como 0 primeiro mundo vê 0 país
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como 0 primeiro mundo vê 0 país
COMO 0 PRIMEIRO MUNDO VÊ 0 PAÍ S Entrevista : CHICO CARUSO YES , SO NO S RESTARA M AS BANANAS O paraíso tropical, de economi a promissora, não passa de lembrança distante na avaliaçã o da Imprensa internaciona l m cinco séculos de História, o Brasil já foi um pouco de tudo : a terra onde em se plantando tudo dava, o berço de um Império generoso, a pátria de um povo ordeiro e cordial, uma ilha de paz e prosperidade, urna nação em desenvolvimento acelerado que se prepara va para ser uma potência . . . o país do futuro. No início dos anos 70, embalado por taxas de crescimento económico de 10% ao ano, o Brasil mereceu uma atenção especial da Imprensa estrangeira - que, ao mesm o tempo, saudava a. pujança da economia e denunciava os abusos da ditatura militar. Mesmo sob o autoritarismo, o país ainda man tinha um certo charme e suscitava inevitávei s elogios : nosso futebol era o melhor do mundo ; nossa música, a mais envolvente ; nossas mulheres, as mais belas . A alegria do povo, as florestas, as belezas naturais - tudo era bonito e fagueiro, tal corno recitava a catilinária de Affonso Celso no livro Por que Me Ufano de Meu Pais, cuja análise risonha sobre nosso destino foi, por décadas, exaustivamente repetida nas escolas brasileiras . E Com o fim do regime militar, a nova Constituição e a restaura ção da democracia política, o gigante adormecido parecia despertar e, num salto rápido, abandonar o berço esplêndido ond e permanecera por tanto tempo . Era a hora de enfrentar os desafios da modernidade, eliminar a inflação com um só golpe, vence r a miséria e conseguir um lugar no clube restrito das nações do Primeiro Mundo . Tudo estaria perfeito, não fosse uma perguntinha incómoda : de que Brasil, afinal , estávamos tratando? Do país real, de larga extensão territorial e quase 150 milhões d e habitantes, ou do "Brasil dos 30%", que abriga um mercado ativo de 45 milhões de consumidores, mas ainda não conseguiu erradicar as manchas da miséria absoluta ? Por mais que as técnicas de propaganda e marketing dos sucessivos governos tenham se esforçado para fazer do Brasil "do s 30%" a face mais visível do pais, é sobre os outros 70% que s e debruçam os observadores estrangeiros . E também sobre os descaminhas de um governo ciclotí mico, que esquec e promessas e atropela as leis, que não pune corruptos e assiste, impassível, à desagregação do ensino e à falência dos sistemas de saúde pública. Por maiores que tenham sido os esforços, a imagem do Brasil no exterior nunca estev e tão deteriorada. Presta-se muito mais atenção às vilanias como as ocorridas em Matupá e aos cadáveres na Baixada Fluminense que à s eventuais realizações produzidas pela parte saudável, educada e bem-nutrida da Nação . A seguir, tuna amostra preocupante do que se pensa do Brasil lá fora. (L .E .) 29 FRANÇA Refúgio de bandidos por Reali Junior Nunca a imagem do Brasil esteve tão des gastada na França, nem mesmo n a fase mais negra do regime autoritário , quando um general da Junta Militar que substituiu o então presidente Costa e Silva, o hoje acadêmico Aurélio de Lira Tavares, era embaixador em Paris. Naquela época, a imagem política do Brasil era muito negativa: ausência de liberdade, torturas, prisões, censura etc. . . Mas existia uma imagem econômica ainda forte , "a fase do milagre", só desmascarada bem mais tarde. A força de um povo alegre, simpático, do país do carnaval e do futebol, resistia aos aspectos mais tristes da presença dos militares no poder . Hoje, todas elas se confundem. O futebol brasileiro agoniza, a violência tomou conta dos grandes centros urbanos e do campo e os escândalos financeiros envolvendo personalidades da República invadem as páginas dos jornais e as telas de televisão da França quando há espaço para o Brasil . Estes temas alimentam os noticiários sobr e o nosso país nesses últimos tempos, sem que os acomodados diplomatas do Itamaraty saiam em defesa do governo que representam . Trata-se de um costume que vem desde o regime autoritário, quando a orde m era silenciar diante de denúncias de prisões e torturas inexplicáveis. O tempo passou, a ditadura acabou, mas o hábito do silênci o diante da critica permanece, ao contrário de outras diplomacias de choque, cujos embai 30 xadores estão sempre na primeira linha para responder aos ataques contra seus respectivos governos . Em setembro, o principal canal privado da televisão francesa - o F 1, de audiência comparável à Rede Globo - exibiu uma comédia interpretada pelo ator canastrão franco-italiano Aldo Maccione, Si tu vas a Rio, na qual ele faz o papel de urn bispo que participa de uma feijoada na favela da Rocinha, temperada com muita cocaína. A partir daí, vocês podem imaginar como se desenvolve essa "obra cinematográfica", co-estrelada por Roberta Close . Na semana seguinte, a mesma emissora de TV preocu pou-se com um outro tema da moda no Brasil, o da violência : a chacina de Matupá . A seqüência dos seqüestradores queimados vivos pela população foi exibida com todo s os detalhes, inclusive a agonia de um do s bandidos solicitando que acabassem de ve z com sua vida . Amigo do rei - Os jornais franceses acompanham este clima de depressão gene ralizada. A única exceção parece ser o piloto Ayrton Senna . Si) quando se fala do campeão da Fórmula 1 o comentário é positivo, o que explica para alguns analistas europeus o fato de Senna ser, hoje, no Brasil, o ídolo que é. 0 austero Le Monde tem analisado com realismo a evolução d a situação político-económico-social no Brasil, através do seu novo correspondente, Denis Hautin Guiraut . O retrato não é muito animador : reformas da Constituição bloqueadas, greves que ameaçam se estender, inflação novamente próxima dos 20%, escândalos em série, tudo iss o paralisa o pais e mantém em ponto mort o as "cruzadas" do presidente Collor. Outro exemplo é o Liberation, o matuti no criado por Jean -Paul Sartre que tem aberto algum espaço para análises pareci das, desenvolvidas por Jean Jacques Sevilla, seu correspondente no Brasil . Desde a história de amor da ex-ministra da Econo- mia com o ex-ministro da Justiça ao som d e "Besarne Mucho", até a das desavenças matrimoniais do presidente da Repúblic a com a primeira-dama têm sido reveladas pela Imprensa francesa com uma pequen a dose de ironia e uma grande de ridículo . Isso sem falar dos comentários sobre as atividades da "República de Alagoas", en volvendo os negócios atribuídos a Paulo Cesar Farias, o "amigo do rei" que circul a em jatinhos alugadas pela Europa ; e a família Malta, apresentada como chefe do "cangaço de Canapi" . Fora da pauta - Em Paris, o antigo correspondente do New York Times no Brasil, Alain Riding, hoje ocupando esse mesmo posto na França, ainda acompanha de perto tudo o que se diz do nosso país por aqui : "Atualmente, a imagem do Brasil na França está no chão," diz Riding . A seu ver, normalmente os correspondentes num país refletem com seus artigos o ambiente nacio nal, não havendo como esconder, no momento, o pessimismo . Alain Riding lembra que nos últimos dois anos, a competiçã o pelo espaço é enorme e o Brasil não te m sido privilegiado. 0 interesse se deslocou para outras áreas - o Leste europeu, a URSS e a Iugoslávia - a ponto de o correspondente atual do New York Times n o Brasil ter sido enviado para Moscou, de onde pode colocar melhor seus artigos. 0 leitor pode até imaginar que se trat a de uma paranóia, mas é a pura realidade : o paraíso dos bandidos no cinema passou a ser o Brasil, em particular o Rio d e Janeiro . Em todo filme do tipo "série B", policial, após um bem-sucedido golpe, o bandido sonha sempre com uma fuga para o Brasil . Talvez o exemplo do inglês Ronald Biggs que participou do "assalto d o século" na Grã-Bretanha, tenha influenciado os roteiristas internacionais, convencidos de que o Brasil é o pais da impunidade . Tudo isso tem contribuído para reduzir a nossa credibilidade no exterior e o próprio interesse pelo pais . 0 desinteresse pelo Brasil é um fat o notório na França, refletindo inclusive n o próprio trabalho dos correspondente s brasileiros . Há quase 20 anos em Paris , hoje reconheço ser muito mais difícil obter uma entrevista com uma grande personalidade desse país, do que no inicio da década anterior . No momento, o Brasil saiu da pauta na França . EMPRFNSA - OUTUBRO 1991 PORTUGAL A razão embriagad a por Cristina Durán Para os jornalistas portugueses, fala r sobre o Brasil é qua se como um caso de amor por um a mulher distante . Que m nunca o tocou, o deseja . Quem já o fez, ficou irremediavelmente seduzido. Amarrados aos laços históricos e culturais que unem os dois povos, os portugueses gostam da maneira como os brasileiros levam a vida, se embriagam com a natureza do país, mas não escondem su a perplexidade diante da péssima distribuição de renda patrocinada pelos gestores da economia brasileira . Os portugueses têm muita dificuldade em interpretar o fato de o Brasil ainda não ser uma grande potência . E é exatamente neste ponto que abandona m o plano das emoções subjetivas para mergulhar na dureza da crua racionalidade . Ainda que produzida por jornalistas em geral apaixonados pelo país, é a opção pel o racional que norteia a Imprensa portugues a quando o assunto é Brasil . Raramente se 1 E ou se vê na televisão algo sobre o chamado "Brasil dos 30%" - aquela parcela do pai s desenvolvida, industrializada e bem-educada . Em compensação, sabe-se tudo sobre a inflação, a mendicância, o extermínio d e meninos de rua, seqüestros, aculturamento dos índios e devastação da Amazônia . E também sobre as excentricidades do presidente Collor . Os brasileiros. residentes em Portugal re clamam e consideram que os