estudo do texto literário: natureza e função da literatura

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estudo do texto literário: natureza e função da literatura
PORTUGUÊS - 3o ANO
MÓDULO 33
ESTUDO DO TEXTO
LITERÁRIO: NATUREZA
E FUNÇÃO DA
LITERATURA
Como pode cair no enem
(ENEM) No poema Procura da poesia, Carlos Drummond de Andrade expressa a concepção
estética de se fazer com palavras o que o escultor Michelangelo fazia com mármore. O fragmento abaixo exemplifica essa afirmação.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?
(ANDRADE, Carlos Drummond. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 1997)
Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema constante entre autores modernistas:
a) a nostalgia do passado colonialista revisitado.
b) a preocupação com o engajamento político e social da literatura.
c) o trabalho quase artesanal com as palavras, despertando sentidos novos.
d) a produção de sentidos herméticos na busca da perfeição poética.
e) a contemplação da natureza brasileira na perspectiva ufanista da pátria.
Fixação
Texto para as questões 1 e 2.
Gaveta dos guardados
A memória é a gaveta dos guardados. Nós somos o que somos, não o que virtualmente seríamos capazes de ser.
Minha bagagem são os meus sonhos. Fui o poeta das ruas, das vielas silenciosas do Rio, antes que se tornasse uma cidade
assolada pela violência. Sempre fui ligado à terra, ao meu pátio.
No Rio Grande do Sul estou no colo da mãe. Creio que minha fase atual, neste momento, em 1993, reflete a eterna solidão do
homem.
A obra só se completa e vive quando expressa. Nos meus quadros, o ontem se faz presente no agora. Lanço-me na pintura e
na vida por inteiro, como um mergulhador na água. A arte é também história. E expressa a nossa humanidade. A arte é intemporal,
embora guarde a fisionomia de cada época. Conheci em Paris um escultor brasileiro, bolsista, que não frequentava museus para
não perder a personalidade, esquecendo que só se perde o que se tem.
(...)
A memória é a gaveta dos guardados, repito para sublinhar. O clima dos meus quadros vem da solidão da campanha, do campo,
onde fui guri e adolescente. Na velhice perde-se a nitidez da visão e se aguça a do espírito.
A memória pertence ao passado. É um registro.
Sempre que a evocamos, se faz presente, mas permanece intocável, como um sonho. A percepção do real tem a concreteza, a
realidade física, tangível. Mas como os instantes se sucedem feito os tique-taques do relógio, eles vão se transformando em passado, em memória, e isso é tão inaferrável* como um instante nos confins do tempo.
Escrever pode ser, ou é, a necessidade de tocar a realidade que é a única segurança de nosso estar no mundo – o existir. É
difícil, se não impossível, precisar quando as coisas começam dentro de nós.
(...)
A vida dói... Para mim o tempo de fazer perguntas passou. Penso numa grande tela que se abre, que se me oferece intocada,
virgem. A matéria também sonha.
Procuro a alma das coisas. Nos meus quadros o ontem se faz presente no agora. A criação é um desdobramento contínuo, em
uníssono com a vida. O autorretrato do pintor é pergunta que ele faz a si mesmo, e a resposta também é interrogação. A verdade
da obra de arte é a expressão que ela nos transmite. Nada mais do que isso!
(Folha de S.Paulo, 09/05/1998. Contido em: CAMARGO, Iberê. In: NESTROVSKI, Arthur [Org.]. Figuras do Brasil: 80 autores em 80 anos de Folha. São Paulo: Publifolha, 2001.)
Glossário:
• Inaferrável: Pode ser entendido como “inalcançável”.
1) (UERJ) A memória é a gaveta dos guardados.
A frase acima expressa a importância das experiências individuais na criação artística. A passagem do texto em que mais facilmente
se percebe o vínculo entre memória e obra de arte é:
a) “A obra só se completa e vive quando expressa.”
b) “Nos meus quadros, o ontem se faz presente no agora.”
c) “Lanço-me na pintura e na vida por inteiro.”
d) “A percepção do real tem a concreteza, a realidade física.”
Fixação
2) (UERJ) Escrever pode ser, ou é, a necessidade de tocar a realidade que é a única segurança
de nosso estar no mundo – o existir. É difícil, se não impossível, precisar quando as coisas
começam dentro de nós.
