Setembro 2008 - Museu da Lourinhã

Transcrição

Setembro 2008 - Museu da Lourinhã
Número 8
Ano 2008
Mês Setembro
Museu da Lourinhã
Editorial
O Museu da Lourinhã é um lugar dinâmico onde as peças
coleccionadas são, além de expostas, estudadas, procurandose trazer até aos visitantes e associados os conhecimentos
assim adquiridos. Os investigadores que connosco colaboram
já por diversas vezes foram distinguidos e neste número
relata-se mais um caso de êxito.
Temos para vos contar algumas histórias interessantes, de pessoas e das
ferramentas que utilizavam nas suas profissões, peças que vieram a ser doadas
ao Museu para que se não perca a memória de "como era dantes".
Embora algumas profissões se tenham extinto, muitas tradições ainda se
mantém bem vivas e, como estamos no mês dos círios, resolvemos falar-vos
deles.
Convidamos-vos a visitarem a mais recente adição à Sala de Paleontologia: o
crânio de Torvosaurus. Não deixem de admirar as belas ilustrações expostas.
Publicamos o segundo de uma série de três artigos que nos revelam os
segredos da sua criação.
Mais uma vez contribuíram para este número voluntários, além de funcionários
e colaboradores regulares do Museu. Renovamos o convite à participação de
todos. O trabalho dos voluntários (de todas as idades!) é de grande importância
e valor para o Museu.
Como já vai sendo hábito, propomos aos Jovens mais um concurso. Olho
atento aos detalhes e, não se esqueçam, podem ver o original no Museu.
Fernando Nogal
Neste número
2
3
4
6
9
10
Mensagem do Editor
Notícias da Associação
Serviços do Museu
A propósito (notas)
Concurso Jovem
Loja do Museu
Artigos
3
4
5
6
7
8
Profissões desaparecidas – Segeiro / Ferreiro
A roda do Senhor Garcia
Os círios à Senhora da Misericórdia
Os plesiossauros, os senhores dos mares mesozóicos
Entrevista a Ricardo Araújo
Ilustração Paleontológica – Parte II
Capa: O Senhor Garcia a trabalhar na sua roda de amolar, no pátio do Museu (ver
artigo na página 4).
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2
Boletim N.º 8
Setembro 2008
Museu da Lourinhã
Notícias
•
Voluntariado durante o Verão
Ao terminar o Verão, a Direcção do GEAL aprovou um voto de louvor aos voluntários
pelo seu contributo durante estes meses, quer nas escavações quer no Museu.
Assim, por exemplo, foi possível continuar os trabalhos de preparação sem deixar de
atender ao excepcional afluxo de visitantes e, inclusive, fazer visitas guiadas levando
a um aumento da satisfação dos visitantes. Só em Agosto mais de 4.100 pessoas
visitaram o Museu, o que constitui um máximo absoluto para um mês.
•
Dia Mundial do Coração – 4ª Caminhada e 2º Passeio BTT “Rota dos Dinossauros”
O Museu apoiou este evento, que decorreu no passado dia 28 de Setembro e cujo percurso, que se iniciou precisamente à
sua porta com uma visita livre ao Pavilhão de Paleontologia. Participaram mais de duzentas pessoas que, atravessando
montes e vales, se juntaram num convívio no Forte de Paimogo.
•
Abertura do Museu no dia 5 de Outubro
O Museu abrirá, com horário normal, no próximo dia 5 de Outubro. Aproveite para ver as novidades e leve os seus amigos!
•
Comemorações do Dia do Idoso (1 de Outubro) e do Mês do Reformado
O Museu comemorará o Dia do Idoso no dia 1 de Outubro, oferecendo o ingresso às pessoas de idade comprovadamente
igual ou superior a 65 anos. Outubro é o Mês dos Reformados e o Museu vai colaborar com a C.M. da Lourinhã nas
actividades comemorativas. Nos dias 7, 8, 15 e 16 o Museu organiza tardes de visita e convívio nas suas instalações. Os
interessados poderão inscrever-se na Câmara Municipal da Lourinhã.
•
Admissão de novos Associados
Durante o mês de Setembro foram aprovados os pedidos de admissão de 12 novos sócios.
