Mordidas de cães em..
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Mordidas de cães em..
Guia para os professores MORDIDAS DE CÃES EM CRIANÇAS O CASO Palavras Chave: ataques de cães, mordidas de cães, bem-estar animal, etologia, ética, SPV, zoonose. Introdução: Cada vez mais, os países desenvolvidos ou em desenvolvimento, são acometidos por problemas gerados por ataques de cães às pessoas. Sejam estas crianças, adultos ou idosos em diferentes contextos, somado à publicidade excessiva que os meios de comunicação dão a estas notícias e a globalização da informação pela Internet, faz deste tema, um excelente objeto de estudo que requer uma abordagem séria da medicina veterinária. Objetivo: Determinar se as mordidas de cães são um problema estritamente de origem etológico ou um problema clínico (causa orgânica) . Antecedentes: Na Costa Rica, um país atualmente com aproximadamente 4.5 milhões de habitantes com 51.000 km quadrados de extensão, conforme dados do Hospital Nacional de Crianças no ano 1995 se trataram 345 crianças necessitando alguns deles de hospitalização e tratamento cirúrgico complexo, 10 anos depois em 2005 atenderam 249 crianças pela mesma razão, das quais 7 foi necessário ficar internados, alguns deles em estados críticos, inclusive transportados via aérea dada a urgência do caso. Os dados estatísticos de adultos não estão disponíveis, mas existem dados de caso muito graves como a morte de um cidadão nicaragüense por cães de guarda que inclusive são objeto de problemas diplomáticos entre os países, e de duas mulheres costarriquenhas atacadas ao chegar a uma propriedade em una praia na zona de Guanacaste. Calcula-se que nos EUA, entre 2 a 5 milhões de pessoas são mordidas cada ano por cães e quase 1 milhão precisa de assistência médica. As mordidas de cães afetam principalmente às crianças nas quais as regiões corporais comprometidas são o rosto, o crânio e o abdome. O clínico de pequenos animais tem uma função primordial como educador e deve instruir os proprietários de sua obrigação de manter seus animais de estimação controlados em lugares públicos assim como o de conhecer os pormenores de uma medida adequada que não só se encarregue de sua alimentação sem também de proporcionar-lhes uma socialização correta, o qual é vital para sua posterior convivência em família. Este estudo de caso tenta fazer com que seja visto que os cães propensos a atacar pessoas não necessariamente devem pertencer as raças tidas como perigosas. Existe uma série de condicionantes que podem levar a um animal tornar-se agressivo, independentemente de sua predisposição genética. Na realidade os animais responsáveis de ataques fatais pertencem a uma grande variedade de raças, algumas das quais estão muito longe de considerar agressivas. Além do mais os fatos que observamos dia a dia em nossas práticas privadas indicam que o ambiente inadequado e uma mal educação durante o período jovem do mascote desempenham um papel preponderante na apresentação da agressividade mais adiante. O estudante deverá mediante a resposta destas perguntas, buscarem conhecer a legislação vigente no país sobre a posse de animais domésticos e também avaliar seus conhecimentos em Etologia Clínica Veterinária, Bioética e Bem-estar animal. História: Chega uma criança de 7 anos com mordidas de cachorro na Sala de emergências do Hospital Nacional Infantil Carlos Sáenz da cidade de San José Costa Rica. O menino apresenta lesões na face e no braço esquerdo. As lesões do braço não são graves, mas as no rosto comprometem o lábio inferior e parte do queixo abrangendo estruturas anatômicas profundas. O acidente ocorreu na casa de um amigo do menino afetado. As crianças brincavam quando o cão da casa atacou subitamente provocando as feridas descritas. O acontecido gera uma discussão entre os pais das crianças. Como é normal, os pais do menino mordido e a recomendação do profissional que atendeu ao menor pedem se o animal era vacinado. Felizmente o animal foi vacinado com regularidade e isto faz com que o problema diminua. Os donos do cão decidem consultar um especialista em comportamento animal. Perguntas 1. Você como Médico Veterinário especialista em animais de Companhia aceitaria tratar um animal com problemas comportamentais ou repassaria o paciente a um adestrador? 2. Que relação pode ter a agressividade de um animal com a apresentação de estereótipos? 3. Você acredita ser de interesse pedir exames de laboratório para o diagnóstico de um caso de comportamento animal? 4. Que medidas de segurança legal devem tomar um Médico Veterinário no momento de dar um diagnóstico de agressividade? 5. Você conhece a legislação de posse de animais de estimação no seu país? 6. Como você realizaria uma análise de risco em um caso de agressividade canina, e qual é seu maior objetivo nesta situação? 7. Que previsões devem assumir um Médico Veterinário no momento de instaurar um tratamento com medicação ansiolítica e de modificação comportamental? 8. Qual é o componente mais importante para conseguir um resultado adequado de uma terapia comportamental? 