Karlhos Misajel

Transcrição

Karlhos Misajel
5 minutos com
5Karlhos Misajel
minutos com
Por Moisés de Paula
Estudar para procurar caminhos
diferentes: boa missão
Autodidata convicto, Karlhos Misajel
conta sua trajetória na música por
meio de muito estudo, desde os
tempos do clarinete no conservatório
até seu sucesso como o saxofonista
mais conhecido do Peru
K
arlhos Misajel é considerado o
saxofonista mais importante do
Peru. Ele já tocou e gravou com
renomados músicos, como Alex Acunha,
Ramon Stagnaro, Alexandro Sanz e Gianmarco Zignano (ganhador do Grammy
latino). Lendo essas primeiras linhas tudo
parece fácil, mas Karlhos enfrentou diversas dificuldades até chegar a ser esse músico
reconhecido. A princípio, sua intenção era
ser médico, mas o destino acabou levandoo para o caminho musical, onde venceu
pelos seus esforços como autodidata. A Sax
& Metais teve a oportunidade de conversar
com Karlhos Misajel em sua segunda vinda
ao Brasil. Confira!
» Como foi seu primeiro contato com
música?
KM Sou de família muito humilde e não
tinha condições de ter um instrumento.
Quando descobri minha paixão pelo saxofone, não tinha acesso a material de estudo nem existia a internet. Eu procurava
escutar o que podia no rádio. Pensei em
estudar, mas no Conservatório Nacional
de Lima (Peru) não havia saxofone, então
pedi emprestado um clarinete e tive uma
semana para estudar e tentar ser aprovado.
Foi então que descobri ser um autodidata.
Entrei no conservatório, o que me deu anos
16
SAX & METAIS
de formação e disciplina na música clássica,
conheci o clarinete a fundo, mas minha intenção era tocar saxofone.
» E como conseguiu?
KM Durante o período em que estava no
conservatório precisava trabalhar. Fiz de
tudo, vendi balas nas ruas, limpei banheiros, servi café e, claro, estudei muito. Mas
não me conformava apenas com o aprendizado nas aulas. Queria ir além e segui
com meus estudos autodidatas. Como
não tinha livros, inventava o que ia tocar.
Depois fui conhecendo pessoas, produtores, estúdios e comecei a trabalhar com
eles. Foi uma temporada estranha na minha
vida, tocava com grandes músicos, mas não
sabia o que estava fazendo. Devo reconhe-
O que Karlhos Misajel usa
Sax alto P. Mauriat PMXA-67R, boquilha Barkley Lound 7
Sax tenor P. Mauriat PMXT-66R, boquilha Barkley Studio 8
Sax soprano P. Mauriat System 72 2nd edition,
boquilha Barkley SS
Akai EWI 4000 e Akai USB EWI
Flauta transversal Gemeinhardt 3SHB
Picollo Gemeihardt 4SH
Palhetas La Voz Médium em todos os saxofones
» É a segunda vez que vem ao Brasil. Já
sentiu a realidade da música brasileira?
KM A música brasileira é incrível! Estou
devorando livros de choro, acho divertido colocá-los nos instrumentos que
posso tocar, os ritmos são muito bonitos.
No meu CD Um Dia Diferente há uma
música que se chama Samba para John,
dedicada ao meu irmão, que é quem me
apresentou ao ritmo.
» Como é o mercado da música no Peru?
KM É bom, mas penso que como em qualquer lugar, tem seus altos e baixos. Peru é
um país com um potencial incrível, com
músicos de muito talento. Muitos sabem
que o problema do terrorismo atrasou meu
país, mas nos últimos cinco anos tenho visto uma mudança. Também acho que talvez
esteja em nós a missão de ajudar a ensinar
e de estar mais preparados para ensinar os
jovens. O Peru é um grande país e nosso
povo é brilhante, só precisa se preparar para
conseguir atingir seus objetivos.
» Além de instrumentista, você é compositor e produtor musical. Poderia
contar um pouco sobre os desafios
dessas tarefas tão diferentes?
KM Todo músico acaba tendo experiência como produtor, pois, quando
se toca, sempre aparecem no caminho
muitas formas de produzir e de compor.
Acho que a música é tão ampla que ser produtor ou compositor já faz parte do músico, é um talento que todos temos, mas penso que devemos desenvolvê-lo, pois muitas
vezes freamos isso pensando que não podemos realizar as duas atividades. Se quero
compor e não estudo, minhas composições
soarão fracas. Se quero produzir e não estou
produzindo, nunca saberei se posso fazê-lo.
Tudo está na atitude, mas ao mesmo tempo
é preciso ser responsável para preparar esse
caminho. Atualmente estou produzindo
alguns cantores no Peru, colaborando em
produções. Não quero ser um produtor,
mas acho que a partir do momento em que
se decide fazer algo é necessário ir a fundo.
» Conte-nos sobre seu novo CD, Um Dia
Diferente. É seu primeiro trabalho como
solista? Você o produziu?
KM Esse trabalho foi uma grande surpresa
para mim. Muitos músicos pensam que
realizar um disco é fácil, mas não é assim.
É necessário investir tempo e dinheiro,
sempre existe muita preparação e se não
me preparo, não terei frutos na carreira.
Esse disco demorou oito anos para ficar
pronto. Fui juntando dinheiro, compondo, aprendendo e tudo mais. Agora o
trabalho existe e é uma grande surpresa,
já que não tem nenhuma cópia nas lojas
(risos). Um músico sem um disco é um
corpo sem coração. É preciso guardar isso
na memória.
» Vi que na faixa Samba de John você
utilizou wah-wah no solo de sax. Qual
foi o seu critério para o uso desses
efeitos eletrônicos?
KM Gosto muito de brincar com efeitos
para soar parecido com outros saxofonistas
e essa música tem esse valor agregado. Tenho utilizado muito mais efeitos e isso me
permite ter cores, ter períodos incríveis.
Para isso estou há alguns anos estudando
os sons, misturas e todo tipo de coisas não
só para o sax, mas para me sentir confortável quando estiver em qualquer lugar
usando o efeito wah-wah ou qualquer outro. Utilizo pedais como Digitech, Mbox
mini, Macbook, Guitar rig, plugins de Pro
Tools 8 e Logic 8. Gosto muito dos microfones Shure beta 98, e em alguns casos
utilizo o Neuman e o Samson. Acho que
devemos estar abertos a todas as possibilidades. Também gosto muito do EWI, é
um instrumento incrível.
» Como define sua música?
KM Minha música é uma luta constante
de treinamento. Procurar caminhos diferentes para não parecer com outros saxofonistas é uma boa missão (risos). A palavra
para isso é extrair. Se posso extrair algo de
algum disco ou solo, não considero isso
um crime. Trato de me sentir confortável
tocando diversos instrumentos, mas também é uma questão de procurar o som de
que mais se gosta. Minha tendência é para
o som moderno. Tento ser o mais fiel para
que o meu som seja próprio.
www.myspace.com/karlhosmisajel
SAX & METAIS
17
Foto Divulgação
cer que meu grande professor na música foi
Deus. Nunca tive professor de saxofone,
simplesmente me dediquei, estudei e me
preparei muito. Tenho boas recordações de
muitos colaboradores, aprendo de todos,
dos que tocam e dos que não tocam.