01 - Artigo 148 - Emprego de Trichoderma spp

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01 - Artigo 148 - Emprego de Trichoderma spp
GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801)
EMPREGO DE Trichoderma spp. NO CONTROLE DE Sclerotinia sclerotiorum E NA
PROMOÇÃO DE CRESCIMENTO VEGETATIVO NAS CULTURAS DE GIRASSOL
E SOJA
Roni Fernandes Guareschi1, Adriano Perin2, Dirceu macagnan3, Alexandre Tramontini2, Paulo Roberto
Gazolla2
RESUMO: O trabalho objetivou avaliar o efeito do Trichoderma spp. no controle de Sclerotinia
sclerotiorum em girassol e soja, bem como o seu potencial de indução de crescimento radicular e de
parte área das culturas. Foram conduzidos dois experimentos, sendo um com a cultura do girassol e
outro com soja, ambos em delineamento inteiramente casualizado, com 4 tratamentos e 4 repetições.
Os tratamentos para os dois experimentos foram: solo esterilizado sem inoculação de Trichoderma
spp.; solo não esterilizado sem inoculação de Trichoderma spp.; solo esterilizado com inoculação de
Trichoderma spp.; e solo não esterilizado com inoculação de Trichoderma spp. A inoculação de
Trichoderma spp. foi via tratamentos de sementes (200 mL para 50 kg de sementes) e aplicação via
solo (1 L ha-1) aos 10 dias após a emergência. Foi avaliado a incidência de sintomas de mofo branco
(causada pela fungo Sclerotinia sclerotiorum), e massa fresca e seca da parte aérea e de raízes aos 15,
30, 45 e 60 dias após a emergência. Não foi encontrada incidência de mofo branco nas culturas. Neste
experimento, a aplicação de Trichoderma spp. promoveu maior crescimento de parte aérea e raízes da
cultura do girassol e da soja.
Palavras-chave: Mofo branco, biocontrole, produção de biomassa.
USE OF Trichoderma spp. IN CONTROL OF THE Sclerotinia sclerotiorum AND GROWTH
PROMOTION VEGETATIVE CULTURES OF SOYBEAN AND SUNFLOWER
ABSTRACT: The objective of this work was to evaluate the effect of Trichoderma spp. in control of
Sclerotinia sclerotiorum in sunflower and soybean, as well as its potential for induction of shoot and
root growth of the crops. Two trials were conducted, one with the culture of sunflower and another
with soybean, both in a completely randomized design with 4 treatments and 4 replicates. The
treatments for both trials were: sterilized soil without inoculation with Trichoderma spp.; nonsterilized soil without inoculation with Trichoderma spp.; sterilized soil inoculated with Trichoderma
spp.; and non-sterilized soil inoculated with Trichoderma spp. The inoculation of Trichoderma spp.
was done by seed treatment (200 mL to 50 kg of seeds) and applied via soil (1 L ha-1) at 10 days after
emergence. We evaluated the incidence of white mold (caused by Sclerotinia sclerotiorum), and fresh
mass and dry matter of shoots and roots at 15, 30, 45 and 60 days after emergence. There was no
incidence of white mold in sunflower and soybean. In this experiment, the application of Trichoderma
spp. promoted greater growth of shoots and roots of sunflower and soybean.
Keywords: White mold, biocontrol, biomass yield.
___________________________________________________________________________
1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Instituto de Agronomia, Departamento de Solos – UFRRJ – Depto de
Solos, BR 465, Seropédica, Rio de Janeiro (RJ). CEP: 23851-970. *E-mail: [email protected]. Autor para
correspondência.
2.
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde. Rod. Sul Goiana, km 01, Zona Rural,
Caixa Postal 66, Rio Verde (GO). CEP: 75901-970.
3
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília Campus Planaltina, Rod. DF 128, Km 21, Brasília (DF).
CEP: 73380-900.
Recebido em: 28/03/2010.
Aprovado em: 22/06/12.
Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 02, p.01 – 08, mai/ago. 2012
R. F. Guareschi et al.
INTRODUÇÃO
O fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib
de Bary) é considerado um dos patógenos
fúngicos mais importantes no mundo e está
distribuído em todas as regiões produtoras,
sejam elas temperadas, subtropicais ou
tropicais (LEITE et al., 2000), com pelo
menos, 408 espécies de plantas hospedeiras
(BOLAND & HALL, 1994).
