Sutra Mahayana da Rede de Brahma
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Sutra Mahayana da Rede de Brahma
Estudo Introdutório Dharmānanda Mahācārya – André Otávio Assis Muniz 1. Visão geral do Sūtra Mahāyāna da Rede de Brahmā O Sūtra Mahāyāna da Rede de Brahmā, Fàn wǎng jīng (Mahāyāna Brahmajāla-sūtra) é um sūtra em 2 fascículos (Edição Taishô do Tripitaka n. 1484. 24.997a-1010a) e deve ser distinguido do Brahmajāla sūtra Hīnayāna equivalente ao que pode ser encontrado no Dīgha-Nikāya 梵網六十二見經 (Fàn wǎng liùshí èrjiàn jīng - Brahma-jāla-sutta). Tradicionalmente, a tradução do Fàn wǎng jīng é atribuída a Kumārajīva no ano de 406 da Era Comum, mas é considerado pelos estudiosos como um texto apócrifo. Trata-se, supostamente, de uma tradução do décimo capítulo de um texto sânscrito muito maior (120 fascículos) chamado “Bodhisattva-śīla sūtra” 菩薩戒經 (Sūtra dos Preceitos do Bodhisattva - Púsàjiè jīng), também conhecido pelos títulos 梵 網 經 菩 薩 心 地 品 (Fàn wǎng jīng púsà xīndì pǐn) e 梵網戒品 (fàn wǎng jiè pǐn). Os dois fascículos são marcadamente diferentes em assunto e estilo. O primeiro fascículo consiste em uma detalhada discussão a respeito dos quarenta e oito portais do Dharma 四十八法門 (Sìshíbā fǎmén), incluídos nas discussões sobre os dez estados mentais dos que entraram na corrente 十發 趣心 (Shí fā qù xīn), dez estados mentais da nutrição 十長養心 (Shí zhǎng yǎng xīn), dez tipos de estados mentais adamantinos 十 金 剛 心 (Shí jīngāngxīn) e estados mentais dos dez níveis 十地心 (Shí dì xīn). Estes correspondem aos quarenta níveis elucidados em outros textos Mahāyāna (não incluindo os dez níveis de confiança como são encontrados na tradição 華厳 Huáyán– Kegon). O segundo fascículo discute sobre os dez preceitos maiores 十重戒 (Shí zhòng jiè) e os quarenta e oito preceitos menores 四十 八 輕 戒 (Sìshíbā qīng jiè). O conteúdo e estilo do primeiro e segundo fascículos são tão diferentemente radicais que alguns estudiosos acreditam serem de diferentes autores. Sobre a importância do Fàn wǎng jīng entre os textos apócrifos que tratam dos quarenta estágios, aqueles textos copiados um pouco depois do Fàn wǎng jīng, como o 菩薩瓔珞本業經 (Púsà yīngluò běn yèjīng, Taishô 1485) incluem discussões mais bem organizadas e mais abrangentes sobre este tema. De fato, o texto chinês clássico que compreende o primeiro capítulo é virtualmente impenetrável e escrito em um estilo rude, um tanto infantil e altamente deficiente nas partículas gramaticais padrão que dificultam ao leitor a compreensão do texto. Como resultado disso, o primeiro fascículo do Fàn wǎng jīng costuma ser completamente ignorado pelos comentaristas clássicos do texto, assim como pelos eruditos modernos (uma notável exceção é o comentário completo sobre o texto feito por Daehyeon, o 梵網經 古 迹 記 (Fàn wǎng jīng gǔjī jì, em coreano: Beommanggyeong gojeokgi , Taishô 1815). 1 O segundo fascículo, por outro lado, tornou-se um dos textos mais freqüentemente comentados na tradição budista do leste da Ásia. No final do século V da Era Comum, ele circulava na China como um texto independente sobre os preceitos. Este segundo fascículo, que sozinho é chamado de “Capítulo” ou “Livro dos Preceitos do Bodhisattva” é altamente respeitado pelo Budismo do Leste Asiático e é o fundamento da tradição dos preceitos Mahāyāna, tendo se tornado o texto canônico básico para se definir o Vinaya no Mahāyāna. Os maiores comentários a ele são: 菩薩戒義疏 - Púsàjiè yì shū (T. 1811, por Zhiyi 智顗 e Guàndǐng 灌頂) 梵網經菩薩戒本私記 - Fàn wǎng jīng púsàjiè běn sī jì (HBJ 1.586-604, por Wonhyo 元曉) 天台菩薩戒疏 - Tiāntái púsàjiè shū (T. 1812, por Míng kuàng 明曠) 梵網經菩薩戒本疏 - Fàn wǎng jīng púsàjiè běn shū(T. 1813, por Fǎcáng 法藏) 菩薩戒本疏 - Púsàjiè běn shū (T. 1814, por Uijeok 義寂) 梵網經古迹記 - Fàn wǎng jīng gǔjī jì (T. 1815, por Daehyeon 太賢) 2. A importância dos preceitos no Budismo Uma das três principais divisões do cânone budista é o chamado “Vinaya Piṭaka” ou o “Cesto da Disciplina”. O propósito dessas escrituras é regular em todos os detalhes a vida interna da comunidade budista, mais especificamente de monges e monjas. O Vinaya é dividido em três seções, a primeira contendo o conjunto de regras para monges e monjas, conhecida como “Pratimokṣa-sūtra”, a segunda e terceira contendo material biográfico sobre o Buda e algo sobre a história da comunidade budista primitiva. As regras disciplinares têm várias versões diferentes de acordo com a escolas que as adotaram. São elas: Mahāsāṃghika, Mahīśāsaka, Dharmaguptaka, Sarvāstivāda e Mūlasarvāstivāda. De acordo com a versão adotada, o número de regras varia e as observâncias específicas também. Em geral, o teor da disciplina se mantém. A tradição budista diz que essas regras foram estabelecidas pelo próprio Buda, mas as pesquisas historiográficas e as evidências internas do próprio cânone, apontam que essas regras foram sendo introduzidas com o passar do tempo, devido às necessidades da crescente comunidade budista. A forma definitiva dessas observâncias só se fixou por volta do século V da Era Comum, com o comentário de Buddhaghoṣa chamado de “Samantapāsādikā”. 2 Na China, no Japão e na Coréia, a forma mais amplamente adotada das regras do Pratimokṣa é a versão dos Dharmaguptakas chamada de Ssŭ-fen lü 四分律 (Taishô1428). Existem várias teorias que dão importância maior ou menor à observância estrita dos preceitos. Algumas teorias vêem os preceitos como uma fonte de inspiração moral, outras vêem os preceitos como regras imutáveis independentemente do tempo, um terceiro grupo de teorias adota um ou outro conjunto de preceitos (os preceitos do Fàn wǎng jīng, objeto de nosso estudo, como substitutos Mahāyāna do Ssŭ-fen lü, considerados preceitos Hīnayāna) e um quarto grupo, dos seguidores da Escola da Verdadeira Terra Pura (Japão), não dão nenhuma importância aos preceitos, crendo que os mesmos são inaplicáveis na era atual, a “Era da Decadência do Dharma”. 3. As teorias clássicas do Mahāyāna relativas aos preceitos Recentes pesquisas (cf. HIRAKAWA, Akira. Daijô Bukkyô Kyôdan no Kyôdanshiteki Seikaku) indicaram que alguns grupos dentre os primeiros praticantes do Mahāyāna podem ter usado os Preceitos de Bodhisattva para ordenarem a si mesmos. Os líderes desses grupos chamavam a si mesmos de bodhisattvas e reconheciam a distinção entre leigos bodhisattvas - 在家菩薩(Zàijiā púsà) e monges bodhisattvas -出家菩薩(Chūjiā púsà). Os leigos tomavam os Cinco Preceitos Básicos e os monges tomavam os chamados “Dez Preceitos Virtuosos”, que são: 1) Abstenção de matar; 2) Abstenção de roubar/furtar; 3) Abstenção de conduta errônea em relação aos prazeres dos sentidos; 4) Abstenção de dizer mentiras; 5) Abstenção de fala maliciosa; 6) Abstenção de fala severa; 7) Abstenção de tagarelice inútil; 8) Abstenção de cobiça; 9) Abstenção de má vontade; 10) Abstenção de visões errôneas. Estes preceitos estavam conectados com as chamadas “Dez Ações Virtuosas” que aparecem na literatura Hīnayāna. Os primeiros praticantes do Mahāyāna tomaram essas ações virtuosas como preceitos. 3 Não se pode dizer que os primeiros praticantes do Mahāyāna eram leigos, pois raspavam a cabeça e vestiam mantos monásticos renunciando aos valores seculares. Da perspectiva do Hīnayāna, no entanto, eles não eram monges ou monjas (pois não tomavam os 250/348 preceitos do Vinaya Hīnayāna). A partir desses dados históricos, podemos concluir que em um período bem inicial do Mahāyāna, o clero era formado essencialmente por um grupo que não era nem completamente monástico, nem tampouco leigo. Com uma maior institucionalização do Mahāyāna e com a adesão de monges ordenados pelo Vinaya Hīnayāna ao movimento Mahāyāna, estabelece-se uma doutrina de “preceitos mistos”, ou seja, parte Hīnayāna e parte Mahāyāna. No século VI da Era Comum, na China, o Grande Mestre do Tiāntái Zhiyi (538-597), conferia os Preceitos de Bodhisattva tanto a monges ordenados de acordo com o Ssŭ-fen lü, quanto a leigos. Dentre esses leigos podemos citar o Imperador Hsien e o Príncipe Yang Kuang. Zhiyi cita os Preceitos de Bodhisattva de acordo com o Fàn wǎng jīng quatro vezes em suas três obras maiores: o Mó hē zhǐguān - 摩訶止観, o Fǎhuá xuán Yi - 法華玄義 e o Fǎhuá wénjù jì 法華文句記. Zhiyi baseia sua discussão sobre os preceitos nas dez classificações oferecidas na magistral obra de Nagarjuna - Dàzhì dù lùn - 大智度論. Zhiyi introduz o conceito de “Preceitos Perfeitos” - Yuán jiè - 圓戒 que não são identificados com nenhum conjunto específico de preceitos (nem os do Fàn wǎng jīng nem os do Ssŭ-fen lü). Zhiyi diz que a aderência ao Sutra do Lótus - 持經-Chí jīng, é equivalente a manter todos os mais profundos e completos preceitos. Esses preceitos implícitos na adesão ao Sutra do Lótus são chamados de Lǐ jiè 理戒 e são livres de conteúdo específico. Zhiyi afirma que tais preceitos podem ser realizados de duas maneiras: A maneira gradual, onde o discípulo vai lentamente avançando de um conjunto a outro de preceitos e a maneira súbita, onde, através da profunda compreensão da doutrina do Sutra do Lótus, o discípulo se torna mestre de todos os conjuntos de preceitos captando perfeitamente sua essência. Zhiyi enfatiza o caráter absoluto desses preceitos Lǐ jiè e afirma que eles não estão limitados a um conjunto específico de preceitos pois seu caráter é abstrato e profundo demais para estar confinado a qualquer rol específico. No “Mó hē zhǐguān”, Zhiyi sugere que os Preceitos do Bodhisattva elencados no Fàn wǎng jīng pode ser utilizados como um modelo de “Preceitos Perfeitos”. O discípulo de Zhiyi, Zhàn rán - 湛然 (711-782 da E.C.) era da opinião que os “Preceitos Perfeitos” só poderiam ser completos quando tivessem uma forma 4 tangível. Ele escreve que, pelo fato dos “Preceitos Perfeitos” teorizados por Zhiyi serem demasiadamente informes e abstratos, isso poderia levar os discípulos a se tornarem relaxados para com a prática e infringir os preceitos. Zhàn rán afirmava que os preceitos elencados no Fàn wǎng jīng poderiam ser considerados como os próprios “Preceitos Perfeitos”. Para realizar uma síntese acomodatícia entre os preceitos Hīnayāna representados pelo Ssŭ-fen lü e os “Preceitos Perfeitos” do Mahāyāna, representados pelo Fàn wǎng jīng, Zhàn rán teorizou que os preceitos do Fàn wǎng jīng não eram muito detalhados e, por isso, esses detalhes seriam fornecidos minuciosamente pelo Ssŭ-fen lü . É