manifesto azeviche à associação comercial do

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manifesto azeviche à associação comercial do
CENTRO CULTURAL HUMAITA
CENTRO DE ESTUDO E PESQUISA DA CULTURA E ARTE AFRO-BRASILEIRA
MANIFESTO AZEVICHE À ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PARANÁ
Subsídios para a compreensão do Dia da Consciência Negra - 20 de novembro
Curitiba, 8 de agosto de 2014
Prezado Sr. Edson Ramon
Presidente da Associação Comercial do Paraná
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Teotônio Vilela nos ensina
Temos todos por ação ou omissão,
estímulo ou incompreensão,
a responsabilidade dos fatos da História.
1
Feriado de 20 de novembro
Em Curitiba
Dia da Consciência Negra
Política afirmativa
Enfrentamento do racismo estrutural, institucional e velado
No Brasil
Uma luta de Davi contra Golias
Segue manifesto de repúdio
à suspensão do feriado
pela Associação Comercial do Paraná e SINDUSCON
Sindicato de Empresas da Construção Civil.
Com alguns subsídios para a compreensão da importância do
feriado
A partir de algumas efemérides de maio e de novembro
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Temos 256 dias úteis e 9 feriados nacionais
A 160 milhões cada
A nossa economia perde todos os anos 1 bilhão 440 milhões
com esses feriados?
E a ACP nunca disse nada?
Ano Novo, Sexta Feira Santa, Tiradentes, Dia do Trabalho,
Independência,
Nossa Senhora de Aparecida, Finados, Proclamação da
República e Natal.
Mais os feriados municipais...
Cerca de 640 milhões perdidos
Dia da Fundação de Curitiba, em 29 de março
2
A ACP disse que o feriado representaria
Uma perda de 160 milhões para a economia
E alegou incostitucionalidade
Da Lei Municipal 14.224/2013
Aprovada por unanimidade na Câmara de Curitiba.
Pensávamos que a nossa casa de leis tinha autonomia
Que ironia
A voz do dinheiro falou mais alto
Quem manda são os empresários
Não a vontade popular
Que os nossos Vereadores e Vereadoras representam
E a justiça cega mais uma vez não viu os interesses do povo
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Dia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, em 08 de setembro
Corpus Cristi e Carnaval, em datas móveis
E a ACP só se manifesta para suspender o Dia da Consciência
Negra?
Por quê? Para garantir que a consciência permaneça como
está?
O polêmico Dia da Consciência
Digno de uma sociedade pós-escravocrata...
Incapaz de olhar para os resultados
Das políticas excludentes que engendrou
E admitir reparações
Vamos aos fatos...
No mês de Maio meu brado não é solitário
Tem denúncia pra todo lado
Primeiro
O Dia Mundial do Trabalho
O que aconteceu com aquela multidão
De trabalhadoras e trabalhadores
Índios e negros escravizados
Que enriqueceram
Os senhores dos engenhos, os barões do mate, dos cafezais...
Exploradores criminosos
Do labor destes sujeitos
Hoje invisibilizados
Sorrateiramente apagados dos livros de história
E o senhor acha que não deve...
Haver feriado
Foram muitos os serviços prestados
Registrados na memória
Quantos serviços de preto e de pretas foram feitos
E desconsiderados com a piadinha citada?
Até hoje não indenizados...
Por que?
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A Associação Comercial do Paraná saberia me responder?
Quantos morreram labutando para o Brasil se desenvolver
Quantos foram torturados pelos patrões armados
Quantos carregadores humanos
Quantos faiscadores
Quantos ervateiros
Quantos peões tropeiros
Ferreiros, carpinteiros, marceneiros
Quantos lanceiros negros
Quantas amas de leite
Quantas cozinheiras...
Agricultores, seleiros, curandeiros
Quantos arquitetos
Quantos Voluntários da Pátria...
