- InovCluster
Transcrição
- InovCluster
FICHA TÉCNICA Título: Produtos para celíacos: A qualidade de vida dos doentes celíacos e condicionantes económicas associadas. Edição: INOVCLUSTER-Associação do Cluster Agroindustrial do Centro. Coordenação: Cláudia Soares Autoria: Cláudia Soares, Luís Pinto de Andrade, Sandra Gamito, Luísa Catarina Domingues, Susana Caio, Natacha Pinto Ano: 2014 Este trabalho foi desenvolvido para uso da InovCluster – Associação do Cluster Agroindustrial do Centro e insere-se no âmbito do Projeto nº 40981 – Govcluster II, financiado pelo COMPETE/QREN. 2 SUMÁRIO Ficha Técnica Sumário Índice de Tabelas. Índice de Gráficos Índice de Figuras 1.Introdução 2.Contextualização 2.1.A Doença Celíaca (DC) -Enquadramento Histórico e Clínico 2.2.O Glúten 2.3.Valores limites de ingestão diária de glúten para doentes celíacos 3.Epidemologia 3.1.Tendência atual em Portugal e no Mundo 3.2.Prevalência e incidência 3.3.Idade e sexo 3.4.Tratamento da Doença Celíaca 4.Bem Estar e Qualidade de Vida de um indivíduo intolerante ao glúten 4.1.Alimentação Saudável no âmbito da intolerância alimentar ao glúten 4.2.Adesão à Dieta Isenta de Glúten (DIG) no adolescente 4.3.Ingestão involuntária de Glúten 5.Produtos sem glúten 5.1. Algumas regras e dicas que podem facilitar a escolha de alimentos 5.2. Tendências e oportunidades de inovação para produtos isentos de glúten 6.Condicionantes económicas da utilização de produtos sem glúten 7.Regulamentação para os produtos sem glúten 7.1. Legislação aplicável 7.2. Certificação 8.Considerações finais 9.Bibliografia 2 3 4 5 6 7 7 9 14 15 17 17 17 18 19 28 28 29 30 31 43 44 66 80 80 91 93 95 3 Índice de Tabelas Tabela 1. Manifestações clínicas da Doença Celíaca ......................................................................... 13 Tabela 2. Exemplo de alimentos permitidos, perigosos e proibidos para doentes celíacos.............. 21 Tabela 3. Exemplo de produtos sem ingredientes com glúten .......................................................... 32 Tabela 4. Alguns locais de comercialização de produtos sem glúten ................................................ 34 Tabela 5. Comercialização de produtos sem glúten em diferentes superfícies comerciais .............. 35 Tabela 6. Produtos congelados sem glúten ....................................................................................... 40 Tabela 7. Exemplo de produtos no mercado com Quinoa ................................................................ 58 Tabela 8. Tabela nutricional do trigo sarraceno ................................................................................ 61 Tabela 9. Preços médios por tipos de produto .................................................................................. 72 Tabela 10. Análise do custo de um cabaz alimentar com PAESG no rendimento familiar ................ 74 Tabela 11. Comparação dos resultados com um estudo de mercado realizado em 2006 ................ 76 4 Índice de Gráficos Gráfico 1. Frequência de ingestão de glúten por doentes celíacos ................................................... 16 Gráfico 2. Estimativa de população celíaca Portugal/Europa ............................................................ 18 Gráfico 3. Doentes celíacos em ambos os sexos ................................................................................ 19 Gráfico 4. Venda de cerveja artesanal nos EUA ................................................................................. 50 Gráfico 5. Média de preços por quilograma para os produtos com glúten e os PAESG .................... 69 Gráfico 6. Preços médios por categorias de produtos alimentares ................................................... 70 Gráfico 7. Percentagem de aumento médio de preço dos PAESG em relação ao preço dos produtos com glúten ......................................................................................................................................... 71 Gráfico 8. Preços médios por tipo de marca ...................................................................................... 73 Gráfico 9. Preços médios por tipo de loja ......................................................................................... 73 Gráfico 10. Diferenças de preços entre produtos sem glúten (marca registada vs. marca branca). 78 5 Índice de Figuras Figura 1. Símbolo Internacional “Sem Glúten” .................................................................................. 28 Figura 2. Java Delight French Roast Dark Roas Coffee (EUA) ............................................................. 46 Figura 3. Cereais “Glúten Free”.......................................................................................................... 47 Figura 4. Produtos Híbridos ............................................................................................................... 62 Figura 5. Produtos Centrados na Estratégia de Redução ................................................................... 64 Figura 6. Produto Com Glúten e Sem Glúten ..................................................................................... 65 Figura 7. Produtos Alternativos nas Diferentes Categorias ............................................................... 66 6 1. INTRODUÇÃO Este relatório apresenta como objetivo geral entender o que é a Doença Celíaca, como esta se pode manifestar, evoluir e controlar, focalizando a importância dos produtos específicos para os doentes celíacos no controlo desta doença, bem como todas a implicações inerentes ao consumo destes alimentos, desde as económicas, às culturais/sociais. Pretende-se que este estudo de alguma forma seja promotor da qualidade de vida dos doentes celíacos. 2. CONTEXTUALIZAÇÃO A Doença Celíaca, ou intolerância permanente ao glúten, é caracterizada por uma reação inflamatória crónica, de natureza autoimune, que altera a mucosa do intestino delgado, dificultando a absorção de macro e micro nutrientes. É muito complicado, e até hoje não foi possível, estabelecer uma dose diária admissível, pelo que o tratamento desta doença deve consistir numa dieta isenta de glúten ao longo de toda a vida. Neste estudo, é feita referência ao Codex Alimentarius e à importância que o mesmo assume, bem como à tendência atual em Portugal e no Mundo no que respeita à Doença Celíaca, à sua prevalência e incidência e como tratar ou lidar com a mesma. Relevam-se as condicionantes económicas subjacentes ao consumo destes bens e as implicações que as mesmas podem acarretar. O Codex Alimentarius define glúten como sendo a “fração proteica do trigo, centeio, cevada e aveia ou suas variedades cruzadas e respetivos derivados, a que algumas pessoas são intolerantes e que é insolúvel em água e numa solução de cloreto de sódio a 0,5M’’. O Glúten, consiste numa mistura de proteínas presentes no endosperma de alguns tipos de grãos de cereais sendo estas proteínas classificadas em dois grupos, as prolaminas e as gluteninas. Hoje em dia, o número de pessoas com intolerância ao glúten tem vindo a aumentar e, neste sentido, a indústria alimentar tem demonstrado uma maior 7 preocupação em produzir alimentos que possam ser consumidos em segurança por este grupo de consumidores. Estima-se que existam em Portugal cerca de 85 mil celíacos, dos quais apenas 15 mil estão diagnosticados. É uma doença subdiagnosticada, com uma prevalência de 1:134, em concordância com outras populações europeias. Esta doença genética que não tem cura e cujo único tratamento conhecido é uma dieta isente em glúten provoca sintomas tão díspares como diarreias, depressões, infertilidade ou anemia. Mas mesmo entre quem não tem esta doença, já há fãs de dietas sem trigo: Victoria Beckman, Gwyneth Paltrow e Miley Cyrus estão entre os fãs de regimes glúten free. A DIG (Dieta Sem Glúten), tem-se tornado moda na sequência da sua adoção por estes famosos. Mafalda Carvalho, presidente da APC pensa que, apesar deste tipo de dieta poder passar a mensagem errada não deixa de ser bom para a APC pois pode ser uma variável que leva a motivação da ingestão destes alimentos. No que respeita à comunidade médica, esta presidente considera que os gastroenterologistas estão “mais despertos e mais atentos”, salientando que “há muito mais pessoas a serem diagnosticadas ultimamente, quer na pediatria, quer na gastroenterologia adulta.” Contudo, esta explica que “ há muito trabalho a fazer” com os médicos de família, sobretudo aqueles que estão mais longe dos grandes centros urbanos. Vem-se notando, uma maior preocupação com esta questão uma vez que se considera inclusivamente que se trata de uma situação de doença pública, que exige muitos cuidados. Desta forma, tem-se assistido ao surgimento de legislação nova e de outra com as devidas atualizações, prevendo-se que durante o ano que decorre esta seja ainda mais profunda e exigente. Referencia-se a legislação aplicável bem como os trâmites a seguir para obter a certificação de um produto como sendo “glúten free”. Relevante é também o fato de neste relatório, se focarem quais as potencialidades no mercado português relativamente aos produtos específicos para celíacos. São feitas as considerações finais no término do relatório. 8 2.1 A Doença Celíaca (DC) – Enquadramento Histórico e Clínico Todos sabemos que os alimentos são indispensáveis à vida pois fornecem as substâncias necessárias para o normal crescimento e desenvolvimento e até para a manutenção da nossa atividade diária. No entanto, eles só podem ser utilizados pelo organismo após terem disso digeridos e absorvidos pelo tubo digestivo: a digestão e absorção são portanto, funções fundamentais para a manutenção e bem-estar do indivíduo. Contudo, pessoas há que não suportam determinados alimentos pois quando estes são ingeridos e entram em contacto com a mucosa do intestino vão desencadear reações mais ou menos violentas que provocam lesões e perturbam o seu normal funcionamento, nomeadamente no que diz respeito à digestão e absorção. Nestes casos diz-se que há uma intolerância alimentar, a qual pode ser contra variados alimentos e manifestar-se por períodos mais ou menos longos da vida dos indivíduos que sofrem desta patologia. Quando uma situação deste tipo possui também uma componente imunológica e genética, e diz respeito especificamente ao glúten, manifestando-se de forma permanente e definitiva, podemos dizer que se trata de Doença Celíaca (DC). A doença celíaca (DC) é uma enteropatia sensível ao glúten, caracterizada por uma lesão na mucosa intestinal de indivíduos geneticamente suscetíveis. Esta doença pode surgir em qualquer idade, desde que o glúten, presente em cereais como o trigo, a cevada, o centeio e a aveia, já tenha sido introduzo na alimentação e é tão antiga como o consumo de cereais, tendo já os seus sintomas sido descritos no século II D.C., pelo grego Aretaeus da Capadócia que descreveu doentes com um determinado tipo de diarreia como “koiliakos” (aqueles que sofrem do intestino). Em 1887 Samuel Gee, um médico inglês, aproveitando este termo grego designou de “afeção celíaca” a doença como nós a conhecemos hoje. Nos seus escritos, Gee previa que “controlar a alimentação é a parte principal do tratamento…a ingestão de farináceos deve ser reduzida…, e se o doente pode ser curado, há-de sê-lo através da dieta.” 9 A causa desta doença foi identificada no decorrer da 2ª Guerra Mundial. O racionamento de alimentos imposto pela ocupação alemã, reduziu drasticamente o fornecimento de pão à população holandesa. O Professor Willem Dicke de Utrecht, pediatra holandês, verificou então, que as crianças com afeção celíaca melhoravam da sua doença apesar da grave carência de alimentos. Depois de aviões suecos despejarem pães em território holandês, houve novamente um agravamento da situação dessas crianças. Dicke, na sua tese de mestrado em 1950, e Dicke et al., 1953, demonstraram que retirando o trigo da dieta, os sintomas desta doença desapareciam. Esta associação seria confirmada também em Birmingham por Charlotte Anderson, que extraiu o amido e outros componentes da farinha de trigo identificando o glúten como a substância que provocava a doença. Em paralelo, em 1954, a existência de uma mucosa intestinal chata nestes doentes foi pela primeira vez reconhecida numa cirurgia efetuada pelo Dr. J.W. Paulley, um médico de Ipswich, Grã-Bretanha. Mais tarde, em 1956, Crosby e Kugler, desenvolveram um pequeno aparelho com o qual se podiam efetuar biopsias do intestino sem necessidade de operar o doente. Este aparelho, a cápsula de Crosby, ainda hoje é usada, com pequenas modificações, para fazer o diagnóstico da doença celíaca. Em 1965, foi reconhecida uma outra forma de manifestação da doença celíaca, a dermatite herpetiforme. Esta patologia mucocutânea é caracterizada pela existência de pápulas, papulovesículas e vesículas pruríticas agrupadas localizadas nos joelhos, cotovelos, zona escapular e zona posterior do pescoço, e com deposição de imunoglobulina A (IgA) e de transglutaminase epidermal (TG3) na papila dérmica na junção derme-epidérmica. Dermatologistas da época, verificaram que indivíduos com esta patologia apresentavam uma biopsia intestinal semelhante à da Doença Celíaca, e que após a retirada do glúten da dieta a sintomatologia desaparecia. Se os primeiros diagnósticos foram feitos em crianças de seis meses, idade em que se introduzia na sua alimentação as papas, os cereais e as bolachas, hoje esta doença genética – que se traduz numa sensibilidade crónica ao glúten, proteína 10 presente no trigo, centeio, cevada e aveia, está a ser diagnosticada também em mulheres em idade fértil e até em pessoas com mais de 65 anos. De acordo com Rita Jorge, da APC (Associação Portuguesa de Celíacos), que estima que existam cerca de 85 mil celíacos nacionais, embora apenas 15 mil se encontrem diagnosticados, “ a alteração do paradigma deve-se ao facto de ser uma doença multifactorial com os seus sintomas a serem muito vastos, podendo ir de anemia, perda de ferro, hemoglobina baixa, diarreias consecutivas ou obstipações severas até irritabilidade ou depressões. É uma doença que pode ainda estar adormecida e só aparecer mais tarde, mas a maioria, são pessoas que sofrem toda a vida e são mal diagnosticadas como tendo doença de Crohn ou intolerância à lactose. Só mais tarde é que se chega à conclusão que sempre foram celíacas”. Feito o diagnóstico, estabelece-se uma dieta sem glúten. Como refere Ana Martins, da Associação Portuguesa de Nutricionistas, fala-se assim duma alimentação que exclui “ pão, tostas, massas, produtos de confeitaria e pastelaria, bolachas e os tradicionais cereais de pequeno-almoço…O glúten pode ainda encontrar-se numa grande variedade de outros produtos, nomeadamente molhos e temperos, sopas instantâneas, sobremesas, patês, alguns gelados, cafés e chás aromatizados, sucedâneos de chocolate, queijos fundidos, produtos à base de carne (por exemplo, panados) ”. A apresentação clínica da doença celíaca á altamente variável e depende, entre outros fatores, da idade de início da doença, da extensão da lesão da mucosa intestinal, da sensibilidade ao glúten e da quantidade de glúten ingerido na dieta. Desde outubro de 2012 que o Estado já comparticipa as análises de sangue que permitem despistar a doença e fazer um diagnóstico atempado. “ Basta fazer as análises aos anticorpos da doença celíaca e depois a confirmação faz-se através de endoscopia com biópsia. Antes andavam à volta dos 100€, agora têm um custo de 2€! É preferível que o médico as passe que as pessoas andarem a sobrecarregar o Estado com exames, internamentos e medicamentos para tudo e mais alguma coisa porque não se descobre o que ela tem.” Reforça Rita Jorge. 