O patógeno Sclerotinia sclerotiorum é
difícil de ser controlada em razão da
agressividade, dispersão e a longa resistência
dos escleródios no solo (HUANG, 1980).
Existem, porém, mais de 30 espécies de
fungos e de bactérias com efeitos antagônicos
a Sclerotinia sclerotiorum, os quais parasitam
escleródios e previnem sua formação, ou
reduzem a germinação carpogênica e, com
isso, acarretam uma redução do potencial de
inóculo (MORETINI & MELO, 2007). Os
sintomas característicos da doença são a
necrose no caule, ou haste e murchamento
seguido da seca das folhas, enquanto que os
sinais são o crescimento de micélio cotonoso
e branco na superfície dos tecidos lesionados
e a presença de inúmeros escleródios pretos e
de formato irregular (KIMATI et al., 1997).
Entre os fungos antagonistas a esse
patógeno destacam-se aqueles pertencentes
ao gênero Trichoderma. Espécies do gênero
Trichoderma têm sido consideradas por
muitos autores como promotoras de
crescimento de plantas (HARMAN, 2000;
HARMAN et al., 2004) e tem-se observado o
potencial de isolados desse microrganismo na
melhoria da germinação de sementes
(HOWEL, 2007).
O gênero Trichoderma atua como
agente de controle biológico, por meio de
diferentes mecanismos. Dentre estes, se
destaca o antagonismo, especialmente por
2
meio do parasitismo das hifas do patógeno, a
competição por nutrientes e espaço e
indiretamente por meio de modificações das
condições ambientais e a promoção do
crescimento das plantas (BENITEZ et al.,
2004). O gênero Trichoderma possui uma
distribuição bastante ampla ocorrendo no
mundo inteiro, em quase todos os tipos de
solos
e
outros
habitats
naturais,
especialmente, naqueles que contém ou
consistem de matéria orgânica (HOWELL,
2003). Por tratar-se de um micoparasita
necrotrófico, apresenta grande eficácia no
controle de inúmeros fungos fitopatogênicos
(WIDYASTUTI et al., 2001).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o
efeito do Trichoderma spp. no controle de
Sclerotinia sclerotiorum, sob o cultivo de
girassol e soja, bem como avaliar seu
potencial de indução de crescimento radicular
e de parte área dessas oleaginosas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa
de vegetação, de setembro a novembro de
2008, no município de Rio Verde, Sudoeste
de Goiás. Para a instalação do experimento,
utilizou-se a cultura da soja e girassol em
vasos com capacidade de 3,5 e 7,5 kg de
terra, respectivamente.
O solo utilizado foi retirado da
Fazenda Montividiu Tiuba, localizada na
rodovia GO 174, km 47, município de
Montividiu, GO, no qual apresentava grande
quantidade de inóculo de S. sclerotiorum. Foi
feita a análise da fertilidade e textura do solo
no Laboratório de Solos do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano Campus
Rio
Verde-GO,
seguindo
metodologia da EMBRAPA (1997), e os
valores encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1 - Análise química e física do solo por ocasião
experimentos
P
MO
pH K+ Ca++ Mg
Profundidade
cm
mg dm-³ g dm-³ água cmolc dm-³
0 - 20
7,03
33,05
6,1 0,66 3,92 1,48
da implantação dos
V Areia Silte Argila
%
g kg-1
61,5 38,0 12,0 50,0
Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 02, p.01 – 08, mai/ago. 2012
Emprego de Trichoderma spp...
Foi adotado um delineamento
inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos e quatro repetições. Os
tratamentos foram: 1) solo esterilizado sem
inoculação de Trichoderma spp.; 2) solo não
esterilizado sem inoculação de Trichoderma
spp.; 3) solo esterilizado com inoculação de
Trichoderma spp.; 4) solo não esterilizado
com inoculação de Trichoderma spp. Os
tratamentos foram aplicados em dois
experimentos, um com a cultura do girassol e
outro com soja.
