pretendido; esforços e resultados para uso de energia renovável. CONSUMO DE ÁGUA Indicação da procedência e volume de água consumida, incorporada nos produtos, lavagem, diluição, utilizada no resfriamento ou em outras operações no processo de produção; fontes de água relacionadas a habitats ou ecossistemas afetados pela extração. INDICADORES: consumo total por origem, em metros cúbicos por ano, de todas as diferentes fontes de suprimento e usados para processo, resfriamento, uso sanitário e outras atividades; medidas e objetivos para redução de uso e consumo; água de superfície retirada como porcentagem da quantidade anual de água renovável, por fonte; total de reciclagem e reuso de água de processo, residuária e outras origens; medidas para eficiência e eficácia de uso. 7.2. Gestão de processos VISÃO DE PROCESSO E PRODUTO Fim-de-tubo (do berço-à-cova) ou sistema de produto (do berço-ao-berço). Relato do modelo de visão de processo e produto. INDICADORES: atividades fim-de-tubo (pegar recursos, usar, devolver ou tratar resíduos) e atividades de prevenção (emprestar recursos, usar, devolver recursos) por reaproveitamento (reuso, remanufatura, recuperação, reciclagem, aproveitamento energético) QUALIDADE, SAÚDE E SEGURANÇA E AMBIENTE Integração de informações sobre saúde e seguran- ça no trabalho e do trabalhador; utilização de sistemas obrigatórios de relatório ou adoção de modelos voluntários criados por organizações representativas de setores industriais. INDICADORES: índice de “freqüência de perda de tempo por injúria ou doença, por número total de horas trabalhadas”; implicações do índice nas unidades de extração, produção, comercialização, marketing e outras atividades; acidentes por ano; relações entre custos de produção e utilização de planos de saúde; notificações de injúrias, doenças ou efeitos sobre a saúde do trabalhador. Integração de padrões de excelência em qualidade, saúde, segurança e ambiente, no processo, produto, consumo e pós-consumo. ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA) & GESTÃO DE RISCOS Informações sobre resultados de estudos de impacto ambiental e de gestão de riscos, conduzidos por equipes internas ou por terceiros, abrangendo detalhes sobre por quê, quando, onde, como e por quem. INDICADORES: EIAs e outras avaliações realizadas; principais projetos para os quais não foram executados EIAs. ACIDENTES E RESPOSTAS DE EMERGÊNCIA Referências a planejamento de atividades de emergência e treinamento, com indicadores de medidas para prevenção, minimização ou eliminação; comentários sobre falhas e resultados negativos, abordando causas e medidas para reverter a situação. INDICADORES: número e tipos de acidentes por ano; resultados de investigações subseqüentes; medidas para prevenção de acidentes; planejamento para emergências e resultados de testes de respostas a emergências. 153 João S. Furtado CONTAMINAÇÃO DE SOLO E REMEDIAÇÃO Atividades, custos e resultados para prevenção ou remediação de contaminação do solo, causada pelas atividades da empresa, especialmente para setores econômicos, como bancos e seguradoras. INDICADORES: número de áreas e escala de contaminação; áreas sujeitas a condições especificas para limpeza e/ou remediação; área de terra contaminada por ano e referências a normas e padrões específicos, determinadas por agentes reguladores. HABITATS CIRCUNVIZINHOS Áreas ou ambientes sensíveis, nas vizinhanças da planta industrial; efeitos sobre áreas de proteção; prioridades e técnicas de gerenciamento ambiental adotados; objetivos e iniciativas; possíveis relacionamentos com ONGs e possibilidades de melhorar as relações socioambientais da planta industrial. INDICADORES: áreas sob proteção; áreas afetadas pelas atividades da planta de produção; efeitos sobre a biodiversidade; áreas biofisicoquimicamente sensíveis. 7.3. Saídas – emissões, efluentes e lixo tipos; rotas e rotinas de destinação; número de contratos e de auditorias de destinação de resíduos; penalidades por destinação de resíduos fora da planta (off-site); iniciativas em prevenção ou redução de resíduos; eficiência e eficácia na conversão de materiais em produtos. EMISSÕES DIRETAS E INDIRETAS DE GASES COM EFEITO ESTUFA - GEE Relato de liberação de GEE, conforme Protocolo de Quioto e Anexo A, IPCC e Códigos de Conduta, decorrente de processo, queima de combustíveis e outras fontes. INDICADORES: medições e estimativas em toneladas métricas de CO2 equivalente para emissões de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido Nitroso (N2O), Hidro e Perfluorcarbono (HFCs, PFCs), Hexafluoreto de Enxofre (SF6). EMISSÕES DEPLETIVAS DA CAMADA DE OZÔNIO Relato de liberação de Substâncias Depletivas do Ozônio (SDO), intencional e não-intencional. INDICADORES: lista de SDO e de substâncias potenciais, conforme a Lista do Protocolo de Montreal (anexos A até E); volumes em toneladas métricas de CFC. RESÍDUOS TOTAIS POR TIPO E DESTINO DESCARGAS SIGNIFICATIVAS DE OUTROS RESÍDUOS POR Informações sobre a geração total de não-produtos ou resíduos, atividades de prevenção e redução de resíduos e iniciativas de reciclagem. Sempre que possível, classificar os efluentes, com base em balanço de material. Relatório de atividades de programas de “zero em resíduo”; referências à liberação de potenciais poluentes para o ar, água, reservatórios e solo; poluentes tratados ou transferidos para tratamento. INDICADORES: toneladas por ano e por categoria ou TIPO E DESTINO Outros resíduos intencionais e não-intencionais, previstos em legislação federal, estadual e municipal, Códigos de Conduta Voluntários ou normas e deliberações pró-ativas da própria Organização. INDICADORES: toneladas métricas de metais pesados prioritários (As, Cd, Cr, Cu, Pb, Hg, Ni, Zn) em toneladas métricas de Cu equivalentes; resíduos para 154 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS transferência (Convenção de Basiléia, Anexo IV); resíduos para aterros; resíduos para incineração; geração de oxidantes fotoquímicos em toneladas métricas de SO2 equivalentes para COV-Compostos Orgânicos Voláteis, Óxidos Nitrosos (NOx); ftalatos e outros desorganizadores endócrinos; substâncias eutroficantes para água de superfície: Fósforo e equivalentes; demanda bioquímica de oxigênio: Oxigênio. com maior eficiência e efetividade ambiental, ou com o mínimo de consumo de materiais, de energia e de geração de resíduo, durante todo o ciclo-de-vida do produto. INDICADORES: iniciativas e resultados de desenvolvimento integrado de produto; articulado a gestão supervisionada (stewardship, housekeeping) do ambiente e prevenção da poluição e levando em conta, por exemplo: RUÍDOS E ODORES Relato dos dados de ruído, odores, programas e atividades para medições e reduções. INDICADORES: horas excedentes para determinados padrões de ruídos e odores; número de queixas e reclamações. EMISSÕES DE TRANSPORTE, TRANSPORTE DE RESÍDUOS E RESPECTIVOS IMPACTOS, ESPECIALMENTE OS PERIGOSOS Informações sobre planejamento e iniciativas de logística e gestão de transportes. Relato de produtos finais e intermediários quando em trânsito, tanto acidentalmente quanto por emissões por fuga. INDICADORES: vazamentos por ano e por 1.000 Km transportados; toneladas por ano e por tipo de transporte utilizado (estrada de rodagem, ferrovia, mar e ar). 7.4 Produtos DESIGN PARA O AMBIENTE (ECODESIGN) DE PROCESSO E PRODUTO Relatos de procedimentos para a concepção de projetos de produção de bens, serviços e infra-estrutura segurança e saúde ocupacional; saúde e segurança do consumidor; integridade ecológica e proteção dos recursos; prevenção da poluição e redução do uso de componentes tóxicos; segurança e uso de energia; análise de ciclo-de-vida (avaliação de desempenho ambiental e de custos); devolução garantida (take back e recompra); eficiência econômica da remanufatura; Emissão Zero; engenharia reversa, análise de falhas e logística reversa; estimativa de riscos ambientais de componentes individualizados do produto e processo; menor intensidade material por serviço ou função; oportunidade de recuperação e reutilização de materiais; previsão para desmontagem e reciclagem; reutilização de partes na fase pós-consumo de produtos; recuperação e reuso de materiais e de componentes; desmontagem: simplificação, facilidade de acesso e simplificação das interfaces dos componentes; minimização de resíduos: redução na fonte, separabilidade, prevenção da contaminação, recuperação e reuso de resíduos, incineração; 155 João S. Furtado conservação de energia, com redução de energia na produção, no consumo de força e no uso da distribuição e no uso de formas renováveis de energia; conservação de material: produtos multifuncionais, especificação de materiais recicláveis, renováveis e remanufaturáveis, com mas longevidade, para recuperação de embalagens, reutilização de containers e desenvolvimento de programas de leasing; redução de riscos crônicos: reduzir liberações, evitar substâncias tóxicas/perigosas, evitar substâncias destruidoras da camada de ozônio, uso de tecnologia baseada em água, garantir biodegradabilidade de produtos e o descarte de resíduos; prevenção de acidentes: evitar materiais cáusticos e/ ou inflamáveis, minimizar o potencial de vazamentos, usar fechos para proteção de crianças, desencorajar o mau uso pelo consumidor. ANÁLISE OU USO DE INFORMAÇÕES DE AVALIAÇÃO DE CICLO-DE-VIDA DO PRODUTO Informações sobre aspectos socioambientais de produtos e processos de produção. INDICADORES: número de avaliação de ciclos-de-vida completados; resultados de análises de impactos; materiais e energia por unidade de produto; volume ou peso de material de embalagem usado por volume ou peso de produto; percentual de saídas recicladas; percentual de materiais secundários utilizados nos produtos; atividades em prevenção e redução de resíduos e iniciativas de reciclagem. EMBALAGEM Dados sobre matérias-primas de embalagens e destas no produto, especialmente os resultados de estudos de ciclo-de-vida. INDICADORES: toneladas de embalagens por ano e por tipo, como vidro, papelão, alumínio, aço, plásticos recicláveis e não-recicláveis; volume ou peso de materiais de embalagem por volume ou peso de produto; percentual de saídas recicladas; percentual de materiais secundários usados em produtos; envolvimento em iniciativas de prevenção e redução de resíduos e reciclagem. IMPACTOS DO PRODUTO Informações sobre segurança e efeitos sobre a saúde associados com produtos, apesar da insuficiência de discussões e de pesquisa, principalmente em relação a produtos ambientalmente intensivos INDICADORES: tipos e volumes de impactos socioambientais significativos causados por produtos e suas emissões; porcentagem de produtos recolhidos ao final da vida útil, para reciclagem ou remanufatura; emissões de cada substância significativa utilizada em cada linha de produção. GESTÃO SUPERVISIONADA (STEWARDSHIP) DO PRODUTO Relato de resultados obtidos em atividades envolvendo uso e destinação de produtos, principalmente os de alto-impacto ambiental, técnicas de gestão de risco de produtos, avaliação de ciclo-de-vida e, especialmente, a gestão sobre os resíduos e restos de produtos ao final da vida útil. INDICADORES: percentual de produtos cobertos por programas de gerenciamento total; componentes tóxicos e carcinogênicos; envolvimento em iniciativas de prevenção e redução de resíduos, destinação segura e reciclagem; volume e peso de produtos recuperados ou reciclados; percentual de saídas recicladas. 156 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 7.5. Conformidade legal e voluntária NÃO-CONFORMIDADES E AÇÕES CORRETIVAS Relato de casos de não atendimento a normas legais e voluntárias- qualidade, saúde, segurança e ambiente, acidentes, transgressões, penalidades e demais incidências a acordos internacionais. INDICADORES: tipos e número anual de acidentes, incidências e respostas a emergências; valores de multas e penalidades; medidas corretivas, precaucionárias e preventivas adotadas para conformidade municipal, estadual, nacional e internacional. AÇÕES REPARADORAS E MITIGADORAS Iniciativas para a prevenção de contaminação do solo, ar e água, incluindo tipos e níveis de riscos e impactos. INDICADORES: número e escala/nível de áreas/sítios contaminados; áreas sujeitas a recuperação/remediação e condições para a ação descontaminante; área ou terra descontaminada por ano e respectivo nível ou padrão alcançado. 