Abril 2009 - Museu da Lourinhã

Transcrição

Abril 2009 - Museu da Lourinhã
Número 15
Ano 2009
Mês Abril
Museu da Lourinhã
Editorial
O Museu continua a empenhar-se em múltiplas actividades,
colaborando sempre que pode e tem sentido, com outras
entidades.
Em Abril pudemos concretizar esta abertura ao exterior de
duas formas bem distintas: a adesão ao Dia dos Monumentos
e Sítios, com uma vertente de divulgação do património, e a colaboração com
a Expo Mundo Lego, algo realmente único.
Por vezes surge-me uma peça que me deixa verdadeiramente encantado. Foi
o caso este mês, e de tal forma que não resisti a dedicar-lhe a capa e
encontrar uma cor que condissesse. É, espero que concordem, algo de muito
curioso e digno de realce.
Registamos o regresso de um colaborador que nos trás um apelo à preservação
do património. Algo em que todos podemos colaborar.
A terminar, o resultado de um “voo” sobre a Lourinhã e seus arredores,
possível através da “mágica” do Google Earth.
Até breve
Fernando Nogal
Neste número
2 Mensagem do Editor
3 Notícias da Associação
6 Serviços do Museu
Artigos
3
4
5
6
7
8
9
Assembleia-Geral de 28 de Março
Antigas profissões – Os Ourives Ambulantes
Fertilização das Terras – Os Estrumes Orgânicos
Perguntas com Resposta
Palinologia – Corte de Paimogo
Laboratório de Conservação e Restauro – Fabrico de Réplicas
Conservar o Património Geológico e Paleontológico
Precisa-se!…
Capa: Pormenor da decoração de um relógio de sol. Este relógio tem como
particularidades ser portátil e de bolso! Uma preciosidade referida
no artigo da página 4.
Contracapa: Uma vista sobre a Lourinhã, centrada no Museu (39º 14’
32.07”N, 9º 18’ 49.18” W). Imagem de Google Earth
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2
Boletim N.º 15
Abril 2009
Museu da Lourinhã
Notícias
• Visitas e conferências de ilustres paleontólogos
O Professor Paul Upchurch, do Imperial College de Londres, especialista em dinossauros saurópodes,
visitou o Museu tendo proferido uma palestra no dia 28 de Abril. Este paleontólogo participou em
vários capítulos da obra Dinosauria (2ª Edição) uma das principais ferramentas para os paleontólogos.
Além disso tem-se dedicado a vários problemas globais da distribuição e ocorrência de dinossauros,
dando contributos importantes numa sub-disciplina da paleontologia: a paleobiogeografia. Avançou,
inclusivamente, uma substituição de paradigma nas análises genealógicas dos seres vivos, tendo
proposto que a informação geográfica das suas ocorrências também fosse tida em conta.
Outro ilustre visitante, Klaas Post, tem afiliação no Natuurhistorisch Museum Rotterdam e é um dos
especialistas mundiais em zifídeos, nome que designa as baleias-de-bico. Curiosamente, na região de
Peniche, junto com as redes dos pescadores vêm por vezes crânios fosfatizados de zífideos. A região
de Peniche tal como parte das costas de Espanha, Holanda, Itália e África do Sul têm abundantes
vestígios destes fósseis que são recolhidos da mesma maneira. Klaas irá avaliar o espólio do Museu da
Lourinhã que foi doado por um construtor naval director da Fibramar.
Foto: Google-Earth
• Assinalado o Dia dos Monumentos e Sítios 2009
Subordinado ao tema Património e Ciência, e com o objectivo de proporcionar uma oportunidade de
reflexão e de reconhecimento do papel da ciência no património cultural, o IGESPAR promoveu esta
iniciativa, a nível nacional, a que o Museu aderiu. Assim, no dia 18 de Abril pelas 15:00, realizou-se no
Museu uma palestra, proferida pelo Doutor Octávio Mateus, sobre o tema “Património paleontológico,
dinossauros e evolução”.
• Museu apoia a iniciativa da Expo Mundo Lego
O Museu colaborou com a organização da Expo Mundo Lego, realizada na Lourinhã, do modo a
proporcionar às muitas crianças inscritas uma visita ao Museu. a que estas aderiram em grande
número.
• Admissão de Associados
Durante o mês de Março foi aprovado o pedido de admissão de um novo associado.
