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Dois Caderno Este encarte é parte integrante da edição 402 do Jornal da Imagem • FEVEREIRO DE 2012 [ Caso AIRP ] Figura 1 TC de abdome (A-B) demonstra espessamento parietal circunferencial segmentar de alça ileal (setas) por cerca de 20,0 cm desde a fossa ilíaca direita até a região mesogástrica, associado a ingurgitamento vascular e densificação dos planos adiposos adjacentes Coordenação: Drs. Aldemir H. Soares, Henrique Carrete Jr. e Maria Helena Mendonça Colaboração: Dra. Luciana Matteoni História clínica Paciente masculino, 62 anos, procedente de São Paulo-SP, foi admitido para investigação de quadro de dor e distensão abdominal difusa progressiva com início 15 dias antes, com redução na eliminação de gases e fezes. Negava outros sintomas. Como antecedente pregresso, o paciente havia sido submetido à herniorrafia inguinal à esquerda há 10 anos. Ao exame físico, o paciente apresentava distensão abdominal, dor abdominal à palpação e ruídos hidroaéreos presentes e aumentados. Figura 2 Figura 3 TC de abdome (A-B) demonstra espessamento parietal circunferencial segmentar de alça ileal (setas) por cerca de 20,0 cm desde a fossa ilíaca direita até a região mesogástrica, associado a ingurgitamento vascular (cabeças de seta) e densificação dos planos adiposos adjacentes Radiografias contrastadas de trânsito intestinal demonstram área de estenose focal em alça ileal, com cerca de 1,5 cm de extensão (setas). À montante desta estenose, há longo segmento de alça com pequena distensão e espessamento do relevo mucoso Figura 4 Radiografia contrastadas de trânsito intestinal: estenose focal em alça ileal, com cerca de 1,5 cm de extensão (seta). À montante desta estenose, há segmento com pequena distensão e espessamento mucoso. Pequena falha de enchimento elipsoide na luz do íleo, pré-estenose (cabeça de seta) Para a investigação diagnóstica da suspeita clínica de obstrução / suboclusão intestinal, foi realizada uma tomografia computadorizada (TC) de abdome total e, posteriormente, trânsito intestinal. Devido aos achados nos exames de imagem, foi optado por ressecção cirúrgica da lesão. Após a cirurgia, foi realizada quimioterapia adjuvante, com boa evolução e resposta. Paciente segue em acompanhamento clínico, sem sinais de recidiva. Figura 6 Figura 5 Correlação Radiologia-Patologia. Fotografia intraoperatória (A) demonstra tumor de delgado em intestino médio (seta) e aderências com o omento. Correlação com achados da radiografia contrastada do trânsito intestinal (B) e TC de abdome em corte coronal (C) (setas) Coloração Hematoxilina e Eosina (A-B). A: Mucosa intestinal ulcerada e infiltrada por neoplasia linfoide maligna, com acentuado pleomorfismo e frequentes figuras de mitose (seta). Imunohistoquímica (CE) para CD20, CD10 e Ki-67: linfoma não-Hodgkin intestinal difuso de grandes células B 2 | Jornal da Imagem São Paulo, fevereiro de 2012 [ Caso AIRP ] Autores: Drs. Olavo Kyosen Nakamura, Bruno Cunha Medeiros, Ronaldo Hueb Baroni e Marcelo Buarque de Gusmão Funari – Hospital Israelita Albert Einstein – São Paulo/SP. Linfoma não-Hodgkin intestinal tipo difuso de grandes células B No diagnóstico diferencial de espessamento e estenose ileal, devem-se considerar doença de Crohn, carcinoma, linfoma, metástases, leiomiossarcoma, isquemia mesentérica aguda e ileocolite. A doença de Crohn apresenta-se com discreto espessamento segmentar, com segmentos medindo até 2,0 cm, simétrico, com redução luminal. Pode haver linfadenopatia discreta associada. Mulheres em faixa etária jovem são mais acometidas. O carcinoma de intestino delgado acomete mais o duodeno e jejuno. Apresenta-se com estreitamento anelar, massa tumoral ou