Quantas cidades levantadas pelas mãos
De trabalhadores
Homens e mulheres escravizados
Muitos países e famílias enriqueceram com esta atrocidade
Às custas dos nossos braços fortes... Nossa humanidade
É totalmente insano desconsiderarem este valor
Ficar rico com a dor alheia pesa
Somente com muita reza
Políticas afirmativas e conscientização
Pra curar esta chaga... Na história
E na alma dos herdeiros
Das capitanias hereditárias
Dia 2 de maio de 1925
Nasce na Bahia, Maria Stella de Azevedo Santos
Mãe Stella de Oxossi,
Uma das mais importantes Yalorixás
Sacerdotisa do Ilê Axé Opô Afonjá
Terreiro de Candomblé tombado pelo IPHAN
Patrimônio da Cultura Brasileira
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Não podemos esquecer
Os nossos terreiros
Foram a primeira forma de organização social dos negros
E negras
Migrados a força para o território brasileiro
Espaços de Religião
E não de folclore, ritos gentílicos, seitas, animismo, “religião
primitiva”
Como muitos tentam insistir nesse país
Lembro que no dia 3 de maio
Nasceu Milton Santos, homem negro
Que revolucionou a geografia (1926-2001)
Ele nos ensina que descolonizar é olhar o mundo
Com nossos próprios olhos
Em 3 de maio de 1865
A ordem de São Bento instituiu o regime do "Ventre Livre"
nas suas propriedades. Anos mais tarde seria instituída a Lei
do Naciturno,
ou Lei Rio Branco, como era conhecida a Lei do Ventre Livre
Amplamente desrespeitada...
Uma nova geração nasceu e, embora declarada livre,
Da tal “liberdade” só usufruia após os 21 anos de idade
Salve os Erês! São Cosme e São Damião!
Como salvá-los dos leilões públicos?
Lembro do dia 8 de maio dedicado às mulheres
Às nossas mães pretas santas guerreiras
As que mais sofreram no holocausto da escravidão
Holocausto sim
Que rendeu milhões
Para os barões escravocratas e senhores de engenho
Dia 12 de maio, dia da mulher escravizada Anastácia
Martirizada e mitificada
Beleza negra indignada, violência banalizada, voz sufocada
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Dia 18 de maio, dia da criação do Conselho Nacional de
Mulheres Negras
A amnésia coletiva é gritante
Esquecem a luta dessas Deusas de Ébano... Nossos
diamantes
O Senhor Edson José Ramon
Presidente da Associação Comercial do Paraná
Que barrou na justiça o feriado do Dia da Consciência Negra
Aprovado por unanimidade
Pela Câmara dos Vereadores e Vereadoras de Curitiba
Afirmou por meio da imprensa
Que reconhece a importância desta data
É a favor de atos cívicos que a engrandeçam e façam
justiça...
Agora fica a pergunta
Quais atos cívicos a ACP indica?
Quais?
Para realmente fazer justiça a importância destes
trabalhadores
E trabalhadoras
Gerações de homens e mulheres violentadas
Que geraram milhões para os escravocratas
Negros enforcados, degolados, chicoteados,
Negras abusadas, supliciadas, chacoteadas
Privadas da sua religião, da sua língua materna, de suas
famílias,
De suas terras, até hoje privados, do aprendizado de suas
histórias nas escolas...
De suas vidas
Para garantir o máximo de enriquecimento aos escravocratas?
Aos Senhores dos engenhos? Aos Barões e Baronesas?
Quais atos fariam justiça a esse povo?
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À memória dessa população que permaneceu por cinco
séculos
Excluída
Pela “justiça” que protege os Vossos interesses
Em detrimento da comunidade afrodescendente
Da criação de mecanismos de acesso a seus direitos de
cidadania
Aos currículos escolares
Índios e índias, negros e negras
Essa “minoria” de 24% de curitibanos
Mais de 30% de paranaenses
E 52 % dos brasileiros?
O que diria a consciência do Sr. Presidente?