• Novo livro do Professor Galopim de Carvalho
Com o título “Fora de Portas, Memória e Reflexões”, apresentado pela Âncora Editora, este novo livro
do Professor Galopim de Carvalho relembra a sua vida, desde a infância, dando natural ênfase ao seu
trabalho no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, Universidade que marcou
de forma profunda com a sua personalidade. O livro traz prefácio do Prof. Doutor José Barata Moura e
nele o Prof. Galopim tem a gentileza de se referir ao Museu da Lourinhã e aos seus fundadores.
• Errata
No Boletim nº 14, de Março de 2009, o termo Gingko foi erradamente utilizado em várias páginas
como Ginko. Uma versão já corrigida do Boletim pode ser obtida no sítio Internet do Museu em:
http://www.museulourinha.org/pt/Boletim_Capas.htm
Assembleia-Geral de 28 de Março
A Assembleia-Geral do GEAL reuniu em sessão ordinária no dia 28 de
Março, tendo-se registado cerca de cinquenta presenças e representações. Da Ordem de Trabalhos constava:
1. Apresentação discussão e deliberação sobre o Relatório Anual
de Actividades relativo ao ano de 2008;
2. Apresentação discussão e deliberação sobre o Relatório Anual
de Contas relativo ao ano de 2008;
3. Apresentação discussão e deliberação sobre o Plano Anual de
Actividades e Orçamento Anual relativos ao ano de 2009;
4. Confirmação nominal dos membros do Conselho Científico, nos
termos do Art. 14 dos Estatutos;
5. Outros assuntos de interesse para a Associação.
Registou-se a ocorrência de debate profícuo, tendo-se aprovado todos
os documentos bem como confirmado os membros do Conselho
Científico que são, por ordem alfabética, Professor José Bonaparte,
Professor Miguel Telles Antunes e Professor Philippe Taquet.
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Boletim N.º 15
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Museu da Lourinhã
Antigas profissões - Os Ourives Ambulantes
Os ourives ambulantes que vinham à Região Oeste eram, quase De aldeia em aldeia, vendiam os mais diversos objectos em ouro e
em prata, desde anéis a brincos, de dedais a relógios, e óculos das
mais diversas graduações que os clientes escolhiam até
O ouro provinha das diversas minas de Portugal, exploradas encontrarem os mais adaptados para a sua visão. Embora, por
desde o Calcolítico até à actualidade (exemplo: Minas de norma, os óculos fossem comprados aos amola-tesouras, que se
Aljustrel). Quer o ouro quer a pirite cristalizam no sistema cúbico, deslocavam a Espanha periodicamente, não era este o caso da
sendo ambos amarelos e, à primeira vista, só se distinguem pela Lourinhã em que os óculos provinham de outros locais.
risca, a pirite com risca preta e o ouro com risca amarela, razão
pela qual ainda hoje se chama à pirite “o ouro dos tolos ou dos Os relógios avariados eram arranjados nas terras de origem e
devolvidos na volta seguinte. Também furavam orelhas para
parvos”.
suporte dos brincos. As peças com que mais trabalhavam eram o
canivete de ourives e o alicate.
todos, naturais dos Concelhos de Cantanhede e de Mira.
Passaram-se os tempos e fixaram-se nas respectivas áreas de venda
montando relojoarias e ourivesarias, onde já era possível arranjar
relógios, vender relógios de parede e despertadores, o que era
difícil enquanto ambulantes. Casaram, tiveram filhos, muitos
deles continuando a profissão dos pais.
1. Os ourives deslocavam-se em grupo.
Os já referidos Concelhos de Mira e Cantanhede possuíam
fábricas e depósitos de ouro, principalmente em Febres e Vilamar
e na sede dos Concelhos, comprando-se, também ouro às fábricas
de Gondomar e do Porto.
É neste contexto que surgem os ourives ambulantes (Foto 1).
Deslocavam-se em grupos, quase sempre de comboio, mas
levando as bicicletas e malas tendo cada um a sua área de trabalho
e encontrando-se na mesma pensão, à noite ou em feiras e
mercados.
Que se saiba, a primeira
ourivesaria da Lourinhã, sita na
antiga Praça da República
(Anuário Comercial de Portugal,
1931) pertencia a Francisco
Ferreira dos Santos, também
conhecido por Francisco Picão.
Segundo informações orais
comercializava mais relógios que
ouro.
José Maurício ficou na Lourinhã,
montando uma relojoaria e
ourivesaria na rua Miguel
Bombarda e, mais tarde, na
Praça Marquês de Pombal, 3. José Maurício, à direita.
comprando, depois, a loja de
Francisco Picão.
