ESTILOS DE APRENDIZAGEM E AS TECNOLOGIAS: GUIAS

Transcrição

ESTILOS DE APRENDIZAGEM E AS TECNOLOGIAS: GUIAS
ESTILOS DE APRENDIZAGEM E AS TECNOLOGIAS:
GUIAS DIDÁTICOS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
Daniela Melaré Vieira Barros
INTRODUÇÃO
A educação sempre foi influenciada por várias tendências pedagógicas cujas características
direcionam a forma como acontece o processo de ensino e aprendizagem, as metodologias e
estratégias pedagógicas utilizadas pelos professores na sala de aula.
A metodologia de ensino1– que envolve os métodos e as técnicas – é teórico-prática, ou
seja, ela não pode ser pensada sem a prática e não pode ser praticada sem ser pensada. De outro
modo, a metodologia de ensino estrutura o que pode e precisa ser feito, assumindo uma dimensão
orientadora e prescritiva quanto ao fazer pedagógico, bem como significa o processo que viabiliza
a veiculação dos conteúdos entre o professor e o aluno, quando então manifesta a sua dimensão
prática. (ARAÚJO, 2006, p. 27)
Os métodos de ensino podem ser aplicados a todas as áreas, tendo características específicas
para cada ciência. Já as técnicas de ensino estão relacionadas sempre com a prática. Como exemplo,
alguns métodos de ensino são: o método Waldorf, baseado em Rudolf Steiner, o Construtivismo de
Piaget, o Sociointeracionismo de Vygotsky, o Pragmatismo de Dewey, o método Montessoriano,
com base nos ensinamentos de Maria Montessori e o método Tradicional ou Conteudista, base da
pedagogia.Já as principais técnicas de ensino são: o Estudo de Caso e Estudo Dirigido, ligadas ao
domínio cognitivo; a Imitação, a Manipulação, a Articulação, a Precisão e a Naturalização, ligadas
301
ao domínio psicomotor; a Recepção, a Resposta, a Valorização, a Organização e a Caracterização,
ligadas ao domínio afetivo. Há técnicas específicas como, por exemplo, as excursões, visitas e
estágios, que trabalham tanto o domínio psicomotor quanto o afetivo e os projetos e pesquisas, que
trabalham os três domínios (cognitivo, psicomotor e afetivo).
Entende-se que a técnica utilizada pelo professor precisa estar em consonância com o
contexto do aluno, para não se tornar inadequada. Dessa forma, ao escolher a metodologia de
ensino o professor precisa estar atento ao contexto social, cultural, político e econômico e às
necessidades educativas dos alunos de modo que esta favoreça a aprendizagem.
A metodologia é composta por estratégias, métodos, técnicas, recursos e interfaces que
potencializam o processo educativo. Atualmente as tecnologias são os novos elementos que
compõem a metologia, chegaram com uma diversidade de opções, novas características e um
paradigma diferente para a educação.
Várias são as afirmação a respeito do grande problema das teorias e reflexões sobre o uso
das tecnologias na educação. Aqui em especial consideramos que a principal afirmação está na
forma pedagógica de uso, que está explorado em exemplos de práticas e experiências, bem como
em processo de construção como fundamento que sustenta o novo paradigma das tecnologias para
a educação.
O que significada utilizar pedagogicamente as tecnologias para o processo de ensino e
aprendizagem? Essa pergunta é inspiração para muitos estudos e produções científicas que
avançaram com algumas respostas e ampliaram os exemplos de como realizar.
O exercício que nos propomos aqui no tema dos guias didáticos2 para o ensino
fundamental com os estilos de aprendizagem3 e as tecnologias é utilizar um referencial de
educação, a teoria dos estilos de aprendizagem, na tentativa de aprofundar o uso das tecnologias
para o processo de ensino e aprendizagem, de forma fundamentada e que contemple os elementos
essencialmente pedagógicos.
Pensamos que utilizando as características da teoria dos estilos de aprendizagem podemos
construir diretrizes de como elaborar, estrátegias, métodos, técnicas que façam da metodologia
de ensino algo individualizado amplo e que contemple a diversidade na forma de aprendizagem,
tentando, assim, garantir que o aprendizado ocorra independente das variáveis que possam estar
presentes em seu entorno.