portuguese s têm prazer em mostrar o lado ruim do Brasil . Os jornalistas portugueses, porém, não concordam com a crítica . "A Imprensa portuguesa não é preconceituosa com o Brasil", garante Adelino Gomes, repórte r especial do Público - o jornal mais dinâmico e um dos mais lidos de Portugal . Licinio Martins, editor de Internacional d o Correio da Manhã - um jornal sensacionalista, mas campeão em tiragem em Portugal - também discorda : "Temos uma IMPRENSA - ()I1rl1RRO 1991 Carnaval , calor e futebol O embaixador /talo Zappa, de 65 anos, é considera do um dos melhores quadros co m que já póde contar, nos últimos anos, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Zappa forjou sua experiência internacional ocupando cargos delicados - como as embaixadas do Brasil em Moçambique, China e Cuba -, além de postos nas representações brasileiras e m Genebra, Washington, Buenos Aires, Montevidéu e Lima Seus 40 anos de ser viço diplomático o credenciaram a fazer , para IMPRENSA, uma avaliação sobre a imagem que se faz do Brasil lá fora . Foi sobre isso que halo Zappa conversou, no Rio, com Vania Mezzonato, da Agência Frilas A seguir, os principais trechos d a entrevista. Imprensa - Qual a imagem que o Brasil tem no exterior ? Ítalo Zappa - Prevalece o tamanho e a expressão do país, que está entre os cinco maiores do mundo. Mas para um embaixador é dificil captar o que realmente as pessoas pensam. Há reservas e depende muito do nível social do interlocutor. O futebol, o carnaval e o calor são muito associados a o Brasil, mas não são determinantes para o qu e pensam do pais A condição de país do Terceiro Mundo, em desenvolvimento, está muito presente nas elites Mas há os que pensam n o Brasil por seus recursos naturais, sua poten cialidade, e destacam ainda o milagre d a unidade nacional - para eles isso assegur a ao Brasil a condição de país do futuro. Imprensa - Que idéia de Brasi l têm os seus interlocutores do Primeiro Mundo ? Ítalo Zappa - Eles têm a idéia de u m país com imensos recursos, mas submers o numa grave crise económica. Em Genebra, onde tive funções de informar empresários e industriais sobre o Brasil que eles iriam conhecer, eu receava que ficasse m chocados com a falta de horário, de conforto, de limpeza etc. Mas minha grande surpresa foi constatar que voltavam, sem pre, muito entusiasmados com o Brasil. Comecei a compreender que nós não valorizamos a pujança e a beleza do país tropical que somos. Imprensa - O senhor também serviu em países africanos . Qual a impressão qu e lá se recolhe do Brasil ? Ítalo Zappa - Os países africanos vêem o Brasil com muito orgulho . Como nos encontramos em um nível superior e somos mais industrializados, aos olho s dos africanos representamos o futuro . Imprensa - E na China ? Ítalo Zappa - A China nos observa com o máximo de atenção porque podemos representar experiências úteis. Hoje eles ensaiam a criação de zonas de livr e comércio, com práticas capitalistas . Já superaram o estágio do dogmatismo e são pragmáticos. O slogan atual é "um pals, dois sistemas". Imprensa - Quais são os aspectos considerados os mais positivos e os mais negativos no exterior ? Ítalo Zappa - A criminalidade e a questão indígena preocupam muito algun s setores do Primeiro Mundo. Eu entendo isso como uma forma de mostrar atenção com o Brasil, que ainda conserva remanescentes da cultura indígena É um cuidado com o património que ainda temos. relação de irmãos e nos preocupamos co m tudo o que acontece por lá . Infelizmente, o Brasil passa por uma situação difícil e nó s temos que falar sobre ela . " Adelino Gomes foi enviado ao Brasi l para fazer uma reportagem sobre os 100 dias de governo do presidente Fernando Collor . Durante a viagem, presenciou um pouco de tudo, de manifestações de funcionários públicos em Brasilia a greves em São Paulo. "0 brasileiro é expressivo, autocritico, tem orgulho de ser brasileiro . Renasce a cada dia e isso me enternece", diz. Essa ternura deixa transparecer um lado violent o quando o jornalista se dá conta da vertiginosa queda de credibilidade do governo Collor. "O Brasil precisa de uma chicotad a psicológica . Nos últimos meses tenho percebido que há algo de incontrolável por lá", diz Gomes. Fase dificil - O jornalista Manuel Gama, de O Diabo - um jornal semanal reacionário, também bastante lido aqui - , tem uma maneira peculiar de retratar esse s problemas. Todas as semanas ele escreve uma página sobre o Brasil . Seus textos se assemelham a romances policiais de segunda categoria e reforçam a visão estereotipada de uma "república das bananas" - ou de Alagoas, agora. Esse procedimento não costuma pautar o trabalho de Jorge de Almeida Femandes, editor de Internaciona l do Público . Ele diz que seu jornal trata o Brasil "como qualquer outro país" . Infelizmente, para Fernandes, o mundo está em crise . "Por isso, a América do Sul e o Brasi l ficam apagados do