Albino Tomásio, um dos companheiros do Maurício, ficou em
Peniche, assim como outros no Bombarral e Torres Vedras.
O chapéu e a bicicleta “Ralia” com a mala em folha e de cor verde,
presa ao suporte por cintas de cabedal, identificavam, por si só, a O Museu da Lourinhã tem
uma exposição sobre o
profissão!
ourives ambulante tendo as
peças sido oferecidas pelos
filhos de José Maurício.
Não foi possível recuperar a
bicicleta original pelo que se
utilizou outra idêntica doada
pelo senhor Toscano.
Terminamos com
curiosidade ...
„ Horácio Mateus
uma
4. Relógio de sol e de bolso,
um dos primeiros relógios
fabricados pelo homem
2. Mala de ourives (GEAL-Etn 1388) com os mostruários
(GEAL-Etn. 1389).
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Boletim N.º 15
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Museu da Lourinhã
FERTILIZAÇÃO DAS TERRAS - OS ESTRUMES ORGÂNICOS
No início do século XX, em todo o País, a maioria dos estrumes
que ardia durante dias, a que se chamava boiça.
provinha dos pátios, das cocheiras e das queimadas.
Já na fazenda todo o estrume era colocado num monte de forma
quadrada ou rectangular (os agricultores tinham brio na
apresentação do monte de forma a parecer mais higiénico), onde
ficava a curtir até à altura das
sementeiras ou de adubar vinhas e
pomares. Para todo este trabalho as
alfaias utilizadas eram as forquilhas e
gadanhas.
Os pátios com sama, mato dos pinhais ou engaço de bagaço, e
sempre adjacentes às casas agrícolas,
onde se criavam galinhas, patos e perus
e onde se situavam as quartelhas dos
porcos ou outros animais à solta.
Todos os detritos da cozinha, bem
como as cinzas da fornalha, tinham o
mesmo destino (as galinhas espojavamse nas cinzas por causa dos piolhos).
Os pátios serviam ainda como retretes
pois casas de banho não existiam.
Nos finais do Verão o estrume era
retirado para a fazenda e colocado
novo mato resultante da limpeza dos
pinhais.
Nas cocheiras onde os animais estavam
presos à manjedoura, a sua cama era
mudada diariamente, tirando-se o
estrume das patas para um monte, a
palha das mãos para as patas e os
retraços da manjedoura para as mãos.
Cama limpa! Quando o monte de
estrume estava grande era transportado para a fazenda.
Dos primeiros fertilizantes à venda, os
mais famosos eram o “Nitrato do
Chile”, proveniente do guano das aves
acumulado ao longo de milhares de
anos e a purgueira composta de restos
de engaços de bagaço e azeitona e outros
produtos orgânicos. Também se vendiam
outros adubos anunciados em “O Imparcial,
semanário da Lourinhã de 11 de Novembro
de 1906”.
Começaram a aparecer os adubos químicos.
Nas terras destinadas a batatas, hortaliças e
cereais, todas as ervas daninhas, caniços e
silvas eram amontoados e largado o fogo,
“O Imparcial”, de 11 de Novembro de
1906.
Abril 2009
O estrume fresco emanava calor razão
porque nas zonas mais frias de
Portugal o gado ficava no rés-do-chão
(lojas) e as casas no primeiro andar.
Na Lourinhã, no Inverno, em cima do
monte da fazenda colocavam-se
sementes de hortaliça para depois se
plantar. (Uma nota curiosa, a dos
petrolinos que, para o azeite não
coalhar, depositavam as bilhas sobre
um oleado que cobria o estrume da
cocheira para que, na volta do dia
seguinte, o azeite estivesse líquido).
“Tentativa”, de 28 de Dezembro de
1902.
Boletim N.º 15
“Tentativa”, de 30 de Novembro de
1902.
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Museu da Lourinhã
novas vinhas e pomares. A vinha de meu Pai, na Galeana, foi
plantada com pilatos.
O BOM DE VIVER À BEIRA MAR
Aproveitava-se outro tipo de estrume. Quando o mar estava
revolto, dava à costa grandes quantidades de limo que era de
imediato recolhido e aproveitado pelos agricultores.
Quando a maré estava baixa, apanhavam-se pilatos (pequenos
caranguejos) para a mesma finalidade e que eram também
comprados aos Penicheiros e Ferralejos. Estes restos orgânicos,
mais fortes que os restantes, eram mais utilizados nos plantios de
Os nossos avós, sem o saberem, já faziam reciclagem e, ao
aproveitarem o mato para os pátios e cama das bestas, limpavam
os pinhais e, automaticamente, protegiam a floresta contra o fogo.