importante notar que essa posição estava de acordo com as instituições monásticas da época. Se realizarmos um estudo profundo sobre os dois códigos morais, no entanto, veremos que existem diferenças profundas em relação às classificações realizadas por ambos e que a acomodação entre ambos não é tarefa das mais simples. Aquilo que o Fàn wǎng jīng classifica como ofensas graves, o Ssŭ-fen lü classifica como ofensas menores. O enfoque do Fàn wǎng jīng é completamente ético, enquanto o enfoque do Ssŭ-fen lü envolve aspectos disciplinares específicos do dia-a-dia das comunidades monásticas como regras relativas aos mantos, os períodos de retiro, as regras relativas à alimentação etc. Para Míng kuàng 明曠, discípulo de Zhàn rán, a posição tradicional de tratar os preceitos do Fàn wǎng jīng como preceitos pertencentes à categoria Avataṃsaka-Huáyán é errônea. Ele interpretou os preceitos do Fàn wǎng jīng como perfeitos e elevou-os ao mesmo nível dos “Ensinamentos Perfeitos” do Sutra do Lótus. Míng kuàng diz que enquanto os bodhisattvas que seguem as práticas graduais vão se tornando mestres nos vários conjuntos de preceitos, os bodhisattvas do ensinamento repentino se tornam mestres de todos os preceitos em um instante. Eles não precisam se tornar mestres dos preceitos Ssŭ-fen lü antes de progredir para os preceitos perfeitos do Fàn wǎng jīng. Na obra de Míng kuàng os “preceitos inquebráveis” são os Dez Preceitos Maiores. Quebrá-los é como rachar completamente um vaso tornando-o inútil. Os “preceitos que não devem ser trincados” correspondem aos “Quarenta e Oito Preceitos Menores”. Quebrá-los é o equivalente a fazer uma fissura em um vaso que, depois, pode ser remendado e usado novamente. A posição de Míng kuàng é de que quem recebe os preceitos de Bodhisattva é um puro praticante do Mahāyāna e não necessita receber os preceitos Hīnayāna. É a retomada do conceito de Chūjiā púsà (monge Bodhisattva) da ótica do Mahāyāna primitivo. Essa visão seria retomada no Japão por Saichô 最澄 (767-822 da E.C.), fundador da Escola Tendai Japonesa, que defendeu o estabelecimento de uma “Plataforma de Preceitos Mahāyāna” - 大乗戒壇 onde seriam conferidos apenas os preceitos do Fàn wǎng jīng e não mais os preceitos do Ssŭ-fen lü. Por esse critério, seriam monges plenamente ordenados da Escola Tendai 5 japonesa aqueles que recebessem os Preceitos de Bodhisattva de acordo com o Fàn wǎng jīng e deveriam ser chamados de Shukkê-Bosatsu (出家菩 薩). A visão de Saichô em relação aos preceitos provocou enormes controvérsias no meio monástico japonês da época e foi motivo de acrimoniosas disputas e amargas experiências para Saichô. Por fim, depois que este já havia falecido, o governo autorizou o estabelecimento do Daijô Kaidan ( 大乗戒壇)e os monges passaram a ser ordenados exclusivamente pelo Fàn wǎng jīng. Hoje, apesar da Escola Tendai do Japão continuar ordenando seus monges através do Fàn wǎng jīng, não há mais nenhuma preocupação com a prática desses preceitos ou com a manutenção dos costumes ligados aos mesmos. Trata-se de mera formalidade ritualística. 4. A presente tradução do Fàn wǎng jīng Essa é primeira e, até o momento, única tradução do Fàn wǎng jīng para o português. Utilizamos dois textos para produzi-la: A versão em chinês que consta no Tripitaka chinês (T.1484) e uma versão em inglês da “Buddhist Text Translation Society in USA”. Quando encontramos alguma disparidade entre elas, adotamos o critério de traduzir diretamente do chinês, ainda que com uma maior dificuldade para se compreender o texto em português devido à distância entre as línguas. Não utilizamos no texto da tradução do sutra os sinais diacríticos para a transliteração do sânscrito. Esses sinais foram utilizados nesse estudo introdutório por este ser uma parte mais “acadêmica” do presente volume. Em relação ao texto em si acreditamos que, sem os sinais diacríticos, fica mais leve e mais fácil de ser recitado por quem não os conhece. Como se poderá notar, o texto remete constantemente a outros capítulos que não chegaram até os dias de hoje, infelizmente. Alguns conceitos citados também podem soar confusos ou dar margens a diversas interpretações justamente pelo fato de não termos acesso aos textos que, segundo o Fàn wǎng jīng, explicariam “em detalhes” do que se trata. Alguns conceitos se encontram em outros sutras como o Avataṃsaka (no caso das Dez Moradas) ou precisam de um estudo aproximativo (como no caso do “Samadhi dos Dez Dhyana”, pois outros sutras falam em apenas oito Dhyana). Isso, no entanto, não é impeditivo para a compreensão da mensagem essencial do sutra. Esperamos que esta tradução seja uma forma de transmitir as legítimas práticas do Bodhisattva para o Brasil. 6 Sūtra Mahāyāna da Rede de Brahmā Tradução, transliteração do original chinês e notas: Dharmānanda Mahācārya – André Otávio Assis Muniz Formatação e digitação: Bhartri Upāsikā – Melissa M.K.R.S. Muniz I. Buda Vairocana Naquela ocasião, o Buda Vairocana começou a falar sobre o Campo da Mente para o benefício da Grande Assembléia. O que ele falou representa apenas uma infinitesimal parte, a ponta de um fio de cabelo, de seus inumeráveis ensinamentos tão numerosos quanto são os grãos de areia no rio Ganges. Ele concluiu: “O Campo da Mente foi explicado, está sendo explicado e será explicado por todos os Budas do passado, do presente e do futuro. Isto é também o Portal do Dharma que todos os Bodhisattvas do passado, presente e futuro estudaram, estão estudando e estudarão.” “Eu tenho cultivado este Portal do Dharma do Campo da Mente por centenas de eons. Meu nome é Vairocana. Eu rogo para que todos os Budas transmitam minhas palavras a todos os seres sencientes, assim como rogo que abram este caminho de cultivo para todos.” Naquele tempo, de seu trono de leão no Mundo Tesouro do Lótus,o Buda Vairocana emitiu raios de luz. Uma voz dentre os raios foi ouvida dizendo aos Budas sentados em milhares de pétalas de lótus: “Vocês devem praticar e manter o Portal do Dharma do Campo da Mente e transmiti-lo aos inumeráveis Budas Sakyamuni, um após o outro, assim como a todos os seres sencientes. Todos devem manter, ler, recitar e concentradamente colocar em prática estes ensinamentos.” Depois de receber o Portal do Dharma do Campo da Mente, os Budas sentados sobre milhares de flores de lótus junto aos inumeráveis Budas Sakyamuni, ao redor de seus assentos de leão, estavam com seus corpos emitindo inumeráveis raios de luz. Em cada um desses raios apareceram inumeráveis Budas que, simultaneamente, fizeram oferendas de flores celestiais verdes, amarelas, vermelhas e brancas ao Buda Vairocana . Eles então, lentamente, retiraram-se. Os Budas desapareceram do Mundo Tesouro do Lótus, entrando no Samadhi da Natureza Essencial do Espaço Vazio do Brilho Floral, e retornaram a seus locais anteriores debaixo da árvore Bodhi neste mundo de Jambudvipa. Eles então levantaram de seus Samadhis, sentaram-se em seus tronos diamantinos em Jambudvipa e no Céu dos Quatro Reis, e pregaram o Dharma dos “Dez Oceanos de Mundos”. Em seguida, eles ascenderam ao palácio do senhor Cakra e expuseram as “Dez Moradas”, indo em seguida ao Céu Suyama ensinar as “Dez Práticas”, ao Quarto Céu ensinar as “Dez Dedicações”, ao Céu Transformação das 7 Bênçãos ensinar o “Samadhi dos Dez Dhyana”, ao Céu Conforto de Outras Emanações ensinar os “Dez Campos”, ao Céu do Primeiro Dhyana ensinar os “Dez Estágios Vajra”, ao Céu do Segundo Dhyana ensinar as “Dez Paciências”, ao Céu do Terceiro Dhyana ensinar os “Dez Votos”. Finalmente, no Céu do Quarto Dhyana, no palácio do senhor Brahma, eles ensinaram a “Porta do Dharma do Campo da Mente”, o qual o Buda Vairocana, nos eons do passado, expôs no Mundo Tesouro do Lótus. Todos os outros inumeráveis Budas Sakyamuni em seus corpos de transformação o ensinaram igualmente em seus respectivos mundos como o capítulo “Kalpa Auspicioso” explicou. II. Sakyamuni Buda Naquela ocasião, o Buda Sakyamuni , depois de sua primeira aparição no Mundo Tesouro do Lótus foi mais para o leste e apareceu no palácio do Rei Celestial para ensinar o “Sutra Transformador de Demônios”. Desceu então ao Jambudvipa para nascer em Kapilavastu – onde seu nome era Siddharta e o nome de seu pai era Suddhodana. Sua mãe era a Rainha Maya. Ele atingiu a Iluminação com a idade de trinta anos, depois de sete anos de prática, sob o nome de Buda Sakyamuni . O Buda falou a dez assembléias do seu assento de diamante em Bodhigaya ao palácio de Brahma. Naquela ocasião, ele contemplou a maravilhosa Rede de Jóias pendurada no palácio do senhor Brahma e pregou o Sutra da Rede de Brahma para a Grande Assembléia. Ele disse: “Os inumeráveis mundos no universo são como os olhos da rede. Cada um e todos os mundos são diferentes, eles variam infinitamente. Assim também são os Portais do Dharma ensinados pelos Budas. Eu vim a este mundo oito mil vezes. Estabelecido neste mundo Saha, sentado sobre o assento ornamentado de diamantes em Bodhigaya ou subindo ao palácio do Rei Brahma, eu tenho falado constantemente sobre o Portal do Dharma do Campo da Mente para o benefício de grande multidão. Depois disso eu desci do palácio do Rei Brahma para Jambudvipa, o mundo humano. Preguei os Preceitos de Diamante iluminados e ornamentados de debaixo da árvore Bodhi para o benefício de todos os seres sencientes na Terra, não importa quão tolos e ignorantes eles possam ser. Estes preceitos foram costumeiramente recitados pelo Buda Vairocana quando ele primeiro desenvolveu a mente Bodhi nos estágios causais. Eles são precisamente a fonte original de todos os Budas e Bodhisattvas, assim como a semente da Natureza Búdica.” “Todos os seres sencientes possuem esta Natureza de Buda. Todos com consciência, forma e mente são incluídos pelos Preceitos da Natureza Búdica. Seres sencientes possuem a causa correta da Natureza de Buda e, desta forma, eles irão garantidamente atingir o sempre presente Corpo do Dharma. 