O leitor encontrará na sequência do texto os fundamentos gerais da teoria dos estilos de
aprendizagem, a seguir os elementos que compõem o uso das tecnologias para o processo de
ensino e aprendizagem e por fim os guias didáticos com os estilos de aprendizagem, utilizando
as tecnologias.
302
A TEORIA DOS ESTILOS DE APRENDIZAGEM: A ABORDAGEM DE ALONSO, GALLEGO
E HONEY
Segundo Goulão (2002), as pesquisas em educação desde há muito vêm demonstrando que
diferentes pessoas têm diferentes formas e ritmos de aprender. Essas formas típicas de perceber
e processar as informações são aquilo que, na literatura, se conhece por estilos de aprendizagem.
Alguns psicólogos citados por Goulão (2002), como RIDING & RAYNER, 1998 e McLOUGHLIN,
1999, definiram os estilos de aprendizagem como uma tendência para abordar tarefas cognitivas
mediante a utilização preferencial de uma estratégia ou de um conjunto de estratégias, isto é, a
adoção, habitual e distinta, de um modelo para adquirir conhecimento.
Os estilos de aprendizagem afetam a forma de estar e de atuar dos sujeitos em diferentes
planos da vida. Afetam, não só a forma como as pessoas aprendem, mas também como atuam em
grupo, participam em atividades, se relacionam com os outros, resolvem problemas e trabalham
(KOLB & SMITH,1996).
Os estilos de aprendizagem foram e são o foco de inúmeros estudos e, por essa razão,
podemos encontrar diferentes formas de abordar o mesmo conceito, com o mesmo objetivo:
conhecer melhor a forma como cada um se apropria do saber. Com base nesse pressuposto,
Grigorenko e Sternberg apud (GOULÃO, 2002, p.80) propõem três grandes e distintas perspectivas
do conceito de estilo em psicologia.
A. Perspectiva centrada na cognição;
B. Perspectiva centrada na aprendizagem;
C. Perspectiva centrada na personalidade.
A perspetiva centrada na aprendizagem surge nos anos 70 com as preocupações de
intervenção educativa; preocupações estas nos processos educativos, no ambiente de aprendizagem
e nas diferenças individuais. Por isso, nesta linha são destacadas quatro dimensões: abordagem
à aprendizagem; processamento da informação; preferências ambientais e instrumentais e, por
último, modelos de interação social.
Em 1976, David Kolb iniciou com a reflexão da repercussão dos estilos de aprender na
vida adulta das pessoas explicando que cada indivíduo enfoca a aprendizagem de uma forma
peculiar, fruto da herança, experiências anteriores e exigências atuais do ambiente em que
se move. Kolb identificou cinco forças que condicionam os estilos de aprendizagem: a de tipo
psicológico, a especialidade de formação elegida, a carreira profissional, o trabalho atual e a
capacidade de adaptação.
303
Para Kolb (apud ALONSO, GALLEGO e HONEY, 2002), a aprendizagem é eficaz quando
cumpre quatro etapas: experiência concreta, quando se faz algo; a observação reflexiva, quando
se analisa e pondera; a conceptualização abstrata, quando se compara as teorias depois da análise;
e, a experimentação ativa, que permite contrastar o resultado da aprendizagem com a realidade.
Com base nessas quatro etapas, Kolb (apud ALONSO, GALLEGO e HONEY, 2002)
destacou os estilos de aprendizagem e desenvolveu um questionário para sua identificação:
• o acomodador: cujo ponto forte é a execução, a experimentação;
• o divergente: cujo ponto forte é a imaginação, que confronta as situações desde múltiplas
perspectivas;
• o assimilador: que se baseia na criação de modelos teóricos e cujo raciocínio indutivo é
a sua ferramenta de trabalho; e
• o convergente: cujo ponto forte é a aplicação prática das ideias.
Partindo das ideias e análises de Kolb (1981), Honey e Mumford (apud ALONSO, GALLEGO
e HONEY, 2002) elaboraram um questionário a partir do qual se podem obter também quatro
estilos diferentes de aprendizagem – Estilo ativista, Estilo reflexivo, Estilo teoricista e Estilo
pragmático. A sua concepção ficou a dever a uma tentativa de aplicação da teoria de Kolb na
gestão do local de trabalho. Destacaram um estilo de aprendizagem que se diferenciou de Kolb
em dois aspectos: as descrições dos estilos são mais detalhadas e se baseiam na ação dos diretivos;
as respostas do questionário são um ponto de partida e não um fim, isto é, são um ponto de
diagnóstico, tratamento e melhoria.