8. Capital Social Caracterizado por valores e normas sociais, cultura, lazer, confiança; cooperação, aprendizagem, respeito, interações, relacionamentos (amizades, afinidades), parcerias, cooperação; inserção econômica e ambiental, equidade, empoderamento; redes sociais, canais de comunicação, famílias, comunidades, empresas, entidades de classe, Organizações Não-Governamentais (Terceiro Setor ou Setor Cívico). ção econômica e socioambiental de recursos humanos, interno e externo à Organização, expresso por saúde, conhecimento, habilidades, produção intelectual, motivações, engajamento, comprometimento, reputação, liderança, capacidade para relacionamento. INDICADORES: procedimentos, ações, projetos, resultados, sucessos e fracassos, dificuldades e oportunidades em saúde humana, qualificação e capacitação, emprego e treinamento, remuneração, reconhecimento e recompensa. COMUNIDADES Relato de compromissos para a sustentabilidade de familiares e grupos que compartilham governança e herança cultural e histórica, localizados no entorno e demais integrantes da sociedade local, regional, nacional e planetária. INDICADORES: ações, investimento na comunidade e redes comunitárias, nos aspectos de sucessos e fracassos, dificuldades e oportunidades, com vistas à construção de relacionamentos, confiança e solidariedade; ao trabalho voluntário e cooperativo; ao desenvolvimento de responsabilidades compartilhadas; ao desenvolvimento de habilidades e educação para a sustentabilidade, ao acesso público à informação e à justiça; à contribuição para o acesso e inserção social e a contribuição para o progresso e reconhecimento das necessidades de todos. Incluem-se também a capacitação para a autoridade e a participação (empowerment); a justiça social; a diversidade (não discriminação); a qualidade de vida:os efeitos para as instituições envolvidas ou afetadas e o desenvolvimento da cadeia de valor. CAPITAL HUMANO Relato de política praticada para gestão e valoriza157 8.1. Práticas e condutas laborais EMPREGO Descrição da política de emprego e regulamenta- João S. Furtado ção da gestão e desenvolvimento do quadro de dirigentes, colaboradores e contratados. INDICADORES: resultados de atividades de treinamento do quadro funcional e de colaboradores, com especial referência à motivação, prevenção, preparação, prontidão e comprometimento; taxa líquida de empregos criados; pesquisa de satisfação e avaliações de desempenho e aprendizagem. BENEFÍCIOS E RELAÇÕES DE TRABALHO Relato de política e práticas pró-ativas de incentivos para o quadro funcional, contratados e prestadores de serviços. INDICADORES: resultados numéricos e qualitativos, positivos e negativos, dificuldades e oportunidades para planos e programas envolvendo: Relações no trabalho, tais como remuneração e reconhecimento, formação de lideranças, com especial foco em Sustentabilidade, resultados de aprimoramento de desempenho de liderados, em decorrência da ação de líderes, porcentagem de trabalhadores representada por entidades laborais independentes, provisão para representação formal de colaboradores e contratados em tomadas de decisões gerenciais, inclusive em governança organizacional. Saúde e segurança, com as práticas de registro e notificações de acidentes e saúde ocupacional e suas relações com acordos e tratados nacionais e internacionais, a participação de colaboradores e contratados em comitês específicos, os padrões de injúrias, dias perdidos e taxa de ausência, o número de fatalidades relacionadas ao trabalho, as LER - Lesões de Exercício Repetitivo -, taxa de não-conformidade, medidas corretivas, precaucionárias e preventivas. Treinamento e educação, apontando a média horária anual de treinamento por categoria de colabora- dor, contratado e prestador de serviços, o tipo de programa e objetivos pretendidos e alcançados, as atividades educacionais e de capacitação profissional de longa duração. Diversidade e oportunidade, que constituem ações de política de igualdade de oportunidades e de monitoramento de conformidade e de resultados alcançados, e a composição da gerência média e superior, inclusive governança, em índice homem/mulher, etnias e outros indicadores de diversidade aplicáveis. 8.2. Direitos humanos ESTRATÉGIAS E GESTÃO Descrição da estratégia e modelo de gestão das questões relativas aos Direitos Humanos, nos termos definidos internacionalmente, a fim de que a Organização, em sua esfera de ação, não cometa abusos. INDICADORES: resultados de ações, positivos e negativos, dificuldades e oportunidades para: cumprimento de política, diretrizes, estrutura organizacional e procedimentos para lidar com as questões de direitos humanos, inclusive monitoramento; cumprimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos Fundamentais; consideração dos impactos de direitos humanos como parte de decisões de investimentos e aquisições (procurement) e contratações de terceiros (outsourcing), inclusive a seleção de fornecedores e contratados; monitoramento e avaliação de desempenho relativo aos direitos humanos na Cadeia de Suprimentos e contratados; treinamento do quadro funcional e de contratados em política e práticas envolvendo todos os aspectos de 158 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS direitos humanos. NÃO-DISCRIMINAÇÃO Revelação da política organizacional e o monitoramento de práticas de não distinção, para efeito de trabalho e outros aspectos do relacionamento com todas as partes interessadas, em razão de educação, cultura, raça, cor, gênero, sexo e etnia. INDICADORES: resultados de ações específicas, positivos e negativos, dificuldades e oportunidades de monitoramento e resultados observados. LIBERDADE DE ASSOCIAR E NEGOCIAR Aquisição de poder de representatividade e participação em tomadas de decisões por pessoas ou comunidades específicas, em contextos adequados de caráter social, psicológico, educacional, econômico e organizacional, entre outros. INDICADORES: quadro atual, resultados de planos e programas executados e comparativos no segmento e em outros ramos de negócios ou atividades. EMPREGO INFANTIL Descrição do compromisso organizacional, política e práticas referentes ao não-emprego de mão-deobra infantil, segundo os termos de Convenção Internacional (ILO 138) e outros instrumentos pertinentes. Indicadores: quadro atual, monitoramento, resultados de planos e programas executados e comparativos no segmento e em outros ramos de negócios ou atividades. TRABALHO FORÇADO E COMPULSÓRIO Relato das práticas organizacionais preventivas da coerção para a execução de atividade imposta ou de penalidade no caso do trabalho não ser executado, nos termos da Convenção ILO 29, art. 2. INDICADORES: quadro atual, monitoramento e resultados de planos e programas executados e comparativos no segmento e em outros ramos de negócios ou atividades. PRÁTICAS DISCIPLINARES, SEGURANÇA E RECONHECIMENTO Informações a respeito da política, regras e práticas de conduta do quadro laboral, abrangendo o ambiente, contexto e relações de trabalho, com o objetivo de estabelecer a harmonização dos interesses da Organização, o desempenho funcional e a justiça e consistência no tratamento das pessoas, além do reconhecimento e a retribuição de padrões de excelência de desempenho de dirigentes, demais colaboradores, contratados e outras partes interessadas relevantes para a missão da Organização. INDICADORES: quadro atual, monitoramento e resultados de planos e programas executados para capacitação, incentivos e aprimoramento de desempenho para atitudes de não retaliação e sistema de confidencialidade para infrações cometidas; treinamento de pessoal para respeito aos direitos humanos a todas as partes interessadas; prevenção de conduta comportamental inadequada; roubos, fraudes e falsificações; assédios; danos à propriedade; insubordinação, mau uso do nome da Organização, vícios, infrações, quebra de confiança, entre outros, além do tratamento diferenciado de agentes idealizadores, executores e promotores de melhores e mais produtivas práticas organizacionais, orientadas para a produção e consumo sustentáveis de bens e serviços. 159 João S. Furtado 8.3. Sociedade ou Comunidade PROTEÇÃO ÀS COMUNIDADES INDÍGENAS E MINORIAS Informação sobre a política, regras e práticas de conduta Organizacional em relação às populações indígenas e às minorias étnicas, no ambiente de trabalho ou no contexto de atuação operacional e negocial. INDICADORES: quadro atual, monitoramento e resultados de planos e programas executados em capacitação organizacional para lidar com as questões especificadas, incentivos e aprimoramento de desempenho do quadro laboral que atue interna e externamente nas referidas questões, abrangendo a não intervenção no regime governativo, nem influência na auto-determinação, cultura e crenças; a preservação de monumentos históricos e geográficos; o respeito à segurança e hábitos alimentares; a manutenção de sistema para gestão conjunta de reclamações e exercício de autoridade, e a preservação do direito de acesso à justiça por pessoas e comunidades minoritárias ou prejudicadas. 8.4. Responsabilidade por produto POLÍTICA DE PRODUTOS Descrição do quadro atual, monitoramento e resultados de planos e programas executados para conformidade e além-de-conformidade, relativos à gestão de informações sobre bens e serviços oferecidos pela Organização. INDICADORES :resultados do sistema de monitoramento de informações, decorrentes de atividades relacionadas à prática do Princípio da Precaução; à igualdade de procedimento, independente da localida- de geográfica, comunidade envolvida ou mercado; à prevenção de danos econômicos e socioambientais para o consumidor; a situações de não-conformidade relacionada ao consumidor, inclusive multas e penalidades recebidas a respeito da qualidade, saúde, segurança e ambiente; ao número de reclamações e atendimento proposto; ao aprimoramento da cadeia de suprimento ou de valor; transferência de tecnologias de base socioambiental; comunicação com as partes interessadas. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO Demonstração, na prática, de como a Organização se comporta em relação ao Princípio da Precaução, definido como o não uso de substâncias, produtos e processos capazes de - ou com potencial para - causar risco ou dano sério ou irreversível, diante de incertezas ou na ausência de certeza científica formal. Pelo Principio da Precaução, o ônus da prova fica por conta do proponente e não das vítimas. INDICADORES: ações e iniciativas concretas de adoção do Princípio da Precaução; realização de estudos científicos para determinação de riscos sérios ou irreversíveis de substâncias e produtos, em todo o ciclo-de-vida, com transparência e informação de acesso público a todas as partes interessadas. Não uso de substâncias e produtos para os quais não exista certeza científica formal e para os quais exista o risco de dano sério ou irreversível. DIREITO PÚBLICO DE ACESSO À INFORMAÇÃO E À JUSTIÇA Relato das práticas de transparência e respondência a consultas sobre segurança de uso e risco de tecnologias, processos produtivos, produto, consumo e pós- 160 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS consumo, a todas as partes interessadas. INDICADORES: sistema de informação pública socioambiental em funcionamento e resultados de consultas e respostas no período; estado atual da prática de responsabilidade continuada (estendida) do produtor ou de responsabilidade solidária, por impactos causados durante o uso ou consumo de produtos, conforme a visão do-berço-à-cova ou do-berço-ao-berço; mecanismo de acesso público à informação socioambiental; conduta organizacional frente a queixas, reclamações, questionamentos e ações civis por danos ou impactos à saúde humana e à qualidade dos ecossistemas e outros meios e serviços ambientais. consumo e pós-consumo da Organização, baseado em atributos socioambientais reais e em conformidade com Códigos de Ética e outros instrumentos normativos aplicáveis. INDICADORES:número e tipos de campanhas institucionais e promocionais de produtos, destacando os atributos socioambientais verdadeiros; ações ou campanhas contra a Organização, por práticas de maquiagem verde (greenwashing) ou de maquiagem azul (bluewashing), esta última referindo-se ao uso indevido do