8 Por esta razão, os Dez Preceitos Pratimoksa vieram a este mundo. Estes preceitos pertencem ao Verdadeiro Dharma. Eles são recebidos e mantidos na mais profunda reverência por todos os seres sencientes dos três períodos de tempo – passado, presente e futuro. Mais uma vez, novamente, eu vou pregar para a Grande Assembléia o Capítulo do Inexaurível Tesouro do Preceito. Estes são os preceitos de todos os seres sencientes, a fonte de toda natureza pura dos seres.” Agora, eu, Buda Vairocana Estou sentado sobre um pedestal de lótus; Em milhares de flores cercando-me Estão milhares de Budas Sakyamuni . Cada flor sustenta centenas de milhões de mundos; Em cada mundo um Buda Sakyamuni aparece. Todos estão sentados debaixo de uma árvore Bodhi, Todos simultaneamente atingem a Budeidade. Todos este inumeráveis Budas Têm Vairocana como seu corpo original. Estes incontáveis Budas Sakyamuni Trazem seguidores juntos deles, tão numerosos como O número de grãos de areia em um monte. Eles todos se dirigem ao meu pedestal de lótus Para ouvir os preceitos de Buda. Eu agora prego o Dharma, este maravilhoso néctar. Também, os incontáveis Budas retornam para Seus respectivos mundos E, sob uma árvore Bodhi, proclamam estes Preceitos maiores e menores De Vairocana, o Buda Original. Os preceitos são como sol e lua radiantes, Como brilhantes colares de gemas, 9 Bodhisattvas tão numerosos como montes de areia Os mantêm e atingem a Budeidade. Estes preceitos são recitados por Vairocana, Eu recito também estes preceitos . Vocês, noviços Bodhisattvas Devem reverentemente aceitá-los e mantê-los. E, uma vez tendo feito isso, Transmitam e ensinem-nos aos seres sencientes. Agora escutem atentamente como eu recito O Bodhisattva Pratimoksa – a fonte de todos os preceitos no BuddhaDharma. Todos vocês na Grande Assembléia devem confiar firmemente Que serão Budas do futuro, Enquanto eu sou um Buda já realizado no presente. Se vocês mantiverem tal confiança por todo o tempo, Então este código de preceitos será cumprido. Todos os seres com determinação Devem aceitar e manter os preceitos de Buda. Seres sencientes ao recebê-los Unem-se sem demora aos graus dos Budas. Eles são em essência iguais aos Budas, Eles são a verdadeira descendência dos Budas. Desta maneira, ó Grande Assembléia, Escute com a mais profunda reverência Como eu proclamo o código moral do Bodhisattva. III. Buda recita os preceitos de Bodhisattva Naquela ocasião, quando Buda Sakyamuni atingiu a Suprema Iluminação sob a árvore Bodhi, explicou os preceitos do Bodhisattva. O Buda ensinou a piedade filial para com os pais, para com os mestres idosos e para com a Jóia Tríplice. Piedade filial e obediência, ele disse, são o Supremo Caminho. Piedade filial é chamada de essência dos preceitos e isto significa força na prática e cessação do sofrimento. 10 O Buda então emitiu luzes ilimitadas de sua boca. Assim, toda a Grande Assembléia, consistindo de inumeráveis Bodhisattvas, dos Deuses dos Dezoito Céus de Brahma, dos Deuses dos Seis Céus do Desejo e dos governantes dos Dezesseis Grandes Reinos, juntou suas palmas e escutou concentradamente o Buda recitar os preceitos Mahayana. O Buda então disse aos Bodhisattvas: “Duas vezes ao mês eu recito os preceitos observados por todos os Budas. Todos os Bodhisattvas, daqueles que apenas desenvolveram a Mente Bodhi até aqueles Bodhisattvas das Dez Moradas, das Dez Práticas, das Dez Dedicações e dos Dez Campos também os recitam. Assim, esta luz dos preceitos brilha saindo de minha boca. Isto não acontece sem uma causa. Esta luz não é nem azul, nem amarela, nem vermelha, nem branca e nem preta. Não é nem forma, nem pensamento. Não é nem existente e nem não existente, nem causa e nem efeito. Esta luz dos preceitos é precisamente a Fonte Original de todos os Budas e de todos os membros desta Grande Assembléia. Desta forma, todos vocês discípulos de Buda devem receber , observar, ler, recitar e estudar estes preceitos com profunda atenção. Discípulos de Buda, escutem atentamente! Quem quer que possa entender e aceitar as palavras de transmissão de um mestre do Dharma pode receber os preceitos de Bodhisattva e ser chamado, principalmente, à pureza. Isto é verdade tanto se a pessoa é um rei, um príncipe, um oficial, um monge, uma monja ou um deus dos Dezoito Céus de Brahma, ou um humano, um eunuco, um libertino, uma prostituta, um escravo ou um membro das Oito Divisões de Divindades, um espírito vajra, um animal ou, inclusive, um ser-emtransformação .” IV. Os Dez Preceitos Maiores Os Budas disseram a seus discípulos, “Existem Dez Preceitos Maiores de Bodhisattva. Se alguém os recebe mas falha em recitá-los, ele não é um Bodhisattva nem mantém a semente da Budeidade. Eu, também, recito estes preceitos.” “Todos os Bodhisattvas os estudaram no passado, os estudarão no futuro e os estão estudando agora. Eu expliquei as principais características dos preceitos de Bodhisattva. Vocês devem estudá-los e observá-los com todo o seu coração.” O Buda continuou: 1. Primeiro Preceito Maior Sobre matar Um discípulo de Buda não deve matar, não deve encorajar outros a matar, não deve matar por meios hábeis, não deve louvar a matança, alegrar-se ao testemunhar a matança, ou matar através de encantos ou mantras desviados. Ele não deve criar causas, condições, métodos, ou karma de matar, e não deve, intencionalmente, matar qualquer ser vivo. 11 Como um discípulo de Buda, ele deve se esforçar para nutrir uma mente de compaixão e piedade filial, sempre buscando meios hábeis para proteger e resgatar todos os seres. Se, no entanto, ele falha ao restringir-se e mata seres sencientes sem misericórdia, comete uma ofensa maior (Parajika). 2. Segundo Preceito Maior Sobre roubar Um discípulo de Buda não deve roubar ou encorajar outros a roubar, roubar por meios hábeis, roubar através de encantos ou mantras desviados. Ele não deve criar as causas, condições, métodos, ou karma de roubar. Nem um bem ou posse, inclusive aqueles pertencentes a fantasmas, espíritos ou ladrões, ainda que sejam tão pequenos quanto uma agulha ou uma folha de grama, devem ser roubados. Como discípulo de Buda, ele deve se esforçar para ter uma mente de misericórdia, compaixão e piedade filial – sempre ajudando outros a adquirir méritos e felicidade. Se, no entanto, ele rouba as posses de outros, comete uma ofensa maior. 3. Terceiro Preceito Maior Sobre conduta sexual imprópria Um discípulo de Buda não deve engajar-se em atos licenciosos ou encorajar outros a fazê-lo. Não deve ter qualquer relação sexual com qualquer fêmea (ou macho) – seja ela(e) humana(o), animal, divindade ou espírito – nem criar as causas, condições, métodos ou karma de tais condutas impróprias. Desta forma, ele não deve engajar-se em conduta sexual imprópria com ninguém. Um discípulo de Buda deve se esforçar para ter uma mente de piedade filial, resgatando todos os seres sencientes e os instruindo no Dharma da pureza e da castidade. Se, no entanto, ele abandona a compaixão e encoraja outros a se engajar em relações sexuais promiscuamente, com animais e inclusive com suas mães(pais), filhas(os), irmãs(aos) ou outras(os) parentes próximas(os), comete uma ofensa maior. 4. Quarto Preceito Maior Sobre mentira e fala enganosa Um discípulo de Buda não deve usar palavras falsas ou encorajar outros a mentir por meios hábeis. Ele não deve envolver a si mesmo nas causas, condições, métodos ou karma de mentir, dizendo que ele viu o que não viu ou vice-versa, ou mentir implicitamente através de meios mentais ou físicos. Como discípulo de Buda, ele deve se esforçar para manter sempre a fala correta, visões corretas e conduzir todos os outros a mantê-las assim. Se, no entanto, ele causa fala incorreta,visões erradas ou karma negativo nos outros, comete uma ofensa maior. 12 5. Quinto Preceito Maior Sobre vender bebidas alcoólicas Um discípulo de Buda não deve comerciar com bebidas alcoólicas ou encorajar outros a fazê-lo. Ele não deve criar as causas, condições, métodos ou karma de vender qualquer intoxicante que seja, pois os intoxicantes são causas e condições de todo o tipo de ofensa. Como discípulo de Buda, ele deve se esforçar para ajudar todos os seres sencientes a adquirir uma clara sabedoria. Se, no entanto, ele causa a eles um pensamento invertido, turvo e confuso, comete uma ofensa maior. 6. Sexto Preceito Maior Sobre difundir e divulgar as faltas da Sangha Um discípulo de Buda não deve difundir os erros ou infrações de monges Bodhisattvas ou leigos Bodhisattvas ou de monges e monjas (ordinários – sem preceitos de Bodhisattva) – nem encorajar outros a fazê-lo. Ele não deve criar causas, condições, métodos ou karma de discutir as ofensas da Sangha. Como discípulo de Buda, onde quer que ele escute más pessoas, externalistas ou seguidores dos Dois Veículos falando de práticas contrárias ao Dharma ou contrárias aos preceitos dentro da comunidade budista, ele deve instruí-las com uma mente compassiva e conduzi-las ao desenvolvimento de uma fé completa no Mahayana. Se, no entanto, ele discute as faltas ou equívocos que ocorrem internamente na Sangha, comete uma ofensa maior. 7. Sétimo Preceito Maior Sobre louvar a si mesmo e rebaixar a outros Um discípulo de Buda não deve louvar a si mesmo e falar mal de outros, ou encorajar outros a fazê-lo. Ele não deve criar causas, condições, métodos ou karma para louvar a si mesmo e rebaixar outros. Um discípulo de Buda deve estar pronto para substituir a todos os seres sencientes e agüentar humilhações, difamação e calúnia – aceitando a culpa, deixando que os outros seres sencientes tenham toda a glória. Se, no entanto, ele demonstra suas próprias virtudes e esconde os pontos positivos de outros, fazendo com que eles sofram calúnias e difamação, comete uma ofensa maior. 8. Oitavo Preceito Maior Sobre a mesquinhez e o abuso Um discípulo de Buda não deve ser mesquinho nem encorajar outros a serem mesquinhos. Ele não deve criar as causas, condições, métodos ou karma da mesquinhez. Qualquer pessoa sem possibilidades que venha a ele, como Bodhisattva que é, deve dar aquilo que tal pessoa necessita. Se, no 13 entanto, por raiva ou ressentimento ele nega toda a assistência – recusandose a ajudar até com uma moeda, uma agulha, uma folha de grama ou uma simples sentença, frase ou verso do Dharma, mas ao contrário, repreende e abusa de tal pessoa, comete uma ofensa maior. 