a rede urbana - GeoPet
Transcrição
a rede urbana - GeoPet
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE GEOPET – Programa de Educação Tutorial Apresentação: Leandro A. Ferreira A REDE URBANA Em seu livro, Roberto Lobato Corrêa procura mostrar o que foi a produção geográfica sobre redes urbanas, as abordagens que mais evidenciam suas naturezas e significados além de trazer contribuições (de nível teórico e prático) aos estudos de rede urbana. A partir de 1920, vai ganhando importância o estudo de rede urbana e a partir de 1955 se verifica grande difusão de estudos sobre redes urbanas. Chega ao Brasil por meio de Pierre George com sua Geografia Econômica. O assunto rede urbana veio ganhando importância a partir do aumento de importância do processo de urbanização, onde ela passou a ser o meio através do qual a produção, circulação e consumo se realizam efetivamente. A partir do conhecimento do processo da produção geográfica sobre redes urbanas, Corrêa busca exemplificar abordagens diversas a esse respeito, mostrando que não há consenso sobre o significado de rede urbana e defendendo que diferente do que muitas abordagens afirmam a rede urbana não existe apenas nos países desenvolvidos.·. O tema da rede urbana é estudado diferentemente por diversas abordagens, estas não necessariamente excludentes entre si e permeiam em diferentes ciências sociais sob diferentes pontos de vista. Como abordagens, Corrêa nos traz cinco bastante importantes: → Classificações funcionais: nesta, pretende-se mostrar a existência de diferenças entre as cidades no que se referem as suas funções, colaborando assim para a compreensão da organização espacial. A partir da década de 1950 esses estudos passam a ter um tratamento estatístico, buscando classificar melhor a questão das funções urbanas. Critica-se nesta abordagem a natureza dos dados utilizados, assim como a falta de objetivos geográficos definidos em seus estudos. → As dimensões básicas de variação: A partir das classificações funcionais das cidades passou-se a pesquisa das dimensões básicas de variação das redes ou sistemas urbanos com uma técnica descritiva tratando um grande número de variáveis originando fatores ou dimensões básicas de variação. Desta abordagem é criticado o fato de que grande número de variáveis é determinado sem nenhuma base teórica explícita ou escolhido a partir da visão de mundo do pesquisador. → Tamanho e desenvolvimento: considera a rede urbana como um todo e estabelece uma relação entre o tamanho das cidades de uma rede urbana e certos aspectos da vida econômica e social. Estes estudos são vinculados aos interesses do planejamento em sua dimensão espacial e ganham grande importância nos períodos de prestígio ou de crise do sistema de planejamento capitalista. Programa de Educação Tutorial 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE GEOPET – Programa de Educação Tutorial Apresentação: Leandro A. Ferreira → A hierarquia urbana: é a abordagem mais discutida, seus estudos procuram compreender a natureza da rede urbana segundo a hierarquia de seus centros. Corrêa, aponta que este estudo ganhou importância porque o capitalismo provocou um processo de diferenciação das cidades de maneira bastante acentuada. Com isso surgem ações desiguais por parte do Estado e dos capitalistas. Corrêa destaca, nesta abordagem, as idéias de Christaller que afirma que: quanto maior o nível hierárquico de uma localidade central, maior o número de funções centrais, sua população urbana, sua região de influência e o total da região servida. Destaca também que numerosos estudos nesta abordagem foram elaborados no Brasil e muito contribuíram para a ‘magnitude e significado, em cada uma das regiões do país, dos dois circuitos da economia’. → As relações cidade-região: abordagem empregada principalmente por geógrafos europeus trata da relação cidade-campo sob uma perspectiva geográfica considerando as relações entre uma grande cidade e sua hintelândia constituída por centros urbanos menores e áreas rurais. De acordo com o tipo de sociedade se diferencia em termos de estruturas e paisagens agrárias, criando um temário bastante rico e com relações diversas. Porém Corrêa adverte que as abordagens citadas anteriormente se mostram insuficientes e incapazes de darem conta da realidade social, isso se explica por elas serem, na maioria das vezes, de natureza positivista, procurando uma neutralidade científica e colocando a História de lado. Sabendo disso, Corrêa procura a partir da análise da contribuição de estudiosos, contribuir para identificar a natureza e o significado da rede urbana. Isso ele faz mostrando o objeto ‘rede urbana’ sendo apreciado sob diferentes pontos de vista. O primeiro ‘lado do prisma’ aponta a rede urbana como um reflexo da divisão internacional do trabalho (D.I.T.) e condição para sua existência. Apresenta-se como reflexo na medida em que por meio das vantagens locacionais diferenciadas verifica-se uma hierarquia urbana e uma especialização funcional que define determinado centro urbano. É a partir das funções articuladas de suas cidades que a