noticiário em função d o que acontece no Oriente Médio e na Europ a do Leste", diz. "O Brasil está a passar ao lado do futuro", acredita o repórter-fotográfico Guilherme Verãncio, da agência noticiosa Lusa . "É um gigante adormecido. Já houv e e há politicos sérios, mas ainda não lhes foi dada nenhuma oportunidade", concord a Eugênio Alves, presidente do Clube dos Jornalistas Portugueses . Numa de suas viagens ao Brasil, Alves ficou horrorizado quando viu famílias inteiras dormindo na s ruas de Copacabana . Celestino Amaral, repórter do Expresso , nunca foi ao Brasil mas sonha em fazer essa viagem. "Há a afinidade da língua e a mescla de raças me fascina . As mulatas esculturais seduzem qualquer homem normal", imagina . Ele não se deixa influenciar pela idéia generalizada de que quem for a o Rio só sairá morto . "A violência faz parte do cotidiano de qualquer grande cidade" , concede . As opiniões sobre o Brasil produzida s por jornalistas ouvidos por IMPRENSA em Portugal tendem a um mesmo ponto de convergência, que pode ser resumido nu m comentário do repórter Adelino Gomes : "Não posso acreditar que um pais que no s últimos dois séculos mostrou tanta van guarda cultural - na música e na literatura , por exemplo - esteja vivendo uma fase tão difícil quanto a atual . " ITÁLIA Tão rico , tão infeli z por Araujo Neto e Lisa Maria Silva Nos anos 70 e 80 fa lava-se muito e ma l do Brasil . Na Itália e em toda a Europ a nossa imagem era a de um país continente dominado por uma ditadura de extrema direita, tão cruel quanto feroz, exercida por militares e tecnocrata s cínicos, corruptos . Éramos progressistas pelo futebol-arte que sabíamos jogar e pel a excelente música popular criada por artistas e poetas admiráveis. Atualmente fala-se cada dia menos, mas sempre mal do Brasi l na Itália e na Europa . A imagem que dele se afirma é a de um imenso, degradado e grotesco país de Terceiro Mundo . Da igrej a progressista ninguém fala mais . E a admiração por nossos craques de futebol, pelos poetas, compositores e músicos da MPB fo i substituída pela escandalosa popularidad e dos travestis - "i viados brasiliani", como os italianos aprenderam a chamá-los . Hoje, sabe-se que os militares voltaram aos quartéis e que no Brasil vive-se perigo samente uma experiência democrática . Com governantes que se desmoralizam e exaurem a cada fracasso dos reiterados pla nos de combate à inflação, impotentes dian te do incontrolável extermínio dos meninos de rua . E com um presidente mais imatur o do que jovem - apresentado pela mídia da Itália como um Rambo provinciano, produ to de uma custosa e bem-sucedida operação de marketing . Difícil, senão impossível, é responder a uma pergunta que na Itália e Europa sempre é feita pela gente mais simples de grande s e pequenas cidades: "Por que um país tã o rico e tão grande conseguiu ser tão infeliz?" Vai-e-vem - As principais informações sobre Brasil que a Imprensa italiana oferece aos seus leitores referem-se à destruição progressiva da Amazónia, ao tráfico de bebês para o exterior, criminalidade urbana e a incerteza sobre o futuro de um a economia que evolui a ritmo espasmódico . "Mas existe uma enorme escassez de informações sobre como realmente vivem seus cidadãos, o que acontece nas favelas ou sobre a situação das milhões de crianças abandonadas", diz Ettore Vittorini, de 50 anos, chefe da editoria de Internacional d o Corriere della Sera . Carlo Rebecchi, editor de Internacional da agência italiana de notícias Ansa , já fez quatro viagens ao Brasil e prepara mais uma para o próximo ano . Quando esteve pela primeira vez em São Paulo, em 1982, ficou impressionado . "Aquel a tensão e o vai-e-vem das pessoas no centro, o smog e o tráfego congestionado, me davam a impressão de estar em urn país totalmente industrializado", lembra Rebec chi . Mas a partir da segunda viagem passo u a ter a "nítida impressão" de que o Brasil e os brasileiros "vivem como se estivesse m em uma encruzilhada" . Para Guido Olimpo, repórter especial do Corriere delta Sera, a Imprensa italiana muitas vezes peca por reduzir o perfil do país unicamente aos aspectos da criminalidade urbana, propagação da Aids e devastação da floresta amazônica, sem oferecer ao leitor informações mais detalhadas sobre o cotidiano e a economia do Brasil . "Esses elementos nutrem os estereótipos e constituem um espetáculo, no sentido negativo d o termo", critica Olimpo . O editor de Interna cional da revista semanal Panorama, Giorgio Oldrini, acrescenta uma dúvida : "Nã o compreendo como um país potencialmente rico ainda permaneça em condições de precariedade desenfreada no que se refere ao nível de vida da população " GRÃ-BRETANH A Solução monárquic a por Oscar Pilagallo e Beatriz Aless i "O Brasil não é um país sério." A famos a frase atribuída a o ex-presidente frances Charles De Gaulle - e repetida à exaustão - foi tirada mais uma vez do