Profissões desaparecidas – Segeiro / Ferreiro
O segeiro toma o nome da sua função, ou seja, fazia seges, e
estas foram, se assim as podemos designar, o primeiro utilitário
da história dos veículos de tracção animal.
Tratava-se de um veículo robusto, simples, muito prático e em
termos de deslocação atingia uma velocidade mais eficiente que
os seus congéneres, os coches e as berlindas.
Embora existam seges com quatro rodas, são mais usuais as de
duas rodas, com uma caixa em forma de vírgula gigante, dois
lugares, frente com cortina de couro e uma suspensão que em
tudo se assemelha à das berlindas.
As seges tornaram-se, a partir do século XVIII, preferencialmente
viaturas de aluguer, dentro e fora das cidades, permitindo alargar
o leque dos utilizadores que deixaram de ser exclusivamente os
1
nobres.
No entanto, o termo segeiro é pouco conhecido na Lourinhã,
sendo o de ferreiro mais comum. Estes artífices trabalhavam,
simultaneamente, o ferro e a madeira, essenciais na construção
e reparação de carroças e de alguns objectos em ferro ligados à
agricultura tais como as enxadas, roçanas, machados, pica2
deiras, forquilhas e forcados, cata-ventos, aldrabas, grades, etc.
Alberto Remexido, ou como era carinhosamente chamado “Ti
Remexido”, era morador nos Casais do Araújo- Marteleira, e aí
tinha a sua oficina.
Por curiosidade, é notório que em todas as povoações que
tinham ferreiros a sua localização era sempre à entrada da
aldeia3. Com o “Ti Remexido” acontecia o mesmo: Casais do
Araújo situa-se à entrada da Marteleira e junto ao caminho
Lourinhã – Torres Vedras.
Os objectos por si deixados foram, após a sua morte, doados
pela sua família e constituem um valioso testemunho do seu
trabalho.
A profissão Segeiro/Ferreiro, em exposição no Museu da
Lourinhã, é composta, entre outros objectos, por uma banca de
torno e um fole “gigante” que alimentava a fornalha para
posterior aquecimento do ferro, a fim de o moldar na bigorna com
o tilintar do martelo.
Setembo 2008
Exposição Segeiro / Ferreiro © GEAL- Museu da Lourinhã
Mas o mais precioso é o livro de registo dos trabalhos, com
referências às peças arranjadas, o custo e o seu dono. „ Carla
Abreu
Referências:
1 Nuno Alegre, Viçosos Coches, Guia Equestre.com
2 Sérgio Pereira, “O vigor do trabalho manual” in Saberes da Vida,
Memórias de Antigas Profissões, Cadernos de Etnografia (N.º 2) do
Concelho do Bombarral, Câmara Municipal do Bombarral, 2000, pp.27
3 Idem, pp.27.
Boletim N.º 8
3
Museu da Lourinhã
A vida é um corridinho
Corre, corre sem parar
Desde que um homem vem ao mundo
Até que vai a enterrar.
A Roda do Senhor Garcia
Lembro-me, miúdo, da antiga praça velha da Lourinhã: à
esquerda, uma taberna e um talho, o talho do Décio e a taberna do Senhor Garcia. O Senhor Garcia, galego natural
de Ourense, fugiu, como tantos outros, à guerra civil de
Espanha. Montou a taberna, trouxe a roda e a arte de
amolar como tantos galegos espalhados por Portugal.
Pequenino, a taberna era-me interdita mas lembro-me
bem do fogareiro à porta, sempre ateado pronto para
assar umas febras ou umas sardinhas.
Fernando Santos
- Senhor Horácio, estou velho, lutei e sofri muito, e não
queria perder a minha roda de amolador. Ofereço-a ao
Museu.
Eu, feliz e contente, imediatamente perguntei:
- Quando, Senhor Garcia?
Ele marcou a data, dois ou três dias depois, e, na casa do
Senhor Garcia, obra modesta, peguei na roda e saí na
direcção do Museu. O Senhor Garcia disse:
- Não! Quem leva a roda sou eu.
E lá viemos, da rua do Castelo até à porta do Museu,
muito calmamente, como se fossemos em procissão. Além
dos trabalhadores, era a única pessoa que possuía a
chave do Museu e lá foi durante uns poucos de anos
fazendo um biscato ou dois, amolando uma tesoura ou
uma faca, pedindo sempre, humildemente:
- Desculpe se sujei o chão.
