Gestão da - Amazon Web Services

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Gestão da - Amazon Web Services
Érico Oda
Gestão da
INFORMAÇÃO
2009
© 2006-2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
O22
Oda, Érico / Gestão da Informação. / Érico Oda — Curitiba :
IESDE Brasil S.A. , 2009.
304 p.
ISBN: 978-85-387-0138-5
1. Sistemas de Informação Gerencial. 2. Gestão do conhecimento.
3. Inovação tecnológica. I. Título.
CDD 658.403811
Capa: IESDE Brasil S.A.
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Todos os direitos reservados.
IESDE Brasil S.A.
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Batel – Curitiba – PR
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Érico Oda
Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pós-graduado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista
em Sistemas de Informações pelo Centro de Desenvolvimento Empresarial/ Faculdade de Administração e Economia (CDE/FAE). Bacharel em Administração pela FAE e Graduado em Engenharia
Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Professor Universitário e Consultor Empresarial.
sumário
sumário
13
A economia digital
13 | A sociedade do conhecimento
14 | Paradigmas da nova economia – agilidade, flexibilidade, produtividade
e qualidade
16 | A informação como ativo empresarial
18 | Necessidade, possibilidades e potencialidades do uso de TIs
19 | Tecnologias de informação aplicadas
26 | A computação como serviço: outsourcing
O sistema empresa
35
35 | Funções empresariais – comercial, produção, RH e finanças
38 | Integração interna entre as funções
39 | Integrações externas com o meio ambiente: CRM, PRM, SCM
43 | Indicadores de desempenho empresarial
45 | A gestão estratégica empresarial
46 | Gestão da informação e do conhecimento
48 | O “capital intelectual” das organizações
Conceitos gerais de sistemas de informação gerencial
57 | Tomada de decisões – competência essencial do gestor
58 | Conceitos de dado, informação e conhecimento
60 | Obtenção, tratamento, armazenamento e recuperação de informações
62 | Tipologia de uso da informação
62 | Sistemas de informação gerencial – conceitos e utilidades
65 | Agilidade, confiabilidade e integração em sistemas de informação
66 | Sistemas de informações e as funções empresariais
68 | Sistemas de informações e os níveis empresariais
77
As tecnologias básicas dos
sistemas de informação gerencial
77 | Softwares: sistemas e programas
78 | A constituição de um software
84 | Hardware (equipamentos)
57
87 | Telecomunicações – redes, intranets, extranets, internet
90 | Banco de dados, datawarehouse e datamining
91 | Convergências tecnológicas – evoluções e revoluções
Planejamento estratégico de SIGs e TIs nas empresas
97 | Gestão empresarial: em busca de modelos de melhores resultados
99 | Papel estratégico do uso de TI na atuação empresarial
102 | As TIs na gestão estratégica
106 | Planejamento estratégico empresarial
107 | Planejamento estratégico de informações
110 | O uso de TIs como diferencial competitivo
111 | A empresa do futuro
Funções empresariais e sistemas de informação
119 | As empresas e os SIGs
121 | Comercial: marketing e vendas
127 | Produção, operação e suprimentos
136 | Recursos Humanos (RH)
141 | Finanças e controladoria
150 | Automatismo e integrações
Projeto e especificação de SIGs
157
157 | A empresa e os Sistemas de Informações Gerenciais (SIGs)
159 | Projeto lógico de sistemas de informações – especificações
119
97
sumário
sumário
163 | Projeto físico do software e ambiente operacional
167 | Desenvolvimento, implantação, documentação e manutenção
168 | Tipos de SIGs
169 | Projeto e dimensionamento de hardware e telecomunicação
Administrando informação e conhecimento
179
180 | Necessidades da empresa – projeto lógico
183 | O mercado de sistemas e softwares
187 | O mercado de hardware – dimensionamento
189 | O trabalhador na sociedade do conhecimento
191 | O mercado de telecomunicações
193 | E-business – os conteúdos e negócios na economia digital
A segurança de informações
205
205 | A importância e valor das informações empresariais
207 | Conceitos de segurança
209 | Gestão de segurança da informação
210 | Políticas da segurança de informação
210 | Segurança física e ambiental de informações
214 | Segurança lógica
217 | Segurança de acesso: confidencialidade
221 | Segurança ocupacional
223 | Padrões e normas de segurança no mercado
Sistemas de apoio à decisão – Business Intelligence
229 | A organização inteligente
229 | Business Intelligence (BI) e o apoio à decisão
231 | SAD – Sistemas de Apoio à Decisão
234 | Datawarehouse, DataMarts e metadados
237 | Datamining – Ferramentas OLAP – cubo de decisões
239 | Operações em SADs baseados em modelos
241 | SAD funcionais em empresas – DataMarts
229
Questões éticas e sociais em sistemas de informação
251
251 | O que é ética
252 | A ética na sociedade do conhecimento
258 | As questões sociais das empresas e suas tecnologias de informação
260 | Qualidade de vida: valores na sociedade do conhecimento
261 | Práticas culturais: o poder e a resistência a mudanças
Tecnologias emergentes e as aplicações empresariais
272 | Domínios da inteligência artificial
276 | Algoritmos genéticos
276 | Agentes inteligentes
278 | Realidade virtual
279 | Geoprocessamento
280 | Convergência tecnológica
280 | Cloud Computing – a “computação nas nuvens”
Gabarito
289
Referências
Anotações
295
303
271
Apresentação
Gestão da Informação
A sociedade que emergiu depois da II Guerra
Mundial, colocou em destaque o computador,
aprimorado durante o conflito para decifrar códigos e efetuar cálculos para fins militares.