Zelosa dos interesses da centenária Associação Comercial do
Paraná
Quanto a ACP estaria disposta a investir
Em ações que realmente engrandeçam a memória
A cultura, a história, dos verdadeiros heróis nacionais
invisibilizados
Agora que economizou 160 milhões
Barrando provisoriamente o feriado na justiça
Do Dia da Consciência?
13 de maio não é dia do negro
É o Dia Nacional de Denúncia ao Racismo
13 de maio
Dia dos pretos e das pretas velhas... Nossos ancestrais
E quiseram nos empurrar goela abaixo
A alva princesa redentora boazinha
Que assinou aquela lei de uma linha
Esqueceram das nossas lutas, levantes, guerras, insurreição,
rebeliões
Contra o sistema vigente... Explorador e criminoso.
Pela liberdade
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Por humanidade
Esqueceram que quebramos as algemas no dente
E apenas 8% dos afrodescendentes
Ainda estavam sob o regime das correntes
No dia 13 de maio a velha mídia só ressalta
O dia do zootecnista/veterinário e de N.S. de Fátima...
Esquecem que hoje em dia ainda temos que lutar
Contra os pentecostais/neopentecostais...
Que a todo custo querem nos demonizar
Ingenuidade ou maldade?
Não aprenderam nos seus cursos de teologia
Que os seus demônios e infernos não existem na nossa
liturgia?
Só em 1999 a Igreja Católica
Reconhece que o afrodescendente tem alma
Ocasião em que o Papa pediu perdão à África
Pois não queria adentrar o novo milênio
Com esta mancha em sua sacra história
Ainda hoje temos que quebrar as amarras mentais...
Que prendem o imaginário coletivo
Ao ridículo e grotesco racismo
E sua linguagem simplória
Esqueceram quantas pessoas foram mortas?
Senhor Presidente não foi uma, não foram cinco...
Foram milhares de famílias afrodescendentes e indígenas
Desestruturadas com a conivência do Estado e da Igreja
E continuam sendo...
Pergunte pras mães pretas paranaenses
O que acontece com a nossa juventude negra...
Ainda me lembro que
O Brasil foi o último país a abolir a escravidão
Os senhores escravocratas
Quiseram aproveitar até a última gota de sangue e suor
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Das suas peças...
Não se consideravam criminosos
Ao contrário
Muitos viraram até heróis nacionais
Talvez por isso historiadores do Estado do Paraná
Não sintam a menor vergonha em tentar apagar a
contribuição
Dos nossos irmãos e irmãs melaninados
Que tanto trabalharam, contribuíram
Com braços, técnicas, conhecimentos
Na mineração, no tropeirismo, na plantação,
Nos engenhos de mate e na edificação
Das nossas cidades históricas
Paranaguá, Antonina, Morretes, Curitiba, Lapa, Castro...
Agem como se ninguém soubesse
Que os afrodescendentes são uma das etnias fundantes...
Chegamos antes dos imigrantes
A todo instante endeusados pela velha mídia
E o povo negro constantemente desumanizado
O historiador e crítico literário Wilson Martins,
Expoente da eugenia paranaense, por exemplo, escreveu
Se referindo ao estrondoso sucesso de Carolina de Jesus
Que comemora seu centenário este ano, junto com Abdias do
Nascimento
“Daqui a pouco qualquer um vai querer publicar livros”
Não enxergou nela
A brilhante escritora negra
Carolina Maria De Jesus
Catadora de papel usado
Porque era mulher, negra, semi-alfabetizada, favelada,
sofrida
Conseqüência social maldita
Do escravismo criminoso
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Que abandonou uma multidão a sanha da perseguição policial
Após a falsa Abolição
Não conseguiu perceber, eugenista que era
Que seu livro Quarto de Despejo foi reimpresso oito vezes na
época
Traduzido para 14 idiomas e publicado em mais de 40 países
Com mais de um milhão de cópias vendidas até 2009
Como bem disse o escritor, senador e ativista contra o
racismo
Abdias do Nascimento, em 28 de maio 1988
"Em nome desse racismo maldito,
somos relegados a segundo plano na sociedade.
