Os Desafios da Igreja
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Os Desafios da Igreja
Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br 2 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Anderson Rezende Os Desafios da Igreja no Terceiro Milênio Um Estudo do Papel e da Missão da Igreja Enquanto Agência do Reino de Deus no Contexto de uma Nova Era 3 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br 4 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Índice Índice 5 Dedicatória 6 Agradecimentos 7 Sobre o autor 8 Introdução 9 Capítulo 1: Desafios do Terceiro Milênio 12 1.1 Do Contexto Moderno ao Contexto Pós-Moderno 13 1.2 A Religiosidade Pós-Moderna 20 1.3 Uma Igreja Para Este Tempo 26 Capítulo 2: A Igreja como Projeto de Deus 32 2.1 A Prática de uma Missão Integral 33 2.2 Perspectivas da Missão a Partir de Lausanne 42 Capítulo 3: A Eficácia da Igreja no Desempenho da Missão 51 3.1 Formas e Estruturas: Desafios Eclesiais 53 3.2 A Igreja Como Agente de Transformação 62 Conclusão 69 5 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Dedicatória À minha esposa Fabiana que tem acompanhado de perto o meu desenvolvimento ministerial como uma verdadeira ajudadora e companheira. 6 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Agradecimentos À Deus, por sua graça bendita em ter me chamado e vocacionado para o Ministério Pastoral e do Ensino. Aos meus pais por me ensinarem a ser um homem responsável e comprometido com seus empreendimentos pessoais. Aos pastores Joel Guimarães e Eliéster Moreira Antunes por terem acreditado em meu potencial e darem a oportunidade de poder manifestá-lo. À Igreja Batista Central em Jardim Cumbica e à Primeira Igreja Batista da Barra da Tijuca por me darem condições de crescer espiritualmente e de me desenvolver ministerialmente. À Igreja Evangélica Ministério Celular de Restauração por me proporcionar a alegria de desenvolver o ministério a mim foi confiado e por estar engajada comigo no empreendimento de expansão do Reino de Deus na cidade do Rio de Janeiro. À Faculdade Aplicada de Teologia e Filosofia por possibilitar a grata oportunidade de formar uma mentalidade de Reino de Deus na nova geração de líderes cristãos deste novo milênio. 7 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Sobre o autor Anderson Rezende é ..... Teólogo, Pastor, Professor, Palestrante e Coach Profissional. Possui Mestrado em Teologia e Especializações nas áreas de Educação, Empreendedorismo, Desenvolvimento Humano e Profissional. Vem se dedicando nos últimos anos na formação de líderes e indivíduos que almejam ampliar seus conhecimentos, explorar suas potencialidades e desenvolver ao máximo sua perfomance. Por meio de suas palestras, seminários, cursos, treinamentos e congressos nas áreas de Teologia, Exposição Bíblica, Espiritualidade, Liderança, Empreendedorismo, Finanças e Desenvolvimento Humano, tem contribuído com um número cada vez mais crescente de pessoas que procuram melhorar o seu próprio desenvolvimento pessoal. É casado com a Pra. Fabiana da Mota Rezende com a qual possui um filho, Davi. É Pastor Titular da Comunidade Evangélica de Restauração em Jacarepaguá – Rio de Janeiro, Diretor-Presidente do Synesis – Centro de Ensino e Capacitação e Vice-Reitor da FATEF – Faculdade Aplicada de Teologia e Filosofia. Como Teólogo vem atuando no Ensino Acadêmico de Nível Superior nas áreas de Teologia Bíblica, História da Teologia, História do Cristianismo, História de Israel, Filosofia, Teologia Sistemática e Exposição Bíblica. 8 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Introdução Uma das características dos profetas na Bíblia é que sabiam ler os “sinais dos tempos”. Isso incluía anunciar eventos futuros. Mas, mais do que isso, sabiam ler a sua realidade presente. Possuíam um dom divino especial de discernir o que estava por trás das atitudes e posturas do povo, dos líderes religiosos e dos governantes de sua época. Sua missão consistia em denúncia e anúncio. Iam além das aparências e denunciavam as motivações erradas, traziam à luz os pecados escondidos, anunciavam as consequências de se permanecer em maus caminhos e a possibilidade de reconciliação e restauração caso houvesse a conversão para o Deus vivo. O profeta olha para o passado e para o futuro prevendo as consequências das tendências atuais e dos sinais dos tempos da era presente. Procura advertir o mundo baseado na revelação de Deus em sua Palavra Escrita. Esse é um dom e um ministério a ser resgatado em nosso tempo: examinar e perscrutar a realidade presente; entender seus pressupostos e formas de pensar e agir. Identificar as novas tendências, percebendo que algumas não são tão novas assim. Sugerir alguns caminhos para o questionamento e o anúncio das verdades divinas. Esse é o propósito desse breve texto, que procura chamar a atenção para alguns “ismos” (pluralismo, relativismo, racionalismo, individualismo e misticismo), e tenta resumir, com o risco da generalização indevida, algumas de suas características e desafios que se impõem à missão da igreja, principalmente no que se refere ao anúncio do Evangelho de Jesus Cristo em nossa geração. Não é uma tarefa fácil, porém, lançar mão dela constitui-se um desafio apaixonante. 9 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br O desejo de se responder às questões do novo tempo é a reposta para aquela tão desejada postura de se segurar a Bíblia em uma mão e o jornal na outra, no intuito de mostrar fidelidade ao exercício da missão. Para isso, o presente texto procura fazer um estudo panorâmico das origens e dos desafios desse novo mundo que se apresentam para a igreja na entrada do Terceiro Milênio, e que se constituem em verdadeiras oportunidades para a atuação eficaz e relevante de uma verdadeira proposta de missão cristã baseada nos fundamentos bíblicos-teológicos da Palavra de Deus. Expressa também o desejo de se dar uma contribuição à reflexão teológica-filosófica mais profunda que leve em consideração os mais variados aspectos da transição do mundo moderno para o mundo pós-moderno, e que, consequentemente a isso, desafiam a igreja a ser mais “perfeita” em sua atuação como agência do Reino de Deus. Além disso, um outro objetivo do texto, é o de poder servir como uma ferramenta para a comunidade evangélica que se interessa pelo seu próprio desempenho no mundo; isto porque traz uma série de informações sobre as perspectivas, tanto positivas quanto negativas, que o Terceiro Milênio apresenta e que exigem da igreja uma postura firme e ousada. Conhecer as realidades bem como as necessidades do mundo em todos os seus aspectos (espiritual, político, social, filosófico, sociológico, etc.) faz-se necessário para todos aqueles que desejam conduzir a Igreja de Jesus rumo ao exercício de sua missão. A necessidade dessa atuação tem por razão fundamental o cumprimento da Grande Comissão dada por Jesus à ela e que, portanto, deve ser 10 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br cumprida com todo afinco. Partindo-se dessa compreensão do mundo é que se poderá propor os caminhos necessários para responder aos mais diversos desafios desse novo contexto da vida humana, a fim de que se possa dar uma resposta mais satisfatória à essência da pregação de um evangelho íntegro e integral. A partir deste texto se poderá compreender que a ineficácia da igreja em sua influência no mundo se dá por meio da sua falta de posicionamento correto diante dos problemas sócio-político-econômicos do presente momento. A necessidade de tal posicionamento se origina na Palavra de Deus e intensifica, de maneira prática a relevância da mensagem. Deste modo, entende-se que a falta de uma práxis correta dos conceitos e das teorias da mensagem sempre caracterizarão um quadro de irrelevância e ineficácia para a vida da igreja. Assim, munida de um conhecimento básico de seu próprio contexto, a igreja poderá exercer o seu ministério vendo-se como o “Melhor Projeto de Deus” para a restauração de um mundo que caminha num processo crescente de apostasia e afastamento das verdades bíblicas. Porém, esse ministério deverá possuir sempre um caráter de eficácia e relevância na aplicabilidade dos princípios e dos valores eternos do Reino de Deus. 11 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Capítulo 1: Desafios do Terceiro Milênio É impossível falar sobre os desafios e as expectativas que surgem na entrada do Terceiro Milênio sem antes conhecer, mesmo que de modo panorâmico, o pano de fundo que permeia o mesmo. Compreender o mundo contemporâneo, bem como as tendências que ele apresenta, sempre será uma necessidade para toda e qualquer pessoa que deseja dar uma contribuição pessoal ao momento histórico no qual esteja inserida. No caso da Igreja, é evidente que a sua contribuição vai muito mais além do que meras ações de desencargo de consciência. Seu compromisso, enquanto agência do Reino de Deus na terra, visa exercer um papel fundamental de ser Sal e Luz num mundo em constante transformação que anda perdido em trevas e pecados. Para tanto, a necessidade de se compreender a realidade do mundo contemporâneo é tarefa premente que exige perspicuidade e muito tato. Partindo-se dessa premissa, pode-se averiguar que o novo contexto que surge na aurora do Terceiro Milênio, possui algumas características distintivas que dão um realce maior à esse novo momento vivido pela humanidade. Compreende-los é a tarefa número um da Igreja, pois, somente conhecendo o “terreno” onde se pisa, é que se poderá tomar ações e posturas que sejam compatíveis com a realidade do mesmo. Como primeiro passo, torna-se necessário entender o processo de transição do mundo moderno para o mundo pós-moderno vivido pela humanidade atualmente, e como que essa transição tem transformado e influenciado grandemente a experiência humana. Além disso, se a proposta 12 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br de se conhecer o mundo contemporâneo em seus aspectos pós-modernos é de fundamental importância para a Igreja de Jesus, torna-se evidente também que o aspecto religioso, que está inserido nesse processo, possui um peso todo especial. Logo, compreender a religiosidade contemporânea, constitui-se também numa tarefa por demais necessária e desafiadora. Somente com uma visão clara, compreensível e bem fundamentada do mundo em todos os seus aspectos, é que se poderá propor caminhos para uma igreja que deseja ser relevante para o momento contemporâneo. Assim, com esse pensamento em mente, torna-se possível lançar mãos à uma análise, mesmo que panorâmica, do novo contexto já vivido pela humanidade em termos transicionais, mas que sinalizam, ao mesmo tempo, os caminhos a serem trilhados pela sociedade no novo milênio que se inaugura. 1.1 Do Contexto Moderno ao Contexto Pós-Moderno O mundo contemporâneo é totalmente diferente do que era a cerca de cem anos atrás. Isso parece muito óbvio, visto que a própria realidade das pessoas em todas as áreas de suas vidas já não são mais as mesmas. Entretanto, quando se afirma que o mundo já não é mais o mesmo, o enfoque que se dá a essa afirmação não deve se restringir apenas aos “aspectos externos” pelos quais se pode detectar essas mudanças, mas deve se estender também aos “aspectos internos” que se constituem em pano de fundo para as transformações filosóficas, sociais, culturais, políticas, 13 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br religiosas e econômicas que mudaram o mundo e que deram à ele uma cara diferente da que tinha a cerca de cem anos. O mundo que se nos apresenta é o mundo do contexto Pós-Moderno; “o mundo que superou os absolutos levantados pela razão na era da Modernidade e que não foram capazes o suficiente para perpetuar o seu discurso”.1 O mundo do Terceiro Milênio é o mundo que questiona frontalmente os princípios erigidos pela Modernidade a partir do século XVI e que começaram a ruir no alvorecer do século XX. Esse desmoronamento dos pilares da modernidade, originados a partir dos argumentos filosóficos de Friedrich Nietzsche, tem causado transformações as mais diversas no mundo que até pouco tempo atrás considerava-se firmado e estabelecido. “Essas transformações diversas marcam a travessia da era moderna para a era pós-moderna”.2 Assim, este novo estado de coisas requer da igreja uma compreensão e posicionamentos corretos, a fim de que a mesma possa manter-se viva, eficaz e relevante num mundo em constante transformação. A transição da era moderna para a era pós-moderna coloca um sério desafio à igreja e à sua missão no contexto de sua nova geração. Confrontados por esse novo estado de coisas, não podemos cair na armadilha do desejo nostálgico pelo retorno daquela modernidade primitiva que deu luz ao movimento evangélico, pois não somos chamados a ministrar a um época remota, mas aos dias de hoje, cujo 3 contexto acha-se sob a influência da pós-modernidade. 