baú . Desta vez por Christina Lamb, correspondente do Financia l Times no Rio de Janeiro . Foi com essa citação que ela abriu um longo artigo par a seu jornal sobre as confusões que cercaram a frustrada tentativa de privatização da Usiminas, no final de setembro . Esta falta de seriedade parece ser, ainda, a imagem mais forte que o Brasil projeta no exterior - pelo menos para o leitor britânico medianamente informado sobre assuntos d o além-mar. "Foi um maneirismo estilístico de Christina para interessar o leitor, já que a maioria não tem um conhecimento profundo sobre o Brasil", diz William Keeling, de 27 anos, responsável pela editoria de América s do Financial Times, a publicação britânica que mais cobre o Brasil . Mesmo na chamada "Imprensa de qualidade", a recorrência a clichés reducionistas para explicar a realidade brasileira, como a frase de De Gaulle, ainda é bastante generalizada . Retrato chamuscado por Bussunda Na primeira semana de setembro, o programa Doris para Maiores, d a TV Globo, resolveu fazer uma re portagem em Nova York Eu, por sorte, fui escalado como uni dos repórteres a participar de mais essa "bocada " paga pelo sr. Roberto Marinho. O espírito da reportagem era exatamente esse : dois brasileiros típicos que ganham uma passage m e vão para a América trajando seus uni formes da seleção brasileira de futebol e dispostos a mostrar porque o brasileiro é mais "esperto" do que os gringos. Em três momentos a matéria se referia ao conhecimento que os americanos tê m sobre o Brasil. A primeira pergunta de rua era um teste para saber se o prestígio do Rei do Futebol continuava em alta. E a conclusão é que, mesmo nas novas geraO editor de America Latina da revista The Economist, Nick Harman, 58 anos e há 35 trabalhando na revista, concorda com Keeling : "E muito difícil para um observa dor estrangeiro acompanhar a vida política brasileira", diz. Ele acredita que sua revist a dá ao Brasil menos espaço do que o paí s merece, embora admita que The Economist leve o Brasil "muito a sério" . "Primeiro porque é a décima maior economia do mun do, depois porque se trata da terceira democracia e também por causa da questã o ambientalista", acrescenta. ções Pelf ainda é um ponto de referência quando se fala de Brasil. Das 25 pessoas entrevistadas, apenas uma declarou nunca ter ouvido falar do Negeo. As outras duas perguntas eram semelhantes Primeiro abordávamos o cidadão perguntando o que ele sabia sobre o Brasil e, logo em seguida, pedíamos para que ele assinalaste num mapa-múndi o local onde imaginava que ficasse o pais. O resultado fo i supreendente. Por se tratar de uma reportagem do chamado "humorismo verdade ", s6 foram para o aras respostas mais estapafrirdias, gente que apontava a África, a Austrália e atéa União Soviética... Mas a realirinfle é que a grande maioria das pessoas soube identificar exatamente onde fica nosso país E o mais impressionante : 100% dos entrevistados responderam que seu conhecimento sobre o Brasil se restringia d Floresta Amazónica, "um lugar onde se queimam árvores . ou coisa do género. Fiquei com a impressão de que o pais é hoje bastante conhecido. Mas nada abala a minha firme convicção de que, por pio r que seja a nossa imagem lá fora, dificilmente ela será pior do que aqui dentro. &ainda é editor da Camera morar e colunista esportivo de O Dia. Relatório especial - O tratamento dispensado às questões relativas ao meio ambiente brasileiro é o assunto que mai s interessa ao leitor britânico não-especializa do. Na televisão britânica, por exemplo, o Brasil só é visto por esse ângulo . Para o telespectador britânico que não 16 jornais de qualidade (a grande maioria), a imagem do Brasil é a de uma selva imensa, pegando fogo e provocando urna cortina de fumaça que contribui para a aceleração do efeito estufa . Nos jornais, o assunto é tratado com mai s rigor . 0 desmatamento é um dos pratos preferidos do The Guardian, que conta com a correspondente Jan Rocha cobrindo a Amazônia, ainda que quase sempre a partir de sua base em São Paulo. Mas as transformações ocorridas no Leste europeu fizeram com que o Brasil perdesse espaço na cobertura internacional . "Com tantas coisas -acontecendo em outros lugares, nós publicamos muito pouco sobre o Brasil", admite Jeanette Davis, de 31 anos, secretária da editoria de Internacional do The Guardian . Correspondentes estrangeiros, é óbvio , publicam o que interessa ao seu leitor, e não necessariamente o que interessa ao país objeto de sua cobertura . O desmatamento , portanto, só interessa porque ameaça a vid a dos leitores daqui, ou a de seus descendentes . No caso dos jornais britânicos, o mesmo acontece com a monarquia, pel o fato de ser este o regime de governo na Grã-Bretanha . O conservador Sunday Telegraph, por exemplo, dedicou recentemente um espaço nobre do jornal à discussão do retomo à monarquia no Brasil - possibilidade prevista