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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental ANÁLISE COMPARATIVA DE DADOS DE ELETRORRESISTIVDADE DE BARRAGEM DE TERRA NO MUNICÍPIO DE CORDEIRÓPOLIS - SP Pedro Lemos Camarero1; César Augusto Moreira2 Resumo – Barragens são estruturas que represam rios e córregos para diversas finalidades. Essas estruturas geralmente precisam ser robustas devido a força de represamento e os altos valores de carga de água acumulados. A constante manutenção dessas estruturas é imprescindível, uma vez que um acidente eventual pode gerar danos de proporções catastróficas. Esse estudo apresenta uma alternativa barata, de simples e rápida aplicação para analises de integridade física de barragens de terra. O método de investigação utilizado foi o método da eletrorresistivade a partir da técnica do caminhamento elétrico. Foram geradas três linhas geofísicas acima da barragem e paralelas ao eixo da barragem, espaçadas em cinco metros. Em cada linha foram utilizados 53 eletrodos espaçados a cada dois metros e, o arranjo utilizado no estudo foi o Wenner. Os resultados são apresentados a partir de imagens geofísicas 2D e 3D, indicando alto contraste de propriedades em zonas de possível infiltração e percolação (menor resistividade aparente) e a importância do processamento dos dados como análise comparativa. Abstract – Dams are structures that dam rivers and streams for a variety of purposes. These structures usually need to be robust due to damming and force the high values of accumulated water load. The constant maintenance of these structures is essential, since a possible accident can lead to damage of catastrophic proportions. This study presents an inexpensive alternative, simple and fast application to analysis of physical integrity of Earth dams. The research method used was the electroresistivity method from the electric handling technique. Were generated three lines above the dam and parallel to the axis of the dam, spaced five meters. In each row were used 53 electrodes spaced every two meters, and the arrangement used in the study was Wenner. The results are presented from 2D and 3D geophysical imaging, indicating high contrast of properties in areas of possible infiltration and percolation (less apparent resistivity) and the importance of the data processing as comparative analysis. Palavras-Chave – Barragens, caracterização geofísica, percolação. 1 2 Geól. Mestrando Universidade Estadual Paulista – UNESP, [email protected] Geól., Dr. Universidade Estadual Paulista – UNESP, (19) 3526-9322, [email protected] 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1 1. INTRODUÇÃO O represamento de corpos d´água é realizado desde os primórdios da humanidade para diferentes fins. As primeiras barragens e diques de tamanhos consideráveis são datados entre 3 a 5 mil anos (CULLEN, 1964). Dentre as várias funções das barragens, os principais propósitos são a estocagem de águas para irrigação de culturas agrícolas, e mais recentemente, na era moderna a geração de energia elétrica. Inicialmente as barragens eram construídas a partir de um aterro, ou seja, um amontoado de terra e solo, e eventualmente blocos de rochas e madeiras. Muitas vezes não havia um estudo prévio nem a execução de um projeto civil. Com o aumento da demanda por energia constante no início do Século XX houve a necessidade de obras cada vez maiores e mais ousadas. Grandes rios começaram a ser represados e juntamente com esse aumento de demanda, foi desenvolvido e aperfeiçoado técnicas específicas de construção de superestruturas de barragens. O crescimento do número de barragens, também trouxe o aumento de problemas e acidentes relacionados com a construção e manutenção dessas estruturas. Todas as barragens necessitam de manutenção constante e geralmente as barragens de menor porte e impacto não apresentam essa manutenção constante. Os principais mecanismos de rupturas associados a barragens são: piping (erosão interna pontual), galgamento da barragem e escorregamento de taludes. O presente trabalho visa utilizar a partir de métodos indiretos de investigação, por meio do método geofísico da eletrorresistividade na investigação de possíveis falhas estruturais no corpo de barragem de terra de pequeno porte no município de Cordeirópolis – SP e a importância do refinamento e processamento dos dados de campo. 2. CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA A área de estudos está inserida no contexto geológico da Bacia Sedimentar do Paraná. A geologia local é composta principalmente por rochas básicas vulcânicas da Formação Serra Geral, com manifestações vulcânicas datadas em Eocretácio (NARDY et al., 1999). Segundo Sousa (2002), a forma de ocorrência da Formação Serra Geral na região leste do Estado de São Paulo é sobre a forma de diques e sills de diabásios ou basaltos, além de alguns derrames pouco espessos. O solo de alteração das rochas é um solo argiloso do tipo Latossolo. Esse solo de alteração é o principal material de empréstimo utilizado no corpo da barragem. A partir desse contexto é apresentado o estudo geofísico. 3. METODOLOGIA / PROBLEMA INVESTIGADO No método da Eletrorresistividade, correntes elétricas artificialmente geradas são introduzidas no solo, por intermédio de um par de eletrodos denominados de A e B, e as diferenças de potencial resultante são medidas na superfície por meio de outro par de eletrodos, denominados C e D na área de influência do campo elétrico. Os desvios do padrão de diferenças de potencial esperado do solo homogêneo fornecem informações sobre a forma e as propriedades elétricas das heterogeneidades de superfície (KEAREY et al., 2002). A partir da intensidade de corrente que percorre o subsolo (I) a geometria da disposição dos eletrodos (K) e a diferença de potencial medido pelos eletrodos receptores (ΔV), é possível calcular o valor da resistividade aparente, devido a heterogeneidade do meio equação 1: ρa = K.ΔV / I Ω.m. (Equação 1) A unidade da resistividade aparente é o ohm.m, a diferença de potencial é medida em milivolt (mV), a intensidade de corrente é medida em miliampère (mA) e o coeficiente geométrico K em metros. No caso de barragens de terra, o contraste de propriedades físicas de materiais como água e solo, podem indicar anomalias na estrutura. No local de estudos foram realizadas três linhas geofísicas, espaçadas a 3 metros. O sentido de caminhamento foi de Nordeste para Sudoeste. O arranjo utilizado foi Wenner com 53 eletrodos espaçados a cada 2 metros. Cada 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2 linha teve 104 metros de comprimento, o que permitiu cobrir toda a extensão da barragem e forneceu uma resolução de aproximadamente 17 metros de profundidade. A linha 1 foi locada mais próximo à jusante, enquanto a linha 3, mais próxima à montante (Figura 1). O equipamento utilizado para esse estudo foi o resistivímetro ABEM Terrameter LS de 84 canais e potência de 250W (Foto 1). A B Figura 1: A) Local de estudos com a disposição das linhas de aquisição de dados. B) Resistivímetro ABEM Terrameter LS. 4. RESULTADOS Os dados interpretados foram processados no software RES2DINV, apresentados sob a forma de seções distância x profundidade (LOKE; BAKER, 1996), sob a forma de modelo de inversão em termos de resistividade elétrica. Esse programa é projetado para processamento de grandes conjuntos de dados em duas dimensões, adquiridos por meio da técnica de caminhamento elétrico. O processo de inversão consiste em uma série de blocos retangulares, a disposição dos blocos é ligada à distribuição dos pontos dos dados na pseudo-seção, ou seja, seção gerada pelos dados de campo em profundidade teórica. A distribuição e tamanho dos blocos são gerados automaticamente pelo programa conforme a distribuição dos pontos de dados. A profundidade da linha inferior dos blocos é definida para ser, aproximadamente, igual à profundidade equivalente de investigação de pontos com o maior espaço entre eletrodos (EDWARDS, 1977). A sub-rotina de modelagem direta é usada para calcular os valores de resistividade aparente e uma técnica de otimização não-linear por mínimos quadrados é usada para a rotina de inversão (DEGROOTHEDLIN; CONSTABLE 1990, LOKE; BARKER, 1996). O resultado é apresentado sob a forma de seção com distância versus profundidade em termos de pseudo-seção, seção calculada e modelo de inversão. A modelagem 3D é apresentada pelos dados brutos de campo – pseudo-seção (Figura 6) e pelos dados modelados a partir do método de inversão (Figura 7), por meio do programa Oasis Montaj desenvolvido pela Geosoft. Entre os diversos algoritmos disponíveis no programa, o trabalho adotou o método de mínima curvatura para interpolação dos dados de campo e geração de mapas de isovalores para os níveis de profundidade investigados por meio do caminhamento elétrico. Posteriormente, esses mapas foram integrados sob a forma de um modelo tridimensional. A interpolação consiste em um procedimento matemático de ajuste de uma função em pontos não amostrados, baseada em valores obtidos em pontos amostrados. A partir dos pontos amostrados, é definido um reticulado com espaçamento relativo aos pontos. O valor de cada nó do reticulado é calculado por