t - Miembros ADEPAC
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Ciência da alma é um conjunto de reflexões do junguiano Edward E Edinger, cuja apresentação hábil e clara dos conceitos junguianos ajudou muitos a compreenderem o essencial da psicologia profunda, seja em seus aspec tos coletivos, seja em sua aplicação pessoal. Nas reflexões da presente obra, ele demonstra a impor tância de o ser humano cultivar a própria alma, ou, por suas próprias palavras, "manter uma ligação viva com o inconsciente coletivo". Tal ligação pode se dar mediante uma crença, uma religião ou uma mitologia viva. No en tanto, a partir da Idade Moderna, a linguagem religiosa então dominante não mais respondeu à ne e mítica cessidade de muitos. A psicologia profunda veio, então, ser instrumento de contato com o inconsciente coletivo para o mundo que fala a linguagem da ciência. Por isso, a psicologia junguiana tem papel importante a ser de senvolvido em nosso tempo: ajudar as pessoas a cura rem as feridas de sua alma. A leitura deste livro é útil tanto àqueles que têm pouco conhecimento da psicologia analítica como a especialis tas, pois o autor trata tanto de conceitos fundamentais, como Si-mesmo e sombra, bem corno da relação entre terapeuta e paciente. F. EDINGER ficou conhecido por seus muitos escri· tos e palestras sobre a aplicação da psicologia junguiar dentre eles comentários psicológicos a respeito da Bíblia e inestimáveis guias para a compreensão das principais obras de Jung. EDWARD .110 .j' t: r: f" '''-'" ~ 'I D <.1 INTRODUÇÃO À COLEÇÃO r Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) :.;lc~.,·fH)l· _.. . . Edinger, Edward F. Ciência da alma: uma perspectiva junguiana I Edward F. Edinger; Itradução Gustavo Gerheim]. - São Paulo: Paulus, 2004. - (Amor e psique) ._:_ ';" \'AMOR.E;PSIQUE ~' _1]1)")" 'li.' ~_'i; '~_ , (.:) , 'i . ~ i,{" ~ ~ --': J ;1, ,::~:j,,:1 j 1. Jung. Carl Gustav, 1875-1961 2. Inconsciente 3. Psicologia junguiana 4. Psicopatologia I. Titulo. 11. Série. ,1..... COO·150.1954 !. ;." di ;. ' i/, _rJ .1 t"' ~.!'; __ ~;I; lLJ J~~ t _~ '~:l : ~""~) 1.... 'li!.:. ~';'!';; ,:i.~ 1.;:"';.:::. '~r" "c._ . ~~, '" ! ' . : ~ .:. ~ ~ (: J ~ -~:l_ • _~~",H.:: -. i 1: ~ .. r' )J ~~",rt ,1J "f",,,,, "') i_~ 1 ~ f -- ... :.' f."; .. \ ....:",1 !!..~ ,\ !,.. ~.~il -~ .~) ,~~. _~ :ll' .. i, '} :.. JE~, .. ~~,./~~ ..! '~,J !_;j~rl- ::l' ;)Y." L'~';:. Í;~~LL '::'3:J ".'-~L,,".; ~ _,' /! '_i ~~Hf-. -:~~ ~'._ L Ll.L\,.I _f; '~iL':: . ..~.~ ,b,\isca qe .~,-:~ .~lrp(3,,,e,~qs~:n,~~dog.e Stl(3, .'{i9;,(3,J ,Q ,"",.f-J .~) li' V,"\ Y ,,' :. " p ~l,. / j~; ,_ ~I~!' )'j índices para catálo'go sistemático: 1. Psicologia: Perspectiva (unguiana 150.1954 \ ,U _ ~:)j:' \.~\.:~í'.lU"~, Titulo original: Science 01 lhe soul Bibliogralia. ISBN 85-349-2 62-8 04·1028 ~! v~ '~'. h COleção AMOR E PSIQUE coordenada por Or. Léon Bonaventure, Pe. Ivo S/orniolo, Ora. Maria Elci Spaccaquerche Tílulo original Science of /he Soul: A Jungian Perspective © Innar City Books, Canadá, 2002. ISBN 1-894574-03-6 Tradução Gustavo Gerheim Editoração PAULUS Impressão e acabamento PAULUS © PAULUS - 2004 Rua Francisco Cruz, 229' 04117 -091 São Paulo (Brasil) Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5084-3066 www.paulus.com.br·edilorí[email protected] homem descobriu novos caminhos que o leyam para a • sua interioridade:o §>eu próprio espaço interior torna-se um lugar J?OYo de~experiência. Os viajantes destes cami~ nhos 'revelam-que somente o amor é capaz de gerar a alma, mas também o amor precisa de alma. Assim, em lugar de buscar causas, explicações psicopatológicas às nossas feridas e aos nossos sofrimentos, precisamos, em primeiro lugar, amar a nossa alma, assim como ela é .. Deste mod.o.é que poderemos reconhecer que estas feri das e estes sofrimentos nasceram de uma falta de amor. Por outro lado, revelam-nos que a alma se orienta para um centro pessoal e transpessoal, para a nossa unidade e a realização de nossa totalidade_ Assim a nossa própria vida carrega em si um sentido, o de restaurar a nossa unidade primeira. Finalmente, não é o espiritual que aparece primei ro, mas o psíquico, e depois o espiritual. E a partir do olhar doimo espiritual interior que a alma toma seu sen tido, o que significa que a psicologia pode .de. novo psten der a mão para a teologia. Esta perspectiva psicológica nova é fruto do esforço para libertar a alma da dominação da psicopatologia, do espírito analítico e do psicologismo, para que volte a si ~ *_",~' l"" ' : ' , !.ted I, ,,, Il., ~"<J I' .... #." li ) nos ISBN 85-349-2162-8 5 mesma, à sua própria originalidade:'Elarp.'asce:u de refle xões durante a prática psicoterápica, e está começando a renovar o modelo e a finalidade dá psicoterapia. É uma nova visão do homem na sua existência cotidiana, do seu tempo, e dentro de seu contexto cultural, abrindo dimen sões diferentes de nossa existência para podermos reen contrar a nossa alma. Ela poderá alimentar todos aque les que são sensíveis à necessidade de inserir mais alma em todas as atividades humanas. A finalidade da presente coleção é precisamente res tituir a alma a si mesmare "ver a.parecer uma geraç~o de sacerdotes capazes de 'e~eender 'novâme.nte á llnguagem da alma", como C. G.JÜhgo desejava.)' ( ; .:~~t;\.w ~ í~"..: r.:~,. '~' ..... ~',~,. ,.~'~':~ j:t~' j : \ ')!' ,\ !., 'I ~ ,,' , !1 '" .. ", ~''': ',.; ).>, , I !:, '! j , ,( d'l (' 1 :,,' ~~/) :;t"~,"~ r "J:~ , , .. /t .. " '" II I i .. '. . :; ~)- ;' ,'::),'.f :~ ~!t: ui,;';" : \ ~ _,",,~ FC>j~ ':;Il ,) r.. '~ ~:"l\C '.) ~.' l.i,f ,;r" Cl ~ :J" I';" .~~ .. ~ ~ .. ; . ) . ) rl'~' t \ ,; '''I''';" (,,~ dq' ,~ . ".. f ':.ó.i,·" ' .. "~, : I ; ,- ~ ~ "-'1 ~t;~ . ri Íl1 L _j ~, >._. . r .. :~) ' ' ",> ,,,":. '('fÜ"i~-'_"~",: ,;L>l..:O·3 .-: .; ". .. \!f , ' ... ' lÂóh Bonaven'túhi I.'. ' ... .~'l:j:,,~~ • - \) ~t/' } ('1,,' ~l! U~) "i3' 'tJ"i) 't :~."!( ~ 't!1";~i " 'Je .\i:1 .~',P PREFÁCIO DO EDITOR , \' ~.} '. ~ ,~ . " '", I : t .. 1; ",) , " o m\l!ldo est~ cheiÇl de pessoas j.1}co.nsçien~es - aque las que I).ão ,~abem por ,que, fazem ,aquilo' que fazem. Edward F. Edinger fez wais do qlle qp.alquf;r <;mtra pes soa para corrigir ess~, sit.uação., Qomeu ponto. qe vista, ele foi tão fiel a J ung quanto se. pode ser. Af?S!D;l como Marie-{;ouis~ vop.Fr.ap.z, ,ele, foi \lD;l jungl,lianQ c~ássico: absolu,tªweI'lte innuenciado pela mensagem"c!~ Jp.ng, amplificou -a \.isa.ndo l?egs pI:ópri()s t,alepto~.: " Para aqueles qu~ copsigE;lram,Jp.I'lgup:l9-I~itp.ra difí cil, Edinger tem sido o iptérpre.t~ pr~emií1~nt~ pqr IIlais de trinta anos. Em palestras, livros; 'fitas e vídeos, ele apref:?énto,u com muita habilidade a essência destilada da obra de Jung, iluminando a sua relevância tanto para a psicologia coletiva quanto para a pessoal. Desse modo, por exemplo, suas Mysterium Lectures e Aion Lectures não são apenas, pesquisas acadêmicas brilhantes sobre as obras mais importantes de J ung, mas também um guia prático para o que está acontecendo no laboratório do in . consciente. '\ . Desde que a Inner City publicoú seu livro A criação da consciência em 1984, 'Ed e'eu mantivemos muito mais do que uma boa relação proyssional de editor-autor, Visi tei-o em sua casa em Los Angeles algumas vezes e en viei-lhe cópias de cada novo título da Inner City que era d 6 ~_._-------- -"- ' . 7 1 CIÊNCIA DA ALMA , , " .... _:J. . . .l ' I l .. _:. 'f, , ,'} \ ~1 ,;; " " homem não' nasce todo dia.:Ele nasce 'só uma 'vez, em um ambiente histórico específico, com.' qualidades históricas específicas e, dessa forma, ele só é completo quando possui uwa relaçÇio.,co.m essa~ coisas. $e você cresce sem ~igação com o passado~ é cómo se qocê nascesse sem olhos e ouvi dós ... leJ isso é uma m"utltaçad do ser humano. 1 ' I' .-. ~ '-r'" -, ' r'~ " , ~ .: ! ~t. ~~~ i" ~~ ;~'. "Á ••- j ; • , ;, ~ ( .:.11 ...... , ~ J ; f '"'-. : .!._J ,,~: - ./ {." . •r ~L~ 'tj ~ \ }'i _J' ( ~ .' . . ~." '''' ..., Ti"' ,,-/ I. : ; l ! i',) I : ~, ..~." ,'d .- L :1:'~ \';j /l '. I ~/ "}\', , , ~ o inconsCierite cioletÍvo Para que'"I urri', i~divíduo seja' ~audá~el do 'po~to de vista psicológico, ele deve manter uma: lig~ção viva com o incons'ciente coletivo. Xo 'longo da história, e'ssà ligação tem 'sido forhecidapel~ religião óperant'e ou pela mitolo gia: em vigor'em dada sociedade, Uma religião'específica ou uma mitologia viva funcionam como um recipiente para inconsciente coletiyo,Apessoa que crê em um mito vivo tem' acess~ a dogmas, cerimônias é imagens simbólicas " < ' .." .:::.' J ~ .. ~ rf) «, ~' ,jI- ~. '\" , O h,omem sempre viveu no' ~ito, e' a,cre<Jitamos ser capa zes de nascer hoje em dia e viver fora' do mito, fora da história. Jsso é umadoença,totalmerde anormal, pois o ! ~. .L. )': i,' "I 1 ~; ~ . ": " ' " , I • ' " " .. I" • o 't} ~; ~ ";,,.1_ J ,,' \ " ... '.I !,' I, " I • ~ ," I Jung, "The:Hóuston Films~,êrriWilliam MaguireeR. F. C. Hul!, eds., C. GiJu'!-gSpeqking, p. 348,. [Q~ vídeos de]<;dinger possuem breves trechos de uma fala de Jung;aqui impressos em itálico, tirados de entrevistas que maIS tarde foram publicadas em C. G. Jung Speaking. - Nota do Editor] 11 que se encontram entre todgs nós e a realidade bruta do inconsciente coletivo. é a função dos mitos vivos e " . :" · 'da re I19mo. ~ ,_i'/"," . ,..1 c.i _' Enquanto o sujeito está ligado a um mito religioso, ele não precisa dar atenção à psique. A instituição reli giosa cuida disso e, se ele é um bom membro, que vive dentro da estrutura dogmática, ele está salvo. aquele ditado, vocês sabem, de que não há salvação fora da Igreja. Isso é verdade, não há salvação fora de u"!a igreja, uma mitologia viva, a não ser pelo processo de \' individuação, e este é raro e difíciL Assim, de maneira ger::tl, é mais ou menos Verdade que não há salvação' fora dá Igr~ja, e não importa dequal Igreja estamos f9..li:qlçl9.. À.'m:~qidª qu,e !?~, po!?sJ,l.i l,J.m·:reci piente para o inconsciente coletivo, e o sujeito é um mem bro sincero de alguma congregação religiosa, ele esta sal vo, do ponto de vista psicológico. b sujeito fem uma reíação com a imagem de Deu!3 projétaq..a.'.Coíno disse J~~g, as grandes religiões ~ão ~a~des sist~mas psicoterápiéos. É isso que elas e elas fornecem aos seus membros uma ligação com a imagem de Deu~, 2 Si-~~S}1W·~S~~w.esWP'1~ Deus sendo virtualmente termos sinônimos), por meio,de rituais e dogmas de d~terminada .~g"fej,a.. "', r • Enquanto esse método furiéionar,nãoná1o que se fa :l"" ... t I ' / lar contra ele. Nq enta~t?; nãp,h,~, à po·!?~~piJ,i<1:ª,Qe.de..u~fl psicologia profi.lI~da e#quéll1tR se esi'á- f0riti5:lo, ~f.l1·,unia Igreja. Enquanto oin~oil"scÍE~#te c,9Iet!y~ esti':/er pres?,:~or assim dizer, ao simbolismo de uma estrutura dogmática: , ., !' . 7' , •"' !', 11 , e~pec.í?ca e concre~a,p.~o ~x.iste!(po.s~~RiydlF,~·~e .~~?r~~ nencla-Io de maneIra empínca e IndIvIdual. A pSlçologla,: J. . profunda não se aplica àqueles que estão 'contidos em umá crença religiosa específica porque eles não necessitam dela. A psicologia profunda nasceli, na Idade· Moderna porque muitos necessitam dela. 'Realmente precisamo$ dela. ;'" • , ,.' ~ ~; ,'., I .: ~... , I' " 12 , " ,,", • • J j ~. ': t , I \ ~ I Vários poetas do século XIX - Nietzsche, Matthew Arnold e outros 2 - a~úp.ciaram que a mitologia Cristã tra dicional predoIllÍnan.te nã<;>mais servia ao seu propósito, e que os indivíduos IDQQerno!?nãQ ',estavam mais contidos por ela. No mínimo,a min9tia criatJ~adasocie,dade oci dental não ca,be.majs!lo recjpient~_dOÍI1ito 8ristão e, desse modo, está qb~rta ~ dispoI).~v~1 pará a possibilidade de descobrir empiricamente a PsicQlogia profunda. . \._. "--:. ;~. t" (. !, I.: . ,",.,) l_ '.;': A idade da tdulsfôrmação I ~ ! '_:' I \ ;. ~ -.,«' '1 ", ~ .. ~ ,'~' Uma grande inudinça' aconteceu 'ná' psicologia cole tiva em torno do século XV. Como eu gosto de dizer, de maneira um tanto dramática, "Deus caiu do' céu para dentro da psique". 3 Foi màis ou menos niquela época que a projeção coletiva da 'divindade: no rein~ métafísico do dogma religioso recuou. Foi um processo' lento, que co meçou apenas em algumas pessoas, más foi lá que ele realmente 'tev'é' iriíCio: kirriagem'de Deus foi se 'retirarido da proj'eção 'metafísicàeeritrando na psique.' O que vi mos, então, foi uma inflação coletiva,'um grande 'cresci-' menta da energia do ego, que' se manifestava em todos os lugares. As pessoas' 'começ'aràma 'exploraro'globo, e a fazer todô tipo'de descobertas nas' ciências e' nas'artes. Houve uma grande expansaoda consciência humana no nível do ego. Mas o preço para isso foi uma progressiva perda de ~ligàção coin 'a'dimensão' trailspe.sso,al, um pro cesso'que agorà:alcança setiápice~' ,; O ego-humano tomou o controle'das energias psíqui cas' de talformaJque a'realidade da'psique objetiva, a " , ':. Notes àn the Seminar given in 1934 1939, e Edinger, The Mysterium Lectures: A Joumey ThroughJung's Mysterium Coniunctionis, pp. 222ss. (Nota do Editor) 3 VerE;dil)ger, T.h.e. A.ion.4ect.ure~:Exploring the Selfin C. G. Jung's Aion, esp. caps ..9, 10,23, (Nota do Editor) 13 realidade da dimensão. transpesso.al da: psique, queántes era garantida pelas co.nvicções religio.sas e' metafísicas', ago.ra encontra-se em grande parte ineficaz Como'um, fa} tor efetivo na vida coletiva. Essa situação atingiu um extremo tão grande que, da forma co.mo eU: a entendo., ela é o precursor da próxima era,~Esse estado décoisás esta:~ va previsto na Bíblia, no'Apocalipse, onde tudo está ex': posto de maneira simbólica.4,·' ~ :. A descoberta da psico.lo.gia profunda no. século. XX é, na minha opinião, pelo 'me?-.~~it~9, !~~çrtl1:ç.~equ~I1tp, igual em grandeza, à desco.berta da física nuclear. Vejam o que aconteceu. Por míH;tares de an9s, a humanidade possui o conceito. de'alma, de psique', de u~a consci~ncia elementar de qiI~ 'a subjetivj~ad~ ~~manal~i um -f~tor muito importante, mas a humanid~de estava,tão!próxi ma a essa realidade, que; ~ão ,conseguia trGltá-Ia de ma neira empírica ou cien~ífiça. '. A imagem que gosto de usar é a de um peixe nadan-. do numa lago.a. Existe uma anedot,a,agrad:%ye!, uma (ln~,.; dota oriental, que ch~gou, mim certa vez. O mestre Zen pergunta ao aprendiz: "Qu~~ descobriu a ~gua?" Oap'ren-: diz não. sabe, então o. f11e?tr~. respon<;l~: ,"Bom, eu, também. não sei, mas sei que~ não. a;descobriu; ~ 'peixe." Como. vo.cês. po.dem v'er, QS seres .hum~nos e,stão,exa tamente na mesma ppsiçãoem rel,ação..à psique.,~lel?,>;H vem dentro. dela. É o seu 'meio'ambiente,é existf!m aI-, guns pequeno.s vislumbres de luz so.breo lugar o.nde ,o.s egos individuais existem nesse ambie'nte' ger;:tl da psique: mas eles estão. tão. perto d~sse'qmbiente que não. conse guem reconhecê-lo co.mo um:objéto. empíric9 que po.dE2 ser; estudado da mesma forma como a natureza é estudada como. um o.bjeto. Mas o qll:e aco.:ç.te.c~u. CQrn a desç,o.berta > _ _. \ c ( ••• _ 1" ' " a 4 Ver Edinger,Archetype orthe apocalypse: A Jungian Study orthe Book or , '. ...... " Reuelation. (Nota do Editor) lá. do inconsciente, co.m Freud e Jung, foi que de repente a psique tornou-se um objeto do ego subjetivo. o.bservador. E foi isso que abriu as portas para o. estudo científico. da psique. Essa é realmente Uma eno.rme revolução coperni cana que ainda mal éomeçoti a penetrar, na consciência coletiva: ,,~ f ~ Junge Freud Nós realmente devemos a descoberta' empírica do. inco.nsciente a Freud. Ele estudo.u. caso.s de histeria e, a partir desse estudo., desco.briu o. inconsciente. Jung, ao mesmo tempo,emborafosse dezenove anos mais novo do que Freud; conduzia experimento.s que chegaram ao. in consciente pqr um outro ângul<? Ele estava fazendo. ex periênçia,s 'co.m o. teste de asso.ciação. de palavras, o qual revelou o. que ele chamo.u deco.mplexo.s inconscientes. 5 Então, quando. Jung começou 'a ler Freud, percebeu que eles estayam lidanflo .co.~ o. mesmo fenÔmeno.,.e marca ram um~enco.ntro .. Foi um encóntrohistÚico. I r t J _ ' Bem, eu/Til uiiLtá.lo din Vúma eficamos convúsando por (reze horás sem parar.,·.. nem percebemos que estávamos " quase mortos ao final:daconversa ... Eu ainda era muito jovem naquela época, ele era mais. velho, ·tinha uma enor· . me e~per:iência e ~stq.va, é, ,claro, muitC?nÇL minha frente, . então;aqúiesci pç,ra poder aprender alguma coisa pri m~iro.6 ir "'1\1' l " (.1 :.' J .,' '1: ,-.' Po.r alguns ano.s eles fo.ram co.legas. Embo.ra um es tivesse .emyíen<t e 0., ?:utro,er,n ,Zurique, enco.ntraram-~e com Gerta freqüêncí<;l:etíveram muitas co.nversas. HaVIa '\ . , ~ 5 Ver Experimental Res(!arches, CW 2(CW é uma referência a The Collected Works orC. G.Jung). (Nota do Editor) 6 Jung, "The Stephen Black Interviews", em Maguire and Hull, eds" C. G. Jung Speaking, p. 253, muitas diferenças, mas por um longotempó Jung sub meteu suas próprias idéias às de Freud., poiss~bia que Freud tinha mais experiência do que ele. No:e.qtanto, tudo mudou a partir da publicação, em 1912, do liy:ro'Transfor mations and Symbols.of the Libido 7 ; de Jung. Os cami nhos separaram-se nesse momento, pois Jung estava co. locando suas idéias para fora, e ele sabia ql,.le existiam diferenças muito sérias na forma como cada um compre endia a psique, especialmente em relação áÚ~iàJ, '6tie~er~ gia psíquica. '" ! J 1 ~ 1.,'", Aquele livro custou-me:minha amizade com Freud, pois ele não o aceitava.. Para.ele, o inconsciente era umproduto da consciência, qy.e sim.plrç.sllJe.iJ..te co.rl~~1Jha ?U(:i.o,o que dela sobrava; era Ulr;t tipo de ,q uar~o 4e d,espejo 9nde toeja,s as coisas que a consciência -descartaüã' efá,.n: amontbàdas e largadas, Pará' mim, ja 'naqueld época! o inconsciente êra uma matriz, Uma base de consciência: de uma natu-r.eza criativa, capaz,de',atos·autônomos. J' '..J. < :"nJ~1 f..'-' I 1_. ~jf. /" }1 Jung passou, então, por' uma\profú'nda'experiência do inconscien'te, de'1914 ai 1'9-18, e foi'néssa épqca" que 'ele fez a descoberta pesso~l e'ilT!-ediatad9 inçonsci~nt~ cole tivo. Freud descobrira o irÍçonsdente, mas"ap~n~~ sua dimensão pessoal, que'é;ceFtamente; muito.reabOs con teúdos do inconsciente de J,i'reud referiam-s~'apenas à vida pessoal do indivíduo, à infância'em'particular; e':q.quanto o inconsciente coletivo; descobriu Jurig; àlargavaimen ",' , samente as perspectivas da psique individual. I~so se deve .'} r~ "( ,": , , , , , '1 'J "'r;.'{,i~;,r("",;lr'i"-I' ",~'1~~ A versão literal da edição alemã or!ginal' de 1912, Wandlungeri ulld Symbole der Libido, seria Transfõrmatiõris andSyíiibôls bt.tM <Libtdó" em \Jota em inglês o livro tenha se chamado On the Psychology ofthe Ullconscious:.~m uma edição bem revisada de 1952, o livro passou a se chamàr Symbols of Transformation, CW 5. (Nota do Editor) Em português, Símbolos:da Transfor. mação, (Nota do Tradutor) , ~:l, ' . . . . ''''" " 8 Jung, "The Houston Films", em Maguireáhd Hull,eds., C, Q, Speaking, p. 339, , " 7 16 t ao fato de essa descoberta revelar que a psique individu al está flutuando, por assim dizeI!, em um oceano com partilhado por toda a nossa espécie. i. A natureza dos sonhos o que são os sonhos e como devemos compreendê los? Aqui, mais uma vez, existe uma profunda diferença nos pontos d~ vista de Freu~, ~. ..rung;~l~s~çmc?rdavam que o sonho é o caminho régio'paráü'iíí.cOIlsCiénte, mas discordavam quanto ao destino dessa estrada. Freud acha va que ela levav~à descoberta dÚ's desejos inconscientes, e que a naturezasimbólicà dos sÓnhbs"pôd'éria sei expli cada ao se po~t).lla'r aJ~m dp(rq~ 'c8D;s'hrq.Jung 'não acei tava essa i~~l?,çl~J,ei~~. ge,nplJ-n.1;, E?le Go~sideràya '9 :\30 nho um produto da natureza. A natureza p.ão' engana, ela ape nas fala na sua própria linguagem; 'e depende de nós aprendermos essa linguagem, chegar a uma compreen são dela .." ' ., ", ' : ,,,' i'i I" Oss'Onhos' falam';\sim,: uma lingüagemsimbó1icà em relação a qual devemos adquirl'ta'Ca'pacidade:dé'coni preender. Existêm,tambéhi, diferenté's níVeis de sonhos - sonhós super.ficiais esonliós profundos;'son'hos peque~ nos e grandes sonhos. 0s grandes sonhos possuem;' em seu cont~údo,.imagens aiquetfpicas: Os 'sonhos menores parecenicletivár do:iricon'stiente pess6aJ;'é'os sonhó'smai' ores têm"> mais' do' que' ürilàreléVânCià pessoal: 'Eles 'S'ão relevantes a toda 'uma cornunid:àde, ou sociédadé, já que os fat6f.és) afquet'ípicós"qctedeterfuináin 'a éxistêriCia in dividual também estão op:erantes· na)coletividade mais ampla. E tanibéfué vérdade'<lue, em"àlguns casos, pode se percéber uma sabedoria'impressiónanterevelada nos sonhos, sabedoria não apenas do presente e do passado, mas às vez~s, sabedoria do futuro .. i 17 Jung demonstrou que o inconsciente funciona para além das categorias de tempo e espaço. Isso significa que um evento relevante ao qual um sonho se refere. pode encontrar-se no futuro, em vez de no passado, que o evento futuro está projetando sua sombra para trás, por assim dizer. Para o ego racional, é difícil aceitar essas coisas, mas existem dados muito claros de que essas coisas acon~ tecem. '", , A criação da consciênciÁ " : ; ~ ts " f'\' ,,'I 'I ~ I , : " ) ~..t ,i A consciência é umJfatorJ, e existe, um· outro, ' tão impor tante quanto ela, o ~nc:ons~iente/ que pode interfer,ir na cons ciência na hora que quiser. E claro que éu dissf! a mim mesmo: "Mas isso é muito desconf9rtável, porque eu acho que sou o único mestre' em miríhacása". Contudo, deÚiJ admitir que existe um outro alguém nessacasa.que pode fazer umas travessuras. 9 i ••' . '~;I, ; "_o '~'~:, '. " • '. ~ ,\ • ;u;r Quando procuramos uma definição, estamos,tentan do conceituar uma experiênciª ou uma entidade. ,A pró pria palavra "conc~ito" <:arrega consjgo a ~~agem de cO+I1. preender essa experiência pu entidade, E para podermQs compreender alguma;coisa, devemos ter um alcap.ce gran~ de o suficiente para podermos incorporá,la. ~o entan,to, muitas dessas entidades básicas são t~o grand~s ql)e se tornam incompreensíveis pa:r;aQs meiQ.8 raçionais,.e tu,ç1ó o que podemos fazer é fal,ar s9qre o assunto, rod~~ando.~Q, olhando para os seus dife~entes,aspect9s .. I; J, ': j ; : Então, deixem-me tentar fazer isso com a entidade à qual chamamos de consciênc.ia.':... '~' " ~ . , Thdo o que sabemos da con$ci~ncia é ,o que 0ê indi~ víduos experimentam; é um termo de!?creyend~rurria ex , > ~. ~ ':: p.340, .' 18 I • ~JI " periência. E se vocês refletirem sobre a experiência, po derão começar a dizer algo sobre ela. Normalmente, é bas tante útil refletir sobre as versões iniciais de tal expe riência, então podemos considerar as versões iniciais da consciência. Por exemplo, em sua autobiografia Jung des creve sua expétiência de' tornar~se consciente mais ou menos aos onze anos. Um dia, sem mais nem menos, foi como se ele saísse de nevOéiro' e percebesse: "Agora eu sou eu mesmo, agora eu existo". 10 Antes disso, esse conhe cimento simplesmente nunca tinha ocorrido a ele. Consciência significa, acima de' túdo, estar ciente. E significa.não apenas estar ciente dós objetos, pois até os animais o estão; os' animais não ficam se chocando com os objetos, eles estão cientes dos objetos e mantêm se afastados deles, e q~ando eles vêem vocês, reconhe cem vocês e mantêm certadis'tã.ncia. Então; eles estão cientes dos objetos, mas não estão cientes deles mesmos. EssG\ ~ a, ,car~ct~rís:q9a F1J.~ial ~a,c~:hsç~ênci~: ~ conscjên cia éci~nte êIe si,me,sma, é oego fica:n~ociente de si mes mÇ). Quando Jung saiu' do 'nevoeir9 e percebeu "Eú sou", naqu~le exato mom'ento ó ego estàvàpérceb'erido~se como um objeto.', "','! ~ , , Esse é o grande mistério da consciência, e~a tem o poder reflexivo de olhar para o espt'llhoe se epxergar como um~'irrUl&em ~,eparad~.Não éflP~nas u~,~cid'enteo fato de Iahweh, no Antigo Testàmento,'expor sua identidade como "E~ sou':.uAcho qu~~xi~t~\~mà'Iig~~ão entre a psi cologia da' conscIência'e a im.ágén; si~bólica de Iahweh. Vejam o q~e acontece com a desê~bérta rev61uéionária do "Ellsou". E um nascimento, coÍno vocês podem ver, o nas- um I, . , " ," ,\,' l " , "i " ,. i , , " ' ,", . . . '" . ~. , " °1 ~• :,\ ' ..' I', , " j ": ., " ", • " . t, : , • ' ",~,,' • • ' } ' . . 1_ " . ' ", . J ... , IO·Memories, Dreams, Reflections, pp. 33s. (Ver também "The 'Face to Face' Intervle~", em 'Maguire and Húll, eds., C. G.Jung Speaking, p, 425. - Nota do Editor), 11 Ex 3,14. (Ver Edinger, The Bible and the Psyche: lndioiduation Motifs in , the Old Testament, p. 48. - Nota do Editor) 19 cimento de uma luz que n~o existia ,antes, E;! () que ela, traz consigo é uma maior consciê,Iícja dflsobgrania d9.ego. No curso de perceber a própria exist~IíÇi~, () ~go p(;')r cebe, simultaneamente, que ele .existe.:em urrLamb~~nte, e que há objetos e Qutr,as pes.soas qlJ~o tambépl ex:is.t~m. Ao mesmo tempo, o indivíduo perc;eQe qlJ.e "l-, cO~$ciêf,lcia interna é um reino sep,ara,do'que nã()pocle.~ex,pen,e~r~d,o; é inviolável. Essa é a fonte do siml;wlismo do r~i, ,Q. r~C9nhecimento de que a c'Qnsciência tra~ GOI).sigQ uom Sf;I}$O de soberania. E esse é osentjdQquet"l-n,tós,f; fl?::pap.diu, na, sociedade ocidental W?S \Íltjwo$ :quinh~I).tos 'a,nos: â. per cepção do ego d,e s\.!.a s9.b~raniq em ,rela,çã9 à natur€)z,ae '" . ao mundo. A consciência no inconsciente " Estamos falando da cOrisciência 'e seus muiÚplo~as: o pectos, o que traz à tona outra: pergUnta, que seri~: "EXiste consciência noincclIisciénte?" E a resposta é:'''Sim''. ~ung: discu te essa questão hô importantíssimo' texto' '''On the' Nature of thEi Psyché",12 onde mostra'que a corisdênt{à existente no inconsciente é difusa e parcial. Elà não pos' sui a clarezà de enfoquequekúonsciência dp ego po'ssui; ela é de uma natúreza 'diferente e talvéz seja 'descrità1 melhor como consciênCia latente. 'Isso, t~mbé'm' significá' queoinconscienteéumsujeito.t :~_·L,!I., ,) Parte do fenôm~no'da: consciência'diz r~speito à âis~) criminação entre sujeito e óbjeto, Estou ciente',cl.e quesoli; um ser consciente; sou o' suj~ito nessa: consCiência. Quan:', do olho para o mundo, vejo objetos e, nO'processo'de~e separar da identificação com esses objetos, ocorre uma se paração entre sujeito e objeto. Essa é a forma'como a tons-, '''0 •q ciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. Eu sou o sujeito, e todas as coisas com as quais eu tenho de lidar do lado de fora são os objetos da minha percepção . Agora, o mesmo aconteçe no mundo interno. O sujei to descobre. que Oiitconsd~:ritéposs'l;li conteúdos qu'e são objetos da>lpróP.ii'a s~bJetividadé. E'eu';possó percebê-los como objetos,'ê'fa'la~ 'delescqmo's~ndó psiq'l;le objetiva., No entanto~\jéiã que posso·també~ êlizer que'a psique objetiva que eu percebo cóniô um' óbjeto' é~ 'ela própria, um sujeito, que me percebe como um objeto? E a resposta é: "Sim", Por definição, ..seáconsciêncja existe, ela tem de ter um sujeito, ela:"tem de ter uma base onde possa se apoiar. Esse é Q sentido -'da palavta;sujeito. À medidâ'que admitimosqu€j' o inconsciente possui uma consciência, admitimos que ele é um sujeito, que pode olhar para mim e se relacionar comigo como um objeto. Esse é o fenômeno expresso simbolicamente na noção do Olho de Deus. 13 •.- . ' Vejam, 'uma das características da expgriência do Si-mesmo é ser ooservado pelo Olho dê'Deus,' Uma expe riência muito inquietadora essa de ser observado com to tal objetividade por um sujeito interno que nos trata como um objeto. Ao serm'os tratados comoóbjeto, não somos mais soberanos. Enquantõsônios'o sujeito, somos o sobe rano, o soberano que examina o seu próprio reino. Mas quando so'moso,objeto; o 'sujeito que está olhando para nÓs.é'o,·soberano examinando o rein'o dele, e esse fato nos leva eíndireção a todo o simbolismo'assóciado ao arqué tipo:dd Julgamento Final. a ,.." .", ,; "I ' " ~ 20 The Structure and Dynamics of the Pf?ychg: 'CW 1 <, ..) , ~ yer ,Eding~r,(('{!e 'I' çreatiof!.,;r;.Consciousness: Jung's Myth for Modem Man., é5p. pp, 4255,; também Eding~r, The Mystcrium Lectures, pp, 218f. (Nota do Editor) ~ ,I ~., , ' 13 12 .-,j. , ;.~ _________ 9.L-._ A estrutura da psique , Persona I._.) Todo modelo da psiquedeve começar pelo ego. O ego é a base da consciência e o centro subjetivo' do senso de identidad~ do indivíduo: Desse modo, tudo o' que 'existe na consciência deve estar rélacionado' a uJ!l ego,. a úm' sujeito. é o ponto de partida.·,- .... - ., J.. , ... " SOMBRA ANIMAI ANIMUS ,\'; : l~Jj J' .. ; .~ "{ \ " Então, segundo o p1odelo de,Jung,. ao se olhar do:ego' para o mundo externo, existe uma função, uma entidade,1 que ele chama de persona, palavra latina q1,lesignifica a: máscara do ator, e que é parte da palavra personaHdadeJ Essa função psicológica permite que o indivíduo funcione como um hipócrita. Uso essa palavra especificamente porque hipócrita é a palavra grega para ator, e :~(isso que somos quando funcionamos através dapersona ..Claro que ela também representa uma. funçãdde adaptação, ';lma marca da nossa ligação ao ambien'te, para que possamos, 22 nos adaptar à expectativa dos outros. Mas o resultado é que todas as profissões tendem a desenvolver sua pró priapersona. Temos, assim, ap~rsona médica, apersona eclesiástica, e assim por diante. E claro que a análise tam bém possuipersonas, apersonaanalítica, o fato de se tor nar uma tela de projeção em branco, embora essa não seja aprovada pelos analistas junguianos. Desse modo, apersona.é ·a:entidade psíquica que opera entre'o ego e o mundo externo.Agora, quando olha mos na outra. direção, para .dentro, o que encontramos primeiro é a·sombra: Essa é aparte inferior da 'persona lidade, onde. se· encontram todos ,aqueles aspectos que o indivíduo"considera indesejáveis; escuros,' até mesmo demoníacos, emJ si mesmo. Em geral, não os ,reconhece mos por serem muito desmoralizante13. Essa é a primeira coisa com à qual'o indivíduose'defronta aO'se s'lJ,bmeter a uma análise profunda. Abaixo dela encontra-se o que cha mamos ,de.anima.e.de alJ,imus ,a,anima .representandoa imagem feminina no homem, e oanimus, a imagem mas culina na mulher. A projeção de animus ou: de anima é, muitas vezes, responsá,velpela experiência do apaixo namento ou~:de modó inverso, pot. uma imensa aversão. Por trás dessas imagens estão a Grande Mãe e o Pai Ce leste. ,E.·bemno centro.da;psique, se alguém conseguir chegar tão.· longe assim; está o Si-mesmo, a imagem in ternasle Deus. • :_ .~'. , t i ' Sombra' I, - , . . ':. Comecemos'com um.exame sobre como a sombra é criada~.- Pois ess.eé. () pano d.e fundo da sua própria integra.çãQ. Dura,nte a inf~ncia é a adolescência, à medi da que o egose desenvolve;.é'de vital.importância que ele estabeleça um senso :de .autonomia perante as outras pes~oas e:.o -mundo externo. É por esse motivo que, du 23 rante alguns períodos da infância,' as .cr:ianças. dizem tanto "não". '::~,. Vejam, temos de ser capazes de,dizer '~não" 'Para po der estabelecer nossa distância perante os outros.: O ego não consegue se formar com uma concordância perpétua. Ele não se estabelece dessa forma.'Assim, àxnedida que o ego se desenvolve, ele diz;, "Não~:eu não gostQdissÇ>,.gosto é daquilo"; ele diz: "Não,.eu não so.uassim,.s.ou.assado; eu sou bom, não sou mau'~. E aoJazer' todas, essas,discrimi nações, ele cria a sombra, .0 .recipiente ,p'ar:a o.que nãoé. É de vital importância que um .ego jovem. se .sinta mais bom do que mau. Se.ele:c.ai na certeza delsermais mau do que bom, torna;'seum caso perdido. rEntãó, ele co meça a viver a partir.dessa idéia, e., aí temos ,a crimina lidade e todos.os tipos deéomportamento anti-socü,!1.Por isso, o ego deve. seícoÍlv,enc,er. de .qUe_é/mai,s .bom do; que mau. Mas e o que .acontece aJodas:aqú'elas cái::acterísti cas assim cha,madas.negativas, quede nega possuir? Elas vão para a sombra,.para. o inconsciente., ,.~ ',,;!. Acima e além da: soinbta pessoal, ·há ,tambémo. aF quétipo da sombra. Na .culturajudaico:,cristã"ele é.nor malmente personificado pelo, :diabo. : Quando a t sombra pessoal está inconsciente·; elase.funde ,com, a. sombra arquetípica; e.aí não há m~is:uma.discrimináção·claFa entre o pessoal e o arqúétípico, e;o ,individuo encontr:a-se aberto à possibilidade de realmente su:cumbir- à:posses são pelo arquétipo do mal. Mas, em algum momento, mais ou menos n~ meta9.!'l da vida do indivíduo, se ele estiver destinado ao desenvol vimento, esse processo de relação_com a sombra;.deve ser revertido. Ele deve começar~a recupera!' todos aqueles.as pectos negativos e inferiores que ele,rejeitóú nO.processo prévio de formação do ego. Mas esse~é·ur:ú negóçio.artisca do. É arriscado porque se o indivíduo for inunda,do de ma neira muito abrupta pelas qualidadesi.da-:sombra,. pod~ 24 chegar à conclusão: "Na verdade, não sou a pessoa boa que eu pensava ser, eu realmente tenho todas essas qualida des desprezíveis". E isso pode ser muito desmoralizante. Como o indivíduo' se protege, para não cair nessa sombra arquetípica? Eu: só conheço uma maneira segu ra, que é ficar ciente da: existência'da sombra arquetípica como algo distinto da sombra pessoal. Em outras pala vras, uma compreensão intelectual desses diferentes com ponentes da psique já' pode ser uma grande ajuda. Pois aí, se tudo correr bem, virá à meI1te a' idéia: "Ah sim, li a respeito diSso no Jung;compreendo o que é e estou ciente de que não dev6me identificar com isso\'. Anima e aiúmus . .) '" ~ .' O arquetipo' é u'ma'rorça. Elé temu;na auto~of7.1-ia e pode, apoderar-se de você de repente. É como um ataque repenti·' no. Apaíxohar-se a primeira vista 'é alguma coisa pareci da com isso. Veja, você posslúcerta imagem de mulher, da n;ufher, dentro d? voçç'flteslXw, sem o !)aber. Aí; você vê essa" moça, ,ou, pelo menos,. uma boa imitação "dela,. e .na mesm,a ~Ora.voc~ sofre um ataque . e l{ocê está perdido. E mais tarde você pode chegar à conclusão de ql.le fora um enorme engano: Um' homem 'é'capâz, ele é inteligente o' bastante, de perceoér que d mulher que ele "escolheu", como se diz, não foi u.n;a escolha dele, eleloi'capturqdof,Ele sabe q!le ela não é.legal, que ela é Um grande problema, e ele me conta tudo isso. Ele diz; "Pelo !amor de Deus, doutor, aju , ', . r ' .' ~'I' de-me a me livrar dessa mulher!" Contudo, ele não conse gue sair, ele é como argila nai mãos"clelcL Esse é óarqueti po, o arquétipo da anima... Coni' as 'mulheres acontece o mesmo: ,Quando .um homem canta muito alto, a moça acha que ele deve- ter um caráter espiritual maravilhoso, pois ?le c·on,segue atingir 9 dó agudo, e ela fica extremamente desapontada quando casa com esse homem em particular. 