na Constituição e que irá a plebiscito em 7 de setembro de 1993 . O artigo do Sunday Telegraph, assinado por Adam Zamoyski, é francamente monarquista. Ele argumenta que a monarquia, no Brasil, "daria nova vida às tradições liberais, reduziria a ameaça de intervenção militar e devolveria dignidade ao país e às suas instituições" . Aos dados e argumentos bem alinhados, ele adiciona uma retórica de palanque e chega a comparar o presidente Fernando Collor de Mello a um persona gem saído da série americana de TV Dinas' tia. É verdade que não é preciso ser monarquista roxo para criticar o presidente brasileiro. "Collor é visto como uma pessoa de iniciativas dramáticas cujas conseqüências ainda não estão claras . Eu tinha grandes esperanças nele, mas estou desapontado" , confessa Nick Harman. "País do futuro" é outra imagem recorrente das editores britânicos ao se referirem ao Brasil. "As primeiras coisas que vêm à cabeça 36 quando se pensa em Brasil são exotismo, carnaval, Rio, praias e catolicismo", di z William Keeling. E acrescenta: 'O Brasil também é visto como urn país de tecnologia relativamente avançada, mas que tem dificuldade de se manter atualizado ness a ares " As imagens e os mitos brasileiros na Imprensa britânica ganharão em breve uma nova perspectiva. A promessa é da revista The Economist, que planeja para o começo de 1992 um relatório especial de doze páginas sobre o Brasil, nos moldes do que foi publicado cinco anos atrás e que serviu de texto-base para jornalistas britânicos durante um bom tempo. O trabalho, segundo informou Nick Harman, ficará a cargo de Jim Rower, correspondente da revista na China . Harman explica a lógica da escolha: "Reportagens especiais como essas ficam muito mais interessantes quando feitas por um leigo com interesse no assunto." E Rower, diz Harman, adora o Brasil . JAPÃO Inflação e desastres por Helder Guimarães Com circulaçã o combinada de 21 mi lhões de exempla res, os três grandes diários japoneses - Yomiuri Shimbum , Asahi Shimbum e Nihon Keizai - dão pouco destaque às notícias referentes à política brasileira. 0 lugar onde é mais fácil encontrar matérias sobre o Brasil é nas páginas de Economia desses jornais - embora, mais recentemente, os pauteiros japoneses venham dando alguma ênfase às informações sobre a ecologia e preservação da Amazônia . Ao mesmo tempo, o trabalho dos dekassegui é freqüentemente abordado pela Imprensa japonesa - tratado aqui mais como tema doméstico que matéria internacional . A palavra dekassegui (que etimologicamente quer dizer "sair para trabalhar") serve para qualificar os cerca de 150 mi l brasileiros de origem nipônica que trabalham no Japão. Matérias sobre a maciç a presença desses brasileiros não são rara s nas páginas de Economia e Nacional . Kenji Kitayama, do liberal Asahi Shim bum (8,3 milhões de exemplares diários) , trabalhou como correspondente em São Paulo entre 1980 e 1984 e pertence à editoria de América Latina do jornal . Segund o ele, nos últimos dois anoso noticiário sobr e o Brasil tem perdido espaço para os grande s acontecimentos mundiais, como a situaçã o na União Soviética e as mudanças no Lest e europeu . "Transformações históricas como essas são grandes notícias", justifica Kitayama, acrescentando que "até por questão de espaço" é difícil divulgar informações sobre o Brasil. Importância crescente - Uma estranha "teoria das catástrofes" justifica, par a Ryuji Nakazono, do Yomiuri Shimbum (9,7 milhões de exemplares por dia), as pouca s informações sobre o Brasil . "Somente por ocasião de grandes acidentes há mais divul gação do país", ressalta . Já Masatoshi Hara , da editoria internacional da influente red e estatal de televisão NHK, aponta o mei o ambiente e a economia como as áreas onde se pode obter mais informações sobre o Brasil na Imprensa japonesa . "0 espaço para a política brasileira foi reduzido desde o fim do governo militar", di z Hara, que entre 1982 e 1985 foi correspondente da NHK no Rio . "A economi a brasileira só é notícia no Japão quando h á relação direta com os interesses japoneses " , comenta . As altas taxas de inflação no Brasil, porém, eliminam qualquer distância entre a s idéias de pauta e as matérias publicadas . E o público japonês é razoavelmente bem-in formado sobre elas . "Embora o leitor comum não conheça a realidade brasileira, sabe que existe um sofrimento grande na população com a persistência da inflação", acredita Masatoshi Hara. Em reforço a ess a idéia, Yoshihiro Hirata, do diário econômico ILdDQ PVC ♦- nl m MOO 1001 Keizai Shimbum, vê na inflação brasileira uma das fontes mais ricas do noticiári o sobre o Brasil . "Como de costume, ela continua", sintetiza. O diário Nikkei (três milhões de exemplares) é o veículo que mais espaço destin a ao noticiário brasileiro . O jornal não evita retratar os descaminhos por que passa a economia brasileira, como numa recent e série de