critérios para caracterização de grupos de risco para a saúde em
Transcrição
critérios para caracterização de grupos de risco para a saúde em
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA CRITÉRIOS PARA CARACTERIZAÇÃO DE GRUPOS DE RISCO PARA A SAÚDE EM POPULAÇÕES EXPOSTAS A RESÍDUOS DE PESTICIDAS ORGANOCLORADOS POR RAPHAEL MENDONÇA GUIMARÃES ORIENTADOR: PROF. DRª CARMEN ILDES RODRIGUES FRÓES ASMUS CO-ORIENTADOR: DRª CLAUDIA MEDINA COELI RIO DE JANEIRO OUTUBRO/2007 PDF processed with CutePDF evaluation edition www.CutePDF.com UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA CRITÉRIOS PARA CARACTERIZAÇÃO DE GRUPOS DE RISCO PARA A SAÚDE EM POPULAÇÕES EXPOSTAS A RESÍDUOS DE PESTICIDAS ORGANOCLORADOS POR RAPHAEL MENDONÇA GUIMARÃES ORIENTADOR: PROF. DRª CARMEN ILDES RODRIGUES FRÓES ASMUS CO-ORIENTADOR: DRª CLAUDIA MEDINA COELI RIO DE JANEIRO OUTUBRO/2007 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA CRITÉRIOS PARA CARACTERIZAÇÃO DE GRUPOS DE RISCO PARA A SAÚDE EM POPULAÇÕES EXPOSTAS A RESÍDUOS DE PESTICIDAS ORGANOCLORADOS POR RAPHAEL MENDONÇA GUIMARÃES DISSERTAÇÃO DE MESTRADO AO INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA (IESC/UFRJ) COM VISTAS À OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM SAÚDE COLETIVA. APRESENTADA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PRODUÇÃO, AMBIENTE E SAÚDE ORIENTADOR: PROFª. DRª CARMEN ILDES RODRIGUES FRÓES ASMUS CO-ORIENTADOR: PROFª. DRª CLAUDIA MEDINA COELI RIO DE JANEIRO OUTUBRO/2007 Banca Avaliadora: Membros Titulares Profª Drª Cláudia Medina Coeli Instituto de Estudos em Saúde Coletiva/UFRJ Prof Dr. Armando Meyer Instituto de Estudos em Saúde Coletiva/UFRJ Prof. Dr. Mario Vaisman Faculdade de Medicina/UFRJ Membros Suplentes Profª Drª Carmen Ildes Rodrigues Fróes Asmus Instituto de Estudos em Saúde Coletiva/UFRJ Profª Drª. Alice Helena Dutra Violante Faculdade de Medicina/UFRJ V “(...) O solo do planeta estava infestado. E quando não se descobre que aquela plantinha é um baobá, nunca mais a gente consegue se livrar dele, pois suas raízes penetram o planeta todo, atravancando-o. E se o planeta é pequeno e os baobás numerosos, o planeta acaba rachando.” Antoine de Saint-Exupéry – O Pequeno Príncipe VI AGRADECIMENTOS A dissertação acabou por ser um texto curto, mas nem por isso os agradecimentos serão também. Na minha longa lista estão os cúmplices deste trabalho: Mesmo parecendo clichê, o primeiro parceiro disto tudo foi Deus, que seguindo a lógica de inteligência suprema, atou e desatou nós para que minha vida se cruzasse com a de tantas pessoas especiais e magníficas. À Carmen Asmus, minha nobre orientadora, por ter me oferecido a oportunidade de adquirir uma expertise que nunca ousei experimentar, a toxicologia clínica. Pelo incentivo e pela cumplicidade nas idéias mais arrojadas. E não ter a menor cerimônia em me incentivar a estudar, além da toxicologia, a epidemiologia, pois queria se cercar de “gente assim”. Obrigado! Ao esforço e à dedicação, na dissertação e em outros trabalhos de igual satisfação, com o incentivo à Epidemiologia, onde é a excelente pesquisadora que é. Por criar oportunidades valiosas dentro e fora do mestrado, imprescindíveis para ter a formação que eu queria ter: Cláudia Medina. A quem simplesmente confiou e apoiou um aluno que um dia bateu na sua porta à procura de informações não publicadas, “ é aquele grandão ali”, grande no tamanho, no conhecimento e no coração, Armando Meyer. Ao professor Mario Vaisman, por tão gentilmente ter aceitado o convite para participar não só da banca, mas do processo de construção da dissertação e de seus futuros frutos. Ao professor Volney, confiante e sabiamente parcimonioso nos incentivos e nos “olha- o- prazo”s da vida... Às contribuições valiosas dos Professores Sérgio Koifman e William Waissmann. À Giovana, companheira de estresse com a base de dados que nunca batia com nada. Estou passando o bastão... À inevitável “vista grossa” de Enirtes Caetano, que não só permitiu a loucura do mestrado dentre nossas tantas tarefas, como por ter sido a grande culpada por eu hoje valorizar tanto a epidemiologia. Ah, e obviamente quem me alertou ao inigualável prazer de trabalhar naquele horário de meia-noite às seis... Aos moradores da Cidade dos Meninos, subjugados à ação negligente de alguns, e de quem potencialmente pode ter sido roubado o futuro. Espero que esta dissertação mantenha a busca por explicações e providências para que suas vidas sejam contadas. Manter concomitantemente trabalho e o mestrado, só com a tolerância nos momentos de destempero e a compreensão de um plantão virtual pela equipe de enfermagem do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. Obrigado, Penha, Edson, Luzia, Daniela, Monik, Andréia Ayres, Paula, Simone, Fabiana, Cristiane, Regina, Dina, Elizabeth, Silvana, Fran, Milena, Janete, Sueli, Joelma, Rosângela, Denise, Dalva, Beth, “Piu-Piu”, Ivone, Alba, Cecília, Joemi, Raquel, Mirian, Juraci, as Marcinhas. E mesmo não sendo da enfermagem, inclua-se o Rodrigo (fanfarrão). VII Em especial, as generosas substituições feitas pela minha amiga Elaine Fonseca durante tantos e freqüentes plantões; e a peculiar chefia da loura Elaine da Costa. À toda equipe do Programa de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil, especialmente à Lise, Renata, Kamile, Dudu, Sérgio, Zuzu, Fabíola, pelos valiosos ensinamentos, pelas calorosas discussões, pelo inesgotável trabalho e pelos ótimos “caffé au laite” do Largo da Carioca. Igualmente à toda equipe do CRESAT/RJ. Aos queridos professores da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, que defato foram imprescindíveis para minha formação em saúde pública, e na formação de um profissional que diariamente tenat ser comprometido com o crescimento da profissão: Enirtes, Adriana, Wellington, Joanir, Gicélia, Carlos Roberto. Aos milhares de galhos quebrados pela especial equipe do IESC: Ivisson, Delvaci, Geraldo, João, Renato, Daniel. São inumeráveis os momentos subtraídos da família e dos amigos. Mães (Conceição e Juju), Pai (Casali), Irmãs (Clara, Leca, Bárbara), Irmãos(Calvino – o Xôpa – e Daniel. Pronto, agora o time tá completo!), o agradecimento pela compreensão e as mensagens de apoio mesmo sem compreender muito bem a impaciência, o isolamento e o cansaço constante; por apoiar qualquer coisa que eu dissesse, e por aprender durante estes dois anos a enriquecer o vocabulário e entender quando eu falava em organoclorados, Dioxinas, Curvas de Gauss e Regressões Logísticas nas jantas de sábado, no lanche de domingo... e só (pois gosto muito deles, mas quem fica final de semana com a família em casa fazendo refeições obviamente não quer crescer na vida, né?). Aos meus avós, que não estiveram aqui para ver que o empenho que tiveram já idosos deu certo. Obrigado, de onde vocês estiverem, por ter ajudado a formar meu caráter de hoje. À Bia, por toda vez que me via cansado dizer “Raphinha, quando eu crescer eu vou ser ‘professora de epidemiologista’”. Ao Alvinho, que ainda tem uma vida pela frente para fazer boas escolhas, e espero que se espelhe ns da Bia... Àqueles cujas qualidades que só a amizade permite conhecer: Rafael Leiróz (Chorou com o Frodo sim!), Viviane do Amaral (minha “sócia”), Paula Sérvulo (não, não precisa soletrar), Fábio Guimarães (“Pó, olha só como o meu braço gira!”), Pablo Trindade (“Agora o Chewbacca sou eu!”), Silvia Reis(e o bendito japonês... a gente cresce e algumas coisas não mudam), Renata Pascoal (e nossas doces origens nos momentinhos SUS), Cristina Lemes (amiga, companheira de residência, orientanda, etc). A minha segunda família de Olaria/Niterói,pelos inúmeros eventos perdidos,mas sempre entendendo o porquê de eu não estar por ali: Mônica, Betinho, Dadi, Paulo, Carol, Rodrigo, Roberto, Roberta, Caio, Tio Wilson, Tia Ely, Beto, Carla, Lucas. Em especial ao Noel, que não conseguiu estar aqui fisicamente para ver isso À EPJABS, pelo conjunto da obra. Aos grandes companheiros de mestrado, novos amigos para o alojamento no asilo: Luiz (o Lessa), Denise (a Feijó), Catarina (a Cacaia), VIII Eduardo (o Borba) e a Fernanda (Fê), pelas discussões nas aulas da Márcia, pelo Outback e o Billabong Hour e pelas milhares de conversas paralelas nas aulas da Cláudia.Viva Cuba! Ao Léo e à Elaine, companheiros de pós graduação que estiveram juntos desde sempre. Por fim, além do aspirante a pesquisador e docente, além do enfermeiro, chefe de equipe e supervisor existe um homem, que seria o primeiro a sucumbir diante de tantas tarefas e surpresas, se não fosse o incondicional amor e lealdade de uma mulher, lealdade não só a mim, mas ao futuro brilhante que teremos juntos. Por dedicar-se tão fortemente a nós, por ser rude na hora certa, por encorajar-se nos momentos mais difíceis da vida, por permitir que eu faça parte desse nosso mundinho, pelo bendito All Star azul e todas as coisas boas que nos remetem à nossa vida em conjunto (inclusive a grata opção de também ser epidemiologista); não poderia deixar de encerrar estes agradecimentos e dedicar sua mais saborosa parte, a dedicatória, a quem a intensidade de meu agradecimento não é facultada à Língua Portuguesa expressar: Camila Drumond Muzi. IX RESUMO Objetivo: Delinear um instrumento capaz de estratificar populações expostas a resíduos de organoclorados quanto ao risco de contaminação. Métodos: A tentativa de construção da MEA foi realizada a partir da interseção das categorias tempo e intensidade de exposição. Foi realizado um painel de especialistas para obter a validade de critério do instrumento de estratificação. Os especialistas foram consultados sobre a viabilidade da MEA, bem como sobre a opção da inclusão da variável “períodos fisiológicos de exposição” na categoria intensidade. Resultados: Foi acordado pelo painel que não era possível, neste momento, estabelecer a MEA como instrumento robusto de estratificação, e foi recomendado que fossem revistos os objetivos deste estudo, no sentido de obter informações sobre um grupo de desfechos específicos, observar a magnitude destes efeitos e definir então quais seriam as janelas críticas para este sistema específico. A partir disso optou-se por uma discussão que apontou o sistema reprodutivo como sistema orgânico afetado pela ação de organoclorados; realizou-se então uma revisão sistemática sobre os efeitos reprodutivos e a contaminação por esta classe de substância tóxica. A seguir, identificou-se quais são as janelas críticas de exposição do sistema reprodutivo, considerando seu desenvolvimento em humanos. Conclusão: A proposta inicial de delineamento e validação de uma Matriz de Exposição Ambiental foi parcialmente atendida se considerar-se que a discussão sobre as janelas críticas foi aberta para que desse espaço a uma futura tentativa de construção desta MEA.Não foi viável a quantificação do seu risco por período fisiológico, pois a carência de dados para esta avaliação é severa. Pretende-se, para um médio prazo, que seja possível a mensuração deste risco, e a partir daí a construção da MEA como um instrumento acurado de estratificação da população exposta a certo tipo de químico. Palavras –Chave: Organoclorados, Matriz de Exposição Ambiental, Janelas Críticas de Exposição X ABSTARCT Objective: To design an instrument able to stratify people exposed to organochlorine pesticide according to contamination risk. Methods: Environmental Exposure Matrix (EEM) construction attempt was made from 2 categories: level and time of exposure. It was carried through a specialist panel to have criteria validation for EEM and for include variable “physiological period of exposure” on lever category. Results: It was combined from panel that it wasn’t possible to establish, from this moment, EEM as a robust instrument, and it was recommended to review primary study´ objectives, to have information about a specific outcome group, observe their magnitude and so to define what are the critical windows of exposure according to this biological system. For all this, we’ve chosen for a discuss, that pointed reproductive system as an important system affected by organochlorine pesticides action; it has designed a systematic review to comprehend reproductive outcomes from organochlorine exposure, and it has identified what are critical windows of exposure for reproductive system, considering human development. Conclusion: Initial design and validation proposal was partially fulfilled if we consider critical windows discussion. It wasn´t possible to measure risk according to physiological period, because there is a severe lack of epidemiological data. It’s intended to, for a average stated period, to be possible this measurement, and then the EEM construction, as a trustworth instrumento to stratify people exposed to chemicals. Keywords: Organochlorine, Environmental Exposure Matrix, Critical Windows of Exposure XI LISTA DE QUADROS QUADRO 01: CONTAMINANTES DE INTERESSE DE ACORDO COM CARACTERÍSTICAS GERAIS, AÇÃO TÓXICA, ATIVIDADE CARCINOGÊNICA E METABOLISMO E ELIMINAÇÃO 15/16 LISTA DE TABELAS TABELA 01: CLASSIFICAÇÃO DE PESTICIDAS DE ACORDO COM EFEITOS AGUDOS 05 TABELA 02: CLASSIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS QUANTO À CARCINOGENICIDADE SEGUNDO A IARC, 1999 06 TABELA 03: ESCALA DE DOWNS & BLACK PARA A AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS. 39 XII LISTA DE SILGAS E ABREVIAÇÕES Anvisa Agência Nacional de Vigilância Sanitária ALA-D Alamina amina-transferase ATSDR Agency for Toxic Substances and Disease Registry (Agência de Registro de Substâncias Tóxicas e de Doenças) BHC Hexaclorobenzeno CaO Óxido de Cálcio CESTEH Centro de Estudos de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana Cetesb Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo cm Centímetro DDT Diclorodifeniltricloroetano EPA Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental) FAO Food and Agriculture Organization FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente Funasa Fundação Nacional de Saúde GABA Ácido gama-amino-butírico Gama GT Gama-glutamil-transferase HCB Hexaclorobenzeno HCH Hexaclorociclohexano -HCH Isômero Alfa do Hexaclorociclohexano -HCH Isômero Beta do Hexaclorociclohexano -HCH Isômero Gama do Hexaclorociclohexano -HCH Isômero Delta do Hexaclorociclohexano IARC International Agency Research of Cancer (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer) Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IPCS International Programe on Chemical Safety (Programa Internacional em Segurança Química) OMS Organização Mundial da Saúde XIII OPAS Organização Pan-Americana da Saúde op’-DDD Isômero Orto, para, do Composto Diclorodifeniltricloroetano op’-DDE Isômero Orto, para, do Composto Diclorodifeniltricloroetano op’-DDT Isômero Orto, para, do Composto Diclorodifeniltricloroetano PCB Polycholrinated biphenyl (Bifenilas policloradas) PCDD Polichlorinated dibenzodioxin PCDF Polichlorinated dibenzofurans PCF Pentaclorofenol p/p Peso por Peso ppb Partes por Bilhão (µg/Kg, µg/L) pp’-DDD Isômero para, Para, do Composto Diclorodifeniltricloroetano pp’-DDE Isômero para, Para, do Composto Diclorodifeniltricloroetano pp’-DDT Isômero para, Para, do Composto Diclorodifeniltricloroetano ppm Partes por Milhão (mg/Kg, mg/L) SNC Sistema Nervoso Central TCB Triclorobenzeno 1,2,4 - TCB Isômero 1, 2, 4 do Triclorobenzeno TCF e TCP Triclorofenol 2,4,5 - TCF Isômero 2, 4, 5 do Triclorofenol 2,4,6 - TCF Isômero 2, 4, 6 do Triclorofenol WHO World Health Organization (Organização Mundial de Saúde) ÍNDICE SEÇÃO I - INTRODUÇÃO Classificação dos Organoclorados Contaminação por Organoclorados - o caso Cidade dos Meninos Toxicologia dos Organoclorados A Matriz de Exposição Intensidade da exposição Padrão geográfico Padrão comportamental Duração Tempo de exposição Período fisiológico da exposição Estrutura da Dissertação SEÇÃO II - OBJETIVOS Objetivo geral Objetivos específicos SEÇÃO III – MATERIAIS E MÉTODOS Fase 1: Validação dos critérios para a estratificação das fases da vida em períodos de exposição Validade de critério Seleção dos especialistas e participação no painel Fase 2: Definição de períodos críticos de exposição para o desenvolvimento do sistema reprodutor. Fundamentos e premissas Protocolos da Revisão Sistemática Aspectos Éticos SEÇÃO IV - RESULTADOS Artigo 1: Re-introdução do ddt para combate à malária: uma discussão de custo-benefício para a saúde pública Artigo 2: Exposição a organoclorados e efeitos endocrinoreprodutivos: revisão sistemática Artigo 3: Novas perspectivas para a avaliação de risco endócrino por exposição a organoclorados: utilização das janelas críticas de desenvolvimento reprodutor SEÇÃO V - CONCLUSÃO REFERÊNCIAS ANEXOS PÁGINA 01 05 06 14 18 20 20 21 22 22 22 23 25 26 26 27 28 28 29 29 29 30 31 32 33 67 99 125 128 135 Seção I Introdução 1 O conceito de exposição é definido como um contato delimitado no tempo e no espaço entre um indivíduo e um ou mais agentes biológicos, químicos e físicos (USEPA, 1991). Já a avaliação da exposição é identificada a partir das exposições que ocorrem ou que podem ser antecipadas em populações humanas (IPCS, 1999). Isto pode ser um evento complexo, demandando a análise de diferentes aspectos de contato entre as pessoas e as substâncias. Métodos de avaliação de exposição podem ser usados para identificar e definir os grupos de maior e menor exposição. Dependendo da proposta de avaliação da exposição o valor numérico pode ser uma estimativa da intensidade, taxa, velocidade, duração e freqüência do contato ou exposição. De acordo com o IPCS, uma das formas de estimar a exposição pode ser a avaliação separada da concentração da exposição e do tempo de contato, e sua combinação a posteriori. A partir desta forma, o avaliador dedica atenção para determinar a concentração de substâncias no meio ou localidade e contrapõe esta informação com o tempo e vias em que o indivíduo ou os grupos populacionais entraram em contato com a substância (IPCS, 1999). Uma outra questão para a avaliação de exposição consiste em considerar qual sistema orgânico, particularmente, será mais atingido em cada situação ou substância. Dentre os diversos sistemas que compõem o corpo humano, o sistema endócrino tem vital importância. Cada órgão segrega certo tipo de hormônio e cada hormônio tem suas funções, que são principalmente de um efeito regulador em outros órgãos, que estão à distância. Tais órgãos incluem os testículos, ovários, o pâncreas, as glândulas suprarenais, a tireóide, a paratireóide, a hipófise e o hipotálamo. O hipotálamo, por exemplo, faz constante controle das quantidades dos diferentes hormônios circulantes, enviando mensagens às glândulas. (Colborn et al, 2002). Determinados agentes interferem no desenvolvimento e no funcionamento deste sistema. Disruptores endócrinos são agentes e substâncias químicas que promovem 2 alterações no sistema endócrino humano e nos hormônios. Em inglês os autores vêm usando o termo endocrine disruptors e no Brasil se usam várias terminologias, como desreguladores endócrinos, disruptores endócrinos e interferentes endócrinos (Waissmann, 2002). Segundo Koifman (2003), um disruptor endócrino interfere na função do sistema endócrino mimetizando um hormônio (devido à semelhança de sua estrutura química com a dos hormônios naturais), podendo bloquear seus efeitos. Além disso, ele pode estimular ou inibir a produção ou o transporte de hormônios. Os disruptores podem ser substâncias orgânicas ou inorgânicas. Seu uso pode se dar tanto em áreas urbanas ou rurais, e podem aparecer como resíduos ou subprodutos derivados de usos industriais dos mais diversos. São encontrados em depósitos de lixo, contaminando solo, lençóis freáticos, mananciais de água para abastecimento público; e ainda, pela queima de resíduos hospitalares e industriais em incineradores, a exemplo das Dibenzo-p-dioxinas policloradas e dos Dibenzofuranos policlorados (Baird, 2002). Muitas destas substâncias são persistentes no meio ambiente, acumulam-se no solo e no sedimento de rios, são facilmente transportadas a longas distâncias pela atmosfera de suas fontes. Acumulam-se ao longo da cadeia trófica, representando um sério risco à saúde daqueles que se encontram no topo da cadeia alimentar, ou seja, os humanos (Meyer et al, 1999). Alguns dos agentes exógenos bastante conhecidos e estudados como disruptores endócrinos são os pesticidas, especialmente os compostos organoclorados. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, USEPA (United States Environmental Protection Agency), define pesticida como uma substância ou mistura de substâncias que objetiva prevenir, destruir, repelir ou atenuar alguma peste. Também pode ser descrito como qualquer agente físico, químico ou biológico que mata uma indesejável peste animal ou vegetal (Ecobichon, 1996). Todos os pesticidas possuem um grau de toxicidade para os organismos vivos; de outro modo eles não teriam aplicação 3 prática. Organoclorados são compostos de carbono, hidrogênio e cloro. São extremamente persistentes no meio ambiente e se acumulam em diversos compartimentos ambientais. A persistência no ambiente é definida pelo tempo que o produto químico leva para perder pelo menos 95% de sua atividade, ou seja, para se decompor em estruturas mais simples, basicamente CO2 e H2O, sob condições ambientais e usos habituais. Aqueles que não são persistentes levam de uma a três semanas para serem degradados, os de persistência moderada, de 1 a 18 meses e os persistentes, dois ou mais anos. (La Dou, 2004) Os compostos organoclorados são hidrocarbonetos clorados sintetizados pelo homem, portanto, não ocorrem naturalmente no ambiente. Podem ser divididos em dois grupos: baixo e alto peso molecular. Os pesticidas organoclorados e bifenilas policloradas (PCBs) enquadram-se na classificação de alto peso molecular. Além disso, fazem parte de um grupo de compostos classificados como poluentes orgânicos persistentes (POPs). Tal atribuição deve-se a três características básicas: persistência ambiental, bioacumulação* (com conseqüente biomagnificação* na cadeia trófica) e alta toxicidade. (Casarett, 2001) Em 1874, foi sintetizado o primeiro inseticida organoclorado, o 2,2,bis (pclorofenil) 1,1,1- tricloroetano, mundialmente conhecido como DDT, mas somente em 1939 que Paul Müller descobriu suas propriedades inseticidas. Após sua introdução na Inglaterra, no começo da década de 40, o DDT apresentou resultados tão magníficos no controle de pragas que chegou a ser comparado à penicilina e ao radar em termos de benefícios para a humanidade, motivo pelo qual foi considerado a maior descoberta científica da época ________________________________________________________________________________________________ * Bioconcentração é o progressivo aumento da quantidade de uma substância química em um organismo ou parte de um organismo, que ocorre por que a taxa de ingestão excede a habilidade do organismo remover a substância do corpo (USEPA, 1989). Já a biomagnificação é o acumulativo aumento da concentração de um contaminante persistente em sucessivos níveis tróficos superiores da cadeia alimentar. Assim, estando o homem no topo da cadeia, ele tende a acumular em seu organismo maiores quantidades de pesticidas organoclorados. 4 (La Dou, 2004). Já o HCH (1,2,3,4,5,6 - hexaclorociclohexano) foi primeiramente sintetizado por Michael Faraday em 1825, através da reação entre cloro e benzeno na presença de luz solar. No ano de 1912, van der Linden demonstrou a existência de 4 isômeros do HCH. Durante a II Guerra Mundial os pesticidas organoclorados salvaram populações inteiras do tifo e outras doenças provenientes de insetos. Na época, não havia nenhuma preocupação com possíveis danos à saúde humana. (Casarett, 2001) No início dos anos 60, o composto começou a despertar desconfiança e preocupação quando Raquel Carson acusou em sua obra intitulada “Primavera Silenciosa” graves problemas ambientais, como o enfraquecimento das cascas de ovos de várias espécies de pássaros, como pelicano, falcão e águia, provocado pela contaminação por DDT e seus metabólitos. Atualmente sabe-se que esses compostos afetam o metabolismo do cálcio (Casarett, 2001). Inúmeros trabalhos foram produzidos posteriormente ficando definitivamente comprovada a ação nociva dessas substâncias para o meio ambiente e a saúde pública, o que levou à restrição de uso, e até proibição, em diversos países. Propriedades tais como baixa volatilidade, estabilidade química, solubilidade lipídica, baixa taxa de biotransformação e degradação, que fizeram com que esses químicos se tornassem inseticidas tão eficientes, também os baniram por causa de sua extrema perssistência no meio ambiente, bioconcentração e biomagnificação dentro das variadas cadeias alimentares (Ecobichon, 1996). A maioria dos organoclorados é classificada como persistente. Devido à característica de persistência no ambiente, os organoclorados têm maior chance de penetrar nas diversas cadeias alimentares e permanecer, por tempo indeterminado, no ecossistema. O que torna esses compostos danosos, além de sua persistência, é o fato de serem lipossolúveis e de difícil eliminação. Eles ficam estocados no tecido adiposo da cadeia animal, o que faz com que os animais constituam-se em verdadeiros 5 compartimentos de reserva desses produtos. As pessoas são expostas inadvertidamente a esses compostos, por meio de inúmeras fontes, sendo os alimentos, a mais importante. Há referência de que cerca de 96% da exposição humana aos organoclorados e dioxinas dá-se por meio de ingestão de alimentos, principalmente de origem animal como peixes, carnes, ovos, leite e seus derivados (Nakagawa et al., 1999). A acumulação em tecidos gordurosos é a característica que determina a capacidade dos componentes organoclorados de biomagnificação. Classificação dos Organoclorados Para melhor caracterizar os resíduos químicos, tem-se a seguinte classificação do Programa Internacional de Segurança Química (WHO/ IPCS, 2000) da OMS, que é usada para identificação nos rótulos dos produtos para consumo: TABELA 01: CLASSIFICAÇÃO DE PESTICIDAS DE ACORDO COM EFEITOS AGUDOS Oral* Sólidos Classes Líquidos Dérmica* Sólidos Líquidos Ia Extremamente Tóxico ≤5 ≤20 ≤10 ≤40 Ib Altamente Tóxico 5-50 20-200 10-100 40-400 II Moderadamente Tóxico 50-500 200-2000 100-1000 400-4000 III Levemente Tóxico ≥500 ≥2000 ≥1000 ≥4000 *DL50 para ratos (mg/kg peso corporal). Fonte: IPCS, 2000 A dose letal 50 (DL50) é o valor estimado estatisticamente em mg do tóxico por kg de peso que é suficiente para matar 50% da população experimental de animais da mesma espécie. Na classificação final, outras informações podem ser levadas em consideração como, por exemplo, a lesão irreversível de órgãos e a concentração do produto após diluição que o torna mais volátil. (WHO/IPCS, 2000) Outra classificação que ajuda a interpretar os riscos potenciais dos químicos é a 6 proposta pela IARC. A IARC avalia evidências experimentais (estudos em animais) e epidemiológicas (estudos em humanos) de carcinogenicidade e usa termos padronizados para traduzir essa avaliação em categorias. Sempre que surgem novas evidências, a classificação das substâncias é reavaliada. A classificação vigente é a seguinte (IARC, 1999): TABELA 2: CLASSIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS QUANTO À CARCINOGENICIDADE SEGUNDO A IARC, 1999 Grupo 1 A substância ou mistura é carcinogênica para o homem Grupo 2 Grupo 2a A substância ou mistura é provavelmente carcinógena ao homem Grupo 2b A substância ou mistura é possivelmente carcinógena ao homem Grupo 3 A substância não é classificável como carcinogênica para o homem Grupo 4 A substância ou mistura provavelmente não é carcinogênica para o homem. Fonte: IARC, 1999 No Brasil, um dos casos mais famosos de contaminação por pesticidas organoclorados é o caso Cidade dos Meninos. Contaminação por Organoclorados - o caso Cidade dos Meninos A Cidade dos Meninos situa-se no km 13 da Av. Presidente Kennedy (antiga estrada Rio-Petrópolis), no Município de Duque de Caxias, estado do Rio de Janeiro. Está localizada na Baixada Fluminense, região situada entre o litoral e a encosta da Serra do Mar- localmente denominada Serra dos Órgãos. Ocupa uma área de 19,4 milhões de metros quadrados, em terreno que apresenta topografia predominantemente plana, limitada pela Av. Presidente Kennedy e os rios Iguaçú e Capivari e o canal do Pilar. A 7 região é atravessada pela Estrada Camboaba, de terra batida, com aproximadamente 4Km de extensão. (Borges, 1996) O acesso se faz através de duas portarias: uma logo no início da estrada e a segunda a cerca de 2 Km de distância, ambas controladas por guardas contratados pelo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS). Entretanto o trânsito de pessoas e veículos é praticamente livre. Não há um controle rígido de entradas, saídas e identificação dos transeuntes. Segundo a administração da Cidade dos Meninos, os guardas têm como principal função impedir a entrada de materiais de construção para evitar a edificação de novas moradias. (Braga, 1996) Em geral, a região apresenta-se topograficamente plana e, por estar compreendida na bacia do rio Iguaçu, entre os rios Capivari, Iguaçu e Pilar, está sujeita a alagamentos, desaguando na Baía da Guanabara (Barreto, 1998). Segundo moradores antigos da região, as áreas aterradas para a construção da estrada Camboaba e de outras edificações são as únicas não atingidas pelas águas durante os períodos de chuvas intensas. A estrada Camboaba é a principal via de acesso à área administrativa e às moradias para a população residente na Cidade dos Meninos (cerca de 380 famílias), para as pessoas que para lá se dirigem pelas mais variadas razões, bem como para o trânsito de veículos e animais. A localidade hoje conhecida por “Cidade dos Meninos” tem como tradição o amparo a pessoas menos favorecidas. Mas foi em 1923 que se firmou o primeiro projeto de cunho filantrópico, intitulado Abrigo Cristo Redentor, com vistas à assistência de mendigos. (Domíngez, 2001) No início dos anos 40, uma área de 3 km2 , na qual se encontrava o referido Abrigo, foi cedida à então primeira-dama, Dona Darcy Vargas, para a instalação de um albergue a fim de dar assistência e educação profissional a meninas abandonadas, sendo em 1942 8 apresentado o projeto para a criação da Cidade das Meninas, o qual previa a ampliação do Abrigo Cristo Redentor (Braga, 1996). No ano de 1947, o albergue foi entregue à Fundação Abrigo Cristo redentor, criada pelo presidente Dutra, que numa ousada iniciativa de âmbito político-social edificou 40 novos pavilhões ampliando toda a estrutura local, incluindo padarias, escola de pesca, oficinas de marcenaria, cestaria, mecânica, vassouras, etc., além da implantação de horta, pomar, avicultura, suinocultura e criação de bovinos. Sendo então chamada Cidade dos Meninos, a instituição previa a assistência integral ao menor carente até completar a sua maioridade.