seleção de pontos mis próximos conhecidos, que, posteriormente são filtrados de modo a suavizar os contornos resultantes e a permitir o melhor ajuste com os originais (MOREIRA e ILHA, 2011). No trabalho foram levantados mais de 300 metros de caminhamento a partir do arranjo Wenner. Em geral, os tons de cores vermelho/amarelo apresentam valores de maior resistividade, 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3 enquanto que os tons de cores mais frias, como azul, apresentam valores de menor resistividade. Todas as linhas captaram o vertedouro da barragem. No caso da barragem de estudos esse vertedouro é feito de concreto, e devido ao grande contraste de propriedades físicas com o material do corpo da barragem, em todas as imagens essa estrutura acaba sendo bem visível e facilmente identificado. 4.1 - Imagens 2D: Linhas Geofísicas O vertedouro apresenta um formato de tronco de cone, com sua cavidade superior menor que a inferior. Em geral, é possível visualizar o vertedouro em subsuperfície entre 40 e 42 metros, e mais profundamente entre 32 e 56 metros das linhas. O concreto do vertedouro apresenta uma resistividade maior, marcado nas figuras por tons de cores menos frias, como amarelo e vermelho. A Linha 1, disposta mais próxima a jusante, apresenta uma zona de baixa resistividade, com valores inferiores a 100Ω.m disposta horizontalmente entre 60 e 82 metros e na vertical entre 4 e 8 metros de profundidade (Figura 2). Essa mesma zona de baixa resistividade é visível na Linha 2 entre o mesmo intervalo, porém com uma resistividade um pouco menor no centro da anomalia (Figura 3). E finalmente a Linha 3, que é disposta mais próxima a montante, apresenta a mesma anomalia, porém um pouco maior que na Linha 1 e 2 e focos de resistividade menor ainda, com valores inferiores a 60Ω.m (Figura 4). Na Linha 3 a anomalia se distribui horizontalmente entre 61 e 86 metros, e verticalmente entre 2 e 8 metros de profundidade. 4.2 - Imagens 3D Nas imagens em 3D também é possível visualizar a mesma zona de baixa resistividade indicada nas linhas geofísicas. A imagem dos slices (Figuras 6 e 7) mostram as fatias do bloco, e a mesma zona de baixa resistividade que ocorre nas linhas 2D é evidente na figura 7 que apresenta os dados modelados. Outra zona de baixa resistividade é observada na Figura 6, próximo ao vertedouro da barragem. Essa zona é visível somente nos dados aparentes da pseudo-seção não processados. Ele ocorre entre 3 e 5 metros de profundidade. 5. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES A zona de baixa resistividade apresentada em todas as linhas 2D pode ser considerada uma zona de percolação de água, onde é possível visualizar uma maior influência próxima a montante (Linha 3, onde a zona apresenta menor resistividade, e o solo está mais saturado). Na Linha 2 é notada uma resistividade um pouco maior em relação a Linha 3, provando que o solo no local da infiltração é menos saturado. A Linha 1 apresenta o uma resistividade menor ainda em relação a Linha 3, mostrando que quanto mais distante da montante, menor o poder de infiltração da água e consequente saturação do solo. Os dados mostram que quanto mais próximo a montante da barragem, maior é a susceptibilidade do corpo da barragem, comprovando a necessidade de um maior cuidado com a porção à montante da barragem. A evolução da zona de menor resistividade, considerada como uma zona de percolação hídrica e passível de erosão interna é apresentada na imagem a seguir (Figura 5). A imagem da pseudo-seção do bloco diagrama 3D apresenta uma outra zona de baixa resistividade próxima ao vertedouro (Figura 6). Essa zona é visível somente nos dados da pseudo-seção. Ela não é visível nos dados modelados devido à proximidade com a estrutura de concreto e o alto valor de resistividade elétrica apresentada pelo vertedouro. Quando esse dado é modelado ele oculta essa zona devido ao alto contraste de valores de resistividade, prevalecendo o valor de maior intensidade – no caso a alta resistividade do concreto. Por isso a importância de se analisar tanto os dados processados quanto os dados não processados, e essa análise comparativa é apresentada na Figura 8. A zona de baixa resistividade próxima ao vertedouro tem a ver com a propriedade de estanqueidade da barragem, sendo possivelmente uma zona onde há infiltração e percolação de água em subsuperfície, provavelmente desenvolvendo-se na região entre o contato entre a argila da barragem e o concreto do vertedouro. Segundo Costa (2012), A propriedade de estanqueidade de um meio qualquer relaciona-se com o impedimento da percolação de água através