14 Bom, esse é o arquétipo do animus. ~ ! 14 .' " '. ' )' , l t ' Jung,. ~'The Houston Films"; em Maguire and Hull, eds" C. G. Jung Spea· king, p, 294. 25 Jung diz que a assimilação da sombra é. a.tarefa ou opus menor, e que a assimilação da anima é o' opus, maior. 15 Não é muito difícil obter algq.ma consciência so bre a própria sombra; está dentro do alcance da maioria das pessoas, ao lhes fornecer alguma in~trução e assis tência. Parece ser muito mais difíçil, todav~a,' tornar. a: anima ou o animus conscientes. :' Não são poucas as pessoas desavisadas, que I1ãj) re~' conhecem nem a exist~ncia empíricaq,à anima ou do animus. Elas pensam que são apenas conéeitos, idéias; dispensáveis em suas vidas. Mas eles não são apenas con ceitos, são organismos psíquicos vivos que êons~guimos; reconhecer e dos quais tornamo-nos cientes somente quan do passamos por uma experiência que nos, torna cientes'. Contudo, é necessária uma boa dose de insight para chegar a essa consciênCia. " '" . . .. \, Falarei primeir;:)' da animâ 'no homem.' , A anima éilma enÜdaderiéa; conÍplexae ambígua, que contém muitos 'aspecto's diferentes; Ela'penetra'bem fundo no inconsciente coletivo 'e possui u.m aspecto "forte mente arquetípiéo. A anima també,n1 incorpónl todas as experiências importantes que o homem tem :de:uma. mu lher. Tudo isso é construído na imageIll daa",im4" de maneira que ela se' torna uma entidade fataL Fatalidade é uma das palavras~chave quepoclêm ser ápli'cadas à anima do homem. Quárl.do aàrl.Íma é\ ativada, pode-se saber que alguma coisa ,fatal ,está .para, aéimteêer, seja para o bem ou para o m a L " Assim como acontece'com todos os arquétipos, aqni ma é uma união paradoxal de opostos: Ela é, i:io mêsmo tempo, uma prostituta e a Virge~ 'M,aria. Ela tem pode,.. .; ~ ". • I , .. ~' " • • • ,. • " "', , J' • . . . : 15 "Se o encontro com a sombra é a 'primeira obra' no desenvolvimento individual, o encontro com a anima é a 'obra·prima' ". (The Archetypes and the . ' Collectiue Unconscious, cw 9i, par, 61). (Nota do Editor) 26 res, poderes divinos; de sedução e encantamento, orien tação e elevação espirituais. Ela pode tanto tentar um homem até. a sua destruição total, quanto levá-lo à sua maior realização. Essa é a amplitude de suas capacida des e não preciso nem dizer que um ego racional sozinho não consegue:,dar.conta-,de:·uma entidade de tamanha grandeza. Mas elaé isso mesmo.· r.: .. " Deixem-me repetir: -isso não é um conceito, mas uma realidade empírica Niva, que ,pode ser!demonstrada se vocês se derem J ao· tràbalho de olhar: pelo telescópio da psicologia profunda:. ,(Estou'pensando no' telescópio de Galileu, pelo qual as ,pessoas! se recusavam a.olhar por não querersaber.que Júpiter tinha várias:luas.) A gran~ de manifestação inicial~dadnúna!é; quase sempre, por meio de uma projeção.'Um homem :C:onhece uma mulhep que lhe .salta aos olhos ,e se apaixona: 'Esse· fenômeno· é uma projeção de anima.tTentem lhe.dizer, isso nesse mo mento e vocês· não chegarão muito.longe~ Mas a' projeção pode ser demonstrada.,' Eu i não l falo ~isso \paradepreciap essa experiência, de forma algum á; chamá-la de projeção significâ~que sua.força vem dedentro,-'não deforà, mas issôde maneirafalguma'diminui a sua! importância. " Às vezes, a projeção pôde .acontecer de Uma vez só, como·noambrà primeiravista,mas\ela:pode cair de uma vez SÓ" também. A pessoa, precisa apenas enxergar uma pontinha da falibilidade, ou dos defeitos pessoais da mu lher real; umà única' vez,.e issó pode ser. o· suficiente pára que toda a projeção colapse, desaparecendo no vento. Em tal casoi issô:significa queorelemento fatal da projeção não foi ativado:, Quando o elemento· fatal da 'anima é ativado, quando ele encontrá 'Uma mulher em particular lia qual ha bitar,então'essamulher torna-se o destino do homem, para o bemoupará.·o mal;.e pormáis que ele se debata, ela o tem em suas mãos. Um 'exemplo clássico disso está em Carmen, a ópera, mas os exemplos, claro, estão em toda parte. 27 Um outro modo pelo qual a ahima,pQde se ma:r:ifes tar é por meio da possessão dO.,ego,.e!D VflZ de;exer,cer um encantamento sobre ele, por. meio de,uma projeção.exter na. Se o ego cair em umestapo de .identificação. com, a anima, então o homemJoma-se meio,eferrünado,chorosb e ressentido. Isson?o .é . incomum. Qua1)do. a',anima manifesta como possessão, de ~mas, qualidades inega: tivas prevalecem;;Ilão :h;tum .l:1Qlido, operante, para se relacionar com elad.) que acontece entffio: é qJ,.I.e· O~ego cai em um compo:r.tarngntõre~esstvo,.infantil,~de un),jei; to ou de outro; o~,<}spectQmJiterno dª afúmq:.é :;ltj.:v:.adq internamente e o.ego .ficá. esperando ,de :tpdo:s :lllp.a· :rela~ ção de I)1aterÍlag~P1. Emyer§ões meIlOsexJrernas;:JerrlQS o que chamamos"de)huniox8s;~de_llnima, ,q\le,,~mgeral aparecem quando há JJ.ffi. conflito 1)a r~lação. A ']ilulhex cai em um humor de animus, o qual menci.onáre.i datJ.lli a pouco, e,o homem é.pre~flde um.humor d~ ani"!;ÇL. Phti. mor de animu$ çaZ:ªêteri.za~se .por~}1IÍl opiIlar,agressiy,Q, e o humor de anima por'-\lm.a.q\lêix:aSesse,Q-tida.:) c.;<; Agora, vamos faJar do·aaimu,s .i· .'i' ) '- . do qUe lel! disiSe .sobre a à,nü:natflmbém:se aplica ao animu~ dê. UnlçH l1lIlIwr. Vejam, awOa.s.as imaÍ gens têm sua raiz,·no.s~-m~smo :e, ,de.ssa. maneira, pos suem a imagem de PellS em selJ. n\íçleo, QU .urna face da' Imagem de Deus. Coloqve.mrnas jUfltas"çoloquem-nas em uma sizígia, em \ln} par inqi$s,o.lúy,el; e eptão .voc~~ terão a combinação, a.,cor-iunCtiQ"as .d:uasda Imã 7 gem de Deus. . . ' L . ) ~:' ,1.\' ,j 'f", Assim cOmo a animq, o,C!lJiPJ.l!,S ~fh~m~do a p,artir .d~ uma combinação de fatores Jlrquetípií;o.s ,8, pe$soais, E; com certa freqüência, assim como a roãe,pessoaUemum"!. contribuição a dar à anima do homerfuJambé.m'o pai dá uma contribuição enorme para a imagem realdo.a,nimus da mulher. Os mesmos fatores fatais aplicam-se, ames, ma ambigüidade, a mesma união de op.ostos.. _: O animus é, por um lado, o melhor guia espiritual existente, ou salvador, e por outro, um estuprador lento. Os dois lados estão 'i::óntidos na' mesma imagem. Não é pouca coisa uma mulher 'conseguir integrar essas duas imagens, reconhecê:''las éoin:b uma unidade. Um dos maiores empreenditnéntos psiéólógicos que Há é alcan çar tal grau de integraç'ãó, _ser 'capaz de' enxergar para além dos opostos, réconhécet que etes'são dois lados do mesmo fenômeno; 'E eles são mesmo: . r, De modo geral; o aniniustem máis a verébma men te e a anima corn:ocoração, de modo que ocohhe'êÍménto' dessas figuras:é da forma como elas' funcionam riapsiqliEi' é extremamente útil para se compreendér;o que acontece' nas relações íntimas. Vejam; em todo relacidnamento entre" os' ddis sexos há, na verdade,quàt:i:'o jogadores: ó ego do homem e ó dá.· mulher, .aaninü:i:'do homem e 'o ánimusda mulher. Issó) pode ser ilústtado da seguiiite inaneira: 16 . ,";;~ ,. i 'i ,T ego da mulher "t, , í ' , , t. ( do . ,'" ~ , ! -fl ~\ " 'li. { ,. " J 28 ,~ :,..... r l.' , ~I' " ). 4 I , ; ~" ... '.,\ . ., ') . "1''' I: " rr! ,(. I ~, I ' Diaira~f!adaptad,o dp 1isçp~q 9~'.Jung em "The Psychology of the dor.,,..,,,,,", The Practiée af Psychotherapy, CW 16, par. 422. (Nota do Editor) 16 29 Quando um homem e uIl).a mulher se gostam e co meçam um relacionamento, primeiro haverá. entre ele~ uma relação no nível consciente. O homem, consciente mente, gosta do que a mulher: é,.e vice"vers<;, e ele~ come~ çam a se relacionar nesse nível; esse é o primeiro e mais óbvio nível. Mas aí, os outros jogadores entrqm na jog~ da; se houver algum tipo çle profupdidadena relaçao de-o les, a anima do homem s~rá projetad,a, a tada à mulher, e o animus dela será projetado no homem. Aí então temos um intercâmbio mais complexo, pois:ohomem . passa a enxergar não apenas a mulher da qual ele tem consciên cia, mas também a sua projeçã.o de anima; e a mulher vê não apenas o homem do qual ela tem consciência; mas também sua projeção de animus. . E ainda fica mais complicado,'pois o animusda mu lher vê a anima do ,homem 'e começa a re,agi,~a e~a; e-fi anima dohomem ..vê,o an.imus da mulher e reage a,f~l~: Então, como vocês, podem ver,. esse intercâmbio pode fij car bastante complexo. Quandoduas pessoas entram em disputas ou desentendimentos, uma consciência dessa fenomenologia estr-utural é uma ajuda para se resolver os problemas. . . o Si-mesmo 7 '\ ." O Si-mesmo é algo -realmente·imenso. É com ele ,que você se encontra ao descer:ao fundo do inconsciente co letivo. Uma das características dà-experiência;do Si-mes mo é que ela nosJeva a uma consciência .de que existem dois centros na psique. Essa.foi uma desçobérta,gran diosa do século vinte, feita por Jung, a existência 'de dois centros na psique individual, em vez de um. O ego é um centro, e o Si-mesmo, o outro. E quando a experiência do Si-mesmo irrompe no indivíduo, na mesma hora terp-se a noção de que: "Não estou sozinho, em' minha ,própria 30 casa, existe um outro que viveu aqui durante todo o tempo, e eu nunca o conheci", Essa é uma experiência grandiosa. O protótipo disso é, naturalmente, a experiência do outro externo; todos nós vivemos essa experiência bem cedo em nossas vidas e aprendemos a nos ajustar a ela. A criancinha perCebe que não é o centro do universo, que existem outros centros que exigem a' mesma considera ção que ela. Isso então leva ao fenômeno da socialização do ego, à percepção do outro externo. A experiência do Si mesmo é a versão interna dessa experiência e, em alguns casos, o impacto é tão grande 'que estilhaça o ego. Pode gerar uma psicose, esse tipo de experiência. Mas quando o ego está desenvolvidó o bastant~, de modo a ser capaz de viver essa êxpetiênciá, torna-se possível assimilá-la. Agora, o que acontece com certa freqüência é quê, se há algum sistema' 'religioso ou mitológico à disposição do . indivíduo, a experiência sêrá assimilada den.tro dessa' formulação religiosa em.particular, e sêrá descrita como' uma experiência de Deus,dentro'dos preceitos dessa re ligião. Mas o que temos em mãos agora, pela primeira vez, é a oportunidÇ\.de de .criar uma ciência empírica que, diz respeito a 'esse'nível de realidade: psíquica. Sempre tivemos inúmeros credos de diversas formas; mas nUI).ca' tivemos uma ciêncía empíriça desse fenômeno, e foi'isso que Jung disponibilizou para nós. . , ~ ~ I{ I ,', '\ ~ í I' Individuação " ;. ." j \ f ,0 '\t I ' I'i' ) , .l Individuação é um termo muito usado por J ung para descrever todo, o processo psicológico no qual o ego torna se progressivamente consciente de sua'própria natureza, de seu background, e da base à qual ele está ligado. Uma outra forma de explicar a individuação é dizer que ela é o processo pelo qual o ego toma consciência do Si-mesmo e 1 se relaciona com este; ou que é o processo pelo qual o ego experimenta'uma diferenciação de suas iden tidades coletivas. .,, \_' '; O conceito de individuação abrange uma área enor me. A palavra possui'a mesma raiz de indivíduo, o que sig nifica que é muito. fácil confundir individualismo com indi viduação. Gosto muito, do Emerson, e ele é bem relevante para toda essa questão, pois ele foi o grande expoente ame ricano da dignidade e da amplitude do individual Ele é tas vezes mal compreendido porque as pesSOas aéham que ele prega um tipo de individualismo egoísta, o que não é ver dade. Em seus ensaios está claro que ele tinha a consciên cia intuitiva,do que Jung chama'de Si-mesmo. Vocês podem encontrá-la no artigo ~'The Over-Soul",F por exemplo. O século dezenove ainda não possuía a consciência conceitual dos dois diferentes centros da psique,'de modo que o comportamElntQ egocentr::ido e o, comportamento centrado no Si-mesmo-não podiam ser: diferenciados. Isso leva a uma confusão e à má c,OmpreensãQ de pensadores como Emer:son. Contudo, individuação não é i:pdividua lismo. O individualismo é o engrandecimento do Elgo, en quanto que a ipdividuaçãQ s~ refere ao processo por meio do qual o sujeito descobre a rea,lidade do Si~mesrno, o se gundocentro da psique,e Elntão reJacionao ~eu modo de; vida a essa liga:ção. " ;. " ;~l' ,:j, O paradigma clássico do mito cristão para esse tipo de experiência é a conversão dEl Paulo no caminho de Da 8 masco.1 Ele teve um encontro com o Si-mesmo,rsimboli_ zado pela imagem de Cristo, e esse encontr~'t~~n'sfo~mou sua vida. A partir daquele momento: ele não eta,rliais um homem egocentrado, m'as úmhomem centradQ.no,Si-mes_ mo. Ele chamou o Si-mesmo'de Cristo; pois essa foi 'a ima l7 18 32 Emerson $ Atos 9, artigo ix. gem por meio da qual ele assimilou a expe:-iência. E, de pois disso, em suas cartas, ele descreve a SI mesmo como o "escravo de Cristo" (a tradução inglesa suaviza a ex pressão e o chama de "se1!Vo",mas ,no original encontra mos d'u'ls, que significa escravo). Esse é o efeito de um encontro decisivo com o Si-mesmo: Ele' gera um contato com uma autoridade que carrega um tipo divino'de qua lidade, de maneira que o sujeito sente-se obrigado a sere vi-la. O resultado é que o ego fica' relativizado. Essa'é a maior conseqüência da individuação" o que ,é muito:dife~ rente de individualismo, ;. -. ,'.'" . Anteriormente, falei ,dó ego como se fosse um-peixe em uma lagoa, que nãdtem consciência do meio rtoqual ele vive. Da mesma forma, o ego primitivo e imaturo existe basicamente em identificação com seus arredores., Ele possui apenas uma.consciência,frágil de sua :existência individual. A maior parte das energias e dos efeitos da psique são experimentados como algo externo. Isso está expresso naquilo que chamamos de fase animista da reli gião, quando espíritos animados são percebidos como en tidades existentes em nossos arredores: "Algumas á1!Vo: res ou animais possuem espíritos animados, e uma pessoa primitiva, ao ter de tomar uma decisão, diria: "tenho de consultar o meu espírito da árvore"; ou "tenho de consul tar a minha cobra que vive em um buraco ao lado da mi nha cabana". Esses são exemplos do que chamamos animismo, e eles ilustramo'fato de que.a psique primiti va encontra-se exteriorizada:..- o individual está espalha do por toda a pàrte:,' ,_. \1 , Algo semelhante 'acohtéce"ao hbmem,modetno nos primeiros estágios de desenvolvimento egóico. Todos nós começamos identificados com o ambiente e com as pes soas que se encontrarn nele. É isso que torna -a opinião dos outros tão extraordiríariamente.ünportante para os jovens - a psique deles encontra-se nos outros., ;,. 33 Agora, o processo de indi~iduaçãq, cómo Jung o con cebe, é um processo atr,avés,do ql!-aJ o indivíduo coleta, progressivamente, esses pe,daços de simesnw e "devolve os" ao recipiente ao quaIeles pertencem. BoIll,"devolver? não é bem a palavra çerta, pois, p,ata cOmeçar, eLe$ nuncá estiveram lá. De qualquer modo; ~(transfere-os" de ,S1.la lo cação externa pÇlr~ a unida,qe conteI1tora, qa psiql,le indi vidual. E ao fazer isso, o indivíduo descobre coisas notá veis. Ele descobre que ~ dife,rente de seu grupo, de $e11S amigos, de ~elJ cônjuge. Veja, enquanto nos identifica,rIllos, torÍ:l, o.utras pe,S soas, ou com U!l1a outra pes,Soa, estfl1l10S admitindo, auto maticamente, sem nenh-q.ma reflexão, que certas qua,li; dades ,e,experiência$ básjca,s e$U~os.endo co..wPÇlrtilhad.as. Ent~o, é l!-mª_revelaç~o e tanto de_$cobrirquen,ão, Çlol.,i tra PI?Ssoa ~ bem separaqa, com e~periência,s,e percep çÕ,es bemdiferente.s, Ull1 mundo totalmente dif~re.p.te, n,à verdade: ", I , . '- ( '- I Essa,s descobertas. são' toda,~ ,partI?, dPPTocessQ.ge individuaçi~.9, nQqual o indivíduo discrirp.ina-:$e, ,ç~da ,!,ez mais, da participation mystiq~e iniGial-,esse ~ Um termo técnico empr~gad9 .Q:~ psicologia jUI!~ianaL qUe yem do sociólogo ~~'\{!:Bruh!,.19~pois descreve de maIJ.eir,a muito adequada o e~tad9 do ego pr:im~~iyo identificado cqmseu ambiente. Pess.oas,relatiya:n1ente maduxas nãoqeve,riam se gabar de est~r livres d~participCftion mystique, poi$, podem acreditar, não esta,mos livres dela,. Durante_tQda, a vida descobrimos pequenos. pedaços de pçxrtiç.,ipation mystique, em lugares onde supomos p.avE)r algm;n tip9 de identidade quando, n~verd.ade, estawos lidandocoPt pro fundas diferenças individua,is. . , Claude Lévi-Bruhl (1837-1939) foi um filósofo francês.cujo estudo sobre a pSiCOlOgia dos povos primitivos deu à antropolo~a: uma nova abordagem para a Compreensão de fatores irracionais no pensamento'social,'na religião e na mitologia primitivas, (Nota do Editor) . '.: L •.. 19 .i 34 Ao longo do processo de diferenciação da identidade e realidade individuais dos outros e do ambiente, o indi víduo também se diferencia dos fatores internos. Vejam, essa desidentificação procede à medida que o 'processo analítico revela os .fatores internos, como objetos. Uma vez que um fator interno é percebid(l como um objeto de escrutínio, ele é percebido em ~ua diferença e o ego não pode mais identificar-se.:com ele. Assim, o indiví duo pode tomar consciência da sombra, e se. relacionar com ela, sem cair numa identific'ação com ela, ou projetá la. Projeção e identificação são duas versõ~!S do mesmo fenômeno. Da mesma forma, quando oindivídúo torna se ciente do animus ou da anima, ele não cai máis nem em uma identificação com a imagem nem em uma proje ção. A mesma coisa acontece ,com o Sio-mesmo. Então, esses são os procedimentos, procedimentos de longo prazo. Aindividu.ação é uma tarefa para avida toda, e só pode ser alcançada q:uando uma quantidade signifi cativa de energia é aplicada,a ela. Ela não é um trabalho de meio período 'porque ela é,o próprio processo da vida; ela incorpora _tudo 'o que acontece em,nossa vida. ' ' ,~~ Implicações' s~c,iais; ) I ~ : , I À medida que: o ind.ivíduo progride no processo de, autoconhe:cimento, qu,al alimportância 'de' se apmU'''': der sobre cada, um desses items, dessas funções, que aju dam a compor'aestrut1:lrada psique'da forma,como,des~ crevi? ..' 1 1 ; :, ' ; . :' C O ego é,o ponto,dê.p.artida'pÇlnltudo._Umdos objeti vos do processo de. vida,~ do processo natural de vida, bem como do processo de análise,é,o,desenvolviinento do ego~ Não há como passar porumà. análise de verdade, por uma confrontação efetiva cóm o'Ínconsciente"a não ser que se tenha um ego viggroso, responsá~el e ético. Antes disso I """ a ... ~TA r\('\ pnv~ 35 , " li 'I ili :11 ,11 I não há como colocar em prática uma'análise 'profunda, apenas uma psicoterapia de apoio 'que promova' o desen_ . ',,','. volvimento do ego. "'" ',')', " ,,', É de vital importância, em termos de umal estrutura social estável, que os/membros da soCiedade tenham egos bons, fortes e confiáveis/Isso' significa que eles precisam ter uma percepção:autêntica.de sua própria identidade; eles precisam ter adquirido uma estrutura de 'caráter que lhes possibilite funcionar de maneira responsávehm re lação às outras pessoas./Iüâoisso é produto do desenvol vimento do ego. Assim, para começar, o desenvolvirriento do ego é bom não só para 'o indivíduo; mas também para a sociedade. , ;, '" " II f 1 i -,. ',' '! Consciênciáda pers~ría J q' •. ,:';, ,I " I~ ~ . • • , /;. ::1 - \ ~ I. , ',I J / I I 1I 1 I/ /1 /1 11/ ! I "f ~1 Agora,. qual é o'valor,'para oiindivíduo ou para'aso ciedade, de se ter uma ,consciência da persona? Aqui nova" mente, assim 'como em.todo o autoconhecirnento,tanto o indivíduo 'quanto a' sociedadel são' beneficiados., 'Vejam; é muito comum, em maior ou menorigrau;'que'aiguém'se identifique com a própria persona. É tão conveniente. Já é bem difícil ser competente na área profissional e, .uma vez que se adquire essa competência, as s'atisfações d~ssa con quista são tão' importantes que existe forte téndência de o indiVíduo se identificar Com esse papel profissionaL,. ',í ; Assim, o sacerdote adquire uma persona apropriadáJ ao passar pelo seminário, e começa o seu ,primeiro traba" lho como pastor assistente; o estudante de medicina ad~ quire a persona médica, o advogado adquire a sua; e as sim por diante. E, uma vez adquirida, aS'coisas funcionam tão bem ao colocá-la em operação que existe forte tendên" cia de se identificar com ela.iMas o problema é que; 'para a sociedade como um todo, quando alguém se 'encontrai com o seu médico, seu pastor, seu ,advogadoj'Qu COm'o que' 36 /. uer que seja, não está encontrando com um ser humano ~teiro. Está encontrando-se com a máscara. Posso lhes dizer que isso é um grande problema na medicina. Os médicos são muito o~upados e ser uma pes soa real demanda muito tempo. E muito mais fácil fun cionar através da persona médica. A grande vantagem disso, embora temporária, é que não é ,necessário fazer muito esforço, você não precisa dar um retorno aos pa~ cientes a partir das realidades humanas mais profundas. Assim, você pode produzir muito mais em um dia;, pode visitar mais pacientes." L.eva muito mais te.mpoescutá los e dar um retorno mais humanoe isso lhe. deixa com pletamente atrasadono,s.eu,hQrário. ,~, " Tudo isso é compreensível. :Masseo auto-conheci-' mento está emjogo ese .0sjndiY~duos qu~r~m ;=ttingir uma personalidade completa e'simétrica, é importante que eles percebam a re;=tlid;=tde da:!Jer$ona e 9 fato de que ela não é idêntica ao ~gQ, Se eles, ,pqr aca.so,identifiçam-se com ela de vez em qUq,!ldo,, dev~mrentenderque estão diminuindo a si, mesmos. Uma vez que ess,as coisas fi cam claras, a id~ntificação inicial é quebrada e,m esmo que você escolha· funóoI).ar; ,a, partir ,da persQnaem, al guns momentos"você 'sabe.o, que está fazendo . .faz uma enorme diferenç~ o fato ,de se,fazer,algumaeoisa cons ciente ou inconscientem«;n.t~, pois a ~scolha está emjogo. I ~ ~r ! (t" 'I'),' ,:) Consciência da.sdmbfà'f. ~ ~ J (~ ;. ~ I #; I.! '1 fi . ; Indo para o proxtmo iteIIl,q. sombra, qual é a vanta gem social de se estar consciente dela? Posso lhes dizer que a vantagem 'é imensa, porque enquanto o sujeito está inconsciente da sombrk, ela'é projetada, normalmente em uma pessoa oU'grupo quefotnece'algum gancho, alguma qualidade' qUe, 'talvez apenas em um pequeno grau, corresponda/àrnatureza da própria sombra do sujeito. 37 Quando isso acontece, o projetor passa pela .qeliciosa ex periência de localizar o mal. Ele está ai,em você. Agora eu sei o que devo atacar parai transformar' o mundo em um lugar melhor. Nas projéções de sombra menores, tal vez nenhum dano muito sério seja causado. Apenas um arranhão na mecânica comum das relações'humanas or dinárias. Mas quando ela,câmeça a'funCionar em-escala coletiva, é um desastre. _ '. :,' Eu nem-preciso: dar exemplos disso,' pois eles .podem ser vistos sempre que se,tem umá facção em oposiçao a outra, atribuindo. todàsas intenções' más; sombrias, se não diabólicas, ao inimigo"Vemos isso acontecerem to..: dos os lugares. É Umá conséqüência- da 'projeçãó da bra, e. é1realmente uma .vergonha;· hoje :em dia, um ser humátio iupostarrrente maduro ser pego'em pUras proje, ções da sombra. Mas,vergonha oil não,; acontece' o tempo todo e traz enormes danos à nossa estrutura s'ociaI.; Desse modo, à medida que um indivíduo, por meio de um Processo analíticoóu.qualqueroutra coisa, toma) consciência de sua sombra, é menos- provável que ele a projete. Ele passa a reconhecer que à qualidade, idéia, Ou'1 estilo de vida particular-que e tão irritante na outra pes-' soa é, na verdade/timaexpressão de sua própria 'sombra,: que é responsável pela irntaçãd; ,Pod'eínos- tetcoisas de que gostamos ede·que não gostamos, mas quando certo' nivel de afeto entra em ação; essa é uma indicação infalí vel de uma prOjeção dá sombra. Aq lieles $Ue es,tã ;IWonSj CIentes de Sua própria sombra são uma enormeoameaça ao bem-estar da socü~dadeco1no'lúri todo. ~ .,: _ /, . ~ ~ .:h ~'. ~ ,:, Consciência do animus e da anima '.~,. 'J',p Sóm~' ',; ..::.' • • .r - •• _ ,,f _ ,_: ~aíspro:(u~dq.doih:; f-. ~ - .• ,j .' • .J!.. ' Aqui chegamos a umq.camada consciente, onde os aspectos sociais,não pogem,se;.,de.!j_ Crttos em termos tão simples, Elesestão,presente,s"mas 38 são muito mais complexos. Certamente, podemos dizer que alguém que possua até mesmo uma consciência ru dimentar da realidade da anima ou do animus irá se re lacionar com o sexo .oposto de uma forma mais autêntica, mais consciente, mais profícua e mais realista. Afinal de contas, a relação entre os sexos é funda mental para todo o processo social. A família baseia-se nela, e a criação dos filhos, seu hem-estar e desenvolvi mento psicológicojnicial, em muito depende do nível de relacionamento consciente existente entre os pais. O tipo de relação compreensiv.a, ' que consegue suportar o inevi tável conflito dos opostos, beneficia-se de uma conscien tização do animus.e daanima.\ Com,essaconsciência, evita-se a projeção mais·pura.e a pessoa pode. se relacio nar com o parceiro a partir. de sua:realidade" em vez de relacionar-se a partir. das expectativas. ilusórias, que se tem quandot.se projeta:a' anima ouo.animus. no.parceiro. -'t't :- (. , : ~~....,.,. Consciência dó Sicmesmo ~ r ~ • ,: ),~ .. (, , .' ,..... , ': J '~, ; Como eu já .disseantes, o Bi-mesmo é o centro e a totalidade da 'psique. ,Um de seus sinônimos é a Imagem de Deus interna. Ele é.a autoridade transpessoal da psi~ que. O egoé. a autoridade menor, o Si~mesmo, a maior, Quando o indivíduo estabeleceum.c.ontato c.Om o Si;:mes7 mo, o ego se relativiza; ele reconhece que sua vida deve ser governada por uma autoridade superior a ele mesmo. Agora, o que talreconhecjm€ m to tem a~ter'éoma so ciedade? Muita coisa, na verdade. De certa forma; pode mos dizt7f q~e -à' sociedade é '0 e$pelho exteriorizàdo da psiqu-e' individuaL Todà sociedade: possui alg'úirl tipo de líder '..:,:U:Ín: reÇpr~sidente','6u primeiro~r:ni~istró.Às ve zes, é uma oligarquia de aristocratas. Contudo, para que uma soCiedadéseja cresa é' orgânica, ela sempre precisa ter umà aütoiidade~entrar,e essa autoridade social.cen~ traI, externa, é um espelho da autoridade interha-do Si mesmo. Ê por esse motivo que, quando se, sonha com um rei ou um presidente ou com uma capital,na maioriados casos esse sonho se refere 'ad Si-mesmo. ' , O que está emjogo aqui é'a relação do'indivíduo Com a autoridade. Se ele não possui 'umaconexão com o Si mesmo e, particUlarmente, quando.oego é fraco, quando existe um baixo nível de diferenciàção~Psico1ógica _ espe~ cialmente em tempos de distúroios sóciais'e.angústias-i há forte tendência do Si-mesmo, o 'princípio da' autorida de organizadora central da psique, ser'projetado. Em tempos de corifusão,' o aspecto compensatório da psique é ativado;~ a desordem constela a 'Ordem ~, em tais circunstâncias,. a ordem é, em:geraI,impo,sta com um'grau de disciplina e,autoritarismo:: ~ ' : , ... O que pode acontecer em tais casos são projeções- co'" letivas maciças do Si-mesmo em um líder, um Führerpor exemplo. Isso aconteceu na Alemanha nazista, e temos aí uma lição da magnitude, quaseinimaginável, dos perigos da projeção, da projeção coletivá, do Si-~ésm~. Também podemos observá-Ia'em~todos os tipos de; cultos religiosos carismáticos e,. em menor escala, em todos os lugares. QUàn: do perdemos a contenção exercida por nossos mitos religio~ sos convencionais;'esse perigo' cresce. Essa éa maior amea~ ça à humanidade,t muito maior: do 'que a boinba 'nuclear.'1 I' tl'" ' '.' _1~. "J'_ • J.\ ' : ~ .' ,,"";., ;~ Transformação ~~Jíp~~eWAe Deus ' I ! d , , ' - ... ' li : ',: :: f. I !;:- r ~,. .' \)' ", ~,fi il " Jung coloca esse ~onceitó de, f9rll1a muitõ sucinta .éní " , ' , ' ) '. ') p, ,- , . " : •.' Resposta a Jó', quando diz: age sobre Ele". 20Vejam, ess~:ç mp~ q~çl#raç~osiP1Bólica. ~:m ,'I·' ; "'I" I " , 11 1;.,)'.'. i ,.,' " , " 0,1" " "Q1f~rp:c~~heç~;fJJe~'H' I, I l, tamb~m : f I : '. r" ) " :' ~. PSYChology and Religion, CW n, par. 617 ..yer Eclinger, Tran.s, formatLon ofthe God-/mage: An Elucidation ofJungí; Answer to' Job, pp. 60s. (Nota do Editor) " " , , '1, 20 40 .:~" " termos psicológicos, o Si-mesmo precisa do ego, da cons ciência e da relação do:ego'para com ele" para que possa ser transformado. Assim; colocamos essa idéia em nossa linguagem psicológica' neutra.. ,. (:' O Si-mesmo, ou Imagem de Deus~ .em sua forma in consciente, como eu jádisseantes,.ê uma.união parado xal de opostos. 'Esse é o;solo, de nosso, ser psicológico, e o Deus cristão do·amor.é;apenas.uma metade dela. Ê por isso que Satã nunca desapar:eceu;ele leva uma existên cia isolada, mas ainda está por aí. Jung nos demonstrou que Cristo e Satã são os dois filhos, os dois filhos opostos, da mesma diyindadeJparadoxal.~,.l.E- quando' essas ima gens chegam 'ao alcanceda'experiência empírica,elas. requerem algum tipo de reconciliação. Elas geram um conflito interno. intoleráv:el até"que. atinjam alguma re conciliação, e isso! é'o que acontece quandoo',indivíduol encontra a Imagem: de 'Qeus primordial: em seusr opostos: paradoxais. Ele experimenta a'ativação· do conflito ine rente à natureza da divindade. No entanto, também está contido em toda essa' dinâmica p potencial para a união: dessesopostos,que,Jem p1uitos casos;· pode ser ·alcançad& no processo de1individuaçãó por meio ,da imaginação ati~ va. A conseqüência:disso<.é:que'aJpsique,não mais, se en-'; contra dividida.' ,) ~);" ' l , \ I . ' Í ' ' • ' >',-, A psique cr,istã~estádividida,:eisso englobá. a todos) nós. O fato de você professar ou não o.cristianis~o é irrele'é vante; ele faz,partelda psique coletiva' compartilhada por todos nós\ ,de modo 'que .estamos:,todos divididos,. pois a, Imagem deBeusestá,di\iididaiNaNerdade; a divisão ocor reu antes mesmo do cristianismQ;ela ocorreu com Platão e os Estóicos; de forma que ela !possui uma raiz filosófica também:'Mas::essa diyisã9,·!~.ssa. duplicidad~ paradoxal 21 Ver íbid., pp. 11,81, 121s., e Edinger, The Aion. Lectures, pp. 565. (Nota do Editor) da divindade, é o que sofre uma reconciliação':etransfor mação quando uma consciência humana individual com promete-se com essa questão profunda. em sua própria vida. Assim, essa pequena parte da psique coletiva car regada pelo indivíduo é transformada. Se um :número suficiente de indivíduos passa. por essa experiência e, desse modo, participa dessatnansformação da' Imagem de Deus, eles agem como um tipo'de, influência para a sociedade como um todo e, de maneira bastante' gradual, surge uma nova Imagem de Deus coletiva. Bom, esta questão aparece· muito no pensamento moderno: "O Cristianismo 'está cornos dias contados? Será que ele está Iseesgotando?" Jung, fala algo ml,lito inte ressante a esse respeito. Ele diz que omito cristão possui, nele próprio, como parte de sua estruturatemática, a morte de Deus\Vamos ver se eu consigo explicarisso,:pois acho que é uma questão de muita impoItância. Segundo o mito cristão; e eutrabalho'em cima~disso no meu livro The'ChristianArchetypel:Deus desce à ter ra ao encarnar..;:l si' próprio como, homem, por meio da intervenção do EspíritoSantó,.que engravida.a Virgem Maria. Deus vive/então, ,na forma'de ,homem; uma vida humana na terra. Ele sofre uma pai 4 ão, morre; ressusci ta, e aí ascende aos céus. De modo que,' éI?;l sua forma encarnadá, Ó, mito descreve ~a divindade pàssando por uma morte. O que' acontece, então, depois' de.lsua morte,.'se" gundo o mito cristão, é que' .0. Espírito Santo .desce mais uma vez durante o Pentecostes~ E dessa vez, ,de ,acordo com o dogma, nasce a Igréja~ OPEmtecostes'.é consid.era~ do o nascimento da Igr!')ja;,Assim; o ciclo.da,.encarnação se repete: o Espírito Santo, a.dí:v.indade, de$ce ,e encarna, por uma segunda vez na Igreja; que se autodenomin~o corpo de Cristo. 22 42 Então, segundo certos teólogos ,23 a Igreja como o cor po de Cristo é obrigada a viver a mesma seqüência fatal de Cristo. IssO significa que a Igreja também deve passar por uma paixãO e uma morte. Pois a Igreja projeta esses eventos lá para o dia do juízo final, para o mais longe possível. Mas, do ponto de vista psicológico, devemos con siderar que isso está acontecendo neste momento. Com a Igreja comO o corpo de Cristo, a encarnação coletiva de Cristo, por assim dizer - Cristo foi a primeira encarnação, individual, a Igreja foi a segunda, coletiva, que também precisa passar pela paiião.e pela morte, e pela ressurrei ção _, segundo o meu ponto de vista, aressurreição inicia rá um terceiro ciclo, no qual o Espírito Santo se encarnará noS próprios indivídttos. . Esse é o argumento de Jung. Como vocês podem ver, quando eu o esmiúço dessa forma, ele se'1ll0s tra uma conti nuação e reinterpretação consistente e bem apropriada do mito cristão. Jung tinha, na verdade, uma grande.preo cupação de que o mito cristão não 'se perdesse para:o ho mem moderno. O que ele forneceu foi uma reinterpretação transformativa,do mito, com a noção da encarnação contí nua, a qual preserva. todo o rico simbolismo cristão, agora compreendido em um nível intiividual, psicológico. É assim que consigo entender o que significa uma nova época, e é por isso que Jung é, para mim, um homem que marcOU época. Estamos caminhando para graves distúrbios na es trutura social coletiva da 'sociedade ocidental. Jung esta va atento para isso, e chegou at~ mesmo a fazer a notável afirmação, em uma carta, de que ele escreveu "Resposta a Jó" porque não queria deixar"que as coisas se dirigis u sem para a'catástrofe'iminente}4 Q que ele .revelo na ;."' ~ J " 23 Por exemplo, o teólogo católico Hugo Rahner. Ver ibid., pp. 17, 128. (Nota '.. do Editor) 24 Letters,'vol.