(Bastos, 1999) Em 1949, foi inaugurado no interior da Cidade dos Meninos o Instituto de Malariologia, órgão pertencente ao então Ministério da Educação e Saúde, com o objetivo de tratar de problemas práticos surgidos nas campanhas de combate à malária, doença de Chagas e esquistossomose. O Instituto foi instalado em 8 dos 40 pavilhões do Abrigo. Os pavilhões foram utilizados inicialmente para acomodar biotério, necrotério, laboratório, restaurante e a administração do Instituto de Malariologia (Herculano, 2001). Em 1949, a fim de fazer o controle das doenças endêmicas que assolavam o país, como a malária, esquistossomose e sobretudo a doença de chagas, o governo decidiu produzir em um dos pavilhões o composto organoclorado HCH (hexaclorociclohexano), vulgarmente chamado de pó de broca, além de outros pesticidas, em menor escala, como o DDT e o arseniato de sódio ou verde paris (Oliveira, 1994; Dias et al. 1997). Em 1950, foi inaugurada na Cidade dos Meninos uma fábrica de HCH grau técnico para suprir de inseticida as campanhas de saúde pública que tentavam erradicar e controlar vários vetores de doenças transmissíveis por insetos. A decisão foi tomada levando em conta a necessidade de abastecer o mercado interno de grandes quantidades de HCH a baixo custo e a vinda para o Brasil do químico holandês Henk Kemp, detentor do processo industrial, mais barato, de fabricação do HCH por catálise química a baixa 9 temperatura (Oliveira, 1994; Bastos, 1999). A produção nacional de HCH era motivo de orgulho para o país. Quando da inauguração da fábrica em 1950, o então ministro da Educação e Saúde, Dr. Pedro Calmon, discursou enfatizando os três grandes objetivos que ela vinha a cumprir: a preparação de equipes de técnicos especializados na erradicação de vetores; a descoberta e desenvolvimento de métodos de trabalho para a solução definitiva do problema da malária; e a libertação da economia nacional dos pesados encargos de importação de matérias-primas, já que as utilizadas no processo eram fabricadas no próprio país (Herculano, 2001). O benzeno era fornecido pela Companhia Siderúrgica Nacional, de Volta Redonda e o cloro pela Companhia Eletroquímica Fluminense, situada em São Gonçalo, município do Rio de Janeiro. Entretanto, após cinco anos de intensa atividade, a produção de HCH na Cidade dos Meninos tornou-se anti-econômica e foi interrompida. Isto devido a dificuldades de aquisição do cloro a um custo acessível, pois a Eletroquímica Fluminense parou de fabricá-lo, restando como única alternativa os fornecedores de São Paulo – as empresas Matarazzo e Elclor – o que encareceu o produto devido ao custo e problemas de transporte de uma substância tão perigosa. Dessa forma, com a inviabilidade econômica, a produção do HCH foi encerrada em 1955 (Oliveira, 1994). No ano seguinte, o Brigadeiro Bijos, assumindo a direção do Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu), no cargo de diretor do Serviço de Produtos Profiláticos (SPP), resolveu reativar a fábrica de HCH na Cidade dos Meninos dando andamento a um processo de ampliações e reformas da antiga instalação, agora denominada Fábrica de Produtos Profiláticos (FPP). Devido a problemas econômicos não descritos por Bijos (Bastos, 1999; Dominguez, 2001), a tentativa de reativar a fabricação de HCH no local foi frustrada, mas a fábrica operou até 1960, quando parte da produção dos produtos profiláticos foi transferida para Manguinhos, por exigência do Ministério da 10 Saúde. Assim, no período de abril de 1956 a agosto de 1960, na Cidade dos Meninos, foram produzidos pasta de DDT, HCH grau técnico, emulsionáveis, larvicidas, mosquicidas, rodenticidas e outros produtos destinados ao controle de vetores de doenças endêmicas (Bastos, 1999). Em 1960, por exigência do Ministério da Saúde, parte da produção dos produtos profiláticos foi transferida para Manguinhos, e em janeiro de 1961, após a demissão do Brigadeiro Bijos, a Fábrica de Produtos Profiláticos da Cidade dos Meninos foi definitivamente desativada, mantendo em seu interior os estoques de pesticidas, matérias-primas, sub-produtos, maquinários e móveis abandonados sem a adoção de normas de controle ou de segurança destinadas à proteção do patrimônio público, do ambiente e da população local (CECAB/FEEMA, 1991). Em meados de 1989, a imprensa da cidade do Rio de Janeiro (O Globo, 1989, Última Hora, 1989, Jornal do Brasil, 1989 apud Oliveira, 1994) noticiou que uma feira livre de Duque de Caxias estava comercializando ilegalmente um produto tóxico conhecido como “pó-de-broca”, pesticida organoclorado cujo uso havia sido proibido desde 1985, através da Portaria nº 329, de 02/09/85, do Ministério da Agricultura. Segundo a referida portaria, o emprego dos compostos Aldrin, Clorobenzilato, DDT, Dicofol, Dodecacloro, Endossulfan, Endrin, HCH, Heptacloro, Lindano, Metoxicloro, Nonacloro, Pentaclorofenol e Toxafeno ficou restrito às campanhas de saúde pública, quando do combate a vetores de agentes etiológicos de moléstias (Brasil, 1985). Devido às denúncias, investigações posteriores conduzidas pela Fundação Estadual do Meio Ambiente do Rio de Janeiro (FEEMA) concluíram que o "pó-de-broca" era proveniente da Cidade dos Meninos e que lá estavam presentes aproximadamente 350 toneladas de HCH grau técnico in natura (Oliveira, 1994). Após essa constatação, foram realizados estudos preliminares pela FEEMA, em 11 amostras de solo, frutas e vegetais obtidos na área. Através desses estudos, concluiu-se que todas as matrizes estavam contaminadas de HCH (CECAB / FEEMA, 1991). Ainda na ocasião, a Defesa Civil foi acionada tomando como providência a remoção de 40 toneladas do produto, acondicionadas em bombonas plásticas, para a Refinaria de Duque de Caxias (REDUC), onde ficaram estocadas por um longo período até serem incineradas por uma empresa de São Paulo. Havia, ainda, fortes indícios de que volumes desconhecidos de HCH foram retirados da área foco e estocados em locais não identificados, durante o período de comercialização ilegal do pó-de-broca. Suspeitava-se também que trechos da estrada Camboaba, principal via de circulação dentro da Cidade dos Meninos, haviam sido “aterrados” com o produto, o que foi definitivamente comprovado pelo trabalho desenvolvido para determinação de focos secundários de contaminação por HCH no solo da Cidade dos Meninos (Dominguez, 2001). Em 1990, após ser contatada pela Associação de Moradores da Cidade dos Meninos, a Procuradoria Geral do Estado e Meio Ambiente moveu uma ação contra o Ministério da Saúde (ao qual estava subordinada a Fábrica de Produtos Profiláticos), exigindo desse órgão o encaminhamento imediato das ações necessárias para a recuperação da área e preservação da saúde da população. O Ministério da Saúde, no entanto, não deu encaminhamento às ações necessárias para o saneamento do local, apesar de várias medidas terem sido sugeridas, na ocasião, pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). (Braga, 1996) Em dezembro de 1993, perante o Ministério Público Federal, foi celebrado um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta e de Obrigações (1993) entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Brasileiro do Meio-ambiente (IBAMA), Legião Brasileira de Assistência (LBA) - responsável pelo gerenciamento da Cidade dos Meninos como abrigo para jovens carentes, FEEMA, Município de Duque de Caxias, 12 FIOCRUZ e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com o objetivo de resolver a situação da Cidade dos Meninos.(Braga, 1996) Por determinação do Ministério da Saúde, a FIOCRUZ realizou um amplo trabalho de levantamento para determinar as concentrações dos isômeros do HCH no solo de toda a área da Cidade dos Meninos. Nesse estudo, realizado por Oliveira (1994), foram encontradas concentrações residuais dos isômeros a-HCH ,ß-HCH, d-HCH e .-HCH da ordem de milhares de µg/kg de solo em distâncias inferiores a 100 m das ruínas da fábrica (denominada de área foco) e concentrações da ordem de dezenas e centenas de µg/kg para distâncias variando de 100 m a 2,5 km da área foco. Análises realizadas no lençol freático determinaram concentrações médias dos resíduos dos quatro isômeros do HCH de 0,6 µg/L. Concentrações máximas encontradas para o isômero gama foram, porém, inferiores ao limite admissível para água de poço potável, 5µg/L para o .-HCH, segundo a norma NT307 da FEEMA (Oliveira, 1994). Os dados acima apresentados, segundo Borges (1996) sugerem que a contaminação da área deve se dar principalmente pelo transporte pelo ar de material particulado que se deposita, seguido pela deposição de HCH volatilizado. No Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) foi realizada uma avaliação do nível de contaminação por HCH de moradores do local. Em 1990, foram examinadas 44 pessoas que residiam próximas à área foco, sendo encontradas concentrações residuais de HCH no plasma sangüíneo dessas pessoas até 63 vezes maiores que as observadas em indivíduos não expostos, com concentrações de a-HCH variando de 0,16 a 15,67 µg/L e de 1,09 a 207,30 µg/L para o ß-HCH. Esses resultados motivaram a realização de uma segunda etapa desse estudo, realizada em 1993, onde foram analisados os soros sangüíneos de 180 crianças e adolescentes de 5 a 18 anos de idade que residiam no Abrigo Cristo Redentor; 25% das amostras analisadas acusaram a presença do isômero 13 ß-HCH (Braga, 1996), sendo que os valores médios desse isômero no sangue variaram de não detectado (LD=0,48 µg/L) a 8,22 µg/L. (Braga, 1996) Em agosto de 1995, após o término das análises iniciais das amostras de solo, água e sangue, o Ministério da Saúde reconheceu a gravidade da situação e contratou uma empresa privada (NORTOX S.A.) com o objetivo de descontaminar a área da antiga fábrica e adjacências, área foco. A metodologia de descontaminação adotada pela empresa contratada foi a desidrocloração em meio alcalino dos compostos organoclorados presentes, o que corresponde à perda de HCl pelos compostos clorados iniciais, resultando na formação de diversos compostos intermediários tais como triclorobenzenos, além de cloreto de cálcio e água. No entanto, para efetivar a descontaminação, a reação deveria prosseguir com a transformação dos produtos intermediários em dióxido de carbono, água e cloreto de cálcio . A alcalinidade necessária para a reação deveria ser obtida através da adição de óxido de cálcio (CaO, cal virgem ) ao solo contaminado na proporção de 100 a 200 kg/ton de solo (NORTOX, 1985 apud Dominguez, 2001). Em setembro de 1985, antes de realizar o tratamento sugerido, a NORTOX S.A. retirou uma amostra de solo e analisou-a para o isômero .-HCH, obtendo um resultado de 9,00%(p/p). Após 3 meses da aplicação de cal à área contaminada, a referida empresa emitiu laudo onde informava que o processo utilizado para descontaminação do local, havia promovido a descontaminação de 98% do isômero -HCH em um determinado ponto amostrado e redução de cerca de 99,4% do mesmo composto em outros pontos de coleta dentro da área tratada. Considerou, então, que as quantidades remanescentes de HCH não mais representavam riscos para a população e o meio ambiente (NORTOX, 1985). Após executar os trabalhos de descontaminação aplicando o processo de desidrocloração do HCH em meio alcalino, com emprego de óxido de cálcio, a Nortox 14 declarou por meio de laudo técnico que a operação foi realizada com sucesso e que a área não apresentava mais qualquer risco à população e ao meio ambiente (NORTOX, 1996). Entretanto, Bastos (1999), concluiu que, contrariamente ao laudo emitido por aquela empresa responsável pelo tratamento, a área continuava contaminada e as concentrações residuais dos isômeros a-HCH, ß-HCH, .-HCH, e d-HCH permaneciam elevadas, em concentrações de milhares de mg/kg de solo. Além disso, o referido autor relata que anteriormente ao tratamento, a área foco apresentava um perfil de contaminação estável devido ao acúmulo pontual de depósitos de pesticidas. Após a mistura mecânica do solo contaminado com o calcário, houve distribuição dos contaminantes, o que provocou aumento em até 16 vezes da área anteriormente descrita. O estudo encontrou também DDT e diversos outros produtos organoclorados, provavelmente originários de processos de degradação química ou biológica do HCH. Em suma, o tratamento efetuado não foi eficiente para a remediação da área, pelo contrário, só agravou o problema e a área continua sendo um foco de disseminação de compostos organoclorados. Toxicologia dos Organoclorados O quadro abaixo sintetiza informações acerca das características gerais, ação tóxica, atividade carcinogênica e metabolismo e eliminação dos principais compostos organoclorados. 15 QUADRO 01: CONTAMINANTES DE INTERESSE DE ACORDO COM CARACTERÍSTICAS GERAIS, AÇÃO TÓXICA, ATIVIDADE CARCINOGÊNICA E METABOLISMO E ELIMINAÇÃO Características Gerais Ação Tóxica Atividade Carcinogênica (IARC) Metabolismo e Eliminação HCH e isômeros Sua definição espacial permite a presença de isômeros, sendo o mais comum deles o gama (), conhecido comercialmente como lindano. Outros isômeros mais conhecidos são o alfa (), beta () e delta (), sendo que o isômero -HCH apresenta dois enantiômeros. O isômero -HCH é o mais persistente no ambiente, provavelmente devido à sua configuração mais estável, dificultando a quebra da molécula. O isômero -HCH é o que apresenta o maior potencial pesticida. Sistema Nervoso 2b Central (há hipóteses que sugerem haver mecanismo de inibição do neurotransmissor GABA e outros efeitos de estimulação e inibição do SNC). Outros sistemas como o renal, hepático, hematológico e o de homeostase bioquímica seriam alvo de ação do HCH e seus isômeros (lesão tubular renal; aumento e degeneração gordurosa do fígado; diminuição na contagem de hemáceas e leucócitos e no hematócrito; aumento da fosfatase alcalina e da ALA-D; aumento das atividades do citocromo P450; efeitos reprodutivos) A eliminação de se dá, em média, em um período de 7,2 anos, (sangue total), e de 7,6 anos, (concentração em lipídios circulantes). O percentual de gordura total no corpo mostrou ser o fator que mais interfere na taxa de eliminação.A eliminação se faz principalmente pela excreção urinária dos produtos de biotransformação, tanto em forma livre (WHO/IPCS, 1991). DDT e isômeros Leva cerca de 12 anos para ser degradado, pode dispersar-se durante muito tempo através da água, ar e sobretudo carreado no ambiente por organismos vivos. Há evidências 2b experimentais de que o DDT e seus metabólitos têm atividades estrogênicas ou antiandrogênicas. São classificados como disruptores endócrinos e podendo estar envolvidos em mecanismos de imunossupressão, distúrbios neurocomportamentais e disfunções sexuais. Podem ainda estar envolvidos em mecanismos de indução do câncer de mama, de testículos e de próstata e ainda na endometriose; efeitos para o SNC (pele fria e sensível ao contato, tremores, perspiração, parestesias da língua, lábios e face, tonturas, cefaléia, náuseas, vômitos, confusão mental e convulsões tônicoclônicas quando em altas doses); aumento de histamina e taquipnéia em trabalhadores expostos; danos hepáticos. Em doses baixas e repetidas, há acumulação progressiva até que se atinja um plateau ou nível de equilíbrio com o meio, o que ocorre em geral no ser humano ao redor de um ano. Em doses elevadas, a acumulação é relativamente mais baixa, devido à excreção também ser maior e, caso interrompida a exposição, há eliminação lenta do composto acumulado nos tecidos. Alguns estudos experimentais sugerem que, embora ocorra transferência placentária de DDT e DDE, a excreção através do leite humano parece ser mais importante. continua (...) 16 Características Gerais Ação Tóxica Atividade Carcinogênica (IARC) É altamente 3 absorvido através das vias digestiva e respiratória e menos eficazmente absorvido pela pele. Nos organismos, acumula-se predominantemente no tecido gorduroso e, em menor extensão, no fígado.Há efeitos como hemoptise grave em trabalhador; é irritação para os olhos e para as vias respiratórias; alteração de enzimas hepáticas; porfiria hepática; cloracne; dermatite; anemia; alterações anatômicas e funcionais de fígado, rins e fetotoxidade PCB Sofrem processo de bioacumulação e é persistente no ambiente, sendo fortemente adsorvido ao solo que contém matéria orgânica. A contaminação de águas subterrâneas pode ocorrer quando camadas mais profundas do solo são atingidas. No ar, os PCB reagem com radicais hidroxilas, apresentando meia-vida de 18,8 dias e, na água, apresenta processo importante de bioacumulação em peixes, sendo a evaporação um meio ineficaz de eliminação. O ambiente domiciliar apresenta geralmente os mesmos níveis encontrados no meio externo, com exceção das casas próximas de depósitos químicos. Dioxinas e Furanos PCDDs e PCDFs sempre aparecem como mistura de congêneres e são lipofílicos, semivoláteis e tóxicos, principalmente para os animais, havendo transporte de longa distância no ambiente. As propriedades físicoquímicas e a toxicidade variam entre os congêneres em muitas ordens de magnitude. No total são 75 possibilidades de arranjos para PCDDs e 135 para PCDFs. Acumulam-se em tecidos gordurosos e em matrizes ricas de carbono, como solo e sedimentos .Dioxinas e furanos são contaminantes indesejáveis de inúmeros processos químicos industriais e seus produtos, ou subprodutos da combustão incompleta de lixo químico em incineradores, não havendo qualquer uso para os mesmos. Há acumulação na cadeia alimentar associada principalmente à presença de gordura. Alguns grupos populacionais estão, entretanto, mais sujeitos à exposição de níveis elevados de dioxinas, como crianças em amamentação e grandes consumidores de peixes em áreas contaminadas. Os efeitos potenciais da exposição ao 2,3,7,8 PCDD para a saúde incluem alterações dermatológicas, gastrointestinais, urogenitais, imunológicas, reprodutivas, hormonais, teratogenicidade e carcinogenicidade; atrofia do timo, hipertrofia/ hiperplasia hepática, atrofia de gônadas, edema subcutâneo e hemorragia sistêmica. A 2,3,7,8 PCDD é classificada como grupo 1. As demais dioxinas são classificadas como grupo 3, ou seja, as evidências de carcinogenicidade para humanos não são suficientes ou são inadequadas. Metabolismo e Eliminação Seu metabolismo é mediado por enzimas microssomais quebrando-se em clorofenóis que são então conjugados com glutations, sulfatos e ácido glicorônico. A excreção ocorre por via urinária e pelas fezes. A meia-vida, calculada através de experimentos animais, é de cerca de 90 dias Na maioria das espécies animais estudadas, a 2,3,7,8 PCDD é a que mais sofre bioacumulação, principalmente no fígado e no tecido adiposo. Em altas doses, pode ocorrer seqüestro hepático. A meia-vida da PCDD em seres humanos tem sido estimada em 5 a 11 anos. Sabe-se, porém, que a meia vida aumenta com a idade, provavelmente devido ao aumento de tecido adiposo e diminuição do metabolismo basal. Embora haja grande variação de meiasvidas dentre os diferentes congêneres, a meia vida da PCDD pode ser usada em caso de exposição crônica para efeitos práticos. 17 Alguns organoclorados como o DDT e seus metabólitos DDD e DDE, o metoxicloro, o dieldrin, as bifenilas policloradas (PCBs), os ftalatos, as dibenzodioxinas/furanos policlorados, os alquilfenóis, o bisfenol A e o mirex são reconhecidos como comprovadamente possuidores de ação desreguladora no sistema endócrino, por mais de um mecanismo, podendo atuar, por exemplo, como antagonistas de receptores androgênicos, ou agonistas de receptores estrogênicos (La Dou, 2004) . O sistema reprodutor dos homens e das mulheres, particularmente, é bastante suscetível aos efeitos de disruptores. Nos homens, algumas substâncias como DBCP e cádmio, podem reduzir ou impedir a produção de esperma (Meyer et al, 1999). Podem acontecer alterações no processo reprodutor, como a indução de modificações fisiológicas e bioquímicas que reduzem a fertilidade, e impedem totalmente o desenvolvimento do feto ou do nascimento normal. Um aspecto muito estudado sobre a toxicidade reprodutora é a chamada toxicidade do desenvolvimento. Esta área compreende o estudo dos efeitos das substâncias químicas no desenvolvimento do embrião e do feto durante a exposição no útero e no desenvolvimento posterior da criança depois do nascimento. Nesta época a exposição pode cessar ou continuar porque a substância química recebida pela mãe é transferida ao leite e também pode continuar toda a vida porque existem fontes adicionais diferentes daquelas as quais a mãe esteve exposta. Apesar de muitos dos mais importantes eventos organizacionais necessários para que um adulto seja reprodutivamente competente ocorrerem in utero, outros tantos poderão acontecer ao longo da vida. Se um humano se expuser a agentes exógenos, naturais ou não, de forma suficiente em períodos essenciais, a competência reprodutiva poderá ser diminuída ou abolida (Pryor et al, 2000). O tempo e a concentração de exposição, em conjunto, permitem avaliar a magnitude do contato entre os contaminantes e o homem, e através desta mensuração o 18 que se pretende é supor o maior grau de perigo a que tais pessoas estão submetidas. O que se pensa, contudo, é que tais desfechos dependem de uma série de outros fatores intrínsecos ao homem. Uma característica importante relativa aos indivíduos expostos é referente ao período fisiológico em que foi iniciada a exposição. A análise que considera o período fisiológico de exposição está pondo em questão a assertativa de que há, para cada grupo de agravos, diferentes períodos da vida que são “janelas críticas” para o desenvolvimento dos sistemas que estão envolvidos em tais desfechos. E o estabelecimento destes períodos fisiológicos, para cada grupo de desfechos específicos, oferece ao pesquisador não a magnitude do risco, mas uma proposição de que pessoas expostas nos períodos específicos identificados com críticos deverão ter problemas de saúde de maior gravidade do que aquelas expostas fora destes. Justifica-se, portanto, estudar quais seriam as fases da vida onde a exposição a um composto seria agressiva do ponto de vista de causar perturbações morfológicas ou fisiológicas, para cada conjunto de agravos que se pretende estudar. A Matriz de Exposição A análise dos métodos de avaliação de exposições, considerando-se a adequação dos instrumentos e os aspectos temporais da mensuração, é uma etapa necessária e fundamental dos estudos epidemiológicos que buscam relacionar exposições ocupacionais e a ocorrência de doenças. Neste sentido, o uso do método de delineamento de matrizes de exposição pode ser bastante útil para os estudos futuros envolvendo o estudo de Coorte em Cidade dos Meninos. Pensa-se que é necesário adotar um instrumento com capacidade potencial de otimizar as informações disponíveis de forma comparativa e tecnicamente adequada – uma Matriz de Exposição Ambiental (MEA). A epidemiologia oferece os instrumentos metodológicos para orientar o processo de vigilância ambiental em saúde. Neste contexto, 19 a disciplina denominada de Epidemiologia Ambiental tem algumas características próprias que se verificam em sua aplicação nos estudos sobre a relação entre o ambiente e a saúde. A epidemiologia ambiental utiliza informações sobre fatores de risco existentes (físicos, químicos, biológicos, mecânicos, ergonômicos e psicossociais); as características especiais do ambiente que interferem no padrão de saúde da população; as pessoas expostas; e os efeitos adversos à saúde (OPAS, 2006). A MEA é uma forma adaptada da metodologia que usa Matrizes de Exposição Ocupacional (MEO). Estas consistem num sistema de classificação que avalia ou estima a exposição para uma substância, agente, ou conjunto de substâncias em distintas ocupações por ramos de atividade específicos. As MEO vêm sendo amplamente utilizadas em vários países com recortes focais, em estudos epidemiológicos restritos a uma empresa, ou abrangendo várias empresas no plano nacional (Goldberg et al. 1993). São definidas como uma classificação de exposição que utiliza a informação da ocupação por setores econômicos para definir níveis de exposição a agentes ou substâncias. As matrizes podem contribuir para a produção de indicadores de exposição de forma dicotômica (sim; não), por gradientes (alto; baixo; não expostos), ou níveis e gradientes de exposição (definitivamente expostos; provavelmente expostos; possivelmente expostos) (Bouyer & Hémon, 1993; Kauppinen et al., 1998). A construção de uma matriz pode se dar com base em informações provenientes de técnicos de empresa, por trabalhadores, moradores ou por peritos externos. Variações sobre este princípio geraram matrizes que permitem refinar a informação de ocupação. As vantagens das MEO relacionam-se ao seu potencial para estimar exposições independentes do status da doença, permitir a mensuração da exposição com baixo custo, especialmente quando utilizam apenas informações do ambiente e do padrão comportamental das pessoas (Benke et al., 2000). Seu uso é apropriado em estudos 20 epidemiológicos cujas tarefas são pouco detalhadas. Uma vantagem adicional é a possibilidade de ser construída por dados de registros próprios. Entre as limitações das MEO está a subjetividade na classificação da exposição, quando se utiliza apenas do julgamento por especialistas e a disponibilidade de poucas informações facilita-se a ocorrência de erros de classificação diferencial ou não diferencial (Bouyer & Hémon, 1993). Na construção das MEO é mais comum a ocorrência do viés gerado pelo erro de classificação na proporção dos não expostos como expostos (falta de especificidade) do que o oposto (falta de sensibilidade) (Bouyer & Hémon, 1993). As MEO são instrumentos eficientes para identificar padrões genéricos de exposição, o que pode ser útil nos estudos epidemiológicos ou no planejamento de ações de vigilância (Ribeiro, 2004). Uma MEA deve considerar as categorias duração e intensidade da dose, para avaliar a contaminação das populações. A MEA deve ser formada pelo cruzamento de linhas (duração) com colunas (intensidade), resultando em células, analisadas individualmente no tocante à freqüência de exposição crônica aos organoclorados. Intensidade da exposição a) Padrão geográfico O primeiro passo da Avaliação da Exposição é a Caracterização da Exposição que consiste na análise de dados sobre o meio físico e das populações potencialmente expostas dentro e fora da área de interesse, visando definir em detalhe as características associadas ao processo de exposição toxicológica. O resultado deste passo é uma análise qualitativa das populações localizadas na área de estudo e em suas proximidades, considerando as características que irão influenciar sua potencial ou real exposição. As características básicas sobre o meio físico a serem avaliadas são o clima, vegetação, hidrogeologia, geologia, e hidrologia. (CETESB, 1999) 21 b) Padrão comportamental As populações potencialmente expostas devem ser identificadas e descritas no que se refere às características que influenciam direta ou indiretamente o processo de exposição. Segundo o IPCS (1999), os seguintes aspectos devem ser considerados para caracterização das populações potencialmente expostas: uso e ocupação do solo (agricola, residencial, comercial, recreacional, ou industrial); posição dos receptores em relação as fontes e plumas de contaminação; atividades desenvolvidas; densidade e freqüência de ocupação; presença de sub-populações sensíveis (creches, hospitais, escolas, etc.); presença de estruturas subterrâneas de utilidades pública (galerias de gás, telefone, esgoto, etc). Duração a) Tempo de exposição O risco atribuível de doenças para contaminantes ambientais, de acordo com o IPCS (1999) é calculado assumindo como tempo de exposição todo o período de vida, para exposições crônicas. Estimativas acuradas para tal exposição são necessárias, portanto, para uma aproximação realista do risco. Para esta avaliação, é importante considerar a magnitude do contaminante, a freqüência e o tempo de exposição. No período de meses, anos ou décadas, a exposição à maioria dos agentes ocorre de forma intermitente, ao invés de continuamente. Efeitos crônicos, tais como câncer, entretanto, são rotineiramente avaliados baseados em doses médias ao longo de períodos de interesse, normalmente expressos em anos, e não por uma série de exposições intermitentes. Conseqüentemente, doses prolongadas são normalmente estimadas por doses de pico ao longo de discretos episódios de exposição e então calculada a média para o período de interesse. 22 Valendo-se da avaliação de exposição segundo o paradigma em saúde ambiental, observa-se que há um grande percurso entre a exposição propriamente e qualquer efeito adverso. Ressalta-se aqui que, tratando-se de efeitos de exposição crônica, espera-se que os efeitos – também crônicos - por definição também se comportem de forma lenta ao longo do tempo. Quando a exposição ocorre ao longo do tempo, a exposição total pode ser dividida por um período de tempo de interesse, para ser obtida uma exposição média por unidade de tempo. A categorização da exposição permite, portanto, classificar a população em níveis de exposição diferentes. Deve, portanto, ser formada pelas categorias duração e intensidade de exposição. Tais categorias serão definidas a partir de variáveis independentes, quais sejam: para a duração será considerado o tempo de exposição. Já na categoria de intensidade, inclui-se o período fisiológico de exposição e variáveis ambientais. Período fisiológico da exposição O tempo é um componente importante para a mensuração de exposição, pois tanto a data do início da exposição quanto a duração são cruciais para a avaliação da latência e da dose acumulada. As contínuas mudanças nos processos de produção e nas medidas de proteção configuram situações que definem janelas críticas de tempo e caracterizam exposições relevantes (Armstrong et al.,1992). Denominaremos neste estudo as janelas críticas como período fisiológico de exposição. Segundo o IPCS, a variabilidade na exposição ocorre quando alguns membros da população são mais expostos que outros. O contato de alguma substâncias através da subsistência ou criação também pode contribuir com a acumulação do contaminante no organismo humano. De acordo com a variação do tipo de exposição em vários estágios 23 da vida a exposição é muitas vezes estimada por vários grupos etários na população geral. Por exemplo, a Health Canadá (1994) estima as freqüências de acordo com estágios da vida denominados: infantil (0 a 6 meses); pré-escolares (7 meses a 4 anos); escolares (5 a 11 anos); adolescentes (12 a 19 anos); adultos (≥ 20 anos). O período infantil é quando, na vida, muitas crianças são expostas a substâncias presentes no leite materno. Pré-Escolares estão expostos a contaminantes no solo mais que outros grupos. Escolares ficam a rigor mais expostos a contaminantes nos alimentos por kg de peso corpóreo. Adultos, finalmente, pertencem a um grupo com alto potencial de exposição a algumas substâncias através de atividades como o consumo e a ocupacional. Os principais endpoints citados na literatura (ATSDR, 2000; Casarett, 2001; LaDou, 2004) para organoclorados referem-se a efeitos carcinogênicos e não carcinogênicos. Embora a maior parte dos contaminantes seja possivelmente carcinogênico (correspondete à classe IIa da IARC), alguns como as dioxinas e os furanos são reconhecidamente carcinogênicos ( classe I da IARC). Além do câncer, outros efeitos para a saúde são mencionados, como problemas endócrinos, reprodutivos, de desenvolvimento, hepáticos, renais, hematológicos, imunológicos, respiratórios e neurológicos. Ao considerar a peculiar importância deste componente como modificador de efeito, e a relativa escassez de trabalhos que trabalhem com esta lógica, é importante destinar particular atenção a estas janelas críticas. Estrutura da Dissertação A dissertação está organizada em seções. Na primeira delas, a introdução, são revisados os contaminantes de interesse – os organoclorados e seus principais representantes, bem como suas principais características químicas e toxicológicas; descreve-se ainda brevemente o conceito de matriz de exposição, e quais são as 24 proposições deste estudo para a construção de uma matriz de exposição ambiental. E por fim, narra sucintamente um famoso caso de contaminação por organoclorados, o caso Cidade dos Meninos, que contextualiza e gerou a necessidade do presente estudo. A seção II enumera os objetivos do estudo. A seção III descreve a metodologia proposta para a dissertação. A seção IV é a seção de resultados. Constam três sub-seções, cada uma constituindo um artigo referente à temática estudada. O primeiro é um artigo que discute a re-introdução do DDT para as práticas de combate à malária, tendo como foco as conseqüências do uso deste pesticida ao sistema reprodutivo. O segundo é um revisão sistemática sobre os efeitos reprodutivos causados por organoclorados em humanos. Já o terceiro é um artigo de revisão não-sistemática onde são identificadas as janelas críticas de exposição do sistema reprodutivo, de acordo com as possíveis ações dos organoclorados no corpo em desenvolvimento. Finalmente, a seção V é composta pela conclusão do presente estudo. Seção II Objetivos 26 OBJETIVO GERAL Delinear um instrumento capaz de estratificar populações expostas a resíduos de organoclorados quanto ao risco de contaminação. OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Validar critérios para a estratificação das fases da vida em períodos de exposição; b) Definir períodos críticos de exposição para o desenvolvimento do sistema reprodutor; c) Construir uma Matriz de Exposição Ambiental para classificação de populações expostas a resíduos de organoclorados. Materiais e Métodos Seção III 28 MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo contou com duas etapas em sua metodologia, aplicadas a cada um dos objetivos específicos delineados. Fase 1: Validação dos critérios para a estratificação das fases da vida em períodos de exposição Validade de Critério A validação operacional de um instrumento envolve sua avaliação sistemática, geralmente comparando-o com um critério externo já existente, com utilização de métodos estatísticos. O padrão ouro é muitas vezes o diagnóstico clínico ou algum outro tipo de critério, previamente estabelecido como padrão de referência, o que implica na existência de um componente arbitrário, em qualquer investigação de validação de um instrumento (Fletcher, 2006). A premissa geradora deste estudo é a de que se pode estabelecer um critério de estratificação sema utilização do padrão ouro convencionado à priori, ou seja, as dosagens séricas dos contaminantes na população de estudo. Para a realização da validade de critério da Matriz de Exposição Ambiental foi realizado um painel de especialistas para julgar os itens da MEA. O painel de especialistas é um método que pode ser aplicado para a prospecção e a validação de constructos. (Norman e Streiner, 2002). Baseia-se principalmente em comparar pontos de vista e opiniões entre diferentes especialistas em busca de um consenso, e a partir daí identificar e propôr estratégias de ação. 29 Seleção dos Especialistas e Participação no Painel Para a realização do painel de especialistas, definiu-se a área temática a ser desenvolvida, Toxicologia dos Organoclorados. A seguir, serão escolhidos especialistas segundo sua expertise no assunto, procurando profissionais da área da toxicologia analítica e clínica. Procurar-se-á evitar possíveis interesses cruzados dos especialistas