Empreendedorismo Social

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Empreendedorismo Social
Empreendedorismo Social
Legados da Formação Cidadã para os 80 anos de Londrina
Empreendedorismo Social
Legados da Formação Cidadã para os 80 anos de Londrina
Autores
Ariana Almeida Quelho é formada em Biblioteconomia e Ciência da
Informação na UEL, pós-graduada em Administração de Marketing e
Propaganda. Empresária, Diretora Executiva do Grupo CDI e Membro
do Conselho do Jovem Empresário da ACIL.
Cassiana Stersa Versoza Carvalhal é psicóloga, Mestre em Análise
do Comportamento pela UEL e com MBA em Gestão de Pessoas.
Diretora de Desenvolvimento Organizacional do Grupo CDI e
Professora de Ensino Superior nos cursos de Psicologia e Gestão de
Recursos Humanos.
Ciliane Carla Sella de Almeida é advogada, formada pela UEL,
especializada em Direito Empresarial pela OAB/Inbrape (Londrina) e
Mestranda em Engenharia do Desenvolvimento Local pela Universidade
Católica de Lyon (França). Sócia fundadora da Priori Consultoria.
Cleufe de Almeida é administradora, especialista em Administração
de Marketing e Propaganda, empresária, atua na Seressencial –
soluções empresariais, instrutora e consultora em planejamento,
gestão de pessoas e empreendedorismo.
Gabriela Guimarães é Diretora Executiva, Coach e Instrutora de
Workshops | Team Building corporativos da GROOW|Coaching & D.H.
Expert em processos de Coaching para Desenvolvimento de Liderança,
Planejamento de Carreira, transferências e sucessão de cargos.
Karen Kohlmann Barbosa é graduada em Relações Públicas pela
Universidade Estadual de Londrina e pós-graduanda em Gestão e
Planejamento de Projetos Sociais. Atua como articuladora de redes
no Junt.us Espaço Colaborativo.
Luciana Yuri Shirado é graduada em Secretariado Executivo Bilíngue
(Unifil), Pós Graduada em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria
(ISAE/FGV) e em Marketing, Comunicação e Vendas (Unopar). Atua
com Consultoria e Gestão de Projetos de Inovação e PD&I.
Luzimar dos Santos Ribeiro Mazetto é formada em Letras pela UEL
e possui especialização em Psicopedagogia (UNIFIL), Psicologia da
Educação (UEL) e Educação Especial (UNOPAR). Atua há 17 anos na
Rede Municipal de Educação de Londrina e atualmente no projeto
Pedagogia Empreendedora e Escola de Pais.
Maíra Bendlin Calzavara é advogada, formada pela UEL, pósgraduada em Filosofia Política e Jurídica pela mesma Universidade
e possui LLM em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas.
Sócia fundadora da Priori Consultoria.
Paulo Briguet é jornalista e escritor. Formado pela UEL, atuou
na imprensa da cidade e tem três livros de crônicas publicados. É
assessor de comunicação da ACIL e colunista do Jornal de Londrina e
da Gazeta do Povo.
Paulo Varela Sendin é Engenheiro Agrônomo graduado pela ESALQ
/ USP, possui especialização em Economia Rural e Planejamento
Estratégico. É Consultor em Gestão da Inovação Tecnológica e em
Agronegócio. Atuando na Adetec e na Priori Consultoria.
Rafaela Vieira Marinho é especialista em Gestão e Estratégia
Empresarial e Gestão de Pessoas pela Unifil. Graduada em Serviço
Social pela UEL. Atua como Analista de Responsabilidade Social
do Instituto GRPCOM, responsável pela coordenação regional de
projetos de Responsabilidade Social.
Rodrigo Martins é consultor empresarial na área de Desenvolvimento
Organizacional e Gestão Comercial. Professor convidado dos cursos
de pós graduação do ISAE/FGV, PUC-PR e UNOPAR. Formado em
Administração de Empresas e especialista em Marketing e Propaganda
(UEL). Proprietário da CLEARX CONSULTORIA EMPRESARIAL.
Rosi Sabino é Mestre em Administração. Certificada na metodologia
de Investigação Apreciativa pela Case Western Reserve University.
Membro da Sociedade Brasileira de Coaching. É sócia-diretora da
Link Ideia Desenvolvimento Organizacional.
Sandra Capelo é formada em comunicação social - jornalismo,
gestora de negócios da Associação Evangélica Beneficente de
Londrina (AEBEL).
Tatiana Bittencourt é especialista em Marketing pela ESPM/SP
e graduada em Relações Públicas pela UEL. Participou do curso
Usina de Ideias da Artemísia/SP. Atualmente é pós-graduanda em
Comunicação Popular e Comunitária pela UEL e coordena o projeto
#Partiuvoar, com foco no empreendedorismo jovem na periferia.
Thaís Bruschi é Diretora Executiva, Coach e Instrutora de Treinamentos
| Workshops Corporativos da GROOW|Coaching & D.H. Expert em
processos de Orientação e Planejamento de Carreira, Coaching para
Desenvolvimento de Liderança e Programas de Team Building.
Tiago Garcia é formado Relações Públicas (UEL), especialista em
Economia do Meio Ambiente (UEL) e possui MBA Internacional em
Gerenciamento de Projetos (FGV). Possui formação pela Global Reporting
Initiative, pela Rede Brasileira do Pacto Global das Nações Unidas para
o desenvolvimento de Comunicações de Progresso do Pacto Global e
participou do Project Management na George Washington University.
Copyright 2014® Maria Rosilene Sabino
Copyright 2014® Maíra Bendlin Calzavara
Copyright 2014® Ciliane Carla Sella De Almeida
1a Edição
Londrina • 2014
Projeto Gráfico, Capa e Diagramação : Magz Comunicação
Revisão: Paulo Briguet
Patrocínio / Apoio
Sumário
PREFÁCIO
11
INTRODUÇÃO
13
Acil: o Nós vem antes do Eu
15
A importância do Terceiro Setor na dinâmica do
desenvolvimento local
23
Entendendo melhor os Negócios Sociais
31
Instituto GRPCOM: um caso de estratégia empresarial
para a sustentabilidade
41
Inovação social: instrumento de desenvolvimento e
transformação social
57
O empreendedorismo social e sua contribuição para
formação da cidadania: estudo de caso da Associação
Solidariedade Sempre
65
Maratona de Empreendedores: Inovação e
Desenvolvimento Social em Londrina
77
A abordagem apreciativa na construção de uma visão de
excelência para a educação
89
Pedagogia Empreendedora e suas implicações na rede
municipal de Londrina
103
AINTEC e o empreendedorismo na escola
115
Programa Empresário Sombra: um modelo educativo
para a formação cidadã
121
Entre ações e mediações: A Pedagogia Murialdo na
formação de sujeitos para a sustentabilidade
131
O direcionamento profissional como agente transformador
147
A Pedagogia do Afeto como instrumento para
sustentabilidade social
155
Centro de Apoio e Esperança: Transformando vidas
169
Resíduo Eletrônico: O lixo que pode levar
informação e conhecimento
179
POSFÁCIO
189
PREFÁCIO
Cidadania Empreendedora em Londrina
Ozires Silva
Em pouco mais de 2 anos de atividade o capítulo Londrina da Cátedra Ozires
Silva lança seu segundo livro, demonstrando o alto nível de compromisso com
o Empreendedorismo, a Inovação e a Sustentabilidade que são características
da comunidade londrinense.
Neste ano de 2014 a Cátedra em Londrina se preocupou em oferecer um
presente de aniversário à cidade, comemorando os 80 anos de existência
com o resgate de alguns dos inúmeros exemplos de ações em prol do
desenvolvimento social ocorridas nessas 8 décadas.
A construção de uma forte cultura local de empreendedorismo e cooperação
se inicia logo na chegada dos primeiros pioneiros da ocupação transformadora
do território. Nos idos de 1934 a presença do Estado na região era praticamente
nula, condição esta que passa a despertar, em todos, um sentido de cidadania
voltado para a solução dos problemas locais e não para uma total dependência
de ações governamentais tão usual no imaginário brasileiro.
Essa junção de empreendedorismo e cooperação promoveu ao longo
dos 80 anos de existência de Londrina um enorme elenco de casos de
Empreendedorismo Social permitindo aos organizadores deste livro
selecionar com facilidade esta “amostra” de 16 exemplos de compromisso
desinteressado com o progresso social e econômico da cidade. Aliás, podemos
dizer que, de fato, são 17 exemplos, pois a própria “construção” do livro
pode também ser considerada um empreendimento social, onde 18 autores
colaboraram desinteressadamente para que o objetivo de presentar Londrina
em seu aniversário fosse alcançado. E, além desses autores, envolvidos
diretamente na elaboração dos textos, outros londrinenses ofereceram
também seu trabalho na edição e preparo gráfico da publicação.
Empreendedorismo Social 11
Reafirma-se, portanto, que a criação do Capítulo Londrina da Cátedra Ozires
Silva, vem sendo um empreendimento de sucesso. Os dois livros lançados pelo
grupo de participantes locais, um voltado para o Desenvolvimento Econômico
e a Inovação, e este para o Empreendedorismo Social e a Construção da
Cidadania, comprovam que a cultura local de cooperação desinteressada, com
foco no bem estar da comunidade, produz bons frutos e é sustentável, já que
vem, consistentemente, se fazendo presente ao longo desses 80 anos.
Por outro lado, o sucesso do grupo ao produzir esses dois livros nesse curto
espaço de tempo tem, em si mesmo, a semente de um grande desafio: como
superar as dificuldades inerentes a um trabalho voluntário e conseguir, no
próximo ano, alcançar resultados tão relevantes como os obtidos nestes dois
anos iniciais?
Esse, no entanto e como a história de Londrina mostra, tem sido o
desafio permanente da comunidade londrinense nestes últimos 80 anos:
a superação dos desafios com base na cooperação de todos e a constante
busca de um horizonte cada vez melhor para a cidade. Isso nos dá a certeza
de que, em dezembro do próximo ano, estaremos comemorando não só mais
um aniversário de Londrina, mas também, o anúncio de um novo conjunto de
ações do Capítulo Londrina da Cátedra Ozires Silva.
INTRODUÇÃO
Cátedra Ozires Silva
Paulo Varela Sendin ([email protected])
Pelo segundo ano consecutivo o capítulo londrinense da Cátedra
Ozires Silva vem a público com uma publicação focada em seus objetivos
institucionais de promoção do empreendedorismo e inovação sustentáveis.
No ano passado o foco foi o empreendedorismo em seu viés de inovação
tecnológica. Neste ano, mantendo-se no tema do Empreendedorismo, a
opção foi pelo desenvolvimento social e a construção da cidadania.
A pertinência do tema, em termos dos objetivos da Cátedra, é indiscutível.
Neste ano, no entanto, Empreendedorismo e Cidadania têm um significado
especial para Londrina: ao completar 80 anos, a cidade tem o dever de recuperar
e o direito de comemorar essas oito décadas de ações empreendedoras e de
compromissos de cidadania.
Londrina tem todo um passado empreendedor por ter nascido de um
grande empreendimento e atraído pessoas comprometidas com atividades
igualmente empreendedoras. E seu impressionante crescimento foi
essencialmente baseado nessa vocação.
Ao lado da vocação empreendedora, a comunidade local tem também
uma história de compromisso com o desenvolvimento local baseado na
mobilização cidadã. Até pelo isolamento inicial da cidade, com ínfimos
suportes governamentais, a superação dos desafios e dificuldades sempre se
baseou na organização local e na criação do chamado capital social.
Esse conceito de capital Social é muito importante para o entendimento
dos processos de desenvolvimento. Historicamente as análises do processo
de desenvolvimento econômico (ou, mais adequadamente, de crescimento
econômico...) se baseavam nas chamadas “vantagens comparativas” de cada
Empreendedorismo Social 13
local. Assim, se existisse uma boa disponibilidade de fatores físicos – como
terras, minérios, localização geográfica, etc. – determinada região estaria
“predestinada” ao desenvolvimento.
Atualmente, no entanto, sabe-se que o homem é capaz de superar
eventuais deficiências das “vantagens comparativas” (e, às vezes, desperdiçar
possíveis boas disponibilidade delas...), construindo “vantagens competitivas”
a partir da aplicação de conhecimento e organização.
Uma das “vantagens competitivas” mais importantes é justamente a
construção de capital social, ou seja, a construção da articulação entre pessoas
e entidades de forma a definir objetivos comuns e organizar os esforços
necessários à consecução desses objetivos.
Essa integração entre as pessoas, construindo entidades fortes, e a
interação entre essas entidades, buscando a solução dos problemas que se
apresentavam, permitiu que Londrina se tornasse um exemplo de dinamismo
econômico e social.
Este livro se propõe a resgatar, minimamente, algumas dessas histórias
de construção de entidades preocupadas com o desenvolvimento da
comunidade local, superando a tendência natural de se voltar apenas para
seus próprios interesses.
Assim, ao completar seus 80 anos de existência, Londrina pode olhar
para seus exemplos históricos de empreendedorismo social e construção
de cidadania e espelhar-se neles para definir uma nova visão de futuro,
buscando na ampliação de seu capital social a alavanca para a construção de
um ambiente de alta qualidade de vida para todos os londrinenses.
14 Empreendedorismo Social
Acil: o Nós vem antes do Eu
Paulo Briguet
Resumo:
Ao longo dos últimos 77 anos, o associativismo contribuiu de maneira
decisiva para o desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental de
Londrina. O trabalho da ACIL assegura a continuidade e o aprimoramento
do processo civilizatório iniciado pela Companhia de Terras Norte do Paraná.
Empreendedorismo Social 15
1. A COMPANHIA
“Londrina! Cidade de braços abertos
A todos os filhos do nosso Brasil
E a todos aqueles de pátrias distantes
Que aqui, confiantes, sob um pálio anil
Seu lar construíram e aos filhos se uniram
E aos filhos se uniram do nosso Brasil.”
(Hino de Londrina)
Toda sociedade tem o seu mito fundador. No caso de Londrina, o mito
encontra-se diretamente relacionado à verdade histórica. Foi algo que de fato
aconteceu na tarde de 21 de agosto de 1929, quando o engenheiro agrimensor
russo Alexander Razgulaeff fincou o primeiro marco de colonização no
Patrimônio Três Bocas, depois rebatizado Patrimônio Londrina. Hoje o local
é conhecido como Marco Zero. “Chegamos”, disse Razgulaeff. “Chegamos
aonde?”, perguntou o chefe da expedição, George Craig Smith, que tinha
apenas 20 anos de idade. “Ao início das terras da Companhia”, respondeu o
russo, com seu forte sotaque.
Vários elementos da futura Londrina podem ser identificados naquele
momento histórico. A “Companhia” referida por Razgulaeff era uma empresa
de capital britânico, a Companhia de Terras Norte do Paraná, que planejaria e
executaria a colonização urbana e rural de toda a região. Domingos Pellegrini –
autor do romance “Terra-Vermelha”, épico da colonização de Londrina – afirma
que a Companhia de Terras realizou no norte paranaense a maior reforma
agrária promovida pela iniciativa privada em todo o planeta.
Londrina nasceu como empresa. A palavra “companhia” tem origem nos
termos latinos com (união) e panis (pão). Ou seja: uma companhia é formada
entre homens que confiam uns nos outros a ponto de dividir o mesmo pão.
Esse espírito de companheirismo nortearia os primeiros anos da colonização de
Londrina – cidade que surgiu no meio da floresta. Sem diminuir a importância
dos desbravadores da região – fazendeiros e caboclos que se aventuraram
nas profundezas do sertão paranaense –, não há como negar que a história
16 Empreendedorismo Social
de Londrina começava com aquela palavra de Razgulaeff, um veterano da
Primeira Guerra, exilado pelos comunistas russos. Chegamos.
Outro indício do que viria a ser Londrina está na variedade étnica daquele
grupo de pioneiros. Havia homens com origem britânica (George Craig
Smith), russa (Razgulaeff), alemã (Erwin Fröhlich), italiana (Spartaco Bambi),
portuguesa (Alberto Loureiro) e brasileira (Geraldo Pereira Maia e Joaquim
Benedito Barbosa), sem esquecer os demais integrantes da expedição cujos
nomes infelizmente a história não guardou. Era a semente de Londrina – e o
futuro começaria a germinar numa velocidade assustadora. Em 1938, menos
de dez anos depois da caravana, já havia uma pequena Torre de Babel naquela
cidadezinha da boca do Sertão, com a presença de 1.823 brasileiros (na
maioria vindos de São Paulo e Minas Gerais), 611 italianos, 533 japoneses, 510
alemães, 303 espanhóis, 218 portugueses, 193 poloneses, 172 ucranianos, 138
húngaros, 51 checoslovacos, 44 russos, 34 suíços, 29 austríacos, 21 lituanos, 15
iugoslavos, 12 romenos, 7 ingleses, 5 sírios, 5 argentinos, 3 dinamarqueses, 2
australianos, 2 norte-americanos, 2 suecos, 2 franceses, 2 búlgaros, 2 belgas,
2 liechteinsteinianos, 2 letões, 1 norueguês, 1 indiano e 1 estoniano. Depois
viriam outros, como os libaneses e os nordestinos, formando uma cidade
reconhecida por sua diversidade cultural.
2. A ASSOCIAÇÃO
“Toda a vida (ainda das coisas que não têm vida) não é mais que uma união.
Uma união de pedras é edifício: uma união de tábuas é navio: uma união
de homens é exército. E sem essa união, tudo perde o nome e mais o ser.
O edifício sem união é ruína: o navio sem união é naufrágio: o exército sem
união é despojo. Até o homem (cuja vida consiste na união de alma e corpo)
com união é homem, sem união é cadáver. (...) Ó Deus! Ó homens! Que só a
vossa união vos há-de conservar e só a vossa desunião vos há-de perder!”
(Padre Antônio Vieira, 1662)
O processo civilizatório iniciado pela Companhia de Terras ganharia um
impulso fundamental em 1937. Dois anos e meio depois da emancipação de
Empreendedorismo Social 17
Londrina como município, um libanês chamado David Dequêch, dono de um
armazém, decidiu criar aquilo que poderia parecer loucura aos desavisados.
Reuniu um grupo de 19 cidadãos locais – “os 19 companheiros”, como ele definiu
– e criou a Associação Comercial de Londrina, hoje conhecida como ACIL. A
primeira reunião aconteceu no Líder Clube, na noite de 5 de junho de 1937.
Com a ACIL, a cidade que nasceu como empresa ganhou uma associação de
classe que, dali em diante, iria participar de todos os momentos importantes
da história da cidade. A galeria de presidentes da ACIL reflete a diversidade
étnica que marcou Londrina desde o princípio: como na caravana pioneira e na
bandeira do município, há ali representantes de todos os continentes.
O surgimento da Associação Comercial estava perfeitamente alinhado
com o espírito do pioneirismo. Desde aquela noite histórica no Líder Clube,
homens de diferentes origens culturais se uniram confiantes – como diz a
letra do hino da cidade – em nome do desenvolvimento mútuo. De lá para
cá, a ACIL colocaria em prática os princípios basilares do associativismo: 1)
livre adesão; 2) gestão democrática; 3) participação econômica dos sócios; 4)
aperfeiçoamento contínuo e valorização da educação; 5) interação entre os
associados; e 6) cooperação com a comunidade.
Ao longo da história das civilizações, percebe-se que existe uma íntima
relação entre liberdade e associativismo. O desenvolvimento só é possível
quando as pessoas são livres para empreender, produzindo valores e edificando
a comunidade. Uma associação cumprirá seu papel institucional na medida em
que tiver liberdade e independência para expressar ideias e reivindicações. Não
foram poucas as vezes em que as associações de classe funcionaram como
focos de resistência a governos ditatoriais, autoritários e corruptos.
O primeiro teste de fogo da ACIL viria apenas cinco meses depois da
fundação. Em 10 de novembro de 1937, o presidente Getúlio Vargas deu o golpe
do Estado Novo, fechando todos os legislativos municipais. Sem vereadores, a
cidade recorreu à ACIL para funcionar como poder moderador e fiscalizador da
gestão pública. A história se repetiria nos anos 70, durante o regime militar,
quando a ACIL atuou como centro catalisador dos movimentos políticos e
culturais que lutavam pela democracia e as liberdades públicas no País.
18 Empreendedorismo Social
Entre os desafios da ACIL nos tempos pioneiros, estava a construção de
uma ponte sobre o Rio Tibagi, para facilitar o acesso das pessoas e a circulação
de mercadorias na cidade. Em pleno Estado Novo, David Dequêch e seus
companheiros conseguiram trazer a Londrina o temido e irascível interventor
Manoel Ribas, conhecido como “Mané Facão”, e convencê-lo de que era
necessário construir a tal ponte do Tibagi recorrendo a uma tática inusitada.
No momento em que o interventor decidiu voltar para Curitiba, os cidadãos
locais formaram uma imensa fila para esperar a balsa na margem do Tibagi,
fazendo com que Mané Facão sentisse na pele a importância da construção
da ponte. Em pouco tempo, a obra foi iniciada e concluída. Aquele era apenas
o primeiro dos muitos benefícios que a ACIL ajudaria a trazer para a cidade.
Entre os principais legados da ACIL, destaca-se a criação de instituições que
fazem a diferença na comunidade londrinense. No Palácio do Comércio foram
assinadas as atas de fundação da Sociedade Rural do Paraná, da Santa Casa,
da Associação Médica, da Universidade Estadual de Londrina, do Instituto
Agronômico do Paraná, do Aeroclube, do Conselho Comunitário de Segurança,
do Fórum Desenvolve Londrina e de outras entidades que hoje compõem a
sociedade civil local. Todas elas foram criadas com o DNA associativista, cuja
essência pode ser definida por uma simples frase: “O nós vem antes do eu”.
3. A UNIÃO
“O homem das sociedades tradicionais encontra nos mitos os exemplares
de todos os seus atos. Os mitos lhe asseguram que tudo que ele faz ou
pretende fazer já foi feito no princípio dos Tempos, in illo tempore. Os mitos
constituem, portanto, a súmula do conhecimento útil. Uma existência
individual se torna, e se conserva, uma existência plenamente humana,
responsável e significativa, na medida em que ela se inspira nesse reservatório
de atos já realizados e pensamentos já formulados.” (Mircea Eliade)
Enquanto Londrina se tornava a Capital Mundial do Café, nos anos 50 e
60, a ACIL atuou decisivamente em questões que envolviam a infraestrutura,
a política tributária, o financiamento à produção, o planejamento urbano, o
Empreendedorismo Social 19
resgate da memória e a segurança pública. Toda e qualquer questão relevante
para a comunidade também é relevante para a ACIL. Afinal, as empresas só
prosperam na medida em que o conjunto da sociedade ganha em qualidade de
vida. Há uma relação direta entre livre iniciativa e desenvolvimento humano.
Quanto mais empresas, mais prosperidade e melhores indicadores sociais.
Com a geada de 1975 e o final do ciclo cafeeiro, Londrina viu-se diante do
desafio de reinventar-se. Desde os anos 60, a ACIL já vinha fomentando o
debate para a diversificação econômica do município. Com a criação da UEL
e do Iapar, nos anos 70, a cidade passou a ser um centro de referência na
educação, na pesquisa e no atendimento à saúde. O setor da construção civil
teve um grande impulso nos anos 80, tornando Londrina uma das cidades
mais verticalizadas do Brasil. O comércio e a prestação de serviços ganharam
forte impulso e passaram a atrair visitantes de toda a região.
Uma cidade com Londrina não possui apenas uma vocação. A diversidade
cultural dos tempos pioneiros transforma-se necessariamente em diversidade
produtiva. Em 1987, a ACIL passou a ser denominada oficialmente Associação
Comercial e Industrial de Londrina. O estímulo à industrialização tem sido das
principais bandeiras do associativismo local, considerando as potencialidades
do segmento na produção de valor e na geração de renda. Mais recentemente,
o segmento transversal da tecnologia da informação (TI) ganhou destaque
nas ações da entidade.
A partir dos anos 90, a qualificação dos trabalhadores e empresários tornouse prioridade na ACIL. Anualmente, a entidade sedia mais de 700 palestras,
seminários e cursos em seu Centro de Capacitação. A maior parte dessas
atividades é voltada para a formação de pessoas, com ênfase no aumento
da competitividade empresarial. Há também programas de acesso ao crédito
com juros baixos e gestão financeira para pequenos e médios empresários.
Os serviços de proteção ao crédito e certificação digital atendem a milhares
de pessoas todos os anos. A ACIL dispõe de uma equipe de profissionais
qualificados para atendimento a um público cada vez mais exigente.
20 Empreendedorismo Social
Mas a principal contribuição da ACIL para o desenvolvimento de Londrina
não pode ser definida por seu patrimônio material. A mais importante riqueza
da entidade está nas pessoas e nos valores que elas representam: trabalho,
legalidade, conhecimento, eficiência, gratidão. E tudo isso só é possível quando
as pessoas se unem em torno de causas comuns. Foi assim no movimento Pé
Vermelho Mãos Limpas, em 1999 e 2000, quando as entidades locais, lideradas
pela ACIL, conseguiram enfrentar uma onda de corrupção que tomou de assalto
a administração pública do município. Os líderes do movimento receberam o
Prêmio Integridade, conferido pela Transparência Internacional, em 2001.
Hoje o desafio é melhorar a eficiência da gestão pública e tornar Londrina
um modelo gerencial para o Brasil. A atual diretoria da ACIL condensou essa
tarefa em um lema: Pé Vermelho Mãos Unidas. Nos 80 anos de Londrina, o
presente da ACIL para a cidade se chama união – e inspira-se no exemplo dos
pioneiros vieram de diversas partes do mundo e construíram um sonho no
meio do Sertão paranaense.
Iniciamos este artigo citando os primeiros versos do Hino de Londrina.
A música foi composta pelo maestro Andrea Nuzzi. O empresário Francisco
Pereira Almeida Jr. teve apenas oito dias para escrever a letra do hino, a pedido
do prefeito Antônio Fernandes Sobrinho. Os versos traduzem perfeitamente
a trajetória da cidade: “Londrina! Cidade que sobe e que cresce/ Que brota e
floresce,/ Que em frutos se expande!/ Que a Pátria enriquece,/ Que alta, e que
grande,/ O encanto oferece de sempre menina!”
Como estamos comemorando o aniversário de Londrina, cidade menina, é
justo encerrar este breve perfil institucional dizendo ao leitor que o autor da
letra do Hino a Londrina foi um presidente da ACIL. “E aos filhos se uniram do
nosso Brasil.”
Empreendedorismo Social 21
A importância do Terceiro Setor na
dinâmica do desenvolvimento local
Ciliane Carla Sella de Almeida1
RESUMO:
Este artigo aborda a importância do Terceiro Setor como um dos eixos do
desenvolvimento local e as parcerias que podem ser celebradas com o poder
público na qualidade de colaboradoras do Estado e executoras de programas
e projetos de interesse público assim como as alianças com as empresas
privadas (setor produtivo) que queiram desenvolver seu braço social.
Palavras-chave: Desenvolvimento Local, Parcerias, Relações Intersetoriais,
Terceiro Setor.
Advogada, Especialista em Direito Empresarial e Mestranda em Engenharia do Desenvolvimento Local. Sócia proprietária da
Priori Consultoria.
1
Empreendedorismo Social 23
INTRODUÇÃO
A importância do Terceiro Setor na dinâmica do desenvolvimento local
é o texto escolhido para inaugurar esta obra. As experiências relatadas ao
longo deste livro confirmarão esta abordagem e poderão servir de inspiração
às empresas privadas e aos gestores públicos para uma maior utilização de
parcerias com as entidades sem fins lucrativos para execução de projetos de
interesse da sociedade.
Tema mundialmente debatido e amplamente documentado2, o
desenvolvimento local passa a ser um dos desafios da sociedade, conciliando
o econômico, o social e o ambiental.
Abordamos nestas breves páginas os requisitos necessários para um
projeto de desenvolvimento local, o Terceiro Setor na atualidade e as parcerias
entre público e privado para a execução de projetos, programas e atividades
que têm como finalidade o bem estar das comunidades e a melhoria da
qualidade de vida dos cidadãos.
O DESENVOLVIMENTO LOCAL
Todo projeto de desenvolvimento local tem como objetivo a melhoria de vida
das comunidades através da integração entre diferentes setores da sociedade.
Há consenso entre os estudiosos do tema que qualquer proposta de
desenvolvimento local requer, para seu sucesso, a existência de três eixos: a
comunidade local, a parceria e um clima propício à ação.
A comunidade local é definida segundo os diversos interesses e em função dos
serviços a serem prestados aos cidadãos. Estes podem não estar localizados em
territórios definidos pelo Estado, mas sempre correspondem aos locais onde os
cidadãos se encontram, onde existe sentimento de pertencimento e de identidade
do local. Assim pode haver várias comunidades no interior de uma mesma cidade
ou de um mesmo bairro. Nas palavras de Augusto de Franco3, comunidades são
mundos pequenos que atingiram certo grau de tramatura do seu tecido social.
Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Agências de Cooperação Internacional, Organização Internacional do
Trabalho. 3 Franco, Augusto de. A revolução do local: globalização, glocalização, localização. Brasília: Agência de Educação para o
Desenvolvimento. São Paulo: Editora de Cultura, 2003/2004
2
24 Empreendedorismo Social
A participação das comunidades nos projetos de desenvolvimento local e na
sociedade é o resultado de processos de mobilização permanente e da formação
dos cidadãos para que bem exerçam seu papel no interior desta sociedade.
Como exemplos de mobilização local, citamos as conferências e conselhos
municipais, as audiências públicas, os fóruns de discussões, as associações
de bairros, as redes de participação, dentre outras. São espaços de diálogo e
deliberação com alto poder de transformar opinião pública em discernimento
público, desenvolver uma voz pública, lidar com conflitos, desenvolver o
protagonismo público, formar relacionamentos públicos, criar condições para
a ação pública. Enfim, são práticas coletivas que levam a outra forma de
cidadãos se relacionarem com autoridades, conforme David Mathews4.
As parcerias e a criação de redes devem existir na perspectiva do
desenvolvimento local. Apesar de os interesses divergentes, os representantes
dos setores privado, público e comunitário decidem trabalhar juntos a fim de
desenvolver uma participação intersetorial e de intervenções transversais.
Como exemplo de redes em nível local, podemos citar a iniciativa do Fórum
Desenvolve Londrina5 que tem por objetivo aglutinar a sociedade organizada
e mobilizar a comunidade para o desenvolvimento sustentável de Londrina
e região, por meio de atividade permanente de prospecção de futuro e
planejamento estratégico, independente de política partidária.
O que se pretende no processo de reunião de atores provenientes de
diferentes setores é o trabalho coletivo de grupos de interesses às vezes
opostos e de líderes que são também concorrentes, mas que, elegem os
interesses e demandas da sociedade como ponto de diálogo e interação.
As parcerias se estabelecem entre todos os intervenientes, porém, mais
particularmente entre o poder público e os parceiros sociais e econômicos.
A terceira condição necessária ao sucesso das políticas de desenvolvimento
local é o estabelecimento de um ambiente e de um clima propícios à
colaboração e a ação comunitária.
4
5
MATHEWS, David. Fortalecendo a atuação democrática de comunidades. Curitiba:Inesco:Complexo Pequeno Príncipe.AEW-PR, 2014.
Ver www.forumdesenvolvelondrina.com.br
Empreendedorismo Social 25
Criar este ambiente nem sempre é tarefa de fácil cumprimento
considerando a existência de diferentes valores, as heranças culturais, a
formação/educação e as visões setoriais.
Por isto, cabe aos líderes provocar um ambiente propício e facilitar a reunião
em torno de projetos intersetoriais através de um processo que permite a
fixação de objetivos comuns e de identificação de projetos concretos. O que
garantirá a concentração de esforços de cada um dos atores reunidos na
mesma direção.
Como exemplo e pelo impacto positivo nas comunidades beneficiárias
citamos os projetos de desenvolvimento local executados pelo Instituto
Votorantim de Responsabilidade Social no sul da Bahia através de parcerias
com setor público e privado6.
O TERCEIRO SETOR
Termo de origem anglo-saxônica7, o Terceiro Setor compreende as
organizações que não executam atividades econômicas, têm objetivos
sociais, não se encontram na estrutura do Estado, nascem da voluntariedade
(não coercitivas) e estão constituídas sob a forma jurídica de associação ou
fundação. Despontaram inicialmente no Brasil como instituições filantrópicas.
Seu maior exemplo são as Santas Casas de Misericórdia.
Com a evolução da sociedade e suas demandas e da abertura do Estado,
as associações passaram a atuar em outros campos, não se limitando apenas
à defesa dos direitos sociais e políticos, mas colaborando como parceiras do
Estado, na execução de projetos sociais, ambientais, culturais e econômicos.
Como exemplo pela alta capacidade técnica operacional, de atuação
nacional e internacional com projetos voltados à atuação em políticas públicas e
desenvolvimento local, citamos o Instituto de Estudos, Formação e Assessoria
em Políticas Sociais – Instituto Pólis sediado na cidade de São Paulo8. Em
nível local, apontamos para a Agência Terra Roxa de Investimentos, que tem
como objetivo divulgar mundialmente o potencial regional para atração de
Ver www.Institutovotorantim.org.br
Third Sector
8
Ver www.institutopolis.org.br
6
7
26 Empreendedorismo Social
investimentos visando ao desenvolvimento socioeconômico equilibrado da
região Norte do Paraná9.
Ao lado dessas organizações, encontramos as associações e fundações
empresariais como manifestação da responsabilidade social corporativa
desenvolvendo projetos com impacto nas comunidades carentes. Como
exemplos pelos bons projetos executados, citamos a Fundação Odebrecht, o
Instituto Votorantim, o Instituto Sírio Libanês, o Instituto Albert Einstein, o
Instituto Sadia, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.
AS PARCERIAS
Em termos legais, o Estado representado pelas três esferas de poder –
União, Estados e Municípios – está autorizado pela Constituição Federal de
1988 a celebrar parcerias com as entidades sem fins econômicos10 em áreas
não exclusivas deste11. Importante ressaltar que de forma complementar ao
Estado, as entidades sem fins econômicos das áreas de educação e saúde têm
preferências às empresas privadas (finalidades lucrativas).
Afora a previsão constitucional, a partir da Reforma Administrativa
proposta por Bresser Pereira no governo de Fernando Henrique Cardoso,
foram sendo introduzidas no sistema legal formas mais delineadas de
parcerias como o contrato de gestão, em 1998, e o termo de parceria, em
1999, instrumentos jurídicos específicos das organizações sociais (OS) e das
organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP), respectivamente.
Mais recentemente, em agosto de 2014, o governo da presidente Dilma
Roussef promulgou a Lei n. 13.019, marco legal do relacionamento entre
administração pública e organizações da sociedade civil (OSC).
Para dar agilidade e eficiência aos projetos executados pelas instituições
federais (IFES) e estaduais de ensino superior (IEES) e dos institutos de ciência
e tecnologia (ICTs), foi criada a figura da fundação de apoio pela Lei n. 8958
de 20 de dezembro de 1994. Trata-se também de uma entidade pertencente
ao Terceiro Setor que tem como função primordial a gestão financeira e
administrativa de projetos executados pelas IFES e ICTs. As fundações de apoio
Ver www.terraroxa.org.br
Com o advento do Código Civil, o termo sem fins lucrativos foi substituído por sem fins econômicos.
11
São áreas exclusivas do Estado aquelas que somente podem ser exercidas diretamente pelo Poder Público como segurança,
justiça, fiscalização
9
10
Empreendedorismo Social 27
têm também o papel de mediadora entre as instituições de ensino e tecnológica,
o mercado produtivo (empresas) e outras entidades públicas ou privadas.
Ainda como integrantes do Terceiro Setor, temos as cooperativas de
catadores que atualmente desenvolvem serviços de coleta e separação de
resíduos sólidos em parceria com os municípios. Londrina (PR) foi uma das
cidades pioneiras no relacionamento entre administração pública e catadores,
inicialmente agrupados em associações e posteriormente em cooperativas de
serviços. Além de constituir uma forma de resgate de trabalhadores informais
que viviam da catação de materiais recicláveis nos lixões, as cooperativas
recolhem impostos e geram postos de trabalho, contribuindo social, ambiental
e economicamente para o desenvolvimento local.
Assim como as cooperativas de catadores, os municípios podem contratar
diretamente (com dispensa de licitação) entidades privadas sem fins
lucrativos, para a implementação de cisternas ou outras tecnologias sociais de
acesso à água para consumo humano e produção de alimentos, para beneficiar
as famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta regular de águas
e também para a prestação de serviços de assistência técnica e extensão rural
no âmbito do Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na
Agricultura Familiar e na Reforma Agrária, instituído por lei federal12.
Como o País necessita desenvolver tecnologia própria para sua
competitividade no mundo globalizado, o Estado através da Lei da Inovação
Tecnológica13, autorizou a administração pública a contratar diretamente
organizações sem fins econômicos voltadas à pesquisa e de reconhecida
capacitação tecnológica no setor para a realização de atividades de
pesquisa e desenvolvimento que envolvam risco tecnológico ou obtenção
de produto inovador.
