Eduardo Calsan e Sonia Breda
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Eduardo Calsan e Sonia Breda
SEGURANÇA E AUTOMAÇÃO: CIÊNCIAS DISSOCIÁVEIS, DIALÉTICAS, SOBREPOSTAS OU PARCEIRAS? Eduardo Calsan1 Sônia Regina Breda2 RESUMO: este pequeno trabalho tem a finalidade de mostrar, de maneira não cabal, que segurança e automação são ciências não dissociáveis, não dialéticas, não sobrepostas mas parceiras no dia a dia capitalista de nossos tempos. Palavras-chave: segurança, automação, tempo. ABSTRACT: this small study has the proposal to show, not like a final work, that the security and automation are dissociable sciences, not dialectics, but copartners in the capitalist world. Key-words: security, automation, time. INTRODUÇÃO Nos dias atuais, automação e segurança de processos, principalmente aqueles onde há atividades envolvendo instalações elétricas, são fatores indissociáveis. Até porque a automação, enquanto ciência, além de restituir ao homem a condição de ser pensante, contribui de sobremaneira na substituição da mão de obra em atividades insalubres e inseguras. Este pequeno trabalho tem a pretensão de estudar a automação na visão da segurança e a segurança na visão da automação, de maneira não cabal e não definitiva, levando-se em consideração também o ensino das duas disciplinas nos cursos técnicos e superiores onde essas cadeiras são oferecidas. 1 Mestre em Educação – Políticas e Gestão da Educação pela UMESP, professor do curso técnico em eletrônica na ETEC Júlio de Mesquita e professor do curso de engenharia química nas Faculdades Oswaldo Cruz. [email protected]. 2 Especialista em Segurança do Trabalho pela USP, professora do curso técnico em edificações na ETEC Júlio de Mesquita e professora do curso de arquitetura e urbanismo na Faculdade Anhanguera. [email protected]. A AUTOMAÇÃO NA VISÃO DA SEGURANÇA Automação é fazer com que o operador de uma máquina, equipamento ou processo participe do funcionamento de maneira direta; “dono” do procedimento que está sob sua responsabilidade, verifica se os mesmos e a relação sentir-analisaragir, portanto comparação, se efetiva no ciclo, sem depender diretamente de esforço braçal em sua atividade. Ou seja, a automação não desemprega ou, grosso modo, substitui o trabalhador por uma máquina, pois este trabalhador precisa aperfeiçoar-se e atualizar-se, de modo a garantir suas funções, mesmo com o avanço das tecnologias, conforme SCHNEIDER (1983). “alguns estudiosos observaram uma alta proporção de operários especializados e técnicos nas fábricas automatizadas. Essa alta proporção, porém, não resultou na eliminação dos operários semiespecializados ou não especializados.” Na mesma linha, agora mais atualmente, SAVIANI (2005) também justifica a automação dizendo “estabelece-se, então, um complexo interativo entre trabalho e ciência produtiva, que não leva a extinção do trabalho, mas a um processo de retroalimentação que gera a necessidade de encontrar uma força de trabalho ainda mais complexa, multifuncional, que deve ser explorada de maneira mais intensa e sofisticada, ao menos nos ramos produtivos dotados de maior incremento tecnológico.” Entretanto, quando se associa automação e segurança, tem-se a impressão de que a retirada do trabalhador de suas funções, alegando insegurança e insalubridade, faz surgir o fantasma do desemprego. O que não é verdade, uma vez que se poupa o indivíduo de situações-problema. A “arte” da automação e controle remonta-se ao século XVIII, na Revolução Industrial. De lá para cá, a segurança em procedimentos e processos andam par-epasso com automatismos, por mais singelos que eles sejam. Um simples acionamento de lâmpadas, aparentemente inofensivo, pode ser controlado remotamente sem que a segurança do ato fique em segundo plano. Para se chegar nesse nível, tanto a automação quanto a segurança, precisaram andar juntas, complementando-se. No que tange aos trabalhadores envolvidos, conforme comentado na Introdução deste trabalho, estudos, ensaios, simulações e protótipos foram usados de maneira exaustiva, forçando uma atividade intelectual, maciça e precisa nas duas características. A SEGURANÇA NA VISÃO DA AUTOMAÇÃO Segundo Richard Sennett, em sua obra “A corrosão do caráter”, no ponto de vista técnico, a repetição do gesto pode levar ao aperfeiçoamento. Ou seja, o avanço do conhecimento está intimamente ligado à experiências práticas. E é essa repetição que a automação chama de “rotina”, que precisa ser combatida, visando o bem estar do trabalhador, deixando-o livre para o trabalho intelectual de sua atividade-fim. Ora, acontece que sem repetições de procedimentos, atividades e serviços, a segurança não assume seus status de ciência, não auxiliar, mas preponderante, na automação de sistemas. A automação não pode ser a finalidade sem que a segurança não figure ao seu lado, como “estrela”. Burlar dispositivos de segurança, pensados como meios de proteção da integridade física e psíquica do trabalhador, em nome da flexibilização do tempo, não ajudará em nada a ciência automação e, muito menos, garantirá o tempo esperado. Desde o fordismo, passando-se pelo taylorismo e toyotismo, pensa-se que o ganho de tempo pode melhorar a produtividade e, todos esses meios de produção, aliados ao capitalismo flexível (SENNETT, 2001), também levam a impressão de aumento de lucro. Entretanto, não se pode associar estas verdades à uma operação segura. CONCLUSÃO Conclui-se dizendo, sem esgotar a discussão, que a segurança e a automação não podem andar de maneira isolada num processo, numa máquina ou na prestação de serviços. Os professores e técnicos em educação, que ministram aulas em disciplinas onde as duas ciências são o foco do desenvolvimento do conhecimento, precisam ter a clareza e, em muitos casos, a ousadia de associá-las de modo que a atividade remunerada, de seus agora estudantes mas futuros profissionais, seja exercida na plenitude do aprendizado, segurança e capacidade de associação das mesmas. SENNETT (2001, p. 14) diz que “tempo é o único recurso que os que estão no fundo da sociedade têm de graça”. Então, que o tempo possa ser aproveitado na ação do aprimoramento das atividades, onde a automação e a segurança se completem para o bem comum. REFERÊCIAS 1- BRASIL. Segurança e medicina do trabalho. 67. ed. São Paulo: Atlas, 2011. 2- FARKAS, Luiz Carlos & CALSAN, Eduardo. Automação industrial. Santo André, 2006, palestra dada para o quarto ano do curso superior em administração de empresas, Fundação de Santo André. 3- SAVIANI, Demerval. Transformações do capitalismo, do mundo, do trabalho e da educação. In: LOMBARDI, José Claudinei & SAVIANI, Demerval et ali (orgs.). Capitalismo, trabalho e educação. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2005. 4- SCHNEIDER, Eugene V. Sociologia industrial. Relações sociais entre a indústria e a comunidade. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983. 5- SENNETT, Richard. A corrosão do caráter. Consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. São Paulo: Record, 2001.