logotipo dos princípios do Global Compact , sob os auspícios da ONU Organização das Nações Unidas. CAPITAL ECONÔMICO, MONETÁRIO OU CONSTRUÍDO SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR Descrição de práticas e do alcance da política para a preservação da saúde e segurança do cliente, usuário ou beneficiário de bens e serviços oferecidos ao mercado. INDICADORES: sistema de monitoramento e resultados de planos e programas de aprimoramento de produtos, visando à saúde e segurança do consumidor; número e tipos de não-conformidades relacionadas à saúde e segurança do consumidor, inclusive penalidades e multas decorrentes; número de queixas e reclamações correlatas e atendimento prestado; sucessos de atendimento decorrentes de melhores práticas de serviços oferecidos a clientes, consumidores, usuários e beneficiários; atendimento a Códigos de Conduta Voluntários assumidos ou a sistemas de rotulagem ou reconhecimento socioambiental conquistados. PROPAGANDA E MARKETING Relato de políticas, regras, práticas e sistema de promoção de negócios, atividades, processos, produtos, Traduzido por bens materiais construídos e acumulados, como edificações, bens manufaturados e os valores físicos e monetários acumulados, bem como direitos de propriedade industrial. Recomendam-se as seguintes bases para selecionar efeitos econômicos: Informações auditadas por partes independentes. Correlações entre informações econômico-financeiras e ética, probidade e sustentabilidade. Condições para manutenção de níveis estáveis de crescimento econômico e emprego. Modelo de relatório financeiro já adotado pela Organização, desde que os efeitos, elementos ou indicadores tenham relações com o Desenvolvimento Sustentável. Recomendações neste Guia (especialmente na relação incluída no capítulo sobre medição e avaliação de desempenho sustentável). Conversão ou transformação de indicadores quantitativos em valor agregado (lucros & perdas) como valor em R$ e porcentagem de mudança, e os comentários e explicações dos resultados do ponto de vista 161 João S. Furtado de custo/benefício para os diversos interessados. Fluxos entre a Organização e as partes interessadas e os efeitos da Organização na economia Influência da Organização na economia circunvizinha Externalidades causadas pela Organização, em termos de efeitos locais, nacionais e internacionais Passivos socioambientais provocados por processo, produtos e transportes Infrações, violações, multas e punições Dependência da comunidade local (entorno, município, estado, país) às atividades da Organização Influência da Organização na economia geral do município, estado, país Resultados na cadeia de valor Considerar elementos, questões ou fatores geradores de valores econômicos para as partes interessadas, como ilustradas a seguir, baseado em GEMI. 9. Gestão de riscos O RDS deve conter informações, análises e comentários referentes à capacitação organizacional para identificar e gerenciar os riscos envolvidos nas operações da Organização e o processo de gerenciamento. Riscos para o negócio ou atividade 162 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Qualidade das avaliações: Flora, fauna e humanos: exposições, danos, morbidade e mortalidade, efeitos para a reprodução, contaminação/intoxicação/envenenamento, efeitos carcinogênicos. Qualidade do solo: mudanças na qualidade da água de superfície e na permeabilidade, lixiviação/percolação de sustâncias tóxicas e perigosas, vazamentos e derrames acidentais, aplicação de resíduos diretamente no solo, produção de gás em aterros. Água de superfície e subterrânea: prevenção da contaminação, efeitos sobre aqüíferos. Qualidade do ar e clima: efeitos adversos para a saúde humana, depósitos poluidores sobre a vegetação. Saúde pública: contaminação de alimentos, emissões acidentais e descargas no ar, água e solo, controles de baixa qualidade. Efeitos socioeconômicos: depreciação de propriedades, redução de empregos, diminuição de renda per capita, mudança de padrão de atividades humanas; corrupção, falsidade, maquiagem verde. Eficiência Aprendizagem organizacional. Capacitação de governança. Gestão da cadeia de negócios. Padrões de excelência e protocolos. Planejamento estratégico econômico e socioambiental integrado. Sistema de gestão socioambiental em prática. Finanças Custos de capital: controle de resíduos e emissões, redesenho de processo e produtos, perda de eficiência, de uso de energia, materiais e outros recurso. Exigências de partes interessadas relevantes. Gestão de externalidades econômicas, especialmente as punitivas. Gestão de suprimentos. Projetos deficitários, incompletos, incorretos, mal elaborados. Perda de prazos e metas. Macroeconomia e inadimplência. Mudança de conduta do consumidor. Não-conformidades: legal e regulamentar; normas técnicas e padrões; acordos voluntários. Orçamento incorreto. Passivos socioambientais históricos. Perdas: falhas, defeitos, produtividade, retrabalho, devolução, qualidade. Propaganda enganosa. Remuneração inadequada. Risco país. Sinergia e complementaridade. Valores de clientes – consumidores – usuários beneficiários. Variação cambial e aquisição de capital externo. Gestão na cadeia de negócios ou suprimentos. Licença para operar (aceitação e reconhecimento pelos interessados) Mercado: reputação, imagem, aceitação pelo cliente – consumidor – usuário - beneficiário. Operações: emissões, descargas, responsabilidade civil, necessidade de mudança de processos e produtos. Parcerias conflitantes, inoperantes, ineficientes. Planos de emergência: coordenação, paradas técnico-administrativas,finanças,treinamento e testes, notificação e chamadas. Pressão: política, pública, concorrência, investidores, financiadores. Qualidade de benchmarking. Responsabilidade civil e multas. Sistemas e mecanismos em operação como a prontidão e a preparação para acidentes, e a comunicação. Transparência Riscos para o processo produtivo: destinação de lixo industrial perigoso e tóxico; emissões tóxicas e perigosas; 163 João S. Furtado falhas de design, engenharia, processo, produto; ineficiência energética; matérias-primas inadequadas, defeituosas, inapropriadas; passivos ocultos, não-remediados; processo industrial de alto risco, faltosos, deficientes, falhos; riscos cumulativos permanentes para saúde e qualidade ambiental; sabotagem, e o uso nãoecoeficiente de materiais e outros recursos Riscos para o produto: confiabilidade, durabilidade, eficiência, periculosidade e toxicidade, reaproveitamento e reciclabilidade, padronização. Riscos de consumo: mau uso do produto pelo consumidor, mudança de valores do consumidor Riscos de pós-consumo: conduta errada do consumidor, sistema de coleta e destinação pós-uso do produto. para evidenciar custos ocultos e demonstrar externalidades. 9.1. Impactos econômicos diretos DISPÊNDIOS SOCIOAMBIENTAIS Informações sobre custos socioambientais de capital e operacional, para atenderem a modelos padronizados obrigatórios, recomendações voluntárias de associações setoriais, ou modelos próprios, criados pela própria empresa. INDICADORES: definição de dispêndios socioambientais; gastos anuais; despesas operacionais globais ou por item ambiental (gestão de resíduos, água, uso de solo); relações proporcionais entre despesas socioambientais e ganhos; retorno sobre investimentos socioambientais; dispêndios em remediação, pesquisa e manutenção do sistema de gestão ambiental, em todo o espectro de atividades. ECO-EFICIÊNCIA: RELAÇÃO ENTRE FATOR DE PRODUÇÃO E FINANCIAMENTOS DE FONTES ÉTICAS INFLUÊNCIA OU EFEITO SOCIOAMBIENTAL Informação sobre a prática da Organização, relacionada à “entrega de bens e serviços em bases competitivas, de maneira a satisfazer as necessidades humanas, trazer a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, reduzir, progressivamente, os impactos ecológicos e a intensidade de uso de recursos, através do ciclo-de-vida, pelo menos no nível estimado da capacidade de sustentação (carrying) da terra” (WBCSD, CEBDS). INDICADORES: ações, resultados positivos e negativos, dificuldades e oportunidades para o aumento de produção de valor, com redução da intensidade de materiais, da quantidade e intensidade de energia, da dispersão de materiais tóxicos, mas, com aumento da reciclabilidade, do uso de materiais renováveis e da intensidade de serviços projetada para os produtos; contabilização de custo-benefício econômico-ambiental, Relato de nomes de Fundos que privilegiam ou selecionam tomadores de recursos orientados ou com projetos para a Sustentabilidade econômica e socioambiental, bem como os principais direcionadores ou critérios seletivos. INDICADORES: valores de investimentos ou empréstimos captados no mercado de capital ético; categorias, elementos ou indicadores econômicos e socioambientais constantes do projeto de tomada de capital, exigidos por Indexadoras de Organizações com Responsabilidade Socioambiental ou por Fundos seletivos. IMPOSTOS E TAXAS PÚBLICAS Informação dos valores de impostos e encargos sociais pagos, que demonstrem a ética e honestidade tributária da Organização. 164 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS INDICADORES: valores financeiros totais pagos, por tipo de tributo; índice (porcentagem) de tributo pago em relação ao faturamento ou dotação orçamentária total da Organização; relação entre tributos totais pagos e volume de recursos naturais consumidos, volume/número total de produtos manufaturados e volume/número de produtos vendidos. PATROCÍNIOS E AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS PÚBLICAS Descrição das ações de caráter socioambiental que foram patrocinadas, no todo ou em parte, pela Organização, incluindo o objeto, objetivo, metas pretendidas e alcançadas, parceiros e executores e alvos alcançados. INDICADORES: ações ou projetos alinhados ou não alinhados ao eixo principal de negócios ou atividades da Organização. E o relato de valores envolvidos, número de executores e de beneficiários ou usuários, efetividade (eficiência e eficácia) econômica e socioambiental dos resultados para todas as partes envolvidas e lições aprendidas. CONTRIBUIÇÕES E DONATIVOS Informações sobre contribuições e doações para organizações sociais sem fins lucrativos, ambientalistas, grupos acadêmicos INDICADORES: valores, beneficiários; natureza e resultados das atividades subvencionadas. 9.3. Impactos econômicos indiretos identificar as externalidades socioambientais cujos custos não são pagos pelo cliente ou consumidor, mas repassados para toda a sociedade e as iniciativas no sentido de internalizá-las como preço total do bem ou serviço. INDICADORES: projetos ou iniciativas específicas de identificação de indicadores de externalidades de processo, produto, consumo e pós-consumo, contabilização de custos socioambientais totais e iniciativas de internalização no preço de produtos; comentários sobre sucessos e fracassos e oportunidades. INSTRUMENTOS ECONÔMICOS Relato de taxas e impostos socioambientais pagos, de acordo com legislação específica. INDICADORES: total pago de taxas e impostos para questões socioambientais relacionadas com água, ar, resíduos, transporte de resíduos; custos com preservação de recursos e taxação sobre consumo de energia. BENEFÍCIOS E OPORTUNIDADES Relato de benefícios obtidos com novas formas de produção, particularmente as baseadas em Produção Limpa(ou Mais Limpa) e programas de redução ou minimização de resíduos. INDICADORES: benefícios econômicos em processos e produtos, relacionados a aprimoramento ambiental; retorno financeiro sobre investimentos socioambientais; integração de economias na prática global de contabilização financeira e planejamento da empresa Modulo III. Relacionamento com as partes interessadas EXTERNALIDADES SOCIOAMBIENTAIS Informação das iniciativas da Organização para 165 Descrição de resultados de relacionamento. João S. Furtado Processos e instrumentos para identificação dos interessados relevantes e suas expectativas. Internos – colaboradores, contratados e prestadores de serviços. Externos – todos os demais que afetam ou são afetados pela Organização. Mecanismos e tipos de engajamento. Tipos de informações elaboradas no entendimento com as partes interessadas. Parcerias estratégicas. Co-responsabilidades. Uso de informações das partes interessadas. Comunicação e realimentação. Atuação e atividades na