Evangelho segundo S. Mateus 26,14-75.27,1

Transcrição

Evangelho segundo S. Mateus 26,14-75.27,1
Evangelho segundo S. Mateus 26,14-75.27,1-66.
Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes:
«Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. E, a
partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. No primeiro dia da
festa dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-lhe: «Onde queres que
façamos os preparativos para comer a Páscoa?» Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de um
certo homem e dizei-lhe: 'O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; é em tua casa
que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos.’» Os discípulos fizeram como Jesus lhes
ordenara e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, sentou-se à mesa com os Doze. Enquanto
comiam, disse: «Em verdade vos digo: Um de vós me há-de entregar.» Profundamente
entristecidos, começaram a perguntar-lhe, cada um por sua vez: «Porventura serei eu,
Senhor?» Ele respondeu: «O que mete comigo a mão no prato, esse me entregará. O Filho do
Homem segue o seu caminho, como está escrito acerca dele; mas ai daquele por quem o Filho
do Homem vai ser entregue. Seria melhor para esse homem não ter nascido!» Judas, o traidor,
tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?» «Tu o disseste» respondeu
Jesus. Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deuo aos seus discípulos, dizendo: «Tomai, comei: Isto é o meu corpo.» Em seguida, tomou um
cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: «Bebei dele todos. Porque este é o meu sangue,
sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para perdão dos pecados. Eu vos digo:
Não beberei mais deste produto da videira, até ao dia em que beber o vinho novo convosco no
Reino de meu Pai.» Depois de cantarem os salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. Jesus
disse-lhes, então: «Nesta mesma noite, todos ficareis perturbados por minha causa, porque
está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas. Mas, depois da minha
ressurreição, hei-de preceder-vos na Galileia.» Tomando a palavra, Pedro respondeu-lhe:
«Ainda que todos fiquem perturbados por tua causa, eu nunca me perturbarei!» Jesus
retorquiu-lhe: «Em verdade te digo: Esta mesma noite, antes de o galo cantar, vais negar-me
três vezes.» Pedro disse-lhe: «Mesmo que tenha de morrer contigo, não te negarei!» E todos
os discípulos afirmaram o mesmo. Entretanto, Jesus com os seus discípulos chegou a um
lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.» E,
levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.
Disse-lhes, então: «A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo.» E,
adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é
possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu
queres.» Voltando para junto dos discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem
sequer pudeste vigiar uma hora comigo! Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O
espírito está pronto, mas a carne é débil.» Afastou-se, pela segunda vez, e foi orar, dizendo:
«Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade!» Depois
voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. Deixou-os e
foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Reunindo-se finalmente aos
discípulos, disse-lhes: «Continuai a dormir e a descansar! Já se aproxima a hora, e o Filho do
Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Já se aproxima
aquele que me vai entregar.» Ainda Ele falava, quando apareceu Judas, um dos Doze, e com
ele muita gente, com espadas e varapaus, enviada pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos do
povo. O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo: prendei-o.»
Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: «Salve, Mestre!» E beijou-o. Jesus respondeulhe: «Amigo, a que vieste?» Então, avançaram, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-no. Um
dos que estavam com Jesus levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do Sumo
Sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus disse-lhe: «Mete a tua espada na bainha, pois todos
quantos se servirem da espada morrerão à espada. Julgas que não posso recorrer a meu Pai?