O Estado do Paraná, ao editar sua própria legislação de incentivo à
inovação tecnológica14 também contemplou o Terceiro Setor especializado,
denominando as organizações de Entidade Científica, Tecnológica e
Inovação privada do Estado do Paraná (ECTI). Referida legislação garantelhes participação no Sistema Paranaense de inovação e estímulo para a
Lei 8666, de 21 de junho de 1993, art.24, incisos XXVII, XXX, XXXIII.
Lei n.10.973, de 2 de dezembro de 2004, que dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no
ambiente produtivo.
14
Lei n.17.314, publicada no Diário Oficial do Estado do Paraná em 24 de setembro de 2012.
12
13
28 Empreendedorismo Social
constituição de alianças estratégicas e desenvolvimento de projetos de
cooperação com empresas brasileiras localizadas no Paraná, os institutos de
ciência e tecnologia e organizações de direito privado objetivando a geração
de inovações.
O Terceiro Setor ainda constitui instrumento para o setor produtivo
(empresas, indústrias, comércios, serviços) que desejando desenvolver
projetos sociais se vale das entidades sem fins econômicos para executá-los
de forma mais adequada. Tornam-se assim, o braço social do corpo econômico.
CONCLUSÃO
Ainda que esta abordagem seja breve, ela nos traz elementos para que
possamos concluir que é crescente a participação do Terceiro Setor como
executora de projetos de interesse social decorrentes de parcerias com o setor
público, principalmente, e sua importância na dinâmica do desenvolvimento local.
Ressaltamos a evolução da participação das organizações da sociedade
civil, antes restrita ao atendimento à saúde pelas Santas Casas de Misericórdia
para uma atuação nos mais diversos setores da sociedade.
De forma também significativa temos assistido a premente necessidade
de o Terceiro Setor se qualificar cada vez mais adotando ferramentas
empresariais para planejamento e gestão de suas atividades, investindo
na capacitação de seu pessoal, em tecnologia, no compartilhamento de
informações e conhecimentos e na formação de redes.
Por outro lado, ainda ressentimos a falta de aparelhamento do poder
público, tanto na formação de pessoal capacitado quanto em investimentos
tecnológicos para potencializar as parcerias com o Terceiro Setor tornando-as
cada vez mais modelos de eficiência e de boas práticas.
Contudo, o momento é de reconhecer que nosso país evolui nas relações
intersetoriais (Estado-empresas privadas-organizações da sociedade civil
sem fins econômicos) e que não poderá haver retrocesso nesse processo.
Empreendedorismo Social 29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Franco, Augusto de. A revolução do local: globalização, glocalização,
localização. Brasília: Agência de Educação para o Desenvolvimento. São
Paulo: Editora de Cultura, 2003/2004.
MATHEWS, David. Fortalecendo a atuação democrática de comunidades.
Curitiba: Inesco: Complexo Pequeno Príncipe. AEW-PR, 2014.
30 Empreendedorismo Social
Entendendo melhor os Negócios Sociais
Tatiana Moraes
RESUMO:
Em um mundo onde as diferenças sociais são gritantes, novos modelos
de negócios devem emergir para solucionar demandas de populações que
vivem em situação de extrema pobreza e carente de serviços básicos como
energia, água potável e saneamento básico. Neste artigo, iremos entender
melhor o conceito de Negócios Sociais, que surge no mercado para atender
demandas das classes D & E, com o desafio de se manter por meio do
próprio lucro, mas com o propósito maior de gerar impacto social.
Palavras-chave: Negócios Sociais, Empreendedorismo Social, Lucro.
Empreendedorismo Social 31
INTRODUÇÃO
Diferenças e desigualdades sociais ainda são realidades muito presentes
no nosso dia a dia. A população mundial já ultrapassou sete bilhões de
pessoas e segundo dados da ONU de março/2014¹, aproximadamente 800
milhões continuam sem acesso a uma fonte de água potável e mais de 35%
ainda vivem sem um sistema de saneamento básico adequado.
No Brasil, a situação é ainda mais gritante, em um país com mais de
200 milhões de habitantes, aproximadamente 50% ainda não tem acesso à
coleta de esgoto. A questão do saneamento é apenas um dos vários exemplos
que podemos citar para demonstrar a disparidade social em nosso país.
Atualmente as classes D & E representam 24% da população brasileira. São
mais de 48 milhões de pessoas carentes em serviços relacionados à saúde,
finanças, habitação, educação, saneamento, cultura, entre outros.
Hoje, além da atuação do governo, a sociedade movimenta-se para tentar
atender parte das necessidades que emergem nas periferias e comunidades
brasileiras. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA)² em 2010, havia mais de duzentos e noventa mil fundações privadas e
associações sem fins lucrativos no Brasil.
Apesar do relevante número de iniciativas sociais, sabemos que estas
ainda dependem de verba governamental e filantropia para manterem suas
atividades em exercício, o que limita e dificulta a atuação destas instituições.
“O paradoxo é que, nesse processo, os empreendimentos sem fins lucrativos
tornaram-se dependentes – de forma incômoda e muitas vezes improdutiva
– da generosidade filantrópica e de todas as isenções resultantes às
entidades que funcionam voltadas para o interesse público. Em geral,
essa dependência vai de encontro à possibilidade de expansão. Em um
ambiente cada vez mais competitivo, o número de organizações sem fins
lucrativos que buscam financiamento ultrapassou rapidamente a oferta
de dólares dos doadores, ao passo que a adequação e a disponibilidade de
1
2
http://www.tratabrasil.org.br/saneamento-no-mundo
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/fasfil/2010/default.shtm
32 Empreendedorismo Social
capital de expansão especificamente direcionado tornaram-se ainda mais
problemáticas.” (HARTIGAN & ELKINGTON, 2009, P. 34)
Diante deste cenário, percebe-se como fundamental para a construção de
uma sociedade realmente desenvolvida, o surgimento de novos modelos e
práticas no campo social, capazes de impactar um grande número de pessoas
sem depender de recursos externos, mas sim, que consigam expandir sua
atuação por meio do seu próprio modelo de negócios. Nesta perspectiva,
nasce um conceito ainda novo, denominado Negócios Sociais.
MAS O QUE É UM NEGÓCIO SOCIAL?
Existem diversas instituições que definem, com algumas divergências, o
conceito de Negócio Social também chamado de Negócio de Impacto.
Basicamente, quando falamos em Negócios Sociais, devemos entender
que a organização, a priori, tem como propósito maior obter impacto social
e sustentar-se por meio do próprio lucro sem depender de recursos externos.
Algumas instituições que trabalham no campo dos Negócios Sociais veem
esta questão do lucro de forma diferente. Vamos tratar aqui dos conceitos de
duas importantes organizações atuantes neste campo: Yunus Centre e Artemísia.
Referência em negócios sociais, o indiano ganhador do Nobel da Paz em
2006, prof. Muhammad Yunus, fundador do banco Grameen, possui hoje
um centro de estudos e difusão deste modelo de negócios chamado Yunus
Centre. De acordo com a visão de Yunus, Negócio Social pode ser definido
como empresas que buscam atingir um objetivo social e reinvestem seu lucro
no próprio negócio (YUNUS, 2000). Ou seja, neste caso, não é permitida a
distribuição dos dividendos aos acionistas.
Para Artemísia, instituição pioneira na disseminação do conceito e no
apoio ao desenvolvimento de negócios de impacto no Brasil, são negócios
sociais: “Empresas que oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis
para problemas sociais da população de baixa renda.” (www.artemisia.org)
Empreendedorismo Social 33
Neste caso, a divisão do lucro pode ou não existir, porém, não é condição
determinante para definir se o negócio é ou não considerado de impacto social.
CARACTERÍSTICAS
Podemos apontar como as principais características de um Negócio Social:
• Solucionar problemas sociais por meio de sua atividade fim ou “core business”;
• Ter foco na população de baixa renda – interesses e necessidades deste
público são considerados para formulação do que será oferecido;
• Ser um produto ou serviço que deve ser comercializado;
• Possuir potencial de escala – poder ser disseminado por meio da
ampliação do próprio negócio ou através de redes e outros atores;
• Ser lucrativo: não depender da doação e verba de terceiros;
• Ser inovador – enxergar soluções nos problemas sociais e utilizar
mecanismos de mercado para implanta-las.
É importante ressaltar que os Negócios Sociais não são programas,
projetos ou iniciativas de empresas que caminham de forma separada do
seu negócio. Isto é o que chamamos de Responsabilidade Social. O Negócio
Social é aquele que soluciona problemas da base da pirâmide através da sua
atividade principal. Outro equívoco comum é denominar como Negócio Social,
projetos e programas assistencialistas.
A importância deste novo modelo negócio é que, como se utiliza de
mecanismos de mercado e desta forma, possuem uma estrutura robusta para
lhe garantir rentabilidade, os negócios sociais podem acelerar o processo de
mudança e as propiciar em larga escala, por não depender de filantropia ou
dinheiro público.
A disseminação deste modelo de negócios mostra que é possível que
empresas que possuem como fator motivacional, também metas sociais e
não somente o lucro por si só, serem concorrentes em pé de igualdade com
empresas criadas e desenvolvidas nos moldes tradicionais.
34 Empreendedorismo Social
DESAFIOS E SUPERAÇÕES
Um dos principais desafios enfrentados pelos Negócios Sociais é a
manutenção da sua sustentabilidade financeira. É natural que este modelo
de negócio amadureça mais tarde, visto que sua proposta é na maioria das
vezes inovadora e requer tempo para desbravar e fortalecer novos mercados e
novas propostas de produtos ou serviços.
Em geral são necessários novos desenvolvimentos e testes em diversas
fases. Nos casos dos negócios que incluem as comunidades no processo, são
necessários sensibilização e treinamento antecipado dos envolvidos, práticas
que certamente prejudicam a rentabilidade no momento inicial do negócio.
Outros aspectos como falta de amparo jurídico e apoio do governo nos
âmbitos federal, estadual e municipal, dificultam e prejudicam a atuação e
expansão dos negócios sociais. É essencial para fomentar o empreendedorismo
social, a criação de um ambiente regulatório favorável e leis de incentivo para
quem pretende atuar neste campo.
DIFERENÇAS
A tabela abaixo mostra de forma concisa e clara as diferenças existentes entre
empresas tradicionais, negócios sociais e organizações não governamentais:
Empreendedorismo Social 35
Grameen Bank: O Primeiro Negócio Social do Mundo
Em 1974, um encontro mudou a vida de Muhammed Yunus. Ele conheceu
a jovem Sufia Begum, de 21 anos que lutava para sobreviver. Para comprar
bambu e fazer tamboretes, Sufia emprestou cerca de 25 centavos de dólar
americano de um agiota de seu bairro, que lhe cobrava juros de 10% ao dia. O
acordo entre eles a obrigava a vender seus tamboretes exclusivamente a ele
que lhe pagava um valor muito abaixo do valor de mercado, assim seu lucro
não passava de dois centavos de dólar, o que lhe proporcionava uma condição
de trabalho equivalente à de escravo.
Yunus encontrou 42 mulheres nas mesmas condições e decidiu procurar um
banco tradicional para apoia-las para que não precisassem recorrer a agiotas.
Depois de percorrer muitas instituições bancárias e ter seu pedido negado em
todas, resolveu emprestar seu próprio dinheiro as mulheres a taxas bancárias
normais. Inicialmente emprestou 27 dólares, aproximadamente 62 centavos
para cada uma. Para sua surpresa, em pouco tempo elas lhe pagaram o
empréstimo e passaram a sustentar a si e a suas famílias.
Depois deste sucesso, Yunus criou em 1976, o Banco Grameen, chamado
de “banco dos pobres”. Neste banco o empréstimo é realizado para grupos
de cinco pessoas, mas apenas dois recebem o dinheiro adiantado, após estes
dois realizarem o pagamento, o crédito é concedido aos demais. Desta forma
desenvolve-se no grupo a confiança mútua e o espírito de comunidade. Ele
acredita que quando estendemos o crédito aos pobres e eles ajudarão a si
mesmos (YUNUS, 2000).
Sua tentativa com a criação do banco Grameen é de quebrar o ciclo
histórico no qual os pobres não controlam o capital, por não herdarem e não
terem acesso a ele. Yunus reforça que a única maneira de diminuir a pobreza
é garantir o acesso dos pobres ao financiamento, geralmente direcionado
somente aos que já tem dinheiro, por meio da concessão do microcrédito.
A maioria dos clientes do banco são mulheres e 98% destes pagam suas
dívidas em dia. É um negócio baseado nas relações e possui um propósito
36 Empreendedorismo Social
claro: tirar as pessoas da pobreza.
Atualmente o Banco Grameen é um banco de 2,5 bilhões de dólares,
sediado em Bangladesh e o seu modelo de microcrédito se espalhou por mais
de cinquenta países, incluindo o Brasil.
Já existem também outros empreendimentos sociais como Grameenphone,
Grameen Check (roupas tecidas em teares), Grameen Fisheries Foundation,
Grameen Cybernet e Grameen Shakti (energia) que atendem outras
necessidades da população de baixa renda de Bangladesh.
Um caso de bastante sucesso foi a joint-venture criada em 2006 entre o
grupo Grameen e a multinacional francesa Danone com a missão de “Trazer
saúde por meio de alimentos para o maior número possível de pessoas”. A
empresa foi possui quatro objetivos principais: oferecer um produto de
valor nutricional elevado, gerar empregos, preservar o meio ambiente e ser
economicamente viável.
Alguns exemplos de Negócios Sociais no Brasil
Rede Asta – Rio de Janeiro, RJ
Fundada em 2005, caracteriza-se por ser um negócio social inclusivo que
leva a consumidores em todo Brasil produtos de design feitos por grupos
produtivos de regiões de baixa renda.
“Atuamos no empoderamento de mulheres artesãs e de seus pequenos
negócios, por meio de treinamentos, formação de redes de produção e criação
de canais de venda. Os produtos são criados com a orientação de designers.
São peças únicas, feitas à mão, com o reaproveitamento de diferentes
materiais. O modelo valoriza quem produz, respeita o meio ambiente e cria
relações econômicas justas para toda a cadeia.” (http://www.redeasta.com.
br/quem-somos.html)
Programa Vivenda – São Paulo, SP
A empresa vende kits de reforma para população de baixa renda a partir
Empreendedorismo Social 37
de mil e quinhentos reais. Com o slogan “Reforma com começo, meio e fim”,
pretendem atingir os moradores da periferia que por não terem dinheiro,
começam a construir ou reformar, mas não terminam e moram em lugares
inacabados e em condições ruins.
“Nosso compromisso é fazer com que as pessoas possam morar bem
e viver melhor. Sendo assim, desenvolvemos uma solução completa em
reformas habitacionais que, de forma rápida e não burocrática possibilita
que o cliente possa, em até 15 dias, ter seu projeto elaborado e sua reforma
pronta!” (http://programavivenda.com.br/como-trabalhamos)
Hand Talk
Atua na área da tecnologia assistiva. É uma plataforma de tradução
digital para Libras. Foi eleito pela ONU em 2013, ano em que foi fundada,
como o melhor aplicativo de inclusão social do mundo. Caracteriza-se como
um Negócio Social, pois garante o acesso da população surda a conteúdos
diversos. Possui foco e mercado bem específico.
“Somos uma plataforma de tradução digital para Libras, a Língua Brasileira
de Sinais, utilizada pela comunidade surda no Brasil. A empresa, premiada
internacionalmente e referência no serviço de tradução de conteúdos para
Libras, é comandada por um simpático intérprete virtual, o Hugo, personagem
3D que torna a comunicação interativa e de fácil compreensão.” (http://www.
handtalk.me/sobre)
Considerações Finais
Diante de um mundo que, apesar de apresentar avanços tecnológicos e
econômicos, ainda mantém um grande antagonismo social, os negócios de impacto
se apresentam como outro caminho possível para beneficiar pessoas marginalizadas.
Este novo modelo é inclusivo e beneficia parte da população, até então inexistente
também para o mundo dos negócios, as classes da base da pirâmide.
Percebemos que o lucro no contexto do Negócio Social, seja qual for a
decisão da empresa sobre a distribuição dos dividendos, não deve transcender
o propósito maior pelo qual foi concebido: gerar transformações sociais. Desta
38 Empreendedorismo Social
forma, notamos que este novo estilo de fazer negócios, apresenta-se nos
dias de hoje, como parte fundamental ao processo de mudança que tanto
desejamos em nossa sociedade.
Referências bibliográfica
ELKINGTON, John & HARTIGAN, Pamela – Empreendedores Sociais – O
exemplo incomum das pessoas que estão transformando o mundo – Rio de
Janeiro, Editora Elsevier , 2009
Yunus, Muhammed - O Banqueiro dos Pobres - A Evolução do Microcrédito
que Ajudou os Pobres – São Paulo, Editora Ática, 2000
http://www.artemisia.org.br/
http://www.muhammadyunus.org/
Empreendedorismo Social 39
Instituto GRPCOM: um caso de estratégia
empresarial para a sustentabilidade
Rafaela Vieira Marinho
RESUMO:
Este estudo apresenta um caso de estratégia na área da sustentabilidade
empresarial, por meio da fundação de uma instituição para a gestão de
projetos de intervenção social. Tem por objetivo identificar se este tipo de
estratégia contribui para a Sustentabilidade.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Estratégia Empresarial, Projeto Social.
Empreendedorismo Social 41
INTRODUÇÃO
O conceito de Sustentabilidade tem pautado o dia a dia de muitas
empresas. Fundar uma instituição para dar maior legitimidade às ações, é uma
das estratégias que algumas empresas adotam para viabilizar as atividades
em busca da Sustentabilidade. A empresa apresentada nesse artigo, o Grupo
Paranaense de Comunicação – GRPCOM, adotou essa estratégia. O GRPCOM
fundou e mantém o Instituto GRPCOM, que desenvolve os projetos de
Investimento Social Privado do Grupo.
Pretendemos analisar nesse artigo, os projetos desenvolvidos pelo
Instituto GRPCOM e se esses projetos demonstram impacto positivo na
sociedade e corroboram para a Sustentabilidade.
1. OS CONCEITOS
Antes de falar em Sustentabilidade, vamos abordar os conceitos de
Responsabilidade Empresarial e Investimento Social Privado, práticas essas
necessárias para que uma empresa seja sustentável.
1.1 Responsabilidade Social Empresarial
Comecemos dando um significado ao termo Responsabilidade Social
Empresarial - RSE. Todas as pessoas fazem escolhas no dia a dia e até mesmo
planejam a longo prazo. Somos seres políticos e tomamos decisões que
impactam nossas vidas, a vida das pessoas, a sociedade e o meio ambiente.
Com as empresas não é diferente. Pessoas que conduzem as empresas
tomam decisões diariamente, sejam na área financeira, comercial, vendas,
marketing, etc. Responsabilidade Social Empresarial está ligada diretamente
à capacidade de fazer escolhas. Tomar decisões e agir de forma socialmente
responsável é pensar no impacto que a atividade da empresa vai ter na vida
das pessoas, no meio ambiente, na comunidade e, acima de tudo, buscar a
garantia de que esse impacto será positivo.
42 Empreendedorismo Social
Em termos gerais, a responsabilidade de um agente refere-se à obrigação
de responder pelas conseqüências previsíveis das ações em virtude de leis,
contratos, normas de grupos sociais ou de sua convicção íntima (BARBIERI,
2012, p 02).
Para Barbieri (2012) existe uma evolução do conceito de Responsabilidade
Social, baseada em duas teorias: a dos acionistas e a dos stakeholders1.
Enquanto a primeira está assentada no liberalismo clássico, onde a
responsabilidade social da empresa se encerra na obtenção do lucro, no
pagamento de impostos e salários, a segunda, considera as mudanças
históricas e o protagonismo da sociedade em busca de seus direitos.
Em acordo com Barbieri (2012), Tenório(2012) afirma:
[...] o liberalismo não estimulava a prática de ações sociais pelas empresas
e até as condenava, pois entendia que a caridade não contribuía para
o desenvolvimento da sociedade nem era de responsabilidade das
companhias. Dessa forma, no início do século XX, a responsabilidade social
limitava-se apenas ao ato filantrópico, que inicialmente assumia caráter
pessoal, representado pelas doações efetuadas por empresários ou pela
criação de fundações[...] (TENÓRIO, (2012, p. 16)
O conceito clássico de RSE (teoria dos acionistas), onde a empresa gera
empregos, paga impostos, tem lucro e atua no cumprimento da lei, vai até a
década de 1950, quando alguns acontecimentos mudam o rumo da história. É
na mudança de contexto histórico que a empresa começa mudar a visão sobre
seu papel na sociedade, e alguns acontecimentos contribuem para esse marco2.
Um deles foi a promulgação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, aprovada em 1948, que marca o movimento pelos direitos
humanos na busca de garantias relacionadas ao trabalho, à saúde, à velhice,
à educação, e outras políticas.
O contexto contribuiu para o advento da teoria dos stakeholders, onde a
visão é de que as empresas fazem parte de uma estrutura muito maior do
1
Entende-se por stakeholder a pessoa ou grupo que afeta ou é afetada pela atividade da empresa. O surgimento desse termo,
que passou a ser usado na administração associado à RSE no início da década de 80, deve-se à constatação de que os interesses
dos proprietários não são os únicos a serem considerados na condução das empresas (BARBIERI, 2012).
2
Tenório (2006) divide esse marco histórico entre o surgimento da sociedade industrial, com o advento da industria e
Empreendedorismo Social 43
que elas, que é a sociedade, constituída por diversos atores sociais, como
governos, as comunidades, o meio ambiente, ou seja, não estão isoladas e
necessitam dessa macro estrutura para consumir seus produtos e serviços,
insumos para gerar os negócios, mão de obra qualificada, e os outros recursos.
1.2
INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO
Segundo o Grupo de Institutos Fundações e Empresas – GIFE:
Investimento social privado é o repasse voluntário de recursos privados
de forma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais,
ambientais e culturais de interesse público (GRUPO DE INSTITUTOS
FUNDAÇÕES E EMPRESAS, 2014).
O Investimento Social Privado – ISP, integra a prática da RSE no que
diz respeito às ações direcionadas à comunidade. Este conceito vem sendo
trabalhado há mais de uma década pelo GIFE, que reúne hoje 140 organizações
de origem privada: empresas, fundações e institutos de origem empresarial,
que além de diretrizes gerenciais, propõe o envolvimento da comunidade nos
projetos realizados.
De acordo com o GIFE:
Diferentemente do conceito de caridade, que vem carregado da noção
de assistencialismo, os investidores sociais privados estão preocupados
com os resultados obtidos, as transformações geradas e o envolvimento
da comunidade no desenvolvimento da ação. (GRUPO DE INSTITUTOS
FUNDAÇÕES E EMPRESAS, 2012).
Dados de 2010, apresentados pelo Censo Gife (GIFE, 2012) apontam para
um valor médio investido pelos associados respondentes, em 2009, de R$
18,7 milhões, em diferentes áreas de atuação como assistência social, direitos
humanos, cidadania, cultura, arte, desenvolvimento comunitário, meio
ambiente, educação, esportes entre outros, e para diferentes públicos, dentre
eles crianças, adolescentes, jovens, mulheres, negros e idosos.
fortalecimento do capitalismo e a ascensão da sociedade pós-industrial, após a 2ª guerra mundial, que é marcada pelo
desenvolvimento tecnológico e pela inovação. Na sociedade pós-industrial, também chamada de a era dos serviços, a informação
e o conhecimento passam a incorporação os ativos das empresas, assim como as máquinas e equipamentos.
44 Empreendedorismo Social
O Investimento Social Privado, quando executado, preocupa-se não somente
com a forma e lugar onde o dinheiro será investido (ação planejada), mas
também com o resultado desse investimento (monitoramento e avaliação).
1.3 SUSTENTABILIDADE
O desenvolvimento sustentável passa a requerer a responsabilidade
da empresa por um processo de produção que leve em consideração os
impactos ambientais e sociais causados pela atividade empresarial, passando
a empresa a assumir responsabilidades sociais e ambientais até então não
contempladas na gestão empresarial.
Para Barbieri (2012, p. 64), desenvolvimento sustentável é:
[...] uma proposta de desenvolvimento socialmente includente e que
respeita o meio ambiente, para que ele possa fornecer os recursos
necessários para a subsistência humana de modo permanente, pois a Terra
é a morada dos humanos e continuará sendo indefinidamente.
A ideia de se ter um modelo de desenvolvimento que se sustente por
gerações, tem seu fundamento na própria capacidade de autodestruição do
capitalismo, no qual as empresas são protagonistas. Nesse sentido todas as
consequências do modelo adotado até hoje esboçam o cenário de um modelo
autofágico, que transpira problemas sociais e ambientais.
Esses problemas globais só podem ser resolvidos com a participação de
todas as nações, governos em todas as instâncias e sociedade civil, cada
uma em sua área de abrangência. As empresas cumprem papel central
nesse processo, pois muitos problemas socioambientais foram produzidos
ou estimulados pelas suas atividades (BARBIERI, 2012, p 65).
O desenvolvimento sustentável propõe uma análise de problemas
econômicos, sociais e ambientais de um mundo que está hoje globalizado. Desta
forma, parte-se do princípio de pensar globalmente e agir localmente (2102, pg.
65), sem necessariamente esperar por leis estruturais, normas internacionais.
Empreendedorismo Social 45
Portanto, se a RSE é o modo como a empresa vai gerenciar os negócios, a
sustentabilidade é o objetivo maior a ser alcançado. Assim, a RSE é o caminho
para se chegar à sustentabilidade.
A responsabilidade social das empresas é um meio para alcançar a
sustentabilidade empresarial, que pode ser definida como a empresa
que orienta a sua gestão para obter resultados positivos em termos
econômicos, sociais e ambientais (BARBIERI, 2009, p. 133).
2. METODOLOGIA E ESTUDO DE CASO
A inquietação em saber se projetos de investimento social privado causam
impacto positivo na comunidade e contribuem para a sustentabilidade foi
que levou a delimitação do objeto da pesquisa ora apresentada. A escolha
do objeto de estudo está relacionada à prática profissional da pesquisadora
e o contexto da pesquisa se refere à empresa a qual a pesquisadora possui
vínculo empregatício há mais de quatro anos e desenvolve diariamente
projetos relacionados ao tema, o que permitiu a observação do fenômeno com
maior profundidade de análise.
O GRPCOM possui sua sede em Curitiba e está presente em todo o Paraná
com regionais em sete cidades: Londrina, Maringá, Paranavaí, Foz do Iguaçu,
Cascavel, Guarapuava e Ponta Grossa. Além das unidades de negócio, ou seja,
as empresas do grupo, o Instituto GRPCOM foi fundado para o desenvolvimento
e assessoramento em projetos sociais e está presente em todas as regionais.
A pesquisadora é responsável pelas ações do Instituto GRPCOM no município
de Londrina e responde pelo cargo de Analista de Responsabilidade Social.
Conforme Quimelli (2009, p. 72)
Normalmente, os pesquisadores se envolvem em questões que os
preocupam. [...] Os Estudos de Caso estão estreitamente aliados à prática
porque eles permitem debater e avaliá-la através dos diferentes dados
coletados no contexto pesquisado.
46 Empreendedorismo Social
O Estudo de Caso permite uma investigação qualitativa a partir do
momento que utiliza mais de uma fonte de evidência e busca entender o
objeto de pesquisa em seu contexto, o que implica na análise do ambiente
complexo e repleto de subjetividade em que o objeto se encontra. “Diferentes
aspectos, como o social, político, econômico e dimensões comportamentais
exercem uma influência sobre o objeto de estudo (QUIMELLE, 2009, p. 72)”.
Assim, a análise do objeto dessa pesquisa parte de uma realidade concreta,
sendo o estudo de caso realizado a partir de uma pesquisa documental nos
arquivos e acervos institucionais complementada por entrevista realizada
com o Vice- Oresidente do Grupo (identificado pela sigla VP). A escolha do
Vice-Presidente do Grupo se deu pelo nível de responsabilidade que ele possui
na tomada de decisões relacionadas às ações de RSE e pela história pessoal e
profissional dentro da empresa.
A análise documental realizou-se no período de fevereiro a julho de 2012 na
regional de Londrina/PR, tendo como fontes principais de pesquisa: Relatório
de Sustentabilidade 2009, Relatório de Sustentabilidade 2010, Código de
Ética e Conduta; sites institucionais e publicações que contam a trajetória das
empresas do Grupo no Paraná.
A entrevista foi realizada em Curitiba, na sede da empresa, no dia 22 de
maio de 2012, com o livre consentimento do sujeito da pesquisa, com livre
aceitação da gravação.
A apresentação dos resultados da pesquisa se dará de acordo com a análise
da estratégia de se ter investimento em projetos sociais para o alcance da
Sustentabilidade, nas categorias assim delimitadas: o investimento do Grupo
em projetos sociais e áreas prioritárias.
2.1 O GUPO PARANAENSE DE COMUNICAÇÃO - GRPCOM
A história do GRPCOM se inicia no ano de 1962, quando os advogados
Francisco Cunha Pereira Filho e Edmundo Lemanski compram o jornal
Gazeta do Povo, fundado em 1919, “[...] com a finalidade de ser um espaço
Empreendedorismo Social 47
para a difusão e afirmação das ideias e da gente paranaense” (FERNANDES,
SANTOS, 2010, p. 16).
A segunda empresa adquirida pelos empresários em 1969 foi no ramo da
mídia televisiva, o antigo canal 12 na cidade de Curitiba, que hoje é a RPCTV
Curitiba, afiliada à Rede Globo, com mais sete afiliadas no Paraná: RPCTV
Londrina, RPCTV Maringá; RPCTV Foz do Iguaçu; RPCTV Ponta Grossa; RPCTV
Paranavaí; RPCTV Cascavel e RPCTV Guarapuava.
Atualmente, o GRPCOM possui dezenove empresas, que atuam nas
áreas da comunicação impressa, televisiva, rádios e internet. São elas:
jornais diários Gazeta do Povo, jL – Jornal de Londrina e Tribuna, pelo jornal
digital Gazeta Maringá, pelo portal de notícias Paraná Online, pelas rádios
98FM, Mundo Livre FM e Cultura FM de Maringá, pela unidade móvel de alta
definição HDView, pelo canal de TV multiplataforma ÓTV, pela RPC TV e suas
oito emissoras afiliadas à Rede Globo e pela Zaag, agência especializada em
marketing promocional. Toda essa estrutura de negócio o tornou o maior
grupo de comunicação do Paraná (GRPCOM, 2012).
Seguindo um modelo gestão estratégica, o grupo é conduzido por princípios
e diretrizes amplamente difundidos, interna e externamente, a exemplo de
sua missão, que é “[...] Promover, com a comunicação, o desenvolvimento
da nossa terra e da nossa gente e, assim, alcançar a sustentabilidade e os
melhores resultados econômicos (GRPCOM, 2014).
2.2 O INSTITUTO GRPCOM
O Instituto GRPCOM é uma associação sem fins econômicos, fundada em
2001, certificada como OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público, com sede em Curitiba e presente em todas as unidades de negócio do
GRPCOM, ou seja, nas sete regiões do Paraná onde o GRPCOM possui regionais.
Foi fundado com o objetivo de profissionalizar algumas ações sociais que
já eram desenvolvidas e para atuar mais próximo às comunidades onde as
empresas do grupo estão inseridas. Anteriormente à fundação do Instituto
48 Empreendedorismo Social
GRPCOM, as empresas do grupo já realizavam algumas ações sociais, porém
não existia uma sistematização das ações, tampouco a aplicação de critérios
para o investimento.
Desde a sua criação, cada uma das empresas do Grupo Paranaense de
Comunicação exerce a cidadania corporativa por meio de ações sociais,
filantrópicas e assistenciais, em prol do desenvolvimento da comunidade
paranaense. Com a criação do Instituto GRPCOM, em 2001, foi possível
fazer a gestão conjunta dos programas e projetos sociais, culturais e
educacionais desenvolvidos diretamente pelas empresas ou apoiados
pelas mesmas, o que permitiu potencializar os esforços e multiplicar os
resultados alcançados (INSTITUTO GRPCOM, 2014).
A fundação do Instituto colabora com o entendimento da direção do grupo
de que o desenvolvimento de uma sociedade não se dá apenas na relação de
mercado, ou seja, no desenvolvimento econômico.
[...] a organização, como se enxerga fundamentalmente como alguém
que pretende realizar, ajudar a promover esse desenvolvimento busca
todas as ferramentas, e uma dessas ferramentas é precisamente essa,
do relacionamento, de fazer uma série de atuações junto aos atores
de mercado, às entidades, às pessoas na sociedade, através de outros
formatos que não só os formatos propriamente empresariais, propriamente
econômicos [...] (VP).
O Instituo GRPCOM é responsável pelo desenvolvimento dos projetos
sociais do GRPCOM, sejam eles internos ou externos, de iniciativa própria
ou de apoio a projetos sociais das empresas do Grupo e atua nas áreas de
áreas de educação, cultura, desenvolvimento humano e comunitário. Também
promove a o fortalecimento das instituições do terceiro setor por meio de
informações, parcerias, eventos e prestação de serviços gratuitos.
Atualmente são 08 projetos sendo desenvolvidos, sendo que desses, 04
são projetos estratégicos, ou seja, tem seus objetivos diretamente ligados à
missão do GRPCOM e contribuem para o seu alcance.
Empreendedorismo Social 49
A seguir, apresentamos os projetos estratégicos e seus resultados em
2013, por entender que esses contemplam o universo de análise do estudo
ora proposto.
Quadro de Projetos Estratégicos
Projeto
Ler e
Pensar
(1994 2014)
Descrição
O Ler e Pensar é um projeto de incentivo à leitura, dirigido a alunos
do Ensino Fundamental e Médio de escolas e instituições públicas e
particulares do Paraná.
Desenvolvido pela Gazeta do Povo há 15 anos, tem como objetivo
estimular o hábito da leitura de jornais e ajudar a comunidade escolar
a compreender a importância da informação no processo de ensinoaprendizagem, construção do conhecimento e formação de crianças e
jovens para o exercício pleno da cidadania.
Sua dimensão é garantida a partir da parceria com Secretarias
Municipais de Educação, Instituições de Ensino Superior, patrocinadores,
apoiadores, além de educadores e pedagogos de escolas públicas e
particulares.
RESULTADOS EM 2013
Cidade
atendidas no
Paraná
Professores
parceiros
Instituições
atendidas
Alunos
beneficiados
58
2972
491
104020
TELEVISANDO
O FUTURO
(2009 - 2014)
Televisando o Futuro é um projeto que coloca a força da televisão a
serviço da comunidade escolar.
Seu principal objetivo é promover a reflexão sobre temas sociais
relevantes e contribuir para construção da cidadania por meio
de reportagens especiais produzidas pelo jornalismo da RPC TV.
Desenvolvido em parceria entre as emissoras RPC TV, Instituto
GRPCOM e Secretarias de Educação (Municipais e Estadual), o projeto
estimula a produção artística e literária dos estudantes a partir dos
temas abordados nas reportagens. Os professores ainda têm acesso
a conteúdos complementares disponibilizados no hotsite do projeto e
capacitações por meio de cursos oferecidos na plataforma de educação
à distância contratada pelo Instituto GRPCOM.
50 Empreendedorismo Social
RESULTADOS EM 2013
Cidade
atendidas no
Paraná
Professores
parceiros
Instituições
atendidas
Alunos
beneficiados
42
2878
801
95325
Serviços e
Cidadania
(2010-2014)
O canal “Serviços e Cidadania”, contribui para a sustentabilidade das
organizações do terceiro setor no Paraná, por meio de um sistema online de comunicação e gestão de serviços voluntários.
Pelo canal, as ONGs podem apresentar suas necessidades nas áreas
de comunicação e gestão e os parceiros podem disponibilizar serviços
gratuitos para atendê-las. Ainda são disponibilizados conteúdos e
oportunidades de cursos, palestras, eventos e classificados.
Com essa ferramenta, o Instituto GRPCOM ajuda a aprimorar a
gestão das organizações do terceiro setor por meio de parcerias com
universidades, empresas, instituições representativas de classe e
profissionais liberais e também difunde a cultura da responsabilidade
social empresarial. Em 2013 foram R$ 321.605,30 em investimentos
indiretos, ou seja, esse seria o volume de investimento que as ongs
teriam que realizar se os serviços dos parceiros fossem contratados.
RESULTADOS EM 2013
Regiões atendidas
no Paraná
8
Corda
Bamba
(2011-2014)
Serviços
realizados
Ongs
cadastradas
Parcerias
firmadas
86
247
71
Corda Bamba é uma gincana realizada pela rádio 98 FM e pelo Instituto
GRPCOM. O projeto é direcionado para escolas estaduais de Ensino
Médio de Curitiba e Região Metropolitana, e tem como objetivo
principal incentivar o protagonismo juvenil e estimular a mobilização
da comunidade. Em 2011, com a temática foi meio ambiente, o projeto
visou sensibilizar e incentivar ações de educação ambiental junto à
comunidade escolar.