A esterilização do solo foi feita por
autoclavagem sob temperatura de 120 oC
durante duas horas. Para assegurar a presença
de inóculo de S. sclerotiorum nos vasos, foi
adicionado quatro escleródios por vaso, os
quais apresentaram 75 % de viabilidade. Para
determinação da viabilidade dos escleródios,
foi realizado um teste em condições
controladas, onde os escleródios foram
submetidos à assepsia (três minutos em
álcool a 50 % e três minutos em hipoclorito
de sódio a 1 %), e depois de enxaguados em
água esterilizada, logo após foram incubados
três escleródios por placa, contendo meio de
BDA
(batata-dextrose-ágar)
com
estreptomicina. Os escleródios permaneceram
por um período de sete dias a 25 oC (12 horas
luz/ 12 horas escuro), e ao final dos sete dias
foi determinada a porcentagem de
germinação miceliogênica dos escleródios
(FERRAZ et al., 2003).
A semeadura e adubação foram
realizadas em 24/09/2008. As sementes de
girassol (Híbrido Guará) e soja (M-SOY
8008) foram tratadas com Cruizer®
(thiamethoxam), na dosagem de 105 gramas
de ingrediente ativo (g.i.a.) para 100 kg de
sementes. Posteriormente, a essa aplicação,
as sementes de soja foram inoculadas com
Bradyrhizobium japonicum (SEMIA 5079).
Foram distribuídas 10 sementes por
vaso. Utilizou-se uma adubação por vaso
equivalente a 300 kg ha-1 do adubo 02:20:18
(N:P:K) para ambas as culturas. Aos sete dias
após a emergência (DAE), foi realizado o
desbaste, deixando quatro plantas por vaso.
Aos 20 DAE, foi realizado uma adubação
nitrogenada de cobertura na cultura do
3
girassol com 60 kg ha-1 de nitrogênio (N),
utilizando ureia como fonte fertilizante.
O inóculo de Trichoderma spp.
utilizado foi proveniente do produto
comercial StimuControl TS®, o qual
apresenta concentração de 4,9 x 109 unidades
formadoras de colônia/mL do produto.
Seguindo a recomendação do fabricante, foi
realizada a inoculação de Trichoderma spp.
via tratamento de sementes (200 mL do
produto comercial para 50 kg de sementes) e
duas aplicações foliares, ambas na dose de 1
L ha-1 de do produto comercial, realizadas
aos 10 e aos 40 DAE.
As avaliações constaram da incidência
de sintomas de mofo branco a cada 15 dias,
realizada por meio da porcentagem de plantas
com sintomas em relação ao total de plantas
sem sintomas. Para a detecção dos sintomas
nas culturas, foram avaliados o terço médio
das plantas, e a haste principal, pecíolos,
folhas, vagens e aquênios, além da
observação
da
presença
de
lesões
encharcadas nos órgãos afetados, de
coloração parda e consistência mole, com
micélio branco de aspecto cotonoso, cobrindo
porções dos tecidos.
Foi determinada também a massa
fresca e seca da parte aérea e de raízes aos 15,
30, 45 e 60 DAE. Essas avaliações constaram
da colheita, separação da parte aérea e raízes,
lavagem em água corrente e após esses
procedimentos tais partes foram pesadas para
determinação da produção de massa fresca e
em seguida, colocadas em estufa de
ventilação forçada de ar a 65 °C, por 72
horas, e posteriormente a parte aérea e as
raízes foram pesadas para determinação da
massa seca.
Os dados foram submetidos à análise
de variância e as médias comparadas pelo
teste Tukey a 5 % de probabilidade,
utilizando o programa estatístico SAEG
versão 9.1 (SAEG, 2007). Para uma melhor
interpretação os resultados e discussões
foram divididos em duas partes, onde será
apresentada separadamente cada cultura.
Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 02, p.01 – 08, mai/ago. 2012
R. F. Guareschi et al.
4
manifestação de sintomas do mofo branco, já
que esta doença apresenta seus sintomas mais
Não foi encontrada incidência de marcantes no final do ciclo das culturas.
sintomas de mofo branco em nenhuma das
épocas de avaliação do experimento tanto na a) Cultura do girassol (híbrido Guará)
cultura do girassol como da soja.