11 A tabela 1. sumaria os principais sinais e sintomas típicos e atípicos da doença, bem como as condições autoimunes e genéticas que lhe estão associadas: Tabela 1: Manifestações clínicas da Doença Celíaca Sinais e sintomas típicos Distensão Sinais e sintomas atípicos Condições autoimunes associadas Condições genéticas associadas Alopecia areata Diabetes Mellitus tipo I Síndrome de Down Dor abdominal Anemia Tiroide autoimune Síndrome de Turner Anorexia Vómitos Hepatite autoimune Síndrome de Williams Diarreia Estomatite aftosa Miastenia gravis Deficiência de IgA Esteatorreia Artrite Cirrose biliar primária Ataxia/ Colangite esclerosante Osteoporose/osteopenia primária Fadiga crónica Síndrome de Sjogen abdominal Flatulência Atraso no crescimento Atrofia muscular Perda de peso Obstipação Hipoplasia do esmalte dentário Alterações Dermatite herpetiforme comportamentais Neuropatia periférica Epilepsia Refluxo esofágico Esteatose hepática Infertilidade, abortos recorrentes Hipertransaminasemia Puberdade tardia Mielopatia/Baixa Estatura Adaptado de Tack et al., 2010 e Lionetti & Catassi, 2011. Fonte: Revista Nutricias_abril 2012, n.º12; “A Revista da Associação Portuguesa dos Nutricionistas”. 12 2.2 O Glúten O glúten consiste numa mistura de proteínas presentes no endosperma de alguns tipos de grãos de cereais. Estas proteínas estão classificadas em dois grupos: as prolaminas (solúveis em etanol) e as gluteninas (insolúveis em etanol). A proporção entre as prolaminas e gluteninas no glúten é aproximadamente a mesma. O teor de prolaminas no glúten é de cerca de 50%. O termo prolaminas reflete a sua particular composição em aminoácidos, nomeadamente o elevado teor em prolina e glutamina, que se tratam de aminoácidos essenciais apenas em determinadas situações fisiológicas e que devido a determinadas patologias, não podem ser sintetizados pelo corpo humano. Torna-se assim necessário obter estes aminoácidos através da alimentação, de forma a satisfazer as necessidades metabólicas do organismo. Estas proteínas apresentam diversas designações consoante os cereais de que provêm: grãos de trigo (gliadinas), de cevada (hordeínas), de centeio (secalinas) e de aveia (aveninas) e encontram-se em quantidades variáveis consoante o cereal. A Comissão do Codex Alimentarius define o glúten como “ a fração proteica do trigo, cevada, centeio e aveia (atenção, a aveia pode ser tolerada pela maioria dos doentes celíacos. Consequentemente, a inclusão de aveia não contaminada com glúten como produto “sem glúten”, pode ser determinada a nível nacional), suas variedades cruzadas e derivados, a que algumas pessoas são intolerantes e que é insolúvel em água e numa solução de 0,5M de cloreto de sódio.” Esta Comissão recomenda provisoriamente, um teor máximo de 20 ppm (20mg/kg) para os alimentos naturalmente sem glúten, e 100 ppm (partes por milhão) para os alimentos que contêm trigo, cevada, centeio e/ou aveia e aos quais foi retirado o glúten com o objetivo de cumprir as necessidades dietéticas dos doentes celíacos. Por forma a regulamentar e normalizar a questão do glúten presente em alimentos, surgiu em 1963 esta Comissão do Codex Alimentarius, estabelecida pela FAO (Food and Agriculture Organization of United Nations) e pela OMS (Organização Mundial de Saúde), elaborando normas, diretrizes e códigos de práticas 13 alimentares internacionais harmonizadas destinadas a proteger a saúde dos consumidores e a assegurar práticas equitativas no comércio dos alimentos. Desta forma promove a coordenação de todos os trabalhos sobre normas alimentares levadas a cabo por organizações internacionais governamentais e não governamentais. Desta forma os consumidores podem ter a certeza de que os produtos alimentares que compram são seguros e de qualidade. 2.3 Valores limites de ingestão diária de glúten por doentes celíacos Existe divergência quanto aos valores de ingestão diária de glúten considerados toleráveis por doentes celíacos, Collin et al, em 2004, recomendaram que a ingestão diária de glúten por doentes celíacos não fosse superior a 100 ppm – equivalentes a 10mg de glúten a cada 100 grs. de alimento. Apesar disto, num estudo seguinte, os mesmos autores indicaram que a ingestão de até 30mg de glúten por dia não lesou a mucosa intestinal a longo prazo. Para alguns autores é necessário considerar sempre a variabilidade individual uma vez que pode variar consoante o organismo do indivíduo. Em 1981, a Comissão Alimentar CODEX, da Organização Mundial de Saúde (WHO, na sigla em inglês), em conjunto com a Organização de Alimento e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) descreveu os alimentos livres de glúten (do termo em inglês, glúten-free Food) como aqueles contendo ingredientes tais como trigo, triticale, centeio, cevada ou aveia, ou seus constituintes, que tivessem seu conteúdo de glúten reduzido por processamento enzimático ou nos quais qualquer ingrediente contendo glúten tivesse sido substituído por outros ingredientes isentos de glúten. Em 1996, a Comissão Alimentar CODEX recomendou que o consumo de prolaminas pelos celíacos não deveria ultrapassar os 10mg/dia. Segundo a Comissão, a quantidade máxima de glúten contida nos alimentos considerados “livres de glúten” passaria a ser de 10 mg de gliadina em cada 100 gramas de alimento ou 0,03% de glúten. Posteriormente, a Comissão Alimentar CODEX reviu a padronização sobre alimentos os alimentos livres de glúten 14 estipulando que a quantidade de glúten nele não deveria ser superior a 2 mg/100gramas ou 20mg/kg de alimento ou 20 ppm, na correspondência de unidades. Para os produtos que passaram por processo de diminuição do conteúdo de glúten, como o amido de trigo modificado, a quantidade de glúten não deveria ser superior a 10 mg de glúten/100gramas de alimento (100 ppm). Gráfico 1: Frequência de ingestão de glúten por doentes celíacos. 5% 5% 1% Ingestão de Glúten Nunca ingerem glúten Às vezes ingerem glúten 20% Frequentemente ingerem glúten 69% Ingerem glúten sem restrição alguma FONTE: Sdepanian et al 15 3.EPIDEMOLOGIA 3.1 Tendência Atual em Portugal e no Mundo Os primeiros estudos epidemiológicos dirigiam-se somente à população pediátrica com um quadro clínico típico, nos últimos anos os estudos vieram demonstrar que a apresentação clínica da DC é mais heterogénea do que se admitia anteriormente, registando-se um aumento do número de forma atípicas (assintomáticas) mais comuns da idade adulta. Definitivamente, os novos testes serológicos (AAE e AATt) possibilitaram um rastreio mais fidedigno para o estudo da epidemiologia de DC, levando à conclusão de que a prevalência desta doença é muito maior do que se supunha. Novos estudos epidemiológicos revelaram que a DC é uma das doenças gastrointestinais com base genética mais frequente da espécie humana, ocorrendo em 1 de cada 100 a 300 indivíduos na população mundial. Embora a DC tenha sido descrita mais frequentemente em indivíduos de raça caucasiana e mais raramente na raça negra ou outras, estudos recentes têm vindo a atenuar tais diferenças, sugerindo-se que esta é uma doença comum, não apenas em populações europeias, mas também em países em desenvolvimento como o Norte de África, o Médio Oriente e a Índia. A distribuição geográfica é variável e, aparentemente, parece estar relacionada com fatores genéticos e ambientais. 3.2 Prevalência e Incidência A doença celíaca apresenta uma distribuição mundial, com relatos na Europa, no continente Americano, Médio Oriente, Índia, África e Australasia. Revela-se uma das principais doenças gastrointestinais na Europa, com prevalências diferentes nos vários países. Em Portugal, já foi efetuado um estudo prévio que estimou uma prevalência, presentemente estima-se uma prevalência na população em geral na Europa e Estados Unidos da América de aproximadamente 1%. Atualmente, a incidência da Doença Celíaca (DC) em adultos é mais frequente que em crianças e 25% dos novos casos diagnosticados ocorre em indivíduos com 16 mais de 60 anos. Podemos assim concluir que a DC já não é de todo uma patologia característica da pediatria, como antes se achava. Em Portugal são escassos os estudos de prevalência da doença contudo, estima-se que ronde os 0,7% tendo em conta um estudo efetuado numa população de adolescentes com determinação de anticorpos específicos e biópsias intestinais nos casos de serologia positiva. A prevalência é aumentada em grupos de risco: familiares de 1.º grau, indivíduos portadores de síndrome de Down e aqueles que têm doenças auto imunes. A Associação Portuguesa de Celíacos tem 1200 sócios e estima que existem em Portugal cerca de 5000 a 8000 doentes celíacos diagnosticados, o que reflete entre 1% a 3% da população de Portugal. Gráfico 2: Estimativa de população celíaca Portugal/Europa. População Celíaca 5% População Europeia População Portuguesa 0% 1 2 FONTE: InnovaDatabase 3.3 Idade e Sexo A DC manifesta-se particularmente nas crianças, entre o primeiro e o quinto ano de vida, com redução ou desaparecimento dos sintomas na adolescência e, segundo alguns autores, será tanto mais precoce quanto mais cedo forem introduzidos os cereais com glúten na alimentação. A relação criança/adulto encontrada é de 10/1, embora em certas áreas geográficas, como por exemplo na Irlanda, esta relação é apenas de 2/1. O pico de incidência num adulto verifica-se entre os 30 e os 40 anos, sendo que alguns autores consideram que entre o sexo masculino e o sexo feminino há diferenças na idade em que se dá este pico de incidência. 17 A incidência desta doença é maior no sexo feminino sendo uma das explicações apontadas o facto de que esta doença é mais facilmente diagnosticada na mulher, além de que nesta os défices de ferro ou cálcio são mais chamativos. Gráfico 3: Doentes Celíacos em ambos os sexos. População Feminina /Masculina Sexo masculino 28% Sexo feminino 72% FONTE: Adaptado de APC 3.4 Tratamento da Doença Celíaca O único tratamento cientificamente provado para a DC assenta na adesão à DIG (Dieta Isenta de Glúten), que deve ser mantida para toda a vida. Estima-se que a ingestão diária de glúten pela população ocidental ronde as 15 a 20 g/dia. A adesão à DIG é por isso um verdadeiro desafio, exigindo alterações significativas nos hábitos e práticas alimentares dos doentes e causando um grande impacto na sua rotina diária. Por tudo isto, é de extrema importância o acompanhamento do doente por um nutricionista desde o início do diagnóstico da DC. A dieta isenta de glúten deve ser com a exclusão permanente dos seguintes cereais e seus derivados: trigo, centeio, cevada e aveia e todo alimento industrializado ou não, que contenha frações derivadas destes cereais (VITOLO, 2008). A eliminação total do glúten da alimentação vai resultar na remissão da sintomalogia clínica, serológica e histológica na maioria dos doentes. O crescimento e o desenvolvimento das crianças volta ao normal e as complicações da doença podem ser evitadas nos adultos. Observa-se melhoria clínica em cerca de 70% a 95% dos doentes celíacos com alívio dos sintomas no período de aproximadamente 2 18 semanas após instituição da DIG. A serologia pode demorar cerca de 6 a 12 meses a normalizar e a regressão das lesões intestinais é mais lenta, podendo verificar-se somente ao final de 2 anos da exclusão do glúten. Apesar dos benefícios para a saúde a adesão à dieta tem uma variabilidade entre 42% e 91% isto porque esta adesão implica uma correta interpretação da rotulagem alimentar, ter conhecimentos acerca da DIG, a capacidade de excluir o glúten aquando da realização de refeições fora de casa, o nível de educação, a idade de diagnóstico, o custo, a disponibilidade AESG no mercado, bem como o grau de satisfação. A doença celíaca expressa-se sobretudo, através de sintomatologia ligeira e atípica, tendo vindo a notar-se um aumento na idade de diagnóstico. Confirmado que esteja o diagnóstico de DC, o único tratamento consiste na prática de uma dieta isenta de glúten (DIG) para toda a vida. O glúten deverá ser excluído na totalidade da alimentação de um doente celíaco, já que podem surgir complicações mesmo com uma quantidade mínima desta proteína. Os doentes celíacos têm restrições a alimentos naturais e industrializados que contenham glúten, daí a importância de verificar os rótulos das embalagens para não correr o risco de comer algum alimento que na sua composição tenha adicionado este item. Na tabela abaixo constam alguns alimentos dos que são permitidos ao consumo de portadores de doença celíaca. Tabela 2: Exemplo de alimentos permitidos, perigosos e proibidos para doentes celíacos PERMITIDOS PERIGOSOS PROIBIDOS Farinhas e amidos derivados de Charcutaria. Farinhas e amidos de trigo, milho, arroz, trigo serraceno, aveia, centeio e cevada. batata, mandioca e tapioca. Fruta. Iogurtes. Malte e extrato de malte. 19 Legumes. Leites achocolatados, maltados Pão. e aromatizados. Leguminosas. Produtos pré cozinhados Bolos. congelados e ultracongelados. Leite. Enlatados. Bolachas. Ovos. Temperos industriais. Massas. Peixe. Caldos de carne e peixe. Iogurtes com cereais. Carne. Sobremesas instantâneas. Farinheira e alheira. Marisco. Gelados comerciais. Sopas de pacote. Azeite e óleos. Chocolates. Panados. Especiarias. Produtos de soja. Delícias do mar. Batatas fritas de pacote. Pizza. Refrigerantes. Lasanha, canelones. FONTE: Adaptado de “Glúten na Indústria Alimentar-Como garantir segurança a consumidores celíacos” Marina Pité-n.