Ele imediatamente me enviaria mais de doze legiões de anjos! Mas como se cumpririam as
Escrituras, segundo as quais assim deve acontecer?» Voltando-se, depois, para a multidão,
disse: «Viestes prender-me com espadas e varapaus, como se eu fosse um ladrão! Todos os
dias estava sentado no templo a ensinar, e não me prendestes. Mas tudo isto aconteceu, para
que se cumprissem as Escrituras dos profetas.» Então, todos os discípulos o abandonaram e
fugiram. Os que tinham prendido Jesus conduziram-no à casa do Sumo Sacerdote Caifás,
onde os doutores da Lei e os anciãos do povo se tinham reunido. Pedro seguiu-o de longe até
ao palácio do Sumo Sacerdote. Aproximando-se, entrou e sentou-se entre os servos, para ver o
desfecho de tudo aquilo. Os sumos sacerdotes e todo o Conselho procuravam um depoimento
falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. Mas não o encontraram, embora se
tivessem apresentado muitas testemunhas falsas. Apresentaram-se finalmente duas, que
declararam: «Este homem disse: 'Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três
dias.’» O Sumo Sacerdote ergueu-se, então, e disse-lhe: «Não respondes nada? Que dizes aos
que depõem contra ti?» Mas Jesus continuava calado. O Sumo Sacerdote disse-lhe: «Intimote, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.» Jesus respondeu-lhe: «Tu
o disseste. E Eu digo-vos: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do TodoPoderoso e vindo sobre as nuvens do céu.» Então, o Sumo Sacerdote rasgou as vestes,
dizendo: «Blasfemou! Que necessidade temos, ainda, de testemunhas? Acabais de ouvir a
blasfémia. Que vos parece?» Eles responderam: «É réu de morte.» Depois cuspiam-lhe no
rosto e batiam-lhe. Outros esbofeteavam-no, dizendo: «Profetiza, Messias: quem foi que te
bateu?» Entretanto, Pedro estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe:
«Tu também estavas com Jesus, o Galileu.» Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei
o que dizes.» Dirigindo-se para a porta, outra criada viu-o e disse aos que ali estavam: «Este
também estava com Jesus, o Nazareno.» Ele negou de novo com juramento: «Não conheço
esse homem.» Um momento depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro:
«Com certeza tu és dos seus, pois até a tua maneira de falar te denuncia.» Começou, então, a
dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem!» No mesmo instante, o galo cantou.
E Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar, me negarás três vezes.» E,
saindo para fora, chorou amargamente. De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e anciãos
do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para o matarem. E, manietando-o, levaram-no
ao governador Pilatos. Então Judas, que o entregara, vendo que Ele tinha sido condenado, foi
tocado pelo remorso e devolveu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos,
dizendo: «Pequei, entregando sangue inocente.» Eles replicaram: «Que nos importa? Isso é lá
contigo.» Atirando as moedas para o santuário, ele saiu e foi enforcar-se. Os sumos
sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é lícito lançá-las no tesouro, pois são preço
de sangue.» Depois de terem deliberado, compraram com elas o «Campo do Oleiro», para
servir de cemitério aos estrangeiros. Por tal razão, aquele campo é chamado, até ao dia de
hoje, «Campo de Sangue.» Deste modo, cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias:
Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi avaliado aquele que os filhos de Israel
avaliaram, e deram-nas pelo Campo do Oleiro, como o Senhor havia ordenado.» Jesus foi
conduzido à presença do governador, que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos Judeus?» Jesus
respondeu: «Tu o dizes.» Mas, ao ser acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada
respondeu. Pilatos disse-lhe, então: «Não ouves tudo o que dizem contra ti?» Mas Ele não
respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado. Ora, por ocasião
da festa, o governador costumava conceder a liberdade a um prisioneiro, à escolha do povo.
Nessa altura havia um preso afamado, chamado Barrabás. Pilatos perguntou ao povo, que se
encontrava reunido: «Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?» Ele
sabia que o tinham entregado por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher
mandou-lhe dizer: «Não te intrometas no caso desse justo, porque hoje muito sofri em sonhos
por causa dele.» Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir
Barrabás e exigir a morte de Jesus. Tomando a palavra, o governador inquiriu: «Qual dos dois
quereis que vos solte?» Eles responderam: «Barrabás!» Pilatos disse-lhes: «Que hei de fazer,
então, de Jesus chamado Cristo?» Todos responderam: «Seja crucificado!» Pilatos insistiu:
«Que mal fez Ele?» Mas eles cada vez gritavam mais: «Seja crucificado!» Pilatos, vendo que
nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos
na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.» E todo o
povo respondeu: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!» Então, soltoulhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de o mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado.
Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a coorte à volta
dele. Despiram-no e envolveram-no com um manto escarlate. Tecendo uma coroa de
espinhos, puseram-lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante dele,
escarneciam-no, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!» E, cuspindo-lhe no rosto, agarravam na
cana e batiam-lhe na cabeça. Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto, vestiramlhe as suas roupas e levaram-no para ser crucificado. À saída, encontraram um homem de
Cirene, chamado Simão, e obrigaram-no a levar a cruz de Jesus. Quando chegaram a um lugar
chamado Gólgota, isto é, «Lugar do Crânio», deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas
Ele, provando-o, não quis beber. Depois de o terem crucificado, repartiram entre si as suas
vestes, tirando-as à sorte. Ficaram ali sentados a guardá-lo. Por cima da sua cabeça,
colocaram um escrito, indicando a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o rei dos Judeus.»