1 AMORESE, Rubem Martim. Icabode: da Mente de Cristo à Consciência Moderna, p. 53 GRENZ, Stanley. Pós-Modernismo: Guia Para Entender a Filosofia Desse Tempo, p.16 3 Ibid., p. 28 2 14 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br O mundo do Terceiro Milênio portanto, é o mundo da Pós-Modernidade; ou seja, o mundo que está sendo marcado pelas sucessivas transformações filosóficas, sociais, culturais, políticas, econômicas e religiosas, nas quais a sociedade tem sofrido um grande impacto nas últimas décadas. “PósModernidade é o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1900, quando, por convenção, se encerra o modernismo”.4 Datar o inicio de seu surgimento é tarefa por demais difícil, e são raros os estudiosos que se lançam a propor uma data específica para o surgimento da mesma. Porém, alguns fatores que passaram a fazer parte da vida da humanidade nas últimas décadas, servem como referenciais de origem para explicar o seu surgimento e o seu subsequente desenvolvimento. Dentre as suas diversas características, a que pode ser colocada em maior evidência é a “ruptura com às suposições do passado".5 O pósmodernismo rompeu de vez com os grandes absolutos levantados e de certa forma perpetuados pela modernidade. Enquanto o modernismo rejeitou toda a absolutização religiosa da Idade Média, o novo contexto pós-moderno se levanta com uma forte resistência e rejeição para com os grandes pilares levantados pelo contexto que o precedera. Pilares como o da “cosmovisão única e universal que dá explicações unificadas, abrangentes e universalmente válidas”6 de se entender o mundo. No contexto pós-moderno já não há mais espaço para os absolutos; tudo é trazido ao pé da relatividade, ou melhor, do relativismo: 4 GONDIM, Ricardo. Fim de Milênio: Os Perigos e Desafios da Pós-Modernidade, p. 19 GRENZ, Stanley. Pós-Modernismo: Guia Para Entender a Filosofia Desse Tempo, p. 36 6 Ibid., p. 30 5 15 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Essas características apontam para o fato de que num certo sentido importante, o espirito pós-moderno não tem um centro de referência. Não há um foco definido que faça a união dos elementos diversos e divergentes da sociedade pós-moderna num todo único. Não há mais padrões comuns a que as pessoas possam apelar em seus esforços para medir, julgar, ou valorizar idéias, opiniões ou opções de estilo de vida. Acabaram-se também as antigas lealdades a uma fonte única de autoridade e a um centro respeitado de poder legítimo a que todos 7 podiam recorrer. Enquanto que para a sociedade moderna o progresso humano era tido como o caminho inevitável para a realização do homem, o contexto pósmoderno vê com “total desencanto” as perspectivas apontadas pela ciência, pois, ao mesmo tempo em que ela se apresenta como solução para os problemas humanos, demonstra também o seu lado negativo em destruir o ecossistema. Com isso, o convencimento de que a vida humana é frágil dá à sociedade contemporânea a sensação de insegurança e temor. Nesse sentido, o que se pode ver é uma verdadeira tensão entre modernidade e pós-modernidade. A modernidade crê em determínio, a pós, em indetermínio. Assim, a modernidade enfatiza propósito e desígnio, a pós-modernidade enfatiza a chance e o acaso. A modernidade estabelece uma hierarquia; a pós cultiva a anarquia. A modernidade valoriza tipos, a pós o mutantismo. A modernidade busca o logos, que oferece o substrato do universo expresso na linguagem, a pós abraça o silêncio 8 e rejeita sentido e palavra. 7 8 Stanley Grenz. op. cit., p.40 GONDIM, Ricardo. Fim de Milênio: Os Perigos e Desafios da Pós-Modernidade, p. 22 16 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Esse temor e insegurança acabam por gerar um “forte sentimento de pessimismo”9 quanto ao futuro da humanidade, lançando a mesma ao desespero e à frustração. Tal sentimento se estende também ao campo da religião dando uma perspectiva de que ou “Deus está morto ou 10 enlouquecido”. então Assim, enquanto que na Idade Média e na Modernidade o homem encontrava a estabilidade, na Pós-Modernidade a instabilidade permeia todas as áreas da vida humana. O desenvolvimento tecnológico do século XX também foi um fator preponderante para a consolidação da perspectiva pós-moderna. “Determinados desenvolvimentos tecnológicos facilitaram a penetração do pós-modernismo nas mais influentes dimensões da cultura popular”.11 Com a automatização dos meios de produção e a crescente onda da informação propiciada pelo advento do computador, o mundo contemporâneo passou a ser considerado como uma grande aldeia global. Assim, uma das marcas desse novo contexto, é “a globalização do mundo contemporâneo interligando pessoas e países outrora distantes uns dos outros, mas que, por apenas um segundo de distancia estão próximas e mantém relações entre si”.12 Esse novo estado de coisas, portanto, propõem um novo estilo de vida para a sociedade: O pós-modernismo assume formas diversas. Ele aparece personificado em certas atitudes e expressões que tocam o dia a dia de inúmeras pessoas da sociedade contemporânea. Tais expressões vão da moda à televisão e compreendem aspectos penetrantes da cultura popular, como por exemplo a música e o cinema. O pós- 9 Ibid., p. 25 Ibid., p. 20 11 GRENZ, Stanley. Pós-Modernismo: Guia Para Entender a Filosofia Desse Tempo, p. 57 12 SCHUMANN, Harald. A Armadilha da Globalização, p. 37 10 17 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br modernismo está também encarnado numa variedade de expressões 13 culturais que incluem a arquitetura, a arte e a literatura. Não se pode deixar de compreender também que o atual contexto desenvolveu-se de modo rápido e progressivo através do consumismo capitalista que, propagando a oferta dos bens de consumo, formou um novo conceito de realização pessoal baseada na mercantilização da vida (tanto na economia, como na religião, na cultura, na política, etc.). Nesse novo estilo econômico, para se ser feliz e realizado, é necessário consumir; assim, o bem-estar do ser humano passou a ser a regra que deve ser seguida em todas as áreas da vida. “O pós-modernismo surgiu como um dominante cultural em sociedades capitalistas de riquezas sem precedentes e com índices bastantes elevados de consumo”.14 Nessa sociedade hedonista, onde o que vale é o bem estar do homem, rebaixa-se todo e qualquer padrão éticomoral, pois o que importa na realidade é consumir o que o mercado tem a oferecer não importando o “preço” que tenha que ser pago. Desse modo, “o pós-modernismo é corretamente relacionado com um sociedade em que os estilos de vida do consumidor e o consumo de massa dominam a vida dos seus membros”.15 “Este estado de coisas tem dado origem a uma perspectiva irracional do mundo”.16 As coisas se mantém desconexas e sem sentido, apontando para a realidade de uma superficialidade nas relações interpessoais e também no que diz respeito à relação entre o divino e o humano. No que diz respeito à 13 GRENZ, Stanley. Pós-Modernismo: Guia Para Entender a Filosofia Desse Tempo, p. 66 ANDERSON, Perry. As Origens da Pós-Modernidade, p. 139 15 LYON, David. Pós-Modernidade, p. 87 16 AZEVEDO, Israel B. O Olhar da Incerteza: Crítica da Cultura Contemporânea, p. 27 14 18 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br religião, “vê-se um esvaziamento cada vez maior da religião formal, mas, ao mesmo tempo, uma crescente sede de espiritualidade”17 gerando toda a sorte de caminhos para saciar a alma humana (o esoterismo é um exemplo disso). Assim, o mundo contemporâneo é o mundo da secularização que influencia “sucessivos setores da sociedade e da cultura a se libertarem da influência decisiva das idéias e instituições religiosas, aceitando-se como plausível aquilo que é racional".18 É também o mundo da privatização que “produz uma separação entre a esfera pública e a privada, e se centra na esfera privada como área especial para a expressão da liberdade e da realização do indivíduo”.19 Tudo isso acaba gerando também um contexto de pluralização "na qual não há nenhum padrão oficialmente aprovado de crença ou conduta e onde o número de opções na esfera privada da sociedade moderna se multiplica em todos os níveis, especialmente no nível das visões de mundo, fés e ideologias”.20 Nesta nova sociedade moderna o conceito de comunidade desaparece e o resultado é a superficialidade nas relações interpessoais. O foco central do sagrado se perde resultando na criação na criação de novos valores que produzem uma sociedade totalmente distante de um absoluto maior. Como conseqüência vê-se uma sociedade imediatista, desesperada, desolada e só. A velocidade e a imprevisibilidade das mudanças que ocorrem no mundo geram tremenda desconfiança nas pessoas. O indivíduo desta nova sociedade vive agora sobre os seus impulsos, ele deixa de lado 21 a reflexão e a avaliação das coisas. 17 GONDIM, Ricardo. Fim de Milênio: Os Perigos e Desafios da Pós-Modernidade, p. 30 WESLEY, Ricardo. Entendendo o Tempo Presente, p. 13 19 Ibid., p. 15 20 Ibid., p. 05 21 AMORESE, Rubem Martim. Icabode: Da Mente de Cristo à Consciência Moderna, p. 43 18 19 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Tudo isso demonstra as características desse quadro pós-moderno que retrata o estilo de vida da sociedade contemporânea, mas que ao mesmo tempo apresenta os caminhos a serem trilhados por ela mesma. Dentre esses caminhos, vê-se que a proposta religiosa do Terceiro Milênio é uma proposta totalmente comprometida com os valores pós-modernos que desfiguram e descaracterizam os princípios fundamentais da fé cristã. Compreendê-los, é tarefa de fundamental importância para se continuar a pregar o evangelho em toda a sua inteireza e integridade. 1.2 A Religiosidade Pós-Moderna Como vimos anteriormente, o mundo do século XXI é o mundo do contexto pós-moderno. Este vem se desenvolvendo rapidamente nas últimas décadas e toma corpo cada vez maior em sua consolidação. Assim como aconteceu com as grandes transformações vividas pela humanidade em séculos passados, hoje, o homem pós-moderno passa a ver em sua vida a forte influência que esse novo contexto impregna sobre as mais diversas áreas de sua existência; dentre essas áreas destaca-se a religiosa. “A religiosidade do mundo pós-moderno traz em si mesma uma série de mudanças e transformações que até então eram tidas como que impossíveis”22, visto a forte consolidação dos absolutos da época da Idade Média e que se estenderam também pela época da Modernidade. Mas, como já fora analisado anteriormente, o mundo pós-moderno é o mundo da rejeição dos absolutos. Assim, para se compreender esse novo contexto religioso, que 22 PENZO, Giorgio. org. & GIBELLINI, Rosino. Deus na Filosofia do Século XX, p. 693 20 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br influencia em grande medida a vida da igreja, é necessário compreender também como que os fatores da secularização, da pluralização e da privatização influenciaram em grande medida a expressão de fé das pessoas. Ou seja, o tipo de religiosidade que se vê crescer rapidamente, e em especial no mundo ocidental que é alavancada pelo “crescente processo de globalização econômica e cultural”23, é a religiosidade relativista, um tipo de religiosidade que rejeita os absolutos erigidos pela fé cristã e que pelo fato de haverem tantas opções a escolher (pluralização religiosa), cria um emaranhado de confusões e distorções que rejeitam todo e qualquer referencial como centro ou ponto de partida. No pluralismo da pós-modernidade, as igrejas não são mais toleradas no exercício das funções religiosas de antigamente. Os indivíduos não conseguem expressar sua fé com a mesma facilidade. A sociedade plural vem paulatinamente se mostrando restritiva. Ao mesmo tempo que ela afirma a liberdade daqueles que desejam impor seus ideais e pensamentos nos outros. Nessa perda de espaço, tanto a fé institucionalizada como os crentes, devem se adaptar para sobreviverem num ambiente plural... As pressões da modernidade, principalmente da pluralização, na igreja como instituição, e nos crentes, são distintas: 1) a igreja perde o monopólio da cosmovisão; 2) gera na religião uma mentalidade de mercado; 3) o 24 crente em mundo plural fica condenado ao relativismo. Além disso, “a religiosidade contemporânea traz em si mesma a marca de um individualismo hedonista e egocêntrico”25 que pouco se importa com a manifestação de fé dos outros indivíduos. O que vale na verdade, é o bem estar religioso e espiritual da pessoa em particular, mesmo que isso signifique 23 CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado, p. 14 GONDIM, Ricardo. Fim de Milênio: Os Perigos e Desafios da Pós-Modernidade, p. 69 25 CASTIÑEIRA, Àngel. A Experiência de Deus na Pós-Modernidade, p. 79 24 21 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br baratear o valor dos pilares centrais da fé cristã. Assim, esse mundo religioso pluralista que aponta para uma série de caminhos desconexos e sem sentido, onde o que vale na verdade é satisfação dos instintos da pessoa, caracteriza o tipo de espiritualidade que vem sendo construída nos últimos anos. Essa espiritualidade dá cada vez mais sinais de uma “irracionalidade religiosa” que, lançando fora todo pressuposto coerente de uma construção sólida de princípios de fé, mais se preocupa com a satisfação dos aspectos emocionais e inconstantes da pessoa humana. “O fato é que a razão entrou em crise nesse fim de século e de milênio. O subjetivo e o místico aparecem com força, mesmo na esfera científica”.26 Em outras palavras, uma das grandes marcas desse novo contexto religioso é a rejeição do aspecto lógico e inteligente da fé, para uma