º5 (novembro 2008). É por isso muito importante que, face ao desconhecimento e intranquilidade da adoção de uma nova alimentação, exista uma colaboração evidente entre equipa médica, doente, familiares e associações de celíacos. Embora a dieta elimine os cereais que contém glúten, estes podes ser substituídos por outros como o arroz, o milho ou a tapioca. A alimentação será igualmente saudável se houver consumo equilibrado dos restantes alimentos que cubra as necessidades nutricionais do doente, atendendo a que o valor calórico total deverá ser distribuído da seguinte forma: 50 a 60% de energia deve ser fornecido sob a forma de hidratos de carbono, 12 a 15% sob a forma de proteínas e 30 a 35% sob a forma de lípidos. A supressão do glúten da alimentação não implica que esta seja desequilibrada, pelo contrário, o doente celíaco poderá consumir todo o tipo de alimentos que não contêm glúten na sua origem (carne, peixe, aves, ovos, leite, hortaliças e legumes, tubérculos, leguminosas frescas, secas e cereais sem glúten) fornecendo, do mesmo modo, os macro e micronutrimentos nas proporções adequadas. A principal desvantagem pode depender da utilização do glúten na cozinha tradicional e na indústria, devido às suas propriedades de viscoelasticidade, contrariamente aos 20 outros cereais cuja manipulação é de facto mais complexa e muitas vezes com resultados de qualidade inferior. É o caso das massas para pão, bolos e biscoitos que também podem ser confecionadas com farinhas sem glúten mas ficam mais quebradiças, com um paladar diferente e de conservação mais difícil. Este é um aspeto que deve ser assumido mas que não é incontornável e não impede que se explorem todas as potencialidades das alternativas existentes. Estas desvantagens podem ser compensadas com a utilização de misturas de vários tipos de farinha (arroz, milho, tapioca, entre outros) ou com a adição de maior quantidade de fermento industrial, embora o produto final possa apresentar características diferentes daquelas a que o doente celíaco estava habituado. A indústria de géneros alimentícios “sem glúten” coloca hoje à disposição do doente uma grande variedade de produtos igualmente agradáveis e, o nutricionista que orienta o doente, será uma preciosa fonte de informação acerca das múltiplas alternativas que vão surgindo constantemente nesta área. Tem-se manifestado no mercado um interesse crescente pelo assunto dos produtos “Glúten Free”, sendo que casas comerciais do comércio tradicional e grandes superfícies têm vindo a demonstrar particular abertura a inovações e comercialização facilitando opções cada vez mais perto do consumidor que é doente celíaco. Sendo efetuado um planeamento de uma dieta sem glúten, não é suficiente indicar quais os alimentos proibidos e permitidos. Também é necessário alertar o doente para determinados cuidados, tais como: ▪ Leitura adequada dos rótulos – o consumo de produtos manufaturados acarreta riscos consideráveis de consumo de glúten, pelo que a leitura cuidadosa da lista de ingredientes é uma medida fundamental, já que a legislação vigente não obriga a especificar a origem botânica das farinhas, amidos, féculas, sêmolas ou qualquer outro derivado do trigo, centeio, cevada e aveia. É pois importantíssimo consciencializar o doente para que este tenha atenção à menção de qualquer um dos cereais proibidos, assim como o malte, sendo que, constando estes do rótulo, deverão 21 ser excluídos do consumo, do mesmo modo que, a inexistência de referências não é garantia absoluta de que o produto não contenha qualquer um destes ingredientes em pequenas quantidades. Do mesmo modo, na falta de especificação, as referências a amido, espessantes, estabilizantes, emulsionantes, proteínas hidrolisadas de vegetais, aditivos de cereais, ou outras designações genéricas, devem ser consideradas como critérios de exclusão. De acordo com Ana Martins, da APN (Associação Portuguesa de Nutricionistas), “Estando o glúten presente em muitos alimentos processados, é de capital importância a leitura atenta dos rótulos dos produtos.” O regulamento relativo à rotulagem dos alergénios obriga os fabricantes de alimentos da UE desde o dia 25 de Novembro de 2005 a declarar, entre outros, “cereais com glúten (…) e produtos derivados”. Produtos adoçantes à base de trigo (xarope de glicose, dextrose, maltodextrina) e outros produtos derivados estão excluídos desta rotulagem dos alergénios, visto não ser possível comprovar vestígios de glúten. Isto facilita consideravelmente a escolha de produtos para os doentes celíacos. O regulamento relativo à rotulagem é apenas válido para artigos embalados, considerando apenas os ingredientes do produto. Ou seja, uma possível contaminação acidental com glúten não tem que ser indicada. Uma vez que os fabricantes têm de assumir a responsabilidade pelos seus produtos, encontra-se nas embalagens frequentemente a informação “Pode conter vestígios de glúten ou de trigo”, de modo a abranger possíveis contaminações acidentais dos produtos com substâncias alergénicas. Esta indicação não é obrigatória por lei, devendo ser considerada como aviso por parte do fabricante. Estes produtos podem conter o respectivo alergénio. Por contrapartida, a ausência desta informação não exclui a possibilidade de uma contaminação com o alergénio. Para fins de segurança, recomenda-se que o doente celíaco consulte as listas de alimentos das associações de celíacos ou que contacte diretamente o fabricante. ▪ Precaução com a “contaminação” com glúten – é necessário informar o doente celíaco para esta possibilidade, por exemplo, em relação às farinhas de milho 22 vendidas em padarias ou supermercados e que não levam o símbolo sem glúten. Estas podem estar “contaminadas” se o seu processo de moagem ocorreu em moinhos onde se procedeu à moagem de outros cereais com glúten, sem limpeza entre as duas operações. ▪ Atenção a géneros alimentícios importados – um fabricante pode empregar, segundo diferentes países distribuidores, ingredientes diferentes para um género alimentício com a mesma marca comercial. ▪ Identificação e exclusão do glúten “camuflado”- empregue frequentemente como espessante na indústria alimentar e incorporado em muitos alimentos ou preparados comerciais, tais como: ◦ Sopas comercializadas; ◦ Caldos em cubos; preparados de carne (cachorros, hambúrgueres, entre outros); ◦ Carnes enlatadas, algumas marcas de salsichas, fiambres e patés; ◦ Alguns queijos e iogurtes (com malte ou cereais); ◦ Bebidas alcoólicas que derivem de cereais (cerveja, whisky, vodka, gin); ◦ Alguns molhos, tais como: maionese, ketchup ou outros contendo as referidas bebidas alcoólicas, farinhas ou espessantes; ◦ Alguns chocolates e gelados comerciais; ◦ Chás (alguns contêm extrato de cevada). Depois há que ter cuidado com o glúten escondido nos batons, pasta de dentes e comprimidos. 23 ▪ Exclusão de géneros alimentícios vendidos a granel ou elaborados de forma artesanal – uma vez que não apresentam lista de ingredientes, deverão ser eliminados da dieta do doente celíaco. ▪ Alguns cuidados a ter em casa – Em casa deverá existir o cuidado de não utilizar a mesma esponja para lavar e enxugar a louça uma vez que estas podem reter farelos de pães e biscoitos. Deverá existir o cuidado de primeiro preparar os alimentos sem glúten, caso não haja a possibilidade de fazer a mesma refeição sem glúten para toda a família. Não usar o óleo onde se fritaram alimentos com farinhas com glúten, para preparar alimentos sem glúten. ▪ Refeição fora de casa (restaurantes ou refeitórios) – fazer uma refeição fora de casa pode ser um autêntico desafio para estes doentes. É necessário educar o doente na escolha de pratos confecionados de forma simples, em que os ingredientes sejam facilmente identificáveis, evitando pratos muito elaborados ou que incluem molhos onde é bastante provável a adição de farinhas (embora a mais utilizada seja a farinha de milho). Em Lisboa já existem alguns locais que promovem ementas sem glúten. Um dos primeiros foi a Open Brasserie Mediterrânica que, pelas mãos do chefe João Silva, tem uma ementa certificada desde 2013. O chefe diz que têm sempre “a preocupação de ter pelo menos uma opção sem glúten à entrada, outra no prato principal e outra na sobremesa.” Além disso, o chefe garante que “ Quando chega uma pessoa glúten free ou celíaco, paramos todo o trabalho ‘normal’, limpamos a área onde vamos trabalhar e todos os instrumentos que vamos utilizar e concentramo-nos a fazer só aquela preparação.” Outro defensor da causa dos celíacos é José Avillez: “ Temos pratos que não contêm glúten em todos os nossos restaurantes, como por exemplo a burrata com pesto e pinhões da Pizzaria Lisboa; o risotto de cogumelos portobello, toucinho fumado e queijo parmesão do Cantinho do Avillez; o bife à café Lisboa do Café Lisboa. Sempre tive opções sem glúten na carta mas agora há cada vez mais procura.” 24 Em Lisboa há ainda, o restaurante Este-oeste, no Centro Cultural de Belém, a cafetaria do supermercado biológico Miosótis e a padaria Fábrica dos Sabores, com pão sem glúten. Alguns restaurantes, hotéis e pastelarias estão certificados pela APC (Associação Portuguesa de Celíacos), assegurando assim a doentes com esta patologia refeições apropriadas e que não representam qualquer risco para a sua saúde. A nível de hotéis com esta certificação concedida pela APC, temos: Eurosol Hotels – Leiria & Jardim; Hotel Dom Fernando – Évora; Hotel Flor de Sal – Viana do Castelo; Hotel Rali – Viana do Castelo; Hotel Vila Corgo – Vila Real; Hotel Mónaco – Faro Pestana Alvor Praia – Faro, Portimão; Novotel Lisboa – Lisboa; Ô Hotel Golf Mar – Lisboa, Torres Vedras; Novotel Setúbal – Setúbal. No que respeita às pastelarias com a mesma certificação temos: Soluções Sem Glúten – Lisboa, Mafra. A nível de restaurantes certificados para doentes celíacos: Bem-me-quer – Lisboa. La Trattoria – Lisboa. 25 Midi – Lisboa. Canto dos Sabores – Évora, Vendas Novas. Churrasco & Companhia – Porto, Valongo. H3. Telepizza.(*) Moinho Alentejano-Almada, Setúbal. (*) Esta cadeia de pizzarias tem disponíveis duas pizzas sem glúten: bacon e fiambre; 4 queijos. É preciso encomendar com 2 horas de antecedência ou ir à loja buscar a pizza congelada. Apenas algumas lojas são aderentes. Todas as entidades e produtos que são certificados pela APC, garantem que as condições exigidas estão satisfeitas e portanto estão reunidos todos os requisitos para que os doentes celíacos se sintam em segurança e apresentam o seguinte símbolo: Fig.1: Símbolo Internacional “Sem Glúten” ▪ Refeições em cantinas escolares – é muito importante incentivar os pais da criança ou do adolescente celíaco a fornecerem informação adequada à comunidade escolar (professores, responsáveis da cozinha e amigos) sem que o doente se sinta discriminado. O doente celíaco deverá dispor de alimentos aptos para situações festivas ou outras atividades escolares. Deverão ser propostas alternativas e soluções 26 práticas de modo a adaptar pratos à dieta de glúten sem necessidade de gastos extra e proporcionando, sempre que necessário, listagens de alimentos permitidos e/ou ementas exemplificativas aos responsáveis da cozinha. 4.BEM ESTAR E QUALIDADE DE VIDA DE UM INDIVÍDUO INTOLERANTE AO GLÚTEN 4.1 Alimentação saudável no âmbito da intolerância alimentar ao glúten É importante neste momento, para os consumidores, alimentação na saúde, nomeadamente na prevenção da doença. Dada a influência da dieta mediterrânica, optou-se por diminuir a quantidade de proteína no prato e aumentar a de legumes. As ementas dos restaurantes integram, cada vez mais, pratos cuja principal preocupação está diretamente relacionada com a saúde dos consumidores, sendo confecionados pratos com um reduzido teor de gordura, de sal, de açúcar e isentos de glúten, dada a constatação de que cada vez mais existem indivíduos com alergias e intolerâncias alimentares que não lhes permite ter uma alimentação sem cuidados especiais, e para que estas pessoas possam comer fora de casa, é necessário que haja uma preocupação da parte da restauração em conquistar a confiança destes indivíduos em particular, mostrando o verdadeiro cuidado que deverá existir na confeção de produtos com estas especificações. 4.2 Adesão à Dieta Isenta de Glúten (DIG) no adolescente A adesão à dieta isenta de glúten é essencial para que os doentes celíacos gozem de uma melhor qualidade de vida e para prevenir o aparecimento de complicações a médio e longo prazo, entre as quais o linfoma intestinal. Contudo, na prática não é fácil. Embora seguir uma dieta isenta de glúten possa parecer fácil, na verdade, representa uma mudança algo radical na vida dos indivíduos e mais ainda num país ocidental, onde os “ 4 cereais proibidos” estão implantados e difundidos na dieta quotidiana. Há quem considere que cerca de 30% dos doentes celíacos adultos não cumprem a dieta isenta de glúten, e nesta fuga à dieta, os adolescentes surgem como 27 o grupo problema mais referido na literatura. Até certo ponto é fácil compreender que assim seja, uma vez que considerando o período que atravessam nestas idades, e as várias modificações, físicas e psicossociais, todo este processo poder tornar-se difícil de gerir. A adolescência representa uma etapa da vida marcada por um forte desejo de independência e de afirmação pessoal, e por partilha de ideias, opiniões e valores do grupo em que o adolescente está inserido. Assim sendo, este reflete o comportamento do grupo e, a este nível, a alimentação adotada joga um papel muito importante. Se o grupo não segue uma dieta isenta de glúten porque há-de o adolescente celíaco seguir? Se o fator “alimentação” o faz sentir diferente do grupo de amigos, então o adolescente pode ser movido a abandonar o seu tratamento. Alguns estudos são concordantes em afirmar que as maiores dificuldades no cumprimento da dieta isenta de glúten ocorrem nas ocasiões sociais ou festivas e nas escolas, essencialmente através do consumo de refeições tipo “snack”. Por outro lado, as características clínicas da Doença Celíaca diferem consoante a idade do doente e a sintomatologia gastrointestinal vai atenuando com a idade, mesmo com a ingestão de pequenas quantidades de glúten, o que dá aos adolescentes mais um motivo para não cumprirem a dieta. 4.3 Ingestão Involuntária de Glúten Há também que abordar a dificuldade de cumprimento de uma dieta isenta de glúten sob o ponto de vista de ingestão involuntária desta substância. Alguns autores consideram que uma percentagem significativa de doentes celíacos – cerca de 25% acredita estar a seguir esta dieta, mas os achados clínicos e/ou histológicos, a par das questões alimentares que lhe são colocadas, revelam o contrário. Assim, como principais fontes de ingestão não intencional de glúten, podem destacar-se: ◊ Contaminação de géneros alimentícios naturalmente isentos de glúten com farinha de trigo ou de outros cereais relacionados. ◊ Glúten residual que poderá estar presente no amido de trigo considerado “sem glúten”, largamente utilizado na indústria alimentar. De fato, tem havido alguma discussão acerca da utilização do amido de trigo em produtos manufaturados “isentos 28 de glúten”, pois torna-se difícil saber até que ponto as quantidades da gliadina presentes nestes alimentos constituem um perigo real para os celíacos que consomem tais produtos regularmente. Nem todos os celíacos reagem da mesma forma, sendo que em alguns doentes com especial sensibilidade, a ingestão de amido de trigo causa sintomas insidiosos. Por conseguinte, é sempre recomendável não arriscar, até porque está disponível uma grande variedade de outros produtos de milho, arroz ou soja, por exemplo, muito agradáveis e bem aceites pelos celíacos. ◊ Consumo de géneros alimentícios sem rótulo ou com rotulagem incompleta ou duvidosa. ◊ Consumo de um mesmo produto, com igual marca de fabrico, mas com proveniência diferente. É de notar que não se pode assegurar que o mesmo produto seja fabricado de igual forma em países diferentes. Por exemplo, um produto que em Portugal pode ser considerado inofensivo para um celíaco, em Espanha pode ter uma constituição diferente e incorporar glúten. ◊ Ingestão de glúten através de medicamentos que se tomam por via oral, sob a forma de comprimidos, cápsulas ou xaropes. Muitos deles incluem glúten na sua composição, devido à inclusão do amido como excipiente e, nem sempre os folhetos informativos incluem essa advertência. Em Portugal, não parece existir ainda uma listagem desses medicamentos, mas a sua previsão seria importante. Além disso, os folhetos deveriam informar sempre se são contra indicados para os celíacos. 5. PRODUTOS SEM GLÚTEN Neste momento existem no mercado produtos que estão especialmente direcionados para consumidores que padecem de Doença Celíaca. Apesar de se denotarem ainda algumas falhas, pelo menos assim o afirmam os doentes celíacos questionados, anualmente surgem no mercado novos produtos com esta especificação. Deve contudo ter-se em atenção, que existem produtos que usualmente são consumidos por pessoas sem qualquer tipo de patologia ou intolerância alimentar e que podem perfeitamente estar integrados na dieta de um Doente Celíaco. 