A dinâmica de Corda Bamba foi organizada em várias “provas de
sustentabilidade”: identificação do problema ambiental da comunidade
e das soluções possíveis para tal, organização de campanha ambiental,
pesquisa sobre a temática.
RESULTADOS EM 2013
Cidades atendidas
no Paraná
Professores
parceiros
Instituições
atendidas
Alunos
beneficiados
13
31
12
128
Fonte: http://www.institutogrpcom.org.br/nossos-projetos
Empreendedorismo Social 51
2.5 O INVESTIMENTO DO GRUPO EM PROJETOS SOCIAIS
O desenvolvimento dos projetos sociais é a atividade exclusiva do Instituto
GRPCOM. Eles são concebidos a partir de oportunidades e reconhecimento por
parte dos gestores de que o projeto é de relevância para o cumprimento da
missão do grupo.
O investimento em projetos sociais também passa pelo entendimento
de que para ser socialmente responsável há que se considerar os diversos
stakeholders impactados pela atividade empresarial.
[...] a gente tem certeza que a maneira de promover o desenvolvimento não
se esgota na relação, no modelo econômico, há outras maneiras de fazer
isso, quais são os atores do mercado que interferem, que são importantes
na geração de desenvolvimento, na transformação de uma sociedade?
Múltiplos atores, você tem os atores empresariais, você tem os atores do
terceiro setor, e a organização, como se enxerga fundamentalmente como
alguém que pretende realizar, ajudar a promover esse desenvolvimento
busca todas as ferramentas, e uma dessas ferramentas é precisamente
essa, do relacionamento, de fazer uma série de atuações junto aos atores
de mercado, às entidades, às pessoas na sociedade, através de outros
formatos que não só os formatos propriamente empresariais, propriamente
econômicos [...] (VP).
Desta forma, investir em projetos sociais parece indispensável ao
GRPCOM para o cumprimento do papel de uma empresa socialmente
responsável e sustentável.
Em termos de recursos financeiros, o Instituto GRPCOM é mantido pelo
GRPCOM, assim como alguns projetos que desenvolve possuem seu centro de
custo alocado na área corporativa. Outros projetos que são desenvolvidos para
empresas específicas do grupo, possuem investimento da própria empresa.
52 Empreendedorismo Social
Porém, apesar do alto investimento do grupo, os projetos são concretizados
com a celebração de parcerias com Prefeituras Municipais, Secretarias de
Educação, Núcleos Regionais de Educação, Federação das Indústrias do
Paraná, Sistema S, Sistema Fecomércio SESC/SENAC, Universidades e
empresas que prestam serviços voluntários às instituições cadastradas
nos projetos, o que dá a entender que o investimento seria maior caso não
houvesse essas parcerias.
2.6 ÁREAS SOCIAIS PRIORITÁRIAS
Em se tratando de RSE, fica evidente que os projetos sociais sempre vão
utilizar as expertises da empresa, ou seja, as áreas de conhecimento e maior
impacto que a atividade econômica da empresa possui.
No caso do GRPCOM, que atua na área de comunicação, existem segmentos
e áreas de maior afinidade.
[...] nós sempre encontramos obviamente uma afinidade grande no campo
da educação, sempre é um tema muito presente, e um segundo ponto,
houve uma definição sobre isso, foi sempre a do terceiro setor, a gente
se enxergava com um potencial de servir como instrumento de apoio pra
entidades do terceiro setor (VP).
Em relação à avaliação dos resultados dos projetos sociais, o modelo
adotado é traçado a partir de indicadores de resultado. Os projetos percorrem
todas as fases necessárias a uma boa gestão: planejamento, execução,
monitoramento e avaliação.
Também é adotado após a execução dos projetos um questionário para
medir a satisfação da população atendida, cujo percentual de satisfação é o
indicar de desempenho daquele projeto.
A ferramenta de avaliação possui indicadores de processo e resultados, dando
segurança na avaliação final de cada projeto. Os indicadores de processo medem a
eficiência e a eficácia, e os indicadores de resultados medem a efetividade das ações.
Empreendedorismo Social 53
Além das ferramentas, há uma avaliação coletiva, com encontros
semestrais em Curitiba de toda a equipe para, além de tratar de questões
administrativas como treinamentos e planejamento estratégico, também
realizar a avaliação dos projetos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo proposto podemos concluir que a Sustentabilidade para
o GRPCOM é uma parte essencial do negócio. As ações para a perenidade da
empresa não depende somente do desenvolvimento de projetos sociais pelo
Instituto GRPCOM, e sim de todas as ações de todos colaboradores e áreas do
negócio, seja ela estratégica ou operacional.
Os projetos desenvolvidos pelo GRPCOM possuem impacto altamente
positivo na comunidade. Isso pode ser evidenciado a partir dos resultados
apresentados anualmente e na forma de desenvolvimento dos projetos,
principalmente quando da preocupação em conduzir as atividades através da
percepção dos beneficiários da ação.
Em relação ao desenvolvimento dos projetos, estes são desenvolvidos
segundo a aproximação da área de atuação da empresa, que nesse caso é a
comunicação. Nesse sentido, foram eleitas as áreas de educação e terceiro
setor como prioritárias, esta última por entender que a intervenção junto às
instituições do terceiro setor contribui para o desenvolvimento da sociedade e
alcance da missão do Grupo.
Todavia, percebemos que todos os projetos são desenvolvidos em parceria,
o que representa um risco e uma fragilidade para o Grupo, pois sem as parcerias,
os projetos provavelmente não seriam desenvolvidos nos formatos propostos
e quiçá tivessem o alcance que possuem em todo o Estado do Paraná.
Enfim, concluímos que a estratégia de se ter uma instituição que gerencia todas
as ações da área social da empresa traz consigo o beneficio de ter projetos focados,
qualificados e de alto desempenho, que colaboram não somente na Sustentabilidade
da empresa, mas também no desenvolvimento da comunidade do entorno.
54 Empreendedorismo Social
Referências Bibliográficas
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sustentável: da teoria à prática / Jorge Emanuel Cajazeira. – 2.ed., atual. e
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FERNANDES, José Carlos. DOS SANTOS, Marcio Renato. Todo o dia nunca
é igual: notícias que a vida contou em 90 anos de circulação da Gazeta do
Povo / Jose Carlos Fernandes, Marcio Renato dos Santos. Curitiba, PR : Editora
Gazeta do Povo, 2010. 228 p.
GRUPO DE INSTITUTOS FUNDAÇÕES E EMPRESAS – GIFE (São Paulo).
Disponível em: <http: www.gife.org.br/>. Acesso em: 15 ago. 2014.
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Disponível em: <http: www.grpcom.com.br/>. Acesso em: 18 ago. 2014.
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<http:www.
MELO NETO, Francisco Paulo de . Responsabilidade social e cidadania
empresarial: a administração do terceiro setor / Francisco Paulo de Melo
Neto, César Froes. – Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1999.
QUIMELLI, Gisele Alves de Sá. Considerações sobre o Estudo de Caso
na pesquisa qualitativa. In: BOURGUIGNON, Jussara Ayres. Pesquisa Social
reflexões teóricas e metodológicas. Editora Todapalavra, Ponta Grossa, 2009.
TENÓRIO, Fernando Guilherme. Responsabilidade social empresarial:
teoria e prática/ Organizador Fernando Guilherme Tenório; colaboradores
Fabiano Christian Pucci do Nascimento... (et. al.). – 2. ed. ver. e ampl. – Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2006. 260p.
Empreendedorismo Social 55
Inovação social: instrumento de
desenvolvimento e transformação social
Karen Barbosa
RESUMO:
Este artigo tem por objetivo contribuir com a compreensão sobre os
termos inovação e inovação social, bem como trazer uma contextualização
da relevância desse tema nos dias atuais e apresentar, de forma sucinta,
incentivos e processos de implementação voltados à inovação social.
Empreendedorismo Social 57
Inovação como um novo modelo social
Pensar em inovação social oportuniza um debate muito amplo a respeito das
demandas atuais em que empresas e organizações estão inseridas. O mundo
globalizado trouxe à tona diversas realidades e questões sociais que antes
eram despercebidas ou percebidas em menores proporções. A situação global
da economia, as políticas sociais e culturais, as guerras e vários outros temas
hoje geram publicações em todo mundo e influenciam a atuação de diversas
instituições, além de trazerem uma nova perspectiva sobre o papel das mesmas.
Nesse contexto, as empresas são impulsionadas a manter uma atualização
constante. Os avanços tecnológicos e a busca de custos cada vez menores de
produção contribuem para que tal necessidade se torne mais latente. Porém,
a atualização engloba diversos fatores; não está simplesmente relacionada ao
ato de se criar algo melhor, mas sim a uma inovação que realmente transforme
e valorize o capital humano, que traga mudanças em comportamentos,
posicionamentos e caminhos.
Através de uma atuação mais integrada com as atuais demandas por
mudanças, as empresas podem atingir um alcance muito mais estável e
sustentável, podendo assim permanecer no mercado, explorar novos nichos,
manter-se à frente de concorrentes e até se tornarem mais competitivas.
É importante ressaltar que o conceito de inovação está associado à
aplicabilidade de novas ideias, garantindo uma realização. O sucesso pode
estar relacionado a diversos fatores: ideias que proporcionem um maior
faturamento de empresas; que expandam as relações comerciais; que
beneficiem a qualidade de vida de trabalhadores; que contribuam para a
transformação social, entre outros benefícios para a sociedade.
A inovação por si só já representa uma transformação dos modelos
convencionais de processos, produtos ou serviços; porém, o tema abordado
no presente artigo faz a reflexão sobre a inovação no âmbito social, o que não
exclui a atuação das empresas e de diversas outras instituições.
58 Empreendedorismo Social
A inovação social está diretamente relacionada a ações que estimulem
a resolução de problemas sociais, como por exemplo, a desigualdade e o
desemprego, que são resultados da exclusão social proveniente do modelo
capitalista. Nesse cenário, as empresas são agentes de transformação que
podem potencializar – em parceira com universidades, centros de pesquisa,
movimentos sociais, agências de fomento, investidores, governo, fornecedores
e concorrentes – as ações necessárias para gerar uma inovação.
Por diversas razões o setor privado tem se mostrado envolvido com as
problemáticas sociais, buscando uma maior aproximação com a comunidade
e comprometendo-se com a qualidade de vida. Muitas vezes as empresas são
os centros das ações inovadoras, pelo fato de existir uma grande dedicação à
criação de áreas voltadas a inovação e laboratórios de pesquisas. Através das
realizações nesse setor, as invenções, produtos e ideias chegam ao mercado.
A inovação social difere da definição tradicional de inovação, pois se refere
ao desenvolvimento de processos, produtos e serviços que permitam uma
transformação social, ou seja, não estão ligados diretamente ao mercado,
promovendo em muitos casos um aumento na qualidade de vida e na geração
de trabalho e renda.
As ações implementadas nessa perspectiva precisam deixar claro o seu
potencial transformador para realmente ser reconhecidas como inovação
social. É necessária uma real compreensão e envolvimento com o segmento
proposto para aí sim intervir através de um impacto positivo, e é também
essencial a avaliação desse impacto. Frequentemente as pessoas confundem
o ato de inovar e os processos de inovação com uma melhoria contínua, mas a
inovação vai além de ações pontuais de otimização.
Implementação de ideias
A grande maioria das referências sobre inovação é encontrada no
Manual de Oslo, criado em 1997 pela OCDE – Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico, segundo o qual os empreendedores de
diversos setores se baseiam para realizar mudanças. O Manual também
Empreendedorismo Social 59
aborda o aspecto indissociável entre inovação e desenvolvimento econômico
e apresenta quatro tipos de possibilidades no campo da inovação: novos
produtos, novos processos, novas estratégias organizacionais e de marketing.
De acordo com Schumpeter (1934), o desenvolvimento gerado pela inovação
estimula e fortalece também o setor econômico. O autor defende que esse
desenvolvimento e a prosperidade só podem acontecer por meio da inovação,
através de novas formas de produzir e consumir, e são principalmente os
empreendedores os catalisadores dessas mudanças.
Independentemente do que será realizado, é preciso levar em consideração
a importância da inovação no cenário vigente. Não há como se tornar uma
empresa inovadora sem dar a devida relevância ao tema. É a partir da
compreensão dessa necessidade que as empresas podem definir uma
estratégia que deve estar alinhada aos seus objetivos e sua a visão de futuro.
Após essa fase inicial, a empresa pode começar a desenvolver as
ferramentas de gestão desse processo de inovação. Essas ferramentas vão
ser planejadas de acordo com cada organização, por isso devem ser levados
em consideração o tamanho da empresa, o setor de atuação, a cultura, a
estrutura organizacional e vários outros aspectos.
Além desses fatores é importante ressaltar que a inovação só pode ocorrer
quando há um aprendizado organizacional. Senge (1998) afirma “que as
organizações que aprendem devem desenvolver continuamente a capacidade de
se adaptar e mudar através da criatividade e inovação”. Esse aprendizado estará
presente em todas as fases da implementação de uma inovação, sendo essencial
para gerar impactos que continuem gerando benefícios para a organização.
O processo de implementação da inovação social funciona da mesma
maneira, porém no ponto de partida, ou seja, quando se está refletindo sobre
a empresa, inclui-se um diagnóstico a respeito dos problemas sociais latentes
e que necessitam de novas soluções.
A partir da definição desse ponto, é possível partir para o processo criativo,
que abrirá caminhos possíveis para resolver os problemas. Os projetos
60 Empreendedorismo Social
pensados podem ser em diversas áreas, tais como: melhoria nas condições
de trabalho, lazer, educação, meio ambiente, segurança, saúde, turismo,
ocupação e mobilidade urbanas, etc.
Após a elaboração dessas etapas, é o momento de realizar alguns testes
para verificar o papel realmente transformador das ações e tentar buscar
um grau de permanência da atividade, posteriormente, o projeto pode partir
para ampliação e difusão do seu modelo para outros locais. O último estágio
da inovação social seria a inovação sistêmica, que geralmente envolve uma
mudança no setor público, na legislação, no setor privado, por um período
longo de tempo.
O que é importante é que as organizações produzam inovações em
diversos contextos, que possam superar as desigualdades através de novas
metodologias e permitir uma atuação mais concisa dos indivíduos na sociedade.
Incentivos governamentais
Se a inovação é considerada um grande pilar do desenvolvimento
econômico, é essencial que ela faça parte dos programas de incentivos
do Governo. Atualmente diversas instituições já receberam premiações e
benefícios por impulsionarem e multiplicarem a cultura de inovação em seus
negócios e/ou na comunidade em que estão inseridos.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação implementou em 21 de
novembro de 2005, a Lei n.º 11.196, conhecida como Lei do Bem, que consolidou
os incentivos fiscais. A premissa básica é que as pessoas jurídicas que tem o
intuito de garantir o fomento, realizem pesquisa tecnológica e contribuam
para o desenvolvimento de inovação tecnológica.
A FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) é uma empresa pública
vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que anualmente realiza o
Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica. Concorrem ao prêmio micro/pequenas,
médias e grandes empresas; instituições de ciência e tecnologia; pessoas
físicas; OSCIPs; ONGs; cooperativas e outras instituições públicas e privadas.
Empreendedorismo Social 61
Para a FINEP, inovação é a criação de tecnologias, processos e metodologias
originais que possam vir a se tornar propostas de novos modelos e paradigmas
para o enfrentamento de problemas sociais, combate à pobreza e promoção da
cidadania. O intuito do Prêmio é reconhecer as ações inovadoras das empresas
e instituições de ciência e tecnologia brasileiras. A premiação é uma forma de
elevar o potencial competitivo tanto de instituições públicas ou privadas, e de
potencializar o impacto positivo na qualidade de vida da sociedade brasileira.
As categorias do prêmio estão baseadas nas definições contidas no
Manual de Oslo. São elas: produto, processo, pequena empresa, grande
empresa, instituições de ciência e tecnologia (C&T), inovação social. Esta
última categoria aborda a inovação como a utilização de tecnologias que
permitam promover a inclusão social, geração de trabalho, renda e melhorias
nas condições de vida. Dentro da categoria inovação social, podem concorrer
ao prêmio instituições de ciência e tecnologia, associações, cooperativas e
instituições públicas ou privadas sem fins lucrativos.
Atualmente, o Prêmio Finep é o mais importante instrumento de estímulo
e reconhecimento à inovação no Brasil. Já garantiu a premiação de centenas de
empresas, instituições e pessoas físicas. Em 2014, serão disponibilizados R$ 8
milhões para os primeiros colocados regionais e nacionais de cada categoria.
Outro prêmio de bastante relevância no País é o Edital SENAI SESI de
Inovação, que seleciona boas ideias e oferece suporte e recursos necessários
para que as empresas coloquem projetos inovadores em prática. A meta, de
acordo com o Edital, é de incentivar o desenvolvimento de produtos, processos
e serviços inovadores na indústria nacional para o aumento da competitividade
e da produtividade por meio da promoção da qualidade de vida do trabalhador.
As instituições passam por duas etapas que incluem a inscrição das
ideias, análise das ideias, plano de negócios, contratação e execução. Podem
participar empresas do setor industrial, inclusive startups de base tecnológica,
em parceria com uma ou mais unidades operacionais SESI/SENAI.
62 Empreendedorismo Social
Considerações finais
A inovação social surge inserida em um cenário precário de transformações.
Não é só no Brasil que encontramos desequilíbrios sociais, econômicos e
culturais; há urgência de novas soluções em diversas sociedades no mundo.
Através das metodologias adequadas, dos processos sistematizados, das
alianças estratégicas e de sistemas efetivos de disseminação é possível
impulsionar transformações que contribuam para o desenvolvimento
socioeconômico sustentável de um país.
A inovação é capaz de gerar vantagens competitivas em médio e longo
prazo, permitindo que empresas se expandam para novos mercados,
aumentem seus rendimentos, realizem novas parcerias, adquiram novas
aprendizagens e aumentem o valor de suas marcas; em suma, são essenciais
para a sustentabilidade dos negócios em todo o mundo.
Para uma implementação efetiva das novas ideias, é preciso existir uma
articulação dos indivíduos em rede, trabalhando de forma sincronizada e
harmônica, e firmando um compromisso solidário com a transformação, com o
reconhecimento e valorização do conhecimento do outro. Apenas dessa forma
pode haver uma real mudança dos paradigmas existentes na sociedade, que
consolidem de fato um novo modelo de atuação social integrado e sustentável.
Empreendedorismo Social 63
Referências Bibliográficas
Tradução: 1990, A Quinta Disciplina: A arte e prática da organização de
aprendizagem, Doubleday, New York, 1990
Schumpeter, Joseph. Ciclos econômicos (Business cycles) de 1939;
http://www.portaldaindustria.com.br/
http://www.mct.gov.br/
http://premio.finep.gov.br/
http://download.finep.gov.br/imprensa/manual_de_oslo.pdf
64 Empreendedorismo Social
O empreendedorismo social e sua
contribuição para formação da
cidadania: estudo de caso da Associação
Solidariedade Sempre
Sandra M. J. Capelo
RESUMO:
O artigo propôs situar o desenvolvimento do conceito de empreendedorismo
social e ilustrar seu potencial para formação da cidadania. Para isso, resgatou
na bibliografia seu histórico e características definidoras para identificar
sua contribuição através do estudo de caso da Associação Solidariedade
Sempre (ASS). A ASS é mantida pelo Grupo Empresarial Hayapek e oferece
formação musical no contra turno escolar para adolescentes em situação
de vulnerabilidade social. Verificou-se que a ASS preenche a maioria das
características definidoras do empreendedorismo social e seus resultados
confirmam o potencial da prática para transformar a sociedade de maneira
sistêmica e duradoura.
Palavras-chave: Empreendedorismo social, Sustentabilidade, Cidadania.
Empreendedorismo Social 65
INTRODUÇÃO
A música “O que é? O que é?”, de Gonzaguinha (Gonzaguinha, 2014),
questiona se “a vida é maravilha ou é sofrimento, se é alegria ou lamento”,
e confia: “somos nós que fazemos a vida, sempre desejada por mais que
esteja errada”. O presente estudo não pretende discutir se está certa ou
errada, mas apontar caminhos que a tornem sempre desejada. Uma vida
mais maravilha e alegria do que sofrimento e lamento. Uma vida mais
promissora e menos desigual.
O escritor africano Mia Couto (2014) expõe, com sua contundente frase “De
repente olhamos para a África com medo de que nos contagiem com o ebola1.
Normalmente não olhamos para eles, porque a fome não é contagiosa”, o risco
e miséria decorrentes do descaso. Propõe-se investigar essa nova maneira de
cuidado com o outro através da ação empreendedora.
E, ainda, causar reflexão sobre esta ação que, enquanto ação, supõe
sustentabilidade, visto ser este um dos diferenciais do empreendedorismo
social quando comparado com outras modalidades de intervenção. Enfim:
como o empreendedorismo social contribui para a formação da cidadania?
E, identificar, na instituição pesquisada, as características definidoras do
empreendedorismo social e sua contribuição para a formação da cidadania.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O empreendedorismo social emerge como uma forma de enfrentamento
dos desafios sociais, econômicos e ambientais insuficientemente atendidos
pelo Estado. A prática se confunde e diferencia do empreendedorismo
privado, da responsabilidade social empresarial, do ativismo social e do
assistencialismo, evidenciando tratar-se de um conceito em construção, mas
com características já definidoras.
Ao buscar essa definição e distinção, encontra-se que o empreendedorismo
privado, apesar de ter o objetivo de suprir necessidades humanas, tem o foco
no mercado e a medida de seu desempenho é o lucro. A confusão ocorre
Vírus ebola. Atinge atualmente (out/2014) 7,5 mil pessoas principalmente nos países Guiné, Serra Leoa e Libéria, no Oeste da África.
Destes, cerca de 3,4 mil pessoas já morreram por causa da doença. Uma pessoa está em estado crítico nos EUA após estar na região e
viajar e uma enfermeira na Espanha manifestou a doença após prestar assistência a um padre que foi transferido para tratamento no país.
1
66 Empreendedorismo Social
porque o empreendedorismo social se apropriou do termo empreendedorismo,
pois incorporou suas características em um espaço cuja finalidade não é a da
acumulação da riqueza ou lucro, como será explicitado (Parente et. al., 2011).
A responsabilidade social empresarial traz para o negócio a perspectiva
de longo prazo, a inclusão sistemática da visão e das demandas das partes
interessadas e a transição para um modelo em que os princípios, a ética e a
transparência precedem a implementação de processos, produtos e serviços
(Borger, 2001). Seu objetivo principal, no entanto, é agregar valor estratégico
ao negócio e atender expectativas do mercado e da percepção da sociedade/
consumidores (Oliveira, 2004).
O ativismo social ou político também é provocado pela constatação de
desequilíbrio social, mas se diferencia pela orientação da ação transformadora
que é focada em influenciar outros, como os governantes, instituições não
governamentais, consumidores ou trabalhadores. Embora exija do ator
social as mesmas características de inspiração, criatividade e força, a medida
do desempenho está relacionada à mobilização alcançada, mais do que à
intervenção direta na promoção do equilíbrio, como na atuação de Gandhi2 e
Martin Luther King3 (Martin & Osberg, 2007, p. 37-38).
O assistencialismo pode ser uma forma de dominação e não de proteção.
Demo (2002, p.70) alerta que “os pobres necessitam, mais que ninguém,
de solidariedade e cuidado, mas não podem transformar isso em ‘presente
grego’... esse tipo de solidariedade é, no fundo, imbecilizante... é o resultado
do cultivo da ignorância, a condição de massa de manobra, na qual a pessoa
é manipulada..., geralmente sem perceber”. Pode ser a forma inicial de
intervenção em situações de extrema pobreza através da disponibilização
direta dos produtos que atendam a necessidades básicas, mas requer ações
complementares de emancipação e empoderamento.
O uso de um conceito pelo outro ocorre pela mescla de orientações que
cruzam objetivo social, associado às instituições sem fins lucrativos, com
uma vertente empreendedora, aliada ao caráter dinâmico e inovador do
negócio. Por outro lado, embora seja importante conceituar adequadamente,
Mahatma Gandhi (1869-1948) foi líder pacifista indiano. Principal personalidade da independência da Índia, então colônia britânica.
Destacou-se na luta contra os ingleses pelo seu projeto de não violência.
3
Martin Luther King (1929-1968) foi um ativista político e pastor protestante norte-americano conhecido pela luta contra a discriminação
racial nos EUA e luta pelos direitos civis dos negros.
2
Empreendedorismo Social 67
o mundo “real” mostrará experiências que combinam essas práticas (Martin
& Osberg, 2007).
Ademais a distinção dos termos para definir o campo conceitual do
empreendedorismo social, buscou-se sua origem, pois práticas similares são
identificadas historicamente. No final do século XIX já se verificava a “caridade
científica”, uma forma de caridade mais sistemática e estratégica, e alguns
personagens identificados com o fenômeno, como Florence Nightingale4
(Parente et. al., 2011).
Apesar de se reconhecer essas práticas históricas, o constructo teórico
no Brasil data de 1990, ante a crescente problematização social, a redução
dos investimentos públicos nesse campo, o crescimento das organizações do
terceiro setor e da participação das empresas no investimento e nas ações
sociais (Oliveira, 2004).
Surgiram correntes e escolas de investigação e o conjunto de ações e
características definidoras dos empreendedores sociais foi sendo estabelecido
e validado (Dess, 1998). Primariamente, compreendem:
a) Adotar uma missão para criar e manter valor social (e não apenas valor
privado) (vão direto às causas do problema e procuram criar mudanças
sistêmicas e sustentáveis);
b) Reconhecer e buscar obstinadamente novas oportunidades para servir
essa missão (são persistentes e realizam os ajustes necessários para
superar obstáculos);
c) Empenhar-se num processo contínuo de inovação, adaptação e
aprendizagem (aceitam os riscos e são tolerantes com insucessos);
d) Agir com ousadia sem estar limitado aos recursos disponíveis no
momento (exploram todas as opções de recursos e desenvolvem
estratégias de recursos que tenham possibilidade de apoiar e reforçar a
sua missão social);
e) Prestar contas com transparência à clientela que serve e em relação aos
resultados obtidos (tomam medidas para garantir a criação de valor e retribuir
aos investidores, além de verdadeiras melhorias sociais aos seus beneficiários).
4
Florence Nightingale foi uma enfermeira inglesa que desenvolveu práticas modernas de enfermagem e reformas na saúde em todo o
mundo, após reduzir o número de mortos do exército inglês em dois terços
68 Empreendedorismo Social
Assim, o empreendedor social é uma espécie no gênero empreendedor,
cujo foco central é a missão social e que age através do reconhecimento e
busca implacável de novas oportunidades, e engajamento em um processo de
contínua inovação, adaptação e aprendizado que sirvam a essa missão. Busca
a prosperidade inclusiva, um novo e sustentável equilíbrio que resulte em
benefício permanente para o grupo e para a sociedade como um todo (Martin
& Osberg, 2007).
Os empreendedores sociais servem como um laboratório de aprendizagem
para a sociedade ao desenvolverem, testarem e refinarem soluções
inovadoras para problemas sociais, através da promoção de uma ampla gama
de experiências para descobrir qual solução proposta é viável, de baixo custo
(maior impacto social por unidade de investimento financeiro) e escalável
(Dess, 2009).
Com o amadurecimento do tema, atualizaram-se suas características
fundamentais, que abrangem: “ser ideia inovadora, realizável,
autossustentável, envolver várias pessoas e segmentos da sociedade,
principalmente a população atendida, provocar impacto social e permitir que
seus resultados possam ser avaliados” (Oliveira, 2004).
Com base nesse levantamento bibliográfico foi possível estabelecer os
fundamentos da pesquisa, identificando as teorias e conceitos relevantes
para o trabalho e a definição dos elementos que deveriam ser levantados na
pesquisa de campo para investigar a hipótese formulada.
O método utilizado foi o estudo de caso, porque o fenômeno é
contemporâneo e investigado em seu contexto real, buscando-se entender
porque as decisões foram tomadas, como foram implantadas e os resultados
obtidos (Yin, 2010).
A pesquisa caracterizou-se por ser explanatória. A coleta de dados
primários baseou-se em entrevista com a assistente social administradora da
unidade, com o instrutor musical que frequentou a instituição inicialmente
como aluno e foi convidado a ser educador, e com o diretor da instituição
Empreendedorismo Social 69
pesquisada. Quanto aos instrumentos para levantamento e análise de dados
secundários, utilizaram-se reportagens publicadas em jornais e revistas,
folder e site institucional, depoimentos registrados e internet. Realizouse triangulação dos dados coletados para confrontação das informações. O
estudo foi submetido a revisor especializado e, posteriormente, a bibliotecária
para adequação das referências bibliográficas.
A entidade pesquisada foi a Associação Solidariedade Sempre, uma
organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), sem fins lucrativos,
de direito privado. Formada em abril de 2003, é mantida pelo Grupo Hayapek de
Londrina, constituído pelas empresas Hayamax, Hayonik e Sonkey, atuantes
na indústria, varejo e distribuição de instrumentos musicais, componentes
eletrônicos e vídeo e som.
O projeto se iniciou com a visão do diretor Ricardo Akira Hayama, filho
do fundador da empresa Kazume Hayama que, inspirado por uma publicação
onde se relatava que pessoas da colônia japonesa contribuíam para um mundo
melhor, idealizou oferecer oportunidade para que adolescentes vulneráveis à
violência se tornassem multiplicadores de uma nova forma de viver baseada
em valores como solidariedade, ética e crença no valor individual.
Reuniu funcionários e lideranças da empresa para apoiarem o projeto que
tem como compromisso a criação de oportunidades e, como missão, ensinar
hábitos, princípios e valores a fim de preparar o adolescente para o exercício da
cidadania, do voluntariado e da criatividade, como sujeito de um mundo melhor.
O processo para seleção de adolescentes ocorre duas vezes ao ano, no
final de cada semestre. Os critérios para inclusão dos jovens são: estar na
faixa etária entre 10 e 16 anos; ser oriundo de famílias com renda per capita
correspondente a 30% do salário mínimo; ter disposição para mudar a
própria história.
O projeto começou com cinco adolescentes, em uma casa alugada na
região leste de Londrina, apontada em estudo como a mais carente da cidade.
As atividades eram oferecidas no contra turno escolar e compreendiam
70 Empreendedorismo Social
artesanato, música, inclusão digital e reforço em português e matemática.
Atualmente são 64 adolescentes atendidos em sede própria na região central
– e a atividade principal é a música.
Com a mudança de endereço, o projeto foi estendido para toda a cidade e
os alunos passaram a receber vale-transporte, pois a sede ficou longe do local
de moradia. O recrutamento conta com a parceria do Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) da Prefeitura Municipal de Londrina.
A ASS possui certificado de Utilidade Pública e de Instituição
Parceira do movimento Nós Podemos Paraná. Foi duas vezes finalista no
Prêmio Instituto HSBC Solidariedade. Conta com várias empresas parceiras
e tem o apoio da Prefeitura Municipal e subsídio do governo através da Lei
Rouanet, de incentivo à cultura. Realiza Campanhas de Ação Solidária com a
contribuição de pessoas físicas e tem a parceria do Rotary Clube.
Quando se avalia a ASS em relação ao empreendedorismo social,
encontra-se que atende a maioria de suas características definidoras. A meta
é tornar-se autossustentável, imprescindível à reprodutibilidade do modelo. O
balanço social é publicado anualmente e as ações de transparência estão em
processo de sistematização.
A ASS adotou uma missão para criar e manter valor social, atuando
sobre a vulnerabilidade dos adolescentes frente a situações de violência em
ambientes precários, resumida na frase “as mãos que tocam instrumentos
não seguram armas”.
Através da música atua sobre a formação pedagógica e social dos
adolescentes, contribuindo para a criatividade, expressão da cultura, disciplina
e responsabilidade, além de facilitar o acesso a ambientes que o adolescente
não frequentaria e promover a inclusão cultural e social.
Com a proposta inicial de oferecer artesanato, música, inclusão digital e
aulas de português e matemática, a ASS se deparou com a dificuldade de
medir resultados em algumas áreas e normativas específicas relacionadas
Empreendedorismo Social 71
às disciplinas da grade curricular, redirecionando e centralizando o foco na
atividade musical, que hoje conta com oficinas de musicalização (que engloba
a flauta doce, teoria musical, violão popular, repertório, canto e coral), cordas
(violino, viola de arco, violoncelo e contrabaixo), madeiras (instrumentos de
sopro, como flauta transversal, clarinete, oboé, fagote e saxofone), metais
(trompete, trombone, trompa e tuba), piano, percussão sinfônica (tímpanos,
bumbo sinfônico, xilofone e gongo sinfônico), música popular (violão popular,
cavaquinho, pandeiro, zabumba, guitarra, contrabaixo elétrico, bateria e
teclado) e violão clássico.
Essa lista minuciosa de oficinas e instrumentos é importante, pois
evidencia a extensão da proposta e o desafio da Associação. São investimentos
realizados em recursos materiais e humanos para proporcionar acesso a uma
linguagem universal que, provavelmente, não acessariam. O jovem pode
estudar até três instrumentos, buscando aquele com o qual mais se identifica.
Os instrutores, inicialmente voluntários, hoje são assalariados para evitar
solução de continuidade nas atividades, exceto pela senhora Nilda Itimura
Hayama, que iniciou no projeto com o esposo e permanece como voluntária
na coordenação da Associação.
Além do planejamento para ofertar opções variadas de instrumentos para
favorecer a identificação do adolescente com o projeto, a ASS estruturou a
formação de grupos pedagógicos específicos, como a Orquestra de Câmara
Solidariedade Sempre (oferece estímulo aos jovens para o desenvolvimento
da cultura musical por meio do aprendizado de estruturas da teoria musical
e de técnicas instrumentais), Banda Pop (visa promover a aproximação e
identificação com a música através das “paradas de sucesso”), Coral InfantoJuvenil (visa desenvolver a afinação, ritmo, percepção corporal e sonora
através da técnica vocal aliada à prática do canto), Quarteto de Violão (visa
à prática da música de câmara), MPB (visa desenvolver o respeito, disciplina,
pontualidade, postura, motivação e relacionamento com o grupo, além dos
conceitos da música) e Orquestra Flauta Doce.
Através da Orquestra de Câmara Solidariedade Sempre regida pelo
educador musical Flávio Collins Costa, e demais grupos pedagógicos, os
72 Empreendedorismo Social
jovens têm tido a oportunidade de apresentarem a diversos públicos o seu
aprendizado, além de interagirem com músicos profissionais em ocasiões
como o Festival de Música de Londrina. Essa interação e exibição contribuem
para elevar a autoestima, como resumido por Venturelli (2010): “os aplausos
colocam a pessoa que está se apresentando em um lugar de importância,
protagonismo, e essa realidade combate e se contradiz ao que eles são
diariamente expostos, na realidade em que vivem”.
As apresentações musicais contribuíram para aproximar os familiares dos
adolescentes, e aumentou seu envolvimento. Em 2009, a ASS realizou parceria
com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e conta com orientação
especializada em psicologia. A Associação é administrada pela assistente
social Ellen Priscila Marques Figueiredo, e há iniciativas com instituições
parceiras para o encaminhamento dos jovens que demonstram interesse em
dar continuidade nos estudos e inserção no mercado de trabalho.
Thiago da Silva Santos, residente no Jardim Marabá, entrou no projeto em
2007 e interessou-se pelo estudo de violão. Através do projeto obteve bolsa de
estudos para conclusão do ensino médio no Colégio Londrinense e atualmente
realiza o segundo ano de Graduação em Música na UEL. Foi contratado pela
própria Associação para ser educador musical e identificou-se com o ensino.
Deseja concluir a faculdade, tornar-se professor e, eventualmente, realizar um
projeto semelhante. Seus amigos de infância não estão na universidade e no
bairro se diz que ele é “alguém que deu certo”.
A primeira apresentação pública do Tiago ocorreu no início de 2007, mas
foi na apresentação de encerramento do ano que viveu um momento especial
com a presença de sua mãe. Hoje experimenta a regência da Orquestra no
turno matutino. Relata que a confraternização que o projeto proporciona
ao fazerem as refeições juntos e viajarem juntos para os concertos também
foram aspectos importantes na sua formação.
Como Thiago, há histórias semelhantes. Thiago Breguedo e Mírian de Souza
são egressos do projeto e hoje trabalham como educadores na Associação
Mãos Estendidas, entidade sem fins lucrativos criada por empresários e
Empreendedorismo Social 73
profissionais liberais londrinenses, mantida pelo Estado e iniciativa privada
através de doações e repasses governamentais, e atuante na área de sócio
educação. Ana Flávia de Mello é egressa e educadora na própria ASS. Thiago
Breguedo realiza o terceiro ano de graduação em música na UEL. Jéssica
Ribeiro graduou-se em Serviço Social.
Diretores das escolas frequentadas por alunos da Associação percebem
e comunicam que possuem comportamento diferenciado. Esse é o valor
social gerado e a razão de ser do programa. O compromisso do projeto com a
sociedade não é formar músicos, mas cidadãos solidários.
