Wulfgaard “Bjorn”: A saga de um guerreiro – Parte 1

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Wulfgaard “Bjorn”: A saga de um guerreiro – Parte 1
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Publicado em 06/08/2009
Escrito por Gabriel Cunha
Wulfgaard “Bjorn”: A saga de um guerreiro – Parte 1
Prólogo
Os campos verdejantes estavam em silêncio. Só se ouvia o som dos
pássaros e do vento movendo as folhas. O céu num tom azul claro
possuía algumas nuvens que escondiam os raios de sol. Em pouco
tempo o silêncio que reinava foi quebrado pelo som de gritos, escudos
se partindo, flechas zunindo e homens caindo.
Em meio ao tumulto da batalha uma figura se destacava. Um homem
alto de corpo largo, cabelos compridos e pretos como o pêlo de um urso,
a barba também negra não era muito grande, gritava com selvageria
enquanto lutava como um animal. Possuía uma cota de malha, nas mãos
carregava um machado de lâmina dupla com o qual despedaçava os
inimigos e um escudo pintado de preto. Presa nas costas estava sua
espada que já havia provado o sangue de muitos homens.
Era ele! Wulfgaard “Bjorn” Olafson, filho de Olaf, um dos grandes
guerreiros da Dinamarca. Logo após Wulfgaard deixar seu machado
enterrado no crânio de um inimigo, desembainhou sua espada e gritou
bem alto.
- Venham sentir o gosto de Morte Fria seus saxões filhos de uma
prostituta velha! – Morte fria era o nome de sua espada.
Homem algum no campo de batalha se igualava a ele. Os inimigos o
temiam como se fosse um demônio, e talvez realmente fosse.
Os homens comandados por Wulfgaard pareciam invencíveis.
Empurravam a parede de escudos saxã ao som de gritos, urros e
xingamentos. Um deles recebeu um golpe de lança na coxa esquerda, e
no furor da batalha puxou a lança do agressor, que veio junto com ela, e
morreu com uma lâmina na barriga.
Wulfgaard com Morte Fria em uma das mãos e seu escudo na outra,
ficava na primeira fila de sua parede de escudos, incentivava seus
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homens e retalhava quem viesse pela frente. E eu, estava ao lado dele.
Um machado passou voando sobre a minha cabeça, empurrei meu
escudo pra frente e senti uma ponta tentando me acertar nas pernas,
aparei a ponta com a minha espada e estoquei na virilha do agressor. Só
senti o sangue quente escorrendo pelas minhas mãos e um corpo
desabando sobre meu escudo. Ele gritava enquanto eu pisava na sua
cabeça e cravei fundo minha espada em sua garganta.
Não eram dois grandes exércitos se enfrentando. Era um punhado de
homens para os dois lados, mas a luta estava bastante feroz. Nós
empurrávamos de um lado e os saxões do outro. Nossos arqueiros
atiravam flechas sem parar na linha saxã, mas parecia não surtir muito
efeito. Os saxões também atiravam flechas em nós, talvez com um
pouco mais de sorte, porque o homem que estava atrás de mim caiu pra
frente me empurrando depois de ter recebido uma flechada no pescoço.
O sangue dele jorrou em mim me deixando ainda mais aterrorizante
para os saxões. Não éramos demônios, mas nesse momento, da guerra,
deveríamos ser, ou ao menos nos parecer bastante com eles.
Havia um saxão montado em um cavalo bem atrás da fileira de escudos.
Ele gritava palavras de incentivo para seus homens, cuspia em nossa
direção e demonstrava não ter medo de nós. Pobre coitado. Todos nós
sabíamos que aqueles saxões de bosta estavam se borrando de medo.
Podiam gritar, xingar e cuspir, mas eles sabiam que quando um barco
Viking atracava na praia era a hora certa de rezar para o deus deles
implorando pela vida.