Observou-se que aos 15 DAE, os
Atribui-se esses resultados as elevadas
temperaturas (acima de 28 ºC) ocorridas tratamentos 2 e 4 foram estatisticamente
durante a condução do experimento. Leite et iguais e obtiveram as maiores produções de
al. (2000) destaca que a temperatura ótima massa fresca (MF) e massa seca (MS) do
para o desenvolvimento do micélio situa-se girassol (Tabela 2). Já os tratamentos 1 e 3
entre 18 ºC e 25 ºC. Aliado ao fator anterior, embora serem similares, apresentaram menor
o tempo de execução do experimento (60 produção de MF e MS.
dias) pode não ter sido suficiente para que
houvesse a infecção das plantas e a
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 2 - Produção de massa fresca (MF) e seca (MS) de parte aérea (g/planta) da cultura do
girassol dos 15 aos 60 DAE
MF
MS
MF
MS
MF
MS
MF
MS
Tratamentos ----(15 DAE)-----
-----(30 DAE)-----
-----(45 DAE)-----
-----(60 DAE)----
1
5,64 b*
0,54 b
26,30 c
3,27 b
68,5 b
13,07 b
76,89 b
14,07 b
2
11,91 a
0,98 a
43,41 a
4,35 a
88,25 a
16,09 a
99,02 a
20,27 a
3
6,22 b
0,63 b
34,95 b
3,90 a
87,63 a
15,78 a
98,22 a
19,02 a
4
10,85 a
0,90 a
36,43 b
4,38 a
89,72 a
16,37 a
99,70 a
20,75 a
C.V (%)
9,26
7,66
6,46
6,75
14,72
5,14
7,01
7,25
* Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
Não houve diferença na utilização do
Trichoderma quando compara com solo não
esterelizado, e isso é devido à complexa
interação da microbiota do solo gerando
grande número de produtos que promovem
melhores condições de crescimento e
desenvolvimento das plantas. Ademais, ao
comparar os tratamentos 2 e 4, percebe-se
que a utilização do Trichoderma não
promoveu melhoria no acumulo de MS da
parte aérea do girassol. Os resultados
mostram a importância da microbiota do solo
no desenvolvimento das plantas de girassol,
pois ao comparar o tratamento 2 com o
tratamento 1, onde a diferença entre os
mesmos é a esterilização do solo, pode-se
observar 52,61 % a mais de produção de MF
do tratamento 2 (solo não esterilizado) em
relação ao tratamento 1 (solo esterilizado).
Os microrganismos são responsáveis por
diversas transformações químicas envolvidas
no processo de ciclagem de nutrientes às
plantas. A produção agrícola pode ser
influenciada pelos microrganismos de
diferentes maneiras, sendo uma delas a
promoção do crescimento de plantas
(SOTTERO, 2003). A fertilidade do solo está
estreitamente relacionada com a biomassa
microbiana do solo, desta forma quanto
melhor for a atividade microbiana do solo,
melhor será o desenvolvimento das plantas
(SCHOLLES & VARGAS, 2000).
O Trichoderma spp. aplicado junto às
sementes em solo esterilizado (tratamento 3)
mostrou comportamento semelhante ao
tratamento 1 (solo não esterilizado sem
inoculação de Trichoderma spp.) na
avaliação de MF e MS realizada aos 15 DAE
Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 02, p.01 – 08, mai/ago. 2012
Emprego de Trichoderma spp...
(Tabela 2). Desta forma, pode-se inferir que
nos primeiros 15 dias, o fungo não estimulou
o crescimento das plantas.
Esse resultado pode ter ocorrido
devido ao pequeno tempo de permanência do
Trichoderma spp. no solo, ou a dose aplicada
via semente foi insuficiente para promover
um rápido crescimento de parte aérea. Esses
resultados estão de acordo com Harman
(2000) onde menciona que a promoção do
crescimento de plantas depende da
concentração, idade de inóculo, bem como
das condições edafoclimáticas e fisiológicas,
sendo que em condições ótimas, o efeito do
Trichoderma spp. pode ser menor.
Aos 30 DAE, a produção de MF do
tratamento 2 foi superior aos demais,
enquanto que o tratamento 3 e 4 foram
similares e superiores ao tratamento 1. Já a
produção de MS obtida aos 30, 45 e 60 DAE
nos tratamentos 2, 3 e 4 foram
estatisticamente iguais e superiores ao
tratamento 1 (Tabela 2).