cadeia de valor. Identificação. Práticas e resultados. Resultados de planos, programas e projetos. Indicadores genéricos de qualidade: relevância, confiabilidade, compreensão, neutralidade, completude, prudência, comparabilidade, atualidade, verificabilidade.12 COLABORADORES: DIRIGENTES, GERENTES, COLABORA- DORES DO QUADRO E CONTRATADOS Expectativas de: Diretores/Gerentes – Otimização de desempenho, aprimoramento de gestão, processos e produtos focados em prevenção/redução de riscos a todos os interessados. Colaboradores/Empregados/Contratados – Garantia de emprego, ascensão, reconhecimento e participação em práticas operacionais saudáveis e ambientalmente adequadas; impactos em recursos não-renováveis; conhecimento da Organização e dos níveis de segurança de tecnologias, processos e produtosEstão incluídas as compensações, remuneração, promoção; saúde e segurança; segurança e estabilidade; desenvolvimento profissional, cultura organizacional e reconhecimento. Sindicato/comissão de fábrica – Empoderamento, direitos humanos e remuneratórios, qualidade e padrões de excelência no ambiente de trabalho Informações sobre a capacitação oferecida e conduta dos colaboradores da empresa e contratados, na Organização e nas residências, em relação a questões socioambientais, relacionadas a programas de TQM (Total Quality Management), sistema de gestão ambiental, séries ISO, eco-inovações, etc. INDICADORES: resultados de levantamentos junto a colaboradores e contratados; programas de treinamento; número de pessoas treinadas; resultados de sugestões feitas por colaboradores, para esquemas ou círculos de qualidade ambiental; esquemas de premiações internas; mudanças de cultura e motivação, clima organizacional e incorporação de aprendizagem organizacional. SINDICATOS, LEGISLADORES E REGULADORES Expectativas de: Governo e agência reguladora – Garantia de excelência na gestão socioambiental; conformidade e alémda-conformidade; prevenção e conservação de recursos e bens públicos, como parte de políticas e regulamentação públicas; dispêndios e atitudes para o Desenvolvimento Sustentável. Relato de resultados de programas em conformidade à legislação; custos para conformidade; envolvimento de legisladores e regulamentadores nas iniciativas de gestão e/ou geração de informações de gestão ambiental na empresa. INDICADORES: relatórios de certificação e garantia de qualidade; dispêndios, esforços e resultados de monitoramento e aprimoramento de eco-gestão; discussão 166 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS das relações com agências governamentais; posicionamento em atividades de lobby; posicionamento sobre itens-chave em política ou agenda reguladora; listagem de participação em compromissos ou acordos voluntários. FAMILIARES, COMUNIDADE LOCAL E PÚBLICO EM GERAL Expectativas de: Familiares/vizinhança/público em geral – Segurança e qualidade de vida, com especial atenção a riscos de acidentes e impactos socioambientais locais. Remete-se às questões como estabilidade financeira; contribuição para a economia local; filantropia e ações sociais justas; influência para inserção econômica; redução de riscos e perigos; conservação e restauração de recursos naturais; equidade econômica; internação de externalidades socioambientais, e a defesa de bens globais comuns de longo prazo. Relato de resultados de atividades envolvendo ou dirigidas para familiares e comunidades, com o objetivo de dar níveis maiores de transparência à planta (site) de produção; práticas de governança e da política de comunicação, envolvendo impactos para as comunidades, corrupção e suborno, políticas de contribuições partidárias, preços e competição. INDICADORES: ações, resultados positivos e negativos, dificuldades e oportunidades para: Qualidade das comunidades; impactos, relatórios de emissões e programas corretivos ou de aprimoramento; atividades de boa vizinhança, ou de aprimoramento; articulação com a comunidade; iniciativas de portas abertas e de direito público de acesso a informações; projetos de Responsabilidade Socioambiental; gestão e controle de riscos, de externalidades e defesa socioambiental global com foco no Desenvolvimento Sustentável. Corrupção e suborno; projetos de sistemas de gestão, conformidade e mecanismos para prevenção de corrupção e de procedimentos corruptores e de suborno pelo quadro dirigente e demais colaboradores e contratados. Conformidade com as recomendações de práticas internacionais. Declaração de volumes de dinheiro doado ou pago a partidos políticos ou a instituições que patrocinam partidos políticos e/ou seus candidatos. Competição e preços; atividades para inclusão de externalidades e de custo total explicitado; infrações e penalidades civis por desrespeito a práticas desleais ou ilegais de comércio, inclusive medidas corretivas e preventivas anticompetitivas. INVESTIDORES, FINANCIADORES E SEGURADORAS Expectativas de: Investidores/acionistas – Valorização de cotas em função de impactos benéficos e maléficos através de: Retorno dos Investimentos( ganhos/Investimentos ou custos/benefícios.); redução de riscos; redução de uso de recursos; imagem pública; práticas éticas e legais. Bancos/Financeiras – Relações entre as questões socioambientais e riscos de passivos/valorização de ativos econômicos; qualidade do patrimônio, especialmente para custos contingenciais, prospectivos, desmobilizações e outros ocultos; sistema de gestão socioambiental; conformidade legal; estágio tecnológico; posicionamento de mercado. Seguradora – Capacidade para custeio de ressarci- 167 João S. Furtado mento por penalidades e custo de recomposição ou de remediação de danos por operações de riscos econômicos e socioambientais, especialmente as de longo prazo; qualidade e segurança de processos e produtos. Informações geradas e transmitidas para acionistas individuais e institucionais-alvo; temas financeiros-chave. INDICADORES: notas breves, comunicados e outras notícias para acionistas e investidores; reputação ou imagem da empresa na comunidade de investidores; detalhes sobre investidores ambientalmente responsáveis que detêm ações da empresa; gestão de riscos e acidentes: capacidade econômico-financeira para remediação, ressarcimentos, recompensas; respostas a ações civis e capacidade de prevenção de passivos de longo prazo. FORNECEDORES E ASSOCIADOS Expectativas de: Fornecedores/Associados – Aprimoramento de materiais e serviços para uso em processos e produtos (bens e serviços), envolvendo questões como preços pagos, pontualidade de pagamentos; estratégias e tecnologias socioambientais compartilhadas; parceria ética; lucratividade: remuneração resultante da utilização dos ativos; apoio para Produção Limpa/Mais Limpa, Ecoeficiência, Ecodesign e ferramentas afins, além de práticas responsáveis. Resultados do trabalho realizado em conjunto com fornecedores, com vistas ao aprimoramento de processos e produtos, em termos qualitativos e quantitativos; desempenho da empresa para melhorar o comportamento ambiental dos fornecedores e ao longo da cadeia de produção. INDICADORES: desafios enfrentados em relação aos fornecedores, durante o ano; participantes da cadeia de fornecedores e resultados de campanhas; novos al- vos e especificações; parceria com fornecedores para solucionar problemas ou aprimorar práticas e tecnologias. CLIENTES E CONSUMIDORES Expectativas de: Clientes – Bens e serviços com qualidade de desempenho da função e com respeito ao ambiente e à sociedade. Corresponde às questões de preço, qualidade, valor agregado no produto; serviços de QSSA (Qualidade, Saúde, Segurança e Ambiente) sustentáveis; práticas responsáveis; passivos, multas e penalidades; reocupação (crescente) com avaliação de impactos no ciclo-de-vida de produto e na cadeia de suprimento. Relato de resultados obtidos com campanhas junto a clientes e consumidores, visando aperfeiçoar processos e produtos, do ponto de vista ambiental, especialmente sobre as análises de valor para redução de impactos. INDICADORES: iniciativas de rotulagem ambiental ou selo verde e reconhecimentos obtidos durante o ano; iniciativas orientadas para o consumidor; objetivos de iniciativas de comunicações para o consumidor; resultados de levantamento de atitudes dos consumidores; aprimoramentos no ciclo-de-vida de produto e processo para melhoria do consumo e destinação de produtos ao final da vida útil. ASSOCIAÇÕES INDUSTRIAIS Expectativas de: Associações – Conduta ética e melhores práticas de governança socioambiental; promoção do segmento 168 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS ou setor, pela conformidade legal e voluntária, baseada em Códigos Voluntários. Participação em atividades coletivas no setor industrial e resultados obtidos com a utilização de códigos de conduta adotados; alvos planejados e alcançados, com comentários sobre os resultados positivos e negativos. INDICADORES: indicação clara do tipo de protocolo ou documento adotado pela empresa, para produção do relatório ambiental (ex. CERES, PERI, Responsible Care, WICE); natureza e grau de envolvimento nas iniciativas da associação industrial à qual aderiu. CONCORRENTES Expectativas de: Concorrentes – Oportunidades e diferenciação de Organizações líderes no mercado, decorrentes de impactos maléficos e benéficos. Práticas concorrenciais e competitividade justas Estratégias e tecnologias socioambientais compartilhadas Padrões éticos e legais INDICADORES: indicação de pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades no relacionamento concorrencial; benchmarking alcançado em relação ao melhor processo ou produto; melhores práticas; projetos colaborativos. GRUPOS AMBIENTALISTAS Expectativas de: ONGs ambientalistas e sociais – Fiscalização da condutas das Organizações e defesa do ambiente, do homem, de comunidades e da sociedade, em geral Informações sobre iniciativas para tornar as ONGs clientes e consumidores ou de transformar os clientes em ambientalistas. INDICADORES: resultados do envolvimento em painéis, mesas-redondas e outros eventos ambientalistas; reações de ONGs sobre o desempenho da empresa. GRUPOS ACADÊMICOS Expectativas de: Comunidade de C&T-Demandas e oportunidades para linhas de pesquisa e eco-inovações. Agências reguladoras- Conformidade e além-daconformidade e excelência de padrões e de desempenho. Relato de opiniões ou respostas da comunidade acadêmica sobre o desempenho ambiental da empresa, em termos do presente e projeções futuras. Utilização de resultados mencionados em cursos acadêmicos sobre o uso de relatórios socioambientais como recurso educacional. INDICADORES: participação em ou apoio a programas de educação ou ciência ambiental. MÍDIA Expectativas Mídia – Busca e divulgação de impactos positivos e negativos no desempenho das organizações e captura de audiência. Informações sobre atividades dirigidas para jornalistas, para o melhor entendimento das propostas e da política ambiental da empresa, com destaque para os veículos de comunicação mais relevantes no nível local, nacional e internacional; opiniões - na mídia - sobre a conduta ambiental da indústria e do setor. INDICADORES: revisão do desempenho geral da comunicação ambiental da empresa; relação entre notícias boas e ruins; notas para a imprensa sobre seu aproveitamento; resultados de mesas-redondas, coletivas e 169 João S. Furtado outros eventos realizados para a imprensa; presença da empresa na imprensa ou em edições dedicadas a questões socioambientais. Módulo IV. Indicadores integrados de Desempenho Sustentável tecnologia e cooperação para compartilhar resultados e benefícios. I NDICADORES : tipos e volumes de tecnologia transferida ou desenvolvimento em cooperação; termos que serviram de base para a cooperação; avaliação de tecnologia realizada. PADRÕES DE OPERAÇÕES GLOBAIS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS GLOBAIS Descrição de medidas para aperfeiçoar o desempenho nas operações e produtos com impacto significativo sobre o ambiente global, em especial a destruição da camada de ozônio, aquecimento global, biodiversidade, exportação de produtos e resíduos tóxicos e perigosos e o desflorestamento tropical. INDICADORES: avaliação de contribuições de processos e produtos para as questões socioambientais globais; descrição de iniciativas chave para reduzir impactos; identificação do balanço líquido dos efeitos. TEMAS DE DESENVOLVIMENTO GLOBAL Informações sobre a contribuição da empresa para a redução da pobreza, a diminuição do crescimento populacional, o atendimento às necessidades básicas do homem, a promoção da saúde e respeito à diversidade cultural; implicações das iniciativas nos negócios da empresa. INDICADORES: esforços e iniciativas para atender o que foi proposto na Agenda 21, Rio 92. COOPERAÇÃO EM TECNOLOGIA Relato de casos explícitos de transferência de Informações sobre normas e padrões comuns, adotados para unidades (sites) de produção em diferentes partes do mundo; dados individualizados do desempenho ambiental por unidade ou planta de produção e agregação no nível mundial, incluindo unidades nos países desenvolvidos e não desenvolvidos. INDICADORES: provisão de inventário completo de entradas e saídas para todas as operações; unidade-porunidade de produção. RDS PARA PEQUENA E MÉDIA ORGANIZAÇÃO Os títulos dos ítens sugeridos para as pequenas e médias organizações são os mesmos. Entretanto, o conteúdo, em abrangência, profundidade e extensão, deverá ser ajustado ao tipo de Organização, de acordo com o porte, estágio de desenvolvimento e preparação, a fim de atender aos requisitos de cada elemento sugerido. Para as pequenas empresas, a produção do RDS poderá ser, inicialmente, mais simples, mas terá que avançar e, dentro de 5 anos, deve cobrir os itens recomendados. As médias empresas têm suficiente porte para atenderem ao modelo sugerido. Título. Período. Declaração do dirigente máximo. 