Confiança, a virtude social
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Confiança, a virtude social
E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 7 D E J U N H O D E 2 0 0 9 ● P A R A A N U N C I A R N O S M E G A C L A S S I F I C A D O S L I G U E ( 3 1 ) 3 2 2 8 - 2 0 0 0 3 MEGACLASSIFICADOSTRABALHO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL MATÉRIA DE CAPA FOTOS: ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO Apartamento mobiliado, transporte, alimentação e desconto nas atividades de lazer atraem profissionais brasileiros Depois de temporada em Dubai, Luzia Marilac estuda agora a possibilidade de se mudar para a Índia Benefícios superam salários MÁRCIA MARIA CRUZ E PAULA TAKAHASHI Temperaturas de 50 graus no verão e hábitos completamente diferentes da cultura brasileira não intimidaram a turismóloga Patrícia Barbosa da Silva, de 27 anos, a se mudar para Dubai, nos Emirados Árabes, onde, há sete meses, trabalha na recepção de um hotel cinco estrelas, o Grand Hyatt. Depois de se formar em Turismo, em Juiz de Fora, e diante das dificuldades de inserção no mercado de trabalho, Patrícia foi em busca de oportunidades no exterior. “É uma grande chance de aprendizado e a experiência profissional tem acrescentado muito em minha carreira, pois temos contato com pessoas do mundo inteiro”, afirma. A média salarial para cargos operacionais, como o de Patrícia, é de cerca de US$ 600, com possibilidade de acréscimo se o profissional souber o idioma árabe. Porém, a remuneração pode ser maior, uma vez que são muitos os benefícios. “Temos acomodação, transporte e alimentação fornecidos pelo hotel”, diz. Depois de sete meses, ela considera que já está adaptada à nova vida. “Com o tempo você começa a entender melhor a cultura. Dubai é uma cidade diferente. Apesar de estar em um país árabe, é mais aberta aos turistas e estrangeiros. A cidade tem pontos turísticos interessantes que vêm atraindo gente do mundo inteiro. O clima é bem quente no verão, mas em todos lugares há arcondicionado, e as pessoas costu- nhava transporte tanto para o trabalho como para as atividades de lazer. Ainda tinha descontos de 30% a 70% nas atividades de lazer, como bares, restaurantes, clubes e agências de viagem”, diz. Patrícia Barbosa da Silva diz que trabalhar no exterior abre portas para contatos com pessoas do mundo inteiro mam ficar em lugares fechados”, conta Patrícia. Ela nunca tinha ouvido falar de Dubai até assistir a um programa de TV mostrando a grandiosidade da cidade e as oportunidades abertas pela rede hoteleira devido ao potencial turístico da região, que ostenta, em sua paisagem, alguns dos edifícios mais modernos e luxuosos em todo o mundo. “Já tinha viajado muito. Vivi na Inglaterra e nos EUA. Então, pensei, por que não tentar Dubai?”, lembra. A mesma rota foi seguida pela cearense Luzia Marilac Bezerra Alves, de 22. Depois de sete meses em Dubai, ela está avaliando a possibilidade de MERCADO DE TRABALHO Confiança, a virtude social MARCO TULIO ZANINI Professor de gestão estratégica de pessoas e gestão de ativos intangíveis da Fundação Dom Cabral, doutor em management pela Universidade de Magdeburg, na Alemanha Muitas transações econômicas somente se realizam porque pessoas confiam umas nas outras. Confiança é sinal de cooperação espontânea, elemento essencial para a coesão social e a produção de riqueza. A presença de confiança aumenta a eficiência das transações, tanto em mercados quanto nas hierarquias das empresas. Em sociedades nas quais as pessoas cooperam espontaneamente, sejam de menor ou maior escala, o bem coletivo é produzido com mais facilidade e a menor custo. Nesse sentido, estudos do Banco Mundial apontam a confiança como um indicativo da saúde da economia de um país. viajar para a Índia. A adaptação à vida na Índia será mais um desafio, depois de ter conseguido superar as diferenças culturais em um país árabe. Luzia atuou como líder de uma equipe recreativa na Ilha Palm Jumeirah, um empreendimento de lazer em Dubai. Por ser mulher e jovem, atuando em uma cultura que o respeito aos mais velhos é um dos pilares, ela enfrentou alguns preconceitos, mas conseguiu ultrapassá-los. “O salário mensal era de cerca de R$ 1,5 mil, mas os benefícios eram muitos. Eles ofereciam apartamento completo e mobiliado, com serviço de quarto, como se fosse um flat. Também ga- OPORTUNIDADES Quem trabalha na área de tecnologia da informação tem espaço garantido fora do país. "No primeiro trimestre desse ano, uma empresa chinesa divulgou anúncio com 13 vagas para esse segimento. Sempre tem postos de trabalho em aberto", afirma Rodolfo Ohl, diretor da empresa de recrutamento Monster Brasil. Vagas nas áreas de energia, agronegócio, marketing e finanças também não param de surgir. "No caso de finanças, a pessoa pode trabalhar em diversos países, também tem uma grande tendência de crescimento em marketing", explica Adriana Cambiaghi, especialista em recrutamento da Robert Half. A expectativa dos especialistas é de que o cenário, ainda nebuloso, melhore nos próximos meses e o ano termine com boas ofertas de trabalho para os profissionais brasileiros. "Já é perceptível que nesse segundo trimestre as empresas têm voltado a contratar e a expectativa é de que nos próximos meses o mercado de trabalho fora do