No lugar de alavancar e ajudar a ultrapassar as limitações das capacidades físicas do ser
humano, como as máquinas da Sociedade Industrial, esta nova ferramenta fez história e se tornou
um dos personagens centrais da nova Sociedade
do Conhecimento, potencializando os trabalhos
mentais com o rompimento e ampliação das limitações do cérebro humano, nas tarefas de armazenamento e de tratamento de informações.
Trata-se de uma nova máquina, como tantas
que já existiam na economia industrial, mas com
utilização maciça da tecnologia da microeletrônica, e com uma habilidade fenomenal de realizar
rapidamente operações lógicas e matemáticas,
em volumes e velocidades muito superiores à capacidade da mente.
O computador e seus softwares, em conjunto
com outras tecnologias da informação, como a
telecomunicação e multimídia, criaram um novo
contexto econômico-social, onde a atuação empresarial passou a depender fundamentalmente
da informação e do conhecimento, como principais insumos na geração de riquezas.
Este livro trata deste novo cenário organizacional, orientando profissionais e empresas
quanto à definição, obtenção e implantação de
Sistemas de Informação Gerencial (SIGs) e de
Tecnologias da Informação (TIs) disponíveis aos
Gestão da Informação
negócios, direcionando a sua utilização produtiva como ferramenta central na tomada de decisões, para melhor direcionar as ações que garantam o sucesso empresarial e o desenvolvimento
econômico.
O livro é composto de doze capítulos, contendo assuntos como a economia digital e o sistema
empresa, que descrevem os novos valores e paradigmas do cenário de atuação empresarial na sociedade do conhecimento; conceitos básicos de
SIGs e tecnologias básicas dos SIGs que fornecem
os conceitos e descrições dos componentes dos
sistemas a adotar pelas empresas; o planejamento estratégico de SIGs e TIs nas empresas; projeto
e especificações de SIGs.
O livro mostra como administrar informações
e conhecimentos com a utilização de SIGs, explicando detalhadamente a segurança de informações e sistemas de apoio à decisão, para que
as organizações e os profissionais inovadores
desempenhem suas atividades com maior eficiência, eficácia e efetividade, gerando diferenciais
competitivos em suas atuações na sociedade.
Os dois capítulos finais, sobre questões éticas
e sociais e sobre tecnologias emergentes, tratam
de temas recentes que ainda merecem reflexões
e direcionamentos que possibilitem orientar
postura e aplicações corretas na suas adoções e
absorções, de forma a contribuir para o desenvolvimento e melhoria da Sociedade Humana, e
prepará-la para desafios futuros.
A economia digital
A sociedade do conhecimento
Sob o ponto de vista econômico-social, a evolução da Sociedade Humana
iniciou-se com atividades extrativistas na era primitiva, quando o ser humano
sobrevivia da coleta, da caça e da pesca. A dificuldade de obtenção de víveres1 sujeitava os hominídeos dessa época a uma migração permanente e
embates sucessivos contra as forças da natureza, gastando suas energias na
busca de melhores fontes de alimentos e abrigo.
A Sociedade Agrícola, que sucedeu à era primitiva e nômade da espécie
humana, teve seu início com a fixação do homem à terra, quando este descobriu que poderia sobreviver com as atividades de plantio e de criação de animais, e que possibilitaram ao ser humano produzir mais do que necessitava
para a sua simples sobrevivência. Esse excedente de produção deu origem à
primeira atividade econômica estruturada, o comércio de troca de alimentos,
utensílios, armas e serviços em geral, estabelecendo o conceito de valor de
produtos e serviços. Nessa época também surgiu a moeda como mecanismo
facilitador das trocas, devido à sua portabilidade e fracionabilidade.
No século XVII surgiu a Sociedade Industrial, decorrente das primeiras
invenções tecnológicas aplicadas às atividades produtivas, permitindo o desenvolvimento da produção de bens de consumo em grandes quantidades e
promovendo uma maior velocidade na acumulação de riqueza e de bens de
capital, criando e instituindo novas estruturas econômicas e sociais.
Após a Segunda Guerra Mundial, a evolução significativa das tecnologias
da informação (informática e telecomunicações), somada às condições sociopolíticas de cooperação e de competição entre nações, em uma gradativa e acelerada evolução que resultou no fenômeno da globalização, formatou uma
nova realidade econômico-social mundial, caracterizada por um aumento
acirrado da competitividade empresarial, ainda em constantes mudanças
nos dias atuais.
Essa competitividade demandou, dos profissionais e organizações, a formulação de estratégias competitivas cada vez mais sofisticadas, exigindo o
1
Víveres: provisão de
comestíveis;
alimentos,
gêneros alimentícios. (Dicionário Houaiss)
Gestão da Informação
tratamento de um volume crescente de informações para um maior domínio
de conhecimentos, o que caracteriza a atual Sociedade do Conhecimento.
Com o cenário econômico mundial apresentando o acirramento na competição de mercado, os indivíduos, as empresas e nações necessitam ter o
conhecimento do meio ambiente onde atuam, sobre o mercado e a concorrência, e sobre os produtos e serviços existentes com as respectivas tecnologias aplicadas, determinando o poder da informação como fator preponderante na geração de riquezas.