O caruncho chegou, a família sediou-se em Alverca e eu
nunca mais vi o nosso “Espanhol”.
Voltando às recordações da minha meninice, existe um
instrumento para duas profissões: a gaita. E ainda hoje,
quando alguém houve a gaita do amola-tesouras, “Voz de
povo é voz de Deus”, toda a gente afirma: “Amanhã
chove!”
Passam-se os tempos, a vida dá as mesma voltas que as
voltas da roda de amolar. Destruiu-se a praça, o campo do
Lourinhanense, e eu, tendo ido para Lisboa, regressei à
Lourinhã já homem feito.
Um dia, para espanto meu, o Espanhol, como era conhecido o senhor Garcia, disse-me:
- Senhor Horácio, vamos os dois beber uma taça de vinho
tinto.
Não me lembro qual foi a taberna mas lembro-me do tema
da conversa:
Mas, para nós, meninos, como a gaita era igual à do capador de porcos emitindo o mesmo som, as nossas mães
diziam: “ou comes a sopa toda ou cortam-te a pilinha”.
Tenho saudades de ti, querido amigo. „ Horácio Mateus
O Museu da Lourinhã disponibiliza os seguintes Serviços:
•
•
4
•
•
Visitas guiadas e palestras
Paleontologia:
o Preparação de fósseis
o Elaboração de moldes
o Venda de réplicas
Boletim N.º 8
Conservação e restauro de peças
Workshops:
o Conservação e restauro
o Réplicas
o Preparação de fósseis
Setembro 2008
Museu da Lourinhã
Os círios à Senhora da Misericórdia
sempre da direita para a esquerda,
Entrevêem-se
origem,
festividades
e
sentido contrário ao do movimenEstamos na época dos círios, fim cultos a deusas pagãs, deusas-mães, noto dos
ponteiros do relógio.
das colheitas, homenagem aos deuses da terra. Os círios à Senhora da
Misericórdia (Moita dos Ferreiros) são
dos mais antigos dos muitos que
abundam na zona da
Estremadura portuguesa.
traduzidos em romarias, lendas,
oferendas, loas, busca da luz contra o
caos e da água fonte da vida.
Exceptua-se o círio de Vila Chã, que
dá três voltas ao Chafariz, relembrando, assim, a promessa
inicial, a busca da água como
elemento primordial da vida.
ƒ Buscam a luz em círios de
cera que, no caso da Senhora
da Misericórdia, é representada pelas velas que são acesas
durante a missa do respectivo
círio, no dia oito de Setembro.
Dizem que, em 1253, a
região de Alenquer foi
assolada por forte seca. A
população pediu à Senhora da Misericórdia que
intercedesse e lhes desse
“da água que ela tinha
sempre nos seus sagrados pés”.
A partir daí, todos os anos,
por volta do dia 8 de
Igreja da Senhora da Misericórdia (1993)
Setembro, cai sempre alguma chuva nas aldeias de Alenquer
devotas da Senhora da Misericórdia. Os círios mantêm formas e conteúdos
Por isso, se deslocam em romagens, que se repetem, ano após ano, e reos círios, para virem agradecer à velam na sua aparente simplicidade
dimensões complexas, não se sabenSenhora e buscar da sua luz.
do já porquê nem quando foram
Os círios são movimentos de religiosi- adquiridas.
dade popular, mais frequentes entre a
península de Setúbal e o Cabo Mon- Os círios à Senhora da Misericórdia,
dego, incluídos principalmente no cul- sendo dos mais antigos, são os que
to à Senhora que, com o cristianismo, apresentam fórmulas mais simples
mas tão características desta religiosise transformou no culto Mariano.
dade popular:
ƒ Elegem, com um ano de antecedência, juízes, festeiros e
mordomos, que são responsáveis pela guarda da bandeira
e pela realização do próximo
círio, seguindo as tradições. Há
casos em que é uma família
que, de século em século, vai
mantendo a responsabilidade de
organizar o círio como em Vila Verde
dos Francos ou Aldeia Grande.
ƒ Chegada sempre pela mesma ordem, no dia sete de Setembro durante a manhã, primeiro o círio da
Labrugeira, e de Vila Verde, os
quais participam na missa e na
procissão da festa. Depois da procissão ninguém arreda pé enquanto
não chegam os de Aldeia Grande,
Casais Galegos e Vila Chã como se
o dia não estivesse completo sem
eles.