Investigando essas teorias, Honey e Alonso, no ano de 1992, desenvolveram um estudo
em que, na primeira parte tratava de centrar a problemática dos estilos de aprendizagem dentro
das teorias gerais de aprendizagem, analisando criticamente o instrumento. A teoria dos estilos de
aprendizagem trabalhada e refletida por esses investigadores está pensada mais na perspectiva da
educação e contempla também os aspectos sociais em que o indivíduo está inserido.
Os estilos de aprendizagem de acordo com Alonso, Gallego e Honey ( 2002), com base nos
estudos de Keefe (1998), são traços cognitivos, afetivos e fisiológicos, que servem como indicadores
relativamente estáveis de como os alunos percebem, interagem e respondem a seus ambientes de
aprendizagem. Existem quatro estilos definidos: o ativo, o reflexivo, o teórico e o pragmático.
• estilo ativo: valoriza dados da experiência, entusiasma-se com tarefas novas e é muito
ágil. As pessoas nas quais o estilo ativo predomina, gostam de novas experiências, são
de mente aberta, entusiasmadas por tarefas novas; são pessoas do aqui e do agora, que
304
gostam de viver novas experiências. Suas características são: animador, improvisador,
descobridor, que se arrisca, espontâneo.
• estilo reflexivo: atualiza dados, estuda, reflete e analisa. As pessoas deste estilo gostam
de considerar a experiência e observá-la de diferentes perspectivas; reúnem dados,
analisando-os com detalhamento antes de chegar a uma conclusão. Suas principais
características são: ponderado, consciente, receptivo, analítico e exaustivo.
• estilo teórico: é lógico, estabelece teorias, princípios, modelos, busca a estrutura, sintetiza.
Este estilo é mais frequente em pessoas que se adaptam e integram teses dentro de
teorias lógicas e complexas. Profundos em seu sistema de pensamento e ao estabelecer
princípios, teorias e modelos tendem a ser perfeccionistas integrando o que fazem em
teorias coerentes. Buscam a racionalidade e objetividade se distanciado do subjetivo e
do ambíguo; para eles, se é lógico é bom.
• estilo pragmático: aplica a ideia e faz experimentos. Os pragmáticos são pessoas que
aplicam na prática as ideias. Descobrem o aspecto positivo das novas ideias e aproveitam
a primeira oportunidade para experimentá-las. Gostam de atuar rapidamente e com
seguridade com aquelas ideias e projetos que os atraem. Tendem a ser impacientes
quando existem pessoas que teorizam. Suas principais características são: experimentador,
prático, direto, eficaz e realista.
Essa teoria não tem por objetivo medir os estilos de cada indivíduo e rotulá-lo de forma
estagnada, mas identificar o estilo de maior predominância na forma como cada um aprende e,
com isso, elaborar o que é necessário desenvolver para estes indivíduos, em relação aos outros
estilos não predominantes. Esse processo deve ser realizado com base em um trabalho educativo
que possibilite que os outros estilos também sejam contemplados na formação do aluno.
A predominância dos estilos de aprendizagem podem ou não modificar ao longo da vida do
indivíduo, depende do ambiente e do trabalho em que ele está inserido. Os estilos são flexíveis e
são tendências.
Para identificar os estilos de aprendizagem, o instrumento que pode ser utilizado é o
CHAEA – (Cuestionário Honey y Alonso de Estilos de Aprendizaje), (anexo 01). Esse modelo de
questionário, que identifica os estilos de aprendizagem (pode ser acessado e realizado no site
www.estilosdeaprendizaje.es), aperfeiçoa e complementa os demais questionários, atualizandoos de acordo com as necessidades emergentes. Para sua elaboração Catalina Alonso, em 1992,
estudou os teóricos Honey e Mumford e adaptou o questionário de Estilos de Aprendizagem em
305
âmbito acadêmico, com o nome de CHAEA, ele é composto de oitenta itens no total, sendo vinte
itens equivalentes a cada estilo, e também contempla uma série de perguntas socioacadêmicas que
permitem relacionar variáveis de idade, gênero, número de anos de experiência etc.