Por isso, nossa luta deve ser solidária, tolerante
e aberta a todos os que combatem a discriminação e o
racismo. Invariavelmente, encontramos companheiros
brancos e negros
nessa mesma batalha. Nós não queremos
construir uma sociedade de negros contra brancos,
ou vice-versa, mas sim de todos".
Um grande desafio para todos os municípios paranaenses
Que em silencio fortalecem o racismo
E a desidentidade nacional
Esquecem que também somos raiz da história deste Estado
Que ajudamos a abrir os caminhos
Para os senhores...
400 anos
Antes dos imigrantes chegarem
Protegidos por políticas de valorização
Receberem cotas de sementes, terras e ferramentas
Se tornarem os futuros assalariados
Em detrimento dos melaninados
“Libertados”
Excluídos
Marginalizados
E a mídia, conivente, só reforça: marginais, excluídos
Estampados nos jornais... Em estado vexatório
Nada de positivo
Para a identificação das nossas crianças, dos nossos jovens
Sobre quem éramos em nossas terras
Caçadores, agricultores, sacerdotes, professores,
Diplomatas, guerreiros, poetas, princesas, reis e rainhas,
Arquitetos, filósofos, ferreiros
E ainda somos
Os pós-escravocratas
Ainda lucram com nosso trabalho, nossa cultura, nossos
impostos
E falam mal do nosso cabelo,
Do nosso corpo, da nossa religiosidade, da nossa pele...
Esquecem nossos direitos, nossa resistência, nossa cidadania
Com seu sutil neo-escravismo
Impedem a celebração da nossa histórica consciência...
Nossa verdade
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14 de maio de 1835
Os líderes da Revolta dos Malês são fuzilados
Os libertos Jorge da Cunha Barbosa e José Francisco
Gonçalves
E os escravizados Gonçalo, Joaquim e Pedro
17 de maio de 1954
Nos Estados Unidos a Suprema Corte
Bane a segregação racial em escolas públicas
17 de maio de 1986
A gaúcha Deise Nunes de Souza é coroada
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Quem são os maestros invisíveis que orquestram esta
balbúrdia?
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A primeira Miss Brasil negra
18 de maio de 1987
O arcebispo sul-africano Desmond Tutu,
Prêmio Nobel da Paz em 1984, visita o Brasil
19 de maio de 1925
Nasce Malcoln X, o fundador movimento Black Muslims
(Muçulmanos Negros)
25 de maio de 1972
Dia Mundial da Libertação da África...
Exceto em Curitiba, onde tem festa italiana
Mia Cara Curitiba, em 25 de maio
Desde a travessia do atlântico
A tentativa de apagar a memória do povo
É um instrumento de dominação dos senhores
Pois sabem que a maior alienação do ser humano
É o desconhecimento da própria história
E a crença em uma história inventada
Curitiba comemora o 25 de maio
Mostrando que o processo de europeização continua a todo o
vapor
Embranquecendo a capital mais negra do sul do Brasil
Os veículos comunicadores de massa
Não falam da contribuição dos afrodescendentes
Nem em nota de roda pé
Mas para os imigrantes europeus é aquele escarcéu
E os meios de comunicação manifestam a sua visão e o seu
cinismo
Nos mostram que o racismo institucional está estruturado
É olhos azuis, cabelo liso e pele branca pra todo lado
Até Jesus é loiro (sic!)
Homens bons... Brancos engravatados
Apoiados nas 399 prefeituras do nosso Estado
Promovendo a desidentidade nacional
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Disseminando o racismo estrutural/institucional/velado
Silenciosamente a luz do dia, ocultando a diversidade...
