Milagre na telona - franthiesco ballerini

Transcrição

Milagre na telona - franthiesco ballerini
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ValeViver
Domingo 5
Setembro de 2010
Dezembro
103
Cinema
Milagre
na telona
Para fechar o ano religioso nos cinemas, estreia dia
17 “Aparecida – O Milagre”, que aborda o surgimento
e a força religiosa de Nossa Senhora Aparecida
Franthiesco Ballerini
São Paulo
E
mbora “Tropa de Elite 2” tenha
sido a maior bilheteria das últimas duas décadas, 2010 será
marcado por outro fenômeno
até então nunca visto no cinema nacional. Trata-se dos
filmes de cunho religioso, que amealharam
uma quantidade enorme de público, nunca
antes registrado. Tudo começou com “Bezerra de Menezes”, que fez mais de 440 mil
espectadores em 2008, surpreendendo o
mercado exibidor nacional.
Vendo a receptividade do público a esse nicho, os produtores aceleraram suas obras e
incrementaram o orçamento, resultando em
dois grandes sucessos de bilheteria em 2010.
“Chico Xavier – O Filme” e “Nosso Lar” foram
vistos por mais de 3,4 milhões de espectadores
cada um. Para fechar o ano religioso nos cinemas, estreia em circuito nacional, dia 17, “Aparecida – O Milagre”, que aborda o surgimento
e a força religiosa de Nossa Senhora Aparecida,
a padroeira do Brasil.
O primeiro grande desafio dos produtores
Gláucia Camargo e Paulo Thiago era como
transpor para as telas a história de uma
santa descoberta no rio Paraíba do Sul em
1717, evitando fazer um filme histórico, que
tradicionalmente não tem feito grande sucesso de bilheteria. Vale lembrar que “Chico
Xavier” se passa no século 20 e “Nosso Lar”
atraiu grande público graças ao visual moderno e digital dos planos espirituais. Para
Aparecida não perder este embalo, a solução
foi dividir a história em três épocas.
Dirigido por Tizuka Yamasaki (“Gaijin”,
“Lua de Cristal”, “Xuxa Popstar”), o longa
começa com um terrível acidente na rodovia
Presidente Dutra, que corta o Vale do Paraíba.
E logo o público é jogado para 1967, quando
o protagonista Marcos (Murilo Rosa) ainda é
garoto e vive em Aparecida com os pais. Muito
humilde, seu pai (Rodrigo Veronese) morre
num acidente e o garoto cresce com raiva
da santa, para quem rezou algumas vezes. É
quando o filme dá outro salto, para 2010, onde
fica a maior parte do tempo. Nesta fase, Marcos é um ambicioso e incrédulo homem de
negócios, separado de sua mulher (Leona Cavalli), com quem teve um filho (Jonatas Faro).
É o tal garoto que sofre um acidente na Dutra.
Visto que a medicina nada poderia fazer por
ele, Marcos reencontra sua fé por Aparecida.
A grande estrela do filme é Murilo Rosa. À revista valeparaibano, ele conta que tem uma
ligação especial com Nossa Senhora Aparecida,
razão pela qual topou protagonizar o filme. Ele
já havia feito outros personagens ligados à fé,
como na novela “A Padroeira” e também na
atual novela, “Araguaia”, na qual ele vive Solano,
um domador de cavalos devoto ao catolicismo.
“Minha família é devota de Aparecida e quando
meu pai fez uma cirurgia no coração, fomos à
Basílica rezar por ele. Eu tenho muita fé nela”,
diz ele, que encarou o desafio de fazer um personagem bem mais velho, pai de um adolescente.
A história da imagem hoje cultuada por milhões de brasileiros só aparece nos trechos
finais da trama. Tizuka reconstitui o ano de
1717, quando a população local estava passando fome porque não havia peixes no rio.