29 Da tabela seguinte, constam alguns exemplos de produtos que não contendo qualquer ingrediente com glúten, permitem que os doentes celíacos os insiram nas suas refeições. Tabela 3: Exemplo de produtos sem ingredientes com glúten 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 PRODUTO Arroz de Pato Salada de legumes com arroz Arroz chinês com gambas Medalhões de pescada Bacalhau à Brás Arroz glutinoso Gelado super maxi L1A1 Sopa de caldo verde Sopa de grão com espinafres Gelado super maxi L1A2 Gelado super maxi L2A1 Gelado super maxi L2A2 Gelado super maxi L3A1 Gelado super maxi L3A2 Espinafres em folha Macedónia de ervilhas Milho Salada dois legumes Salada de milho Gelado de baunilha e chocolate Olá Gelado Magnum Intenso - Trufas Olá Favas Gelado-Créme caramel Carte D'Or Caldo verde Ervilhas congeladas com bacon Batatas "allumettes" Batatas em palitos 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 PRODUTO Salsichas Chouriço do Fundão Pastéis de bacalhau Calippo lima-limão Carte D'Or chocolate light Chocolate Carte D'Or Noz Fermento instântaneo Fermipan Doce da Avó Gelado EPÁ Magnum amêndoas Magnum clássico Mega Perna de Pau Pintarolas Gelado Solero Exotic Super Maxi Baunilha Fermento de padeiro super rápido Vahiné Viennetta baunilha Carte D'Or baunilha Bebida de soja cálcio Gerblé Bebida de soja da Alprosoja Biosoy nature da Soy Soja em nacos da Diese Protisoja nacos da Salutem Farinha milho 1 Farinha milho 2 Farinha milho 3 Farinha milho 4 30 FONTE: Adaptado de APC Ao efetuar-se uma pesquisa de mercado, conseguimos perceber que produtos estão neste momento disponíveis no mercado para consumidores que sofrem de Doença Celíaca, sendo que existem no mercado produtos específicos com o fim de satisfazer as necessidades destes consumidores. Continente, El Corte Inglês, Jumbo e Minipreço, são algumas das superfícies comerciais que disponibilizam várias marcas, incluindo a sua própria marca de produtos sem glúten. As lojas de produtos naturais, como sejam, o Celeiro, Jardim Verde e Terra Pura, e os supermercados biológicos, Biocoop, Brio, Miosótis, são outros pontos de venda com grande variedade de produtos. Nestas lojas, os produtos para além de serem sem glúten, são também biológicos e feitos à base de farinhas integrais. O número de pequenos produtores artesanais também tem vindo a aumentar. São pessoas com formação na área da padaria e pastelaria que por serem familiares de celíacos apostaram no fabrico de produtos sem glúten que são vendidos a particulares. Existe também a possibilidade de efetuar compra de produtos sem glúten por internet uma vez que estão disponíveis duas lojas especializadas que trouxeram para o mercado português os melhores produtos sem glúten franceses, polacos (Glutamine), ingleses e australianos (Espaço Bio). Nas tabelas que a seguir se apresentam, é possível perceber quais as principais lojas que comercializam produtos para doentes com intolerância ao glúten, bem como onde estas se encontram localizadas, uma vez que muitas vezes o que sucede é que o próprio doente celíaco e a sua família, não têm conhecimento de onde se podem dirigir para comprar os produtos de que necessitam e que têm esta especificidade. Mostram um pequeno resumo dos diferentes produtos, dos diferentes grupos 31 alimentares que podemos encontrar nas superfícies mais usualmente são afectas à existência no seu espaço de produtos “Glúten Free”. Tabela 4: Alguns locais de comercialização de produtos sem glúten HIPERMERCADOS SUPERMERCADOS LOJAS SUPERMERCADOS BIOLÓGICOS El Corte Inglês (Lisboa e Porto). Best Life (Amadora). Hipers Continente (Todo País). BioCoop (Lisboa). Coisas Kom Sentido (Braga). Glutamine. Hipers Jumbo (Todo País). Celeiro Dieta (Todo o país). Soluções Sem Glúten (Lisboa). Granja 57. Sol*Mar (S.Miguel-Açores). Espiral (Lisboa). ESPANHA: Socilink. Supermercados Manteiga (S.MiguelAçores). Supermercados Sá (Lisboa e Funchal): Tartes Almondy e Barras Eat Natural. Supers Pingo Doce (Todo o País). Gludiete (Lisboa e Queijas). Granja 57 (Lisboa). PEQUENOS PRODUTORES ARTESANAIS PORTUGAL: LOJAS ON-LINE Espaço Bio. OUTROS Loja Liberty (Açores): Mistura para bolos e bolachas. Loja sueca IKEA (Lisboa, Loures e Matosinhos): Tartes congeladas IKEA. Panaderia José Maria Garcia (Alicante). Panaderia Sin Gluten (Valencia). Jardim Verde (Todo o país). Mercado das Ervas (S.Miguel, Açores). Miosótis (Lisboa). Mundo Verde (Vila Nova de Gaia). Naturocoop (Porto). Quintal Bioshop (Porto). Supermercados Brio (Lisboa). Terra Pura (Todo o País). FONTE: Adaptado de APC 32 Tabela 5: Comercialização de produtos sem glúten em diferentes superfícies comerciais Biscoito orangino s/ glúten Bolacha de manteiga duetto s/glúten Massa tagliatelle com ovo s/glúten MASSAS Esparguete s/glúten Pastilhas elásticas com flúor de elevada diluição CEREAIS Mix it farinha s/glúten Bolacha Maria s/glúten Croissants com recheio de cacau s/glúten Massa aletria s/glúten Massa espiral tricolor bio s/glúten Queques meraneti de cacau sem glúten Massa lasanha com ovo s/glúten Wafers com recheio de creme de limão s/glúten Massa spaghetti sem glúten Wafers com creme de avelã s/glúten Baguetes s/glúten Wafers snack chocolate avelã s/glúten Base para pizza s/glúten Corn flakes s/ glúten Cereias de cacau magicpops s/glúten CONGELADOS Fermento (ideal para mix b) s/glúten Brioches s/glúten Muesli s/glúten Mini baguetes duo s/glúten Pão de forma Pan Carre s/glúten Pão caseiro p.casereccio s/glúten SNACKS, Barra de cereais+chocolate de leite solena s/glúten Barritas crocantes de peixe s/glúten GULOSEIMAS, Barra de cereais+vitaminas com chocolate de leite s/glúten Croissants com alperce s/glúten SOBREMESAS Snack pausa com cacau s/glúten Lasanha (carne) s/glúten Massa folhada s/glúten Peito perú fiambre extrafino forno lenha s/gluten - Primor CHARCUTARIA Spray nasal solução isotónica de água do mar Tiramisú (sobremesa) s/glúten Pão branco fatiado s/glúten OUTROS Spray nasal solução isotónica de água do mar Pretzels salgados salinis s/glúten TOSTAS GALETES E Farinha mix para pastelaria s/glúten Farinha de arroz - Ceifeira Pops cereais pequeno almoço s/glúten cacau CRACKERS, Farinha para pão e pasta s/glúten Bolachas digestivas s/glúten PADARIA BISCOITOS, BOLOS E BOLACHAS Biscoito ciocko sticks s/ glúten FARINHAS E Biscoito de cacau preziosi s/glúten FERMENTOS CELEIRO Crackers s/glúten Tostas crostini s/glúten Tostas fette biscottate s/glúten FONTE: www.celeiro-dieta.pt/index.php?id=411 33 Madalenas Auchan s/glúten Massa Penne Rigati s/glúten Mini chips s/gluten Gullon Massa fettucine s/glúten - SamMilles MASSAS BISCOITOS, BOLOS E BOLACHAS JUMBO Tortita arroz com chocolate s/gluten-Diet Radisson Tortita arroz iogurte_laranja s/gluten-Diet Radisson Tortitas com chocolate negro s/gluten Gullon Massa de konjac penne Bolacha Maria s/glúten Schar Bases para pizza Auchan - Viver melhor PADARIA Massa de konjac arroz - Slim pasta Bolachas com chocolate s/gluten Auchan-Viver Melhor Bolachas Noglut Animais da Selva s/gluten-Santiveri SNACKS, GULOSEIMAS, SOBREMESAS CEREAIS CONGELADOS Barras de cereais Auchan Chocolate s/gluten-Viver Melhor Barrinhas de pescada s/gluten - Pescanova Pão sem glúten - 4 pãezinhos Pão de forma sgl Pan Carre Schar Pão cereais rústico s/gluten Schar Cereais Celicau s/gluten -Salutem OUTROS Gomas mega sortido acido s/gluten - Vidal Gomas mega sortido light s/gluten - Vidal Gomas besos recheados s/gluten - Vidal Gomas soft fruit delight s/gluten - Vidal Gomas talhadas melancia s/gluten - Vidal Gomas besos fresa nata s/gluten - Vidal Chupa pali pica s/gluten Polpa de tomate E s/glúten Crackies de milho com sal-Caçarola TOSTAS GALETES E Massa spaghetti sem glúten - SamMilles Bolachas Chip Choco Gullon s/gluten Quadritos Wafers s/gluten chocolate preto CRACKERS, Massa fusilli s/glúten - SamMilles Crackies de arroz sem sal-Caçarola Crackies de arroz integral com sal-Caçarola Crackies de milho sem sal-Caçarola FONTE: www.jumbo.pt>As nossas marcas>Auchan 34 Mistura para pão Bolachas de arroz com sal Mistura para bolos Bolachas de arroz sem sal Bolachas areadas PADARIA Bolachas de milho Mini baguetes pré cozinhados Pão de milho para sandes Bolachas de chocolate Mistura de pão rústico sem glúten Mini queques de chocolate Mistura para bolos sem glúten Mini bolachas de milho Mini bolachas de arroz com sal Mini bolachas de arroz sem sal SNACKS, GULOSEIMAS, SOBREMESAS BISCOITOS, BOLOS E BOLACHAS CONTINENTE Bomb.s ort.choc.com recheio s/glúten Gomas marshmallows continente s/glúten Gomas ossos continente s/glúten Gomas tubarões brilho continente s/glúten Gomas ursinhos brilho continente s/glúten Pastilhas melões continente s/glúten FONTE: www.vidassemgluten.blogspot.com/2011/09/novos-produtos-continente.html 35 Mistura para bolos Mini baguetes pré cozinhados Pão de milho para sandes Mistura de pão rústico sem glúten SNACKS, GULOSEIMAS, SOBREMESAS Mistura para bolos sem glúten Bomb.sort.choc.com recheio s/glúten Gomas marshmallows continente s/glúten CONGELADOS Gelados Majestic Cookies - s/glúten Tortitas de milho Pura Vida-Pingo Doce TOSTAS PADARIA Mistura para pão CRACKERS, Bolachas de arroz - Sábias Comidas GALETES E Pastel de nata s/glúten - Pura Vida MASSAS BISCOITOS, BOLOS BOLACHAS E PINGO DOCE Tortitas de milho sem sal Pura Vida-Pingo Doce Tortitas de arroz Pura Vida-Pingo Doce Arroz Carolino Sorraia SNACKS, Interdoces gomas s/glúten Gomas ossos continente s/glúten GULOSEIMAS, Gomas tubarões brilho continente s/glúten SOBREMESAS Gomas ursinhos brilho continente s/glúten Pastilhas melões continente s/glúten FONTE: www.pingodoce.pt>...>Receitas>Saúde e Nutrição>Mais Saúde 36 Salsichas hot dog s/gluten Peito de perú braseado s/glúten Fiambre de perú fatias finas s/glúten SOBREMESAS MINIPREÇO Fiambre da pá s/glúten Afiambrado s/glúten Peito de perú fatias finas s/glúten Salame extra fatiado s/glúten Paio do lombo fatiado s/glúten Duo chourição e salsichão Chourição fatiado SNACKS, LACTICÍNIOS Mortadela de perú s/glúten Drageias de chocolate s/glúten Amendoins cobertos de chocolate s/glúten Gomas tubarão brilho s/glúten Gomas cola brilhante s/glúten Gomas sortidas brilhantes s/glúten Gomas sortidas s/glúten Gelatina de ananás/pêssego/manga s/glúten Manteiga açores Queijo flamengo Queijo M.G. flamengo 1/4bola e barra Queijo da ilha s/glúten Presunto fatiado Queijo flamengo em fatias s/glúten Cubos de presunto curado Bebida de soja natural s/glúten Chouriço corrente Bacon fatiado Tiras de bacon s/glúten Salsichas Bavier Salsichas tipo caseiras s/glúten BEBIDAS E IOGURTES CHARCUTARIA Peito de frango fatiado Mortadela s/glúten Chocolate de leite sem açucar s/glúten Amendoins com cobertura de chocolate s/glúten GULOSEIMAS, Fiambre da perna s/glúten Chocolate preto sem açucar s/glúten Bebida de soja com chocolate s/glúten Bebida de soja com chocolate s/glúten-3 de 200ml Bebida de soja light Iogurte natural s/glúten Iogurte com frutos do bosque s/glúten Iogurte de pêssego/maracujá/morango/stracciatela s/glúten FONTE: www.minipreco.pt/a-descobrir/nutricao/celiacos 37 Além dos produtos mencionados na tabela anterior, existem outros que estão a ser comercializados por marcas credíveis. Tabela 6: Produtos congelados sem glúten Carne (Congelados) Hambúrguer de peru Peixe (Congelado) Barrinhas de peixe Pescanova Marisco (Congelados) Delícias do mar Pescanova Pescanova Calamares Pescanova Hambúrguer de vaca Pescanova Filetes de peixe Pescanova Hambúrgueres de Peixe Pescanova Nuggets de pescada Pescanova 38 Gelados Gelado Fantasmikos Gelado Fastasmikos Chocolate Fruta Nestlé Nestlé Gelado Hello Kitty Baunilha Morango Nestlé Gelado Ninja-Star Olá Gelado Nesquik Chocolate Nestlé Gelado Nesquik Leite Nestlé Tofutti gelado de morango Gelado X-Pop Olá Gelados Ben & Jerry's 39 Refeições Prontas Arroz Arroz Basmati, pronto Integral pronto num minuto num minuto Arroz Três Delícias Chau-Chau, pronto num minuto Arroz Selvagem aliado ao Basmati, pronto num minuto Puré de Batata Cigala, pronto num minuto Salada Americana Argal Salada Salada Cocktail Argal de batatas com presunto Argal Salada de Caranguejo Argal FONTE: InnovaDatabase 40 Estas tabelas apenas exemplificam produtos que estão disponíveis nas superfícies indicadas e no mercado em geral, mas nos últimos tempos, tem-se assistido ao lançamento de outros produtos indicados para doentes celíacos nomeadamente nas marcas brancas existentes. 5.1 Algumas regras e dicas que podem facilitar a escolha de alimentos A compra diária de alimentos não é uma tarefa fácil para os doentes celíacos, aparentemente a variedade de produtos é imensa, mas em cada compra, coloca-se a mesma questão: será que posso comer isto? É necessário e fundamental estar atento a algumas informações, e assim, a compra de alimentos sem glúten tornar-se-á rapidamente uma rotina simples depois de algum tempo. Dicas para fazer compras sem glúten de forma segura →Leia atentamente a lista de ingredientes nas embalagens: o glúten é adicionado a muitos alimentos. →Muitos alimentos são naturalmente sem glúten: carne, peixe, fruta, legumes, muitos tipos de leite e lacticínios, arroz, milho, batatas, leguminosas. →Existem várias empresas, como a Schär e DS, que fabricam produtos especiais sem glúten, como pão, massas, bolos, bolachas, guloseimas e refeições précozinhadas. →Estes produtos especiais sem glúten podem ser encontrados em lojas de produtos naturais e dietéticas e em muitos supermercados (como já se mostrou atrás). Tenha atenção ao rótulo “isento de glúten” ou ao símbolo de uma espiga traçada, que garantem a ausência de glúten. 41 5.2 Tendências e oportunidades de inovação para produtos isentos de glúten A área ligada à saúde e bem estar é aquela que se tem evidenciado e demonstrado em crescimento. Sendo assim, apresenta-se um grande desafio à indústria já que será objetivo aliar este crescimento do interesse em alimentação saudável ao prazer de consumir o alimento. É importante que, juntamente com a preocupação em ter uma boa saúde surja, da parte das indústrias, um interesse em produzir, nas diferentes áreas/fileiras produtos que aliem a esta situação um aroma, textura e sabor agradáveis ao consumidor. Existem no mercado português diferentes oportunidades a ser exploradas a nível da saúde e bem estar dos consumidores, nomeadamente dos doentes celíacos. Estas oportunidades podem dividir-se em: Explicitamente Funcionais Saúde em Geral Encontram-se intimamente relacionadas com a saúde, nomeadamente a nível do sistema cardiológico, digestivo e vitamínico. O consumidor tem os seus interesses focalizados para o natural e simples. 42 O consumidor está muito recetivo a alimentos em que encontre mais valias para a saúde e bem estar, além das nutricionais, nomeadamente: - o preço é muito importante (quase decisivo); - o enquadramento legislativo atualizado, reduz o ceticismo uma vez que há uma maior perceção ao nível do real valor. Apesar de tudo, de todas as condicionantes com que hoje os consumidores se deparam, estes continuam á espera de coisas novas e de novos produtos. Neste sentido, é importante considerar as tendências que o ano de 2014 apresenta. São variadas e abrangem diferentes realidades. Estas tendências apontadas para o setor, poderão fazer toda a diferença na estratégia eventualmente escolhida por uma empresa ou produtor, de maior ou menor dimensão. Uma das tendências dita que se deverão evitar os desperdícios. A indústria agroalimentar começa a olhar para si, tentando reduzir o desperdício sempre com vista à sustentabilidade. Neste prisma, é possível inovar no que diz respeito aos produtos específicos para celíacos, por exemplo, no que respeita às cápsulas de café, poderá perfeitamente ser produzido sem glúten sendo um alimento recomendável para quem sofre de intolerância a esta proteína e, ao mesmo tempo que existe esta preocupação relacionada com a saúde, surge também o mantimento de uma sustentabilidade que está diretamente relacionada com a utilização de cápsulas. 