Com o apoio da mídia apagando a memória ancestral da
sociedade
Catequizando e incitando o ódio em horário nobre
Demonizando as religiões de matriz africana
Idiotizando a população... Achincalhando
Chegam a fazer campanha dizendo que somos todos macacos
Que o cabelo da mulher negra parece vassoura de bruxa
Um senhor de pele escura
E de cabelos enrolados como lã de ovelhas dizia
CONHEÇA A VERDADE E ELA VOS LIBERTARÁ
Em 1891 a nova constituição separa a igreja Católica do
Estado
Mas em 13 de maio de 2014
O nosso Estado laico ainda é católico
E no passado a Igreja também foi conivente com a escravidão
Não manifestou apoio a luta dos afrodescendentes...
Nem uma única palavra
Como os veículos comunicadores de massa
Não dizem nada sobre os homicídios de sacerdotes e
sacerdotisas negras
Sobre a violência corriqueira
Contra a mulher negra
Contra o homem negro
Sobre a destruição dos nossos Terreiros
Nossos templos
Sobre o genocídio da juventude negra
Com certeza os policiais se tornariam insubordinados
Se estudassem mais e percebessem o grotesco da catástrofe
social
50 mil jovens mortos a bala...
75% deles afrodescendentes
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Gostaria de ouvir a sua fala Senhor Presidente
126 anos após a abolição ainda estamos na lida
Lutando por educação
Por isonomia
Sensibilizando, denunciando, produzindo conteúdos...
Que representem nossa ancestralidade presente
Preparando uma moçada segura e contente
Pra continuar esta luta por humanidadade
Pra reverter tantas políticas eugenistas
De uma Curitiba política e socialmente atrofiada...
Sinceramente equivocada
Que não se questiona
Que não sente
Continua louvando somente os imigrantes
Nega seus negros
600 mil afrocuritibanos
3 milhões de afroparanaenses
52% dos brasileiros
Que se declaram afrodescendentes...
E mesmo com o genocídio da nossa juventude
Este número só tende a crescer...
O Presidente da Associação Comercial do Paraná
E sua alva diretoria
Ficariam rubros de vergonha
Se voltassem pra sala de aula estudar...
Pois na sua época não existiam
As leis 10.639/03 a 11.645/08
Hoje
As novas gerações começam a compreender
A contribuição da população negra e indígena
No desenvolvimento da história social/industrial/comercial do
Paraná
Se os senhores tivessem a oportunidade de aprender
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Pensariam duas vezes
Antes do importante feriado da consciência negra
Provisoriamente suspender
13 de maio
Não é dia de negro
É dia de denunciar o racismo
O nosso dia é o 20 de novembro
Nossa Consciência Negra
Nossa memória guerreira, vencedora...
Nosso rei não é Dom Pedro
É Xangô... É Zumbi
Nossa Princesa não é Isabel
É Princesa Dandara
É Rainha Nzinga
Em novembro, primeiro
Celebramos nossos antepassados
Dia dos Finados
Eguns
2 de novembro, dia de todos os santos
Orixas e N’kises
8 de novembro de 1799
Execução dos líderes da Revolução dos Alfaiates
10 de novembro de 1969
O Governo Médici proíbe a imprensa brasileira de noticiar
Os indígenas, o esquadrão da morte, a guerrilha
O movimento negro e a discriminação racial
11 de novembro de 1975
Dia da independência de Angola
11 de novembro de 1980
Dia da independência do Zimbabwe
13 de novembro
Morre Mestre Vicente Ferreira Pastinha (1889-1981)
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Criador da primeira escola de Capoeira Angola do Brasil em
1910
15 de novembro
Dia nacional da Umbanda
Lei 12.644/2012, religião brasileira
19 de novembro de 1890
Despacho de Rui Barbosa ordenando a queima dos livros e
documentos
Referentes a escravidão negra no Brasil
20 de novembro
Dia da Consciência Negra,
Em referência ao Herói
E exemplo Nacional
Zumbi dos Palmares
Assassinado em 1695
Após um século de resistência do Quilombo dos Palmares
Contra a criminosa escravização de seres humanos