9. Nono Preceito Maior Sobre raiva e ressentimento Um discípulo de Buda não deve abrigar raiva ou encorajar outros a serem raivosos. Ele não deve criar as causas, condições, métodos ou karma da raiva. Como discípulo de Buda, ele deve esforçar-se para ser compassivo e filial, ajudando todos os seres sencientes a desenvolver as boas raízes da nãocontensão. Se, no entanto, ele insulta e abusa de seres sencientes, ou de seres-em-transformação , com palavras duras, batendo-as com seus punhos ou pés, atacando-as com uma faca ou bastão, guardando rancor, inclusive quando a vítima confessa seus equívocos e humildemente busca por perdão com uma voz suave e conciliadora, comete uma ofensa maior. 10. Décimo Preceito Maior Sobre caluniar a Jóia Tríplice Um discípulo de Buda não deve falar mal da Jóia Tríplice ou encorajar outros a fazê-lo. Ele não deve criar as causas, condições, métodos ou karma de caluniar. Se um discípulo escuta apenas uma única palavra de calúnia contra o Buda proferida por externalistas ou seres maus, experimenta uma dor similar àquela de trezentas lanças perfurando seu coração. Como poderia ser possível para ele caluniar a Jóia Tríplice? Desta maneira, se um discípulo esquece a confiança no Dharma e a piedade filial para com a Jóia Tríplice e, inclusive, ajuda pessoas maldosas ou àquelas com visões aberrantes a caluniar a Jóia Tríplice, comete uma ofensa maior. V. Conclusão: Os Dez Preceitos Maiores Como um discípulo de Buda, você deve estudar estes Dez Preceitos Maiores, não quebrar nenhum deles, nem da menor forma, muito menos quebrar todos eles. Qualquer um culpado de fazer isso não poderá desenvolver a Mente Bodhi em sua vida atual e perderá qualquer alta posição que tenha alcançado, seja a de Imperador, de Rei Girador da Roda, Bhiksu, Bhiksuni – assim como qualquer nível de Bodhisattva que possa ter atingido, tanto as Dez Moradas, quanto as Dez Práticas, as Dez Dedicações, os Dez Campos – e todos os frutos da Natureza Eterna de Buda. Ele perderá todos estes níveis de obtenção, descerá aos Três Maus Reinos, e será inábil para ouvir as palavras “pais” ou “Jóia Tríplice” por eons! Desta forma, os discípulos de Buda devem evitar quebrar qualquer um destes Preceitos Maiores. Todos vocês Bodhisattvas devem estudar e observar os Dez Preceitos que foram observados,estão sendo observados e serão observados por todos os 14 Bodhisattvas. Eles estão explicados em detalhes no capítulo “As Oitenta Mil Regras de Conduta”. VI. Os Quarenta e Oito Preceitos Secundários Então o Buda falou aos Bodhisattvas, “Agora, tendo explicado os Dez Preceitos Maiores, vou falar sobre os Quarenta e Oito Preceitos Secundários”. 1. Sobre o desrespeito para com os mestres e amigos Um discípulo de Buda que está destinado a se tornar um imperador, um rei girador da roda ou um alto oficial, deve primeiro receber os Preceitos de Bodhisattva. Ele estará, então, sob proteção de todas as divindades guardiãs e os Budas estarão regozijados com ele. Desde que ele tenha recebido os preceitos, deve desenvolver uma mente de piedade filial e de respeito. Sempre que encontre um mestre ancião, um monge ou um companheiro cultivador das visões e condutas do Mahayana, ele deve levantar-se e saudá-lo com respeito. Deve, então, respeitosamente, fazer oferendas aos monges hóspedes, de acordo com o Dharma. Deve estar pronto para empenhar a si mesmo, sua família, assim como seu reino, cidades, jóias e outras posse em benefício dos outros. Se, no entanto, ele desenvolve orgulho ou arrogância, delusão ou raiva, recusando-se a levantar e saudar monges hóspedes e fazer oferendas a eles respeitosamentede acordo com o Dharma, comete uma ofensa secundária. 2. Sobre consumir bebidas alcoólicas Um discípulo de Buda não deve, intencionalmente, consumir bebidas alcoólicas, pois elas são fonte de incontáveis ofensas. Se ele oferece um copo de vinho a outra pessoa, sua retribuição será de não ter mãos por quinhentas vidas. Como poderia ele, então, consumir tal bebida? Desta forma, um Bodhisattva não deve encorajar qualquer pessoa ou qualquer ser senciente a consumir álcool, muito menos ele próprio ingerir qualquer bebida alcoólica. O discípulo não deve nunca beber qualquer bebida alcoólica. Se, no entanto, ele deliberadamente faz isso ou encoraja outros a fazê-lo, comete uma ofensa secundária. 3. Sobre comer carne Um discípulo de Buda não deve, deliberadamente, comer carne. Ele não deve comer a carne de nenhum ser senciente. O comedor de carne perde a Semente da Grande compaixão, afasta-se da Semente da Natureza Búdica e faz com que os seres o evitem. Aqueles que fazem isso são culpados por incontáveis ofensas. Desta maneira, Bodhisattvas não devem comer carne de nenhum ser senciente que seja. Se, no entanto, ele deliberadamente come carne, comete uma ofensa secundária. 15 4. Sobre as cinco ervas pungentes Um discípulo de Buda não deve comer as cinco ervas pungentes – alho, cebolinha, alho-poró, cebola e assa-fétida. Isso, inclusive, no caso de as adicionar a outros pratos principais. Se, no entanto, ele deliberadamente faz isso, comete uma ofensa secundária. 5. Sobre não ensinar o arrependimento Se um discípulo de Buda ver qualquer ser violando os Cinco Preceitos, os Oito Preceitos, os Dez Preceitos, outras proibições, ou cometendo qualquer uma das Sete Graves Ofensas ou quaisquer ofensas que levem às oito adversidades – quaisquer violações dos preceitos que sejam – ele deve aconselhar o ofensor a se arrepender e reformar seus atos. Se, no entanto, um Bodhisattva não faz isso, e mais, continua vivendo junto na Assembléia com o ofensor, compartilhando das oferendas dos leigos, participando na mesma cerimônia Posadha e recitando os preceitos – enquanto falha em educar esta pessoa sobre sua ofensa, convencendo-a ao arrependimento, comete uma ofensa secundária. 6. Sobre falhar em requerer ensinamentos do Dharma ou fazer oferendas Se um velho mestre, um monge Mahayana ou um companheiro cultivador das práticas e doutrinas do Mahayana vier de longe ao templo, residência, cidade ou vila onde reside um discípulo de Buda, o discípulo deve, respeitosamente, dar boas vindas a ele e acompanhá-lo quando for embora. Ele deve prover as necessidades do visitante em todos os períodos, ainda que isso custe tanto quanto três lingotes de ouro. Sendo assim, o discípulo de Buda deve respeitosamente requerer ao mestre hóspede para pregar o Dharma três vezes por dia, prostrando-se para ele sem um único pensamento de ressentimento ou cansaço. Ele deve estar pronto a sacrificar a si mesmo pelo Dharma e nunca ser preguiçoso ou relaxado ao requisitá-lo. Se ele não age desta maneira, comete uma ofensa secundária. 7. Sobre falhar ao comparecer em conferências sobre o Dharma Um discípulo Bodhisattva, que é novo na Sangha, deve fazer cópias de sutras ou códigos de preceitos em qualquer lugar onde tais sutras, comentários ou códigos morais estejam sendo explicados, para que ele possa ouvir, estudar e perguntar sobre o Dharma. Deve ir a qualquer lugar, seja uma casa, debaixo de uma árvore, um templo, nas florestas ou montanhas ou onde quer que seja. Se ele falha em fazer isso, comete uma ofensa secundária. 8. Sobre voltar atrás no Mahayana Se um discípulo de Buda desacredita os sutras e os códigos morais do eterno Mahayana, declarando que eles não foram verdadeiramente ditos pelo Buda, e, desta maneira, segue e observa as escrituras dos Dois Veículos (sravaka e 16 pratyekabuddha) e dos externalistas deludidos, comete uma ofensa secundária. 9. Sobre falhar ao cuidar dos doentes Se um discípulo de Buda ver alguém que está doente, deve, de todo o coração, prover para tal pessoa tudo aquilo que ela necessita como faria para o próprio Buda. Dos Oito Campos de Bênçãos, olhar pelos doentes é o mais importante. Um discípulo de Buda deve cuidar de seu pai, mãe, mestre do Dharma ou discípulo – independente de eles estarem inválidos ou sofrendo de vários tipos de doenças. Se, no entanto, ele se torna raivoso e ressentido falhando em fazer isso, ou se recusa a resgatar doentes ou inválidos em templos, cidades, vilas, florestas e montanhas ou ao longo da estrada, comete uma ofensa secundária. 10. Sobre estocar armas mortais Um discípulo de Buda não deve estocar armas tais como facas, bastões, arcos, flechas, lanças, machados ou quaisquer outras armas, nem deve fabricar redes, armadilhas ou quaisquer outros instrumentos utilizados para destruir a vida. Como discípulo de Buda, ele não deve vingar a morte de seus pais – e muito menos matar seres sencientes! Não deve estocar quaisquer armas ou instrumentos que possam ser usados para matar seres sencientes. Se ele deliberadamente faz isso, comete uma ofensa secundária. Os primeiros Dez Preceitos Secundários foram descritos. Discípulos de Buda devem estudá-los e respeitosamente observá-los. Eles são explicados em detalhes nos seis capítulos seguintes a esses preceitos. 11. Sobre servir como emissário Um discípulo de Buda não deve, buscando benefícios pessoais ou com más intenções, atuar como emissário de um país para promover confrontação militar e guerra, causando a matança de inumeráveis seres sencientes. Como discípulo de Buda, ele não deve se envolver em questões militares ou servir como mensageiro entre exércitos, muito menos agir como um catalisador disposto para a guerra. Se ele deliberadamente faz isso, comete uma ofensa secundária. 12. Sobre envolver-se com negócios escusos Um discípulo de Buda não deve deliberadamente negociar escravos ou vender alguém escravizado, não deve negociar animais domésticos, caixões ou madeira para os mesmos. Ele não deve engajar-se em tais tipos de negócio, muito menos encorajar outros a fazê-lo. Se o fizer, comete uma ofensa secundária. 17 13. Sobre calúnia e difamação Um discípulo de Buda não deve, sem causa e com más intenções, caluniar pessoas virtuosas tais como mestres anciãos, monges e monjas, reis, príncipes ou outras pessoas de elevada posição dizendo que eles cometeram as Sete Graves Ofensas ou que quebraram os Dez Preceitos Maiores do Bodhisattva. Ele deve ser compassivo e filial, tratando todas as pessoas virtuosas como se fossem seu pai, mãe, irmãos, irmãs ou outros parentes próximos. Se, no entanto, ele os calunia e os prejudica, comete uma ofensa secundária. 14. Sobre iniciar queimadas Um discípulo de Buda não deve, com más intenções, do quarto ao nono mês do ano lunar, iniciar queimadas para limpar terrenos florestais e queimar vegetação em montanhas e planícies. Tais queimadas são particularmente danosas aos animais durante esse período e podem se alastrar para as casas das pessoas, cidades, templos ,monastérios, campos, bosques assim como para habitações e propriedades de deidades e fantasmas. Ele não deve intencionalmente colocar fogo em nenhum lugar onde há vida. Se deliberadamente faz isso, comete uma ofensa secundária. 