Ser solidário sempre contribui para um mundo melhor e responde à
pergunta de Gonzaguinha: “E a vida o que é? Diga lá, meu irmão... É o sopro
do Criador numa atitude repleta de amor”!
74 Empreendedorismo Social
Referências Bibliográficas
BORGER, Fernanda Gabriela. Responsabilidade Social: Efeitos da
Atuação Social na Dinâmica Empresarial (tese de doutorado), Departamento
de Administração. São Paulo: USP, 2001.
DEMO, Pedro. Politicidade: razão humana. Campinas, SP: Papirus, 2002.
DESS, J. Gregory. Empreendimentos sociais como Laboratórios de
Aprendizagem. Inovações, p. 11-16, Boston, MA: Davos-Klosers, 2009.
DEES, J. Gregory. The meaning of “Social Entrepreneurship”. Center for
Social Innovation, 1998.
GONZAGUINHA.
Disponível
em
gonzaguinha/463845>. Acesso em 20 set 14.
<http://letras.mus.br/
MARTIN, Roger L. & OSBERG, Sally. Social Entrepreneurship: The Case for
Definition. Stanford Social Innovation Review, Spring, 2007, p. 37-38.
VENTURELLI, Edilson. In: MIRANDA, Fábio. Disponível em: http://
sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/30/artigo181620-1.asp.
Acesso em 30 set. 14.
Empreendedorismo Social 75
Maratona de Empreendedores: Inovação
e Desenvolvimento Social em Londrina
Rosi Sabino
Paulo Varela Sendin
RESUMO:
Trata-se de uma análise da iniciativa realizada pela ADETEC - Associação
do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina. O texto também busca
registrar a história de atividades que contribuíram na construção da cultura
empreendedora em Londrina e Região.
Palavras-chave: Palavras-chave: cultura empreendedora; inovação;
capital social
Empreendedorismo Social 77
Introdução
A inserção do tema Inovação neste livro pode parecer fora de contexto, já que
o foco central da publicação é o Empreendedorismo Social. Ocorre, no entanto,
que a sequência de eventos e atividades da Maratona de Empreendedores,
organizada pela Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina
(Adetec) durante vários anos extrapolava a simples promoção da Inovação e do
desenvolvimento tecnológico. De fato, a proposta dessa ação era de perseguir
objetivos mais amplos (Sabino, R, 2014) e indutores de mudanças sociais, tais
como a promoção da cultura de empreendedorismo, que é importante tanto
para o Desenvolvimento Econômico quanto para o Social.
É a partir dessa perspectiva, de uma visão abrangente das propostas e
resultados da Maratona de Empreendedores, que os autores se propõem
a analisar essa iniciativa da Adetec, buscando registrar a história dessa
atividade e tentando discutir seu impacto e desdobramentos na construção
da cultura empreendedora em Londrina.
Contexto da atuação da Maratona
O objetivo principal da Maratona de Empreendedores de Londrina, até
mesmo por ter o evento nascido no âmbito Plataforma do Conhecimento
(Platcon) da Adetec, era de promoção do desenvolvimento tecnológico, focando
especialmente na interação entre a academia e o setor empresarial. Assim,
conforme menciona o Relatório da III Maratona (Adetec, 2003), ao definir
os objetivos dessa Plataforma: “A PLATCON – Plataforma do Conhecimento,
uma das ações do projeto Londrina Tecnópolis, coordenado e gerido pela
ADETEC – Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina, foi
criada com o objetivo de estimular as instituições ofertantes do conhecimento
– universidades, institutos de pesquisa, escolas técnicas e demais instituições
78 Empreendedorismo Social
de ensino, capacitação e treinamento – integrando-as com o setor produtivo,
possibilitando, assim, o desenvolvimento tecnológico por meio de projetos de
pesquisa científica e tecnológica cooperativa entre universidades, centros de
pesquisa e o setor produtivo”.
Analisando-se apenas o objetivo acima mencionado, transparece a
impressão de que a Platcon (e, em decorrência, a Maratona) teria seu foco
direcionado exclusivamente para o desenvolvimento tecnológico. Entretanto,
ao descrever os métodos de trabalho assumidos por essa área da Adetec, o
Relatório acima mencionado amplia substancialmente suas possibilidades
de impactar a sociedade como um todo e contribuir para a construção
de uma cultura empreendedora mais ampla, conforme se pode ver no
parágrafo seguinte do texto citado: “As principais ações desta plataforma
fundamentaram-se na difusão da cultura empreendedora e da promoção
da inovação tecnológica, através da realização de palestras, seminários e
workshops de sensibilização e de formação de massa crítica, além de promover
cursos de formação de multiplicadores, cujo público-alvo foi a comunidade
acadêmica em todos os níveis e a comunidade empresarial”.
Além disso, mais adiante especifica-se como essa ação poderia atingir a
comunidade como um todo e proporcionar uma mudança cultural no longo
prazo: “...uma proposta pedagógica focada nos conceitos de empreendedorismo
e inovação, cuja constante é a mudança de atitudes e comportamentos do
homem, formando um cidadão ético e, sobretudo propondo a preparação
da criança e do adolescente para atuar na sociedade com iniciativa,
criatividade, independência e responsabilidade, desenvolvendo competências
empreendedoras e que utilizem com eficiência todos os recursos tecnológicos
de seu tempo”.
Dessa forma, observa-se que a Maratona se propunha a impactar
o Desenvolvimento Social de duas formas. Em primeiro lugar, atuando
na promoção da Inovação Tecnológica, na busca de níveis maiores de
competitividade do setor empresarial, o que proporcionaria uma dinamização
do desenvolvimento econômico de Londrina, o que proporcionaria, se
adequadamente conduzido e equitativamente distribuído, uma melhoria da
Empreendedorismo Social 79
qualidade de vida e consequente desenvolvimento social.
A esse impacto indireto soma-se uma externalidade importante do processo
de disseminação da cultura empreendedora, principalmente levando em conta a
proposta de atuação junto às escolas, induzindo mudanças nas gerações futuras.
Partindo desse pressuposto, considera-se como um dos objetivos da
Maratona o desenvolvimento do empreendedorismo na comunidade,
estimulando e fornecendo ferramentas adequadas à proposição de projetos
inovadores que contribuam para o bem- estar econômico e social de Londrina
e região. A relevância desse objetivo deriva do fato de que grande parte das
pessoas criativas não possui a cultura de estruturar as ideias e formular
projetos viáveis. Dessa forma, boas ideias acabam se perdendo em abstrações,
não gerando produtos, processos ou resultados inovadores. Tais produtos,
processos ou resultados poderiam trazer maior conforto para a comunidade,
melhorar o índice de produtividade dos empreendimentos, salvar vidas,
quando a inovação se dá no campo da saúde, enfim, melhorar o padrão de
qualidade de vida das pessoas.
Histórico do evento
Embora conceitualmente considerada como um “evento”, a Maratona de
Empreendedores de Londrina sempre foi mais um processo de promoção
de empreendedorismo do que um simples “evento”, que ocorria em uma
determinada data e se repetia um ano depois. O grande envolvimento
de parceiros acadêmicos e empresariais acabava por originar interações
constantes antes, durante e após o evento, ocasionando desdobramentos
positivos no ambiente de Inovação de Londrina e proporcionando resultados
de médio e longo prazos.
Esse processo quase permanente durou cerca de 5 anos e deixou legados
importantes, dentro e fora da Adetec, induzindo o surgimento de outras
iniciativas voltadas ao Empreendedorismo e à Inovação.
A Maratona definiu como público alvo os estudantes do ensino superior
(graduação e pós-graduação), estudantes do ensino médio profissionalizante
80 Empreendedorismo Social
e ainda, profissionais e inventores da comunidade em geral.
Em termos de impactos diretos, resultantes do envolvimento e participação
de um grande número de pessoas e entidades, é possível, em um rápido e não
exaustivo resumo citar alguns números, como segue.
Na primeira edição do evento, em 2001, os resultados foram os seguintes:
• 14 projetos selecionados
• 1 projeto transformou-se em empresa
• 2 foram indicados para incubação
• 2 para pré-incubação e
• 1 implantado no Colégio Estadual Cristo Rei de Cornélio Procópio
• Realizadas 99 palestras nas Escolas de nível médio e Universidades
• 2 cursos de empreendedorismo nas cidades de Arapongas e Apucarana
• 28 projetos selecionados e expostos
• 13 palestras sobre empreendedorismo
• 1 rodada de negócios com a presença da Endeavor Brasil, uma ONG
internacional de apoio a empreendedores através da aproximação de empresas
inovadoras e emergentes com investidores de risco.
• Dos 10 empreendedores locais, que foram prospectados 3 foram
selecionados e um deles recebeu o prêmio nacional Empreendedores do novo
Brasil, promovido pela Endeavor em juntamente com a Você S.A.
Na segunda edição, no ano seguinte, a Maratona de Empreendedores
contou com 28 projetos selecionados e expostos no Shopping Quintino no
período de 18 a 24 de novembro/2002. Além da exposição, também foram
realizadas 13 palestras sobre empreendedorismo.
Em sua terceira edição, a Maratona de Empreendedores mobilizou 14
instituições das áreas de ensino técnico. Naquele ano, os organizadores
ousaram propor que cada instituição de ensino da região de Londrina realizasse
maratonas internas. Assim, no período de maio a setembro, as instituições
participantes, contaram com o apoio da PLATCON - Plataforma do Conhecimento
/ Projeto Londrina Tecnópolis e SEBRAE na realização de palestras sobre
empreendedorismo e planos de negócios, preparando e incentivando seus
alunos para que apresentassem propostas às respectivas maratonas internas.
Empreendedorismo Social 81
O resultado foi a seleção de 52 projetos dos quais, 2 deram origem a empresas,
5 formam encaminhados para pré-incubação, 5 para incubação de empresa e 12
foram implementados nas próprias instituições ou empresas.
A IV Maratona, realizada em 2004, conseguiu cumprir praticamente todas
as metas a que se propôs, apresentando os seguintes resultados:
• 14 instituições foram contactadas, sendo que 8 participaram ativamente
de todo o processo.
• O Centro Universitário Filadélfia – UNIFIL realizou internamente a I
Maratona Unifil de Empreendedores, tendo selecionado 23 projetos e premiou
3 em outubro de 2004.
• A UNOPAR também realizou uma chamada interna com o intuito de
captar projetos tanto dos alunos como dos docentes e profissionais.
• Foram selecionados 35 projetos de um total de 75 para a mostra
competitiva no Catuaí Shopping.
• Foram prospectados 06 empreendedores de empresas inovadoras e
emergentes de Londrina e Região, com a presença do Instituto Empreender
Endeavor.
• Foram realizados 3 painéis (palestras e depoimentos) enfocando
os temas: Como Capitalizar Novas Empresas, Responsabilidade Social e
Conjuntura Econômica sob a Ótica do Empreendedor: Cenários e Perspectivas.
• Foram realizadas 6 rodadas de negócios, denominadas de Gera-inovação
visando a apresentação de novos empreendimentos e identificação de
oportunidades.
• Em relação ao objetivo de selecionar empresas para incubação, as 3
empresas indicadas foram: ForLogic (instalada no Hotel Tecnológico do
CEFET); Slide Control (em processo de prospecção junto à INTUEL) e uma
empresa pré-incubados no PROMÍDIA da UNOPAR.
Cabe destacar na IV Maratona, pelo seu aspecto de contribuição ao
Desenvolvimento Social, a premiação do projeto Rede de Interação Ecológica
em Londrina que visava contribuir para o desenvolvimento sustentável da
cidade, ressaltando que uma gestão integrada do manejo de resíduos sólidos
industriais pode ser um dos caminhos para minimizar o impacto ambiental,
causado pelo descarte de materiais sem a verificação de seu valor econômico.
82 Empreendedorismo Social
Em diversas oportunidades durante a trajetória de realização das
Maratonas, várias instituições realizaram eventos prévios internos. Entre as
instituições de nível superior podem ser citadas a Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR), em seu campus de Cornélio Procópio (na época
ainda como Centro Federal Tecnológico – CEFET), a Universidade Norte do
Paraná (UNOPAR) e o Centro Universitário Filadelfia de Londrina (UNIFIL) e
a Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA), hoje
Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) – Campus Apucarana.
A V Maratona, realizada em 2005, envolveu um público 40 participantes do
Ensino Médio Profissionalizante, abrangendo cursos: técnico em eletroeletrônica,
técnico em eletrônica, técnico em eletromecânica e técnico em química industrial;
105 participantes do Ensino Superior, Graduação e Pós-graduação, abrangendo
as áreas: engenharia da computação, engenharia elétrica, telecomunicação,
marketing e propaganda, fisioterapia, relações públicas, turismo, administração
e enfermagem; 20 profissionais e inventores das áreas de educação, TI, saúde,
design, entre outras e 81 jovens oriundos da população carente atendidos pela
Escola Profissional do Menor de Londrina – EPESMEL.
Esse amplo envolvimento das instituições resultou na inscrição de 196
projetos. Destes, foram pré-selecionados 66 projetos de diversas áreas como:
automação industrial, eletroeletrônica, eletrônica, social, cultural, ambiental,
saúde, veterinária, telecomunicações, Tecnologia da Informação com ênfase
para educação e games dentre outros.
Tendo em vista o apelo de transformação sócio cultural, a Maratona centrou
esforços especiais, junto ao público do ensino médio profissionalizante, para
o qual, em função das suas características, são necessárias iniciativas que
propiciem a inserção social e produtiva com cidadania.
Neste sentido, é imprescindível salientar o envolvimento da escola pública
estadual, o CEEP CASTALDI – Centro Estadual de Educação Profissional
Professora Maria do Rosário Castaldi, assim como da Escola Profissional do
Menor de Londrina – EPESMEL.
Empreendedorismo Social 83
A presença de instituições de ensino de nível médio e profissionalizante
na Maratona mostrou que o empreendedorismo não precisava ficar restrito
à Academia e poderia ser difundido também entre estudantes mais jovens.
Neste caso, “a presença de um representante do CEEP na televisão causou
um grande entusiasmo em toda a comunidade Castaldi, fato esse que fez
surgir durante os meses seguintes um total de 89 (oitenta e nove) projetos
de ideias empreendedoras entre nossos 316 alunos, ou seja, quase 30% dos
alunos apresentaram um ou mais projetos para a “Chuva de Ideias” para a
Maratona de 2005”.
Outro impacto significativo foi observado na EPESMEL, onde, por meio
de uma parceria entre a Adetec e a empresa Milênia Agrociencias (atual
Adama Brasil) implementou-se o Projeto Empreender, que tinha dentre seus
objetivos o de sensibilizar a comunidade empresarial integrando-a às ações de
responsabilidade social em prol do jovem adolescente, além de desenvolver
a cultura empreendedora na instituição, a partir do protagonismo juvenil. O
desenvolvimento do projeto teve um efeito sistêmico na instituição, conforme
relato do, então diretor geral da Epesmel, Pe. Vilcionei Baggio, “os resultados
do projeto foram surpreendentes”. As surpresas surgiram, especialmente, por
parte dos jovens advindos das periferias e dos distritos vizinhos de Londrina.
Os jovens carentes produziram maquetes com o que tinham disponível.
Houve um aluno que desenvolveu a ideia de um quadro móvel a partir da
sua observação. Percebeu que alguns professores e alunos de baixa estatura
aproveitavam apenas metade do quadro negro. E assim surgiu a ideia do quadro
móvel, com dispositivo de regulagem da altura. Para Baggio, o envolvimento
dos professores foi intenso e o comportamento dos alunos também sofreu
mudanças. Houve um amadurecimento quanto às atitudes de planejamento e
busca da realização dos objetivos e metas pré-estabelecidos”.
A Maratona e o legado de empreendedorismo social em
Londrina
Sendo o processo de mudança cultural algo lento e cumulativo, torna-se
praticamente impossível medir ou avaliar o impacto deixado em Londrina pela
realização das Maratonas de Empreendedores. Na área de desenvolvimento
84 Empreendedorismo Social
tecnológico essa ação de certa forma se confunde (por estar inserida) com a
própria ação da Adetec, que se utilizou de vários outros instrumentos, eventos
e iniciativas (Sendin, PV, 2002). E, mesmo nessa área específica de inovação
tecnológica, diversas outras instituições londrinenses vêm atuando, embora a
maior parte delas tenha se inserido nesse contexto depois da Adetec.
Para além dos resultados numéricos apresentados ao longo do histórico
da Maratona, constatou-se uma ampla sinergia entre as instituições de
ensino e o setor produtivo, induzindo a discussões relevantes sobre as
dificuldades enfrentadas pelos empreendedores, sobretudo nos primórdios
da transformação da ideia em projeto e deste em produto. Outro resultado
foi o aumento significativo da inserção da disciplina de empreendedorismo
na grade curricular das escolas técnicas e nas universidades. Desde a primeira
edição, em 2001, diversos projetos foram encaminhados para os mecanismos
de pré-incubação e incubação existentes na região. Alguns projetos tornaramse empresas, dentre as quais, a ForLogic Software, que atualmente emprega
mais de 30 funcionários.
No campo específico de Empreendedorismo Social, cabe citar pelo menos
duas iniciativas importantes.
A primeira delas foi bastante influenciada pela existência da Maratona,
até mesmo pelo envolvimento de pessoas originárias da iniciativa da Adetec.
Trata-se aqui da inserção do Empreendedorismo nas escolas da rede pública
municipal de Londrina, que vem se ampliando ao longo do tempo mas tem
muito a ver com as ideias propagadas nas Maratonas. É uma proposta que
foi analisada e defendida pelo Fórum Desenvolve Londrina em seu primeiro
Estudo Anual (realizado em 2007) e que acabou sendo paulatinamente
incorporado pela área de Educação da Prefeitura de Londrina. Cabe também
mencionar que o próprio Fórum tem muito a ver com a própria Adetec, que foi
uma das organizações fundadoras dessa entidade.
Outra iniciativa importante na disseminação da cultura empreendedora
voltada ao Desenvolvimento Social e de Cidadania foi o Programa de Redes
de Desenvolvimento Local, organizado pelo SESI e FIEP e que funcionou em
Londrina por alguns anos. Neste caso, a organização das comunidades de
Empreendedorismo Social 85
bairros na identificação de seus “sonhos de futuro” e na busca de mecanismo
empreendedores de concretização dos mesmo mostra a importância da
transformação de sonhos em projetos.
Conclusões
A análise das ações desenvolvidas, durante cerca de cinco anos, pelas
Maratonas de Empreendedores em Londrina, mostra que uma iniciativa
que em sua essência era voltada à Inovação Tecnológica, acabou por ter
impactos também no desenvolvimento social. Isso se deve ao fato de que
o empreendedorismo em si é uma ferramenta, ou, mais ainda, uma forma
de encarar a realidade, que se aplica tanto à área econômica quanto à área
social. Por outro lado, a busca por Inovações se vincula estreitamente ao
Empreendedorismo, pois somente com base em ideias, processos e ações
inovadoras é que o desenvolvimento pode ser alcançado, seja em sua vertente
econômica, seja em seus aspectos sociais.
Finalmente, há que se ressaltar que na base desses processos de mudança
cultural encontram-se a Educação e o envolvimento das novas gerações.
Esses, com certeza, foram os pressupostos que sustentaram a ação das
Maratonas de Empreendedores de Londrina.
86 Empreendedorismo Social
Referências Bibliográficas
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social projeto Empreender. In: Congresso Internacional de Administração,
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Conhecimento, 2008.
SABINO, Rosi. Do Empreendedorismo à Inovação: um relato sobre meus
doze anos em Londrina. In Desenvolvimento Tecnológico em Londrina: Uma
perspectiva histórica dos 20 anos da Adetec. Dias, Ivan F.L. & Sabino, Rosi;
org. Londrina: Kan, 2013 p. 37-50.
SENDIN, Paulo V. O papel do Terceiro Setor na definição de Arranjos
Locais de Inovação: o caso da Adetec. In Anais do XXII Simpósio de Gestão da
Inovação Tecnológica, Salvador, Bahia, novembro, 2002. 15p.
ADETEC – Relatórios das Maratonas de Empreendedores. 2001 a 2005.
Empreendedorismo Social 87
A abordagem apreciativa na construção de
uma visão de excelência para a educação
Rosi Sabino
RESUMO:
O texto aborda a aplicação da investigação apreciativa como estratégia
para engajar professores da rede pública municipal de Londrina na busca
da excelência na Educação baseada nos pilares: Empreendedorismo,
Sustentabilidade, Ciência e Tecnologia e Cultura de Paz. O enfoque principal
do trabalho é a mudança de um paradigma voltado à resolução de problemas,
por meio uma abordagem apreciativa na qual as experiências e imagens
positivas têm capacidade inspiradora de longo prazo e impulsionam uma
dinâmica mais sustentável direcionada para um futuro almejado, com
base no diálogo, na construção coletiva e no protagonismo social. Dentre
as proposições, a introdução da cultura empreendedora nas escolas como
instrumento de transformação positiva tornou-se realidade com resultados
perceptíveis em diversas escolas e com impactos relevantes na comunidade.
Palavras-chave:
Educação,
Cultura
Empreendedora,
Investigação
Apreciativa.
Empreendedorismo Social 89
Introdução
As experiências vivenciadas no ambiente escolar são os grandes
determinantes na formação de adultos mais criativos, com espírito
investigativo, mais abertos às inovações, capazes de estabelecer e atingir
objetivos, com um alto nível de consciência do ambiente em que vivem,
atentos às questões relevantes ligadas à sustentabilidade sócio-ambientalecológica, enfim, CIDADÃOS MAIS CONSCIENTES.
Num contexto em que os processos de mudanças são tão radicais e velozes,
a função pedagógica é um dos fatores determinantes na criação de um ambiente
propício para que o aluno desenvolva a capacidade de assumir responsabilidades
sobre o seu próprio futuro e adquirir conhecimentos básicos que viabilizem suas
necessidades de reaprender continuamente e com maior rapidez.
A introdução de conceitos e atividades de empreendedorismo, desde
os primeiros anos da vida escolar, tem se mostrado um importante recurso
para transformar a sociedade por meio da formação de futuros cidadãos
conscientes e protagonistas.
Diversos autores (FILION, 1999; DOLABELA, 2003; GONÇALVES, 2009;
SOUZA, 2005; IBERNÓN, 2000) defendem o ensino do empreendedorismo,
bem como sugerem metodologias que incorporam atividades diversas e
facilitam o aprendizado de conceitos de empreendedorismo na escola.
Uma educação empreendedora pressupõe protagonismo. Visa educar para
a excelência, para a inovação, para a responsabilidade sobre o próprio futuro e
também sobre o futuro das próximas gerações. Dessa forma, uma educação
empreendedora significa preparar indivíduos para a responsabilidade sócioambiental-cultural e ecológica, o amor universal, a paz e a ética.
No entanto, há um elemento fundamental, que antecede a aplicação
efetiva de qualquer metodologia indutora de novos saberes junto ao educando:
o modelo mental com o qual o educador conduz as atividades.
90 Empreendedorismo Social
O ensino do empreendedorismo tem início no despertar de um objetivo
estruturante, também tratado como “sonho estruturante” pelo autor
Fernando Dolabela (2003). Seja como for, o ponto de partida é um objetivo a
ser concretizado, cujo ator principal é o educando. Ou seja, o objetivo ou sonho
é definido e estruturado pelo educando. O papel do educador passa a ser o de
facilitador do processo, que irá contribuir para a transformação dos objetivos
em realizações, ou sonhos em realidades. O professor, portanto, deixa o palco
para se tornar o diretor de cena, transformando o aluno em protagonista.
O elemento fundamental a ser trabalhado inicialmente é a esperança
daqueles que idealizam algo que está, no plano atual, fora do seu alcance. A
esperança é aqui entendida como uma atitude otimista em relação ao futuro
possível. É uma postura cognitiva, emocional e motivacional. É cognitiva
– porque leva a pessoa a pensar sobre o futuro e nele projetar imagens. É
emocional – porque as imagens formadas no pensamento são capazes
de despertar sentimentos e expectativas sobre os eventos e resultados
desejados. E, por fim, é motivacional – pois impulsionam à ação para tornar
provável aquilo que se almeja, dados os esforços apropriados.
O papel do educador passa a ser o de introduzir conceitos como: autorealização, cidadania, legado e senso de missão. Enfim, ele deve conduzir o
aluno a distinguir o sonho que pode impulsioná-lo à realização, por meio da
coordenação de conhecimentos e ações, daquilo que é mero produto da sua
vontade ou capricho, ou da imaginação sem conexão com a realidade.
Nesse ponto, vale retomar a reflexão sobre o modelo mental com o qual
boa parte dos educadores vem trabalhando. Quer seja pelas próprias condições
a que estão sujeitos durante a prática educacional (estruturas precárias,
tendo que lidar criativamente com a falta de recursos, em ambientes onde os
relacionamentos nem sempre contribuem para a cooperação entre os pares
ou, ainda, convivendo com o risco e a insegurança em comunidades onde a
violência é uma constante) ou fruto da subjetividade construída ao longo de
suas experiências vividas. Estará o educador apto a despertar e a estimular
seus alunos a terem esperança num futuro de possibilidades?
Empreendedorismo Social 91
A questão central do presente trabalho é: como preparar o professor
para os novos desafios da educação na formação de cidadãos conscientes,
protagonistas e empreendedores? É possível que o ponto de partida para a
transformação seja mesmo a mudança de paradigmas do educador, com a
adoção de uma abordagem centrada no educando.
Este artigo busca compreender as relações entre a abordagem apreciativa
e a construção de uma cultura empreendedora nas escolas. A abordagem
apreciativa será analisada do ponto de vista da visão antecipatória e do diálogo
participativo e afirmativo capaz de gerar, nas escolas e na comunidade, um
ambiente propício à formação dos futuros empreendedores, tendo em vista a
mudança de perspectiva do ponto de vista do educador.
A investigação apreciativa, como proposta metodológica para a construção
de uma visão positiva do futuro da educação tomou como ponto de partida
a mudança de pressupostos e modelos mentais dos educadores. E assim,
a partir de uma postura mais positiva em relação à sua prática enquanto
educador, contribuir significativamente para a busca da excelência, na qual,
a implantação de uma pedagogia empreendedora nas escolas municipais de
Londrina seria um dos elementos fundamentais.
A metodologia de investigação apreciativa
“A-pre-ci-ar, v.1. Valorar, o ato de reconhecer o melhor nas pessoas e no
mundo à nossa volta, afirmando as forças, sucessos e potenciais passados
e presentes, perceber essas coisas que dão vida (saúde, vitalidade,
excelência) aos sistemas vivos.
In-ves-ti-gar, v.1. O ato de exploração e descoberta. 2. Fazer perguntas,
estar aberto a ver novos potenciais e possibilidades.” (COOPERRIDER;
WHITNEY, p.9, 2006)
Os primeiros estudos sobre a investigação apreciativa datam da década
de 1980 com as pesquisas de David Cooperrider e Suresh Srivastva, em Ohio,
Estados Unidos. Segundo os pesquisadores, as instituições deveriam ser
vistas como “milagres da interação humana, diálogo e imaginação infinita”
(WATKINS, MOHR,2001, p. 21).
92 Empreendedorismo Social
A Investigação Apreciativa, também chamada de IA, é uma metodologia
direcionada à promoção de mudanças e desenvolvimento. Busca identificar as
potencialidades das pessoas, das organizações e do ambiente ao redor delas.
Essa metodologia possibilita congregar diferentes ideias e ideais na busca
de novas abordagens sobre metas, estratégias, organizações, enfim, novos
olhares sobre diferentes contextos. Trata-se de um processo composto por
quatro fases também chamadas de ciclo de 4-D. Assim, de acordo com os
autores Cooperrider e Whitney (2006, p.18) as quatro fases do processo de IA
são as seguintes:
1 – DISCOVERY (Descoberta): Mobiliza todo o sistema por meio do
engajamento e articulação em torno dos pontos fortes e melhores práticas.
2 – DREAM (Sonho): Cria uma visão clara e compartilhada focada nos
resultados almejados, por meio do potencial descoberto e as perguntas
provocativas, que expressem o mais alto propósito, como: “O que o mundo
está nos convidando a nos tornar?”
3 – DESIGN (Planejamento): Cria possíveis proposições para o cenário ideal
no qual o núcleo positivo é amplificado para concretizar o sonho expressado
na fase anterior.
4 – DESTINY (Destino): Desenvolve comprometimento baseado na
capacidade afirmativa do sistema e na esperança por mudanças positivas e
contínuas com alto desempenho.
Na IA os participantes pensam coletivamente sobre o todo antes de atuar
localmente. Isso melhora o entendimento comum e gera maior compromisso
para as ações, ampliando o leque de possibilidades de atuação. Desta forma,
por meio da colaboração e do diálogo construtivo, cria-se um ambiente
favorável para catalisar forças a partir das experiências bem sucedidas e das
potencialidades do presente para identificar as melhores oportunidades e a
esperança das pessoas para o futuro de possibilidades.
Empreendedorismo Social 93
Ao identificar as melhores competências, oportunidades, experiências, ou
seja, o “núcleo positivo”, torna-se fácil articular qualquer agenda de mudança
de forma afirmativa. Por exemplo, em vez de aprofundar as causas do conflito,
uma postura apreciativa busca as fontes de melhor cooperação. Em vez de
diagnosticar as razões da alta rotatividade, a AI busca descobrir os elementos
que tornam os ambientes altamente envolventes. A observação das causas
de baixo moral é ressignificada como a busca pelas causas de maior emoção
e comprometimento das pessoas no grupo, organização ou equipe (CHERNEY,
Phd. Jay K., 2003).
A abordagem apreciativa tem o poder de desencadear entusiasmo e
impulso para a mudança positiva. Os diálogos são estimulados no sentido de
despertar o orgulho e o senso de pertencer a um grupo ou uma organização,
que possui valores importantes e alinhados com propósitos maiores. O
orgulho é aqui entendido como um sentimento de prazer em ver que os
esforços empenhados tiveram efeito positivo. Trata-se, portanto, de um
orgulho saudável. Este sentimento confere coesão ao grupo ou organização.
O mesmo ocorre no plano individual. Quando o indivíduo tem a sua
autoestima elevada, ele se enche de entusiasmo, autoconfiança e força
interior capazes de impulsioná-lo à realização. Do contrário, quando são
apontadas as suas mazelas, isso lhe desperta o sentimento de vergonha, que
o fará esconder-se ou demonstrar outros sentimentos negativos na busca
amargurada por aceitação.
Normalmente, os diálogos apreciativos contagiam o ambiente com uma
atmosfera de otimismo renovado. O contrário pode acontecer quando o
ambiente é infectado com críticas. Especialmente quando as críticas ocorrem
em público, desencadeiam-se dúvidas. Quando alguém afirma “Você está
errado”, pode-se ouvir “Você é incompetente”. A crítica pode despertar as
velhas histórias de imperfeição. Dessa forma a confiança no futuro se esvai.
Surge, então, uma sensação de ameaça que faz com que o criticado se retire ou
lute contra as críticas. Tal atitude defensiva infecta a atmosfera, convertendose em ondas de resistência e crítica.
94 Empreendedorismo Social
Na IA, as imagens têm um significado tão ou mais importante que as
palavras. As imagens que representam as aspirações do indivíduo ou do
grupo tornam-se uma ferramenta poderosa. Funcionam como um farol capaz
de manter as pessoas no caminho certo rumo ao futuro desejado. Segundo
o princípio da antecipação, as imagens inspiram a ação. Dessa forma, o foco
de atenção torna-se realidade. Stephen Covey (2009), em “Os 7 hábitos das
pessoas altamente eficazes”, fala sobre “o modo como a percepção se forma
e como ela determina a maneira de nós vermos as coisas, e a maneira como
vemos determina nosso comportamento” em relação às coisas e às pessoas.
Essa reflexão levou o autor a estudar a teoria da expectativa e das profecias
auto-realizáveis, ou “efeito Pigmaleão”, que também é uma das seis áreas
de estudo da IA (COOPERRIDER, 2006). Segundo essa teoria, o desempenho
de um indivíduo ou grupo pode ser influenciado positiva ou negativamente,
segundo as expectativas projetadas sobre estes por terceiros.
“Muito similar a um filme projetado em uma tela, os sistemas humanos
estão incessantemente projetando para além de si mesmos um horizonte
de expectativas que trazem poderosamente o futuro para o presente como
um agente causal.” (COOPERRRIDER, D.L, 2009, p.453)
Em outras palavras, as lentes usadas para ver o mundo são as mesmas
que modelam a percepção sobre as coisas, os fatos e as pessoas. Os
indivíduos agem e seguem padrões comportamentais baseados, em grande
parte, nas projeções que terceiros fazem sobre eles. Acreditar no potencial
positivo de um indivíduo ou grupo pode contribuir para que esse potencial
floresça e dê bons frutos.
Educação Empreendedora
O contexto atual fortemente influenciado pelo paradigma informacional,
no qual a velocidade da informação toma uma relevância extrema, gerando
mudanças culturais de grande impacto. A informação se alastra por meio
das redes sociais e toma dimensões superiores àquelas proporcionadas
pelos meios tradicionais de comunicação. As distâncias territoriais tornamse relativas, sendo possível comunicar-se e estar presente virtualmente em
Empreendedorismo Social 95
qualquer parte do mundo onde a grande rede tenha alcance. Novos ídolos
ascendem e desmoronam com a mesma facilidade. Os meios facilitadores
da comunicação são os mesmo que a dificultam, tornando as relações
virtualizadas e ao mesmo tempo superficiais. A economia ganha uma dinâmica
distinta dada a incrível sinergia tecnológica, em grande parte, proporcionada
pelas tecnologias da informação. Enfim, mudança é a palavra de ordem na
atualidade. Não porque ela não ocorresse em outros tempos, mas porque está
ocorrendo a uma velocidade muito superior na atualidade.
Nesse sentido, as instituições cuja missão é a formação dos futuros
cidadãos do mundo precisam repensar seus pressupostos e paradigmas para
avançar vários passos à frente e, ao menos, tentar se aproximar da realidade.
A escola, em especial, tem uma longa jornada a percorrer nesta direção.
Uma educação empreendedora é aquela que proporciona um ambiente
fértil ao desenvolvimento de novas competências baseadas em projetos,
flexibilidade, rapidez, criatividade, visão sistêmica, iniciativa, pro atividade,
autonomia, capacidade de tomar decisões, entre outras. Nela, a inovação,
a sustentabilidade e a busca intensiva do conhecimento podem estar
presentes na forma de conceitos ou impregnadas no próprio ambiente, seja
na sua arquitetura, na disposição das salas, na maneira como as pessoas se
relacionam ou na transversalidade das disciplinas.
A educação empreendedora busca despertar potencialidades; instigar
a curiosidade para a formação de jovens cientistas; ou, ainda, estimular o
nascimento de ideias, que poderão se transformar em projetos viáveis pela
ação empreendedora. No ambiente escolar é possível exercitar competências
empreendedoras de diversas formas e com resultados que ultrapassam
os muros escolares. De acordo com DOLABELA (2003), introduzir o
empreendedorismo na educação básica traz significativas contribuições na
construção de tecnologias de desenvolvimento social local e sustentável, uma
vez que busca ampliar a percepção do ambiente e o envolvimento ativo dos
indivíduos enquanto agentes de construção do futuro.
96 Empreendedorismo Social
Nessa perspectiva, pode-se tratar educação empreendedora como um
processo de construção de uma cultura empreendedora na escola, que tem
muito mais a ver com incutir valores de cidadania, que irão impactar no
desenvolvimento do potencial individual e coletivo de contribuir para o bem
comum, do que com apenas mais uma disciplina no currículo escolar ou uma
nova metodologia pedagógica.
Para que a cultura empreendedora seja consolidada, é imprescindível
que todo o ecossistema da vida escolar esteja amplamente engajado.
Assim, desde os atores envolvidos na formulação de políticas públicas
para a educação e para o desenvolvimento econômico, passando pelos
dirigentes das escolas, os professores e a comunidade em geral, todos
unidos e comprometidos na construção de uma educação condizente com os
imperativos da nova conjuntura social.
Aplicação da investigação apreciativa junto
professores da rede pública municipal de Londrina
aos
Em meados do ano de 2009, a ADETEC (Associação do Desenvolvimento
Tecnológico de Londrina e Região) propôs à Secretaria Municipal de Educação
de Londrina a aplicação da metodologia de Investigação Apreciativa como
recurso para sensibilizar e mobilizar para a ação, os diretores e supervisores
das Escolas Públicas do município de Londrina.
Como resultado das primeiras reuniões com a diretoria pedagógica da
Secretaria Municipal de Educação, nasceu uma poderosa metáfora como
proposta para o dia do evento: “Londrina é reconhecida pela excelência na
educação com base nos pilares: Empreendedorismo, Sustentabilidade, Ciência
e Tecnologia e Cultura de Paz.”
Foi essa metáfora que guiou todo o processo da investigação, desde
o convite até a finalização dos trabalhos. A iniciativa, portanto, buscou
proporcionar um ambiente fértil para dialogar, descobrir competências e
preparar um planejamento que conduzisse à “Excelência na Educação” – o
núcleo positivo de todo o processo.