Imagem da Senhora da Misericórdia
(Século XIV-XV). É uma imagem em pedra
(calcário branco) pintada. Traja vestido
rosa, capa ou manto azul e calça botinas
castanhas. É Senhora orante, coroada, em
pé, de mãos juntas em oração
Setembo 2008
ƒ Procissão no local de origem e
junto do Santuário, sem a presença
de pároco, com bandeira e guião ou
estandarte, acompanhado pelo ritmo
da gaita-de-foles. E se não há gaiteiro, a música é transmitida pela
aparelhagem que segue num dos
tractores (antigamente eram carros
de bois ou carroças), mas sempre o
som da gaita-de-foles, esse instrumento marca das nossas origens
celtas.
ƒ Três voltas às igrejas da freguesia
de origem e três voltas ao santuário,
tanto à chegada como à partida,
Boletim N.º 8
Painel de azulejos do século XX. Encontrase na Fonte do Rastinho e representa a Senhora e o pastor no momento do encontro.
Senhora intercessora, coroada, de pé, descalça, e de braços abertos, estendidos, para receber e abençoar.
Os círios à Senhora da Misericórdia
não lançam loas mas, no momento da
despedida, vêem-se as pessoas saudarem-se com carinho e já com
saudades “até para o ano com a
graça da Senhora da Misericórdia”.
„ Isabel Mateus
5
Museu da Lourinhã
Os plesiossauros, os senhores dos mares mesozóicos
Os plesiossauros são um grupo de répteis marinhos que
viveram no era Mesozóica, entre os 220 milhões de anos e
os 65 milhões de anos atrás, tendo-se extinto ao mesmo
tempo que os dinossauros.
Apesar do nome também terminar em “ssauros” e de
serem contemporâneos dos dinossauros, são apenas
primos muitíssimo afastados destes últimos. Além disso,
os plesiossauros dominaram os mares, enquanto que os
dinossauros dominavam a terra durante o Mesozóico.
Com cauda curta, corpo largo e barbatanas poderosas, os
plesiossauros manobravam as barbatanas de forma a
nadarem com uma técnica algo semelhante à
dos pinguins de hoje,
que parecem voar dentro
de água.
Os plesiossauróides eram piscívoros, isto é, o seu regime
alimentar era essencialmente constituído por peixe. Para
caçar o peixe percorriam os oceanos e perseguiam os
peixes com o seu enorme pescoço flexível, capturando-os
com a boca. Esta estava munida de dentes finos e
recurvados para trás, com fiadas de estrias verticais, de
modo a segurar bem os fugidios peixes.
No Cretácico superior (no fim da era Mesozóica) os
plesiossauros começaram a ter a companhia de outros
gigantes dos oceanos mesozóicos, os mosassauros. Estes
répteis eram aparentados aos lagartos monitores, dos
quais o actual Dragão de Komodo é um magnífico
exemplo.
Locomoviam-se
de
forma
distinta
pois
usavam o ondular da
sua enorme cauda
achatada lateralmente
para propulsar o corpo
estreito, enquanto que
as barbatanas eram
pequenas e eram utilizadas essencialmente
para mudar de direcção.
Existiram dois grandes
grupos de plesiossauros:
os pliossauros, com o
pescoço curto e cabeça
grande, e os plesios-sauróides de pescoço
comprido e uma cabeça
pequena.
Ilustração de Xavier MacPherson, Espanha, para o Concurso Internacional de
Em Portugal há muito
poucos vestígios de
plesiossauros.
A forma que a maioria
Ilustração de Dinossauros, 2002
das pessoas mais facilmente associa a um plesiossauro é o mitológico monstro Para saber mais sobre estes animais pode consultar o
resumo sobre os répteis Mesozóicos marinhos (ictiosde Loch Ness.
sauros, plesiossauros e mosassauros) de Portugal: Short
É curioso que muitas vezes tenhamos de recorrer a uma
figura mitológica de um animal que não existe e nunca
existiu, como o deste lago escocês, para explicarmos o
que é um plesiossauro, um animal que existiu, de facto, há
milhões de anos.
review on the marine reptiles of Portugal: ichthyosaurs,
plesiosaurs and mosasaurs. Journal of Vertebrate Paleontology.