15. Sobre ensinar um Dharma não-Mahayana Um discípulo de Buda deve ensinar um único e completo Dharma para seus discípulos, parentes e amigos espirituais, assim como deve ensinar aos externalistas e seres maus sobre como receber e observar os sutras e os códigos morais do Mahayana. Ele deve ensinar os princípios Mahayana a eles e ajudá-los a desenvolver a Mente Bodhi – assim como as Dez Moradas, as Dez Práticas e as Dez Dedicações, explicando a ordem e a função de cada um destes trinta níveis da mente. Se, no entanto, o discípulo, com más e odiosas intenções, perverte os ensinamentos dos sutras, os códigos morais das tradições e utiliza as explicações dos Dois Veículos ou os comentários dos externalistas deludidos, comete uma ofensa secundária. 16. Sobre fazer uma explanação do Dharma de forma inaudível Um Mestre Bodhisattva do Dharma deve, primeiro, com uma mente saudável, estudar as regras de comportamento, os sutras e os códigos morais da tradição Mahayana. Deve compreendê-los profundamente em seus significados. Assim, a quaisquer noviços que venham de longe para buscar instruções, ele deve explicar, de acordo com o Dharma, todas as práticas de renúncia do Bodhisattva tais como queimar o próprio corpo, braço ou dedo como supremo ato de busca pela Iluminação Perfeita. Se o noviço não está preparado para seguir tais práticas como uma oferenda aos Budas, ele não é um Monge Bodhisattva. Ainda mais que isso, um Monge Bodhisattva deve estar preparado para sacrificar seu corpo e membros para alimentar bestas e fantasmas famintos, como um ato último de compaixão no resgate de seres sencientes. 18 Depois destas explicações, um Mestre Bodhisattva do Dharma deve ensinar os noviços de uma forma ordenada a despertar suas mentes. Se, no entanto, por ganho pessoal, ele recusa-se a ensinar ou ensina de uma maneira confusa, citando passagens fora de ordem ou contexto, ou ensinando-as de maneira que deprecie a Jóia Tríplice, comete uma ofensa secundária. 17. Sobre exigir doações Um discípulo de Buda não deve, para obter comida, bebida, dinheiro, posses ou fama, aproximar-se e tornar-se amigo de reis, príncipes ou altos oficiais e, devido a tais relações, exigir dinheiro, bens ou outras vantagens. Também não deve encorajar outros a fazê-lo. Tais ações são chamadas perversas, demandas excessivas , abandono da compaixão e da piedade filial. Se um discípulo faz isso, comete uma ofensa secundária. 18. Sobre servir como um mestre inadequado Um discípulo de Buda deve estudar as doze divisões do Dharma e recitar os Preceitos do Bodhisattva freqüentemente. Ele deve observar estritamente tais preceitos nos seis períodos do dia e da noite e compreender plenamente seus significados e princípios, assim como a essência de sua Natureza Búdica. Se, no entanto, o discípulo de Buda falha em entender, ainda que uma sentença ou um verso do código moral ou as causas e condições relativas aos preceitos, mas, mesmo assim, pretende entendê-los, está enganando a si mesmo e aos outros. Um discípulo que não entenda nada do Dharma, mas mesmo assim age como um mestre transmitindo os preceitos, comete uma ofensa secundária. 19. Sobre a fala dupla Um discípulo de Buda não deve, com intenções maliciosas, fazer fofocas ou espalhar rumores e calúnias, criando discórdia e desdém para com pessoas virtuosas. Um exemplo é menosprezar um monge que observa os Preceitos de Bodhisattva criticando-o sobre como ele faz oferenda aos Budas segurando um incensário em frente de sua testa. Um discípulo de Buda que faz isso, comete uma ofensa secundária. 20. Sobre falhar ao libertar seres sencientes Um discípulo de Buda deve ter uma mente de compaixão e cultivar a prática de libertar seres sencientes. Ele deve refletir assim: “Através de eons de tempo, todos os seres sencientes machos foram meu pai, todos os seres sencientes fêmeas foram minha mãe. Eu nasci deles, ou seja, se eu os mato, eu poderia estar matando meus pais, assim como estar comendo a carne daqueles que são minha carne. Isto acontece porque todos os elementos, Terra, Água, Fogo e Ar – os quatro constituintes de toda a vida – foram previamente parte de meu corpo, parte de minha substância. Eu devo, desta forma, sempre cultivar a prática de libertar seres sencientes e encorajar outros a fazê-lo também – pois os seres sencientes estão sempre renascendo, de novo e de novo, vida após vida”. Se um Bodhisattva vê um animal na iminência de ser morto, ele deve buscar um caminho para resgatá19 lo e protegê-lo, ajudando-o a escapar do sofrimento e da morte. O discípulo de Buda deve sempre ensinar os preceitos do Bodhisattva para resgatar e salvar seres sencientes. No dia em que seu pai, sua mãe e seus irmãos morrerem deve convidar Mestres do Dharma para explicar os sutras e os Preceitos do Bodhisattva. Isto gerará méritos e virtudes e ajudará os mortos a conseguirem o renascimento nas Terras Puras e a encontrar os Budas ou assegurar o renascimento nos Reinos Humano ou Celeste. Se, no entanto, o discípulo falha em fazer isso, comete uma ofensa secundária. Você deve estudar e observar respeitosamente os dez preceitos acima. Cada um deles é explicado em detalhes no capítulo “Expiando as ofensas”. 21. Sobre violência e vingança Um discípulo de Buda não deve retribuir raiva com raiva, golpe com golpe. Ele não deve buscar vingança, inclusive se seu pai, mãe, irmãos ou parentes próximos forem mortos – nem se o governante ou rei de seu país for morto. Tomar a vida de um ser para vingar o assassinato de outro é contrário à piedade filial. Além disso, não deve manter outros em servidão, muito menos bater ou abusar deles, criando mau karma de mente, fala e corpo dia após dia – particularmente as ofensas da fala. Muito menos ele deve, deliberadamente, cometer as Sete Graves Ofensas. Desta forma, se o Monge Bodhisattva esquece a compaixão e, deliberadamente, busca a vingança, inclusive por uma injustiça cometida contra seus parentes próximos, comete uma ofensa secundária. 22. Sobre a arrogância e falha ao requerer o Dharma Um discípulo de Buda que apenas recentemente deixou sua casa e ainda é um noviço no Dharma, não deve ser orgulhoso. Ele não deve recusar instrução nos sutras e códigos morais de Mestres do Dharma considerando sua própria inteligência, seu conhecimento mundano, sua alta posição, sua idade avançada, sua linhagem nobre, seu vasto entendimento, seus grandes méritos, sua extensiva fortuna e posses etc. Ainda que estes mestres possam ser de humilde nascimento, jovens em idade, pobres ou sofram de inaptidões físicas, eles podem ter virtude genuína, profunda compreensão dos sutras e códigos morais. Um noviço Bodhisattva não deve julgar Mestres do Dharma tendo como base seu histórico familiar recusando-se a buscar instruções deles nas verdades do Mahayana . Se ele age desta forma, comete uma ofensa secundária. 23. Sobre ensinar o Dharma a contragosto Depois de minha morte, se um discípulo quiser, com uma mente atenta, receber os Preceitos do Bodhisattva, deve fazer o voto de recebê-los diante das imagens dos Budas e Bodhisattvas e praticar o arrependimento diante destas imagens por sete dias. Se ele, então, tiver uma visão, terá recebido os preceitos. Se não a tiver, deve continuar fazendo isto durante quatorze dias, 20 vinte e um dias ou até por um ano inteiro, buscando testemunhar um sinal auspicioso. Depois de receber tal sinal, ele pode, em frente às imagens dos Budas e Bodhisattvas, formalmente receber os preceitos. Se ele não receber tal sinal, ainda que possa ter aceito os preceitos diante de imagens de Buda, ele não terá verdadeiramente recebido os preceitos. No entanto, testemunhar um sinal auspicioso não é necessário se o discípulo receber os preceitos diretamente de um Mestre do Dharma que tenha, por sua vez, recebido-os de outro mestre. Por que isto é assim? Porque este é um caso de transmissão de mestre para mestre e, desta maneira, tudo o que é requerido é uma mente de completa sinceridade e respeito por parte do discípulo. Se, dentro de um raio de trezentas e quinze milhas (aproximadamente quinhentos e sete quilômetros), o discípulo não puder achar um mestre capaz de conferir os preceitos de Bodhisattva, ele deve buscar recebê-los em frente de imagens dos Budas ou dos Bodhisattvas. No entanto, deve testemunhar um sinal auspicioso. Se um Mestre do Dharma, tendo em vista seu extensivo conhecimento dos sutras e dos códigos morais Mahayana, assim como seu relacionamento próximo com reis, príncipes e altos oficiais, recusar-se a dar respostas apropriadas aos estudantes Bodhisattvas que estão em busca do significado dos sutras e códigos morais, ou responder a contragosto, com ressentimento e arrogância, comete uma ofensa secundária. 24. Sobre a falha ao praticar os ensinamentos Mahayana Se um discípulo de Buda falha em estudar assiduamente os sutras Mahayana e os códigos morais e em cultivar visões corretas, natureza correta e o correto corpo do Dharma, isto é como se abandonar as Sete Jóias Preciosas por meras pedras sem valor, que são como os textos mundanos,os textos dos Dois Veículos ou os comentários dos externalistas. Fazer isso é criar as causas e condições que obstruem o caminho para a Iluminação e cortar de si mesmo a Natureza de Buda. Isto é uma falha ao seguir o Caminho do Bodhisattva. Se um discípulo, intencionalmente, age desta maneira, comete uma ofensa secundária. 25. Sobre liderança inábil da Sangha Depois de minha morte, se um discípulo for servir como um prior, um Mestre do Dharma ancião, um Mestre de Preceitos, um Mestre de Meditação ou um Guia de Hóspedes, deve desenvolver uma mente compassiva e pacificamente apaziguar as diferenças dentro da Sangha – habilmente administrando os recursos das Três Jóias, gastando frugalmente e não os tratando como sua própria propriedade. Se, no entanto, ele criou desordem, provocou disputas e rixas ou esbanjou os recursos da Sangha, cometeu uma ofensa secundária. 