Quase auto-suficientes, pouco utilizavam adubos na Lavoura não
dando azo ao envenenamento de terrenos e cursos de água.
„ Horácio Mateus
Perguntas com resposta!
Aqui fica mais uma pergunta que nos chegou por correio
electrónico (decididamente o método mais expedito). Como
verão, os nossos paleontólogos não tiveram dúvidas.
Reproduzimos uma das fotos.
Não são fósseis, mas sim minerais! O hábito, curioso, destes
minerais (os mineralogistas chamam “hábito” à forma como os
minerais geralmente cristalizam) chama-se dendrítico, ou, com
forma de árvore.
Geralmente o mineral mais comum que forma estas árvores é a
Agradecia que me dissessem que fósseis são estes, que parecem de pirolusite, um hidróxido de manganês e ferro; mas existem
plantas. Mando duas fotos, desculpem a qualidade. Muito obrigado. outros como a holandite, por exemplo. A grande maioria dos
As
fotografias
mostram
cristais de dendrites em
calcário. Embora tenham o
aspecto de uma planta ou
fungo, as dendrites não têm
origem biológica e resultam
da impregnação lenta de
cristais de magnésio e ferro
nos interstícios do calcário.
As dendrites são comuns em
calcários litográficos como os
de Solnhofen que preservaram
os famosos fósseis de
Archaeopteryx, a primeira ave
fóssil.
Em Portugal ocorrem vulgarmente em pedras de calcário do Jurássico médio.
„ Octávio Mateus
minerais com este hábito têm manganês na sua constituição, e
pode-se formar em calcários
(talvez o mais comum) mas
até mesmo em grandes cristais
de quartzo.
Os minerais de pirolusite que
se formam no calcário resultam da resposta à diagénese
(processo de litificação, ou
seja processo de transformação de sedimentos em rochas).
Neste processo a água, rica
em "minerais dissolvidos", é
expulsa dos interstícios dos
clastos carbonatados, possibilitando o "crescimento" da
pirolusite; também pode
acontecer posteriormente à litificação pela circulação de água rica
em manganês e ferro nas fracturas do calcário. „ Ricardo Araújo
O Museu da Lourinhã disponibiliza os seguintes Serviços:
•
•
6
Visitas guiadas e palestras
Paleontologia:
o Preparação de fósseis
o Elaboração de moldes
o Venda de réplicas
•
•
Boletim N.º 15
Conservação e restauro de peças
Workshops:
o Conservação e restauro
o Réplicas
o Preparação de fósseis
Abril 2009
Museu da Lourinhã
Palinologia - Corte de Paimogo
A
cópio óptico e, também, ao microscópio
electrónico.
palinologia, termo proveniente das
palavras gregas pale (pó) e logos (palavra,
ciência), estuda as células vegetais produzidas
pelos órgãos reprodutores das plantas: os
esporos e os pólens.
Num significado mais
lato, a palinologia
refere-se ao estudo de
todo o conteúdo existente numa lâmina ou
conjunto de lâminas
Gingko biloba
observadas ao microscópio e que podem conter, entre outros,
detritos vegetais, algas planctónicas,
dinoflagelados, foraminíferos, pólens e
esporos.
A associação palinológica é relativamente
homogénea, pouco diversificada, comportando, apenas, palinomorfos de origem
continental, dispersos entre bastantes detritos
vegetais indeterminados.
Entre estes estão fragmentos de epiderme e
fragmentos de traqueites
com pontuações aureoladas bisseriadas, provavelmente de madeira de conífera como o Brachyphyllum.
Pólens de pinus
Em 1890, Wenceslau de Lima descreveu no
seu estudo florístico, espécies emissoras de
esporos do permo-carbónico do Bussaco. Na
década de 40 do século XX, Carlos Ribeiro
retomou estes estudos e, em 1943, fez
acompanhar o estudo de macrofósseis das
argilas de Porto Côvo com a análise polínica
residual destas argilas.
Mais recentemente,
João
Pais,
Paulo
Trincão, Lígia Sousa,
Bouland, Van Erve,
Bárbara Mohr, Friis,
entre outros, retoPinheiros
maram o interesse pela
palinologia do Jurássico em Portugal.
As amostras para o nosso estudo foram
recolhidas entre Vale Pombas e Paimogo, ao
longo de 1.500 metros. A espessura acumulada das diferentes camadas estratigráficas é de
cerca de 90 metros.