Empreendedorismo Social 97
Para a execução de tal propósito foi planejado um evento cujos objetivos a
serem alcançados seriam:
1 - Estimular o desenvolvimento de projetos multidisciplinares envolvendo
os principais pilares definidos pela Secretaria de Educação;
2 - Disseminar a cultura de cooperação entre as escolas municipais com
vistas a potencializar as ações planejadas;
3 - Criar uma visão coletiva sobre o futuro da educação em Londrina;
4 - Engajar dirigentes e supervisores no propósito de implantar uma
educação empreendedora baseada em conexões com a comunidade
Após identificar o núcleo positivo, os participantes foram convidados
a dialogar sobre o que já é realizado e que deve ser mantido a despeito de
qualquer processo de mudança.
Algumas escolas municipais trabalham em parceria com as Associações
de Pais e Mestres. Há experiências bem-sucedidas de Escola de Pais, em que
pais e professores buscam soluções para os desafios da educação.
O próximo passo, seguindo o ciclo dos 4 Ds, preconizado na metodologia,
foi o momento de sonhar, ou seja, imaginar futuros possíveis. É o momento
em que o grupo é desafiado a romper paradigmas. Essa fase é pautada na
história da organização, mas também instiga o imaginário buscando expandir
o potencial daquilo já é bom.
A atividade foi desenvolvida após exibição do filme “Celebrando o que a
vida tem de melhor”. O filme inspirador foi importantíssimo para sedimentar os
princípios da Investigação Apreciativa e acendeu nos participantes a chama da
esperança por mudanças positivas, com base em uma visão apreciativa da vida.
O resultado da atividade foi a elaboração da seguinte proposição
provocativa:
“Em 2015 as escolas municipais estão estruturadas fisicamente, equipadas
com laboratórios e oficinas de prática. Os profissionais são valorizados. Há
98 Empreendedorismo Social
investimento na capacitação profissional. As escolas funcionam em tempo
integral, sem dualidades administrativas. A administração pública “olha” para
a escola, destinando recursos ou pessoal para mantê-la com uma aparencia
atraente e com recursos eficazes, onde as crianças sentem prazer em estudar.
As parcerias com empresas, comunidades, entidades são efetivas e profícuas.
A escola é um espaço aberto valorizado pela comunidade, há um sentimento
de pertencimento. O trabalho pedagógico é integrado. A criança é sujeito
crítico, consciente de seus direitos e deveres. As escolas trabalham em uma
perspectiva de cultura empreendedora e de paz.”
O momento de elaborar o sonho coletivo é mágico e contagiante. É
perceptível o entusiasmo tomando conta de todos os participantes, quando
entram em um cenário imaginário futuro, que vai aos poucos tomando forma,
por meio das representações simbólicas, que são convidados a realizar.
O principal desafio neste momento é o “olhar extramuros”. A transposição
das atividades escolares para a realidade socioambiental, assim como a via
contrária, ou seja, deixar que esta realidade transponha os muros escolares
para que as trocas de experiências sejam intensas e significativas. Eis o
grande desafio. Mas, diferentemente dos modelos de educação no passado,
há predisposição para a mudança.
Por fim, os 152 participantes formaram 19 grupos para a realização da
atividade de desenvolvimento dos planos de ação. Estes foram classificados
de acordo com os pilares da educação: empreendedorismo, sustentabilidade,
ciencia e tecnologia e cultura de paz.
A construção de parcerias de forma mais ampla – com a comunidade,
as universidades e entidades de apoio – foi destaque no plano de ações. A
“Escola de Pais” foi eleita forte aliada no relacionamento com a comunidade.
A metodologia de investigação apreciativa causou surpresa, pelo fato de
propor uma nova abordagem para os processos de mudança. Os professores
sentiram-se agentes do processo, não apenas meros executores das políticas
pré-definidas e impostas.
Empreendedorismo Social 99
Há muitas ações importantes e significativas sendo realizadas pelas
escolas – o ambiente proporcionado pela IA possibilitou a apreciação e
valorização das experiências positivas para, então, buscar um cenário
almejado. O momento da descoberta sobre as vivências mais agradáveis, as
competêmcias mais valorizadas, enfim, aquilo que dá vida ao sistema, é uma
experiencia gratificante e contribui para estabelecer uma atmosfera positiva
entre os participantes.
Conclusão
A metodologia mostrou-se válida no sentido de focar nas potencialidades
das atividades escolares e assim, levar os educadores a exercitarem a
esperança em um futuro repleto de possibilidades positivas. A partir do
cenário de possibilidades, foi possível construir um plano de ação que levasse
mais rapidamente à concretização do sonho coletivo. Trata-se, portanto, de
exercitar o otimismo e a esperança e, dessa forma, facilitar o aprendizado
empreendedor, que é possibilitado por um indivíduo atuando não só como
professor, mas também como agente desse processo em parceria com aqueles
que são os principais atores: os futuros empreendedores.
100 Empreendedorismo Social
Referências Bibliográficas
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– Uma abordagem positiva para a gestão de mudanças. Rio de Janeiro:
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DRUCKER, Peter Ferdinand. Inovação e espírito empreendedor
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WATKINS, Jane Magruder, MOHR, Bernard J. Appreciative Inquiry: Change
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Empreendedorismo Social 101
Pedagogia Empreendedora e suas
implicações na rede municipal de Londrina
Luzimar dos Santos Ribeiro Mazetto
Rosi Sabino
RESUMO:
O presente artigo tem como objetivo trazer elementos para a compreensão
do ensino de empreendedorismo no ensino fundamental I na Rede
Municipal de Educação de Londrina por meio da metodologia da Pedagogia
Empreendedora. Tal proposta é baseada nos estudos de Fernando Dolabela,
o qual busca desenvolver a cultura empreendedora na sociedade pautandose na educação escolar. A metodologia atende os alunos dos anos iniciais de
educação infantil, a partir dos 4 anos de idade estendendo-se até o quinto
ano do ensino fundamental. A pedagogia empreendedora contempla a
formulação do sonho individual e coletivo e a busca da realização do
mesmo por meio da postura e comportamentos empreendedores. Este
artigo também tem como objetivo apresentar, brevemente, o conceito
de empreendedorismo a partir de sua origem, a sua evolução conceitual
enquanto empreendimento de vida e alguns resultados alcançados na rede
municipal de Educação de Londrina, Paraná.
Palavras-chave: Empreendedorismo, Sonho, Realização Pessoal.
Empreendedorismo Social 103
1. Introdução
A palavra “empreender” vem do latim imprehendere, que significa prender
nas mãos, assumir, fazer. Disso derivam as palavras “empreendedor” e
“empreendedorismo”, dentre outras. A primeira, com o sufixo “or”, designa
o agente, indivíduo que, no caso, empreende. Ou seja, empreendedor é
aquele que assume a realização de uma determinada tarefa e, na sociedade
capitalista, passou a designar um tipo de empresário, de quem se pode dizer
que possui iniciativa e criatividade para correr os riscos de iniciar e efetivar
uma determinada atividade produtiva. Já a palavra empreendedorismo, tendo
o sufixo “ismo”, diz respeito a uma doutrina, escola ou teoria. Sendo assim,
trata-se do princípio, doutrina ou teoria característica da ação de pessoas que
possuem iniciativa de começar algo potencialmente arriscado.
Pesquisas apontam que os Estados Unidos foram pioneiros na introdução
do tema empreendedorismo no currículo escolar. A atuação do Professor
Myles L. Mace ganha especial destaque por ter criado o primeiro curso de
empreendedorismo em Harvard (e provavelmente em outras escolas), em
1947, com o título de The Management of New Enterprises. Schumpeter
também contribuiu com as aulas de empreendedorismo que lecionava já
no ano de 1932, a partir da obra do economista Francis Walker Question,
publicada em 1876.
Em 1953, Peter Drucker, na Universidade de Nova York, iniciou um curso
de empreendedorismo que além da gestão de pequenas empresas, explora
também a questão da inovação. Em 1974, Karl Vésper reportava a existência de
104 cursos em universidades nos Estados Unidos. Próximo ao ano 2000, já eram
1.400 cursos. Atualmente o ensino relacionado ao empreendedorismo extrapola
a administração das empresas e abrange outros temas e metodologias.
No Brasil, o professor Ronald Degen foi o primeiro a introduzir um curso
de empreendedorismo, com foco na criação de negócios. A disciplina foi
ministrada em um curso de especialização da Escola de Administração de
empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Outros conceitos de
empreender ou empreendedorismo podem ser encontrados em diversas
104 Empreendedorismo Social
literaturas. A Pedagogia Empreendedora desenvolvida por Dolabela (2003)
apresenta-se como uma proposta de educação comprometida com o
desenvolvimento humano, social e sustentável com foco principal no indivíduo
como protagonista da própria vida. O elemento norteador é o despertar de
um sonho estruturante, que orientado para a realização positiva possa trazer
contribuições para a sociedade como um todo.
2. Desenvolvimento
O projeto da Pedagogia Empreendedora iniciou-se efetivamente na Rede
Municipal de Educação no ano de 2010, com a contratação do Prof. Fernando
Dolabella. A iniciativa foi resultado de diversos movimentos em prol do
desenvolvimento de Londrina desde o final da década de 90. Dentre eles, podese mencionar o Projeto Londrina Tecnópolis, com as iniciativas da Plataforma
do Conhecimento voltadas para a promoção da cultura de empreendedorismo
e inovação em Londrina e Região. Posteriormente, a intensa articulação da
sociedade civil organizada, representada pelo Fórum Desenvolve Londrina,
por meio de estudos realizados entre os anos de 2007 e 2008, apontou o
ensino do empreendedorismo nas escolas como um importante vetor de
desenvolvimento social e indutor do desenvolvimento econômico. Assim, em
2009, o poder público municipal comprometeu-se a introduzir as atividades
de empreendedorismo nas escolas municipais.
A primeira etapa do projeto foi a realização do Seminário de Transferência
da metodologia, com duração de 20 horas. Essa atividade envolveu todos os
professores da rede municipal de ensino e teve como foco central nivelar o
conhecimento dos professores acerca do conteúdo e proposta de trabalho.
A metodologia da Pedagogia Empreendedora concebe o empreendedorismo
como uma forma de ser, mais do que uma forma de fazer. Propõe desenvolver
o potencial dos alunos para serem empreendedores em qualquer atividade
que escolherem. Cabe ao aluno, e somente a ele, fazer opções pessoais e
profissionais, decidindo que tipo de empreendedor será.
Empreendedorismo Social 105
A metodologia elege como tema central não o enriquecimento pessoal,
mas a preparação do indivíduo para participar ativamente na construção do
desenvolvimento social, seja por meio da cooperação, da cidadania, da geração
e da distribuição de renda, conhecimento e poder, com vistas à melhoria
da qualidade de vida da população e a eliminação da exclusão social. Para
concretizar esse propósito a metodologia busca despertar no aluno um sonho
estruturante, ao mesmo tempo que incentiva atitudes que contribuam para
a realização do mesmo. Pretende-se que o aluno desenvolva o protagonismo
sobre a própria vida de forma que perceba relação entre o conteúdo que
aprende na escola com a sua vida real. Dessa forma, o processo de ensino
aprendizagem toma uma dimensão mais significativa para o aluno.
A missão da Pedagogia Empreendedora é criar instrumentos de apoio
ao desenvolvimento humano, social e econômico sustentável, por meio
da introdução do ensino de empreendedorismo na educação básica, como
metodologia de desenvolvimento do espírito empreendedor em todas as
áreas da ação humana.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
nº 9394/96): “Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Dentre os pilares da Educação, constantes no Relatório da Reunião
Internacional da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura) retomados em 2010, sendo eles aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, destacamos o terceiro:
aprender a conviver. Para Dalben e Castro,
“(...)aprender a viver juntos ou conviver com os outros se constitui como o
terceiro pilar e um grande desafio para os educadores. É tarefa da educação
a responsabilidade de formar cidadãos capazes de enfrentar preconceitos
dialogicamente e criticamente, no intuito de fazer com que nossa
sociedade seja mais justa e solidária (…) “A diminuição da violência e a
106 Empreendedorismo Social
busca da paz tornam-se objetivos permanentes da escola e da sociedade. O
aprender a viver juntos traduz a preocupação de compreender o diferente,
de argumentar, de dialogar, de negociar e participar de programas culturais
para um convívio mais fraterno e enriquecedor entre pessoas diferentes.”
(2010, p.56 - 57)
Conforme o documento “O Adolescente e, conflito com a Lei – Prevenção,
Ressocialização e Medidas Socioeducativas” publicado pelo Fórum Desenvolve
Londrina em 2011, é preciso refletir acerca das prioridades quanto ao trabalho
com as crianças e adolescentes. Entre as soluções eleitas estão:
“Rever o papel da escola quanto à transmissão de valores, incluindo
atividades educativas de natureza transversais, como: ética, valores
humanos, cidadania, afetividades, sonhos e espiritualidade, visando criar
um ambiente preventivo, estendendo-o para a efetiva participação dos
pais e familiares; Valorizar os professores da educação básica, bem como
capacitá-los para a mediação de conflitos em sala de aula”. (p.33)
Desta forma, empreendedorismo pode ser definido como uma postura
diferenciada perante a vida, um estado de espírito, um modo de ser e agir,
uma forma determinada de encarar o mundo, na qual a pessoa assume uma
postura ousada, criativa, confiante tanto no trabalho quanto no cotidiano da
vida pessoal (cf. DOLABELA, 1999; ACÚRCIO; ANDRADE, 2005). Para Fernando
Dolabela, “o empreendedor é definido pela forma de ser, e não pela maneira
de fazer” (2008, p. 13).
É imprescindível pensar em três aspectos fundamentais para que a proposta
da uma educação empreendedora possa alcançar resultados satisfatórios. A
prática escolar assim tem atrás de si condicionantes sociopolíticos que configuram
diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes
pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relações professor-aluno,
técnicas pedagógicas etc. De acordo com Libaneo,(1988), a democratização
da escola pública significa ajudar o aluno se expressar bem, a se comunicar,
desenvolver o gosto pelo estudo, a dominar o saber escolar; é ajudá-los na sua
formação da personalidade social, na sua organização enquanto coletividade.
Empreendedorismo Social 107
O primeiro aspecto é pensar a escola enquanto formadora de pessoas
capazes de garantir sua sobrevivência e sucesso. O professor é quem deve
fazer a ponte entre o estudo dos conceitos e características empreendedoras
criando possibilidades para o desenvolvimento dessas características.
Para tanto, os professores são subsidiados com um caderno pedagógico
composto por 36 atividades que podem ser aplicadas semanalmente. As
atividades oportunizam a interdisciplinaridade envolvendo todas as áreas do
conhecimento: língua portuguesa, matemática, ciências, geografia, história,
arte, educação física, ensino religioso.
Nessa perspectiva, com o intuito de capacitar e motivar os docentes a
desenvolverem as propostas, é ofertada a Oficina do Professor Empreendedor
com o tema A Vez e a Voz do Professor. O objetivo é desenvolver atitudes e
características empreendedoras nos docentes de forma que este seja capaz
de compreender que a educação empreendedora acontece a partir do processo
do Ser. O “fazer” será a consequência desta postura interior.
Dessa forma, a escola lança mão de variadas estratégias pedagógicas que
incluem atividades extraclasse, estimulando a participação e o envolvimento
de toda a sociedade. A parceria da comunidade escolar com o setor empresarial
é altamente benéfica, pois possibilita a criação e o fortalecimento de uma
rede de suporte à consecução do sonho individual dos alunos, do sonho
coletivo da comunidade escolar e ainda, gera impactos amplamente positivos
na comunidade como um todo.
O segundo aspecto contempla a parceria da escola com a família no
processo de desenvolvimento do aluno enquanto sujeito empreendedor. Esta
proposta segue a Lei Municipal 11.676 de 9 de Agosto de 2012, Art. 1º: “Fica
o Executivo Municipal autorizado a criar o programa Escola de pais, sob a
gestão da Secretaria Municipal de Educação, para “disponibilizar informações
que favoreçam o despertar de aptidões e interesses na busca de atividades
laborais e geração de renda; e promover palestras debates e cursos com
enfoque no desenvolvimento de crianças e adolescentes”.
108 Empreendedorismo Social
Nesta linha de pensamento, Tiba (2010, p. 167) propõe que “no âmbito
familiar os pais podem ensinar uma criança a empreender e para isso é preciso
desenvolverem dentro de si essa competência”.
Para suprimir essa necessidade a Secretaria Municipal de Educação de
Londrina passou a desenvolver o projeto Escola de Pais: Repensar a família,
um Gesto Empreendedor. Dessa forma, a família pode ter o seu espaço de
reflexão sobre as atitudes e comportamentos junto aos seus filhos, no intuito
de educá-los para serem protagonistas de suas vidas.
O terceiro aspecto é, do ponto de vista dos autores, o fator fundamental
para que a Pedagogia Empreendedora seja efetiva junto aos alunos: a ação
docente. É consenso na literatura a reflexão sobre a importância da prática
docente e o papel do professor enquanto mediador da aprendizagem junto aos
seus alunos. Assim, é fundamental criar oportunidades para que o professor
possa refletir sobre o seu papel enquanto profissional. Mais ainda, o seu papel
enquanto ser humano investido de uma função profissional cujo instrumento
fundamental são pessoas. É necessário que sejam criados espaços para o
professor ser ouvido, apreciado e respeitado. É preciso que ele tenha condições
de entrelaçar o conteúdo que vai ensinar com uma prática humanizadora.
A atividade docente é permeada de expectativas, acertos e também erros
que são parte de um processo de intensa aprendizagem, no qual confundemse os papeis, uma vez que ensinando se aprende. Ao mesmo tempo em que
ouve, também se é ouvido. O exercício de compartilhar sonhos e vislumbrar
possibilidades pode ser compreendido não apenas como uma prática
profissional, mas uma prática inerente ao ser humano.
Neste ponto, não faz diferença se os objetivos são coletivos ou subjetivos.
O mais importante é a possibilidade de desenvolver uma transição de
conceitos comuns, que podem ser formados pela e para a própria equipe
escolar. É necessário aos profissionais da educação a oportunidade de ampliar
a consciência e identificar as próprias habilidades empreendedoras, para, a
partir daí, adotar uma postura diferenciada e contribuir para o fenômeno da
ação empreendedora no âmbito escolar. (DALBEN e CASTRO; 2010)
Empreendedorismo Social 109
Para Zagury (2006, p.22), “O professor precisa ser ouvido. Falam tanto em
afeto em relação ao aluno, por que não se ter afeto também em relação ao
professor?”. Refletir sobre as possibilidades profissionais e oportunizar um
espaço para a busca dos sonhos pessoais poderá ser uma oportunidade de
integrar conhecimento de si e do outro, compreensão sobre sua maneira de
pensar e agir entendendo também o que o outro possa lhe causar. É também
uma oportunidade da descoberta de potencialidades existentes dentro de si,
oferecendo espaço ao professor para validação própria e consciente do papel
que ocupa na sociedade e na vida do seu aluno.
De acordo com Delors (1999):
“Quando se trabalha em conjunto sobre projetos motivadores e fora
do habitual, as diferenças e até os conflitos interindividuais tendem a
reduzir-se, chegando a desaparecer em alguns casos. Uma nova forma de
identificação nasce destes projetos que fazem com que se ultrapassem
as rotinas individuais, que valorizem aquilo que é comum e não as
diferenças.”( p.98)
Partindo de uma visão holística da educação, pensando no desenvolvimento
total da pessoa – espírito, corpo, inteligência, afetividade, é fundamental
pensar que, propor uma educação mais humanizadora implica na percepção
do professor como ser participativo, comprometido com a transformação
social na direção de um viver mais humano. Para responder à necessidade
de relações mais humanizadas, não basta dispor de teorias explicativas.
São necessárias estratégias e competências que possibilitem responder, na
prática, às expectativas detectadas junto aos alunos e aos professores.
De acordo com Dolabela, na proposta da Pedagogia Empreendedora, cuja
ênfase está no auto-aprendizado, a importância do professor é reforçada uma
vez que cabe a ele ampliar as referências e fontes de aprendizado e redefinir
o próprio conceito do saber.
“As relações sociais e a vida pessoal impregnadas pela emoção constituem
a matéria-prima do sonho e a base mais rica para dar significado aos
conteúdos escolares.”
110 Empreendedorismo Social
Esse enfoque requer mudanças de modelo mental que reflitam atitudes
diferenciadas. Toda mudança, além de conhecimento e de técnicas, requer
motivação, empenho, comprometimento com a aprendizagem constante.
São essas atitudes que podem contribuir para uma educação responsável e
coerente.
3. Avaliação e resultados
A partir das observações dos professores que atuam como
multiplicadores da proposta da P.E. nas unidades escolares da rede Municipal
de educação de Londrina, é possível observar alguns pontos extremamente
importantes para os resultados satisfatórios da proposta.
Em primeiro lugar, foi observado que, o projeto A VEZ E A VOZ DO
PROFESSOR, está sendo um espaço de autoconhecimento fundamental no
processo da Pedagogia Empreendedora. Conhecer as próprias potencialidades
abre espaço para o desenvolvimento do sonho individual e do sonho coletivo
entre a equipe de trabalho. Ao mesmo tempo que contribui para a construção
de uma identidade coletiva investida de força e energia positiva capazes
de despertar nos docentes o seu protagonismo na história de educação,
assim como a liderança pessoal como parte fundamental deste processo.
Os professores têm relatado a importância destes momentos também
como espaço para fortalecer os vínculos do grupo, tornando-os capazes de
construir objetivos comuns para obtenção de resultados significativos. Neste
contexto, a diversidade pode ser entendida sob a perspectiva de rede de
competências, que somadas potencializam ainda mais as ações positivas na
direção dos resultados almejados.
Em relação ao processo da P.E. junto aos alunos da educação infantil e
do ensino fundamental, os professores conseguem perceber que os mesmos
estão conseguindo dar maior significado aos conteúdos que aprendem na
escola, uma vez que estabelecem uma relação direta entre o conhecimento e o
caminho para a realização do seu sonho. As aulas da P.E. têm sido prazerosas e
esperadas pelos alunos. É o momento em que eles podem se expor, falar de si,
da sua rotina, de sua família e também de suas necessidades e expectativas.
Empreendedorismo Social 111
É um momento rico, que tem contribuído para que os alunos compreendam a
importância da colaboração, da cooperação e do respeito mútuo para alcançar
seus sonhos.
As parcerias realizadas com empresas, as entrevistas realizadas com
empreendedores locais, as aulas extraclasse são oportunidades que
contribuem significativamente na aprendizagem, enriquecendo o processo da
P.E. Ao conhecer as histórias de pessoas que ousaram sonhar e, que diante
dos obstáculos persistiram e concretizaram seus sonhos, os alunos sentemse inspirados pelo exemplo e adotam os personagens dessas histórias como
modelos a serem seguidos.
4.Conclusão
Após levantamento de dados e reflexão sobre a significância da
implantação da P.E. na Rede Municipal de Educação de Londrina, é possível
concluir que estamos alcançando avanços significativos dentro do processo.
Embora haja ainda algumas resistências de professores em desenvolver a
proposta, muitos tem desenvolvido trabalhos significativos com seus alunos.
Gradativamente, os objetivos da metodologia vão sendo compreendidos e
incorporados na prática pedagógica: É perceptível que há um longo caminho
a ser percorrido ainda. Disseminar uma cultura empreendedora na sociedade
é um grande desafio. Daí a necessidade de amplo envolvimento da sociedade
nos diversos níveis representativos. Afinal, transformar a sociedade por
meio do empreendedorismo requer comprometimento amplo, ação contínua
e estruturada, políticas públicas que deem sustentação às atividades e,
principalmente, monitoramento dos resultados, para que as ações sejam
cada vez mais efetivas no sentido de criar capital humano para uma sociedade
cada vez mais dinâmica e consciente sob o ponto de vista do desenvolvimento
social, ambiental e econômico. Neste sentido, o trabalho na Rede Municipal
de Educação está apenas começando.
112 Empreendedorismo Social
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114 Empreendedorismo Social
AINTEC e o empreendedorismo na escola
Maíra Bendlin Calzavara
RESUMO:
O artigo relata a importância da AINTEC, criada a partir da Lei de Inovação,
enquanto vetor do relacionamento academia-empresa e sua experiência
no desenvolvimento do projeto empreendedorismo na escola, que prevê
a inserção da metodologia da pedagogia empreendedora em turmas do
ensino fundamental.
Palavras-chave: Agência de Inovação, Instituição científica e tecnológica,
Pedagogia Empreendedora.
Empreendedorismo Social 115
A AINTEC, Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Estadual
de Londrina - UEL, foi criada em 17 de abril de 2008, pautada na Lei 10.793,
publicada em 2 de dezembro de 2004, que dispõe sobre incentivos à inovação
e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, comumente
conhecida como Lei de Inovação.
O Estado do Paraná somente editou sua Lei de Inovação em 24 de
Setembro de 2012 – Lei 17.314 –, tendo replicado as principais disposições da
lei federal, sem alteração significativa de conteúdo.
Embora anteriormente tenham sido editadas outras leis de fomento à
inovação, tais como a como a Lei n. 8.248/91, a Lei n.8.661/93, dentre outras, a
Lei n.10.793/04 foi pioneira em reunir todos os três atores envolvidos na PD&I
(pesquisa, desenvolvimento e inovação), quais sejam, Estado, setor produtivo e
instituições científicas e tecnológicas (ICT), o denominado “Triângulo Sábato”.
Para utilizar as ferramentas legais de apoio e incentivo à inovação, a
AINTEC1 vale-se da definição de inovação prevista no Manual de Oslo, que
inspirou as leis brasileiras de inovação:
“Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo
ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de
marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na
organização do local de trabalho ou nas relações externas.2 ”
Assim, tem-se que inovação pode ser desenvolvida pela própria empresa
ou adquirida de outra empresa ou instituição, no caso a própria AINTEC. Os
resultados tecnológicos podem decorrer de combinações de tecnologias
existentes, de novas formas de aplicação das tecnologias ou de pesquisas
realizadas pela empresa que gere tecnologia completamente nova.
Embora a Lei 10.973/2004 defina inovação de forma mais sintética, como
a “introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou
social que resulte em novos produtos, processos ou serviços3”, também valida
a importância de inserir a inovação nas cadeias produtivas.
A AINTEC não pode ser considerada tecnicamente uma ICT, já que não possui personalidade jurídica própria, mas entendemos
que ela, por órgão de inovação da UEL, será tratada neste artigo como ICT.
2
OECD. Manual de Oslo – Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. p.55
3
Lei 10.973 de 02 de dezembro de 2004. Publicada no DOU de 3.12.2004. artigo 2º, IV.
1
116 Empreendedorismo Social
Para alcançar seu objetivo principal, a AINTEC busca fomentar parcerias para
promover a cultura de inovação e desenvolvimento industrial, unindo governo,
academia e empresas sob diversas formas legais a serem consolidadas por
meio de instrumentos jurídicos próprios, principalmente envolvendo atores na
qualidade de pessoas jurídicas.
Conforme constata André Luis de Sá Nunes4, diferentemente do que
ocorre com o sistema legal francês, inspirador das normas brasileiras, o Brasil
buscou estabelecer parcerias em nível institucional:
A segunda diferença é em relação à orientação da interação da pesquisa
pública com a iniciativa privada. Na França essa interação se dá em um
nível individual (pesquisadores) e estes se deslocam ou deslocam suas
atenções da pesquisa pública para a iniciativa privada. No Brasil essa
iniciativa tem um caráter mais institucional (entre empresas e ICTs), com
a iniciativa privada se deslocando para o ambiente da pesquisa pública
(mediante acordos de cooperação e de prestações de serviços).
Não que a lei brasileira exclua as pessoas físicas, como o inventor
independente, figura essa expressamente prevista no art.2º, IX e com
ferramentas de estímulo indicadas no art.22; ocorre que nossa lei prioriza as
relações entre entidades (públicas ou privadas).
Neste contexto, pode-se observar que a atenção da Lei de Inovação5 está
voltada à ICT, assim definida:
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
V - Instituição Científica e Tecnológica - ICT: órgão ou entidade da
administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras,
executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou
tecnológico;
Por essa definição, ICT possui apenas natureza pública, mas isso não
significa que entidades privadas que tenham por objetivo a pesquisa,
desenvolvimento e inovação tenham sido excluídas da Lei. Há outras leis
4
5
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/23985/Dissertacao_AndreNunes_UFPR.pdf, acesso em 27/05/2014. p.64
Lei 10.973 de 02 de dezembro de 2004. Publicada no DOU de 3.12.2004.
Empreendedorismo Social 117
relacionadas à inovação, como a Lei do Bem, que previu de forma expressa a
participação de entidades privadas com fins não econômicos, ou ainda vai-se
mais adiante, como na Lei de Inovação do Paraná6, que incluiu até entidades
de pesquisa com fins lucrativos.
Para fins de realizar atividades inerentes à ICT, a AINTEC está dividida
em três unidades: a Divisão de Incubação de Empresas, onde está alocada
a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (INTUEL) e as Empresas
Juniores Associadas (EJA), a Divisão de Propriedade Intelectual, que conta
com o Escritório de Propriedade Intelectual (EPI) e o Escritório de Design
(EDn), e a Divisão de Transferência de Tecnologia (ETT), com seu Escritório de
Transferência de Tecnologia (ETT), além da Secretaria Executiva (SE).
A AINTEC, enquanto órgão da UEL, está ligada diretamente ao Gabinete
do Reitor, possuindo certa autonomia e agilidade, o que aprimora a interação
universidade-setor produtivo.
Embora haja inúmeras experiências classificáveis como cases de sucesso,
o objetivo deste artigo não é só ressaltar o papel fundamental da AINTEC
enquanto promotora da inovação, mas também relatar o projeto intitulado
Empreendedorismo na Escola.
Referido projeto possui aspecto social e é parte integrante do Programa
de Empreendedorismo da AINTEC, incluído nas atividades do Convênio
firmado junto ao MEC/SESU, nº 701429/2011 , intitulado “Fortalecimento da
cultura empreendedora e de inovação na INTUEL e na Agência de Inovação
Tecnológica da UEL, AINTEC ”.
Inicialmente, em suas duas primeiras edições ocorridas em 2006 e 2010,
o projeto foi desenvolvido junto ao Colégio de Aplicação da UEL. A edição
deste ano de 2014 é realizada em parceria com a Escola Municipal Santos
Dumont, na cidade de Londrina, sempre com foco em alunos da 4ª e 5ª séries
do ensino fundamental.
Lei n.17.314/12, publicada em 24 de setembro de 2012, art.2º Art. 2º Para os efeitos desta Lei considera-se: (...) XVIII - – Entidade
Científica, Tecnológica e Inovação privada do Estado do Paraná (ECTI): entidade privada com ou sem fins lucrativos do Estado do Paraná,
legalmente constituída, que tenha por missão institucional executar, dentre outras, atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação;
6
118 Empreendedorismo Social
O projeto é pautado na educação empreendedora, conhecimento inovador
e espírito transformador, enquanto condicionantes para o surgimento de
mudanças benéficas aos alunos e a construção de um futuro mais promissor.
Ainda encontra amparo nos quatro pilares da educação que constam do
Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século
XXI: aprender a saber, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
A justificativa do projeto parte da cultura empreendedora, capaz de
transformar espaços e ambientes. Especialmente em relação às crianças, é
possível percebê-los enquanto atores do processo de construção da cidadania
e promotores de uma sociedade mais produtiva, inovadora e capaz de gerar
melhorias econômicas e sociais para a comunidade.
Nesse sentido, o projeto é inspirado nas lições de Fernando Dolabela, que
prevê o desenvolvimento do empreendedorismo pautado no direito de realizar
o sonho e possíveis formas de realização:
“Por isso, só o sonho (ou a ideia) não é suficiente para configurar uma ação
empreendedora: é preciso transformá-la em algo concreto, viável, sedutor
por sua capacidade de trazer benefícios para todos, o que lhe dá o caráter
de sustentabilidade.7 ”
Nas três edições desse projeto, as ações realizadas com as crianças foram
orientadas por um profissional pedagogo e envolviam temas como: significado
de empreendedorismo, Mapa do Sonho, viabilidade do sonho, estratégia para
obter recursos, avaliação do aluno, dentre outros.
A AINTEC buscou fomentar a participação de parceiros estratégicos, além de
ter realizado eventos para lançamento das edições, executou extensas atividades
de divulgação do projeto interna e externamente à UEL, contou com apoio de
universitários voluntários e doação de prêmios, sendo que no fechamento das
duas primeiras edições, foram promovidas Feiras de Empreendedorismo, para
que as crianças expusessem o produto de seus sonhos.
7
DOLABELA, Fernando. Pedagogia empreendedora. São Paulo: Editora Cultura, 2003. p.29.
Empreendedorismo Social 119
Com esse projeto, os estudantes obtiveram conhecimento teórico e prático
acerca do empreendedorismo, bem como se contribuiu para geração de um
ambiente de comprometimento nas aulas e na cultura de inovação.
Houve sensível aumento do interesse e participação dos alunos, já que
o desenvolvimento dos sonhos e do espírito empreendedor estava sempre
atrelado a conteúdos interdisciplinares. Não bastasse, notou-se aumento
significativo da autoestima das crianças, vez que puderam projetar novos
ideais e a possibilidade de mudar seu entorno.
Referências Bibliográficas
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DOLABELA, Fernando. Pedagogia empreendedora. São Paulo: Editora
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dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/23985/Dissertacao_
AndreNunes_UFPR.pdf. Acesso em 27 de maio de 2014.
ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.
Manual de Oslo – Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre
inovação. 3. ed. Paris: OCDE, 2005.
PARANÁ. Lei n. 17.314, de 24 de setembro de 2012. Diário Oficial do Paraná,
Poder Legislativo, Curitiba, PR, 24 de setembro de 2012.
120 Empreendedorismo Social
Programa Empresário Sombra: um modelo
educativo para a formação cidadã
Ariana Almeida Quelho
Cassiana Stersa Versoza-Carvalhal
RESUMO:
O Projeto Empresário Sombra Por um Dia é um projeto desenvolvido
pela Junior Achivement e que tem como objetivo o desenvolvimento do
empreendedorismo em alunos do Ensino Médio, por meio da vivência
de um dia de trabalho de um empresário, acompanhado-o em todas as
suas atividades. Essa metodologia baseia-se no processo de modelação,
processo de aprendizagem pelo qual um observador aprende valores,
crenças e comportamentos por meio de um modelo. Em 2013 esse projeto
foi realizado pelo Conselho do Jovem Empresário da Associação Comercial e
Industrial de Londrina (CONJOVE-ACIL) em parceria com a Junior Achivement.
Oito alunos do Colégio Estadual Professora Maria do Rosário Castaldi
acompanharam a rotina de uma dia de oito jovens empresários membros do
CONJOVE-ACIL de diversas áreas de atuação. O projeto permitiu transmitir
aos alunos participantes o dia-a-dia e as responsabilidades de um jovem
empreendedor, entendendo que a formação humana é uma construção
social e que grande parte do que somos é aprendido por meio dos exemplos
que recebemos.
Palavras-chave: Modelação, Junior Achivement, Empreendedorismo.
Empreendedorismo Social 121
Comumente tratamos os interesses, as crenças e os valores das pessoas
como algo inerente a elas e que são a causa, ou seja, a explicação do por
que as pessoas se comportam de uma ou outra maneira. Nessa perspectiva,
justificamos o que as pessoas fazem ou as decisões que tomam dizendo que
“ela é assim mesmo, não há o que fazer”, por exemplo. Por outro lado, diversas
teorias psicólogicas como as de B. F. Skinner (1953) e de A. Bandura (1965ª,
1972), postulam que o desenvolvimento humano se dá na sua interação com
o meio e, portanto, o modo como nos comportamos bem como os valores,
as crenças e os interesses que possuímos são construídos socialmente, na
interação com as pessoas e com o mundo em que vivemos. Essa perspectiva
nos possibilita sermos sujeitos ativos tanto do nosso próprio desenvolvimento
quanto do desenvolvimento de outrem, uma vez que podemos estabelecer
ou proporcionar experiências que permitam o desenvolvimento de certos
comportamentos ou valores. É dentro dessa visão em que o homem é sujeito
de sua formação, que a Junior Achivement desenvolve seus projetos.
Junior Achievement: compromisso
empreendedorismo aos jovens
em
disseminar
o
Criada nos Estados Unidos, em 1919, por Horace Moses e Theodore Vail,
presidentes da Strathmore Paper Company e da AT&T, respectivamente, a
Junior Achievement é uma fundação educativa sem fins lucrativos, mantida
pela iniciativa privada. “A vida é um caminho, não um destino e você é o
arquiteto do seu caminho.” Essa é a filosofia da Junior Achievement, que
acredita na capacidade e potencialidade do ser humano e incentiva os jovens
a adotarem responsabilidade pelos próprios destinos, determinação de
objetivos específicos, realistas e ambiciosos, atuação na busca das metas,
coragem para correr riscos, perseverança e confiança em si próprios. Hoje está
presente em mais de 120 países, em todas as capitais dos estados brasileiros
e atende mais de 10 milhões de jovens por ano, preparando-os para serem
futuros empreendedores.