26. Sobre aceitação de oferendas pessoais Uma vez que um discípulo de Buda tenha se estabelecido em um templo, se for visitado por Bhiksus Bodhisattvas que tenham chegado aos recintos do 21 templo, ou aos aposentos de hóspedes estabelecidos pelo rei ou, inclusive, aos aposentos do retiro de verão ou aos aposentos da grande Sangha, o discípulo deve dar boas vindas aos monges visitantes e despedir-se dos mesmos (quando forem embora). Ele deve prover a eles tudo o que for essencial, como comida, bebida, um lugar para viver, camas, cadeiras e outras coisas do gênero. Se o anfitrião não tiver os meios necessários, ele deve estar pronto a penhorar a si mesmo ou cortar fora e vender sua própria carne. Mesmo que haja oferendas de comida e cerimônias na casa de um leigo destinadas aos monges residentes, aos monges visitantes deve ser dada uma parte justa das oferendas. O prior deve enviar os monges, tanto os residentes quanto os hóspedes, ao local onde está o doador de forma alternada (de acordo com sua idade sacerdotal ou méritos e virtudes). Se apenas monges residentes são autorizados a aceitar convites e não os monges visitantes, o prior está cometendo uma grave ofensa e porta-se não diferentemente de um animal. Ele é indigno de ser um monge ou um filho de Buda e é culpado de uma ofensa secundária. 27. Sobre aceitar convites discriminatórios Um discípulo de Buda não deve aceitar convites pessoais nem apropriar-se das oferendas para si mesmo. Tais oferendas, por direito, pertencem à Sangha – a comunidade completa de monges e monjas nas Dez Direções. Aceitar oferendas pessoais é roubar as posses da Sangha das Dez Direções. Isto é equivalente a roubar aquilo que pertence aos Oito Campos de Bênçãos: Budas, Sábios, Mestres do Dharma, Mestre dos Preceitos, monges/monjas, mães, pais e doentes. Fazendo isto, o discípulo comete uma ofensa secundária. 28. Sobre fazer convites discriminatórios Um discípulo de Buda, seja um monge Bodhisattva, um leigo Bodhisattva ou outro doador, deve, quando convidar monges ou monjas para conduzir uma cerimônia, vir ao templo e informar ao monge em questão (e do qual seja a vez de oficiar). O monge deve, então, dizer a ele: - Convidar os membros da Sangha de acordo com a ordem adequada é equivalente a convidar os Arhats das Dez Direções. Sendo assim, oferecer um convite especial discriminatório a um grupo venerável como dos quinhentos Arhats ou monges Bodhisattvas não gera muito mais mérito do que convidar um monge comum, se essa é sua vez (de oficiar). Não há previsão nos ensinamentos dos Sete Budas para convites discriminatórios. Fazer isso é seguir as práticas dos externallistas e contradizer a piedade filial para com todos os seres sencientes. Se um discípulo, deliberadamente, faz um convite discriminatório, comete uma ofensa secundária. 29. Sobre meio de vida impróprio Um discípulo de Buda não deve, por amor ao ganho ou com más intenções, engajar-se em negócios de prostituição, vender amuletos e negociar com os atrativos de homens e mulheres. Ele também não deve cozinhar para si mesmo, socar e triturar grãos. Também não deve agir como um adivinho 22 predizendo o sexo das crianças, interpretando sonhos ou coisa parecida. Nem deve ele praticar bruxaria, trabalhar como treinador de falcões ou cachorros de caça, não deve fazer beberagens com venenos de serpentes mortais, insetos ou de ouro e prata. Tais ocupações são desprovidas de misericórdia, compaixão e piedade filial para com os seres sencientes. Desta forma, se um Bodhisattva intencionalmente se engaja em tais ocupações, comete uma ofensa secundária. 30. Sobre tratar de assuntos de negócios para os leigos Um discípulo de Buda não deve, com más intenções, caluniar a Jóia Tríplice enquanto pretende ser seu seguidor próximo – pregando a Verdade da Vacuidade enquanto suas ações estão voltadas para o Reino da Existência samsárica. Desta maneira, ele não deve tratar de assuntos mundanos para os leigos, atuando como intermediário ou casamenteiro – criando o karma do apego. Além disso, durante os seis dias de jejum em cada mês e nos três meses de jejum a cada ano, o discípulo deve estritamente observar todos os preceitos, particularmente contra matar, roubar e as regras contra a quebra do jejum. Se fizer de outra forma, o discípulo comete uma ofensa secundária. Um Bodhisattva deve respeitosamente estudar os dez preceitos precedentes. Eles são explicados em detalhes no capítulo das “Proibições”. 31. Sobre resgatar clérigos e objetos sacros Depois de minha morte, nos maus períodos que se seguirão, haverá externalistas, más pessoas, ladrões e assaltantes que roubarão e venderão estátuas e pinturas dos Budas, Bodhisattvas e outras que devem ser respeitadas como se fossem os próprios pais. Eles poderão, inclusive, vender cópias dos sutras e dos códigos morais, ou vender monges, monjas ou aqueles que seguem o caminho do Bodhisattva ou que desenvolveram a Mente Bodhi para que sejam serventes de oficiais e outros. Um discípulo de Buda, se testemunhar tais lamentáveis eventos, deve desenvolver uma mente de compaixão e encontrar caminhos para resgatar e proteger todas as pessoas e objetos preciosos, levantando fundos onde ele possa para tal propósito. Se um Bodhisattva não age desta maneira, comete uma ofensa secundária. 32. Sobre prejudicar seres sencientes Um discípulo de Buda não deve vender facas, bastões, arcos, flechas ou outros instrumentos para tirar a vida, ou alterar escalas de instrumentos de medida. Ele não deve abusar de sua posição governamental para confiscar as posses das pessoas, nem deve, com malícia em seu coração, deter ou aprisionar outros ou sabotar seu sucesso. Em adição, ele não deve provocar gatos, cachorros, raposas, porcos e outros animais. Se ele, intencionalmente, faz isso, comete uma ofensa secundária. 33. Sobre assistir atividades impróprias Um discípulo de Buda não deve, com más intenções, assistir pessoas brigando ou a batalha de exércitos, gangues ou coisa semelhante, não deve 23 escutar o som das conchas, tambores, berrantes, guitarras, flautas, alaúdes, cantos ou outras músicas convocatórias para a guerra ou utilizadas em divertimentos mundanos. Não deve tomar parte em nenhuma forma de aposta, seja de dados, damas ou coisa semelhante. Além disso, não deve praticar adivinhação, previsão da sorte, nem deve ser acompanhante para ladrões e bandidos. Não deve participar de nenhuma destas atividades. Se, no entanto, ele intencionalmente faz isso, comete uma ofensa secundária. 34. Sobre temporariamente abandonar a Mente Bodhi Um discípulo de Buda deve observar os preceitos de Bodhisattva todos os dias, seja andando, parado, reclinado ou sentado – lendo-os e recitando-os noite e dia. Ele deve ser resoluto em manter os preceitos tão fortemente como um diamante, tão desesperadamente quanto um náufrago agarrado à uma pequena tábua enquanto tenta cruzar o oceano, ou tão probamente quanto o “Bhiksu amarrado por juncos”. Desta forma, ele deve sempre ter uma completa fé nos ensinamentos do Mahayana. Consciente de que os seres sencientes são Budas futuros enquanto os Budas são Budas realizados no presente, ele deve desenvolver a Mente Bodhi e mantê-la em cada e todo o pensamento, sem retrogressão. Se um Bodhisattva tem um pequeno pensamento em direção aos Dois Veículos ou aos ensinamentos externalistas, comete uma ofensa secundária. 35. Sobre a falha ao fazer grandes votos Um Bodhisattva deve fazer muitos grandes votos – ser filial com seus pais e professores do Dharma, encontrar bons conselheiros espirituais, amigos e colegas que poderão ensiná-lo os sutras Mahayana, códigos morais, assim como os estágios da prática do Bodhisattva (as Dez Moradas, as Dez Práticas, as Dez Dedicações e os Dez Campos). Ele deve fazer o voto de entender esses ensinamentos claramente, de forma que possa praticar de acordo com o Dharma enquanto resolutamente toma os Preceitos dos Budas. Se necessário, ele deve abandonar sua vida antes de abandonar esta resolução, ainda que por um pequeno momento. Se um Bodhisattva não faz tais votos, comete uma ofensa secundária. 36. Sobre a falha ao tomar resoluções Uma vez que o Bodhisattva tenha feito estes grandes votos, ele deve estritamente tomar os Preceitos dos Budas e fazer as seguintes resoluções: a) Eu prefiro pular em um furioso incêndio, um profundo abismo ou em uma montanha de facas, do que me envolver em ações impuras com qualquer mulher, assim violando os sutras e códigos morais dos Três Períodos de Tempo; b) Eu prefiro enrolar a mim mesmo mil vezes com uma rede de ferro incandescente, do que deixar este corpo quebrar os preceitos vestindo roupas (impropriamente) doadas pelos fiéis; 24 c) Eu prefiro engolir bolas de ferro incandescentes e beber ferro fundido por centenas de milhares de eons, do que deixar esta boca quebrar os preceitos consumindo comida e bebida (impropriamente) doadas pelos fiéis; d) Eu prefiro deitar em uma fogueira ou em uma rede de ferro queimando,do que deixar este corpo quebrar os preceitos descansando em uma cama, cobertores e tapetes (impropriamente) doados pelos fiéis; e) Eu prefiro ser empalado durante eons por centenas de lanças, do que deixar este corpo quebrar os preceitos recebendo medicamentos (impropriamente) doados pelos fiéis; f) Eu prefiro pular em um caldeirão de óleo fervente e fritar por centenas de milhares de eons, do que deixar este corpo quebrar os preceitos recebendo imóveis, bosques, jardins ou campos (impropriamente) doados pelos fiéis; g) Eu prefiro ser pulverizado da cabeça aos pés por uma marreta de ferro, do que deixar este corpo quebrar os preceitos aceitando respeito e reverência (impropriamente) prestados pelos fiéis; h) Eu prefiro ter ambos os olhos cegos por centenas de milhares de espadas e lanças, do que quebrar os preceitos ao olhar para formas sensualmente belas. Da mesma forma, eu manterei minha mente afastada de seres manchados pelos belos sons, fragrâncias, comidas e sensações; i) Eu faço, além disso, o voto de que todos os seres possam atingir a budeidade. Se um discípulo de Buda não faz as precedentes grandes resoluções, comete uma ofensa secundária. 