A teoria dos estilos de aprendizagem contribui muito para a construção do processo de
ensino e aprendizagem na perspectiva das tecnologias, pois considera as diferenças individuais
e é bastante flexível, além disso, utiliza estratégias didáticas que contemplam os diversos estilos,
sendo o uso das tecnologias algo facilitador desse processo.
ESTILOS DE APRENDIZAGEM E O USO DAS TECNOLOGIAS
O processo de ensino e aprendizagem com o uso das tecnologias requer bases assentadas em
novos paradigmas. Por isso, apresentaremos aqui argumentos que revelaram as características da
aprendizagem, o virtual 4e suas possibilidades técnicas, bem como a aprendizagem na perspectiva
do aluno imerso nos entornos das tecnologias informáticas.
A seguir analisaremos o novo contexto proporcionado pelos elementos do virtual e as
mudanças que eles promovem nos eixos norteadores da aprendizagem.
O virtual deve ser entendido como um novo espaço peculiar e com características próprias,
que possibilita à educação tanto presencial como a distância ferramentas, formas, conteúdos e
elementos que propiciam a construção do conhecimento.
Na área acadêmica o conceito de virtual, de acordo com Lévy (1996, p. 15), é:
[...] virtual [...] palavra latina medieval virtualis, derivada por sua vez de virtus, força, potência... O virtual
tende a atualizar-se, sem ter passado, no entanto, à concretização efetiva ou formal. A árvore está virtualmente
presente na semente. Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real, mas ao atual:
virtualmente e atualmente são apenas duas maneiras de ser diferente.
O termo actual, em inglês, significa real; em metafísica, atual é aquilo que é ou é em ato. O
atual opõe-se ao possível, isto é, o que não é mas pode ser, e ao impossível, isto é, o que não é e não
pode ser. Nas análises de Lévy entende-se atual como possível.
Segundo Barros (2012), o aprofundamento do significado do termo virtual e de seus
elementos possibilitou identificar as características apresentadas a seguir.
O tempo e o espaço
Analisar a questão do tempo nas tecnologias leva a uma diversidade de autores e pontos de
vista, entretanto, o que se quer aqui é somente destacar a importância desses “novos” tempo e
espaço para o processo de ensino e aprendizagem.
306
O ensino e a aprendizagem exigem diversas maneiras de pensar o tempo: desde a estruturação
do conteúdo pelo docente até o tempo de assimilação e aprendizagem pelo aluno. Ambos os
tempos (do docente e do aluno) são diferentes. Hoje esses tempos são mediados pelos recursos
tecnológicos que agilizam, facilitam e potencializam os momentos das tarefas a serem realizadas.
Esse tempo influencia a forma do conteúdo a ser aprendido, pois este não é composto
somente por teorias clássicas das diversas áreas das ciências, mas também pela grande quantidade
de imagens e informações disponibilizadas no contexto vivenciado. Portanto, o conhecimento
passou a ser entendido por dois eixos, a serem considerados: a base teórica, fundamentada
cientificamente, e as informações atualizadas sobre o tema. Por essa ampliação da forma e
conteúdo do conhecimento, a formação educacional também tem necessidade de mudanças.
O tempo e espaço já foram vistos pela humanidade como algo certo e fixo, hoje, porém, são
vistos como atualizáveis e estão além dos sentidos humanos, que têm por referencial a base biológica.
Interatividade
Silva (2001) destacou que interatividade é a disponibilização consciente de um meio
comunicacional, de modo expressivamente complexo, que ao mesmo tempo observa as interações
existentes e provê mais e melhores interações, seja entre usuário e tecnologias digitais, seja nas
relações presenciais ou virtuais entre os seres humanos.
A interatividade é a chave para o trabalho com a virtualidade; sem essa possibilidade,
o espaço virtual perde sua vida e o movimento que impulsiona a atualização constante. A
interatividade emerge no movimento progressivo das inovações da tecnologia.
A relação sujeito-objeto se tornou um processo amplo. O objeto não é mais estático, possui
um movimento intrínseco e dinamiza os contatos pelas possibilidades que oferece: uma dimensão
gigantesca e impossível de ser esgotada. O objeto, aqui entendido como o virtual, é um objeto
com características que diferenciam sua forma e, portanto, traz outras possibilidades de interação,
principalmente a intelectual.