·2, p. 239: . '.' I ' . ' , ':' • " . 43 Ver esp. pp. 128s. (Nota do Edito~) - ------" dO:lC com a consciência humana. É isso que a transfor ma.alEsse é o processo que vejo agora em suas fases ini ciais e que, acredito, continuará com uma intensidade cada vez maior na coletividade. Experiências da natureza do holocausto nazista são eventos psicológicos, expressões da psique humana cole tiva. Elas não são desastres naturais, não caem do céu; são eventos psicológicos, fenômenos que ilustram a natu reza da psique coletiva. É isso que noS aguarda ao atra vessarmos a transformação catastrófica da imagem divi quela carta, de maneira lÍluitofclara;(é~qlle "Resposta a Jó" é um antídoto para o apocalipse. Se pudermos com preender "Resposta a Jó", estaremos em uma posição, do ponto de vista psicológico, de'sobreviver ao vi.olento ata que do apocalipse, da transição de uma época para outra. O que isso significa;.sem querer. resumir ó:livrotodo, é que há um processo em andamento" no qual a Imagem de Deus está passando por uma transformação, e que o processo dessa transformação.requ.er.que haja'uma çons ciência. humana dessa natureza divina, pÇira,que ,eJa pos sa ser transformada.rEsse,é um bom·resu~.o dessa idéia. Vou repetir. Aessência de "Resposta ,a Jó", que pode levar o indivíduo a .sobreviver psicologicamente ao apocalipse, está na percepção de que o apocalipse.é·llm-processo na transformação de Deus,no qual·, ·por meio da entrada na consciência humana, a natureza divina pode transformar se. Tudo 'isso está dito na Bíblia, no Livro de J,ã. El,l t,am bém discuto essa questão .no meuJivro sobre a série de gravuras de·Blake para o Livro de JÓ. f5, '.. ~Vejam,'uma.parteda natureza divina (e lembrem-se de que esto.u falando de maneira psicológica, não meta física) é que a Imagem/de D,eus é uma união .,de, opostos. Não é.apenas Cristo"mas.também Satã, Não é·apenas Iahweh do.Livro.de Jó, mas ~q.mbém.Behemoth e Leviatã. E essa Imagemde,D.eus paradoxal, cOm su,a natureza dupla, passa por um processo .de transformação ao ser experimentada pela, consciência,humana-. Ser vista, pela consciência humana é o agente de sua trallsformação, um indivíduo de cada vez. Ela-não acontece coletivamente, em um comitê; mas emumindivíd:uo de,cadayez, naque~ les que experimentam a,ambigüidade divina e, ,no pro cesso dessa experiência, penetram nesse Si-mesmo para- na de uma era para outra. O mundo pende em uma linha estreita, e essa linha é a psique do homem. Hoje em dia, não somos ameaçados por catástrofes dos elementos. Não há, na natureza, nada pa recido com a Bomba H - esse é um feito absolutamente humano. Nós somos o maior perigo; a psique é o maior perigo. E se alguma coisa sair errado com a psique?26 ,.:l : ~j' . ,.1 25 Ver Encounter with lhe Self: A J ungian Commentary on' Willi(,lm Blake's Illustrations of the Book of Job, esp. pp. 53ss. (Not~ do Egitor.). . " 44 26 , \ .) '. 'I " .. Jung, "The Houston Films", em Maguire and Hull, eds., C. G. Jung Speaking, pp. 303s. L-·_.. . -_. ,- 45 2 ~: ENCONTRO 'I! COM A PERSONALIDADE MAIOR ' I I, '11. , J,; iI :n ') j ~ ',tA' .. I I! II iI ~1~, :::,_4" I, ~I Alguns anos atrás, falei 'sobre o Llvro de Jó,' c~m uma ênfase especial' nas gravuras'que Blake fez para esse li~ vro.27 A minha fala hóje é' lim'éncadêamEmtb lógicüdessé assunto,' ou' seja,' o' te~a do'Jénco'ritro do ego com o Si~ mesmo, o centro regulador da' psique, Essa é á c~rátteristica básica da psicologia junguiana _ o ego e como ele se reláciona com a realidade do Si-mes mo, A psicolbgia jtinguiana é a únicavertentê da psicolo": gia que parte 'da idéia de que'há dois centros' na psique: Algumas outràs linhas, outras abordagens analíticas, es tão cientes dê. que há duas entidades na psique; o incons ciente é uriia'ségOOda entidade: Mas nenhuma outra linha parte dopiÍrlCípio de que há dois centros. Isso é exclusivo da psicologiajunguiana. Ejá que existem dois centros, se essa idéia chega a toiç1ar-se' cOl!s~iente, es~es dois centros de vem colidir, 'eles devem ter um e'ncontroum com.o outro, Isso acontece quando o ego, que é o pequeno centro, tem um encontro com o Si-mesmo, o grande centro. , Toda a análise psico~ógica não émáis do que um'pre lúdio pa~a ess,a e,xperiência, o encontro com o Si-pesmo. Vejam como Jung ,çoloco,ll essa.idéiFl-:, , . 7 " . . " ,; . \ .. , ;·r illl 1 I í'1 1 I I ~ iI ~J '. IL~ I !\~I. r II1 • ;; ~ r~ I1 111 II "I " ,~ :~ [,li pl " I~ ~ II il A Anunciação à VIrgem, por Mathis Nithart (Isenheimer Altar, séc. XVI. Unterlindenmuseum. Kolmar) . ( '. I' . • ',' I . (. 27 pubI.icado como Encounter with the Self A Junguian' Commentary on William Blake's Illustrations ofthe Book of Job. (Nota do Editor) 47 A análise deveria liberar em nós uma experiência que nos fascina ou que se lança sobre nós como se viesse de cima uma experiência que tem substância e corpo, como o qU~ ocorria com os antigos. Se eu 'fósse simbolizá-la, escolhe. ria a Anunciação.?' , ~; :' Bom, uma coisa que pode acontecer é que essa expe riência, embora seja preparada pela análise, pode não acon tecer durante o período da análise propriamente dita. Ela pode acontecer muitos anos mais tarde. Nesse caso, o su jeito irá se sentir muito grato por possuir algum conheci mento consciente sobre a psicologia junguiana. O sujeito tem um mapa, por.assim dizer, que o ajuda a encontrar a conduta1apropriada no momento em que essa experiência lhe cai dos céus. Ele pode dizer com Jó: "Ouvi falar de ti pelo ouvido: mas ago'ra :viriun-te meus olhos" (Jó 42,5). É isso que acontece quando se t~m tal experiência. Ela também acontece sem o auxílio de nenhuma aná lise, e pode acontecer sem que se tenha uma preocupação particular com o inconsciente. É por isso que acho extre mamente importante falar sooré'o Si-mesmo em público. Nunca saberemos quando est~mós falando com alguém que já teve ou que está para t'elumà'~xperiência dessas, e essa pessoa pode lembrar-sé"do dh~ foi falàdo e isso pode ser de grande ajuda nas hOra·s.de aperto. Eu sei, por experiência, que essas coisas acontecem. Então vamos falar do Si-mesmo. Mas o que é o Si mesmo? A natureza do Si-mesmo Como eujá disse antes, o Si-mesmo é o segundo cen tro da psique, e o ego éd pnmeir6:J Para:se dizer'u:mLpou co mais, ele é o centro opjetivo, em oposição ao centro .. : i . -', : 28 48 Seminar 1925, p. 111. 'I t ). ~ :, ';, .:' ~ [i subjetivo. É o cen~ro tran~pessoal, que inclui ,tanto a cons .ên quanto o lllconsclente. . . ..' .. S CI cia , . IssO não é uma teona, masf um atO. PrecIsamo usar palavras para descreVer os fatos, mas posso garan,ir-lhes que estamOs falando de um fato, que p~de se"comprova do pela experiência de llluitas pessoas. No entanto, ece ê por muito difícil descrever o Si-meSmO:, Qgue, I:!CoI;lt ele ser uma entidade maior do. que:o egp, oJl.lWsiglüfjça que ele não pode ser compree.ndido,.nãO PQO,e$er:.abl?-rça-: do. em toda a sua extensão, pelo ego. por esse motivo, não pOdemos defini-lo. Para podérino s defini,' áli;Um"'Ópisa, ela tem de ser menor dQql1;e Isso é ~ ~ ó~go que'.·a. ~ define. I... contraditório e paradox ;3.I,p.o.qV.e C;op.cer,I:t.e }i$ c~tegorias de compreensão do ego.:E,.assim comO, a pedra filosofaI dos alquimistas, ele possui muitos sinônimos; que expres sam as diferentes facetas d~ssa reaiídade complexa. Um dos sinônimoS ql,l~ rltmg propôs para o Si-mesmO é Perso nalidade Maior, e "e1>sa é a. entidade específica da qual , • • J _.' - • j , vamos falar esta noite. Jung introduz esse tema em seu artigo "Concerning Rebirth", onqe elefàla da individuação comC! "um proces so demorado de transformação interna e do renascimento ser",I:e ')C1; assim vai: em um outro " ;,)~' s ;~?l'L~r~; 1: ~ ~ Este. ".Ol!..t:r:().>s,er'~ éo ouwü~Jjl ;nós"a,.personali~ade fU~1,1ra. mai!3 .. ÍlIJ:..l p'or é. confortante noS. ao amigo , ,para " í ' encontrarmos ,., . .• " o....... ,. "e compa- . mo nheiro reproduzido num ritual sagràdo, c9 ; por ex'em RIo, naquela(relação de amiiadeéntre Mitra eo deus É a,representE1'çãO de' uma amizade >masculina, ,imagem externa d~ \lW.fatoJ}:lt~rnQ: .tratacse da:çepresentaçãoda. relação com o ,ap;tigp ,inter.nq da,alma,np,qpfl\ a. própria natureza gostaria de noS transmutar: naquele óutro, que tambérh sdmo ;: e que nunca chegamos' ~á.lcánçar plena: s mente. a;nomemé'b'par de Dióscuros;:eheque'uin é mor tal e o outro, imortal; 'sempre estão juntos e apesar dissO nunca.s transformam inteiramente num só. Os proces e sos de transformação pretendem aproximar ambos, a cons ~D,1pl,!}; 'l, " a~tgo,}pt~r,n9 ~l}~I?1~' . ~~so ~lgo_ SoL~ 49 ciência, porém, resiste a isso,. pQrqge o outro lhe parece de início como algo estranho e inquietante" e não podemos acostumar-nos â idéia de não sermos senhores absolutos na própria casa. Sempre 'preferiríamos ser' "eu" e mais nada, Mas confrontamo_nos com o amigO'bu inúnigo inte rior, e de nós depende ele ser um'ououtro. 29 • :' t ' É aí que Jung introduz o tenno Personalidadé Maior, mas nesse mesmo artigo ele descreve o encontro do ego com a Personalidade'Maior nessas importantes palavras: culmi~ante qU~' Num pont'o' da vida em o hotão:se abre em flor e do menor surge o maior, "um torna-se dois"; e a figu ra maior que 'sempre fomos, mas perm"anecia invisível comparece diànté do homem que'fomos até então, com a força da revelação. Overdadeir:amente pequeno e sem esperança sempre reduz à sua pequenez a revelação do grand~. f:l jam4is ~ompreenderá que o Juízo Final também despontou para a sua pequenez. O ser humano intima mente grande sabe, porém, qúe o amigo da almâ; pelo qual há tanto ânsiava, o imortal, chegou enfim de fato para: levar "cativo seu cativeiro" (Ef 4,8), aquele'que sempre trouxe em si aprisionado a fim de capturá-lo permitindo que a ~!Ua 'vida dese~bocasse naquela vida maior.: um momento dê perigo'mórta1!30 . '. " ; ,. '. r .'. 'J f, Essa frase final nos atinge comb um raiá. Depois:de ouvir a bela descrição do encontro do ego com a Persona lidade Maior, ficamos sabendo apenà's no fim q'ue esse encontro é perigo só, de um perigo mortal. IS,sç faz,.refe rência ao efeito dano~o ,quEl o Si-m'esmo exerce sobre o ego no primeiro encontro. Na pior das hipóteses,o encon tro do ego COm o Si,mesmo póde'desencadear uma psico se. E mesmo na melhor, o piimeiro edecisivo'encontro do ego com o Si-mesmo traz consigo uma humilhação dolo rosa e um sentimento de derrota desmor.qlizan~e. Como . . _J:,t 29 30 50 l." 1) Existe um enconf~o 'entre o' ego' e 'a Pe~sonalidade Maior representada por Deu~, por um anjo ou um ser su perior qualquer." " ., " ' 2) Existe uma ferida;ou uni sofrimento'do ego, em decorrência desse encontro. . ' 3) Apesar da dor, <> ego 'persevera e resIste à prova ção, examinando a experiência .em busca 'dq s~u signifi t. cado. . ., 4) Como conseqüênCia dessa perseverança, há uma revelação 'divina,:mediante a qu~l o ,ego é'~~compensado com um insightsobre a psique transpessoal. ' Repetindo: há um encontro, unia ferida, u~à perse, verança e uma revelação. Darei quatro exemplos desse tema: Eles variam, cada exemplo enfatiza,um a~pe'cto empa.rticular, mas, se olhar mos para todose'les juntos, eles' nos fornecem uma ima gem ampla da natureza desse fenômeno. Cada indivíduo que passa por essa experiência a vivencia de maneira úni ca; ela, nunca será exatamente como a de.Jó·Qu do apóstolo Paulo, nem como a de Nietzsche 0'l:l de quem quer que seja. Mas o conheCimento' de vários exemplos lhes ajudará a reconhecer o fenômeno quando vocês o encontrarem. lista enorme partindo da his . . Poderíamos 'fazer uma I , to ria cultural humana, mas: só para lhes dar uma breve idéia, aquívão alguns e,xemplos: Jacó e o anjo de lahweh, " j '": h e .< • ' .. The Archetypes 235 . par. 217. and the COlleétiue UnconsCious, CW 9i, par. 'j : TL" Jung coloca em outro momento: "A experiência do Si-mes mo é sempre uma derrota para o ego".31 A experiência de lesão ou de derrota faz parte do que chamei de arquétipo de JÓ. 32 Usei esse termo porque a his tória de Jó é um exemplo,bem apropriado desse padrão cujas característicascÉmt.rais são quatro: 31 My!,~erium 32 Ver Ed,inger, 'Ansuier to Job; pp..2955, , par,n8 (itálicos no original). God.[mage: An Elucidation of J ung's 51 ,.I: li ~l II li '( .') I " ~ I' =) sobre o qual falarei; o encontro de'Arjuna com Krishna, sobre o qual falarei; o encon~ro de-Paulo com Cristo; o encontro de Moisés. coin EI Kidhr, o homem verde, qUe vocês podem encontrar na 18. s s ura doCorãoi o encontro de Fausto com Mefistófoles no,Fausto de Goethe; o capi_ tão Acab e o encontro ,Coma baleia no Moby Dick de de Nietzsche com Zaratustra, ,sobre MelvilIe; o o qual falarei; e, po:r;- fim,: aquele 'que est~ mais próximo de todos nos, o enéontrode iung com Fi1emon, como ele o Meníórias~Sonhos; descreve Reflexões.em " seu . livro autobiográfico, ! ," : ' , r, e~contro }t, "." " Aqui, ficarei " , apenas com os que 'se referem , a Jacó, Arjuna, Paulo e Nietzsche. Como prOCuro dar apenas' uma visão geral desses exemplos, por favor; perdoem a manei ra resumida como trato cada um deles. É realmente uma grande inj':'stjça'iratar' de forma tão' epis ódios tão profundos da história êultural da raçk'humàha. Aminhá justificativa para tal é dar voc'ês uma idéia do arquéti po, e não conheço nenhuma forma melhor para isso do exemplos individuais. 'Eles' vao, 'q ue apresentar '., , I. breves . , ',," no mínimo; dar a vocês uma idéia da imagem simbólica geral subjacente', que fu'ncíona com: algumas' variações individuais.~ . ;, . '. r,' , , '.' " ~reve a 'J, ~ :. ~.' '. .,'1 " " ',. , , , JaCÓ e o anjo de Iahweh ' , ., " ; -; "~"~O,' ~"• r~ j , Esse relato e~contra-se ~o capít~1;32 'do Gêne~Ú{ Vocês devem que Jaéó seu' i Esaú o direito de primogen,iíura çoro um e de: pois, conspirando coms lia mãe a de seu pai, que pertencia, por direito, o filho màis velho. Então, Jacó teve de abandonar sEm país'para escá' par da vingança do irmão. Muitos anos depois, com duas esposas e uma riqueza considÉwável, ele ~~Ve deret9rnar ao seu país. Mas esse retorno significava qu~ ,ele teria de lero~>:ar,~é d~ 52 (i:o~ d~' rn;~ó embu.~te; )leb~ca, 'roV,bo,~, ~ênçà~ ~ Esa~, se encontrar com Esaú, o irmão que ele havia prejudica do tantos anos antes, e ele, certamente; estava com medo. Sempre temos medo das pessoas que prejudicamos. E na noite anterior ao encontro com Esaú, ele encon t;ou-s e com o anjo de Iahweh no. vau do rio Jaboc. A Bí blia de Jerusalém traz o seguinte relató desse evento: E alguém lutou com ele até surgir a aurora. Vendo que não o dominava, tocou-lhe na articulação da coxa, e a coxa de Jacó se deslocou enquanto lutava com ele. Ele disse: "Deixa-me ir; pois já rompeu o dia" .. Mas Jacó respondeu: "Eu não te deixarei ,se não me' abençoares". Ele lhe per guntou: "Qual é o teu nomer - "J,acó", respóndéu ele,Ele retomou: "Não te cháinatás mais Jacó; mas Israel, porque foste forte contra Deus e contra os homens, e tu prevale ceste..." E ali mesmo o:abençoou. Jacó del). a este lugaro nOple,de:Fanuel, "P9rqq.e", dis se ele, "eu yi a Deus face aJace e a minha vidl:i foi salva". Nascendo o sol, ele tinha passado Fanuel e manquejava de uma coxa. (Gn 32,25ss.; Bíblia ,de Jerusalém)' . Essa históriaco~témtodo's, os quatro'elementos ci~ tados acima. Há um encontro com um .ser superior, uma ferida, uma perseverança e, por fim, uma reyelação divi, na. A revelação nesse.c~sbé,.emprimeiro: lugar, a bên ção, e em segundo; o inv:estimento.de um novo nome, uma segunda identidade. A identidade coletiva de Jacó é'reve lada porque ele agora se torna, o antecessor,de IsraeL O 'queí,é ,par.ticularmente interessante~ do ponto de vista psicológieo, nesse exemplo, é que ele mostra que um encontro' com a Personalidade Maior pode ocorrer junto com um encontro com,a sombra. Jacó também ex perienciou grandemente 'o.e,ncontr.o ,posterior com Esaq como um encontro com.Deus.·Esau tornou-se,,para Jacó, um tipo de. substit.uto de, Deus. Isso aconteceu porque a consciência culposa de Jacó imbui Esaú de um poder divino ..AsEscrituras dizem,démodo específico, que quan do Jacó .enco!,\tril"se com ,Esaú, .diz a ele: "Vejo tua face, 53 co.mo. se visse a face de Deus: .." (Gn 33,10), de'mo.do. que Esaú e Deus so.brepõem~se.Psico.lo.gicamente, isso. sig nifica que a so.mbra,. quando. 'não. no.s relacio.n,amo.s co.m ela, po.de ativar o. Si-mesmo.,.e se o. indivíduo. enga .no.u a so.mbra, o. que, é ativado. é o. Si-mesmo. em seu as pecto.vingativo.. Esse tema,po.de o.peràrjnternao.u exter namente. . De uma fo.rIrIa externa, se, fiz mal a algué~, terei medo. do. desejo. de vingança d~ssa pesso.a'., Sei que ele tem o. direito. de s~ vingar po.rque eu o.'prejudiquei, e essa si tuação. co.nstela o. Si-rit,~smp. "'A mim;pert'eq.ceà ~ingan ça', disse o. Sénho.r" (Dt 32,35). To.do. o. fen.ômeno. da vin gança pertence ao.' centro. traI!spesso.al da psique, ao. Si-mesmo., e se uma pesso.a fo.i prejudicada seriamente, uma respo.sta d.efensiva do. Si-mesmo. é âtivada. Se al guém co.lo.ca o. Si~mesmo. co.ntra vo.cê, vo.cê está em gran de desvantagem. ." " , ' De forma semelhante, se vio.lei a figura inte'rna que Co.nstitui minha so.mbra, isso. po.de pro.vo.car uma vingan ça do. si-mesmo. .co.ntra.o ego, e to.do. o.'tipo"âeco.isaspóde aco.ntecer - po.sso. me éo.rtarco.m a.serra.elétrica, o.U so~ frer um acidente de carro.; qualquer co.isa desse tipo.po.de ' •. ':' ' ..) aco.ntecer se essa co.nstelação.:se instalar. Ago.ra"o.'que Jacó·precisafàzer nessa.sitúação.é ~n~ co.ntrar a reação. que fo.i co.nsteladate,supo.rtá-.lasem su~ cumbir nem a.uma ho.stilídade:defensivanem'ao. deses pero.. Se ele tiver sucesso, :isso. co.rrespo.nderá a uma.luta bem-sucedida co.m 6 anjo.'. Uma maneira de se pensar nisso. é que, talvez, Jacó tivesse de lutar co.ma.raiva que sentià. po.r Esaú antes de po.der chegar a uma atitude co.nciliató~ ria. Sabemo.s que ele chego.u:a uma atitude co.nciliatória porque ele envio.u presentes.a Esaú; sendo. bem-sucedi do., mas ele não. po.deria fazer isso. antes .de superar essa reação.. Essa reação. po.deria se expressar tanto..na raiv.a co.ntra Esaú po.r lhe causar pro.blemas, .quanto. em um 54 terrível medo. po.r saber que Esaú tinha uma acusação. legítima ele.o.bservação. . . ' muito. pro.funda so.bre isso., Jungco.ntra faz uma em Símbolos da 'Iransformação: Inicialmente ele (Deus) aparece, portanto, sob uma forma inimiga, como eútidadeviolentacontra a qual o herói pre cisa lutar. Isto corresponde à violência da dinâmica in consciente. Ne!\lta o deu~se revet(l, e nesta forma ele deve ser vencido. A luta tem seu correspondente na luta de Jacó com o anjo deJavé nov'audo jaboc.. dsurto de violência dos instintos é vivência divina q}J:ando o homem não su cumbe à força deles, não os segue cegamente, mas defen de com sucesso sua condição hum'ana contra o caráter animal da força divina.'É,"terrívelcair nas mãos do Deus vivo"(Hbl0,31).~3, ':' ,., O que ele di'z aqui é que afetosintensos sao manifes Maior. NÓs n~ncà nos' tações da PerSoriàlidad~ . "",' " déverlaÍríos \'" ' respúnsabilizar u.mafetú intenso. dessa Ílatureia nunca é acio.nado. po.rnós. Ess:(ls cúis?-s 'caem ,do. céu, ou bramem das pro.fundezas. Todo afetôintenso é uma mani- af.àque ifúrIúSo. festação. do. se podemos nos relacionar com ele com essa compreensão; então ele se to.rn a uma experiência da divindade, assim comO. fo.i alcançado. na luta de Jacó co.m o..anjo;' ,v .. :í, Outro. aspecto. de tamanho encontro é mencionado púrJung: "'."',", '-, '; j I.:"> j . ' , ' " p~r ' " ~g~ '. si-mesm~ "o do in~tinto;' ~e J n~o ~;,: '::.;.'\ disc~tid,,: e·s~. Um Jacó contemporâneo .. , ficaria indeciso na posse de um s",vedo quê pudesse ser tornaria. um· estranho na.."coletlVldade,.34 ! .' l' :' ' ':~" ,-- J_ J l Isso éorrespo.nde ao. fato. de que um' enco.ntro com à Personalidáde Maiúr é riecessariamente ül:n segredo; não. se po.~e falat so.bre ele, úU, pelo. meno.s,' não. se po.de en '1' _L_-_" 33 .• :, .~'" ,,)'. ,. - ',,',;'-'" cw 5;pa~ 524(gnfo meiÚ,' -:: r ,:,.' ,;'/ . ~ .' M'mo"",,·D,,om', R,J",tiO"" .'! J' 4 •. 34 .. i,'; '. (,' .,. ,'. " 55 trar em detalhes. É um segredo que cria o indivíduo.comq algo separado do coletivo e, ao mesmo tempo, éuma feri da que separa e aliena; de· maneira dolorosa, o indivíduo da coletividade, de forma a possu~r tanto um ladopositi~ vo quanto um negativo. ,. Um ótimo ,~~emnlo: desse fenôm~ngl,é ~flg~i'a de Filoctetes,no mitogrego.rEle herdou as flechasdQuradas de Héracles, 'representante da, Personalidade Maior no mito, Filoctetes; uma pessoa comum como todos nós, não sabia lidar com tal ~rmà e se feriu com 'uma das flechas envenenadas, que herdou.,Aferid? tornou-se incurável. O fedor era tal. que ninguém conseguia ficar perto dele, e então ele foi abandonado em uma ilha. Contudo,' num dado momento um oráculo disse que a guerra de 'Tróia: só po deria st;'lr vencida pelos gregos se eles obtivessem a ajuda de Filoctetes. 'Eles tiveram"de ';voltar, e se' desculpar pelo banimento dele e tr~zê-lo àe 'volta à ~oretivida~e. 'É's'se é um belíssim6j~xem.ploàe certo aspecto ,do fenômeno; 9 indivíduo fica ,~lie~a~() ,e torna-se"um 'peso desagradável para a coletiv!dade.~~~áindaa~sim;·a colétividade preCis~ dele. ' '..ti " , ,~, .. I,' .'~; Arjuna e • fr ~ b ~ -""-1 . . . . _·· I Ktishna;,),.,~ ' ,f .1 ..__ " . _" . . ., 'J1 -) ., _J Esse é realm~nt~ ~niJ~~emplo' ma~ífic~ àe'um ,e~: contro com a Personalidade'Maior. Está reiístrado Bâ! gavad-Gita. Assinícomo OYI:,Ívro de'Jó, súàcaractérística central éum diálo'g~"erifre'un:í homem.'supéragoniado e uma personificação da divindade:' Nãó terihoum 'és tudo mais profundo arespeito do;Qita.Ele é, ohv,úl.mente, um documento composto que chego\l à sua forma,atuaI.devij do a uma série de acréscimos., Mas eu ,~cho,:consideran; do-o do ponto de vista psicológico, que não é de todo possível que ele tenha se originado, assim cO,mo acredito que o Livro de Jó tenha se originado;lda.experiência real 56 de uma pessoa com a PérsonalidadeMaior. Seja como for, em sua forma ,atual ele é tini' dos exemplos mais refina dos do mundo sobre ess~ ~xperiê~cia. , ,A hist.ória começa com o.desesperodo príncipe Arjuna antes de uma batalha, em que ele não quer entrar por que ela' é contra seu próprio povo. ao expressar sua angústia, o deus'Krishna responde por meio 'da figura do cocheiro. Primeiro fala 'Arjuna: . Ó,Krish~a, ve~sio aí o m~~,povo; re.llnid~ aq~i, ~çqen: to por uma luta, minhas pernas traem-me, minhâ'boca: seca' ' .. , ".'.,;,. ,c' Meu corpo treme', meu' cabelo arrepia-se, meu Gandiva (arco) escapa ,à minha mão, minha pele queima~se." Ó Keshava,(Krishna,o assassino de Keshi), eu não con-, sigo ficar de minha mente está confusa e eu vejC! pres~ ságios adversos. .' . Ó Krishna; eu também não vejo nada de bom em ex termin~r me\l prqpriq po~o nessa batalha. Não qesejo nem a vitória, nem o reino, nem os prazeres... " Essesglierreiros eu não desejo:matât, apesar de eu ser morto, por éles. 3? ' ;I h l' ,KrishÍla responde: ';:! l } ~ 1 ' ~ '! ! . l,' ! l. ~ , Estás lamentando-se por aqueles a quem não se deve ria lamentar... mas o verdadeiro sábio lamenta-se nem p~19 Il1qrt(), nempelp y:ivo... !". c" ,; , , : , '. " ,Esses.corpo~ são perecív~is; çont].gio, os.habit,aI1tes çles ses corpos são 'eternos,' fndestruhveis' eimpenetráv'eis; pbrtanto, lute, Ó descenden.te (de Bhadtiár' ' (.~ ," Aqu,el,equ y ? (qi ~ Il1ei!?rp.o), ~on~,iqera o, ,exte:r;minador ou aque!e q1fe pensa que ele .cSi-ml~sIlfo) é exterminado, ne nhum deles conhece a Verdade, pois Elé não extermina nem é extermiríádo. J , ' • r, Elfii,(Si-mes~'r'ío) nu~ca na,sc'el,i,' ~'nun'ca morre) nem depois de tervóltado não:ser~'Ele(Si~rúesn:lO) não nasce, a " , 35 "The Blcssed Lord's Song" (= Srimad-Bagavad.Gita), traduzido por Swami Paramanada, em Lin Yutang, ed.) The wisdom ofChina and fndia, p, 59. 57 é eterno, imutável, antigo. Nunca é destruído, nem mes_ mo quando o corpo é destruído..: ' . '" Sendo assim, 6 filho de Kunti, erga-se e vá a luta. Considerando o prazer e a 'dor, ganhos e perdas, vitó_ ria e derrota; entre nessa batalha. Assim, o pecado não o 36' , . maculará. De modo. típico, a Personalidade. Maior apresentou uma atitude muito ampla para:a compreensão do ego. Arjuna está confuso porque lhe .foi apresentada uma atitude para q.lém dos ·opostos. E,'nesse caso,o't~ma da ferida esta representado pela su'a confusão. Vejam, a ferida não é tão proeminente nessa história "oriental quanto oéna, história ocidental de Jó, e.isso, acredito, diz algum'a coisa 86bre a diferença entre a, psique orien tal e ocldental' . t., 'I De , ; qualqu.~r mgdo, Arjuna responde: i',',' , . ~e 6 J anqrdaI'ia, ó Kesh::lVa (Rnsh.q,aJ, 'para:ti (6 caminho da) sabedoria é superior a (o caminho da) ação; então por que estás co;nprometendo-meconú~o te'rríveláç'ão,? Com essas palavras aparentemente conflitantes, estás confun dindo-me a compreensão. (Aí está a ferida, vocêsyêem) Assim, diga-me com convicção qüàl que, segúindo o, possolchegaI; aom,ai!? al~o}7_.,!, ,fi -.. }. 'i f.~ ., #{ , .. ~t~~~, , .., Aquele que, controlando os órgãos da ação, senta-se retendo o pensamento dos objetos do sentido em sua men te, esse ser auto-enganador é chamadÇl de hipócrita . No entanto, ó Arjuna, aquele que, controlando os sen tidos com a mente, segue sem apego o caminho da ação com seus órgãos da ação, é estimado; Realiza, portanto, as ações que lhe são impostas, pois a ação é superior à inaçãp. Sem ,trabalho, até mesmo a simples manutenção de telJ. corpo não Serla possível. Este mundo é determinado'por açõ~s, exceto quando elas são executadas em noine de Yajna' (sacrifício religio so, adoração etc.). "0 filho de Kunti, realizaas·ações sem apego.~a,· " ",\ J • ::';' _ d~plb :' 6 homem ne'stemtlndo está 6 caminho que descrevi.Q câminhO,pa saoêd()ria ~ para os meditati vos, e o caminho do trabalhb é; paiáos ativos'. ;' " , O homem não alcança a liberdade da ação pelli não execução da ação, 'nemalcançá'a peifel:çãó'simplesmente abandonando a ação. , I ., ' " " 36 58 Ibíd., Pp. 62s. Ibíd., p. 67. > -' ~ _"'.. _,. ; , ~'l C.' ~.' i t E então Krishna prossegue' com 'o que sÓ"podemos chamar de ufiI'a explicação muito paciEmte. Eu o imagino começando comi U,~ SU$pirQ. li" .. ~r', !: " .'. " ! 37 . ," ;. " .~. ~. ... I 1"1'" Eu sou a origem e também a dissolução do universo. (Essa é a frase que reverberou na mente de RobertOppenneimer ao testemunhar a primeira explosão atômica.: "a origem e a dissolução ,do U!liver~o::) N'ãp há nad:;t que exista acima de tod9 universo és~á' . preso mim,' Gomo pérolas em um Cct1iir, r I.. , a Mim: Sou o gosto âis águas e o esplendor do sol e da lua, A alma' sagrada; Om em todos 'ó~1Vedas, 'o som no éter, a cOf!.sciência D.? raçap.~mana. Sou a fr'i\gr~ncia sagrada na tem;! e o)Srilno rio fogo.. So~'a :vida erp,todos os seres e a ,B:tlsteridaêle nos ascetas. Rec,ollheçam-me como a semente eterna de tõdos os seres. Sou o intelecto do ea bráVil~â ci.os·br~lVos. '6 AI]ü~~; conheço o passado, o n",~}(""'C1r.p , .~ o futuro de.todos os seres; mas niriguém Me ",V~.La'-." )'.)" pur~, "'.~ lI' . "f A isso segue uma des.crição long? e magnífic;;t do modo de vida religio~o. Particul~rment~ digna de flOta é a des, crição de Krishnà" çle s~a próPTi?, natur~~a: I~ein~ le~~ brem-se de que, do, pqnto d~ vist?, pSicóh?gico, o qll;e est,a mos escutandQ é f) Si-:mesRlf), descr~ven,do,$ua própria natureza par;a o eg9. ~'l1tão, ,e$sa.l ~ão é"ílpenap, 1i1:l1a his; . . tória de um~vento remot?; é m;n relato ~e ':lWi1 eXI?eriên-; cia que pode se suceder com qualquer um de" nós. Vejamos como KrisJ:;ma descreve a si m~S1JlO, em parte: I I " ~ '\' •• o ~" .... , , ..... , " \, .;1: ,I !' 1;. ) ~8;Ibíd: 39 . "" Ibíd., pp. 80ss. (modificado e abreviado), F;Q Lembrem-se, o que está sendo expresso aqui é a na tureza do Si-mesmo, o que a psique ÍIldividi.ul1 pode en contrar. Essa é a' maneira COmo o' Si-m,esmo fala de si. ,-, . , essa é a sua fenomenologia. Aúnica manifestação dispo_ nível para o Si-mesmo na consciência é como uma encar_ nação individual. Cada Si:..rnesmo individual, à medida que se torna manifesto, expressa-se dessa forma. A maneita'comó RrlsJína descreve-se asi mesmo para Arjuna é semelha:\lt~ à maneira como Iahweh fala com Jó no furacão. Mas, ao mesmo tempo, é bastante diferen_ te. Vejam, todo o estilo é diferente, muito mais calmo, mais objetiyo. Aqui não há furacão. Pode-se dizer que é mais civilizado, 'mais' pSicológico. 'Psicologicaniente, o Ocidente é bárbaro se comparado com: o Oríente:Mas o que Krishna' faz··fé i explicar, .corli muita: padêndà, .para Arjuna', dessejeAo caimo,·objetivo,adiferença.:entre o ego e o Si-me'smo; inteirando~o, assim, dá natureza da Personalíd:úÍe Màior., E essa revela'ção aconteceu porque; Como Jó, Arjuna'persev,erou'e qulistionou Krishna~ ) ,',.\;. ;~.,-'~ Paulo eCristô L ) , I ~~--~~._>:. ' 'u, -,' ,I I ". .,' '. fI-., :,j Aqui, mais.l1mª vez, voltamo-nos'àsescritl..!Tas de outra religião mundial. Os textos relevantes 'encontram_ se basicamente nó Livrados Atos, e vou ler pará vocês uma compilação, um r~sumo tom.~inna's próprijlS pala vras, dos acontecíment9s' essé.ncüús\ Patilódiz"assün: Antes, eu achava que 'era o'meu dever usar todos os meios para combater o nome dé Jesus, o Nazareno: Isso aconteceu em Jerusalém. Eu mesmo mandei muitos san tos para a prisão, sob a'autoridade do Sumo sacerdÓte. E quando eles eram condenádos à niorté', meu .voto era sempre a favor da: pena. Muitas vezes', ~odéava as' SInago gas infligindo penas, tentando, assim, forçá-los a renun ciar à sua fé, Minha ira contra eles era tamanha que eu até mesmo os perseguia em outras cidades., ',' o 60 Numa dessas expedições, eu ia a Damasco, armado com plenos poderes e com un:a ,carta do sU,mo sac~rdote. Ao meio-dIa, enquanto ~egU1a ~o meu cammho, VI uma luz, mais brilhante do que o sol, descer dos céus. Ela: brilhava ao meu redor e ao redor'de meus compànheiros de via~ gemo Caímos todos no chão,' eeu 'ouvi uina voz dizendo para mim em hebraico: "Saulo, Saulo" porque você. me persegue? É difícil paravpcê, lutand9 assim contra a cor rente". Então eu perguJ,ltei: :'Quep; é você, Senhor?" e Elé respondeu: "Eu sou'Jesús 'e' voéê está me perseguindo. Mas levante-se, pois eu apateci a você por esse motlvo: para designá-lo como meu servo e como'testemunha'dessa vi são na qual você me viU'; e ,das. outras 'nas ,quais.aparece rei para você.' Levante.s~;",agora. e ~n,tre n11. c~dacj.e e lhe dirão o que voçê ,dyy~, fazt:;:r~'". " ~: Os homens que viajavarrl com Sa'ulo ficaram sem fala, pois, apesar de terem' ouvido' a voz, :hãoçohseguiam ver ninguém: 'Saulo levanfou.lse,' mas, 'mesmo'éom os olhos bem abertos"não conseguiave'r nada; e tiv.eram de guiá..; lo até Damasco. ,Por ,três; di<}s ,ele nã,o.eIl?'ergou nada, e. ficou sem c9~er,nem be~er'1, 4..' '! . .1, ' 'I , • , , Bom, a princípio Paulo fico.u ,absoluta:,?en~~ ab~lado com o encontro ,com a Personalidade Maior. ,Ficou cego por três dias\e, segundo algumas tradições e outros rela tos, existem motivos para se acreditar'que ele levou três anos na Arábia para se recuperar, Osrelatos Bíblicos não dizem isso exatamehte, mas 'existem algumas tradições que o sugerem. 'Eu' acho muito provável que tenha sido assim.""'," . ;.:' . .. . Paulo \dentifiéou' á Personalidadê;Maiorque-encon trou com Cristo, Essa é a origem da Igreja Cristã como a encontrá com a'Personálidade Maior pode conhecemos. provocar uma resistência violenta do ego consciente, como podeJitos ver com a'p~rseguiçãb dos cristãos por Raulo an bem tes deder a'visão. Esse é,um'fenômenopsicológico 't . . documentado,' e b encbntnúnos com certa freqüência na análise, É claro que, no caso de Saulo, isso é compreensí vel, em vista do fatá dequea consciência que lhe foi trazida Um . ~.. ~,' I • I ~ ~ ., " 61 pelo encontro com a Personalidade Maior impôs àlgumas exigências super-rigórosasem Sua vida. Ele·foi obrigado a totalmente depbis,doencontro. sacrificar sua vida pessoal r , ,," ,.. Ele tornou-se uIIles~ravo,de Cristfi. Ele começa "!-~ cartas aos romanos e aos filipenses chamando a si pqJprio de Paulo, servo de Cristo. E começa.a carta a Filemon com as palavras: "Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo"; E é isso mesmo que ele'era, literalmente um'prisioneiro. : A experiênci;;t de Saulo é uma das declaraçÕes mais . I ~ claras que t~I1l0S sobre CQmo é ter um encontrq desses com a Personalidade Maior.. :Esse estado de estar preso é muito bem resumido no<'segundo capítulo .dos Gálatas, onde Paulo diz: "Estol,l crucificado coiriCristb: apesar dis so, eu vivo; ~onttido, não eu, Il1afi 'Cristo vive 'em mim" (2,20). Jung:fez; que não fica muito longe disso. Depois de seu encontro com o inconsciente'le com a personificaçao' da Personalidade Maior, à qual ele chamou Filemon, 'ele diz:' ' j I j " ~~a'd~~lar~ção'em suara~tobiografiá • ~. , ' j ~ .' : . :'" -. ,.. t " Foi entãolquê 'deixei pertericer somente a mim mesmo, . deiXei 'de ter 'cf direito 'pára. tal: A partir de'en tão; minha. então-que me,dedi" vida. 