Vygotsky e a ZDP
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Vygotsky e a ZDP
de aprendizagem NÚMERO 28 Vygotsky e a ZDP Sérgio Wagner de Oliveira 2014 LEV SEMYONOVITCH VYGOTSKY Nasceu na Bielo Rússia, Orsha, em 05/11/1896 e morreu em 11/06/1934, aos 37 anos. Formado em Direito, após um mês de Faculdade de Medicina e especializou-se em Literatura. Voltou-se para a medicina depois de psicólogo consagrado, buscando aprender bases neurofisológicas para estudos que desenvolvia sobre a mente humana. Foi professor, trabalhou no Instituto de Psicologia de Moscou, no Instituto de Estudos de Deficiências, por ele criado e, a convite, foi diretor do Departamento de Psicologia no Instituto Soviético de Medicina Experimental. Seus legados teóricos receberam de alguns autores o título de Metateoria, por se tratar de constructos teóricos incompletos e inacabados. Seus seguidores serviram-se de suas ideias para difundir conceitos que passam a ser conhecidos pelo mundo a partir de 1962. De qualquer forma sua contribuição é importante para a Psicologia, principalmente educacional. ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL - ZDP Uma das grandes contribuições da teoria iniciada por Vygotsky é a da ZDP, Zona de Desenvolvimento Proximal, que parece confundir muitos profissionais que ouvem falar “de passagem” sobre o legado Vygotskyano. A ZDP, na realidade, é definida como [...] a distância entre o nível de resolução de um problema/tarefa que uma pessoa pode alcançar atuando independentemente e o nível que pode alcançar com ajuda de outra pessoa (pai, professor ou colega) mais competente naquele assunto e, também, por consequência, mais experiente (ANTUNES, 2011). Em outras palavras, zona de desenvolvimento proximal é o espaço no qual, graças à interação e à ajuda de outros, uma determinada pessoa pode realizar uma tarefa de uma maneira e em um nível que não seria capaz de alcançar sozinho. Trata-se de um espaço cognoscitivo, não de um espaço físico. Não se trata de uma propriedade deste ou daquele aluno ou professor, mas um espaço teórico gerado na própria interação entre educador e educando em função de esquemas de conhecimento sobre a tarefa a ser realizada, pertencentes a este último, e os saberes, recursos e suportes utilizados pelo educador. Segundo Vygotsky, o que se realiza em uma ZDP com auxílio pela interação entre os sujeitos da ação, da atividade, no futuro se realizará com autonomia, sem, portanto, necessidade de assistência. São de Vygotsky as palavras [...] postulamos que o que cria a ZDP é um traço essencial da aprendizagem; quer dizer, a aprendizagem desperta uma série de processos evolutivos internos capazes de operar apenas quando a criança está em interação com as pessoas de seu meio e em cooperação com algum semelhante. Uma vez que estes processos tenham se internalizado, tornam-se parte das conquistas evolutivas independentes das crianças. [...] (VYGOTSKY, 1937, apud ANTUNES, op cit). Não existe, portanto, uma única ZDP para todos os alunos. Há diversas para cada aluno em cada área do conhecimento explorada pelo interventor (pai, professor, colega). Nem toda aula gera uma ZDP. O efeito gerado em um aluno em determinado assunto pode ser diferente dos demais. Suponha-se um aluno originário do meio rural. Para ele poderá não haver quem, de origem urbana, possa ‘trazer’ mais saberes sobre animais, culturas e outras particularidades inerentes aos locais de produtividade agropastoril. O PROFESSOR COMO CRIADOR DA ZDP É preciso estar atento para detalhes importantes ao se propor a criar zonas de desenvolvimento proximal com seu intuito natural de ‘melhorar’ a qualidade da aprendizagem sobre determinado assunto. Listam-se alguns I. II. III. IV. V. VI. VII. VIII. IX. X. Não há uma ZDP para toda uma classe, igual para todos os aprendizes. Sendo a aula uma atividade coletiva, prefira criar ZDP mais generalizadas, amplas e expressivas. Ajudará aos que trazem menos saberes e alcançará aqueles que apresentam restrita ou nenhuma ZDP. Não acredite que a ZDP de cada aluno será a mesma para todos os assuntos componentes do projeto educacional. Acredite menos ainda que a ZDP estabelecida para os assuntos que serão tratados na escola irão manter estabilidade por todo o ano ou semestre. Tudo dependerá, como dissemos, dos saberes que cada aprendiz tem e das intervenções feitas pelo professor para mobilização desses saberes. Construa ou busque construir um ambiente de afetividade com o aluno, progressivamente, fazendo com que ele identifique no professor um ajudante na construção de conhecimentos, disposto a fazê-lo caminhar com segurança e passe a confiar em você. Defina com clareza e reitere, sempre, as metas do trabalho a ser desenvolvido e os objetivos nos quais estão respaldadas a significação da aprendizagem. Não haverá qualquer sentido em uma intervenção na ZDP se o professor (pai ou colega) não oferecerem progressivamente um feedback sobre a evolução do aprendiz. É importante diversificar atividades de intervenção em zonas de desenvolvimento proximal. A constância de argumentos não ajuda em nada. Lembre-se que a intervenção constante é indispensável para a correção de rumos. Não existe programa ou equipamento autossuficientes. Corrija em todos os momentos necessários: aqueles em que o não correto aparece. Todo professor que intervém na ZDP de seu aluno sabe que toda aprendizagem promove o desenvolvimento cognitivo na medida em que promove a atividade mental construtiva, tornando o aluno capaz de elaborar significados aos seus aprendizados. Cuide de sua fala na sala de aula. Ela deve ser diferente da utilizada com seus colegas. A ZDP se mostra mais eficiente quando se descobrem meios de ajudar os alunos a recontextualizar e reconceituar o que foi aprendido, reorganizando suas experiências e seus conhecimentos em termos de novos significados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES. C. Vygotsky, quem diria?! Em minha sala de aula. Fascículo 12. 8ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. Pensamento y languaje. Obras escojidas. Vol. II, Madrid: Editorial Visor. WACHOWICZ. Lílian Ana. Pedagogia mediadora. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
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