participantes. Pela natureza do conteúdo do método a ser proposto, foi decido que o painel deveria contemplar a presença de especialistas tanto da área da toxicologia clássica quanto da área clínica. A idéia inicial é que o painel seja realizado em etapa única, onde os especialistas discutirão em grupo, de posse de uma proposta preliminar de matriz de exposição ambiental (MEA), para questionar sua viabilidade e a factibilidade das variáveis envolvidas no modelo teórico. Procurou-se evitar possíveis interesses cruzados dos especialistas participantes. Fase 2: Definição de períodos críticos de exposição para o desenvolvimento do sistema reprodutor. Fundamentos e premissas Para a avaliação das evidências em epidemiologia, os estudos utilizados que representam maior poder são os analíticos, haja vista que não é possível, do ponto de vista ético, submeter um grupo randomizado à exposição a um composto sabidamente tóxico. Além disso, no que diz respeito aos mecanismos de resposta endócrina, humanos diferem dos outros mamíferos, especialmente daqueles utilizados para a realização de estudos experimentais. Com o intuito de procurar estabelecer quais sejam os períodos fisiológicos críticos para o desenvolvimento de problemas reprodutores, optou-se por realizar uma revisão 30 sistemática com estudos que rabalharam somente com populações expostas aos poluentes de interesse. Os estudos com humanos possuem força de evidência menor, pois são estudos epidemiológicos do tipo observacionais. Contudo, se forem avaliados quanto à qualidade dos seus desenhos por critérios definidos, e se forem capazes de controlas bem potenciais confundidores, são excelentes opções para avaliar a toxicidade de um poluente, já que trabalham com os exatos organismos onde pretende-se estimar a magnitude do risco. Protocolo para a Revisão Sistemática A estratégia de busca de artigos seguiu um protocolo elaborado com base no Cochrane Reviewers' Handbook versão 4.130. As bases de dados utilizadas foram o MEDLINE, Web of Sciences, LILACS, e Cochrane Library, entre 2000 e 2007, em português, inglês ou espanhol. Os descritores utilizados foram [cryptorchidism OR time to pregnancy OR infertility OR hypospadia OR menarche OR puberty OR reproductive effects OR low birth weight OR preterm OR menstrual cycle OR age at menarche] AND [PCB OR HCB OR DDT OR HCH OR organochlorine OR dioxins. Foram incluídos na revisão artigos que atendessem aos seguintes critérios: (a) ser um estudo analítico; (b) ser um estudo realizado em humanos exclusivamente; (c) ter como desfecho geral efeitos endócrino-reprodutivos. Os critérios de exclusão foram: (a) artigos de revisão; (b) artigos cujo desfecho seja câncer; (c) artigos que possuíam outros compostos tóxicos de avaliação além de OC. Os artigos selecionados foram avaliados e pontuados por dois epidemiologistas conforme uma adaptação dos critérios de Downs & Black31, para estudos observacionais. Os itens relacionados apenas a estudos de intervenção foram excluídos, pois nenhuma publicação revisada era do tipo experimental. Sendo assim, analisaram-se os artigos com base na: (1) qualidade da descrição de hipóteses/objetivos; (2) qualidade da descrição do desfecho a ser estudado; (3) 31 caracterização da amostra incluída; (4) qualidade da descrição e discussão dos principais fatores de confusão; (5) qualidade da descrição dos principais achados do estudo; (6) inclusão dos principais valores de probabilidade para os principais desfechos; (7) representatividade da amostra em relação à população em estudo; (8) indicação de que os resultados não tenham sido baseados em hipóteses a priori, quando este fosse o caso; (9) apropriação dos testes estatísticos utilizados para medir os principais desfechos; (10) acurácia dos instrumentos utilizados para os principais desfechos; (11) adequação do ajuste para os principais fatores de confusão; (12) adequação do poder estatístico para detectar um efeito importante, com um nível de significância de 5%. O total de itens avaliados segundo o critério adaptado de Downs & Black31 foi de 12, pontuando, no máximo, 17 pontos (todos os itens valem um ponto, com exceção dos itens: 4 que tem pontuação máxima de dois; e 13, que tem pontuação máxima de 5 pontos). Aspectos Éticos O projeto base deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do IESC em 13 de junho de 2005 sob o processo de número 19/2005. Este projeto incorpora os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96 sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, incluindo entre outros, a obtenção do consentimento livre e esclarecido dos indivíduos e não apresenta atividades que possam levar a danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual destas pessoas. Seção IV Resultados 33 ARTIGO 1: RE-INTRODUÇÃO DO DDT PARA COMBATE À MALÁRIA: UMA DISCUSSÃO DE CUSTO-BENEFÍCIO PARA A SAÚDE PÚBLICA DDT REINTRODUCTION FOR MALARIA´ COMBAT: A COST-BENEFIT DISCUSSION FOR PUBLIC HEALTH. Publicado nos Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 34 RESUMO O DDT é um inseticida persistente que foi amplamente utilizado no mundo a partir da década de 40 até a década de 70, quando foi banido nos EUA e outros países. A maioria dos efeitos de sua toxicidade não é observável em formas agudas, mas especialmente após exposições crônicas. Dentre estes aspectos em longo prazo estão os efeitos reprodutivos, que variam de acordo com o a época da vida em que as pessoas foram expostas. Os objetivos deste estudo são: revisar os principais efeitos toxicológicos do DDT na reprodução, estratificando de acordo com os períodos fisiológicos de exposição; e a partir da magnitude destes efeitos discutir o custo-benefício da volta da utilização do DDT com critérios definidos de eliminação de vetores da malária. Descritores: DDT, efeitos reprodutivos, efeitos endócrinos, períodos fisiológicos de exposição, Saúde Públic, Malária 35 ABSTRACT DDT is a persistent insecticide that was widely used in the world from the 1940s until the 70s, when it was banned in the United States andother countries. Most of its toxic effects are not observed in the acute forms, but particularly after chronic exposure. These long-term issues include reproductive effects, varying according to the time of life in which the individuals were exposed. The aims of the current study were to review the principal toxicological effects of DDT on reproduction, stratifying by physiological periods of exposure, and based on the magnitude of these effects, to discuss the cost-benefit relationship of reintroducing DDT with the specifically defined vector control criteria. Keywords: DDT, reproductive effects, endocrine effects, physiological periods of exposure, Public Healt, Malaria 36 Introdução O impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana é um problema que tem merecido atenção da comunidade científica em todo o mundo, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde o uso destes compostos vem aumentando de forma acelerada. Sua avaliação demanda o conhecimento e a visualização da importância/magnitude relativa de cada uma das vias de contaminação.1 Os agrotóxicos aparecem no Brasil, na década de 1960-1970, como a solução científica para o controle das pragas que atingiam lavouras e rebanhos2 . Antes ainda, na década de 40, algumas substâncias com porporiedades agrotóxicas já eram utilizadas como pesticidas para controle de algumas endemias, como a malária e a esquistossomose3 . Uma primeira classe utilizada largamente para fins da saúde pública foram os organoclorados, tendo seu representante mais conhecido – DicloroDifenil-Tricloroetano, conhecido DDT. Em publicação anterior 4 , descreveu-se a descoberta do poder inseticida do DDT, primeiro inseticida orgânico sintético, que deu início à era dos pesticidas organoclorados. A partir do DDT, foram surgindo números cada vez maiores de pesticidas. Durante a 2a Guerra Mundial foi amplamente utilizado pelo exército americano, em campanhas, em diversas regiões do mundo, e, a partir de então, seu uso se difundiu indiscriminado desta classe de 5 . Apesar dos benefícios, o uso substâncias gerou graves problemas ecológicos. Hoje, estima-se que a porcentagem de seres vivos, vegetais e 37 animais, não contaminados por inseticidas organoclorados seja relativamente baixa. 4 As preocupações com o uso do DDT têm início ainda na década de 1960, quando em seu célebre livro, Primavera Silenciosa, Rachel Carlson (1962) descreve uma série de efeitos deletérios, decorrentes do uso de agrotóxicos, sobre o ambiente e a vida selvagem. A autora dá especial ênfase ao efeito do DDT sobre a fragilização da casca do ovo da águia-americana (Haliaetus leucocephalus), contribuindo para o declínio acentuado desta espécie. Além disso, devido a sua elevada persistência no ambiente e aos inúmeros relatos de espécies mais resistentes de insetos, o DDT vem sendo paulatinamente substituído em muitos países desenvolvidos, por outras substâncias. No Brasil, o DDT teve seu uso na agricultura proibido em 1985. Em 1997, a Fundação Nacional de Saúde (FNS) proibiu também seu uso em campanhas de controle de vetores de doenças. Por fim, desde 1998, não é mais permitida a utilização de DDT para qualquer finalidade no Brasil3. Entretanto, em alguns países com regiões malarígenas, o DDT segue sendo amplamente utilizado. Como os interesses econômicos entram muitas vezes em conflito com as exigências de proteção ecológica, o DDT continua sendo produzido e exportado em grandes quantidades por países que já proibiram o seu uso em seus próprios territórios 6. Como exemplo da utilização do DDT que gerou impactos ambientais conhecidos está o caso Cidade dos Meninos, onde uma antiga fábrica de inseticidas do Ministério da Saúde, desativada na década 38 de 50, abandonou ao ar livre quantidades elevadas de inseticidas, que tinha como principal constituinte o HCH e o DDT3. O DDT exerce ação sobre a constituição física e a saúde do ser humano, além de se apresentar como importante contaminante ambiental e das populações animais. Considera-se, portanto, que compreender os mecanismos de ação do DDT é fundamental para se avaliar a magnitude do impacto da contaminação trazida por ele para a saúde humana. Há atualmente um considerável acúmulo de conhecimento sobre os múltiplos efeitos tóxicos do DDT7. Grande atenção tem sido dispensada, particularmente nos últimos 15 anos, aos possíveis efeitos estrogênicos e antiandrogênicos deste inseticida e de que forma, tal interferência com a homeostasia do sistema endócrino, representa um mecanismo de ação que explica parte de seus efeitos tóxicos 6. Consta, ainda, que produtos derivados do DDT têm sido vinculados à infertilidade, aborto espontâneo e câncer de mama, e que tais efeitos são relativizados de acordo com a etapa da vida em que o indivíduo foi exposto. Maior do que este acúmulo, entretanto, é o impasse da comunidade científica sobre a re-introdução do DDT em locais onde doenças endêmicas cujos vetores podem ser eliminados pelo DDT reivindicam o uso do contaminante utilizando um discurso de custo-benefício, dadas as altas taxas de mortalidade por aquelas doenças transmissíveis, com é o caso da malária e a febre amarela, por exemplo. Uma recente publicação7 revisa as características principais do referido organoclorado, e alguns aspectos do seu uso para controle de vetores como os da leishmaniose e da malária. Tendo em 39 vista um recorte com relação à descrição do contaminante e um dos possíveis grupos de desfechos em humanos - os endócrino-modulados e os reprodutivos – os objetivos deste artigo são: revisar os principais efeitos tóxicos do DDT relacionados aos mecanismos bioquímicos e fisiológicos do sistema reprodutor, de acordo com o período específico da vida em que um indivíduo pode estar exposto; e a partir da magnitude destes efeitos discutir o custo-benefício da volta da utilização do DDT com critérios definidos de eliminação de vetores. Em um primeiro momento do artigo revisaremos alguns aspectos da toxicologia do DDT; posteriormente, elencaremos alguns estudos que experimentaram a relação da exposição do DDT a alguns desfechos pretendidos; finalmente, a discussão desenvolve e apresenta argumentos sobre a re-introdução do DDT ou não como tipo de pesticida para o controle de vetores. Propriedades Químicas do DDT O DDT (dicloro-difenil-tricloroetano) é um inseticida sintético que pertence à classe química dos Organoclorados. Possui, ainda, alguns metabólitos, destacando-se o DDE e o DDD. Tanto o DDE como ol DDD são produtos de degradação do DDT. Todos os isômeros são substâncias sólidas, brancas, inodoras e insípidas, com a fórmula empírica C14H9Cl5 8,9. A persistência do DDT é devida à sua grande estabilidade química e física e a sua biodegradação lenta e parcial 5. Como o DDT é portador de isomeria óptica, o produto comercial é uma mistura dos dois isômeros (op' DDT cerca de 23% e pp'DDT cerca de 77%) obtidos como composto de alto grau de 40 pureza fazendo-se reagir uma molécula de clorobenzol com uma molécula de hidrato de cloral, em presença de ácido sulfúrico 9. Toxicologia do DDT Apesar do DDT ser um potente inseticida de contato, com prolongada ação residual nos locais em que é aplicado, e do mecanismo subjacente aos seus efeitos neurotóxicos ser essencialmente o mesmo em insetos e vertebrados, a ficha toxicológica deste composto organoclorado pode ser considerada como relativamente limpa 9,10 . Em que pese o uso intenso e descuidado por várias décadas em muitos países, são raros os casos conhecidos de intoxicação aguda por DDT em seres humanos e mais raros ainda os relatos de mortes causadas por este inseticida. Esta seletividade em termos da ação biocida é explicada pelo fato do DDT ser prontamente absorvido pelo exoesqueleto quitinoso do inseto, enquanto o estrato córneo de células queratinizadas, presente na pele de mamíferos, é uma eficiente barreira à penetração deste inseticida 9. Pode-se dizer que quase todas as pessoas nascidas a partir da metade dos anos 40 foram expostas a este inseticida durante grande parte de suas vidas e o acumularam no seu tecido gorduroso 10 . Mantida uma taxa constante de entrada no corpo, a concentração de DDT no tecido adiposo atinge um nível estacionário, e mantém-se então relativamente constante . O DDT pode ser absorvido por inalação e ingestão, dependendo do veículo utilizado. Nos mamíferos, inclusive no homem, após ser absorvido por via oral ou respiratória, o DDT é degradado por duas vias: a via principal de 41 metabolismo é a de sua transformação no composto insaturado DDE, através da perda de hidrogênio e cloro. Para ser excretado o DDT é lentamente desclorado e oxidado pelas monooxigenases citocromo p450-dependentes a metabólitos intermediários, entre os quais o p,p’-DDE que é um dos mais persitentes no organismo de mamíferos 9,10. O DDE é virtualmente não biodegradável, não sofrendo por isso transformação subseqüente, e, por ser altamente lipossolúvel, tenderá a ser depositado no organismo, especialmente no tecido adiposo. A via secundária de metabolização é a transformação no composto saturado DDD, através da substituição de um hidrogênio por um átomo de cloro, prosseguido então o metabolismo, através de uma série de compostos intermediários, até o DDA, que é hidrossolúvel e excretado pela bile, pelas fezes e pela urina 5,7 . Uma outra via metabólica, diferente da que tem como intermediário o p,p’-DDE, resulta no DDA (Ácido bis[p-clorofenil]acético) que é excretado na urina. O DDA, orginário do p,p’-DDT do DDT-técnico, mas não do p,p’-DDE, é encontrado na urina em quantidade apreciáveis em casos de intoxicação aguda e exposição ocupacional intensa e recente 9. A deposição do DDT em tecido adiposo humano é de conhecimento já antigo 11 . Como o DDT é eliminado pelo leite materno e atravessa a barreira placentária, mesmo os recém-nascidos e lactantes são portadores de quantidades detectáveis 5. O mecanismo subjacente tanto à ação inseticida, quanto aos efeitos tóxicos agudos do DDT, envolve a alteração da excitabilidade elétrica de neurônios, respectivamente de insetos e vertebrados 12,13 . Em axônios 42 expostos ao DDT ocorre um prolongamento da fase descendente do Potencial de Ação (Pós-Potencial Negativo) que, desta forma, retorna mais lentamente ao potencial de repouso (linha de base) 5,12 . A conseqüência deste efeito é o retardo da repolarização da membrana neuronal. Assim sendo a membrana da célula nervosa tratada com DDT, permanece parcialmente despolarizada após o Potencial de Ação, situação em que se torna altamente sensível à estimulação13. Estas alterações causadas pelo DDT manifestam-se como um quadro de hiperexcitabilidade neuronal em que ocorrem descargas repetitivas de Potenciais de Ação após a estimulação sensorial (hiper-responsividade a estímulos) 5,9,12 . É por esta razão que quando o indivíduo é agudamente intoxicado, exibem como sintomas característicos da ação neurotóxica do DDT seqüências periódicas de tremores persistentes e ou convulsões 9,12-16. Há possivelmente quatro mecanismos que poderiam explicar como o DDT prolonga o Pós-Potencial Negativo e aumenta a excitabilidade de neurônios do Sistema Nervoso Central e Periférico: alteração de permeabilidade da membrana axonal ao potássio; inativação mais lenta do canal de sódio; inibição da adenosina trifosfatase (ATPase) neuronal, particularmente a ATPase Na+/K+ - dependente e, também, a Ca++/Mg++ ATPase; por fim inibição da capacidade da calmodulina de ligar-se à e transportar os íons cálcio que são essenciais para a liberação intra-neuronal de neurotransmissores10,12,16. 43 Efeitos Para a Saúde Acreditava-se que o DDT e seus metabólitos não possuíam efeitos endócrinos, mas nos anos 70 e 80, alguns estudos era um mimetizador de estrógenos, farmacológicas semelhantes a do isto 17,18 é, sugeriram que o DDT possuía propriedades -estradiol. Desta forma, deu-se início então uma extensa investigação sobre os possíveis efeitos hormonais, decorrentes da exposição humana ao DDT e seus derivados. Estes compostos realmente podem atuar como agonistas do hormônio estrogênio, pois ao ligar-se a receptores específicos podem induzir efeitos estrogênicos. A possibilidade que eles tenham um efeito complexo, ao interagir com diferentes receptores de hormônios esteróides, em diferentes níveis, com conseqüências bioquímicas e fisiológicas ainda desconhecidas, precisa ser verificada 19. Embora muitos dos eventos organizacionais mais importantes para dar forma a um adulto com competência para a reprodução ocorram no útero, outros eventos igualmente importantes ocorrem durante toda a vida. Tais períodos de tempo, durante os quais o desenvolvimento do sistema reprodutivo é mais suscetível a transformações, incluindo-se aí aquelas produzidas pela ação de xenobióticos, são bem caracterizados na literatura científica 19-21. As exposições da pré-concepção serão definidas aqui como as exposições que afetam a espermatogênese no homem, enquanto na mulher esta fase corresponde ao ponto onde os gametas passam do estado de folículo primordial e prosseguem às fases de folículo primário e secundário e se tornam férteis 20. 44 O período pré-natal divide-se em dois: a primeira fase corresponde da fertilização até o desenvolvimento genital. Entretanto, a fase crítica para a ocorrência de efeitos deletérios no sistema reprodutivo, neste período, ocorre na segunda fase, que vai do desenvolvimento genital ao nascimento 21. Já o período pós-natal basicamente implicará no potencial de fertilidade do indivíduo, envolvendo desde a regulação da função ovariana até a qualidade da produção de espermatozóides21. Cabe ressaltar que nesta fase inclui-se a puberdade, particularmente um período para a finalização dos processos de maturação sexual. Pré-Concepção Um estudo com homens jovens em uma área pulverizada com DDT no México encontrou associação inversa entre concentração de DDT no sangue e volume de sêmen, contagem de espermatozóides e concentração de testosterona 22 . Já Hauser et al23,24 encontraram uma fraca associação inversa com motilidade, mas não com a concentração, morfologia e alteração de DNA de espermatozóides, ao observar uma população de 212 adultos na faixa de 30 a 40 anos que eram parceiros de mulheres consideradas subférteis nos EUA. Waissmann25 refere associação entre o DDT e alguns outros solventes e uma diminuição da fertilidade e da concentração de espermatozóides viáveis no sêmen. O DDT e seus metabólitos demonstram comumente efeito estrogênico; particularmente os metabólitos o,p’ – DDT, p.p’ – DDT, p,p’ – DDE; o,p’ – DDE e o’,p’ – DDT são ligantes de receptores de estrogênio em células estrógeno- 45 responsivas 26,27 . Os efeitos estrogênicos, decorrentes desta interação, têm sido evidenciados em alguns estudos epidemiológicos. Akkina et al 28 , por exemplo, encontraram em uma população de 219 mulheres hispânicas que viviam nos EUA e que foram intoxicadas por DDT, uma alta concentração de DDE associada a menopausa precoce. Cohn et al 29, em um estudo com 289 mulheres nascidas no início dos anos 60 nos EUA, demonstraram haver uma associação entre os níveis de DDT e o aumento da probabilidade de engravidar, e um declínio desta probabilidade com a exposição ao DDT. Pré-Natal O DDT é capaz de atravessar a placenta com facilidade, sendo encontrado no sangue do cordão umbilical de recém-natos cujas mães foram expostas ao inseticida6. Todavia, não existem evidências, quer oriundas de estudos experimentais, quer originarias de investigações epidemiológicas, que indiquem que o DDT seja teratogênico para mamíferos, isto é, não há indícios consistentes de que este inseticida induza o aparecimento de malformações na prole exposta durante o desenvolvimento pré-natal 5,9. Amostras de tecido adiposo de 48 crianças, 18 das quais com testículos que não desceram (criptorquidia), foram analisadas quanto aos níveis de compostos organoclorados no sangue por Hosie et al30. Estes autores não encontrartam diferenças entre crianças com testículos que não desceram e um grupo normal quanto aos níveis de DDT e metabólitos, bifenilas policloradas (PCBs), toxafenos, hexacloro-ciclohexanos (HCH) e outros. Concentrações 46 mais elevadas de heptacloro-epóxido (Hep) e hexaclorobenzeno (HCB), no entanto, foram notadas entre as crianças que não exibiam descida dos testículos30. Estudo epidemiológico realizado na costa leste da Suécia, numa coorte retrospectiva de esposas de pescadores, verificou que o alto consumo de peixes do mar Báltico (principal fonte de contaminação desta população por compostos organoclorados persistentes, incluindo PCBs, PCDD/Fs e DDT) não está associado à maior freqüência de abortamentos e natimortos31. No que diz respeito aos efeitos crônicos dos organoclorados e do DDT, especificamente, relacionados a eventos obstétricos, os estudos são ainda controversos. Fenster et al 32 analisaram uma coorte de 385 mulheres latinas de baixa renda que vivia em uma comunidade rural na Califórnia. Os autores observaram uma associação inversa entre concentração plasmática de lipídios impregnados com HCB (hexaclorobenzeno) e crescimento fetal e retardo no tempo de gestação. Entretanto, não encontraram associação estatisticamente significativa entre prematuridade e qualquer outro tipo de organoclorado. Rogan & Chen 33 citam que diversos estudos anteriores, descritivos e analíticos identificam uma forte associação entre câncer de mama e altos níveis de DDT no sangue. Contudo esta associação hoje é questionada, e relatam a necessidade de se realizar uma análise ajustada de acordo com possíveis variáveis de confundimento, como grau de exposição, tipo de metabólito do DDT, variantes estrogênicas, idade de menopausa, dieta, história de lactação, diferentes tipos de população, etnia, características do tumor e polimorfismos. 47 Ainda com relação aos efeitos obstétricos, Korrick et al 34 encontraram um aumento de DDE sérico associado ao aumento no risco de abortamento espontâneo em um grupo de 15 casos e 15 controles na China. Longnecker et al 35 avaliaram, ainda, um grupo de 1717 mulheres grávidas no EUA, onde constataram um aumento do DDE sérico associado a perdas fetais em gestações anteriores. Longnecker et al 27 ao analisar uma coorte de 2613 mulheres grávidas nos EUA, encontraram uma forte associação entre níveis séricos de DDE e prematuridade. A mesma conclusão foi obtida no estudo caso-controle com 100 casos de prematuridade no México, conduzido por Torres-Arreola36. No que diz respeito aos defeitos de formação no momento do nascimento, Longnecker et al 37 , em um estudo caso controle, selecionaram para caso 219 meninos com criptorquidia (testículo não descido), 199 hipospádias (fechamento incorreto do canal uretral), 167 politelias e 552 controles nos EUA, e percebeu um discreto aumento do risco de exposição ao DDE e tais defeitos, mas os resultados foram inconclusivos. Bhatia et al 38 , em um estudo semelhante com 75 casos de criptorquidia, 66 hipospádias e 283 controles, realizado também nos EUA, encontraram o mesmo aumento discreto, não-significativo, para ambos os defeitos. Pós-Natal Beard et al 39 examinaram a relação entre os níveis plasmáticos de DDE e densidade mineral óssea em 68 mulheres, sedentárias, que declararam ter aporte nutricional adequado de cálcio, e encontraram resultados sugestivos de 48 que exposições a DDT podem estar associadas à redução da densidade mineral óssea. O DDT pode ainda retardar a puberdade. A atividade estrógenomimética do DDT e seus isômeros é fraca comparada ao estradiol. No entanto, a propriedade de bioacumulação e a longa meia vida demonstram que a exposição humana pode causar alguns efeitos semelhantes ao estrogênio sob certas circunstâncias5,40-42. Turusov et al 43 relata o potencial estrógeno-mimético do DDT, que foi avaliado in vivo e in vitro . No primeiro caso, em análises de roedores com úteros de baixo peso ou ovarectomizadas, foi encontrada resposta importante com o metabólito o,p’-DDT, inibindo a ligação de estradiol em receptores uterinos. No segundo caso, Alguns metabólitos de DDT e DDE mostraram-se capazes de induzir a proliferação de células MCF-7 de tumores de mama, que são estrógeno-dependentes 43. O DDT pertence ao grupo IIb na classificação da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), ou seja, possivelmente carcinogênico em humanos44. Os dados da IARC permitem concluir que há associação entre o uso de DDT e câncer em animais. Entretanto, a ATSDR considera os estudos em humanos contraditórios. Há um aumento de risco para câncer de pâncreas pós-exposição ao DDT, bem como excessos de incidência de câncer hepático e mieloma múltiplo depois de exposições ocupacionais ao DDT; contudo, a associação não foi confirmada, e as condições de exposição não foram comparadas. Sendo assim, a associação em humanos é inconclusiva9 . 49 Alguns pesquisadores têm feito a ligação entre exposição a organoclorados e o aumento de câncer em humanos. Uma hipótese, baseada em aspectos bioquímicos e epidemiológicos, sugere que pesticidas organoclorados podem desencadear o câncer de mama, por efeito adverso no metabolismo de estrogênio45. O DDT e seus metabólitos têm sido chamados de disruptores endócrinos (do inglês endocrine disrupters), devido à evidência sugerida de que podem causar alterações na função normal do sistema endócrino e contribuir para o câncer de mama. Dich et al 46 revisaram a relação entre pesticidas e diversos tipos de cânceres. Eles encontraram relação com o sarcoma de partes moles, o linfoma não-Hodgkin, a leucemia e menos consistentemente, com o câncer de pulmão e mama. Há indícios, ainda, que os pesticidas organoclorados atuem como promotores ativos do processo de carcinogênese, isto é, não induzem o evento genético que participa do estágio de iniciação do câncer, mas, potencializam ou "promovem", a expansão clonal das células iniciadas47,48. O DDT mostrou ser um promotor de câncer de fígado49 . Romieu et al 50 analisaram a relação entre histórico de lactação, níveis plasmáticos de DDT e DDE e risco de câncer de mama, em um estudo conduzido entre mulheres residentes da Cidade do México, entre 1990 e 1995. A quantidade de DDT no soro não foi associada a risco de câncer, mas a presença de níveis altos de DDE, principalmente entre mulheres pósmenopausa, pode aumentar os riscos de câncer de mama. Cooper et al 51, ao avaliar uma coorte de 1407 mulheres com câncer de mama em um estudo 50 caso-controle nos EUA percebeu associação entre tal desfecho e concentração sérica de DDE. Re-Introdução do DDT: Custos e Benefícios Há um debate intenso no Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP) sobre o banimento do DDT e outros 11 outros poluentes orgânicos persistentes52 . Entretanto, existem regiões no mundo onde a utilização do DDT ainda é a única estratégia de controle do vetor da malária, com é o caso de alguns países da África, Ásia e América Latina. Há uma linha, então, que defende o uso restrito deste composto, com finalidades para a saúde pública, desde que o custo-benefício entre risco e efeitos positivos seja favorável, e onde não haja qualquer alternativa para controle de vetores, sem deixar de sinalizar para a necessidade de investimento em pesquisas que resultem em vacinas contra o parasita da malária, ou no desenvolvimento de outros tipos de inseticida32, 52. O DDT foi proibido, a princípio, por conta de seus efeitos adversos sobre o meio ambiente, como elevada persistência em diferentes compartimentos ambientais e a bioacumulação e biomagnificação nos organismos vivos, incluindo seres humanos42. Em setembro de 2006, a OMS recomendou o uso de sprays domiciliares de DDT e outros inseticidas para o controle da malária 53-57 . Naquele momento, a OMS citou muitas razões para a utilização do DDT para este fim, dentre elas a deque o DDT possui maior tempo de ação, sendo necessário um menor 51 númeor de borrifações nos domicílios, sendo capaz de repelir os mosquitos do interior das casas e matar os que estiverem sobre as superfícies dedetizadas54,57. Desde então, alguns países africanos passaram a re-introduzir o DDT em suas práticas de controle de endemias 55,56. Recentes publicações trazem à tona novamente esta discussão sobre benefício da re-introdução do DDT. Rehwagen58 cita que a última recomendação da OMS tende para o uso do DDT não apenas em áreas epidêmicas, mas também em áreas com altas e constantes taxas de transmissão de malária, o que inclui toda a África. Tal fato é ratificado por Mandavilli59,60. Rogan e Chen 61 citam que quando o banimento global do DDT foi proposto em 2001, inúmeros países da África Subsaariana reivindicaram que o DDT ainda era necessário como uma forma barata e eficaz no controle de vetores, contribundo especialmente na redução da mortalidade infantil. Ainda neste estudo, o autor detalha pesquisas que mostram que a exposição ao DDT nas quantidades que seriam necessárias para o controle da malária pode causar o nascimento pré-termo, revogando o benefício de reduzir a mortalidade infantil da malária. Concluem o estudo recomendando que DDT pode ser útil no controle da malária, mas as evidências dos efeitos adversos na saúde humana necessitam pesquisas aproporiadas para se constatar se há de fato custo benefício em sua utilização. Algumas pesquisas recentes demonstram que as opiniões são diversas. Maharaj et al62 procuraram determinar se a re-introdução do DDT em tem algum efeito na transmissão da malária na província. E este estudo foi 52 idealizado após constatarem que a epidemia de malária em 2000 no local foi atribuída à resistência do vetor aos piretróides. Sua conclusão foi de que a reintrodução do DDT impactou positivamente no controle da malária, contribuindo, com outros agentes com a quimioterapia na redução de até 91% dos casos. Contudo, destaca que o sucesso se deu pela adoção de múltiplas estratégias, e que no cotidiano o que ocorre o uso exclusivo e continuado do DDT dentro das áreas endêmicas de malária da província. E refere ainda que tal prática, atualmente, é ameaçada pela emergência da resistência ao pesticida. Em recente publicação, Etang et al63 evidenciaram mutações deletérias nas seqüências de aminoácidos Leu-Phe e Leu-Ser de mosquitos Anopheles gambiae associadas à resistência aos inseticidas produzidos com piretróides ou DDT nos Camarões, África. Já Cui et al 64 descrevem que na China grandes quantidades de quatro classes de inseticidas (organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretróides) são aplicados anualmente em campos e plantações, e isso traz, direta ou indiretamente, uma rigorosa selação natural da população de vetores. Cui et al 64 descreve, ainda, sete classes de vetores mais encontrados no território chinês, como os dos gêneros Aedes, Anopheles e Culex, todos veículos de doenças transmissíveis, e que todos, de uma froma geral, vêm apresentando resistência aos pesticidas, exceto aos carbamatos. Alguns programas de saúde pública vêm se empenhando em estudar o custo-efetividade desta prática com o DDT, como é o caso, por exemplo, de Camarões 65 , Moçambique66, Quênia67 , África do Sul68 , Índia69 , Vietnã70 , 53 Eritea71e Gana72. De uma forma geral, nestes países o uso continuado do DDT como controle de vetores, e não na agricultura – condição aprovada na Convenção de Poluentes Orgânicos Persistentes de Estocolmo – tem se mostrado como boa alternativa para o controle da malária. Há ainda, outras experiências também bem sucedidas de países que utilizam programas de modificações ambientais para a erradicação das larvas de mosquito, como é o caso da Malaísia73 e Zâmbia74 , que usam técnicas de variação de nível de água em reservatórios, irrigação intermitente da agricultura, remoção de uma parta da vegetação emergente e até a introdução de agentes biológicos larvicidas no ambiente, como bactérias75, fungos76 e algumas algas77. Estas alternativas, pensa-se, são formas alternativas para a não utilização do DDT. Entretanto, pouco se discute sobre o seu impacto ambiental, especialmente as que alteram ao ecossistema. Não se sabe, ainda, se estas medidas poderiam ser tão nocivas ou piores que a própria utilização do DDT. A diversidade de estudos demonstra grande variabilidade de resistência ao pesticida, que varia conforma a área de estudo. Tais evidências necessitam de estudos mais aprofundados que concluam esta relação. É necessário, ainda, obter dados de monitoramento genético das cepas de mosquitos para averiguar a possibilidade de migração dos vetores de áreas onde se encontram resistentes para áreas onde se encontram suscetíveis. O uso do DDT fica então como um questionamento para responsáveis pelas decisões em áreas malario-endêmicas por conta de seu sucesso histórico no controle da malária. Para fazer uma decisão baseada em 54 evidência, eles terão a tarefa difícil de estimar o os riscos e os benefícios. A associação do DDT a certos tipos de câncer, como mama, endométrio, ovário, próstata, testículo e tireóide; e outros efeitos endócrinos ainda é um tema controverso78. Cocco79 traz uma revisão sobre estudos experimentais e epidemiológicos que sugerem ou refutam as associações, mas que foram modelados e desenhados de formas diferentes. O DDT está longe de ser livre de problemas. Alguns países africanos exportadores de insumos agrícolas permanecem preocupados com o possível boicote de países da União Européia sobre seus produtos, já que estas nações hoje procuram estabelecer limites de tolerância muito abaixo dos níveis de outros países desenvolvidos, como os Estados Unidos e o Japão80 . A comunidade global precisa se certifica que o uso do DDT apenas serve para o combate aos mosquitos da malária, e não à economia africana.Portanto, o comprometimento dos países não-africanos com a re-utilização do DDT é, então, imprescindível. Desta forma, erradicar o mosquito para impedir a mortalidade por malária implica que os países africanos tenham relativa estabilidade econômica com este novo padrão social. O debate sobre o controle na re-emergência da malária, ainda, é vital, mas deve incluir todas as evidências relevantes para países de fragilidades sociais. Por exemplo, temos que o DDT , como disruptor endócrino, é capaz de diminuir a sensibilidade ductal à prolactina, diminuir a quantidade de leite sintetizado pelas glândulas e, portanto, encurtam o tempo de amamentação5,9,13. Este é um dado não-ignorável, considerando que o leite 55 materno é, muitas vezes, a única refeição das crianças africanas, mesmo naquelas com mais de seis meses de vida 81,82. CONCLUSÃO A malária é um grande problema de saúde pública, e esforços efetivos para a prevenção e tratamento são necessários. Este artigo se propôs a contribuir com a problemática, evidenciando alguns desfechos endócrinos e reprodutivos para a exposição crônica ao DDT. A Estratégia Global de Combate à Malária é objeto de intensa discussão no cenário internacional58,60,80. O que se tem observado é que o consenso está muito longe de ser atingido sobre o uso ou não do DDT para fins de controle de endemias.Existem diversas evidências sobre efeitos adversos do DDT sobre o ambiente e a saúde humana79. Contudo, a malária é um sério problema de saúde pública em países em desenvolvimento, como os países da África SubSaariana, e leva a óbito um número expressivo de passoas83. Alguns autores afirmam que os casos e mortes por malária que poderiam ser evitados com uso de DDT são muito maiores que os problemas de saúde decorrentes deste uso83-85. Já outros demonstram uma clara preocupação com o impacto futuro do uso, ainda que racional, do DDT no combate a vetores61,79. Não há solução ideal para os problemas de controle. Mesmo as borrifações intradomiciliares de DDT possuem suas limitações84. No entanto, em muitos locais, especialmente nos países sub-saarianos, este é a melhor – 56 ou até a única – forma de combate83. Esta não é uma discussão encerrada. Ao contrário. Deve-se avaliar o efeito benéfico – a curto prazo – que o DDT trará aos países com lastimáveis números endêmicos de malária, sem perder de vista os prováveis malefícios – a longo prazo – da exposição ao composto; e a partir disso, contar com o bom senso para a melhor tomada de decisões. REFERÊNCIAS 1. Anvisa. Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos. Relatório Anual 4/06/2001 – 30/ 06/2002. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Brasília, 2002. 2. Peres, F et al . Desafios ao estudo da contaminação humana e ambiental por agrotóxicos. Ciênc. saúde coletiva., Rio de Janeiro, v. 10, 2005. 3. Braga, AMCB. Contaminaçäo ambiental por hexaclorociclohexano em escolares na Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, Rio de Janeiro / Environmental contamination by lindane in school children in Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 1996. (mimeo) 4. Flores, AV et al . Organoclorados: um problema de saúde pública. Ambient. soc., Campinas, v. 7, n. 2, 2004. 5. Casarett And Doull's. Toxicology – The Basic Science Of Poisons. Editora Pergamon Press, USA. 6 Th Ed. 2001. 57 6. Meyer A, Sarcinelli PN, Abreu-Vilaça Y, Moreira JC. Os Agrotóxicos e sua ação como desreguladores endócrinos. In: Peres F (org). É veneno ou remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ,2003. p 101-118. 7. D'Amato, Claudio, Torres, João P. M. and Malm, Olaf DDT (dicloro difenil tricloroetano): toxicidade e contaminação ambiental - uma revisão. Quím. Nova, Nov 2002, vol.25, no.6a, p.995-1002. 8. Who (World Health Organization); Environmental Health Criteria: DDT And Its Derivatives - Environmental Aspects, Finland, 1989, Vol. 83. 9. ATSDR (Agency For Toxic Substances And Disease Registry). Toxicological Profile For DDT/DDD/DDE (Update): US Department Of Health And Human Services. Public Health Service. Atlanta, GA: Agency For Toxic Substances And Disease Registry, 2002. 10. La Dou J. Lange - Current Occupational & Environmental Medicine.Mc Graw-Hill, 3ed. Philadelphia. 2004 11. Wassermann, M. Et Al. Cartographic Épidémiologique Des Résidus De Composes Organochlorés Chez L'homme. Bull. Med. Leg. Toxicol., 18:255-65, 1975. 12. Fauci As Et Al. Harrisons Principles Of Internal Medicine. 16. Ed. New York, Mcgraw Hill Inc, 2005. 13. Rosenstock & Culen. Textbook Of Clinical Occupational And Environmental Medicine . Wb Saunders Company, 1994 14. Felig, Philip, Baxter, John D., Frohman, Lawrence A. Endocrinology And Metabolism. 3.Ed. Editora Mcgraw. 1995. 58 15. Mendes, R. Patologia Do Trabalho, 2 Ed, Rio De Janeiro, Atheneu, 2005. 16. Nelson Dl & Cox Mm. Lehninger´S Principles Of Biochemistry Mc Graw Hill, 4th, 2004 17. Bitman, J. & Cecil, H. C.,. Estrogenic Activity Of DDT Analogs And Polychlorinated Biphenyls. Journal Of Agriculture And Food Chemistry, 18: 1108-1112, 1970 18. Bryan T. E.; Gildersleeve R. P.; Wiard R. P.; Teratology 1989, 396, 525. 19. Grace Kl Et Al. Workshop To Identify Critical Windows Of Exposure For Children's Health: Reproductive Health In Children And Adolescents Work Group Summary -- Environ Health Perspect 108(Suppl 3):505-509, 2000. 20. Pryor Et Al. Critical Windows Of Exposure For Children's Health: The Reproductive System In Animals And Humans - Environ Health Perspect 108(Suppl 3):491-503, 2000. 21. Selevan Sg et Al. Identifying Critical Windows Of Exposure For Children's Health - Environ Health Perspect 108(Suppl 3):451-455, 2000. 22. Ayotte P, Giroux S, Dewailly E, et al. DDT Spraying For Malaria Control And Reproductive Function In Mexican Men. Epidemiology 2001; 12: 366–67. 23. Hauser R, Chen Z, Pothier L, Ryan L, Altshul L. The Relationship Between Human Semen Parameters And Environmental Exposure To 59 Polychlorinated Biphenyls And P,P_-Dde. Environ Health Perspect 2003a; 111: 1505 11. 24. Hauser R, Chen Z, Pothier L, Ryan L, Altshul L. Lack Of An Association Between Environmental Exposure To Polychlorinated Biphenyls And P,P_-DDE And DNA Damage In Human Sperm Measured Using The Neutral Comet Assay. Hum Reprod 2003b; 18: 2525–33. 25. Waissmann W. Endocrinopatologia Associada Ao Trabalho. In: Mendes R, (Org). Patologia Do Trabalho. São Paulo: Editora Atheneu; 2003. P. 1093-138. 26. Mantovani A. Problems In Testing And Risk Assessment Of Endocrine Disrupting Chemicals With Regard To Developmental Toxicology. Chemosphere 1999; 39:1293-300. 27. Longnecker Mp, Klebanoff Ma, Zhou H & Brock Jw Association Between Maternal Serum Concentration Of The DDT Metabolite DDE And Preterm And Small-For-Gestational-Age Babies At Birth. Lancet 2001: 358 (9294): 110 – 114. 28. Akkina J, Reif J, Keefe T, Bachand A. Age At Natural Menopause And Exposure To Organochlorine Pesticides In Hispanic Women. J Toxicol Environ Health 2004; 67: 1407–Cohn Ba, Cirillo Pm, Wolff Ms, et al. DDT And DDE Exposure In Mothers And Time To Pregnancy In Daughters. Lancet 2003; 361: 2205–06. 29. Cohn BA et al. DDT and DDE exposure in mothers and time to pregnancy in daughters. Lancet 2003; 361: 2205–06. 60 30. Hosie S Et Al. Is There A Correlation Between Organochlorine Compounds And Undescended Testes? Eur J Pediatr Surg 2000: 10, 304-309. 31. Axmon A, Rylander L, Strömberg U & Hagmar L Miscarriages And Stillbirths In Women With A High Intake Of Fish Contaminated With Persistent Organochlorine Compounds. International Archives Of Occupational And Environmental Health, 73: 204 - 208. 2000 32. Fenster L Et Al Association Of Utero Organochlorine Pesticide Exposure And Fetal Growth And Length Of Gestation In An Agriciltural Population. Environmental Health Perspectives 2006 : 114(4) April 2006. 33. Rogan Wj & Chen A. Health Risks And Beneficts Of Bis(4-Chlorophenyl)1,1,1-Trichloroethane (DDT). Lancet, V.366. August 25th 2005 34. Korrick Sa, Chen C, Damokosh Ai, Et Al. Association Of DDT With Spontaneous Abortion: A Case-Control Study. Ann Epidemiol 2001: 11, 491–96. 35. Longnecker Mp, Klebanoff Ma, Zhou H & Brock Jw . Maternal Serum Level Of The DDT Metabolite DDE In Relation To Fetal Loss In Previous Pregnancies. Environ Res 2005: 97, 127–33. 36. Torres-Arreola L, Berkowitz G, Torres-Sanchez L, Et Al. Preterm Birth In Relation To Maternal Organochlorine Serum Levels. Ann Epidemiol 2003; 13: 158–62. 37. Longnecker Mp, Klebanoff Ma, Zhou H & Brock Jw . Maternal Serum Level Of 1,1-Dichloro-2,2-Bis(P Chlorophenyl)Ethylene And Risk Of 61 Cryptorchidism, Hypospadias, And Polythelia Among Male Offspring. Am J Epidemiol 2002: 155, 313–22. 38. Bhatia R, Shiau R, Petreas M, Weintraub Jm, Farhang L, Eskenazi B. Organochlorine Pesticides And Male Genital Anomalies In The Child Health And Development Studies. Environ Health Perspect 2005; 113: 220–24. 39. Beard J.; Marshall S.; Jong K.; Newton R.; et al. Arch. Environ. Health 2000, 55, 177. 40. Jequier Am. Male Infertility – A Guide For The Clinician. Oxford: Blackwell Science; 2002. 41. Meltzer M (Org). The Handbook Of Environmental Chemistry. Berlin: Springer-Verlag; 2002. 42. Meyer, Armando ; Sarcinelli, Paula N. E Moreira, Josino C. Estarão Alguns Grupos Populacionais Brasileiros Sujeitos À Ação De Disruptores Endócrinos?. Cad. Saúde Pública, Out./Dez. 1999, Vol.15, No.4, P.845850. 43. Santamarta J. Por Um Futuro Sem Contaminantes Orgânicos Persistentes. Agroecologia E Desenvolvimento Rural Sustentável 2001; 2:46-56. 44. Turusov Et Al. Dichlorodiphenyltrichloroethane (DDT): Ubiquity, Persistence, And Risks. Environmental Health Perspectives, V.110 N.2, 2002 45. International Agency For Research On Cancer (IARC). Lists Of Iarc Evaluations, Atualizada Em 04.12.2002. Disponível Em 62 <Htpp://Monographs.Iarc.Fr/ Monoeval/Crthall.Html> Acesso em 26 de março de 2006. 46. Hunter Dj Et Al. Plasma Organochlorine Levels And The Risk Of Breast Cancer. The New England Journal Of Medicine. 1997: 337 (18), 1253 – 1258. 47. Dich, J.; Zahm, S. H.; Hanberg, A. & Adami, H. O.,. Pesticide And Cancer. Cancer Causes Control, 1997; 8 (3): 420-443. 48. Paumgarten, F. J. R. Potencial Health Hazards Posed By Persistent Organochlorine Pollutants With Particular Reference To DDT And Its Metabolites. Rio De Janeiro: Escola Nacional De Saúde Pública. IBCFF/UFRJ, 1997. Mimeo. 49. Snedeker Sm. Pesticides And Breast Câncer Risk: A Review Of DDT, DDE And Dieldrin. Envoronmental Health Perspectives V.109 Suppl.1 March 2001. 50. Romieu I.; Hernandez-Avilla M.; Lazcano-Ponce E.; Weber J. P.; Dewailly E.; Am. J. Epidemiology 2000, 152, 363. 51. Cooper Gs et al. Exposure To 1,1-Dichloro-2-2-Bis(Pchlorophenyl) Ethylene (DDT) In Relation To Bone Mineral Density And Rate Of Bone Loss In Menopausal Women. Arch Environ Health 2000; 55:386-391. 52. Ross G. Risks And Benefits Of DDT. The Lancet, V.366, Issue 9499, 19 November 2005-25 November 2005, Pages 1771-1772 53. WHO 2006. WHO gives indoor use of DDT a clean bill of health for controlling malaria. Disponível em 63 http://www.who.int/mediacenter/news/releases/2006/pr50/en/print.html Acessado em 02 de abril de 2007. 54. UNICEF 2003. Africa Malaria Report. Disponível em http://rbm.who.int/amd2003 Acesso em 02 de abril de 2007. 55. Attaran A, Maharaj R . Doctoring malaria, badly: the global campaign to ban DDT. BMJ vol. 321, 2 dec 2000. 56. Rogan WJ . The DDT question. The Lancet, v.356, sep. 2000. 57. Smith AG . How toxic is DDT? Lancet v. 356, feb 2000. 58. Rehwagen C. WHO recommends DDT to control malaria. BMJ. 2006 Sep 23;333(7569):622. 59. Mandavilli A. Health agency backs use of DDT against malaria. Nature. 2006 Sep 21;443(7109):250-1. 60. ______________ DDT returns. Nat Med. 2006 Aug;12(8):870-1. Epub 2006 Jul 27. 61. Rogan WJ e Chen A . Health risks and benefits of bis(4-chlorophenyl)1,1,1 Trichloroethane (DDT). Lancet. 2005 Aug 27-Sep ;366(9487):76373 62. Maharaj R et al. Impact of DDT re-introduction on malaria transmission in KwaZulu-Natal. S Afr Med J. 2005 Nov;95(11):871-4. 63. Etang J et al. First report of knockdown mutations in the malaria vector Anopheles gambiae from Cameroon. Am J Trop Med Hyg. 2006 May;74(5):795-7. 64. Cui F et al. Insecticide resistance in vector mosquitoes in China. Pest Manag Sci. 2006 Sep 4. 64 65. Carnevale P & Mouchet J. Malaria vector in Cameroon: past, present, future. Reflections. Bull. Soc. Pathol. Exot; 2001. 94(2 Pt2), 202-2 66. Coleman M, Hemingway J, Sharp B. Insecticide resistance in Anopheles arabiensis and Anopheles gambiae from Mozambique. J Med Entomol. 2006 Mar;43(2):276-82. 67. Guyatt et al . A comparative cost analysis of inseticide-treated nets and indoor residual spraying in highland Kenya. Health Policy Plan. 2002;17(2) 144-153. 68. Goodman CA et al. Comparison of the cost and cost-effectiveness of insecticide-treated bednets and residual houose-spraying in KwaZuluNatal, South Africa. Trop Med INt Health 2001; 6(4): 280-295. 69. Bhatia MR, Fox-Rushby J & Mills A. Cost-effectiveness of malaria control interventions when malaria mortality is low: insecticide-treated nets versus in-house residual spraying in India. Soc Sci Med 2004; 59(3): 525-539. 70. Verle P et al. Control of malaria vectors: cost analysis in a province of northern Vietnam. Trop Med Int Health 1999; 4(2): 139-145. 71. Nyarango PM et al Gebremeskel . A steep decline of malaria morbidity and mortality trends in Eritrea between 2000 and 2004: the effect of combination of control methods. Malar J. 2006 Apr 24;5:33. 72. Binka FN, Mensah OA & Mills A . The cost effectiveness of permethrin impregnated bednets in preventing child mortality in Kassena-Nankana district of Northern Ghana. Health Policy 1997; 41(3): 229-239. 65 73. Konradsen F et al. Engineering ald malaria control: learning from the past 100 years. Acta tropica 89:99-108, 2004. 74. Utzinger J, Tozan Y & Singer BH. Efficacy and cost-effectiveness of environmental management for malaria control. Trop Med Int Health 2000; .2:677-687, 75. Das PK & Amaral DD. Biological control for malaria vectors. Indian journal of Medical Research, 106: 174-197, 1997. 76. Scholte E et al. Entomopathogenic fungi for mosquito control: a review. Journal of Insect Science, 2004; .4: 1-24, 77. Lacey, LA e Lacey CM. the medical importance of Riceland mosquitoes and their control using alternatives to chemical insecticides. Journ Am Mosq Cont Assoc, 1990;11: 86-89. 78. Yang M, Park MS, Lee HS. Endocrine disrupting chemicals: human exposure and health risks. J Environ Sci Health C Environ Carcinog Ecotoxicol Rev. 2006;24(2):183-224 79. Cocco, Pierluigi. On the rumors about the silent spring: review of the scientific evidence linking occupational and environmental pesticide exposure to endocrine disruption health effects. Cad. Saúde Pública, Abr 2002, vol.18, no.2, p.379-402. 80. [No authors listed]. DDT for malaria control: the issue of trade. Lancet. 2007 Jan 27;369(9558):248. 81. Chen A & Rogan WL. Nonmalarial infant deaths and DDT use for malaria control. Emerg Infect Dis. 2003 Aug;9(8):960-4. 66 82. Roberts D et al. Malaria control and public health. Emerg Infect Dis. 2004 Jun;10(6):1170-1; autor responde 1171-2. 83. Tren R & Bate R . South Africa’s War against Malaria Lessons for the Developing World. Policy Analysis, 513 March 25, 2004. 84. Roberts DR, Manguin S & Mouchet. DDT house spraying and reemerging malaria. Lancet, Vol 356 , July 22, 2000. 85. Attaran A et al. Balancing risks on the backs of the poor. Nature Medicine, 6(7), 2000. 67 ARTIGO 2: EXPOSIÇÃO A ORGANOCLORADOS E EFEITOS ENDOCRINOREPRODUTIVOS: REVISÃO SISTEMÁTICA ORGANOCHLORINE EXPOSURE AND ENDOCRINE-MEDIATED ADVERSE REPRODUCTIVE OUTCOMES: A SYSTEMATIC REVIEW OF THE LITERATURE 68 RESUMO Compostos ambientais com ação estrogênica, como o DDT, PCBs e dioxinas têm sido associados a diversos efeitos reprodutivos por sua capacidade de interagir com hormônios esteróides sexuais, como os andrógenos e os estrógenos. As investigações epidemiológicas neste sentido permanecem, com raras exceções, inconclusivas. As dificuldades em se estabelecerem padrões de mensuração de exposição no corpo humano são algumas das limitações desses estudos. Os objetivos do presente estudo são apresentar uma revisão sistemática dos estudos epidemiológicos existentes sobre exposição a organoclorados e efeitos endocrino-reprodutivos realizados a partir do ano 2000; e avaliar e discutir a qualidade da evidência científica disponível relativa à associação da exposição aos organoclorados e distúrbios endócrinoreprodutivos. A presente revisão foi realizada com estudos entre 2000 e 2007, obtidos nas bases de dados MEDLINE, LILACS, Cochrane Library e Web of Science. Observa-se a presença de investigações espalhadas em todas as partes do globo, evidenciando a dispersão da contaminação em cenário mundial. Além disso, observa-se o estudo de grandes grupos de desfechos, desde complicações perinatais a distúrbios hormonais. Entretanto, em sua maioris, os estudos não apresentam medidas robustas, apensa do alto nível de qualidade de seus desenhos. Infere-se que é necessária a revisão do modelo teórico ancilar aos programas de investigação no sentido de acrescentarem aos seus modelos logísticos a variável “período fisiológico de exposição”, correspondente ao período do ciclo vital onde a exposição foi iniciada, e avaliar se este período corresponde ou perpassa algumas janelas críticas do desenvolvimento do sistema reprodutor, a fim de pontuar tais indivíduos com um maior risco de desenvolver desfechos desta natureza. Palavras-Chave: Organoclorados, Efeitos Reprodutivos, Revisão Sistemática 69 ABSTRACT Environmental compounds with estrogenic action, like DDT, PCB and dioxins have been associated to many reproductive effects, because of their steroid interaction properties. Epidemiological investigations stay unconcluded. Difficulties to establish standards of exposure measuring at human body are some of them. The aims of this study are to present a systematic review from epidemiological studies about organochlorine exposure and endocrinereproductive effects, and to discuss quality of evidence available about that association. Time of study comprehends January 2000 up to July 2007, and articles have been gotten from MEDLINE, LILACS, Web of Science and Cochrane Library. There are investigations all around the world, showing organochlorine contamination spread globally. Besides, it’s shown groups of outcomes, like perinatal and hormonal complications. However, studies don’t show robust measures, despite of their high quality designs. Infers that it’s needed to review adjacent theoretical model from investigation programs, adding a variable called “physiological period of exposure”, we mean, to what period of life the exposure has began, and need to evaluate if this period correspond to some critical window for reproductive development, scoring these people with an increased risk to be affected. Keywords: Organochlorines, Reproductive Outcomes, Systematic Review 70 INTRODUÇÃO Os compostos organoclorados (OC) são os praguicidas mais persistentes1,2 já fabricados. Por muitos anos, foram largamente utilizados no controle de pestes na agricultura e no combate a vetores de endemias, com a malária e a febre amarela. São importantes poluentes ambientais e potenciais causas de problemas de saúde para o homem, tendo sido proibidos ou controlados na maioria dos países. Devido a sua lipofilidade, os pesticidas organoclorados ocupam um lugar proeminente nos chamados disruptores endócrinos, agentes químicos que dificultam a reprodução dos adultos e ameaçam com graves perigos a seus descendentes em fase de desenvolvimento2-4. Com poucas exceções, os efeitos tardios desses compostos sobre a saúde humana são difíceis de detectar, em função de dificuldades metodológicas e da extrapolação dos resultados5. Desta forma, não há muitos estudos analíticos que consolidem evidências científicas sobre a associação entre OC e alguns efeitos adversos, especialmente os reprodutivos6. Estudos atuais4,6-7 têm associado esta exposição a problemas de saúde tais como fertilidade, anormalidades no desenvolvimento sexual e tantos outros desfechos perinatais. A extensa gama de informação veiculada nos últimos anos por agências e órgãos governamentais sobre este tema demonstram a sua magnitude8-26. Entretanto, esta informação é, algumas vezes, controversa com relação a sua magnitude e a sua transcendência. Estudos realizados procurando associação entre organoclorados e desfechos relacionados ao nascimento e ao desenvolvimento encontram resultados por vezes opostos27,28. (referências) 71 A revisão sistemática é uma revisão de estudos, através de uma abordagem sistemática, com o objetivo de reduzir viés. Elas contribuem para integrar informações de diversos estudos, de forma adequada, fornecendo uma base científica para a tomada de decisão no setor saúde29. Os objetivos do presente estudo são apresentar uma revisão sistemática dos estudos epidemiológicos existentes sobre exposição a organoclorados e efeitos endocrino-reprodutivos realizados a partir do ano 2000; e avaliar e discutir a qualidade da evidência científica disponível relativa à associação da exposição aos organoclorados e distúrbios endócrino-reprodutivos. MÉTODO A estratégia de busca de artigos seguiu um protocolo elaborado com base no Cochrane Reviewers' Handbook versão 4.130. As bases de dados utilizadas foram o MEDLINE, Web of Sciences, LILACS, e Cochrane Library, entre 2000 e 2007, em português, inglês ou espanhol. Os descritores utilizados foram [cryptorchidism OR time to pregnancy OR infertility OR hypospadia OR menarche OR puberty OR reproductive effects OR low birth weight OR preterm OR menstrual cycle OR age at menarche] AND [PCB OR HCB OR DDT OR HCH OR organochlorine OR dioxins. Foram incluídos na revisão artigos que atendessem aos seguintes critérios: (a) ser um estudo analítico; (b) ser um estudo realizado em humanos exclusivamente; (c) ter como desfecho geral efeitos endócrino-reprodutivos. Os critérios de exclusão foram: (a) artigos de revisão; (b) artigos cujo desfecho seja câncer; (c) artigos que possuíam outros compostos tóxicos de avaliação além de OC. Os artigos selecionados foram avaliados e pontuados por dois 72 epidemiologistas conforme uma adaptação dos critérios de Downs & Black31, para estudos observacionais. Os itens relacionados apenas a estudos de intervenção foram excluídos, pois nenhuma publicação revisada era do tipo experimental. Sendo assim, analisaram-se os artigos com base na: (1) qualidade da descrição de hipóteses/objetivos; (2) qualidade da descrição do desfecho a ser estudado; (3) caracterização da amostra incluída; (4) qualidade da descrição e discussão dos principais fatores de confusão; (5) qualidade da descrição dos principais achados do estudo; (6) inclusão dos principais valores de probabilidade para os principais desfechos; (7) representatividade da amostra em relação à população em estudo; (8) indicação de que os resultados não tenham sido baseados em hipóteses a priori, quando este fosse o caso; (9) apropriação dos testes estatísticos utilizados para medir os principais desfechos; (10) acurácia dos instrumentos utilizados para os principais desfechos; (11) adequação do ajuste para os principais fatores de confusão; (12) adequação do poder estatístico para detectar um efeito importante, com um nível de significância de 5%. O total de itens avaliados segundo o critério adaptado de Downs & Black31 foi de 12, pontuando, no máximo, 17 pontos (todos os itens valem um ponto, com exceção dos itens: 4 que tem pontuação máxima de dois; e 13, que tem pontuação máxima de 5 pontos). RESULTADOS Foram encontrados 407 títulos nas bases de dados on-line. O passo inicial foi o de eliminar os artigos repetidos. Foram encontrados e excluídos 96 artigos de revisão. A seguir foram eliminados 43 artigos que estudavam câncer 73 como desfecho. Ao final desse processo permaneceram 268 artigos em nossa base de dados. Desses, foram eliminados 45 que apresentavam estudo com outros desfechos; 146 estudos descritivos; 20 estudos constituídos de análise de bancada e/ou com animais; e ainda 23 artigos que avaliaram outros compostos além de organoclorados. Por fim, 34 artigos foram eleitos para a realização desta revisão. As etapas estão descritas na figura 01. Do total de artigos utilizados, 45% foram de coorte32,35,37,38,40,42,43,4547,49,52 , 22% foram do tipo caso-controle34,36,39,44,56,57; e 33% apresentaram delineamento transversal33,41,48,50,51,53-55,58. O principal material biológico utilizado para a avaliação de contaminação foi o sangue. Há uma grande variedade de desfechos estudados. Em sua maioria, os desfechos dizem respeito a condições encontradas por exposições parentais, como por exemplo, criptorquidia e/ou hipospádia36,39,41,44,56,57, a prematuridade35,38,45,46,52-54 e o peso ao nascer42,45,52-54. São condições onde a exposição estudada foi intra-útero. Outros desfechos são variáveis quanto ao período de exposição, como o caso das alterações de ciclo menstrual37,40,48,49,55, a função reprodutiva34, a qualidade do sêmen51,58 e o Time to Pregnency32,47,50, um indicador usado para estimar a habilidade em se obter uma gestação e, por conseqüência, a fertilidade. As principais características dos estudos estão resumidas na Tabela 1. Dentre os estudos selecionados, 22% foram conduzidos em países europeus37,49-51,56-57, 56% nas Américas32-33,35-36,38-47,52, 4% na África58, 11% na Ásia34,48,55 e 7% na Oceania53-54. Aproximadamente 4% avaliaram exposições ocupacionais aos organoclorados41, enquanto 96 % avaliaram exposições ambientais32-40,42-58, 74 que em sua maioria estão associadas a grandes programas de investigação, como o New York State Angler Cohort59, uma coorte de pescadores e suas famílias, no estado de Nova Iorque que avalia a associação entre contaminação atual e passada por consumo de peixes do Lago Ontário. O CHAMACOS, um projeto da Universidade Berkeley, Califórnia, que avalia a saúde ambiental e das crianças do Vale de Salinas60; o INNUENDO, que avalia o impacto da exposição a xenobióticos de ação pseudo-hormonal e que influenciam a fertilidade do povo Inuit (descendência indígena que vive em locais como o Alaska, a Groenlândia, algumas localidades ao norte do Canadá e outras cidades ao Ártico) e da população da Europa61. Há, ainda, a coorte formada pela população exposta ao acidente de Seveso, famoso por contaminar o ambiente desta cidade italiana com maciças quantidades de dioxina62. A tabela 02 descreve as estimativas de associação entre organoclorados e os principais desfechos observados nos estudos selecionados. Quanto à qualidade dos estudos, segundo o critério de Downs e Black, O escore metodológico foi, em média, de 13,77 pontos (dp = 0,35 pontos), e a mediana foi de 14 pontos. A menor pontuação obtida foi dez, e a maior foi de 17, o escore máximo. Dentre os critérios de Downs & Black31, as principais limitações dos estudos foram qualidade da descrição, discussão e adequação do ajuste . A pontuação de cada um dos estudos para cada item avaliado encontra-se na 3. 75 Figura 01: Etapas da Revisão Sistemática REVISÃO cryptorchidism OR time to pregnancy OR infertility OR hypospadia OR menarche OR puberty OR reproductive effects OR low birth weight OR preterm OR menstrual cycle OR age at menarche] AND [ PCB OR HCB OR DDT OR HCH OR organochlorine OR dioxins. 1. Bases de Dados: MEDLINE, Web of Sciences, LILACS, e Cochrane Library, 2. Limite temporal: 2000 e 2007. 