170 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Aspectos do relatório. Perfil da Organização. Resumo executivo. Ajustar o conteúdo dos tópicos em função do tipo, porte, estágio atual da Organização, prevendo-se aumento progressivo de conteúdo de informações, de acordo com a evolução das práticas organizacionais em direção à Sustentabilidade econômica e socioambiental. Modulo I – Políticas e sistemas de gestão Missão, Visão, Princípios Política socioambiental Sistema de gestão socioambiental Ferramentas usadas Gestão da produção Pessoas, cargos e responsabilidades Sistema de auditoria externa Conformidade e além-da-conformidade Módulo II – Indicadores de desempenho CAPITAL NATURAL ENTRADAS Uso de materiais renováveis e não-renováveis Biodiversidade Consumo de energia Consumo de água GESTÃO DE PROCESSOS Sistema de produto Qualidade, saúde, segurança e ambiente Contaminação do solo e remediação Habitats circunvizinhos SAÍDAS Resíduos totais por tipo e destino Emissões de Gases com Efeito Estufa Emissões depletivas para a camada de ozônio Descargas significativas de outros resíduos Ruídos e odores Transporte GESTÃO SUPERVISIONADA DE PRODUTO Ecoeficiência Produção Limpa Avaliação de ciclo-de-vida (política e prática de uso de informações de ACV) Embalagem CAPITAL SOCIAL Capital humano Comunidades vizinhas Práticas e condutas laborais, tais como emprego, benefícios e relações de trabalho. Direitos humanos: estratégias e gestão; não-discriminação; liberdade de associação e negociação; emprego infantil, e trabalho forçado e compulsório. Sociedade e comunidade: proteção às comunidades indígenas; responsabilidade por produto; Princípio da Precaução; direito público de acesso à informação; saúde e segurança do consumidor, e propaganda e marketing. CAPITAL ECONÔMICO Gestão de riscos Impactos econômicos diretos como Ecoeficiência; impostos e taxas públicas; patrocínio de ações socioambientais, e contribuições e donativos. 171 João S. Furtado IMPACTOS ECONÔMICOS INDIRETOS Benefícios e oportunidades Módulo III – Relacionamento com as partes interessadas PARTES INTERESSADAS RELEVANTES Empregados Clientes e consumidores Governo Comunidade local Acionistas e investidores Associações de classe industrial e laboral Grupos ambientalistas Grupos acadêmicos Módulo IV – Indicadores integrados de Desenvolvimento Sustentável Este módulo deverá ser conduzido por associações representativas da Organização. www.globalreporting.org 3 UNEP. 1994.Company Environmental Reporting. A measure of the progress of business & industry towards Sustainable Development. Technical Report. No 24, 118 pp. 4 CEBDS. Ver relatórios de empresas associadas no site http:// www.cebds.com 5 www.ethos.org.br 6 FEE Fédération dês Experts Comptables Européens. FEE discussion paper towards a generally accepted framework for environmental reporting. 1999. 32 pp. wwew.fee.be 7 UNEP. GLOBAL COMPACT. 2004. Who cares wins. Connecting financial markets to a changing world. 41. Acesso em www.innovestgroup.com 8 Friend, Gil. 200 .Truth and transparency. The why and how behind world-class corporate environmental reporting. Green@work Jan(Feb)03. 27-33. http:// www.natlogic.com/Articles/ROIofCSR.pdf 9 http://www.sustainablemeasures.com./Training/Indicators/ index.html 10 Global Reporting Initiative. 2000. Sustainability Reporting Guidelines on Economic, Environmental and Social Performance. 53 pp. www.globalreporting.org GRI 2002. Sustainability Reporting Guidelines. 97 pp. Mesma fonte. 11 GEMI. 2004. Clear advantage: building shareholder value. 46 pp. http://www.gemi.org/ GEMI%20Clear%20Advantage.pdf 12 ver Documento de discussão da Federation des Experts Comptables Europeens 2000. http://mail.fee.be/website/ fee_publication.nsf/face3387ce2ea3b6c1256998003c46ac/ ad2814c15af2d43ec12569a1002eb62f ?OpenDocument NOTAS ¹ Ver Furtado, J.S. 2003. Gestão com Responsabilidade Socioambiental. Ferramentas e tecnologias socio-ambientais. 68 pp. Acesso livre em www.teclim.ufba.br/jsfurtado; e Reporting frameworks www.denr.sa.gov.au/reporting/frameworks.html 2 GRI. 2002. Sustainability Reporting Guidelines. 97 pp. 172 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS GLOSSÁRIO E ABREVIATURAS Análise da Intensidade de Material – AIMA (MAIA Material Intensity Analysis) fornece coeficientes de ingresso de materiais que servem como informações sobre as pressões ambientais básicas, associadas com a magnitude da extração de recursos e subseqüente fluxo de material que culmina como resíduo e emissão. Antroposfera – área da ecosfera habitada e sob a influência de comunidades humanas. Subsistema termodinâmico, auto-organizável, aberto a fluxos de materiais, energia ou a ambos. Aproveitamento (de resíduo) para energia por incineração – destruição térmica de massa do resíduo, para fins de geração de energia, na mesma planta ou em outra instalação. Auditoria ambiental - levantamento completo e documentado de informações, através de pareceres independentes, para verificação e certificação ou reconhecimento formal das operações da organização, de modo sistematizado, disciplinado, em relação à efetividade da gestão de riscos e dos processos de controle. São considerados, em especial, os aspectos de conformidade legal, finanças e economia, contabilidade, responsabilidade civil, gestão administrativa, de fornecedores, responsabilidade ambiental e social. Avaliação do Ciclo-de-Vida – ACV - (i) “O processo para avaliar a carga (burden) ambiental associada com o produto, processo ou atividade, através da identificação e quantificação da energia e materiais usados e resíduos para o ambiente; para acessar os impactos da energia e dos materiais usados e liberados no ambiente, e para identificar e avaliar as oportunidades para afetar o aprimoramento ambiental” (SETAC). (ii) Método para prever e antecipar impactos econômicos, ambientais e sociais, positivos e negativos, personalizados ou comparativos, focados na saúde humana e na qualidade dos ambientes naturais, associados com o produto, processo ou atividade, por meio da análise qualitativa e quantitativa dos materiais, água e energia usados e dos resíduos gerados para o ambiente, de acordo com a visão de ciclo-de-vida ou de sistema de produto. A ACV requer levantamentos e análises compreensivas e sistêmicas, conectando atividades ou operações, em três blocos ou etapas: (i)Inventário de entradas e saídas de energia e matérias-primas, abrangendo: extração, aquisição, armazenagem, processo de manufatura, distribuição e transporte, uso, reuso e manutenção, reciclagem, gestão de resíduos e efluentes. (ii)Análise de impacto capaz de traduzir o significado do uso de recursos e das emissões nos conseqüentes efeitos para o ambiente e saúde humana. (iii) Valoração, traduzindo o significado ou os valores relativos para os diferentes efeitos e as conclusões finais sobre os impactos analisados. Backasting - visão ideal de futuro, retorno ao presente e construção da rota para o futuro de sucesso desejado. Bluewashing (maquiagem azul) - falta de acompanhamento externo ou de divulgação pública de informações e resultados dos compromissos assumidos por Organizações, especialmente as grandes CTNs, que 173 João S. Furtado aderiram ao código de conduta Global Compact, criado pela ONU ou em parcerias com agências da ONU. Capacidade de carga ou de sustentação – Carrying capacity - Embora difícil de ser medida, traduz a capacidade de recuperação ambiental relacionada ao impacto (população x afluência x tecnologia), taxa de depleção de recursos renováveis e não-renováveis e acúmulo de resíduos perigosos no ambiente. O ponto de equilíbrio é rompido quando o crescimento da população, a depleção de recursos, ou acumulação de resíduos causam o rompimento de qualquer uma das funções de sustentação de vida na terra. Capital Construído (pelo homem) - bens materiais construídos e acumulados, a partir do uso de recursos naturais, humanos e sociais, tais como edificações, bens manufaturados e os valores físicos e monetários, bem como os direitos de propriedade industrial. Capital Humano - saúde, conhecimento, habilidades, produção intelectual, motivações, engajamento, comprometimento, reputação, liderança, capacidade para relacionamento. Capital Natural – estoques ou conjunto de recursos renováveis (bióticos), não renováveis (abióticos), fluxos de energia e os serviços providos pelo ambiente (sumidouros, regulação climática, energia renovável, ciclo de água, cadeia metabólica, recuperação do solo), de onde o homem obtém ou cria suas riquezas. Capital Social - valores e normas sociais, cultura, lazer, confiança; cooperação, aprendizagem, respeito, interações, relacionamentos (amizades, afinidades, entre outros aspectos das relações interpessoais), parcerias, cooperação; inserção econômica e ambiental, equidade, empoderamento; redes sociais, canais de comunicação, famílias, comunidades, empresas, entidades de classe, Organizações Não-Governamentais (Terceiro Setor/Setor Cívico). Caso organizacional de sustentabilidade - descrição de práticas e procedimentos relevantes envolvendo processos operacionais e melhores práticas para a sustentabilidade, integrando os aspectos financeiros, ambientais e sociais. Ciclo-de-Vida de Produto – consideração de todas as etapas envolvidas para a produção de bem ou de serviço, desde a extração de material, para produção de matérias primas, até o descarte ou destinação final do bem ou produto, também conhecido como visão “do-berço-à-cova” ou, de modo mais aprimorado, “do-berço-ao-berço”, como conseqüência do reaproveitamento do bem ou de partes deste, ao longo ou ao final do ciclo-de-vida. Código de conduta – padrões éticos; conjunto de princípios comportamentais ou padrões assumidos, de caráter voluntário e auto-declaratório de conduta. Comunidade - familiares e grupos que compartilham governança e herança cultural e histórica, localizados no entorno e demais integrantes da sociedade local, regional, nacional e planetária. Consumo - conduta ou atividade decorrente da utilização, pela população, das riquezas, materiais e artigos produzidos. Consumo eco-inteligente - uso de produtos eco-inteligentes, de acordo com os limites de sustentabilidade de recursos naturais disponíveis. 