Com Ele, foram crucificados dois salteadores: um à direita e outro à esquerda. Os que
passavam injuriavam-no, meneando a cabeça e dizendo: «Tu, que destruías o templo e o
reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!» Os sumos
sacerdotes com os doutores da Lei e os anciãos também zombavam dele, dizendo: «Salvou os
outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos
nele. Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se o ama, pois disse: 'Eu sou Filho de Deus!’»
Até os salteadores, que estavam com Ele crucificados, o insultavam. Desde o meio-dia até às
três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três horas da tarde, Jesus
clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque me
abandonaste? Alguns dos que ali se encontravam, ao ouvi-lo, disseram: «Está a chamar por
Elias.» Um deles correu imediatamente, pegou numa esponja, embebeu a em vinagre e,
fixando-a numa cana, dava-lhe de beber. Mas os outros disseram: «Deixa; vejamos se Elias
vem salvá-lo.» E Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou. Então, o véu do templo
rasgou-se em dois, de alto a baixo. A terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os
túmulos e muitos corpos de santos, que estavam mortos, ressuscitaram; e, saindo dos túmulos
depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. O centurião
e os que com ele guardavam Jesus, vendo o tremor de terra e o que estava a acontecer,
ficaram apavorados e disseram: «Este era verdadeiramente o Filho de Deus!» Estavam ali, a
observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram.
Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de
Zebedeu. Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se
tornara discípulo de Jesus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ordenou
que lho entregassem. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o num
túmulo novo, que tinha mandado talhar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra contra a
porta do túmulo e retirou-se. Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em
frente do sepulcro. No dia seguinte, que era o dia a seguir ao da Preparação, os sumos
sacerdotes e os fariseus reuniram-se com Pilatos e disseram-lhe: «Senhor, lembrámo-nos de
que aquele impostor disse, ainda em vida: 'Três dias depois hei-de ressuscitar.’ Por isso,
ordena que o sepulcro seja guardado até ao terceiro dia, não venham os discípulos roubá-lo e
dizer ao povo: 'Ressuscitou dos mortos.’ E seria a última impostura pior do que a primeira.»
Pilatos respondeu-lhes: «Tendes guardas. Ide e guardai o como entenderdes.» E eles foram
pôr o sepulcro em segurança, selando a pedra e confiando-o à vigilância dos guardas.
São Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja
Sermão 45, 23-24
“Onde queres que façamos os preparativos para a refeição pascal?”
Vamos participar na festa da Páscoa. Voltaremos a fazê-lo de maneira simbólica, mas já de
maneira mais clara do que sob a antiga Lei, porque essa Páscoa era, se assim ouso exprimirme, uma imagem obscura do próprio símbolo. […]
Participemos nesta festa ritual de maneira evangélica, e não literária, de maneira perfeita, e
não inacabada, em atitude de eternidade, e não de instante. Tomemos como capital, não a
Jerusalém terrena, mas a cidade celeste, não a que é hoje esmagada aos pés pelos exércitos,
mas a que é glorificada pelos anjos. Não sacrifiquemos os jovens touros e os novilhos com
chifres e unhas (Sl 68, 32), mais mortos do que vivos e desprovidos de inteligência, mas
ofereçamos a Deus um sacrifício de louvor (Sl 49, 14), no altar celeste e em união com os
coros do céu. Afastemos o primeiro véu, avancemos até ao segundo, ergamos o olhar para o
Santo dos Santos. Direi antes: imolemo-nos a nós próprios a Deus; melhor, ofereçamos-Lhe
diariamente todas as nossas acções. Aceitemos tudo por causa do Verbo. Subamos com pressa
até à cruz, cujos cravos são doces, ainda que sejam extremamente dolorosos. Mais vale sofrer
com Cristo e por Cristo, do que viver em delícias com outros.