37. Sobre viajar em áreas perigosas Um discípulo de Buda deve engajar-se em práticas ascéticas duas vezes ao ano. Ele deve sentar-se em meditação no inverno e no verão e observar o retiro de verão. Durante esses períodos, ele deve carregar sempre dezoito itens essenciais, tais como: um ramo de salgueiro (para escovar os dentes), água com cinzas (para sabão), as três vestes clericais tradicionais, um incensário, uma tigela de esmolas, uma esteira para sentar, um filtro de água, roupa de cama, cópias de sutras e códigos morais, assim como estátuas de Budas e Bodhisattvas. Quando praticando austeridades e quando viajando, seja por trinta milhas (aproximadamente quarenta e nove quilômetros) ou trezentas milhas (aproximadamente quatrocentos e oitenta e três quilômetros), ele deve ter sempre consigo os dezoito itens essenciais. Os dois períodos de austeridades são: do décimo quinto dia do primeiro mês lunar ao décimo quinto dia do terceiro mês, e do décimo quinto dia do oitavo mês lunar ao décimo quinto dia do décimo mês. Durante os períodos de austeridades, ele necessitará destes dezoito itens essenciais como um passarinho necessita das duas asas. 25 Duas vezes a cada mês o noviço Bodhisattva deve comparecer à cerimônia de Posadha e recitar os Dez Preceitos Maiores e os Quarenta e Oito Preceitos Menores. Tais recitações devem ser feitas diante das imagens dos Budas e Bodhisattvas. Se apenas uma pessoa comparece à cerimônia, então ela deve fazer a recitação. Se duas, três ou centenas de milhares comparecem à cerimônia, apenas uma pessoa recita. Todos os outros devem ouvir em silêncio. O que recita deve sentar-se em um nível mais alto que a audiência, e todos devem estar vestidos com vestes clericais. Durante o retiro de verão, toda e cada atividade deve ser executada de acordo com o Dharma. Quando praticando as austeridades, o discípulo budista deve evitar áreas perigosas, reinos instáveis, países governados por maus reis, terrenos com precipícios, regiões remotas selvagens, regiões habitadas por bandidos, ladrões ou leões, tigres, lobos, serpentes venenosas ou áreas sujeitas a furacões, inundações e incêndios. O discípulo deve evitar todas estas áreas perigosas quando praticando as austeridades e também quando observando o retiro de verão. De outra forma, comete uma ofensa secundária. 38. Sobre a ordem de sentar quando em assembléia Um discípulo de Buda deve sentar-se na ordem adequada quando em assembléia. Aqueles que recebem os preceitos de Bodhisattva primeiro sentam-se primeiro, aqueles que recebem os preceitos de Bodhisattva depois sentam-se atrás. Seja velho ou jovem, bhiksu ou bhiksuni, pessoa de status, um rei, um príncipe, um eunuco ou um servo, cada um deve sentar-se de acordo com a ordem na qual ele recebeu os preceitos. Discípulos de Buda não devem fazer como os externalistas ou as pessoas deludidas que baseiam sua ordem na idade, ou sentam-se sem qualquer ordem, de forma Bárbara. No meu Dharma, a ordem de sentar é baseada na antigüidade da ordenação. Desta forma, se um Bodhisattva não se senta seguindo a ordem de acordo com o Dharma, comete uma ofensa secundária. 39. Sobre a falha ao cultivar méritos e sabedoria Um discípulo de Buda deve, constantemente, aconselhar e ensinar todas as pessoas a estabelecer monastérios, templos e stupas nas montanhas, florestas, jardins e campos. Ele deve também construir stupas para os Budas e edifícios para os retiros de inverno e verão. Todas as facilidades requeridas para a prática do Dharma devem ser estabelecidas. Além disso, um discípulo de Buda deve explicar os sutras Mahayana e os Preceitos de Bodhisattva a todos os seres sencientes. Em tempos de doença, calamidades nacionais, guerras iminentes ou a morte dos pais, irmãos e irmãs, mestres do Dharma, mestres dos Preceitos, um Bodhisattva deve ler e explicar os sutras Mahayana e os Preceitos do Bodhisattva semanalmente, durante sete semanas. O discípulo deve ler, recitar e explicar os sutras Mahayana e os Preceitos do Bodhisattva em todos os encontros para as cerimônias, em seus afazeres 26 diários e durante os períodos de calamidade – incêndios, inundações, tempestades, perda de navios nos mares em águas turbulentas ou perseguido por demônios...Da mesma forma, ele deve fazer isso de maneira a transcender o mau karma, os Três Maus Reinos, as Oito Dificuldades, as Sete Falhas, todas as formas de apresamento ou desejo sexual excessivo, raiva, delusão e doença. Se o noviço Bodhisattva falha em agir como o indicado, comete uma ofensa secundária. O Bodhisattva deve estudar e respeitosamente observar os nove preceitos acima mencionados como explicados no capítulo “O altar de Brahma”. 40. Sobre a discriminação ao conferir os preceitos Um discípulo de Buda não deve ser seletivo e mostrar preferências ao conferir os Preceitos do Bodhisattva. Todas as pessoas podem receber os preceitos – reis, príncipes, altos oficiais, bhiksus, bhiksunis, leigos, leigas, libertinos, prostitutas, os deuses dos Dezoito Céus de Brahma, ou dos Seis Céus do Desejo, pessoas assexuadas, pessoas bissexuais, eunucos, escravos, ou demônios e fantasmas de todos os tipos. Discípulos budistas devem ser instruídos a vestir-se e dormir em roupas de cor neutra, formadas pela mistura de azul, amarelo, vermelho, preto e púrpura. As roupas de monges e monjas devem ser, em todos os países, diferentes daquelas usadas por pessoas comuns. Antes que a alguém seja permitido receber os Preceitos do Bodhisattva, deve se perguntar a ela: “Cometeu você qualquer uma das Sete Graves Ofensas?” O Mestre de Preceitos não deve permitir àqueles que tenham cometido tais atos receber os preceitos. Aqui estão as Sete Graves Ofensas: a) Derramar o sangue de um Buda; b) Matar um Arhat; c) Matar o próprio pai; d) Matar a própria mãe; e) Assassinar um Mestre do Dharma; f) Assassinar um Mestre dos Preceitos; g) Causar cisão na Sangha. Exceto aqueles que cometeram as Sete Graves Ofensas, qualquer um pode receber os Preceitos do Bodhisattva. As regras do Dharma proíbem monges e monjas de prostrarem-se diante de governantes, pais, parentes, demônios e fantasmas. 27 Qualquer um que compreende as explicações do Mestre de Preceitos pode receber os preceitos de Bodhisattva. Desta forma, se uma pessoa vem de trinta ou trezentas milhas de distância, buscando o Dharma e o Mestre de Preceitos sem mesquinharia e raiva, e tal mestre não conferir estes preceitos prontamente, comete uma ofensa secundária. 41. Sobre ensinar para obter vantagens Se um discípulo de Buda, enquanto estiver ensinando e desenvolvendo a fé das pessoas no Mahayana, descobrir que uma pessoa em particular deseja receber os Preceitos do Bodhisattva, então deve atuar como um mestre ensinando e instruindo a mesma a buscar outros dois mestres, um Mestre do Dharma e um Mestre de Preceitos. Estes dois mestres devem perguntar ao candidato aos preceitos se ele cometeu alguma das Sete Graves Ofensas em sua vida. Se ele o fez, não pode receber os preceitos, caso contrário, poderá recebê-los. Se ele quebrou algum dos Dez Preceitos Maiores, deve ser instruído a arrepender-se diante das estátuas dos Budas e Bodhisattvas. Ele deve fazer isso seis vezes ao dia e recitar os Dez Preceitos Maiores e os Quarenta e Oito Preceitos Menores, prestando homenagens com profunda sinceridade aos Budas dos Três Períodos de Tempo. Deve continuar desta maneira até que receba uma resposta auspiciosa, que pode ocorrer depois de sete dias, quatorze dias, vinte e um dias ou até em um ano. Exemplos de sinais auspiciosos incluem: experimentar os Budas tocando-lhe a coroa da cabeça, ver luzes, halos, flores e outros fenômenos raros como esses. O testemunho de um sinal auspicioso indica que o karma do candidato foi dissipado. De outra forma, ainda que ele tenha se arrependido, isso não está assegurado. Ele ainda não recebeu os preceitos. No entanto, os méritos adquiridos aumentarão suas chances de receber os preceitos em um tempo futuro. Diferentemente do caso dos Preceitos Maiores do Bodhisattva, se um candidato violou qualquer um dos Quarenta e Oito Preceitos Secundários, pode confessar sua infração e sinceramente se arrepender diante de monges Bodhisattvas ou monjas. Depois disso, sua ofensa será erradicada. O mestre oficiante, no entanto, deve entender completamente os sutras Mahayana e os códigos morais, os Preceitos Secundários assim como os Preceitos Maiores de Bodhisattva, o que constitui uma ofensa e o que não constitui, a verdade do Significado Primeiro assim como os vários estágios de cultivo Bodhisattva – as Dez Moradas, as Dez Práticas, as Dez Dedicações, os Dez Campos e a Iluminação equânime e maravilhosa. Ele deve também conhecer os tipos e os graus de contemplação requeridos para entrar e sair desses estágios e ser familiar com os Dez Ramos da Iluminação, assim como uma variedade de outras contemplações. Se ele não está familiarizado com o que foi dito acima, e cheio de desejo por fama, discípulos, ou oferendas, simula um pretenso entendimento dos sutras e 28 códigos morais, ele é uma decepção para si mesmo, assim como para os outros. Desta forma, se ele intencionalmente atua como um Mestre de Preceitos, transmitindo os preceitos a outros, comete uma ofensa secundária. 42. Sobre recitar os preceitos para pessoas más Um discípulo de Buda não deve, com um motivo torpe, expor os Grandes Preceitos dos Budas diante daqueles que não os receberam, externalistas ou pessoas com visões errôneas. Exceto no caso de reis ou supremos governantes, ele não deve expor os preceitos diante de pessoas tais como estas. Pessoas que mantêm visões heterodoxas e não aceitam os Preceitos dos Budas são indômitas por natureza. Elas não irão, vida após vida, encontrar a Jóia Tríplice. Elas são tão estúpidos como pedras e árvores; elas não são diferentes de toras de madeira. Assim, se um discípulo de Buda expõe os preceitos dos Sete Budas diante de tais pessoas, comete uma ofensa secundária. 43. Sobre pensamentos de violar os preceitos Se um discípulo de Buda junta-se à Sangha com fé pura, recebe os Preceitos dos Budas, mas desenvolve pensamentos de violá-los, ele é indigno de receber qualquer oferta dos fiéis, indigno de andar no solo de sua terra natal, indigno de beber a água que necessita para viver. Cinco mil espíritos guardiões constantemente bloqueiam seu caminho, chamando-o: “-Ladrão mau!” Esses espíritos seguem-no sempre nas casas das pessoas, nas vilas e cidades, transformando-se verdadeiramente em suas pegadas. Qualquer um que cruze tal discípulo o chamará de “ladrão dentro do Dharma”. Todos os seres sencientes evitarão seus olhos e não desejarão vê-lo. Um discípulo de Buda que quebra os preceitos não é diferente de um animal ou um tronco de madeira. Assim, se um discípulo intencionalmente pensa em violar os preceitos corretos, comete uma ofensa secundária. 