rede urbana é uma condição para a divisão internacional do trabalho. Corrêa afirma que, por haver diferenciações entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, deve-se (em relação aos estudos das relações existentes entre a rede urbana e a D.I.T) considerar até que ponto uma rede urbana é condição para essa divisão, ou seja, se ela é ou não pertencente a rede urbana estudada. Programa de Educação Tutorial 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE GEOPET – Programa de Educação Tutorial Apresentação: Leandro A. Ferreira Um segundo modo de interpretar a rede urbana pode ser apreciado se considerado como a ‘cristalização do processo de realização do ciclo do capital’ visto simultaneamente como a forma sócio–espacial de realização do ciclo de exploração da grande cidade sobre o campo e centros menores. Com o capitalismo há uma ampliação das relações econômicas e sociais, esta que passam a atuar em amplos territórios produzindo, simultaneamente, um aumento da D.I.T e progresso nos meios de comunicação e conservação de produtos. Em 1870 o mundo capitalista era visto como divido – na produção e no consumo- e articulado – nas relações comerciais-, sendo esse processo viável, somente através de uma ampla rede urbana. Corrêa divide os ciclos de exploração, relacionando cidade e região, em duas partes. Num primeiro momento, ele mostra a Metrópole – a grande cidade- como destino de grande parcela dos excedentes demográficos, produtos rurais, lucros comerciais e renda fundiária. Já num segundo momento, a grande cidade se mostra como centro de acumulação de diversos valores excedentes extraídos do campo e das cidades menores, através de investimentos do capital. Todo esse processo busca a reprodução de todo sistema social e, tem grande importância nesse ‘objetivo’ a influência exercida pela elite com relação aos meios de comunicação. Corrêa mostra também uma terceira maneira de enxergar o conceito ‘rede urbana’ a partir da teoria de Milton Santos. Afirma que estrutura, processo, função e forma são categorias de análise social e devem ser consideradas nos estudos de rede urbana. E, nestes, devem ser considerados também as formas existentes no passado, assumindo assim, à forma e ao processo, relações que podem ser complexas ou simples. Terminando a apresentação dos olhares às redes urbanas, Corrêa mostra que é possível periodizar as formas espaciais. Novamente recorrendo a Milton Santos, afirmam que a periodização das formas espaciais tem o objetivo de destacar momentos diferenciados que personalizam os processos de origem e evolução das formas, estes que podem se mostrar de modos espacialmente desiguais. Quando se toma o conceito rede urbana como periodização há a necessidade de buscar elementos gerais que lhes são pertinentes, e, cada um destes elementos pode assumir certa especificidade em cada uma das combinações espaço-tempo que participa. Como exemplo de periodização Corrêa relata o caso da Amazônia, tomando seu movimento de transformação vinculado às dimensões de origem e evolução da área. Divide a rede urbana da Amazônia em sete períodos, iniciando em 1616 com a fundação da cidade de Belém indo até meados da década de 1980 apresentando um complexo padrão de vida. A partir de pontos de vista diferentes pode-se chegar a resultados diversos. Acredito que se levar em conta distintos ‘objetos’ pode-se traçar estudos mais ricos e complexos na análise das redes urbanas, até por que a realidade é elaborada a partir da sociedade, esta que se Programa de Educação Tutorial 3 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE GEOPET – Programa de Educação Tutorial Apresentação: Leandro A. Ferreira apresenta de modo bastante complexo. Assim sendo, nos estudos devem ser elaboradas teorias que tenham algum poder de explicação da realidade e que possibilitem um melhor entendimento do espaço geográfico e seus elementos, inclusive a rede urbana. Corrêa finaliza seu estudo apontando que entende por rede urbana ‘o conjunto funcionalmente articulado de centros que se forma na estrutura territorial onde se verifica a criação, apropriação e circulação do valor excedente. A partir disso Corrêa propõe que sejam realizados estudos empíricos que podem comprovar ou exigir novas soluções teóricas para os problemas ‘reais’. Nestes estudos devem ser buscadas as singularidades de cada rede urbana e posterior estudo comparativo entre duas redes urbanas, com o objetivo de procurar identificar a natureza e significado destas diferenças. Ao fim da obra, CORRÊA assume que dada à complexidade do assunto torna-se difícil admitir apenas um método. Com essa análise final, Corrêa mostra grande humildade, pois reconhece que seu trabalho é apenas uma contribuição que seria provada somente a partir da prática de sua teoria. Enfim, o que se pode afirmar sobre esta obra é que ela deixa discussões em aberto, além de ser rica fonte teórica para estudos referentes á rede urbana. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA * CORRÊA, Roberto Lobato. A Rede Urbana. São Paulo: Editora Ática, 1989. 96p. Programa de Educação Tutorial 4