Se fores Simão de Cirene, toma a cruz e segue Cristo. Se fores crucificado com Ele como um
ladrão, faz como o bom ladrão: reconhece a Deus. […] Se fores José de Arimateia, reclama o
corpo a quem o mandou crucificar; faz tua a purificação do mundo. E, se fores Nicodemos, o
servidor nocturno de Deus, vem depositar este corpo no túmulo e perfumá-lo com mirra. E se
fores Maria, ou Salomé, ou Joana, chora desde o começo do dia. Sê a primeira a ver a pedra
do túmulo afastada, talvez mesmo os anjos, ou o próprio Jesus.
Santa Catarina de Sena (1347-1380), terceira dominicana, doutor da Igreja, co-padroeira da
Europa
Diálogo 37
O desespero de Judas
["Judas ficou cheio de remorsos...: trouxe de novo as trinta moedas de prata aos chefes dos
sacerdotes e aos anciãos, dizendo: 'Pequei ao entregar à morte um inocente.' Eles replicaram:
'Que nos interessa isso? O problema é teu.' Lançando então por terra as moedas de prata, ele
retirou-se e foi enforcar-se." (Mt 27,3-5)
Deus dizia a Santa Catarina:] O pecado imperdoável, neste mundo e no outro, é o do homem
que, desprezando a minha misericórdia, não quis ser perdoado. É por isso que o considero o
mais grave, é por isso que o desespero de Judas me entristeceu mais e foi mais penoso a meu
filho do que a sua traição. Os homens serão, pois, condenados por esse falso juizo que lhes faz
acreditar que o seu pecado é maior do que a minha misericórdia... São condenados pela sua
injustiça quando se lamentam sobre a sua sorte mais do que sobre a ofensa que me fizeram.
Porque é então que eles são injustos: não me entregam o que me pertence e não entregam a si
mesmos o que lhes pertence. A mim é devido o amor, o arrependimento pelo seu pecado e a
contrição; eles devem oferecer-me isso por causas das suas ofensas mas o que fazem é o
contrário. Só têm amor e compaixão por si próprios pois não sabem senão lamentar-se pelos
castigos que os esperam. Bem vês que cometem uma injustiça; é por isso que se descobrem
duplamente punidos por terem desprezado a minha misericórdia.
S. Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém, Doutor da Igreja
Catequese Baptismal
«O meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa»
Queres, sem dúvida, que te demonstrem que Cristo veio voluntariamente para a Paixão? Os
outros morrem de má vontade, pois morrem nas trevas, mas Ele dizia antes da Sua Paixão:
«Eis que o Filho do Homem se entregou para ser crucificado» (Mt 26,2). Sabes por que é que
este misericordioso não fugiu à morte? Para evitar que o mundo inteiro sucumbisse nos seus
pecados. «Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue e crucificado»
(Mt 20,13) e ainda: «Ele tomou resolutamente o caminho de Jerusalém ».
Queres também saber claramente que a cruz é, para Jesus, uma glória? Ouve-o a Ele dizer-to,
e não a mim. Judas, invadido de ingratidão para com o seu hospedeiro, ia entregá-lo; acabava
de sair da mesa e de beber do cálice da bênção, e em jeito de agradecimento por esta bebida
da salvação, decidiu verter um sangue inocente. Ele que comera o pão do seu Mestre,
agradecia-lhe de modo vergonhoso fazendo-o cair... Depois Jesus disse: «É chegada a hora
em que o Filho do Homem será glorificado» (Jo 12,23). Vês como Ele sabe que a cruz é a Sua
glória?... Não que antes Ele tenha existido sem glória, pois fora glorificado «com a glória que
tinha antes da fundação do mundo» (Jo 17,5). Mas, como Deus, era glorificado eternamente,
enquanto que agora era glorificado por ter merecido a coroa pela Sua constância na prova.
Ele não foi obrigado a deixar a vida. Ele não foi forçado a imolar-se, Ele avança livremente.
Escuta o que Ele diz: « Tenho o poder de entregar a minha vida e tenho o poder de a retomar»
(Jo 10,18); É da minha inteira vontade que cedo aos meus inimigos, pois se Eu não quisesse,
nada aconteceria». Ele veio portanto voluntariamente para a Paixão, contente da sua acção,
sorrindo à coroa, feliz por salvar a humanidade.9,51).
Beato Guerric de Igny (cerca de 1080-1157), abade cisterciense
Sermão sobre os Ramos
"Bendito seja o que vem em nome do Senhor"
É sob dois aspectos bem diferentes que a festa de hoje apresenta aos filhos dos homens
Aquele que a nossa alma deseja (Is 26,9), “o mais belo dos filhos dos homens” (Sl 44,3). Ele
atrai o nosso olhar sob esses dois aspectos; amamo-lo sob um e sob o outro, porque num e
noutro Ele é o Salvador dos homens...