Brasil continue aquecendo", avalia. CRUZEIROS Para quem quer entrar em contato com outras culturas, mas não quer deixar as terras brasileiras, os cruzeiros marítimos são uma ótima opção. Para o próximo verão, pelo menos 15 companhias deverão atracar na costa brasileira e, como uma lei federal determina que pelo menos 30% da tripulação deve ser composta por brasileiros, os postos de trabalho são muitos. Segundo Marcelo Toledo, em média são oferecidas, por temporada, cerca de 4 mil vagas. O cadastramento dos interessados ocorre neste mês, o recrutamento será em agosto, e o trabalho propriamente dito começa em novembro, se estendendo por todo o verão. Os interessados devem ter mais de 21 anos e muita disposição para trabalhar. “A carga horária é pesada. São 14 horas por dia, sete dias por semana, durante seis meses.” As vagas são para serviços operacionais, como garçons, cozinheiros, garçonetes e também para a área da beleza, como manicure, cabeleireiros, esteticistas, entre outros. SERVIÇO M/Brazil Intercâmbios Franquia Uberlândia – (34) 3210-9098 www.dubai10.com.br Embaixada dos Emirados Árabes Unidos www.uae.org.br Cartilha do Ministério do Trabalho sobre empregos no exterior www.mte.gov.br Hays www.hays.com.br Telefone: (21) 2430-6600 Monster Brasil www.monsterbrasil.com.br Robert Half www.roberthalf.com.br Telefone: (11) 3382-0100 E-mail para [email protected] Confiança sinaliza segurança e estimula o exercício de liberdades individuais. Pode ser compreendida como uma subclasse das situações de risco relacionadas ao comportamento humano. Nas organizações, opera como um mecanismo de coordenação e controle, produzido por normas sociais formais e informais. Quando existem relações de confiança entre as pessoas, cresce a probabilidade de trocas e compartilhamento de informações, reduzem-se os conflitos e aumentam a satisfação e a motivação geral. Igualmente, diminuem os custos de transação relacionados à aplicação excessiva de instrumentos burocráticos usados para garantir que as transações ocorram – como monitoração, controles, regras e procedimentos formais. Segundo estudos realizados nas organizações, ambientes de alta confiança apresentam diversas vantagens nas relações hierárquicas, como o aumento da satisfação e comprometimento dos empregados, melhoria de comunicação entre superior e subordinado, aceitação e delegação de autoridade, exercício de liderança, percepção de justiça nos julgamentos, menor competição interna em negociações, legitimidade das intenções de mudança organizacional e melhor desempenho individual e de equipes de trabalho. Um modelo de gestão empresarial baseado na confiança é uma resposta aos desafios enfrentados atualmente pelas empresas frente às necessidades de mudança e flexibilidade organizacional, em razão da alta competitividade e do desenvolvimento tecnológico acelerado. O modelo minimiza os problemas entre agentes econômicos, pois a presença da confiança reduz as incertezas no presente, com base nas informações de interações passadas, sinalizando como os parceiros reagirão no futuro. A previsibilidade de comportamentos aumenta a probabilidade de interações cooperativas de longo prazo e incentiva investimentos unilaterais das partes comprometidas no empreendimento, permitindo a construção do valor de forma sustentável. Portanto, podemos considerar que as relações de confiança funcionam como um importante mecanismo para a redução de risco comportamental dentro dos sistemas sociais. É costume no Japão pessoas se referirem a seus melhores amigos da seguinte forma: “Somos amigos ao ponto de poder brigar”. Essa afirmativa reflete a dinâmica das equipes de alto desempenho em que a confiança é a base fundamental que permite a existência de conflitos positivos. Se há confiança no grupo, as pessoas passam a ter incentivos para expor suas melhores ideias e contribuições à crítica alheia, sem receios de perdas e prejuízos. Acolhe-se o erro honesto, partindose do pressuposto de que pessoas agem por boa-fé em prol do bem comum. A possibilidade da existência do conflito positivo, por sua vez, gera o comprometimento recíproco entre as partes e, consequentemente, melhores resultados. Na linguagem da gestão, a melhor qualidade do vínculo entre as pessoas significa o uso mais eficiente dos recursos humanos. Embora caracterizamos confiança como um estilo de gestão para as empresas, em nível individual, a construção de relações de confiança é competência essencial de um líder. Apesar de a palavra liderança ser empregada – e muitas vezes mal empregada – de forma generalizada, fazendo com que se perca uma boa parte de sua força e significado original, toda liderança autêntica é baseada em confiança mútua. Nesse sentido, algumas recomendações podem ser valiosas para a formação de lideranças: — Agir baseado em princípios norteadores (valores)... — Adotar uma perspectiva de carreira de longo prazo... — Conhecer continuamente suas fraquezas e habilidades para se aperfeiçoar... — Dizer sempre a verdade... — Agir de forma íntegra e transparente... — Evitar ambiguidades... — Assumir a dimensão de liderança que lhe cabe... — Acolher o erro honesto como natural e necessário para o crescimento... — Incentivar o trabalho em equipe... — Rejeitar o julgamento profissional baseado em lealdades pessoais...