'pertencia' . à,generalidade..::Foi d . 40' quel aose,ryl_~Q,a.pslqu~., ", .'':' " " i . i ; ' i .1 serviço"fI~,~~p&,!~,psi9P~.é ' '. !, ( ,I. : '. """ ., " . C':. serv~çp ~uJi , ':"" ') ( O ari;3.l9g9, ao escravidão de Pàulo a Cristo.-Os dois tennos diferentes pará ~" I . r , : ". ,,.; .,l. . i", • . ",i O mesmo fenOineno são apropnados ao contexto de .s~~,~ diferentes backgrounds PsÍqjlicos çulturais.,e col~tivos. . , .• J ' , !! ~ , 'I.: Nietzsche e Zaré\tust,ra, ) r' C. " "i' :' "''''1 ;·[r!,. ,)I.r'JU ,) , ,': ,1 i .") }~ \'j(''' Agora, farei um salto d:e uns. dois ÍnU..ànos, dir;etd para os tempos mOdernos.,Preceden.do Jimg,.o Assírrl falava Zaratustra de reglstio d!l'" f ,\ ' . J • • Nietzs'ch~éQ, ;rr~~de 40 62 Memories, Dreams, Re/Zections, p. 192. '. ~ .!j i) ,J ; ~ 41 "1 l);1 i ;\ ~ ; ",1 ".n; ~ .,,' ) um encontro moderno. com '8. Personalidade Maior. Não podemos saber quantos enc,ontros anônimos dessa na tureza existem, ma$, se eles permanecem s.ecretos, nun ca transmitido:s à t?letiyi~ade, a,experiência morre des percebida. " , ' , ' .,_~ É verdade que as tragédias. do Fausto de Goethe e do Zaratustra de Nietzsche marcam os primeiros vislum bres de uma irrupção Há experiência total na civilização ocidental. Po~ "irr~pção"da' exper~ê~cia total" quero dizer um encontrp com ~ P~rsonalidadE,l Maior., N:os tempos modernos, apenasFausto.e Zaratustra testemunham esse encontro com o centro mais amplo da psique,' O Zaratustra de Nietz.sche é muito maisimportan te, do ponto Cle vista psicológico, na minha, çrpinião, por que o autor viveú. es.s,,,!- exp~riê,ncia totalI).Í.ep.t~ ..GQethe não. Ele manteve certa pQstura olímpica ,por· sobre a ex periência desc,ritá em Fausto. Nietzsche'viveusúaexpe riência tdtalmenté,até o seu aÍnàrgo fim. Então, é o pri meiro e~cohtrci d~urri ego mJdei:rio çom, ~a Pei~o'rialidade Maior, o primeiro qU,e'deixou um registro, . Nietzsche .sucumbiu nesse encontro, Mas, também, como poderia ser diferente,já que ele foi o primeiro a ex plorar essa regiao déSconhecida é claro, não 'conhecia seus perigos. Os perigos to:çnaram-se claros somente de pois quejá o haviam cercado. Acredito que temos uma dívida imensa pàra,com Nietzsche. Jung aprendeu mui to a partir daI experiência dele. Estou convencido de que, se~ o . exemplo 'anterior de 'Niétzs~he, a f!xp~riência de '. ." ,I . . I Jung teria' sido provavelmente fatal, ,. 'Em. su"a' ~ufobio'grafia', .JlPlg' di;; 'ter descoberto r Nie'tzs'che em 1898. Ele diz o seguinte: 1 . . 'I' : ') ", ... _ 'I·' ~ .... , 1 ' 1.1 ',. . I '\ .". '.; 1,' >. I I 1 Apesar de meus temores, estava curioso e me dispus a lê Caiu-me nas mãos o livro Considerações Inaturais. Entusiasmei-me e li em seguida Assim falava Zaratustra. Essa leitura, como a. d.o Fausto de Goethe, foi uma de mi 63 'I ,i :,~ nhas impressões mais profundas'. Zarátustraera,o Fausto de Nietzsche, seu n.o2 (sua pers(:malidade n, o 2); e p1eu n. O 2 agora correspondea Zaratustra.... Achei Za!atustr:~ mórbido. Seria támbém o' meu n. 2 m'órbido? Essa possi bilidade encheu-me'de um temor que nUnca ousara 'con fessar a mim mesmo, mas que me deixava em suspenso, manifestando_se reiteradamente, de um modo inoportu no e que me .obrig~v~ a refletir sobre 'mim, mesmo. N ietzsche descobrira o, seu n, o 2 p1ais ta~cj.e" depois da se gunda metade de sua existência, ao passo qUe euconhe cia o meu desde ajuventude:-Nietzsclie falava ingênua e irrefletidamente desse arrheton (segredo), coino se fizes se párte ~da ordem comum. Eu, entretanto; soube muito cedo que,e~,sa atittl.de.Jliwa a experiências negativa~". S~u equívoco mó:r:bid9 ~ pensei fora o de expor seu n.? 2 com uma ingenuidade e' uma falta de reserva excessivas a um mundo totalmente igriorante de tais cois'as e' ihcapaz de compreendê-las,· Ele alimentava ,a esperança infantil de encontrarlJ.omens que pUdessem'experimentar seu êxta se e, conwreend~r "a transmu~ação ,de todos os' v,alor~s". Como os outros, não se compreendeu a si mesmo ao cair no fuuTld.o do'mistério e, do' indizível, Pretendendo':" ~léin domais' ~X:ilJi-loa umamassaamoi-fa e' aba'nd.ó'nada'p:~~ deuses. Daí a ênfase da sua linguagem, a superabun_ dânéia das metáfor:as, o.entusiasmoépico que tentava em vão falar, desse mundo. voltado a um saber absurdo.,.E -; C0Il19 'umf~~n,çarigod~çorda ,- acabpu pqr ,cair ãl~qiA~~~ mesmo. 41 ., , O ... ~ L ') . Hoje em dia temos dados que demonstram que Nietzs~ 11 che encontrou com a Personalidade Maior pelaprimeirâ . , ", ' ,. , . ',( , vez na adolescência: Evidentemente,Jung não tinha co nhecimento d~ská i'riforniáção., Pouca!f pessoas o tê'In~ Depois que Nietzsch~ t~v~ "um~urto' eril1889, foi hóspi~ ~ 'J talizado fi consideraqo)ouco pelO ,res'to da yiâa" os 0Il~e anos seguintes. Ele tornou-se incapaz d'e se expressar 'dê uma maneira coerente. ' ' . ' , " " '" , " , ' " ';, • , J • • I, 64 '<, , .. 1 . ,'" I 41 '" " ' \ ' , .; ': Memories, Dreams, RefleCtions, p. 1025.>' " I ; Llrr I . ,i l ' , ' ',~ ': :,;" " ( i ;:i j No entanto, seu funcionamento psicológico interno estava muito mais intacto do que sua aparência externa poderia indicar. ~le escrevEm um manuscrito enquanto estava interrladoe conseguiu fázer com que o texto saís se clandestinamente com um páciente que estava indo embora. O texto tinha de passar longe dos olhos atentos de sua irma, 'que,' provavelmente; o téria 'destruído. Esse é um evento muito dramático e,importante. Foi finalmente publica<lo e ~.st~ disponível e].TI uma tradu ção, mas pouquíssimas pessoa9 o conhecem. Os estudio sos de Nietzsche estão' envoltos 'uÍIÍa conspiração de silêncio êontra texto, 'porque ele falà sobr~ os fatos psicológicos 'da vida dele,' Os estudiosos àcredit~m que esses fatos depreciam NietzscI1e" o' filósofo~ O que eles fazem, na v.erdade, é engrandecer Nietzsche, o ser huma no. Essa obra foi publicadàcomo título MySister and 1. Um título muito' infeliz, mas que não foi éscolhidó por Nietzsche; e sim por seus edi,tores, par<;l- çapitalizar o as pecto mais eséandalQso do texto, qlle falà,sobre a relação íncestuos'a éntre-ele e a irmã desde a infâiIcia. Não é p~eciso dizer, ele ,tinha de passar longe dos olhos da irmã.. My Si~ter: and 1 é um. documento psicológico maravi lhoso porque Nietzsche tem insights, dentro de sua expe riência de.d~rrota total 7'" o que a insanidade aparente re presenta para" u~a pessoa de, tal brilho in'telectual-.de que el«;l, se realizou completamente comÇ> ser humano, e tudo isso. é dito nessa obra. Algum dia, alguém fará um estudo de caso psicológj.co çompleto sobre Nietzsche e esse livro, e ele ocupará, I:lIltão,: seu lugar como o primeiro psi cólog()pI:ofundQ: , ..,. Aqui.~st;í o. que Nietzsche nos diz:. • _ ,. , F L • ~ \~ De todos dS livros dá Bíblia, Primeiro Samuel, principal mente nas passagens iniciais, foI o que causou as impres sões mais profundas em mim. De certa forma, ele pode ter sido o responsável por um elemento espiritual importan 65 te em minha vida. A p,assagern é aquela onde o S,enhor acorda o menino profeta, três vezes e Samuel, por três ve7 zes, confunde a voz celeste com' a voz de Eli, qué dórmia perto dele no templo. Convencido, depois da terceira vez, de que seu prodígio estava sendo chamado a serviços su" periores a aqueles que lhe eram disponíveis na casa de sacrifícios, Eli ip.strui o menino nos caminhos da profecia. Eu não tinha, um Eli (nem mesmo um Schopenhauer) quando uma visão se~elhante obscuréceu os primeiros dias da minha adolescêncià. Eu tinha doze anos quando o Senhor irrompeu em mini em toda a Sua glóriá;úma fu~ são fulgurante das imagens de Abraão, Moisés e'do jovem Jesus da Bíblia. ,Em Sua segunda visita, Ele v~io a mim não fisicamente,mas em um estremecimento da. consci ência no qual o bem e o mal clamaram, diante dos portões da minha alma, por um igual reconhecimento, Na tercei ra vez Ele agarrou-me'em frente à minha casa na formà de um terrível vento. Reconheci a ação de urna força divi i na, pois foi naquele momento que eu concebi a Trindaçl~ c~,mo ~eus, o' Pai, Deus, o _Filho~ e Deus, o Diabo. 42 Estamos falanao de um adolescente aqui; e essa pas sagem indica que a função profética d~ Niétzsche'surgiu quando ele tinha doze anãs. As revelações propria~eÍ1tê ditas, com ênfase no conflito dos opostos, iridicam que o Si-mesmo, em sua fenomenologia moderna, na forma cômo o conhecemos, foi constelado' nele, de modo que ~ questão principal' para ele passou a sera polàrÚlade eu: tre Cristo e Anticristo.1\o ler"sUas obras c'oniatençãó; pode-se perceber que'essa é a questão principal por trás de toda a sua escrita:, Conscientemente, Nietzsche ideh l tificou-se de maneira deliberada com o Anticristo.Contudo, inconscientemente, ele identificou-se cOm Cristo. Assim, depois de seu surto, chegou a assinar algumas de suas cartas como "O CruCificado",' De qualquer forma, como vocês podem ver, ele viveu sua, vida com 'lfma pro ' , . , " funda atitude religiosa. ' I i 42 66 My Sister and l, p. 184. ~ :.... Jung dÍz'qu e a tragédia deZaratustra é que, devido à morte de .seu Deus, o' p'roptio Nietzsche virou um deus e que isSO áconte'ceu porque ele não era ateu. Ele tinh~ uma natureía m~,:lÍto 'posihya'pa~a' tolerar a neurose ur bana do ateísmo. Parece perigoso pata um homem des ses afirmaI:' que Deus ~stá 'Inorto. Ele 'se torna vítima da inflação na mesma h O F a . ' ; Nietzsche foi muito importante para Jung, o que se torna evidente no'fato dé' qúêéle conduzi\:i um seminário sobre o Zardt'ustr'a dúfante'cib.co'anos.' Aqui éstá um pe , queno excerto desse seminário:' ~ ~ ~ • ' .i - ,_.! .' • (Niet~s,che) nasceu em 1844,.e começOl;í a,é;;crever Zara """ tustra,~m 18Bi?, quaq.do ,~~n1fa tfi,p.ta e nove, a,nos. A ma nein,i çomo o, f?screveu é, impressionallte. ~l.e fez ,até um ns verso sobre issO'. Ele .disse: "Da \yurdeei :zu zwei und Zarathustra gil1g anmir vorbei", que'quer 'dizer: "Então, um tornou-se dois, e Zaratustra'ultrapassou-me", signifi cando que Zaratustra'tornoti-s e inanifestô comó-\lma se gunda pe.rsónalidade dentro dele. Isso nOS mostr?: que ele tinh~ ~l~rf1 roção de n,ão ,syr,. çle pr.ópri,9~ ~dêIlj;ico 13. Za ratustrá. Mas cOJno ele poderia evitar tornar-se tal iden tid'adenaqueles diá.~ em que J?ào'existiàlà l#ié'Ól~gia? Nin guém, naquelà'épóca; teria à;coragem d~h~va:r; ?-' sério a idéia de personificação, oU!lle'smo de urna ,açã~ espiritual autônoma e independente. Mil oitocentos e oitenta e três foi oanó' da eclosão da filosofi~' materialísta. por' isso, ele , •• >' • • Y·, 1 li,' ,"" teve de , ldentlficar-se com" 'Z_aratustra ap~~ar q,e perc;eber, cómo prova esse verso, uml.'l. difer~nça defin.itiva entre ele e o velho sáhio.En,tãO j essaidéil.'l. d,e qúeZaiâtustra tinha de vpltar parii reparar as fa:ltas'desua invenção .anterior ns é belJ1 caracte:t1sbca" dopo,ntô çle vista psicológico;demo ~r~ que élé'poSf3llià ~~ntimeJ1t.9 ,apsolutamente histó . rico s'ob~eissq,\:.o q\ie1o' cob.riU'dé um sentido particular de destino'.:. '-- . ' .', , ,.,.-' " , ,. '. É claro 'qu~ :um s,entÍl;nento, desses é extremamente ence enriquecedor... a experiência dionisíaca par excell . Na última parte, o ekstasis dionisíaco aflora ... Em uma das cartas a sua irmã, ele descreve de nlaneira comovente o ekstâsís no qual escreveu Zaratustra ... Ele fala de sua for • I' .' ' \, " , um 67 ma de escrever, que simplesmente ~manaya de dentro dele, uma produção quase aut9~oma; t~nho' cer;teza, absoluta de que as palavras se apresentavam por si próprias, e eSsa descrição nos dá uma idéia do que 'foi esse estaCIo absolu tamente extraordinário rio qual ele se éncontrava,um es tado de possessão: .. Foi çomq se ele estivesse possuído por um gênio crjativo que pegou o seu ç.§rei?ro e produziu essa ',\. , obra por pura necessidade.43 Quero dár,-)h~s u~ ~xemp,lo;' E1l~ ge~cr~~é, melhor do que eu Q ekstasis em que Nietzsch.e se encontrava:. Alguém, no fim do século de'ienove, tem idéia' do . os .poetas de outras eras chal,Daram inspiração? Se vou 'explicar. 'QJem' carrega um resíduo de superstição, por menOr que seja,' dificilmente. poderá reje~tar ao mesmo ~emp~ a idéia ,de que ,somos mera encarnação, mero por ta-voz, meramente um instrum~nto para as forças Supe riores. O conceito de revelação- no sentido de que de re pente" com uma cert~zà e su'tÍleza indescritíveis, algo torria~s'é i/isível, audível, algo que abàla' o indivíduo em todas as suas est~uturas e o joga no chão -: é apenas uma descrição dos fatos. O indivíduo ouve, não procura; aceita, e não 'pergunta q'U:em está"dandó; como uinraio, um pen samento lámpeJa, Com'necessidade, sem hesitação quan to à formá - e'u nunca tive escÓlha. I '., arrebatamento, cuja enorme tensão muitas vezes é desc~rregada em uma torrente de .lágrimas _ agora o passo acelerl'l-se inyoluntariamente, ago.r.~ torna-se,mais lento; o indivíduo está fora de si mesmo por completo, Com a clara consciência, de qrrepios sutis e de calafrios dos pés à cabeça; um poço de felicidade onde ate mesmo 'o,que é mais doloroso e triste não soa como uma antítese; mas como algo condi'cionado, prqvocado; uma ;cor necessária em tal superabundância de luz;, )lID instinto para relações rítmicas que abarca amplos espaços dás formas _ a exten são, a necessidade de um ritmo amplo, são quase tama da força da inspiração, um tipo de compensação, por ,. , Sua pressão e tensão, " . sua . Um o Tudo acontece.de maneira involuntária, no mais alto grau, mas como em uma explosão de sentimentos de li berdade, incondicionalidade; poder, divindade. Ainvolun tariedade da imagem e da metáfora é ,o mais estranho de tudo; não se t~m mais nenhuma noção do que seja uma imagem ou uina,metáforáf tudo se~oferece como aexpres são mais próxima,mais"óbvia; mais_!?imples. Na verdade parece, para aludir a uma frase de Zaratustra, como se as coisas se aproximassem e"se.ofer~cessem 'como metá foras ("Aqui; tudo aparecé carinhosament~ no,teu discurso e te dá prazer; pois eles querem cavalgar nas tuas costas. Em toda 'metáfora, diriges-te a toda verdade ..:' Aqui as palavras e os,sàntuários das palavras de, tod,o o ser abrem se diante de ti; aqui, toçlos .os seres' ,desejam toí;nar-se palavra, todo o,devir qu~er aprender contigo" a falar").44 Essa é a experiêncja do inconsciente em seu ímp,eto criativo de imagens significativas. Pouq~íssimos escrito res cons'eguein igualar-se i1 Nietzsche ~m sua[esplêndida " ,. capacid;ldé dé expressão.. A m~i.o~parte de'A,ssÚ~ fâiava'Zar~tustr-;;' foi escrita nesse estado mental extático. As palavras brO.tavám do inconscien~e. A PerSO.nalidade Maior é,afigura de Zara tustra; a.reenca,rIlaçãci do an~igO.profeta. A figll rá anun cia uma m'O.ralldádé' e uma visão de mundo comple ~ nova ~~ tamente nova; o que ela al).Ullcj~·é, na v!')rdade, o ,precursor j, .. _ 68 ! _ , . • _ ,., • • f" ,,_' • ." • . I. J da psicologia profunda. Zaratustra é um dO.cumento'psicológicO. absolutamen te extbordináriO." kfO.rma' como eledescrev'e a sombra t' .', coletiva do homem moderno~ é de tirar o fôlego. O texto abunda em verdades pS,icológicas brilhantes, mas tam bém pode ser'um perigO.so veneno. podemos adoecer com ele. Eu não consigo ler uma parte muito grande do ._ ;' . 44 Notes on the Seminar Giuen in 1934,1939; p. 9ss. . ,' Ju"". " ,o"'., ,r .,; • ,I , .' 'I- • I .,,'. ' Eçee Homo.-p, 3005: (Também citado, em uma tradução diferente, em t'"'''''' \ z""thu,t". p. " , Nota do Edito') 69 Zar atu stra - ele me ' dei xa doente , lite ralm ent e, porqu seu s ins igh ts tran sce nde nta is.a ind a não foram assimila~ dos pelo hom em inteiro e, por issd;ain da,rião foram huma. nizados. Isso 'os tor na ma us e des tru tivo s, e eles podel1l ma tar. , . .':' , Mas ess a éa nat ure za da Pers'onalid ade Maior. Essa é um a par te dela:: É por isso que Jal am osd as feridas. Elas não exi ste m den tro das cat ego rias . dó' ego, da decência hum ana . Ela s'ex trap ola m ess as cat ego rias em ambos os lados, do lado! bóm e ,do ruim.' Ma s como um, (enõmeno, são abs olu tam ent e extraordinárias::. ' 'I,. . Muitas' das idéias.com as qua ise sta 'mo s:a cos tum a dos na psi col ogi aju ngu ian aap are cem em Zar atu stra . Por exemplo, vou ler úm a peq uen a.p ass age mq ue é um a des crição.explícit::} do Si-mesmo. Vejam se vocês concordam que isso soa familiar, . . , '. Tuâ izes "Eu "e orgulh'as-té' des: :;à pal~rvra. No ent ant o, maior'- coisa que tu nãó que res cre r:" razão gra nde . Ele não diz Eu, mas é o teu'corpo e a tua proced O que os sen tido s apr eci am ,oq uéo e:cómoEu. esp írito conhece, nun ca em si tem seu fim. Mas,os sen tido s e o esp írito que.rem te per sua dir de que são o fim de soberbos são . Os sen tido s e o esp írito tOqas ?-,s coi~as: tão s&o inst rum ent os e joguetes: por trás deles ain da há o própriô' ser. Elé tam bém pro cur a com 'os olhos dos sen tido s;\t a'm bém ' esc uta , com o ouv ido 'do espírito. Ele séin pre: compara, domina, conquista, destrói esc uta 'e procura: ;·Ele controla, e tam bém tem o controle dO,ego. , "~<o Por trás de teu s pen san ien tos e. sen tim ent os; meu ' r , . , . " , irmão, está um póderoso soberano.:. cujo nom!,! é.si -meSíno. Em teu corpo ele 'hab ita; elê é ~ teu corpo.' \) " Exi ste mai s raz ão em teu cor po'd o'qU e.em tlia mai or sabedoria. E quemlsabe ppr, que ojte )l corpo pre cisa exatq.~ men te de tua mai or sab edo ria? t O si-mesmo ri do ego e de seu s salt significam par a mim esses salt os e os arro gan tes: "Que vôos do pensamento?", ele diz par a si mesmo. "Um rod eiq par a o meu próprio fim. Eu tenho o controle do ego e sou. a origem de sua s idéias." ( j • ~ 'I , ' j , '. ,>' " , ' , ; , o si_",es",o diz ao ego' "Sinta do' aqui>" pensa eo",o pode pa, a' eOU> sofrin"nto E ego sof,e e - e é po' isso que ele O foi si-" feito,e,," paroa diz penao sar.ego' "Sinta p,a ze deleita-se e pensa eo,"O pod "á dele i,",- ' aqui!" E ° ego se nova",ente - e é po' issO que ele foi feito p" a pen sa" " , es Nie , como ulll- tipo ihtuiçãO; ass oci ou o Si- m tzsc '"o à fun çãoheinfe rior , OU sej a; à sen saç ão, rep res ent ada pelo corpo, entãO o Si <\ 9 corpo IssO ge ,,!m ent e acontece com os"intu,itiv Os, Se yqcês prestarelll- ate nçã o em seuS amigos Que in)ere,ssatn po, trabalhOS corporaiS, v" "o, Que Quase ",d os o)es, sãO, intu i tivos' NóS, tipo nãO pre cis an, os, pre sta r tan ta atençãO no corpo; não preeisainoS inizá-lo.. ' Ma s o pon to ina is not áve l desdiv se rela to éa descrição eXplícita do Si_ m no como' um seg und o cen tro da personalidade, u,m, eSI centro, litie é su,pertO r aO ego, sab ia dissO SO!l\eIlte,p9rQué'êlé iA:, e experiêp.cia, Ela não foi tota lme nte ass imi lad a nO Ulotnento etn Que ele a des cre veu , ma tev e à experiénCia, Ela foi asS imi lad a sél e nO hos pita l psiq uiátriCO - como dem ons tra o doc um ent o pós , " ' .. , " " ' " '. ',' EuOvou ' diz er ;'Ig u,n a,p ala vra s tutn <m'lioÍriérlagem a Nie tzs ,VeJo-o <01110 u,u 'inú tir da cau sa da psicologia pro funche da em erg e"t e, Qu em :' li> com atel iÇão'percebe al gam as pis tas de Que ele esc olh eu o can tinh ó cbb da inflaçãO de ma nei ra deU ber adá , par a Qne pud ess e des etn rir o'Que se esc ond ia do out ro iad o, Ele foi um holllde utn a co ragelll- psicológica illl-e 'psicológica imennsa uin a sa, ma s l ado ele ten ha sid o lev à imi nêr cia de ,-\t n.p siC Ose por ,U1:na doe nça lll-e nta sifl Iitica" 4. pa rée ele tatnbé1l1 esc olh eu ess e cam inh o, Veja1l1 o Que ele diz etn sua aut obi Oll 'af' " ° ° _m~smo p~ra ,s~ ,~biam~Ie,? sen~açãQ, ~jet1.sche ~ssa • ,,' ' ' .. " . • •• 1 , .\ ~lll-bém,"or~geJ""~ ~inborauda~cia eert~,fP,n>~' ~u,e ___.rl, ,>. '6. 70 J...----- J..4.fUTh ion us spoke Zafathustra. part 1. sect 4). 71 Os poetas míticos virâm 'Empédocles lançando-se nas mas flamejantes do Etna, mas esse destino estava do não ao grande Pré-socrático, mas a mim apenas. Após ter sido separado do amor.da minha vida (Lou Salomé), o amor que me fez humano, fiz, então, mel!- mergulho des . perado nas chamas da loucura, esperando, .COmo Zaratustra, es encontrar fé em mim mesmo ao enlouquecer e entrar em uma região superior de sanidade _ a sanidade do lunático delirante, a loucura normal dos Conderiados!46 E no mesmo texto Nietzsche escreVe essas. palavras comoventes em seu quarto do manicômio:. A minha honra está perdida porque as mli1l1eres trafram_ me e deixaram_me fraco, ou traf a minha prÓPria força indo atrás do Poder do conhecimento verdadeiro, que pode, SOzinho, livrar-nos da Perdição? Estou completamente perdido por estar esmagado embáixo do mortos nas planícies de Maratona? Qv,e Demóstenes, o "",""çu",,,. eloqüente da honra ateniense, derrame sua oração tUne bre sobre mim: "Não, Você nã.o falhóu; Frederick Nietzsche! . Existem nobres derrotas 'ssim Como existem 'mortes no . bres voéê mOrreu nobremente.Não, Você não falhou! EUju,ro pelos mortos nas planici'lS del\faratona.''' ._. ~e AgOra que essa obra final de Nietzsche está. dispo nfvel a nós, podemos ver sua vida Por completo, CÓnÍo urrli, um saçrifi,ioque'inaugurou da PSicolOgia profunda e que .b-o uxe ,. pela primeira vez, a Personalidaqe Maior ã Consciênciã modeina. À experiên_ cia de Nietzsche preparou o caminh.ó para Jung.'. ,. ~ '. , . -, tragédiaberpi~a, ~.época '. , Comentários f~nais , 'l< 'j }o I ~ T I. .'. • , VOCês devem ter notado, e iss,i'"é realmehte -impor tante, que três dos quatró casos que apreSentei encdn_ tram-se nas escrituras <lealgumas das:n,aiores relig;ões 46 47 72 My Sister alld I, p. 114. TO " Pp. ' I, ' , " ' " ' ••• "f";", rnundiais: ?utro ex~mplo q,ue não foi dis~utido, a históMOlsese EI Kidhr, encontra-se no LIvro sagrado do Islã. Isso nos mostra que aexperi'ênda da Personalidade Maior é de taman};la, numin:osi.d~de que pqde, muitas ve zes, ser a origem de uma nova religião ..Mas agora, pela primeira vez, no que eu chamaria de "a era junguiana", estamos em posição de começar a compreender, de forma geral e científica, as entidades psicológicas que geram as religiões. Essa enorme quantidade de novos conhecimentos está afluindo à psique moderna. É claro que ela aflui aos indivíduos primeiro, mas também à psique coletiva. E esse afluxo representa tanto uma grande oportunidade quanto um grande perigo. É como se, do ponto de vista coletivo, estivéssemos próximos de encontrar a Personalidade Maior que, corpo diz Jung na passagem .citadaant~ riormente, pode fazer nossa vida fluir para aquela vida maior, mas que também é "um momento de perigo mortal". Parece-me que nossa melhor oportunidade dE;! evitar uma catástrof~ co.Ietiva rel:jide na possibilidade de que um número suficiente de pessoas tenha encontros cons cientes individua.is com a Personalidade Maior e, assim, contribuam pa,ra o processo de imunizar a sociedaçle con tra uma inflação ateísta em massa. Se cada um de n6s tentar alcançar esse objetivo, assimilando de maneira diligente nossas projeções e buscando nosso próprio en contro, único e individual, estaremos contribuindo para esse processo de imunização. Enquanto isso acontecer na arena da psique individual, não precisará acontecer na terrível arena da psique coletiva. Nas palavras de Jung, com as quais termino a mi nha apresentação: Para que o conflito projetado se cure, ele voltar à psique do indivíduo, onde teve sua origem inconsciente. Ele deve ,celebrara Última' C€!ia consigo mesmo, comer 73 ) sua própria cafI1e e beber.,$eu Pf9Pri9 o que signi. fica que ele deye reconhecer eaceitftr o outro nele mes. mo... Será esse o significado dós ensinamentos 'de Cristo de que cada um'deye carregar Sua própria' cruz? Pois s~ você0$tiver de suportar a si me$mo,como poderá prejudi_ car outros?48 , ". ·3 A VIDA TERAPÊUTICA )/-' .. , \ .\ 1 J " ,f " '" ...... J .) "" . , , j I; • l '.: I , , tt ~ -../ ~' J M' . l" ~ , , ' JI) i ~ ,,~4'.~~~ . , '-, ',.' ~" -.,! I 'J. "', .-~. ~} " I ~ , .~. f '''"' Fatores pessoais~ a~qlletíp,i~o~ .' i 'I ~' '.j ,. ,J -<-I • .ir! .J ,," ..... 1 / .t ~ ) t - ... J ni, ""r -. :1"." •.).~.~ I 'j I !t~ ", ) ~ :t ,\-~~ ~::"i < .... I) : ,> 'l:X-i':!1 / ~ I (,;. i~ ,i' 'I ,"f 74 n; J ~.~ ,'! :' ~ 1,1 48 , t;'i. - . r; j ~ ~~J~:~--~.; I' • lJf li <.J / t',' ... ' Mysterium Coniunctionis, CW 14,Pár:52., 1 • ·,r, A questão principal da relação do pessoal com o ar quetípico no desenvolvimento psicológico é a seguinte: Até que ponto o desenvolvimento da personalidade é determi nado por padrões inatos, apriori no indivíduo - ou seja, os fatores arquetípicos - e átéque ponto é determinado pela experiência pessoál e pela influência do meio, da cultura e das relações pessoais relevantes..". os fatores pessoais? Jung sempre enfatizou que a psique não é uma ta bula rasa, uma folha em bránco onde es~revemos nossa: vida; apesar disso, ela sofre uma profunda influência, po sitiva ou negativa, dás experiências interpessoais, Como se dão essas influências e como 'elas se relacionam com os padrões arquetípicos inatos, da forma 'como os compre endemos, é a questão que iremos explorar agora. Sabemos, por meiÇ) da nossa própria vida e do tra balho.clínico; dos. profundoSi ,efeitos, que os eventosda in fância e as relações pessoais com os pais podem exercer na personalidadéfutura da cri~riça. Mediante relatórios fei tos cóin crianças selvagens,' sabemos que, se faltar à crian ça um relacionamento humano, a personalidade humana não se desenvolve., Em tais casos, as fases de desenvol vimento arquetípiconão aco~tecem e a criança pode per 75 manecer em um nível anim{l]. O mesmo acontece naque les casos raros e trágicos onde a criança fica trancada em um quarto por anos, completaniéútê rejeitada pelos pais. Semelhantemente, quando a criança sofre a perda de um pai ou mãe muito cedo na vida e este não é substi tuído de forma adequada, cria-se um tipo de buraco na psique da criança. Uma imagem arquetípica importante não passou pela personalização por meio de uma relação humana, de modo que o arquétipo conserva uma força ilimitada e primordial, que ameaça inundar o ego se este se aproximar. Contudo, em alguns casos, um relaciona mento com outra pessoa que não'uffi.dos pàis pode suprir essa falta. Todos conhecemos pessoas que, apesar de te rem exp!3riências m'uitoI;l.egati"B;stom os pais, foralll ca pazes. de. fqrjar uma, relação .positIva .çOm algum Qutro adulto durante. a infâI,lcia. Esse adulto pode.ter !3ido uma empregada, um parente, ou um prof~ssor, qú~ tenha sido capaz de se relac.ionar de maneira genuína com a criança e de person.ali~a:r uma imagem.a:rquetípica, Nesses ca SOS,aiS inadequações, dos pajs.,!eIl)bora.prejtidici~is, não foram fatais no desenvolvimento da criaJ:lçq. Mes,m.o que essas relações positivas d.\Jrem apenas .1J.lll breve:ÍJ:lstan te, seus. efe.ito,s podem ser inc9rpO:rç(dQs pa:ra sempre na personalidade, em de$ep-volyif[:U:~1JtQ, Um dos primeiros.Jllu;ftQs.de Jung;Eric;h N~urp.ann, tentou responder 'a eiSSp. q:uestãp. Elefal9l! da, .ev9cação pessoal do arqu,étipo,da s~guinte m::meira: , " A estrutura transpessoal e eterrÍâ doarquétipo;inerente à psique da criança e pronta p'ata ó desenvolvimento, deve primeiro ser lib~ra.da e atiyaq!:l pelQ,en,contrQ pess.oal com um ser humano... .A evocação do.I:l:rqu(!tipo é um evento pessoal na históriaindividual e; poi isso, suJeítõ a' possí ".. " ," ' , '" veis distúrbios,49 ",,t~ \ ·,in; 'i.') f 49 "The Significance of the Genetic Aspect fÓi- fArial;ticàí:psydíologyi,; 'em Journal ofAnalytícal Psychology •.voJ. 4. J1,o 1 W1.5\1).' r' . ')_'.' L, , , < ' 76 Adiante, Neumannfalado "fenômenoda chave e fe chad ", por meio do quàl a imagE;lm arguetípica e a re laçãOura com um ser'human6'ativam a personalidade em desenvolviment~, Ess~ conceito :rn,ostr~ cl~~o ayanço so bre a idéia anterior e muito mais simples de que a crian ça projeta ~os pais b àrq~étipo in:terno. No erilanto, o con ceito de Neumani:l não explica como. a personalidade específica dos pais inUuencia' a' psique" da Criança. Ainda há uma lacuna e~ hos~fl compreensãO da interaçao do pessoal coro o ". .' . · . '.' .' '. M. Esther' Harding, também uma das primeiras alu~ nas de Jung, tentou lidar com esse próblemà por(ineio da idéia do arquétipo danificado, expressa,em seu'liVrdThe rental Imagei tis Injury' and RêconstruGtio n . Mks como pode eU: 'entendo, um arquétipo ser dánificado?Da' forma' só pode haver uma relação danificada com u'm arquétipo. Para o ego em desénvolvimento de uma criança,a're~ lação com um arquétipo torna-se possí';"el apenas qu"ando ele a experimenta umaencaniação pessoaL A imagem arquetípica só, pode ser experimentada e concretiiada quando é infundida coro um conteúdo pessoal e tangível ç através de rehtçãO hll'niana.'Desse';rnodo, à :rehl ãô com os pais não apenas evoca o arquétipo, como também fornece uI1}a arquétipo que a perso-halidade dos pais pode ativar, me diar e personificar, é aparte <iliepode, maIs facilmente, ser ! ; ", ' ' ,', " ," mcorporada pela personalidade da criança. Aquela parte do arquétipoàqual os pais nã6 se'refà'don'arn'fidará larga da, sem reConhecimento, no reino dasfornias eternas, ain da não enca~I}'adà história de vida pess6al 'da 'criança. Não côncordo corb"Neumann', pelo menos. em parte, quando ele diz:' ' {' ar~úetíPicO. Pa~ cci~o' em ~Ü1a pa,rt~ do,s~U; c~nteúdo ~~~pecí!ico. p:~ar;te 'do • ,f" " 'na I' ' ' A evocação pessoal do arquétipo é uma necessidade do destino, de forma que uma infinidade de coisas acontec~ além daquilo que os pais fazem ou pretendem fazer, A atl 77 vidade deles libera as piop,~nsºe.sinªr:~ritt::!.S.fiQ ~tquétipo transpessoal na psiqu~; infaQtil, as qu;::li~não podem origi_ nar-se, de forma alguma, dá figur~ p.:;ssoapo, ' LJ. l." • • • Esse ponto de vista eilfatiza os cçnteúdos inatos e a priori do arquétipo de m,~iieira'r~1Uito '~xtreri:ía, nêgando o ponto até ,onde as perspnalidádes dos pais determinam os conteúdos específicosl ido arquétipo, da maneira, como ·, .,' " são experimentadospelacriança:'Oconteúdq fqtal do arquétipo não liberado automaticamen;te a p~rtir de uma experiênda co.m os pai~, Emyez qissõ, ele' é pá,réÍalniente liberado, de acórdo' com a parte do arquétipo que os pais encarnam'e, expressam, ,; , Se s'eguirino?, N eumaíul, os ,pai~, são. rE!ispoJ7.s~veis, apena,spela ativação de' conteúdos' arquetípicos preexis tentes. Todavia~ essêponto de ~ista! rlãp consegue expli car os profundos efeitos queos pais exercem 'sobre a vida das crianças', Prefiro Supor que a éxperiência com oS pais torna-se :parte da própria imagem: arquetípica, tórpan~ do-se uma parte permanente da personalidade: Esse con ceito origina-se na idéia de que um arquétipo só :po(;le ser experimentado e assi,milado form~sigÍ1ificativa por meio de uma:relação pessoal espeCífica - poi'meio de um processo de' personalizC;l.ção, " , , .,,' ' . . Todo o processo de desenvolvimento pSicplógico Indi vidual, por meio dd (lUa'l o-ego emerge de seü' estado qri~ ginal de unidadecqm a psique objetiva e aiquetfpica, podé ser considerado COn;tç um proces'so de pe.rso?alizaç~o: A experiência e a realização conscient~ das imagens arque~ típicas somente é possível ao se detront~r çoin e~sas ima gens encarnadas nos outros. Neuniann alude a essa idéi~ quando fala da fase necessária da "personalização secun .' ' . ,(' dária": e de , j 50 78 Ibid, Esse princípio (da personalização ,secundária) sustenta haver no homem uma persistente tend(mcia no sentido de tomar Oi? con,teúdos primáriÇls e traJ;lspessoais como se cundários e pessoais e de reduzi-los a fatores pessoais. A personalização está diretamente ligada à formação do ego, da consciência e da individuàlidade... por meio da quaL o ego emerge da torrente dos, eventos transpessoais e co letivos,., A personalização secundária traz um declínio da influência do transpessoal e prQmove o progresso da im 5t portância do ego e da' personalidade. • ~,• .' • ,,' , . ! .. " ' Aqui, Neumanrtse refere, a urríáatitudeque perso naliza o transpessoalpara despotencializá;.lo. Eu ,diria, também,que: há um processo experimental anterior a qualquer atitude co;nsciente que personaliza. os conteú" dos transpessoais e que~sse processo é a.carqcterística essencial do desenvolvimento do ego. e do cr:esCimento.da consciência, -.' ' "" .,' ,. : \ . A importância d~ se enfatizar os aspectos pessoais da experiência é demonstrada pela anál~se de alguns pa cientes borderline. Lemoro,-'me, por exemplo, de uma mu.., lher que entrava em pânico sempre que eu mencionava a palavra arquetip9 ou fazia qualquer referência a fatores transpesl?oais. Ela 'conseguia exprimir a natureza de seu medo de,forma muito clara. Ela sentia que qualquer co mentário que a afastas§>e da realidade direta de sua rela ção pessoal comigo ou de sua vida diária abriria um vas to oceano de possibilidades disformes e ameaçadoras que a deso.rien~ariaI?:Ela era forçaqa a se agarra,r ao ime diato, ao pessoal, ao concretó,'Tódas as generalidades amea~ çavam-na como tltn perigo mortal. Normalménte, enéontramoso mesmo tipo de objeção ao tentar interpretar a transferência~como a projeção çie uma imagem arquetípica ..Bara alguns ,pacientes com egos frágeis, a simples' idéia de uma projeção pode ser um vene f _ \~~ >/ '1' 51' The Oi'igin~ and Histary af Çansciausne~s, p .