174 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS Contabilização ambiental – registro de custos tangíveis provocados por efeitos, danos ou ônus sobre o ambiente e a sociedade, abrangendo os custos privados ou internos e os custos sociais ou as externalidades. Contabilização total - inclusão, nos custos, de todas as despesas financeiras e externalidades sociais e ambientais para a formação do preço total (full cost pricing). Controle democrático - esforço organizado para aumentar o controle sobre os recursos e instituições reguladoras em uma situação social, de parte de grupos ou movimentos dos excluídos de tais controles. Controle democrático da informação - Acesso às informações sobre questões que dizem respeito à segurança e uso de processos e produtos, por todos os interessados, inclusive as emissões e registros de poluentes, planos de redução de uso de produtos tóxicos e dados sobre componentes perigosos de produtos. Este princípio tem recebido crescente atenção de parte de governos de países desenvolvidos, como é o caso da legislação do direito de saber – o RTK - Right to Know, nos EUA. O TRI Toxic Release Inventory, obrigatório nos EUA, é produto da legislação de RTK. Em vários países, o sistema equivalente é denominado de PRTR Pollutant Release and Transfer Register (RETP Registro de Emissões e Transferência de Poluentes). Controle Integrado de Processo e Produto (CIPP) – operações de controle de práticas e procedimentos orientados para o aprimoramento contínuo de produtos e serviços proporcionados por produtos, fundamentado na Avaliação do Ciclo-de-Vida e com o propósito de reduzir os impactos para o homem e o ambiente em todos os estágios do Sistema de Produto. Corporação - (i) organização formada por pessoas do mesmo credo ou profissão, sujeitas à mesma regra ou estatutos, para um fim comum; (ii) corpo ou quadro artificial, legalmente constituído, com direitos, poderes, privilégios, mas que protege, individualmente, os proprietários (acionistas e investidores) de ações civis e danos financeiros além dos valores individualmente investidos; e (iii) Corporação Transnacional, como grupo ou empreendimento que controla patrimônios (fábricas, minas, escritórios de vendas e assemelhados) em dois ou mais países. Corporação Transnacional - grupo ou empreendimento que controla patrimônios (fábricas, minas, escritórios de vendas e assemelhados) em dois ou mais países. Crescimento – acumulação de bens materiais e financeiros – e desenvolvimento – aquisição qualitativa de bens tangíveis e intangíveis, inclusive os espirituais e sustentabilidade é relacionada a justiça social de longo prazo, intra, inter e transgerações. Custos privados ou internos - dispêndios derivados de atividades das próprias organizações produtoras de bens e serviços que incidem sobre o negócio ou pelos quais o negócio possa ser responsabilizado. Custos sociais ou externalidades - despesas impostas aos consumidores e ao ambiente, para os quais o negócio não pode ser legalmente imputado. Demanda Material Total – TMR - Total Material Requirement – volume total acumulado de material primário usado pelo sistema produtivo do país, representado por recursos extraídos dos estoque naturais 175 João S. Furtado nacionais e importados de outras partes do mundo. Descarte - operação de gestão de resíduos, envolvendo a coleta, a triagem, o transporte, o tratamento, bem como o armazenamento e depósito à superfície ou enterrado. Desenvolvimento Sustentável - a aquisição quantitativa e qualitativa de bens e serviços providos pela natureza, para atendimento das necessidades dos atuais integrantes de todos os setores da sociedade humana – sem comprometer o direito das gerações futuras de disporem de bens e serviços naturais para atenderem a suas próprias necessidades (Comissão Brundtland, em 1987). Processo intra, inter e transgeracional de desenvolvimento integrado econômico, social e ambiental, quantitativo e qualitativo, que deve ser praticado por todos os integrantes da sociedade humana e que (i) respeita, adota e aprimora os princípios e os limites biogeofisicoquímicos naturais para a produção de bens e serviços naturais providos pelo Planeta e (ii) distribui justiça social para todos. Design para o ambiente (Ecodesign) - concepção de projetos de produção de bens, serviços e infra-estrutura com maior eficiência, eficácia e efetividade ambiental, ou com o mínimo de consumo de materiais, de energia e de geração de resíduo, durante todo o ciclo-de-vida do produto. DpA fica na interseção de duas grandes linhas de força. De um lado, qualidade total, desenvolvimento integrado de produto; do outro, gestão supervisionada (stewardship) e arrumação e registro do ambiente (housekeeping)e prevenção da poluição. Para isso, são utilizadas, entre outras, as ferramentas e estratégias mencionadas a seguir: análise de ciclo-de-vida (avaliação de desempenho ambiental e de custos); devolução garantida (take back e recompra); eficiência econômica da remanufatura; emissão zero; engenharia reversa, análise de falhas e logística reversa; estimativa de riscos ambientais de componentes individualizados do produto e processo; menor intensidade material por serviço ou função; oportunidade de recuperação e reutilização de materiais; previsão para desmontagem e reciclagem; reutilização de partes na fase pós-consumo de produtos. Dimensão ambiental – conservação e qualidade dos estoques de recursos renováveis, extensão de vida útil dos não renováveis e sustentação dos serviços naturais, como clima, recuperação de fertilidade do solo, garantia da cadeia de nutrientes, etc.; cargas, impactos e danos físicos, químicos, biológicos sobre meios naturais, com conseqüências para a saúde humana e qualidade dos ecossistemas naturais, representados por bens e serviços naturais. Dimensão econômica – valores econômico-financeiros tangíveis e intangíveis agregados; prosperidade e aquisição de bens materiais e financeiros por todas as partes interessadas (stakeholders), aqui incluídos os acionistas (shareholders) e investidores nas Empresas de negócios. Dimensão social: bem-estar e justiça social (equidade e inserção) das pessoas, individualmente ou em comunidades; alimentação; abrigo; saúde e atendimento médico; educação; desenvolvimento econômico; relacionamentos e interação social, senso de pertinência e enriquecimento espiritual. Disposição final – deposição dos resíduos em solo previamente preparado de locais devidamente licenciados para recebê-los, de acordo com critérios técnicoconstrutivos e operacionais, em consonância com as 176 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS exigências dos órgãos ambientais competentes. Ecodesign – ver Design para o Ambiente Ecoeficiência - “entrega de bens e serviços em bases preço-competitivas, de maneira a satisfazer as necessidades humanas, trazer a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, reduzir, progressivamente, os impactos ecológicos e a intensidade de uso de recursos, através do ciclo-de-vida, pelo menos no nível estimado da capacidade de sustentação (carrying) da terra” (WBCSD). A ecoeficiência resulta da equação Valor do produto ou serviço (numerador), dividido pela Influência ambiental (denominador), traduzindo a proposta de fazer ou produzir mais, com menos uso de recursos ambientais a partir de processos economicamente mais eficientes. IMPS Intensidade de Material (inclusive energia) por Unidade de Serviço - MIPS- Material (plus Energy) Intensity per Unity Service (Utility) constitui a medida para estimar o potencial de estresse ecológico de bens e serviços, segundo a visão do-berço-à-cova ou de Sistema de Produto, em níveis micro e médio, desde que as informações eco-toxicológicas específicas dos materiais estejam disponíveis. A IMPS é calculado em relação à massa por unidades totais de serviço liberado pelo produto, durante toda a vida útil, segundo a visão de sistema de produto ou do-berço-à-cova. O cálculo da IMPS baseia-se nos fluxos de materiais e de ingresso (input) de energia, levando-se em conta toda a matriz energética envolvida. O conceito leva em conta os componentes materiais, energia e terra e refere-se a produtos como se fossem equipamentos liberadores de serviços (service delivering), utilidades ou funções, usual-mente por período maior do que o número indicado nas instruções de uso e garantias. Indicador - unidade de medida ou elemento infor- mativo – de natureza física, química, biológica, econômica, social ou institucional - representado por um termo ou expressão que possa ser medido, ao longo de determinado tempo, para caracterizar ou expressar os efeitos e tendências e avaliar as inter-relações entre os recursos naturais, saúde humana e a qualidade ambiental (dos ecossistemas). Índice Genuíno de Progresso – IGP – indicador de valor per capita da condição econômica e socioambiental da sociedade humana, que incorpora custos pessoais de consumo, os fatores que afetam a qualidade de vida e os custos ambientais representados pela degradação do Capital Humano, Capital Social e Capital Natural de curto e longo prazo. Intensidade de Material Total - IM Total - total de material requerido pelo produto acabado e necessário para a entrega do serviço prestado pelo produto ou para o qual o produto foi concebido. Intensidade de Superfície por Unidade de Serviço ISPS - superfície da terra necessária para o provimento de recurso natural para a oferta de determinado produto. Interessados ou partes interessadas - todas as partes ou agentes que afetam ou são afetados pelas atividades da Organização, incluindo-se os acionistas e investidores (shareholders ou stockholders). Interface econômico-ambiental: fatores de ecoeficiência na produção de bens e serviços, agregação de valor econômico-financeiro para a Organização, responsabilidade e transparência. Interface econômico-social: inserção econômica, 177 João S. Furtado através de emprego, distribuição justa de riqueza, oferta de bens e serviços para necessidades sociais, educação de colaboradores e contratados, acesso de fornecedores minoritários aos mercados e de doações. Interface econômico-socioambiental: fatores integrados das três dimensões, tais como – acesso público à informação; compromissos para a sustentabilidade, proteção e conservação da biosfera; mudança climática e temas correlatos; planejamento econômico-socioambiental; poupança e conservação de energia e água; prevenção de emissões de resíduos; prevenção e gestão de riscos; processos e produtos amigáveis ou socioambientalmente responsáveis; regulamentação ampliada para responsabilidade por passivos causados por produtos e serviços; transparência e Responsabilidade Socioambiental Total; uso sustentável de recursos naturais. Interface socioambiental: impactos sociais causados por fatores ambientais, derivados do sistema de produção (fome, pobreza, favelização, doenças de base ambiental) e impactos ambientais decorrentes de comportamento social e de consumo (geração de lixo, depleção de recursos e comprometimento de serviços ambientais). Jusante (downstream) - situação, posição ou localização descendente, via de regra usada para indicar – no fluxograma ou esquema produtivo – as últimas fases ou etapas relacionadas à distribuição, venda, consumo, descarte e destinação de embalagens, restos de produtos ou produtos ao final da vida útil. Ver Montante. Limites de Emissões (thresholds) – padrões, medidas, estimativas, índices e outras referências indicativas de quantidades, medidas e outros indicado- res mensuráveis de liberação ou de impactos causados pela liberação de não-produtos para o ar, água e solo. Macro-objetivo sustentável: objetivo de larga escala, grande volume ou de alcance de longo prazo, alinhado ao conceito de DS em suas dimensões econômica, ambiental e social. Marco de referência (benchmarking) - exemplo, caso ou situação de sucesso ou de insucesso, usado para fins comparativos de procedimentos, processos produtivos, bens e serviços. Matéria-prima - bem material, insumo, componente ou elemento usado no processo produtivo, que se incorpora ou não ao produto intencionado e que se apresenta: i. nos estados físico, químico, biológico, (a) individualizado ou (b) sob diferentes combinações desses ii. na condição como foi extraído da natureza, de origem abiótica (não renovável) ou biótica (renovável) iii. como fruto do processamento industrial de recursos naturais bióticos , abióticos, individualmente ou combinados iv. como derivado de: síntese química;. cultivo biológico em sistema fechado; cultivo aberto extensivo ou intensivo, sob manejo controlado; extrativismo em larga escala. Melhores Técnicas Disponíveis ( BAT Best Available Techniques) – técnicas ou tecnologias economicamente viáveis e socioambientalmente adequadas. Em geral, são casos de fim-de-tubo. Missão – razão de ser ou intenção original do funda- 178 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS dor da organização; ou tipo de atividade praticada. Montante (upstream) – situação, posição ou localização ascendente, via de regra usada para indicar – no fluxograma ou esquema produtivo – as primeiras fases ou etapas relacionadas à fonte de matéria-prima e entrada desta na manufatura. Ver Jusante. Não-discriminação - conduta ou política organizacional e o monitoramento de práticas de não distinção, para efeito de trabalho e outros aspectos do relacionamento com todas as partes interessadas, em razão de educação, cultura, raça, cor, gênero, sexo e etnia. Negócio ou atividade - transações, acordos, contratos, ajustes e procedimentos administrativos e produtivos, relacionados à Missão da Organização. Negócios convencionais ( business as usual ) atividades gerenciais, produtivas e negociais, da maneira como são conduzidas atualmente, geralmente em conformidade com práticas legais e voluntárias baseadas em modelos de comando-e-controle, fim-de-tubo, conformidade legal, e bottom line financeiro. Objetivo – o que se pretende fazer; espaço ou distância entre a realidade presente e a esperada; resultados tangíveis (métricos) ou intangíveis (valores indiretos, contextuais ou potenciais) esperados. Organização - Todo e qualquer conjunto de pessoas ou de comunidades que mantenha o inter-relacionamento regular das partes que formam a composição e estrutura. Organização Não Governamental – Organização jurídica constituída para realizar atividades de interesse social e ambiental, sem fins lucrativos, através do emprego de recursos privados e dedicados a ações complementares ou que não estejam sendo satisfatoriamente realizadas por agentes públicos ou privados. Padrão de excelência - produção, fornecimento e consumo de produto que reduz o uso de recursos, energia e água e otimiza a função para o qual o bem ou serviço foi desenhado, eliminando ou reduzindo ao máximo os impactos maléficos e potencializando os benéficos, durante todo o ciclo de vida do produto. Padrões internacionais - documentos elaborados e aprovados por comitês devidamente credenciados, que acabam sendo reconhecidos e usados, de modo obrigatório ou voluntário, a partir da padronização de conceitos, princípios, regras, procedimentos e outros detalhes metodológicos. Normas e padrões nacionais que passaram a ser adotadas internacionalmente, como nos casos de documentos emitidos pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA e as diretivas ambientais da União Européia, o National Center for Standards and Certification Information dos EUA e ações semelhantes em outros países industrialmente desenvolvidos ou organismos regionais. Códigos Voluntários de Conduta, como Atuação Responsável dos fabricantes de produtos químicos do Canadá e EUA; certificação florestal na cadeia de custódia; agricultura orgânica e rotulagem ambiental. As normas certificadas, como as criadas por organismos pára-governamentais, como: European Community’s Eco-Management and Audit Scheme (EMAS) e ISO Série 14000. Passos naturais – The Natural steps - arcabouço ou estrutura de princípios baseado em leis naturais ou em passos interessantes e constantes, reconhecendo-se 179 João S. Furtado que (a) sempre que um ser vivo produz alguma coisa, está utilizando material, energia, estruturando materiais e dispersando matéria e energia na biosfera e que (b) o ser vivo, conseqüentemente, desorganiza e organiza situações e condições, na medida em que desempenha suas funções. Passos recomendados para prevenir a acumulação de poluentes na natureza: menor uso de depósitos subterrâneos minerais (inclusive combustíveis fósseis) e menor depósito de resíduos na superfície (crosta da terra); menor volume de depósito na natureza, de substâncias produzidas pela sociedade; menor uso de substâncias artificiais, de acumulação persistente (não decompostas biologicamente); garantia de maior diversidade e capacidade dos ecossistemas; prevenção da deterioração sistemática da base física para a produtividade e diversidade da natureza; redução da necessidade de energia. Pegada ecológica - PE – Ecological footprint – o quanto de serviço (função ou utilidade) bio-reproduzível precisa ser provido, pelo Capital Natural, a fim de garantir o padrão de vida na escala avaliada – individual, familiar, urbana, regional ou global. A PE não expressa medições energéticas, econômicas ou monetárias, mas expressa a área ou superfície eco-produtiva (ecoespaço), em metros quadrados (representados por ares ou hectares) necessários para prover bens bióticos para garantia do padrão de consumo humano. Por isso, a PE constitui a popularização do modelo da capacidade de sustentação ecológica e dos conceitos de FE Fardo Ecológico (Ecological Rucksack), este calculado pela IMPS Intensidade de Material por Unidade de Serviço e CMT Consumo Material Total Per Capita, fundamentados na distribuição justa da produção e consumo de bens e serviços naturais. PE é, portanto, um conceito geral que considera que a tecnologia e comércio ambientais não expandem a capacidade de sustentação da terra, mas desloca, de uma região para outra, os efeitos do aumento de consumo. Assim, serve de indicador para desigualdades sociais e econômicas entre as nações, a partir do momento em que países pobres exportam bens para os ricos, acompanhados de deslocamentos rurais para zonas urbanas, agricultura insustentável, sem remuneração justa e benefícios para os habitantes locais, aumento de desempregos ou subempregos, entre outras basicamente, a questão da geração de resíduos poluentes e aceita, com freqüência, medidas para minimização ou redução de emissões; não aborda o consumo exagerado de água e energia e não questiona o modelo de fim-de-tubo (end-of-pipe). Princípio da integração – visão holística do sistema de produção de bens e serviços, com o uso de ferramentas como a ACV - Avaliação do Ciclo-de-Vida (abordado em tópico próprio). Princípio da Precaução – não uso de substâncias, produtos e processos capazes de ou com potencial para causar risco ou dano sério ou irreversível, diante de incertezas ou na ausência de certeza científica formal. Pelo Principio da Precaução, o ônus da prova fica por conta do proponente e não para as vítimas. Princípio da Prevenção(Prevention Principle) – consiste em substituir o controle de poluição pela prevenção da geração de resíduos na fonte, evitando a geração emissões perigosas para o ambiente e o homem, ao invés de “curar” os efeitos de tais emissões. A aplicação do Princípio está prevista na legislação do Brasil, de acordo com a Lei nr. 6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 2º. Processo produtivo – Conjunto de práticas, meios e recursos para a produção de bens e serviços (produ- 180 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS tos), envolvendo a integração de funções gerenciais (management) e manufatureiras, a partir de procedimentos, instrumentos, equipamentos, recursos (financeiros, humanos, matérias primas, água, energia), técnicas (habilidades humanas), tecnologia (combinação do trabalho e saber humano, meios e materiais, para saber o que fazer e como fazê-lo), entre outros. Processos gerenciais ou operacionais – atividades operacionais internas e externas, para gestão administrativa e de produção de bens e serviços apropriados para o desempenho estratégico desenhado. Produção Limpa (PL Clean Production) e Produção Mais Limpa (Cleaner Production) – são modelos de gestão para produção e consumo sustentáveis de bens e serviços, que adotam a visão do-berço-àcova. Os dois modelos foram propostos no final da década de 80, respectivamente pela Greenpeace e PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Desde então, vêm sendo adotados por organizações privadas, governamentais e não-governamentais que buscam padrões mais elevados de produção. PL e P+L são opções de escolha para substituição do modelo clássico de controle da poluição (fimde-tubo). Mas, PL supera a P+L, do ponto de vista tecnológico, ambiental e social. O PNUMA invoca a prevenção, mas, utiliza os termos “redução e minimização” de resíduos e leva em conta os aspectos a seguir: processo – conservação de materiais, água e energia; eliminação de materiais tóxicos e perigosos; redução da quantidade e toxicidade de todas as emissões e resíduos, na fonte, durante a manufatura. produto - redução do impacto ambiental e para saúde humana, durante todo o ciclo, desde a extração da matéria-prima, passando pela manufatura, consumo/ uso e disposição/descarte final. P+L incorpora os princípios de prevenção e visão integrada (através da avaliação do ciclo de vida do produto). Segundo a Greenpeace, PL é a aplicação sistemática de princípios que permitem satisfazer as necessidades da sociedade por produtos ambientalmente corretos, através do uso de sistemas de energia eficientes e renováveis e materiais que não ofereçam risco, nem ameacem a biodiversidade do planeta. Processo - atóxico, energia-eficiente; utilizador de materiais renováveis, extraídos de modo a manter a viabilidade do ecossistema e da comunidade fornecedora ou, se não-renováveis, passíveis de reprocessamento atóxico e energia-eficiente; não poluidor durante todo o ciclo de vida do produto; preservador da diversidade da natureza e da cultura social; promotor do desenvolvimento sustentável. Produto - durável e reutilizável; fácil de desmontar e remontar; mínimo de embalagem; utilização de materiais de reciclados e recicláveis. Reciclagem atóxica e efetiva, quanto ao consumo de água e energia. PL leva em conta os princípios de prevenção, precaução, visão integrada, direito público de acesso à informação e controle democrático da tecnologia, em relação a questões de segurança e uso de processos e produtos. Produto (bem ou serviço) – resultado do processo produtivo, desenhado e oferecido para consumo ou uso, em diferentes etapas da cadeia de valor ou para consumo ou uso final, no ambiente público, com a intenção especificada para desempenhar ou prover função ou funções que atendam às necessidades de beneficiários, usuários e consumidores ou de processos produtivos intermediários, em diferentes níveis e momentos da cadeia de negócios ou de valor. Nesse contexto, há de se considerar os conceitos de 181 João S. Furtado bem material – produto de composição fisicoquímica ou fisicoquimicobiológica; e de serviço – procedimentos ou atividades humanas para realização de funções, com ou sem o emprego direto de bens materiais. Produto eco-inteligente – manufatura de serviços e produtos preço-competitivos, que proporcionam o máximo possível de utilidades ou funções, em termos de preferências de consumidores individuais, pelo tempo mais longo possível e com o mínimo uso de material natural, energia, área de superfície (terra) e dispersão de materiais tóxicos, de acordo com a visão doberço-à-cova e do-berço-ao-berço. Características de Produtos Eco-inteligentes: (i) número mais alto possível de unidades de serviços de produtos (equipamentos de distribuição de serviços ou utilidades ou funções), durante a vida útil, em substituição à obsolescência programada; (ii) número menor possível de ingresso continuado em processos, produtos e serviços; (iii) mais baixo possível ingresso continuado de energia em processos, produtos e serviços; (iv) menor uso possível de superfície de terra por unidade de serviço e (v) mínima dispersão de tóxicos. Proposta Organizacional de Sustentabilidade intenção, sugestão ou recomendação, de caráter geral, para a inclusão ou inserção de conceitos, princípios, práticas ou instrumentos do paradigma de DS ou Sustentabilidade nos procedimentos operacionais regulares ou padronizados da Organização. Em certas situações, o termo Proposta poderá ter a assunção de Projeto, mas deverá ser reconhecido como processo continuado e de longo prazo. Reciclagem – Reaproveitamento do material do qual o resíduo é composto, para a mesma finalidade ou para finalidades distintas de uso. Recuperação – transformação térmica, química, física ou biológica, singular ou combinada do material do qual o resíduo é constituído, visando o seu aproveitamento para o mesmo fim ou para finalidades diferentes, bem como para produção de energia para uso diretamente no mesmo processo ou em processo distinto. Redução ou minimização – diminuição quantitativa de volume, de toxicidade, de periculosidade, individualmente ou de forma combinada, de resíduos gerados. Relatório de desempenho