43 Nos EUA existe já esta aposta por parte de uma empresa que anuncia que mantém um bom gosto do café, com menos resíduos. Fig.2-Java Delight French Roast Dark Roas Coffee (EUA) FONTE: INNOVA ANALYSIS _Top ten trends 2014 É importante que também em Portugal se faça uma aposta neste panorama, uma vez que a indústria cuja preocupação está virada para a saúde e para a sustentabilidade ambiental se mostra um nicho rentável. Contudo, é necessário perceber o consumidor final, as suas preferências e inquietações. Os sustos com a segurança alimentar, aliados a alguns escândalos, enfraqueceram a confiança dos consumidores. É extremamente importante recuperar esta confiança, sendo fundamental dar aos consumidores mais informação sobre a origem dos produtos. É deste princípio que surge a segunda tendência, “pode confiar em nós”. 44 No que diz respeito aos produtos sem glúten, esta questão é ainda mais pertinente uma vez que é fundamental que um indivíduo com intolerância ao glúten perceba realmente se o produto que está a comprar é ou não adequado para a sua alimentação e isto só é possível se os rótulos forem suficientemente explícitos e elucidativos sobre a existência ou não de glúten no bem comercializado e sobre a origem dos ingredientes. Deverá existir uma transparência de forma a que seja possível ganhar a confiança do consumidor. Fig.3-Cereais “Glúten Free” FONTE: InnovaMarketInsights_Gluten+free_oct13 45 Tendência 3: Prazeres Simples. Esta é outra das tendências assinaladas como sendo característica do corrente ano. Os consumidores estão a reavaliar as necessidades e a voltar ao básico encontrando prazer nas comidas mais simples. Olham para aquilo que realmente necessitam consumir, tendo o cuidado de associar o alimento que necessitam consumir com aquilo que podem gastar. Há uma maior preocupação na relação qualidade/preço. Verifica-se que o “corredor” de comida congelada é cada vez mais procurado uma vez que se torna um substituto para frutas e legumes frescos. Será por isso uma boa aposta para as marcas portuguesas apresentar este tipo de produtos apropriados para celíacos. É importante que se dê atenção aos produtores mais pequenos-Tendência 4. Estes pequenos produtores surgem como potenciais indivíduos que poderão surgir com novas ideias. Estes pequenos produtores, são pequenos inovadores que subiram a sua fasquia no que diz respeito à inovação e qualidade dos produtos. Eles apostam em novos produtos, novos ingredientes, novas ideias que possam surtir efeito no que está relacionado com a saúde dos consumidores. Estudos efetuados comprovam que o artesanato, bolachas caseiras, biscoitos e licores produzidos por pequenos produtores serão as categorias com maior tendência de impacto no futuro, começando a surgir métodos de preparação que visam maiores benefícios para a saúde. Um dos campos que tem potencial de desenvolvimento e rentabilidade é aquele que está relacionado com produtos direcionados a indivíduos com alergias e intolerâncias alimentares. O caso de produtos sem glúten é uma especificação de mercado que sendo explorada por estes pequenos produtores, pode trazer uma boa rentabilidade ao seu negócio. 46 Existem vários segmentos em que se pode apostar. É possível inovar e oferecer produtos indicados para estes indivíduos nas diferentes fileiras agro alimentares. A nível das diferentes fileiras alimentares é possível desenvolver novos produtos, devendo existir a preocupação de realmente obedecer às regras e aos ingredientes que permitem a ingestão destes pelos doentes celíacos. A nível da fileira do vinho, ao contrário daquilo que por vezes se possa pensar, o vinho tinto é apto para celíacos, contudo, na rotulagem não vem, na maior parte dos casos, esta indicação, daí a dificuldade em perceber se é ou não aconselhável os doentes celíacos ingerirem vinho. Existem outras bebidas que podem ser produzidas para que estes doentes possam consumir, aliás, algumas delas, nomeadamente, o rum, a aguardente, o espumante, o conhaque, a tequila, o vodka e o whisky, apesar de conterem cereais “proibidos” na sua produção (trigo, cevada e centeio), podem ser dirigidas a doentes celíacos uma vez que passam por um processo de destilação (consiste na fermentação dos hidratos de carbono de plantas da qual resultam líquidos alcoólicos, que depois são separados quimicamente. É nesta fase que os péptidos de glúten prejudiciais aos celíacos são eliminados). Mais uma vez existe aqui a necessidade de um controlo e cuidado na questão da rotulagem. Assim sendo, a produção de qualquer uma destas bebidas com o cuidado de indicação que pode ser consumida por celíacos, será uma boa aposta por parte de um produtor uma vez que se revela uma falência no mercado. 47 No caso da cerveja, tradicionalmente feita a partir de malte de cevada, é uma bebida que é apenas fermentada, portanto, contém glúten. Cerveja sem glúten, pode ser feita a partir de cereais aptos como o sorgo, trigo-sarraceno e lúpulo. Esta seria também uma boa aposta a apresentar neste mercado específico. Gráfico 4:Venda de cerveja artesanal nos EUA Nos EUA a produção de cerveja artesanal tem vindo a aumentar, tendo sido registado um aumento do consumo desta cerveja em detrimento da convencional de cerca de 52% entre 2007 e 2011. Seria uma boa aposta para os produtores portugueses. FONTE: InnovaMarketInsights_Top10Trends2014 No âmbito da panificação, já vão estando presentes no mercado alguns produtos que os doentes celíacos podem consumir, contudo, existem produtores que têm capacidades de produção para rentabilizarem as suas instalações e os seus recursos humanos e produzirem novos produtos especialmente destinados a estes doentes. São exemplo de produtos a produzir: 48 - Panquecas sem glúten; - Waffles sem glúten; - Pão de queijo (atenção que apenas com queijo mozarela e parmesão de forma a garantir a segurança para estes doentes); - Bombom para celíacos; - Pastéis de Nata sem glúten (um dos alimentos muito referenciado por doentes celíacos como sendo muito satisfatória a sua comercialização. Uma das questões que se colocaram a alguns doentes celíacos foi precisamente se pudesse enumerar produtos que ainda não vê no mercado ou vê pouco quais seriam, e daqui surgiram não só os produtos enunciados atrás como também: - Crepes embalados e prontos para o instante, sem glúten. - Farinha de substituição de trigo e farinha de arroz; - Crackers Vegan de ervas finas; - Choco chip cook vegan sem gluten; - Bolo de chocolate sem glúten; - Pizza sem glúten (uma vez que apenas a Telepizza tem esta possibilidade e por aquilo que foi explorado, tal opção não existe na loja de Castelo Branco). 49 Também a nível de chás e compotas se pode progredir, aumentar a oferta para estes doentes que necessitam de ver as suas necessidades satisfeitas através de produtos que sejam agradáveis ao paladar, de qualidade e seguros para a sua saúde. A nível de chás, é aconselhável a infusão de chás claros, nomeadamente, chá de camomila, de erva-doce e capim limão. É de alertar os nossos produtores que carece o mercado de bebidas à base de cereais também elas para estes doentes em especial, bebidas essas que já vão surgindo mas não na quantidade que interessaria de forma a conseguir existir no mercado uma boa relação qualidade – preço nestes alimentos. Para os produtores de compotas seria interessante surgirem novas compotas com ingredientes específicos para a produção de compotas “glúten free”, como seria o caso da marmelada. Também a goiabada e a bananada são excelentes para satisfazerem esta necessidade dos doentes celíacos. Também no que à fileira dos azeites diz respeito, existe alguma falência que seria importante colmatar. A maionese, por exemplo, que deverá ser confecionada de forma caseira e cuidadosamente de forma a obedecer ao que se propõe na confeção de produtos “glúten free”. 50 Também no vinagre surge a necessidade de um mais específico, nomeadamente um vinagre que seja fermentado de vinho tinto ou um vinagre de arroz e que, estes sim, são apropriados para indivíduos com intolerância ao glúten. O azeite de oliva extra virgem, é também ele indicado para doentes celíacos mas será sempre mais chamativo e proporcionará uma maior confiança ao consumidor com este problema, se na sua embalagem surgir o selo da APC – Associação Portuguesa de Celíacos. Nos lacticínios, pode afirmar-se que os únicos queijos que garantem ser isentos de glúten são o queijo fresco e o requeijão. Seria com certeza uma mais-valia para um produtor, referenciar nas suas embalagens esta ideia de serem produtos “glúten free”. A nível da cosmética, uma área na qual por norma não se concentra a atenção no que a este assunto diz respeito, surgem algumas polémicas. 51 Poderão os cosméticos conter glúten? A grande polémica instalada prende-se com o facto de alguns especialistas afirmarem que as moléculas de glúten são grandes demais para atravessar a pele, enquanto outros há que afirmam precisamente o contrário alegando que ignorar esta situação é estar a desvalorizar uma situação que se denomina de “dermatite herpetiforme” e que se trata de uma variante da doença celíaca. Esta proteína está presente em muitos produtos de beleza e higiene, como o batom, tintas de cabelo, hidratantes e shampoo. Talvez por desconhecimento, alguns doentes celíacos que seguem à risca a sua dieta imposta por esta intolerância, começa por vezes a presenciar erupções na pele que, no início, parecem picadas de insetos mas que em pouco tempo passam a bolhas que irritam a pele e fazem comichão. Em alguns casos, estas situações são acompanhadas por sintomas gástricos. Isto pode acontecer precisamente porque podem ser utilizados cosméticos com ingredientes derivados da substância na sua formulação. Mais difícil que saber que será o problema da presença do glúten nos cosméticos a provocar estes incómodos indicados, será saber em quais estará esta molécula presente. A proteína pode ser usada em fórmulas para tratamento do corpo, do rosto, dos lábios e dos cabelos, mas os fabricantes nem sempre declaram de forma direta a presença dela e utilizam apenas uma nomenclatura muito técnica para descrever o que há dentro da embalagem. Poucas empresas fornecem dados detalhados sobre o que é usado nas suas fórmulas. 52 Existe por isso dificuldade em encontrar produtos da área da cosmética que indiquem que não têm glúten. Assim sendo, com certeza que existe quem por uma razão ou outra procura produtos de higiene/beleza, sem glúten. Ficam algumas sugestões apresentadas de produtos em que os doentes celíacos poderiam eventualmente estar interessados: → Gel de banho hidratante; → Gel de banho, gelado, de menta e chocolate; → Creme para o corpo; → Batom; → Creme facial. Todos estes produtos têm que ser completamente naturais e sem glúten, não podendo conter substâncias químicas agressivas e sintéticas, fragâncias artificiais, conservantes químicos ou quaisquer outras toxinas que possam ser prejudiciais. Para o batom, aconselha-se que seja produzido à base de abacate e manteiga de cacau. É fundamental que as empresas percebam bem qual a mais valia dos seus produtos, e no caso concreto de produtos sem glúten, é necessário que os produtores percebam o quanto é importante a existência e comercialização deste tipo de produto. Neste sentido apontamos a tendência 5 – Saúde Holística, para o setor agro-alimentar. 53 No seguimento de todos estes interesses e interligações, surge a 6.ª tendência que está associada aos “Novos Super Alimentos”. Tem-se assistido a um aumento do interesse pelo consumo de frutas e vegetais o que vem dar espaço para o aparecimento de alimentos menos conhecidos, como é o caso da alcachofra ou da chia. Esta situação sucede uma vez que se assiste a um excesso de obesidade na população, a um acréscimo de indivíduos com alergias ou intolerâncias alimentares, a uma maior preocupação na regulação da tensão arterial. Começa por se aplicar numa vasta gama de produtos, legumes pouco usados e sementes que permitem obter uma nutrição mais tradicional e saudável. Na fileira do azeite e óleos, é pertinente surgir uma aposta no óleo de chia ou no óleo de linhaça, ricos em ómega 3 e tipos de gordura que possuem um efeito anti-inflamatório, que combatem a inflamação do intestino, auxiliam na regeneração dos enterócitos e fortalecem o sistema imunológico. Este tipo de gordura é bastante benéfico para os portadores de doença celíaca e deve ser suplementado para a maioria dos casos. Seria importante, existir uma aposta para as oleaginosas – nozes, amêndoas, castanhas, sementes de girassol, gergelim – uma vez que estas são ótimas fontes de nutrientes, principalmente de cálcio e magnésio, minerais importantes para a calcificação e fortalecimento dos ossos, ponto a que um celíaco necessita de estar atento. Existem neste momento outras soluções que surgem com o aparecimento de novos ingredientes ideais para serem utilizados em alimentos sem glúten. 54 A quinoa, o amaranto e o trigo-sarraceno. São grãos isentos de glúten e com alto teor de proteína nutriente importante para o celíaco na reconstrução das microvilosidades intestinais. Possuem um baixo índice glicémico, o que atua n prevenção e no controle de diabetes, doença por vezes relacionada à doença celíaca. QUINOA A Quinoa trata-se de um “pseudo-cereal”, com elevado teor de proteínas vegetais, vitaminas, sais minerais e “gordura saudável”. Este pseudo-cereal, pertence a um grupo de plantas que são confecionadas e consumidas como grãos e que têm um perfil nutricional idêntico aos cereais. A Quinoa é considerada uma proteína completa uma vez que contem todos os aminoácidos necessários ao organismo. Estas proteínas são raras no mundo das plantas, o que torna a Quinoa um excelente alimento para vegetarianos, vegans e, por ser isenta de glúten, é ideal para celíacos. Esta é especialmente rica em ferro, cálcio, magnésio, potássio e fibras. Por ser também uma boa fonte de hidratos de carbono de baixo índice glicémico ajuda a controlar o excesso de insulina no sangue. 55 A Quinoa torna-se um ótimo substituto de trigo, podendo ser consumida de variadas formas: ao pequeno-almoço; a acompanhar o prato principal (cozer como arroz ou puré); integrada em sopas; saladas e sobremesas. Tabela 7: Exemplo de produtos no mercado com Quinoa Flocos de Quinoa Bio Galetes de arroz de Quinoa Hambúrgueres Vegetais de Quinoa Trio de cereais tufados com mel, arroz, milho e Quinoa AMARANTO O Amaranto é conhecido como o cereal que na antiguidade era usado contra dores de estômago. Apesar de só agora começar a aparecer nas prateleiras de supermercado, já há muito tempo que este cereal era consumido por povos da América Central, como os Incas, os Maias e os Astecas. Contudo, também o amaranto, tal como a quinoa (e o trigo sarraceno), é considerado um pseudo-cereal uma vez que, os cereais em si são, regra geral, gramíneas cujos grãos podem produzir farinhas que têm características nutricionais específicas assim como o amido, aminoácidos e fibras. 