lesão ulcerada. Geralmente apenas um curto segmento é acometido. Metástases podem acometer o íleo distal através da disseminação intraperitoneal, como nos tumores de ovário, apêndice e cólon, ou através da disseminação hematogênica, como no melanoma e carcinoma de células renais. O leiomiossarcoma é incomum, em geral se apresentando como lesões cavitadas. A isquemia mesentérica aguda é uma emergência vascular. Na TC, há espessamento parietal seguindo os territórios vasculares, hematoma intramural, alças intestinais dilatadas, ingurgitamento dos vasos mesentéricos, pneumatose, gás no sistema venoso portal e mesentérico, trombo arterial ou venoso. A ileocolite apresenta-se na TC com espessamento parietal sem obedecer territórios vasculares, com borramento da gordura pericolônica e ascite. O acometimento do cólon direito e íleo ocorre por Salmonella, Yersinia, tuberculose e amebíase. O trato gastrointestinal (TGI) é o principal sítio de acometimento extranodal do linfoma não-Hodgkin, sendo o estômago o órgão mais envolvido, seguido pelo intestino delgado, faringe, cólon e esôfago. O acometimento é maior em homens, entre 55 e 65 anos, e está mais associado DESAFIO DE MESTRE com AIDS, doença celíaca, lupus, doença de Crohn e quimioterapia. O linfoma do intestino delgado apresenta-se geralmente com lesões solitárias, podendo se apresentar com lesões múltiplas em 10 a 25% dos casos. O íleo distal é o sítio mais frequente, pela maior presença de tecido linfoide. As lesões do linfoma do intestino delgado podem ser circunferenciais, cavitadas e extensão de acometimento linfonodal. Geralmente um segmento longo está envolvido, com apagamento das pregas mucosas. O diâmetro luminal está mais comumente aumentado ou normal, por infiltração da muscular própria e consequente dilatação. Calibre luminal reduzido e casos de obstrução são bastante incomuns. A avaliação pelos métodos de imagem pode ser feita pela radiologia convencional, TC ou ressonância magnética (RM), com achado de espessamento parietal segmentar maior de dois centímetros, com nodulações, assimetrias e, Caso Clínico Feminina, 32 anos, dor abdominal de início há 12h, com piora progressiva, sem resposta ao tratamento clínico. Relata inicialmente vômitos com conteúdo, seguidos de esforços inúteis de vômito. Nega febre. Exames laboratoriais normais. Estudo ultrassonográfico normal. Qual o seu diagnóstico? Dissecção da aorta abdominal suprarrenal Volvo gástrico Dissecção da aorta abdominal infrarrenal Trombose de veia porta Pseudo-cisto de pâncreas Veja a resposta na próxima edição. Referências 1. Buckley JA, Fishman EK. CT Evaluation of Small Bowel Neoplasms: Spectrum of Disease. RadioGraphics 1998; 18:379-392. 2. Sartoris DJ, Harell GS, Anderson MF, Zboralske FF. Small-Bowel Lymphoma and Regional Enteritis: Radiographic Similarities. Radiology 1984; 152: 291-296. 3. Levine MS, Rubesin SE, Pantongrag-Brown L, Buck JL, Herlinger H. Non-Hodgkin’s Lymphoma of the Gastrointestinal Tract: Radiographic Findings. AJR 1997:168:165-172. Caso apresentado ao Concurso SPR – AIRP 2011. Resposta do teste anterior: c) Deficiência de vitamina B12 Autor: Dr. Gabriel Barbosa Sandim, pós-graduando da EPM / Unifesp a) b) c) d) e) mais caracteristicamente, dilatação focal aneurismática, com linfadenopatia extensa associada. Enterografia por TC e RM oferece melhor avaliação de alças intestinais. O tratamento é cirúrgico, seguido de radioquimioterapia adjuvante. Cortes de TC de abdome São Paulo, fevereiro de 2012 CadernoDois | 3 [ Caso Clube Roentgen 1 ] História clínica Figura 1 M.G.S., 45 anos, feminino, professora. Radiografia de mão esquerda: exostose óssea no terço médio da falange proximal do terceiro dedo, associada à reação