Facilidade de acesso ao conhecimento
Essa característica talvez seja uma das principais revoluções da virtualidade: ter acesso
a uma gama de dados e informações que possibilitem, entre outras coisas, o fortalecimento da
aprendizagem, a experiência pela leitura e a ampliação da criatividade.
307
A Internet é composta por informações e dados disponibilizados em uma linguagem
diferenciada, com uma diversidade multimídia imensa. Assim, as informações estruturam-se
como expressões do pensamento lógico-racional do homem, como forma de ele se organizar e se
comunicar com o mundo, na tentativa de compreender os dados, as incertezas, as verdades e as
possibilidades que surgem do pensamento e das ideias estruturadas.
Essa matéria-prima da web possibilita criar, atualizar e transformar ideias, conhecimentos
e informações obtidas na experiência individual do dia a dia. Esse tipo de ação realiza uma outra
forma de construção do conhecimento, mais ampla e flexível.
A linguagem
Conforme Lévy (1996), possuir uma linguagem própria é a segunda característica do virtual:
faz compreender a nova forma de comunicação do mundo, novos códigos de linguagem, que são
universais, mas que, ao mesmo tempo, se misturam na diversidade de opções linguísticas que a
Internet facilita.
O virtual possibilitou a construção de uma forma de comunicar e de um padrão de expressão,
caracterizados por:
• Linguagem e códigos diferenciados: a quantidade de símbolos e signos da linguagem da
tecnologia permite inúmeras combinações entre os códigos usados hoje.
• A velocidade da comunicação: a velocidade é algo que impulsiona a comunicação em
todos os sentidos; na Internet essa velocidade é vista como facilidade e rapidez, duas
características essenciais no mundo atual.
• Muitos fazendo comunicação com muitos: a possibilidade de se comunicar com muitas
pessoas de uma vez em um mesmo tempo e em diferentes espaços amplia de todas as
formas as possibilidades de comunicação.
• Hipertextualidade do texto: o texto se virtualiza porque entra em uma outra dimensão de
formas e pode ser lido, atualizado e modificado. O hipertexto é uma ampliação do texto;
além disso, permanece atualizado e navegável com os links.
• Base de dados: atualmente a possibilidade de mapear, guardar, gerenciar e compartilhar
informação é um dos principais elementos de trabalho da sociedade da informação e do
conhecimento. O banco de dados é uma linguagem nova para gerenciar, essa informação,
não só de importância técnica, mas também de importância científica.
308
• Cibercultura: a nova forma de entender espaço e tempos distintos da realidade traz
consigo a cibercultura, uma cultura de comunidades e relações online que possibilitam
formas diferentes de contato e relacionamento social e cultural.
• Imagens, iconicidade e sons: as imagens e os sons digitalizados têm uma nova estética de
construção e de valoração; passaram a ser vistos como formas acessíveis e flexíveis, na
medida em que o acesso e a modificação das formas e conteúdos estão disponíveis online.
Entender o entorno do virtual e as características que o constituem possibilitou informação
e contextualizações importantes para o significado da aprendizagem.
Com base nesses elementos podemos dizer que o virtual se estabelece como paradigma na
educação a partir do que definimos como “forma” e “conteúdo”.
Quando falamos de “forma”, estamos nos referindo às possibilidades que se apresentam nas
interfaces digitais, nos recursos, nas ferramentas e demais elementos que possibilitam formas de
uso e facilitam serviços. Especificamente as cores, as letras, os hiperlinks, os formatos, os vídeos,
o som, imagens etc. Isso é um potencial para o trabalho educativo, diferente de se trabalhar
somente com os recursos não multimídias das aulas comuns ou educação tradicional.
Já os “conteúdos” referem-se às opções apresentadas pelo recurso, tem como conteúdo
próprio, para potencializar informações, imagens e produção de conhecimento.
Essas interfaces multimídias ou também chamados recursos apresentam uma série de
elementos visuais e sonoros que facilitam e potencializam o trabalho de ensino tanto para o
docente na construção de materiais como para o aluno na sua própria construção de materiais e
de efetivações de seu aprendizado.
Na realidade quando o aluno constrói algo com a tecnologia está demonstrando o que
aprendeu utilizando a forma multimídia que tem disponibilizada, mas o mais importante é o
conteúdo que isso apresenta e se pode visualizar de forma diferente da simples escrita ou fala.