De acordo com estes resultados,
observa-se que a aplicação de Trichoderma
spp. em solo esterilizado (tratamento 3)
promoveu acúmulo de MS semelhante ao
tratamento 2 (Solo não esterilizado sem
inoculação
de
Trichoderma
spp.),
demonstrando desta forma a importância
deste fungo para o desenvolvimento do
girassol. Esses resultados estão de acordo
com Kleifeld e Chet (1992), ao afirmarem
5
que respostas à aplicação de Trichoderma
spp. podem ser caracterizadas por aumentos
significativos na área foliar e na MS das
plantas. Melo (1998) ressalta que a promoção
de crescimento de plantas por fungos pode
envolver produção de hormônios vegetais,
síntese de vitaminas, absorção e translocação
de minerais, e controle de patógenos.
Pode-se inferir com base no
tratamento 2 (Solo não esterilizado sem
inoculação de Trichoderma spp.), que a área
onde foi coletado o solo para o
desenvolvimento do experimento confere
grande diversidade e estabilidade da
microbiota edáfica, já que esse tratamento
confere os maiores valores de MF e MS
mesmo na ausência de aplicação de
Trichoderma spp. Entretanto, quando este
solo passa por esterilização (tratamento 1), o
mesmo perde sua capacidade de estimular o
crescimento vegetativo. A superioridade do
tratamento 2 em relação ao tratamento 1,
pode ser explicada pela ação dos
microrganismos do solo que são os principais
agentes da ciclagem de nutrientes, e através
de associações simbióticas que promovem
maior eficiência na aquisição de água e
nutrientes às plantas.
A promoção de crescimento radicular
da cultura do girassol apresentou diferenças
significativas (p < 0,05) entre os tratamentos
em ambas as épocas de avaliação (Tabela 3).
Tabela 3 - Produção de massa fresca (MF) e seca (MS) de raízes (g/planta) da cultura do
girassol dos 15 aos 60 DAE
MF
MS
MF
MS
MF
MS
MF
MS
Tratamentos ----(15 DAE)-----
-----(30 DAE)-----
-----(45 DAE)-----
-----(60 DAE)----
1
1,35 c*
0,41 b
11,31 b
5,82 b
19,06 b
9,09 b
20,88 b
13,02 b
2
3,68 a
1,44 a
14,68 b
7,10 b
19,14 b
9,47 b
21,00 b
13,22 b
3
2,29 bc
0,84 ab
27,77 a
11,97 a
25,02 a
14,55 a
24,02 a
16,78 a
4
2,98 ab
1,13 a
19,18 b
10,56 a
24,50 a
14,05 a
23,88 a
16,92 a
C.V (%)
17,40
10,01
19,76
9,47
10,48
9,32
11,15
10,02
* Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
Aos 15 DAE, as maiores produções de 4, e os menores valores no tratamento 1
MS de raiz foram obtidas nos tratamentos 2 e (Tabela 3). Observa-se, a partir dos 30 DAE,
Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 02, p.01 – 08, mai/ago. 2012
R. F. Guareschi et al.
o destaque do tratamento 3 na produção de
MF e MS de raiz de girassol (híbrido Guará),
promovendo um crescimento radicular
semelhante ao tratamento 4, demonstrando a
capacidade de promoção radicular pelo
Trichoderma spp. Outros trabalhos também
mostram a capacidade de Trichoderma spp.
em promover o crescimento de raízes em
diferentes culturas (KLEIFELD & CHET,
1992; HARMAN, 2000).
Os tratamentos 3 e 4 (com aplicação
de Trichoderma spp.) apresentaram, em
média, valores de 22,40% e 23,04%
superiores na MS de raízes, respectivamente,
quando comparados ao tratamento 1, na
avaliação
realizada
aos
60
DAE.
Comportamento similar foi obtido por
Resende et al. (2005), ao constatarem que o
emprego de um isolado de Trichoderma
harzianum em plantas de milho conferiu
maior acúmulo de MS radicular.