Journal of Vertebrate Paleontology, 27(suppl. to 3): 57A.
Também disponível em
http://omateus.googlepages.com/JVP07_supplement_to_3.pdf
„ Octávio Mateus
A propósito …
“Evolução e Criacionismo - uma relação impossível”
Autores: Octávio Mateus, Augusta Gaspar,
Teresa Avelar e Frederico Almada
Editor: Quasi Edições
Colecção: dragões do éden
ISBN: 9789895523078
Ano de Edição/ Reimpressão: 2007
N.º de Páginas: 448
Encadernação: Capa mole
Dimensões: 16 x 23,5 x 3,5 cm
O número 2 inclui um artigo sobre “Fraudes, mistificações
e Frankensteins: como distingir imitações de fósseis
genuínos de vertebrados”
Ver em http://www.jpaleontologicaltechniques.org/index.html
Não perca o próximo número.
Traz uma interessante
surpresa!
6
Este livro é mais um contributo para o
debate entre o método científico – a mais
aperfeiçoada ferramenta de que a Humanidade dispõe para
conhecer a realidade – e o chamado criacionismo científico que,
apesar do nome, não segue o método científico. „ Editor
Boletim N.º 8
Setembro 2008
Museu da Lourinhã
Bolsa Fulbright atribuída a jovem investigador do
Museu da Lourinhã
Ricardo: O projecto de investigação será enquadrado
programa de mestrado. Estes demoram, em geral,
O Boletim soube num
dois anos e compreendem também uma componente
que o jovem paleontólogo Ricardo Araújo
– que além de colaborador do Museu contribui
regularmente
para estas páginas –
tinha ganho uma das
prestigiadas
Bolsas
Fulbright e foi conversar com ele (ver caixa
com uma breve descrição do programa
Fulbright).
Boletim: Parabéns por esta Bolsa, que é também um
reconhecimento do teu mérito. E obrigado por teres
acedido a falar sobre este tema.
Ricardo: Obrigado! Tenho todo o prazer. Parece-me
importante aceder a esta entrevista. Uma vez que o
Museu está a apoiar estudantes e, se estes são
reconhecidos de alguma forma, faz sentido que "esta
nossa casa" seja igualmente reconhecida.
lectiva.
Existem ainda várias hipóteses na mesa relativamente a
onde realizar o mestrado. A Southern Methodist University
é uma hipótese, têm vários cientistas versados na matéria
(Michael Polcyn e Louis Jacobs) e um laboratório de
visualização muito sofisticado. A Universidade do Texas
em Austin é também uma hipótese interessante, eles são
mundialmente famosos em técnicas de tomografia,
essencial para a modelação em elementos finitos.
Ou ainda a Ohio State University, onde está Larry Witmer
que é um dos melhores especialistas mundiais em
reconstituição de tecidos moles (e.g. músculos) em
tetrápodes (chamam-se tetrápodes todos os seres com
quatro membros individualizados),
B: Quais são os teus objectivos para este projecto? Qual a
importância para a tua carreira?
Ricardo: Primeiro: complementar a minha formação
académica; segundo: refinar os meus interesses na
paleontologia; terceiro: o projecto científico per se; quarto:
ampliar as minhas valências técnicas na paleontologia;
quinto: ampliar a carteira de contactos de paleontólogos.
B: Qual o projecto que apresentaste e te fez ganhar?
Ricardo: Começando do princípio, desde sempre estive
interessado em paleontologia... quase desde que nasci. Em conjunto permitir-me-ão fazer mais e melhor ciência e
No entanto, a minha formação académica saiu um pouco aumentar a minha colaboração em trabalhos científicos.
ao lado do habitual percurso para um
aspirante a paleontólogo: formei-me em
O Programa Fulbright
Engenharia Geológica. Usualmente são
biólogos ou geólogos que então se tornam
O programa Fullbright promove e apoia o intercâmbio de alunos e
paleontólogos.
académicos em todo o mundo. Abrange 155 países e conta já com mais de
286 mil participantes, cerca de dois terços dos quais de fora dos E.U.A.
No entanto, em vez disso ser uma
desvantagem procurei apresentar este caso
aos avaliadores da Comissão Fulbright como
uma mais-valia.
