A Ditadura da Coluna

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A Ditadura da Coluna
A Ditadura da Coluna
Por: Dr. Iury Borges Rocha
Desde que o Homo Sapiens conseguiu a proeza de andar ereto, apareceram também as dores
de coluna, afetando 80% da população mundial.
O fato, porém, é que andar ereto foi diferencial para a nossa espécie. Acredita-se que por isso
nosso cérebro se desenvolveu tanto. E tudo graças a lordose lombar, que, por sinal, é
exclusiva à raça humana. Mas isto veio com um preço. E este preço é que nossa coluna tem
que estar o mais próximo do biomecanicamente ideal possível para que não tenhamos
problemas.
A coluna vertebral, vista de perfil, não deveria ser reta. Tem que haver quatro curvas
fisiológicas (02 lordoses e 02 cifoses) para que sirvam como uma espécie de mola (auxiliadas,
é claro, pelos 23 discos intervertebrais). A intenção é amortecer. As cifoses são curvas
posteriores, desenvolvidas ainda quando feto. São elas as cifoses torácica e sacral. As
lordoses são curvas anteriores. E a gente não nasce com elas. É no importante ato de
engatinhar que desenvolvemos as lordoses cervical e lombar.
No Brasil, as lordoses são freqüentemente referidas como uma coisa ruim. Mas na realidade o
problema não são as lordoses em si, mas a diminuição ou aumento delas, as chamadas
hipolordoses ou hiperlordoses. Em suma, ao desviarmos da biomecânica ideal da coluna como
descrito acima. A hipolordose proporciona uma carga excessiva no disco. E pode ser causada
por falta ou insuficiência de engatinhar, fatores genéticos, etnia, trauma como fratura
compressiva de uma vértebra lombar, ou até postura incorreta. A vasta maioria dos casos de
hérnia de disco são nos “hipolordóticos”. A hiperlordose tem mais a ver com fatores genéticos e
etnia, e é um pouco menos nociva que a hipolordose, apesar de causar aumento de carga nas
articulações zigapofiseais, podendo gerar eventualmente um processo de artrose, chegando
até a estenose do canal vertebral.
Andamos constantemente, portanto, numa linha tênue, regido pela ditadura do
“biomecanicamente ideal.” Qualquer desvio desta utopia biomecânica predispõe a gente a ter
problemas de coluna. É o preço a pagar por andarmos eretos.
Por outro lado, a coluna, com suas 24 vértebras, mais o sacro, o cóccix e a bacia, tem sua
linha de defesa. A coluna é mestre na arte do improviso. E para isto voltamos nossos olhos
novamente para uma de suas principais funções: a locomoção. As cidades se desenvolveram
há menos de 10.000 anos, e nossa carga genética é anterior a isso, na época em que o ser
humano não estava no topo da cadeia alimentar. Definitivamente não era interessante ficar
imobilizado com dor de coluna à espera de predadores. Então a coluna criou um meio de
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A Ditadura da Coluna
defesa um tanto quanto negativa, é verdade, mas eficaz para manter-nos ambulatórios.
Enquanto um segmento vertebral “trava” ali, ela compensa com uma escoliose ou
hipermobilidade acolá. Nos casos mais severos, causa antalgia, em que a pessoa fica
“empenada” para amenizar a dor. E vai tocando pra frente.
Contudo, a intenção é somente ganhar tempo, porque eventualmente o desvio daquele ideal
biomecânico mais cedo ou mais tarde vem cobrar a fatura. E por causa desta nossa
predisponibilidade a ter problemas de coluna, surgiram ao longo do tempo várias modalidades
de tratamento. Manipulação vertebral e acupuntura, por exemplo, existem há mais de 5.000
anos. Mas isso já é tópico para outro artigo.
( Iury Borges Rocha, ABQ 0007 é formado em Quiropraxia pelo Palmer University em
Davenport, Iowa – E.E.U.U. e exerce a profissão há 12 anos em suas clínicas em Ilhéus,
Salvador e Brasília. É também Bacharel em Ciências pela Palmer e Licenciado em
Comunicações pela Scott Community College, em Bettendorf, Iowa – E.E.U.U.. Publica
colunas semanais no DIÁRIO DE ILHÉUS desde 2006.
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