religiosidade ilógica, irracional e sem sentido. Daí se explica todo o crescente desenvolvimento místico em todas as religiões, e em especial no cristianismo, que passa a adotar princípios orientalizados de uma religiosidade intimista e individualista. O advento dessas novas opções de misticismo e religiosidade, originada com a pós-modernidade, acabou por beneficiar também os novos movimentos religiosos de origem cristã, entre eles os movimentos carismático na Igreja Católica e o neopentecostalismo 27 protestante. Acompanhada desse crescente misticismo da fé que comprova a tese de que “quanto mais secular e tecnológica é uma sociedade, mais mística é”28, o sincretismo religioso procura unir “tudo de bom” que há nas diversas religiões 26 WESLEY, Ricardo. Entendendo o Tempo Presente, p. 15 CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado, p. 47 28 AZEVEDO, Israel B. O Olhar da Incerteza: Crítica da Cultura Contemporânea, p. 51 27 22 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br do mundo, tão somente se preocupando com o bem-estar do ser humano. Daí a velha máxima da humanidade de que “todos os caminhos conduzem à Deus”. Esse caráter sincrético e místico da religiosidade pós-moderna invade o cotidiano das pessoas e constrói ao mesmo tempo um irracionalismo religioso bestial. O emprego do conceito de pós-modernidade pressupõe uma perspectiva de descontinuidade e de rompimento das fronteiras anteriormente delimitadas. Assim, o ser humano estaria vivendo um processo social de atomização, tornando-se mais individualista, desprovido de historicidade, voltando-se para si mesmo, na busca de referenciais para o viver diário; nesse contexto, valoriza-se o lúdico e 29 enfatiza-se o irracionalismo. Porém, uma outra esfera do mundo pós-moderno molda cada vez mais a religiosidade contemporânea. É a “síndrome da hegemonia de mercado” sobre todos os setores da vida. Como fora apontado anteriormente, a influência do consumismo em todos os setores da vida vem mudando grandemente a maneira de viver das pessoas. “A religiosidade passa a possuir um caráter relativista e sincrético. Como um produto para consumo, essa espiritualidade pós-moderna se torna instável, transitória, superficial e limitada à esfera privada”.30 E no que diz respeito à fé, vê-se nitidamente um estilo de religiosidade marcada pela pluralidade de escolhas que o indivíduo pode fazer. Esse consumismo religioso somente se preocupa com os aspectos periféricos das bençãos advindas do cristianismo, dando uma imagem de que Deus não passa de um “mero mordomo” que é solicitado a atender às reivindicações daqueles que nele crêem. “O cristianismo em grande parte sucumbiu ao consumismo, como uma busca de passatempo da 29 30 CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado, p. 46 WESLEY, Ricardo. Entendendo o Tempo Presente, p. 21 23 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br minoria; a escolha do consumidor pode se infiltrar na vida religiosa e na vida da Igreja”.31 O resultado desse tipo de religiosidade é a crescente mercantilização dos “produtos da fé”. “A religiosidade contemporânea opera com a lógica e a razão instrumental, procedimentos próprios da prática neoliberal, cuja ideologia procura apresentar estruturalmente interligado”. 32 o mundo como um mercado global, Acompanhada à essa mercantilização está também a marketização dos “produtos sagrados” que dão uma conotação negativa desse “grande mercado” que é o mercado religioso. “O marketing se tornou nesse contexto, mais do que uma necessária ferramenta de trabalho, se tornou a incorporação de um modo de vida, uma reinterpretação das relações entre religião e sociedade”.33 Tudo isso acaba influenciando em grande medida a própria expressão de fé dos cristãos que, levados por essa constante mercantilização espiritual, passam a ver em Deus “apenas” o alívio imediato para as suas necessidades. Assim, esse tipo de religiosidade faz do cristianismo evangélico um empreendimento religioso empresarial paradigmático, que se desassocia de todo e qualquer fundamento bíblico de um discipulado marcado pelo compromisso e pela abnegação total à Cristo. A “mercantilização do sagrado” como estigma lançado a diversas práticas religiosas é uma incoerência do sistema capitalista porque, se tudo nele é negócio e mercadoria, por qual motivo a religião deveria estar fora deste mercado? Afinal de contas uma sociedade que mercantiliza o sexo, a inteligência, os sentimentos humanos mais 31 LYON, David. Pós-Modernidade, p. 95 CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado, p. 25 33 Ibid., p. 471 32 24 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br íntimos, por que resiste tanto à idéia de se considerarem os 34 fenômenos religiosos bens comerciálizaveis? E é a partir daí que podemos compreender a espiritualidade do mundo evangélico brasileiro fortemente marcado pelo movimento neopentecostal, que se coloca como uma reação inútil diante de uma irreversível tendência universal à secularização e irreligiosidade. Esse tipo de manifestação religiosa não passa de um simples produto fabricado nas recâmaras do contexto pós-moderno. Pode-se, portanto, detectar as principais características das transformações da cultura religiosa desse contexto pós-moderno: 1) Valorização da energia e da potencialidade do homem individual, interligado com as forças vivas do cosmo e do universo. 2) Globalização do sentimento religioso, com predomínio dos padrões universais sobre os particulares. 3) Localização do transcendente dentro das pessoas, com o retorno da idéia de que o sagrado não pode ser atingido exclusivamente por meio das mediações religiosas tradicionais, mas também através de formas extrasensoriais e de recursos como meditação, concentração, exercícios físicos, pirâmides e outros. 34 Leonildo Silveira Campos. op. cit., p. 177 25 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br 4) Rompimento do monopólio ocidental e cristão sobre as expressões religiosas, trazendo profundas implicações inclusive para o ecumenismo.35 E é esse tipo de religiosidade que vem influenciando grandemente a espiritualidade da Igreja de Jesus Cristo atualmente. “Muitas igrejas da pós-modernidade não tem conseguido alterar essa realidade” 36 e tem se entregado à este tipo de espiritualidade rasa e vazia. É preciso manter viva a essência da Igreja de Cristo neste mundo contemporâneo. Para tanto, a igreja deve se posicionar nesse contexto e não permitir que os fundamentos de sua essência venham ser distorcidos pelos valores da pós-modernidade. Ela deve, acima de tudo, ser a Igreja de Deus para o momento no qual está inserida. 1.3 Uma Igreja Para Este Tempo A Igreja de Jesus Cristo é a agência de propagação do Reino de Deus neste mundo. Como tal, ela possui um caráter de eternidade que começa aqui nesta terra e se estende pelos séculos. Assim, fica claro que em qualquer momento da história da humanidade a igreja sempre estará presente com o objetivo de ser e de cumprir com aquilo para o que foi designada. Logo, compete a ela ser uma igreja relevante e eficaz para qualquer momento da 35 36 Leonildo Silveira Campos. op. cit., p. 147 GONDIM, Ricardo. Fim de Milênio: Os Perigos e Desafios da Pós-Modernidade, p. 53 26 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br história humana, e muito mais ainda nesse novo milênio pós-moderno que se desponta. Para alcançar as pessoas do novo contexto pós-moderno, devemosnos lançar à tarefa de decifrar as implicações do pós-modernismo para o evangelho. Imbuídos da visão de Deus para o mundo, devemos reivindicar o novo contexto pós-moderno para Cristo, assumindo a fé cristã segundo os critérios compreensíveis para a nova geração. Sob o pendão da cruz, temos de estar “corajosamente 37 indo aonde nenhum homem jamais esteve”. Ser uma igreja para este tempo implica conhecer de modo absoluto e total o contexto contemporâneo e inserir-se nele com o objetivo de mostrar a relevância e a eficácia de um agente do Reino de Deus na terra. “A relevância da igreja será vista se ela tiver um programa para ser percebido nesse contexto. Seu discurso necessita de peso e poder de convencimento”.38 Partindo-se dessa perspectiva, pode-se constatar que uma igreja que deseja cumprir e ser aquilo que o seu Mestre designou que ela seja, precisa se contextualizar com o mundo contemporâneo. Uma igreja que deixa de se posicionar de modo relevante num mundo em constante transformação deixa de atingir o seu propósito primário. Assim, a contextualização é a chave para esse posicionamento. Por meio dela, podese compreender quais os fatores de identificação no âmbito social, cultural, político e econômico que a Igreja deve agir a fim de dar os passos necessários para a sua atuação. Comportar-se como uma organização desvinculada das realidades que a circundam, é declarar estado de falência e de total incompetência. Foi Jesus mesmo quem disse que a “igreja está no 37 38 GRENZ, Stanley. Pós-Modernismo: Guia Para Entender a Filosofia Desse Tempo, p. 28 RODRIGUES, Washington. A Igreja Para o Mundo de Hoje, p. 15 27 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br mundo, mas não é do mundo”, ou seja, como parte do Reino de Deus a sua função se destina em inaugurar e refletir as características que Deus deseja nesse processo de consolidação de seu eterno propósito de restauração de todas as coisas. Por isso, “é necessário visualizar os horizontes que se apresentam à igreja atual, tornando-a relevante, necessária e desejada para o mundo contemporânea”.39 A contextualização da mensagem do evangelho, associada à contextualização de missão da igreja, demonstrará a sua eficácia e relevância em ser o baluarte de Deus no mundo atual. Jamais se poderá exigir uma relevância em todos os níveis (espirituais, materiais e físicos) se não houver uma correta compreensão do papel e da missão da igreja em intima relação com as necessidades e demandas do mundo contemporâneo. Assim, decifrar as implicações do mundo pós-moderno que cada vez mais se transforma, será sempre a melhor estratégia a ser tomada pela igreja a fim de remar em direção da concretização dos propósitos de Deus. Isso tudo constitui-se em desafios que precisam ser encarados de frente a fim de que, uma vez alcançando os mesmos, possa se ver as vitórias do Reino de Deus na implantação de seus valores no mundo, trazendo assim a concretização dos supremos propósitos de Deus para a história da humanidade. A igreja tem um compromisso sério com a Palavra e a Verdade de Deus. É seu compromisso manter sempre em evidência os absolutos do Reino que são eternos e que precisam ser manifestados neste mundo. A Palavra é o alicerce para toda e qualquer passo que a igreja deseje tomar a fim de se 39 Washington Rodrigues. op. cit., p. 03 28 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br manter firme e fiel ao seu chamado. Desse modo, uma vez consolidada na Palavra, a igreja poderá demonstrar a sua atuação por meio de uma “encarnação séria do evangelho que se identifica com o mundo e que ao mesmo tempo procura influenciá-lo por meio de um discipulado vivo e ativo”.40 Identificar-se com o espirito desse mundo é negar e rejeitar a sua própria identidade e propósito, ou seja, é rejeitar o seu papel fundamental de ser a aliviadora das cargas humanas em prol de objetivos obscuros. Jamais se poderá ser agência do Reino de Deus para o mundo contemporâneo se não houver uma rejeição aos padrões anti-bíblicos promovidos pelo contexto pósmoderno, mas que também, ao mesmo tempo, servem de portas de entrada para um posicionamento eficaz por parte da Igreja. Portanto, como desafio primário para a igreja, está o alvo de ser aquilo que Deus deseja que ela seja – O Seu Povo Na Terra. Consequentemente à isso, estará o desafio de se expressar uma verdadeira espiritualidade condizente com os princípios bíblicos. Para tanto, a igreja necessitará rejeitar a mentalidade mercadológica influenciada pelo consumismo do mundo capitalista, que rebaixa e barateia o caráter santo do evangelho e que não dá ao mundo a esperança da redenção. Além disso, é de fundamental importância propor caminhos que sirvam de inspiração e desafio para a igreja a fim de que ela sempre mantenha o seu caráter eterno de agente do Reino de Deus na terra: 1) sendo organismo antes de ser uma instituição; 2) oferecendo uma segurança comunitária e sem prejuízo da liberdade individual; 3) oferecendo um espaço plural dentro das fronteiras da doutrina dos apóstolos; 4) produzindo nos crentes convicções pessoais e solidamente estabelecidas nas Escrituras; 5) reavivando a busca da verdade 40 GONDIM, Ricardo. Fim de Milênio: Os Perigos e Desafios da Pós-Modernidade, p. 57 29 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br espiritual; 6) desenvolvendo uma espiritualidade profunda, mas em 41 contato com a realidade. A igreja precisa estar presente no contexto de sua contemporâneidade, para isso ela tem que ser conhecida como amiga de pecadores enquanto odeia o pecado. Precisa ser conhecida como aliviadora das cargas humanas e não como sobrecarregadora de infelicidades humanas. Precisa ser vista como a comunidade que vive Deus de maneira maior que a religião. Terá sempre que “saber que a melhor imagem que ela tem vem de dentro dela, do coração. Quando isso acontece, ela cala a boca dos ignorantes e força os homens a olharem perplexos para o céu a fim de glorificarem a nosso Pai que está nos céus”.42 A mensagem e a missão cristãs correm o risco de sucumbirem e se conformarem com este mundo e com o espirito desse século. Podem querer se defender usando as próprias ferramentas e mentalidade dessa época, procurando apresentar Jesus como um produto, com estratégias de “marketing” voltadas para a satisfação total do consumidor. “Mas, essa ênfase apenas nas bençãos, nos benefícios, em tudo que se recebe e se alcança para si mesmo é um sintoma da mentalidade mercadológica”43 influenciando e deturpando a mensagem e a missão. Para que isso não aconteça, a igreja precisará manter intacta os fundamentos elementares e eternos de sua essência e de sua missão dadas pelo Senhor. Precisará se ver como o Projeto Ideal de Deus para toda e 41 Ricardo Gondim. op. cit., p. 80 D’ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Igreja: Crescimento Integral, p. 138 43 WESLEY, Ricardo. Entendendo o Tempo Presente, p. 16 42 30 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br qualquer realidade da vida humana e que se faz presente num momento tão especial da humanidade como o é esse momento de transição para o Terceiro Milênio. 