Para o enriquecimento ilícito
Porém oficialmente legitimado e abençoado
Dos Barões brasileiros e estrangeiros
20 de novembro de 1995
Dia da Marcha Zumbi dos Palmares
Contra o Racismo pela Cidadania e a Vida
22 de novembro de 1910
A Revolta da Chibata
Liderada pelo Almirante Negro João Candido
Precipita a abolição dos castigos físicos na marinha do Brasil
23 de novembro de 1899
Nascimento de Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba
Criador da Capoeira Regional
Reconhecida como luta nacional em 1937
Por Getulio Vargas que revoga uma Lei de 1890
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Apesar de ter sido linha de frente na Guerra do Paraguai
(1864-1870)
Como Voluntário da Pátria
O capoeirista era considerado marginal e perseguido pela
polícia
Mas hoje a capoeira está em todos os Estados brasileiros
Em mais de 180 países nos cinco continentes
Com mais de sete milhões de praticantes
É a arte que mais divulga a língua portuguesa no mundo
Registrada no IPHAN desde 2008
Como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira
24 de novembro de 1861
Nascimento do afrocatarinense Cruz e Souza
O maior poeta simbolista do Brasil
Brilhante, porém negro em uma sociedade racista
25 de novembro
Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher
Na memória afetiva dos negros e negras em movimento
Permanece o legado da Rainha N’zinga N’bandi
Do Reino da Matamba – Angola (1583-1663)
Que no século XV já lutava contra a opressão portuguesa
Lembramos Chico Rei
O primeiro a organizar a festa dos Reis Congos em 1741
Como forma de agradecer Santa Ifigênia, São Benedito, São
Elesbão...
E Nossa Senhora do Rosário...
A quem foi dedicada a primeira Igreja construída no Brasil
Na cidade Paranaguá, por africanos escravizados
E a segunda construída em Curitiba, por volta de 1737
Pelos negros e para os negros
Hoje entregue para a Ordem Jesuíta
Que na época soube se posicionar e também lucrou
Com o holocausto da escravidão
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Duas congadas ali existiam
De imensurável valor para a posteridade do povo paranaense
Legado dos negros Bantus escravizados na capital
Hoje preservada
Temos apenas a Congada assentada na histórica cidade da
Lapa- PR
Com o santuário de São Benedito
O maior do mundo dedicado ao Santo Negro
Erigido no local do antigo Pelourinho lapeano
Lembramos
Que em 2014
A Fazenda Capão Alto, em Castro-PR
Comemora os 150 anos da maior rebelião
De escravizados do Brasil Império (1864)
Resistência negra quilombola no Paraná
Como nas mais de 90 comunidades quilombolas
Já localizadas
Quase 40 delas já certificadas pelo Governo Federal
Algumas com mais de 200 anos de história
Como a de João Surá, em Adrianópolis
(R)existindo antes mesmo da ACP pensar em se organizar
Pra defender seus interesses com veemência
No Estado mais negro do sul do Brasil
Que se pensava Europeu
Nos invisibilizava
E dizia que não existiam negros e negras no Paraná
Os nossos historiadores terão que recontar a História
Incluindo a população afrodescendente
Como já estão fazendo os historiadores conscientes do Brasil
E de toda a Diáspora Africana no mundo
Temos história
Temos o Estatuto da Promoção da Igualdade Racial (Lei
12.288/10)
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Temos curriculum e moral para reivindicar um feriado
nacional
Temos inclusive o feriado do dia 20 de novembro
Dia da Consciência Negra, Lei Municipal 14.224/13
Que foi barrado em nossa capital
Pela miopia conceitual de vossa senhoria e sua alva diretoria
Não é mais um feriado
Pra ir a praia se bronzear
É um clamor de justiça do povo afrobrasileiro
Um dia oficial para a reflexão dos educadores,
Mestres, políticos, polícia, empresários de todos os segmentos
É um feriado de auto-afirmação, de auto-estima,
De compreensão e construção do respeito...