A Sociedade do Conhecimento é caracterizada pela aplicação e desenvolvimento intensivo do uso das Tecnologias de Informações digitais, (TIs)
tanto nas atividades empresariais modernas, como também nas atividades
corriqueiras e de lazer dos indivíduos, tais como televisão, vídeo, telefonia,
fotografia, jogos eletrônicos, leitura, viagens e outras.
As TIs são aplicadas nos negócios de forma cada vez mais intensiva, sofisticando e promovendo diferenciais significativos em produtos e serviços
que, mesmo fisicamente parecidos, apresentam funcionalidades múltiplas
antes inexistentes, para agregar valor e aumentar a sua competitividade na
oferta diversificada de um mercado globalizado.
Essas tecnologias, pelo acesso facilitado às informações, potencializam
as atividades de pesquisa e desenvolvimento que resultam em outras inovações mercadológicas, despertando e até criando novas necessidades no
consumidor, gerando o novo cenário de uma Economia Digital.
Paradigmas da nova economia – agilidade,
flexibilidade, produtividade e qualidade
As tecnologias de informações digitais geram novos modelos de negócios, modificam os existentes e moldam um novo cenário econômico que,
com convergência de aplicações da informática e da telecomunicação, amplifica o poder da inteligência individual e coletiva, realimentando e acelerando o ciclo virtuoso de geração de novos conhecimentos devido à facilidade de armazenamento e acesso a informações.
Essa aceleração da economia digital gera diversos efeitos positivos, mas
também alguns outros incômodos:
14
A economia digital
obsolescência – acelerada pelas seguidas transformações tecnológicas, que exigem uma modernização constante, e convertem organizações e bens, ainda em uso, em estruturas e produtos ultrapassados e
obsoletos, estabelecendo um prazo de validade para as organizações
e indivíduos, caso não se reciclem sistematicamente;
descartabilidade – a diminuição de custos resultante do aumento de
produtividade torna os produtos cada vez mais descartáveis e permutáveis por outros mais modernos;
volatilidade de vínculos – dos consumidores com produtos e marcas,
que sustentam a fidelidade comercial e são enfraquecidos com a velocidade de ofertas, com quantidade e qualidade cada vez maiores.
Essa realidade veloz e mutante estabelece os novos paradigmas que norteiam os comportamentos de indivíduos, empresas e nações na Sociedade
do Conhecimento.
Flexibilidade e agilidade
As constantes alterações e evoluções demandadas nos produtos e serviços, pelos consumidores e pela concorrência acirrada, resultam em um processo de substituição acelerada, no qual os conhecimentos de poucos anos
atrás são simples registros históricos. Como exemplo, podemos citar a evolução da telefonia móvel que, implantada com tecnologia analógica, alterou-se
rapidamente para digital, permitindo incorporar fotografias e vídeos aos serviços de voz, viabilizando a transmissão de dados, o que obriga as empresas
e profissionais da área de telefonia a se reciclarem para não desaparecerem.
Criações inovadoras resultam também em evoluções de ruptura, em que
as funcionalidades e necessidades são supridas por novos produtos e serviços, utilizando tecnologias e componentes que não se relacionam com as
anteriores, ocasionando o desaparecimento de produtos, empresas e profissões. Exemplo: aparelhos walkman de fitas cassetes, substituídos pelos
diskman de CD, e estes suplantados pelos MP3 players.
Evoluções e revoluções em produtos e serviços são comuns no mercado
atual, exigindo das organizações a capacidade de prever o futuro de seus
campos de atuação, antecipando e/ou provocando as remodelações necessárias para não perder a competitividade.
15
Gestão da Informação
Para tanto, a flexibilidade e a agilidade são características imprescindíveis
para sobreviver e prosperar na nova economia de mercado, entendidas como:
flexibilidade – capacidade de realizar alterações e aprimoramentos
sucessivos nos produtos, processos e nas estruturas empresariais, devido à necessidade de suas adaptações a novos contextos e exigências
de mercado;
agilidade – velocidade de decisão e ação cada vez maior, produzindo
bens e prestando serviços em prazos cada vez menores (sem prejuízo
às suas especificações e qualidade) para acompanhar a nova realidade,
em que todos os fatos atuais se sucedem em velocidade muito superior às épocas anteriores e muitas vezes de forma simultânea.
Qualidade e produtividade
A exigência de aprimoramentos da qualidade e de diminuição de preço,
pelo aumento de comparabilidade entre produtos e serviços de diferentes
fornecedores, promovido pelo fácil acesso e pela grande quantidade de informações disponíveis, faz com que as empresas sejam obrigadas a melhorarem os processos de garantia de qualidade e de aumento de produtividade.
O aprimoramento das especificações pela exigência de “mais valor” expresso na maior qualidade e diminuição de custos pelo aumento de produtividade torna-se fundamental para conquistar o cliente.
Qualidade: o atendimento em níveis de exigência do mercado e dos
consumidores cresce pela avaliação de valor dos produtos mediante a
comparabilidade da qualidade de produtos e serviços similares, possibilitada pela disseminação de informação.
Produtividade: capacidade de produzir mais com cada vez menos,
com menores custos, para ganhar competitividade de mercado, e para
suprir o aumento quantitativo de mercado resultante do crescimento
da própria população mundial.
A informação como ativo empresarial
O objetivo das empresas e organizações é conjugar adequadamente a
utilização dos recursos humanos, naturais e de capital, com o propósito de
16
A economia digital
gerar riquezas com a produção de bens e a prestação de serviços, e assim
promover o desenvolvimento e bem-estar da sociedade onde se inserem.