matérias sob o título "O mistério da fuga de capitais" . A reportagem do Nikkei revelou detalhes da evasão de divisas brasileiras - o que, segundo Hirata, contribui para outro tipo de fuga : o fechamento das multinacionais instaladas no Brasil . Segundo Kazuo Ince, 35 anos e 18 de profissão, atualmente trabalhando na redação brasileira da revista Elk, "os japoneses acham que o Brasil é uma Amazônia cheia de inflação " . Ince viveu no Japão, entre 1990 e 1991 , e lá recolheu a impressão que, do ponto d e vista dos negócios, os empresários japoneses vêem com muita desconfiança o Brasil . "Mas todos têm muita curiosidade pelas coisas da Natureza brasileira, embora o noticiário que chegue até eles retrate um verdadeiro brej o económico", diz Ince . A questão ecológica tem crescido de importância na Imprensa japonesa, com destaque para a cobertura do Yomiuri Shimbum . Um grande número de jornalistas nipónicos deverá ser enviado ao Brasil para a cobertura da Eco-92, a ser realizada n o ano que vem, no Rio . Nihon ESTADOS UNI DOS Um país sem destino por Hermano Henning Michael Finnigan, o Mike, tem 33 anos . Nasceu e cresceu no Takoma Park região noroeste d e Washington, a capita l dos Estados Unidos . Só uma vez ele saiu do país quando, aos 1 1 anos, seus pais o levaram para conhecer a terra dos avós, a Irlanda. Agora Michae l não pensa noutra coisa : quer conhecer o Brasil, onde acha que estão as mulheres IMPRENSA - OUTUBRO 1991 mais bonitas do mundo. - How do they say it? . . . Fio dental? . .. Mike não fala português, mas pronunci a "fio dental" com todas as letras, sem sota que. . . Ele é o meu cinegrafista, há um ano, e tem uma imagem do Brasil que já completou mais de 50 : a do país do carnaval. Mike quer ver o carnaval do Rio. Ele acredita que o Brasil é um país feliz, onde os negros casam com mulheres brancas . E as brancas namoram negros. Em Nova York, Boston ou Miami o ame ricano médio pensa diferente. Os brasileiros ali disputam subempregos co m mexicanos e salvadorenhos e se encarrega ram de desfazer a imagem do país de Carmem Miranda - que, por incrivel qu e pareça, ainda permanece viva em algun s pontos dos Estados Unidos. Em Washington já se encontra com freqüência brasileiras se oferecendo como diaristas e m trabalhos domésticos e fritando hambúrguer no McDonald's . É uma situação diversa da que se encontra em Roma ou Paris : não há travestis nas ruas nem brasileiras se oferecendo nas esquinas . Nos bares e restaurantes de Georgetown, o bairro boêmi o da capital americana, o Brasil é sempre lembrado como um país onde se faz boa música. Um garçom do Blues Alley, templ o do jazz de Washington, acha que brasileir o já nasce com música dentro da alma . Baixinho e careca - Roberto Garcia , ex-correspondente da Manchete, Veja , Jornal do Brasil e IstoÉ/Senhor, e agora no SBT, já está aqui há 30 anos . No iníci o dos anos 60, quando chegou, a imagem do garçom de Washington era generaliza da . Era tempo da bossa nova . De futebol , ninguém falava, mas a tenista Maria Este r Bueno eles conheciam . O Brasil era o país das férias, do mar azul, de Copacabana , das mulheres bonitas . Era também o país do futuro. "Depois do golpe de 64", diz Garcia, "esta imagem ainda resistiu . Não havia tanta prevenção contra os militares quant o hoje . Mesmo as pessoas bem informadas, achavam que o Brasil era um país que havi a se salvado dos comunistas ." Hoje, o México e os chamados "tigre s asiáticos" - Taiwan, Coréia e Singapura - tomaram o lugar do Brasil . "A impressão que a gente tem é que o Brasil perdeu uma grande chance de se modernizar. É um país que ficou para trás", analisa George Tamerlain, editor-chefe da Visnews em Washing ton . Tamerlain nunca foi ao Brasil . Em compensação já esteve dezenas de vezes na Asia e Oriente Médio . Ele lembra do presi dente Bush falando de Collor : "He's my kind of guy . . ." (é do tipo que eu gosto...). E acha que, no início do governo, a impressã o do presidente aqui era ótima . A imagem de Indiana Jones (dada pelo próprio Bush) acabou se desgastando mesmo entre os burocratas da Casa Branca e do Departament o de Estado . Hoje eles dedicam maior atenção ao México e a seu presidente baixinho , careca e de bigode cafona . Com z - Para os americanos, o Brasil é uma nação que até hoje não conseguiu botar um político corrupto na cadeia . Um lugar onde a polícia tortura presos com incrível naturalidade . Onde o negro é discriminado . Onde os índios são massacrados e onde marido pode assassinar à mulher em "legítim a defesa da honra", segundo os funcioná rios da Human Rights Watch, organização de defesa dos direitos humanos, com sede em Nova York . País do carnaval e das mulheres gostosas para o americano que lê pouco jorna l e vive longe das concentrações de imigrantes brasileiros . E um país não muit o diferente da Bolívia, El Salvador e Cost a Rica, para a classe média de Nova York , Boston e Miami . Este é o Brazil . Brasil com z. ART PRESSE t♦ Comunicação Dirigida t• ARGENTINA Faroeste inflacionário por Paulo Toai lied-ir Desenvolve e opera projetos de comunicação dirigid a para políticas e estratégias d e marketing, utilizando-se dos seguintes instrumentos : •Assessoria de Imprensa •Organização de eventos esportivos e culturais • Ações promocionai s Associada à ANECI - Associação Nacional das Empresas de Comunicação Social, ABERJE Associação Brasileira de Comunicação Empresarial e sócia-fundadora do SINCO - Sindicat o Nacional das Empresas de Comunicação Social . ART PRESSE Al _lad 1506. 