• 336s; 79 Life", de 1939, ondeséUS comentários são muito sinceros no psíquico. Para eles, a idéia de que certa reação pode representar a projeção de' algUm comPdnente interno ar ruína o seu senso de realidade' do mundo externo efaz com que eles se percam no niar de pu;:t su6jeti~idad~. Um exem plo extremo do fracasso <la personalização cias imagens arquetípicas é encontrado na esquizofrenia,. onde a cons ciência é inundada'pÓr imagens arquetípkas, primordiais e sem limites. Nesses casos, o indivíduo nUnca teve uma oportunidade adequada para expe~ÍIriéntar os arquétipos mediados .e personalizados pelas relações humanas. A manéita como muitos pacientes se atêm obstina damente à 'experiência original com 'os pais é devida a essa necessidade vital da' personalizaçãodo·arquétipo. Por exemplo, se a experiência parental foi muito destru tiva, o paciente.pode ter muita dificuldade' em aceitar e suportar uma experiência parental positiva~ Tenho a cla ra impressão de_qu~euma pessoa irá persistir em uma orientação, 'negativa dó arquétipo, paterno_pelo simples motivo de que esseéo.aspecto da ímagemque foi. perso nalizado em'sua prÓpria,vida,apresentando, assim,;uma segurança, .embora- sejaum ,aspecto:négativo, ,Parà, essa pessoa, encontrar o' as'pectopositívo do 'arqúétipo' é ame, açador 'porque,~ cQriloesse'~lado nuncaJoi personálizado, ele carrega uma·ri1agnitude·transp.essoal.que ameaçacdis. ,) , _ I _ . solver os limites do ego.'" 't ,,;) !"5:!~:r.~J _~; A transferêpCia: arquetíp{ca , ,;,.!~ . :__ ~>." J~'~.' J--" eo'.~~co:.itr'Ó p~ssoa]~.Jfll,~ -- ,,~,' ~ .-~.) A forma como compteendemosa ligação entre osfa: tores pessoais e arquetípicos, nodesenvolvirilento psico lÓgico influencia a maneira' como lidamoscdm os sonhos arquetípicos.e com a.transferênciá:arqu,etípica. Um Ótimo exemplp disso foi ImbliCadó(por Jung.pelâ primeira vez em 1966, em Two Essays on Analytical Psy chology. Ele também falou disso na palestra "The.8ymbolic d. 80 ",; e informais: ".'i I i, " - ') . . ~~~ Lembro-me-de,um caso rpuito simples. Era uma estudan te de filosofiá, uma mulp.er muito inteligente, Isso acon teceu bem no início da minha carreira. Eu era um médico muito jovem e não conhecia nada além de Freud. Não era um caso muito importante de neur?se, e.eu t~nha,quase certeza absoluta de que ela poderia 'curar-se; mas ela não se curava. A'moÇa havia'desenvolvido Uma transferência paterna iniprEissionante comigo -:. projetando a: imagem do pai em mim. Eú disse: "Mas,'veja, eu-nao sou seu pai!" "E-q sei", ela disse, ,"que voqê-não é meu pai, mas é como se fosse:,'.E\a se .c,omportou de ,acordoçom papel e. apaixonou por mim, e euera se'u pai, irmão, filho, aman ó te, macido _ e,' é 'claro: também ,eu her , e salvado' todàs às cóisas ilnagináveisr"Mas", eu disse, "isso em não faza isso",el o menor. sentido!': "Mas eu:não posso vívers respon9.eu.,O que é que poderia fazer:? Nenhun;ta expli. caçãO depreciativa iria ajudarf!1uito. Ela disse: «Você VOpode Q di,er, ,9 que qui,er;é i'"o que"eu',\nt " "ta n'" garras de imagem inconsciente. Então, tive-urna idéia: '''Bom; sé alguém sabe algúma: coisá> sobre isso, esse al guém temq"e 'ser~o incóJ;lsciente, que.pro:duziu uma situa.S a observar de 'perto 9 çãotãQ. cOJllP\icaQ.!l:". aparecia como o s9nhQ$./Ij.:la 'ionho, DepoiS; apareci como o amante, e também como o mando - todos eles eStavam'ÍlO mesmo filão, DepoiS, comecei a mudar de tama 'Íl~'o; eu era. muito maior do que um ser humano comum; "em .lgun, momento' eu tinha até me,mo atributo' rdivi, ;i ,'1 ,,',Pep,ei,,"Bem,es," é a velha idéia do "Iv.do ", E . então comecei a assumir as formas mais surpreendentes. o "" 'Àpa,éci, pC< exe",plo, no tamanho de um deu', ,obre '" a _segurando- a em meus braços como se fosse um ;,bebê; e o'vento soprava sobre o milho e os campos ondul ,: i\;Ylirtl comÇl da mt;lsma forma eu a ,ai, "Agora eu vejoO que ,o 'inconsciente está realmente pro-a .j . ' (, ' .' ., ' ., " (l' , " 'i·' "" " ,.., curando: ele quer fazer' 'de_mim um deus: a garota précIS de um deus... Ele quer encontrar um deus, e porque não consegue, ele diz: "O Dr. Jung, é um deus"c E então contei e~se ~u EI~ um~ ,Lºgo,~çOll1éCei ~iph~.~onhpsrtOEl quais'~u Pli,c;,,~e?,,~, :~J'ca~Pos, ró, trab~lhan"" ond.llsd.Ortl~r,e nin~va ,,em,\m~,",,,br,a,o,, ~ q~dQ:fi, ~",",\",ag~m, pen,~)' 81 i \ ! a ela o que eu estava pensando: '~E;ú não 'sou' um 4 s, eu seguramente, mas seu inconsciente precisa de um deus. é uma necessidade muito séria e genuína":.: Isso mudou a situação por completo; fez toda a diferença do mundo. Eu Curei5~esse caso, POrque satisfiz a'necessidade do inconsciente. " Esse caso;' apárentemente, foi um' dos primeiros e decisivos casos que ,I J ung pensar no árque típico do inconsCIente em pesso<jtl. Nes se caso, ele abriu mão dá interpretação pessoal, mudou para uma interpretação arquetípica~ e curou a paciente. É'c1aro que b caso foi 'símpÍlficadoê projetado pat.. che gar a uma para . , ',,, , '. , I. demonstrar a imagem arquetípica e Sua necessidade de ~ ~ ser realizada conscientemente. Para nos, que nos basea mos por completo nessa idéia; àcredito que outras ques tões devam ser levantadas. ..' , ... ', " 1 ~vQti ~ ,1)í~el oPQSiÇã9'_~onÍv~1 condusãoespeCÍfica:'n1ai~precisame~te~ • , - • • _ i • I, '~ugar, Em primeiro nOSsa' experiênçüi.',Cii1)ica' nos mostra que umpacierite com sonháS' desse tipo'.dificil_ mente é curado pehinterpretação,"ru-qUetíPicádos sónhos, e evitando:s 'qualquer tipo' de encontÍ'o intenso e pessoal. Na minha éxperiênciá; tais sonhos·têmindicadO' um in z;nas um tenso dinamism'o~, dinamismo que não pode ser ,dissolvido sua despersonalização por meio -de interpretações religiOsas ou arquetípjcas. O único' procedimento que tem funcio nado COmigo é acoitar eS sess6nhbstiÍmo'uma deScriÇão aCurada da imporiând<:t;,p(,lra o p,ácie.qte;,da re'laçãó que ~ ~.' I "".' ~~ , ele mantém Comigo, Se, carrego comigo o valor projetado ou personalizado d~ Deus ou do Si-mesmo; nã~ exi~'te uma forma interpretativa de me livrar dessa responsabilida_ de, O desenvolvimen tó pSlcológico dá por meio de Um interCâmbio interpessoaJ'pfolohgádo; 'qué'perso_ ... arqUetíPicona'transferên~ia:l' ", ' '. . ,. '.' , " J , atr~vésAa ., • I nalíza ecoIlcretizá, demaheirá gradual, a imagem arque,/: " típica ativada.' I; ,; ." " Em Two Essays, JJ.mg descreve esse caso de forma muito mais circunspecta. 53 Torna-se claro, então, que a paciente não se curou imediatamente com a interpreta ção arquetípica, ,mas, em v:ez disso, ocorreu uma mudan ça bem graduaL Sem negar a validade da interpretação arquetípica; podemos nos perguntar se a interpretação foi o que exerceu a influênCíacuraâora decisiva. O prin cipal fator de ·cura pode muito bem ter sidó o interesse pessoal ea pre'Ocupaçao de Jung por essa.paciente e:seu materiaL Ela, por acaso, estavaào lado dele n'O momento em que .uma grande teoria. da personalidade humana.es.., tava em processo de germinação. Jung compartilhou essa experiência pessoal tão importante com ela. Eu diria que foi o encontro pessoal-com a personalidade:aberta e hu mana de Jung quepersonalízou o arquétipo ativado e le-i vou à sua: assimilação como UffiIlOvo pedaço da própria personalidade da paciente.' J ung descreve sua busca por' um sentido nesses sonhos emTwo Essays. -Ele termina ,com as seguintes idéias: . . ',' , .• ~ ~dri1ente ,... 52 82 '-.', ,; '; I "0 The Symbolic Li{e, CW 18, par 634: i ;I J • '1 r, -:,. ' Pensei: talvez, o in.~onsci~nte· esteja tenta,ndo .criar deus, apoiando-se na pessoa do médiéo, a fim de libertar concepção de deus dos invólucrós dé uma: instância soaI: Dessa forma, a tránsferência reali~ada na pessoa do médico não passaria de um equívoco da consciênciá, de uma brincadeira estúpida,do "sen,socomum" .... Acaso a nostalgia de um deus poderia ser uma paixão, manando de uma natureza obscura e instintiva, uma paixão intócada por quàisquer influências externas,talvez mais'profunda e forte do que o amor por um ser humano?54 , ,I 53 54 CW 7, pars~ 206ss. h Ibid., par. 214. \ J.: ~ 83 Essa, é claro, era a forma como .Jung enx~rgava a transferência arquetípica. No entanto, tal Pbntod>eyista tende a depreciar, e até mesmo ajustificaÍ'como ~m"mal entendido, a. natureza intensament~ pespoal da. tr"!fis(e rência. ., ê J , . , •.• Há uma outra forma, Complementar, ,de se olhar para a transferência; .que, deyolve,ao :aspecto pessoal o valor que lhe é de direito. Em. ve.z.de c.ompreendE):r os sonhos dessa mulher s,omerite . como uma tentativa"do 'incons ciente de "libertar uma.vis'ão de De,)fs'do véll dm; aspec, tos pessoais", .,podemos, compreendê-lq,s também, ou. pre . ferivelmente, .éomo uma.tentativa.do arquétipo. de eme;rgir de seu reino remoto e ,ete!nQ para se encarnar pessoal mente na vida real.da paciente, na ,.r.elaç~Q,d.ela çom q analista. , .".. " .' '. ''''''''', ... }. Se pensarmos.assim, nãoteremosznais ªqllele ,an seio de mandá-lo de volta para Q lugar de ond~,saiu, tentando separar o arquétipo da pessoa do analist,a."Na verdade, agir assim pode fazer cQm que.a paéi.ente perT ca uma,oportunidade q.edar Um graIlde passo.no seu desenvolvimento psicológico.. Namaioria dos casos, uma imagem arquetípica ativada somente pode ser assimi~ lada se ela puder, primeiro, encarnar-se em uma expe riência'I pessdal Essa ét ,al oportunidáde fornecida pela • .J'lt , relação analítica. ~e nos der:;cuida~l;lO,~ ou tel]:tamos nos esquivar desse pr,ocesso,prolongado deinte.rcâmpio pes soal que segue à ativação de um arquétipo, se conside ramos a transferência um estorvo, e não·:uma oportuni dade valiosa, causamos. uni c-urtó,.circuito' processo /' natural de desenvolvimento fi levamos a personalidade . 55' : : '~ de volta ao status quo ante.. I ' :. -'» ',; '. ' •• , J ,. I , 1 . I • - J 1 I , " , I, ) no LI' . J ( 55 Para uma discussão mais completa sobre a transferência como uma "oportunidade valiosa", ver o último artigo deste livro, "O fenômeno da ,Trans. l' .. • . ..1 ferência". (Nota do Editor) 84 . A cura em harmonia coma psique objetiva ~ : ~ I Essa discussão leva'a uma questão 'mais geral, rela tiva ao efeito curadQr e à interpretação dos sonhos. Até que ponto as .imagén~ ·.onírlcas autÔnomas 1~vain a uma cura e a ~~a maior consCiêncüi, ~até que pontó'a reação do analista o contexto' interpessoal' dó processo de in :.' terpretaç'ão dos' ~'õnhos con t~ibu.em?" Essa é lim:aqúestão dificíliIna. ror um ladô'; existem muitas evidências de um processo psico19gico, inato~ ~ e es ~.' ~.." ~ ~ ~,. 1 pontâneo, que luta pela auto-realização. A série de so-, nhos public~dâ por Jung em p,sychológy andAlcliéTJty é. um ótimo exemplo disso. 5s Ppr'outro ladp, existe.m mui tos outros exemplos na pr~tica psicoterápíc'aonde nos~;as próprias ~~~postase .envolvimento parecem ser fator~s ~ e L. ."' f __ _ • _.. j \ , _ "'. i '., j, f ' . - ., .". '" .' . f J ' cruciais. Acredito que a maioria de nós concorda que a.mes ma coisa que ac'õntece com os fenÔmenos pSfquíêos e in conscientes acontece com os fenômenos da física subatÕ~ mica: quer dizer,/que eles Ilão~ podem s~r ..obser:vados sem' ~ , . .» • ... ~ '<.J " . '" ' ~ -' : que o próprio. processo de observação 'os influencie. As; sim, uma óbservação~ objetiva ·éne~tra do incons,ciente é, impossíve!..·, ' ' . ' ' . . ., Esse 'é o 'ponto de vista de Jung, e ele o re~firmou várias vezes., Por exemplo, ele diz em "General P r .obleIp5j of Psychotherapy": É que, queiramos ou não, a relação médico-paciente é uma relação'pessoal, dentro do quadro impessoal de um trata, mef1.tomédic.o. Nenhum artifício evitará. que o tratamer;:t to seja o produto de uma .interação entre o paciente e o médiéo, éomoser~sinteíios ... Esta éa razão por.que mui tas vezes a personalidade do médico (como também ado paciente) é infinitameÍlte mais importante para um tra" tamento psíquico do que aquilo ~q'ue o médico ,diz ou pen"j 56CW 12. 85 sa... o encontro deduas.personalidades'é como a misturá de duas substâncias químicas diferentes: no caso de se dar uma reação, ambas se transformam. 57 " O que Jung descreve aqui é um campo 'dinâmico de influência psíquica. éompartilhàClo peló rriédicó' e" pelo' paciente, para o qu~l os dÓIS contribuem e pelo qual ambos são afetados. E dentro desse caxnpo de influência mútua que todas' às observações sobre à psicologia: profundadevem:'ser feitas. Nesse campo,é impossí~'el fa zer qualquer ôbservação"objetlva";A observação impli ca, inevitavelrriente;em uma participação. É impos , sível para nós saber'se um sonho específico ou determi nado curso de desenvolvimento são' n'aturais do pacien te, se são evocados pelos interesses pessoais e pelas res postas do analista, ou se derivam de uma' combinação dos dois. A concÍusão parece inevitável. Independente do quão cuidadosos somos ao trabalhar com os sonhos do paciente, nunca poderemos saber ao certo se estamos promovendo seu'próprio padrão de desenvolvimento ou imprimindo riossa propriavisão demtindo em uma,psi que maleável. Já que a participação pessoal de um ou tro ser humano é essencial de . na infância e no processo . cura da análise, esse processo de impressão praticado pelo analista parece ser tanto necess;irio 'quanto inevi tável. Essas considerações levantam questões sobre a na tureza essencial do processo analítico, da interpretação dos sonhos e da individuação, da forma como surgem na análise. Nossa teoria b~sica' a respeito do desenvolvimento psicológico é que a personaliqade individua'l contém seu próprio padrão inato' de to~alidade: tamb~m.[ o in'ipulso para realizá-lo. Essa hipótese omite o efeito da experiên \ , e 51 The Pra.ctice orPsychotherapy, CW 16, par. 163. cia pessoal ou da influência cexercida pelas relações interpessoais. O problema é qUe não podemos comprovar essa hipótese. Aobservação da psique de outras pessoas inevitavelmente envolve a influência exercida pelo ob servador:Isso complica os dados obtidos, de forma a não podermos dizer se o que estamos observando originou-se no objeto obse~ado' ou' em 'nós mesmos. Não podemos saber ao certo se estamos observando a individuação de outra pes'soa ou noss'a própria, ou quem: sabe a indivi duação de Jung acontecendo em nós! . , Uma forma de lidar com esse problema' é entender a: individuação como umpadtão coletivo de totalidade com partilhado por todos os seres humano's e talvez por todos os seres vivos. Assim, não' teria importância'saber se oS sonhos arquetípicos ou as imagens da individuação' origi naram-se nó paciente ou no 'terapeuta. Se um terapeuta. consegue introduzir o paciente-nas 'energias básicas, co letivas e psicológicas por meio da sua (do terapeuta) par~ ticipação hélas, então ele;está a serviço da função cura dora. Não' t'éiia impb'rtância sabérse 'ele se direcionou pelo inconsciente do paciente ou por sua própria experiên~ cia de vid~,'desdeque ele esteja em harmonia com as realidades da psique objetiva consideradas como um cam-' po compartilhado de dinamismo psicológico do qual to dos os sérés humanos participam. Para utilizar a analogia do fruto do carvalho: se so mos todos' carvalhos, então podemos compartilhar' nos'.: sos padrões de 'carvalho como paciente, qu~ também é unÍ carvalho em potEHlbÍal. O que damos de nós mesmos ta.ín~ bém se t,ornará parte do paciente, já,que compartilhl1mos os mesmos padrões' inatos. Esse conceito pode ser, ilus trado pelo seguinte exemplo da rela,ção dos fatores pesso ais e arquetípicos na. análise.' ' ., . , O paciente é um homem talentoso e muitoiIltuitivo, por volta de seus tript,aanos de idade, cujl; infância foi i 86 87 altamente comprometida do ponto de vista emocional. Essa privação levou,a uma, quase absoluta paralisia em sua vida adulta.,EI~Joi uma cri?-nça bastarda, çxiada por pais adotivos quase psicóticos, e sU9- adaptação à vida adulta é precária. EWQ9ra tenha granQ.e talento musical, teve poucas oportunidade.:;; (,le obtE1T uma ~ducação for mal. Ele já estava cOI)ligo há Illais de dois anos quando do momentod9: se§são que vou ciescrever. EI.e me disse que havia, recebiqo uma oportunidad~ úpica de estudar música, que demandava uma despe$a maior do que ele podia dar conta. Seus problemas psicológicos haviam tor nado quase impossível que ele entrasse em qualguer aula mais séria no passado, mas agora ele começava, a perce ber que talvez fosse capaz de fazê-lo. ' , , Depois de conversarmos sobre o a,ssunto por algum tempo, chegamos à corclusão de ,qu~ e§sa ,era, de fato, unia oportunidade ünportante que, se dava em 'um' mo mento propício de, seu' próprio processo psíquico, -e que ele pode:r:ia r~al,nient~ aproyéltar ~ssa·opórtunip.ade. Eu lhe disse, então, que estariã dispostõ a reduzir ainda mais o preço da, súà sess,~o; q~'~ j ~ er~ baixo,' pã,;~' q].le ele pu desse obter ~ dinheiro neéess'áriõ paià éomeçár, os estu~ .J_ l..... ,I., . dos. Elê ~cou, bastante empcionad~corp. a Ç>ferta e acei7 tou-a dé bom,grado. . , N a visita seguinte, ele falou uni pouco mais sobre suas reações conscientes. Ele disse que ficara muito toca do' pela ~in~a;gen~ros{ç.ade," e. sen ti~. qúe cessá era sua primeira ,experiência de ter urp p'ai. A r~s'posta de' seu in~ consciente podê ser ~ista no' seguinte sonho: . - _JIO .i _ . ~ . ,_ I l _ " " ,] • " c " - - - ., - I r l ' .' : ,o,' ' ", { Estou sent~dodiante de um e'ntalhe àntigo de uma cruci ficação. Ele éde metal, Irias está parcialmente coberto por uma substância,pareç~d~ com cen;l, ,o que me leva.~ desco~ brir umas velas sobre ele, uma de ~ada ~ado.,Percebo que estou prestes a acender ils velas, fázendo com que a cera desça para dentro do eilta:lhe~ e qb'e i'sso e~;"tirreH{c'ionado Com a refeição ritual qú:e eu voti'com~r.iJ . '::. "'I, 88 j Acendo as velas e a cera,n')almente desce para dentro da forma vazia da ,crucificação, ~I,lando o entalhe enche, eu o tiro da parede; estou prestes a comer minha refeição. Pe guei a cabeça 'da imagem, que se formou ao se encher o entalhe, e a estou comendo: Ela é feita de uma substância parecida com chumbo - muito pesada - e começo a me perguntar se serei capaz de digeri-la. Fico pensando se os humanos conseguem digerir o chumbo. Percebo que co memos um pouco todo dIa, e que comemos prata também. Acho que nãohá problema ter éômido o chumbo, mas es tou com medo de comer demais. O sonho termina enquan to estou comendo.' Escolhi discutir esse sonho pàrticularmente PÓF duas razões. Primeiro, é óbvio que esse é um sonho arquetípico que parece estar claramente relacionado a, se não for com': pletamente causadopela,minha oferta pessoal, ao pa J ciente. Segundo, se 'eu a'compreendo da maneira correta, a imagem do sonho refere-se especificamente ao assunto dessa palestra, ou seja, à relação entre as experiências' arquetípica e pessoal. Minha oferta de reduzir o preço foi uma tentativa,de, ser o pai zeloso.,Eu gostava desse hü': mem e sabia ,de seus' potenciais não realizados. A reação consciente dele igualav'a-se à minha' intenção consciente:' pela primeira vez ele experimentou O sentimén'to'de teF um pai. No entanto, o sorihoque se seguiu'oferecia ima gens diferentes sem nenhuma associação pessoal impor J tante. Eu não trabalhei esse sonho cóm ó paciente em: detalhes, mas sinto uma necessidade pessoal de com-\ preendê-Io:· ,,'--_. '.~ Em primeiFo lugaF,'o 's'onho;,apresenta' um' entalhe antigo da crucificação. Um entalhe é uma es'Cültur:a em depressão,'um rélevo negativo,- o 'quál, quando pressio nado sobre algum matérialin'acio tàlcomo a cera, produz uma imagem com relevo positlvo. Compreendo o entalhe nesse sonho,como,referente aüma estrutüra arquetípica, Uma forma inata, vaz'ialem si;m:esma.É um mecanismo 89 de impressão que cria imagens de si mesmo a partir de matérias amorfas, como a cera. O sonho diz que o enta lhe é antigo. Isso se refere à sua natureza 3:rquetípica, histórica - algo flntigp.e preexistente ria psique. O for mato do entalhe é a' crucificação. O paciente foi criado como católico e levava essa religião muito a séri.o na in fância; as imagéns cristãs estavam, por esse motivo, fa cilmente disponíveis para ele. , . Cristo suspe~so 'na cruz é,. em essência, uIp.a mandala e, por isso, pode ser tomado como uma' repr~sentação do Si-mesmo. A imagem da crucificação apresenta o tema central de tpdo o mito cristão, muito pertinel).te à nossa discus~ãoi. ou s~ja, a encarnação de Deus na forma hu mana,~)U, para colocarmos em termos, psicológicos, a encarnação de um arquétipo, o Si-me,smo, n11 experiência pessoa.l; conçr:eta e histórica. Omito cristão da encarnação corresponqe ao processo de personalizar: o arquétipo no desenvQlvimen.to psicológico. A encarnação de Deus cons trói a pqnte entr~ q mundo consciente do ego e o mundo transpessoal da psique objetiva, Sem o proc~sso de encar nação, oburacq~entre!o h01:p.em ~ o divino,egQ,e Si-mes mo, não pode ser fechado.: Falanqo de forma teológica, 'i. não haveria salvaçãq, ., . ,: ". \ ' ': .: O próxirpo dado do so.nho'é <;I acender das duas velas e a cera ,çorrendo para og1olqe do .e,ntalhe. Vejo as velas acesas como. um,símqolo do próprio proc;esso de vida. A cera derretida, produzida pela chô:ma .9.as velas, pode ser compreendida cómo uma substância maleável produzida pelo ato de se viveria qu~l, enquanto está quefl;t~, toma rá a forma do molde sobre o qual flui. ,: .', ; No sonho, a cera derreticla é o material·bruto, a subs tânc~a amorfa, moldada emuma,irn11gempredetermina da. E esse processo de molçiagem, que, corppreendo como uma expressão simbólica espeCífica d.a enc;:trnação pes soal da imagem arquetípica. Sem;.uqta ~ubst<1ncia sobre 90 a qual posf:!a irp.primir a mesma, para poder criar um conteúdo real e positiv:o, a forma arquetípica representa da pelo entalhe. perman,ece. apenas um contorno vazio. por outro lado, ?cera.que representa o produto da expe riência de vida. pessoal per:m?nece .amorfa, sem uma es trutura outp:p, ~.ignificado" ,atéencoJ?trar, seu caminho dentro da imagem ;;rquetípic;;,-:- OI ent(jJhe - e. ser molda I da em urp.a forma. significativa, . por que são ,dl.,l.;;s as velas, não sei,a.o c~rto. Aparen temente, o processo é. duplo.Isso me faz lembrar dªs ima gens de Mitr.a,. que o m.Qstramladeado. por ,dois· guias es pirituais, um segurando uma tocha par;; çima, o outro para baixo., O entalhe da cr,ucificaçãocom .uma vela de cada lado também é análogo à. cena corwelJ.cional da cru·, cificação, onde Cristo eh_c.ontra-se ladeado ,por dois lap.rões. Embora esseisonl:lolnão seja,clefinitivo, acreditQlque ele faça uma. alusão a lnll processo. trinitário, As du?s. v:elaS derramam .se u produto em um terceiro objeto, ,o entalhe; que junta os dois'e molda-os em urnaJor:r;Ila significativa. Se estivermos .n9 canlÍnho certo, as dq.as velas represen~ tariam os opostos, e de seU funcionamento conjunto ,sai ria o material bruto. para;;s formas simbólicasLsign.ifi .' " F " " ' I , "1 ' .• cativas. ' .;, O spnho entãoxepr:es.en,ta a ingéstã.ü ritual da figura de cera. Essa imagem possui um paralelo preciso nas refei~ ções de comunbão.sagrada . nas qu;;iso paFticipant.e con some uma representação da divind::tcle. Ela repre!3ep,ta a necessidade.do sonhado!' de assimilar,psicologicamente. o produto.do prpcesso,que:acaba de. ocorrer, para:torná-lq verdadeiramente, seu.. Nesse ponto, aparece :!lma, caracte, rística muito l interessante -;- a consciência, no. sonhador, do peso da substância a ser comida e su.a digestibilidade não quest,ionad;;. Aêu.fase po peso s\Jgere a realidade só, lida, substanci.al, d9 que. está séndo ingeridQ. Q indjvíduo Curva-se com esse peso, e fica mais próx.Üno do, chã.o... 91 Um aspecto desse peso, acredito, refeI'e-se ao tipo psicológico do paciente. Ele 'e extremamente intuitivo, talvez a pessoa mais intuitiva qUe já conheci. Dessa for ma, sua experiência do Si-me'smo deve se dar, inevitavel_ mente, por intermédio da sensação, Sua função inferior. A sensação, a função da re'alidade, é experimentada pe los intuitivos, em geral, como algo muito pesado e inerte, daí a preocupação do sonhador Com sua càpacidade de lidar com todo aquele peso: Na última parte do sonho, o material torna-sEf chumbo. Isso·é importante porque o sonhadortiv:era outros sonhos onde o chumbo' tinha um ,: ; papel proeminente. Chumbo é um dos termos cómuns pataaprúná ma teria na alquimia-; era a substância original, da qual o va lor supremo ouro, a pedra filôsofal- deveria ser criado. A característica mais notável do chumbo é seu peso, Sua so lidez. Ele é um símbolo apropriado para a realidade terres tre, e assim; 'representa as realidades concretas de nossa vida'pessoal, opostas às formas arquetípicas eternas, que não têm'pesó ou realidade própnaaté que sejam preen chidas com algum conteúdo, Uma conclusão semelhante é indicada pelárélação astrológica entre o chumbo e o planeta Saturno. As características saturninas incluem cautela, controle, responsabilidade é uma praticidade séria: 'Essas são' as característiCas que mais faltam a esse paciente. Esse soriho foi muito útil para m'im, ná ordenação das minhas idéias sobre a relação entre os fatores pessoais e arquetípicos no des'ehvolvimento psicológico, Ele veio como uma resposta à minha experiência' pessoal de ofer ta de redução do preço da' sessãó do paciente: o.'sónho diz, de fato, que minha oferta foi vivida pelo inconsciente desse homem como uma oportunidade de participar de uma refeição sagrada e de incorporar uma imagem da divindade. Esse é o sig:ilificado arquetípico que súbjaz ao encon tro pessoaL ,( 92 A experiêntiaarquetípiéá poderia ter, ocorrido sem a relação pessoal? Duvido: muito."O arquétipo deve ser encarnado; meSmo que escassamente. Minha simples ofer ta de assistência veio 'nomorrléhto certo' para que pu desse ser vivida e inéorporada pela: personalidade do pa ~ k ,; , ",' '~ ciente. ;\ r ~! ' : _ ... _, l ~ I, ~ ".' I ~) ""f ~ : • I ;l (, ) r, ,; 'I.' , A encarnaçao pessoal dos arquetIpos ~' .. ~, r" _, ~ ,I" " '. 1 -~, . ::I~ De fórmàínilito' clàra e'enfática, poI' repetIdas 've~ zes, J uhgénfatizou 'a necessidade'dê nóS' relaCionarmos com os pacientes cOIÍl'tod'({a nossá'pérsonalidàde. É 'I:jro~ vável que, mais 'do que qualquer' ilm de nós; ele tenha sido capaz de partiéi~ar vitalmente':do encontro'an1álítico:' J Eni seús escritos, ele insiste na importância da paf~ ticipaçãopessoal'do analista. No entanto, as passagens, em seus textos que recomendam essa participação estão) muitas vezes; esé'ritas de maneira didática e exortàtória: Ele não relacioná a importância da participação pessoal à sua teoria'da estrutura da psique. Não podemos' dizer que issose devà àsupostadescrença dê Jung em relação às teorias: Ele' estava disposto a construir uma teoria da estrutura da psique, da natureza dos sonhos'e dá. libido. A falta de uma têoria que diz respeito aos efeifo's psicoló~ gicos da experiência"interpessoal parece ser uma verda~ deira omissão que ainda deve ser preérichida. '. ,',;', A partir 'de sua 'distinção originàl entre" as 'camadas pessoais' e cóletivás ,do' ihcoris'cien te; ele toriui va'-sé' cacÍà vez mais preoctfpa:do'comó aspectocoletivó, arquétípicoi Seu procedimento an'alítico'tornou.!semaise mais um rrie~ todo de educação esPiritual que pressupunha uma 'per sonalidade cOÍlséiénte:beni-desenvolvida: Os estágios pri mários do Clesenvolvíriiénto 'dó' égo':eiám 'relativ.amente negligenciados e não recebiam' uma 'elaboração teórica. Contudo, lidamos com pacientes em todos os estágios de 93 desenvolvimento :e, por"isso, precisamos··de; mIl? teoria geral que abarque todas as fases do desenvolvimento. Todas as experiências. psicológicas são· arquetípicas, no sentido de que são, padronizadas, determinadas, pelas formas inatas, univers.ais, da existência ,humana. Iss,O é bem visível na criança, na qual os conteúdos pessoais e arquetípic,Os estão misturad,Os de forma inextri~ável. Já n'os adultos, iss,O é m~it,O"menos ~yident~, pois a R~ique já pass,Ou por um processo' de persoiiálizáção' que é siri"ônimo de um desenvolvimento do" eg,O:,É exatamente d~sse pro cesso de pers,Onalização que muit,OS dQsnoss,O$ pacientes precisam desesperadamente. A carpa<.la pesspal 'da psique é f,Ormada c'om o passar do tempo, e a melhor forma de se pensar nela é sob o prisma do desenvolvimeI).to. Ele cQme, ça no nascimento e continua ao longo da vida d,O indivíduo. 'Ibdas as nossas experiências, internas e externas, e também as dos nossos pacientes, são, ,em essência, per sonalizações d,O arquétipo. Então; a natureza do trabalho terapêutico, especialmente na prip1eira metade da vida, é ajudar.o paciente a se relacionar com as,formas arque típicas emergentes, Jornecendoo contexto de uma rela~ ção interpessoal,por,meio da'qual e1\)sas formas possam ser per~o.nalizadas. I~$o pode ser feito, sem se mencionar a palavra;.';arq1J.étipo;:, e tenho, ce~teza de que,issoaçonte ce com freqiiêI)cia çompsicoterapeutas de 'outras escolas, que nem sabem nada sobre,osarquétipos. ";, 1 \ " • Quandp pos·r:eferimos ao ç:r;escimento,Ou àsexperiên cias transfor:I]1ad,Oras"como ,opost~s .àqueias que r~sul tam de. ;uma ','di~torção projetiva\o,conceito de persona; lização do arquétipo é preferível à conc~pção cçmyencional de projeção de imagens.arquetípicas. Essa projeçãol,da imagem arquetípicap,Ode·servista como UI;n,esforç,O ,do ar quétipo para alcançar, um? enc;:trI1ação pessoal ,',O primei ro passo n'o processo de assinlilação ,cons,cientedo arqué tip,O. .1 1 i1 !. ,'J.) *',! ií ',' i 94 Essa. f,Orma de conceituação leva a uma ênfase dife rente daquela"de'Jung de que ,os conteúdos do incons ciente devem quase sempre ser integrados via projeção. A forma como Jung:diz isso S'oa quase c'o,mo uma descul pa. Devido às conotações da palavra "projeção", parece que ele está dizendo: "Infelizmente, a natureza d,O pro cesso psicológico é tal que devemos suportar certas proje ções por ,algum tempO, para que elasp,Ossam ser assimi ladas". Essa forma de se iniciar o processo parece refletir um tipo introvertido. Ela nega o valor do encontro pesso al, assim cómonega a importância inerente ao processo de personalização. . " ' (' . No que diz respeito à teoria junguiana de desenvol vimento da personalidaqe,. parece-me que temos presta? do pouca atenção 'aos efeitos dos relacionamentos,pes s,Oais. Os' fatoresinato.s,predeterminàdos" arquetípic,Os, foram enfatizados/em.detrimentq quase,total.do pessoal. Esse" desequilíbri,Oé conseqüência das circunstâncias his-" tóricas no momento. do nasciment,O da psicologia' àna~íti-: ca. O desequilíbrio .foi corrigido nQ próprio método analí~ tico d~ Jung, ,O 'qual ele conduzia de forma bem livre e pessoat Os .efeitps d,essa abordagem, contudo, nunca fo~ ram iI,lvestigados de maneira específica,ném receberam uma formulação teórica. r ,: . , " " "'.' De alguma forma, os fatores pessoais e arquetípicos devem ser agFUpado~ ém uma teoria gera1. Isso pod~ ser, feito' ao se compreender a necessidade da encamaçãop.es::; soaI dos' arqlú~tipos na, ex'periência individuaL TO,das 'âs realizações.arq'!l~típicas ~ão e devem ser pessoais. Q:corpo em que um arquétipo.encamaé form ad,O de substânciá' pessoal,já que a,re;:tlidade pessoaléa única que podemos: experimental" Osarquetipos não possuem Qutra forma de' se expressar a I,lãoser por intermédio de imagens que de-: rivam da experiência pesso;:tI::Por.isso, vento;fogo, água, sol, lua e estrelas; todos serverrt1corpo imagens para os con 95 teúdas arquetípicas. Más até mesma essas imagens relati_ vamente impessaais derivam da experiência pessaal. Can sideramas que tais imagens se refiram a canteúdas trans_ pessaais, a que é verdade. A técnica da amplificação. é um métada refinada ,de persanalizaçãa, que assacia as ima gens de nassa, herança histórica ,à imagem de um sanho pessoal, de moda a fixá-la na cansciência. A amplificação. nas leva um passo além, rumo. à nassa ascendência cultu ral e geralmente humana. Mas ela nas relaciona ,com nas sa herança cultural de maneira pessoal e, assim, é uma abardag~m geral da persanalização do arquétipo.. A personalização. das arquétipos nern sempre preci sa de uma relação. interpessaaL Ela também pode surgir da rela.çãa.com U:Q1 campo de estudo' au comum interesse inquietante. :Um grande. interesse pela ciência, nature za, espart~sou política, par exemplo, pade representar a encarnação pessaal de um arquétipo. É clara que um in teresse desses tambéin .pode ser considerado camo umá prajeção de um significado essencialmente interna.' Mas, ao descrevê'cla camo uma prajeção, aamas: uma atenção. exclusiva às origens .internasda'cante~da,e não. atribuí mas nenhum valor específico ao processa de persanali~ zação - a qual traz a imageminconsciente para uma rea lidade empírica. ).. Nosso interesse e comprómetimento com.a psicolo gia profunda e cam a"psicaterapia, por exempla,é um exemplo. de uma .encarnação pess9al .de, j.lrriarquétipó. Esse interesse traz uma estrutura e um·sentida para nos-' sa vida e talvez par trás dele esteja a imagem do Si-mesma.' N a entanto., será que podemas descrever nossa trabalha! nasso interesse principal e nassa vocação., adequadamen-í te, coma uma projeção. da Si-mesma? Uma 'afirmação. des sas sugere que a prajeçãa pade ser retirada e que peide mos transcender as realidades espaça-temporais da existência pessaal. Eu prefiro uma formulação. que dê um 96 valor roais es pecífi€Oc à encarnação pessoal e concreta do • arquétipo da que o, conceito de, ,projeção. A idéia de encarnaçãO pessoal da arquétipo serve a esse prapósita. Ao. utilizÇl.r a termo "persanalizaçãodo aiquétipo" em vez de "projeçãa"; a' arigem das arquétipas emergentes as fica em aberta. Isso. é mais precisa em termas de nass conhecimentos atuais. ,Par exemplo, em uma transferên cia paterna positiva, podemQs.afirmar, com certeza, quê o paciente"prajetaa imagem do pai n051nalista?'NãO se ria igualme'(lte'passível que o analista funciane a partir da sua pró.pria imagem paterna positiva e que a paciente respanda a ela? Em vez de uma projeçãounilater;al,pode ser mais apropriadO pensar em um campo arquetípico do qual tanta.a paci~ntequanta o analista p-ârticipam. Segundo a argumentaçãO anterior, da influência ine-' aa vitável que a observador exerc.e sobre a psique da pess abservada, fica evidente que não. pademas saber ao. certa quemé o re$ponsável pela ativação. de nenhum arqIuéti po, quer ~le Séarigine'nopaciente au na analista. Quanto mais fundo vamos ne.ssa.questão, mais clara fica que em umaps~c.aterapia .eficaz, paciepte e analista estão parti cipa'(lda de um campa dinâmica da psique abjetlya, que eles c9mpar:tilham entre si. Essa forma de se alhar para o processo psicoterápica pa!ece mais conducente a uma terapia bem-sucedida da que a noção. dê prajeçãa, que te. a'calacar toda a respansabilidade na paciente e nega nde a realidade:do analista, participativo . , ' '~. , ~>' :':' ,.'), ~'- ·",l.. " ~._.' .. j <, A personalidade do terapeu.ta e:o~ proPósitositranspessoais ,:. ':,;1';(' ,. ".' , .. :, «li.' '. 