31 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Capítulo 2: A Igreja como Projeto de Deus Após analisar as características do mundo contemporâneo e a necessidade de que a Igreja de Jesus conheça a realidade existente ao seu redor e na qual se insere a fim de poder atuar de modo relevante e eficaz, surge a necessidade de se fundamentar corretamente essa atuação a partir de uma perspectiva sólida de Missão Integral que esteja fundamentada e consolidada nos parâmetros e diretrizes das Escrituras Sagradas. A Igreja de Cristo, por ser o povo e o agente do Reino de Deus no mundo, possui um caráter de transformação de realidades. Como o Corpo de Cristo, sua existência se origina a partir da inauguração da era da graça, por meio do Espirito Santo, e se estende pelos séculos dos séculos na consumação do propósito e do estabelecimento do Reino de Deus. E é devido à este seu caráter de eternidade que se pode afirmar que enquanto houver história humana, a Igreja de Cristo ali também estará presente a fim de cumprir o propósito para o qual ela foi designada. Se o cumprimento desse propósito será eficaz, isso dependerá em muito da concepção de missão que a igreja tiver, seja em qualquer época e em qualquer situação que a mesmo venha a viver. Por isso, a necessidade de se compreender as dimensões de uma Missão Integral por parte da igreja é de extrema necessidade para o cumprimento cabal do propósito de Deus num mundo em constante transformação. Essa compreensão, além de ser fundamental, aponta os caminhos a serem tomados pelo povo de Deus a fim de agir de modo que o seu Senhor se agrade. 32 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Neste sentido, torna-se evidente que todos os projetos e realizações humanas, por terem um caráter temporal, são em si mesmos momentâneos e não possuem um caráter de eternidade. Deste modo, tais projetos e realizações necessitam ser tocados por projetos que possuam uma dimensão atemporal e até mesmo transcendente que, ao adentrarem na esfera de atuação humana, demonstrem de modo eficaz o supremo propósito eterno de Deus. Assim, portanto, a Missão Integral da Igreja possui essas característica que são fundamentais para a vida e a missão desse agente do Reino de Deus na terra. Tais características se apóiam e se fundamentam solidamente na eterna Palavra de Deus, e são estas mesmas características que necessitam ser compreendidas em toda a sua inteireza para que possam ser aplicados em todo a sua eficácia. É com base nisso que se pode afirmar que a Igreja será sempre o Projeto de Deus para viabilizar a consolidação de Seus propósitos no mundo. Como o agente de promoção do Reino, ela tem como incumbência restaurar, por meio da proclamação eficaz do evangelho, a humanidade e o ser humano em todas as dimensões e áreas de sua existência. 2.1 A Prática de uma Missão Integral A Igreja é o agente do Reino de Deus no mundo. É por meio dela que se deve expressar de modo pleno a nova vida no Reino. “Ela é uma comunidade escatológica; a sua origem está baseada em forças supra-históricas que 33 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br transcendem todos os empreendimentos humanos”.44 Muito mais do que uma mera organização humana, a Igreja de Cristo possui um caráter de eternidade que se origina e se perpetua Nele. Compreender corretamente o seu significado e papel, enquanto agência do Reino de Deus, será sempre de fundamental importância para se iniciar toda e qualquer práxis holística de uma missão cristã. Este processo de entendimento e compreensão da natureza e missão da igreja, há de conduzi-la ao exercício de uma ação que se inicia na atividade de se “repensar teologicamente sua identidade e tarefa missionárias à luz da Bíblia em referência ao seu contexto específico e atual”.45 Somente por meio de um posicionamento contextualizado é que se poderá exercer a prática de uma Missão Integral. Este termo, missão integral, “demonstra pelo menos o objetivo mais explícito de se ressaltar as diversas dimensões, na Palavra de Deus, da identidade e tarefa missionárias da igreja”.46 Tais tarefas se apresentam na base da necessidade de se exercitar “um tipo de missão que contemple o homem em todas as áreas de sua vida”47, e que proponham para ele o caminho da restauração e redenção por meio do evangelho. Logo, evangelizar constitui-se na "ação de chamar as pessoas a se entregarem a Cristo para o perdão dos seus pecados – e para se incorporarem com Ele no projeto divino de ser benção às nações”.48 Em outras palavras, a obra da evangelização deverá estar sempre associada ao 44 STEUERNAGEL, Valdir R., org. A Missão da Igreja, p.94 CARRIKER, Timóteo. Missão Integral, p. 5 46 Ibid., p. 11 47 PADILHA, René. Missão Integral, p. 23 48 STEUERNAGEL, Valdir R., org. A Missão da Igreja, p.26 45 34 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br objetivo de reconciliar o homem com Deus, mas também em o comissionar para o exercício dessa missão restauradora. E é por meio dessa atuação que “a sobrevivência e o dinamismo do povo de Deus fundamentalmente a fim de exercer a sua vocação missionária”. dependerá 49 Porém, toda ação evangelizadora por parte da igreja dependerá também de sua base teológica e doutrinária. Sem uma fundamentação sólida para a prática dessa missão não se poderá haver êxito. Desse modo, “é mister que o povo de Deus sempre volte à Bíblia para reexaminar as bases da sua identidade e vocação missionárias a fim de melhor realizar seu ministério dentro do sue contexto específico e atual”.50 Este é, portanto, o papel a ser desenvolvido pela igreja enquanto agência de promoção do Reino de Deus na terra. Ela “é muito mais do que uma mera organização religiosa. Ela é a Assembléia ou a Reunião de Deus, o Corpo de Cristo...e isso revela o seu significado”.51 Ela possui características fundamentais que a distinguem de toda e qualquer organização humana, e tem em Cristo o seu controle e comando geral. Como o Seu Corpo no mundo, a sua existência está intrinsecamente relacionada com a Missão que Cristo veio inaugurar entre os homens – a reconciliação e restauração deles com Deus. “Esta missão visa restaurar o homem em um correto relacionamento com o Seu Criador”.52 Para isso, ela procura ministrar sobre todas as realidades da vida do ser humano, desde o seu aspecto físico, espiritual e social. Assim, 49 CARRIKER, Timóteo. Missão Integral, p. 2 Timóteo Carriker. op. cit., p. 2 51 SHELLEY, Bruce. A Igreja: O Povo de Deus, p. 17 52 PADILHA, René. Missão Integral, p. 78 50 35 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br somente por meio de uma visão abrangente e compreensível da queda do homem, como também do plano redentor de Deus expresso em Jesus, se tornará possível exercer uma prática holística de missão que contemple o ser humano em todas as suas dimensões. O conceito de ‘missão integral’ tem se imposto nesta última década...como uma forma útil de expressar a consciência de que o evangelho tem, além da sua dimensão evangelística, uma inelutável 53 dimensão de responsabilidade social e humana. A missão de Cristo tinha como objetivo restaurar todas as coisas de volta ao comando de Deus. “A Palavra do Senhor nos indica por muitos meios que a salvação é parte de Seu plano global e nos incorpora dentro da Nova Criação e do Reino de Deus que Cristo veio trazer”.54 O caminho para essa restauração foi a morte e o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário a fim de destruir de uma vez para sempre o grande obstáculo que separa os homens de Deus – o pecado. Esta obra redentora e reconciliadora, tinha como objetivo principal restabelecer o homem ao estado original de sua relação com Deus em todas as dimensões de sua vida. Debaixo do Senhorio de Cristo, que subjugou todas as coisas ao seu comando, “a igreja segue com o objetivo de cumprir este propósito reconciliador no mundo”.55 Essa, portanto, é a sua missão. Assim, fica evidente que a sua influência deve ser grande o suficiente para causar impacto e transformações em todas as estruturas e esferas da vida humana. Seu compromisso em cumprir esse propósito de Deus, por meio de uma 53 STEUERNAGEL, Valdir R., org. A Missão da Igreja, p.51 Valdir R. Steuernagel, org. op. cit., p.22 55 VICEDOM, Georg. A Missão Como Obra de Deus, p.91 54 36 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br influência positiva dos valores do Reino, é o grande alvo a ser alcançado neste novo Milênio que se inicia. A missão não é somente a obediência a uma palavra do Senhor; não é apenas o compromisso de congregar a comunidade; ela é a participação na missão do Filho, na missio Dei, com o abrangente objetivo do estabelecimento do senhorio de Cristo sobre toda a 56 criação redimida. Sua influência não deve se restringir apenas ao âmbito religioso; fazer isso seria demonstrar uma faceta distorcida do propósito redentor de Deus para com o mundo. Esta influência deve se estender para todas as áreas da vida humana, demostrando de modo relevante e eficaz, como que as dimensões dos valores do Reino se inserem num mundo dominado pela hostes malignas e transforma tais realidades em aspectos positivos. Cabe portanto à igreja, sair de seu lugar de apatia para demostrar de modo ousado essa relevância tão esperada. O que se tem visto em sua atuação e influência ainda é muito pouco diante daquilo que ela pode fazer e daquilo que ela pode ser. Desse modo, a igreja deverá ter como alvo abençoar todas as nações com os valores do Reino de Deus. Negar isso, é declarar total falta de vínculo com o Senhor da Missão. “A função da igreja não é contemplativa e mística de ficar olhando para os céus, mas a de baixar os seus olhares para um mundo necessitado do amor de Deus e nele escrever o seu testemunho do evangelho”.57 Um testemunho que é expresso por meio do alívio espiritual oferecido aos oprimidos do diabo e do mundo, mas também um testemunho 56 57 Ibid., p. 15 STEUERNAGEL, Valdir R., org. A Missão da Igreja, p.92 37 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br que é expresso por meio do alívio da assistência social estendido aos oprimidos do sistema capitalista perverso do século XXI. Nesse sentido, a missão da igreja tem como papel fundamental exercer um diálogo com as duas pilastras de seu edifício – o mundo e o Reino. Isto porque “a igreja não pode ser entendida nela e por ela mesma, pois está a serviço de realidades que a transcendem, o Reino e o mundo. Mundo e Reino são as pilastras que sustentam todo o seu edifício.58 Em outras palavras, para ser eficaz no cumprimento do propósito divino, a igreja deverá influenciar o mundo onde ela se encontra inserida. Para isso, ela precisará conhecer os desafios existentes ao seu redor e assim procurar mudar tais realidades munida com os valores e os princípios do Reino. Mas para que isso possa acontecer do modo como Deus deseja, a igreja também deverá ter uma compreensão clara da dimensão do Reino de Deus e assim manifestar os seus valores num ritmo contrário ao que o mundo vem vivendo. Somente assim se poderá proclamar a mensagem de salvação que visa tão somente restaurar o homem, e consequentemente o mundo, em uma nova criação. Dessa forma, a Grande Comissão toma proporções gigantescas no propósito de restaurar um mundo perdido e delapidado pelas consequências do pecado. A missão de Jesus dada à sua igreja é a missão de Deus ao seu povo, ou seja, a missio Dei. Missio Dei significa, antes de mais nada, que a missão é obra de Deus. Ele é o Senhor, o doador da tarefa, o proprietário, o executante. Ele é o sujeito ativo da missão. Isso implica em ação e 59 compromisso com a vocação missionária.”. 