1 .' e 2 .' andares - Tels. : 1011 1 6+-2915 e 853-4418 - Teles 1.132811- Fax 1011 1 852--B+00. . argentinos têm a Os mpressão de que j á viram esse filme outras vezes, dublado em espanhòl . Em -. sua primeira versão, o presidente (Raul Alfonsin) era obrigado a renunciar, cinco meses antes de terminar o mandato. Na segunda, Carlos Saúl Menem interpretava o herói que, com a ajuda essencial de um novo roteirista (Domingo Cavallo, ministro d a Economia), se não abateu o bandido com um só tiro, ao menos conseguiu algemá-lo. Por isso, o que está acontecendo no Brasi l é a versão falada em português de históri a conhecida dos latino-americanos. Nela o mocinho morre no final ou, co m a providencial ajuda da cavalaria norteamericana, consegue salvar o comboio e o conduz, airoso, ao Primeiro Mundo . As notícias que o argentino lê, vê ou ouve sobre o Brasil lhe chegam pelas agência s internacionais . Nenhum jornal de Buenos Aires tem correspondente no Brasil e a televisão se limita à reprodução do noticiário da CNN ou da TV espanhola. De quando em quando, os jornais mandam um repórte r ao Brasil que, depois de três dias no aviã o entre São Paulo, Rio e Brasília, algumas entrevistas e muita leitura dos jornais 1o cais, redige duas ou três matérias como relato de "um enviado ao caos do Brasil" , conforme despacho publicado na primeir a página do jornal de economia e negócio s Ambito Financiero, em 7 de outubro. Realmente um caos" - Os editores dos jornais argentinos já fizeram muitas viagen s a serviço ou em férias às nassas plagas, ma s quando se fala em Brasil já não lhes ocorre m imagens de sol, mulatas, samba e ritmo d e 10% de crescimento anual da economia. "Aquele Brasil de desenvolvimento está apenas na minha memória . Hoje, Brasi l para mim representa deterioração", diz Roberto Garcia, diretor de redação do Ambito 38 Financiem, com circulação de 130 mil exemplares por dia. Concordam com el e Ricardo Kirschbaum, subeditor-geral de El Clarín (600 mil exemplares/dia) e Daniel Sosa, editor de Economia do Página 1 2 (110 mil exemplares/dia) . Para Kirschbaum, o Brasil de hoje parec e a Argentina de urn ano e meio atrás, "perdido na hiperinflação e com falta de pulso politico para mudar a situação" . Soca, que tem poucas simpatias pela fórmula adotada pelo governo Menem para chegar à inflação mensal de 1 % - adoção ortodoxa das receitas do Fundo Monetário Internacional (FMI) -, considera que até para executar essa politica o govern o brasileiro teria dificuldades. "Basta a foto do pontapé no traseiro do privatizador para demonstrar que no Brasil a situação é mais peleada do que na Argentina", diz Soca, referindo-se aos incidentes à frente da Bolsa de Valores do Rio no dia do frustrado leilão de privatização da Usiminas. "A sensação que o Brasil me dá agora é de descontrole, alt a inflação, confusão politica, instabilidade, in satisfação, decadência, até o futebol não é mais o mesmo . Quando a Argentina e outros países como México e Chile procuram a mesma saída para a solução de seus problemas, o Brasil ficou parado, hesitante. Às vezes parece-me que desejaria sair por outra porta", arremata . Kirschbaum preocupa-se com o fato d e o Brasil ter interrompido seu processo de desenvolvimento. "O principal problema do Brasil é a marginalidade social . Parando de crescer, não sei como vai encontrar um a solução para esses enormes contingentes da população . E fico a imaginar como seria impressionante o impacto da integraçã o desses marginalizados ao processo de produção", analisa . Escaldados por duas hiperinflaçães 196% em julho de 1989, no governo Alfonsin, e 96% em março de 1990, no governo Menem - os argentinos acham que, com esses índices, a imagem do governo se deteriora, dentro e fora de suas fronteiras. Daniel Sosa acrescenta : "Como na Argentina a esta bilidade foi conseguida, embora precária e talvez de existência efêmera, os argentino s passam a achar que o Brasil é realmente u m caos . 0 pior é que o presidente Collor não consegue transmitir ao exterior, e, creio que também internamente, a imagem de algué m que pode inverter esse processo . Muito menos dá esperanças de começar a resolver o problema social, que é muito sério . " X IMPRENSA - OUTUBRO 1991
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