Onde foi plantado o racismo e o preconceito
Para os jovens de todas as etnias
Que compõem o mosaico do povo brasileiro
Importante para a reflexão do povo afrodescendente
E da nação inteira
Para as nossas municipalidades, os gestores públicos,
Intelectuais que pensam o País e o Estado do Paraná
Que o façam de maneira responsável
A ACP pode compreender isso
Pois sabe a dor de ser excluída da história
Durante 40 anos foi proibido mencionar
O nome do criador da sua instituição
Que em 2008 ressurge como heroi nacional...
Sem consulta popular
Desde 1887 havia em meio aos comerciantes curitibanos
Fermentação de uma entidade
Que defendesse seus interesses
Afinal
Já em 1850 a repressão ao tráfico negreiro
Causava imensos prejuízos aos comerciantes locais
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Vale ressaltar o infamante episódio Cormorant
No Porto de Paranaguá “onde se apresentavam, equipavam,
armavam
E “encontravam ancoradouro especial as embarcações dos
traficantes”
Segundo o Dicionário Histórico-Geográfico do Paraná
Na ocasião, carregamentos humanos foram covardemente
afundados
Com pessoas escravizadas para mão de obra local
Apesar dos acordos entre o Brasil e a Grã-Bretanha
Desde 1831... Leis pra inglês ver...
Em 1853, a então Província do Paraná acolhe o seu primeiro
presidente
O mulato baiano Zacarias de Goes e Vasconcellos
E sua primeira dama Carolina também afrodescendente
A cada nova edição publicada, mais embranquecidos...
(Como foram Machado de Assis, Nilo Peçanha
E tantos outros afrodescendentes com mais ou menos
melanina
Clareados no photoshop da história)
Segundo ele, “era chegada a ocasião de transformar
A antiga e atrasada Curitiba na nova e esperançosa
Província do Paraná. Mas, tudo estava por principiar”.
Quando, 10 anos mais tarde, aqui chegam
Os negros Antônio e André Rebouças
Importantes abolicionistas e pioneiros da reforma agrária pósabolição
Precursores da indústria madeireira
Fundadores da Companhia Florestal Paranaense
A primeira sociedade anônima fundada no Paraná
Graças aos irmãos negros Rebouças
Nossa Araucária teve grande admiração
Na exposição internacional de Viena em 1873
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E sua mostra ganhou um diploma de honra
Comerciantes audaciosos e gênios da engenharia
Responsáveis também pela construção da estrada da Graciosa
E da Ferrovia Curitiba-Paranaguá
Verdadeiro poema de aço, Ogunhê!
Abrindo os caminhos do comércio do Paraná.
O decreto 4.674/1871
Concedia ao engenheiro Antonio Pereira Rebouças
O privilégio da construção de uma estrada de ferro
Que, partindo de Antonina e passando por Morretes, atingisse
Curitiba
Responsáveis ainda pela criação e implantação do sistema
De encanamento de água para a população
Que tanto favoreceria a economia e a qualidade de vida local
Para a erva mate destinada a exportação
Inventaram um novo sistema de embalagem
Utilizando barricas de pinho
E não mais os surrões de couro
Prejudiciais a conservação e qualidade do produto
Esta inovação representou um notável avanço na
industrialização do mate
Impulsionando decisivamente a economia local
E na exposição nacional de 1866 estes homens negros
Representaram a província
Conseguindo uma medalha de prata
A primeira obtida por um produto paranaense
Sentimos falta de uma menção
No livro “Pedaços de muitas vidas”
- a historia dos 122 anos da ACP- Nilson Monteiro 2012
A estes importantes senhores empreendedores
Que contribuíram decisivamente na história política, social e
comercial
Do Estado do Paraná
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Ildefonso Pereira Correia, natural do Porto de Cima
Neto de Português, dono de engenho de erva mate,
Presidente da Câmara de Curitiba
Um líder empresarial, monarquista, escravocrata
Com discurso abolicionista...