44. Sobre falhar ao honrar os sutras e códigos morais Um discípulo de Buda deve sempre concentradamente receber, observar, ler e recitar os sutras Mahayana e os códigos morais. Ele deve copiar os sutras e os códigos morais em casca de árvore, papel, roupas finas, ripas de bambu e não deve hesitar em usar sua própria pele como papel utilizando seu próprio sangue como tinta e sua própria medula como solvente, ou em fatiar seus ossos para usar como canetas. Ele deve usar pedras preciosas, incenso inestimável, flores e outras coisas preciosas para fazer e enfeitar capas e estojos para guardar os sutras e códigos. Assim, se ele não faz oferendas aos sutras e códigos morais de acordo com o Dharma, comete uma ofensa secundária. 29 45. Sobre falhar ao ensinar seres sencientes Um discípulo de Buda deve desenvolver uma mente de grande compaixão. Sempre que entre na casa das pessoas, vilas, cidades ou vilarejos e veja seres sencientes, ele deve falar em voz alta: “Vocês, seres sencientes, devem todos tomar os Três Refúgios e receber os Dez Preceitos Maiores de Bodhisattva”. Quando ele cruzar vacas, porcos, cavalos, ovelhas e outros tipos de animais, deve se concentrar e dizer em voz alta: “Vocês são agora animais; vocês devem desenvolver a Mente Bodhi”. Um Bodhisattva, onde quer que vá, seja subindo uma montanha, entrando na floresta, cruzando um rio, ou andando através de um campo, deve ajudar todos os seres sencientes a desenvolver a Mente Bodhi. Se um discípulo de Buda não ensina sinceramente e não resgata os seres sencientes desta maneira, comete uma ofensa secundária. 46. Sobre pregar de maneira imprópria Um discípulo de Buda deve sempre manter uma mente de grande compaixão para ensinar e transformar os seres sencientes. Enquanto estiver visitando doadores ricos e aristocráticos ou ensinando em uma reunião do Dharma, ele não deve permanecer de pé enquanto explica o Dharma ao leigo, mas deve ocupar um assento elevado em frente à assembléia dos leigos. Um bhiksu, servindo como instrutor do Dharma, não deve ficar de pé enquanto discursa às Quatro Assembléias. Durante tais discursos, o Mestre do Dharma deve sentar-se em um assento elevado, entre flores e incenso, enquanto as Quatro Assembléias devem ouvir de assentos mais baixos. A assembléia deve respeitar e seguir o mestre como filhos piedosos obedecem seus pais ou Brâmanes adoram o fogo sacrificial. Se um mestre do Dharma não segue tais regras enquanto está pregando o Dharma, comete uma ofensa secundária. 47. Sobre regulamentos contra o Dharma Um discípulo de Buda que aceitou os Preceitos dos Budas com uma mente confiante, não deve usar sua alta posição oficial (como rei, príncipe, oficial etc.) para enfraquecer o código moral dos Budas. Ele não deve estabelecer regras e regulamentos prevenindo os quatro tipos de discípulos leigos de juntarem-se à Sangha monástica e praticar o Caminho, ele não deve proibir a fabricação de imagens de Budas ou Bodhisattvas, estátuas e stupas ou a impressão e distribuição de sutras e códigos. Se discípulos leigos budistas em alta posição se engajarem em ações contrárias ao Dharma, não são diferentes de vassalos a serviço de governantes ilegítimos. Um Bodhisattva deve receber homenagens e oferendas de todos.Isso é o correto. Se, no entanto, ele é forçado a prestar respeitos a oficiais, isto é contrário ao Dharma, contrário aos códigos morais. Assim, se um rei ou oficial recebeu os Preceitos do Bodhisattva com uma mente benéfica, deve evitar ofensas que prejudiquem as Três Jóias. Se, no 30 entanto, intencionalmente comete tais atos, é culpado de uma ofensa secundária. 48. Sobre destruir o Dharma Um discípulo de Buda que se torna um monge com intenções benéficas não deve, por fama ou vantagens, explicar os preceitos a reis ou oficiais de tal maneira que isto seja causa para que monges, monjas ou leigos que receberam os Preceitos do Bodhisattva sejam presos, jogados na prisão ou constrangidos. Se um Bodhisattva age de tal maneira, ele não é diferente de um verme no corpo de um leão, comendo a carne do mesmo. Comer a carne não é algo que o verme que viva fora do corpo do leão possa fazer. Desta forma, apenas discípulos dos Budas podem demolir o Dharma – nem os externalistas ou os demônios podem fazer isso. Aqueles que receberam os Preceitos do Buda devem protegê-los e observálos como uma mãe toma conta de seu único filho ou como os filhos piedosos tomam conta de seus pais. Se um Bodhisattva escuta externalistas ou pessoas de mente má falando mal ou depreciando os Preceitos dos Budas, ele deve sentir como se seu coração fosse perfurado por trezentas lanças, ou como se seu corpo fosse estocado com mil facas, ou como se fosse esmigalhado com mil bastões. Deve preferir sofrer nos infernos por cem eons que ouvir seres maldosos menosprezando os Preceitos do Buda. Quão pior que isso será se o próprio discípulo de Buda quebrar os preceitos ou incitar outros a fazê-lo! Isto é, de fato, uma mente não filial ! Assim, se ele viola intencionalmente estas instruções, comete uma ofensa secundária. Os nove preceitos precedentes devem ser estudados e respeitosamente observados com a mais profunda confiança. VII. Conclusão O Buda, então, disse: - Todos vós ó discípulos! Esses são os quarenta e oito preceitos secundários que vocês devem observar. Bodhisattvas do passado os recitaram, os do futuro recitarão e aqueles do presente estão agora recitando. Discípulos de Buda! Vocês devem todos ouvir! Estes Dez Preceitos Maiores e os Quarenta e Oito Preceitos Secundários são recitados por todos os Budas dos Três Períodos de Tempo – passado, presente e futuro. Eu agora os recito também. VIII. Epílogo O Buda continuou: - Todos na assembléia – reis, príncipes, oficiais, bhiksus, bhiksunis, leigos e leigas e aqueles que receberam os Preceitos do Bodhisattva – devem receber e observar, ler e recitar, explicar e copiar estes preceitos da Eterna Natureza de Buda para que eles, assim, transmitam-se sem interrupção para a edificação de todos os seres sencientes. Eles devem, então, encontrar os Budas e receber os ensinamentos de cada um em 31 sucessão. Vida após vida, eles escaparão dos Três Maus Caminhos, das Oito Dificuldades e renascerão sempre nos Reinos Humano e Celeste. Eu concluí a exposição geral dos Preceitos dos Budas debaixo desta árvore Bodhi. Todos nesta assembléia devem concentradamente estudar os preceitos Pratimoksa e alegremente observá-los. Estes preceitos são explicados em detalhe na sessão de exortação do capítulo “Rei celestial sem marcas”. Naquele momento, os Bodhisattvas dos Três Mil Mundos estavam ouvindo com a mais profunda reverência ao Buda recitando os preceitos. Eles, então, alegremente os receberam e observaram. Quando Buda Sakyamuni terminou de explicar os Dez Inexauríveis Preceitos do capítulo “Portal do Dharma do Campo da Mente”, que o Buda Vairocana tinha previamente proclamado no mundo Tesouro da Flor de Lótus, incontáveis outros Budas Sakyamuni fizeram o mesmo. Eles explicaram o Tesouro da Mente de Buda, o Campo do Tesouro, o Tesouro dos Preceitos, as infinitas ações e o Tesouro dos Votos e o Tesouro da Natureza de Buda Sempre Presente como Causa e Efeito da Budeidade. Desta forma, todos os Budas completaram suas exposições dos incontáveis Tesouros do Dharma. Todos os seres sencientes através dos bilhões de mundos alegremente receberam e observaram estes ensinamentos. As características do Campo da Mente são explicadas em grande detalhe no capítulo “Sete Formas de Conduta do Buda Rei do Brilho Floral”. IX. Versos de louvor Os Sábios com grande Samadhi e Sabedoria Podem observar este ensinamento; Até atingirem a Budeidade Eles são abençoados com os Cinco Benefícios: Primeiro, os Budas das Dez Direções Sempre os mantêm em mente e os protegem. Segundo, no momento de sua morte Eles manterão as visões corretas com uma mente alegre. Terceiro, onde quer que eles renasçam, Os Bodhisattvas serão seus amigos. Quarto, méritos e virtudes abundam onde A Perfeição dos Preceitos é realizada. 32 Quinto, nesta vida e nas que se sucederão, Observando todos os preceitos, eles são preenchidos com Méritos e sabedoria. Tais discípulos são filhos do Buda. Pessoas sábias devem ponderar bem sobre isso. Seres comuns apegados às características da personalidade e ao eu Não podem obter este ensinamento. Nem podem os seguidores dos Dois Veículos, Habitar na quietude, Plantando as suas sementes dentro deles. Para nutrir os brotos de Bodhi, Para iluminar o mundo com Sabedoria, Você deve cuidadosamente observar A Verdadeira Característica de todos os dharmas (fenômenos): Nem nascidos nem não nascidos, Nem eternos nem extintos, Nem iguais nem diferentes, Nem vindo nem indo. Neste estado concentrado O discípulo deve diligentemente cultivar E adornar os feitos e as práticas do Bodhisattva Em ordem seqüencial. Entre os ensinamentos do estudo e da prática, Não deve-se desenvolver pensamentos de discriminação. Este é o mais importante Caminho – Também conhecido como Mahayana. Todas as ofensas de especulação inútil e debate sem sentido Invariavelmente desaparecem com esta união; A onisciente sabedoria do Buda 33 Também nasce disso. Desta maneira, todos os discípulos de Buda Devem desenvolver grande resolução, E estritamente observar os Preceitos do Buda Como se eles fossem brilhantes gemas preciosas. Todos os Bodhisattvas do passado Estudaram estes preceitos; Todos os do futuro os estudarão. Todos os do presente estão estudando-os. Este é o caminho trilhado pelos Budas, E louvado pelos Budas. Eu terminei agora de explicar os preceitos, O corpo de imenso mérito e virtude. Eu agora os transfiro a todos os seres sencientes; Possam todos eles atingir a Suprema Sabedoria; Possam todos os seres sencientes que ouvirem este Dharma Atingirem a Budeidade. X. Versos de Dedicação No Mundo Tesouro do Lótus, Vairocana explicou uma parte infinitesimal do Portal do Campo da Mente, Transmitindo isto aos Budas Sakyamuni: Os Preceitos Maiores e Menores foram claramente delineados, Todos os seres sencientes receberam imensos benefícios. 34