Os programas são desenvolvidos em sala de aula, por meio de encontros
semanais, e são ministrados por consultores voluntários, treinados pela
Junior Achievement. São quase 30 programas com temas como: Introdução
122 Empreendedorismo Social
ao Mundo dos Negócios, Economia Pessoal, Empresa em Ação, Vantagens
de Permanecer na Escola, Ética, Miniempresa, Liderança Comunitária e o
Empresário Sombra Por um Dia.
Esses programas são voltados para Ensino Fundamental e Médio. Um dos
principais programas da Junior Achievement, o Miniempresa, tem 15 jornadas
semanais, organizadas em grupos de, aproximadamente, 25 alunos. Esses
alunos determinam qual produto será desenvolvido para comercializarem,
levantam capital com venda de ações, organizam a administração, elegendo
um presidente e seus diretores e recrutam recursos humanos. Os alunos
são responsáveis pela produção, finanças, marketing e vendas; compram a
matéria-prima; produzem e vendem, buscando o máximo de produtividade e
rentabilidade; pagam salários; recolhem encargos e impostos, que são doados
a instituições assistenciais. No final do programa, a empresa é encerrada e o
resultado financeiro é dividido entre os acionistas.
O Programa Miniempresa tem como objetivo “desenvolver o espírito
empreendedor, capacidade de liderança, perseverança, determinação,
responsabilidade, coragem de correr riscos e trabalho em equipe”. Os alunos
aprendem a identificar as necessidades do consumidor, os conceitos de oferta
e demanda e a valorização do lucro.
Outros programas são:
O Management and Economic Simulation Exercise (MESE) — Exercício de
Simulação Administrativa e Econômica. É um jogo de empresas, via Internet,
para alunos do ensino médio e universitários, que possibilita aos participantes
operar suas próprias empresas em um ambiente que reproduz o mercado
de negócios. Para participar, os alunos formam equipes de três a cinco
integrantes. São empresas que produzem o mesmo produto e que concorrem
entre si no mercado, em oito rodadas semanais. Apoiadas por um software,
as equipes recebem relatórios com as tendências do mercado, o desempenho
dos concorrentes e as variáveis de custos e preços. Decidem sobre o preço,
quantidade a ser produzida, investimentos em marketing, melhoria do
produto e aumento da capacidade de fábrica. As decisões são analisadas, e
são apontados os melhores desempenhos.
Empreendedorismo Social 123
O Global Learning of the Business Enterprise (GLOBE) — Aprendizado Global
da Empresa de Negócios. Esse programa associa estudantes de dois países
para formar uma empresa importadora e exportadora. Prepara os jovens
para o processo de globalização, por meio exercício das técnicas do mercado
exterior. O programa tem duração de 21 semanas. Os estudantes trabalham
o processo de capitalização pela venda de ações, escolhem um nome para a
empresa e elegem seus dirigentes. Concluída essa fase, entram em contato
com a empresa estrangeira e analisam as propostas dos produtos que serão
exportados e importados. Fecham-se acordos e as vendas são definidas.
No final do programa, a empresa é encerrada. Esse programa desenvolve a
“compreensão dos princípios do mercado internacional; promove experiências
com trâmites alfandegários; treina habilidades de comunicação, análise e
tomada de decisões e, estreita relações com diferentes culturas”.
O Núcleo de Ex-Achievers (NEXA). Os ex-Achievers que fazem parte do
NEXA são aqueles estudantes que participaram anteriormente de Programas
da Junior Achievement e resolveram continuar integrados à associação. Esse
núcleo visa o “desenvolvimento contínuo” dos ex-alunos com a associação e
o empresariado. O NEXA promove visitas a grandes empresas, possibilitando
contato direto com as técnicas de produção, organização e administração,
palestras e seminários com executivos e empreendedores, programas de
integração, desenvolvimento em equipe, dinâmicas em grupos e cursos,
eventos e congressos nacionais e internacionais.
As atividades oferecidas pelos projetos e programas das empresas
nas escolas apresentam um escalonamento similar à seriação. Os temas
e conteúdos que interessam às empresas e às demandas de mercado
são inseridos nas disciplinas tradicionalmente dispostas nas instituições
educativas. Nesse movimento, a empresa reterritorializa-se na escola.
Programa Empresário Sombra Por um Dia
A formação e o desenvolvimento humano em interação com o mundo
em que vivemos se dá de diferentes formas como, por exemplo, pelas
consequências de nossas experiências diretas. A Teoria da Aprendizagem
124 Empreendedorismo Social
Social, de Albert Bandura, postula que uma das principais formas pelas
quais a aprendizagem de novos comportamentos, de valores e de crenças
ocorre é a partir do exemplo de outras pessoas. A esse processo específico
de aprendizagem dá-se o nome de Modelação, que é o processo de aquisição
de comportamentos a partir de modelos, seja este programado ou incidental
(BANDURA, 1965ª, 1972).
O Programa Empresário Sombra Por um Dia tem como objetivo
proporcionar aos jovens, por meio da modelação programada, a experiência de
vivenciar o dia-a-dia de um empresário, ou seja, durante um dia inteiro, o aluno
acompanha um empresário em sua jornada diária, desde o café da manhã.
Dessa forma, é possibilitada a aproximação entre estudantes e profissionais
de maneira que os conhecimentos teóricos sejam vivenciados na prática e,
assim, o jovem tenha novas possibilidades de crescimento e aprendizado.
Além disso, essa experiência pode despertar nos jovens o interesse pelo
mundo dos negócios e mostrar o quanto é importante o empreendedorismo
para a nossa sociedade e País. Segundo Schumpeter (1934 apud BENEVIDES,
2002, p. 30) a função do empreendedor é reformar ou revolucionar o modelo
de produção, participando, assim, do processo de “destruição criativa” da
ordem econômica vigente. Trata-se, portanto, do responsável pela inovação e
pela capacidade da economia de se desenvolver.
Outro ponto importante do Programa Empresário Sombra é a possibilidade
de mostrar aos jovens de que maneira os conceitos aprendidos em sala de
aula são colocados em prática na rotina do trabalho. Além disso, é possível
apresentar as habilidades necessárias para um futuro profissional de sucesso.
É possível verificar que os participantes do Programa Empresário Sombra
por um Dia observam que a criação de um negócio, a paixão pelo que se faz
e a capacidade de utilizar os recursos de forma criativa podem transformar
o ambiente social e econômico em que se vive. Da mesma forma, no
comportamento empreendedor é imprescindível a disposição para assumir
riscos calculados e a possibilidade de fracassar, ou seja, o empreendedor não
está em busca de aventuras e sim de resultados. Além disso, os participantes
Empreendedorismo Social 125
conseguem sentir a grande responsabilidade que um empresário tem, afinal,
emprega várias pessoas e precisa tomar decisões que afetarão todas elas.
Ao final do dia, após toda essa experiência, o objetivo do programa é que
tenha sido alcançado os três efeitos da Modelação citados por Bellico da Costa
(2008): a aprendizagem de novos comportamentos que não se encontravam
no repertório do aluno; a inibição ou desinibição de comportamentos que já
faziam parte de seu repertório; e, principalmente, a instigação do desempenho
de comportamentos similares ao do modelo, neste caso, o empreendedorismo.
Programa Empresário Sombra Por um Dia em Londrina
Em 2013, o Programa Empresário Sombra por um dia foi promovido
em Londrina pelo Conselho do Jovem Empresário da Associação Comercial
e Industrial de Londrina (CONJOVE-ACIL). Pautado em valores como
empreendedorismo, sustentabilidade, associativismo, excelência e melhoria
contínua, o CONJOVE-ACIL desenvolve trabalhos por meio de ações que
fortaleçam o empreendedorismo jovem.
Por meio de seus projetos, o CONJOVE-ACIL trabalha constantemente
no fortalecimento de jovens empresários e no desenvolvimento de
nossa sociedade. Proporciona ainda, ações de networking, estimulando o
fortalecimento de uma rede de jovens empresários.
Dentre os projetos do CONJOVE-ACIL está o Empresário Sombra Por
um Dia, em parceria com a Junior Achievement. O grande diferencial de se
executar o Programa Empresário Sombra Por um Dia com os empresários
do CONJOVE é que o poder do modelo enquanto fator que instiga a sua
imitação depende, dentre outras coisas, da similaridade entre modelo e
observador. Isso significa dizer que o observador compara as características
da pessoa que serve de modelo com as suas próprias características, de
forma que, quanto mais parecidas elas forem, maior a probabilidade de que
o modelo sirva como pista para o observador (BELLICO DA COSTA, 2008).
Portanto, o fato de os alunos acompanharem jovens empresários, que, pela
pouca diferença de idade, estão mais perto de suas realidades, aumenta
126 Empreendedorismo Social
a probabilidade de que esses alunos tomem como modelo as ações dos
jovens empresários.
Na edição de 2013 participaram do programa oito alunos do Colégio
Estadual Professora Maria do Rosário Castaldi, todos cursando o 2º ano
do Ensino Médio Técnico em Administração. Os empresários, membros do
CONJOVE-ACIL, receberam os alunos participantes na reunião semanal do
grupo, que acontece às terças-feiras das 7h15 às 8h30. A pauta da reunião foi
sobre o evento que aconteceria logo mais a noite, o I Fórum Empreender, que
faria parte da Semana Global do Empreendedorismo.
Os alunos participantes colaboraram com a reunião, apesar de ainda
bastante tímidos e observadores, puderam naquele momento vivenciar a
preocupação dos Jovens Empresários, que estavam ali voluntariamente,
organizando um evento com o intuito de fortalecer e disseminar a cultura
empreendedora. Após o final da reunião, os alunos seguiram com os
empresários para as suas rotinas de trabalho.
Dentre os profissionais estavam empresários nas áreas de engenharia
civil, engenharia elétrica, tecnologia da informação, educação, área contábil e
de postos de combustível.
Os alunos puderam observar, ao longo do dia, diferentes rotinas e um traço
em comum dos empresários: o associativismo. Todos eram unidos em torno
de uma causa, a de fortalecer o jovem empreendedor e empresário para fazer
a diferença pela sociedade.
Com isso, foi possível transmitir aos alunos participantes que os empresários
são sim profissionais ocupados e com rotinas atribuladas, mas que ainda assim
se preocupavam com o próximo e a sociedade em que vivemos.
Considerando que os indivíduos se desenvolvem a partir de sua relação
com o meio ambiente, a partir da conduta cultural e social, observa-se que seu
comportamento pode ser definido como “contínuo desenvolvimento orgânico”
constituído pela produção de uma forma particular de padrão cultural, ou seja,
Empreendedorismo Social 127
como a cultura influencia comportamentos direcionados a criação de negócios
e como este comportamento contribui para definir o ambiente de negócios de
forma temporal e regional (BERGER e LUCKMANN, 1985).
A seguir, apresentamos os depoimentos de três alunos que participaram
do Programa Empresário Sombra por um dia em 2013:
“Após quase um ano de ter participado do Programa Empresário Sombra,
guardo ainda a grande lembrança de um dia em que deixei de ser uma
simples aluna, e tive a oportunidade de participar de um grande projeto, onde
acompanhei no seu dia de trabalho o engenheiro Alexandre Takaoka, e pude
ver o esforço que se precisa ter para ser um bom profissional. Porém não basta
se importar só com as coisas técnicas no trabalho, o mais importante em que
aprendi com ele, é que são as pessoas e o trabalho social os melhores, porque
são os que realmente fazem uma grande diferença. E isso me encantou no
Programa, isso porque não mostrou só o lado de escritório, trabalho fechado,
mas mostrou tudo o que envolve uma sociedade. Por isso posso afirmar que
depois desse dia não fui uma aluna normal, agreguei muito mais, e despertou
em mim o espírito de mudança e renovação, e só indo ao campo um jovem pode
ter tais desejos despertados.” (Juliane Antunes)
“No Programa Empresário Sombra tive uma grande oportunidade de
conhecer uma profissão diferente, da qual nunca tive contato antes. Passei o
dia com o empresário Arthur Versoza, em sua empresa EngeBrazil, que atua
no segmento de engenharia elétrica. Nesse dia pude acompanhar o cotidiano
de um verdadeiro empresário, desde a sua primeira reunião com os membros
do CONJOVE, até suas visitas para vistoriar as obras que a EngeBrazil estava
realizando. Posso resumir esse dia como o ponta pé inicial da minha carreira
profissional, pois além de conhecer o Arthur e sua empresa, conheci outro
empresário que mais tarde vieram a me contratar para trabalhar em sua
empresa. Hoje, saí da empresa deles para empreender!” (Felipe Pinheiro).
“Minha experiência no Programa Empresário Sombra foi muito bacana!
Fiquei em um escritório de contabilidade. Pude acompanhar tudo o que as
empresárias Mariana Secco e Analita Soto fazem durante o dia de trabalho.
128 Empreendedorismo Social
Conheci qual o papel do contador, e a sua importância. E também acompanhei
atendimentos à alguns de seus clientes. Esse projeto me possibilitou uma
excelente oportunidade de emprego. Foi um grande passo para meu futuro
profissional.” (Aline Correa)
Quando entendemos que a formação humana é uma construção social
e que grande parte do que somos é aprendido por meio dos exemplos que
recebemos, torna-se clara a relevância de projetos como esse.
Referências Bibliográficas
BANDURA, A. Modificação do Comportamento através do procedimento
de modelação. In: KRASNER, L.; ULLMAN, L. P. (Ed.) Pesquisas sobre
modificação de comportamento. São Paulo: Herder, 1972. 1ª.ed. americana:
1965a
BELLICO DA COSTA, A. E. Modelação. In: BANDURA, A.; AZZI, R. G.;
POLYDORO, S. Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre:
Artmed, 2008
BERGER, P; LUCKMANN, T. A. A construção social da realidade: tratado
de sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2003.
JUNIOR ACHIEVEMENT, (s.d.). Fazendo a diferença em educação — material
institucional. Porto Alegre. Disponível em: http://www.juniorachievement.
org.br/ja/. Último acesso em 02/09/2014.
SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma
investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São
Paulo: Nova Cultural, 1982 (Os Economistas) (Edição original: 1911).
SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins
Fontes, 1994. Original em inglês 1953.
Empreendedorismo Social 129
Entre ações e mediações: A Pedagogia
Murialdo na formação de sujeitos para a
sustentabilidade
Tiago Rodrigues Garcia
RESUMO:
Como pensar a educação num contexto de marginalização social? Existe
um método ou um sistema educacional que busca, ao mesmo tempo,
preparar o indivíduo para sua autonomia social, intelectual e moral? Estes
questionamentos são, pois, o pano de fundo que motivou o desenvolvimento
desta publicação, a qual contou com um estudo de caso em uma instituição
que aplica os Princípios da Metodologia Murialdo para o cumprimento de
sua missão.
Palavras-chave: Educação, Pedagogia, Autonomia.
Empreendedorismo Social 131
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa “Entre Ações e Mediações: Os Princípios da Pedagogia Murialdo
na Formação de Sujeitos para a Sustentabilidade” está atrelada a uma
inquietude contundente quando se problematiza a questão da formação de
profissionais para o século XXI: Quais são os pressupostos que devem nortear
a educação de indivíduos no complexo cenário que se configura em torno dos
desafios impostos para o desenvolvimento sustentável? E mais: Como pensar
a educação num contexto de marginalização social? Existe um método ou um
sistema educacional que busca, ao mesmo tempo, preparar o indivíduo para
sua autonomia social, intelectual e moral? Estes questionamentos são, pois,
o pano de fundo que motivou o desenvolvimento desta publicação, a qual
contou com um estudo de caso em uma instituição que aplica ao Princípios da
Metodologia Murialdo para o cumprimento de sua missão.
Desta forma, o objetivo geral deste trabalho foi de analisar como a metodologia
proposta no projeto Pedagógico Murialdo é aplicada na EPESMEL e, assim, buscar
suas interfaces do para a formação de sujeitos para a sustentabilidade.
A Escola Profissional e Social do Menor de Londrina busca promover a
proteção e garantia dos direitos da criança, adolescente e jovem em situação
de vulnerabilidade pessoal e social através da formação cidadã e profissional
segundo a pedagogia de Murialdo.
De acordo com a literatura encontrada sobre esta pedagogia, o método
pretende promover uma educação aliada à responsabilidade socioambiental e
busca estar atento aos “sinais dos tempos”, dando novas respostas aos novos
desafios que a humanidade se depara.
O Projeto Educativo revela o jeito próprio dos Colégios Murialdo de exercer
a educação, fundamentada em São Leonardo Murialdo, na Pedagogia do
Amor e Educação do Coração. Uma pedagogia que leva em consideração
a afabilidade nas relações, a doçura com paciência a serviço do amor, a
firmeza na correção e na coerência entre o dizer, o prometer e o cumprir.
132 Empreendedorismo Social
Para subsidiar esta pesquisa do ponto de vista teórico, optou-se por um
resgate da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire. Este encaminhamento se
deu, principalmente, pelo fato de que a pedagogia proposta por Freire sugere
práticas e evidencia a possibilidade dos educadores estabelecerem novas
relações e condições de educabilidade consigo mesmos, entre seus pares
e, por conseguinte, com seus educandos. Além disso, o arcabouço teóricoprático apontado pelo consagrado educador brasileiro, sugere inquietude,
problematização e exuberância a serviço do pensar rumo à ação libertadora.
Ao passo que a obra de Paulo Freire apresenta práticas educativas enquanto
propostas para a construção da autonomia dos educandos, valorizando e
respeitando sua cultura, historicidade e individualidade, o estudo realizado
na EPESMEL permite certa ilustração dos fundamentos apontados pelo
autor. Assim, de acordo com a pesquisa realizada, pode-se considerar que a
Pedagogia de Murialdo, ou Pegagogia do Amor, representa, em certo sentido,
uma prática educativa postulada na proposta libertadora de Freire.
O estudo realizado seguiu um encaminhamento qualitativo à partir do
método entrevista em profundidade e análise documental. A entrevista foi
realizada em agosto de 2014, na sede da EPESMEL em Londrina e contou com
a participação do Pe. Carlos Alberto Wessler, diretor Geral, e Alexandra Alves
José, assistente social do ensino profissionalizante da unidade.
A análise documental foi realizada a partir de arquivos encontrados na
internet e também por meio da consulta de documentos encaminhados pelos
dirigentes da EPESMEL. Foram consultados, por exemplo, o Projeto Educativo
Rede de Colégios Murialdo, e, ainda, os Princípios, Diretrizes e Normas SócioAssistenciais do Instituto Leonardo Murialdo.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Fundamentos da educação da Escola Murialdo
Para compreender os aspectos que norteiam a Proposta Pedagógica
do Método Murialdo, as informações foram coletadas à partir do Projeto
Empreendedorismo Social 133
Educativo Rede Murialdo, terceira versão. Esta publicação representa a
atualização do também chamado Projeto Educativo Josefino (PEJ). Tratase de linhas norteadoras da ação educativo-pedagógica que caracterizam e
identificam as escolas da Província Brasileira da Congregação dos Josefinos
de Murialdo. De acordo com Pe. Raimundo Pauletti, a pedagogia de Murialdo,
Por acreditar na missão de evangelizar pala educação aliada à
responsabilidade socioambiental, busca estar atenta aos sinais dos tempos,
dando novas respostas aos novos desafios nestes tempos mudados.
Segundo Pauletti, este projeto educativo revela o jeito particular dos
colégios da Rede Murialdo de exercer a educação, fundamentada em São
Leonardo Murialdo, na Pedagogia do Amor e Educação do Coração. Considera,
ainda, trata-se de uma pedagogia que leva em consideração a afabilidade nas
relações, a doçura com paciência a serviço do amor, a firmeza na correção e na
coerência entre o dizer, o prometer e o cumprir.
O Projeto Educativo Rede Murialdo apresenta os fundamentos da Educação
da Escola Murialdo e um conjunto de princípios e práticas que constituem a marca
da pedagogia, consagrados tanto pela ação educativa dos colégios e também da
ação social dos Josefinos de Murialdo no Brasil. A seguir, serão apresentadas,
de forma resumida, as concepções de pessoa, de educação, de educando e de
sociedade, conforme o Projeto Educativo Rede Murialdo as descreve.
2.1.1 Concepção de Pessoa: A pessoa humana é um ser
de relações que se constrói na interação com o mundo, com
os outros e com Deus. Ser original, único, capaz de exercer
sua capacidade crítica e transformadora.(...) Ser social que
necessita do convívio comunitário e da interação grupal para
seu desenvolvimento. Traz consigo sua própria cultura, valores
e identidade. No processo de ser pessoa, precisa passar pela
educação formal ou informal. Enquanto ser de relações,
deve abrir-se para o outro, para o mundo e para Deus, com a
responsabilidade de transformar e aperfeiçoar a realidade em
que está inserido (...).
134 Empreendedorismo Social
2.1.2 Concepção de Educação: A educação é processo
que constrói e reconstrói a pessoa e a sociedade. Ela propicia
o desenvolvimento do educando através de conhecimentos
diversos e suas tecnologias; do conhecimento do outro e de si
próprio. Educação é direito de todos e dever da escola, família
e sociedade. A educação deve conduzir os indivíduos à prática
da ética e da cidadania. É o resultado de um fazer conjunto, um
fazer-se na cumplicidade entre aprender e ensinar. A educação
não faz da pessoa um instrumento, mas sujeito de sua vida.
Leva em conta a dimensão espiritual. Ela só será completa e
autêntica ao capacitar a pessoa para humanizar o seu mundo,
produzindo cultura e sendo capaz de intervir na realidade através
da participação social (...).
2.1.3 Concepção de Educando (...) O educando enquanto
criança é merecedora de cuidados do educador. Cuidamos do
mais importante da sociedade: as crianças; e o mais valioso
nas crianças: o coração. Ela necessita da interação com o grupo
e da construção de limites, para apropriar-se do mundo que
a cerca e para descobri-lo através da aprendizagem. Para os
educadores nas escolas Murialdo, a criança deve ocupar um
lugar privilegiado em sua vida e na vida da escola. O educando
adolescente continua precisando do cuidado e da orientação do
educador; ele busca referências para a sua ação e descoberta
do mundo. Está num processo de construção de identidade
e autonomia. Apresenta muito potencial cognitivo, porém
as transformações hormonais e psicossociais não podem ser
ignoradas no processo de maturação. O educando jovem vai
aos poucos compreendendo que é sujeito de direitos e deveres,
assumindo gradativamente responsabilidades próprias de um
jovem que foi educado para ser cidadão, exercendo sua cidadania
no dia a dia da escola e na sociedade. O jovem estudante,
ao deixar nossa escola, deverá ter atitudes solidárias frente
às realidades sociais, construindo novas relações através da
responsabilidade social.
Empreendedorismo Social 135
2.1.4 Concepção de Sociedade: Grupo de pessoas
organizadas pela maior instituição de todos os tempos: a
família. Esse grupo convive e relaciona-se de muitos modos:
solidário, participativo, includente, regido por normas, leis e
deveres. As mudanças e transformações que atingem a família
repercutem na sociedade gerando muitas dificuldades na
educação. Acreditamos que é possível, através da educação,
construir uma sociedade onde a convivência entre as pessoas
seja cada vez mais humana. É pela educação que se possibilita
o pensar e o agir crítico em sociedade. Enquanto escola
confessional católica, desejamos que o educando tenha como
horizonte uma sociedade capaz de valorizar a pessoa, as
relações de gênero, o trabalho e a solidariedade.
2.2 EPESMEL: Aplicação do método
A EPESMEL (Escola Profissional e Social do Menor de Londrina) é uma
instituição privada sem fins lucrativos, mantida pelo Instituto Leonardo
Murialdo. Desde 1974, contribui para a formação integral e inclusão social de
seus alunos através da educação profissional.
A EPESMEL atende a crianças e adolescentes de 7 a 17 anos com renda
familiar de até 3 (três) salários mínimos, geralmente encaminhados pela Vara
da Infância e Juventude; Conselho Tutelar; Projetos da Prefeitura Municipal de
Londrina, entre outros.
Para cumprir sua missão de formação de futuros cidadãos e inclusão social
através do encaminhamento dos jovens ao primeiro emprego, a organização
desenvolve os seguintes projetos:
• ABC – Aprendendo, Brincando e Criando: Atividades de
reforço escolar, artes, esporte, lazer, formação humana e cristã
e cidadania;
136 Empreendedorismo Social
• Cursos Profissionalizantes: Costura industrial, eletricidade,
marcenaria, artes gráficas e arte finalista, auxiliar administrativo;
• Menor Aprendiz: Encaminhamento ao primeiro emprego;
• Zona Azul: O Projeto busca inserir adolescentes em situação
socioeconômica desfavorável no mercado de trabalho até
completarem 18 anos;
• Liberdade Assistida: Tem por objetivo cadastrar voluntários
para a função de orientadores comunitários;
• Agente Jovem: Busca despertar o interesse para o
protagonismo juvenil.
2.2.1 Concepções do método
Para analisar como a metodologia proposta no projeto Pedagógico Murialdo
é aplicada na EPESMEL e, assim, buscar suas interfaces com a formação
de sujeitos para a sustentabilidade, primeiramente se fez necessário uma
investigação em torno da compreensão e significação do método a partir dos
dirigentes da organização.
As definições expressas na entrevista realizada permitiram identificar que
o método educativo vai muito além de uma formação técnica, baseada na
instrumentalização para um suposto mercado de trabalho. O caráter central
presente no discurso realizado aponta para uma formação humana cristã.
Termos como “educação para a vida”, “valores”, “afetividade”, “amor”, “família”
permearam as falas que buscaram definir o método.
Murialdo afirmava em seu método
que não bastava só capacitar o
adolescente e jovem para uma profissão, mas era preciso cuidar também
do corpo, da mente e da alma; buscar desenvolver uma educação integral
a partir da educação do coração, a partir de relações fundamentadas no
amor e no respeito com a vida, a individualidade e alteridade tendo como
fundamento valores que norteiam a vida e muitas vezes até transcendem
a própria vida; valores que levam ao protagonismo, a integração da família
e ao exercício da cidadania.
Pe Carlos Alberto Wessler
Empreendedorismo Social 137
Importante considerar que a concepção do método reside na aplicação de
um conjunto de valores, diretrizes e fundamentos expressos na metodologia
proposta por Murialdo sem, contudo, desprezar as peculiaridades da cultura
local. Dessa forma, pode-se compreender que existe uma atualização
constante da aplicabilidade do método. Inclusive, este aspecto de
adaptabilidade também pode ser encontrada na noção de “atenção aos sinais
do tempo”, expressão encontrada em muitos momentos da entrevista.
É a pedagogia do amor – um método de como interagir com a criança,
adolescente e jovem atendido. O educador não se apresenta como um
professor, mas como uma “amigo (a), irmão (ã), pai, mãe”, que educa
com o coração e não só como um transmissor de conteúdos. O método
de Murialdo se faz bem presente na pedagogia de Paulo Freire, onde se
acentua o respeito a individualidade e a personalidade de cada educando.
No processo de aprendizagem deve-se ter flexibilidade, resiliência, e muito
amor; não dá para ser taxativo. É preciso acolher o educando na sua situação
real, com seus dons, suas fragilidades,e seus problemas. Murialdo falando
sobre o público alvo, afirmava que quanto mais pobre, mais vulnerável,
mais excluído (rejeitado); esses eram os prioritários de sua ação educativa.
Em seu método, Murialdo prefere a prevenção do que a punição; se utiliza
do máximo das intervenções pedagógicas para trazer o educando voltar ao
bom caminho, construindo e estabelecendo conjuntamente limites, regras
e metas de crescimento e comprometimento. Na EPESMEL os educandos
participam da construçaõ regras e normas da instituição (...) (Pe Carlos
Alberto Wessler, Diretor Geral da EPESMEL)
A noção de uma educação que busca uma formação baseada em valores
humanitários e que pretende considerar o indivíduo em sua essência humana
cristã, também pode ser observada nos dizeres:
Nossa missão vai para além dos livros, para além daquilo que está posto
enquanto regra. Educar para ser um bom pai, uma boa mãe, profissionais
respeitados, cidadãos conscientes, participativos... A gramática é
importante? É fundamental! Mas a nossa preocupação é que se ele não for
um bom escritor, isto pra nós não é tão essencial – melhor que ele seja um
138 Empreendedorismo Social
bom pai, um bom cidadão, um homem de bem. E que ele possa levar estes
valores para o mercado de trabalho. (Alexandra Alves José, assistente social
de ensino profissionalizante na EPESMEL)
Assim, o que ficou claro nas definições apontadas pelos interlocutores é,
sobremaneira, o caráter de um processo educativo que tem, em sua essência,
a noção da formação do individuo enquanto pessoa. A formação técnica,
que instrumentaliza para o mercado de trabalho é uma consequência de um
objetivo maior almejado pela metodologia: a preparação para a vida.
2.2.2 EPESMEL: Uma família educativa em busca da
autonomia do indivíduo
Um dos pontos que marcaram a investigação em torno da aplicabilidade
do Método de Murialdo na EPESMEL foi justamente a noção de “autonomia
do indivíduo” e “respeito a sua individualidade” e “historicidade”.
Para os entrevistados, a EPESMEL conta com um conjunto de práticas,
que estão atreladas ao processo educativo, as quais buscam colocar os
indivíduos (educadores e educandos) frente às suas próprias escolhas. Existe,
assim, um encaminhamento educativo com vistas a autorreflexão, em que a
“culpabilização” dá lugar à auto- responsabilização.
O normal do ser humano é culpabilizar; e fazendo somente isso, não vai
levar a lugar nenhum. Esse assunto é tratado constantemente com os
nossos educadores nos momentos de formação, avaliação e planejamento.
Diante de comportamentos e atitudes não adequadas do educando e
até mesmo atos de rebeldia, há a tentação de “eliminar o mal pela raiz”,
simplesmente culpabilizando e excluindo o mesmo do grupo e da entidade,
sem a devida reflexão sobre o fato e circunstância. A exclusão poderá
prejudicar ainda mais as relações e o processo de aprendizagem; e propiciar
o abandono da Instituição, a começar a ficar na rua e a usar drogas. A
exclusão só como última alternativa; mesmo assim, a exclusão vem afirmar
que o seu método de ensino não é tão perfeito. Quando o ato de educar
tem uma conotação de culpabilização, instigamos ao questionamento: Que
Empreendedorismo Social 139
mediações pedagógicas estás utilizando para recuperar esse educando?.
Não é correto expulsar os maus e ficar com os bons. São estes (os
indisciplinados) que terão mais chances de se tornarem delinquentes;
por isso é preciso resgatá-los. (Pe Carlos Alberto Wessler, Diretor Geral da
EPESMEL)
Sobre a autonomia e espaços para o protagonismo, a pedagoga
entrevistada aponta:
Atualmente a gente trabalha com este termo que é o “protagonismo
juvenil”, que vem desta linha de autonomia mesmo. Que é o jovem
poder participar dos espações de decisões... Por exemplo: nós fazemos
a revisão do regimento interno. Então realizamos uma assembleia
com eles, naquilo que era específico em relação aos direitos, deveres e
regras para os educandos. Eles puderam participar e opinar. Além disso,
sempre procuramos trabalhar com a crítica positiva, porque ele tem este
olhar crítico. Então o que a gente sempre diz pra ele: “Olha, dentro da
sala de aula, você tem razão e o educador também tem razão... aquilo
que não te agrada, que você acha que poderia ser melhor, você tem a
liberdade de trazer e de falar”. A gente vai trabalhando nele esta coisa
da criticidade, mas também ele deve ter o olhar das possibilidades. E
aí nós temos um grupo de adolescente que a gente trabalha mais
intensamente esta coisa da autonomia, do protagonismo juvenil, eles são
os multiplicadores para outros jovens, debatendo temas de juventude,
participação política, eles participam como ouvintes nas assembleias e
disseminam dentro da instituição para os demais. A gente trabalha a
autonomia em todos os aspectos: seja no âmbito externo da instituição
como externo. Debatemos acerca da alimentação, do atendimento que
esta sendo realizado, do espaço sala de aula. (Alexandra Alves José,
assistente social da EPESMEL)
Discorrendo sobre a aplicabilidade do método, Pe. Carlos aponta para a
importância do educador no processo:
140 Empreendedorismo Social
O método é aplicado com toda equipe educativa e também com os
educandos. Com a equipe educativa há formação mensal, seminários,
cursos presenciais e a distância (EAD) reuniões mensais tanto para avaliação
e programação das atividades. Uma das dimensões da pedagogia do
amor, que falamos muito é da importância “de ser família educativa”,que
educa pelos ensinamentos, testemunho, relação de amizade, trabalho em
equipe, e comprometimento, em todos os ambiente da instituição: educa
na sala, educa no pátio, educa nos espaços de lazer e esporte, no teatro,
na música, na refeições, etc... Murialdo dizia que é preciso dar uma clima
de familiaridade nos espaços educativos, com educadores motivados, se
querendo bem, com comprometimento e trabalho em equipe. Todos devem
participar da preparação e realização de eventos; saber trabalhar juntos.
O testemunho de amizade, união e colaboração dos educadores, torna-se
referência educativa para o educando. Temos testemunhos de crianças que
tem comportamentos bons na EPESMEL, onde se sentem muito acolhidas;
e comportamentos muito ruins nas escolas regulares, onde não se tem
uma atenção personalizada e pedagógica com o educando.
2.2.3 Sujeitos da sustentabilidade: empreendendo um
projeto de vida
Dados os pontos analisados, tanto em relação às noções da própria
significação do método pelos dirigentes, como também para os aspectos
relacionados a formação de uma família educativa, com vistas ao
desenvolvimento de indivíduos comprometidos e protagonistas de suas
próprias histórias, convém abordar as percepções acerca dos aspectos que
fazem da EPESMEL um espaço para a formação de sujeitos da sustentabilidade.
Esta questão está presente nas intervenções diárias e mais especificamente
nas oficinas de formação humana cristã. A gente trabalha isto de forma
ampla. A pessoa precisa, primeiramente, desenvolver o sentimento de
pertença: isso é meu, este bairro é meu, esta rua é minha, esta cidade é
minha e eu preciso fazer a diferença onde eu estou, em todos os aspectos
– seja na participação política, cidadã, ambiental... A gente trabalha assim
com eles: vocês são únicos, e precisam fazer a diferença, não esperar que
Empreendedorismo Social 141
o outro faça por você... Isto é uma coisa que a gente fala o tempo todo, e
isso está relacionado ao método, ao valor, à parte filosófica do método.
(Alexandra Alves José, assistente social)
A questão da sustentabilidade é tratada na EPESMEL enquanto tema
transversal, a qual busca desenvolver nos educando um olhar voltado ao
compromisso consigo mesmo, com o outro e com a natureza. Nas palavras
de Pe. Carlos:
É um tema transversal. Várias ações: realização de trabalhos e pesquisas
na internet; celebração da semana da ecologia; atividades e artesanato com
recicláveis; instalação de lixeiras nos diversos ambientes da instituição para
reciclagem do lixo; cuidado com os espaços utilizados e o meio ambiente;
educar para posturas corretas, desde o modo de se sentar, de se vestir, etc.
; o cuidado com o corpo e o cuidado com o outro, ; despertar para o cuidado
com seu bairro, o compromisso cidadão, as campanhas de vacinação, o
combate a dengue.
Aspecto valorizado deste propósito é que a instituição, como já foi dito,
busca a formação de sujeitos para a vida, algo que vai além da formação
profissional. São os valores humanitários que perpassam toda a filosofia do
Projeto Pedagógico de Murialdo que norteiam as atividades da organização.
Assim, quando se questionou o tema sustentabilidade, empreendedorismo
e inovação, o foco dos interlocutores se concentrou no que chamaram de
“projeto de vida”.
Assim, a EPESMEL, enquanto instituição que pretende promover a
proteção e garantia dos direitos da criança, adolescente e jovem em situação
de vulnerabilidade pessoal e social, é entendida pelos seus dirigentes enquanto
agente propulsor de uma “nova vida”. Busca-se resgatar o adolescente e
oportunizar novos sonhos e projetos de vida.
Temos que despertar no educando a arte de sonhar, de sonhar um mundo
melhor, onde ele possa acreditar que as mudanças do mundo também
passam pela sua própria ação, criatividade e inovação. Buscamos provocar
142 Empreendedorismo Social
no educando a sede de conhecimentos e a se utilizar das oportunidades
que a cada momento estão surgindo no mercado de trabalho. (Pe Carlos
Alberto Wessler, Diretor Geral da EPESMEL)
Discorrendo sobre as dificuldades encontradas pelos adolescentes em
relação ao contexto social, Alexandra comenta:
Com o trabalho que realizamos buscamos que o adolescente possa olhar
pra dentro de si mesmo, encontrar potencial, e transpor aquela barreira da
dificuldade que eles tem, da percepção de que ele não é capaz, que ele não
pode... Às vezes o mercado não consegue absorver todo mundo que se forma,
então nós incentivamos que ele busque desenvolver seu próprio negócio.