periosteal e aumento de partes moles adjacentes Relata que há cerca de um ano apareceu nodulação no terceiro dedo da mão esquerda, notou que em maio o dedo inchou, quando então procurou atendimento ambulatorial. Foi indicada internação para complementação diagnóstica com estudos de RX, TC, RM e exames laboratoriais, sendo posteriormente realizada biópsia excisional da lesão. Nega antecedentes pessoais. Exames laboratoriais dentro da normalidade. Exame físico: nodulação volar da falange proximal do terceiro dedo da mão esquerda, com aderência subcutânea/pele, sem retração/contratura articular. Sem sinais de flogose. Figuras 2 e 3 Figuras 4, 5 e 6 TC da mão esquerda: saliência óssea focal de aspecto nodular, no terço médio da cortical óssea da falange proximal do 3º dedo, medindo 12 mm, lateralmente. Associa-se a aumento do volume e da densidade das partes moles adjacentes, onde se observa pequena calcificação puntiforme RM da mão esquerda: presença de tumoração expansiva localizada em partes moles da face radial da falange proximal do terceiro dedo, promovendo discreto afilamento da cortical óssea, com intimo contato e deslocando superiormente os tendões extensores e inferiormente aos tendões flexores. A lesão tem sinal intermediário em T1, apresentando significativo realce heterogêneo ao meio de contraste paramagnético. Há associado padrão de edema medular ósseo [ Caso Clube Roentgen 2 ] História clínica J.J.S. , 52 anos, branco, casado, aposentado, natural e procedente de São Paulo, com queixa de nódulo cervical com evolução lenta, perda ponderal (3kg) no último mês, diarreia e diplopia há cerca de um mês. Refere cefaleia esporádica. Nega antecedentes pessoais. Figuras 1, 2 e 3: Formação expansiva no seio frontal e células etmoidais esquerdas, com hipersinal em T2 e FLAIR, e sinal intermediário em T1, com invasão da cavidade nasal, parede medial e teto da órbita esquerda, soalho da sela turca e espaço periencefálico subfrontal. Associa-se destruição da lâmina papirácea, cornetos nasais esquerdos, parede medial e teto da órbita esquerda, paredes do seio frontal, soalho da sela turca e esfenoide Complexo osteomeatal de drenagem esquerdo obliterado. Septo nasal com irregularidades 4 | Jornal da Imagem São Paulo, fevereiro de 2012 [ Caso Clube Roentgen 1 ] Autores: Drs. Marcelo Longo Kierszenbaum, Welton Alencar Carvalho – residentes do terceiro ano. Orientador: Dr. Denis Szejnfeld – Hospital do Servidor Público Estadual – HSPE/IAMSPE. Fasciíte Nodular A fasciite nodular é uma lesão proliferativa fibroblástica benigna rara, de crescimento lento e provavelmente reativo, a partir de uma fáscia superficial para o tecido subcutâneo ou camada muscular subjacente. Embora descrita como lesão subcutânea, pode ocorrer em qualquer parte do organismo, desde partes moles profundas até órgãos internos. Localiza-se preferencialmente nos membros superiores, sendo o antebraço, a topografia mais comum. Caracteriza-se clinicamente como uma massa solitária de consistência endurecida, geralmente indolor a palpação, de crescimento rápido e sem pre- dileção por gênero, predominando em adultos jovens. Raramente é observada na derme ou no espaço intravascular. Histologicamente, pode ser de diagnóstico difícil, podendo ser necessária a realização de imunohistoquímica para confirmação diagnóstica e diagnóstico diferencial com neoplasia de origem sarcomatosa. Na ressonância magnética os achados são inespecíficos. Mas comumente as lesões são iso/ hiperintensa em T1 e hiperintensa nas imagens ponderadas em T2. O realce pós-gadolínio é heterogêneo. Os diagnósticos diferenciais incluem hipóteses diagnósticas [ Caso Clube Roentgen 2 ] formuladas incluem neuroma, neurofibroma, sarcoidose, fibromatose agressiva, dermatofibroma, fibrossarcoma e fibro-histiocitoma maligno. O tratamento de escolha é a exérese cirúrgica. Referências bibliográficas: 1. Meister P, Buckman FW, Konrad E. Nodular fasciitis (analysis of 100 cases and review of the literature). Pathol Res Pract 1978;162:133–135. 