56 Os pseudo-cereais, como o amaranto, não necessitam necessariamente de ser gramíneas, mas têm utilizações e propriedades alimentares similares aos restantes cereais. O amaranto é um alimento considerado funcional; ou seja, capaz de atuar no organismo prevenindo certos tipos de doenças. É uma fonte de cálcio bio disponível (melhor absorção pelo organismo) o que não acontece com outro tipo de vegetais. Além disto, é uma fonte de fibras, zinco, fósforo e outros nutrientes. A farinha de amaranto pode ser usada pelos celíacos porque, diferentemente do trigo, ela não contém glúten – a proteína do trigo que causa reação alérgica nesse grupo de pessoas. Quase não tem gosto, o que é muito bom, pois a farinha pode ser usada em várias misturas sem comprometer o sabor das preparações. Contudo, não se deve comer sem ser “receitado” por um nutricionista uma vez que é um alimento algo diferente para as civilizações ocidentais e os organismos não estão habituados a estes alimentos e, caso não sejam consumidas de forma coerente, poderão provocar reações nos indivíduos, tais como vómitos e diarreia. Tal como um medicamento não deve ser tomado por conta própria, também o amaranto carece de uma prescrição por parte do médico ou do nutricionista que acompanha o doente celíaco. O amaranto pode ser consumido em flocos, preferencialmente sobre frutas ou mesmo no iogurte. O grão de amaranto pode ser cozido em água e temperado, sendo servido como salada, ou mesmo na sopa ou em molhos. 57 TRIGO-SARRACENO Apesar de a maior parte das pessoas pensar que o trigo sarraceno é um cereal, ele é na verdade a semente de um fruto aparentado com o ruibarbo e as azedas. As flores do trigo sarraceno são muito perfumadas e atraentes para as abelhas que as usam para produzir um mel escuro especial de aroma forte. Enquanto o trigo sarraceno é semelhante em tamanho ao grão de trigo, apresenta uma forma triangular única. Para ser comestível a casca exterior tem de ser removida, processo este que exige um equipamento próprio de moagem, devido à sua forma pouco habitual. O trigo-sarraceno é vendido simples ou torrado, e é considerado energizante e nutritivo. O trigo-sarraceno torrado é muitas vezes designado por “kasha” existindo um prato europeu que é cozinhado com este tipo de trigo. O trigosarraceno cru tem um sabor suave e subtil, enquanto o trigo sarraceno cortado tem um sabor mais forte a noz. A sua cor varia do rosa escuro ao castanho. O trigosarraceno é habitualmente servido como alternativa à papa de aveia. Este apresenta altas quantidades de farelo, disponível quer na variedade leve quer na variedade integral que é mais nutritiva. Uma vez que o trigo sarraceno não contém glúten é aconselhada a sua integração na alimentação de um doente celíaco. 58 Tabela 8: Tabela nutricional do trigo-sarraceno 170 gramas / 157,43 calorias DENSIDADE NUTRIENTES QUANT. DDR (%) DO CLASS. NUTRIENTE MANGANÉSIO 0.68 mg 34.0 4.0 muito bom TRIPTOFANOS 0.08 mg 25.0 2.9 bom 85.68 mg 21.4 2.5 bom 4.54 mg 18.2 2.1 bom MAGNÉSIO FIBRAS FONTE: www.alimentacaosaaudavel.org/trigo-sarraceno.html Na sequência das tendências, surge a ascensão dos produtos híbridosTendência 7. Surge aqui um novo conceito, o conceito de “produtos em conjunto”. Tentam-se combinações de sabores únicos. O termo “híbrido”, significa que é uma “coisa feita pela combinação de dois elementos diferentes.” É daqui que surgem algumas ideias novas e diferentes, tais como, o donut gelado, o gelado café, salgadinhos com sabor a pepsi-cola, a fusão entre o donut e o muffin e a pizzaburger. 59 Fig.4-Produtos Híbridos Salgadinhos de milho Fritolay com sabor a Pepsi-Cola. A deliciosa fusão entre o donut e o muffin. Pão crocante com um delicioso recheio de pizza. FONTE: InnovaMarketInsights_Top10Trends2014 Neste seguimento, é possível investir na produção de produtos similares mas tendo em conta os problemas de saúde que alguns consumidores podem ter. No que respeita aos consumidores que têm intolerância ao glúten, será possível inovar e pensar em produtos híbridos dirigidos especificamente a este tipo de consumidor mais específico. 60 Na fileira da panificação, existe a possibilidade de fazer um pão crocante com um recheio de pizza desde que os ingredientes utilizados sejam os apropriados para tal consumidor. Também nesta fileira, podem ser confecionados donuts com uma mistura de muffin também tendo cuidado com os ingredientes e conseguindo satisfazer a certificação de produto sem glúten. É necessário perceber que existem grupos de consumidores com algumas especificidades e que estes também gostam de inovação, de produtos diferentes, que sejam apetitosos e os satisfaçam, por isso, é importante conseguir que este tipo de inovação seja aplicável também a grupos específicos e que haja uma aposta dos produtores neste sentido, uma vez que podem desta forma conseguir uma diferenciação no mercado e consequentemente um reconhecimento do nome e retorno financeiro. O alcance da proteína é uma tendência que surge com base na constatação do aumento do interesse em produtos com proteína, o que abre novas oportunidades de mercado. Contudo, esta tendência surge muita vez associada, não à questão soa alimentos “glúten free”, mas sim à questão da perca de peso que é consequência das componentes de saciedade contém. Surgem alimentos específicos para homens, alimentos probióticos, tudo formas de captar a atenção e aumentar as vendas para as marcas que lançam estes produtos. No que respeita aos doentes celíacos, estes têm que ter cuidado especificamente com a proteína que lhes provoca mais mal-estar, e tentar perceber se estes produtos novos, que surgem com base em valores proteicos que supostamente são extremamente favoráveis para o consumidor, podem ou não ser consumidos por eles. 61 É importante que os produtores se imponham no mercado, utilizem estratégias de marketing e de fidelização. Podem optar por ser subtis, por efetuarem campanhas que sejam pouco dispendiosas dada a situação atual, mas mostrando que têm algo novo e diferente para oferecer. A adoção de novas estratégias perspicazes, é com certeza uma outra tendência do corrente ano. Cada vez mais os consumidores dão importância ao que comem, dadas as consequências a nível de saúde, por isso, são fulcrais as estratégias subtis sobre a redução de açúcar, de sal e de gordura. A estratégia-chave centra-se na redução. Fig.5-Produtos centrados na estratégia de redução Redução de Sódio Redução de Açúcar Redu ção: -8.5% Kraft Original-Molho Barbecue. 2005:Heinz Tomate Ketchup:25,7grs. de açúcar. Novo: Heinz Tomate Ketchup:23,5grs.de açúcar. FONTE: InnovaMarketInsights_Top10Trends2014 62 Aproveitando este “sentido” de estratégia e empreendedorismo, e uma vez que a questão das alergias e das intolerâncias alimentares são também elas questões que se prendem com a saúde e bem estar dos consumidores, será uma boa aposta, seguindo a mesma linha, colocar no mercado produtos cuja presença de glúten seja nula. Fig.6-Produto com glúten e sem glúten Pastel de nata com glúten Pastel de nata sem glúten FONTE: myguide.iol.pt/profiles/blogs/gastronomia-pasteis-de-belem www.pindodoce.pt As imagens anteriores mostram um produto que existe e que, sendo fabricado para consumidores que não têm qualquer problema de saúde, é também colocado no mercado por uma superfície comercial especificamente destinado a intolerantes ao glúten. Esta seria uma boa aposta por parte de uma pastelaria/padaria tradicional, confecionar de forma caseira um pastel de nata que pudesse ser consumido por celíacos. Dentro desta perspetiva outras apostas são possíveis nas diferentes fileiras alimentares. O consumidor quer novos produtos e os produtos sem glúten continuam a expandir, sendo uma alternativa às alternativas uma tendência importantíssima. A opção de alimentos sem glúten continuará em expansão, bem como a substituição do trigo, visando obter melhoria na textura e sabor. 63 Fig.7-Produtos alternativos nas diferentes categorias FONTE: InnovaMarketInsights_Top10Trends2014 6. CONDICIONANTES ECONÓMICAS DA UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS SEM GLÚTEN Depois de todo o estudo e pesquisa efetuados, e percebida que está a importância de uma dieta específica para os doentes celíacos, é imperioso comparar os preços entre PAESG (produtos alimentares específicos sem glúten) e produtos equiparáveis com glúten, o que permitirá de alguma forma, perceber e avaliar o impacto económico da adoção de uma DIG (dieta isenta de glúten) no rendimento familiar. Para que se possa perceber a diferenciação de preços é importante definir os alimentos que são analisados e considerados importantes para esta análise. Consideremos diferentes tipos de alimentos, que se encontram integrados nas principais categorias que necessitam de substitutos sem glúten, nomeadamente, o pão (baguetes, pão de cereais, pão de forma e tostas), massa (massa esparguete, massa espiral e massa macarrão), farinha (farinha para bolos e farinha para panificação), cereais de pequeno-almoço (cereais tipo corn flakes, cereais infantis de chocolate e cereais infantis de mel), barras de cereais, bolachas/bolos (bolachas wafers, bolachas de/com chocolate, bolachas crackers 64 água e sal, bolacha Maria, bolachas recheadas/doce de fruta, bolos recheados e bolos simples) e alimentação preparada (base de pizza, panados de peixe, lasanha e pizza congelada). Não se consideram apenas os alimentos essenciais (pão, massa, farinha, cereais de pequeno-almoço, bolachas Maria e crackers) mas também alguns alimentos de conveniência, que não são propriamente essenciais, como seja a alimentação preparada, bolos e bolachas recheadas, mas que também integram as despesas das famílias em produtos alimentares. Depois de definidos os alimentos é necessária a recolha de preços destes produtos. A APC (Associação Portuguesa de Celíacos), efetuou um estudo de mercado com dados que se situam entre julho e setembro de 2013, e é tendo em conta estes valores que se tenta efetuar uma comparação de preços entre produtos “Glúten Free” e produtos equiparáveis com glúten. Foi efetuada uma recolha de preços dos PAESG e dos produtos com glúten através de uma consulta online tendo em consideração diferentes regiões do país. Esta consulta foi realizada no portal de 8 lojas que disponibilizam este serviço, duas de cada tipo de loja – supermercados, lojas online, lojas especializadas e lojas de qualidade que são lojas que vendem produtos gourmet ou dietéticos especiais, e oferecem uma ampla variedade de produtos selecionados, muitas vezes importados. O preço foi analisado por tipo de produto de todos os PAESG encontrados nas 8 lojas, a recolha incluiu produtos de marcas específicas e marcas próprias. Depois, recolheu-se preços de um igual número de produtos equiparáveis com glúten, nos 2 supermercados. Foi necessário definir um critério para se efetuar a escolha destes produtos. O critério escolhido foi selecionar metade dos produtos com a melhor relação qualidade/preço e os restantes 50% com o valor mais alto por Kg. A comparação foi feita utilizando a preço de euros por quilograma de produto (€/Kg). 65 De forma a incluir produtos com glúten de lojas especializadas e de qualidade para efeitos de comparação, procedeu-se à recolha do preço do produto mais barato, mais caro e intermédio por tipo de produto e por loja. De forma a analisar o impacto económico da DIG, foi utilizado um estudo da Associação Portuguesa de Nutricionistas (APN) que criou, em janeiro de 2011, um cabaz alimentar essencial tendo em consideração as necessidades nutricionais estabelecidas pela Roda dos Alimentos, como proposta de base para uma alimentação adequada de uma família padrão portuguesa (um homem, uma mulher e um adolescente). Para fazer uma atualização dos preços foi aplicada a taxa de variação média anual verificada em 2011, 2012 e setembro de 2013, bem como o índice de preços no consumidor (IPC) da classe de produtos alimentares e bebidas não alcoólicas que foi dada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Os grupos dos alimentos do pão, dos cereais, das bolachas e das massas, são aqueles que necessitam de substituição PAESG. Existe um acréscimo de custo ao adquirir PAESG que foi calculado através dos resultados da percentagem de aumento médio do preço destes PAESG em relação aos produtos com glúten. Foi feita uma análise do impacto do cabaz alimentar essencial, com e sem glúten, no rendimento familiar mensal. Para tal, utilizaram-se diferentes fontes de informação. O rendimento médio líquido mensal por tipologia de agregado familiar estabelecido pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), ou seja, 2546,00€ agregado familiar composto por dois adultos e um jovem, e o cálculo do rendimento mensal auferido por dois adultos com o ordenado mínimo nacional – 485,00€. 66 No estudo efetuado, analisaram-se 742 produtos alimentares de 129 marcas, das 8 lojas anteriormente referenciadas. No gráfico que a seguir se apresenta, encontra-se a média de preços dos PAESG e dos produtos com glúten. Verifica-se que o consumidor paga em média 146% mais pela aquisição de PAESG, o que corresponde a uma diferença de 9,6 €. Ou seja, os PAESG são 2,5 vezes mais caros. Gráfico 5: Média de preços por quilograma para os produtos com glúten e os PAESG 20 15 10 16,2 5 6,6 0 Sem Glúten Com Glúten Preço (€/Kg) FONTE: APC-Associação Portuguesa de Celíacos 67 Analisadas que foram as 7 categorias de produtos alimentares PAESG, (pão, massas, farinha, cereais de pequeno almoço, bolachas/bolos, barras de cereais, alimentação preparada),aferiu-se que estes foram mais caros em todos os casos. Tal situação pode visualizar-se no gráfico seguinte. Gráfico 6: Preços médios por categorias de produtos alimentares Preço sem glúten (€/Kg) Preço com glúten (€/Kg) 40,5 21,1 15,55 5,17 8,49 2,12 6,56 3,97 13,22 6,24 8,74 20,02 14,48 6,98 FONTE: Adaptado de APC 68 É possível através do gráfico e da tabela que a seguir se apresenta, perceber o aumento médio de preço dos produtos alimentares sem glúten e os preços praticados por tipo de produto. Gráfico 7: Percentagem de aumento médio de preço dos PAESG em relação ao preço dos produtos com glúten 300% 201% 141% 112% 107% 102% 65% FONTE: APC-Associação Portuguesa de Celíacos 69 Tabela 9: Preços médios por tipos de produtos Média de preços (€) Tipos de produtos Sem glúten Com glúten Baguetes 14,72 3,29 Pão de cereais 14,87 3,62 Pão Pão de forma 12,12 4,72 Tostas 21,86 8,48 Esparguete 7,99 1,66 Massas Espirais 8,86 2,78 Macarrão 8,66 1,99 Farinha para bolos 8,06 5,67 Farinha Farinha para panificação 5,31 2,19 Cereais de Cereais Corn Flakes 11,92 4,87 Cereias infantis de chocolate 13,98 7,18 peq.almoço Cereias infantis de mel 12,79 5,51 Bolacha wafers 25,57 10,66 Bolacha crackers/água e sal 20,16 6,23 Bolachas de/com chocolate 22,2 9,68 Bolachas/Bolos Bolacha Maria 10,29 4,54 Bolachas recheadas/doce de frutas 18,7 9,47 Bolos recheados 19,25 8,96 Bolos simples 22,75 6,75 Barras de cereais 40,5 20,02 12,74 2,96 Alimentação Bases de pizza Lasanha 16,75 4,84 Panados de peixe 13,37 11,15 Preparada Pizza congelada 14,26 7,61 Categoria Dif.€ Dif.