A litologia é, essencialmente, constituída por
siltes, argilas e grés. Certos níveis contêm
abundantes restos vegetais e impressões de
ramos de Brachyphyllum (conífera arcaica).
Cedros
Abril 2009
A matéria orgânica foi
extraída seguindo os
processos clássicos de
esmagamento, neutralização das amostras e
eliminação dos silicatos.
As lâminas foram
observadas ao micros-
Araucária
A ausência de quistos de dinoflagelados ou de
acritarcos (organismos microscópicos de
origem marinha) indica que o ambiente de
depósito foi feito ao abrigo de qualquer
influência marítima.
A associação polínica tem uma maior
predominância estatística de esporos triletes o
que permite deduzir que a flora envolvente
era essencialmente composta por Pteridófitas,
em particular as Filicófitas (fetos, muitos deles
arbóreos).
Esporo de Patellasporites
t
d
i
Pólen de Araucariecites
australis.
O predomínio de pólens é
relativamente baixo mas
entre estes destaca-se uma
grande percentagem de
Corollina
/Classopollis
característico de plantas de
clima quente, mais ou
menos seco, o Brachyphyllum.
Fetos
Encontramos também Applanopsis dampieri,
produzido por outra conífera, Podocarpites sp.,
produzido por podocarpáceas, diversos pólens
bissacados
produzidos
por
pináceas,
Araucaracites australis proveniente de araucária
e Monossulcites produzidos por cicas.
Conclusão
Esporo de Tessalatosporis
escheri
Boletim N.º 15
A floresta era aberta,
dominada pelas coníferas
que incluíam abetos,
cedros,
pinheiros
e
araucárias,
sendo
o
Brachyphyllum a mais
abundante.
Cyca revoluta
7
Museu da Lourinhã
A vegetação descrita, principalmente a
presença de Brachyphyllum, define um clima
quente a seco. No entanto, a presença de fetos,
alguns arbóreos, implica a existência de
grande abundância de água, certamente
lagunar. „ Isabel Mateus
O estádio arbustivo e herbácio era composto
por Pteridófitas e Filicínias. As cicas, pouco
abundantes, eram representadas pela Cyca
williamsonia. Ao nível mais baixo encontravase a selaginela.
A presença dos diversos esporos do género
Cicatricosisporites implica uma idade do
Kimeridgiano ao Portlandiano. A ausência de
pólens de angiospérmica limita a idade
geológica ao Jurássico.
Esporo de Cicatricosisporites sp.
Laboratório de Conservação e Restauro
Fabrico de réplicas
Já aqui foi referido que o Museu da Lourinhã, através do seu
Laboratório, tem capacidade para executar moldes e réplicas de
fósseis e, até, de material de natureza arqueológica, entre outros.
Por várias vezes aceitou encomendas de réplicas dos seus fósseis.
Só este ano já recebeu e respondeu positivamente a duas
importantes solicitações de réplicas por parte de instituições
estrangeiras.
diferentes partes e enche-se o seu interior com espuma de
poliuretano.
As réplicas mais pequenas foram elaboradas em resina de
poliuretano. Sendo indiscutivelmente uma técnica de execução
mais fácil, baseia-se no enchimento dos moldes de silicone,
também feitos para esta ocasião, com a resina. São dados alguns
retoques na pintura.
Não é demais realçar a relevância deste tipo de acções para o
GEAL - Museu da Lourinhã. A venda de réplicas
dá um reflecte-se imediatamente ao nível das
receitas, contribuindo para a saúde
financeira da Associação.
A primeira encomenda envolveu réplicas do
bloco com ossos do Miragaia longiccollum, um
espinho caudal deste mesmo exemplar, uma
tíbia e fémur de Ceratosaurus, bem como
uma tíbia de Torvosaurus.
Igualmente importante, possibilita aos técnicos e voluntários
envolvidos o aperfeiçoamento
dos seus conhecimentos de
elaboração de moldes e
réplicas. Assim, o Museu
adquire capacidade de
resposta para encomendas que se deseja sejam
cada vez mais numerosas.
Em todos os casos, as réplicas ou
originais destes fósseis encontramse na exposição de paleontologia
do Museu da Lourinhã. As
réplicas destinaram-se ao
Parco Safari della Preistoria,
em
Itália, e foram
fabricadas
no
Museu
durante os meses de Janeiro
e Fevereiro.