Foi um pouco esta a ideia base do meu
projecto: combinar ideias de engenharia com
paleontologia. Daqui resulta um híbrido
chamado morfologia funcional. Estes dois
“palavrões” compreendem a ciência que se
dedica a descobrir a função examinando a
estrutura. Por exemplo: estrutura => osso;
função => locomoção.
Foi criado em 1946 por iniciativa do Senador do Arcansas J. William
Fullbright, sendo hoje da responsabilidade do Gabinete de Assuntos
Culturais do Departamento de Estado dos E.U.A. Todos os anos são
atribuídas cerca de 7.000 bolsas, numa competição aberta, baseada no
mérito e conduzida por comissões bilaterais em cada país.
Os bolseiros têm um papel importante na troca de ideias e saberes,
experiências e conhecimento mútuo dos povos.
Informação completa pode ser obtida no site oficial do programa em:
http://fulbright.state.gov/
O meu projecto, em particular, é extrair informação sobre a
mastigação (função) dos ossos mandibulares (estrutura)
em dinossauros ornitópodes 1 , através de um conjunto
particular de ferramentas de engenharia (análise de
elementos finitos).
B: Quanto tempo vai durar este projecto, onde é?
1
B: Tens alguma mensagem para as e os futuros
aspirantes a paleontólogos?
Ricardo: Tenho sim. Por mais tortuoso que seja o caminho de um jovem paleontólogo, se se transbordar paixão
pela paleontologia, então haverá um lugar reservado para
ti!
E depois… há sempre tanto por fazer, tanto por escavar,
tanto por escrever, que o que é preciso é arregaçar as
mangas e meter mãos à obra! „ Editor / Ricardo Araújo
Ver o artigo “Investigando a alimentação dos dinossauros ornitópodes”
no Boletim Nº 5, Junho de 2008.
Setembro 2008
Boletim N.º 8
7
Museu da Lourinhã
Ilustração Paleontológica
II – Reconstituição em forma de vida
Paimogo no Jurássico
Autor: Alan Lam, Menção Honrosa CIID 2005
No desenho paleontológico podemos falar sobre a reconstituição em
forma de vida de dinossauros, ou
outros animais extintos, tais como os
pterossauros, trilobites ou os mamutes.
Se desenharmos um dinossauro com
músculos e pele, e vamos cingir-nos
a estes animais, sem enquadramento
ambiental, isto é, paisagem, temos de
ter uma série de cuidados. Por exemplo:
ƒ
As articulações tem de estar no
local correcto e dobrarem-se para
o lado certo, se não correremos o
risco de representarmos um
dinossauro de perna partida;
ƒ
Não cortar ossos a meio, isto é,
se existe um osso pélvico “a sair”
na cintura, temos de contar com
ele quando “preenchemos” de
pele aquela zona do animal;
ƒ
Respeitar as diversas proporções
do animal; e,
ƒ
Não o colocar em posições pouco
naturais (duvido que os dinossauros fizessem yoga).
momento e não são claras nos artigos.
A única coisa que actualmente se
pode inventar com segurança é a sua
cor.
Quando estes se representam enquadrados numa paisagem então, além
do atrás descrito, é essencial ter em
consideração mais uma série de
factores:
ƒ
O local do animal não pode ser
actual, por exemplo, não se vai
utilizar a foz do rio da Lourinhã
para fundo da paisagem;
ƒ
As outras espécies representadas
têm de ser contemporâneas do
animal, por exemplo, não vale pôr
plátanos com Allosauros.
No entanto, ao fazer ilustração paleontológica, é no desenho em forma
de vida que existe maior liberdade
estética.
Numa ilustração também existe bibliografia: são as obras consultadas que
podem ser escritas ou gráficas.
As escritas (trabalhos científicos)
revelam-nos o que realmente foi
encontrado deste animal, o esqueleto,
classificação, o regime alimentar,
locomoção ou outros dados
relevantes.
A bibliografia gráfica serve para
vermos como é que já se
realizaram os desenhos das
espécies em questão, os erros
que foram cometidos, as diversas interpretações, o que funcionou bem e os defeitos que nos
“ferem a vista”.