Na Sociedade do Conhecimento surge o quarto recurso produtivo, a informação, que é responsável pela formação de ativos intangíveis – conhecimento de mercado, marca, domínio de processos, como também abastecimento
do processo de gestão e de tomada de decisões da empresa/organização,
para a obtenção do sucesso no mercado e no meio ambiente onde atua.
A informação, como insumo da geração de novos conhecimentos de
mercados, processos e produtos configura-se atualmente como o recurso
produtivo imprescindível para os profissionais e organizações na Nova Economia, para quem o domínio e a correta utilização da informação permitem
tomar as decisões mais acertadas, e envidar, ou seja, aplicar com empenho
as ações mais produtivas que estabelecem o seu grau de insucesso ou sucesso na Sociedade do Conhecimento.
A informação é então o componente central do patrimônio intelectual
tanto dos indivíduos, pelas suas competências e habilidades, como das empresas, pelo domínio e conhecimento formados por pesquisas e desenvolvimentos promovidos pelo aprendizado permanente.
A principal atividade e competência/habilidade essencial do administrador de empresas é a de tomar decisões na gestão dos esforços para a aplicação ótima dos recursos produtivos, mediante os seus planejamentos, aplicações, controles e avaliações de desempenhos.
A informação é caracterizada por duas propriedades que a diferenciam dos
demais recursos produtivos, a rápida perecibilidade e a fácil replicabilidade.
A perecibilidade da informação é uma propriedade que merece uma
atenção especial, pois é definida pela degradação de seu valor econômico
no tempo, exemplificada pelo fato de que de nada vale para um profissional
saber operar um equipamento obsoleto, ou saber que um cliente da empresa necessitava de um produto que já adquiriu da concorrência.
O que diferencia fundamentalmente a informação dos demais recursos
produtivos limitados e finitos, como mão-de-obra, matéria-prima e capital, é a
replicabilidade. Esta pode ser entendida como a capacidade de rápida multiplicação da informação, por ser facilmente disseminada e/ou repassada sem que a
fonte se esgote. Pode ser exemplificada pelo papel exercido pelos livros, onde o
autor transmite informações a inúmeros leitores sem que ele a deixe de ter.
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Gestão da Informação
Nas empresas pode ser representado por um projeto de produto, pelo domínio de um processo ou serviço, por redes de relacionamentos com clientes
e fornecedores, e/ou por uma estrutura empresarial eficiente e eficaz, composta de profissionais competentes, motivados e próativos.
Necessidade, possibilidades
e potencialidades do uso de TIs
Atualmente, com a maior disponibilidade e fácil acesso a computadores e
sistemas informatizados, as empresas podem investir em melhorias de processos e no desenvolvimento de novos produtos e serviços.
Essa aplicação pode se dar nos três diferentes níveis empresariais: operacional, gerencial e estratégico.
Suprindo necessidades operacionais: a eficiência
No nível operacional, as tecnologias de informação proporcionam uma
maior eficiência da organização, suprindo as necessidades de precisão, agilidade, volume, segurança e conforto nas transações primárias, efetuando
cálculos mais exatos, com maior velocidade, realizando mais trabalhos, diminuindo erros e simplificando as tarefas.
A sua utilização resulta em redução de custos nas operações, com automações e integrações de tarefas e na melhoria da produtividade e da qualidade dos serviços realizados e oferecidos. Fornecem também dados totalizados para decisões operacionais.
Aumentando possibilidades gerenciais: a eficácia
No nível tático, para os gerentes e decisores da empresa, os sistemas fornecem informações consolidadas de desempenho, planejado e realizado,
dos recursos produtivos (mão-de-obra, matéria-prima, capital), aumentando
as possibilidades de melhorias na utilização dos mesmos, pois com mais informações pode-se tomar decisões com maior probabilidade de acerto, para
realizar ações com melhores resultados, incrementando-os.
18
A economia digital
Propiciam uma maior eficácia gerencial, com melhoria na tomada de decisões, por meio do fornecimento de informações mais rápidas e precisas,
possibilitando melhores projeções dos efeitos das decisões. Propiciam o estímulo de maior integração e interação entre os tomadores de decisão, com
redução do grau de centralização de decisões na empresa.
Explorando potencialidades estratégicas:
a efetividade
No nível estratégico, as tecnologias de informações podem auxiliar na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e serviços e/ou agregar valor aos
existentes, possibilitando explorar as potencialidades dos mesmos, e aprimorando as competências essenciais da organização em seu ramo de atuação.
Asseguram a efetividade pela prosperidade da empresa em seu mercado de atuação, melhorando a adaptabilidade da empresa para enfrentar os
acontecimentos futuros e não previstos, e viabilizando a implementação de
diferenciais competitivos inovadores em relação aos concorrentes, agregando TIs aos próprios produtos e serviços.
Tecnologias de informação aplicadas
Para compor o contexto da atuação empresarial na economia digital,
dispõe-se atualmente de diversas tecnologias de informação aplicadas, já
viabilizadas e prontas para utilização nas empresas, a depender de suas necessidades e de um estudo de custo versus benefício.
Automação comercial
Todas as empresas têm à sua disposição uma oferta significativa de sistemas integrados, para automatizar as tarefas administrativas e comerciais,
tanto internas como externas junto aos fornecedores e clientes.
Efetuam cotações, compras e recepção de mercadorias, controles de seus
estoques e movimentações, e agilizam as vendas, com consultas e a emissão
automática de documentos, com os registros de eventos e de ocorrências
nas transações.