'L _! I, ,No meu trabalhacorilas pacientes, muitas vezes en contro~abjeções'aa ten~an interpretara transferência pa sitiv.acómo, Ul1}a projeçãO. de canteúdas incanscientes ín 97 ternos. Eles não aceitam a desconsideração da minha rea lidade pessoal e do que.~elasignifica para eles. Aos pou~ cos, fui chegando à conclusão de que é um equívoco com preender a transferência positiva apenas em. termos da projeção. Não estou mais. certo de que o progresso da transferência é determinado exclusivamente pelas ten dências inerentes ao paciente. O que eu sou pessoalmen te parece exercer uma importante influência na direção que a análise segue. Em outras palavras, eu dou uma corporificação pessoal às formas' arquetJpicas emergen, tes, que são, então, incorporadas à personaliqad~ do pa ciente parao.bem ou,para,o mal.. '. Para colocar de maneira mais direta, uma análise psicológic.a profunda envolve um processo irrevitáveLern que o: paciente ~assimila. partes ,da personalidade do terapeuta. As..formas arquetípicas são inatas em todos nós, mas,os conteúdos pessoais específicos que são des pejaqos nelas contêm, inevitavelmente', .alguns conteú~ dos da personalidade do analista.. Se certos aspectos da, personalidade dO.analista forem .muito estranhos 'ou destrutivos para o paciente, haverá uma resistênGia ou uma rejeiç~o total a eles. No entanto, mais uma vez,não podemos estar tão 'seguros disso. Uma-psique que neces~ sita desesperadamente de algu~a corporificação pessoab para trazer à tona formas arquetípicas iminentes está propensa a ace~tarqualquer coisa que estiver disponíveli Lembro-me da reação de uma pessoa à descrição de' Jung do arquétipo do velho sábio. Essa pessoa disse: "Essa é exatamente a imagem do próprio Jung. É claro que ele vai obter esse tipo de sonhos dos. seus. pacientes~'. ESSá observação pode ser considerad~.comoJum.equívoco per", sonalista, mas ela também carrega a sua verdade. Jung foi capaz de encarnar a sabedoria pessoalmente, na 'rela ção com seus pacientes. Será que podemos afirmar com certeza que a sabedoria de Jung evoçou a potencialidade 98 de sabedoria inata no pacieilte? Ou será que a sabedoria de Jung foi assimilada pelo paciente, embora, com certe za, uma forma' àrquetípica .Íner.ente ao.padentê estivesse pronta para receb~-l~?r/.' ';.U·vIJ .~. ' Sabemos que o desenvolvimento psicológico não acon tece na ausência das relações pessoais. No entanto, ao mesmo tempo, todas as, experiências pessoais seguem certos padrões típicos e universalmente humanos que cha mamos arquétipos. Embora ãs' formas arquetípicas se jam inatas, os conteúdos específicos são determinados por fatores pessoais e históricos. O processo da psicoterapia envolve não apenas a ativação das formas arquetípicas, como também, e principalmente, o preenchimento des sas fo~u{as ~ó~ conteúdos pessoais. Parte desses conteú , ',_" " ~ ,'~ i ,I ~ dos vêm de imagens culturais e mitológicas, fornecidas pelo probes~o de·amplifi~ação. Mas o ingrediente prin cipal; niínEm ponto de vista, continua sendo a personali dade do terapeúta. Isso inClui absolutamente tudo sobre ele: suas idéias e opiniões', séntime~tos; preconceitos, ~; ~: ~ gostos pessoaIS e, o .que talvez seja maIS Importante, sua visão de mÜ~d~ t~tal e sua atitude'~era~te a vida. " , E bastante desconfortável pÉmsar que, inevitavel mente, os analistas estão reproduzindo a si mesmos nas personalidades de seus pacientes. A única d~fesa contra ~ o mau uso desse enorme podei f"é estarmos firmemente ."'~ '>,." '!r·~ ' f ,[', " " , ~:' ',~', ' .• " , dedicados aos propósitos transpessóais da vida. ~ I: ' . ~ (i , t'- . • ; '11 ",." • \. I ~ ' • " :, ,', ,;) I ,l'" 'I' • \ ~ " 'f '\ ; ,. ': .' '. 'I"', " , ". ' " ','I \ . , , ' : . 'I', ~, <' .' I ' f .. , {if I ..... I,.. j ,-' ' "I' j ",. ~: ~ ( ""., ,." ,i\: Pt;(t "1\ ~ , r I' f t'" ~. ',. t' ';) 11,' I I , I ~ ... r ~ ~ _ " ~ ti' " " ., ~ 1. I ., • ~ _f ~', ,".' ! ' . ,I' 1 ' • 1,' . \ ." • ," ( (. . " 1"1 1 \, , •••; I '1' 'j d 'I ' t ,t' , I • li " ' p \ ," ..... ! I' " ! '(,:," , .,.: :"<11, " , . l') '1 , ' , , ' # { ' , 'I r "~, i iI .. ", . , .: !... 99 ,', ,4", " ' PSICOTERAPIA.PROF;UNDA: f~f ~ J A ~;._ PROFrSSÃO~', , " ,. " '1;~ I ; 1,"_ ,,' ~ .J --.:! .~. -...... ; 1 " 1fJ, " r,' , J Introdúç,ã'o ' , !... - ~ " ". " ) . ., '-'" , , , J \." ~ ... Acredito que s~mosmúito privilegiados por termos descobertÓ a pSiêotérapia profunda. No meu caso, pessb~ almente, sou m'uito grató por'líaver descoberto' uma pro~ fissão que' tem' reàlm~,iite a ver comigo, e' espero que o mesmo fambém seja ,verdaae'para vocês,càso contrário: " vocês nem deveri';rni' estar aqui. 58 " " ' " o que eu quero fazer hoje é explorar apfofi~sãô'àa psicoterápia profunda "de uma maneira geiâI,procuran~ do sabér qu'em's'omos'ziós; como teràpeútas, o que fa zemos 'e as tiâdiçõés' histÓ~icas qúenos ÍigáIri ao' pas; sado. . ,, "' ... , ,J' , Considero essa profissãôriin fenômenO' exclusivo'dÓ século vint'J. Ela s~;rge'áj:iartir dadescoberÚl da-reklidi~ de da psiqúe.Essà' descobú'ta,'comó' um' conhécimEmt~ empírico, é um produto do século vinte. A pSicoterapia profunda nunca havia sido conhecida antes. De certo modo, ela corresponde à física nuclear, outra profissão exclusiva do Século vinte, e que surgiu com a descoberta da realidade subatômica, que contém certos paralelos com a descoberta da psique autônoma. 58 100 Tanto a d~scoberta doinéonsciente por Freud quan to a descoberta da radioatividade por Madame Curie acon teceram'Dem. no final do século' dezenove, no vértice do novo século. Duas profissões únicas resultaram dessas descobertas. A psicotetápia profunda' é 'tanto uínaciência quanto uma art~, ta~to teoria quantoprática.Com9 ciência, é um estudo.de conhecimento empírico .estruturado com conceitos intelectuais que seaplitam à psique ern geral. Mas como arte, é um compromisso prático e pessoal com outra pessoà~'queátirigea vidá-e'Q desenvolvimento dela. Isso vai muito além do aspecto científico. É, !fá verdade, uma arte. Como cientistas, podemos di~er gU~!lqssa_m~ta é o conhecimento objetivo da psique. Essa"meta é abstrata, objetiva e'tem aplicações muitó'gerais: Mas 'como arte e prática',riossa meta' éa cdmpreensão, que é empátíca e relacionada. O aspecto do conheciinento se aplica a todas as psiqués; enquanto' a compreensão é particular e se aplica apenas â uniindivíduodi:rcadavez. A eom'preen ~ã(jé singulai.' . .' . . " I ;. .' Aconteêe, não raro, um confliÍ;oentre essés dois mo., dos de furicionamen tô: ming fála ,d'esse 'córifli to na qua'rta parté de "Tne Undiscovered'Self1: 59 Sé a 'pe.ssoa é muito científica; 'ela é dénúisiad~mente objetiva, 'abstrata e teó rica~r ~'então' perde}~e o 'ihdividitàl. Por"outro' lado, se há mú'ità compreensão: 'térapeuta'é' p<;lCÍente tendem a se fundir~e~m suasubjétividade éIÍlpátfca~ e a dimensão ob jétiva' se perdê. É preéis<fque'hajaum equilíbrio. Se eu estiver corretei"em afirmar que a: profissão da psicoterapia profunda é'uma ocúpaçãonova e exclusiva 1. à raçá humána, podemos levantar uma questão: ela pos súi'algum antecedente? Ela é uma novidade sem raízes, Edinger está falando para analistas e analistas traínee, (Nota do Editor) 59 Ciuilization in Transitíon, CW 10, pars. 525ss. 101 ou existem precedentes cultunlise psicológicos?~E,~e cla ro, a resposta é que sim; existemaritecedEmtes;'Opróprio Jung nos.adverte quantOià falta de raízes. Em Mysterium Coniunctionis ele diz:'" ~ , y Qualquer repovação .que ~ã(l es.tá c~Ic~da nas gra~~es tra~ dições espiri,tuai$ é efêmera; mas a d~minante que cresce das raízes hist6ricasage conio um seI' vivo dentro do ho mem circühdadopeló ego', Ele'não:possúi'a cldminante, mas é po~suído por ela:6Q ",' , ' , ') '" L' 'rr I, I,; ". , .' i!. I f. .,', ~. ~I" , Ess~ comentáriodiz.':r~speito à n~cessidade de com preendermo!;> ~s r~íz,eshis,tQricas de nos:sá.profissão. " > Raízes etimológicas '. '. l:J ~ J ., • ~'. _ Va,mps G()meçar com,o q'l1eé, I).ormalm~nte, () melhor método paraJse descobrir as raíze~ históricas de um fenô meno, ou,sej;:t, a etimologia." ;', No termo psicoterapia prQfunda, a palavra.'~profun_ da" é usad.a para. d~13ignar ,o t,ipo dEl, psiçoterapi~ que lida, com a realidade do inconsciente, da psique opjetiva. A palavra, '.'P'si~9ter!lpi~" ,é wn.p,roduto de ,doi~ raciicais: psyche, ..,.,que t3 ignifica originalmente alma ou e1?pfrito d~ vida e o vefpo grego therape'ueirt - qUe 'significa cuidar; servir. O uso qriginaI deS.~9-,palavra er;~h"servir a9s deu ses, 'nos templos'~. E~tão;' nos_ :templos:~da, a,ntiguidade, therapeuein ,refer!ê:-§e àa:ssis,t~nci!l,cuidaçlósa. nos cultos e nas cerimôniasfEllíiiosa.s.pép.oit3, ppr,exten,sãod sen El tido, o verbo passou,ase:refe,rir ao, cuidado e;ao, trata mento dos pacientes em um ambiente médicq.;, Nossa compreensão do equivalente moderno, "tera pia", é aprofundada quando refletimos sobre S~1,l signifi cado original, que sugere que o serviço à alP1a. _ p~ique • . • • 1" I 60 102 CW 14, par, 521, ;', ' não é apenas 'uma tarefa seculàt; é mais do que um as sunto dominado pelo e'go, pois, possui uma dimensão trans pessoal. ' \ Imagens arquetípicas: subjacentes à psicologia,profunda t' Ao observarmos as raízes da- psicoterapia em nossa prática,e também como a própria etimologia sugere, exis tem três grandes figuras que'emergem: o médico-curan-) deiro, o filósofo-cientista e o sacerdote-hierofante. Essas figuras correspondem.a três imagens arquetípicas que são consteladas no curso. da maioria das psicoterapias profundas. Não estamos interessados na história apenas pela própriahístória. Estamos ,interessàdos nas raízes históricas porque a história é uma realidade viva no in conscienteécoletivo; Quando,alguém lida com o inconscien te coletivo, essas raízes históricas ganham vida e tornam se realidades vivas no presente. o.s analistasjunguianos, interes!;>aII)-se pela história não como um investigador de antiguidades, mas por razões muito práticas. A primeira imagem,do ~édico-curandeir9,represen ta o conheciín~nto curador aplicado àS,feri9-as e enfermi dades da hu,manidade, com o objetivo de securar por meio de um tratamento específico. A ségvnda imagem éta do filósofo-cientista - e eu uso esse ter-mO.duploporque PS filósofos naturais originais fo~ , ram os primeiros Cien,tistàs, e a eiê:qcia moderna se desen volveu a partir do campo da filosofia. De fato, a psicologia como ciência, em boa parte do século dezenove, ainda era parte ,da' faculdade de filosofia na maioria das universi dades. Por isso, esses termos realmente devem ficar jun tos ,ao considerá-los do po~to de vista histórico. O filóso fo-dentista representa figura que possui a capacidade a GAZETA DO POVO Biblioteca 103 grande peSOr q"e <ligQ q"., .às vezes,. esc"to alll"ém se examinadora da consciência ,racional; diferenciada. O método utilizado é o diálogo socrático. Aintenção é ensi. nar e alcançar a verdade. O fil6sofo~cientista ensina sob a luz da razão, de forma que podemos nos conscientizar do que realmente sabemos e do que não sabemos. De maneira semelhànte," a- terceira: figurá, do sacer dote-hierofante possui duas furíçõés umpoúêodiferen_ tes, ambas servindo aos desígnios religiosos de um ri tuaL O hieroJante trabalha principalmente no contexto dos mistérios,' assim como os mistérios. de ,Elêusis, en quanto o padre trabalha. no contexto de cerimônias reli giosas mais ortodoxas. Aimagem do sacerdote-hierofante carrega .medi'arfatore.s. trànspessoais ,;':"'0 conhecimento sobre os deuses e sobre'a forma como serelaciónar com eles. A tarefa dO:sacerdote~hierofanteé transrilÍtir a reali dade religiosa, fornecendoads érimtes individuais ou ini ciados a revelação da teofania6~"""" a experiência da dimen são transpessoàl...,. que possui um efeito.transformador. Essas imagens são, muitas' vezes, consteladas no curso da ,psicoterapia profunda. É importante. éstar fa-. miliarizado com elas para que' se 'possa reconhecê-las: quando elas apareCerem.. Elas não vêm com uma etique ta no pescoço. Em.vez disso"elás se revelam:por meio de formas de comportamento ou por ceítas1atitudes:Se vocês' estiverem familiarizados, com as. atitudes, que acompa nham essas figuras, conseguirão. reconhecê-las. Obvia mente, é muito importante queo.analista não se identifi que com essas figtlrasquando ela&,são co.nsteladas,.ou; quando ele está sob a projeçãode.uma delas.. :. .:-. Em nosso trabalho como psicoterapeutas. profun dos, não somos médicos, filósofos, ci,entistas, nem padres) ou hierofantes. Não somos nadadi.sso, no entanto, é,com declarando como um dessep, pe:t:sqJ:H,l.gens,. Eu não reco Jlleo "ma atit"de dessaS. Somos moa nova entidade, do sui generis, uma nova profissão, que apresenta, como parte de se" f"ncionamento, a constelação dessas ima gens arq"etípicas. Mas elas não pertence,!:, a nÓS; elas pertencem à psiq"e objetiva. Elas foram 'geradas pelo paciente e, por isso, deveriam ser devolvidas a ele, não consideradas algo noss'o.· " Acreditá que todos nós fomos treinados ,em uma des fiz~ saS disciplinas iradicion.\s:' Alguns 'de' Ílós mbs me dicina e herdamos a tradição médici,.. Alll"ns de nóS pas. samoS pelas disciplinas acMémic•• da psicologia, serviço social ou aconselhamento; todas elas são"fruto cÍ.k tradi ção filosófica. E alg"ns de nóS somoS seminaristas e ad quirimos a tradição JacerdotaL Mas comO a psicoterapia e e em sua origem abarca transcende todas essas tradi ções, isso ~ignificá que,' que co~~erÍle ao nossO treina mento básico, somos todos tendenciosos e 'unilaterais em relação a uma ou outra háâições. . Toclos a:um equilÍbrio'. Os pos suem umtreinaroento médico precisam da educação filo a psicoterapiaprofunda é mais do sófica e religiosa, que a cur~ de uni~ doença. 0s que :possuem treinamento acadêmico serão 'fraéos nas do tratamento prático do paciente e;',das,realid~des.re.ligioS~s, porque a psique é mais do.que .um:objeto do conhecimento, é também su jeito. E os que possuem treinamento teológico necessita rão de urna educação adicional nas disciplinas empíricas e racionais da medicina e da ciência, para ensiná-los que ppique. é, d. fato, "m íenôrooM empírico e para q"e eles simbólicas de urna mi u? d~ssas ae~Ennoscheg~r poi~ ár~à.s 0 ., ' ~ n~Q ~e êon.fuJ.ld.aÜlçoD}"a,s!D}age~s tologia religiosa específica.' Agora, voU falar de cada urna dessas tradições com .!.í r !I' I',~'-'" "1~·;I",r'~ ~:' :~i'#~'""'"' tI' A manifestação ou aparição de Deus'ÇJú de um deus'a úma 'pe~sóa~ (Nota. do Editor) " "',.' , ".Ii 61 104 ',\ q~e "m pouCO mais ~e prof"ndidade. Cada "ma delas é dife 105 rente no que diz 'respeito à questão concreta subjetiva à qual se dirige, mas o que eu quero, focar aqui é a atitude que acompanha cada tradição. ,É aí que se encontram os preconceitos de; cada, uma. ' , Legado ~édico , Na psicoterapia, a situação'rião {muito diferente daq1,1ela da medicina somática, onde,-ª çjr.urgia, ~ realizada no in~, divíduo. 62 , '" ",,' ~' Ou então: .. l. Assim como exigimos - e com raz'ão - que o cirurgião não tenha as mãos infectadas, também temos de insistir, com muita ênfase, na necessidade de autocrítica do psicQterai '" 106 E também: Mysterium Coniunctionis, CW 14, par, 125n, ,\ A cirurgia e' a obstetríciii'sabein, há muito tempo, que não basta lavar ri paciente:, as mãos do próprio roédico têm de estar limpa,s, Um psicoterapeuta neurótico tratará infali 64 " sua própria neurose no paciente. velroente de ~' ~ , , No que diz respéito'à tradição·médlca;:l atitude que se aprende está relacionada com o cuidado a pacientes em sofrimento. 'llid(f o que se aprende esta voltado' a esse propÓsito: O juramento hipocráticó é realmente o epítome da', atitude médica na qtfal o médico promete não fazer nenhum' mal, daro melhor de si para oindivíduo queso fre, ê considerar o tratamento como algo sagrado' e confi dencial. Essa é uma atitude muito preCiosa que se apren de nó final 'do treinamento medico, por pratifá-Io todos os dias. Não é apenas urria'qm3stãô de conhecimento abs trato;'é unj;cQrihécimentó pratico; NÉúnafilosófia n~ní Ó sacerdóciô'possueniessã atitude:de preocupação ética pelo indivíduo . .A ética do 'nosst;> 'campo; psicoterapia profun da, está totalmente báseãda nas 'raízes inédicas da nossa tradição. ", " ' , ' Em seus le'xf6s,J~rig f;iz comparações erit~e'opera~ ções méd~~as e psicotera'r)ia..~ Por~xeinplo:,,' , .' .' ' 62 peuta, isto é, que ele esteja pronto a fazê-la a qualquer rooroento,\,3: ,'I ' , ' • • " 't 'i' " I, • Essas sãoâlgumas d~s idéias que surgem, ao consi derarmos as raíz~qI!lédicas ~e n,ossaprofiss;3.o., ' Legadofi1osófic~, " Agora, vamoS nos voltar para a tradição filosófica. Na civilização ocidental, essa tradiçãO,chego u '3:'uma ma nifestação plJna com 'Sócrates, como foi regístrado' poro Platão, Acho 'que podemos diz'er'que a essência da filoso fia antiga está resumida em duas, frases: a déclaração 'de Sócrates,- "a'vi'da'sem ,refle'xãó não merece:ser vivida" e a frase supostá'mehteégtavadà no orácu'lo de Deifós, "có nhéce-te a tf mesmo". " " Essas deClàraçÕes possuem rima aplicação direta na psicoterapia, o qüe é beril claro; A filosófiá,Iero sua forma original', era consideràda'Oinsthúnento para esse tipo de exartie:'Em épocas remotas, o indivídriopodia se conhe cei por meio da investigação filosófiéa, que era praticada com uma. atitude religiosa. Se vocês tiverem alguma dú vida.a esse respeito;leiama Apologid:de' Platão, onde ele descreve a defesa de Sócrates no' seu julgamento. " Devemb~'niiiito ao'que chamam'os de método socrá tico:' Vejam uIÍlàdescriçãodéle tíráda de um dicionário de filosofia: ' ,, ! , 63 "Fundamental Questions of Psychotherapy", The Practice af psychathe" rapy, CW 16, par. 237. 64 "Principies of Practical Psychotherapy", lbid., par. 23. 1 l.; ____----------------107.----- Legado religioso (O método socrático) é uma forma de 'ensino em que o mestre declara não poder passar nenhum tipo de infor mação (pois, no caso de Sócrates, ele dizia não ter nenhu ma), mas suscita cada vez mais respostas por meio de per guntas in,dicativa~ . qlétodo é ilq,strado m~lhor nas perguntas que ,Sócrates faz ~ 'úrp escravo jovem e inculto no Meno de Platão. O escravo é levado, pa,sso a passo, a uma dempnstr~ção' de, um caso. esp'ecial' do teor~ma de Pitágoras': O uso original desse métod.o por Sócrátes ba seia-se na crença de que as crianças já pascem com o co nhecimento em suas almas, mas não conseguem lembrar se do quejá sabem sem uma ajuda (teoria da anamnesis). Isso também está relacionado à ironia socrática, isto é, a profissão da ignorância por parte d() \{uestionadqr, que pode, na verdade, ser um ~ande sábio. 55 ~ .o :' dócio: . O sacerdócio, falarido de uma forma bem ampla, deve sua origem à necessidade, uiiiversaldo homem de obter uma assistência sobre-humana na luta da vida. Entre to dos os povos ~~\ste a crença de que, sob certas circunstân cias; um ou outro. tipo de'vantagem é obtida do mundo sobrenatural...· , Em muitos casos os selvagens consideram-se incapa .zes ele .se comunicarem diretamente com os deuses, Ao reconhecerem sua inferioridade nesse aspecto, eles consi deram os sacerdotes como os únicos mediadores entre eles e o poder supremo. Os sacerdotes são seus;únicos prote tores; sem eles, a população ignorante seria abandonada 55 aos infortúnios que surgem da ,fúria dos deuses. Acredito que vocês podem notar um.claro p,aralelo entre o diálogo socrático e a abordagem analítica de Jung. Eles não são idênticos, de jeito nenhum, mas exií?tem cer tas semelhanças. Também é verdade que o método científiGo, .da ciên cia empírica, da forma como ev.oluiu <;la filosofia" é um. diálogo. Nem sempre pensamos na ciênci~dessa manei ra, mas, de fato, ela é um diálogo. O.cientista formula questões bem planejadas e as colóca .para ~ natureza em um experimento - e recebe uma resposta. Assim, o co nh~ciI,11ento :científico deriva "se de um proçesso de diálo gos. De. maneira muito interessante, a psicoterapia re-, verte esse processo. Em vez de colocar questões para a natureza, corp.o ps 'cientistas, a natureza é que nos coloca as questões., Um Pêlcie)1tevem;at~ nó;; com um problema - um conju,nto de sintomas,. sonhos,fanti3-sias - e essas são,as qu.estões da natu:reza:.É nossa tarefa: responder a essas questões, por meio do diálogo. Não são muitos'. dos nossos,pacientes que poderiam verbalizar seus problemas dessa maneira, mas "infor túnios que surgem da fúria dos deuses" é, com certeza, o mecanismo inconsciente subjacente que leva ü' homem moderno à psicoterapia. Eni muitos casos 'a descrição é muito adequada, embü;a o paciente não'.'a expresse dessa ." : _. forma. Reconhecendo uma incapacidl:J,de de "se comuni car diretamente com os deuses", o p~cilªnte procura um mediador tentativa de conseguir algum tipo de prote ção contr'a os infortúnios que surgem da fúria deles. Essa é unia man~ira de se descre~er o motivo pelo qual as pes soas, vêm para a ~nálise. Elas podt1 não pensar assim no co~éço, mas aptoximam-se dessa idéia mais adiante, depois que já estão trabalhando por um tempo. Na maioria das sociedades, os sacerdotes são nor malmelfte vistos ,como pessoas' que foram chamadas, não ,\', \ na m I, '.' 66 65 ) D~ixem-i:ne ler para vocês algumas frases da Encycla paed(a afReligian and Ethics de. ,f[astings , sobre o sacer D. Runes, ed., Dictionary of Pjú(osophy, p. 295. • ,. " • ' EncycloPCJ:"}dia of.Religion and Ethics, vol. 10; p. 2785$. 109 108 'l... eleitas. O chamado deles é divino. Não é lima"eleiçãQ de mocrática, nem uma indicação. Isso corresponde à idéia de que o verdadeiro psicoterapeuta possuí um chamado interno. Ele não o faz apenas·como' uma maneira' conve~ niente de ganhar a vida. 'ri O sacerdócio do antigo Isra~l é, talve~, o rIOSSO exem plo mais desenvólvido e familiar. A sua função principal como a de muitos outros sacerdócios) era osacrifí cio para se obter faVores divinos: O sacerdot'e' oficiáva nas oferendas sacrificifüs, reéoncifiandó 'todos 9.s J)resentes com Deus ao praticar um_a compensação por s,eus peca dos, e a teofania se manifestava pelo fato de qúe favores e perdão eram concedidos. Na Ígreja Católica Romana, ' , " ' " I essa função evoluiu para a missa, e o confessionário, que é um apêndi~e da m i s s a . ' , No pro~esso psicoterápico, o cOI1(ess,ionário é @uitas vezes constelado. Jung discute esse assunto em "Problems ofModerD- Psychotherapy'\ Vejam algumas partes, do que ,,;;. ' . ' , ) ; ele. diz: ~ ~J As or;igen,$,de qualquer:. tratamento apalítico da alma estão no modelo do sacramento da confissão... I '" o que é oculto é segr,edo. O possuir um segredo te,m o mesmo efeito do veneno, de um'veneno psíquico que torna o portador do segredo estranho à comunidade.'Mas essé veneno, em pequenas doses, 'pode ser um medicamento preciosíssimo, e até uma condição prévia in,dispensávela qualquer diferenciação individual. Tanto é que o homem primitivo já sente fatalmente a necess,idade de inventá~ mistérios, a fim de, possuindo-os, proteger-se contra"a'sua absorção pura e simples 'no inconsciente da coletividade, como se isso fosse um :perigo mortal para a alma. Estão a serviço desse instinto, de dif~JenciaçãCl; sa.bidamente, Os antiqüíssimos e muito conhecidos ritos, de inicüiçã,O, com seus cultos e mistérios.... " , ' " " , , Um segredo partilhado com di~ersas pesso~s'é tão cons:' trutivo quanto destrutivo é o segredo estritamente pes tem o mesmo efeito, da culpa, segregando 'seu soal. " 110 ' " •• .1_-[ .infelizp~!-'tador, ,do, çonvívio co~ os demais seres huma nos. Quando se tem consciência daquilo que se oculta, o prejuízo é evidentemente' menor do que quando não se sabe que recalcando e o que se recalca. 67 O isolamento pode prolongar-se com o.silêncio ... Mas .pela confissão lanç,ocme novamente nos braços da huma~ nídade, livre dopeso do exílio moral. 68 • . ", AJninh.~ id~ia p~in~ipal a'q~i é que aqui~o que o indi víduo. tem mE;ldq de reconhE?cer ef!l S} pr,óp ri9 - o que está c~rcG!-çlo,de sentimentos depecado, culpa, ou dolorosa in ferioridade - todos esses estados internos constelam-se ~o~ível'primitivo. gaQ~iqU(~~om;o m~do da ira dos deu ses. Essa é ;1 formá arquetípica de se compreender fenô-: menos tais como ~12siedad,e e aprE?ensã5? qu~~.çlo vai confessar ~lgum pecaclo ou defeito. . . Vejam, quando o paciente confessa tais coisas ao psi coterapeuta e sobrevive à experiência sem sofrer nenhum dano, a figura arquetípica do sacerdote mediador é cons telada quase autom'aticámente: grand~ 'oncia ge fP:~: tidão inunda o paciente. Mas a gratidão pertence à divin dadE) ,que acªboun~o ~e tornando tão furiosa quanto o paciente temia.~Apesar disso,o arquétipo. do sac~rdote é prºjet ado , quase semprl'::l, no psicoteI:"apeut~, que, é bem P!'9~ável,' não, fez naclG!-.ma!ª, do qtle ªbanar a cabeça e di?-er: "Euj~üuvi coisas ,mllito piqtes". Mas isso é o sufi ~!ente para se evocar a proj€lção uIlJ.a questão realmente iITlPortante tiver sid() constelada. Acho que todos nós deveríamos nos conscientizar 4.ess as pro1eções. É certo que nã9 podemos evitá-las, mas não qevE)ríamos nos identificar com elas. Em Qutras pa lavras, não deveríamos nos sentir merecedores de toda ElSs·~·;gratiçl~p'.' pe jeito .~enh~m. Yqcês estão apenas fa • _ " . w ~ - . , - . " \. - • Uma 67 The P;actice oi Psychotherapy, CW 16, pars. 123ff. ?8 ibid.~ par. , 1 3 4 . , ' : 111 zendo o seu trabalho. Vocês merecem ó pagamento que recebem, nada mais que isso. Vejam, os sent{mentos de gratidão do paciente serão o S9-crifíçi() que, nos ~rituais mais antigos, era oferecido pelo sacerdote. O psicotera peuta contribui para essa oferenda quando não aceita o sacrifício pessoalmente. . , O hierofante, que significa "o revelador do sagrado", é uma variação do sacerdote. O termo era usado para de signar aqueles que conduziam as iniciações mistéricas na antiguidade. Sacrifício e reconciliação não eram à meta principal; em vez disso, o ritual fornecia uma oportuni dade de se experimeritar uma revelação direta e imedia ta. Até hoje não sabemos exatamente em que compreen dia a revelação dos mistérios de Elêúsis, pois a revelação dos mistérios era considerada um crime capitaL' Jmagensarquetípicas correspondentes às fases da terapia" i . Essas três tradições surgem no processo teFapêutico como diferentes modalidades de atitude. O médico, o filó~ sofo e o sacerdoteconstelam~'seem diferentes graus'dU rante diferentes fases dá psicoterapia. Para descrever essas fases, farei uma distinção bem nítida entre elas, por motivos de clareza. Na ,verdade, as diferenças não são tão óbvias assim; na prática, elas se fundem umá na outra. Na fase do médico-curandeiro, 'a palavra-chave é tra1 tamento. O paciente sente-se mál, precisa de ajuda,ese apresenta a um terapeuta para um exame, ,diagnóstico e tratamento, assumindo uma postura ou atitude mais ou menos passiva. A idéia é a de que o médico possui um co nhecimento que pode levar à cura, e que e!)te irá usá-lo em troca de dinheiro. Essa atitude por parte'do paciente 112 acaba levando a uma esterilidaçle, pois ele experimenta a análise apenas de.Uma maneira passiv.a. Na fase do filósofo, a palavra-chaveé.diálogo. O pa ciente descobre que a atitude anterior, da busca de um tratamento, é~nadequada.e muito.passiva, e percebe que o terapeuta, assim como, Sócrates, realmente não sabe de nada, e 'possui apenas um método dialético de intercâm bio, ,no qual os dois busc9-m juntos a verdade para o pa ciente. , Na fase do sacerdote, a palavra-chave é revelação, revelação' do numinosum. 69 Durante essa fase, as outras duas são transcendidas, pelo menos até certo ponto. O diálogo no nível pessoal.leva à ativação do inconsciente coletivo,pór, meio da qual uma experiência direta da dic mensão transpessoal torna-:se.possível. Agora, paciente e psicoterapeuta participam juntamente de um diálogo com a psique objetiva. Como essas fases se inlmifestamna prática? . Na fase do médico, o paciente espera ser tratado:em troca de uma taxa. Ele espera por um senriço. Esse as pecto da psicoterapianunca é totalmente transcendido de fato; a ética profissional está muito baseada nele -, mas sea ter~pia pretende ser mais do que uma terapia de apoio diretiva, ela precisa ultrapassar essa fase.Acon tece muitas de asaida dessa fase ser uma conseqü ência da insatisfação ,do. próprio paciente. Ela,não está melhorando. Ele não e,stá se curando. As coisas não estão acontecendo como o esperado. Isso dá ao terapeuta a opor tunidade de ressaltar: "Bom, essa não é bem a forma como trabalhamos. Não é assim que funciona. Nós trabalha mos através do diálogo". 'I. , ~,69 De The,ldea of the Holy, de Rudolf Otto, onde a palavra numinosum é usada para descrever a impress)onante intensidade emocional comum a todas as experiências religiosas, independentemente da cultura ou da seita, (Nota do.Editor) 113 Isso norma lment e 'gera' algum a resistê ncia da psi que infantil. Depois que essa resistê ncia é pacien temen te analis ada, a próxim a fase torna- se acessível. Na fase do filósofo, o terape uta expre ssa livrem ente (e o pacien te aceita ) o fafo:de que ele (terap euta) não pos sui nenhu m conhecimento.secreto sobre a forma como o paciente.deveria viver a'próp ria vida. O ~nalistanã9 sabe o que é bom para o paciente" o que .ele, ou ela "deye" fazer. Tudo o que o terape uta pode oferecer são reações ao com portam ento, sonhos e.expressões de todos os tipos do pa ciente, com o objetivo de se estabe lecer um diálogo.' Nessa fase, sempr e surge a questã o de até onde o psicot erapeu ta deve éhega r com suas reações sincer as, Nós. devemos trabal har com nossa personalid::tde total, mas a verdad e é que també m temo's de usar o bom senso. E essa e, de fato, a marca d~um analis ta habilidoso saber qual nível de reação autên tica é aprop:i:-iadoem de" terminado. estágio do desenvolvimento do paciente. É claro que há momentos e.m que ultrap assam os esse nível e en tão precis amosr ecuar de uma forma ou de outra. O bom senso é necessário, o que implica no fato de que o estágio do médico ainda não foi totalm ente supera do. Ainda tei mos a respon sapilid ade étiça de tratar do pacien te, pois ele precis a de tratam ento. . A tercei ra fase, do sacerd ote, caract eriza- se por uma emerg ência da psique arque típica ,junto com as image ns e experi ências múnin osas que são caract erístic as desse nível. É nessa fase que a anális e jungu iana revela sua singul aridad e, pois é a única escola psicot erápic a equi.: pada com uma teoria e uma prátic a para lidar com Oin~ consciente coletivo. Somos pratic a,men te.os únicos até mesmo a saber de sua existência. Agora, isso é uma vantág em, masta mbéin 'é um pe rigo. Por os analis tas jungu ianos possu írem algum a' com preens ão dos arquét ipos e essa compreensão ser, por sua 114 (j vez, transn ütida aos analis andos , existe forte tendên cia de a psique arquet ípica ser conste lada pelo analis ta por indução. Isso muita s' vezes, bem favorável, promoven do o trabal ho profundo que tentam os alcançar, mas em alguns momentos isso não. é o melho r para o pacien te. Os pacien tes borderline, por exemplo, podem estar correndo grand e perigo ao trabal har com esses analis tas que têm uma tendên cia, fora do seu controle consciente, de cons telar a psique arquet ípica, Devemos 't~~i~s~' sempr e em mente . Em mais dê um: caso, durán te a entrev ista com um candid ato anális e; Ou quand o Cf anális e começou a dar errado por um ou outro motivo i indiqu ei a pessoa a alguém que nãoçonstele' a psique arque típica e com quem seja relativ ament e seguro para0 pacien te trabal har. Nessa fase, transc ende-s e o estágio do diálogo pes soal e odiáló go passa a ocorre r dentro do paciente. O te rapeu ta contin ua a oferecer reaÇões, interp retaçõ es e am plificações, mas elas não são mais o enfoque principaL O enfoque princi pal' passa a--ser ~ teofaríeiél, a experi ência partic ular do indivíduo e, embor a o terap~úta possa ser testem unha disso, ele não tem as mesm as experiências. A experiência. singul ar da teofaÍüa dissolve'a transf erên cia residu al e nivela a ligação entre pacien te e terape uta; eleS' tornam -se parcei ros em sua huma nidad e cómum e peran te à manif estaçã o divina, Jung se refere a esse de senvolvimento da 'segui ntema neira: a Realm ente, à medid a que o fenômeno da transfe rência nada mais é do que uma projeção, ele cria tantas divisões quanto s vínculos. Más a experi ência mostra que, mesmo depois de dissolvida a projeção, não se 'rompe certa cone xão na transfe rência . Isso porque por detrás dela existe um fator instint ivo da maior import ância, a libido de pa rentesc o. 70 ., . . . • 70 "The Psy.chology of the Transfer ence", The Practice ar psychatherapy, CW 16; par, 445, ' 115 Como eujá disse, não existem fases_muito bem defi nidas que podem ser claramente distintas. umas das ou tras. Elas. em geral, mist.uradas, mas acredito ser muito útil ter esse esquema em mente, pois ele ajuda a distinguir a avalancha.de informações que_chega até nós na relação analítica. psiCologiajunguianaé que não devemos nos identificar com nossoconhe.cimento, nossa subjetividade ou nossa experiência.. À medida que somos os' portadores de tal conhecimerito,ele é uin peso tanto quanto um privilégio. Com certeza, ele .não justifica a fomentação de fantasias secretas de. superioridade, pois,. em certos aspectos, ele. representa,uma 4errota tanto ,quanto uma vantagem. A tradição oculta Exist.eum apêndice ambíguo' à tradição do sacerdo te-hierofante, a tradição oculta. Quando. sacerdotes e hierofantes trabalham dentrp de determinada ortodoxia, estão relativamente protegido,s ,dos perigos de..1l!D encon tro direto com a.psique, arquetípica. Mas aqueles que pro fessam um contato individual com.o tqmspessoal sãO' sem pre marginalizados e geralmente anatematizádos como hereges ou como Qcultistas perigosos pelas autoridades ortodoxas .. , Os psicoterapeutas junguianos são vítimas da mes ma caracterização. por aqueles_ que' n'ão nos conhe.cem bem. Por isso, não se.surpreendam se v.Ocês encon trarem esse tipo de Projeção de. vez em. quando. Como analista, também há o perigo d.e S:e cair em uma posses são sutil, 0lJ, não tão sutil assim, Pela suposição dese pos suir algum conhecimento ou sabedoria especiais. ;O.me lhor antídoto que conheço para ~sso.,.