A capacidade de promoção de
crescimento radicular do Trichoderma spp. à
cultura do girassol obtida nesse trabalho,
pode proporcionar vantagens, pois esta
6
oleaginosa apresenta ampla adaptação a
diversos
ambientes,
podendo
tolerar
temperaturas baixas e períodos de estresse
hídrico, em função principalmente do seu
sistema radicular profundo e altamente
ramificado (EMBRAPA SOJA, 2005). Desta
forma, o aumento do volume de raízes
proporcionado pelo Trichoderma spp, tornase uma grande vantagem para resistir a um
possível estresse hídrico, já que na região de
cerrado, onde o girassol é cultivado em
safrinha, é grande a probabilidade de ser
submetido a estresse hídrico, e a
possibilidade da cultura apresentar maior
volume de raízes, faz com que o estresse seja
atenuado.
b) Cultura da soja (variedade M-SOY
8008)
A aplicação de Trichoderma spp. na
cultura da soja, conferiu respostas
significativas na 4 épocas de avaliações para
a produção de MF e MS (Tabela 4).
Tabela 4 - Produção de massa fresca (MF) e seca (MS) de parte aérea (g/planta) da cultura da
soja dos 15 aos 60 DAE
MF
MS
MF
MS
MF
MS
MF
MS
Tratamentos ----(15 DAE)----
-----(30 DAE)-----
-----(45 DAE)-----
-----(60 DAE)----
1
7,45 b*
0,91 c
24,64 b
4,04 b
52,33 b
10,87 b
68,45 b
29,32 b
2
8,13 b
1,83 b
36,18 ab
7,00 a
68,47 ab
13,31 ab
92,06 a
42,87 a
3
8,57 b
1,83 b
34,32 ab
6,49 a
69,55 a
15,29 a
100,25 a
45,98 a
4
11,35 a
2,03 a
43,93 a
6,80 a
73,32 a
13,97 ab
99,78 a
46,28 a
C.V (%)
13,44
3,95
15,82
10,87
11,74
12,32
10,43
8,32
* Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
O tratamento 3 (solo esterilizado com
inoculação de Trichoderma spp.) conferiu,
em
todas
as
avaliações,
valores
significativamente similares ao tratamento 2
(solo não esterilizado sem inoculação de
Trichoderma spp.) (Tabela 4). Segundo
Altomare et al. (1999), as espécies de
Trichoderma estão entre os microrganismos
mais comumente estudados como agentes de
biocontrole que apresentam, também,
atividade de promoção de crescimento.
Quanto ao crescimento radicular da
soja (Tabela 5), nota-se que nas primeiras
avaliações (15 e 30 DAE), o tratamento 3
(solo esterilizado com inoculação de
Trichoderma spp.) não diferiu do tratamento
2 (solo não esterilizado sem inoculação de
Trichoderma spp.). Já nas demais épocas (45
e 60 DAE), foi constatado que o tratamento 3
Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 02, p.01 – 08, mai/ago. 2012
Emprego de Trichoderma spp...
proporcionou aumento de 23,70% e 44,90%
na MS de raízes, quando comparado ao
tratamento 1 (solo esterilizado sem
inoculação
de
Trichoderma
spp.),
respectivamente. Esses resultados são
semelhantes aos obtidos por Harman (2000)
7
que encontrou maior crescimento de raízes de
soja tratadas com Trichoderma spp. Da
mesma forma, Fortes et al. (2007) observou
aumento da porcentagem de enraizamento
das microestacas de eucalyptus sp. quando
submetidas a aplicação de Trichoderma spp.
Tabela 5 - Produção de massa fresca (MF) e seca (MS) de raízes (g/planta) da cultura da soja
dos 15 aos 60 DAE
MF
MS
MF
MS
MF
MS
MF
MS
Tratamentos ----(15 DAE)----1
2
3
4
C.V (%)
8,36 b*
2,63 c
9,27 b
4,77 ab
9,35 b
4,29 b
10,85 a
5,43 a
6,90
7,76
-----(30 DAE)-----
-----(45 DAE)-----
-----(60 DAE)----
26,35 b
13,28 b
44,99 c
18,89 c
62,15 c
31,48 c
35,66 a
20,56 a
64,80 b
32,15 b
85,42 b
43,59 b
36,26 a
19,09 a
84,13 a
44,48 a
100,03 a
57,13 a
36,51 a
20,96 a
87,75 a
46,43 a
105,23 a
58,54 a
7,52
9,06
3,83
3,89
8,09
9,59
* Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
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