Confiança, a virtude social

Transcrição

Confiança, a virtude social
E STA D O D E M I N A S
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D O M I N G O ,
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J U N H O
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A N U N C I A R
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M E G A C L A S S I F I C A D O S
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MEGACLASSIFICADOSTRABALHO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
MATÉRIA DE CAPA
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO
Apartamento
mobiliado,
transporte,
alimentação e
desconto nas
atividades de
lazer atraem
profissionais
brasileiros
Depois de
temporada em
Dubai, Luzia Marilac
estuda agora a
possibilidade de se
mudar para a Índia
Benefícios superam salários
MÁRCIA MARIA CRUZ E PAULA TAKAHASHI
Temperaturas de 50 graus no verão e hábitos completamente diferentes da cultura brasileira não intimidaram a turismóloga Patrícia Barbosa da Silva, de 27 anos, a se mudar
para Dubai, nos Emirados Árabes, onde, há sete meses, trabalha na recepção de um hotel cinco estrelas, o
Grand Hyatt. Depois de se formar em
Turismo, em Juiz de Fora, e diante das
dificuldades de inserção no mercado
de trabalho, Patrícia foi em busca de
oportunidades no exterior. “É uma
grande chance de aprendizado e a experiência profissional tem acrescentado muito em minha carreira, pois
temos contato com pessoas do mundo inteiro”, afirma.
A média salarial para cargos
operacionais, como o de Patrícia, é
de cerca de US$ 600, com possibilidade de acréscimo se o profissional
souber o idioma árabe. Porém, a remuneração pode ser maior, uma
vez que são muitos os benefícios.
“Temos acomodação, transporte e
alimentação fornecidos pelo hotel”,
diz. Depois de sete meses, ela considera que já está adaptada à nova vida. “Com o tempo você começa a
entender melhor a cultura. Dubai é
uma cidade diferente. Apesar de estar em um país árabe, é mais aberta
aos turistas e estrangeiros. A cidade
tem pontos turísticos interessantes
que vêm atraindo gente do mundo
inteiro. O clima é bem quente no
verão, mas em todos lugares há arcondicionado, e as pessoas costu-
nhava transporte tanto para o trabalho como para as atividades de lazer.
Ainda tinha descontos de 30% a 70%
nas atividades de lazer, como bares,
restaurantes, clubes e agências de
viagem”, diz.
Patrícia Barbosa da Silva diz que trabalhar no exterior abre
portas para contatos com pessoas do mundo inteiro
mam ficar em lugares fechados”,
conta Patrícia.
Ela nunca tinha ouvido falar de
Dubai até assistir a um programa de
TV mostrando a grandiosidade da cidade e as oportunidades abertas pela
rede hoteleira devido ao potencial turístico da região, que ostenta, em sua
paisagem, alguns dos edifícios mais
modernos e luxuosos em todo o
mundo. “Já tinha viajado muito. Vivi
na Inglaterra e nos EUA. Então, pensei,
por que não tentar Dubai?”, lembra.
A mesma rota foi seguida pela cearense Luzia Marilac Bezerra Alves, de
22. Depois de sete meses em Dubai,
ela está avaliando a possibilidade de
MERCADO DE TRABALHO
Confiança, a
virtude social
MARCO TULIO ZANINI
Professor de gestão estratégica de pessoas e
gestão de ativos intangíveis da Fundação Dom
Cabral, doutor em management pela Universidade
de Magdeburg, na Alemanha
Muitas transações econômicas somente se realizam porque pessoas confiam umas nas outras. Confiança é sinal
de cooperação espontânea, elemento essencial para a coesão social e a produção
de riqueza. A presença de confiança aumenta a eficiência das transações, tanto
em mercados quanto nas hierarquias
das empresas. Em sociedades nas quais
as pessoas cooperam espontaneamente,
sejam de menor ou maior escala, o bem
coletivo é produzido com mais facilidade e a menor custo. Nesse sentido, estudos do Banco Mundial apontam a confiança como um indicativo da saúde da
economia de um país.
viajar para a Índia. A adaptação à vida
na Índia será mais um desafio, depois
de ter conseguido superar as diferenças culturais em um país árabe. Luzia
atuou como líder de uma equipe recreativa na Ilha Palm Jumeirah, um
empreendimento de lazer em Dubai.
Por ser mulher e jovem, atuando
em uma cultura que o respeito aos
mais velhos é um dos pilares, ela enfrentou alguns preconceitos, mas
conseguiu ultrapassá-los. “O salário
mensal era de cerca de R$ 1,5 mil,
mas os benefícios eram muitos. Eles
ofereciam apartamento completo e
mobiliado, com serviço de quarto,
como se fosse um flat. Também ga-
OPORTUNIDADES Quem trabalha na
área de tecnologia da informação tem
espaço garantido fora do país. "No primeiro trimestre desse ano, uma empresa chinesa divulgou anúncio com
13 vagas para esse segimento. Sempre
tem postos de trabalho em aberto",
afirma Rodolfo Ohl, diretor da empresa de recrutamento Monster Brasil.
Vagas nas áreas de energia, agronegócio, marketing e finanças também
não param de surgir. "No caso de finanças, a pessoa pode trabalhar em
diversos países, também tem uma
grande tendência de crescimento em
marketing", explica Adriana Cambiaghi, especialista em recrutamento da
Robert Half.