socioambiental – produção e divulgação de relato de dados e informações sobre a condutas, práticas, metas, objetivos, alvos, focos e respectivos resultados, para atendimento das expectativas e interesses de todas as partes (stakeholders e shareholders), com base em princípios de Responsabilidade Socioambiental Total. Relatório de ecoeficiência – relatório de desempenho econômico e ambiental, com foco nas características e desempenho de processos e produtos. Relatório de Impacto Ambiental – relatório contendo informações da Avaliação de Impacto Ambiental. Relatório de Resultado Final Tríplice – relatório de base tríplice, econômica, ambiental e social, alinhado aos princípios e práticas de Desenvolvimento Sustentável. O mesmo que Relatório de Sustentabilidade e de Relatório de Desenvolvimento Sustentável. Resíduo (não-produto) – qualquer substância, material ou objeto, inclusive embalagem, perda de energia e água, resultante de processo de produção, manipulação, transformação, utilização ou consumo de bens e serviços, cuja gestão, produção, armazenagem, trata- 182 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS mento, transporte, descarte, destinação, eliminação, prevenção na fonte, reaproveitamento, recuperação e outras formas de gerenciamento que o detentor deve proceder, se propõe a proceder ou está obrigado a proceder, por força de disposições nacionais em vigor. Reutilização ou reuso – emprego direto do resíduo – na forma original – para o mesmo tipo de uso para o qual foi originalmente concebido, assegurando-se, quando necessário, tratamento destinado ao cumprimento das normas ambientais e de saúde pública. Responsabilidade Socioambiental – dever ou obrigação de responder – perante a todos os interessados (stakaholders), além dos investidores (shareholders) – por atos, atitudes, processos produtivos, bens e serviços uma vez introduzidos no ambiente público. Obrigação, caráter ou estado de toda e qualquer Organização de responder, a todos os interessados, pelas conseqüências de atitudes, processos e produtos introduzidos no meio público. Riqueza - coisas ou situações que as pessoas valorizam, como emprego, educação, acesso à informação, saúde, segurança, liberdade, direito de escolha, qualidade social e ambiental, participação, laser e equidade. A riqueza da pessoa é representada pelo acesso individual aos bens e serviços. A riqueza da nação é definida pela totalidade dos bens e serviços acessíveis à sua população Responsabilidade Socioambiental Total (accountability ) – exercício pleno da Responsabilidade Socioambiental, com transparência, capacidade e qualidade de resposta (respondência), conformidade e verificabilidade (auditoria independente), perante todos os interessados. Resultado Final- Bottom Line - lucro; última linha do balancete; diferença entre receita e despesas Resultado Final Tríplice (Triple Bottom Line) – combinação das últimas linhas dos balancetes econômico-financeiro, ambiental e social. O uso do conceito incorpora a equidade social, desempenho econômico e responsabilidade ambiental e expande o paradigma de Responsabilidade Social Corporativa. A adoção do conceito faz com que a organização deva planejar, programar, executar, avaliar e relatar seu desempenho em relação a três tipos de investimentos: Capital Natural, Capital Humano ou Social e Capital Construído, físico ou financeiro. Rotulagem ambiental - sistema de avaliação de processo e de produtos, com ou sem concessão de selo ou rótulo para identificar benefícios ambientais (desempenho, características), per se ou comparativamente a processos e produtos similares ou alternativos. São iniciativas nacionais, em geral com a participação de órgãos governamentais, que estabelecem exigências tecnológicas e ambientais, combinadas. Ações neste sentido foram iniciadas pela organização norte-americana Green Seal e passaram a ser lideradas pela rede mundial de rotulagem ambiental - GEN Global Ecollabeling Network, sob os seguinte princípios: ausência de fins lucrativos; independência e inexistência de interesses comerciais; inexistência de conflito de interesses com as fontes de sustentação financeira; orientação e manutenção de consulta aos agentes econômicos; utilização de logomarca sob proteção legal; instituição de critérios restritivos para concessão de selos, com base na visão global da vida do produto; revisão periódica e atualização. Sistema de Gestão Ambiental – SGA – conjunto sistematizado de operações administrativas estruturadas, 183 João S. Furtado envolvendo todas as atividades da organização, as práticas em uso e os recursos disponíveis e utilizados para gerenciamento das questões, impactos e efeitos ambientais resultantes das operações produtivas de bens e serviços. A criação do SGA implica, especialmente quando objeto de certificação, na identificação das cargas poluentes, nos impactos e danos causados ao homem e ambiente em geral, na identificação e atribuição de responsabilidades, na avaliação periódica dos resultados e no compromisso de melhora progressiva do padrão de responsabilidade ambiental. O SGA deve incorporar alvos qualificados e quanti-ficados, para redução sistemática de impactos e efeitos, a definição de plano para alcançar os resultados e a divulgação ampla e pública de resultados. Por essas e outras razões, o SGA é algo muito mais amplo do que o Sistema de Qualidade. Sistema de produto - integração de design (concepção e projetação), manufatura e processos de suporte, levando em consideração fatores de confiabilidade, sustentabilidade e competitividade no mercado, levando-se em consideração o conceito de sistema e com a inserção de paradigmas e ferramentas como: visão doberço-à-cova, ou seja, da fonte de matérias primas ao descarte e, segundo proposta mais avançada, do-berço-ao-berço, Avaliação do Ciclo-de-Vida do Produto, Análise de Ciclo-de-Vida, Ecobalanço, Análise da Linha de Produto e Gestão integrada da cadeia. A estratégia de design do processo pressupõe o fechamento de ciclos (loopings), visando a prevenção (ideal) ou minimização (geralmente praticada) da geração de resíduos, especialmente os perigosos, e a poupança de água e energia, olhando-se os fluxos (a) ascendentes ou a montante (upstream) - da fonte de matérias primas ao produto e (b) e descendentes ou a jusante (downstream) da distribuição à destinação final de embalagens e res- tos pós-uso ou pós-consumo. Socioambiental – integração de aspectos e relações de causa-e-efeito sociais e ambientais, resultantes de impactos (maléficos ou benéficos) derivados do modelo de produção de bens e serviços e que afetam a saúde e qualidade de vida da sociedade humana e dos ecossistemas naturais. Stewardship – código ou procedimento padronizado de gestão supervisionada para qualidade, saúde, segurança e ambiente como parte integral de design de processo e produto, manufatura, marketing, distribuição, uso ou consumo (modos e conseqüências) de produtos comercializados, descarte (tipos e conseqüências) e destinação ambiental (efeitos ou impactos). Sustentabilidade – neste texto, o mesmo que Desenvolvimento Sustentável. Sustentabilidade ambiental – qualidade de processos que garantem, conservam e mantêm - indefinidamente os limites biogeofisicoquímicos naturais necessários para a produção de bens renováveis, a extensão de vida útil dos não-renováveis e a qualidade dos serviços naturais como clima, recuperação da fertilidade do solo, biorecuperação de áreas degradadas, bioconversão de despejos e restos depositados na superfície. Sustentabilidade atual – qualidade da conduta presente da organização em relação ao conceito e ao emprego de práticas de Desenvolvimento Sustentável. Sustentabilidade Corporativa - ver Sustentabilidade organizacional. Sustentabilidade ecológica – qualidade das trocas e interações entre a sociedade humana os demais com- 184 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS ponentes ambientais, respeitando, aplicando e aprimorando os princípios e os limites biogeofisicoquímicos naturais que determinam a sustentabilidade do Planeta. Sustentabilidade futura – qualidade da visão ou proposta de desempenho organizacional, enfocadas ou orientadas para o Desenvolvimento Sustentável. Sustentabilidade humana e social – qualidade das condutas individuais e comunitárias, que garantem a sobrevivência da espécie humana, das instituições e organizações sociais – indefinidamente – respeitando os limites naturais do Planeta para o provimento de bens e serviços, com qualidade de vida, equidade e justiça social. Sustentabilidade organizacional ou corporativa – natureza e qualidade dos processos gerenciais e produtivos que permitem e garantem que a organização consiga manter-se, competitivamente e por tempo indeterminado, em sua área de atividade ou de negócios, respeitando e inserindo os princípios de Desenvolvimento Sustentável em suas operações e no relacionamento com todos os interessados. Sustentável – qualidade de defensável, suportável, capaz de ser mantido e preservado, se determinadas condições ou recursos não forem depletados, debilitados ou danificados permanentemente. Processo contínuo, de longo prazo, capaz de impedir a ruína de determinado sistema ou de conjunto de bens e meios, através da garantia de acesso e de reposição de bens e serviços. Permanência de longo prazo que demanda, conseqüentemente, a conservação da mesma ou de melhor posição, a reposição ou o desenvolvimento de recursos intra, inter e trans-gerações. Tática – forma como os recursos são manejados du- rante as ações. Tecnologia socioambiental – conjunto de conhecimentos científicos e empíricos, seqüência de operações, recursos materiais e instrumentais, técnicas e procedi-mentos para construir ou aprimorar processos, bens e serviços em escala econômica, de natureza organizacio-nal ou comercial, em diferentes setores ou atividades humanas, aplicáveis a processos de gestão ou de produção de bens e serviços, e que desempenha papel direto ou indireto no aprimoramento da qualidade socioambiental. Valores – direcionadores de conduta pública e operacional; padrão, aspectos, pontos ou posições defendidas; conjunto crenças, princípios e motivos normativos de conduta, declarados interna e publicamente, que determinam e revelam como as pessoas – individualmente ou em grupos – devem se comportar e agir, em relação à Missão, Visão, planos, programas, projetos ou qualquer atividade. Visão – motivação que mantém a organização no caminho de futuro e expressa pelo que a organização é, deseja ser e em que deverá tornar-se. Visão de sustentabilidade – declaração majestosa, visionária, de forma simples, clara, objetiva, pertinente, relevante, e que sirva para nortear as práticas de sustentabilidade em todos os procedimentos e em todas as operações na Organização. Visão integrada ou holística – consideração de impactos multimeios, na cadeia de valor, segundo o sistema de produto do-berço-ao-berço Whitewashing – maquiagem mercadológica com base em práticas irregulares. 185 João S. Furtado SDO - substâncias depressivas de ozônio WBCSD World Business Council for Sustainable Development ABREVIATURAS ACV – Avaliação do Ciclo-de-Vida BDO - Demanda de Oxigênio CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável COD - Consumo de Oxigênio CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente COV - Compostos Orgânicos Voláteis CTN - Corporação Transnacional DBO - Demanda Bioquímica de Oxigênio DpA - Design para o Ambiente DQO - Demanda Química de Oxigênio DS - Desenvolvimento sustentável FMI - Fundo Monetário Internacional FOFA - análise de Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças, do inglês SWOT GAAP - Generally Accepted Accounting Principles GEE - Gases com Efeito Estufa GRI Global Reporting Initiative HHV - High (gross) Heating Value IASC - International Accounting Standards Committee IGP – Índice Genuíno de Progresso IPCC - International OMC - Organização Mundial para o Comércio ONG - Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas P&D - atividades de Pesquisa & Desenvolvimento P+L Produção Mais Limpa P2 Prevenção de Poluição PL - Produção Limpa PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente POPs - Poluentes Orgânicos Persistentes RDS - Relatório de Desempenho Sustentável RSA - Responsabilidade Socioambiental 186 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS 187