9. Você acredita que a Faculdade no qual cursou forneceu-lhe as ferramentas necessárias para enfrentar uma situação como esta? Consulta etológica Na clínica veterinária realizou-se uma anamnese do caso, sendo a queixa principal a agressividade que apresenta o animal com outras crianças e a apresentação de estereótipos que resultam incômodos para a família como que o cão se lambe constantemente as patas e também lambe o ar. O nome do animal é Gringoe tem 18 meses de idade e é um macho não castrado, pesa 14Kg. É da raça mestiça (Cocker Spaniel- Golden Retriever), cor dourado e lhe falta um olho, o qual foi enucleado há seis meses devido a uma briga com outro cachorro. Há algum tempo os pais notaram que o animal segurava mais forte do que o normal o tornozelo do menino e quando este ia ao colégio lambia constantemente as patas causando pequenas feridas circulares. Quando a família estava junta o animal empurrava o menino constantemente e não se separava dele. Durante a consulta, Gringo se posiciona entre o clínico e o menino (dono) se torna muito ansioso quando o menino corre pelo quarto e quando este aumenta seu tom de voz Gringo começa a salivar muito. Exame Físico. O animal se mostrou dócil ao examiná-lo: não foram detectadas anormalidades durante o Exame Físico. Ao não existir evidências de alguma disfunção orgânica durante o exame físico, o Clínico decide solicitar um exame de laboratório que incluía um hemograma completo, urinálise, e provas tireóideas. Laboratório O hormônio T4 se encontra no limite inferior e o TSH no limite da margem superior. A Urinálise revela um aumento da Glutamina. A tendência deste animal ao hipotiroidismo pode indicar uma baixa de Serotonina em seu SNC, devido aos “níveis do hormônio tireóideo estarem diretamente relacionados com os níveis de serotonina”. Tem-se demonstrado que pessoas que possuem este perfil sérico são propensas a agressividade. Além disso, em pessoas que têm participado de atos criminais, no quais ocorrem altos níveis de agressividade, há elevadas quantidades de alguns aminoácidos na urina como a glutamina e a lisina. Diagnóstico Como em todo diagnóstico etológico, a apresentação de vários diagnósticos diferenciais é normal. O clínico comunica aos pais que o animal apresenta: Agressividade por Proteção de Recursos. Agressividade por Medo. Síndrome de Demanda de Atenção (Attention-seeking behavior). Tratamento Recomenda-se a combinação da terapia comportamental com a modificação do comportamento e a terapia farmacológica com o uso de ansiolíticos. O cão deve iniciar a modificar seu comportamento aceitando instruções que evitem o contato com as crianças . A segunda parte comportamental será a dessensibilização do animal à presença de crianças. O animal deverá usar uma “gentle leader” (coleira educativa com duas tiras) de maneira que o proprietário possa corrigir imediatamente qualquer sinal de conduta inapropriada com as crianças. Monitoramento Depois de umas duas semanas o Médico Veterinário chama a família para avaliar a possível melhora do animal. A proprietária do animal não se sente interessada com a terapia comportamental e com a medicação, admitindo que não seguiu rigorosamente o intervalo dos fármacos. Os clientes sob pressões de amigos e, em especial pelo ataque ao menino, decidem deixar o animal para adoção. Esta decisão é apoiada pelo Médico Veterinário devido ao perigo potencial que correm os amigos do menino como também considerar que para este tipo de terapia se deve contar com o pleno suporte da família. Este é um caso que foge da realidade, onde se pode conseguir um novo lugar no qual Gringo se acomode perfeitamente, convivendo o ano passado com dois cães de mesmo tamanho e também com uma gata de 7 anos de idade. Nos meses passados, Gringo têm em sua companhia um novo animal de estimação que seus novos donos adquiriram, um cachorro de 6 meses de idade no qual Gringo parece haver tomado responsabilidade total. Esta história nem sempre acaba dessa forma. Geralmente os proprietários do animal recorrem à eutanásia, sendo apoiada por Médicos Veterinários cujos conhecimentos em Etologia e Bioética são insipientes, o que os levam a praticar a “morte sem dor” em um paciente cuja responsabilidade era a de preservar a vida. Bibliografia Beaver BV (1999). Canine Behaviour: A Guide for Veterinarians. WB Saunders Company, Philadelphia. Jaume Fatjó, Xavier Manteca. (2006). Aggression Towards Unfamiliar People and Other Dogs: Diagnosis and Treatment. Facultad de Veterinaria, Universidad Autónoma de Barcelona Bellaterra (Barcelona), España http://www.vin.com/proceedings/Proceedings.plx?CID=WSAVA Jensen (2002). The ethology of domestic animal, an introductory text. CABI Publishing. UK. Manteca Villanova Xavier (1997). Etología clínica veterinaria del perro y del gato. Barcelona: Multimédica. Nestor Calderón. Medico Veterinario Bio-eticista. Conciencia Animal. http://www.nestorcalderon.concienciaanimal.org Overall K.L. (2000). Clinical Behavioral Medicine for Small Animals. Mosby, St.Louis M. Estudo de caso desenvolvido pelos integrantes SAPUVETNET II da Universidad Mayor de San Simon, Curso de Medicina Veterinária e Zoôtecnia, Cochabamba (Bolivia) e da Universidad Nacional de Costa Rica, Escola de Medicina Veterinária, Heredia (Costa Rica) contatos: Guillermo Parilla e-mail: [email protected]; Jorge Quiros e-mail: [email protected]