1 Mauro Santayana: testemunha de um almoço decisivo

Transcrição

1 Mauro Santayana: testemunha de um almoço decisivo
Mauro Santayana: testemunha de um almoço decisivo
Deigma Turazi/ABr
Brasília - O jornalista Mauro Santayana, de 72 anos, estava no local certo e no
momento certo, condições sonhadas pelos profissionais de imprensa para conseguir
notícias inéditas. Ele foi testemunha visual e auditiva do momento exato em que os
governadores Franco Montoro, de São Paulo; Tancredo Neves, de Minas Gerais; e
Leonel Brizola, do Rio de Janeiro, decidiram participar do movimento das diretas já.
A decisão foi tomada durante um almoço no Palácio dos Bandeirantes, sede do
governo paulista, em abril de 1983, quando todos se constrangeram com uma
manifestação violenta de funcionários públicos que reivindicavam aumento salarial.
Montoro ainda não completara um mês no governo e, segundo Santayana, estava
preocupado com a agressividade e com a clara demonstração de insatisfação
popular. Para o governador, uma união imediata forçaria a redemocratização do
Brasil. Aí teve início, para valer, a organização da campanha pelas diretas.
Santayana concedeu a entrevista na terça-feira (20), quando iria de carona com o
governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de Brasília para Belo Horizonte. Hoje ele
é colunista "free lancer" e mora na capital brasileira. Em 1968, integrava a
Comissão de Estudos Constitucionais do Ministério da Justiça, que elaborava
propostas para os constituintes de 1977. A amizade com Tancredo Neves e o
trabalho feito pela reconquista da democracia garantiram-lhe uma condecoração do
governo mineiro, em cerimônia na quarta-feira (21) em Ouro Preto.
A seguir, trechos do depoimento.
Susto no Bandeirantes
"Como colaborador de Tancredo Neves durante esses anos, pude assistir como as
coisas começaram. Na realidade, foi no início de abril de 1983, logo depois de
empossados os governadores eleitos no ano anterior.
Houve um almoço no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, com os
governadores do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Como amigo também do
governador Franco Montoro, eu estava lá. E ainda participaram José Serra, os dois
filhos e a esposa de Montoro. Na ocasião, o povo tentava arrebentar as grades do
Palácio, em manifestação por aumento salarial. O governo não tinha um mês,
Montoro fora empossado no dia 15 de março. Ficou aquele clima constrangedor e
um dos participantes comentou que 'esta situação será de todo mundo e não só do
Montoro'. E sugeriu a redação de uma nota assinada pelos governadores ali
reunidos, explicando isso à nação."
1
Brizola, um moderado
"O governador Montoro pediu que eu redigisse a nota. Naquele momento, o Brizola
queria defender o Figueiredo (ex-presidente João Baptista Figueiredo) e brincou:
'Não bata muito porque nós vamos precisar da ajuda dele.' Tancredo, sentado ao
lado de dona Lucy Montoro, não resistiu ao comentário: 'E depois dizem que eu é
que sou moderado.' Quando saímos dali, levei Tancredo ao aeroporto – ele iria para
Brasília – e ele me disse o seguinte: 'Montoro e eu chegamos à conclusão de que se
não houver eleição direta para Presidente da República essa ditadura vai continuar.'
E foi assim que tivemos de sair para a campanha, levar o povo para a rua. Assim
nasceu a idéia das diretas já."
Com a arma do inimigo
"Quando a emenda Dante de Oliveira foi rejeitada, a solução era usar a arma do
adversário. Havia dois candidatos do regime no Colégio Eleitoral: o Andreazza
(Mário, ex-ministro do Interior de Figueiredo) e o Maluf (Paulo, ex-governador de
São Paulo). E nós podíamos prever que a força econômica de São Paulo ia impor o
Maluf e o governo militar também estava querendo o Maluf. Tinha mais confiança
na realidade do Maluf do que na de Mário Andreazza.
Sabendo que a rejeição popular ao Maluf era imensa, avaliamos que era por aqui
que nós tínhamos que trabalhar e afinal ganhamos. Infelizmente, não podíamos
prever o imprevisível, que foi a morte do Tancredo."
2

Documentos relacionados

Atualidades Pascal I

Atualidades Pascal I PDS, Partido Democrático Social, cujo presidente era o então senador pelo Maranhão José Sarney, conseguiu derrubar o projeto de emenda constitucional, que não foi aprovado em conturbada sessão do C...

Leia mais