Dentro deste contexto foram apresentados casos de pessoas
que estudaram na EPESMEL e que hoje podem ser consideradas enquanto
referências para a organização. São pessoas que, graças à determinação
para um projeto de vida, hoje se destacam no mercado de trabalho. Citam o
exemplo de uma mulher que se tornou gerente de RH. Contam também sobre
o caso de um adolescente, que, quando chegou na EPESMEL, não sabia nem
ligar um computador – e hoje, está pleiteando uma vaga de doutorado no
exterior na área de Tecnologia da Informação.
Outras histórias foram mencionadas. Todas apontando para casos de
pessoas que passaram pela instituição e que, num certo sentido, representam
“referências” tanto para as crianças e adolescentes, como também para a
própria equipe da EPESMEL. É como se pudessem verificar, por meios destas
históricas, que a Pedagogia do Amor está cumprindo o objetivo à que se propõe.
Nas palavras da própria pedagoga da EPESMEL, “buscamos quebrar o
paradigma do assistencialismo, buscamos que eles sejam protagonistas de
suas histórias, que sejam empreendedores, que tenham um planejamento de
vida, que SONHEM!”.
Empreendedorismo Social 143
3.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados atingidos pela pesquisa, pode-se considerar que
o objetivo central do trabalho foi atingido. Com a pesquisa realizada foi possível
analisar de forma qualitativa a aplicabilidade do Projeto Educativo Murialdo na
EPESMEL. Tanto a pesquisa bibliográfica realizada como a análise da entrevista
em profundidade permitiram concluir que a EPESMEL aplica o método seguindo
os princípios, diretrizes e fundamentos da Pedagogia Murialdo e isso, por sua
vez, contribui para a formação de sujeitos para a sustentabilidade.
Como o termo “sustentabilidade” sugere várias significações, no contexto
deste trabalho optou-se por enquadrá-lo na perspectiva de um modo de
vida que considera o respeito consigo mesmo, com o outro, com a natureza
e, por assim dizer, com a vida. Sustentabilidade aqui significaria, desta
forma, a sustentação de um propósito de vida diferente daquela situação
de vulnerabilidade social vivenciada pelas crianças e adolescentes atendidos
pela EPESMEL. Neste contexto, sustentabilidade e empreendedorismo são
dois lados de uma mesma moeda. Por um lado busca-se sustentar um
novo propósito de vida, pautado pela ética do amor, pela integridade do ser
humano, das relações, da família e etc; por outro lado “empreender um projeto
de vida” é, ao mesmo tempo, o próprio caminho e a chegada. “Buscamos que
eles sejam protagonistas de suas histórias, que sejam empreendedores, que
tenham um planejamento de vida, que sonhem!”.
Ponto marcante da pesquisa diz respeito ao caráter singular do método
e que, na opinião dos dirigentes, o diferencia do paradigma vigente – o
acolhimento do jovem tal como ele é. Antes do julgamento, do certo e do
errado, da imposição de regras, normas e valores, busca-se valorizar o que
o jovem tem de melhor. Assim, se ele é capaz de destruir algo, do mesmo
modo, ele também é capaz de construir. Como comenta Pe. Carlos, “é preciso
acentuar e fortificar o que há de positivo no educando, em sua autonomia e
singularidade e não o negativo, pois assim, aos poucos, ele vai eliminando o
negativo, as vulnerabilidades e exercendo o domínio sobre si mesmo e a vida
criando o seu próprio projeto de vida, se tornando enfim protagonista. Nas
palavras de Murialdo: “Ne Perdantur – Que nenhum se Perca”!
144 Empreendedorismo Social
4.BIBLIOGRAFIA
DALTO, Carlos Eduardo; DINATO, Maria Rosilene Sabino; FREITAS, Carlos
Cesar. Parceria ADETEC e Milênia – Mudando o Contexto Social. Estudo de
Caso EPESMEL e o Ensino de Empreendedorismo. Universidade Estadual de
Londrina. Centro de Estudos Sociais Aplicados, 2005.
PROJETO EDUCATIVO REDE MURIALDO. Disponível em: http://www.
colegiomurialdo.com.br/projeto-educativo?ana-rech. Acesso em 25/08/2014.
WERTHEIN, J. R. (Org.); Célio da Cunha (Org.). Educação Cientifica e
Desenvolvimento – O que pensam os cientistas. 1. ed. Brasília, DF: UNESCO
Brasil, 2005.
Empreendedorismo Social 145
O direcionamento profissional como
agente transformador
Rodrigo Martins
RESUMO:
Busca-se através de artigo, apresentar os benefícios do acesso a
informação e ampliação do conhecimento, através do direcionamento
profissional como agente transformador na vida de jovens e adolescentes
em situação de vulnerabilidade social. A Guarda Mirim de Londrina
completou em 2014, quarenta e nove anos de atividade, atendendo a mais
de 500 jovens em situação de risco social. Diversos cursos profissionais
são oferecidos, além de projetos operacionais e Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos.
Palavras-chave: Jovens, Vulnerabilidade Social, Informação, Conhecimento.
Empreendedorismo Social 147
INTRODUÇÃO
A Guarda Mirim de Londrina completará, em 2015, cinquenta anos de
atividade, e no decorrer desse período passou por muitas modificações
e dificuldades, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade da
instituição. A missão da Guarda Mirim é promover o direcionamento social,
educacional e profissional do adolescente, qualificando-o para o mercado de
trabalho, visando à transformação de sua realidade.
Em 2001, a instituição passou por dificuldades financeiras que quase
levaram ao encerramento das atividades exercidas naquele momento. No
entanto, por uma indicação da Promotoria da Criança e do Adolescente,
formou-se naquele ano uma nova diretoria voluntária que daria inicio a um
novo rumo de crescimento e planejamento para a instituição, propiciando
melhoras nos âmbitos educacional, estrutural e financeiro.
Parte dessa diretoria se faz presente até os dias de hoje e tem como visão
ser reconhecida como instituição que prepara o jovem e oferece Educação
Profissional de qualidade.
Atualmente a Guarda Mirim atende a 519 jovens em situação de
vulnerabilidade social e pessoal encaminhados de vários pontos da cidade de
Londrina e distritos.
Assim, amparados através de entrevista presencial, sobre a Guarda Mirim
de Londrina, buscamos apresentar:
1. Os cursos de aprendizagem profissional;
2. O acesso à informação como um grande diferencial junto à cultura
da instituição.
Fundada em 1965, com o apoio do 5º Batalhão da Polícia Militar até o ano
2000, a Guarda Mirim de Londrina já educou mais de 42 mil jovens de 68
pontos do município.
148 Empreendedorismo Social
Desenvolvimento
Atendendo ao planejamento da finalidade deste estudo de caso, fezse necessário o cumprimento de estágios de investigação na construção
das informações sobre a Guarda Mirim. Desta forma, este capitulo, será
fundamentado através de seis pontos essenciais para sua estruturação:
1. Problematização:
a. Como cumprir a missão da instituição de direcionamento social,
educacional e profissional do adolescente qualificando-o para o mercado de
trabalho visando à transformação de sua realidade?
2. Delimitação:
a. Como o direcionamento profissional subsidia a introdução do
adolescente no mercado de trabalho?
3. Hipótese:
a. Através da oferta dos cursos profissionalizantes da Guarda Mirim,
jovens em vulnerabilidade social, residentes nas periferias das mais diversas regiões
de Londrina e distritos, são resgatados de sua situação de risco social, evitando
influências negativas e incorporando a cultura de planejamento de carreira.
4. Objetivo Geral:
a. Apresentar a importância da Guarda Mirim como instituição
transformadora de pessoas em situação de risco social.
5. Objetivos Específicos:
a. Apresentar os cursos, projetos e serviços oferecidos pela Guarda Mirim;
b. Conceituar os temas relacionados a informação e a importância de
treinamento profissional.
6. Metodologia:
a. Coleta de informações;
b. Referencial bibliográfico.
Empreendedorismo Social 149
Abaixo a missão, visão e valores da Guarda Mirim:
Missão: “Promover o direcionamento social, educacional e profissional
do adolescente qualificando-o para o mercado de trabalho visando a
transformação de sua realidade”
Visão: “Ser reconhecida como instituição que prepara o jovem e oferece
educação profissional de qualidade”
Valores: “Compromisso, Respeito, Sensibilidade, Organização, Cidadania,
Credibilidade, Reconhecimento, Qualidade, Solidariedade, Honestidade,
Transparência, Excelência e Comprometimento”
A Guarda Mirim apresenta atualmente os seguintes números:
117 empresas com aprendizes;
65 escolas que provêm os alunos;
400 aprendizes em aprendizagem nas empresas;
60 alunos na Qualificação;
86 alunos no serviço de convivência (Artes Cênicas/Visuais/Musicalização).
Total de Educandos: 546
A Guarda Mirim oferece cursos em contraturno escolar de aprendizagem
de Auxiliar Administrativo e de Produção Industrial, Padaria e confeitaria em
parceria com o SENAI Londrina, Aprendizagem em Auxiliar Administrativo
para o Comércio, Curso de Maquetaria, além das atividades do Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos com as linguagens: Artes Plásticas
e Artes Cênicas, Fanfarra, Danças Urbanas, BadMinton, Musicalização, Coral,
esportes e acompanhamento pedagógico.
Cursos de Aprendizagem Profissional:
• Auxiliar Administrativo para o Comercio
• Operador do Comercio em Lojas e Supermercado
• Auxiliar Administrativo e de Produção Industrial – Parceria com o
SENAI Londrina
• Padaria e Confeitaria – Parceria com o SENAI Londrina
150 Empreendedorismo Social
Turmas de Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
Artes Visuais: Turma com 25 educandos. Tem como principal objetivo
a inserção social do educando através da linguagem das artes visuais, por
meio de oficinas de artesanato, esportes e acompanhamento pedagógico,
tornando-o protagonista da na mudança da sua própria realidade.
Artes Cênicas: Turma com 25 educandos. Tem como principal objetivo a
inserção social do educando através da linguagem das artes cênicas, por meio
de oficinas de teatro, circo, rádio e acompanhamento pedagógico, tornando-o
protagonista na mudança da sua própria realidade.
Musicalização: Turma com 25 educandos. Tem como principal objetivo a
inserção social do educando através da linguagem musicalização, por meio
de oficinas de música, violão, fanfarra, banda marcial e acompanhamento
pedagógico, tornando-o protagonista na mudança da sua própria realidade.
Projetos Operacionais:
Projeto Higiene: Tem como principal objetivo ofertar aos educandos
materiais e orientação a respeito da higiene pessoal, melhorando a autoestima
e consequentemente o convívio social, inclusive levando para casa os hábitos
aprendidos.
Cardápio Musical: Proporciona no horário das refeições um momento
de contemplação musical no refeitório da entidade, projeto proporciona ao
educando, conhecer novos gêneros musicais saindo da realidade cotidiana.
Chefias de Sala: Estimulamos através deste projeto a Autogestão,
trabalhando a limpeza e organização dos espaços em comum da entidade. Todas
as salas estão equipadas com vassoura, pá de lixo, rodo, guarda-chuva e lixeira.
Projeto de Leitura: Sabemos que um dos grandes problemas encontrados
hoje no meio educacional é a dificuldade dos adolescentes em interpretar e
utilizar a linguagem de forma adequada. Com isso o projeto justifica-se em
Empreendedorismo Social 151
todos os momentos, já que trabalhamos com o principal objetivo de formar
cidadãos críticos e informados.
Além das atividades já citadas é ofertada a alimentação para os jovens que
almoçam e tomam lanche, tanto no período matutino quanto no vespertino.
Os alunos também recebem incentivos relacionados a cultura
empreendedora através do laboratório de merchandising, Projeto Sabão
Mirim e Cooperativa Mirim.
Diversas melhoras ocorreram nos últimos anos, através do apoio e
empenho da sociedade londrinense. Atualmente o espaço passa por uma
grande ampliação da área administrativa e construção de um pequeno teatro
para apresentações, com o grande apoio da sra. Kimiko Yoshii e incentivos da
empresa A. Yoshii Engenharia.
Informação, um grande diferencial
A informação é considerada por muitas empresas como um grande ativo.
Por isso, ela deve ser armazenada e utilizada de maneira adequada, de forma
a gerar bons resultados, a antecipar as necessidades e a produzir um grande
diferencial competitivo para a organização.
Segundo Cardoso e Gonçalves Filho (2001, p.15), “a informação é hoje
poderoso recurso das organizações, permitindo seu perfeito alinhamento
estratégico por meio de constantes fluxos bidirecionais entre a empresa e o
macro-ambiente, criando condições para que esta viabilize seus objetivos e
cumpra sua missão corporativa”.
Assim, a cada dia, diversos profissionais necessitam de uma vasta
quantidade de informações, haja vista o processo de mudança, em todos os
setores, ser constante. Novos produtos são lançados, leis são alteradas ou
novas leis são instituídas, ocorrem mudanças na economia e muitos outros
eventos se sucedem; enfim, acontecem alterações em todas as camadas do
micro e do macroambientes em âmbito nacional e mundial.
152 Empreendedorismo Social
Empresas ou profissionais que estejam bem informados possuem um forte
e importante diferencial competitivo, pois transformam suas informações
em valiosas oportunidades de negócio, alcançando novos mercados ou
idealizando novos produtos e/ou serviços. Isso aumenta, consequentemente,
seus rendimentos, suas bases de clientes, suas empresas e também a oferta
de novos empregos, o que movimenta a economia.
O desempenho humano na prestação de serviços e a
importância do treinamento
A satisfação do cliente vai além da simples aquisição de um produto ou serviço,
sua avaliação continua antes e após a venda, esperando que a empresa continue
a lhe prestar atendimento de qualidade depois que a compra tenha se encerrado.
Logo, todos os setores envolvidos devem se comprometer com o objetivo
primeiro de qualquer ato comercial: a satisfação do cliente, para que ele volte
à empresa e utilize, novamente, seus serviços.
Para tudo isso, o treinamento constante do quadro de funcionários é
primordial, principalmente quando existir a contratação de novos funcionários,
seja para o aumento do quadro, seja para a substituição de empregados.
“O pessoal de contato com o cliente deve cumprir metas operacionais e de
marketing. Por um lado, ajudam a ‘manufaturar’ o produto do serviço. Por
outro, também podem ser responsáveis por comercializá-lo” (LOVELOCK;
WRIGHT, 2003, p.392).
Conclusão:
A Guarda Mirim, possibilita a transformação de vidas de jovens em
situação de risco social, através do oferecimento de acesso à informação e ao
conhecimento, fazendo com que o jovem se torne protagonista de sua realidade.
Por meio desse protagonismo, o jovem faz escolhas decisivas e elabora seus
projetos de vida, assumindo a responsabilidade pela própria carreira profissional.
Empreendedorismo Social 153
O subsidio transformador da ampliação do conhecimento se deve a
profissionais dedicados ao convívio com esses jovens e ao apoio da comunidade
londrinense.
Referências Bibliográficas:
CARDOSO, M.S.; GONÇALVES FILHO, C. CRM em Ambientes e-business.
São Paulo: Atlas, 2001.
LOVELOCK, Christopher H. WRIGHT, Lauren. Serviços: marketing e gestão.
São Paulo: Saraiva, 2003.
154 Empreendedorismo Social
A Pedagogia do Afeto como instrumento
para sustentabilidade social
Gabriela Guimarães
Thaís Bruschi
RESUMO:
Neste artigo busca-se apresentar o conceito e metodologia da Pedagogia
do Afeto, além de sua aplicação e resultados positivos que a instituição
Legião da Boa Vontade (LBV) tem obtido em um de seus projetos, voltado
para crianças e adolescentes. Alia-se à esta metodologia o conceito de
sustentabilidade social, uma vez que a aplicação desta linha educacional
tem por objetivo transformar o mundo em que se vive hoje e no futuro.
Palavras-chave: Sustentabilidade Social, Desenvolvimento, Pedagogia do
Afeto, Educação, Cidadania Ecumênica, Integridade.
Empreendedorismo Social 155
Introdução
O conceito de desenvolvimento sustentável abrange três dimensões
básicas: a sustentabilidade ambiental, a sustentabilidade econômica e a
sustentabilidade social.
Esta última é geralmente pouco disseminada. Muitas empresas têm
adotado a responsabilidade social em sua estratégia de condução de seu
negócio; contudo, é essencial que as ações voltadas para este objetivo tenham
uma base sustentável para que realmente cumpram sua missão de trabalhar
nos agravantes de nossa sociedade. Além de promover ou executar ações
sociais, é essencial vislumbrar ações que tenham efeitos duradouros e que
sejam abrangentes, afetando positivamente também as outras dimensões,
uma vez que sustentabilidade é um conceito sistêmico.
De uma forma geral, a sustentabilidade visa ao bem-estar da sociedade
de hoje e também de gerações futuras. Acredita-se que a equidade é uma
condição essencial para a melhoria de uma comunidade. A correção das
desigualdades instaladas ao longo da história é uma necessidade para que
haja tal desenvolvimento. Uma sociedade sustentável pressupõe que todos
os cidadãos tenham os recursos necessários para ter uma vida digna e com
qualidade e assim possam contribuir para um mundo melhor.
A Legião da Boa Vontade (LBV) é uma instituição que apresenta tal
preocupação, por isso, atua com pessoas em situação de vulnerabilidade
social e/ou pessoal. Intervém diretamente na realidade social, colabora em
situações emergenciais (desemprego, fome, saúde) e, principalmente, na
formação integral do ser humano e de seu espírito eterno. Muito mais do que
doar ou ensinar algo, opera para educar e formar cidadãos.
Para isso, aplica com sucesso, em sua rede escolar e em seus programas
socioeducacionais, a Pedagogia do Afeto, que tem por princípio proporcionar a
convivência e o fortalecimento de vínculos, promovendo uma cultura de paz.
156 Empreendedorismo Social
Legião da Boa Vontade – LBV
A LBV é uma Associação Civil de Direito Privado reconhecida no Brasil e no
exterior por seu trabalho socioeducacional, sendo referência internacional em
educação com espiritualidade ecumênica.
Com a missão de “Promover Desenvolvimento Social, Educação e Cultura
com Espiritualidade Ecumênica, para que haja Consciência Socioambiental,
Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho para todos, no despertar do Cidadão
Planetário”, contribui para a melhoria da qualidade de vida de pessoas em
situação de vulnerabilidade ou risco social, além de promover o conhecimento
de direitos e deveres do cidadão.
Fundada em 1950 pelo jornalista, radialista, escritor e poeta Alziro Zarur,
atua na prestação de serviços de proteção social gratuitos, diariamente, de
forma planejada e sistemática.
Em todo o Brasil, a LBV promove ações transformadoras com mais de
70 unidades socioassistenciais, lares para idosos e escolas. Com o apoio
de parceiros, voluntários e uma equipe de colaboradores local, garante um
serviço de qualidade às famílias da comunidade em que atua. Multiplicando
seus resultados positivos, replica as melhores práticas nacionais também em
outros países - Argentina, Uruguai Bolívia, Estados Unidos e na Europa.
Em Londrina, a LBV presta serviços à comunidade desde abril de 1957.
Conta hoje com uma equipe multidisciplinar com 14 pessoas, atuando em
dois projetos principais: Criança: Futuro no Presente! (que atende crianças
e adolescentes no contra turno da escola promovendo atividades lúdicas
e recreativas) e Vida Plena (voltado para idosos, oferecendo oficinas de
artesanato, passeios e bailes).
O projeto Criança: Futuro no Presente! em Londrina atende famílias
vulneráveis socialmente, crianças com carência afetiva, em situação de
negligência, violência física, psicológica ou sexual ou que tiveram rompimento
de vínculo. Como critério de participação a criança precisa ter 6 anos completos
e estar inserida na escola. A família passa por uma entrevista de triagem
Empreendedorismo Social 157
e à medida que vão abrindo vagas, os casos mais urgentes – com maior
vulnerabilidade – vão sendo atendidos.
Estruturado dentro da filosofia da Pedagogia do Afeto, o projeto atua no
desenvolvimento integral do ser humano, propiciando o resgate da dignidade
e dos valores morais e espirituais.
Pedagogia do Afeto
A Pedagogia do Afeto é assim denominada por acreditar que a
estabilidade do mundo começa no coração da criança. Idealizada por Paiva
Netto, fundamenta-se nos valores oriundos do Amor Fraterno, formando
cérebro e coração, que é a principal finalidade a ser atingida para preparar
seres humanos (Paiva Netto, 2010).
Essa pedagogia propõe a formação do ser integral: espírito-biopsicossocial,
promovendo com qualidade, competência e efetividade a união do sentimento
ao desenvolvimento cognitivo dos pequeninos, de forma que carinho e afeto
transfiram-se para todo o conhecimento e os ambientes de suas vidas,
preparando-os para viver a cidadania ecumênica, firmada no exercício pleno da
Solidariedade Espiritual, Humana e Social, iluminando mentes e sentimentos,
compartilhados com agentes educacionais – famílias / escola / sociedade
(Paiva Netto, 2010).
A criança, a família e os educadores são vistos como coautores do processo
de aprendizagem, dividindo entre si as responsabilidades e atuando de forma
distinta num processo integrado, no qual o diálogo, a discussão e o debate são
fundamentais para este processo (Paiva Netto, 2010).
O desenvolvimento harmônico da inteligência do corpo e do espírito respeita
a faixa etária do educando, bem como sua etnia, cultura e gênero, somando
esforços na vivência da cidadania ecumênica, da ética e da solidariedade,
contemplando todos os segmentos educacionais, de escolarização formal ou
informal (Fundação Boa Vontade, 2009).
158 Empreendedorismo Social
Ir para a escola, de acordo com a Pedagogia do Afeto, significa mais do
que pensar no conteúdo a ser transmitido sobre as disciplinas de português,
química ou física; significa ponderar sobre os princípios fundamentais e
norteadores do efetivo processo de aprendizagem, ou seja, aquele que
permite ao indivíduo a busca constante de conhecimento, pois favorece
o desenvolvimento do aprender a aprender – um dos quatro pilares para a
Educação, da Unesco (Fundação Boa Vontade, 2009).
Para a efetiva prática deste aprendizado é essencial:
• Vivenciar valores universais que possibilitem o fortalecimento do senso de
cidadania em consonância com a família e a sociedade;
• Perceber-se como parte de um grupo social, que é, ao mesmo tempo, meio de
interação e fonte de estudo e informação, desenvolvendo nele a percepção da realidade;
• Praticar e exercitar o pensamento, para desenvolver completa linha de raciocínio,
fundamentada na coesão e coerência, que seja sequencial e gradativa, servindo de
base para que ele possa pensar os fatos da vida;
• Ser incentivada a desenvolver a habilidade investigativa, o senso de pesquisa e a
curiosidade saudável, tendo como base a percepção da realidade e a consciência de que
o saber e a informação fazem parte de um amplo universo social;
• Despertar a memória espiritual exercitando a intuição;
• Nortear e Apoiar: monitorar e mediar a atuação de crianças e jovens, balizando
os limites necessários e fundamentais para propiciar o amadurecimento de conceitos
e ações, favorecendo estudos de pesquisas para temas de interesse;
• Valorizar e respeitar: o educador, além de propiciar, momentos ricos de
aprendizagem e pesquisa, valoriza a produção e as ações das crianças e jovens,
respeitando-lhes os limites e as habilidades, contribui significativamente para que a
criança tenha a autoestima em grau satisfatório e, assim, consiga interagir com o meio
social, exercendo plenamente sua cidadania;
• Despertar potencialidades: pela vivencia social que a escola propicia cabe ao
educador despertar habilidades e capacidades nas crianças e incentivá-las, além de
possibilitar-lhes experiências nas diversas áreas do saber, visando a futura atuação
dessas crianças e jovens na fase adulta, em integração com a sociedade.
Fonte: Fundação Boa Vontade, 2009.
Empreendedorismo Social 159
Como forma de estruturar esses objetivos e disseminar o conhecimento,
a Pedagogia do Afeto conta com uma metodologia para sua aplicação
chamada Método de Aprendizagem por Pesquisa Racional, Emocional e
Intuitiva – MAPREI. É uma ferramenta de aprendizagem facilitadora para
formar educandos e cidadãos mais fraternos, mais ativos e construtores de
conhecimento (Fundação Boa Vontade, 2009).
Fundamenta-se na pesquisa e acredita na intuição como um dos
bons instrumentos capazes de conduzir a criança a assimilar os temas
apresentados em sala de aula, levando em consideração a bagagem cultural
e espiritual do indivíduo (conhecimento anterior da criança), contribuindo
para sua sociabilidade e autonomia, possibilitando assim a transmissão
do conhecimento adquirido e o contato com opiniões variadas acerca de
quaisquer temáticas (Fundação Boa Vontade, 2009).
O MAPREI tem como objetivo: (1) coletar, sistematizar e contextualizar
dados de várias fontes; (2) desenvolver o educando para ouvir opiniões
opostas de forma respeitosa; (3) desenvolver no educando a habilidade de
argumentação; (4) estimular o educando participar do trabalho em equipe
e perceber-se como coautor do processo educacional, exercitando a própria
habilidade intuitiva; (5) exercitar valores democráticos e ecumênicos no
espaço da sala de aula. Também é inserida nesse método a integração da
família à vida escolar. (Fundação Boa Vontade, 2009).
ETAPA
SÍNTESE
OBJETIVO
ESTRATÉGIA
1ª :
Identificação
do Conteúdo
“MOBILIZAR”
Intuição que desperte
o educando a buscar
sua bagagem cultural e
espiritual, uma vez que a
criança já detém o assunto
Apresentar o tema
a ser desenvolvido;
pontuar subtemas
sugeridos
Roda de Conversas;
Chuva de palavras;
leitura oral; música
; dinâmicas; filmes;
etc.
2ª: Busca
Individual
do Conteúdo
‘INTUIÇÃO E
PESQUISA”
Incentiva o educando
a partir de suas ideias
intuitivas iniciais a
aprofundar-se em
pesquisas, direcionando
e orientando, indicando
caminhos que possam
motivá-lo a realizar um
bom trabalho.
Mobilizar atividades
de pesquisa; propor
participação da família;
despertar a intuição
Recorte e colagens;
produções
artísticas; tarefa
de casa com a
participação dos
pais; utilização de
fotos, documentos
pessoais, etc
160 Empreendedorismo Social
3ª:
Socialização do
Conhecimento
“MEDIAR E
APROFUNDAR”
Troca de informações
entre integrantes do
grupo, valorizando cada
material apresentado
e suas característica
diversificadas, lembrando
sempre que a inteligência
de cada educando vai além
da própria capacidade
de aprendizagem e de
sua atual potencialidade
cognitiva
Propor construção
do conhecimento;
incentivar o diálogo e
a reflexão; aprofundar
conceitos; sistematizar
conteúdo
Construção de
painéis, murais; uso
de vídeos, livros,
mapas, revistas,
etc; exposições, uso
de apostila ou livro
didático; roda de
conversas
4ª: Conclusão
“PRODUÇÃO”
Educador organiza as
contribuições do grupo e
mostra que o caminho do
crescimento coletivo se
dá na união das ações dos
educandos, em prol de
uma Sociedade Solidária
Altruística Ecumenica
Concluir o conteúdo
ou projeto elaborado;
elaborar o documento
de conclusão;
sistematizar
o conteúdo
propriamente dito
Produção artística
individual ou em
grupo; registro
de conteúdo no
álbum didático;
uso de apostila,
livro didático;
uso de cadernos:
cartografia,
pedagógico,
brochura,
quadriculado;
produção escrita
ou plástica sobre
a conclusão do
assunto
5ª:
Apresentação
de Resultados
“ESCOLAFAMILIACOMUNIDADE”
Educador conduz
a apresentação e
exposição dos resultados,
valorizando igualmente
todos os esforços,
nas mais variadas
manifestações do
educando, cuja soma de
bagagem (espiritual e
intelectual) contribui para
o crescimento do grupo.
Compartilhar o
conteúdo vivenciado
com os demais grupos
da escola e com a
família.
Exposições na
escola mostras ou
feiras culturais;
gincanas;
dramatizações;
apresentações
musicais
Empreendedorismo Social 161
6ª: Conclusão
individual
“INTERNALIZAÇÃO
(FECHAMENTO)”
O conteúdo da pesquisa
inicial do educando
recebeu o acréscimo das
pesquisas e opiniões
dos colegas, com o
somatório da medição
do educador, retornando
para o educando,que
o internaliza. Esperase desta criança a
capacidade de transformar
simples informação
em conhecimento
solidário, utilizando o que
aprendeu em benefício da
coletividade.
Registrar o conteúdo
assimilado
Atividade plástica,
cênica, musical;
atividade escrita
(caderno, sulfite,
apostila ou livro
didático).
Cidadania Ecumênica
A Pedagogia do Cidadão Ecumênico é direcionada à educação de
adolescentes e adultos, dispondo o indivíduo a viver a Cidadania Ecumênica.
De acordo com sua etimologia, “ecumênico” (do grego oikoumenikós)
significa “de escopo ou aplicabilidade mundial; universal”. Este termo é
utilizado pela LBV porque se acredita que não haverá verdadeira Paz Mundial
enquanto ela não for estendida a todas as pessoas. Assim, o ecumenismo
precisa ser praticado, com a abrangência de suas ações em todos os setores
da vida humana:
Em uma era de globalização, destaca-se a importância do Cidadão
Ecumênico, que compreende a necessidade de superar obstáculos que
separam multidões, ainda que estas não cultuem idêntico pensamento
religioso, político, social ou não pertençam à mesma cultura ou etnia.
Na LBV cultiva-se a Parte Divina, que existe em todos os indivíduos,
esperando ser despertada para demonstrar sua eficácia no bem, fração
luminosa que cada um traz dentro de si, ao largo de crenças ou descrenças. A
162 Empreendedorismo Social
misericórdia, a compaixão, a justiça – aliada à fraternidade – e outros nobres
sentimentos são manifestações desse componente superior do nosso caráter.
Tudo o que de bom existe no indivíduo é o que podemos chamar de Parte Divina,
ou Porção Solidária, independente se a pessoa sabe ou não que possui. As
pessoas infelizes são as que não procuram tal poder, ao contrário das pessoas
que buscam a felicidade verdadeira que vão ao encontro dessa nobre parcela.
Aplicação da Pedagogia do Afeto
Através do projeto Criança: Futuro no Presente! a LBV tem contribuído
na vida de muitas famílias. Em Londrina, atende 100 crianças e adolescentes
entre 6 e 15 anos, em dois períodos de 4 horas, no contraturno da escola.
Com demanda de agressividade e dificuldade de contato/afeto, os
educadores trabalham o relacionamento interpessoal, o diálogo assertivo, a
mediação de conflitos, através das rotinas diárias, das oficinas e combinados
de convivência.
Em oficinas socioeducativas, são trabalhadas temáticas em diferentes
áreas como: cidadania ecumênica, arte e cultura, corpo e movimento,
taekwondo e musicalização.
A palavra-chave da oficina de Cidadania Ecumênica é “respeito”. Nela
são trabalhados temas relacionados às necessidades sociais e individuais
dos educandos, estimulando a vivência de bons sentimentos e o exercício
dos valores éticos (afetividade, convívio, autoestima, solidariedade, respeito
mútuo, fortalecimento de vínculos, justiça, autocuidado, projeto de vida,
diálogo, conteúdos informativos, etc.) e a reflexão sobre valores morais,
esclarecendo-a sobre seus direitos e deveres.
Através dessas oficinas, do contato com as outras crianças e das orientações
de rotina e higiene, a criança se desenvolve e passa a se sentir parte responsável,
como podemos ver no depoimento de T.P, mãe de uma aluna:
Elas chegam em casa e dizem ‘mãe, a LBV me ensinou a usar garfo e faca’,
porque geralmente só dou colher. E ela fala ‘mãe, a educadora disse que
Empreendedorismo Social 163
a gente tem que aprender a não desperdiçar’. Vocês ajudando a gente e a
gente ajudando em casa, acho legal essa parte.
Em oficinas de Arte e Cultura são trabalhadas diversas linguagens da arte.
Com atividades de desenho, pintura, teatro dança, culinária e artesanato, é
feito o incentivo à observação, sensibilidade e percepção, desenvolvendo a
criatividade e diversas habilidades.
Através de oficinas de Corpo e Movimento é trabalhado o desenvolvimento
das estruturas psicomotoras de base e outros aspectos de percepção e
do desenvolvimento corporal e físico, de acordo com as necessidades e
características de cada faixa etária.
As aulas de taekwondo são realizadas uma vez por semana através de
parcerias externas. São trabalhadas habilidades específicas da modalidade,
que contribuem para o desenvolvimento físico e social do educando.
Há também oficinas de Musicalização, permitindo o contato com o mundo
da música, através da leitura de partituras, estudo de ritmos e instrumentos.
Todos os projetos elaborados dentro dessas oficinas são norteados pela
proposta da Pedagogia do Afeto através da metodologia MAPREI, com o
objetivo de promover, com qualidade, o desenvolvimento harmônico do ser
integral (inteligência do corpo e espírito).
A aluna B.F.S (10 anos) exemplifica esse desenvolvimento através de seu
depoimento:
Eu gosto de fazer tudo. Me sinto muito alegre. Eu aprendi muito coisa
nova, antes nem sabia que tinha. E eu fiquei diferente, antes eu era mais
quietinha, agora eu sou mais soltinha. Antes eu não fazia [prece] antes de
dormir, agora eu faço. E também tem o que a gente aprende nas oficinas.
Por exemplo, artesanato, não sabia fazer um tipo de artesanato e aprendi
a fazer aqui. Agora faço em casa todo dia.
164 Empreendedorismo Social
Quando questionado se havia observado alguma mudança em sua filha,
um pai relatou:
No comportamento de mãe com filho, com irmão, com amigos, ela interage
mais, consegue se expressar melhor. (C.S.)
Semanalmente, toda a equipe discute alguns casos e traça estratégias
para intervenção. Através desta troca, todos os profissionais se envolvem
buscando sempre melhorias em seus atendimentos e orientam as famílias de
uma forma mais assertiva. A equipe, de certa forma, funciona como modelo
de interação para os pais:
Aqui vocês chamam bastante atenção, mas naquela atenção do diálogo.
Acredito que a questão do diálogo foi bastante importante. [...] Aqui vocês
dão bastante atenção! [...] a gente está passando por um apuro lá com uma
criança e vocês sabem como chegar na criança, sabem como chegar nos
pais. E a gente percebe que em outras instituições, as pedagogas ficam
perdidas às vezes. Então é bem diferente, eu acho que aqui é 100%. Vocês
deviam ser exemplo pra outras escolas (T.P – mãe de aluna).
Antes, [...] se não obedecesse na hora a primeira coisa era erguer o tom de
voz e não explicar. Agora eu explico o porquê que tem que fazer aquilo, o
que pode acarretar. Aprender a ouvir a criança (C.S – pai de aluna)
Ainda, uma vez por mês há um encontro de família, onde todos os
responsáveis são convidados a discutirem temas que também estão sendo
abordados com as crianças. Assim, proporcionam às famílias um espaço de
acolhimento, escuta, troca de experiências e informações, conhecimento e
acesso à direitos e deveres, estimulando um protagonismo em suas vidas.
Através da vivência dos profissionais e também depoimento de usuários,
pode-se observar o quanto essa promoção da convivência e da troca de
experiências, contribui positivamente:
Empreendedorismo Social 165
A gente conhece pessoas, tem mais amizades com outras mães. A gente
conhece outras histórias. Então, isso é interessante, porque às vezes
a gente está lá deprimida, a gente pensa só na gente, mas daí a gente
participa e vê outras mães e pensa: nossa, então não é só eu que estou
passando por isso! (T.P – mãe de uma aluna).
A discussão dos temas nas reuniões de família, além de esclarecer
dúvidas, auxiliar nas dificuldades que os responsáveis têm, capacitam a
família para abordar e lidar melhor com as crianças, como podemos observar
no depoimento abaixo:
Nas reuniões uma vez por mês, aborda sempre um assunto que a gente
aprende. E a gente também aprende e passa pras crianças. Na hora de
educar, a gente consegue ter uma preparação melhor. [...] Às vezes, um
assunto que a gente precisa tratar com a criança, sobre sexo, alimentação,
religião, e quando a gente participa das reuniões, como a gente vai
abordando os assuntos, na hora da gente ter que passar pra criança, na hora
de educar, de explicar, acaba aprendendo e na hora da gente passar pras
crianças, a gente acaba ensinando um pouco melhor (A.P.A – mãe de aluna).
Muito mais do que ensinar conteúdo, a Pedagogia do Afeto tem por
objetivo envolver a criança no processo de aprendizagem. Despertar este
interesse pelo conhecimento, favorece o desenvolvimento da criança. R.V.P.J.
(8 anos), quando questionada sobre o que aprendia na instituição, relatou:
Se comportar, estudar, escrever, fazer as perguntas, ouvir as professoras
que estão falando. Gosto de brincar, de estudar, de aprender os exercícios e
eu quero aprender tudo isso que está aqui na LBV.