Decretou a liberação completa dos escravizados em Antonina
Um ano antes do 13 de maio de 1888
Três meses após, recebeu de Dom Pedro II o título de Barão
do Cerro Azul
Como diz o livro Pedaços de Muitas Vidas
“O Barão sabia ser humanitário e utilitário”...
Diz a lenda que em Antonina participou das campanhas
De arrecadação em prol da libertação dos escravizados no
País
Realizadas antes da abolição
Participou da comissão do imigrante em Curitiba
Com uma campanha para aumentar sua qualidade de vida
Recebeu a comenda da Ordem da Rosa
Em 1888 foi Presidente da Câmara de Vereadores
ONDE FICOU ENCARREGADO DA COMISSÃO
EM PROL DA LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVIZADOS
(missão que NÃO se realizou ATÉ HOJE)
Em 1890 o país incentiva a política de imigração
Para substituir a mão de obra escrava
Em 1890
Dois anos após a abolição, foi criada a ACP
Podemos perceber na linha do tempo
Que as políticas afirmativas em prol dos imigrantes obtiveram
êxito
Ao contrario da missão do Barão Serro Azul com os
afrodescendentes
Em 1909 assume a Presidência da Republica
O afrodescendente Nilo Procópio Peçanha
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O Feriado da Consciência possibilitará às futuras gerações
Refletirem e reconstruírem a História
História que nos é negada nas escolas e universidades
Como o senhor mesmo disse no livro Pedaços de Muitas Vidas
São claros os pilares da ACP
A sua representatividade política
E a excelência de seus serviços ao empresariado paranaense
O professor Ricardo Costa
No livro “O Silêncio dos Vencedores”
Mostra que as mesmas famílias políticas do estado do Paraná
Estão no poder a quase 300 anos
E como este grupo se organizou
E organizou-se com o Estado...
Todos sabem como estas famílias
Tratavam e tratam os negros, os índios e os quase brancos...
...
Senhor Presidente
Graças a Olorum hoje
Em nossas terras também chegaram os imigrantes Haitianos
Professores, médicos, engenheiros, mestres de obras,
poliglotas...
E logicamente, sem os mesmos benefícios que os caucasianos
Mas isto é para uma outra história
Para terminar nosso manifesto
Não vamos esquecer de invocar
A memória do General Toussaint L’Ouverture, o pai do Haiti
Que nasceu em 1743 e liderou a vitoriosa revolta
Contra a opressão da França
Ao contrário do Brasil
O Haiti foi o primeiro país a acabar com a escravização
De homens e mulheres negras
Fazendo a alva face do General Napoleão Bonaparte
Ficar rubra de raiva e vergonha
Forçando a enriquecida França a abolir o regime de
escravidão
Em suas colônias
E, por vingança, lhes impôs rigorosas sanções econômicas
50 mil soldados mortos, prejuízo moral e muito dinheiro
A História ensina que por causa destes prejuízos de guerra
É que a França teve que vender aos Estados Unidos
O território da Luisiânia a preço de banana...
A ACP, ao questionar o feriado, investiu errado
E perdeu seu capital moral junto a uma grande parcela da
sociedade
Colocando em cheque o legado do seu criador
Revelou a todos os brasileiros e paranaenses
Que o seu racismo
Velado e institucionalizado está muito bem estruturado
A História ensina que as vezes quem ganha perde
E quem perde ganha
Momentaneamente perdemos o feriado
Mas ganhamos mais uma batalha
Contra o câncer maligno do racismo
Que estava escondido e graças a sua ação
Mostrou sua face em rede nacional
Obrigado, senhor presidente.
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"É preciso explicar porque o mundo de hoje, que é horrível,
é apenas um momento do longo desenvolvimento histórico
e que a esperança sempre foi uma das forças dominantes
das revoluções e das insurreições, e eu ainda sinto a esperança
como a minha concepção de futuro."
Jean Paul Sartre, 1963 - Prefácio
de 'Os Condenados da Terra' de Frantz Fanon.
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Adegmar J. Silva
Zelador Cultural Candiero
Presidente do Centro Cultural Humaita

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