3. TOTAL DE ARTIGOS RASTREADOS: 407 Artigos de revisão: 96 Artigos cujo desfecho estudado tenha sido câncer: 43 ARTIGOS POTENCIALMENTE ELEGÍVEIS: 268 Outros desfechos: 45 Estudos Descritivos:146 Pesquisas de bancada:20 Artigos que avaliaram outros tóxicos além de OC: 23 ARTIGOS ELEITOS: 34 76 Tabela 01: Principais Características dos Estudos Eleitos ESTUDO Buck et al Ayotte et al Konick et al PAÍS EUA México China ANO 2000 2001 2001 N 2445 24 412 COMPOSTO PCB DDT/DDE DDT Longnecker et al Longnecker et al EUA EUA 2001 2002 2380 970 DDT/DDE DDT/DDE Eskenazi et al Itália 2002 301 TCDD Torres-Arreola et al México 2003 233 DDE/β−HCH DESFECHO TTP Função Reprodutiva Abortamento Espontâneo Prematuridade, PIG Criptorquidismo, Hipospádia Alterações no ciclo menstrual Prematuridade Flores-Luévano et al México 2003 69 DDT/DDE Hipospádia Vasiliu et al Salazar-García et al EUA México 2004 2004 511 2033 DDE, PCB DDT, γ−HCH, Dieldrin, Dalire et al Rignell-Hydbon et al Axmon et al Weisskopf et al Longnecker et al South Africa Sweden Sweden EUA EUA 2004 2004 2004 2005 2005 60 195 286 511 1717 DDT DDE PCB PCB, DDE DDT/DDE Bhatia et al EUA 2005 428 DDT/DDE Farhang et al EUA 2005 420 DDT/DDE Longnecker et al Law et al Ouyang et al EUA EUA China 2005 2005 2005 1034 390 47 PCB PCB, DDE DDT/DDE Eskenazi et al Toft et al 2005 2005 616 3067 TCDD DDE/PCB 2006 1505 DDE, CB-153 TTP Seccional 2006 763 CB-153, DDE Qualidade do sêmen Seccional Fenster et al Itália Groenlândia, Polônia, Ucrânia, Suécia Groenlândia, Polônia, Ucrânia, Suécia Groenlândia, Polônia, Ucrânia, Suécia EUA Idade da Menarca Malformação Congênita, Abortamento Espontâneo Qualidade do Sêmen Qualidade do Sêmen TTP Baixo Peso ao Nascer Perdas fetais em gravidezes prévias Criptorquidismo, Hipospádia BPN, duração da gestação Prematuridade, PIG TTP Idade de menarca, duração da menstruação Idade de menopausa TTP 2006 385 Duração da gestação, peso ao nascer Coorte Khanjam e Sim Austrália 2006 815 Austrália 2006 815 Lin, Li & Mao Carbone et al Taiwan Itália 2006 2007 6697 293 PCDD OC Brouwers et al Noruega 2007 834 OC Prematuridade, BPN, PIG Prematuridade, BPN, PIG LBW/Preterm Delivery Criptorquidismo, Hipospádia Hipospádia Seccional Khanjam e Sim DDE, DDT, HCB, β−HCH, γ−HCH, Dieldrin, Heptaclorepóxido Dieldrin, heptachlor, HCB DDT, DDE Aneck-Hahn et al Sagiv et al Rylander et al Lopez-Espinosa et al África do Sul USA Sweden Spain 2007 2007 2007 2007 311 722 174 52 DDT/DDE PCB/DDE/HCB OC DDE Qualidade do Sêmen LBW LBW LBW/SGA Axmon et al Toft et al Legenda: BPN – baixo peso ao nascer; DDE (dieldrina); DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano; HCB (hexaclorociclobenxeno); HCH (hexacolrociclohexano); OC- organoclorados; OR – odds ratio; PCB (Bifenilas Policloradas); PIG – pequeno para a idade gestacional; TCDD (tetraclorodibenzodioxina); CB153 (2,2´,4,4´,5,5´- hexaclorobifenila): DESENHO Coorte Seccional CasoControle Coorte Caso Controle Coorte Caso Coorte Caso Controle Coorte Seccional Seccional Seccional Seccional Coorte Coorte Caso Controle Coorte Coorte Coorte Seccional Coorte Seccional Seccional Cohort Caso Controle Caso Controle Seccional Cohort Cohort Seccional 77 Tabela 2: Estimativas de associação entre organoclorados e os principais desfechos observados nos estudos selecionados. ESTUDO Buck et al Ayotte et al Konick et al Longnecker et al DESFECHO TTP DDE/Testosterone semen volume Spermatozoon count Spontaneous Abortion Preterm delivery Eskenazi et al SGA Cryptorchidism Hipospadia Scatiness of Flow Torres-Arreola et al Flores-Luévano et al Irregularity of cycles Preterm delivery Hipospadia Vasiliu et al Age at Menarche Longnecker et al Salazar-García et al Weisskopf et al Longnecker et al LBW Fetal death in pregnancy Criptorquidismo, Hipospádia LBW Length of Gestation Longnecker et al Law et al Ouyang et al Eskenazi et al Toft et al Axmon et al Toft et al DDT/DDE Contaminated parents OR TCDD Pre-menarche exposure Pos-menarche exposure All Contaminated parents Contaminated parents OR OR OR Contaminated parents r γ−HCH Dieldrin DDT DDE CB-153 PCB previous Preterm delivery SGA TTP FR* r2 OR OR Spontaneous Abortion TTP MEDIDA Textile female workers Contaminated parents γ−HCH Dieldrin DDT Axmon et al GRUPO DE COMPARAÇÃO Fishermen´s wives Agriculture and malaria´ control workers DDT DDT/DDE Congenital Malformation Sperm quality Sperm quality Farhang et al PCB DDT/DDE DDE/β−HCH DDT DDE DDE PCB DDT Dalire et al Rignell-Hydbon et al Bhatia et al COMPOSTO DDE DDT/DDE DDT DDE DDT DDE DDT DDE DDT DDE PCB PCB DDE Malaria control workers Fishermen OR OR Fishermen´s wives and sisters Fishermen Contaminated parents FR 2,6 (p= 0,04) 1,3 (IC 95% 0,7-2,4) 1,2 (IC 95% 0,6-2,4) 0,33 (IC 95% 0,10-1,86) 1,36 (IC 95% 0,70-2,64) 0,46 (IC 95% 0,23-0,95) 1,85 (IC 95% 0,94-3,66) 1,13 (IC 95% 0,24-5,29) 0,48 (IC 95% 0,15-1,60) r= - 0,07 (p=0,038) r= - 0,01 (p=0,76) 3,37 (IC 95% 1,19-9,52) before/after pregnancy 1,22 (IC 95% 0,13-11,29) direct/indirect exposure 6,2 (IC 95% 1,4-27,38) 0,96 (IC 95% 0,22-4,25) 1,52 (IC 95% 1,12-2,08) before/after pregnancy 2,05 (IC 95% 1,19-3,55) direct/indirect exposure 1,22(IC 95% 0,68-2,20) 1,22 (IC 95% 0,68-2,20) 1,01 (IC 95% 0,99-1,03) 1,40 (IC 95% 0,5-4,2) 2,5 (IC 95% 0,9-7,0) 1,42 (IC 95% 0,99-2,03) OR OR 4,9 (IC 95% 1,0-24,5) 1,4 (IC 95% 1,1-1,6) Contaminated parents OR OR Malaria control workers Contaminated parents OR Contaminated parents OR Contaminated parents OR Age of Menarche β Lenght of menstruation DDT/DDE ratio Textile workers OR Age of menopause TTP TTP TCDD OC DDE CB-153 DDE Seveso´s accident Pregnant women Fishermen´s wives OR FR OR Fishermen β [spermatozoon] Spermatozoon Motility Spermatozoon Morphology [spermatozoon] Spermatozoon Motility Spermatozoon Morphology CB-153 RESULTADO (IC 95%) 0,73 (IC 95% 0,54-0,98) r2= -0,47 r2= -0,47 r2= -0,42 1,13 (IC 95% 1,02-1,26) 3,1 (p< 0,0001) 1,01 (IC 95% 0,44-2,28) 1,34 (IC 95% 0,51-3,48) 0,79 (IC 95% 0,33-1,89) 1,18 (IC 95% 0,46-3,02) 0,94 (IC 95% 0,50-1,78) 1,28 (IC 95% 0,73-2,23) 0,69 (IC 95% 0,37-1,27) 0,75 (IC 95% 0,44-1,26) 1,11 (IC 95% 0,55-2,24) 1,64 (IC 95% 0,73-3,68) 0,65 (IC 95% 0,36-1,18) 0,65 (IC 95% 0,32-1,31) -0,80 (IC 95% -1,17; -0,43) 2,78 (IC 95% 1,07-7,14) Short cycles 0,49 (IC 95% 0,17-1,41) Long cycles 1,0 (IC 95% 0,6-1,8) 0,91 (IC 95% 0,80-1,04) 1,02 (IC 95% 0,78-1,34) 1,09 (IC 95% 0,70-1,71) 0,09 (IC 95% -0,002; 0,18) -2,8 (IC 95% -4,8; -0,7) -0,02 (IC 95% -0,08; 0,05) 0,08 (IC 95% -0,01; 0,67) -3,6 (IC 95% -5,6; -1,7) -0,01 (IC 95% -0,07; 0,05) 78 Lenght of gestation Birth-Weight Lenght of gestation Birth-Weight Lenght of gestation Birth-Weight Lenght of gestation Birth-Weight Lenght of gestation Birth-Weight Lenght of gestation Birth-Weight Lenght of gestation Birth-Weight Preterm delivery LBW SGA Preterm delivery LBW SGA Preterm delivery LBW SGA Preterm delivery LBW SGA Preterm delivery LBW SGA LBW Preterm delivery Cryptorchidism Hipospadia Hipospadia DDE motilidade Beat cross-frequency Droplet cytoplasm Ejaculated volume oligozoospermia astenozoospermia DDE -0,10 (IC 95% -0,4; 0,2) -46 (IC 95% -129; 37) DDT 0,07 (IC 95% -0,18; 0,26) -32 (IC 95% -93; 29) HCB -0,47 (IC 95% -0,78; 0,32) β -18 (IC 95% -86; 50) Fenster et al Agricultural community 0,07(IC 95% -0,3; 0,44) β−HCH -23 (IC 95% -154; 108) 0,02 (IC 95% -0,33; 0,44) γ−HCH 25 (IC 95% -74; 125) Dieldrin, -0,49 (IC 95% -1,14; 0,16) 20(IC 95% -71; 112) Heptachlor -0,15(IC 95% -0,71; 0,42) 18 (IC 95% -164; 201) Dieldrin OR 1,22 (IC 95% 0,61-2,45) 0,82 (IC 95% 0,29-2,39) 0,92 (IC 95% 0,56-1,51) Heptachlor 1,02 (IC 95% 0,49-2,11) Khanjam e Sim Victorian´s mothers 0,78 (IC 95% 0,23-2,66) 1,16 (IC 95% 0,72-1,86) 1,27 (IC 95% 0,54-3,00) HCB 1,20 (IC 95% 0,31-4,58) 0,98 (IC 95% 0,58-1,67) DDT OR 0,69 (IC 95% 0,32-1,50) 0,88 (IC 95% 0,27-2,89) Khanjam e Sim Victorian´s mothers 0,88 (IC 95% 0,51-1,52) DDE 1,03 (IC 95% 0,46-2,29) 0,78 (IC 95% 0,18-3,35) 0,79 (IC 95% 0,45-1,39) Lin, Li & Mao PCDD In utero exposure OR 1,06 (IC 95% 0,71-1,57) 1,22 (IC 95% 0,97-1,52) Carbone et al OC Agricultural area OR 2,97 (IC 95% 0,77-11,42) 2,45 (IC 95% 0,63-9,39) Brouwers et al OC Parental Exposure OR 2,1 (IC 95% 0,6-7,1) 0,02 (p=0,001) β 0,01 (p=0,000) Aneck-Hahn et al DDT/DDE Cotaminated area 0,0014 (p=0,014) -0,0003 (p=0,024) OR 1,001 (p=0,03) 1,003 (p=0,006) PCB -47,6 (IC 95% -152,9; 57,7) Sagiv et al LBW Contaminated parents DDE -13,1 (IC 95% -104,4; 78,1) β HCB -25,9 (IC 95% -125,5; 73,7) Rylander et al LBW OC Contaminated parents -1,05 (IC 95% -2,51; 0,42) β Lopez-Espinosa et al LBW DDE Children exposed r 0,16 (p ≤ 0,05) SGA 0,09 (p ≤ 0,05) Legend: LBW – low birth weight; DDE (dichlorodiphenydiichloroethane); DDT (); HCB (benzene hexachloro); HCH (hexachlorocyclehexane); OCorganochlorine; OR – odds ratio; PCB (Polychlorinated Biphenyls); SGA – small for gestational age; TCDD (2,3,7,8-tetrachlorodibenzodioxin); TTP - Time-to-pregnancy; FR –Fecundity Ratio; CB-153 (2,2´,4,4´,5,5´- hexachlorobiphenyl). 79 *1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 a 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 *2 b 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 *3 c 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 d *4, † *5 e 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 *6 f 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 *7 g 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 *8 h 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 *9 i 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 j *10 k *11 Buck et al 1 Ayotte et al 1 Konick et al 1 Longnecker et al 2 1 1 Longnecker et al 1 Eskenazi et al 2 1 1 Torres-Arreola et al 2 1 Flores-Luévano et al 1 Vasiliu et al 2 1 Salazar-García et al 1 1 Dalire et al 2 1 1 Rignell-Hydbon et al 2 1 Axmon et al 2 1 1 Weisskopf et al 2 1 1 Longnecker et al 1 Bhatia et al 2 1 1 Farhang et al 2 1 1 Longnecker et al 2 1 1 Law et al 2 1 1 Ouyang et al 2 1 1 Eskenazi et al 2 1 1 Toft et al 1 1 Axmon et al 2 1 1 Toft et al 1 Fenster et al 1 Khanjam e Sim 2 1 1 Khanjam e Sim 2 1 1 Lin, Li & Mao 1 1 Carbone et al 2 1 1 Brouwers et al 1 Aneck-Hahn et al 1 Sagiv et al 1 Rylander et al 2 1 1 Lopez-Espinosa et al 2 1 Legend a*1 Is the hypothesis/aim/objective of the study clearly described? b*2 Are the main outcomes to be measured clearly described in the Introduction or Methods section? c*3 Are the characteristics of the patients included in the study clearly described ? d*4 Are the distributions of principal confounders in each group of subjects to be compared clearly described? e*5 Are the main findings of the study clearly described? f*6 Does the study provide estimates of the random variability in the data for the main outcomes? g*7 If any of the results of the study were based on “data dredging”, was this made clear? h*8 Were those subjects who were prepared to participate representative of the entire population from which they were recruited? i*9 Were the statistical tests used to assess the main outcomes appropriate? j*10 Were the main outcome measures used accurate (valid and reliable)? k*11 Was there adequate adjustment for confounding in the analyses from which the main findings were drawn? l*12 Did the study have sufficient power to detect a clinically important effect where the probability value for a difference being due to chance is less than 5%? † Scored from 0 up to 2. § Scored from 0 up to 5. l Total Score Power Internal Validity (confounding) Internal Validity (bias) Study External Validity Reporting Tabela 3: Pontuação de cada um dos estudos para cada item avaliado segundo critérios de Downs e 8 Black *12, § 5 4 3 5 4 4 2 3 3 4 4 2 3 4 5 2 3 4 2 2 3 2 4 3 2 3 4 3 2 4 2 4 4 5 14 12 12 16 13 17 11 12 13 14 16 13 15 15 14 14 15 16 14 14 15 11 16 12 11 15 16 12 14 12 10 13 16 16 80 DISCUSSÃO Os pesticidas do grupo organoclorados iniciaram a era dos pesticidas modernos. Foram largamente usados no aumento da produção agrícola e em campanhas de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento no controle da malária Estes compostos são os produtos sintetizados pelo homem que maior impacto causam ao meio ambiente. Isso se deve basicamente à alta persistência no ambiente, resistência à degradação, capacidade de transporte a longas distâncias via atmosfera e via correntes marinhas, e ao potencial de bioacumulação e biomagnificação. Resíduos de produtos organoclorados são encontrados praticamente em todos os ecossistemas, incluindo a Antártica e o Ártico, embora seu uso venha sendo banido de praticamente todo o globo desde a década de 70. Alguns dos efeitos desses produtos para o ambiente são a redução da vida selvagem, a redução dos organismos predadores, o extermínio dos competidores naturais e a redução da biodiversidade, com efeitos na reprodução com alterações do sistema imunológico nos animais. Com relação à produção, uso e fontes de poluentes orgânicos persistentes o quadro oficial internacional, de acordo com informações prestadas pelos países durante as negociações da “Convenção poluentes orgânicos persistentes”, é o seguinte: a) Aldrin, Dieldrin, Endrin e Toxafeno estão com a produção suspensa; b) Mirex e Hexaclorobenzeno não são produzidos; c) Diclorodifeniltricloroetano ainda é produzido para controle de vetores; d) Clordane e Heptaclor são produzidos para controle de formigas e preservação de madeiras; e) Policlorinatobifenil e Hexaclorobenzeno não são mais produzidos. A maior fonte de Policlorinatobifenil são os fluidos dielétricos 81 de equipamentos eletrônicos e, em menor escala, fluidos hidráulicos e selantes. Em relação ao Hexaclorobenzeno, suas fontes de exposição aparecem como produtos não intencionais oriundos de processos industriais; e f) Dioxinas e furanos, cujas fontes são oriundas de subprodutos de processos industriais, processos de combustão, disposição e incineração de resíduos sólidos urbanos e industriais, entre outros. Em seu conjunto, os estudos mostraram que estas substâncias possuem capacidade de gerar transtornos de ordem endócrina, especialmente reprodutoras. Estudando genericamente organoclorados, Carbone et al estudou a possível associação entre a exposição ocupacional dos pais e meninos nascidos com criptorquidia e hipospádias, encontrando associações fracas e positivas para mães que trabalham na aricultura e pais com contato indireto com os produtos agrícolas, como transporte. Já Browers encontrou associação positiva para exposição dos pais e hipospádias. É importante observar que seu mecanismo de ação é diverso. Cada organoclorado podem atuar como agonista ou antagonista de receptores de androgênio e estrogênio, inerferir nos receptorea AhR e dificultar síntese e produção de certas proteínas. Neste sentido, há diversos desfechos reprodutores possíveis para cada composto. DDT O DDT, desde a publicação de Silent Spring (Carson, 1962), vem atraindo atenções sobre seu possível efeito danoso ao homem. Datado de 1972, seu banimento foi inciado e hoje seu uso é reduzido apenas a locais 82 onde há graves problemas relacionados ao controle da malária, um precedente ainda bastante controverso (Guimarães et al, 2007). Diversos estudos epidemiológicos recentes demonstram a associação entre o DDT e o DDE, seu metabólito mais importante, e efeitos reprodutores de tipos e magnitudes variados. Ayotte et al estudaram os efeitos do DDE em homens jovens em Chiapas, México, onde há o uso de DDT em sprays domiciliares para o controle da malária, e encontratam correlação negativa entre o composto e a biodisponibilidade de testoterona. Além disso encontraram uma correlação inversa entre a concentração de DDE e volume de sêmen e quantidade de espermatozóides. Esta associação é também encontrada nos estudos de Dalire et al e Aneck-Hahn et al na África do Sul; Rignell-Hydbon et al na Suécia, Toft et al na Escandinávia. Korrick et al, ao estudar um grupo de mulheres chinesas encontrou uma fraca, mas positiva, associação entre DDT e abortamentos espontâneos. Associação semelhante foi encontrada por Salazar-García entre trabalhadores de controle do vetor da malária no México, embora os dados não possuam significância estatística. No conjunto ainda de desfechos perinatais, diversos estudos sugeriram que a exposição ao DDT é fator de risco para partos prematuros e baixo peso ao nascer, como Longnecker et al, Torres-Arreola et al, Weisskopf et al, Farhang et al, Longnecker et al, Fenster et al, Khanjam e Sim et al, AneckHahn et al, Sagiv et al, Rylander et al e Lopez et al, nos EUA, México, Austrália, África do Sul, Suécia e Espanha, demonstrando a dispersão do composto no mundo como um todo. 83 Law, Axmon e Toft demonstraram ainda um link entre exposições ao DDT ou ao DDE e maior dificuldade para engravidar. Esta associação é refletida nas razões de fecundidade, usadas para avaliar o “time to pregnancy”. Longnecker avaliou a associação entre níveis de DDE no sangue de mães americanas durante a gravidez e a presença de criptorquidia e hipospádias, encontrando associações positivas e não-significantes estatisticamente. Achados semelhantes foram encontrados para hipospádias por Flores-Luévano no México e Bhatia et al nos EUA. O DDT e o DDE são também causadores de problemas no ciclo enstrual.Vasiliu et al avaliaram a associação enre exposição do DDT e idade da menarca, encontrando uma redução media de 1 ano na idade da menarca para doses medianas de exposição ao DDE. . Ouyang et al estudou os efeitos da exposição ao DDT sobre a idade da menarca e duração da menstruação, evidenciando a associação com menarca precoce e aumento da chance de ciclos menstruais menores. O DDT associa-se, ainda, à perdas fetais, segundo estudo realizado por Longnecker et al. PCB Estudos demonstram que o PCB, especialmente em seus isômeros nãocoplanares ou em misturas complexas, altera os níveis de estrogênio e contribui para problemas reprodutores, fenômeno conhecido como disrupção endócrina. Muitos efeitos são gerados a partir daí. Buck et al encontrou, para o consumo de peixes contaminados por PC nos EUA, associação para redução da fecundidade das mulheres, avaliando o 84 “time to pregnancy”. A mesma conclusão foi achada por Axmon et al na Suécia e na Escandinávia; Toft et al na Escandinávia; e Law et al nos EUA. Alterações sobre o ciclo menstrual foram encontradas por Vasiliu et al, com relação à idade da menarca. Sobre desfechos perinatais, importante destacar os achados de Weisskopf et al para baixo peso ao nascer, Longnecker et al para prematuridade e tamanho para idade gestacional, bem como os de Sagiv et al para baixo peso ao nascer. Em sua maioria, estes estudos apresentaram dados inconclusivos pela falta também de significância estatística. As bifenilas policloradas ainda causam efeitos como qualidade do sêmen, observada por Toft ao avaliar a população da Groenlândia, Polônia, Suécia e Ucrânia com um particular tipo de bifenila, a CB-153, encontrando associação para diminuição da motilidade com exposição a altas doses do composto. HCH O -HCH, ou lindano, é um composto considerado moderadamente tóxico pela OMS. Durante muito tempo foi utilizado para fins farmacêuticos, e hoje é proibido em cerca de 50- países. Atualmente discute-se sua inclusão na Convenção de Estocolmo como um POP (poluente Orgânico Persistente). Ao seu lado estão os outros isômeros não-gama, o α e β HCH, que são consideravelmente mais tóxicos que o primeiro. O α e β HCH foram muito usados no controle de pragas na agricultura. Salazar-García, ao estudar trabalhadores mexicanos de controle do vetor da malária buscou associação entre o -HCH e malformações 85 congênitas e abortamentos espontâneos. Já Torres-Arreola et al sugerem um aumento no risco de prematuridade e o HCH para mulheres expostas a altas doses, em comparação àquelas expostas em baixas doses. Finalmente, Fenster et al, ao avaliar a associação do e HCH para duração da gestação e peso ao nascer não encontrou associações significativas. Também não foram encontradas associações signficativas no estudo conduzido por Khanjam e Sim na Austrália. HCB O HCB (hexaclorobenzeno, ou perclorobenzeno) é comumente (e erroneamente) confundido com o lindano. Trata-se de um fungicida largamente usado para o tratamento de sementes, especialmente de trigo. Fenster et al encontraram associação entre aumento do HCB ligado ao lipídio e decréscimo da duração da gestação. Sagiv et al desenvolveram estudo com crianças nascidas de mães residentes de áreas americanas contaminadas por PCB´s, DDE e HCB, não enconrando associação entre o composto e o tamanho ao nascimento.. Já Khanjam e Sim, ao avaliar a associação entre o HCB e prematuridade, baixo peso ao nascer e tamanho para a idade gestacional, encontraram associação inversa entre altos níveis de HCB e problemas no parto e nascimento; ontudo trata-se de um estudo com pequeno número de participantes, e não incluiu estudos com fetos mortos. Dioxinas Dioxina é o termo usado para definir compostos heterocíclicos com estrutura química C4H4O2 . Entretanto, é também (e principalmente) utilizado 86 para abreviar o nome dibenzodioxinas policloradas (PCDD), que é um grupo de compostos orgânicos halogenados, que possuem em sua estrutura central moléculas de dioxina, e que de fato são de interesse da tozxicologia, pois representam talvez o conjunto de tóxicos mais agressivos e persistentes encontrados. São conhecidos por seu poder teratogênico, mutagênico e provavelmente carcinogênico. Além disso, são também chamados dioxinas os dibenzofuranos policlorados (PCDF). Seu efeito principal no homem relacionase com sua interferência ao AhR ( receptor aril-hidrocarboneto). As doixinas são responsáveis, de acordo com Eskenazi et al, por alterações no ciclo menstrual. Os autores avaliaram mulheres que tiveram suas menarcas antes e após o acidente de Seveso, que expôs milhares de pessoas à TCDD (dibenzodioxinas tetracloradas). Para mulheres com menarca após o acidente, alterações de tempo e quantidade de fluxo menstrual foram encontradas, e não para aquelas cuja menarca se deu anteriormente ao acidente. Além disso, nos dois grupos o ciclo menstrual foi considerado mais regular que o normalmente encontrado nas mulheres, independente do número de dias de ciclo. Estes achados são consistentes com os efeitos da TCDD na função ovariana. Ainda com relação ao tempo de indade fértil, Eskenazi et al, em outro estudo, com a mesma população obteve um aumento da chance de menopausa precoce entre pessoas altamente expostas à TCDD. Por fim, Lin, Li e Mao investigaram a associação entre a PCDD e prematuridade e baixo peso ao nascer em uma área metropolitana de Taiwan, e encontraram razões de chances fracas e sem significância, concluindo que os incineradores que produzem as dioxinas exercem pequena influência no peso ao nascer e idade gestacional. 87 Dieldrin (Aldrin, Endrin) O Diendrin foi originalmente produzido na década de 40, e funciona como um inseticida. Sua composição química está baseada em um anel central de naftaleno. Os compostos Aldrin e Endrin são, respectivamente, a forma não oxidada e um estereoisômero do Dieldrin. Foi criado como uma alternativa ao DDT, e largamente utilizado para esta função entre as décadas de 50 e 70. Entretanto, sabe-se hoje que também é um POP,e por isso também é banido ma maior parte do globo. O dieldrin foi estudado por Salazar-García et al, Fenster et al e Khanjam e Sim, para a associação com, respectivamente, abortamento espontâneo; duração da gestação e peso ao nascer; e prematuridade, baixo peso ao nascer e tamanho para idade gestacional. Em nenhum destes estudos qualquer resultado estatisticamente significativo foi encontrado. Heptachlor O heptaclor é um inseticida similar ao clordano, utilizado fortemente no passado como inseticida. A Agência de Proteção Ambiental americana (U.S. EPA) baniu a venda do país desde a década de 70, mas alguns países, como o Brasil, ,ainda o utilizam por se tratar de um importante artifício para controle de formigas e preservação de madeiras. Khanjam e Sim buscaram, sem sucesso, encontrar resultados robustos que evidenciem a associação entre desfechos perinatais e o heptaclor. Houve, ainda dificuldade para encontrar estudos com este composto e desfechos reprodutores. 88 CONCLUSÃO A magnitude dos riscos e/ou suas estimativas é bastante variável entre os artigos, e em sua maioria não possuem estatística significativa. Em termos metodológicos os artigos avaliados tiverem escore alto. Contudo, apesar de bem desenhados e conduzidos, seus resultados são bastante variáveis, especialmente no que diz respeito ao seu valor de significância estatística. De uma forma geral, a maioria dos estudos não consegue obter resultados robustos. Entretanto, não se pode descartar a associação pretendida, já que o modelo teórico ancilar a ela é batante claro no que diz respeito à ação de organoclorados como disruptores endócrinos e com ações em substâncias estrógenas e andrógenas. A sumarização dos resultados dos 34 estudos foi bastante dificultada pela grande variação de objetivos e desfechos em cada estudo, bem como pelas diferenças metodológicas e às formas de mensuração da contaminação. O quadro 1 traz gráficos descritivos com as medidas de associação dos estudos para os principais desfechos avaliados. Cabe salientar que era esperada a variabilidade da magnitude de associação, uma vez que os estudos realizados pertencem a áreas de contaminação por tempo e intensidade muito diversos, seja por acidentes ambientais, seja por contaminação de origem humana de forma paulatina. Os estudos avaliados concentram-se em grandes programas de investigação, correndo-se o risco de viés de publicação. Todavia, existe plausibilidade nessa concentração de publicações pela própria disponibilidade de tais programas, por se constituírem em tamanhos variados, com ou sem participação governamental, com mais ou menos recursos, entre outros. 89 Pouco mais da metade dos estudos revisados descreveu claramente se realizou controle para fatores de confusão. Embora os aspectos descritivos sejam relevantes, esta abordagem limita-se à identificação de potenciais fatores de risco, uma vez que as associações encontradas podem ser fruto de outros fatores não avaliados simultaneamente. É importante, ainda, destacar o delineamento dos estudos. Em sua maioria são estudos de coorte, tipos de estudos mais preciosos para o apontamento de evidências dentre os estudos observacionais. O fato de boa parte dos estudos não apontarem fortes evidências científicas, aliado ao fato de, naqueles onde a evidência é descrita, não haver necessariamente dose-resposta, faz pensar se não haveria outra forma de estratificar estas populações, por variáveis ainda não testadas que podem ser vitais para um bom aproveitamento dos dados, de forma a refletir a realidade. Ou seja, para além dos confoundings ou das interações, deverá haver algum outro componente que poderá ser usado para a estratificação,de forma que os estudos sejam mais eficazes. Pensa-se que uma opção de variável seriam as janelas críticas de desenvolvimento. Ao estratificar a população de estudo desta forma, acredita-se que é possível avaliar a gravidade da exposição mediante ela ter acontecido em um período fisiológico onde tal exposição tenha uma repercussão mais importante que em outro período qualquer, podendo inclusive ter ocorrido com uma dose menor ou em um tempo mais curto. O que se imagina, portanto, é que a avaliação de contaminação de populações e a mensuração do risco ultrapassem a relação dose X tempo, ou 90 intensidade X tempo, mas que contemple o componente que ora chamaremos de período fisiológico de exposição. Há, então, o apontamento de que se avalie, por meio da literatura corrente, e do material publicado em meios e por grupos respeitosos quais seriam estes períodos fisiológicos para a mensuração de riscos endócrinoreprodutivos, e a posteriori, desenhar um estudo capaz de testar este modelo para a mensuração de risco. REFERÊNCIAS 1. Flores AV, Ribeiro JN, Neves AA, Queiroz, ELR de. Organoclorados: um problema de saúde pública. Ambiente & Sociedade – Vol. VII nº. 2 jul./dez. 2004 2. Ropstad E et al. Endocrine Disruption Induced by Organochlorines (OCs): Field Studies And Experimental Models. Journal of Toxicology and Environmental Health, Part A, Volume 69, Issue 1 & 2 January 2006 , pages 53 – 76. 3. Meyer A, Sarcinelli PN and Moreira JC. Are some Brazilian population groups subject to endocrine disrupters? Cad. Saúde Pública, Oct./Dec. 1999, vol.15, no.4, p.845-850. 4. Guimarães RM, Asmus CIRF, Meyer A. . DDT reintroduction for malaria´ combat: a cost-benefit discussion for public health.. Cadernos de Saúde Pública . (in press), 2007. 5. Safe S. Clinical correlates of environmental endocrine disruptors. Trends Endocrinol Metab. 2005 May-Jun;16(4):139-44. 91 6. Koifman S, Koifman RJ and Meyer A. Human reproductive system disturbances and pesticide exposure in Brazil. Cad. Saúde Pública, Apr 2002, vol.18, no.2, p.435-445. 7. Toft G, Hagmarb L, Giwercman A, Bonde JP. Epidemiological evidence on reproductive effects of persistent organochlorines in humans. Reproductive Toxicology 19 (2004), p.5–26. 8. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY – ATSDR 2002a. Toxicological profile forAldrin. Atlanta, GA: Department of Health and Human Services; Public Health Service; Agency for Toxic Substances and Disease Registry. 9. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY – ATSDR 2002b. Toxicological profile for Hexachlorobenzene. Atlanta, GA: Department of Health and Human Services; Public Health Service; Agency for Toxic Substances and 10. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY – ATSDR 1998. Toxicological profile for Chloroethane. Atlanta, GA: Department of Health and Human Services; Public Health Service; Agency for Toxic Substances and Disease Registry. 11. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY – ATSDR 2002b. Toxicological profile for DDT. DDE and DDT. Atlanta, GA: Department of Health and Human Services; Public Health Service; Agency for Toxic Substances and Disease Registry. 12. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY – ATSDR 2005. Toxicological profile for Heptachlor Epoxide. Atlanta, GA: Department of 92 Health and Human Services; Public Health Service; Agency for Toxic Substances and Disease Registry. 13. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY – ATSDR 2002c. Toxicological profile for Hexachlorocyclohexane. Atlanta, GA: Department of Health and Human Services; Public Health Service; Agency for Toxic Substances and Disease Registry. 14. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY – ATSDR 2006. Toxicological profile for 1,1,1 - Trichloroethane). Atlanta, GA: Department of Health and Human Services; Public Health Service; Agency for Toxic Substances and Disease Registry. 15. IARC 1999. IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans. Volume 53. Occupational Exposures in Insecticide Application, and Some Pesticides. Lyon, 1999. 16. IARC 1999. IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans. Volume 5. Some Organochlorine Pesticides. Lyon, 1998. 17. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Hexaclorociclohexano (HCH) e a Saúde Humana: Síntese do Estágio Atual do Conhecimento e Identificação das Principais Questões Controversas. Elab. René Mendes. Brasília: 2001 18. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Exposição humana a resíduos organoclorados na Cidade dos Meninos, Município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. 2 ed. rev. – Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 93 19. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1984. Environmental Health Criteria 38 - Heptachlor. Geneve: WHO/IPCS. 20. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1997.Environmental Health Criteria 195 - HexachlorobenzeneI. Geneve: WHO/IPCS. 21. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1992.Environmental Health Criteria 123 – alpha and beta hexachlorohexane. Geneve: WHO/IPCS. 22. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1979.Environmental Health Criteria 9 – DDT and its derivates. Geneve: WHO/IPCS. 23. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1989.Environmental Health Criteria 83 –DDT and its derivates – environmental aspects principles and methods for evaluating the toxicity of chemicals Part I. Geneve: WHO/IPCS. 24. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1989.Environmental Health Criteria 91 – Aldrin and Dieldrin. Geneve: WHO/IPCS. 25. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1991.Environmental Health Criteria 124 - Lindane. Geneve: WHO/IPCS. 26. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1989.Environmental Health Criteria 88 – Polychlorinated dibenzo –p- dioxin and dibenzofurans. Geneve: WHO/IPCS. 27. Nunes MV &v Tajara EH. Efeitos tardios dos praguicidas organoclorados no homem. Revista de Saúde Pública, 1998, vol.32, n. 4. 94 28. Mendonça, GAS. Measuring exposure to organochlorinated pesticides. Cadernos de Saúde Pública, 1998, vol.14, supl.3 29. Bastos FI. Revisão, revisão sistemática e ensaio em saúde pública. Cad. Saúde Pública, 2007: 23(6), p. 1252. 30. Higgins JPT, Green S, editors. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions 4.2.6 [updated September 2006]. http://www.cochrane.org/resources/handbook/hbook.htm Acessed in July 1st, 2007. 31. Downs SH, Black N. The feasibility of creating a checklist for the assessment of the methodological quality both of randomised and nonrandomised studies of health care interventions. J Epidemiol Community Health 1998; 52:377-84. 32. Buck GM, Vena JE, Schisterman EF, Dmochowski J, Mendola P, Sever LE, Fitzgerald E, Kostyniak P, Greizerstein H, Olson J. Parental consumption of contaminated sport fish from Lake Ontario and predicted fecundability. Epidemiology. 2000 Jul;11(4):388-93. 33. Ayotte P, Giroux S, Dewailly E, Hernández Avila M, Farias P, Danis R, Villanueva Díaz C. DDT Spraying for Malaria Control and Reproductive Function in Mexican Men. Am J. Epidemiology, 2001; 12(3), p 366-367. 34. Korrick SA, Chen C, Damokosh AI, Ni J, Liu X, Cho SI, Altshul L, Ryan L, Xu X. Association of DDT with spontaneous abortion: a case-control study. Ann Epidemiol. 2001 Oct;11(7):491-6. 35. Longnecker MP, Klebanoff MA, Zhou H, Brock JW. Association between maternal serum concentration of the DDT metabolite DDE and preterm and small-for-gestational-age babies at birth. Lancet. 2001 Jul 14;358(9276):110-4. 95 36. Longnecker MP, Klebanoff MA, Brock JW, Zhou H, Gray KA, Needham LL, Wilcox AJ. Maternal Serum Level of 1,1-Dichloro-2,2-bis(p- chlorophenyl)ethylene and Risk of Cryptorchidism, Hypospadias, and Polythelia among Male Offspring. American Journal of Epidemiology. 2002: 155(4), p. 313-322 37. Eskenazi B, WarnerM , Mocarelli P, Samuels S, Needham LL, Patterson DG, Lippman S, Vercellini P, Gerthoux PM, Brambilla P, Olive D. Serum Dioxin Concentrations and Menstrual Cycle Characteristics. American Journal of Epidemiology, 2002 Vol. 156, No. 4. p. 383-387. 38. Torres-Arreola L, Berkowitz G, Torres-Sánchez L, López-Cervantes M, Cebrián ME, Uribe M, López-Carrillo L. Preterm birth in relation to maternal organochlorine serum levels. Ann Epidemiol. 2003 Mar;13(3):158-62. 39. Flores-Luévano S, Farías P, Hernández M, Romano-Riquer P, Weber JP, Dewailly E, Cuevas-Alpuche J, Romieu I. DDT/DDE concentrations and risk of hypospadias. Pilot case-control study. Salud Publica Mex. 2003 NovDec;45(6):431-8. 40. Vasiliu O, Muttineni J, Karmaus W. In utero exposure to organochlorines and age at menarche. Hum Reprod. 2004 Jul;19(7):1506-12. 41. Salazar-García F, Gallardo-Díaz E, Cerón-Mireles P, Loomis D, BorjaAburto VH. Reproductive effects of occupational DDT exposure among male malaria control workers. Environ Health Perspect. 2004 Apr;112(5):542-7. 42. Weisskopf MG, Anderson HA, Hanrahan LP, Kanarek MS, Falk CM, Steenport DM, Draheim LA. Maternal exposure to Great Lakes sport-caught fish and dichlorodiphenyl dichloroethylene, but not polychlorinated biphenyls, is 96 associated with reduced birth weight. Environmental Research, 2005. 97(2): 149-162 43. Longnecker MP, Klebanoff MA, Dunson DB, Guo X, Chen Z, Zhou H, Brock JW. Maternal serum level of the DDT metabolite DDE in relation to fetal loss in previous pregnancies. Environ Res. 2005 Feb;97(2):127-33. 44. Bhatia R, Shiau R, Petreas M, Weintraub JM, Farhang L, Eskenazi B. Organochlorine pesticides and male genital anomalies in the child health and development studies. Environ Health Perspect. 2005 Feb;113(2):220-4 45. Farhang L, Weintraub JM, Pétreas M, Eskenazi B, Bhatia R. Association of DDT and DDE with Birth Weight and Length of Gestation in the Child Health and Development Studies, 1959–1967. American Journal of Epidemiology, 2005 162(8):717-725. 