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Gestão da Informação
Trabalham integrados com os processos financeiros resultantes, controlando as contas a pagar e a receber, as disponibilidades em contas-correntes,
efetuando pagamentos e recebimentos automaticamente.
Também podem efetuar todos os registros legais e contábeis para apuração dos resultados e cálculos dos tributos incidentes sobre as transações
efetuadas e os lucros obtidos.
Em automação comercial, encontram-se tecnologias de identificação automática de produtos, itens e pessoas, seja por códigos de barras de leitura
ótica, por tarjas magnéticas em cartões plásticos ou por etiquetas eletrônicas
inteligentes (microchips) lidas por radiofrequência. A identificação automática agiliza a manipulação e minimiza os erros em operações que envolvem
produtos, clientes e itens em grande quantidade.
Em soluções mais elaboradas e modernas, automatizam-se as próprias
operações de compra e venda, possibilitando ao próprio cliente e/ou fornecedor interagir com os sistemas da empresa, como o comércio eletrônico pela
internet, transações bancárias em caixas eletrônicos ou até compras eletrônicas, via leilões virtuais e cadeias de suprimentos integrados (supply chain).
Automação industrial
As aplicações de TIs na indústria abrangem desde o projeto de produtos e
processos, via Computer Aided Design/ Computer Aided Manufacturing (CAD/
CAM) projetos auxiliados por computador/ fabricação auxiliada por computador –, robotização de processos, gestão de produção, até a integração
completa com fornecedores e sistemistas.
Atualmente todos os projetos técnicos de engenharia são elaborados por
computador, pois eliminam a necessidade de desenhistas copistas, permitindo modificações dinâmicas e aumentando a produtividade dos projetistas
pela possibilidade de trabalhar com “bibliotecas” de elementos construtivos
prontos. Isso transforma o trabalho de projetar, que antes era de “desenhar”
repetidamente os detalhes de um projeto, para “montar” elementos padronizados contidos em desenhos prévios, com reaproveitamento de projetos
inteiros ou parte destes para elaboração de novos projetos.
Os projetos elaborados com um sistema CAD podem alimentar automaticamente os equipamentos dotados de CAM, com informações que parame20
A economia digital
trizam e regulam as máquinas com Comandos Numéricos Computadorizados
(CNC), eliminando a necessidade de operadores humanos nestas máquinas,
com significativos ganhos de qualidade e produtividade, pela ausência de
erros e pelo automatismo de operações de setups (ajustes) das máquinas.
Pelo alto grau de “eletrônica embarcada” nos produtos atuais (automóveis, telefones celulares, eletrodomésticos automáticos etc.) há a necessidade de rápidos e gradativos desenvolvimentos e melhoramentos nos softwares acoplados nos mesmos, com versões cada vez mais aprimoradas. Para a
elaboração, aprimoramento e controle de versões destes softwares, utilizamse os Computer Aided Software Engineering (CASEs), engenharia de software
auxiliado por computador.
A gestão de produção é pródiga em problemas quantitativos, que para a sua
solução necessitam aplicações matemáticas de alta complexidade, com situações que envolvem inúmeras variáveis a considerar na solução dos mesmos.
O Material Resources Programming (MRP), programação de recursos materiais, depois suplantado pelo mais abrangente Manufacturing Resources
Planning (MRP II), planejamento de recursos de produção, necessita da realização de cálculos complexos e precisos, envolvendo capacidades produtivas
de máquinas, pessoas, setores, bem como a utilização otimizada dos demais
recursos produtivos no tempo.
A partir da composição dos produtos, das quantidades a produzir e dos
prazos de entrega prometidos, calcula-se as quantidades, por tipos e prazos
de necessidades de componentes, matérias-primas, mão-de-obra, equipamentos, energia etc., para que a indústria possa planejar e viabilizar a disponibilidade dos insumos necessários à fabricação dos seus produtos, com
custos compatíveis, para atender a demanda de clientes e do mercado.
As modernas configurações de produção, com a formação de “redes” com
fornecedores e clientes como forma a minimizar custos e agilizar o ciclo produtivo, é possibilitada pela evolução das tecnologias de integração de dados.
Automação bancária
As atividades financeiras das empresas podem ser plenamente integradas
com os bancos, pois a atividade financeira é das que mais utilizam, investem e
evoluem na aplicação de TIs, pela própria natureza numérica dos problemas.
21
Gestão da Informação
As operações de recebimentos, cobranças, pagamentos, financiamentos
encontram-se todas portadas a meios eletrônicos, dispensando a utilização
de moeda em espécie e mesmo de cheques e documentação em papel.
Pela necessidade de exatidão e celeridade das operações, os bancos utilizam tecnologias de telecomunicação e internet (celular e home banking),
disponibilizam terminais Automatic Teller Machines (ATMs), e cartões com
tarjas magnéticas e chips (smartcards). Também dispõem de recursos de integração interbancária, com a padronização dos relacionamentos entre todas
as instituições do ramo mediante o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
Automação de serviços
As empresas em geral têm atividades administrativas e de gestão, em que
necessitam elaborar documentos, sejam de textos, planilhas de cálculo, materiais de apresentação etc., e para isto dispõem de um arsenal bem diversificado de ferramentas de software, denominados office suites.