Esse parágrafo relaciona-se com o parágrafo anterior pela associação de:
a) registro e dor.
b) texto e verdade.
c) escrita e passado.
d) literatura e solidão.
Fixação
3) (ENEM) Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve
influência significativa em sua carreira de escritor.
Lembro-me de que certa noite, eu teria uns quatorze anos, quando muito, encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto
um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam carneado.. (...)
Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se
esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando
esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (...)
Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de
que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a
nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que
sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica,
acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente,
como um sinal de que não desertamos nosso posto..
(VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.)
Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo
define como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura:
a) criar a fantasia.
b) permitir o sonho.
c) denunciar o real.
d) criar o belo.
e) fugir da náusea.
Fixação
4) (ENEM)
Do pedacinho de papel ao livro impresso vai uma longa distância. Mas o que o escritor
quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma. A gaveta é ótima para aplacar a fúria
criativa; ela faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho.
Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda.
O período de maturação na gaveta é necessário, mas não deve se prolongar muito.
“Textos guardados acabam cheirando mal”, disse Silvia Plath, (...) que, com esta frase, deu
testemunho das dúvidas que atormentam o escritor: publicar ou não publicar? guardar ou
jogar fora?
(SCLIAR, Moacyr. O escritor e seus desafios.)
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa imagens para refletir sobre uma etapa da criação
literária. A ideia de que o processo de maturação do texto nem sempre é o que garante bons
resultados está sugerida na seguinte frase:
a) “A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa.”
b) “Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda.”
c) “O período de maturação na gaveta é necessário, (...).”
d) “Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma.”
e) “ela (a gaveta) faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho.”
Fixação
Texto para as questões 5 a 7.
Porque a realidade é inverossímil
Escusando-me por repetir truísmo2 tão martelado, mas movido pelo conhecimento de que os
truísmos são parte inseparável da boa retórica narrativa, até porque a maior parte das pessoas
não sabe ler e é no fundo muito ignorante, rol no qual incluo arbitrariamente você, repito o que
tantos já dizem e vivem repetindo, como quem usa chupetas: a realidade é, sim, muitíssimo mais
inacreditável do que qualquer ficção, pois esta requer uma certa arrumação falaciosa3, a que a
maioria dá o nome de verossimilhança. Mas ocorre precisamente o oposto. Lê-se ficção para
fortalecer a noção estúpida de que há sentido, lógica, causa e efeito lineares e outros adereços
que integrariam a vida. Lê-se ficção, ou mesmo livros de historiadores ou jornalistas, por insegurança, porque o absurdo da vida é insuportável para a vastidão dos desvalidos que povoa a Terra.
1
(João Ubaldo Ribeiro. Diário do Farol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.)
Glossário:
1) escusando-me: desculpando-me
2) truísmo: verdade trivial, lugar comum
3) falaciosa: enganosa, ilusória
5) (UERJ) O título do texto soa contraditório, se a verossimilhança for tomada como uma semelhança com o mundo real, com aquilo que se conhece e se compreende. Essa contradição
se desfaz porque, na interpretação do autor, a ficção organiza elementos da vida, enquanto a
realidade é considerada como:
a) linear
b) absurda
c) estúpida
d) falaciosa
Fixação
6) (UERJ) Para justificar a repetição de algo já conhecido, o autor se baseia na relação que
mantém com os leitores.Com base no texto, é possível perceber que essa relação se caracteriza genericamente pela:
a) insegurança do autor;
b) imparcialidade do autor;
c) intolerância dos leitores;
d) inferioridade dos leitores.
o
Fixação
7) (UERJ) os truísmos são parte inseparável da boa retórica narrativa, até porque a maior parte
das pessoas não sabe ler (l. 1-3)
O narrador justifica a necessidade de truísmos pela dificuldade de leitura da maior parte
das pessoas.
Encontra-se implícita no argumento a noção de que o leitor iniciante lê melhor se:
a) estuda autores clássicos;
b) conhece técnicas literárias;
c) identifica ideias conhecidas;
d) procura textos recomendados.
Fixação
8) (ENEM)
Texto I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
(MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 [fragmento].)
Texto II
João Cabral, que já emprestara sua voz ao
rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que,
como o Capibaribe, também segue no caminho do
Recife. A autoapresentação do personagem, na
fala inicial do texto, nos mostra um Severino que,
quanto mais se define, menos se individualiza,
pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros homens.
(SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999
[fragmento].)
Com base no trecho de Morte e Vida Severina
(Texto I) e na análise crítica (Texto II), observa-se
que a relação entre o texto poético e o contexto
social a que ele faz referência aponta para um
problema social expresso literariamente pela pergunta “Como então dizer quem fala / ora a Vossas
Senhorias?”. A resposta à pergunta expressa no
poema é dada por meio da:
a) descrição minuciosa dos traços biográficos do
personagem-narrador.
b) construção da figura do retirante nordestino como
um homem resignado com a sua situação.
c) representação, na figura do personagem-narrador,
de outros Severinos que compartilham sua condição.
d) apresentação do personagem-narrador como uma
projeção do próprio poeta, em sua crise existencial.
e) descrição de Severino, que, apesar de humilde,
orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.
Proposto
Texto para as questões 1 a 3.
(...) Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num
momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer falta, mas terá sido
uma perda irreparável?
Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. Se ele existisse, ver-me-ia
propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma
partida, quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das
folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz,
frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso?
Essas coisas verdadeiras não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento:
valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram,
associaram-se, e é inevitável mencioná-las. Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade.
(...) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que
julgo ter notado. Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que
não recusem as minhas: conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade (...)
(RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio, São Paulo: Record, 1984.)
1) (UERJ) O fragmento transcrito expressa uma reflexão do autor-narrador quanto à escrita de seu
livro contando a experiência que viveu como preso político, durante o Estado Novo.
No que diz respeito às relações entre escrita literária e realidade, é possível depreender, da leitura
do texto, a seguinte característica da literatura:
a) revela ao leitor vivências humanas concretas e reais.
b) representa uma conscientização do artista sobre a realidade.
c) dispensa elementos da realidade social exterior à arte literária.
d) constitui uma interpretação de dados da realidade conhecida.
Proposto
2) (UERJ) Por causa da perda das anotações, relatada pelo narrador, o texto é impregnado de
dúvidas acerca da exatidão do que será levantado no livro.
O trecho que melhor representa um exemplo dessas dúvidas é:
a) “Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material”.
b) “Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las”.
c) “neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado”.
d) “Não as contesto, mas espero que não recusem as minhas”.
Proposto
3) (UERJ) A relação entre autor e narrador pode assumir feições diversas na literatura. Podese dizer que tal relação tem papel fundamental na caracterização de textos que, a exemplo do
livro de Graciliano Ramos, constituem uma autobiografia – gênero literário definido como relato
da vida de um indivíduo feito por ele mesmo. A partir dessa definição, é possível afirmar que o
caráter autobiográfico de uma obra é reconhecido pelo leitor em virtude de:
a) conteúdo verídico das experiências pessoais e coletivas relatadas;
b) identidade de nome entre autor, narrador e personagem principal;
c) possibilidade de comprovação histórica de contextos e fatos narrados;
d) notoriedade do autor e de sua história junto ao público e à sociedade.
Proposto
4) (UERJ-Adaptada) Observe atentamente o trecho transcrito abaixo.
(...) o objetivo da poesia (e da arte literária em geral) não é o real concreto, o verdadeiro,
o aquilo que de fato aconteceu, mas sim o verossímil, o que pode acontecer, considerado na
sua universalidade.
(SILVA, Vítor M. de A. Teoria da Literatura. Coimbra: Almedina, 1982.)
A partir da leitura do fragmento, pode-se deduzir que a obra literária tem o seguinte objetivo:
a) opor-se ao real para afirmar a imaginação criadora;
b) anular a realidade concreta para superar contradições aparentes;
c) construir uma aparência de realidade para expressar dado sentido;
d) buscar uma parcela representativa do real para contestar sua validade.
Proposto
Texto para as questões 5 e 6.
Sonata (trecho)
A história que vou contar não tem a rigor um princípio, um meio e um fim. O Tempo é um rio sem nascentes a correr incessantemente para a
Eternidade, mas bem se pode dar que em inesperados trechos de seu curso o nosso barco se afaste da correnteza, derivando para algum braço
morto, feito de antigas águas ficadas, e só Deus sabe o que então nos poderá acontecer. No entanto, para facilitar a narrativa, vamos supor que
tudo tenha começado naquela tarde de abril.