dele; no caso de barragens, a percolação da água armazenada pode ocorrer através do corpo da barragem ou pelas suas fundações. O contato entre materiais com propriedades físicas diferentes 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4 sempre é uma região delicada e passível de problemas geotécnicas. No caso em estudo, há um contraste entre o concreto que é considerado um meio estanque e impermeável, com o material do corpo de barragem, no caso a argila, que apesar de possuir um coeficiente de permeabilidade do solo muito baixo, ainda sim é maior que o do concreto. O método geofísico de eletrorresistividade é um método pouco usual para inspeção de corpos de barragens de terra. Case (2012) demonstrou a eficiência do método em barragens de terra de Oklahoma. O atual estudo comprova que o método da eletrorresistividade é uma ótima alternativa de investigação. O contraste de propriedades físicas do solo com água é visível e marcante. Por tanto é possível afirmar que o estudo apresenta resultados satisfatórios, algo que demonstra a eficiência do método, e a geofísica representa uma alternativa ao monitoramento de corpos de barragens de terra. De fato o estudo apresenta duas zonas de possível percolção e infiltração no corpo da barragem, mas apesar da indicação dos resultados é preciso avaliar as condições e a natureza do material da barragem. A barragem de estudos possui material de empréstimo de natureza argilosa, com um valor muito baixo de coeficiente de permeabilidade do solo, o que indica que há infiltração e percolação do meio, mas com uma velocidade de fluxo tão baixo, que não chega a comprometer a estrutura da barragem. Esse estudo pode ser amplamente aplicado em barragens de diferentes naturezas, seja para decantação de resíduos na mineração, estocagem de água para irrigação/abastecimento ou até mesmo geração de energia. REFERENCIAS CASE, J. S. (2012). “Inspection of Earthen Embankment Dams Using Time Lapse Electrical Resistivity Tomography”. A Thesis of Master of Science. Department of Civil Engineering of The University of Mississippi. 97p. COSTA, W. D. (2012). Geologia de Barragens. Oficina de textos. 352p. CULLEN, A. H. (1964). Rios Prisioneiros – a História das Barragens. Editora Itatiaia. DEGROOT-HEDLIN, C.; CONSTABLE, S. (1990). Occam`s Inversion to Generate Smooth, twodimensional models form magnetotelurric data. Geophysics. Vol. 55: 1613-1624. EDWARDS, L. S. (1977). A modified pseudosection for resistivity and induced polarization. Gephysicis. Vol. 42: 1020-1036. KEAREY, P.; BROOKS, M.; HILL, I. (2002). An Introduction to Geophysical Exploration, WileyBlackwall Science Ltd. LOKE, M. H.; BAKER, R. D. (1996). Rapid Least-Squares Inversion of Apparent Resistivity Pseudosections by Qausi-Newton Method. Geophysical Prospecting. Vol. 44: 131-152. MILANI, E. J. (1997). “Evolução tectono-estratigráfica da Bacia do Paraná e seu relacionamento com a geodinâmica fanerozóica do Gondwana sul-ocidental”. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. MOREIRA, C. A.; ILHA, L. M. (2011). Prospecção geofísica em ocorrencia de cobre localizada na bacia sedimentar do Camaquã – RS. Revista Escola de Minas, Ouro Preto, Num. 63, Vol. 3, p309-3015. NARDY, A. J. R. et al. (1999). Aspectos geológicos e estratigráficos das rochas vulcânicas ácidas do Membro Chapecó. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DO SUDESTE, São Pedro. Resumos... São Pedro: SBG, Vol.1: 68. SOUSA, M.0.L. (2002). “Evolução tectônica dos altos estruturais de Pitanga, Artemis, Pau d’Alho e Jibóia – centro do Estado de São Paulo”. Tese de Doutorado em Geociências, Instituto de Geociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. 227p. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5 Figura 2. Linha 1, disposta à jusante. Figura 3. Linha 2, posição intermediária. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 6 Figura 4. Linha 3, disposta à montante. Figura 5. Evolução da zona de menor resistividade. De cima para baixo: Linha 1, Linha 2 e Linha 3. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 7 0m -1m -2m -3m -4m -5m -6m -7m -8m -9m -10m Figura 6. Bloco 3D da pseudo-seção e a parcialização do bloco (slices). 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 8 0m -1m -2m -3m -4m -5m -6m -7m -8m -9m -10m Figura 8. Bloco 3D da seção modelada e a parcialização do bloco (slices). 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 9 Figura 8. Comparação dos Blocos 3D – Dados da pseudo-seção (acima) e dados modelados (abaixo). 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1 0
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