Os trâmites de correspondências, comunicados, processos etc., hoje são
agilizados por sistemas de work flow – fluxo de trabalhos – que funcionam
como uma espécie de controle de “protocolos”, indicando por onde um processo deve trafegar, onde se encontra, o tempo de despacho em cada etapa
e o planejamento e registros da produtividade das atividades burocráticas.
Agendas corporativas integradas se encarregam de marcar compromissos e reuniões conjuntas de pessoas da organização, eliminando perdas de
tempo devidas a desencontros e faltas.
Funções de informação a clientes, visitantes etc., hoje podem ser efetuadas
por terminais interativos de consulta, dispensando recepcionistas e porteiros.
Os serviços governamentais estão dotados de sites na internet (para
agilizar atendimentos) e de integrações digitais, principalmente nas arrecadações de impostos e tributos em geral, desonerando esses processos dos
custos e erros da execução manual dessas tarefas.
Sistemas integrados e Banco de Dados (BD)
Cenários complexos do mundo empresarial demandam ferramentas de
inter-relacionamento de dados e informações, que possibilitem um maior
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A economia digital
conhecimento de contexto, para apoio a decisões que podem decidir os
rumos e destinos de uma empresa.
Dados primários armazenados pelas transações empresariais formam
volumes enormes de registros que, pelo tempo necessário para pesquisa,
podem impossibilitar o uso ágil e eficaz desses bancos de dados.
Para resolver este impasse, de um sistema que realmente dê suporte às
decisões estratégicas, existem tecnologias de formação de datawarehouses –
armazém de dados, para realizar o datamining – garimpagem de dados. Com
dados selecionados e previamente consolidados das bases de dados transacionais da empresa, somados a outros dados externos à empresa, sobre o
mercado, concorrentes e produtos, pode-se formar um Sistema de Apoio à
Decisões (SAD) ou de Business Intelligence (BI), para agilizar e dar mais precisão às ações estratégicas da organização.
Bancos de dados dos clientes e seus relacionamentos com a empresa viabilizam ações de Customers Relationship Management (CRM) gestão de relacionamento com consumidores, para estreitar os laços da empresa com os clientes
finais, efetivos e potenciais, com o objetivo de melhorar o desempenho da organização. Exemplo: mailing personalizado do site Submarino.com.br ofertando produtos e lançamentos relacionados com as últimas compras do cliente.
As informações de relacionamentos com fornecedores e parceiros
podem potencializar os resultados de todos, mediante tecnologias de Partner Relationship Management (PRM) e de Supply Chain Management (SCM),
fortalecendo as relações com os distribuidores, varejistas e fornecedores dos
produtos da indústria. Exemplo: montadoras automobilísticas com os fornecedores de componentes; as fábricas de cerveja promovendo suas vendas
com freezers em comodato nos revendedores.
Multimídia
Teleconferências, palestras,
treinamentos e ensino a distância
As tecnologias de digitalização de imagem e de som tornaram as suas
transmissões mais precisas e rápidas, viabilizando atividades remotas de
troca e disseminação de informações.
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Gestão da Informação
Realidade virtual –
projetos consorciados, engenharia simultânea
O aumento do poder de processamento dos computadores e da capacidade de transmissão digital possibilita a realização de projetos de engenharia com participação simultânea de técnicos de diferentes locais e países,
utilizando-se deste recurso para a “materialização” virtual do produto, substituindo a necessidade de maquetes nos projetos. Exemplo: Embraer.
Tecnologias convergentes –
texto, áudio, vídeo e internet
A riqueza na transmissão de informações e na interação de pessoas,
pela agregação das tecnologias de texto, áudio e vídeo, com conversação
face-to-face na internet (VoIP+vídeo), tornam as negociações e resoluções
mais velozes e precisas, eliminando-se a necessidade de deslocamentos
físicos das pessoas.
Video Streamer – imagens digitalizadas dinâmicas
Arquivos de vídeo são volumosos e demoram a ser transmitidos. Para
suprir esse problema, surgem na internet serviços que armazenam vídeos,
que podem ser acessados e vistos a partir dos arquivos originais, sem a perda
de tempo de sua transmissão total. Essa tecnologia possibilita a transmissão
ao vivo de imagens via internet, que podem ser utilizadas em diversas aplicações empresariais e pessoais.
Internet
Além dos conhecidos serviços já consagrados e disseminados:
World Wide Web (www) – navegação e pesquisa em sites de informações;
File Transfer Protocol (FTP) – para enviar e receber arquivos;
e- mail – correio eletrônico para troca de mensagens assíncronas2;
2
Mensagens assíncronas:
são mensagens enviadas
de um objeto a outro sem
que haja uma dependência de estado entre os dois
objetos.
chats – para conversações simultâneas um-para-um e um-para-muitos.
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A economia digital
A internet vem sendo cada vez mais utilizada como plataforma para novas
aplicações empresariais, como por exemplo:
Business to Customer (B2C)
A internet possibilita a interação direta da empresa com o consumidor,
seja para realizar vendas, atendimento pós-venda, serviços de atendimentos
diversos. Exemplo: comércio eletrônico, SAC, acessos a bibliotecas de documentações e/ou especificações de produtos.
Business to Business (B2B)
Possibilita a conexão direta entre empresas que tenham muitas trocas estruturadas e oficiais de informações e/ou possam realizar as suas transações
pela rede.
DataCenters e sistemas corporativos
A evolução dos indicadores de desempenho de velocidade e de segurança da internet viabiliza a operação de sistemas corporativos integralmente
na rede, com a centralização dos bancos de dados em empresas prestadoras
de serviços de hospedagem de servidores de arquivos.