A expectativa dos especialistas é
de que o cenário, ainda nebuloso, melhore nos próximos meses e o ano termine com boas ofertas de trabalho
para os profissionais brasileiros. "Já é
perceptível que nesse segundo trimestre as empresas têm voltado a
contratar e a expectativa é de que nos
próximos meses o mercado de trabalho fora do Brasil continue aquecendo", avalia.
CRUZEIROS Para quem quer entrar
em contato com outras culturas, mas
não quer deixar as terras brasileiras, os
cruzeiros marítimos são uma ótima
opção. Para o próximo verão, pelo
menos 15 companhias deverão atracar na costa brasileira e, como uma
lei federal determina que pelo menos
30% da tripulação deve ser composta
por brasileiros, os postos de trabalho
são muitos.
Segundo Marcelo Toledo, em média são oferecidas, por temporada, cerca de 4 mil vagas. O cadastramento dos
interessados ocorre neste mês, o recrutamento será em agosto, e o trabalho
propriamente dito começa em novembro, se estendendo por todo o verão. Os interessados devem ter mais de
21 anos e muita disposição para trabalhar. “A carga horária é pesada. São 14
horas por dia, sete dias por semana,
durante seis meses.” As vagas são para
serviços operacionais, como garçons,
cozinheiros, garçonetes e também para a área da beleza, como manicure, cabeleireiros, esteticistas, entre outros.
SERVIÇO
M/Brazil Intercâmbios
Franquia Uberlândia – (34) 3210-9098
www.dubai10.com.br
Embaixada dos Emirados Árabes Unidos
www.uae.org.br
Cartilha do Ministério do Trabalho sobre
empregos no exterior
www.mte.gov.br
Hays
www.hays.com.br
Telefone: (21) 2430-6600
Monster Brasil
www.monsterbrasil.com.br
Robert Half
www.roberthalf.com.br
Telefone: (11) 3382-0100
E-mail para [email protected]
Confiança sinaliza segurança e estimula o exercício de liberdades individuais. Pode ser compreendida como
uma subclasse das situações de risco
relacionadas ao comportamento humano. Nas organizações, opera como
um mecanismo de coordenação e controle, produzido por normas sociais
formais e informais. Quando existem
relações de confiança entre as pessoas,
cresce a probabilidade de trocas e compartilhamento de informações, reduzem-se os conflitos e aumentam a satisfação e a motivação geral. Igualmente, diminuem os custos de transação
relacionados à aplicação excessiva de
instrumentos burocráticos usados para garantir que as transações ocorram
– como monitoração, controles, regras
e procedimentos formais.
Segundo estudos realizados nas organizações, ambientes de alta confiança apresentam diversas vantagens nas
relações hierárquicas, como o aumento
da satisfação e comprometimento dos
empregados, melhoria de comunicação
entre superior e subordinado, aceitação
e delegação de autoridade, exercício de
liderança, percepção de justiça nos julgamentos, menor competição interna
em negociações, legitimidade das intenções de mudança organizacional e
melhor desempenho individual e de
equipes de trabalho.
Um modelo de gestão empresarial
baseado na confiança é uma resposta
aos desafios enfrentados atualmente pelas empresas frente às necessidades de
mudança e flexibilidade organizacional,
em razão da alta competitividade e do
desenvolvimento tecnológico acelerado.
O modelo minimiza os problemas entre
agentes econômicos, pois a presença da
confiança reduz as incertezas no presente, com base nas informações de interações passadas, sinalizando como os parceiros reagirão no futuro. A previsibilidade de comportamentos aumenta a probabilidade de interações cooperativas de
longo prazo e incentiva investimentos
unilaterais das partes comprometidas
no empreendimento, permitindo a
construção do valor de forma sustentável. Portanto, podemos considerar que
as relações de confiança funcionam como um importante mecanismo para a
redução de risco comportamental dentro dos sistemas sociais.
É costume no Japão pessoas se referirem a seus melhores amigos da seguinte forma: “Somos amigos ao ponto
de poder brigar”. Essa afirmativa reflete
a dinâmica das equipes de alto desempenho em que a confiança é a base fundamental que permite a existência de
conflitos positivos. Se há confiança no
grupo, as pessoas passam a ter incentivos para expor suas melhores ideias e
contribuições à crítica alheia, sem receios de perdas e prejuízos.
Acolhe-se o erro honesto, partindose do pressuposto de que pessoas
agem por boa-fé em prol do bem comum. A possibilidade da existência do
conflito positivo, por sua vez, gera o
comprometimento recíproco entre as
partes e, consequentemente, melhores
resultados. Na linguagem da gestão, a
melhor qualidade do vínculo entre as
pessoas significa o uso mais eficiente
dos recursos humanos.
Embora caracterizamos confiança
como um estilo de gestão para as empresas, em nível individual, a construção
de relações de confiança é competência
essencial de um líder. Apesar de a palavra liderança ser empregada – e muitas
vezes mal empregada – de forma generalizada, fazendo com que se perca uma
boa parte de sua força e significado original, toda liderança autêntica é baseada
em confiança mútua. Nesse sentido, algumas recomendações podem ser valiosas para a formação de lideranças:
— Agir baseado em princípios norteadores (valores)...
— Adotar uma perspectiva de carreira de longo prazo...
— Conhecer continuamente suas
fraquezas e habilidades para se aperfeiçoar...
— Dizer sempre a verdade...
— Agir de forma íntegra e transparente...
— Evitar ambiguidades...
— Assumir a dimensão de liderança
que lhe cabe...
— Acolher o erro honesto como natural e necessário para o crescimento...
— Incentivar o trabalho em equipe...
— Rejeitar o julgamento profissional
baseado em lealdades pessoais...