Utilizar todos esses referenciais como meios para o processo educativo exige dos que se
dedicam à educação uma reestruturação na forma de pensar e agir as atividades pedagógicas e os
conteúdos a serem trabalhados.
Guias didáticos com os estilos de aprendizagem utilizando as tecnologias
A partir desses referenciais de aprendizagem e os novos elementos do virtual, as investigações
realizadas como Kerckhove (1999, 1995) e Lévy (1993, 1996), nos facilitam informações
309
sobre como o espaço virtual possibilita formas de aprendizagem diferenciadas das formas de
aprendizagem tradicionais.
Portanto, os estudos realizados sobre essa temática, juntamente com a teoria de estilos
de aprendizagem, facilitaram um perfil de como as pessoas aprendem no virtual e as formas de
direcionar as aplicações didático pedagógicas para o processo de ensino e aprendizagem.
De acordo com a pesquisa anteriormente desenvolvida por Barros (2011), o tipo de
aprendizagem que ocorre no espaço virtual é aquela que inicia pela busca de dados e informações,
após um estímulo previamente planejado; em seguida a essa busca, ocorre a organização do
material encontrado de forma particular, de acordo com as formas pessoais de elaboração,
organização, análise e síntese; por fim, a produção de uma aplicação multimídia com os
instrumentos disponibilizados.
A teoria dos estilos de aprendizagem e as tecnologias possibilitaram identificar algumas
formas de uso do virtual para a aprendizagem, aqui especificamente para o processo de ensino
e aprendizagem na educação fundamental. Utilizar as tecnologias está além dos aplicativos,
recursos, interfaces e ferramentas que têm “formas” diferentes e que potencializam as atividades
e exercícios para o processo de ensino e aprendizagem, mas é pensar as tecnologias para além das
suas “formas”, mas sim visualizá-la como conteúdo em si mesma.
Os guias são formas didáticas de indicar ao aprendiz caminhos de construção do conhecimento
com orientações e dicas que poderão contribuir para o aprofundamento da reflexão e podem ser
caracterizadas por um trabalho transdisciplinar5 (BARROS, 2009).
A partir do referencial dos estilos de aprendizagem, das bases sobre as tecnologias no
processo de ensino e aprendizagem com o paradigma do virtual6e do que se entende por guias
didáticos como estratégias pedagógicas para o processo de ensino e aprendizagem, estruturamos
um quadro com diretrizes para a construção desses guias didáticos.
Os exemplos são organizados em dois formatos: por diferentes estilos de aprendizagem e
outro com todos os estilos de aprendizagem em uma única atividade. Os exemplos estão elaborados
de forma transdisciplinar por objetivos e que englobam diversas áreas do conhecimento juntamente
com as tecnologias como tema transversal. Podem ser adaptados a qualquer área do conhecimento
de forma transdisciplinar.
310
311
Estilo reflexivo: atualiza dados,
estuda, reflete e analisa. As
pessoas deste estilo gostam
de considerar a experiência
e observá-la de diferentes
perspectivas; reúnem dados,
analisando-os com detalhamento
antes de chegar a uma conclusão.
Suas principais características
são: ponderado, consciente,
receptivo, analítico e exaustivo.
Estilo Ativo: valoriza dados da
experiência, entusiasma-se com
tarefas novas e é muito ágil. As
pessoas nas quais o estilo ativo
predomina gostam de novas
experiências, são de mente
aberta, entusiasmadas por tarefas
novas; são pessoas do aqui e do
agora, que gostam de viver novas
experiências. Suas características
são: animador, improvisador,
descobridor, que se arrisca,
espontâneo.
Estilos de Aprendizagem
Os
recursos,
interfaces,
aplicativos ou softwares das
tecnologias devem ser utilizados
para potencializar a aprendizagem
(virtual como forma e conteúdo)
tema abordado neste artigo.
Os guias são compostos por
exercícios e (ou) atividades
individuais que formam um todo
e comtemplam os diversos estilos
de aprendizagem com o uso das
tecnologias.
Os guias didáticos devem ser
realizadas a partir de um objetivo
de aprendizagem amplo (de uma
disciplina ou um conjunto de
disciplinas das mesmas e (ou)
outras áreas do conhecimento).
Isso, para que se permita uma
postura
transdisciplinar
de
investigação de informações por
parte dos alunos.