Certo dia, porém, dois pescadores levantaram
SANTA
Cena em que os
pescadores encontram
a imagem de Nossa
Senhora no Rio Paraíba
ValeViver
Fotos: Divulgação
INCRÉDULO
Murilo Rosa vive
Marcos, um homem
que perde sua fé
a rede e encontraram uma imagem, com a cabeça separada. Assim que notaram que era a
imagem de uma mulher negra, ficaram espantados e contaram para os outros presentes na
margem do rio. Em seguida, centenas de peixes começaram a aparecer no rio, registrando
o primeiro milagre daquela que se tornaria, no
século 20, a Padroeira do Brasil.
O filme ainda tem no elenco Maria Fernanda
Cândido, Bete Mendes e Leopoldo Pacheco.
É o primeiro filme brasileiro que teve amplo
acesso para filmar dentro do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, a segunda
maior basílica do mundo, menor apenas que
a Basílica de São Pedro, no Vaticano (Roma).
Em entrevista exclusiva à revista valeparaibano, a diretora Tizuka Yamazaki diz que
foi um grande desafio fazer, pela primeira vez,
um filme religioso. “Não poderíamos deixar a
história cair no ridículo. Tivemos que tomar
muito cuidado com os diálogos, especialmente porque o pessoal de cinema não é lá
muito religioso e poderia falar besteiras que
desagradariam os devotos”, diz ela, que filmou
a cena histórica à beira do rio, quando subitamente caiu uma chuva torrencial que contribuiu para belas imagens finais. “Gostei muito
de filmar no Vale do Paraíba, é uma região
linda e pouco explorada pelo cinema. Como
sou de Atibaia, não é uma paisagem estranha
para mim, mas acabei descobrindo vários objetos de procissão e o teatro local, traços culturais que busquei explorar no filme.”
Este não é um projeto original de Tizuka, ou
seja, não é um filme autoral, como “Gaijin”. Por
ter feito diversos filmes bem-sucedidos como
diretora contratada, ela foi chamada para a
missão de transpor a história da santa nos cinemas. Tizuka vê vantagens e desvantagens
neste perfil de trabalho. “Ser contratado é bom
porque eu não preciso correr atrás de dinheiro,
como têm que fazer todos os diretores com
seus projetos pessoais. Eu só preciso entender o que os produtores querem. Felizmente,
em ‘Aparecida’, eu pude dar minhas opiniões
e meu toque pessoal, mas nem sempre um diretor contratado é capaz de fazer isso. É muito
ruim quando você é chamado para um filme
que não te toca, você não consegue dar tudo de
si. Eu me candidatei a fazer ‘Aparecida’ porque
o filme me toca pessoalmente. É o que eu fazia
também com os filmes da Xuxa e do Didi, eu
achava algum ponto que me estimulava para
dar tudo de mim na produção.”
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Sobre a onda de filmes religiosos no cinema,
Tizuka acredita que exista um desejo do público
por filmes espirituais e que talvez isso não seja
passageiro. “Se as produções continuarem boas,
a bilheteria vai continuar alta”, diz ela. Murilo
Rosa concorda. “O público está despertando
não só para as produções religiosas, como também para o cinema brasileiro como um todo.
Querem ver ‘Nosso Lar’, ‘Tropa’, ‘Aparecida’,
porque têm a ver com eles mesmos, mais do que
um ‘Homem Aranha’ qualquer”, diz ele, que será
visto novamente nas telas em breve nos filmes
“No Olho da Rua”, selecionado para o Festival
de Havana e sem data de estreia, além de atuar
em “Vazio Coração”, de Alberto Araújo, e “15 Minutos para Se Vingar”, de André Moraes.
Mirando o público nas vésperas do Natal,
“Aparecida – O Milagre” é um filme-família,
com algumas boas cenas, como o acidente na
rodovia e a reconstituição do achado da santa,
e outras mais artificiais, fracas. Para os devotos, porém, a cena final ao som de Ave Maria
vai fazê-los esquecer dos pequenos defeitos
cinematográficos e, quem sabe, manter os
filmes religiosos em alta até o ano que vem. •
ELENCO
Maria Fernanda
Cândido também está
no elenco do longa
de Tizuka Yamazaki
MARCONDES CESAR