Monitoração remota
As facilidades de telecomunicação, combinadas com as tecnologias específicas de mapeamentos geodesicamente referenciados (informações técnicas de latitude e longitude), e de aplicações de diversas outras tecnologias,
tais como a de raios laser, possibilitam os serviços de localização geográfica
e o de segurança pública e privada.
Serviços de localização geográfica
Os serviços de localização geográfica baseados em tecnologias de Global
Position System (GPS) que utilizam uma rede de satélites estacionários permitindo estabelecer a latitude e longitude, possibilitam localizar instantaneamente pessoas, veículos, animais e produtos a qualquer tempo; são utilizados por transportadoras, seguradoras, serviços de segurança etc.
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Gestão da Informação
Além do GPS, esta localização geográfica também é viabilizada pelos
serviços de telefonia celular, via triangulação efetuada pelas Estações Rádio
Base (ERBs), que captam os sinais dos aparelhos conectados.
Segurança pública e privada –
videovigilância, radares laser
Radares à laser detectam infratores de excesso de velocidade em vias de
trânsito de veículos e centrais de vídeo monitoram a segurança em locais
públicos e privados para controle e identificação de pessoas em ocorrências
de transgressões da lei.
A computação como serviço: outsourcing
Em um futuro próximo, similarmente a outras commodities tais como a
energia elétrica, água, telefonia, as vantagens propiciadas pelas tecnologias
de informação (TIs) serão entregues aos usuários em formato de serviços e
não mais de produtos de software, hardware e teleprocessamento.
Os serviços de computação serão formatados em “facilidades” que suprirão as necessidades individuais e empresariais de serviços, a serem prestados
por meio das TIs, não exigindo dos usuários finais o conhecimento especializado nos funcionamentos técnicos e específicos de programas e equipamentos, assim como quem precisa e utiliza energia elétrica não precisa entender de geradores, transformadores e linhas de transmissão.
Esta tendência fica cada vez mais clara quando se observa a oferta gratuita de ferramentas, cada vez mais sofisticadas, de softwares na internet.
O problema é “o que fazer” com elas e “como” fazê-lo, o que dependerá de
especialistas que os formatem e traduzam em serviços que realmente representem valor para os consumidores.
Os computadores, softwares e profissionais especializados em TIs, que
compõem o parque computacional das empresas, serão terceirizados a empresas que tenham os serviços de TI como atividade-fim. É o fenômeno que
está sendo denominado Outsourcing (“buscar em fonte externa”) que se
traduz como a terceirização de atividades especializadas.
Os grandes servidores de dados e aplicações das empresas estão sendo
hospedados em equipamentos e instalações locadas de datacenters, espe26
A economia digital
cializados em manter seguros, íntegros e disponíveis os ativos informacionais
da organização, analogamente ao surgimento dos bancos para a guarda e
disponibilização dos ativos financeiros empresariais e individuais.
Ampliando seus conhecimentos
O computador mundial
(FUSCO, 2008)
Nicholas Carr, especialista em tecnologia, comenta em entrevista por que
a chegada da computação como serviço deverá trazer transformações
econômicas, culturais e sociais
O computador deixou de ser o único centro de armazenamento de documentos, fotos, música e vídeo para os usuários. Os arquivos têm migrado gradualmente para servidores espalhados para internet, no modelo que faz crescer a computação como serviço. Nicholas Carr, autor do livro The Big Switch:
Rewiring the World from Edison to Google (“A grande virada: reconectando o
mundo, de Edison ao Google”, em tradução livre), comenta em entrevista à
Exame as transformações econômicas, sociais e culturais trazidas pela computação como serviço.
A venda de software como conhecemos hoje deverá acabar?
Em longo prazo veremos provavelmente o fim desse modelo tradicional.
As companhias compradoras adotarão o modelo de assinatura de software,
em que pagam uma taxa periódica pelo uso. Isso vai levar certo tempo, mas
será uma transição interessante. As empresas de software precisarão buscar
outro modelo sustentável de receita.
As empresas já compreendem que a computação como serviço será
uma ruptura inevitável para a indústria?
As empresas de tecnologia estão cientes disso, mas não compreendem totalmente as implicações do fenômeno. Elas veem companhias como a Salesforce.com – provedora de sistemas de gestão de relacionamento com clientes
(CRM) – e sabem basicamente que certos sistemas corporativos podem ser
fornecidos pela internet, mas não sabem quão profundamente esses sistemas
27
Gestão da Informação
on-line podem ser aplicados no cotidiano dos negócios. Em alguns casos, eu
acho que os departamentos de tecnologia, infelizmente, temem esse modelo
porque acreditam que suas tarefas tradicionais estão ameaçadas. Acredito que
isso seja um grande engano porque em curto prazo, a computação como serviço oferece muito mais oportunidades e mais ofertas para atender os requisitos
de tecnologia. Claro que haverá uma ruptura em longo prazo, mas companhias
e departamentos de TI terão de se educar para aprender e encontrar nessa
nova forma, uma maneira de reduzir custos e aumentar a flexibilidade da TI.
A Microsoft, empresa criada no modelo tradicional de venda de licenças, deixou claro que seu interesse em adquirir o Yahoo está relacionado
com melhorar a infraestrutura de serviços on-line. Você acha que essa é a
principal indicação de que o mercado de software está mudando?