46. Longnecker MP, Klebanoff MA, Brock JW, Guo X. Maternal levels of polychlorinated biphenyls in relation to preterm and small-for-gestational-age birth. Epidemiology. 2005 Sep;16(5):641-7. 47. Law DC, Klebanoff MA, Brock JW, Dunson DB, Longnecker MP. Maternal serum levels of polychlorinated biphenyls and 1,1-dichloro-2,2-bis(p- chlorophenyl)ethylene (DDE) and time to pregnancy. Am J Epidemiol. 2005 Sep 15;162(6):523-32. 48. Ouyang F, Perry MJ, Venners SA, Chen C, Wang B, Yang F, Fang Z, Zang T, Wang L, Xu X, Wang X. Serum DDT, age at menarche, and abnormal menstrual cycle length. Occup Environ Med. 2005 Dec;62(12):878-84. 49. Eskenazi B, Warner M, Marks AR, Samuels S, Gerthoux PM, Vercellini P, Olive DL, Needham L, Patterson D, Mocarelli P. Serum dioxin concentrations and age at menopause. Environ Health Perspect. 2005 Jul;113(7):858-62. 97 50. Axmon A, Thulstrup A.-M, Rignell-Hydbom A, Pedersen HS, Zvyezday V, Ludwicki JK, Jönsson BAG, Toft G, Bonde J-P, Hagmar Land.Time to pregnancy as a function of male and female serum concentrations of 2,2'4,4'5,5'-hexachlorobiphenyl (CB-153) and 1,1-dichloro-2,2-bis (p- chlorophenyl)-ethylene (p,p'-DDE).Human Reproduction 2006 21(3):657-665. 51. Toft G, Rignell-Hydbom A, Tyrkiel E, Shvets M, Giwercman A, Lindh CH, Pedersen HS, Ludwicki JK, Lesovoy V, Hagmar L, Spanó M, Manicardi GC, Bonefeld-Jorgensen EC, Thulstrup AM, Bonde JP. Semen quality and exposure to persistent organochlorine pollutants. Epidemiology. 2006 Jul;17(4):450-8. 52. Fenster L, Eskenazi B, Anderson M, Bradman A, Harley K, Hernandez H, Alan Hubbard A, Barr DB. Association of In Utero Organochlorine Pesticide Exposure and Fetal Growth and Length of Gestation in an Agricultural Population. Environmental Health Perspectives 2006, Vol114, N 4, p. 597-606. 53. Khanjani N, Sim MR. Reproductive outcomes of maternal contamination with cyclodiene insecticides, hexachlorobenzene and beta-benzene hexachloride. Sci Total Environ. 2006 Sep 15;368(2-3):557-64 54. Khanjani N, Sim MR. Maternal contamination with dichlorodiphenyltrichloroethane and reproductive outcomes in an Australian population. Environ Res. 2006 Jul;101(3):373-9. 55. Chao HR, Wang SL, Lin LY, Lee WJ, Päpke O. Placental transfer of polychlorinated dibenzo-p-dioxins, dibenzofurans, and biphenyls in Taiwanese mothers in relation to menstrual cycle characteristics. Food and Chemical Toxicology. 2007. 45(2): 259-265. 56. Carbone P, Giordano F, Nori F, Mantovani A, Taruscio D, Lauria L, FigàTalamanca I. The possible role of endocrine disrupting chemicals in the 98 aetiology of cryptorchidism and hypospadias: a population-based case-control study in rural Sicily. Int J Androl. 2007 Feb;30(1):3-13. 57. Brouwers MM, Feitz WFJ, Roelofs LAJ, Kiemeney LALM, de Gier RPE and Roeleveld N. Risk factors for hypospadias. European Journal of Pediatrics 2007, 166(7), p. 671-678. 58. Aneck-Hahn NH, Schulenburg GW, Bornman MS, Farias P, de Jager C. Impaired Semen Quality Associated with Environmental DDT Exposure in Young Men Living in a Malaria Area in the Limpopo Province, South África.Journal of Andrology: 2007: 28(3), p. 423–434. 59. Vena JE, Buck GM, Kostyniak P, Mendola P, Fitzgerald E, Sever L, Freudenheim J, Greizerstein H, Zielezny M, McReynolds J, Olson J.The New York Angler Cohort Study: exposure characterization and reproductive and developmental health. Toxicol Ind Health. 1996 May-Aug;12(3-4):327-34. 60. UC Berkeley Center for Children's Environmental Health Research (CHAMACOS) Abstracts/Reports. Available on http://es.epa.gov/ncer/ childrenscenters/ berkeley_abstracts.html Acessed in July 1st, 2007. 61. INNUENDO. Human Fertility at Risk from Biopersistent Organochlorines in the Environment? Available on http://www.inuendo.dk/index.htm Acessed in July 1st, 2007. 62. Homberger E, Reggiani G, Sambeth J And Wipf Hk. The Seveso Accident: Its Nature, Extent And Consequences Ann. Occup. Hyg., Vol. 22, No. 4, Pp. 327-370, 1979. 99 ARTIGO 3: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A AVALIAÇÃO DE RISCO ENDÓCRINO POR EXPOSIÇÃO A ORGANOCLORADOS: UTILIZAÇÃO DAS JANELAS CRÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO REPRODUTOR NEW PERSPECTIVES TO ENDOCRINE RISK ASSESSMENT FOR ORGANOCHLORINE EXPOSURE: USE OF DEVELOPMENT CRITICAL WINDOWS. 100 RESUMO Os compostos organoclorados são pesticidas que foram usados na agricultura, no controle de vetores biológicos e de ectoparasitas. Apesar de seu uso proibido no Brasil, estes compostos ainda são encontrados no ambiente, dada sua persistência no solo e em águas subterrâneas. Considera-se, de uma forma geral, que toda a população global é ou foi exposta a organoclorados. Entretanto, pensa-se que esta esposição é diferenciada quanto ao tempo e à dose (intensidade) em que a pessoa se expõe. E ainda, que é importante considerar em que monento da vida esta exposição foi iniciada, uma vez que há períodos de desenvolvimento a serem considerados mais críticos sob o ponto de vista de sofrerem intensa atividade organogênica, histogênica e de secreção hormonal. O objetivo desta revisão é identificar quais são os períodos considerados janelas críticas para o desenvolvimento do sistema endócrino-reprodutivo, a partir dos seus possíveis efeitos em humanos. Palvras-Chave: Sistema Endócrino-reprodutivo, Organoclorados, Janelas Críticas de Exposição. 101 ABSTRACT Organochlorine compounds are pesticides used in agriculture, for the control of biological vectors of diseases and of ectoparasites. Despite of their use be prohibited in Brazil, residues of such compounds can still be found in the environment, because of their persistence ground and underground water. It is considered, generally, that all global people are or were exposed to organochlorines. However, this exposure is differentiated according to intensity (dosis) and time of exposure. And more, that is important to consider in which moment of life this exposure has began, because there are some development periods that need to be considered more critical according to organogenesis, histogenesis and hormonal secretion. The aim of this review is to identify which are the critical windows to reproductive system development. Palvras-Chave: Reproductive System, Organochlorine, Critical Windows of Exposure 102 INTRODUÇÃO Uma variedade de substâncias químicas é suspeita de causar efeitos adversos na saúde humana, resultando em alterações no sistema endócrino, especialmente efeitos nos sistemas reprodutores feminino e masculino1. Uma classe importante destes agentes químicos é intitulada “organoclorados”, que são compostos formados por átomos de carbono, hidrogênio e cloro2. São extremamente persistentes no meio ambiente e se acumulam em diversos compartimentos ambientais. Estes compostos produzem uma ampla gama de efeitos tóxicos em animais e seres humanos, especialmente nos sistemas reprodutor, nervoso e imunológico, além de possuírem algumas evidências sugerindo sua associação com certos tipos de câncer3,4. Muitos desses efeitos ocorrem porque certos organoclorados são capazes de mimetizar ou bloquear determinados hormônios, particularmente hormônios atuantes no processo de diferenciação e maturação sexual. Além disso, alguns organoclorados afetam enzimas que controlam as reações bioquímicas no organismo5. Por tais características, estes compostos pertencem a um grupo de substâncias chamadas de interferentes endócrinos. Interferentes endócrinos são substâncias químicas exógenas, naturais ou sintéticas, com o potencial de causar efeitos adversos na saúde de um organismo, ou sua descendência, como resultado de distúrbios na função hormonal6,7 . O desenvolvimento dos caracteres anatômicos e fisiológicos dos sistemas reprodutores masculino e feminino pode ser dividido em diversos estágios que representam uma seqüência de eventos que se iniciam na fase pré-natal, evoluem ao longo da infância e puberdade e terminam no organismo adulto8. A diferenciação pré-natal correta dos tecidos ovarianos e testiculares é crítica para mudanças pós- 103 natais e peripuberais que conduzem ao funcionamento do sistema reprodutivo e a fertilidade depois da puberdade5. Já em adultos, a gametogênese e a esteroidogênese em ambos os sexos é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófisegonadal9. Portanto, o desenvolvimento apropriado de cada porção desse eixo é essencial10. Cada estágio do desenvolvimento reprodutivo pode, assim, ser pensado como uma janela de vulnerabilidade para exposição a resíduos tóxicos11. A exposição a agentes químicos durante o período pré-natal ou perinatal, por exemplo, pode gerar impactos não só nas mudanças de desenvolvimento que ocorrem durante aqueles intervalos de tempo, mas também ter conseqüências tardias relacionadas à fertilidade na vida adulta12. Pelo fato de cada classe de compostos tóxicos ter mecanismos variados de ação, cada um deles afeta o sistema reprodutivo de maneiras diferentes, por exemplo mimetizando a ação estrogênica ou antagonizando a ação androgênica, e gerando efeitos diversos, sobre a diferenciação sexual, o desenvolvimento gonadal, a contagem de espermatozóides, a fecundidade, a fertilidade, o comportamento sexual, dentre outros2,12. O objetivo desta revisão é identificar quais são os períodos considerados janelas críticas para o desenvolvimento do sistema endócrino-reprodutivo, a partir dos seus possíveis efeitos em humanos. PROPRIEDADES DOS ORGANOCLORADOS Os pesticidas organoclorados foram utilizados nos Estados Unidos e Europa desde os anos 50 até final da década de 80, mas a preocupação acerca de seu potencial carcinogênico e prejuízos ambientais acabaram restringindo ou até mesmo banindo seu uso em muitos países. No Brasil, a Portaria no 329, de 02 de setembro 104 de 1985 proíbe a comercialização, o uso e a distribuição dos produtos agrotóxicos organoclorados, destinados à agropecuária, em todo território nacional13. O uso desses compostos é permitido apenas em campanhas de saúde pública no combate a vetores de agentes etiológicos de moléstias, quando aplicados pelos órgãos públicos competentes. Apesar do uso de alguns destes compostos ser proibido por lei, muitos são vendidos clandestinamente14. Cabe lembrar que, embora alguns deles não sejam mais utilizados na maioria dos países, seus resíduos são muito persistentes, como já previa Rachel Carson em sua obra Silent Spring15,16. Os compostos organoclorados, entre eles o DDT, encontram-se presentes em quase todo ambiente e armazenam-se em plantas e em tecidos animais. As restrições à sua utilização originam-se da grande capacidade residual dos mesmos e da possível ação carcinogênica, de acordo com os critérios de classificação da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer17. Acredita-se que a população de uma forma geral está exposta a eles, seja pela água, ar ou alimentos. Uma vez que as vias de absorção são variadas e apresentam capacidade de acumulação no organismo humano, torna-se difícil estabelecer relações entre causa e efeito, pois sinais e sintomas clínicos podem surgir após longo período6. Os organoclorados estão sujeitos à degradação no meio ambiente, e suas concentrações variam muito dependendo do composto, de suas características e das condições ambientais. Esta classe de agrotóxicos foi, no passado, um grupo de compostos muito populares e utilizados principalmente como inseticidas, fungicidas para proteção de sementes e herbicidas6. Muitos destes compostos têm resistido à degradação ambiental por décadas e tendem a aparecer repentinamente no ambiente, tais como Aldrin e DDT. Exemplos como hexaclorociclohexanos (HCHs), 105 diclorodifeniltricloroetano (DDT) e seus metabólitos são tóxicos, persistentes e sofrem bioacumulação3. As propriedades físicas de lipossolubilidade, resistência à metabolização e persistência no ambiente, conferem a estes compostos a capacidade de se depositarem nos tecidos lipídicos dos organismos vivos, sofrendo biomagnificação, alcançando concentrações mais elevadas em animais de níveis tróficos superiores, como os seres humanos. Mesmo que alguns pesticidas não mostrem um efeito imediato in vivo nas concentrações normalmente usadas na agricultura, podem ter um efeito não desejado significativo, a longo prazo, no organismo humano18. Diversos compostos organoclorados, incluindo resíduos de praguicidas e de compostos bifenil-policlorados (PCBs) hidroxilados foram caracterizados como disruptores endócrinos. Tais xenoestrógenos, por persistirem no ambiente, participam da cadeia alimentar e produzem efeitos endócrinos já relatados sobre a vida selvagem2 . Os praguicidas organoclorados, em especial o DDT atravessam a barreira placentária, atingindo um valor médio no sangue do feto de um terço daquele encontrado no sangue materno, e têm níveis mais elevados no leite do que no sangue da mãe19. Os resíduos de organoclorados persistentes podem ingressar no organismo humano e animal por diferentes vias, em especial a respiratória e a digestiva20. Os efeitos estrogênicos e anti-androgênicos dos organoclorados, quando estudados individualmente, apresentam pouca influência sobre os sistemas biológicos. No entanto, estudos in vitro utilizando a combinação de dois destes disruptores ambientais fracos, como o dieldrin, endossulfan, clordane ou toxafeno, mostraram que estes compostos apresentaram-se de 150 a 1.600 vezes mais 106 potentes do que eram isoladamente como agentes estrogênicos21,22. Este fato é justificado pelo fenômeno de bioacumulação do composto. Compostos ambientais com ação estrogênica e anti-androgênica, como o DDT, PCBs e dioxinas têm sido associados ao desenvolvimento sexual alterado em diversas espécies, a um decréscimo na qualidade do sêmen e a um risco aumentado de tumor de mama em mulheres15. Tais efeitos podem resultar de um metabolismo alterado e de uma competição por ligação aos receptores de hormônios esteróides do citosol e do núcleo23. A seguir, uma lista dos principais compostos organoclorados estudados na literatura quanto a sua ação como disruptores endócrinos. Bifenilas policloradas (PCB) PCB são compostos organoclorados que apresentam alta estabilidade térmica e elevada constante dielétrica. Estas propriedades permitiram seu uso na produção de isolantes termoelétricos como: capacitores e transformadores elétricos, bombas de vácuo, turbinas, fluidos hidráulicos, resinas plastificantes, adesivos, aditivo antichama, óleos lubrificantes, pesticidas e papel carbono24-26. DDT O DDT (diclorodifeniltricloretano), potente veneno utilizado no terceiro mundo para o controle de pragas e endemias, altamente solúvel na água e na gordura, que permanece por mais de vinte anos com sua estrutura molecular inalterada, e que foi encontrado no tecido de animais no Ártico, o que prova que todo planeta está contaminado. O DDT é metabolizado no organismo humano em diversos compostos, sendo os principais o o,p'-DDT, o o,p'-DDE, o p,p'-DDT e o p,p'- 107 DDE. Os isômeros o,p'-DDT, o,p'-DDE e p,p'-DDT exibem atividade estrogênica comprovada, porém não são estáveis25-28 . Dioxinas Dioxinas são substâncias aromáticas essencialmente produzidas como subproduto de processos industriais, devido à combustão incompleta de compostos orgânicos. Incineradores que processam lixo municipal, resíduo industrial ou material hospitalar; termoelétrica a carvão, fábricas de papel e celulose, fumaça de veículos automotores, cigarro, fornos de produção de cimento e fundição de chumbo são fontes de produção deste composto26,29-31. Dieldrin, aldrin, toxafeno O dieldrin, o aldrin e toxafeno são agrotóxicos organoclorados com ação estrogênica. Possuem atividades estrogênicas similares à do DDT, e seus efeitos também são cumulativos. O dieldrin como um organoclorado de ação estrogênica fraca (Wade et al, 1997) . No entanto, quando misturado ao toxafeno, consegue induzir respostas estrogênicas em menores concentrações que quando usado isoladamente26,30,32,33. MECANISMOS DE AÇÃO DOS ORGANOCLORADOS A figura 1 mostra os principais mecanismos potenciais de disrupção endócrina provocada por organoclorados. 108 Legenda: ER – receptores de estrogênio; AR – receptores de androgênio; AhR – receptores aril-carboneto Os organoclorados provavelmente operam através de mecanismos de disrupção endócrina35. Os mecanismos conhecidos incluem: 1) inibição da aromatase; 2) agonismo ou antagonismo de receptores de estrogênio (ER); 3) agonismo ou antagonismo de receptores de androgênio (AR); 4) agonismo dos receptores aril-hidrocarboneto; 5) interações com proteínas de ligação; e 6) envolvimento no metabolismo hormonal. E ainda, tais compostos não 109 necessariamente atuam por um único dos mecanismos citados, mas por uma interação deles12. Inibição da aromatase O último passo da seqüência de biossíntese de estrogênio introduz um anel aromático na molécula esteróide. Esta ação é coordenada pela aromatase. Portanto, espera-se que interferências com a atividade catalítica ou expressão da aromatase resultem em problemas em órgãos fim dependentes deste processo36. Alteração de receptores de estrogênio (ER) A ação do estrogênio afeta os ossos, o sistema cardiovascular, o cérebro, a pele e muitos outros tecidos periféricos, em homens e mulheres. A capacidade de os organoclorados agirem como agonistas estrogênicos pode resultar em problemas de grandezas distintas, não só com desfechos reprodutivos propriamente ditos, mas em sistemas e tecidos diversos37. Alteração de receptores de androgênio (AR) O androgênio é fundamental na regulação do crescimento, da diferenciação e da função das células da próstata. Doenças como câncer de próstata podem estar ligadas à ação de organoclorados agonistas de ação andrógena, como o DDE. Ainda, outros desfechs como a demasculinização e a feminização do homem, e a defeminizazção e a masculinização da mulher podeme star relacionados à ação antiandrogênica de alguns compostos, como o PCB e os fitalatos38. 110 Agonismo dos receptores aril-hidrocarboneto (AhR) Organoclorados como as dioxinas são tidos como gatilhos para modificações morfológicas em células epiteliais que remodelam seus citoesqueleto para criar interação com a matriz extracelular enquanto enfraquece o contato entre células. Estes efeitos são mimetizados por uma expressão e ativação do receptor aril hidrocarboneto. (AhR). Quando estes produtos químicos se ligam ao receptor Ah, outra proteína chamada aril hidrocarboneto nuclear transferase também interage com o receptor para formar um complexo químico que se liga ao DNA. Este complexo, uma vez ligado ao DNA, pode então interagir com múltiplos sinais de transdução e alterar uma variedade de produtos gênicos39. Interações com proteínas de ligação Sabe-se que a disponibilidade de estrogênio para tecidos alvo é dependente de proteínas plasmáticas de ligação. Os organoclorados com ação de agonismo estrogênico podem se ligar não só aos receptores ER, mas interagir com as proteínas séricas de transporte, como a α-fetoproteína, a globulina de ligação ao hormônio sexual (SHBG) e a albumina40. Envolvimento no metabolismo hormonal. Alguns químicos com os organoclorados possuem capacidade para alterar a produção endógena de hormônios ou seu metabolismo. Algumas delas, como o PCB, são capazes de suprimir a ação de algumas enzimas, prolongando a ação do estrogênio, mecanismo reconhecido para doenças como o câncer de mama41. 111 EFEITOS TOXICOLÓGICOS Há um grande interesse da comunidade científica internacional com relação aos potenciais efeitos dos disruptores endócrinos nos eventos relacionados ao desenvolvimento e à reprodução humana. As substâncias que têm sido reconhecidas como disruptores endócrinos e tóxicos para a reprodução atuam essencialmente em receptores andrógenos, receptores estrógenos (de forma agonista ou antagonista) e na inibição da síntese ou do metabolismo de hormônios esteroidais. A seguir, alguns dos possíveis efeitos endócrino-reprodutivos associados com a exposição a organoclorados. Declínio da qualidade do sêmen Há evidências que mostram uma tendência de decréscimo na qualidade do sêmen ao longo das últimas décadas, com um padrão não global, onde as áreas urbanas apresentam esta tendência de declínio, enquanto áreas rurais mostram estabilidade42,43. Entre as alterações de qualidade encontram-se a observação de maior número de formas de espermatozóide anormais e com menor motilidade. Entre as possíveis razões para este fato aventa-se a exposição a toxinas, entre outras8. Criptorquidias e Hipospádias Dados de nascimento de vários registros indicam um aumento substancial na incidência de criptorquidismo. Entretanto, é difícil comparar estudos onde as definições de criptorquidismo são diferentes. Da mesma forma, os registros também apontam um aumento considerável de hipospádias, principalmente em países 112 nórdicos e escadinavos, e em maior número em caucasianos do que em afrodescendentes42,43. Ciclo Mestrual Alguns estudos epidemiológicos em humanos investigaram o impacto dos organoclorados no ciclo menstrual. A exposição a organoclorados como a atrazina, o heptaclor, o PCB e o metoxiclor produzem alterações na duração e na regularidade do ciclo menstrual. É causado especialmente pela ação na função do estrogênio e da progesterona ou no eixo hipotálamo-hipofisário44 . Ovulação Organoclorados têm a capacidade de bloquear a ovulação, em concentrações medianas e altas. Isto é possível após um período de bioacumulação. Este efeito é principalmente encontrado em indivíduos expostos às dioxinas, em especial à TCDD. Sua ação ocorre no eixo hipotálamo-hipofisário. O mesmo ocorre com a exposição ao metoxiclor. Tais efeitos são facilmente observáveis em estudos experimentais com mamíferos45, porém há poucos estudos epidemiológicos em humanos. Fertilidade É sugerido pela literatura que a exposição a organoclorados gera desordens moleculares e bioquímicas em células germinativas que resultam em uma inabilidade para a fertilização, apesar da morfologia normal. O lindano ( -HCH) altera a dinâmica de bipolaridade da membrana lipídica, e altas doses nas secreções vaginais podem inibir a responsividade dos espermatozóides à progesterona46. 113 Abortamento espontâneo A entrada de organoclorados na circulação embrionária através da placenta pode afetar a gravidez, resultando em desordens congênitas e abortamentos espontâneos. Há correlações fortes entre concentrações séricas maternas de hexaclorobenzeno (HCB) e o risco de abortamentos espontâneos47 . O mesmo ocorre com o PCB, e o mecanismo sugerido é de que haja um aumento da freqüência de contrações do útero via cálcio e ácido araquidônico pela liberação de fosfolipase A2 44. O quadro 1 destaca os mecanismos de disrupção endócrina provocada por organoclorados e distúrbios endócrinos Quadro 1: Mecanismos de disrupção endócrina provocada por organoclorados e distúrbios endócrinos Organoclorado PCB Dioxinas DDT/DDE Mecanismo Antagonista de receptores de estrogênio Antagonista de receptores de androgênio Agonista de receptores Aril-Hdrocarbono (AhR) Envolvimento com Metabolismo Antagonista de receptores de estrogênio Agonista de receptores Aril-Hdrocarbono (AhR) Inibidor da aromatase Agonosta de receptores de androgênio Antagonista de receptores de androgênio Distúrbios Reprodutivos relacionados Endometriose Qualidade do sêmen Abortamento Espontâneo Baixo Peso ao nascer Diminuição da Razão de Sexo Hipospádias Criptorquidia Neonatos PIG* Diminuição da distância anogenital Síndrome do Ovário Policístico Infertilidade * PIG: Pequeno para a Idade Gestacional Discussão Toxicantes reprodutivos podem afetar eventos críticos no desenvolvimento do sistema reprodutivo, desde a determinação da célula germinativa primordial para diferenciação gonadal, gametogênese, formação da genitália externa ou eventos reguladores do comportamento sexual (Pryor et al, 2000) Os quadros 2,3 e 4apresentam os principais fenômenos da formação e desenvolvimento do sistema reprodutivo dependentes de ação endócrina, respectivamente, no período intraútero, pós-neonatal e no período correspondente à fase pré-púbere e púbere. 114 Período de Desenvolvimento (em semanas) Organogênese Histogênese Maturação Funcional QUADRO 2: PRINCIPAIS FENÔMENOS DA FORMAÇÃO DO SISTEMA REPRODUTIVO QUE OCORREM NO PERÍODO INTRA-ÚTERO. Gametogênese Migração de Células. Germinativas Ovogênese Espermatogênese Gonadogênese Gônada indiferenciada Diferenciação Condensação do Tubérculo Cérebro e Hipófise Hipófise e Hipotálamo Dimorfismo Sexual Sistema Urogenital Diferenciação Sexual Descida do Testículo Caracteres Sexuais Secundários Glândula Mamária Formação dos canalículos mamários Estímulo Glandular Retomada da Maturação Glandular 38 37 36 35 34 33 32 31 30 29 28 27 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 Fetal 7 6 5 4 2 1 3 Embrionário Eventos 115 QUADRO 3: PRINCIPAIS FENÔMENOS DA FORMAÇÃO DO SISTEMA REPRODUTIVO QUE OCORREM NO PERÍODO PÓSNATAL 0 1 2 3 4 5 Adolescência PréPuberdade Pré-Escolar Eventos de Desenvolvimento Primeira Infância Lactente Fase de Desenvolvimento 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Organogênese Histogênese Maturação Funcional Migração de Células. Germinativas Ovogênese Espermatogênese Gônada indiferenciada Diferenciação Condensação do Tubérculo Hipófise e Hipotálamo Dimorfismo Sexual Diferenciação Sexual Descida do Testículo Caracteres Sexuais Secundários Formação dos canalículos mamários Estímulo Glandular Retomada da Maturação Glandular QUADRO 4: ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO SEXUAL DA ADOLESCÊNCIA DE ACORDO COM A IDADE. Mamas estágio 2 Mamas estágio 4 Pêlos Pubianos tipo 2 Feminino Pêlos Pubianos tipo 4 Menarca Pico de crescimento Adrenarca Genitália estágio 2 Pêlos Pubianos tipo 4 Genitália estágio 4 Masculino Genitália estágio 2 Volume testicular (VT)= 4ml VT= 12ml 8 9 10 11 12 13 14 Pico de crescimento 15 16 17 18 (idade) 19 20 116 Durante o desenvolvimento reprodutivo pré-natal há uma programação do hipotálamo e da hipófise de promover o desenvolvimento da capacidade do órgão reprodutor de responder ao aumento gradativo dos níveis de estrógenos e andrógenos. Esta atividade endócrina é essencial inclusive as etapas de determinação e diferenciação sexual. Estes processos são regulados por no mínimo 70 genes diferentes que estão localizados em cromossomos sexuais e autossômicos. Estes genes atuam por uma variedade de mecanismos envolvendo esteróides gonadais, peptídios hormonais e receptores teciduais (George e Wilson, 1994). No período de desenvolvimento pós-nata, por ser contínuo, é difícil a subdivisão precisa em janelas no período imediatamente após o nascimento até o período prépúbere, que corresponde à infância. Uma divisão muito utilizada para este período é a da primeira infância, correspondente ao período entre o nascimento e os três anos de idade; a segunda infância, dos 4 aos 6 anos; a terceira infância, entre 7 e 10 anos, período onde iniciam-se eventos fisiológicos que preparam o corpo para a puberdade. (INEP, 2007). Durante a infância, a rede neuronal hipotalâmica responsável pela descarga pulsátil de GnRH para o sistema porta-hipofisário e reguladora da secreção de gonadotrofina é denominada de gerador de pulso hipotalâmico de GnRH. No desenvolvimento fetal, o principal estímulo para a liberação das gonadotrofinas é fornecido por um padrão intermitente de descarga de GnRH pelo hipotálamo. A concentração de gonadotrofinas alcança níveis de adulto no segundo trimestre da gestação, sugerindo que o pulso gerador de GnRH é completamente funcionante nesta época (Klein, 1999). As gonadotrofinas caem consideravelmente durante o último 117 trimestre sob efeito do feedback negativo feito pelos esteróides placentários, e a atividade do pulso gerador é diminuído. No parto, esta inibição é perdida, e a atividade do pulso gerador de GnRH é retomada durante a fase lactente, e os níveis de gonadotrofina se elevam novamente., até cerca de 2-3 anos, quando começam a ter seus níveis reduzidos até a fase pré-púbere. Do segundo ano de vida até o início da puberdade, há um hiato pré-puberal, durante o qual o sistema hipotálamo-hipofisário mantém a secreção de FSH e LH em níveis baixos. Meninas na fase pré-puberal podem ter episódios de atividade folicular não-ovulatória, mas o E2 circulante permanece baixo. Em meninos, as células de Leydig e os túbulos seminíferos são relativamente inativos, e a testosterona sérica se apresenta igualmente em níveis baixos. O mecanismo de atenuação pré-puberal da pulsatilidade de GnRH e decréscimo da estimulação de gonadotrófos pelo hipotálamo não é totalmente compreendido. Um possível mediador deste sinal inibitório para o GnRH seria o ácido gama- amino butírico (GABA), o maior neurotransmissor inibitório do cérebro (Scacchi et al, 1998). O principal sinal da proximidade da puberdade é o crescimento da secreção de androgênios a partir das adrenais. Este período é conhecido como adrenarca (Witt, 2007). A adrenarca ocorre bem antes da ativação puberal do eixo reprodutor, por volta dos 6 a 9 anos de idade, e resulta em um aumento do nível de uma variedade de estrogênios, incluindo a androstenediona, a diidroepiandrosterona (DHEA) e o diidroepiandrosterona-sulfato (DHEA-S). Os andrógenos adrenais humanos estão associados ao crescimento de pêlos axilares e púbicos, e o aumento dos ossos e crescimento do esqueleto. 118 Já o início da puberdade não é dependente da maturação da hipófise ou das gônadas, já que elas são capazes de responder a estímulos em qualquer idade. Ao invés disso, os eventos da puberdade se originam com a habilidade do hipotálamo em produzir GnRH em um ritmo pulsátil com freqüência e amplitude específicas (Plant, 1994). Da mesma forma que o mecanismo pelo qual o gerador de pulso de GnRH é reprimido durante o hiato pré-púbere ainda é desconhecido, o evento, neurológico ou não, que leva à remoção desta pausa ainda é fruto de investigação (Klein, 1999). Dois processos provavelmente envolvidos incluem: 1) dessensibilização do gonadostato do hipotálamo para o feedback negativo por esteróides gonadais; e 2) um decréscimo na inibição intrínseca central da secreção de GnRH. Os organoclorados são agentes químicos de longa permanência no ambiente e nos organismos, razão pela qual ainda é relevante o estudo dos seus efeitos tóxicos sobre os seres humanos, apesar de, em sua maioria, já estarem banidos ou sob controle de circulação há alguns anos. A revisão do desenvolvimento do sistema reprodutor em humanos indica que o período intra-útero (embrionário e fetal), a infância precoce (do nascimento aos 3 anos), a pré-puberdade (6 a 9 anos) e a adolescência (10 a 19 anos) são períodos fisiológicos que podem ser descritos como janelas críticas para a exposição a esta classe de poluentes. Entretanto, não é possível determinar o peso de cada um destes períodos na probabilidade de ocorrência de eventos mórbidos futuros, ou seja, se a exposição a estes compostos em um determinado período fisiológico (por exemplo, intrauterino) pode corresponder a um risco superior do que em outro período (por exemplo, na adolescência). 119 Há uma carência de estudos epidemiológicos analíticos para que se estabeleçam evidências com alto grau de confiança sobre a magnitude dos riscos de exposição a estes compostos e certos desfechos, como os reprodutivos. Percebe-se, portanto, que é necessário, dentro dos programas de investigação, que sejam feitas revisões sistemáticas e estudos de meta-análise para mensurar este risco, e a partir deles se consiga estabelecer medidas de controle e avaliação de populações expostas. REFERÊNCIAS 1. Guzmán C, Zambrano E.Endocrine disruptor compounds and their role in the developmental programming of the reproductive axis. Rev Invest Clin. 2007 JanFeb;59(1):73-81 2. Flores AV; Ribeiro JN; Neves AA; Queiroz ELR de Organochloride: a public health problem. Ambiente & sociedade, 2004, vol.7, n. 2 3. Guimarães RM, Asmus CIRF, Meyer A. Re-introdução do DDT para combate à malária: uma discussão de custo-benefício para a saúde pública. Cadernos de Saúde Pública, in press. 4. Birnbaum LS, and Fenton SE, Cancer and development exposure to endocrine disruptors. Environmental Health Perspectives 111(4), 389-394, 2003 5. Domenice S; Costa EMF, Correa RV et al. Molecular Aspects of Sexual Determination and Differentiation. Arq Bras Endocrinol Metab, Aug. 2002, vol.46, no.4, p.433-443. 6. Meyer A, Sarcinelli PN and Moreira JC. Are some Brazilian population groups subject to endocrine disrupters? Cad. Saúde Pública, Oct./Dec. 1999, vol.15, no.4, p.845-850. 120 7. Koifman S, Koifman RJ and Meyer A. Human reproductive system disturbances and pesticide exposure in Brazil. Cad. Saúde Pública, Apr 2002, vol.18, no.2, p.435-445. 8. Pryor JL, Hughes C, Foster W, Hales BF, Robaire B. Critical Windows of Exposure for children`s health: the reproductive system in animals and humans. Environmental Health Perspective 108 (suppl 3): 491 – 503, 2000. 9. George, F.W. and Wilson, J.D. (1994): Sex determination and differentiation. In The Physiology of Reproduction (Knobil, E. and Neill, J.D., eds.), 2nd ed., pp. 328, Raven Press, New York. 10. Johnson, M. and Everitt, B. (1980): Essential Reproduction. Chapter 5, Regulation of Gonadal Function, pp. 97-142, Blackwell Scientific Publications, London. 