58 59 BOFF, Leonardo. Igreja: Carisma e Poder, p. 20 VICEDOM, Georg. A Missão Como Obra de Deus, p.16 38 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Ação e compromisso que se estendem para além das fronteiras de uma religiosidade contemplativa e que visam ministrar à todas as necessidades gerais de uma criação que necessita de recriação. Somente partindo desse fundamento sólido, é que se poderá esperar uma evangelização eficaz e relevante por parte da Igreja. Pois será este tipo de evangelização que se preocupará em anunciar e demonstrar o senhorio de Cristo sobre todas as coisas, e o seu propósito último de congregar cada uma delas, ao controle de seu mando. O evangelho é o poder libertador de Deus que insere o ser humano na dimensão gloriosa de Seu Reino. Proclamá-lo é o dever da igreja; tal proclamação deve estar associada a um discipulado que vise consolidar o projeto de Deus nos corações daqueles que se abrem para o Senhor e que agora, por meio de um compromisso total com Ele, se colocarão ao seu dispor em ministrar o evangelho da reconciliação. É, portanto, ao Senhor da missão, ao Senhor de todas as coisas, que a igreja deve se submeter e agir com base na autoridade outorgada a Cristo e caminhar sem medo e covardia na execução de sua obra. Evangelizar é proclamar a Jesus como Senhor e Salvador, inseparavelmente. Nesse sentido, evangelizar é proclamar o Reino integral de Deus. Pregar o evangelho sem o Reino seria desfigurá-lo e mutilá-lo. Seria pregar o “evangelho de ofertas”, da graça barata. A integridade desse verdadeiro evangelho, por sua vez, será fecunda 60 em serviço e justiça, em “benção às nações”. O ponto de partida sempre será a Palavra de Deus. É ela que orientará o caminho para uma atuação eficaz que a igreja deverá exercer. “A Bíblia 60 STEUERNAGEL, Valdir R., org. A Missão da Igreja, p.37 39 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br inteira, e não apenas o Novo Testamento, estabelece os fundamentos em que se baseia a missão integral e universal da igreja”.61 Para tanto, a necessidade de uma correta hermenêutica bíblica que vise relacionar a mensagem ao contexto cultural no qual a mesma se insere, será de fundamental importância. Precisamos em primeiro lugar verificar como a perspectiva da missão integral decorre da interpretação da Bíblia; em especial de uma leitura da Bíblia que se deixa guiar por alguns impulsos e que está atenta para aspectos novos ou redimensionados da mensagem bíblica. Segundo, tentar traçar algumas sugestões de como que esta perspectiva missiológica, assim adquirida, incidirá por sua vez na leitura posterior da Bíblia e na sua devida aplicabilidade, tanto no 62 presente como no futuro. É assim que a missão neste final de século e de milênio, deverá voltar a acontecer num marco de leitura intensiva da Bíblia, de lúcida percepção das realidades presentes e, sobretudo, de se colocar estes dois face um do outro. Com isso a Palavra de Deus poderá voltar a exercer um papel poderoso na compreensão e transformação destas realidades, desde a das pessoas individualmente até a dum cosmos que se torna a cada dia parte integrante da nossa existência como seres humanos às vésperas do Terceiro Milênio. “E isto passando pelas complexas realidades das nossas relações sociais e comunitárias”.63 Portanto, a atuação da igreja realizada sob o comando e direção do Senhor, terá como alvo primário a invasão das fortalezas do inferno manifestadas nas estruturas de opressão da sociedade, e consequentemente 61 STEUERNAGEL, Valdir R., org. A Missão da Igreja, p.39 Ibid., p. 54 63 Ibid., p. 61 62 40 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br o resgate daqueles que estiverem presos aos grilhões da opressão e da maldade. Nesse sentido, a sua atuação deve ser ousada; não deve se restringir apenas ao campo religioso como foi dito anteriormente; deve também influenciar as estruturar políticas e sociais de poder numa reivindicação de justiça e equidade para todos. Deve se comprometer em ministrar sobre os necessitados; pois não se pode falar em evangelização e ao mesmo tempo se omitir da responsabilidade social colocada sobre ela. Isso porque, é sua incumbência atuar sobre as necessidades físicas, materiais e espirituais da humanidade. A preocupação em aplicar o evangelho à necessidade do homem hoje levou muitos cristãos evangélicos a perguntarem sobre a relação que existe entre a evangelização e a responsabilidade social. O cristão vive tanto no mundo como na igreja, e tem responsabilidades para com ambos. Infelizmente, as igrejas tendem a “eclesiastizar” seus membros. Sua obediência a Cristo se faz apenas mediante canais institucionais ou pietistas: reuniões e programas, ou reuniões 64 de oração e grupos de discipulado. “O evangelho todo para o homem todo deve ser o desafio para este agente do Reino de Deus no mundo”.65 Assim, compete à igreja o compromisso de ministrar sobre as necessidades materiais das pessoas e não apenas oferecer o alimento para a alma; é necessário oferecer também o alimento para o corpo. “É preciso demonstrar o já e o ainda não do Reino que se faz presente entre nós, mesmo que de modo parcial”.66 Essa, portanto, é a proposta de uma evangelização coerente com os princípios do Novo Testamento – “uma 64 SHELLEY, Bruce. A Igreja: O Povo de Deus, p. 126 PADILHA, René. Missão Integral, p. 82 66 STEUERNAGEL, Valdir R., org. A Missão da Igreja, p.94 65 41 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br evangelização encarnacionista, ou seja, uma evangelização que se identifica com o objeto de sua atuação - o homem”.67 Sem uma identificação com o homem em todas as dimensões da sua vida, jamais se poderá realizar uma missão eficaz. 2.2 Perspectivas da Missão a Partir de Lausanne Durante o mês de Julho de 1974 aconteceu na cidade de Lausanne, Suíça, o Congresso Internacional de Evangelização Mundial reunindo centenas de líderes cristãos de mais de 150 nações do mundo, com o objetivo de tratar dos desafios impostos à igreja no que tange à questão da evangelização. Durante aquele evento, uma série de discussões foram travadas em torno da questão da missão da igreja e a maneira em que ela vinha exercendo tal missão no mundo. Aquele evento serviu de referencial para as diretrizes da evangelização que contemplasse o aspecto integral do evangelho, e que ao mesmo tempo desafiasse a igreja a lançar mãos dos recursos providos por Deus para uma atuação eficaz no cumprimento da obra evangelizadora. O ápice do Congresso foi a formulação de um documento chamado Pacto de Lausanne, que atestava o compromisso daquelas lideranças evangélicas das mais diversas nações e denominações cristãs em se comprometer, por meio de um engajamento sério, com as dimensões da evangelização no mundo. 67 Valdir R. Steuernagel. op. cit., p. 63 42 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br É a partir dessa referência ao Pacto de Lausanne que a igreja contemporânea poderá caminhar rumo ao século XXI no exercício de seu ministério, tendo em vista que os tópicos levantados pelo Pacto, estão intimamente relacionados com um compromisso sólido de se exercer uma missão de caráter integral. O documento serve como uma bússola, um norte pelo qual a Igreja que deseja ser relevante no mundo, deve seguir. O que se detecta a partir dele, é que a Igreja, enquanto agência do Reino de Deus no mundo, possui um caráter “transcendente” e ao mesmo tempo “imanente”, ou seja, está inserida no contexto da sociedade humana e, como tal , deve encarnar o serviço que lhe foi confiada: a manifestação do Reino de Deus por meio da proclamação das boas-novas em Jesus Cristo. Assim, mirar os pontos que foram levantados naquele Congresso, será, sem sombra de dúvida, uma grande caminho a ser seguido por qualquer igreja ou pessoa que deseje alcançar o propósito supremo de Deus. “A missão da igreja enquanto Corpo de Cristo, deve ser o de cumprir o propósito de Deus”68, ou seja, o de manifestar o seu Reino neste mundo. A partir da perspectiva bíblica depreende-se que Deus invadiu a história humana com o intuito de restaurar todas as coisas a si mesmo, e que esse foi o caminho proposto para a irrupção de seu Reino no Mundo. O Reino de Deus, portanto, é a Soberania Divina invadindo o âmbito da criação a fim de controlar, reger e administrar todas as coisas criadas. Jesus Cristo é o embaixador desse Reino no Mundo, inaugurando-o por meio da encarnação, e à ele são colocadas todas as coisas. 68 PACTO DE LAUSANNE, p. 01 43 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br A igreja, portanto, não é o Reino, mas sim o seu agente. E o seu desafio é manifestá-lo em todas as esferas da vida. Sua atuação deve seguir a orientação bíblica, como a fonte autoridade e de poder. É na Bíblia que se encontra o registro da revelação de Deus aos homens, bem como o registro dos caminhos propostos à igreja enquanto povo e agência do Reino de Deus no mundo. Sem ela não se pode ter direcionamento correto, pois isso seria deixar-se seguir pelas orientações humanas. Entretanto, “o Deus da Bíblia é o Deus que se manifesta aos homens e que vem ao encontro deles também por meio de sua Palavra Escrita”69, dando-lhes direção e revelando seus planos de redenção para com o mundo. A mensagem da Bíblia tem como centro Jesus Cristo. “O Verbo (Palavra) encarnado invade a história humana a fim de dar consecução aos propósitos eternos e redentores de Deus”70. Em Cristo, todas as coisas são colocadas na condição de submissão à sua autoridade, e fora dele não se pode estar em sintonia com o plano de Deus. Nesse aspecto, a missão evangelizadora da Igreja se direciona para anunciar a dimensão da obra de Cristo realizada neste mundo, por meio da Cruz, visando a reconciliação do homem com Deus. Por meio de seu nascimento, vida, morte, ressurreição e ascenção, Cristo reconciliou os homens consigo trazendo-os novamente ao seu senhorio. Muito embora hoje se manifeste apenas parte desse processo reconciliador, por meio de sua parousia, Cristo haverá de dar cabo final ao projeto original de Deus para a redenção humana. A Igreja é o produto e a extensão desse ministério. Como produto, ela aponta para o fato de que todos os que estão em Cristo são agora nova criação em seu nome. Como 69 70 STEUERNAGEL, Valdir R., org. A Missão da Igreja, p.46 PACTO DE LAUSANNE, p. 01 44 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br extensão, ela tem o desafio de expandir a manifestação gloriosa desse Reino em todo o mundo, apontando para a necessidade de uma recriação e restauração de todas as coisas. Porém, esse desafio de expandir para além das meras fronteiras geográficas a mensagem de redenção, não deve se limitar apenas à uma parte da existência humana. O desafio é de restaurar todas as coisas e em todos os níveis para aquilo que Deus havia concebido desde o princípio. Assim, “a missão evangelizadora da igreja deve estar intimamente relacionada com o aspecto humano, físico e social da humanidade”71. O retrato de um mundo subjugado pelas mazelas sociais reflete as dimensões destruidoras do pecado no mundo. A fome, a miséria, a opulência, a desigualdade social, são o resultado de uma criação que se sente oprimida pelas consequências do pecado humano. O Reino de Deus não é o melhoramento social progressivo da humanidade, segundo o qual a tarefa da igreja é transformar a terra em céu, e isto agora, nem o reinado interior de Deus presente nas disposições morais e espirituais da alma, com sua base no coração. Antes, ele é poder de Deus, liberto na história, que traz boas novas aos pobres, liberdade aos cativos, vista aos cegos e libertação aos 72 oprimidos. A igreja, neste sentido, como povo regenerado e recriado em Cristo, tem o desafio de intervir de modo relevante e eficaz nessa dimensão da vida humana, trazendo conforto e alívio para aqueles que estão presos e subjugados pelo poder devastador do pecado. Sua 71 72 PACTO DE LAUSANNE, op. cit., p. 01 PADILHA, René. Missão Integral, p. 206 45 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br missão só poderá ser relevante se ela for integral em sua atuação. E ser integral nesse aspecto significa influencias todas as dimensões da existência humana: a dimensão física, material e espiritual. Somente assim é que a igreja poderá atuar da maneira como o Senhor Jesus deseja. Sua atuação evangelística será marcada pela encarnação no contexto humano da sociedade. Ou seja, será o desafio de se identificar com as necessidades humanas a partir de cada cultura e assim procurar fazer valer o propósito de Deus em restaurar aqueles aspectos da vida humana manchados e denegridos pelo pecado. Seu alvo será o de ministrar o evangelho todo para o homem todo. E isso, sem dúvida nenhuma, demandará compromisso sério com Deus e com a missão confiada por Ele. Entretanto, muito pouco será realizado se a igreja não se engajar em total cooperação e esforço conjugado na execução desse ministério. Compete às igrejas locais espalhadas pelo mundo se unirem no propósito de causar relevância, demonstrando por meio de sua vida e ação, a eficácia do evangelho em restaurar todas as coisas ao comando de Deus novamente. Um evangelho universal exige uma igreja universal, na qual todos os cristãos participem efetivamente na missão mundial como membros iguais do Corpo de Cristo. A colaboração na missão não é meramente uma questão de conveniência prática, mas a consequência necessária do propósito de Deus para a igreja e para toda a 73 humanidade, revelado em Cristo Jesus. 