A
segunda
encomenda,
satisfeita logo em seguida,
visou a entrega de quinze réplicas
de um dente de camarasaurídeo, uma tíbia e um fémur de
Ceratosaurus. Viajaram até à Polónia, para o parque
Dinozatorland.
Estas réplicas são, além
disso, um excelente veículo
de divulgação do Museu da
Lourinhã e do espólio que tem à sua
guarda, repercutindo-se este factor no volume de visitantes, na
recepção de mais encomendas e no interesse de mais
investigadores.
As réplicas maiores foram executadas em resina de poliéster e
fibra de vidro. Resumidamente, a técnica consiste em cobrir-se o
interior dos moldes de silicone com diversas camadas destes
materiais, obtendo-se as várias partes ocas dos ossos. Juntam-se as
Pouco a pouco, os dinossauros da Lourinhã vão “invadindo” os
museus de todo o globo, levando o nome da Lourinhã até ao mais
alto nível do mundo da Paleontologia.
„ Carla Alexandra Tomás
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Museu da Lourinhã
Conservar o Património Geológico e Paleontológico
Precisa-se!
Ao caminharmos pelas nossas praias, quer seja por lazer ou em
pesquisa, é cada vez mais frequente encontrarmos as nossas
arribas “vandalizadas”. Daqui resulta não só a destruição da
paisagem, mas também a destruição de material que poderá ser
importante para a Ciência.
Tem vindo a aumentar a probabilidade de encontrarmos nas belas
praias do nosso país, para além do lixo também presente,
declarações amorosas, exclamações de presença em determinado
local ou, simplesmente, esculturas “artísticas” gravadas nas rochas,
como poderá ver na imagem.
ao trabalho de retirar o exemplar completo; ou outras razões
ainda.
Como reagiríamos se alguém decidisse dirigir-se a uma obra
importante do nosso património, por exemplo o Mosteiro dos
Gerónimos, com o intuito de o cobrir de graffiti ou de lhe
arrancar pedaços?
É lícito perguntar se as actividades de campo que o Museu da
Lourinhã exerce não são também um contributo para a
degradação do património paisagístico, já que ninguém duvidará
do seu contributo científico.
Não será demais salientar a
importância das praias, quer
como fonte de lazer quer a
nível económico, produzindo benefícios que se reflectem em todos.
É verdade que, em grande
parte das nossas intervenções, estamos a destruir
rocha para atingir um fim,
que é retirar um determinado fóssil da rocha.
Sinceramente não sei o que
os autores dessas “obras de
arte” pensam, mas certamente que não estão a prestar
um bom serviço à comunidade.
Contudo, no sentido de
preservarmos o nosso património e minimizarmos ou
anularmos os nossos efeitos
sobre o mesmo, tomamos
várias medidas.
Mas não é só “arte” que
poderão encontrar nas nossas
arribas. Infelizmente, existem muitos caçadores de
fósseis que, para a sua colecção privada ou para venda,
recolhem fósseis indiscriminadamente, sem dar a devida
atenção ao seu valor científico, para não falar da delapidação de uma parte importante do nosso património.
Entre elas, contam-se a
utilização do menor espaço
intervencionado possível, a
remoção do lixo efectuado
durante os trabalhos e o
reposicionamento dos detritos de rocha produzidos, de
modo a deixar o local com
um aspecto não intervencionado.
Assim, deixo um pedido:
por favor divulgue estas
mensagens e não “escreva”
ou “desenhe” nas rochas.
É frequente observarem-se Pormenor de uma arriba a sul da Lagoa de Albufeira,
os efeitos dessas colheitas Península de Setúbal. São bem visíveis as esculturas e
indiscriminadas já que, para desenhos na parede da arriba.
No caso de encontrar algum
quem está familiarizado com
este assunto, é possível distinguir, por exemplo, quando foi achado que pense ser importante, a melhor actuação é não mexer,
partido um osso de dinossauro encontrado no campo, se tomar boa nota do local e tirar fotografias, se possível, e contactar
o Museu por qualquer meio (em pessoa, por telefone, correio
recentemente se antes do mesmo fossilizar.
electrónico ou outro).
A adicionar a este facto, são também visíveis colheitas onde o
responsável recolheu apenas uma parte do osso, deixando ficar o Teremos todo o gosto em visitar o local para examinar o achado e
resto. As razões para tal facto poderão ser várias: desconhe- proceder à sua recolha minuciosa, caso se justifique.
cimento do colector que o tal osso continua; por não se ter dado „ Bruno Pereira
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