A parede saxã não iria agüentar por muito tempo. A cada passo,
passávamos por cima dos mortos e feridos da parede inimiga. Cantamos
e invocamos o nome de Odin e Thor enquanto cortávamos,
quebrávamos, dilacerávamos cada saxão que pudéssemos. A parede
saxã cada vez mais ia chegando para trás em direção ao homem no
cavalo. O suor escorria na minha testa fazendo meus olhos arderem,
mas ali não era lugar pra secar os olhos, Era lugar de morte, e não da
minha. Olhei para o lado esquerdo e Wulfgaard estava coberto de
sangue, mas não havia ferida em seu corpo, era apenas sangue dos
saxões. Ele estava com Morte Fria presa na barriga de um saxão e
puxava para tentar soltá-la. O guerreiro inimigo já devia estar morto,
mas o sangue não parava de sair de sua boca, até que Wulfgaard o
empurrou com o escudo e puxou a espada de volta e as tripas do
homem caíram feito água na grama meio verde, meio vermelha.
O lugar da batalha fedia a sangue, mijo, bosta, vômito, suor e cerveja.
Não era todo homem que encarava sem medo uma parede de escudos.
Na verdade acho que todos tinham medo, mas alguns sabiam disfarçar e
outros não. Era comum ver alguém vomitando ou se borrando. A
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imagem da batalha não é bonita para quem participa dela, só para
aqueles que nunca participaram de uma, mas acham que sabem como é
estar lá. Mas cada vez que eu estava no meio de uma batalha, era como
se todos os meus pensamentos sumissem e no lugar deles havia apenas
aquele cheiro, aquele som, aquela necessidade. Matar.
Depois de uma luta feroz a parede saxã foi quebrada. Os saxões da
frente tentavam lutar pelas suas vidas, e os de trás corriam, mas foi em
vão. Foi um verdadeiro massacre. Os que corriam recebiam todo tipo de
lanças, machados e golpes nas costas, enquanto os da frente caíam
como bois no dia de abate. O saxão que estava montado no cavalo e
gritava para seus homens, estava caído no chão com uma flecha
enterrada no peito. Ele ainda estava vivo, cuspia sangue enquanto do
seu peito saía ainda mais. Nos aproximamos dele e com esforço o
desgraçado cuspiu em mim.
- Você seu saxãozinho de merda, vai morrer da pior forma possível. –
Wulfgaard tinha se abaixado e estava falando bem próximo ao rosto do
homem. – Amarrem-no!
Pegamos o homem, esticamos seus membros e o amarramos. Ele já
estava fraco devido à flechada, mas ainda tentava lutar e continuava
nos xingando. Wulfgaard pegou Morte Fria e fez um corte longo na
espinha do saxão. Ele gritou feito uma prostituta. Abrimos suas costelas
pelos lados e puxamos seus pulmões para fora. Parecia uma águia de
asas abertas.
- Odin! – Wulfgaard hurrava o nome de Odin para que ele aceitasse o
sacrifício. – Odin!
Nesse dia a vitória foi nossa, e depois ficamos sabendo que o rei
Edmundo da Ânglia Oriental havia morrido em uma igreja. Com muito
esforço, suor, sangue e mortes nós tínhamos conquistado o lugar. Um
pequeno pedaço de terra na verdade, mas tínhamos que ter um lugar
aonde pudéssemos nos preparar para um objetivo maior. Wessex. Se
Wessex caísse, a Britânia cairia, e nós teríamos uma nova terra para
nosso povo.
Wulfgaard é meu amigo. Já lutei inúmeras batalhas ao seu lado e
seguirei quantas mais forem preciso. Não o seguimos pelo ouro ou
prata, mas porque com ele sentimos confiança e respeito. O que
conseguimos com os saques é dividido igualmente. Meu nome é Johan
Skald Ulfasson. Sou o que os Britânicos chamam de Bardo ou Poeta.
Pagam-me para contar grandes feitos de homens que nada fizeram;
grandes batalhas que nunca passaram de uma briga de taverna e
grandes heróis que nunca existiram.
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Hoje irei contar para todos que grandes feitos foram realizados por um
homem, que grandes batalhas aconteceram e que um grande herói
existiu. Meu amigo “Bjorn”.
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