Era o primeiro ano da Guerra e eu evitava ler os jornais ou dar ouvidos às pessoas que falavam em combates, bombardeios e movimentos
de tropas.
“Os alemães romperão facilmente a linha Maginot”, assegurou-me um dia o desconhecido que se sentara a meu lado num banco de praça.
“Em poucas semanas estarão senhores de Paris.”
Sacudi a cabeça e repliquei: “Impossível.
Paris não é uma cidade do espaço, mas do tempo. É um estado de alma e como tal inacessível às Panzerdivisionen. O homem lançou-me
um olhar enviesado, misto de estranheza e alarma. Ora, estou habituado a ser olhado desse modo. Um lunático! É o que murmuram de mim
os inquilinos da casa de cômodos onde tenho um quarto alugado, com direito à mesa parca e ao banheiro coletivo. E é natural que pensem
assim. Sou um sujeito um tanto esquisito, um tímido, um solitário que às vezes passa horas inteiras a conversar consigo mesmo em voz alta.
“Bicho-de-concha!”- já disseram de mim.
Sim, mas a esta apagada ostra não resta nem o consolo de ter produzido em sua solidão alguma pérola rara, a não ser...
Mas não devo antecipar nem julgar.
Homem de necessidades modestas, o que ganho, dando lições de piano a domicílio, basta para o meu sustento e ainda me permite comprar
discos de gramofone e ir de vez em quando a concertos. Quase todas as noites, depois de vaguear sozinho pelas ruas, recolho-me ao quarto,
ponho a eletrola a funcionar e, estendido na cama, cerro os olhos e fico a escutar os últimos quartetos de Beethoven, tentando descobrir o que teria
querido dizer o Velho com esta ou aquela frase. Tenho no quarto um piano no qual costumo tocar as minhas próprias composições, que nunca tive
a coragem nem a necessidade de mostrar a ninguém. Disse um poeta que, entre a ideia e a realidade, entre o movimento e o ato, cai a Sombra.
Pois entre essa Sombra e a mal-entrevista claridade duma esperança vivia eu, aparentemente sem outra ambição que a de manter a paz
e a solitude.
No inverno, na primavera e no verão sinto-me como que exilado, só encontrando o meu clima nativo, o meu reino e o meu nicho no outono – a
estação que envolve as pessoas e as coisas numa surdina lilás. É como se Deus armasse e iluminasse o palco do mundo especialmente para
seus mistérios prediletos, de modo que a qualquer minuto um milagre pode acontecer.
(VERÍSSIMO, Érico. Contos. Porto Alegre: Globo, 1980.)
Glossário:
• Panzerdivisionen: divisões nazistas de ataque.
5) (UERJ) Este trecho faz parte do início de um conto. Seu narrador alerta o leitor para o caráter ficcional do relato que passará a ler. Isso se dá por meio
do seguinte recurso:
a) assumir uma história sem princípio, meio e fim;
b) construir uma frase longa com ritmo fluente de narrativa;
c) usar o verbo supor como marca de início dos acontecimentos;
d) sugerir o Tempo e a Eternidade como metáforas humanizadas.
Proposto
6) (UERJ) O início do conto Sonata estabelece as referências para categorias importantes da
narrativa. As categorias de tempo, espaço e o caráter do personagem--narrador são delimitados,
respectivamente, pelos seguintes elementos do texto:
a) outono, ruas, piano;
b) tempo, rio sem nascentes, barco;
c) Segunda Guerra, Paris, Beethoven;
d) gramofone, cômodos, bicho-de-concha.
Proposto
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus
silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por
isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um
formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus
silêncios.
(BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In.
PINTO, Manuel da Costa. Antologia comentada da poesia
brasileira do século XXI. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74)
7) (ENEM) Considerando o papel da arte poética e a
leitura do poema de Manoel de Barros, afirma-se que:
a) informática e invencionática são ações que,
para o poeta, correlacionam-se: ambas têm o
mesmo valor na sua poesia.
b) arte é criação e, como tal, consegue dar voz
às diversas maneiras que o homem encontra
para dar sentido à própria vida.
c) a capacidade do ser humano de criar está
condicionada aos processos de modernização
tecnológicos.
d) a invenção poética, para dar sentido ao
desperdício, precisou se render às inovações
da informática.
e) as palavras no cotidiano estão desgastadas, por isso à poesia resta o silêncio da não
comunicabilidade.