11. Damstra, T., Barlow, S., Bergman, A., Kavlock, R. and Van Der Kraak, G. (2002): Chapter 3: Endocrinology and endocrine toxicology, In Global Assessment of the State of the Science of Endocrine Disruptors, pp. 11-32, World Health Organization, International Programme on Chemical Safety, New York. 12. Dwivedi, R.S. and Iannaccone, P.M. (1998): Effects of environmental chemicals on early development. In Reproductive and Developmental Toxicology (Korach, K.S., ed.), pp. 11-46, Marcel Dekker, New York. 13. ANVISA. Portaria no 329, de 02 de setembro de 1985. Dispõe sobre a proibição, em todo o território nacional, da comercialização, do uso e da distribuição dos produtos agrotóxicos organoclorados. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/329_85.htm. Acesso em 01 de outubro de 2007. 121 14. Corbi, J.J., Strixino, S.T., Santos, A. & Del Grande, M. 2006. Diagnóstico ambiental de metais e organoclorados em córregos adjacentes a áreas de cultivo de cana-de-açúcar (Estado de São Paulo, Brasil). Quím. Nova 29:61-65. 15. Carson R. Silent Spring. 2ed. Houghton Mifflin, Boston, MA, 2002. 16. Cocco, Pierluigi On the rumors about the silent spring: review of the scientific evidence linking occupational and environmental pesticide exposure to endocrine disruption health effects. Cadernos de Saúde Pública, 2002, vol.18, n. 2 17. International Agency For Research On Cancer (IARC). Lists Of Iarc Evaluations, Atualizada Em 04.12.2002. Disponível Em <Htpp://Monographs.Iarc.Fr/ Monoeval/Crthall.Html> Acesso em 26 de setembro de 2007. 18. Klein TA: Puberty, in Humans. In Encyclopedia of Reproduction (Knobil, E. and Neill, J.D., eds.), Vol.4, pp. 127-135, Academic Press, New York, 1999. 19. Nunes, Mônica Vannucci and Tajara, Eloiza Helena Efeitos tardios dos praguicidas organoclorados no homem. Rev. Saúde Pública, Ago 1998, vol.32, no.4, p.372-382. 20. Kaushik P & Kaushik G. An assessmento of structure and toxicity correlation in organochlorine pesticide. Journal of Hazardous Materials Volume 143, Issues 1-2, 2007, Pages 102-111. 21. Arnold, SF, DM Klotz, BM Collins, PM Vonier, LJ Guillette, Jr., and JA McLachlan. 1996. Synergistic activation of estrogen receptor with combinations of environmental chemicals. Science 272:1489-1492. 22. Dickerson SM & Gore AC. Estrogenic environmental endocrine-disrupting chemical effects on reproductive neuroendocrine function and dysfunction across 122 the life cycle. Reviews in Endocrine & Metabolic Disorders, Volume 8, Number 2 , 2007. p. 143-159 23. Kelce, W.R., Stone, C.R., Laws, S.C., Gray, L.E., Kemppainen, J.A. and Wilson, E.M. (1995): The persistent DDT metabolite p,p'-DDE is a potent antiandrogen receptor antagonist. Nature, 375, 581-585. 24. Longnecker MP, Klebanoff MA, Brock JW, Guo X. Maternal levels of polychlorinated biphenyls in relation to preterm and small-for-gestational-age birth. Epidemiology. 2005 Sep;16(5):641-7. 25. Cravedi JP, Zalko D, Savouret JF, Menuet A, Jégou B. The concept of endocrine disruption and human health. Med Sci (Paris). 2007 Feb;23(2):198-204 26. Alves C; Flores LC; Cerqueira TS; Toralles MBP. Environmental exposure to endocrine disruptors with estrogenic activity and the association with pubertal disorders in children. Cadernos de Saúde Pública, 2007, vol.23, n. 5. 27. Longnecker MP, Klebanoff MA, Zhou H, Brock JW. Association between maternal serum concentration of the DDT metabolite DDE and preterm and small-forgestational-age babies at birth. Lancet. 2001 Jul 14;358(9276):110-4. 28. Beard J.; Marshall S.; Jong K.; Newton R.; et al. Arch. Environ. Health 2000, 55 29. Eskenazi B, Warner M, Marks AR, Samuels S, Gerthoux PM, Vercellini P, Olive DL, Needham L, Patterson D, Mocarelli P. Serum dioxin concentrations and age at menopause. Environ Health Perspect. 2005 Jul;113(7):858-62. 30. Guillette LJ Jr. Endocrine disrupting contaminants--beyond the dogma. Environ Health Perspect. 2006 Apr;114 Suppl 1:9-12 31. Pombo M, Castro-Feijóo L. Endocrine disruptors. J Pediatr Endocrinol Metab. 2005 Dec;18 Suppl 1:1145-55. 123 32. Wade MG, Desaulniers D, Leingartner K, Foster WG. Interactions between endosulfan and dieldrin on estrogen-mediated processes in vitro and in vivo. Reprod Toxicol 1997; 11:791-8. 33. Khanjani N, Sim MR. Maternal contamination with dichlorodiphenyltrichloroethane and reproductive outcomes in an Australian population. Environ Res. 2006 Jul;101(3):373-9. 34. vom Saal FS, Hughes C. An extensive new literature concerning low-dose effects of bisfenol A shows the need for a new risk assessment. Environ Health Perspect 2005; 113:926-33. 35. Colborn T; Dumanoski D; Myers JP Our Stolen Future. New York: Penguin Books, 1996. 36. Brodie A, Dowsett M, Lonning P, Miller W. Aromatase and its inhibitors: new biology and clinical perspectives. Endocrine-Related Cancer 1999;6(2):127– 130. 37. Sanderson T, van den Berg M. Interactions of xenobiotics with the steroid hormone biosynthesis pathway. Pure Appl Chem 2003;75(11–12):1957–1971. 38. Klocker H, Culig Z, Eder IE, Nessler-Menardi C, Hobisch A, Putz T, Bartsch G, Peterziel H, Cato AC. Mechanism of androgen receptor activation and possible implications for chemoprevention trials. Eur Urol 1999;35(5–6):413–419. 39. Diry M, Tomkiewicz C, Koehle C, Coumoul X, Walter Bock K, Barouki R, Transy C. Activation of the dioxin/aryl hydrocarbon receptor (AhR) modulates cell plasticity through a JNK-dependent mechanism. Oncogene, 25(40):5570 5574. 40. Kaminuma T, Takai-Igarashi T, Nakano T, Nakata K. Modeling of signaling pathways for endocrine disruptors. BioSystems 2000;55:23–31. 124 41. Sharpe RM, Irvine DS. How strong is the evidence of a link between environmental chemicals and adverse effects n human reproductive health? BMJ 2004;328:447– 51. 42. Toppari J, Larsen JC, Christiansen P, Giwercman A, Grandjean P, Guillette LJ, et al. 1996. Male reproductive health and environmental xenoestrogens. Environ Health Perspect 105:163-163. 43. CHIA, S. E., 2000. Endocrine disruptors and male reproductive function-a short review. International Journal of Andrology, 23(Sup. 2):45-46. 44. Nicolopoulou-Stamati P & Pitsos MA. The impact of endocrine disrupters on the female reproductive system. Human Reproduction Update, Vol.7, No.3 pp.323330, 2001 45. Younglai EV; Holloway AC; Foster WG Environmental and occupational factors affecting fertility and IVF success. Hum. Reprod. Update, January 1, 2005; 11(1): 43 - 57. 46. Silvestroni L, Palleschi S. Effects of organochlorine xenobiotics on human spermatozoa. Chemosphere. 1999 Oct;39(8):1249-52 47. Jarrell J, Gocmen A, Foster W, Brant R, Chan S, Sevcik M. Evaluation of reproductive outcomes in women inadvertently exposed to hexachlorobenzene in southeastern Turkey in the 1950s. Reprod Toxicol. 1998 Jul-Aug;12(4):469-76. Seção V Conclusão 126 CONCLUSÃO Este estudo foi desenvolvido entre março de 2006 e outubro de 2007. A dissertação está organizada em capítulos independentes, com a proposta de os resultados serem apresentados a periódicos científicos e, por isto mesmo, seguiram estrutura de construção e de citação das referências bibliográficas distintas. A introdução geral, os objetivos, e as conclusões gerais seguem o modelo recomendado para uma dissertação conforme os padrões da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Essa opção se deu para que se preservasse o texto original do projeto de qualificação. A introdução traz uma breve discussão sobre os contaminantes de interesse do estudo, ou seja, organoclorados, onde buscamos detalhar algumas informações técnicas sobre estes contaminantes, como sua toxicologia, tempo de meia vida e classificação junto às principais agências de avaliação de substâncias químicas mundiais; além disso, traz brevemente a história de Cidade dos Meninos, bem como a proposta de uma Matriz de Exposição Ambiental, que a proposta inicial de construção do presente trabalho. A seção seguinte constitui os objetivos remotos da pesquisa, e logo em seguida descrevese os materiais e métodos pretendidos inicialmente. Estas primeiras seções constituíam o então projeto de qualificação. Possuem volume de informações que normalmente não são aceitos em publicação nos moldes dos periódicos atuais, mas que auxiliam o leitor a compreender as discussões compartilhadas na seção de resultados e discussão, essa sim composta por três artigos que buscam atender aos objetivos traçados após fase inicial do projeto. Na seção “conclusões gerais”, foram discutidos os principais achados desta dissertação, fortalecendo particularmente a discussão sobre a utilização das janelas críticas de exposição como variável inerente ao modelo de mensuração da magnitude do risco de exposição a organoclorados para a ocorrência de desfechos endócrino-reprodutivos. A proposta inicial de delineamento e validação de uma Matriz de Exposição 127 Ambiental foi parcialmente atendida se considerar-se que a discussão sobre as janelas críticas foi aberta para que desse espaço a uma futura tentativa de construção desta MEA. A hipótese presumida anteriormente foi corroborada, qual seja: para além da discussão dose (intensidade) e tempo de exposição, algumas variáveis devem ser contempladas no modelo explicativo, dentre as quais o período fisiológico em que o indivíduo iniciou sua exposição, e avaliar se trata-se ou não de uma janela crítica de desenvolvimento. Embora se tenha chegado à conclusão sobre a necessidade da utilização das janelas críticas de exposição como variável do modelo explicativo, não foi viável a quantificação do seu risco por período fisiológico, pois a carência de dados para esta avaliação é severa. No entanto, esta discussão subsidiará a continuidade deste método de avaliação de exposição que é a MEA, e para tal a etapa desenvolvida na dissertação foi fundamental. A Matriz de Exposição é um método já consagrado para a exposição ocupacional, principalmente com o uso de dados secundários. O desafio que se põe é criar um método semelhante para a Saúde Ambiental, para dados primários inclusive, e que seja tão robusto quanto seu modelo de criação. Pretende-se, para um médio prazo, que seja possível a mensuração deste risco, e a partir daí a construção da MEA como um instrumento acurado de estratificação da população exposta a certo tipo de químico. Referências 129 1. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY – ATSDR 1998a. Toxicological profile for chlorinated dibenzo-pdioxins (CDD’s). Atlanta, GA: Department of Health and Human Services; Public Health Service; Agency for Toxic Substances and Disease Registry. 2. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY – ATSDR. 1989. Toxicological profile for 2,3,7,8- tetrachlorodibenzo-pdioxin. Atlanta, GA: Department of Health and Human Services; Public Health Service; Agency for Toxic Substances and Disease Registry. 3. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY. Toxicological profile for polychlorinated biphenyls (PCBs). Atlanta, 1999a. 4. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY. Toxicological profile for DDT, DDE, and DDD. Atlanta, 2002. 5. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY. Toxicological profile for chlorinated dibenzo-p-dioxins. Atlanta, 1998b. 6. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY. Toxicological profile for alpha-, beta-, gamma-, and delta- hexachlorocyclohexane. Atlanta, 2005. 7. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY. Toxicological profile for chlorobenzene. Atlanta, 1990. 8. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY. Toxicological profile for chlorophenols. Atlanta, 1999b. 9. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY 1992. Evaluación de Riesgos en Salud por la Exposición a Residuos Peligrosos. Atlanta, GA: ATSDR, Servicio de Salud Pública, Departamento de Salud Humana y Servicios de los E.E.U.U. (Una outra publicación ha sido producida por el Centro Panamericano de Ecología Humana y Salud). 10. AMBIOS (Ambios Engenharia e Processos Ltda.), 2002. Relatório Técnico. Avaliação de Risco à Saúde Humana por Pesticidas Organoclorados em Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, RJ. 130 11. ARMSTRONG BK, WHITE E, SARACCI R 1992. Principles of exposure measurements in epidemiology. New York: Oxford University Press. 12. ASMUS, CIRF; CÂMARA, VM, COELI CM, FILHOTE, MIF 2005. Coorte de exposição à resíduos de pesticidas organoclorados na localidade de cidade dos meninos – município de Duque de Caxias – estado do Rio de Janeiro.Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva (mimeo). 13. BARRETO, A.B.C., 1998. Avaliação de condições hidrogeológicas e da contaminação por HCH do solo da Cidade dos Meninos, RJ. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Rio de Janeiro, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 14. BASTOS, L. H., 1999. Investigação da contaminação do solo da Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Avaliação dentro de um novo cenário após a adição de óxido de cálcio. Dissertação de Mestrado em Saúde Pública, Rio de Janeiro, Escola Nacional de Saúde Pública / Fundação Oswaldo Cruz. 15. BENKE G, SIM M, FRITSCHHI L, ALDRED G. 2000Beyond the job exposure matrix: The task exposure matrix (TEM). Ann Occup Hyg 2000; 44:475-82. 16. BORGES, A. F., 1996. Avaliação dos mecanismos de transporte de hexaclorociclohexano (HCH) no solo da Cidade dos meninos, Duque de Caxias, RJ. Dissertação de mestrado em engenharia civíl, Rio de Janeiro, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 17. BOUYER J, HÉMON D 1993. Retrospective evaluation of occupational exposure in population-based case-control studies: general overview with special attention to job exposure matrices. Int J Epidemiol 1993; 22 Suppl 2: 57-64. 18. BRAGA , A.M.C.B. ,1996. Contaminação ambiental por hexaclorociclohexano : estudo da exposição de escolares na Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado em Saúde Pública, Rio de Janeiro, Escola Nacional de Saúde Pública / Fundação Oswaldo Cruz. 131 19. BRASIL, 1985. Ministério da Agricultura e Abastecimento. Portaria nº 329/85 de 02 de setembro de 1985. Proíbe a comercialização, uso e a distribuição de produtos agrotóxicos, salvo exceções. Diário Oficial da República federativa do brasil, 3 set. 1985. 20. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia 2003. Exposição humana a resíduos organoclorados na Cidade dos Meninos, Município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Departamento de Ciência e Tecnologia. – 2 ed. rev. – Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 21. CASARETT, 1999. Casarett and Doull’s Toxicology : The Basic Science of Poisons. Companion HandBook. Fifth Edition. McGraw-Hill Ed. 22. CECAB/FEEMA, 1991. Coletânea de documentos elaborada pela CECAB e FEEMA para dar subsídios ao grupo de trabalho coordenado pela FEEMA “BHC abandonado na Cidade dos Meninos, Município de Duque de Caxias, RJ”. Documento não publicado. 23. CENTRO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE DE INFORMAÇÕES EM CIÊNCIAS DA SAÚDE. Descritores em Ciências da Saúde – DeCS. São Paulo: BIREME; 1999. Disponível em: URL: http://www.bireme.br/decs 24. CETESB – GTZ , PROJETO, 1999. 6520 Níveis de avaliação para solo – “Soil Screening Levels”- aplicados pela USEPA, 1-6. 25. CLARKE M, OXMAN AD, editors. Cochrane Reviewers' Handbook 4.1 [updated March 2001]. In: Review Manager (RevMan) [Computer program]. Version 4.1. Oxford, England: The Cochrane Collaboration, 2001. Disponível em: URL: http://www.cochrane.dk/cochrane/handbook/handbook.htm. Acesso em 15 de abril de 2007. 26. COLBORN, Theo et al. O futuro roubado. Porto Alegre: L&PM, 2002, 354 p. 27. COOK DJ et al. Methodologic guidelines for systematic reviews of randomized control trials in health care from the Potsdam Consultation on Meta-Analysis. J Clin Epidemiol 1995 Jan;48(1):167-71. 132 28. DIAS, A. E. X. O.; OLIVEIRA, R.M. & BASTOS, L.H.P., 1997. Hexachlorocyclohexane (HCH) Case Study: Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, R.J., Brazil. International Workshop on Organic Micropollutants in the Environment. CCS/UFRJ. 29. DOMINGUEZ, L. A. E., 2001. Determinação de Focos Secundários de Contaminação por Hexaclorociclohexano no Solo da Cidade dos Meninos, Duque de Caxias. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: ENSP/FIOCRUZ. 30. ECOBICHON, D. J., 1991. Toxic effects of pesticides. In: Casarett and Doull’s Toxicology: The basic science of poisons. ( M.O. Amdur, J. Doull & C. D. Klaassen, eds.), 4.ed. pp. 565 – 622, New York: McGraw – Hill. 31. FLETCHER RH., FLETCHER, SW & WAGNER, EH 2006. Epidemiologia Clínica. Elementos Essenciais. 5ª Ed. Porto Alegre, Artmed. 32. GÉRIN M, SIEMIATYCKI J, KEMPER H, BÉGIN D 1985. Obtaining occupational exposure histories in epidemiologic case-control studies. J Occup Med 1985; 27:420-6. 33. GOLDBERG M, HÉMON D 1993. Occupational epidemiology and assessment of exposure. Int J Epidemiol 1993; 22 Suppl 2:S5-S8. 34. HERCULANO, S., 2001. Justiça Ambiental: de Love Canal à Cidade dos Meninos, em uma Perspectiva Comparada. In: Mello, M. P. de (org.). Justiça e Sociedade: Temas e Perspectivas. São Paulo: Ltr. pp. 215238. 35. INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER. Monographs on the evaluation of carcinogenic risks to humans. Occupational exposures in insecticide application, and some pesticides. Lyon, France, v. 53, p. 115-175, 1991. 36. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1978.Environmental Health Criteria 6 - principles and methods for evaluating the toxicity of chemicals Part I. Geneve: WHO/IPCS. 37. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1983.Environmental Health Criteria 27 – Guidelines on Studies in Environmental Epidemiology. Geneve: WHO/IPCS. 133 38. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1991.Environmental Health Criteria 124 - Lindane (gama-HCH) health and safety Guide. Geneve: WHO/IPCS. 39. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 1999.Environmental Health Criteria 210 – Principlesfor the Assessment of Risks to Human from Exposure to Chemical. Geneve: WHO/IPCS. 40. INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY (IPCS), 2000.Environmental Health Criteria 214 – Human Exposure Assessment. Geneve: WHO/IPCS. 41. KAUPPINEN T, TOIKKANEN J, PUKKALA E 1998. From cross- tabulation to multipurpose exposure information system: A new jobexposure matrix. Am J Ind Med 1998;33:409-17. 42. MORGAN, M.G.; FISCHOFF, B.; BOSTROM, A.; et al., 1992. Communicanting Risk to the Public. Environmental Science and Technology, 26(11): 2048-2056. 43. NAKAGAWA, R. et al. Maternal body burden of organochlorine pesticides and dioxins. Journal of AOAC International, v. 82, n. 3, p. 716724, 1999. 44. NAYLOR CD. Meta-analysis and the meta-epidemiology of clinical research [Editorial]. BMJ 1997;315(7109):617-619. Disponível em: URL: <http://www.bmj.com/cgi/content/full/315/7109/617> 45. NORTOX (Nortox Agroindústria do Paraná S/A.), 1996. Relatório Técnico. Desativação do Inseticida BHC em Área Contaminada – Duque de Caxias – RJ. 46. OLIVEIRA, R. M., 1994. Estudo da contaminação do solo e pasto causada por hexaclorociclohehano (HCH) na Cidade dos Meninos em Duque de Caxias, RJ. Dissertação de Mestrado em Saúde Pública, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública. 47. RIBEIRO FSN; CAMARGO, EA de e WUNSCH FILHO, V. Design and validation of a job-exposure matrix to silica. Rev. Saúde Pública, Feb. 2005, vol.39, no.1, p.18-26. 134 48. STREINER DL & NORMAN GR, 1995. Health measurement scales. A practical guide to their development and use. (2 ed.). Oxford: Oxford University Press. 49. U.S. EPA (U.S. Environmental Protection Agency), 1989. Risk Assessment Guidance for Superfund (RAGS): Volume I - Human Health Evaluation Manual, Part A, Interim final. EPA/540/1-89/002. Washington, DC: Office of Emergency and Remedial Response, U.S. EPA. 1 May 1999 <http://www.epa.gov/superfund/programs/risk/ragsa/index.htm> 50. U.S. EPA (U.S. Environmental Protection Agency), 1991. Risk Assessment Guidance for Superfund (RAGS): Volume I - Human Health Evaluation Manual, Part B, Development of Risk-Based Preliminary Remediation Goals, Interim. EPA/540/R-92/003. Washington, DC: Office of Emergency and Remedial Response, U.S. EPA.1May 1999. Disponível em: <http://www.epa.gov/superfund/programs/risk/ragsb/index.htm>. 51. WAISSMANN, William. Health surveillance and endocrine disruptors. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro: v.18, n.2, mar./abr. 2002. Anexos 135 ANEXO 1 – CRONOGRAMA Jun 2006 Elaboração do Projeto Qualificação do Projeto Montagem do Banco de Dados Inserção dos Dados Análise Descritiva dos Dados Elaboração da Matriz de Exposição Validação da Matriz de Exposição Estratificação dos Grupos de Exposição Aplicação da Matriz de Exposição aos Dados Elaboração da Dissertação Final Jul 2006 Ago 2006 Set 2006 Out 2006 Nov 2006 Dez 2006 Jan 2007 Fev 2007 Mar 2007 Abr 2007 Mai 2007 Jun 2007 Jul 2007 Ago 2007 Set 2007 Out 2007 Nov 2007 ANEXO 2 Artigo Guimarães, RM; Asmus, CI; Meyer, A. DDT reintroduction for malaria´ combat: a cost-benefit discussion for public health. Cadernos de Saúde Pública, 23(12):2835-2844, dez, 2007 REVISÃO REVIEW DDT reintroduction for malaria control: the cost-benefit debate for public health Reintrodução do DDT para combate à malária: uma discussão de custo-benefício para a saúde pública Raphael Mendonça Guimarães 1 Carmen Ildes Rodrigues Fróes Asmus Armando Meyer 1,3 1 Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 2 Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 3 Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. Correspondence R. M. Guimarães Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Av. Brigadeiro Trompowski s/n, Praça da Prefeitura da Cidade Universitária, Rio de Janeiro, RJ 21949-900, Brasil. [email protected] 1,2 Abstract Introduction DDT is a persistent insecticide that was widely used in the world from the 1940s until the 70s, when it was banned in the United States and other countries. Most of its toxic effects are not observed in the acute forms, but particularly after chronic exposure. These long-term issues include reproductive effects, varying according to the time of life in which the individuals were exposed. The aims of the current study were to review the principal toxicological effects of DDT on reproduction, stratifying by physiological periods of exposure, and based on the magnitude of these effects, to discuss the cost-benefit relationship of reintroducing DDT with the specifically defined vector control criteria. The impact of pesticides on human health has received worldwide attention from the scientific community, especially in developing countries, where the use of these compounds has increased rapidly. Their evaluation requires knowledge and a clear view of the relative importance and magnitude of each of the contamination routes 1. Pesticides appeared in Brazil in the 1960s and 1970s as a scientific solution for pest control in crops and livestock 2. Earlier, in the 1940s, some substances with insectidal properties had already been used to control certain endemic diseases like malaria and schistosomiasis 3. A first class of pesticides that was widely used in public health consisted of the organochlorines, among which the most widely known example is dichlorodiphenyltrichloroethane, or DDT. A previous publication 4 described the discovery of the insecticidal power of DDT, the first synthetic organic insecticide, launching the era of the organochlorine pesticides. Beginning with DDT, a growing number of pesticides emerged. During World War II, and DDT was widely used by the U.S. Army in campaigns in various regions of the world, after which its use became widespread 5. Despite the benefits, the indiscriminate use of this class of substances led to serious ecological problems. It is now estimated that nearly all living beings, both plant and animal, are contaminated by organochlorine insecticides 4. DDT; Pesticide Exposure; Malaria Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 2835 2836 Guimarães RM et al. Concern over the use of DDT began in the 1960s, when the famous book Silent Spring by Rachel Carlson 6 described a series of harmful effects on the environment and wildlife resulting from pesticide use. The author specifically emphasized the effect of DDT in weakening the eggshells of the American eagle (Haliaetus leucocephalus), contributing to a sharp decline in this species. In addition, due to its high persistence in the environment and numerous reports of resistant insect species, DDT was gradually replaced with other substances in many developed countries. In Brazil, DDT was banned from agricultural use in 1985. In 1997, the Fundação Nacional de Saúde [FUNASA; National Health Foundation] also banned its use for vector control. Finally, since 1998 there has been a total ban on DDT for any use in Brazil 3. However, in some countries with endemic malaria areas, DDT is still widely used. Since economic interests often clash with the need for environmental protection, DDT is still produced and exported in large amounts by countries that have already banned its use in their own territories 7. A well-known case of the use of DDT that generated known environmental impacts was Cidade dos Meninos in Rio de Janeiro, where an old Ministry of Health insecticide factory that had been closed down in the 1950s released large amount of insecticides into the air, particularly hexachlorocyclohexane (HCH) and DDT 3. DDT exerts its action on the physical makeup and health of humans, in addition to contaminating the environment and animal populations. Thus, understanding DDT’s mechanisms of action is crucial for evaluating the impact of such contamination on human health. We currently have a considerable body of knowledge on the multiple toxic effects of DDT 8. Particularly in the last 15 years, great attention has focused on this insecticide’s possible estrogenic and anti-androgenic effects and how such interference with the endocrine system’s homeostasis represents a mechanism of action that explains part of the compound’s toxic effects 7. Furthermore, DDT byproducts have been linked to infertility, miscarriage, and breast cancer, and such effects are modulated according to the stage of life in which the individual was exposed. Beyond this accumulated knowledge, there is an impasse in the scientific community on the reintroduction of DDT in countries where endemic diseases whose vectors can be eliminated by DDT are demanding its renewed use. They base their argument on a cost-benefit discourse, given the high mortality rates from vector-borne diseases like malaria and yellow fever. A recent article 8 reviewed the main characteristics of this Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 organochlorine and some aspects of its use in leishmaniasis and malaria vector control. Considering the compound’s description and one of the possible groups of outcomes in humans, namely its endocrine-modulating and reproductive effects, the current article has the following objective: to review the main toxic effects of DDT related to the reproductive system’s biochemical and physiological mechanisms, according to the specific period of life in which the individual is exposed; based on the magnitude of these effects, to discuss the cost-benefit relationship involved in the possible reintroduction of DDT with specifically defined vector control criteria. The first part of the article reviews some key aspects of DDT toxicology, after which we list some studies that have examined the relationship between DDT exposure and selected outcomes; finally, the discussion develops and presents arguments for and against the reintroduction of DDT as a vector control pesticide. Chemical properties of DDT DDT (dichlorodiphenyltrichloroethane) is a synthetic insecticide belonging to the organochlorine chemical class. DDT also has several metabolites, emphasizing DDE and DDD. Both DDE and DDD are byproducts of DDT. All the isomers are solid, white, odorless, and tasteless substances, with the empirical formula C14H9Cl5 9,10. DDT’s persistence is due to its great chemical and physical stability and its slow and partial biodegradation 5. Since DDT possesses optical isomerism, the commercial product is a mixture of two isomers (op’DDT, some 23%, and pp’DDT, some 77%) obtained as a compound with a high degree of purity through the reaction of a chlorobenzol molecule with a chloral hydrate molecule in the presence of sulfuric acid 10. DDT toxicology Although DDT is a potent contact insecticide with prolonged residual action in the sites where it is applied, and although the underlying mechanism of its neurotoxic effects is essentially the same in insects and vertebrates, this organochlorine’s toxicological record can be considered relatively clean 10,11. Despite its intense and careless use for decades in many countries, known cases of acute DDT intoxication in humans are rare, and there are even fewer reports of deaths caused by this insecticide. This selective biocidal action is explained by the fact that DDT is readily absorbed by the insect’s chitinous exoskeleton, while the DDT REINTRODUCTION FOR MALARIA CONTROL corneal layer of keratinous cells in mammalian skin acts as an efficient barrier against the insecticide’s penetration 10. We can assume that nearly all individuals born since the mid-1940s have been exposed to DDT for a major portion of their lives and have accumulated it in their fatty tissue 11. Maintaining a constant rate of entry into the body, DDT concentration reaches a stationary level in the adipose tissue and remains relatively constant. DDT can be absorbed by inhalation or ingestion, depending on the vehicle used. In mammals, including humans, after being absorbed by the oral or respiratory route, DDT is broken down by two routes: the principal form of metabolism is its transformation into the unsaturated compound DDE, through the loss of hydrogen and chlorine. In order to be excreted, DDT is slowly dechlorinated and oxidized by cytochrome p450dependent monooxygenases to intermediate metabolites, among which p,p’-DDE, one of the most persistent in mammals 10,11. DDE is virtually non-biodegradable, not undergoing subsequent transformation, and since it is highly fat-soluble, it tends to be deposited in the body, especially in adipose tissue. The second metabolic route is transformation into the saturated compound DDD, through the substitution of a hydrogen atom with a chlorine atom and continuing metabolism through a series of intermediate compounds until DDA [bis(p-chlorophenyl)acetic acid], which is water-soluble and excreted in the bile, feces, and urine 5,8. Another metabolic route, unlike that with p,p’-DDE as the intermediate route, results in DDA excreted in the urine. DDA, originating from technical DDT or p,p’-DDT, but not from p,p’-DDE, is found in considerable amounts in the urine in cases of acute intoxication and intense and recent occupational exposure 10. For a long time, DDT has been known to deposit in human adipose tissue 12. Since DDT crosses the placental barrier and is eliminated in human breast milk, even newborns and nursing infants have detectable amounts 5. The underlying mechanism of both the insecticidal action and acute toxic effects of DDT involves the alteration of neuronal electrical excitability, respectively in insects and vertebrates 13,14. In axons exposed to DDT, the descending phase of the action potential is prolonged (negative post-potential), thus returning more slowing to resting (baseline) potential 5,13. This effect results in delayed repolarization of the neuronal membrane. Thus, the membrane of a nerve cell exposed to DDT remains partially depolarized after the action potential, making it highly susceptible to stimulation 14. These alterations caused by DDT are manifested as neuronal hyperexcitability with repetitive firing of action potentials after sensory stimulation (hyper-responsiveness to stimuli) 5,10,13. This explains why acutely intoxicated individuals display the characteristic symptoms of DDT neurotoxic action, namely persistent tremor and/or seizures 10,13,14,15,16,17. There are four possible mechanisms for explaining how DDT prolongs the negative postpotential and increases neuronal excitability in the central and peripheral nervous systems: altered permeability of the axonal membrane to potassium; slower inactivation of sodium channels; inhibition of neuronal adenosine triphosphatase (ATPase), particularly Na+/K+-dependent ATPase and also Ca++/Mg++-ATPase; finally, inhibition of the capacity of calmodulin to bind to and transport calcium ions, which are essential for the intra-neuronal release of neurotransmitters 11,13,17. Health effects It was formerly believed that DDT and its metabolites did not possess endocrine effects, but in the 1970s and 80s several studies 18,19 suggested that DDT mimics estrogens, i.e., possessing similar pharmacological properties to β-estradiol. This gave rise to extensive investigation on the possible hormonal effects of human exposure to DDT and it byproducts. These compounds can indeed act as estrogen agonists, since they can induce estrogenic effects when they bind to specific receptors. The possibility that they exert a complex effect by interacting with different steroidal hormone receptors at different levels, with as-yet unknown biochemical and physiological consequences, requires further investigation 20. Although many of the most important organizational events giving rise to an adult with reproductive capacity take place in the uterus, other equally important events occur over the course of extra-uterine life. Such time periods (during which the reproductive system’s development is more susceptible to transformations, including those produced by xenobiotics) have been well characterized in the scientific literature 20,21,22. Preconceptional exposures are defined here as those affecting spermatogenesis in men, while in women this phase corresponds to the point at which the gametes emerge from the primordial follicular state and proceed to the primary and secondary follicles and become fertile 21. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 2837 2838 Guimarães RM et al. The prenatal period is divided into two phases: the first phase ranges from fertilization until genital development. However, the critical time for deleterious effects in the reproductive system is during the second phase, from genital development until birth 22. Meanwhile the post-natal period basically involves the individual’s fertility potential, from regulation of ovarian function to the quality of sperm production 22. This phase also includes puberty, particularly involving finalization of the sexual maturation processes. Preconception A study of young males in an area sprayed with DDT in Mexico found an inverse association between blood DDT concentration and sperm count and testosterone concentration 23. Hauser et al. 24,25 found a weak inverse association with sperm motility, but not with concentration, morphology, or altered DNA, when observing a population of 212 adults in their 30s who were partners of women considered sub-fertile in the United States. Waissmann 26 reported an association between DDT and some other solvents and decreased fertility and viable sperm concentration in semen. DDT and its metabolites commonly show an estrogenic effect; particularly, the metabolites o,p’-DDT; p,p’-DDT; p,p’-DDE; o,p’-DDE, and o’,p’-DDT are estrogen receptor ligands in estrogen-responsive cells 27,28. Some epidemiological studies have shown the estrogenic effects arising from this interaction. For example, Akkina et al. 29, in a sample of 219 Hispanic women living in the United States who suffered DDT intoxication, found a high DDE concentration associated with early menopause. Cohn et al. 30, in a sample of 289 women born in the early 1960s in the United States, showed an association between DDT exposure and decreased odds of pregnancy. Prenatal period DDT easily crosses the placenta and is found in the umbilical cord blood of neonates born to mothers exposed to this insecticide 7. Still, there is no experimental or epidemiological evidence that DDT is teratogenic in mammals, i.e., there is no consistent indication that this insecticide causes malformations in offspring exposed during prenatal development 5,10. Hosie et al. 31 analyzed the blood organochlorine levels in adipose tissue samples from 48 boys, 18 of whom with cryptorchidism (undescended testes). The authors did not find any differences between boys with and without cryptorchidism Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 in terms of DDT and its metabolites, polychlorinated biphenyls (PCBs), toxaphenes, HCH, and other related compounds. However, increased concentrations of heptachlor-epoxide (HEP) and hexachlorobenzene (HCB) were observed in boys with cryptorchidism 31. An epidemiological study on the east coast of Sweden in a retrospective cohort of fishermen’s wives observed that high consumption of fish from the Baltic Sea (principal source of this population’s contamination by persistent organochlorine compounds, including PCBs, PCDD/Fs, and DDT) was not associated with a higher frequency of miscarriage and/or stillbirth 32. As for the chronic effects of organochlorines and DDT, specifically related to obstetric events, the results are still conflicting. Fenster et al. 33 analyzed a cohort of 385 low-income Latino women living in a rural community in California. The authors observed an inverse association between the plasma concentration of HCB-impregnated lipids and fetal growth and delayed gestational age. However, they found no statistically significant association between prematurity and any type of organochlorine. According to Rogan & Chen 34, various previous descriptive and analytic studies identified a strong association between breast cancer and high plasma DDT levels. However, this association has now been challenged, and they report the need to adjust for possible confounders, like degree of exposure, type of DDT metabolites, estrogenic variants, age at menopause, diet, breastfeeding history, different population types, ethnicity, tumor characteristics, and polymorphisms. In relation to obstetric effects, Korrick et al. 35 found an increase in serum DDE associated with an increase in the risk of miscarriage in a group of 15 cases and 15 controls in China. Furthermore, Longnecker et al. 36 evaluated a group of 1,717 pregnant women in the United States and observed an increase in serum DDE associated with a history of miscarriage and stillbirth in previous pregnancies. Longnecker et al. 28 analyzing a cohort of 2,613 pregnant women in the United States, found a strong association between serum DDE levels and prematurity. The same conclusion appeared in a case-control study with 100 cases of prematurity in Mexico by Torres-Arreola et al. 37. As for birth defects, a case-control study by Longnecker et al. 38 including 219 boys with cryptorchidim, 199 with hypospadia (closure disorder of the urethral canal), and 167 with polythelia, and 552 controls in the United States showed a slightly increased risk in the association between DDE and such malformations, but the results were inconclusive. Bhatia et al. 39, in DDT REINTRODUCTION FOR MALARIA CONTROL a similar study with 75 cases of cryptorchidism, 66 cases of hypospadia, and 283 controls in the United States, found a similar slight, non-significant increase for both malformations. Post-natal Beard et al. 40 examined the relationship between plasma DDE and bone mineral density (BMD) in 68 sedentary women who reported adequate dietary calcium intake and found results suggesting that DDT exposure might be associated with reduced BMD. DDT can also delay puberty. The estrogenlike activity of DDT and its isomers is weak as compared to estradiol. However, its bioaccumulation property and long half-life show that human exposure can have estrogen-like effects in some circumstances 5,41,42,43. Turusov et al. 44 report the estrogen-like potential of DDT, assessed in vivo and in vitro. In the former, tests in oophorectomized rats or those with low-weight uteruses showed an important response to the metabolite o,p’-DDT, inhibiting estradiol binding to uterine receptors. In the latter, some DDT and DDE metabolites proved capable of inducing MCF-7 cell proliferation in breast tumors, which are estrogendependent 44. DDT belongs to group IIb in the classification of the International Agency for Research on Cancer (IARC), i.e., possibly carcinogenic in humans 45. The IARC data allow concluding that there is an association between DDT use and cancer in animals. However, the Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR) 10 considers the studies in human contradictory. There was an increased risk of post-DDT-exposure pancreatic cancer, as well as excess incidence of liver cancer and multiple myeloma following occupational exposure to DDT; however, the association was not confirmed, and the exposure conditions were not compared. The association in humans is thus inconclusive 9. Some researchers have made the connection between organochlorine exposure and increased cancer in humans. A hypothesis based on biochemical and epidemiological aspects suggests that organochlorine pesticides may trigger breast cancer due to the adverse effect on estrogen metabolism 45. DDT and its metabolites have been referred to as endocrine disrupters, due to evidence suggesting that they can alter the normal function of the endocrine system and contribute to breast cancer. Dich et al. 46 reviewed the relationship between pesticides and various types of cancers. They found a relationship with soft tissue sarco- ma, non-Hodgkin lymphoma, and leukemia, and less consistently with lung and breast cancer. There is also evidence that organochlorine pesticides act as active promoters of carcinogenesis, i.e., not inducing the genetic event that participates in the initiation phase of cancer, but potentiating or “promoting” the clonal expansion of the initiated cells 46,47. Breast cancer mortality is inversely correlated with DDE levels in adipose tissues in whites and blacks. None of the other cancer types showed a positive correlation with DDE concentration in adipocytes, except in liver cancers, with a positive correlation in whites and a negative correlation in blacks (Cocco et al., 2000, apud Snedeker 48). Romieu et al. 49 analyzed the relationship between breastfeeding history, plasma DDT and DDE levels, and breast cancer risk in a study of women living in Mexico City from 1990 to 1995. Serum DDT level was not associated with cancer risk, but the presence of high DDE levels, principally among post-menopausal women, can increase breast cancer risk. Bohannon et al. 50 in a cohort of 1,407 women with breast cancer in a case-control study in the United States, observed an association between this outcome and serum DDE level. Reintroduction of DDT: costs and benefits There is an intense debate in the United Nations Environment Program (UNEP) concerning the ban on DDT and 11 other persistent organic pollutants 51. However, there are regions in the world where DDT use is the only malaria vector control strategy, as in some countries in Africa, Asia, and Latin America. One position thus defends the restricted use of this compound for public health purposes, as long as the cost-benefit relationship between risk and positive effects is favorable, and where there is no other vector control alternative, meanwhile without failing to signal the need to invest in research resulting in malaria vaccines or the development of other types of insecticide 33,51. In principle, DDT was banned due to its adverse effects on the environment, like the high persistence in different environmental compartments and bioaccumulation and biomagnification in living organisms, including human beings 43. In September 2006, the World Health Organization (WHO) recommended the use of household spraying with DDT and other insecticides for malaria control 52,53,54,55,56. At that time, the WHO cited many reasons for using DDT for this Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 2839 2840 Guimarães RM et al. purpose, including that DDT has a longer action time, and thus fewer household sprayings are needed, so that it is capable of repelling mosquitoes from inside dwellings and killing those present on sprayed surfaces 53,56. Since then, some African countries began to reintroduce DDT in their endemic disease control activities 54,55. Recent publications have resumed this discussion on the benefit of reintroducing DDT. Rehwagen 57 notes that the last WHO recommendation tends towards the use of DDT not only in epidemic areas, but also in those with high and constant malaria transmission rates, which includes all of Africa. Mandavilli 58,59 reiterates this observation. According to Rogan & Chen 34, when the global ban on DDT was proposed in 2001, numerous countries in Sub-Saharan Africa claimed that DDT was still necessary as a cheap and effective form of vector control, especially contributing to the reduction of child mortality. In this study, the author also describes research showing that DDT exposure in the amounts needed for malaria control could cause pre-term birth, thus overweighing the benefit of reducing the infant mortality from malaria. They conclude the study by recommending that DDT might be useful for malaria control, but that the evidence of adverse effects on human health requires appropriate research to determine whether there is in fact a positive cost-benefit relationship with its use. Some recent studies have shown diverging opinions. Maharaj et al. 60 attempted to determine whether reintroducing DDT in vector control would have some effect on malaria transmission in the province. The study was designed after the local malaria epidemic in 2000 was attributed to vector resistance to pyrethroids. Their conclusion was that reintroducing DDT had a positive impact on malaria control, contributing to a reduction of up to 91% in cases, together with other measures like chemotherapy. Still, they highlight that the success was due to the adoption of multiple strategies, and that routine practice includes the exclusive and continuing use of DDT in endemic malarias areas in the province. They also report that this practice is currently threatened by the emergence of DDT resistance. A recent article by Etang et al. 61 showed deleterious mutations in the Leu-Phe and Leu-Ser amino acid sequences in Anopheles gambiae mosquitoes associated with pyrethroid or DDT resistance in Cameroon. Meanwhile, Cui et al. 62 state that in China, large amounts of four classes of insecticides (organochlorines, organophosphates, carbamates, and pyrethroids) are sprayed yearly in fields and plantations, thereby leading directly or indirectly to a rigorous natural selec- Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 tion of the vector population. Cui et al. 62 also describe seven classes of the most frequent mosquitoes in China, like the Aedes, Anopheles, and Culex genera, all of which are disease vectors, and all of which except the carbamates have generally presented resistance to pesticides. Some public health programs have focused on studying the cost-effectiveness of this practice with DDT, for example in Cameroon 63, Mozambique 64, Kenya 65, South Africa 66, India 67, Vietnam 68, Eritrea 69, and Ghana 70. In general, the continuous use of DDT for vector control, but not for agriculture – the condition approved by the Stockholm Convention on Persistent Organic Pollutants – has proven to be a good alternative for malaria control. There are also other highly successful experiences in countries that have used environmental modification programs to eradicate mosquito larvae, as in the case of Malaysia 71 and Zambia 72, using water level variation in reservoirs, intermittent irrigation in agriculture, removal of part of the emerging vegetation, and even introduction of larvicidal biological agents in the environment, like bacteria 73, fungi 74, and some algae 75. These are believed to be alternatives to DDT use. However, little is said about their environmental impact, especially for those that alter the ecosystem. It is still not known whether these measures may be as harmful or even worse than DDT itself. The range of studies shows the great variability in DDT resistance, according to the target area. Such evidence requires more in-depth research to reach a conclusion on this relationship. It is also necessary to obtain genetic monitoring data on mosquito strains to verify the possibility of vector migration from areas where they are resistant to areas where they are susceptible. DDT use thus remains as an issue for decision-makers in endemic malaria areas due to its historical success in malaria control. To make an evidence-based decision, health system managers will face the difficult task of estimating the risk and benefits. The association between DDT and certain types of cancer (e.g., of the breasts, endometrium, ovaries, prostate, testes, and thyroid) and other endocrine effects is still a controversial issue 76. Cocco 77 provides a review of experimental and epidemiological studies suggesting or refuting the associations, but which were modeled and designed differently. DDT is far from problem-free. Some African countries that export farm produce remain concerned about a possible boycott of their products by European Union countries, which now seek to set tolerance limits well below those of other developed countries like the United States and DDT REINTRODUCTION FOR MALARIA CONTROL Japan 78. The global community needs to be sure that DDT is only used to fight malaria mosquitoes, and not the African economy. The commitment by non-African countries to reintroducing DDT is thus indispensable. Thus, eradicating the mosquito to prevent malaria mortality implies that the African countries should have relative economic stability with this new social standard. The debate over vector control vis-à-vis malaria resurgence is still vital, but it should include all the relevant evidence for countries with social weaknesses. For example, as an endocrine disruptor, DDT is capable of decreasing ductal sensitivity to prolactin, decreasing the amount of breast milk produced, and thus shortening breastfeeding time 5,10,14. This fact is non-negligible, considering that breast milk is often the only meal for African infants, even those over six months of age 79,80. Conclusion Malaria is a major public health problem, and effective treatment and prevention efforts are necessary. This article proposed to help elucidate the issue by highlighting some endocrine and reproductive outcomes of chronic DDT exposure. The Global Strategy for Malaria Control is the focus of intense discussion in the international arena 57,59,78. We are still far from reaching a consensus on DDT use for controlling endemic diseases. There is considerable evidence on DDT’s adverse effects on the environment and human health 77. Still, malaria is a serious public health problem in developing countries like those of Sub-Saharan Africa, leading to extensive mortality 81. According to some authors, the malaria cases and deaths that could be averted by DDT far outweigh the health problems arising from its use 81,82,83. Meanwhile, others have shown a clear concern over the future use of DDT (even if rationally applied) for vector control 34,77. There is no ideal solution to vector control problems. Even intradomiciliary DDT spraying has its limitations 82. However, in many places, especially in the Sub-Saharan countries, it is the best or even the only form of control 81. This is not a closed discussion, quite to the contrary. We must assess the short-term benefits that DDT will bring for countries with adverse endemic malaria statistics, without losing sight of the probable long-term harms from exposure to this insecticide. Based on this assessment, we should rely on common sense to reach the best decision. Resumo Contributors O DDT é um inseticida persistente que foi amplamente utilizado no mundo a partir da década de 40 até a de 70, quando foi banido nos Estados Unidos e outros países. A maioria dos efeitos de sua toxicidade não é observável em formas agudas, mas especialmente após exposições crônicas. Dentre estes aspectos em longo prazo estão os efeitos reprodutivos, que variam de acordo com o a época da vida em que as pessoas foram expostas. Os objetivos deste estudo são: revisar os principais efeitos toxicológicos do DDT na reprodução, estratificando de acordo com os períodos fisiológicos de exposição; e a partir da magnitude destes efeitos discutir o custo-benefício da volta da utilização do DDT com critérios definidos de eliminação de vetores da malária. All the authors participated in the selection of material, drafting of the paper, and discussion and final review of the article. DDT; Exposição a Praguicidas; Malária Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 2841 2842 Guimarães RM et al. References 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa de análise de resíduos de agrotóxico em alimentos. Relatório anual 04/06/2001–30/06/2002. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2002. Peres F, Oliveira-Silva JJ, Della-Rosa HV, Lucca SR. Desafios ao estudo da contaminação humana e ambiental por agrotóxicos. Ciênc Saúde Coletiva 2005; 10:27-37. Braga AMCB. Contaminação ambiental por hexaclorociclohexano em escolares na Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, Rio de Janeiro [Masters Thesis]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz; 1996. Flores AV, Ribeiro JN, Neves AA, Queiroz ELR. Organoclorados: um problema de saúde pública. Ambiente & Sociedade 2004; 7:111-24. Klaassen CD. Casarett and Doull’s toxicology: the basic science of poisons. 6th Ed. Philadelphia: McGraw-Hill; 2001. Carlson R. Silent spring. New York: Fawlett Cresa Books; 1962. Meyer A, Sarcinelli PN, Abreu-Vilaça Y, Moreira JC. Os agrotóxicos e sua ação como desreguladores endócrinos. In: Peres F, organizador. É veneno ou remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2003. p. 101-18. D’Amato C, Torres JPM, Malm O. DDT (dicloro difenil tricloroetano): toxicidade e contaminação ambiental – uma revisão. Quími Nova 2002; 25:995-1002. World Health Organization. Environmental health criteria: DDT and its derivatives – environmental aspects. Geneva: World Health Organization; 1989. Agency for Toxic Substances and Disease Registry. Toxicological profile for DDT/DDD/DDE (update). Atlanta: Agency for Toxic Substances and Disease Registry; 2002. La Dou J. Current occupational & environmental medicine. 3rd Ed. Philadelphia: McGraw-Hill; 2004. Read ST, McKinley WP. DDT and DDE content of human fat: a survey. Arch Environ Health 1961; 3:209-11. Kasper DL, Braunwald E, Fauci A, Hauser S, Longo D, Jameson JL. Harrison’s principles of internal medicine. 16th Ed. New York: McGraw-Hill; 2005. Rosenstock L, Cullen M, Brodkin C, Redlich C. Textbook of clinical occupational and environmental medicine. Philadelphia: W.B. Saunders; 1994. Felig P, Baxter JD, Frohman LA. Endocrinology and metabolism. 3rd Ed. New York: McGraw-Hill; 1995. Mendes R. Patologia do trabalho. 2a Ed. Rio de Janeiro: Editora Atheneu; 2005. Nelson DL, Cox MM. Lehninger’s principles of biochemistry. 4th Ed. New York: McGraw-Hill; 2004. Bitman J, Cecil HC. Estrogenic activity of DDT analogs and polychlorinated biphenyls. J Agric Food Chem 1970; 18:1108-12. Bryan TE, Gildersleeve RP, Wiard RP. Exposure of Japanese quail embryos to o,p’-DDT has longterm effects on reproductive behaviors, hematology, and feather morphology. Teratology 1989; 39: 525-35. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 20. Lemasters GK, Perreault SD, Hales BF, Hatch M, Hirshfield AN, Hughes CL, et al. Workshop to identify critical windows of exposure for children’s health: reproductive health in children and adolescents work group summary. Environ Health Perspect 2000; 108 Suppl 3:505-9. 21. Pryor JL, Hughes C, Foster W, Hales BF, Robaire B. Critical windows of exposure for children’s health: the reproductive system in animals and humans. Environ Health Perspect 2000; 108 Suppl 3:491503. 22. Selevan SG, Kimmel CA, Mendola P. Identifying critical windows of exposure for children’s health. Environ Health Perspect 2000; 108 Suppl 3:451-5. 23. Ayotte P, Giroux S, Dewailly E, Hernández Avila M, Farias P, Danis R, et al. DDT spraying for malaria control and reproductive function in Mexican men. Epidemiology 2001; 12:366-7. 24. Hauser R, Chen Z, Pothier L, Ryan L, Altshul L. The relationship between human semen parameters and environmental exposure to polychlorinated biphenyls and p,p-DDE. Environ Health Perspect 2003; 111:1505-11. 25. Hauser R, Chen Z, Pothier L, Ryan L, Altshul L. Lack of an association between environmental exposure to polychlorinated biphenyls and p,p-DDE and DNA damage in human sperm measured using the neutral comet assay. Hum Reprod 2003; 18:2525-33. 26. Waissmann W. Endocrinopatologia associada ao trabalho. In: Mendes R, organizador. Patologia do trabalho. São Paulo: Editora Atheneu; 2003. p. 1093-138. 27. Mantovani A. Problems in testing and risk assessment of endocrine disrupting chemicals with regard to developmental toxicology. Chemosphere 1999; 39:1293-300. 28. Longnecker MP, Klebanoff MA, Zhou H, Brock JW. Association between maternal serum concentration of the DDT metabolite DDE and preterm and small-for-gestational-age babies at birth. Lancet 2001; 358:110-4. 29. Akkina J, Reif J, Keefe T, Bachand A. Age at natural menopause and exposure to organochlorine pesticides in Hispanic women. J Toxicol Environ Health A 2004; 67:1407-22. 30. Cohn BA, Cirillo PM, Wolff MS, Schwingl PJ, Cohen RD, Sholtz RI, et al. DDT and DDE exposure in mothers and time to pregnancy in daughters. Lancet 2003; 361:2205-6. 31. Hosie S, Loff S, Witt K, Niessen K, Waag KL. Is there a correlation between organochlorine compounds and undescended testes? Eur J Pediatr Surg 2000; 10:304-9. 32. Axmon A, Rylander L, Strömberg U, Hagmar L. Miscarriages and stillbirths in women with a high intake of fish contaminated with persistent organochlorine compounds. Int Arch Occup Environ Health 2000; 73:204-8. DDT REINTRODUCTION FOR MALARIA CONTROL 33. Fenster L, Eskenazi B, Anderson M, Bradman A, Harley K, Hernandez H, et al. Association of in utero organochlorine pesticide exposure and fetal growth and length of gestation in an agricultural population. Environ Health Perspect 2006; 114:597-602. 34. Rogan WJ, Chen A. Health risks and benefits of bis(4-chlorophenyl)-1,1,1-trichloroethane (DDT). Lancet 2005; 366:763-73. 35. Korrick SA, Chen C, Damokosh AI, Ni J, Liu X, Cho SI, et al. Association of DDT with spontaneous abortion: a case-control study. Ann Epidemiol 2001; 11:491-6. 36. Longnecker MP, Klebanoff MA, Zhou H, Brock JW. Maternal serum level of the DDT metabolite DDE in relation to fetal loss in previous pregnancies. Environ Res 2005; 97:127-33. 37. Torres-Arreola L, Berkowitz G, Torres-Sánchez L, López-Cervantes M, Cebrián ME, Uribe M, et al. Preterm birth in relation to maternal organochlorine serum levels. Ann Epidemiol 2003; 13:158-62. 38. Longnecker MP, Klebanoff MA, Zhou H, Brock JW. Maternal serum level of 1,1-dichloro-2,2-bis(p chlorophenyl)ethylene and risk of cryptorchidism, hypospadias, and polythelia among male offspring. Am J Epidemiol 2002; 155:313-22. 39. Bhatia R, Shiau R, Petreas M, Weintraub JM, Farhang L, Eskenazi B. Organochlorine pesticides and male genital anomalies in the child health and development studies. Environ Health Perspect 2005; 113:220-4. 40. Beard J, Marshall S, Jong K, Newton R, Triplett-McBride T, Humphries B, et al. 1,1,1-trichloro-2,2-bis (p-chlorophenyl)-ethane (DDT) and reduced bone mineral density. Arch Environ Health 2000; 55: 177-85. 41. Jequier AM. Male infertility: a guide for the clinician. Oxford: Blackwell Science; 2002. 42. Meltzer M, editor. The handbook of environmental chemistry. Berlin: Springer-Verlag; 2002. 43. Meyer A, Sarcinelli PN, Moreira JC. Estarão alguns grupos populacionais brasileiros sujeitos à ação de disruptores endócrinos? Cad Saúde Pública 1999; 15:845-50. 44. Turusov V, Rakitsky V, Tomatis L. Dichlorodiphenyltrichloroethane (DDT): ubiquity, persistence, and risks. Environ Health Perspect 2002; 110:125-8. 45. International Agency for Research on Cancer. Lists of IARC evaluations. http://Monographs. Iarc.Fr/Monoeval/Crthall.html (accessed on 26/ Mar/2006). 46. Dich J, Zahm SH, Hanberg A, Adami HO. Pesticide and cancer. Cancer Causes Control 1997; 8:420-43. 47. Silveira CTA, Bombardi S, Rego MAV, Ferreira ZM, Araújo JB. Debate sobre contaminação química, direitos das pessoas contaminadas e deveres do Poder Público. http://www2.camara.gov. br/comissoes/cdhm/notastaq/nt26062001.pdf (accessed on 02/Apr/2007). 48. Snedeker SM. Pesticides and breast cancer risk: a review of DDT, DDE and dieldrin. Environ Health Perspect 2001; 109 Suppl 1:35-47. 49. Romieu I, Hernandez-Avilla M, Lazcano-Ponce E, Weber JP, Dewailly E. Breast cancer, lactation history, and serum organochlorines. Am J Epidemiol 2000; 152:363-70. 50. Bohannon AD, Cooper GS, Wolff MS, Meier DE. Exposure to 1,1-dichloro-2,2-bis(p-chlorophenyl)ethylene (DDT) in relation to bone mineral density and rate of bone loss in menopausal women. Arch Environ Health 2000; 55:386-91. 51. Ross G. Risks and benefits of DDT. Lancet 2005; 366:1771-2. 52. World Health Organization. WHO gives indoor use of DDT a clean bill of health for controlling malaria. http://www.who.int/mediacenter/news/ releases/2006/pr50/en/print.html (accessed on 02/Apr/2007). 53. United Nations Children’s Fund. Africa malaria report. http://rbm.who.int/amd2003 (accessed on 02/Apr/2007). 54. Attaran A, Maharaj R. Doctoring malaria, badly: the global campaign to ban DDT. BMJ 2000; 321:1403-5. 55. Rogan WJ. The DDT question. Lancet 2000; 356:1189. 56. Smith AG. How toxic is DDT? Lancet 2000; 356: 267-8. 57. Rehwagen C. WHO recommends DDT to control malaria. BMJ 2006; 333:622. 58. Mandavilli A. Health agency backs use of DDT against malaria. Nature 2006; 443:250-1. 59. Mandavilli A. DDT returns. Nat Med 2006; 12:870-1. 60. Maharaj R, Mthembu DJ, Sharp BL. Impact of DDT re-introduction on malaria transmission in KwaZulu-Natal. S Afr Med J 2005; 95:871-4. 61. Etang J, Fondjo E, Chandre F, Morlais I, Brengues C, Nwane P, et al. First report of knockdown mutations in the malaria vector Anopheles gambiae from Cameroon. Am J Trop Med Hyg 2006; 74: 795-7. 62. Cui F, Raymond M, Qiao CL. Insecticide resistance in vector mosquitoes in China. Pest Manag Sci 2006; 62:1013-22. 63. Carnevale P, Mouchet J. La lutte antivectorielle au Cameroun: passé, présent, avenir. Réflexions. Bull Soc Pathol Exot 2001; 94(2 Pt 2):202-2 64. Coleman M, Hemingway J, Sharp B. Insecticide resistance in Anopheles arabiensis and Anopheles gambiae from Mozambique. J Med Entomol 2006; 43:276-82. 65. Guyatt HL, Kinnear J, Burini M, Snow RW. A comparative cost analysis of insecticide-treated nets and indoor residual spraying in highland Kenya. Health Policy Plan 2002; 17:144-53. 66. Goodman CA, Mnzava AE, Dlamini SS, Sharp BL, Mthembu DJ, Gumede JK. Comparison of the cost and cost-effectiveness of insecticide-treated bednets and residual house-spraying in KwaZuluNatal, South Africa. Trop Med Int Health 2001; 6:280-95. 67. Bhatia MR, Fox-Rushby J, Mills A. Cost-effectiveness of malaria control interventions when malaria mortality is low: insecticide-treated nets versus in-house residual spraying in India. Soc Sci Med 2004; 59:525-39. 68. Verlé P, Lieu TT, Kongs A, Van der Stuyft P, Coosemans M. Control of malaria vectors: cost analysis in a province of northern Vietnam. Trop Med Int Health 1999; 4:139-45. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 2843 2844 Guimarães RM et al. 69. Nyarango PM, Gebremeskel T, Mebrahtu G, Mufunda J, Abdulmumini U, Ogbamariam A, et al. A steep decline of malaria morbidity and mortality trends in Eritrea between 2000 and 2004: the effect of combination of control methods. Malar J 2006; 5:33. 70. Binka FN, Mensah OA, Mills A. The cost effectiveness of permethrin impregnated bednets in preventing child mortality in Kassena-Nankana district of Northern Ghana. Health Policy 1997; 41:229-39. 71. Konradsen F, van der Hoek W, Amerasinghe FP, Mutero C, Boelee E. Engineering and malaria control: learning from the past 100 years. Acta Trop 2004; 89:99-108. 72. Utzinger J, Tozan Y, Singer BH. Efficacy and costeffectiveness of environmental management for malaria control. Trop Med Int Health 2001; 6: 677-87. 73. Das PK, Amaral DD. Biological control for malaria vectors. Ind J Med Res 1997; 106:174-97. 74. Scholte E-J, Knols BGJ, Samson RA, Takkenet W. Entomopathogenic fungi for mosquito control: a review. J Insect Sci 2004; 4:1-24. 75. Lacey LA, Lacey CM. The medical importance of Riceland mosquitoes and their control using alternatives to chemical insecticides. J Am Mosq Control Assoc 1990; 11:86-9. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(12):2835-2844, dez, 2007 76. Yang M, Park MS, Lee HS. Endocrine disrupting chemicals: human exposure and health risks. J Environ Sci Health C Environ Carcinog Ecotoxicol Rev 2006; 24:183-224. 77. Cocco P. On the rumors about the silent spring: review of the scientific evidence linking occupational and environmental pesticide exposure to endocrine disruption health effects. Cad Saúde Pública 2002; 18:379-402. 78. DDT for malaria control: the issue of trade. Lancet 2007; 369:248. 79. Chen A, Rogan WL. Nonmalarial infant deaths and DDT use for malaria control. Emerg Infect Dis 2003; 9:960-4. 80. Roberts D, Curtis C, Tren R, Sharp B, Shiff C, Bate R. Malaria control and public health. Emerg Infect Dis 2004; 10:1170-1. 81. Tren R, Bate R. South Africa’s war against malaria: lessons for the developing world. Policy Anal 2004; 513:1-20. 82. Roberts DR, Manguin S, Mouchet J. DDT house spraying and re-emerging malaria. Lancet 2000; 356:330-2. 83. Attaran A, Roberts DR, Curtis CF, Kilama WL. Balancing risks on the backs of the poor. Nat Med 2000; 6:729-31. Submitted on 17/Oct/2006 Final version resubmitted on 30/Apr/2007 Approved on 07/May/2007