é termos muito cuidado na maneira como cons,ideramqs a opiP. iã 9 dos outros. "', , , , Sempre que t~ndemo~ <l; nãb ter' um~uidado ~uito grande ao considerar a opinião elos. outro.s. nosso respei to, estamos no caminho da inflação. Vejam, a verdade. é que a psicolOgia profunda junguiárta nos leva,de fato, a um conhecimento secreto - que só é conhecidó por aquele que viveu a experiência da teofania -, mas esse conheci mento não precisa ser alienante. Um princípio básiço da ª 116 Privilégios,cresponsabilidades e perigos . ~ j' O chamado da psicoterapia profunda possui privi~ légios, responsabilidades e perigos exclusivos: De'fato, é um grande privilégio podermos interagir diariaJ;riente com a psique autônoma em todas as suas formas~de existên cia manifestas. E.uma opo.rtunidade singular poder olhar no fundo da alma de tantas pessoas, ter todas essas jane las para as mais variadas realidades h'!lmanas vivas. Que outra. profissão ofereceésse tipci de oportunidadeprivile giada? Não .consigopensarem mais n.enhuma. Somos extremamente. privilegiados pela profissão que escolhe mOS, ou;qúe nos .escolheu. As responsabilidade_s, contudo, são enormes: Devido à natureza de nosso trabalho, evocamos, com freqüência, projeções profundas - não só projeções pessoais, mas tam bém arquetípicas~ Éfun:darÍie'h~ai que e;t~jáinos atentos para p.ã,o nos aproveitÇlfWos_elÇlauto[,idade e do poder que tais projéçõ~s nOS conceÀem. Is~o é uma responsabilida demuitO.séria, porque o trÇlbalho que'faz;e:t;nos é realiza do .em segredo~ ,Ele n~o.é monitor~dQ.,.Ninguém sabe o que está aconteçenÇlo. entre- o .tpaciente .e o terapeuta a J)~oserelesmesmos.Aresponsabilidaçle do membro mais consciente nesse processo é realmente imensa. . Há". tam..bém, perigos graves e riscos ocupacionais nJ.tJ.itoséd'o$:É PNvá,vel que o mais comum seja o simples 117 perigo psicológico de inflação. É qUase iriev,itável'que nós, como terapeutas, nos identifiquemos, em'algum grau, Com as projeções que ~arregamos" pelo menos nos primeiros estágios da carreira, Jsso é um perigo pessoal, pois todos nós sabemos, ou deveríamos saber,. quea.inflaçãolsempre leva a uma queda. Quanto 'm~tisaltéro võo,maio'r aqueda, e pode haver algumas 'quedas psicológicas desastrosas como parte dos .fiscos ocupacionais de nosso trabalho. Outro perigo em lidar com o material profundo de nossos pacientes é"o de essa .ÍÍlformaç.ão. fugir' d.e .nossa compreensão: Principalmente com os analistas mais jo vens, não é muito incomúm encontrar alguns p'acientes que estão.lutandó com dimep.sões. profundas que o ana" lista ainda não<alcqnçou. Em ·talcqso, ,se o 'analista não percebe o que está acontecendo, existe,operigo real de se precipitar de maneira muito imprudente, Ele pode'então levar um grande tombo e terá. muita ;sortese conseguir se erguer novament'e. Esse :é, um grande perigo.,' .~.~ A consoláção pa.ra tais ,experiências - e ninguém ,pàs~ sa por muitos ânos de trabalho analítico ileso - é talvez a' compreensã,o de que elas tinnam de ,acQntecerconbscó,! pois eram parte de nosso próprioprócesso de indiyiduação, chegando até'nós pelo mundo externo. ',: é " , I , .!, ~ ~ o mistério da psic:;oterapia profunda" . - ~" " , Para terminar; quero dizer algúmàs palav.ras sobre. 'I o processo misterioso da·psicoterapia profunda. O que é e' como ela funcioná? Isso é 'realmente 'um mistério. Nós não sabemos como ela funciona. Temos müitàs idéias, mas,' para sermos honestos e verdadeiros· pará com a nossa: herança socrática, temos dê admitir que não sabemos com certeza. Mas aqui vão algumas idéias. Estou falando sobre a autêntica psicoterapia profun da. Existem outras terapias que funciona'm em vários' 118 L níveis diferentes, mas estoú me referindo ao que tenta moS fazer como terapeutas junguianos. Como Jung nos diz, nossO trabalho exige a personalidade total, o que não quer dizer que tenhamos de ser indivíduos completamente individuados. Isso significa que; é esperado que a pessoa tenha circunavegado todo 'O círculo de seu ser e saiba quem ela é: suas força:s;,suas~ fraquezas e seus pontos cegos. É isso que Jung sugere ao dizer'que se'r analista requer a personalidade total. Com. certeza, a personalidade do te rapeuta é o instrumento singular do processo, e o requi. sito básico'é a'consciêntiá, pela qual queremos 'dizer o completo conhecimento da ,psicologia de si mesmo. Ao examinar os candidatos para o programa de trei namento, tenh6 em mente quatro fatoresprineipais. Em primeiro lugar, a questão da vocação: existe clara evidên cia de um'chamado'genuíno para esse tipo de trabalho? Em segurido; o nívef de desenvolvünentoegóico e adap tação à realidade:: essa peSsoa 'possui um ego be.m.desen-· volvido que jáarcançoU: uma adaptação sadia 110 mundo externo? O terceiro fator é (j caráter, que envolve a integri-, dade moral, .uma, consciência de, e devoção a,valores bá sicos, E o quarto éa conexão com as profundezas::ter uma relação viva com o 'inconsciente' e com à, psique objetiva: 'Como 'Jung' dizia, um psicôterapeutanão pode levar um paciente nem um'passo adiantédo que eleprôprío já caminhou. Qualquer complexo que não estiver totalmen te consciente por parte do'analista irá contaminar o pro cesso terapêutico. O terapeuta 'irá, 'étitão, tnitar o pró prio complexo, projetado no p,àciente. ,Isso é uma verdade infalível,já que o 'órgão ,ou instrumento'da psicoterapia é à persº11-~lidade.dq;ánalista. '.' j . " , .' 'Quanão o'térapeuta possui' um bom nível de consciên cia, o que parece ocorrer é um efeito indutivo progressivo no paciente. O efeito indutivo ajuda a gerar os sonhos; na verdade, 'o grau de profundidade de ligação cultivada pelo 119 analis ta é bastan te adequ ada para 'deter minar de onde os sonho s do pacien te estão surgin do: o incons ciente adora ser recebido, ser reconhecido. Se o' incons ciente do pacien te encon tra um terape uta que realm ente compr e ende a psique 'arque típica e a recoIihece quand o ela se aprese nta, ele reage aprese ntand o um ntater ial.qu e cor respon de a essa compr eensão . É isso.q ue.eu quero dizer quand o falo. de efeito ind}ltivo.· , '. A minha exper! ência pessQallevou::me.fi. conclu são inevitá vel d.e que a consciência é contagiosa, com uma impor tante ressaJva: a psique dó pacien te deve estar aber ta o sufici ente para r~cebê-Ia. Em algün s casos, .podem ser necess ários muitos , anos de ànális e para's e criar essa abertU ra. É uma grand e' tarefa a,brir a psique o suficien te para poder acolhe r o que pode ent~o .emergir. Ml,litas vezes, essa abertu ra não ocorre de p1aheir~ PJena, e', em alguns casos, ocorre apeha ssupe rficial mente . Nes~e caso; eu diria que o pacien te não está.de9ti.Qado a'de.senvolver, se mais, pelo menos nesse mome~to... çorqo cienM.~tas empíri cos sensat os; devem os sempr e respe itara rea.lida de que nos é aprese ntada . E que Deus nos, livred ealgu -. ma vez ünpor nossa s hipóte ses precol )çebid assobr e até onde determ inado caso deve chegar. )SSQ I).ão SQIlJ,QS 'nós que devemos determ i I1 a.r:' Tais qllestõesdeYem,s~rdeixa das para o· trabal' ho mister ioso do destino'." _ . . • 1'; ~ ,'" Pergu ntas e respo stas . Pergunta:' Você fez ~liuns co~eniáiios .sob~e os' de: feitos que acomp anham a' bê~ç~o des?a, P~O~SSão. E'ü queria saber um pouco mais sobre o que vqcê estava pen' sando quand o disse isso ," .' • . ' . • . -. ,- ... 1 ! " " ~:. !." ,_' Edinger: Bom, existemalgun~ cari'did~tos,aJgun~ indiví duos que se inscre vem para Q p~ogramª de tre~n;l, 120 mento, e acaba 'serido determ inado, por algum motivo, que eles não sãefad equad os 'para o progra ma, Às vezes acontece de o candid ato sé sentir arrasa do com essa notí cia _ e ficar com raiva, às vezes com muita raiva, reagin do de manei ra muito hostiL Quand o tenho a oportu nida de de falar com essaS peSsoas, digo algo do tipo: "Olha , eu não sei o que você pensa que:é' um analis ta jungu iano, mas acredi to que não seja o que você está pensa ndo. Você está projet ando algo nessa image m que' não é aprop ria do. Você e~tá, projet ando algum t~po de vaÍo.r, de grand e conqu istada qual voéê foi agor<;lprivado. Eu:nã o vejo as sim". Oll entãp eu digo: "É' uma ativid ade muito específi ca, a psicoÍógia profun da. Ela éxige umtlp o muito espe cífico de tempe ramen to. Ela reque r uma ligação' meio que contín ua e' regula r com profun dezas psíqui cas, o que não é muito natura l, eú 9.iria que é até mesm o anorm aL A maior ia das pessoa s que vieram a' tornar -se analis tas jungu ianlÍs começ aram caindo em algum tipo de buraco profundo; possue m algum tipo de defeito em sua psique ou nunca teriam ' caído em:ta is profun dezas. Fique feliz por não' precis ar chega r a"esse ponto! Vá dar aula em uma univer sidade ou fazer isso ou aquilo. Não fique tris te. Não' é tãoru ün assiin"'.:' ,. Pergunta:,yoçê falous obre,a arte de devolv er as pro jeções. Você já é analis ta há muito s anos. Existe algum a coisa que você possa nos dizer sobre o que sabe dessa arte? . Edinger.: Bom, você sabe que rima das partic ularid a des da arte é que ela é incom unicáv el. Mas posso dar al gumas sugest ões. Uma manei ra de mand ar a projeção de volta é agir de forma s que a contra digam . E se ela carreg a certa gló ria divina consigo, e você demon stra certa fragili dade huma na, essa ação tende a 'refrea r a projeção. por outro 121 lado, se você realmentE)_ sabe, o que estáfa_:?~Il.çio,:não pre cisa ter medo ~ela.. ,Você não precjsa, mal~-la prematura mente. Isso tamqém é pa:r;teda, arte, porque yocê está de posse de um cQnteJJ.<lo !?agrado, o;riundQ çl~s proJundezas do pacient~, ~ voc~ quer.deyolvê.~lojntacto,.,C? niio rasga do, dilaceradQ. M9-s çhe.ga o rp.om~nto em que, m.aisrea ções h.umana,s sª9,apropria,qflS do que oqlle.foi. apresen tado no ca'so <:lnt~rior:... l' ., ' . ,.' " , Pergunta:' :Ao nos abster de pos 'identific~r: corri vá rias de'nossas próprias'caraéterísticas, você tem unia idéia de como é qu~ nos identificamos? Se o indivíduónão se identifica com nada; onde está sEm'senso 8.eidentidade? l, :III,~, ~_~"~ "_"~ ,'r, Edinger: A ide~tidade" por natureza, é um fenômeno individual. Você nã-ó pode dizeraoso{ltros como ele1:)'i:>o dem f~rmar unia identidade: E~istem ~luitos proceçÜmen tos coletivos que reco~endam a identifiiaçãoeom ~fa" mílià,com ~- gr~po étnicC?: com a, comimid~ç.Ei!.~$sà '~ãp é minha Iloção- déldent.id~de. ':, -- , .- •_ . _ ' , ' .... , MiI1ha Il()ção de.identi,dflde_é a de uma,personalidfl de úldividuaI"qlle.cresce como üma planta, declentro,pa,ra fora, e é iS,so que tC?do o proce$SO de psicoter;apip. p~rofun~ da procura alcançar-ao direcioIl-ar a aten'ção - ~tençãó viva, afetuosa, consistente - para a psique do indivíduo que necessita descobrir e realizaÍ' sua identidade' com pleta. No final dàs contas, a semente da üÍenticlade'é' o Si-mesmo, e o' Si-mesmo está àlém de qualquer défiÍü:' ção. Jung tentou, com grande afinco, abordá-lo de m'uito's ângulos.71 No entantp,!? ~km,esm~ ~ ""!P~. e?,pe.riê~cia e não pode ser definido. . '. .' r\ • • _." - . ~ j ~ •• ',.' ... - . " !] .; 7\ 122 Ver adiante: "Apêndice: notas ~ I I j • "'i -5 " ~." I:.. _ . o FENÔMENO DAtTRANSFERÊNCIA ' , fJ • • ~ ',;" > l' ~'l j.') ; !!. _.l _ 1 ~ ~ \ ,.', Ofénômen~da transferência fói d~scrit~ pela pri , • ~." _ '. _ '. . ' _ ~ '- . ~,.. I , L. __ • . __ ~ meirB:.yez por, Fr~u.d, é temos m~i,ta gratid~o lpar~ com insigl?t ,criativo que, o lev.ou a eS,sa q,escoberta. ele _..pelo. .". I ' - ,_ -. • " . .•. . . - Ele usou b termo trqnsf~I."~ncia,p'ara 9.escreve~,o envolvi~ me~to enÍocio~aÍ entr'é' pa'de~tee Ínédic~,ém ~m~r~la ção ppispteráp\c<:l.,~l~so,nsideravê fl. transfe,rêrci~/eomo uma ,revivescência de padrões regressivos infantis ,de comportáment~dentro da situação te-rapêutic~: 9- rela ção imatutfl d~pende~te com ÓS p~is s'e~do' recapitulada com Ót~rapeuta; as ,~ecessidades neuróticãs do pacien te .e as: e:l;(pecta.tivas de satisfação destas sendo trans feridas para o analista. Daí a palavra t;ansferência.. É ,ciafo- que nós, jUI).guianos!, não podemos aderir, a ess~, descrição .. F,alarei,sobre as, ra~ões, para isso mais t~r:<;ie., COI),tudo, a interpretação de. Freud da natureza d~ traI1sfer~ncia,cieye $e~ m.e,ncionada qqlfi, pois essa inter pretqç~o ~~dut~va foi responsável pela. palavra neutra e indiferE:nteque ele .escolhé:u P!lrad~~ nome ao fenômeno. ~ ~: Transferência e projeção; , 'i! l. ~_I '~ .'. ) ·"L' " .! • / .,_." ,1 ,. ..... ~ : r -" •.' ~ lO<' L .. _~') ' JJJ ~; ri ~obr~ o Si-~~smo':,.(I'f?ta do Editorl_". i . Como voçêS podem ver, a palavra transferência tem, em essência,~o mesmo significado de projeção. No entan to;;na minhà:opinião,otermotransferência é pobre. Pre 123 cisamos de uma palavra que possa expressar mais espe cificamente o envolvimento dinâmico intenso que ocorre uma palavra que. transmitaa. naturéza, tránsformador~ da experiência da transferência. Esse termo ainda não existe. Por enquanto, devemos nos conformar com o ter mo que nos está disponível; um termo que adquiriu uso e aceitação bastante amplos. É muito difícil definir a transferência de maneira abrangente. Em seu sentido mais amplo, ela inclui todas as vivências onde há uma projeção psicológica. No sentido mais restrito, refer~-se a uma ligação intensa, positiva e libidinal do: paciente com o terapeuta 'em uma relação psicoterápica.:onde'o'paciEinte se confronta com seus con flitos mais intensos. Se for trli:tada de maneira apropria da, essa relação oferece uma oportunidade única de trans formação psíqui'ca.· No momento em que 'rios afastàmos dessa'definição limitada da transferência, abrimos a porta para um ban do de outros fenômenos menos importantes de:iJrojeção. Falamos de tnirisferencia negativ'a, coritratranSferência, transferência com os méq,icos, padres, professores,' e as sim vai, e· até mesmo transferência com os amigos. Por exemplo, conheço' um psiquiatra que, recentemente, fez uma entrevista para um cargo ém um 'sanatório famoso por sua ênfase 'no que eles chamam'de psicoteràpiadinâ mica. Ele foi bem na entrevista e consegUiu o emprego. O homem que o entrevistou gostou dele. Mas eles nãófala ram assim. Disseran1~lheque'haviam feito uma fáulsfe rência positiva para co'fi ele. Isso é um absurdo. Quando o termo é usado de maneira tão solta, ele perde toda a sua significação específica. Por:taritp,Jlsarei.atrapsferêp cia apenas no sentido restrito, como 'foi definido acima, com uma exceção: não vou ,excluir as relações libidinais intensas que ocorrem fora da situação psicoterápica, pois elas demonstram um potencial para a transformação ,psíc i 124 . quica, partiCularmente pela emergência de temas arque típicos característicos que vou citar daqui a pouco. Lola Paulsen demonstrou uma opinião semelhante, diferenciando a projeçãó da' tranSferência. Ela diz: , ~ -: ' , . A transferência é'mais do que uma projeção, pois é algo arquetípico;incohsciente e metafórico, e, sendo as'sim, representá fenômenos e processos: As projeções positivas e negativas apenas dão a ela sua form? e seJ..l.;' ~símbolos. Como transcend~ às projeções;o termo tr1:\nsfer;ência pode ser legitimamente diferenciado do térm9projeção, e usa do para designar os sul:essivos estágios dd processo de individuaçãO à medida qlÍe ocorrem' em reláção aoanalis ta... As projeções são auxiliares no "trabalho"; elas o refle tem, mas. não devem ser iden.tificadas coro ele, e então a transfer~l).cia <;lo prócessqde individuação aconte.ce por 72 trás, ou tampém se pode dizer, dentrodélas. - ' • <>, A transf~!,encía apresenta aspectos diferentes depen dendo do ponto de vista' com o qual ,se blha para ela. Para a psicologia freudiana extrovertida, ela se baseia no amor indigente de'natúreza infantil e 'incest\.losa: Para a aborda gem introvertida de Adler, eÍa é um, "arranjo" na luta pelo poder. Segundo as teorias de Harry Stack Sullivan, indi víduo extremamente introvertido e serisível, ela é um ema ranhado dó que ele chamà de "operações de segurança" , que são proje'tadas'para se evitarios danos que podem ser causados por uma pes90a.supostamente perigosa e impre visível. A posição de SullivaD., como'vocês podem ver, é uma variaçàô da visãO de'Adler. Os dois 'são introvertidos, dan do uma importância maior ao sujeito'do que ao objeto. Con tudo; Sullívan 'dá ênfase aos procedimentos passivos e de fensivos, colocando a segurança como o objetivo final. As teor'íasdeA.dlersugerem uma'abordagem mais agressiva. A vontade de poder supõ'é,que o ataque é a melhor defesa. . " 72 "":ansference andProjection", in Journal or Analytical Psychology, voI. 1, n,O 2 (1956), ' ' 125 A nat ure za arq uet ípi ca da tI:'a ps.(erêQ.ci.@. Não podemos esq:qeçer qp.e Jun g'a cei tgy a a val ida de par cia l dessés,ip_QnJosd~ vis ta. Eles ,"s~,? pªr te do todo e não pod em ser c~~~i~er,ados falso~., O que fa~ta a ess as teo rias red utiv às é a éonsciência da nat ure za arq uetípica e prospe~ti~àiá' tranSferênd.~ ,8 "'$lJ.~S PQt~,ncüilidades tran sfo rma dor as. ' :. Psi cot erà peu tas red,utivi~tas,,'ehfà tizain as ma nife s taçõe's ext ern as ~'ln teipêssóai~ éil traÇlsferêl1d~, 'com to das as s~as característiéa·s inf ant is. Se ''Eiles e~tJdassem os ,so~h~s:dos pac ien tes de Ulanei nl'objeÜya, :po, sur gi me nto da' tran sfe rên cia , é mu ito pou co pro váv el que fra cas sas sem em rec ohh éce ros tem as arq uet ípic os imp res sio nan tes que :su rge m daí. AlgUns jun gui ano s;' por out ro lado, tende,~ a, ir pflra o ex~replO op~ sto. o prazer: q,ue en con tram , {lO d,escobrir" 1.fW' arçiu~tip o l~OS )iqd os, de seu s paçiente$, e' ~ âns ia de ,us ?r ,~?4Q 9, $~U ,çonh~simento de mitolQ~a '~ simb91~smo,~?~~ aml? lifi,C:CZ( e~?~, ~Nuét,~po? pode le,\';:í~los a neg lige nçi ar al} ªfu rez pessoai~ do pac ien te. N~gar a s~tuaçã?a d,a~relações inte r concretÇi aQ sup er val ori zar QJ1late:çial arq uet jpic q ,pod e, cri ar ou pr91~ngar um est adó 'pe rlg osp de inf laç ãon arc isis ta.. j\ch o q~e e~sa tendênci~ é l1m ~eri~op.fH·,a iodos, ,os ~u~gijüuio(~. E~p'ero que nós nãppr9Jetem~s. pos1sa pr:o re.a~ abo rda gen s red utiv as de Fre ud e pna $oJURr? s,?b Adler. " , ,t ' Dit o isso, ago ra pre cisa mo s crit ica r a for ma com o i ' ./ ~re~d via a tr~~~(e:~nci?, ppr tn~0~7J ~on hec ~r as~ po~e Í?-j cla hda des posItIvas d!3 ~a:l expene nCIa. :OepoI.~ de desco; bri r a transferência,Freud{~ des~re , ~~u·d~ 4Ínesm~.fdiina '..' "J .}!~_.'~.L.:~ . 1~' I, ,,:"j ,T; como descreve qua :f, se tud o, em term os de um a doença'.~. Ela a cha mo u de neurose ciá fia~sfE; lrê~c,ia. Ess e pOÍ1t~ cik • , " ~. }~. ..",,' ,:!" ,'-'/ vIs ta tem a sua par cel ' a de ver dad e, con tud o,J_.: por ser unilate ral, não é um a descrição acu rad a da rea lida de. A re lati va depreciação de Fre ud da tran sfe rên cia é p.m~ par, ' ' . , "',1 .. ' ,,', • >', ~~ 'I' :,,, " : •• t f'j". i I '. ",',' j ; " • - ! (,l'! I 126 " j ' , '. "Y ,L,,,, I te essencial de sua sem elh ant e dep reciação da infância, do inconsciente e do ser hum ano que por acaso tem um a neurose. Ela cor res pon de à sua pro fun da ant ipa tia pelo irracional, que ele afa sto u de si ao apl ica r-lh e um a term i nologia mó rbid a e patológica. Ess e pro ced ime nto é um a ver são civilizada dó primitivo,"nom e-mágico" e, nem pre ciso dizer, os jun gui ano s não dev eria m ade rir a isso. Tra nsf erê nC ia po sit iva ' :) Emb 9ra elelll~ntosI."egre~sivo.s, ima tur~s .e ,neuró ticos sej am mu ito com uns na tran sfe rên cia , ,eles não re pre sen tam seu' significado básico ou cen tral . O conteúdo básico dá tran sfe rên Cia pos itiv a é a libido sau dáv el- a cap aci dad e de exp erim ent ar a vid a int ens am ent e e de se rela cio nar com out ras pessoas - :lu tan dop ara se ex pre ssa r. A tran sfe rên cia tom a mu itas formas diferentes e cad a caso é único eD;l alg uns aspectos. Ap esa r disso, pad rõe s ger ais em'ergem ,rep etid as vezes. O ter ape uta com fre qüê nci a apa rec e como um ser de mu ito val or e como um a figu ra cen tral na vid a do pac ien te. O fenômeno básico par ece ser o sur gim ent o de libido rep rim ida ou late nte no pac ien te - da cap aci dad e de con er val or e amor. Essa~ forças a favor <;la ,yid~ são, eD;lced .g~ral, dire cio nad as em prim eiro lug ar par a o tera peu ta, que é o age nte res pon sáv el pel a sua ativ açã o. A ima gem n~sse está gio é, muitas. vezes, de depÉmdência e neu ,ro se- na superfície, O pflciente est á, qua se sem pre , cie nte da nat ure za apa ren tem ent e ina deq uac ia e ano rma l des ses sen tim en tos e' irá res isti r a eles com mu ito vigor. No ent ant o, o ma ior err o do terapeu~a é ace itar a ava liaç ão neg ativ a do pac ien te em re'a ção à transfet;ên cia. Ess e é o erro dos frt';!udianos:,e sua con seq üên cia é a per pet uaç ão do est a do de dissociaçã,o pSíqúicà que é a orig em da neu ros e. O , • ./' . j , ' - • if' t • \ . 127 medo e a resistê ncia dô paden teàlib ido são'àt ívados si multa neame nte pela tninsferêricia. Para minor ar o. medo e a resistê ncia, o.S aspect os po.sttivos e co.nstrutivos de vem ser enfáti zados, o. que é, com fre-qüência, corro.bo.rado pelos sonho.s subseqüéntê~. r. " Como vo.cêssabem, ao. contrário. da análise.freudiana, na psico. logiaj unguia na o'uvimos falar muito. po.UCo. so.bre resistê ncia e defesas. Muita s razões há para isso.. Quero menci onar apena s que o.S termp s r~sistência,e defes~ Sl! gerem que alguém está atacan do - talvez seja o. analis ta. De fatá,a ' abo.rdagem 'redut iva que desvalo.riza o.S conteúdos; inconscientes,' especi almen te a transf erênci a, como.'apenas regres sivos e infant is, é realm ente um ata que aos fundamel1to.s dapers o.nali dade huma na. Em uni caso. desses; uma defesa e uma resistê ncia vigo.ro.sas são. a respos ta apro.priada. Co.nheço. paCientes em anális e '(não. jungu iana) que, depo.is de se debate r inutilm ente co.m uma barrei raco.n stante de interp retaçõ es reduti vas, fizeram um eno.rme pro.gresso co.m o. surgimentoi::la resistê ncia e o abando.no da terapi a. Algo. semel hante aco.ntece co.m o.S ado.lescentes que ficam expo.stos à atitud e reduti va do.s pais. Uma resistê ncia declar ada 'e rebeld ia são as respos tas saudá veis pará isso.. O sigrÚficado. real da tranSferênCia 'revela-se ao. co.m parar o. estadó de cónsc iêiióa prévio do. paciente.co.m à nova co.nsc iência -ttarts ferêné iá,e ao. éstuda r' sdnho.s que aco.mpanham'o surgimento. da transf erênci a. As dúis abord agens chega m à' mes~a' respo.sta: 'O estado. pré~ transf erênci a será, pro.vavelmente, um :estado. de éspíri to. estéril , falido. o.U paralisado., que deixa o. indivíduo, de algum a fo.rma, iSo.lado. do.s o.ufro.se' de!exp eriênc ias de vida significativas. A transf erênc ia muda' isso.: O pacien te fica profun damen te envolvido com' pelo. meno.s um ou~ tro ser human o. A capacidade de,co.nferir valo.r eintere sse a o.bjeto.s ou pesso.as fo.i despe rtada. Algo co.mplêtam~nte 128 no.vo. e fascina,nte entro.u,na consciência, de forma que o. pacien te encon tra-se envolvidoco.m a vida de no.vo.. Em uma pal~vra, ele e,ntro.u,em co.ntato Co.m a própri a libido. Os so.nho.s que $e segue m a essa experi ência apóiam essa idéia. Eles norma lment epo.ss uem temas , tais co.mo.: uma criança. nasce e sobrevive.aos perigo.s iniciais; a água da vida fo.i encon trada; um casamento. fQi realizado., o.U uma relação. sexual, e aS$im. po.r diante . J Trans ferên cia na vida cotid iana A transf erênci a, meSmO. quando. em um sen,tido. limi tado. Co.mo.Jo.i de$crito acima, não aco.nt ecé.ap enasn a re lação. co.mo .terap euta. PJ?de ha,-:er experi ências muito. profun das, de transf erênci a na,. vida. cotidiana. das rela ções :entre home ip e rrlulp.er, entre. g.uas mulhe res, o.U, co.mmeno.s freqüê ncia, entre ,dois ho.mens.rr:ais expe riênci as po.dem ser..c haínad as.de tran$f erênci a de aco.rdo. com no.ssa. definição., desde que ,a intens idade libidin al seja .adequada, a perso. nalida detotà l esteja envo.lyida e o.S temas típico.sde transf ormaç ão surjam . Se tais :expe riênci as são. viv~das de. manei ra respo.psável e integr adas na co.nsciência, .elas pro.duzem uma mudan ça perma nente na person alidad e. . No. entanto.,. essa não. é uma tarefá fácil, nem dentro. nem fo.ra da anális.e. Ela. equivale. ao. opus aIquímico e re. quer muita persev erança , hones tidade e devo.ção., .Um co.nflito. do.lo.ro.so quase sempr e está presen te. A e'xplo.sào. inicial de alegria ao. se desco.brir um amigo..querido. o.U uma amant e aos pouco.s vai se misturando. Co.m a sensação. de que se é prisio.neiro. do. amo.r do o.utro.. O poder co.meça a quere r vir à to.na. Manifestam-se sentimento.s de raiva e ressentimento.. Cada um começa a quere r co.agir o.U indu zir o. outro. para a satisfação. de suas próprias pro.jeções. Uma aç~o. irada leva a uma reação. irada, e a briga começa. 129 Para conse rtar uma situaç ão dessas , é preciso a capa cidade de se fazer uma distinção consciente entre o ser hurna no e o que foi,projetado na outra pessoa, seja a som bra, o animu s ou·a anima . E, com muita freqüência, o po der do Si-mesmo aparec e em meio a essás outras imagens. É a esse poder.íntimo qüeo indivíduo deve subme ter-se, e não ao outro indivíduo. Se essa distinção entre a pessoa e a projeção puder ser feita, o conflito de pôder pessoal é dissolvido e substi tuído por um sofrimento voluntário. No reino da vida .cotid ian,a, não .çonsigo pensa r em urna oportu nidade melho r para se lidar de manei ra criati va corn'a experiência da transf erênci a do que no casamen to. Nem é preciso dizer que o casam ento tem muito mais possibilidades de dar certo se pelo menos um dos parcei ros está numa anális e, oujá passou por esta. O casam ento norma lment e começa sob a força de projeções mútua s po derosas, quenã osãô difere ntes das. que surgem na análi se. A diferença é que, no casam ento, as projeções existe m dentro da estrut ura de uma situaç ão de vida real,e m vez da atmos fera artifiCial da análise. Esse fato, ju:p.to com o fato de que ambos os parceiros estão envolvidos mutua mente , fazem com que essas projeções ·sejam muito mais dificeis de se identi ficar..Todavia, se a pesso a tem êxito, as recompensas são també m muito maiores. Depois da eufori a inicial do casam ento, o padrã o co mum é o dos parcei ros sosseg arem. echeg arem a.um es tado mais ou menos confortável de simbiose. ,O auto-ero tismo de ambos perma nece relativ ament e satisfe ito e confo rtavel mente incons ciente . Às vezes, isso també m ocorre na transf erênci a analíti ca. O pacien te comparece às sessões para se aquec er no calor dos sentim entos eró ticos e mostra -se disposto a contin uar deleitá ndo-se por um tempo indefinido apesa r dos custos. disso. Nesse. mo mento, uma operação radica l pode ser neces$ ária para tirar o pacien te de seu berço confortáveL 130 Nos casos ·corre spond entes de casam ento, també m chega umpon tó):md e tudo começa a ruir. Cada um come ça a ver as fraque zas (com freqüência, em parte proje tadas) do outro. Multip licam- se os ressen timen tos e as recriminações. Esse é. o mome nto em que um conheci mento da nature za da transf erênci a :ed~Lprojeção é de vital impor tância . Se .os' cônjuges são sufici entem ente conscientes, respon sáveis 'e flexíveis, .serão capaz es de li dar com s!1asdificuldadeE;, retirar~as. projeçqes e expan dir suasp ersóna lidade s. Contudo, essaé uma tarefa lon~ ga, que pode durar tanto quant o a vida de casados. Às vezes; 'outro stipos .de relacio namen tos també m fornecem um veículo para uma experi ência real de trans ferência. Não é muito 'incomum que uma ligação erótic a entre duas mulhe res .tenha conseqüências transf orma doras, o.que també m é possível, porém não muito comum, entre dois homens. Até mesm o relações. entre pais e. fi lhos podem ser.vir a esse propósito, princi palme nte para os pais. Esse assun to foiest udadô de manei ra magní fica por Elean or Bertin'e, em seu texto a respei to da's relações human as, onde ela chama.o aspecto extrovertido da indivi duaçã o de amorobjeta1. 73 o.prec ursor pqicológico do.amor objetai é o que podemos chamar~deamor ,indigente, pos sessivo e pegajoso, uma busca de amor que se origin a em uma posição de fraque za. Tr~üisferêrici~: e' centr overs ão Para o aspecto introv ertido da individuação, vou to mar empre stado o termo de Erich Neum ann, centroversão _ a descob erta e devoção à autori dade intern a do Si-mes mo, que liberta o indiví duo da servidão à autori dade ex < 73, Ver Close Relation ships: Family, Friendsh ip, Marriage, e5p. pp. 4355. (Nota do Editor) 131 terna projetada. 74 Eu diria que,d~ mesma forma"que o amor indigente é o precursor do amor objetaI, a vontade de poder é o precursor psicológico da ce~trciversão. A vontade de poder rebela-se contra a dependência psicológica ao objeto externo,. Ela luta por independência e autonomia. Amorindigeiíte e luta por poder são. duas manifestações' do mesmo' nível de desenvolvimento psi cológico. Dois aspectos; da mefiimacoisa,' duas maneiras nas quais a personalidade insegura procura superar suas fraquezas, ou, colocando deforma mai~ positiva, duas ma neiras nas quais a libido se manifesta: nesse nível de de senvolvimento da personalidade. Amorindigente e luta pelo poder normalmente se alternam dentro da mesma pessoa. O que'se precisa numa situação dessas é de um crescimento' da consciência que possa transformá-los em suas formas maduras de amor obje.tal e centróversão. Essa transfor~ação possibilita, ao mesmo tempo, 'a capacida~ de de se relacionarobjetiva~ente com os outros e de fun~ cionar de maneira autõnomá a partir de uma forite: de autoridade intenla. Essatra:nsformação .nunca é completa. Amorindi l gente e lutê! por poder são características da psique pri mordial que estão sempre presentes. O~, colocando 'de outra maneira, §ião manifestações im.utáveis e instinti vas de protoplasma, vorazes, lascivas ~ devoradoras.·,O máximo que podemos fazer é sermos conscientes e respon sáveis, pois a criança ou o ser primitivo está sempre Jh, ~: .:;, ,\,j'";' ';, • ! L~ ~ '.' ti ."" '! I, .... ' 74 "A cen troversão é a tendência inatà da totalidade em estabelecer a' unida de' das suas partes e de coordenar as ,su.as í:liferenças em. sist.emas uniGcados. A unidade do todo é mantida por processos compensatórios que a centroversão controla, processos com a ajuda dos quais o todo' se tOrna um sistema autocriador e em expansão. Num estágio posterior, a centroyersãose manifesta como urp centro diretivo, isto é, como centro de consciência no ego e como centro psíqui. co no Si-mesmo ... Ela opera de modo inconsciente, como a função integradora da totalidade, em todos os organismos, da ameba ao homem." (Neumman, The ~. Origins and History ofConSciousness, pp. 2.136s) (Nota do Editor) 132 conosco. Estar' inconsciente desse fato significa estar fiado ou ser infantil nas relações com os outros. N a transferência, o indivíduo tem uma oportunida de de tornar cônscio desse aspecto primordial da libi do. Parte dessa libido ,pode, então, ser tran.sformada em energia eficaz para uma vida criativa e para as relações interpessoais. No entantp, a criança eterna permanece. Ela precisa se relacionar conscientemente com a autori dadeíntima.Q.o Si-mesmo. O :indivíduo precisa ser um filho de Deus pará évitarcom.portar.:.se como uma crian . ça perante os outros. Transfe:.;ência e tr~nsforma.