73 René Padilha. op. cit., p. 145 46 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br É, portanto, urgente essa tarefa. Por isso, enquanto a igreja deixar de se lançar à esta obra, o mundo todo caminhará para um estado de devassidão, perversão, opressão e aprisionamento, que tanto o pecado como o Diabo trazem sobre ele. Urge a necessidade de se acelerar o processo evangelizador no mundo que contemple a integridade do evangelho e a necessidade do ser humano. Tal obra não deve ser feita de qualquer maneira a ponto de se preocupar apenas com os resultados numéricos sem antes objetivar a melhora da qualidade da vida das pessoas, tanto no aspecto espiritual quanto físico e material. Uma igreja como essa idealizada por Deus, jamais poderá deixar de “contemplar os aspectos positivos da criação expressos no homem”74 e que devem dessa forma ser valorizados a despeito de qualquer coisa. Alcunhar todo aspecto cultural de podre e pecaminoso, é demonstrar uma mentalidade medíocre e rasa do que foi e do que é a criação de Deus. Neste aspecto, o desafio da ação evangelizadora da igreja deve ser o de restaurar aqueles traços da criação que foram maculados pelo pecado e, assim, transformá-los pelos princípios eternos do Reino manifestados na revelação bíblica. Nada disso será desenvolvido com eficácia se a igreja não se lançar ao mesmo tempo na obra de educar seu povo e de preparar uma liderança que seja apta para dar continuidade à tarefa. A educação visa não apenas reproduzir conceitos hora cristalizados, e que não se identificam com os aspectos da vida cotidiana das pessoas. Todavia, educar, visa formar pessoas para a vida dando a elas um referencial correto – os padrões do Reino expressos na revelação bíblica. Daí é que se poderá preparar uma 74 PACTO DE LAUSANNE, p. 02 47 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br liderança que se preocupe em conduzir a igreja ao exercício de seu trabalho no mundo com compromisso e dedicação. Formar uma liderança jamais deverá ser entendido sob o aspecto da profissionalização. Antes, formar uma liderança, deverá ser o objetivo de capacitar cada indivíduo membro do Corpo Cristo para realizar o seu ministério no mundo. Munidos dessa educação cristã, que forma para a vida, e de uma liderança que nasça do próprio seio da igreja em ministério exercidos por cristãos leigos, poderá se encarar de frente o desafio da destruição das fortalezas demoníacas que se manifestam no mundo em todas as dimensões. A atuação de Satanás não se restringe apenas aos aspectos espirituais da vida cada indivíduo. Eles vão além das esferas de caráter particular e se estendem para as estruturas maiores de poder e opressão existentes no mundo. Uma das necessidades mais urgentes na igreja atualmente é a fé no poder do evangelho como uma mensagem de libertação do mundo visto como um sistema sob o domínio dos deuses da sociedade de consumo...Não há maior contribuição que a igreja possa dar para a humanidade que o evangelho de Jesus Cristo e seu poder 75 libertador. São contra elas também que a igreja deve “guerrear”, procurando arrebentar as portas do inferno e assim trazer o Reino para dentro dessa dimensão. Para tanto, faz-se necessário que a igreja compreenda as dimensões dessa atuação diabólica que, manifestada por meio de sistemas perversos, subjuga os homens, entregando-os ao desespero e ao ocaso da perdição. Enfrentá-los será sempre uma questão de posicionamento 75 PADILHA, René. Missão Integral, p. 142 48 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br aguerrido e ousado de uma igreja que se entende como agência de Reino de Deus, onde o seu poder é manifesto de modo glorioso. Porém, é preciso também que se tenha em mente a dimensão dessa luta e de como que ela poderá trazer consequências funestas para aqueles que se lançarem à ela. Foi assim no caso de Martin Luther King, e assim será também no caso daqueles que quiserem realmente ser a igreja de Deus no mundo. O apelo não é para um sentimento de mártir apaixonado e irracional que se preocupa tão somente em romancear essa batalha. O apelo é para que cada um se comprometa com Deus e com a sua obra no intuito de não se calar e nem se encolher quando essas estruturas malignas e perversas se levantarem para oprimir e subjugar milhões sob a tese de que se está fazendo o bem. Compete portanto, à igreja e à sua liderança, uma corajosa atitude de protesto e até mesmo revolução para com tudo aquilo que fere a ética, a moral e os valores do Reino de Deus. Fazer isso implicará em renúncia pessoal e constante ciência de retaliação expressos por meio de perseguição. Somente com essa disposição e compromisso é que a igreja poderá ministrar para um mundo perdido e desenganado como este. Entretanto, nada disso adiantará se ela não se munir com a força e poder do Espirito Santo que são eficazes em consolidar todas essas coisas. A missão é divina e se origina em Deus, logo, uma desafiada a dar continuidade à essa missão a igreja em hipótese alguma poderá se considerar auto-suficiente para realizar essas coisas. Ë preciso uma atitude de humildade e dependência que objetive tão somente o desejo de ver a atuação de Deus por meio de si no mundo. 49 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br A missão da igreja que se iniciou no Pentecostes se estenderá até aquele dia em que Cristo aparecer entre as nuvens, em toda a sua glória, a fim de consolidar de uma vez para sempre o propósito de Deus. Enquanto isso não acontece a igreja não pode se isolar e tomar uma atitude de contemplação hipócrita e mentirosa. Seu dever sempre será o de, enquanto agência do Reino de Deus, intervir neste mundo por meio do poder e da autoridade de Cristo Jesus, procurando restaurar os homens e em consequência todas as coisas novamente à Deus. Porém, isso jamais acontecerá por completo enquanto Cristo não voltar. Examinando a Bíblia, constata-se que o mundo caminhará de mal a pior e, qualquer atitude de descaso para com essa realidade, refletirá uma atitude não cristã e até mesmo diabólica. A igreja não pode se deitar sobre a rede enquanto que centenas de milhares de pessoas estão sendo arrastadas pelas enxurradas da miséria e opressão física e espiritual. Mesmo quando tudo parecer caminhar de mal a pior, mesmo quando tudo for o retrato escuro de um mundo perdido, “a igreja sempre deverá ser a luz no fundo do túnel a brilhar de modo intenso a esperança da restauração em Cristo Jesus”.76 Neste sentido, cada igreja local deve ser comparada a pequenas casinhas que são vistas do alto de um céu escuro, com as suas luzes acesas brilhando raios de esperança, alegria e vida para todos. 76 BOFF, Leonardo. Igreja: Carisma e Poder, p. 45 50 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Capítulo 3: A Eficácia da Igreja no Desempenho da Missão Compreender o mundo e o momento que a sociedade contemporânea vive é de fundamental importância para a igreja que deseja ser Sal e Luz no Terceiro Milênio. Jamais se poderá ter uma missão relevante se a igreja não estiver bem posicionada quanto momento histórico no qual está inserida. Conhecê-lo, portanto, é extremamente necessário para que se possa traçar os caminhos de uma atuação eficaz. Porém, não basta apenas estar bem posicionado quanto ao momento histórico vivido pela humanidade. É necessário também uma fundamentação correta para o exercício de uma Missão Integral. Neste sentido, a igreja precisa estar bem abalizada nos fundamentos bíblicos e teológicos da Palavra de Deus que se constituem em seu ponto de partida para a sua devida atuação. Somente assim se poderá exercer um ministério relevante e eficaz. “A igreja, portanto, deve ter consciência de quem ela é do que ela deve fazer enquanto agência do Reino de Deus”.77 Sem uma identidade própria, jamais se poderá causar qualquer impacto no mundo. “É preciso possuir essa correta consciência de missão e do alvo de atuação”78 que correspondam com os anseios e os propósitos de Deus. É assim que se poderá apontar os caminhos necessários para uma igreja que, estando bem posicionada no momento histórico-cultural pelo qual vive e 77 78 WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos, p.62 DRUCKER, Peter F. Administração de Organizações sem Fins Lucrativos, p. 5 51 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br associada com os fundamentos corretos de sua missão, exercer um ministério eficaz e relevante no mundo. Assim, compete à igreja canalizar a manifestação do poder do Espirito Santo a atuar sobre ela, visando influenciar o mundo de modo que transpareça apenas a glória de Deus. Para isso, é necessário revestir a essência da igreja de estruturas eclesiásticas flexíveis que viabilizem a manifestação dessa sua essência e do poder de Deus. São as suas formas e estruturas que lhe dão o contorno necessário para a sua devida atuação no mundo. E os mesmos, por sua vez, estão condicionados ao momento histórico-cultural no qual a igreja está inserida. Depreende-se a partir disso que a essência e o conteúdo da igreja sempre se manterão imutáveis, mas, suas formas e estruturas, precisarão em todo tempo se transformar a fim de poderem manifestar a vida contida em seu interior. O alvo de suas constantes transformações no aspecto externo, ou seja, em suas formas, visa tão somente sinalizar o caminho para a atuação que privilegie a marca de uma evangelização encarnacionista que se identifica com o mundo no qual está inserida e que ao mesmo tempo exerce um serviço de caráter abnegado. Somente com este tipo de evangelização e serviço é que se poderá rumar em direção a uma eficácia e relevância tremendamente desejadas por Deus e ansiadas pelo mundo. 52 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br 3.1 Formas e Estruturas: Desafios Eclesiais A igreja é eterna, porém, sua vida se inicia no mundo e se estende pelos séculos dos séculos na expressão de Corpo de Cristo. Essa visão do caráter eterno da igreja não se desvincula de sua peregrinação na terra. Como tal, ela está inserida no contexto humano e sua vida deve marcar de modo contundente a sua missão e propósitos, seja em qualquer época ou em qualquer situação que a mesma venha a viver. Partindo-se dessa consideração, pode-se depreender que a vida da igreja no contexto humano está intimamente relacionada com o modo pelo qual ela se apresenta. Sua maneira de se expressar é o resultado de sua roupagem que veste a sua essência visando expressá-la no mundo. Quando se fala em atuação da igreja não se pode deixar de entender que ela, enquanto organismo vivo, “é composta de duas realidades que lhe dão os contornos característicos, ou seja, sua forma e sua essência”.79 No que diz respeito à essência da igreja, foi visto anteriormente que ela é o povo de Deus na terra, o Corpo de Cristo que tem o compromisso de manifestar a glória de Deus ao mundo por meio da proclamação viva e vigorosa do evangelho. Enquanto essência, a igreja é o agente do Reino que tem sobre si a responsabilidade de manifestar o seu caráter sobrenatural de ser uma nova criação em Cristo por meio da missão reconciliadora expressa na Cruz do Calvário. 79 HORRELL, J. Scott., ed. Ultrapassando Barreiras, p. 23 53 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Entretanto, essa sua essência está revestida de uma roupagem que lhe é peculiar. Ou seja, “a igreja no decorrer de sua história sempre se revestiu de formas e estruturas a fim de viabilizar a manifestação de seu conteúdo para o mundo perdido”.80 E é esse aspecto das formas e das estruturas que se constituem em fator de vital importância para a vida e a atuação da igreja. Serão suas formas e estruturas que viabilizarão ou não a expressão da vida de Deus escondida em seu interior. Assim, uma igreja que possua formas e estruturas enrijecidas pela dureza e ignorância da sabedoria humana, jamais poderá deixar de causar um impacto necessário como o foi a da estrutura orgânica da igreja do primeiro século. Fica evidente, portanto, que o desafio da igreja em causar relevância no mundo sempre se dará por meio de “formas e estruturas que sejam contemporâneas e contextualizadas ao momento vivido pela sociedade”81, e que, dessa maneira, estejam em constante renovação para a sua devida eficácia. Como exemplo, pode-se apontar para a questão do acesso do povo à Bíblia até o século XVI. Com as formas e estruturas adotadas pela Igreja Católica Romana, o povo não podia ter acesso à Palavra de Deus para sua orientação. Aquele tipo de forma e de estrutura matou a vida da igreja durante séculos. Assim como a história da humanidade está em constante transformação, assim também deve ser a transformação das formas e das estruturas da igreja a fim de que a mesma possibilite a manifestação poderosa do poder de Deus por meio de sua vida. Para tanto, é necessário haver uma constante renovação da Igreja. Aquilo que fora levantado pelos reformadores no 80 81 KIVITIZ, Ed René. Quebrando Paradigmas, p. 18 BOFF, Leonardo. Igreja: Carisma e Poder, p. 91 54 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br passado: a igreja sempre se renovando. Em outras palavras, a necessidade de uma segunda Reforma para a igreja, faz-se necessário e urgente neste novo alvorecer de milênio. Assim como a primeira Reforma visava tão somente restaurar o conteúdo do evangelho e da essência da igreja (o vinho); a segunda Reforma prioriza tão somente as transformações das formas (os odres) que sempre serão necessárias durante a vida da igreja na terra. A primeira foi realizada apenas uma vez, a segunda, entretanto, sempre será necessária pois a eficácia da igreja estará sempre relacionada ao contexto histórico-cultural no qual a igreja se insere, e que vive em constante transformação. Usando a metáfora do Vinho e do Odre, pode-se afirmar que o conteúdo do evangelho, ou seja, o vinho, sempre será imutável, porém, as formas de expressá-lo, ou seja, os odres, sempre serão mutáveis para que possam manter vivo e forte o conteúdo. Para que isso aconteça, “urge a necessidade de uma renovação radical que tenha como alvo supremo o retorno aos princípios básicos da fé cristã”.82 Sem essa Renovação Radical não se poderá exigir relevância e eficácia no desempenho da missão. Uma Renovação Radical está associada à necessidade de uma perspectiva bíblica abrangente que aponte de modo correto os princípios de renovação, propondo sempre uma filosofia de ministério que tenha o tripé básico das Escrituras, do Contexto Histórico e do Contexto Cultural. Sem esse inter-relacionamento Escrituras-História-Cultura, não se poderá ter uma missão eficaz que possua o caráter da encarnação como sua principal marca. 