Como realizar um
Guia didático
Exercício/Atividade com o uso
das Tecnologias.
Devem contemplar todos os estilos
de aprendizagem independente
da sequência dos estilos.
Exemplo prático:
Exercício/Atividade com o uso
das Tecnologias.
Para o Estilo Ativo:
Para o Estilo Reflexivo:
Para o Estilo Teórico:
Estilo ativo: realizar uma
pesquisa (em página web) sobre o
tema respondendo três perguntas
previamente estipuladas pelo
docente.
Atividade Separadas para cada
Estilo de Aprendizagem:
Tema: Estações do ano, o verão.
Exemplo prático:
Única Atividade que contempla
todos os Estilos de Aprendizagem.
Tema: Estações do ano, o verão.
Definir o Tema e o objetivo:
Definir o Tema e o objetivo:
Para o Estilo Pragmático:
Exemplo 02 –
Guia didático com base nos
estilos de aprendizagem e o
uso das tecnologias com
todos os estilos
Exemplo 01 –
Como construir um Guia
didático com base nos estilos
de aprendizagem e o uso das
tecnologias para cada estilo
Quadro 1 – Diretrizes para a construção de guias didáticos para o ensino fundamental com base nos estilos de aprendizagem e no
uso das tecnologias.
312
Estilo pragmático: aplica a ideia e
faz experimentos. Os pragmáticos
são pessoas que aplicam na
prática as ideias. Descobrem
o aspecto positivo das novas
ideias e aproveitam a primeira
oportunidade para experimentálas. Gostam de atuar rapidamente
e com seguridade com aquelas
ideias e projetos que os atraem.
Tendem a ser impacientes quando
existem pessoas que teorizam.
Suas principais características
são: experimentador, prático,
direto, eficaz e realista.
Estilo teórico: é lógico, estabelece
teorias, princípios, modelos,
busca a estrutura, sintetiza.
Este estilo é mais frequente
em pessoas que se adaptam e
integram teses dentro de teorias
lógicas e complexas. Profundos
em seu sistema de pensamento
e ao estabelecer princípios,
teorias e modelos tendem a ser
perfeccionistas integrando o
que fazem em teorias coerentes.
Buscam a racionalidade e
objetividade se distanciado do
subjetivo e do ambíguo; para eles
se é lógico é bom.
Estilos de Aprendizagem
Esses guias devem ter exercícios
e (ou) atividades para cada estilo
de aprendizagem, mas que sejam
conectadas umas as outras e
que no final o resultado seja a
aprendizagem de acordo com o
objetivo a ser alcançado.
Como realizar um
Guia didático
*= esses aplicativos podem ser
substítuidos por qualquer outro
que tenha a mesma “forma” mas
com “ conteúdos” diferenciados.
Os aplicativos gratuitos e online
da web 2.0, como, por exemplo,
os aplicativos do google.
Estilo pragmático: realizar uma
apresentação sobre o tema
utilizando imagens (em power
point*).
Estilo teórico: realizar uma mapa
ou esquema sobre o tema (em
word ou em power point*) a
partir da pesquisa realizada. Estilo reflexivo: realizar uma
pequena redação sobre o
tema (em word*) definindo as
características do mesmo.
Como construir um Guia
didático com base nos estilos
de aprendizagem e o uso das
tecnologias para cada estilo
*= esses aplicativos podem ser
substituídos por qualquer outro
que tenha a mesma “forma” mas
com “ conteúdos” diferenciados.
Os aplicativos gratuitos e online
da web 2.0, como, por exemplo,
os aplicativos do google.
Os alunos deverão realizar
uma
pesquisa
(direcionada
pelo docente) sobre o tema, em
páginas web. Em seguida realizar
um pequeno texto informativo
definindo as características do
tema (em word*). Esse texto
deverá estar ilustrado com
imagens ou figuras (retiradas
da web). Para finalizar devem
elaborar um quadro com os dias
de verão no país de origem, de
preferência (no aplicativo power
point*).
Guia didático com base nos
estilos de aprendizagem e o
uso das tecnologias com
todos os estilos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo procurou analisar alguns aspectos sobre o uso das novas tecnologias de
forma pedagógica para a educação fundamental a partir dos estilos de aprendizagem.