Se considerarmos ao mesmo tempo a procissão de hoje e a Paixão, vemos Jesus, por um lado
sublime e glorioso, por outro humilhado e doloroso. Porque, na procissão, Ele recebe as
honras reais e, na Paixão, vemo-lo castigado como um malfeitor. Aqui cercam-no a glória e a
honra; além, “não tem aparência nem beleza” (is 53,2). Aqui, temos a alegria dos homens e o
orgulho do povo; além, temos “a vergonha dos homens e o desprezo do povo” (Sl 21,7). Aqui,
aclamam-no: “Hossana ao Filho de David. Bendito seja o rei de Israel que vem!” Além,
vociferam que merece a morte e escarnecem dele porque se fez rei de Israel. Aqui, correm
para Ele com palmas; além, flagelam-lhe o rosto com as mesmas palmas e batem-lhe na
cabeça com uma cana.. Aqui, cumulam-no de elogios; além, afogam-no em injúrias. Aqui,
disputam-se para juncar-lhe o caminho com as vestes dos outros; além, despojam-no das suas
próprias vestes. Aqui, recebem-no em Jerusalém como o rei justo e o Salvador; além, é
expulso de Jerusalém como um criminoso e um impostor. Aqui, montam-no sobre um burro,
rodeado de homenagens; além, é pendurado da cruz, rasgado pelos chicotes, trespassado de
chagas e abandonado pelos seus...
Senhor Jeus, quer o Teu rosto apareça glorioso quer humilhado, sempre nele vemos brilhar a
sabedoria. Do Teu rosto irradia o fulgor da luz eterna (Sb 7,26). Que brilhe sempre sobre nós,
Senhor, a luz do Teu rosto (Sl 4,7) nas tristezas como nas alegrias... Tu és a alegria e a
salvação de todos, quer te vejam montado sobre o burro, quer suspenso do madeiro da cruz.
„Meu Deus, meu Deus, por que me abondanastes?“ – Mt 27, 46
[:Meu Deus, meu Deus, por que me abondanastes?:]
1. Riem de mim todos aqueles que me vêem / torcem os lábios e sacodem a cabeça. /
„Ao Senhor se confiou. Ele o liberte / e agora o salve se é verdade que Ele o ama“.
2. Cães numerosos me rodeiam furiosos / e por um bando de malvados fui cercado. /
Transpassaram minhas mãos e os meus pés / e eu posso contar todos os meus ossos.
3. Eles repartem entre si as minhas vestes / e sorteiam entre si a minha túnica. / Vós
porém ó meu Deus, não fiqueis longe./ Ó minha força, vinde logo em meu socorro.
4. Anunciarei o vosso nome aos meus irmãos / e no meio da assembléia hei de louvarVos! / Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores / e respeitai– O, toda raça de
Israel!
Cantemos ….. n° 166
Santa Teresa Benedita da Cruz |Edith Stein| (1891-1942), carmelita, mártir, co-patrona da
Europa
La prière de l’Église
«Aonde queres que façamos os preparativos para a refeição pascal?»
Pelas narrações evangélicas sabemos que Cristo rezou à maneira de um Judeu piedoso e fiel à
Lei. Ele pronunciou as antigas orações de bênção, que ainda hoje se recitam para o pão, o
vinho e os frutos da terra, como o testemunham as narrações da última Ceia, inteiramente
consagrada à realização de uma das mais santas obrigações religiosas: a solene refeição da
Páscoa que comemorava a libertação da escravidão no Egipto. É sem dúvida, aí, que nos é
dada a visão mais profunda da oração de Cristo, e como que a chave que nos introduz na
oração de toda a Igreja.
A bênção e a distribuição do pão e do vinho faziam parte do rito da refeição pascal. Mas tanto
uma, como outra, revestem, aqui, um sentido inteiramente novo com o nascimento da vida da
Igreja. Certamente, será só no Pentecostes que ela se manifesta como comunidade visível e
cheia do Espírito. Contudo, é na altura da Páscoa que se realiza a integração dos “sarmentos”
à “cepa”que torna possível a descida do Espírito.

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