€% 11,43 347 11,25 311 7,4 157 13,38 158 6,33 381 6,08 219 6,67 335 2,39 42 3,12 142 7,05 145 6,8 95 7,28 132 14,91 140 13,93 224 12,52 129 5,75 127 9,23 97 10,29 115 16 237 20,48 102 9,78 330 11,91 246 2,22 20 6,65 87 FONTE: APC-Associação Portuguesa de Celíacos 70 Gráfico 8: Preços médios por tipo de marca Sem glúten Gráfico 9: Preços médios por tipo de loja Com glúten Sem glúten 16,4 9 16,7 12,1 Com glúten 16,7 15,8 16,1 13,6 3,9 Marca Específica Marca Própria 7,9 6,6 Supermercados Lojas Online Lojas Especializadas Lojas de qualidade FONTE: APC-Associação Portuguesa de Celíacos É possível perceber através da análise da tabela seguinte, a diferença que faz num orçamento familiar o consumo de alimentos sem glúten. 71 Tabela 10: Análise do custo de um cabaz alimentar com PAESG no rendimento familiar Preços jan.2011 Quantidade de Produtos do Custo alimentos por cabaz com semana Pão 42 pães Cereais 2 pacotes de 375 grs . Bolachas 2,5 pacotes de 200grs . Arroz 1kg Batata 5kg Massa 1kg Hortícolas 16kg Fruta 14,5kg Leite 7,5L Iogurte 4 iogurtes líqs . Ou 6 iogurtes s ólidos Queijo 400 grs . Carne 1kg Peixe 1kg Ovos 1 cx.1/2 dúzia Leguminosas 500 grs . secas Leguminosas 1,5kg frescas Manteiga 1/3 cx.manteiga margarina Azeite 500 ml óleo Água 37,1 L Total de família - semanal Média por pessoa - semanal Média da família - mensal (30 dias) Média por pessoa - mensal (30dias) IPC 2011 IPC 2012 IPC 2013 (até set.) Preços atualizados Custo médio Acréscimo Custo médio médio cabaz Classe 1 - produtos cabaz com de custo cabaz sem glúten (€) alimentares glúten (€) dos PAESG glúten (€) 4,2 2,1 3,2 2,6 4,53 311% 18,63 3,36 2,1 3,2 2,6 3,63 145% 8,88 1,5 2,1 3,2 2,6 1,62 175% 4,45 0,85 2,1 3,2 2,6 0,92 0,92 2,7 2,1 3,2 2,6 2,91 2,91 1,07 2,1 3,2 2,6 1,15 300% 4,62 25,28 2,1 3,2 2,6 27,28 27,28 19,43 2,1 3,2 2,6 20,96 20,96 5,4 2,1 3,2 2,6 5,83 5,83 1,78 2,1 3,2 2,6 1,92 1,92 3,32 6,61 8,25 1,07 2,1 2,1 2,1 2,1 3,2 3,2 3,2 3,2 2,6 2,6 2,6 2,6 3,58 7,13 8,9 1,15 3,58 7,13 8,9 1,15 0,71 2,1 3,2 2,6 0,77 0,77 3,99 2,1 3,2 2,6 4,31 4,31 0,15 2,1 3,2 2,6 0,16 0,16 1,13 2,1 3,2 2,6 1,22 1,22 0,04 90,84 30,28 389,3 129,8 2,1 3,2 2,6 0,04 98 32,7 420 140 0,04 123,7 41,2 530 176,7 43% 17% 55% 21% Contributo na Retribuição Mínima Nacional de dois adultos Contributo na Rendimento Médio Mensal de dois adultos 970 € 2.546 € Dif. (€) 14,09 5,26 2,83 3,46 25,7 8,6 110 36,7 FONTE: APC-Associação Portuguesa de Celíacos 72 Analisando o estudo de mercado efetuado pela APC – Associação Portuguesa de Celíacos, facilmente se afere que todos os PAESG são mais caros que os produtos alimentares equiparáveis com glúten. Os supermercados são o tipo de lojas com os preços dos PAESG mais baixos, associados à comercialização das marcas próprias. O preço do cabaz alimentar essencial sem glúten representa um aumento significativo em relação ao equivalente com glúten, com um impacto de mais de metade do orçamento das famílias com baixos rendimentos. Considerando a atual situação socioeconómica, os resultados do preço da alimentação sem glúten pode refletir-se no cumprimento rigoroso da DIG, com consequências clínicas e nutricionais, associadas com o aumento do risco de complicações. O preço dos PAESG tende a ser mais elevado comparativamente aos alimentos convencionais regulares, não só como resultado da necessidade de utilização de grãos alternativos aos cereais proibidos e ingredientes adicionais, mas também porque o processo de desenvolvimento destes produtos carece de forte componente de investigação, para que as suas características organoléticas e nutricionais vão ao encontro das preferências e necessidades dos celíacos. O preço dos PAESG é uma das razões apontadas para o não cumprimento da dieta isenta de glúten – DIG. 73 Em 2008, num estudo então realizado, 85% dos inquiridos referiu o facto dos alimentos sem glúten apresentarem um custo elevado como uma razão válida para o não cumprimento da dieta necessária ao seu bem estar. Neste momento, os doentes celíacos continuam a demonstrar a sua insatisfação relativamente ao preço dos PAESG sendo que este é um fator que continua a interferir no cumprimento da dieta, apesar de se ir registando alguma melhoria e facilidade dado o surgimento de alguns produtos específicos mais baratos. Existindo um acesso a dados que se recolheram em 2006, é possível apresentar uma comparação dos resultados da presente recolha efetuada pela APC (2013) com estes. Veja-se a tabela seguinte: Tabela 11: Comparação dos resultados com um estudo de mercado realizado em 2006 Categorias Alimentação Preparada Barras de cereais Bolachas Bolos Cereais de peq.almoço Farinha Massas Pão Estudo 2013 Estudo 2006 Média Média Dif. PAESG (€) Glúten (€) Média Média € Dif.% Dif. PAESG (€) Glúten (€) Comparação € Dif.% da dif. (%) % Variação do preço Média Média PAESG (€) Glúten (€) 14,5 7 7,5 107 13,5 7,6 5,9 77 30 7,4 -8,4 40,5 20 20,5 102 31 14 16,9 121 -19 30,8 42,8 21,1 8,7 12,4 141 9,3 3,2 6,1 189 -48 127 171,4 13,2 6,2 7 112 12 6,5 5,5 83 29 10,2 -4,7 6,6 8,5 15,6 4 2,1 5,2 2,6 6,4 10,4 65 300 201 9,2 9,2 15,7 1,4 2,2 3,8 7,8 7,1 11,8 543 328 308 -478 -28 -107 -29,2 -8,1 -0,7 175,7 -1,9 34,6 FONTE: APC-Associação Portuguesa de Celíacos 74 Verifica-se que a diferença entre preços de PAESG e com glúten diminuiu na maioria das categorias com exceção da alimentação preparada e cereais de pequeno almoço, podendo justificar-se este decréscimo pela maior variedade de marcas e tipos de produtos sem glúten disponíveis no mercado. No pão, massa e farinha o preço dos PAESG diminuiu provavelmente devido também ao surgimento das marcas próprias nestas mesmas categorias de produtos. É importante referir que também neste tipo de produtos, com esta especificação ( sem glúten), existe alguma diferença de preço entre aqueles que são considerados “de marca” (marcas conhecidas e cujos produtos são identificados precisamente pelo nome que aparece na embalagem), e os que têm “marca branca”. No gráfico seguinte é possível constatar esta realidade, estando refletida a nível de snacks e petiscos salgados, mas sendo uma situação que se verifica em qualquer tipo de produto: 75 Gráfico 10. Diferenças de preços entre produtos sem glúten (Marca Registada vs. Marca Branca) 76 FONTE: InnovaMarketInsights_Gluten+free_oct13 Um ponto importante a ressalvar é o fato de os doentes celíacos poderem, atualmente, inserir em sede de IRS, nas despesas de saúde taxadas a IVA reduzido, as despesas tidas com os alimentos específicos sem glúten devendo, aquando da entrega da respetiva declaração, possuir uma declaração médica e as faturas dos referidos produtos (de acordo com a circular n.º17/2009-despesas de saúde – produtos sem glúten – Direção Geral dos Impostos, 17 de junho de 2009). Este apoio foi obtido após uma petição da APC. Os celíacos até aos 24 anos, ou até eu iniciem a sua atividade laboral, podem requerer um abono complementar de deficiência na segurança social (bonificação do abono de família para crianças e jovens com deficiência –atualizado na internet a 20 de fevereiro de 2012 e disponível em http://www4.seg-social.pt/bonificacao-do-abono-de-familia-paracriancas-e-jovens-com-deficiencia). Será pertinente alertar para dois fatos. Primeiro que, incompreensivelmente, muitos dos pedidos anteriormente referido feitos à segurança social têm vindo indeferidos, segundo, de notar que os associados da APC usufruem de um cartão 77 com descontos entre 5% e 10 % em PAESG, por forma a permitir diminuir os custos associados a esta alimentação especial. 7. REGULAMENTAÇÃO PARA OS PRODUTOS SEM GLÚTEN 7.1. Legislação aplicável A nível da legislação existente em Portugal que visa regulamentar os produtos com a especificidade de não terem glúten, pode afirmar-se que esta não é suficiente e que existem ainda falhas neste aspeto. Além da legislação de HACCP que inclui algumas especificidades relativas a produtos sem glúten, a maior parte dos decretos de lei e diretivas dirige a sua regulamentação para a rotulagem dos produtos alimentares. O glúten é definido segundo a Comissão do Codex Alimentarius1 como “a fração proteica do trigo, cevada, centeio e aveia2, suas variedades cruzadas e derivados, a que algumas pessoas são intolerantes e que é insolúvel em água e numa solução de 0,5 M de cloreto de sódio”(a). Os celíacos têm dois tipos de produtos à sua disposição. Por um lado os produtos destinados a uma alimentação especial, que obedecem a legislação própria (Decreto-Lei n.º 227/99 de 22 de junho, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 285/2000 de 10 de novembro) e que são produtos caros, escassos e muitas vezes pouco apaladados, os quais devem ser notificados à Direção Geral de Saúde (DGS) através do envio de um modelo de rótulo com documento comprovativo da composição nutricional e do seu teor em contaminantes. Por outro lado, os celíacos têm à sua disposição os alimentos de uso corrente, mais acessíveis em termos de preço. 12- Comissão estabelecida pelas Nações Unidas para a alimentação e agricultura (FAO) e pela organização Mundial de Saúde (OMS). A aveia é tolerada pela maioria dos celíacos. (a) – ALINORM 08/31/26, Codex Alimentarius Comission (2008) – Report on the29th session of the Codex Committee on Nutrition and Foods for Special Dietary Uses; 31th session, Geneva, Switzerland, 30 june-5 july – 2008. 78 O Decreto-Lei n.º 126/2005 de 5 de agosto, relativo à indicação dos ingredientes presentes nos géneros alimentícios, estabelece a obrigatoriedade de fazer uma referência clara no rótulo ao nome de qualquer ingrediente que seja utilizado na produção de um género alimentício e que continue presente no produto acabado quando se trata de “cereais que contêm glúten, nomeadamente trigo, centeio, cevada, aveia, espelta, Kamut ou as suas estirpes hibridizadas e produtos à base de cereais.” O Decreto-Lei n.º 156/2008, de 7 de agosto, estabelece exceções para alguns ingredientes por não serem suscetíveis de provocar reações indesejáveis um indivíduos suscetíveis. Estes ingredientes são xaropes de glucose à base de trigo incluindo a dextrose, maltodextrina à base de trigo, xaropes de glucose à base de cevada e cereais utilizados na produção de destilados ou de álcool etílico de origem agrícola para bebidas espirituosas e outras bebidas alcoólicas. Estas disposições legais para produtos de uso corrente vieram introduzir alterações positivas na informação fornecida aos consumidores. Os rótulos de muitos produtos referem agora a origem do cereal (ex: amido de trigo) e são frequentes as informações “podem conter vestígios de trigo” ou “pode conter vestígios de glúten”. No entanto, a rotulagem continua a suscitar interrogações. As indicações “amido” e “amido modificado” apesar de serem normalmente provenientes do milho, os celíacos na dúvida não consomem. O mesmo se aplica a muitos outros produtos com ingredientes e aditivos, como sejam os espessantes ou a proteína vegetal hidrolisada. De acordo com o Regulamento n.º 1169/2011, em vigor, é obrigatório incluir no rótulo as substâncias ou produtos que provocam alergia ou intolerância alimentar. A nível europeu, aos alimentos destinados a uma alimentação especial têm um regime próprio, o n.º 41/2009, aplicável desde janeiro de 2012, relativo à composição e rotulagem de géneros alimentícios adequados a pessoas com 79 intolerância ao glúten. De acordo com este regulamento, podem ser colocadas duas menções nos rótulos dos alimentos comercializados para responder às necessidades alimentares das pessoas com intolerância ao glúten: → “Isento de Glúten” – rótulo colocado em alimentos com teor de glúten inferior a 20 mg/Kg. → “Teor muito baixo de glúten” – rótulo colocado em alimentos com teor de glúten entre 20 e 100 mg/Kg. De forma a cumprirem este regulamento, e a inserirem informação fidedigna nos rótulos dos alimentos, as empresas da indústria alimentar recorrem ao Laboratório de Química do Departamento de Alimentação e Nutrição do INSA, IP para serem realizadas análises de deteção e quantificação de glúten em novos alimentos a colocar no mercado. Também um pouco no seguimento, a Diretiva 2005/26//CE transposta para a legislação portuguesa pelo Decreto-Lei n.º 195/2005 de 7 de novembro, vem obrigar à indicação no rótulo dos ingredientes potencialmente alergénios, levando a que os industriais coloquem nos rótulos “pode conter vestígios de glúten” nos seus produtos, com receio de reações cruzadas nas fábricas. Isto tem induzido um aumento na procura de análises de glúten e de processos de certificação de produtos “sem glúten” de forma a poder retirar essa informação que pode limitar a escolha de alimentos pelos celíacos, quando frequentemente esses produtos não contêm efetivamente glúten. 80 O Decreto-Lei n.º 560/99 – que transpõe a Diretiva 2000/13/CE, que respeita à aproximação das legislações dos Estados – Membros respeitantes à rotulagem, apresentação e publicidade dos géneros alimentícios – estabelece as regras a que deve obedecer a rotulagem, apresentação e publicidade dos géneros alimentícios, sejam ou não pré embalados, a partir do momento em que se encontram no estado em que vão ser fornecidos ao consumidor final, bem como as relativas à indicação do lote. Este diploma aplica-se igualmente aos géneros alimentícios destinados a ser fornecidos a restaurantes, hotéis, hospitais, cantinas e outras entidades similares que são denominadas no diploma por “coletividades”. Neste diploma são também definidas as regras especiais da rotulagem dos géneros alimentícios, bem como o que é verdadeiramente a rotulagem, um género alimentício, um ingrediente, em que difere cada definição de data. Estabelece quais as menções obrigatórias na rotulagem e na apresentação dos ingredientes e respetiva categorias tendo em conta as imposições da UE. Especificamente elaborado por forma a definir as regras de etiquetagem nos alimentos para bebés e crianças, o Decreto-Lei n.º 233/99 de 24 de junho, vem transpor para o direito interno as Diretivas n.ºs 96/5/CE (EUR/Lex), da Comissão de 16 de fevereiro, e 98/36/CE (EUR-Lex), da Comissão, de 2 de junho, e estabelecer o regime jurídico aplicável aos géneros alimentícios para a utilização nutricional especial que satisfaçam os requisitos específicos relativos aos lactentes e a crianças jovens em suplemento das suas dietas ou adaptação progressiva à alimentação normal. 81 A nível da legislação HACCP, existem algumas normas que têm que ser respeitadas e por isso são aqui referenciadas, nomeadamente a ISSO 9001:2000; ISO 14001:2004 e a ISO 22000:2005. HACCP significa Hazard Analysis and Critical Control Points – Análises de Perigos e Pontos Críticos de Controle. Esta surge como uma metodologia de segurança alimentar que se baseia na identificação de pontos críticos de controle (CCP’s) na produção alimentar e processos de preparação. Deverá existir um controle sobre os pontos críticos e monitorizar os mesmos de modo a garantir que o alimento é seguro e está apto a ser consumido. Existem uma série de boas práticas que o produtor deverá ter em atenção para que todo o procedimento seja legal e permita a laboração destes produtos. Boas práticas a adotar: - Como parte do sistema de monitorização de pontos críticos de controlo, cada novo lote de matérias-primas a ser entregue deverá ser testado em relação ao teor de glúten antes de ser introduzido na linha de produção, isto significa que não se corre o risco de ter matérias-primas distintas em termos de teor de glúten. Todos os ingredientes presentes na fábrica devem ser 100% isentos de glúten. - O produtor deve trabalhar apenas com fornecedores de matérias-primas que recebem informações prévias sobre o glúten. 