O referencial teórico sobre os estilos de aprendizagem, o virtual como forma e conteúdo e
os guias didáticos ajudaram a ampliar as possibilidades para o que foi proposto neste texto.
A reflexão desenvolvida destaca os guias didáticos como práticas inseridas nas metodologias
e estratégias pedagógicas das diversas áreas do conhecimento numa perspectiva transdisciplinar.
O estudo possibilitou a construção de um quadro de diretrizes sobre como realizar os guias
didáticos considerando os estilos de aprendizagem.
Os resultados podem redundar em exemplos de práticas no uso das tecnologias nas
metodologias e estratégias pedagógicas a partir dos diversos estilos de aprendizagem.
Convidamos o leitor a testar e desenvolver novos exemplos de guias didáticos e se possível
partilhar as conquistas e apreciações sobre o que foi realizado.
REFERÊNCIAS
ALONSO, C. M.; GALLEGO, D. J.; HONEY, P. Los estilos de aprendizaje: procedimientos de diagnóstico
y mejora. Madrid: Mensajero, 2002.
ARAUJO, J. C. S. Do quadro negro à lousa virtual: técnicas, tecnologia e tecnicismo. In VEIGA, Ilma Passos
Alencastro (Org.). Técnicas de ensino: Novos tempos, novas configurações. Campinas: Papirus, 2006.
(p. 13-48)
BARROS, D. M.V.; MIRANDA, L; MORAIS, C. Estilos de aprendizagem de futuros professores e estratégias
de ensino da matemática no 1.º ciclo do ensino básico in: Barros, D. M.V. Estilos de aprendizagem na
atualidade, v. 1, 2011.
BARROS, D.M.V Estilos de uso do espaço virtual: como se aprende e se ensina no virtual?, Revista Interação, v. 34, (2009) Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/interacao/article/view/6542>.
Acesso em: 4 / 03/ 2012.
BARROS, D.M.V. Estilos de Aprendizaje y las Tecnologías: Medios didácticos en lo virtual. Editorial
Académica Española, Madrid, 2012.
GOULÃO, M.F. Ensino Aberto a Distância: Cognição e Afectividade. Tese de Doutoramento em Ciências
da Educação, na Especialidade de Formação de Adultos, Universidade Aberta, 2002.
KERCKHOVE, D. A pele da cultura. Lisboa: Relógio D´agua, 1995.
KERCKHOVE, D. Inteligencias en conexión: hacia una sociedad de la Web. Barcelona: Gedisa, 1999.
KOLB, D.A.& SMITH, S. User’s guide for the learning-style inventory: A manual for teachers and
trainers. Boston, TRGHayGroup, 1996.
313
Lévy, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro:
Editora 34, 1993.
LÉVY, P. O que é virtual?. São Paulo: ed. 34, 1996.
SILVA, M. Sala de aula interativa. 2. ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2001.
DEFINIÇÕES E NOTAS EXPLICATIVAS
1
A metodologia – Procura descrever, pesquisar e justificar os melhores métodos e técnicas de determinada
área. Já a Metodologia de Ensino, procura descrever os melhores métodos, técnicas, estratégias para a área
do ensino e aprendizagem.
2
Os guias didáticos – São orientações pedagógicas de construção do conhecimento mediante esxercícios/
atividades para serem realizadas de acordo com um objetivo.
3
Os Estilos de Aprendizagem – São a teoria da educação que explica as várias formas de aprendizagem que
os indivíduos podem ter.
4
O virtual – Aqui é considerado um espaço diferenciado do real, além disso é uma entidade própria com
características e elementos que influenciam diretamente nos processos educativos.
5
Transdisciplinar – É uma abordagem científica que visa à unidade do conhecimento, é uma postura, uma
atitude. Dessa forma, procura estimular uma nova compreensão da realidade articulando elementos que
passam entre, além e por meio das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade.
6
Paradigma do virtual – São os novos elementos, características que influenciam diretamente nos processos
de construção do conhecimento e seu entorno.
314

Documentos relacionados

estilos de aprendizagem no contexto educativo - Lantec

estilos de aprendizagem no contexto educativo - Lantec e o comportamento emergem de uma interação entre o ambiente, a experiência prévia e o conhecimento do aluno. Além disso, do ponto de vista cognitivo, esse modelo apresenta a mente como uma estrutur...

Leia mais