Conclusão
Conforme afirma Paiva Netto (2010), o ser humano tem muito mais
aptidões para sobrepujar problemas do que acredita. A maioria das pessoas
atua de forma muito restrita ao seu potencial. Provavelmente isso se deva
à dificuldade de explorar sua capacidade emocional. Ensinam-se conteúdos,
166 Empreendedorismo Social
mas o mais importante, a convivência, o relacionamento, o controle dos
sentimentos é deixado para segundo plano.
Estudos da neurociência comprovam a influência das emoções na
cognição. Ainda, dentro da psicologia do desenvolvimento, as interações
sociais têm sido vistas como fator fundamental do desenvolvimento cognitivo
e socioemocional dos indivíduos.
Desta forma, é pertinente inserir no sistema de ensino uma metodologia
que envolva a criança no processo de aprendizagem. Se identificar e se
reconhecer é o primeiro passo para despertar a curiosidade, para investigar o
assunto e desenvolver o interesse para produzir conhecimento. Poder partilhar
de suas ideias e conhecer a opinião do outro é essencial para se reconhecer
enquanto ser ativo social. Se a criança, em sua convivência diária, percebe que
o seu pensamento e seu sentimento têm valor dentro do grupo que participa,
reconhece-se como objeto de transformação no ambiente em que vive.
Paiva Netto destaca que o amor solidário é capaz de afastar o crime, a
miséria e a dor quando compreendido e desempenhado em todo o seu poder
compassivo, justo, e, portanto, eficaz, não somente pela religião, mas também
pela política, pela ciência, pela economia, pela arte, pelo esporte.
Observa-se a grandiosidade no trabalho realizado pela LBV e a
importância da aplicação da Pedagogia do Afeto através dos resultados
positivos alcançados, quando, através da convivência diária e das oficinas
socioeducativas, conseguem alinhar os valores morais e éticos a uma educação
de excelência que desperta o interesse pelo aprender, trazendo o educando
como protagonista no processo de aprendizagem.
Essa participação ativa, motiva a criança a permanecer no ambiente escolar,
reforça sua autoestima para interagir com colegas e mestres e, principalmente,
promove a responsabilidade por atuar e modificar a sociedade e o ambiente no
qual está inserido. Trabalhar as distintas percepções em todas as áreas da vida, a
cidadania ecumênica, mais do que ensinar o jovem a respeitar o que lhe é diferente,
desperta a curiosidade para o novo e a busca de melhoria, do aperfeiçoamento.
Empreendedorismo Social 167
Referências Bibliográficas
DELL PRETTE, Almir. e DELL PRETTE, Zilda A. P. Psicologia das relações
interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes, 2001.
LBV – Legião da Boa Vontade. Plano de Ação 2014.
LBV. Manual da pedagogia do afeto e da pedagogia do cidadão ecumênico.
Educação com espiritualidade ecumênica. São Paulo: Editora Elevação, 2009.
NETTO, Paiva. É urgente reeducar! São Paulo: Elevação, 2010.
Superintendência Socioeducacional. Diretrizes e processos técnicos.
168 Empreendedorismo Social
Centro de Apoio e Esperança:
Transformando vidas
Yuri Shirado
RESUMO:
Este artigo objetiva retratar e evidenciar o case de sucesso denominado
Centro de Apoio Esperança – CAE, organização não governamental e sem
fins lucrativos que promove a melhoria da qualidade de vida de pacientes
em tratamento carcinogêneses junto ao Hospital do Câncer de Londrina –
HCL e que se apresentem em vulnerabilidade social. Da origem até os dias
atuais, já se passaram algumas décadas, desde que a fundadora e gestora
da ONG, a sra. Iracema dos Santos, dedicou e dedica-se diariamente em
prol de pessoas que a princípio desconhecidas, tornam-se conhecidas,
colegas, amigos, e porque não dizer, parte de uma grande família unida
pela empatia, solidariedade e acima de tudo amor ao próximo. Contudo,
ao realizar pesquisas atreladas à iniciativa social empreendedora e à
inovação sustentável na cidade de Londrina, deparamo-nos com padrões e
características peculiares a entidades que integram o terceiro setor. Nesse
sentido, o estudo abordará abrangentemente os desafios, as melhores
práticas e os impactos de gestão organizacional de uma entidade que
busca “oferecer atendimento social, psicológico e espiritual às pessoas
em tratamento e aos seus familiares, preparando-as para enfrentarem os
dilemas e as dificuldades decorrentes da doença”. ¹
Palavras-chave: Iniciativas Sociais, Empreendedorismo, Gestão e Planejamento
Organizacional, Assistência Social e Voluntariado, Inclusão Social.
Empreendedorismo Social 169
Introdução
Introdutoriamente, inicio este artigo com uma preocupante estimativa do
Instituto Nacional do Câncer – INCA, que conjuntamente com o Ministério da
Saúde afirma que no ano de 2014 o Brasil deverá ter cerca de 576 mil novos
casos de câncer diagnosticados (Estimativa 2014 – Incidência de Câncer no
Brasil).² Adicionalmente e segundo o Ministério da Saúde, atualmente a
neoplasia maligna apresenta-se como a segunda principal causa de mortes
em nível global, atrás somente das doenças cardiovasculares. E de acordo com
reportagem divulgada no site da British Broadcasting Corporation – BBC, o
Brasil terá até o ano de 2020 um aumento de 38% de novos casos de câncer
diagnosticados.³ Diante tal cenário, e apesar dos avanços da medicina e das
pesquisas, esta patologia além dos efeitos dos tratamentos disponíveis,
ocasiona efeitos colaterais pelo prisma psicoemocional nos pacientes e em
seus familiares. Eis que nesse panorama, mais especificamente na cidade de
Londrina, uma empreendedora social com dinamismo fundou a ONG Centro
de Apoio e Esperança, que tem por missão:
“Minimizar as angústias e dificuldades das pessoas em situação de
vulnerabilidade social, que realizam tratamento de câncer em Londrina,
através de atendimento social, psicológico e espiritual para um melhor
enfrentamento da doença. Bem como a busca pela aplicação dos direitos
humanos.”4
Com a expertise da sra. Iracema Santos, que já realizou trabalhos sociais e
voluntários em outras instituições e inclusive como missionária e catequista,
vislumbrou a necessidade de estruturar um local que permitisse o acolhimento
de pacientes em tratamento de câncer e de seus respectivos acompanhantes,
considerando-se que o Hospital de Câncer de Londrina – HCL, absorve a
demanda dos municípios próximos a Londrina.
Nesse sentido indaga-se a você, leitor: Como e de onde surgem as grandes
ideias? E as ideias inovadoras e de sucesso? Os diferentes modelos de
negócios? Enfim, como desvendar, argumentar e, mais importante, responder
a essas perguntas?
170 Empreendedorismo Social
O estudo de caso da organização não-governamental denominada Centro de
Apoio e Esperança tem a finalidade de ratificar as singularidades intrínsecas as
entidades do terceiro setor, e que representam-se como modelos de negócios
inovadores, que impactam principalmente pelo propósito junto à sociedade.
Desenvolvimento
Mediante a proposição deste trabalho, foi realizada a estruturação do
planejamento do artigo, que contemplou a etapa de pesquisa/investigação
na jornada do conhecimento do CAE. Tendo em vista o desenvolvimento do
trabalho pautamos seis linhas gerais de direcionamento:
1. Problematização:
a. Como ações de gestão organizacional transformam os resultados
e impactam na sustentabilidade de iniciativas sociais de empreendedorismo?
2. Delimitação:
a. Como ações de gestão e planejamento transformam os resultados
e impactam na sustentabilidade?
3. Hipótese:
a. A gestão e planejamento organizacional transformam os
resultados e impactam na sustentabilidade da CAE, visto que essas ações
fornecem à entidade informações relevantes de seu cotidiano, fomentando a
tomada decisão com maior assertividade.
4. Objetivo Geral:
a. Analisar como Planejamento e Gestão Organizacional transformam
os resultados e impactam na sustentabilidade de iniciativas sociais de
empreendedorismo – CAE;
b. Verificar como o Planejamento e Gestão Organizacional
transformam os resultados e impactam na sustentabilidade de iniciativas
sociais de empreendedorismo – CAE;
c. Disseminar a importância da gestão e planejamento para o
terceiro setor.
Empreendedorismo Social 171
5. Objetivos Específicos:
a. Disseminar o conceito de Empreendedorismo Social;
b. Conceituar o tema Planejamento Organizacional e Gestão para o
Terceiro Setor;
c. Conceituar o tema de Sustentabilidade Organizacional;
d. Descrever os benefícios e resultados da aplicabilidade de Gestão e
Planejamento Organizacional para o terceiro setor.
6. Metodologia:
a. Coleta de informações;
b. Referencial bibliográfico.
Por intermédio da realização de levantamentos dos estágios deste artigo, o
planejamento e a organização das ações foram auferidos e de forma coerente
perante ao objetivo final. Mediante a essência deste projeto, efetuou-se
coleta de informações via entrevista presencial junto à responsável executiva
da entidade, que permitiu obter o embasamento necessário para elaborar
e demonstrar que a gestão e planejamento organizacional transformam
os resultados e impactam na sustentabilidade do CAE, uma vez que estas
ferramentas fornecem a entidade informações relevantes de seu cotidiano,
fomentando a tomada decisão com maior assertividade.
O Centro de Apoio e Esperança atualmente apresenta a seguinte estrutura:
1. Uma equipe composta por 20 pessoas, que ocupam as funções abaixo:
a. Diretoria: 6 pessoas;
b. Unidade Gestora de Transferência: 3 pessoas;
c. Conselho Fiscal: 3 pessoas;
d. Funcionários: 2 celetistas;
e. Voluntários: 6 pessoas.
2. A estrutura física atual contempla os espaços a saber: sala de convivência,
copa, cozinha, loja da entidade/sala do administrativo, dormitórios femininos
e masculinos, pátio aberto e 2 banheiros.
172 Empreendedorismo Social
3. Presentemente, a entidade detém como capacidade máxima de
acolhimento de internos o número de 16 pacientes e/ou acompanhantes;
4. Diariamente o CAE fornece alimentação média para 80 pessoas, sendo
que os mantimentos são em grande parte advindos de doações de empresas
privadas e pessoas físicas;
5. Os recursos para manutenção da entidade advêm de algumas fontes:
a. Fontes fixas, como os aportes financeiros na forma de doação de
alguns municípios, no valor médio de um salário mínimo;
b. Fontes variáveis, como eventos, leilões, venda de artesanato na
loja da entidade, doações esporádicas da comunidade e bingos beneficentes;
6. O CAE possui as seguintes qualificações:
a. Utilidade Pública Municipal Lei Nº 9.148 – Data: 09/09/2003;
b. Utilidade Pública Estadual Lei Nº 14.148 – Data: 19/09/2003;
c. OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público –
08015.013312/2002-04;
d. Registro no Conselho Municipal de Assistência Social Atestado Nº
066 – Data: 20/10/2009;
e. Selo da Cidadania Edição 2004 Lei Nº 9.536 de julho de 2004.
7. No ano de 2013 a entidade realizou atendimento a 2.975 pessoas
em regime de abrigo e ofertou 8.036 refeições aos paciente em regime de
transeuntes e acompanhantes, um aumento percentual de 19,95% e 0,94%,
respectivamente em relação ao ano de 2011;
a. Adicionalmente a entidade manteve-se em funcionalidade por
258 dias, ou seja, mais de 70% dos ano de 2013;
b. Foram atendidos em torno de 160 municípios.
8. A entidade disponibiliza de forma gratuita atendimentos
assistenciais, psicológicos e sociais aos pacientes e/ou acompanhantes em
vulnerabilidade social;
Empreendedorismo Social 173
9. Um dos próximos projetos da gestora, que a priori está em andamento,
é a finalização da nova sede do Centro de Apoio Esperança, que iniciouse em 2012 e que após finalizada propiciará a expansão para 30 leitos de
atendimento;
10. A entidade, atenta ao apelo e a divulgação das redes sociais,
desenvolveu uma campanha denominada “A Copa ainda não Acabou”, que
tem por objetivo angariar fundos para finalização da obra da nova sede.
Por meio dos dados coletados, observa-se que a entidade demonstra
preocupação com a questão financeira e organizacional para os próximos anos,
considerando-se que a alteração para a nova sede acarretará automaticamente
em aumento de custos fixos, visto a ampliação dos atendimento. Credita-se
o atual cenário da entidade a postura centralizadora da sra. Iracema, Santos,
que zela diretamente de todas as necessidades do CAE.
Faz-se jus em narrar que nos 12 anos de existência o Centro de Apoio
Esperança personifica o ideal empreendedor de sua fundadora, e que na
última década desempenha forma impar sua utilidade pública focada
essencialmente na inclusão social e na minimização dos efeitos colaterais que
a neoplasia maligna resulta nos pacientes e em seus familiares.
Planejamento, Gestão e Sustentabilidade Organizacional
Contemporaneamente, e de forma indiscriminada, a sociedade se apropriou
de termos que antes estavam mais restritos às esferas empresariais e de
negócios. Entretanto, as vicissitudes cada vez mais estreitam os limites entre
a carreira profissional e a vida pessoal, compelindo o indivíduo a entender
e aplicar conceitos como Planejamento, Gestão e Sustentabilidade, seja no
âmbito organizacional ou pessoal.
Mediante ao preâmbulo acerca da relevância dos termos supracitados, cabe
salientar que, via de regra, as organizações não-governamentais originam-se
de razões que a priori não objetivam o resultado financeiro, mas sim a favor de
uma causa e/ou em prol de pessoas em vulnerabilidade social.
174 Empreendedorismo Social
Nesse sentido, e compreendendo as bases e fundamentos inerentes à
criação de uma ONG, e que a grande maioria destas entidades focam seus
esforços nas ações práticas, este artigo busca evidenciar a relevância do
Planejamento, Gestão e da Sustentabilidade Organizacional.
Segundo descrito no site Portal da Administração, “Planejamento é
um processo contínuo e dinâmico que consiste em um conjunto de ações
intencionais, integradas, coordenadas e orientadas para tornar realidade um
objetivo futuro [..]”.5 Assim podemos inferir que o Planejamento representase como o mapa de ações e necessidade de um projeto, e como também os
direcionamentos necessários para ascender a proposta inicial, seja esta, um
plano pessoal, profissional, acadêmico e/ou familiar. Não obstante, ressalvase que o ato de planejar deveria estar intrínseco no cotidiano dos brasileiros;
contudo, essa realidade ainda apresenta-se um pouco distante para o Brasil.
Nesse cenário, no qual entidades sem fins lucrativos emergem com
escassez de conhecimentos gerais de como planejar e/ou gerir uma entidade
a longo prazo, impreterivelmente a sustentabilidade organizacional ficará
comprometida e consequentemente situações de insolvência financeira e de
operações torna-se uma previsão factível e real.
Adicionalmente, faz-se mister relatar que a estruturação de um bom
planejamento organizacional influencia diretamente na gestão organizacional,
que por fim produz resultados junto à sustentabilidade organizacional, que
consequentemente fomenta a perenidade das instituições, sejam estas
privadas, públicas ou mistas, visto que, conforme Crozeta apud Merege
(2009, p 1), a “Sustentabilidade Organizacional identifica-se com a função de
gestão e é onde temos atualmente a maior atenção com relação a formação
de dirigentes do terceiro setor em nosso país.”6
Terceiro Setor - Assistência Social e Voluntariado
Nas últimas décadas, o Brasil vem internalizando alguns termos
estrangeiros, e adaptando-os conforme a realidade brasileira. Assim ocorreu
com o termo third sector, que em tradução literal resulta na denominação:
Empreendedorismo Social 175
terceiro setor. Esta área tem atraído e demandado atenção de estudiosos
sociais, uma vez que esta área demonstrou um crescimento significativo,
além de maturidade e estabilidade perante ao primeiro e segundo setor. Esta
afirmação é amparada pelo ministro Gilberto Carvalho:
“Existem hoje no Brasil cerca de 290 mil organizações da sociedade civil,
segundo o IBGE. Este dado mostra o enorme contingente de associações
e fundações existentes no País. A atuação das organizações se dá em
diversas áreas, com predominância das que atuam na defesa de direitos
e interesses dos cidadãos. Outro dado importante é que as organizações
empregam mais de dois milhões de trabalhadores formais, o que representa
quase 5% dos trabalhadores do Brasil.”7
Adicionalmente, Carvalho complementa:
“Nos últimos 12 anos, foi crescente a colaboração da sociedade civil nas
políticas públicas. Um número maior de organizações passou a atuar com
recursos públicos, em muitos casos pela primeira vez. Mesmo com essa
presença maior da sociedade civil nas políticas públicas, somente uma
pequena parte das organizações existentes realizou nos últimos anos
parcerias com o governo federal, cerca de 3% do total. Isso demonstra que
podemos contar com muito mais organizações na efetivação das políticas
públicas do que fazemos atualmente.”8
Vale salientar ainda que, segundo CAVALCANTI, 2004 apud AVANCINI,
Eliane V. and. CORDEIRO, Sandra Maria A., o setor em crescimento nos países
desenvolvidos para o século XXI serão as organizações sem fins lucrativos, o
denominado terceiro setor.9
Já no que tange à questão de assistência social e ao voluntariado, Carvalho
menciona que:
“A presença do voluntariado também é marcante na atuação das
organizações: 72% delas estão em atividade sem possuir nenhum
funcionário assalariado. Essa é uma expressão da generosidade do
176 Empreendedorismo Social
povo brasileiro que, historicamente, esteve presente no País – desde as
irmandades que faziam o socorro dos desvalidos e dos marginalizados,
passando pelas entidades que lutaram pela redemocratização durante a
ditadura militar, até as criadas mais recentemente em torno da mobilização
por direitos culturais, ambientais, pelo direito à cidade e outras agendas.”10
Cabe mencionar que segundo a GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e
Empresas, no ano de 2013 o terceiro setor obteve um crescimento de 16% de
investimentos11, o que pode ser considerado um índice de grande relevância
e expressão. Mediante este novo cenário e a quebra de paradigmas em
relação ao terceiro Setor e ao voluntariado, a perspectiva de integração junto
a empresas privadas seja cada vez mais fortalecida e benéfica, resultando em
uma sociedade mais ativa e sustentável.
Conclusão
Através das observações e das entrevistas, ou melhor dizendo, das
conversas informais com a sra. Iracema Santos, que atua como gestora da
entidade, o CAE possui de forma incipiente ações de gestão organizacional e
de planejamento estratégico, que a priori foram incutidas na ONG, mediante a
experiência e acertos e erros da fundadora, e não necessariamente devido ao
conhecimento das ferramentas e de suas vantagens.
Assim, vale salientar que, apesar do desconhecimento técnico, a gestora
detém a vivência, que permite ao CAE dar continuidade aos projetos e
demandas emergentes. E a como diz a sra. Iracema: “Sonhar com o futuro é
acreditar no ser humano”.
Empreendedorismo Social 177
Referencial Bibliográfico
Em http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/
redacao/2013/11/27/brasil-tera-576-mil-novos-casos-de-cancer-em-2014diz-ministerio-da-saude.htm disponível em 26/08/2014. Disponível em
26/08/2014. 1
Em http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/11/ministerio-estima577-mil-novos-casos-de-cancer-no-brasil-em-2014.html disponível em
26/08/2014. 2
Emhttp://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130426_lancet_
relatoiro_cancer_america_latina_rw disponível em 26/08/2014. 3
Em http://www.centrodeapoioesperanca.org.br/ disponível em
26/08/2014. 4
Em http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/o-que-eplanejamento/39381/ disponível em 20/08/2014 5
Emhttp://www.bibliotecavirtual.celepar.pr.gov.br/arquivos/File/
ArtigosFuncionarios/Artigo_Mirian_Sustentab.pdf disponível em
20/08/2014. 6
Em http://www.brasil.gov.br/governo/2014/04/ministro-gilbertocarvalho-fala-sobre-o-terceiro-setor disponível em 20/08/2014. 7 8 10
CAVALCANTI, 2004 apud AVANCINI, Eliane V. and. CORDEIRO, Sandra
Maria A. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v7n1_
sandra.htm. disponível em 20/08/2014. 9
Em http://www.revistaleader.com.br/artigos_int.asp?id=28 disponível
em 28/08/2014. 11
178 Empreendedorismo Social
Resíduo Eletrônico: O lixo que pode levar
informação e conhecimento
Cleufe Almeida
Yuri Shirado
RESUMO:
A proposta deste artigo é elucidar/demonstrar os desafios perpassados por
organizações que apresentam características/propriedades sustentados
nos pilares da Iniciativa Social Empreendedora e da Inovação Sustentável na
cidade de Londrina. Nesse sentido, este estudo abordará a organização nãogovernamental denominada E-Lixo, que foi idealizada no ano de 2007 a partir
da congregação da díade: Visão Empreendedora x Diagnóstico do Problema:
Inexistência de local para correta destinação de passivos eletroeletrônicos.
Assim, contextualmente surgia a primeira etapa de construção da entidade,
que se institui como personalidade jurídica em 17/03/2008, e desde então
se configura como agente transformador junto à comunidade londrinense
nos âmbitos social, econômico e financeiro. A entidade operacionaliza suas
ações e esforços sobretudo na Gestão e Reciclagem de Resíduos – Passivos
Eletroeletrônicos. Complementarmente a entidade coordena e estrutura
campanhas de conscientização e coleta de equipamentos com parceria de
entidades públicas e privadas da cidade.
Palavras-chave: Iniciativas Sociais, Empreendedorismo, Gestão e
Planejamento Organizacional, Sustentabilidade Ambiental, Resíduos
Eletrônicos.
Empreendedorismo Social 179
Introdução
Eis que se inicia este preâmbulo com alguns questionamentos
fundamentais sobre os temas aqui relacionados, a saber: Iniciativas Sociais
e Empreendedorismo. Indaga-se a você, leitor: Como e de onde surgem as
grandes ideias? E as ideias inovadoras e de sucesso? Os diferentes modelos
de negócios?
Considerando-se o texto supracitado, e o estudo de caso da organização
não-governamental E-Lixo, este artigo tem a proposição de auxiliar a elucidação
destes tópicos, na jornada de conhecimento acerca das particularidades
intrínsecas a ONGs que se tornaram referência de sucesso e iniciativas sociais
de impacto em uma sociedade civil.
Aparentemente, e de forma muito simplista, poderíamos ponderar que as
ideias e/ou negócios surgem em sua grade maioria de momentos de inspiração
e reflexão. Entretanto, creditar e alicerçar o sucesso de uma entidade somente
sobre lampejos e insights seria uma decisão prematura e incipiente, pelo
prisma empreendedor e organizacional. Nesse sentido, apoiado e corroborado
por intermédio da entrevista presencial, no processo de criação a E-Lixo, duas
foram as bases de maior significância, a saber:
1. Necessidade e/ou problema a ser solucionado;
2. Visão empreendedora alinhada ao espírito criativo.
Fundamentado nas duas premissas citadas, a concepção de constituir uma
ONG foi idealizada a partir de uma necessidade/problema com que o fundador
Alex Gonçalves se deparou em sua profissão de técnico de informática. Alex
defrontou-se com a dificuldade de realizar a correta destinação e descarte
dos resíduos e passivos gerados em sua profissão, tais como sucatas,
plásticos, vidros, metais, e principalmente equipamentos eletrônicos sem
funcionalidade dos clientes atendidos.
Mediante ao cenário exposto, e após algumas verificações informativas,
o fundador certificou-se de que em Londrina/PR inexistia uma empresa ou
180 Empreendedorismo Social
entidade que executava a Gestão e Reciclagem de Resíduos Ambientais, e
desta forma, em 17 de março de 2008 a ONG E-Lixo é constituída juridicamente
como Associação de Recicladores de Lixo Eletrônico. A partir dessa data, a
grande ideia que tornou-se realidade vem contribuindo na gestão e reciclagem
de resíduos eletrônicos de Londrina e Região Metropolitana.
Desenvolvimento
Considerando-se o planejamento do escopo deste estudo de caso, fez-se
mister o cumprimento de estágios de pesquisa/investigação na construção
do conhecimento da E-lixo. À vista disso, o desenvolvimento deste trabalho
pautou-se em seis vertentes essenciais de norteamento de estruturação
deste capítulo:
1. Problematização:
a. Como a gestão organizacional influência nos resultados e na
sustentabilidade de iniciativas sociais de empreendedorismo?
b. A ausência de gestão organizacional influência na sustentabilidade
de iniciativas sociais de empreendedorismo?
2. Delimitação:
a. Como a gestão e planejamento das ONGs influência em seus
resultados e na sustentabilidade?
3. Hipótese:
a. A gestão e planejamento organizacional influencia nos resultados
e sustentabilidade na ONG E-Lixo, uma vez que viabiliza a entidade a
documentar, validar e tomar decisões através das informações de suas
atividades diárias, contribuindo para sua missão e visão.
4. Objetivo Geral:
a. Analisar como o planejamento e gestão organizacional influencia
nos resultados e sustentabilidade de iniciativas sociais de empreendedorismo
– ONG E-Lixo;
Empreendedorismo Social 181
b. Verificar como o planejamento e gestão organizacional influencia
nos resultados e sustentabilidade de iniciativas sociais de empreendedorismo
– ONG E-Lixo;
c. Disseminar a importância da gestão e planejamento para o
terceiro setor.
5. Objetivos Específicos:
a. Disseminar o conceito de Empreendedorismo Social;
b. Conceituar o tema Planejamento Organizacional e Gestão para o
Terceiro Setor;
c. Conceituar o tema de Sustentabilidade Organizacional;
d. Descrever os benefícios e resultados da aplicabilidade de Gestão e
Planejamento Organizacional para o terceiro setor.
6. Metodologia:
a. Coleta de informações;
b. Referencial bibliográfico.
Assim foi possível organizar as ações a serem efetivas, e por fim atender
ao resultado final de entrega deste estudo caso. Considerando-se a natureza
deste trabalho, foram efetuada coleta de informações via entrevista
presencial junto a responsável executiva da entidade, que possibilitou obter
o embasamento necessário para elaborar e demonstrar que a gestão e
planejamento organizacional influenciariam diretamente nos resultados e na
sustentabilidade da ONG E-Lixo, uma vez que estas ferramentas viabilizariam
no aprimoramento dos procedimentos e atividades inerentes a entidade,
tais como: documentação, validação e tomada de decisão com maior grau
de assertividade, visto que as deliberações seriam amparadas por dados e
informações de seu cotidiano, e assim refletir e fomentar a Missão, a Visão e
os Valores da ONG.
Atualmente a ONG E-Lixo detém/apresenta o seguinte cenário/
perspectiva:
1. Um quadro de 7 colaboradores celetistas, todos devidamente registrados;
182 Empreendedorismo Social
2. Baixos índices de rotatividade, que podem ser creditados parte a
predominância/histórico do perfil dos colaboradores e parte pela estabilidade
que a entidade propicia;
3. Segundo informações coletadas na entrevista presencial, cerca de 30%
da receita é destinada ao custeio de despesas fixas da ONG;
4. A entidade possui um projeto em andamento de alocação e expansão
de parte da produção junto ao Creslon – Regime Semiaberto de presidiários
de Londrina;
a. Esse projeto tem o objetivo, permitir a qualificação e a reinserção
deste público na sociedade;
b. A priori a demanda média de indivíduos a serem realocados na
sociedade está próximo a 150 pessoas;
5. A organização mantém-se de forma independente, sem recursos
públicos ou privados. Contudo vale ressaltar que a organização dispõe de
alguns formatos de captação de recursos:
a. Loja da Entidade: Todos os equipamentos arrecadados como
doação são submetidos a uma etapa de triagem, na qual são segregados os
equipamentos que apresentam características de função intactas. Estes serão
destinados para compor os itens de exposição da loja da ONG para revenda;
b. Venda de sucata: Partes dos equipamentos que não podem ser
reutilizados tornam-se sucata e são revendidos separadamente, como por
exemplo: plástico, metais, vidros e demais passivos;
c. Adicionalmente e de forma regular, a entidade realiza ações e
campanhas de recolhimento e arrecadação de resíduos eletrônicos, seja
de forma isolada ou conjunta com empresas privadas ou públicas. Esta
atividade representa um dos principais canais para angariar equipamentos
eletroeletrônicos da E-Lixo, de modo a contribuir com o volume de matériaprima na fase de triagem;
6. No que tange ao viés social, a E-Lixo mediante demanda e solicitação,
realiza doação de computadores completos para diversos projetos sociais;
Empreendedorismo Social 183
7. Conforme o coleta de informação, a organização necessita adquirir
dois maquinários que resultariam em melhores condições financeiras e
estruturais, visto que ambos os equipamentos gerariam maior rentabilidade a
instituição, pois ambos os passivos (plástico e vidro), atualmente são tratados
como sucata, ou seja, as aquisições prioritárias são o Triturador de Plástico e
Descontaminador Químico de Vidro.
8. A organização possui setores bem definidos no que tange à tipologia
de equipamentos, tais como: Setor de Informática, Setor de Equipamentos
de Áudio e Vídeo, Setor de Descarte e Sucatas, Setor Administrativo e Loja
da Entidade;
a. O atual espaço não mais comporta as demandas da entidade, que
objetiva conseguir encaminhar um processo de solicitação de espaço junto ao
poder público municipal;
9. A E-Lixo iniciou recentemente um novo desafio e está operacionalizando
a implantação/instalação de uma filial na cidade de Curitiba, junto a uma
instituição prisional, atuando na qualificação e na ressocialização dos detentos,
contribuindo para com a proposta de sistema humanizado de presídios;
10. A ONG E-Lixo foi premiada como a primeira colocação no ano de
2009, junto à pesquisa Top de Marcas na categoria Top Posicionamento –
Responsabilidade Ambiental.
Segundo dados coletados, a instituição tem-se estruturado financeira
e organizacionalmente nos últimos dois anos, e assim vem implantando
noções de gestão organizacional. Entretanto, quando questionada acerca
de planejamento, a responsável executiva entende que o processo cultural
de mudança está em fase embrionária, e reconhece a imprescindibilidade de
ferramentas e métodos de planejamento e gestão que resultarão em ganhos
e sustentabilidade a longo prazo.
De forma pontual, e diante as observações constatadas na visita, observouse a carência e a pertinência de execução do Planejamento Estratégico da
E-Lixo, uma vez que, com a ampliação da entidade para Curitiba, haverá
demandas na melhoria de processos na comunicação integrada, nas tomadas
184 Empreendedorismo Social
de decisões sincrônicas, e principalmente na unicidade da Missão, Visão
e Valores, considerando-se que esta expansão já motivou a mudança de
residência do fundador Alex Gonçalves para a cidade de Curitiba.
Faz-se jus em narrar que a ONG E-Lixo personifica o ideal empreendedor
de seu fundador, e que nos últimos sete anos vem desempenhando de forma
impar sua utilidade pública focada essencialmente na Gestão Ambiental, em
uma cidade que tem-se tornado referência como polo de tecnologia, e mais
recentemente iniciou sua atuação na Gestão Social, apoiando e oportunizando
a inserção social. Nesse sentido a entidade apesar das intempéries financeiras,
organizacionais e gerenciais, tem dado continuidade ao seu objeto central:
Pensamento Verde e Consciência Social.
Planejamento Organizacional e Gestão do Terceiro Setor
O Planejamento é a maneira organizada de planejar e gerenciar uma ideia
que envolva pessoas e resultados é a forma de determinar o direcionamento
bem como as ações de correção ao longo do processo. Desta forma independe
se a empresa seja pública ou privada, com ou sem fins lucrativos necessita ter
visão clara dos objetivos e estratégias a que se propõe. Não obstante lembrar
que de uma forma geral planejar não faz parte da cultura do brasileiro, desta
forma observa-se resultados negativos, endividamentos e falência dentro das
organizações independentemente do modelo que seja.
Dentro do Terceiro Setor o planejamento requer mais atenção e organização,
pois envolve dinheiro muitas vezes público e pessoas que buscam acima de
tudo resultados voltados para a comunidade e sociedade.
“Ao contrário do que muitos pensam o setor em crescimento no século XXI
em países desenvolvidos não será o de ‘negócios’, isto é, em atividades
econômicas organizadas. Estudos confirmam que será o setor social sem
fins lucrativos, o chamado terceiro setor, no qual a estratégia de atuação
deverá incorporar os princípios e teoria do gerenciamento sistemático para
produzir os maiores resultados com maior rapidez.” (CAVALCANTI, 2004
apud AVANCINI, Eliane V. and CORDEIRO, Sandra Maria A.)
Empreendedorismo Social 185
O Terceiro Setor tem a necessidade de se profissionalizar enquanto
projeto coletivo voltado para a sustentabilidade. Profissionalização e
comportamento empreendedor seriam as formas de garantir a integridade e
o sucesso do empreendimento.
Diante da complexidade do cenário organizacional, o Terceiro Setor requer um
Planejamento Estratégico pontual, bem como a profissionalização no quesito
gestão que envolveria a questão de liderança, comportamento empreendedor e
relacionamento interpessoal. Com isso, a ONG teria subsídios e parâmetros para
tomadas de decisão e identificação, ao longo do tempo, das ações necessárias
ao enfrentamento de estrangulamentos e desafios institucionais.
Drucker (1995,p.39) reforça esse pensamento ao afirmar que uma
organização sem fins lucrativos requer quatro coisas para funcionar: um
plano, marketing, pessoas e dinheiro. Isso tudo de forma pensada, planejada
e gerida traria possibilidades reais de sustentabilidade.
Sustentabilidade Organizacional
Até meados da década de 70, uma empresa poderia ser considerada
sustentável se fosse economicamente saudável, com um bom patrimônio e
lucros crescentes, mesmo se houvesse dívidas.
Dentro do cenário empresarial, o Terceiro Setor requer conhecimento
dos processos necessários para o acontecimento da sustentabilidade
organizacional. A sustentabilidade, quando buscada pelas diversas formas
de organizações existentes (empresas, universidades, ONGs, departamentos
políticos, etc.) constitui-se em intentos que primam pela busca de um
equilíbrio macro dos diversos processos.
Para caracterizar uma organização como sustentável, esta deve ser
analisada dentro de alguns aspectos relevantes: Sustentabilidade Social (o
impacto causado à comunidade); Sustentabilidade Ambiental (preocupação
com o meio ambiente); Sustentabilidade Econômica (competitividade,
lucratividade, oferta de empregos e capacidade de expansão).
186 Empreendedorismo Social
Conclusão
Observa-se que existe atualmente um início de planejamento e mudanças
na ONG E-Lixo, existindo ainda a necessidade de ser feito um Planejamento
Estratégico e Plano de Capacitação gerencial e de colaboradores.
Em decorrência do modelo da ONG E-Lixo e seu papel diante da sociedade,
bem como a sua importância no que diz respeito à sustentabilidade ambiental
e social, a organização deve focalizar a questão da sustentabilidade econômica.
Não é tão simples organizar, planejar e gerir um empreendimento, mas se
faz necessário para o desenvolvimento, expansão e a sustentabilidade desse
empreendimento tão importante para Londrina.
Referências Bibliográficas
CAVALCANTI, 2004 apud AVANCINI, Eliane V. and CORDEIRO, Sandra Maria
A. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v7n1_sandra.htm.
Acesso em 08/08/2014
GONÇALVES, Alex. Disponível em http://www.elixo.org.br/. Acesso em
15/08/2014
Disponível em http://www.priberam.pt/DLPO/sustentabilidade. Acesso
em 08/08/2014.
DRUCKER, Peter F. Administrando em Tempos de Grandes Mudanças 1995, Ed. Pioneira.
Empreendedorismo Social 187
POSFÁCIO
Empreendedorismo Social: Legados da Formação
Cidadã para os 80 anos de Londrina.
Norman de Paula Arruda Filho1
Desde a fundação da Cátedra Ozires Silva de Empreendedorismo e
Inovação Sustentáveis em 2011, o Instituto Superior de Administração e
Economia (ISAE) tem incentivado a disseminação do conhecimento de forma
a apoiar o desenvolvimento sustentável. Tendo como premissa a promoção de
ações com o objetivo de fomentar o empreendedorismo e inovação, a Cátedra
Londrina lança mais uma publicação em sinergia com o seu foco de atuação.
Essa edição em homenagem aos 80 anos de Londrina, construída de
forma coletiva, apresenta uma compilação de artigos que enaltecem o perfil
empreendedor da cidade e o papel do cidadão londrinense nesse processo.
Construído com o olhar de autores locais, o livro é uma contação de
diferentes histórias, com diferentes perspectivas, mas com o mesmo foco:
o processo de desenvolvimento da comunidade de Londrina, ao longo de sua
história. Nas páginas você conheceu os contos de quem participou, contribuiu
e ajudou a construir uma nova Londrina, permitindo a organização de um
ambiente próspero e sustentável.
Assim, ao entregar essa publicação à comunidade londrinense, a Cátedra
Ozires Silva de Empreendedorismo e Inovação Sustentáveis contribui com
quinto pilar de aprendizagem da Unesco, proposto por Jacques Delors:
aprender a se transformar e a transformar a sociedade.
1
Presidente do ISAE
Empreendedorismo Social 189

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