ção' N a transferência, consciência e transformação pare cem ser sinônimos. No momento em qúe uma nova carga dé libido emerge na consciência, sonhos' de processos tránsformadores aparecem dé umjeito ou de ou:tro, como se o próprio·.ato de tornar-se consciente "trahsformasse um conteúdo psíquico. Isso é, 'de fato, verdade. O que antes estava morto ou ainda por nascer -ganha vida. O que era apenas potencialidade tor:p.a-se realidade psíquica. É isso que eu considero como o elemento essencial da tra'nsfe rência: uma situação de envolvimentbdinâmicó que vita liza, a personalidade consciente e traz consigo a capaci dade de viver a vida mais intensamente. Em resumo, é o nascimento ou uma ressurreição da libido o bem mais precioso da humanidade. Os sonhos e as outras produ ções inco.nscientes que emergem com O surgimento da transferência tOfIlprovam totalmente esse ponto de vis ta. Deixem-me dar-lhes alguns exemplos. O primeiro caso é o de uma transferência que acon teéeu na vida cotidiana, sem nenhum contato terapêu tico que sej a. Seu fim foi trágico, mas as produções inconscientes revelam a magnitude de sua importân 133 cia potencial, que a personalidade consCiente não Com preendeu. Encontrei essa. mulher em.um hospitàl psiquiátrico quando elajá estava completamente psicótica. Ela tinha sessenta e quatro anos de idade. ,Segundo a informação que temos, não havia nada, dê muito estranho sobre sua vida até três anos antes da hospitalização. Ela foi criada no catolicismo e continuava com sua prática. Casou-se com dezoito anos e teve cinco filhos: Sua .personalidade foi descrita como afetuosa e amigável. Seu maiór interes se era sua família, mas ela também gostava de jogar brid ge, ler e tocar piano. Sua vida e seus interesses sempre foram normais e convencionai,s. O único dado suspeito nessa história de vida apárenteinent~ normal fói o comen tário d~ seu maridQ de qué,ela era "convenc.ionalmente fria" no ato sexual.. EssJ~ era o retrato da sua v.ida quanpo, três ,anos an tes de ser, hospitalizada, .ela começou. a fazer um trata mento dentário, Ela..desenvolveu unia "atraÇão erótica muito r:ápida pelo dentista. Nes!3aépoca, sua família notou uma completa n;mdança de personalidade e ela tor nou-se, em pouco tempo, uma psicótica delirante. Embq ra a família fizesse todo o possível para evitar a hospita lização, ela a.cabou tornando-se necessária. As idéias delirantes que surgiamnessamulher,jun to com seu envolvimento erótico, são extremamente inte ressantes e pertin,entes para nosso assuntp. Não se es queçam que as idéias delirantes .têm a mesma origem e o mesmo significado dos sonhos .. A úl1ica diferença é que o delírio é tão intenso, e o ego consciente está tão frágil, que os conteúdos inconscientes não podem ser diferenciados da realidade externa. . " Essa mulher começou a acreditar que iria receber uma grande herança do. dentista. Havia outras ilusões também, idéias paranóides de que pe.ssoas. perigosas eS 134 tavam contra ela. Mas a convicção central, e a mais inte ressante, era a de que o dentista havia descoberto um remédio milagroso que.ir~a prolongar a :vida indefinida mente, Ela esperava, receber esse re'médio maravilhoso dele. Todo o seu comportamento revelava sua certeza absoluta dessa boa sorte. Ela estava inflada e bem fora do contato com a realiçlade. . A paciente estava louca. O ego consciente foi estraça lhado. Nesses casos; os processos inconscientes profun dos são expostos a olhos nus. A reação i!lconsciente ao seu envolvimento erótico é clara e incontestável. O den tista oferece a ela.algo de enorme valor, quer dizer, a vida, ou, segundo nossa terminologia, a libido. Infelizmente, ela não tinha a menor capacidade de lidar com essa situa ção. Embora levasse uma vida insossa, seus sentimentos pelo dentista continham algo de valor supremo. Se a per sonalidade inconsciente fosse capaz de compreender a mensagem simbolicamente, ela teria sido forçada a lidar com os difíceis problemas reais que a mensagem trazia. Ela não foi capaz disso, contudo, e tornou-se delirante mente 'inflada com a convicção de que iria literalmente receber um remédio revigorante. Transferência em úma série de sonhos , Agora, vou'apresentarpara vocês uma série de so nhos que apareceram simultaneamente com o surgimento e o desenvolvimento de uma transferência. A paciente é uma mulher de uns cinqüenta anos que estava em análise. havia dois anos. A queixa dela era a queixa característica da idade: a libido para as ativida des e interesses da juventude a havia abandonado, mas ela ainda não era capaz de aceitar as exigências da se gunda metade da'vida. Ela estava presa no limbo entre os dois estágios da vida. 135 Po.UCo. antes do. surgimento. d.a trafl$f.~rênci,a, I?la teve vário.s So.nho.S so.bre 'lo.ngas. jo.rnadas, o.U v.iagens o.ceâni cas para lugares estnmhos e desco.nhecidos. SJla atitude no.s so.nhos era de ince.rt~za~obre a,co.nY*'l!'.'liência de se tais viagens .. Então., elp. $o.nho.u o. se,guinte: > Sonho 'I :"Ela e a irmã estavam voltando à cidade onde passaram a infância. Elas sabiam que estavam na estra da certa,.porém, a estrada terminou de repente em um campo. Para baixo do. morro, à esquerda, ela n~çonheceu sua cidade natal. Ao descer a montanha, o céu escureceu até parecer noite, apesar de. ser apenas nove e meia da manhã. A sonhadora ficou muito assustada, mas procu rou se tranqüilizar dizendo: "Isso só pode ser um eclipse, vai passar. Vou agüentar firme e não vou ficar com medo". Esse so.nho. revela 0., t.ema característico que emerge em quaseto.do.s9S pro..eesso.s de transfo.rmação. psíquica a viagem às treyas, o. reto.rno. à infância e a psique primo.r dial inco.nsciente da qual surgiu o. ego.. O so.nhado.r expe rimenta.o.s mesmo.s pav:.ores so.mbri.os que ,o. pr:imitiyo.ao. se co.nfro.ntar co.m um eclipse do. so.l. Esse é ó medo pri mordial.de se perder a orientação co.nsciente ,em.meio ao. ilimitado. e desco.nhecido. A viagem trevas, que representa ao. mesmo. tempo. o. início. da transferência, está simb9lizada no. so.nhopor um reto.rno à infância. Esse"é um te~a b~rrrb'atacte'iísÚ: co, e fica muito. claro. se pe:r:ceber o,lJlo.tivo. pelQqual Freud compreendeu. a tr.ansferênciaco..IPo. se.ndo. um fe nômeno. exclusivame.Ií.te.infantil. Ele.interpreto.u literal mente uma imagem que :devéria ter sido. entendida de maneira simbólica. Fazendojustiça a Freud, devemo.s dizer que só se po.de fazer esse tipo. de interpretação. co.m pesso.as mais velhas, relativamente mais maduras. Nin~ guém pode fazer um reto.rno. simbólico. à infância se já não. a tiver deixado. Muito. do. mal-entendido entre o.S po.n to.s de vista de Freud e Jung surgiu po.rquese misturq.-:. 136 ram dua,sdiferehte.S faixas etárias. Os jo.vens neurótico.s, que ainda ef?tão preso.s na infância, devem ser tratado.s de maneira bastante.redutiva·na maio.r parte do. tempo.. A abo.rdagem simbólica e co.nstrutiva é muito. mais eficaz quando. já se atingiu certa maturidade. Depo.is desse ;So.nho., ci tema da viagem sumiu. Ela não. tinha ido. muitQ longe, m'as, ao que parece, já era o. bastante para fertilizar o. inco.nsciente e trazer algo. no.vo. à vida. Os dois so.nho.s seguintes são. So.breo. nascimento. de uma criança. Sonho 2: Uma jovem forte e saudável uns doze ou treze anÇlS é levada àO hospital em trabalho de parto. Apacien te a vê. deitada em forma de cruz em uma cama quadrada. Na cama, está desenhada a cruz de ferro germânica. Existe certa: preocupação sobre possíveis dificuldades· no parto, mas o nascimento ocorre normalmente. O éo.nfro.nt~ di so.nhadora com a escuridão. teve um efeito im~diato.: U~a criançà está nascendo. dentro. d~ ~'(mbo. do.' Si:mesmo. ~" a cr1}z germ~n,ü:;~ ~m um,a cama quadra da. Apesar de não. ser um nascimento fácil, ofub,lro. é pro.-' misso.;r. No entart?, o.'so.nho. seguinte revel~.sério.s perigo.s: Sonho 3: A sonhadora estava dando à luz uma criança de . maneira bastante inc.omum. Tem algum tipo de constru ção envolvida. Alguém disse a ela que ela estava fazendo errado e que, se cóntinuasse, iria matar a criança. Contudo, ela não iria ceder, e continuou. O résultado era incerto. Obviamente; as' co.isas deram errado.. A paCiente in jeto.u uma intencio.nalidade egÓica em um pro.cess o. natu ral, co.lo.cando. em perigo. a no.va criação. Isso. fico.u claro. em um o.utro. so.nho. qlÍe ela teve ria mesma no.ite, no. ela carimbava tudo. o. que via pela frente co.m o. seu pró prio. carimbo. de bo.rracha. Po.ssessiviâade e reivindica ções de po.der po.r parte do. ego. ameaçavam to.mar o. co.n tro.le. é um problema muito co.mum. O ego. co.nsciente 137 possui uma tendência qüase irresü~tível dê se intrometer no processo natural inconsciente, distótcendo-o em seu favor. Isso é revelado em uma outra imagem de um outro sonho da série: . o bebê realmente tinha nascido? O marido dela entrou no J!1 ! Esse.so:hno .comprova que o bebê ainda está vivo. É interessá.nte qtie o visco sàgrado seja uma prova disso: Dentre 'as.várias características miraculosas atribuídas ao visco estão 'as crenças de que ele fertiliz,a o. gado' esté ril e de que se uma mulher carregá~lo consIgo, ele a ajuda rá a engravidar.No sonl}o"um símbplo da fertilidade minina prov~ que. Çl: paciente ~ .criativa. A criança se defrontou com. outros. perigós e outras incertezas, mas yamos·passar direto para os dois últimos sonhos: ,': ' , ' ... Sonho 4: A faxineira da, ,son4adQra, ):lma mulher simples, afetuosa e realista,mandou um buquê de flores para ela. Ao tentar'arruniá-IO, uma flor ficava caindo no chão e de sarrumandoas outras, até que ela deixou que a flor ficas se no chão. De repente, essa flor se transformou numa criatura de pele dura, meio marisco, meio tamanduá, Cor de-tijolo e muito feia. A moça decidiu que'o bicho deveria ,ser morto e começou a bater nele com uma vara. Ele rea gia furiosamente e, quanto mais ela batia nele, mais ele crescia. Ela percebeu que, se ele continuasse a crescer, iria tornar-se realmente perigoso. Ela parou de bater nele; então, ele'começou a diminuir de tamanho e foi embora. Esse sonho é bem reveladoro Junto com o nascimen to da criança também fora:mativados poderes que amea çavam sua sobr~vivência. A natureza dessás forças é simbolizada pela criatura feia; de pele'dura. Esse bicho represent~ a 'natureza priinordial, desumana e instinti va do protoplasma. Do ponto de' vista' psicológico; ela se manifesta como voracidade,' possessividade e luta por poder. Ela não pode ser morta. Reprimi-la de forma bru tal aperias faz com que ela cresça e fiquemáis perigosa. Ela é o verme no núcleo da vida que não é agradável, mas precisa ser aceito. O surgimento dessa criatura primiti va interferiu no andamento regular da análise, é, claro. Ela não pode ser reprimida e, também, não se pode dei xar que ela realize seus desejos de maneira autônoma. Depois de um períod.o de batalhas com essa intro importuna, o tema de um novo nascimento foi rei terado com o seguinte sonho: Sonho 5: A paciente estava em' casa, de 'camà, depois de dar à luz uma criança. Mas havia alguma incerteza no ar. 138 quarto sorrindo, e apontou para um visco que estava de pendurado sobre a cama. Essa era a ~omprovação de que o bebê havia re<;l.lmente nascido. , tI Sonho'ô: Ela'ganhou um presente de um médico famoso, um homem que a havia despertado de anos de torpor, e por quem ela havia se apaiXonado, O 'presente consistia de'uma sacola de plástico redonda· cpntendo tudo o que era necessário para a vida, incluindo o Tempo. O Tempo era representado por um cordão umbilical em círculo, em volta da sacola. Esse foi um sonho muito forte para a paciente, ape sar do fato de ele não conter nenhum elemento cósmico exceto, -talvez, pela noção dé Tempo. O sonho é uma re~ presentação dela mesma, contendq todos os requisitos necessários para a vida, e çercàdo pelo círculo urobórico do cordão umbilical representando o Tempo como um cír culo . e t e r n o . ' ' O sonho foi particularmente interessante para mim por revelar de forma clara uma importante transforma ção íntima.de sua atitude perante a experiência externa da -transferência. Eu, é claro, não havia dado a ela ne nhum presente desse tipo, tão valioso. Ele veio do curan deiro arquetípico. Todavia, é quase impossível entrar em \ 139 contato com essa força curadora interna a: 'não ser a par tir do contato profundo com lima outra pessoa, o que equi vale a dizer que só se pode entrar em 'contato e integrar o inconsciente pelas vias dá projeção. O 'óbjetivo, é claro, é separar o significado único e pessoal de tal experiência da pessoa coIp. q]-le~'a ~xperi~nci~ acontef8u. A projeção do Si-mesmo precisa ser retiraqa do terapeuta se o pacien te não quiser'permanecer numa depeD-dê'nciâjmpotente. to~a ~ess~"quesfM,: ' 1. "..':' ',' . O -sonho "r'fip'~l • { ,. ., , ~ J ' J. I lo ~.! ~ ~ Sonho 7: Asonha'd6rí:t viu b plano de' sua'vida sendo tecido em uma grande estéira, Cada fió da esteira tinha um sig nificado diferente e muito importante, Terminada, ela era quadraqaJ9;rl!}acj.;:t por ;váriasp~quen>as suásticas, e ela a colocou em um carrinho de mão do lado de fora da casa, bem ao lado da porta, O Dr. Edinger veio falar com ela e, vençlo o carrinho, de mão, sentou-se nele e copversou com ela, enquanto, ela estava de pé na· porta. Elaquey;ia pro testar por ele estar sen~ado no seu plano, mas percebeu que a visita dele era temporária, que logo ele iria .levan tar-.se e ir, embora e que, o medo e a 'grosseria, dela não eram n e c . e s s á r i o s . · ' · , . ,. Aqui está sendo mostrado que a figura do terapeuta está obscurecendo o plano,de vida oú modelo de ideritida de da paciente: A consciência desse modelo normalmente emerge no curso de uma relação analítica e, a princípio, está intimamente ligada à personalidade do terapeuta. Ou seja, está projetada. Ness'es casos, o analista pode até mesmo aparecer comoluna obstrução aó desenvolvimerü to. O que se precisa é de uma separação entre o analista como lima pessoa real e as projeções. Pepois disso, por fim, temos dois seres humanos completos. encontrando um ao outro da forma como eles sao de verdade. Amor objetaI e centroversão emergem ao mesmo tempo corrio duas formas de se manifestar o mesmo: acontecimento·....,. integração psíquica e totalidade. 140 '.) Pr.eciso dizer que a paciente áinda não experimen tou conscientemente e por corripIe to todas as implicações desses sonhos. Esse 'ainda é um processo parcial, como normalmente acontece. Ainda há muito o que se fazer. A individuação é1um--processo em 'direção' a um objetivo inalcançável, nunca um fato consumado. Quando estuda moS os ,processos inconsciente~em uma série ,de sonhos como esta, estamos,olhando para potencialidades ..Q quan to se realiza depende; do que a personalidade consciente faz com eles:Se não tiver ninguém em ca,sa,.eles vão ba-, ter na porta à toa, ,I",;.' . 'Meuóbjetivoao, apresentar essa:série de sonhos foi enfatizar o fato de ,que a individuação e.seuS temas arque típicos normalmente aparecem, e, devem aparecer, em uma situação.interpessoal bem definida, ou seja, na trans ferência. De fato, toda experiência arquetípica pode trans formar-se em veneno. psíquico senão for.incorporada em uma relação significativa com a sociedade e com os ou tros. Como'o primeiro caso nos mostrou, ela pode acabar em inflação 8' psicose. .., Transferência erótica e religiosa , • I ' , J- , ~, ' , ~ ..: ~" ' , ) ~; :1 Ao lidar com a'transferência, repetidas vezes encon trâmosdois tipos de, material:' o erótico e o religioso. O mesmo também é verdade para as' produções da insani dade. Por isso, temos boas razões para acreditar que o núcleo da 'personalidade humana é ou erótico ou religio so, ou os dois~ c"i É normal tomar alguma posição nessa questão e, :dépendendo do lado escolhido, interpretar o material se xual religiosamente, ,ou o material religioso sexualmen te. Com certeza, os teólogos revelam essa tendência quan do interpretam conteúdos obviamente eróticos no Antigo Testamento como uma referência a Cristo e sua noiva, a • 141 Igreja. A psicanálise freudiana faz o mesmo ao contrário, ao interpretar a crença religiosa como derivada da ques tão edípica e, por conseguinte, como sendo primariamen te erótica. Essas :tentativas de se .ampliar.um aspecto da vida em detrimento do outro criam i.magens distorcidas e unilaterais dá realídade. As terminologias religiosa e erótica' são claramente intercambiáveis. As visões dos místicos abundam em ima gens eróticas e; por outro lado, a linguagem dos amantes é, muitas vezes, religiosa. EU: diriaique os pontos de vista erótico e religioso correspondem ao que chamamos ante riormente de amor objetaI 'e' centroversão. Eles são os aspectos extrovertidos e'introvertidos,respeétivamente, da individuação. A atitude religiosa e a.atitude erótica madura são, em essência,.a mesma. A atitude religiosa, ou centrovertida, refere-se à fonte in tema devida, a Deus. A atitude erótica madura refere-se. ao respeito e à impor tância dos nossos companheiros humanos. O.conceito de uma relação Eu-Tu de Martin Buber é aplicável aqui. Para usarmos as palavras dele"podería mos dizer que a maturidade psicológica se revela pela capacidade de se relacion~r com um Tu:-; algo,Çlue é com pletamente outro perante o ego. O aspecto 'extrovertido, erótico, da relação E:u-Tu'seria o.amor objetaI; o aspecto introvertido, religioso, corresponderia à'.centroversão. Na prática, essas duas possibilidades aparecem simultanea mente. 75 Assim como a centroversão, a atitude religiosa, pre cisa livrar-se da luta pelo poder pessoal, também eros, o amor objetaI, deve SE;).I:>urgardo amor indigente e da pos sessividade. Aí, eles, adquirem ostatus. de dois princípios iguais, ou melhor, de duas manifestações iguahp.ente vá " Para mais dados sobre este tema,ver Mario Jacoby, The Analytic En· counter: Transference and Human ~elationship. esp. Capo 4: '(Nota.do Editor) 75 142 'l r lidas do mesmo princípio. O que antes era um par de opos tos é reconciliado. Tanto o modo 'extrovertido quanto o introvertido de vida são respeitados. Esse é um dos fru tos possí.vets ,de uma exp~:riência criativa de transfe rência. Transferência.como um chamado à tótalidade I' Tanto se Ocorre ria análise quanto na vida pessoal de alguém, a 'transferência ê, em essência, um chamado à totalidade. A libido corré para alguma cóisaque ela reco nhece como sua propriedade ou potencialidade própria. Essa é uma das razões para a possessividade tão exi gente de tal relação. Inconscientemente, o indivíduo re conhece que o analista ôu amigo carrega um fragmento projetado de sua própria psique, e ele quer reaver esse fragmento. Se o indivíd'úo for capa~ de assimilar a proje ção, estará dando um passo importante em direção à to ' ",. ' talidade: ',. A transferência co'mo uma luta pela totalidade está belamente ilustrada no mito narrado no $ymposium de Platão, onde. a natureza do amor é discutida. Vou citar um pedaço deste mito. Diz ,Aristófanes: " , Mas é preciso primeiro aprenderdes a natureza humana e as suas. vicissitudes. Com efeito"noss a natureza outrora . ,não era a mesma que a de agora, mas diferente ... inteiriça era 'a forma de cada homem, como dorso redondo, os flancos em círculo; quatro mãos ele tinha, e as pernas o mesmo tanto das mãos, dois'rostos sobre um pescoço tor neado, 'semelhantes em tudo; mas a cabeça sobre os dois rostos opostos ao outro era uma só, e quatro orelhas, dois sexos, e tudo o mais como desses exemplos se poderia " supor. E 'quanto ao seu andar, era também ereto como agora, em qualquer das duas direções que quisesse; mas :.,quando se lançavam a uma rápida corrida, como os que ,cambalhotando e virando as pernas para cima fazem uma um 143 , roda, do mesmo Ilfodo, aRoiando-se nos seus oito mem bros de então, rapidamé11,te eles se loconioviam em cír culo... Eram por consegUinte de uma força e de um vigor terríveis, e uma grande presunção eles tinham; mas vol taram-se contra os deuses; e o que diz Homero de Efialtes e de Otes é a eles que se refere, a tentativa de fazer uma escalada: ao céu, para investir contra os deuses. Zeus en tão e os demais deuses puseram-se a deliberar sobre o que se' devia fazer com eles, e embaraçavam-se; não po diam nem matá-los e, após fulminá-los como aos gigan tes, fazer desaparecer-lhes a raça- pois as honras e os templos que lhesyin~am dos homens desapareceriam nem permitir-lhes que continuassem .11,a impiep.ade. De pois'de labóriosa refléxão, diz Zeus: "Acho que tenho um meio de fazer com que os homens possam existir, mas pa rem com a intemperança, tornados mais fracos, Agora com . efeito, continuou, eu, os cortarei a cada um em dois, e ao mesmo temp'o eles serã~ mais fracos e também mais úteis para n6s, pelo fato de se terem tornado mais l}umetosos; e andarão eretos, sobre 'dúas' pernas, Se ainda pensarem em' arrogância e não quisérem acomodar-se, de novo, dis ,se ele, eu os cortarei em dois, e a~sim sobre uma só perna eles andarão, saltitando". Logo que disse isso, pôs-se a cor:tar OS homens em dois, como os que corta~ as sorvas para a conserva, ou como os que cortam OVO$ com cábelo ... Por conseguinte, desde' que a nossanatureia se'mutilou em duas, alisiava caq,a um por sua própria metade e a ela se unia, e envolvendo-se com'as mãos e enlaçando-se um ao outro, no ardor de se confundirem ... por nada quere rem fazer longe um do outro. E sempre que, morria uma das metades e a outra ficava, a que ficava procurava ou tra e com ela se enlaçava,:quer se encontrasse' com a me tade do todo que era mulher 'o que agora chamamos mulher quer com a de um homem ... É então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza humana, Cada um de nós, portanto,. é uma téssera com plementar de um homem, porque cortados como· os lin guados, de um só em dois; e procura então cada um o seu próprio complemento ... nossa antiga natureza era assim e nós éramos um todo; e portanto ao desejo e procura do 144 todo que se dá o no~~ d~ a11!0r. Anteriormente, como es tou dizendo, nós éramos um só, e agora é que, por causa da nossa injustiça,fomos separados pelo deus, e como o foram os árcades pelos lacedemônios; é de temer então, se não formos moderados para çomos deuses, que de novo sejamos fendidos em dois, e perambulemos tais quais os que nas estelas estão de perfil, serrados na linha do nariz, como os ossos que se fendem. Pois bem, em vista dessas eventualidades, todo homem deve a todos exortar à pie dade para com os deuses, a fim de que evitemos uma e alcancemos a outra, à medida que o Amor nos dirige e comanda. Que ninguém em sua ação se lhe oponha - e se opõe todo aquele que aos deuses se torna odioso pois amigos do deus e com ele reconciliados descobriremos e conseguiremos o nosSO p~óprio amado. 76 l 1 ~\ .Platão termina a fala de Arif3tófanes COII~ as seguin tes palavras, q1J.e eu vou tomar emprestadas para ami nha própria conclusão: ' E se disso fôssemos glôrificár o deus responsável, mereci damenteglorificaríamos o Amor, que agora nos é de máxi ma utilidade, levando-nos ao que nos é familiar,'e que'para o futuro nos dá ~s maiores esperanças, se formos piedosos . para cornos' deuses, de restabelecer-nos em nossa primi tiva natureza e, depois de nos curar, fazer-nos bem-aven turados e felizes. 77 " , \ f ," ~ ~, ~, " ~ I , " .: ~ L { lo' , ··i , 'The Dialogue~'of Plato, pp. 316ss. 77 11:Íid:, p, 318,' ", , 76 145 Ap ên dic e NOTAS SOBRE O Sr_l\4:1~}SMO Po r J. Gary Sp~~ks ' _ des te com o ego, Jun g fala do Si-mesmo, e da rel8-Ç8~ da1 Yàn sfo rm a sob vários pontOs de vis ta. Em Sím bol o or completo, ele ção, em bor a não des env olv a o concel·to pito S de her óis ,o ilus tra, por meio da inte rpr eta ção e d :- do Si-mesmo: a que ma is tar de irá atr ibu ir à ativ id8- e i8-reÍn a perso:' cap~cidade de pro dut os inconsciente S ~r~senta a idé ia nah dad e consçiente. E~ Símbolos, ele eri go da bat alh a deq ue" ass imc om o o her ói se exp õe aOé~1. o·e go pode ser ou do encontro com o mo nst ro, tamb J11 OU pel a desci gui ado ~ orien~ado pe! a confr?n~~ çãO c~íp8-1 e.-. na ~istó da ao remo do mconSClente. Ald eIa . lJ prf ão .inIcIal e a de ria da psicologia - nov a nes sa fon ul n 8-ç ue vem de um a que existe um a ori ent açã o par a o ego ~ue est á fora da fonte de den tro da per son alid ade , I118- 5 . ot e . (Ver Transforpercepção do ego, isto é, no inc ons CIe 8- stu dy gui de to ma tion of Libido - esp . pp. 34, 3~, 68. - M8-is adi ant e, em Sym bol sof Tra nsf orm atio n de Edll1ger ) ....-.0 três out ras formulações sob re o S · e5~J.~' Jun g desenI-Ill . volve e ela bor a ess a obs erv açã o ini cia l. b éIll o de pesquiO.primeiro modelo com ple to, e t8-J 1l pre ens ão do ~i sa maIS det alh ada , de Jun g par a 8- co:J111.1iIllia. Ele ve a mesmo vem de sua pes qui sa com 8- 8- IQ ão física imagi Ç descrição dos alq uim ista s da tra nsf r o J1.1.8- nte'Ill" dois ele- "CO nad a de um a sub stâ nci a ma ter ial . que 146 rnentos ,qu.ünicos opostos - que se alc anç a som ent e com a pre sen ça de um terc eiro ele me nto -co mo um a me táfo ra par~oprocesso de tran sfo rma ção psicoló gica por meio do qua l tan to a :pe rso nal ida dec ons cie nte qua nto a incons cie nte são tran sfo rma da. s por me ip da ação de um tercei rO fator, o Si_rnesmo .. -Em .ou tra spa lav ras , ele am plia e explica nos ,mínimos det alh es a·fo rmaccomo o ind ivíd uo receb.e orieJ?tação de; um Jat or loca lizado, fora' do seu con~ trQle,ao.dernoI).strarcomo,p Si~mes mo or,ques.tra a tra ns fQrmaçãQ:.tap.t,o do ego lqu ant o das ,:partes inconscientes dapersoIÍalidade~ (Ver Mysterilfm ,Co fâunctioriis e "Psy cho!ogy ofthefl'ra;nsference" de Jun g; e,também.o9 gui as de ,estudo de Edi nge r par a esseS, textos, res pec tiva me n te:' The Mysterium Lectures, esp. p'... 22ss.,' 321s8., e The Mysteryo{the,Coniunctio, esp .p.A 8s . , 74ss.) ~ . :..O 'seg und o modelo do Si-mesmo €i de sua rela ção 'co m o ego des crit o'p or Jun g pode ser. e,nc oIttrado no simbolis~ mo do gnosticismo. No mito gnóstic o, o De us cria dor se per de na ma tér ia qua ndo o mu ndo é cria do e deve ser recomposto por completo a cad a vez que um cre nte mo rre e a cen telh a de De us que hav ia fica do pre sa em sua alm a ret om a à divindade. Jun g utiliza a me táfo ra gnóstica par a rep res ent ar a res pon sab ilid ade do ego de rea gru par , na forma original, os frag me nto s do Si-mesmo perdidos no mu ndo em um Si~mesmo recriado - seg und o sua me tá fora, por meio da projeção. Ess a for ma de se compreen der o Si-mesmo acr esc ent a ma is um a nua nça à compre ens ão der iva da da alq uim ia, ao enf atiz ar o pap el do ego na criação das condições que per mit am que o Si-mesmo ass um a sua função de guia. Simesmo deve ser "cons truí do" e dep ois seguido. (Ver Aio n de Jun g e The Aio n Lectures, de Edi nge r, esp. p. 141, 146 Por fim, em "Re spo sta a Jó", Jun g.) enc ont ra um tex to que rev ela um terc eiro modelo par a se com pre end er o Si mesmo e a sua relação com o ego: Assim como Jó teve de 147 ° Ap ên dic e NOTAS SOBRE O SI-~ESMO .,Por J. Gary Sp ark s Jun g fala do Si-mesmo, e da rela ção des te com o ego, sob vários pon tos de vis ta. Em Sím bolos da Transforma ção, em bor a não de~envolva o conceito por comple~o, ele ilus tra, por 'meio da inte rpr eta ção de mitos de heróis, o que ma is tar de irá atri bui r. à ativ ida de do S~~mesmo: a cap aci dad e de pro dut os inconscie ntes gui are m a perso~ nal ida de consciente. Em Símbolos, ele apr ese nta a idé ia de que, ass imç om o o he; Óis e expõe ao pe;i'go dab àta lha ou do encontro com o mo nst ro, tam bém o ego pode ser gui ado e ori ent ado pel a confronta ção com 'ou pel a desci da ao reino do inconsciente. A idé ia pri nci pal e - n'a histó ria da psicologia -'n ova nes sa for mulação inicial é a de que existe um a ori ent açã o par a o ego que vem de um a fonte de den tro da per son alid ade , ma s que est á fora da percepção do ego, isto é, no incons ciente. (Ver Transror ma tion or Libido esp, pp. 34, 37, 68. -a stu dy gui de to Sym bol s ofT ran sfo rma tion de Edi nge r) Mais adiante', em trê s out ras formulações sobre o Si-m esmo, Jun g desen volve e ela bor a ess a observação inic ial. O prim eiro modelo completo, e tam bém ode pesqui sa ma is det alh ada , de Jun g par a a compreensão do Si mesmo vem de sua pes qui sa com a alq uim ia. Ele vê a descrição dos alq uim ista s da tran sfo rma ção física imagi nad a de um a sub stâ nci a ma teri al que "conténi" dois ele- 146 me nto s quínÜcos opostos - que se alc anç a som ent e com a pre sen ça de um terc eiro ele me nto - como um a me táfo ra par a0 processo de tram~formaçãops icológica por meio do qua l tan to a per son alid ade conscie nte qua nto a incons ciente,.são transforII).adás por me io da açã o de um tercei ro fator, o S,i-mesmo., Em out ras pal avr as, ele am plia e exp lica nos "mínimos det alh es a for ma,como o indivíduo r~c~b..e orie~tação deu m:f ato rJo cal iza do fora do seu con trole, ao.deJllO nstr.arcQmoQ Si~ine smo or.questra a tra ns form;:!.çã.Q~tap.to do ego; quanto, das .:pa rtes inconscientes da :personalidade. (Ver, Mysterütm Conii17íctioriís e "Psy cho,logy Qfthe TraIlsference" de Jun g, e, tam bém .os gui as de ,estudo de Edi nge r par a esses, tex tos , res pec tiva me n te:.The Mysterium Lectures, esp. p.2 2ss .; 32i ss., e The Mystery:of the ConiunctiQ, esp. p. 48s ., ,~, 'O seg und o modelo do Si-mesmo 74ss.) . e' des uar ela ção 'co m o ego descrito por Jun g pode ser epc ont rad o nos imb olis mo do gnosticismo. No mito gnóstic o, o De us cria dor se per de na ma tér ia qua ndo o mu ndo é cria do e deve ser recomposto por completo a cad a vez que um cre nte mo rre e a cen telh a de De us que hav ia fica do pre sa em sua alm a reto rna à divindade. Jun g utiliza a me táfo ra gnóstica par a rep res ent ar a res pon sab ilid ade do ego de rea gru par , na forma original, os frag me nto s do Si-mesmo perdidos no mu ndo em um Si~mesmo recriado - seg und o sua me tá fora, por meio da projeção. Ess a for ma de se compreen der o Si-mesmo acr esc ent a ma is um a nua nça à compre ens ão der iva da da alq uim ia, ao enf atiz ar o pap el do ego na criação das condições que per mit am que o Si-mesmo ass um a sua função de guia. O Simesmo deve ser "cons truí do" e,depois seguido. (Ver Aio n de Jun g e The Aio n Lectures, de Edi nge r, esp. p. 141, 146 Por fim, em "Re spo sta a Jó", Jun g.) enc ont ra um tex to que rev ela um terc eiro modelo par a se com pre end er o Si me sm o e a sua rela ção com o ego: Assim como Já tev e de 147 res isti r a Iah we h e ref leti r 'pa ra Ele .a .tealíclade de seu com por tam ent obe stía l, tam bém o'e gop tec isa ,'em alg uns momentos, oferecer alg um a res istê hci a ao Si~mesmo, par a que se inicie um a 'tra nsf orm açã h ·dentro do pró prio Si mesmo. Ma is um a vez; o pap el do egolllo fun cio nam ent o do Si-mesmo é elucid~do, contudo,.com\mais um a nova ênfase. Aqui, a infl uên cia do Si~mes m(j sob re o ego é ex per ime nta da, -ai príncfpío;como adv ers ária e~passa a ser vir o ego .so me nte -qu and o est e res iste vig oro sam ent e à ma nife staç ão hos til do Si'-mesmQ no enc ont ro inicial: (Ver "Answer to.-·Job':de.Jung, ê-Tran sformation .ofithe .God Image, esp ..p. 29, e Encountér wit h the Sel f de-EdiIiger.) Ca da modelo rep res ent a, vár ios . asp ect os da expe riên cia do Si-mesmo vívida pelo ego .. Jun fas , as formula ções teóricas de Jun g circunscrevem a fenomenologia das ativ ida des ;'or ien tad ora s do Si-mesm o na. psi que dos indi víd uos Íno der nos .que·querem tornar ~se co.nscientes .... '. . \ ., '.J '~ .\ " '.' ~{ :; c -~ ~ ~ - . " ....1 ., ..... , J L '\ ' \ 'tl I.: , •• ' ;-> 5 .' ~ "r ~ ,·l ~ ":1' 1- J :;: '. "!.oI ,j _ . ,', • ! ~ 1~ , • l-, :: . ~.,./ :l . ') ~,j " ! : ~~ !. , .. ,:) , '\ f '.' rn ,)! )';,~ I. 1 I " . !, j~ "" 1, : \ , \. 'l" , .,', '. 1 • ~~j 't'"" , ' Ber tine , EleáÍ1or. 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' 17 A natureza dos sonhos" . ,,-, 18 A criaçãô da: consciência' 20 A consciência no inconsciente 22 A estrutura da psique 31 individuação' 35 Implicações sociais 40 Transfóffuàçãó dà Imagém de De~~ ,', , . ~-, '- \ • - ',! ,\ '~ . ,,~: r (> ,~ ~ 47 2..En.çontro com a Personalidade,Maior 48, A natureza do Si-mesmo ' 52 Jacó e o anjo dê Iahweh 56 Arjuna e Krishna 60 Paulo e Cristo 62 Nietzsche e Zaratustra 72 Comentários finais _ . ) '1'~ 75 3. A vida terapêutica 75 Fatores pessoais e arquetípicos 80 A transferência arquetípica e o encontro pessoal 85 93 97 A cura em harmo!iial,ç({ml~ psique objetiva A encarnação pessoal dos arquétipos. A personalidade do terapeuta e os propósitos tra~spes , soais o~O" '1 100 4. Psicoterapia profunda: a profissão 100 Introdução 102 Raízes etimológicas 103 Imagens arquetípicas subjacentes à psicologia profunda 106 O legado médico 107 O legado filosófico 109 O legado religioso Imagens arquétípicas corre'spondehtes às fases 112 da terapia 116 A tradição oculta 117 Privilégios, responsabilidades e perigo's 118 O mistério da psicoterapia profunda' 120 Perguntas e respostas 123 5. O fenômeno da transferência 123 Transferência e projeção 126 A natureza arquetípiça, da trarisferência 127 Transferência positiva' ' , Transferência na vida cotidiana' 129 131 Transferência e centroversão' 133 Transferência e transformação, " 135 Transferência em uma série de sonhos, 141 Transferênci~ erótica e religios~: ." ' , . , ) 143 Transferência como um chamado'àtotalidade '(y<J. j; V1" 1 ... 1, ,:'.. -- ---- - f' ~:'~_~' ~" -- . .t )I J I ".~, , c' ~./ ;.!;~ '_l_ *,~ _ _.~','! 1'" "J .~ '. i~ -----\ iD~ -c13 ...11 L i -, ~~;~te livro deve ser devolvido na última data carimbada .. (':)~I 149 Bibliografia ! \-:. -\ ~ "" 146 Apêndice: Notas sobre o Sl-mesl.Do por J. Gary Sparks \I; : ~ fi' ,:;.--:;:-;:;;--.;. COD.21753 --
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