2. Philip A. Dinauer, MD, Clark J. Brixey, MD , Joel T. Moncur, MD, Julie C. Fanburg-Smith, MD , Mark D. Murphey, MD Pathologic and MR Imaging Features of Benign Fibrous Soft-Tissue Tumors in Adults. RadioGraphics 2007; 27:173–187 3. Leung LY, Shu SJ, Chan AC, Chan MK, Chan CH. Nodular fasciitis: MRI appearance and literature review. Skeletal Radiol. 2002 Jan;31(1):9-13. 4. Wang XL, De Schepper AM, Vanhoenacker F, et al. Nodular fasciitis: correlation of MRI findings and histopathology. Skeletal Radiol. 2002 Mar;31(3):155-61. Caso apresentado no Clube Roentgen de 9 de novembro de 2011. Autores: Drs. Lucas Rostom, Vinicíus Pedrosa de Oliveira e Marcelo Henrique Rosa – residentes. Orientadores: Drs. Carolina Sasaki Vergilio, Renato Sartori de Carvalho e Ula Lindoso Passos – Hospital do Servidor Público Estadual – HSPE/IAMSPE. Estesioneuroblastoma O estesioneuroblastoma (neuroblastoma olfatório) é um tumor neuroectodérmico raro, que se origina do epitélio olfatório, geralmente, na porção superior das fossas nasais, junto à placa cribriforme. A sua prevalência é semelhante em ambos os sexos, com discreta predominância no sexo masculino. Há dois picos de incidência, entre 11 e 20 anos e entre 51 e 60 anos. O seu comportamento varia entre o indolente (com sobrevivência longa) e o agressivo com metastatização rápida. O sistema de estadiamento mais utilizado é o de Kadish et al. (A – confinado a cavidade nasal, B – extensão ao seios paranasais, C – extensão além dos seios paranasais). O diagnóstico é frequentemente tardio. Os principais sintomas são: obstrução nasal unilateral e epistaxe. Os principais locais de metastização são os gânglios cervicais e, seguidamente, os pulmões e o osso. O sistema de Kadish e a presença de adenopatias cervicais, de metástases ou de extensão intracraniana no diagnóstico têm sido identificados como fatores prognósticos. A tomografia permite avaliar melhor o envolvimento ósseo e a ressonância é o melhor método para determinar a extensão intracraniana e para a detecção precoce de recidivas locais. Os principais diagnósticos diferenciais são: carcinoma de células escamosas sinonasal, adenocarcinoma sinonasal, linfomana não-Hoodgkin sinonasal e carcinoma indiferenciado sinonasal. Tipicamente, é um tumor de células pequenas redondas a ovaladas, com arquitetura lobular e formação de rosetas. No entanto, a imunocitoquímica é geralmente fundamental para o diagnóstico. Referências bibliográficas: 1.GEBRIM, E. M. S. et al. Radiologia e Diagnóstico po O que é bom não precisa acabar A SPR continua investindo em você Agora, o profissional recém-egresso da residência médica pode permanecer no programa Sócio SPR Jr., recebendo descontos em eventos e benefícios na semestralidade. Imagem Cabeça e Pescoço. 1. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 2010. 2. HARNSBERGER, H. R. et al. Expert DDX Cabeça e Pescoço. 1.Ed. Rio de Janeiro: Guanaraba Koogan 2011 3. HARNSBERGER, H. R. et al. Diagnostic Imaging Head and Neck. 2.Ed. Altona, Manitoba, Canada: Amirsys 2011. 4. CAEIRO, C. Estesioneuroblastoma: Caso Clínico e Revisão da Literatura. Arquivos de medicina, 22(1):21-3. Caso apresentado no Clube Roentgen de 9 de novembro de 2011.
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Este encarte contém casos enviados pelos leitores do Jornal da Imagem • Parte integrante da Edição 384 • AGOSTO DE 2010
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