82 HORELL, J. Scott., ed. Ultrapassando Barreiras, p. 56 55 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br “Esse cataclismo necessário é a maior necessidade da igreja no contexto do Terceiro Milênio”.83 Como já visto anteriormente, o século XXI é o século da queda dos absolutos. As estruturas formais de poder e governo estão sendo cada vez mais contestadas ficando evidente a aspiração por formas que sejam mais ecléticas, pluralistas e informais. No que diz respeito à igreja, percebe-se que a queda do instituicionalismo eclesiástico toma proporções cada vez maiores. A nova geração de cristãos está profundamente decepcionada com aqueles formas e estruturas antigas e arcaicas, que mais privilegiam a tradição do que a constante transformação. As formas arcaicas e antigas de poder e governo ruem diante de uma igreja que cada vez mais se insere num contexto pós-moderno que anseia por mudanças e por uma maior identificação com as necessidades do indivíduo. “Mesmo numa sociedade mais secularizada, pluralista e individualizada, a igreja em constate transformação encontra espaços cada vez maiores para exercer o seu ministério de modo relevante e eficaz”.84 O contexto pós-moderno faz transparecer de modo cada vez mais crescente a relatividade das estruturas eclesiásticas da igreja. Assim, constitui-se como desafio a necessidade de se avaliar biblicamente quais são caminhos apresentados pelo Novo Testamento para uma transformação constate nas formas da igreja, a fim de que a mesma sempre mantenha o seu caráter de povo de Deus que tem como alvo ser Sal e Luz do mundo. Não se poderá lançar fora todo o aspecto institucional da igreja como que se não valesse para nada. O que se deverá fazer é “construir novas formas institucionais de atuação que dialoguem com o mundo contemporâneo, e que 83 84 BOFF, Leonardo. Igreja: Carisma e Poder, p. 106 STEUERNAGEL, Valdir R., org. A Missão da Igreja, p. 213 56 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br ao mesmo tempo mantenham o caráter e a essência do evangelho e da igreja”.85 Neste sentido, a questão da Doutrina Bíblica deverá sempre ser mantida em primazia, pois é a partir dela que se deve fazer toda construção teológica e eclesiástica para a vida da igreja. Associado a isso, a necessidade de um cristianismo relacional que priorize a identificação com os seres humanos também será a marca de um evangelho que se identifica com Cristo no aspecto da encarnação e do serviço. Somente com esses dois referências básicos – a Doutrina Bíblica e o Cristianismo Relacional – é que se poderá exercer um testemunho dinâmico da vida e da essência da igreja, manifestos em suas estruturas e formas. Portanto, toda e qualquer necessidade de transformações eclesiásticas que se preocupem em manter a essência da igreja intacta, deverão propor caminhos que estejam em total coerência com os princípios bíblicos de uma eclesiologia saudável e construída 86 sobre os pilares do Novo Testamento. É com esta perspectiva bíblica do que é a igreja e de como deve ser a sua eclesiologia, que se pode apresentar caminhos a serem trilhados em todo e qualquer processo de transformação das formas e das estruturas. “Em primeiro lugar, a igreja local deve ser o meio básico pelo qual deve ocorrer a edificação do Corpo de Cristo”.87 É na igreja que a consolidação da obra de Deus na vida de cada indivíduo se manifesta de modo contundente e eficaz; é ali que todo o novo ser em Cristo crescerá rumo à maturidade a fim de dar continuidade ao ministério confiado por Jesus à sua igreja. “Segundo, 85 HORELL, J. Scott., ed. Ultrapassando Barreiras, p. 107 SCHWARZ, Christian A. O Desenvolvimento Natural da Igreja, p.63 87 GETZ, Gene A. Igreja: Forma e Essência, p.123 86 57 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br a igreja deve se reunir a fim de vivenciar a koinonia em toda a sua plenitude”.88 É no ajuntamento do povo de Deus que se manifesta a presença de Cristo de modo real e vivaz. É quando o povo se ajunta em comunhão que Cristo estende a sua mão a fim de ministrar às necessidades de toda e qualquer pessoa que dela necessite. Nesse aspecto, a igreja é o braço de Cristo que age quando está reunida como um Corpo. “Em terceiro lugar, a igreja deve fornecer aos cristãos um conhecimento aprofundado da Palavra de Deus a fim de construir um edifício com sólidos fundamentos”.89 Somente por meio da Palavra é que a essência e a vida da igreja poderá ser avaliada. Sem ela não se pode exercer uma missão que possua um caráter sobrenatural de nova criação idealizado por Deus. Quarto, “a igreja deve providenciar estruturas suficientemente informais e íntimas que permitam as liberdade do Espirito Santo”.90 Sempre será por meio de suas estruturas e formas flexíveis que a igreja viabilizará ou não a manifestação do poder do Espirito no mundo. Com formas e estruturas enrijecidas, frias e burocráticas, não se poderá ter uma igreja que seja relevante para um mundo em constante transformação. Nesse aspecto, as estruturas e formas estão intimamente relacionadas com a eficácia do desempenho do ministério da igreja. Em quinto lugar, “a igreja precisa proporcionar aos cristãos oportunidades de desenvolverem outras capacidades, além do conhecimento".91 Neste sentido, faz-se necessário formar uma liderança a partir do exercício dos dons de cada um a fim de que sejam ministros de Cristo em sua vida na terra. 88 SNYDER, Howard A. Vinho Novo, Odres Novos, p.100 GETZ, Gene A. Igreja: Forma e Essência, p.123 90 SNYDER, Howard A. Vinho Novo, Odres Novos, p.101 91 GETZ, Gene A. Igreja: Forma e Essência, p.127 89 58 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Portanto, “a estrutura da igreja deve ser construída sobre os dons espirituais”92, ou seja, a igreja precisa estruturar os seus ministérios a partir daquilo que ele tiver à sua disposição - os dons de seus membros. Chegou o fim da liderança profissionalizada que monopoliza a vida da igreja e não dá condições para que cada pessoa, membro corpo de Cristo, exerça o seu ministério com prazer e alegria. A “liderança, em síntese, deve ser baseada no exercício dos dons espirituais”93, pois cada crente é um ministro (I Pedro 4:10). Em sexto lugar, “a vida e o ministério da igreja devem ser construídos sobre estruturas viáveis de grupos grandes e pequenos”.94 É no ajuntamento regular do Corpo de Cristo, como uma grande Congregação, que se experimenta de modo contundente a unidade e a força do povo de Deus. São nos momentos de culto e de adoração que se pode haver uma proclamação ousada do evangelho e de desafio à missão da igreja no mundo. Porém, são nos momentos de reunião dos grupos pequenos que se pode experimentar a vida de Cristo de modo mais íntimo e particular. São nos momentos de reunião dos pequenos grupos que se pode haver um discipulado de qualidade e uma ministração mais personalizada às necessidades das pessoas. “A koinonia é vivenciada com maior probabilidade quando os cristãs se reúnem informalmente na comunhão dos grupos pequenos”.95 Em sétimo lugar, “a estrutura da igreja deve reconhecer e honrar a pessoa toda para que a mente de Cristo se torne uma realidade na igreja”. 96 92 SNYDER, Howard A. Vinho Novo, Odres Novos, p.131 Ibid., p.194 94 Howard A Snyder. op. cit., p.195 95 Ibid., p.103 96 Ibid., p.127 93 59 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Ou seja, as estruturas e formas da igreja não devem se compartimentalizar em áreas da vida do ser humano. Elas devem possuir um caráter holístico e enxergar no homem seu corpo, sua alma e seu espirito. Jamais se poderá exercer um ministério relevante e eficaz se a igreja tiver estruturas que focalizem apenas alguns aspectos da vida do ser humano. Há a necessidade de ser ver o homem como um todo. Em oitavo lugar, “a estrutura da igreja deve ajudar sustentar a vida cristão no mundo”.97 A igreja não é do mundo mas está no mundo, portanto, compete a ela prover aos seus membros as ferramentas necessárias para estarem em contato com o mundo na missão de proclamação das boas novas do Reino de Deus que visam a redenção humana. Em nono lugar, “a igreja precisa também ajudar seus membros a desenvolverem uma vida familiar de qualidade”98. Como agência de transformação do Reino de Deus, a igreja precisa apontar para os princípios bíblicos da vida familiar e destacar que esse é o ideal de Deus para a sociedade. Além disso, a igreja precisa também denunciar e combater as tentativas diabólicas de menosprezar a família que o a sociedade contemporânea vem desenvolvendo ultimamente. Por fim, em décimo e último lugar, “a igreja precisa se estruturar de modo orgânico”.99 Ou seja, ela precisa manifestar a sua vida de modo desimpedido e livre. Não pode se lançar à uma prisão sem vida e se aprisionar ao mesmo tempo num institucionalismo eclesiástico ilógico e irracional. Esses são alguns caminhos propostos para que a igreja possa ter estruturas e formas que sejam relevantes para um mundo pós-moderno em 97 Ibid., p.131 GETZ, Gene A. Igreja: Forma e Essência, p.131 99 SNYDER, Howard A. Vinho Novo, Odres Novos, p.132 98 60 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br constante transformação que necessita ver urgentemente uma igreja que seja biblicamente sadia e experiencialmente autêntica. Para tanto, o caminho proposto por Cristhian Schwarz serve com um referencial para essas transformações estruturais a fim de que a igreja sempre mantenha o seu caráter de relevância e eficácia, frutos de sua essência de nova criação do Reino: 1. Liderança Capacitadora 2. Ministérios Orientados Pelos Dons. 3. Espiritualidade Contagiante. 4. Estruturas Funcionais e Flexíveis. 5. Culto Inspirador. 6. Grupos Pequenos 7. Evangelização Orientada Para as Necessidades 8. Relacionamentos Marcados Pelo Amor Fraterna.100 Renovação, pregação e missão serão sempre os desafios para uma igreja que se sente na necessidade de estar em diálogo com um mundo que constantemente se transforma e que anseia pela manifestação dos filhos de Deus. Manifestação essa que se dá por meio da transformações de realidades. 100 SCHWARZ, Christian A. O Desenvolvimento Natural da Igreja, p.23 61 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br 3.2 A Igreja Como Agente de Transformação Como foi visto anteriormente, o desempenho da missão da igreja está intimamente relacionado com a maneira pela qual ela se estrutura para manifestar sua essência como agência do Reino de Deus na terra. Suas formas dão-lhe o contorno necessário para que ela venha a ser um instrumento de Deus no mundo. Tais formas precisam estar num constante diálogo com o contexto histórico-cultural na qual ela está inserida e procurar influenciar o mesmo por meio da pregação autêntica da mensagem do evangelho. Entretanto, para que essa sua atuação seja relevante e eficaz a ponto de atingir o propósito supremo de Deus para ela, a igreja precisará também ter consciência de que seu ministério tem uma dimensão muito ampla no compromisso de influenciar o mundo. “Essa sua dimensão tem a ver com o seu aspecto de transformação da realidade na qual ela está inserida”.101 Onde está a igreja, ai deve haver vida. É o que se pode depreender das páginas das Sagradas Escrituras. É na igreja que a multiforme sabedoria de Deus se manifesta, bem como também os valores do Reino de Deus podem ser vivenciados em toda a sua plenitude. Vale a pena ressaltar que o conceito de igreja não está relacionado com o seu aspecto institucional que é debilitado pela realidade humana. Antes, porém, o conceito de igreja está relacionado com o seu caráter de Corpo de Cristo que tem o compromisso de estender a missão de reconciliação e restauração do mundo com Deus. 101 COELHO FILHO, Isaltino. Descubra Como Sua Igreja Pode Transformar o Mundo, p. 18 62 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Assim, munida de um conhecimento da realidade que a cerca, bem como dos fundamentos necessários para o exercício de uma missão que seja coerente com os fundamentos bíblicos; a igreja poderá se posicionar no mundo como agente de transformação, usando para isso suas formas e estruturas para