Reconstituição de Dacentrurus com estudo
esquelético
Autor: Simão Mateus
8
A ajuda de um paleontólogo é
também uma mais valia, pois há
sempre questões que surgem no
Boletim N.º 8
Se falarmos de uma ilustração de um
animal com informação adicional, um
esquema, por exemplo, é ainda mais
perceptível a necessidade de um
conhecimento científico profundo
Bibliografia de Torvosaurus
Autores: Octávio Mateus, Aart Walen
e Miguel Telles Antunes
Autor das Ilustrações: Simão Mateus
Nota: É a bibliografia que deu origem
ao crânio que está exposto
Conseguimos apercebermo-nos da
utilidade “máxima” de um desenho de
dinossauro quando, através deste,
vemos esclarecidas questões, encontramos alternativas a hipóteses que
estavam “estagnadas”, ou refutamos
ideias que não consideramos serem
mais viáveis.
A outra área de acção do desenho
paleontológico é a ilustração de fósseis. Esta tem um mercado específico
para os trabalhos científicos e esquemas de exposições.
Sobre as suas regras e particularidades falaremos no próximo artigo.
„ Simão Mateus
Setembro 2008
Museu da Lourinhã
Concurso Jovem – Paisagem Jurássica
A paisagem jurássica que serve
de tema ao concurso jovem deste
mês foi pintada pelo Ucraniano
Vladimir Bondar, tendo ganho o 1º
prémio do 2º Concurso Internacional de Ilustração Científica (2002),
promovido pelo Museu da Lourinhã.
Representa um ninho com vários
ovos de Eustreptospondylus e um
bebé acabado de nascer, que a
mãe observa com cuidado.
Do lado direito da gravura estão
dez pequenos detalhes extraídos
da ilustração. És capaz de descobrir de onde vieram?
Se tens menos de 17 anos
fotocopia ou imprime esta página.
Assinala na gravura o local de
cada detalhe, fazendo um círculo
à sua volta, e liga-o por um traço à
imagem do detalhe, na coluna da
direita.
Imagem: Eusteptospondylus por Vladimir Bondar, Ucrânia (2002)
Preenche os dados da ficha e
entrega-a na Loja do Museu ou
envia-a por correio para a morada
indicada.
No dia 14 de Novembro de 2008
será atribuído um prémio à
primeira entrada correcta extraída.
O vencedor será contactado directamente, e o seu nome anunciado no próximo número do
Boletim (caso seja autorizado).
Boa sorte!
Nome: _______________________________________________________________
Contacto: _________________ Idade: _____ Escola: ________________________
Encarregado de Educação ou Tutor:
Nome: _______________________________________________________________
Contacto: ____________________ Assinatura: ______________________________
Envia para:
Concurso Jovem - Paisagem Jurássica
Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã
Rua João Luís de Moura
2530-157 Lourinhã
Portugal
† Sim / Não autorizo a
publicação do meu nome e/ou
da minha fotografia no Boletim
do Museu da Lourinhã
Concurso Jovem – O quê? Sem electricidade
No artigo “Profissões desaparecidas
- O Petrolino”, publicado no Nº 6 do
Boletim, podiam encontrar-se palavras referentes a dez dos utensílios
da profissão de Petrolino, ilustrados
na imagem da direita.
Solução:
1) Balança;
2) Cabeceira;
3) Bilha;
4) Almude;
5) Caixa pesa-sais e
pesa-espíritos;
6) Medidas;
7) Faca;
8) Espátula;
9) Corneta;
10) Matrícula;
11) Chapa de licença;
12) Guizeira;
13) Marreca de petróleo;
14) Barril de aguardente;
15) Marreca de azeite;
16) Bomba de transfega
São eles, enumerados pela ordem
em que aprecem no texto: corneta,
marreca de petróleo, chapa de
matrícula, marreca de azeite,
medida, faca, balança, barril de
aguardente, cabeçada e guizeira. A
medida e a corneta aprecem duas
vezes.
Desta vez ninguém conseguiu
acertar nas oito palavras, mas aqui
fica a solução.
Setembro 2008
Boletim N.º 8
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Museu da Lourinhã
Visite a
j
Canetas, borrachas e lápis originais
(e muito, muito mais)
Marca a diferença no regresso às aulas!
Porque não uma caneca
com o teu dinossauro favorito?
Aqui está um presente
para todos
os gostos:
CHEQUES-BRINDE!
Entrada independente pela Rua dos Aciprestes
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Boletim N.º 8
Setembro 2008