82 - No processo de produção é importante a limpeza das linhas e sensibilização e formação dos trabalhadores do fornecedor. - No caso de produção de ingredientes que não se encontrem fisicamente separados da produção de outros produtos os ciclos de produção devem ser alterados. - Cada fornecedor deve ser testado em relação à sua capacidade de fornecer matérias – primas com uma qualidade constante. - Cada matéria-prima deve ser testada de forma a avaliar as características tecnológicas e o risco de contaminação com glúten. - O primeiro passo para a entrada de uma matéria-prima é a análise que vai verificar a ausência de glúten, ou seja um teor inferior a 20 ppm Existe a possibilidade de após cada limpeza, e apenas se o produtor assim o entender, verificar de imediato a eficácia da mesma através de um teste com uma Fita-teste para o glúten e desta forma verificar se está isento de glúten ou não. Todo o cliente ao comprar produto tem o direito de pedir ao produtor uma cópia do plano de HACCP e do plano de limpeza. 83 Depois de elaborado o plano de HACCP, é importante a adição de Pontos Críticos de Controlo relativos à presença de glúten nos seguintes setores: Manuseamento de matérias-primas; Armazenamento de matérias-primas sem glúten; Processo de produção; Planos de limpeza e higienização. → Para cada uma das matérias-primas, é importante solicitar o certificado da análises/as especificações do produto, onde deverá estar presente uma declaração comprovativa de que a matéria-prima está isenta de glúten (teores inferiores a 20 ppm). → Uma cópia desta declaração assinada é enviada ao fornecedor que deve garantir que estas especificações se mantenham. → No embalamento: O produtor deverá enviar ao cliente uma cópia de conformidade das embalagens que vão contatar com o alimento. 84 Armazenamento de matérias-primas isentas de glúten: O cliente que está interessado em produzir/comercializar produtos sem glúten, deverá utilizar um sistema de gestão de matérias-primas que garante não existir qualquer possibilidade de utilizar matérias-primas que não tenham sido autorizadas pelo laboratório interno. Pode utilizar, por exemplo, uma identificação visual, como seja uma etiqueta de determinada cor, que marque as matérias-primas recém chegadas e que significa que aquela matéria-prima está bloqueada. Depois dito, através do sistema informático, é possível garantir que apenas as matérias-primas autorizadas e libertadas pelo laboratório é que podem ser utilizadas e os alimentos posteriormente notificados. Análises e autorização dos produtos finais: Em relação às especificações, no final da linha de produção, todos os produtos devem ser testados antes de serem autorizados, de modo verificar se correspondem à qualidade standard. Todos os produtos finalizados têm a sua peculiaridade e através de testes laboratoriais é possível verificar: - ph (indicador de acidez); - aw (atividade da água); - Características sensoriais; - Características nutricionais; - “Quebra” (para os biscoitos); - Testes de confeção culinária/panificação (para massas e farinhas). 85 Para além da limpeza geral, na produção de alimentos sem glúten deverse-á: - Efetuar uma fase de aspiração, especialmente para resíduos de produtos tais como farinhas e outros ingredientes do género. - Lavagem húmida nos locais em que tal é possível. - Fazer uma lavagem desinfetante, com álcool (60%) em todas as superfícies que contactam com os géneros alimentícios, tendo especial cuidado com superfícies flexíveis que contactem com este. - Aplicar m sistema de registos através de Check-list. Estas devem ser registadas todas as limpezas efetuadas com a respetiva assinatura do responsável após o processo de limpeza ter sido efetuado. Análise e aprovação do produto final: - Análises; Os instrumentos e materiais devem estar aptos a ser utilizados. O procedimento das análises deve ser conhecido. A eficácia e o fator de instabilidade das análises devem ser constantemente testados e os resultados das análises guardados. - Análises ao glúten; O produtor tem de efetuar este tipo de análise para cada amostra no início de cada ciclo de produção, de acordo com as especificações. (As análises podem ser efetuadas através de um teste ELISA ou por teste rápido OPERON). 86 Se o teste do glúten for negativo (são feitos testes no início, a meio e no final do ciclo de produção), o produtor envia as amostras do produto ao cliente para as análises finais e a libertação do produto final deverá ser da responsabilidade do cliente, o que não retira a responsabilidade que compete ao fornecedor de fornecer ingredientes de acordo com as especificações desejadas. Auditorias: Os procedimentos a ter por quem é responsável pela produção deste tipo de produto, devem ter em conta a avaliação dos riscos para aprovação e monitorização dos fornecedores, devendo existir um especial cuidado e atenção a nível da legalidade, qualidade e garantia de que os produtos e serviços se encontram em conformidade com os requisitos. Cada auditoria tem como objetivo avaliar permanentemente a eficiência da aplicação e eficácia das ações, garantindo que o sistema e procedimentos são os corretos e apropriados. É importante que exista um planeamento das auditorias, e que estas se efetuem antes do primeiro ciclo de produção de alimentos sem glúten. Posteriormente, deverão ser planeadas novas auditorias de acordo com o produtor e fornecedor. 87 Todos os relatórios de não conformidades e ações corretivas devem ser guardados e registados, fazendo parte dos dados da performance dos respetivos fornecedores. É necessário ter especial atenção ao embalamento, uma vez que este tem que ser feito em função das características do produto mas sempre de acordo com a legislação em vigor. Por lei, e possuindo alguns produtos um alto teor de humidade, estes são trabalhados em atmosfera modificada (CO2) numa sala limpa: Produtos Frescos. Outros produtos há que não requerem tanta atenção neste sentido, uma vez que se tratam de produtos estáveis e como tal são embalados de acordo com as condições atmosféricas. São exemplo disso as farinhas, os biscoitos – produtos doces. 88 7.2 Certificação Depois de ter em atenção que vários passos são necessários na produção de um produto “Glúten Free”, é possível partir então para a certificação, contudo, deve sempre ter-se o cuidado que vários pormenores são importantes e por isso, existem empresas especializadas em fazer este trabalho, uma delas estabeleceu um protocolo com a APC de forma a apoias as empresas da área alimentar, restauração e pastelaria na produção de produtos “sem glúten”, oferecendo desta forma uma maior segurança aos consumidores. A empresa que protocolou com a APC, é uma empresa de prestação de serviços na área de consultoria em qualidade e segurança alimentar, na área agroalimentar, que propõe um serviço flexível adaptado às necessidades de cada cliente, nomeadamente na produção de produtos “sem glúten”. É efetuada a implementação do sistema HACCP com o programa “Glúten Free”; são efetuadas auditorias ao sistema HACCP, bem como ao sistema de gestão de segurança alimentar implementado. Após a realização e avaliação do processo será atribuído um Certificado de Conformidade que garante que a empresa possui um sistema qualidade e segurança alimentar que lhe permite utilizar o selo específico que é atribuído para alimento sem glúten. 89 DELINEANDO O PROCESSO PARA CHEGAR À CERTIFICAÇÃO DE PRODUTO “GLÚTEN FREE”: CONSULTORIA Implementação de sistema de qualidade e segurança alimentar (HACCP) com enfoque no PROGRAMA GLÚTEN FREE. AUDITORIAS Auditorias de diagnóstico e auditorias de acompanhamento de modo a dar resposta às necessidades das empresas, permitindo às empresas implementarem medidas para melhorarem o seu desempenho. FORMAÇÃO Desenvolvimento de ações de formação no âmbito da qualidade e segurança alimentar, sempre direcionada à temática dos alergénios, a todos os colaboradores da empresa. ROTULAGEM Diretamente relacionado com a garantia da conformidade legislativa e clara transmissão de informação ao consumidor. Avaliação da rotulagem. LEGISLAÇÃO Permanente atualização da informação legislativa, especifica para cada sector e atividade e alergénios. ANÁLISES Serviço analítico de determinação qualitativa quantitativa de alergénios nos produtos alimentares. Após a realização de todo o processo será atribuído um Certificado de Conformidade em que a empresa tem um sistema de qualidade e segurança alimentar que permite o selo APC-BIOTRAB, alimento seguro sem glúten. 90 e 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS A busca pelo desenvolvimento de produtos alimentícios diferenciados, para dietas com restrições (diabetes, doença celíaca, intolerância à lactose, são exemplos) e o uso de matérias-primas nativas e de alto valor nutricional segue uma tendência geral da população de se alimentar com qualidade, praticidade e satisfação. No caso da Doença Celíaca, tendo-se conhecimento de que esta frequentemente representa uma causa de mal absorção e tendo em conta uma grande percentagem de casos atípicos, o diagnóstico precoce e a adequada instituição da dieta isenta de glúten são procedimentos fulcrais para a qualidade de vida, tratamento e prognóstico dos doentes celíacos. Atualmente a DC (Doença Celíaca), pode ser diagnosticada em qualquer idade, afetando eventualmente, múltiplos sistemas de órgãos. Não se conhecendo a real prevalência da DC em Portugal, estima-se que afete cerca de 1% da população, sabendo-se todavia, que poderão existir vários casos por diagnosticar. A DIG (Dieta Isenta de Glúten), é o único tratamento disponível para a DC. Seria portanto interessante conhecer-se as reais dificuldades, necessidades e expectativas dos celíacos, conhecer a prevalência de cumprimento da DIG e as razões para o seu não cumprimento. Este conhecimento permitiria que os profissionais de saúde, a indústria alimentar, a restauração coletiva e demais estruturas coordenassem esforços no sentido de contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos celíacos. 91 CURIOSIDADE 20 ppm glúten →20 miligramas Porque: 1 kg→1.000 gramas 1 grama→1.000 miligramas 1 kg→1.000.000 miligramas 92 9.BIBLIOGRAFIA (s.d.). Obtido de ASAE: http://www.asae.pt/ ACT. (s.d.). Obtido de www.act.gov/pt Alimentação Saudável. (s.d.). Obtido de https://www.alimentacaosaudavel.org/trigosarraceno.html Antunes, H. e. (2006). Primeira determinação de prevalência de doença celíaca numa população portuguesa. Acta Médica Portuguesa - 19:115-120. APC-Associação Portuguesa de Celíacos. (s.d.). Obtido de APC: www.celiacos.org.pt/ Apraiz, M., & Marquez, M. S. (2000). Comer sin gluten. Pediátrika (supl.1:19-37):23-41. Cantinho Vegetariano. (s.d.). Obtido de http://www.cantinhovegetariano.com.br/2007/05/amaranto.html Celeiro. (s.d.). Obtido de http://www.celeiro-dieta/pt celíacos, A. p. (2012). APC. Obtido de APC: www.celiacos.org.pt/informacao/revistas/24revistas-no-31/file.html Celíacos, A. P. (2014). celiacos.org.pt. Obtido de http://www.celiacos.org.pt Celíacos, A. P. www.celiacos.org.pt/informacao/revistas/24-revista-no-31/file.html. Cobo, O., Hernández, A., Capitán, C., Fernández, F., & Rodriguez, J. (1999). Enfermedad celíaca del adulto . Mazorca: Revista de la Federación de Asociaciones de celíacos de Espanã. Codex Alimentarius Commission. Codex Alimentarius Standard for Foods for Special Dietary Use for Persons Intolerant to Gluten . (Adopted in 1979; amended 1983; revised 2008). Decreto-Lei n.º126/2005 - Transpõe a diretiva comunitária 2003/89/CE. Decreto-Lei n.º233/99 - Define regras de etiquetagem nos alimentos para bebés e crianças. Decreto-Lei n.º560/99 - Transpõe a diretiva 2000/13/CE. Diana, S. (2011). Receitas sem glúten, sem proteínas do leite de vaca e outras receitas. 1 . Diana, S. (2011). Receitas sem glúten, sem proteínas do leite de vaca e outras receitas. Lusoimpress - Artes Gráficas, Lda. 93 Diretiva 2000/13/CE - Estabelece leis de etiquetagem. Diretiva 2003/89/CE. Diretiva 2005/26/CE - Esabelece lista de ingredientes provisoriamente excluídos . disorders., B. P. Mahan LK, Escott-Stump S. USA: W.B. Saunders Company: Krauser's Food, Nutrition & Diet Therapy-10th edition . Dubé, C. e. (2005). The prevalence . Dubé, C. e. (2005). The Prevalence of Celiac Disease in average - risk and at-risk Western European Populations: a Systematic Review. Gastroenterology . In C. e. Dubé, The Prevalence of Celiac Disease in average - risk and at-risk Western European Populations: a Systematic Review. Gastroenterology (pp. 128:S57-S67). EFSA. (s.d.). Obtido de www.efsa.europa.eu/ Estevão, M., António, A., & Mota, H. (1993). Celiaquia e adolescência. Revista portuguesa de pediatria. Europeia, U. (25 outubro 2011). Regulamento (UE) n.º1169/2011 relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios. Parlamento Europeu e do Conselho . Europeias, C. d. (20 de janeiro de 2009). Regulamento (CE) n.º41/2009 relativo à composição e rotulagem dos géneros alimentícios adequados a pessoas com intelorância ao glúten. Fabiani, E., Catassi, C., Villari, A., Gismondi, P., & Pierdomenico R., e. t. (1996). Dietary compliance in screening-detected coeliac disease aolescents. Acta paediatric. FAO. (s.d.). Obtido de www.fao.org/ Fasano, A. (2001). Doença Celíaca: passado, presente e futuro. Pediatrics(ed.port.). Fasano, A. e. (2003). Prevalence of Celiac Disease in At-risk and Not-at-risk groups in the United States. In I. M. Archives, Prevalence of Celiac Disease in At-risk and Not-at-risk groups in the United States. (pp. 163:286-292). Internal Medicine. 94 Guia do Celíaco. (1995). Seção de Gastrenterologia e Nutrição Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria. INNOVA. (s.d.). Obtido de www.innovadatabase.com INOVCLUSTER. (s.d.). Obtido de www.inovcluster.pt JUMBO. (s.d.). Obtido de http://www.jumbo.pt/Frontoffice/ContentPages/Browsecatalog.aspx L., M. (2010-12.ª Edição). Krause-Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. Saunders Elsevier. Lobão, C. (s.d.). Lobão, C., Gonçalves, R., Monteiro, R., & Castro, F. (2010). Qualidade de vida da pessoa celíaca adulta. International Journal of Developmental and Educational Psychology-INFAD-Revista de Psicologia n.º1 , 479-485. López, M. J. (2000). Enfermedad Celíaca. Mazorca: Revista de la Federación de Asociaciones de Celíacos de Espana; Dic;(12):6-9. Martins, A. e. (2012). Doença Celíaca - O estado da arte. Revista Nutrícias , 12:26-39. Martins, A., P.Ellisabete, & Gomes, A. (2012). Doença Celíaca-O Estado da Arte. Cientificidadesartigos de revisão-Nutricias , 36/37. Pitté, M. (2008). Glúten na indústria alimentar - como garantir segurança a consumidores celíacos. Lisboa: Revista de Segurança e Qualidade Alimentar - N.5 - Novembro. Ramalho, P. (1996). Linhas gerais para uma dieta sem glúten. J.Port.Gastrenterologia. Ramalho, P. (1996). Linhas gerais para uma dieta sem glúten. J Port Gastrenterol . Rodrigues, S. e. (2006). A New Food Guide for the Portuguese Population . Journal of Nutrition Education and Behavior , 38:189-195. Teixeira, A. V. (1997). Doença Celíaca - Diarreias Crónicas . Lisboa: Chaves FC, Ribeiro T, editors. Teixeira, A., Chaves, F., & Ribeiro, T. (1997). Doença celíaca . Lisboa-Permanyer Portugal: Diarreias crónicas. 95 Vila Mulher. (s.d.). Obtido de http://vilamulher.com.br/bem-estar/nutricao/os-beneficios-doamaranto 96