viabilizar a manifestação de sua essência como agência do Reino de Deus na terra. Neste aspecto, portanto, a igreja tem uma responsabilidade de atuar sobre todas as dimensões da vida humana e influenciar de modo positivo o mesmo por meio dos princípios e valores do Reino de Deus inaugurados por Cristo na terra. Vários são os âmbitos da esfera humana pelos quais a igreja pode exercer o seu papel de transformação de realidades no objetivo de alcançar o propósito de Deus para si. O primeiro âmbito que pode presenciar de modo contundente e eficaz a influência da igreja, é sem dúvida, o âmbito espiritual. A igreja como Corpo de Cristo está assentada sobre as regiões celestiais em Cristo Jesus. “Assim como o seu Senhor a igreja goza de uma autoridade que não lhe é própria, mas que lhe é concedida pelo Filho de Deus a fim de subjugar as potestades das hostes malignas ao comando de Cristo”.102 Foi com essa concepção em mente que o Senhor Jesus disse a Pedro que as portas do inferno não resistiriam aos ataques da igreja. Por meio de Cristo Jesus a igreja se lança sob a responsabilidade de destruir toda e qualquer maquinação diabólica expressa na vida humana, seja em caráter individual, seja no caráter coletivo. A manifestação dos poderes das trevas são expressos nos mais variados níveis da existência humana e não se restringem apenas aos aspectos 102 D’ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Sal Fora do Saleiro, p. 32 63 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br puramente espirituais e individualistas. Portadora da verdade da Palavra de Deus a igreja deve se levantar contra toda e qualquer maquinação do maligno a fim de tirar das garras do diabo pessoas que andam presas por seus pecados e delitos. Compete à ela exercer uma influência tal, baseada no poder e na autoridade de Cristo, a ponto de repreender os demônios e os poderes malignos que subjugam e oprimem as pessoas e a sociedade. Porém, sua atuação transformadora se estende para além dos aspectos espirituais e todas as suas ramificações existentes e possíveis. “A igreja deve também transformar a realidade social do mundo no qual ela está inserida”.103 Ciente de que o mundo jaz no maligno e de que a humanidade sofre as consequências do pecado de Adão, a igreja compreende que a miséria social é o resultado desse pecado e que se estende desde indivíduos em particular até a nações inteiras. Entretanto, em semelhança à seu Senhor ela depreende que “não se pode tomar uma atitude de passividade frente a tantos males sociais e o que deve ser feito é uma tomada de posição a fim de se ministrar à essa realidade”.104 É portanto, nesse sentido, que a igreja poderá exercer o seu ministério evangelístico de modo como Deus o concebeu. Ministrar a Palavra sem ministrar o pão constitui-se em pecado para uma igreja que se diz vivenciar o amor. Desse modo, a igreja precisa olhar com olhos de compaixão e misericórdia para as realidades sociais existentes à sua volta, e em especial no Terceiro Mundo, e procurar de alguma maneira minimizar as dores daqueles que sofrem duramente com as consequências funestas do pecado. Porém, ela não pode se limitar apenas à esses aspecto de sua missão. Deve associar as duas coisas, Palavra e Pão, 103 104 CAVALCANTI, Robinson. A Utopia Possível: Em Busca do Cristianismo Integral, p.90 STOTT, John R.W. O Cristão em uma Sociedade Não-Cristã, p. 16 64 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br e manifestar assim o propósito redentor de Deus expressado em 105 Cristo Jesus. Além do âmbito espiritual e social, a igreja também tem o dever de influenciar e transformar o âmbito político no meio ao qual está inserida. “É competência dela lutar pela consolidação dos valores cristãos em meio aos governos do mundo”.106 Mesmo naqueles lugares onde a pregação do evangelho é rechaçado de modo fugaz, a igreja precisa despertar uma consciência política tal nas pessoas que aponte para a questão da igualdade e da justiça entre todos. Seu alvo não é fazer uma política partidária, mas antes, é o de se empenhar em criar uma consciência de cidadania nas pessoas demonstrando à elas que enquanto cidadãos do mundo, os seres humanos devem se preocupar com o bem estar de todos. Neste aspecto, vale a pena ressaltar o clímax da Revolução Francesa: Igualdade, Fraternidade e Justiça. O objetivo de se despertar uma cidadania correta é bíblico e ao mesmo tempo saudável para a igreja. Compete aos cristãos a incumbência de se posicionarem como cidadãos do Reino dos céus mas que vivem por enquanto como cidadãos do mundo. Uma atuação que vise a transformação das realidades existentes ao redor precisa também objetivar “manter em alto padrão os valores éticosmorais da Palavra de Deus numa sociedade que cada vez mais se deteriora com as práticas de imoralidades e injustiças”.107 O desafio ético não deve se restringir apenas àquela parcela diminuta de uma microética farisaica e mentirosa. Tal desafio se estende para além dos aspectos da individualidade 105 John R.W. Stott. op. cit., p. 59 CAVALCANTI, Robinson. A Utopia Possível: Busca do Cristianismo Integral, p. 128 107 COELHO FILHO, Isaltino. Descubra Como Sua Igreja Pode Transformar o Mundo, p. 41 106 65 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br e prioriza acima de tudo a coletividade. É preciso neste sentido manter uma posição ética segura quanto às questões da biotecnologia, quanto às questões da má distribuição de renda dos países, da questão agrária, do emprego, etc. Tudo isso traz implicações éticas que requerem por parte da igreja um posicionamento firme e contunde a fim de não se deixar ruir os princípios da Palavra de Deus. Para tanto, a igreja precisa ser uma forte denunciante dos atentados à ética e à moral que cada vez mais crescem na sociedade. É preciso haver santa indignação e denúncia quanto às injustiças praticadas cada vez mais para com as classes menos favorecidas desse sistema capitalista neoliberal que oprime e sufoca a vida dessas pessoas. É necessário clamar por mudanças sociais significativas nos governos que, interessados apenas nos interesses corporativas e egocêntricos dos mais ricos visam apenas o lucro fácil e a sua comodidade pessoal. Compete à ela influenciar a sociedade por meio de uma conscientização cada vez mais crescente dessas coisas e também um desafio à ações que procurem em primeiro lugar mudar o triste quadro da sociedade. É preciso por parte da igreja uma atuação no âmbito sócio-econômico do mundo e das pessoas visando haver uma igualdade de acessos a todos e não apenas à uma pequena parcela aburguesada da população. “É preciso também lutar pela consolidação da Luta Pelos Direitos Humanos naqueles lugares onde a vida das pessoas são cada vez mais rebaixadas e menosprezadas”.108 É preciso fazer valer os princípios dos direitos humanos 108 CAVALCANTI, Robinson. A Utopia Possível: Em Busca do Cristianismo Integral, p.89 66 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br para todos. E não se passar por cima como se fosse apenas belas palavras redigidas por pessoas com sonhos apaixonantes e utópicos. É preciso estender a mão os marginalizados da sociedade, para aqueles que sofrem o descaso racial, econômico, religioso, etc. É preciso lutar por igualdade entre todos reconhecendo que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Neste novo Milênio que se inicia, compete à igreja ser aquilo que ela deve ser, ou seja, o povo de Deus na terra que tem a missão de reconciliar os homens com Deus novamente. A igreja para ser isso deverá se comportar como uma comunidade terapeûtica onde o pobre, o doente, o homossexual, o portador de aids, o ladrão, etc., podem encontrar esperança para uma restauração de vida que pode ser efetuada por meio do evangelho. A igreja é o Pronto Socorro Espiritual e Social para toda e qualquer pessoa que se acha presa e subjugada pelo mundo, pelo pecado e pelo diabo. Como comunidade terapêutica a igreja estenderá o seu braço para restaurar a cultura no qual ela esteja inserida e não rejeitar seus aspectos positivos. Para isso, ela precisará sempre “crer no potencial das pessoas e do mundo”109, ou seja, precisará crer que mesmo com a queda da humanidade traços de Deus ainda se encontram presentes em todo o ser humano, e são esses traços que precisam ser valorizados de modo positivo. Para que a igreja faça tudo isso ela precisará em primeiro lugar se autotransformar. Uma igreja que não se permite transformar a todo e qualquer 109 D’ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Sal Fora do Saleiro, p. 86 67 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br instante a fim de poder exercer bem o seu papel no mundo, não será uma agência eficaz do Reino de Deus na terra. A auto-transformação será sempre essencial para ela, pois assim poderá se santificar constantemente como também poderá se atualizar das demandas e das necessidades existentes em seu mundo. Será por meio da contemporâneidade e da atualidade do Púlpito que a igreja poderá associar a agenda do mundo com a agenda de Deus. Ela poderá apresentar a revelação de Deus em Cristo Jesus para todas as necessidades humanas experienciadas por cada pessoa em particular. Além disso, será sempre necessário traçar estratégias inteligentes de atuação a fim de se transformar realidades que necessitam de transformação. Sem um plano de ação como Corpo de Cristo não se poderá ser Sal e Luz como assim diz o Senhor. Com um plano de ação coerente sempre se saberá sempre o momento certo de se transformar o sabor do mundo e também de brilhar onde houver escuridão. 68 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br Conclusão Pode-se imaginar quais serão os contornos desse contexto futurista que a humanidade viverá daqui a algumas décadas. Mesmo que se chegue àquele estágio de vida similar ao contexto vivido pela família Jetson’s, a igreja do Senhor Jesus também estará presente ali e continuará a manter a sua responsabilidade de ser sal e luz no mundo. Isto devido a seu caráter de eternidade e de agente do Reino de Deus na terra. Enquanto existir o mundo, enquanto não soar a última trombeta, a igreja deverá manter-se fiel a seu chamado e vocação. Sua incumbência de ministrar às necessidades do mundo, visando acima de tudo reconciliar o homem com Deus, sempre será a força de sua vitalidade. Deixar de exercer esse seu papel e missão será deixar de ser o que ela deve ser. Será negar a sua identidade e essência. Lamentavelmente isto tem sido a realidade de muitas igrejas locais espalhadas pela face da terra. Igrejas que perderam o referencial de sua missão e propósito e que, ao invés de causarem impacto no contexto onde estão inseridas, se vestem com a capa da alienação religiosa fechando os olhos para as necessidades e desafios do mundo. Igrejas que se limitam à uma religiosidade hipócrita e por muitas vezes imoral, e que se escondem atrás de seus discursos patéticos e superficiais. O novo contexto pós-moderno que se apresenta na entrada do Terceiro Milênio, exigirá uma postura mais ousada e firme por parte da igreja. Se não houver uma atitude de arrependimento e contrição diante da omissão e do 69 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br descaso para com a missão, será impossível ter um ministério efetivo e eficaz no mundo. Portanto, compete à igreja o desafio do correto posicionamento e do necessário engajamento para que ela demonstre a sua essência por meio do exercício de seu ministério e atuação. Esse correto posicionamento está associado à necessidade de uma identificação com os princípios bíblicos de uma missão integral. A igreja precisa se situar em primeiro lugar na razão de ser de sua existência e propósito. Esse é o ponto de partida para um posicionamento no mundo que vise transformar as realidades da experiência humana por meio do evangelho. E por meio de um necessário engajamento que contemple as necessidades e desafios do mundo, e que se interessa em atuar sobre eles, é que darão à igreja os motivos e as razões para se continuar a exercer um ministério que cause relevância e demonstre eficácia. Deus sonha com uma igreja que viva em sua totalidade os princípios e os valores do Reino. Compete, portanto, à essa nova geração de cristãos, não decepcionar seu Senhor e viver a cada dia em função desses desafios e alvos a serem alcançados. 70 Os Desafios da Igreja Verifique se está com a versão atualizada em www.andersonrezende.com.br REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AMORESE, Rubem Martim. Icabode: da Mente de Cristo à Consciência Moderna. São Paulo: Press, 1993. 175p. ANDERSON, Perry. As Origens da Pós-Modernidade. Trad. Marcus Pechel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989. 165p. AZEVEDO, Israel Belo. O Olhar da Incerteza: Crítica da Cultura Contemporânea. São Paulo: Prazer de Ler, 1998. 116p. BOFF, Leonardo. Igreja: Carisma e Poder. 3a ed. Petrópolis: Vozes, 1982. 249p. CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado. São Paulo: Umesp, 1997. 502p. CARRIKER, Charles Timóteo. Missão Integral. São Paulo: Sepal, 1992. 317p. CASTIÑEIRA, Àngel. A Experiência de Deus na Pós-Modernidade. Trad. Ralfy Mendes de Oliveira. Petrópolis: Vozes, 1997. 190p. CAVALCANTI, Robinson. 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