Certamente essa movimentação da Microsoft é um dos maiores indícios de
que companhias muito grandes e tradicionais de TI já entendem que o futuro
será diferente. Nós vemos a Microsoft também gastando bilhões de dólares
em construir data centers virtuais para suprir vários serviços de tecnologia. A
alemã SAP também está criando uma nova versão para oferecer seu sistema
de gestão empresarial (ERP) via internet. Ao mesmo tempo, vemos a IBM lançando sua iniciativa em formato de nuvem para ajudar seus clientes e fornecedores a construir novas estações de trabalho baseadas na internet. Existem
muitos sinais de que fornecedores tradicionais de tecnologia estão pensando
em um reposicionamento para esta nova era, quando mais elementos de tecnologia são fornecidos pela rede.
Você diz que uma revolução acontecerá nos departamentos de tecnologia. Como as empresas deverão lidar com essa mudança?
A coisa mais importante é não resistir a essa tendência, mas apoiá-la. Isso
significa que serão exigidas outras habilidades do departamento de TI que
não eram vistas anteriormente. Essas habilidades envolvem principalmente
questões como virtualização e também aquelas necessárias para combinar a
estrutura do seu próprio data center com aquilo que está disponível na internet. Por um bom tempo, isso será um sistema híbrido. Companhias vão executar seus sistemas localmente, mas também vão utilizar mais capacidade da
rede. Será necessário ter uma equipe que compreenda essa movimentação
e saiba como aproveitar o momento. Se você olhar para o longo prazo, você
verá uma transformação notável, já que hoje, a maior parte dos investimen-
28
A economia digital
tos de uma companhia em tecnologia vai para manter sua infraestrutura interna, tanto hardware quanto data center e aplicações. À medida que as empresas se movem para a nuvem, conforme chamamos, mais empregos serão
reduzidos dentro das companhias. O departamento de tecnologia poderá
encolher com o tempo, mas vai se concentrar mais em questões avançadas
de negócio como arquitetura da informação, desenho de processos e menos
nos aspectos operacionais.
Com as facilidades trazidas pela computação como serviço, o usuário
ficará mais independente da área de tecnologia?
Será muito mais fácil para o usuário final modificar e manipular aplicações
nesse novo mundo porque esses novos sistemas são desenhados especialmente para ele. Os criadores têm dado muito poder aos usuários finais, poder
de personalização. Alguns exemplos são as redes sociais como MySpace e Facebook, que tornam muito mais fácil para o usuário a personalização de funções, o acréscimo e a retirada de funcionalidades e também a mudança de
interface. Todas essas capacidades estarão incluídas nas novas gerações de
sistemas corporativos de tecnologia. Esse é um modelo bastante diferente do
passado, em que um modelo servia para todos, em que fazer mudanças era
muito difícil. A partir de agora, fica bem mais fácil para os usuários finais fazer
muitas coisas por conta própria. A dependência do departamento de tecnologia diminui sim. Quando pessoas jovens chegam ao mercado de trabalho,
essa tendência também se acentua. Essas pessoas estão muito confortáveis
em usar sistemas computacionais e também a internet. Eles são usuários
muito mais sofisticados do que eram os usuários do passado.
Ao mesmo tempo em que precisam se adaptar, empresas de software
terão também de desenvolver outras habilidades para sobreviver nessa
nova era de entrega via internet?
Sim, porque a computação como serviço é um modelo totalmente diferente. Você vê companhias como Oracle ou SAP com áreas de venda totalmente
baseadas em licenças e receitas de manutenção. Será necessária mudança
não apenas no software ou no modelo de precificação, mas também na forma
de gerenciamento. Se você observar, a SAP – que está desenvolvendo uma alternativa sob demanda para seu sistema de gestão – verá que a empresa está
segmentando sua base de usuários. O software como serviço é supostamente
destinado a pequenas e médias empresas, enquanto o modelo tradicional de
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Gestão da Informação
venda é direcionado às empresas de grande porte. Mas é necessário admitir
que existirão muitas empresas que precisarão decidir o que comprar e um desafio para o modelo de computação como serviço é como lidar com as disputas internas de vendas nas próprias empresas de software. Esse é um grande
desafio a ser superado.
Você também fala no livro sobre Thomas Edison – que criou o brilhante conceito de eletricidade como serviço, mas falhou em dar escala ao
projeto. Hoje vemos várias companhias de software tentando se adaptar
a esse novo modelo, mas boa parte delas não está conseguindo. Quais os
principais problemas?
Aspectos tecnológicos serão os mais fáceis para essas empresas resolverem. Isso porque são companhias muito sofisticadas e, como vemos com a
própria Microsoft, estão aptas a se deslocar para esse novo modelo. Os maiores desafios estão em como elas ganham dinheiro. Tecnologicamente, elas
conseguem fazer a mudança, mas o que as confunde é o fato de elas não saberem se vão ganhar dinheiro no modelo de software como serviço da mesma
forma como no modelo de licenças e manutenção. É por isso que vemos companhias como a Microsoft muito nervosas e devagar na implantação de serviços on-line. É difícil compreender como isso vai se pagar. Descobrir como vão
lucrar talvez seja o principal desafio para elas.
Você comenta em algumas partes do livro sobre as experiências de
Google, Amazon e Salesforce.com na área de computação como serviço.
Você considera esses os principais esforços atuais nessa área?
A Salesforce.com e a Amazon têm grandes bases de clientes, enquanto o
Google parece estar em um estágio anterior, com o Google Apps. Mas de certa
forma, todos são pioneiros em seus modelos de negócio. Eles estão seguindo
caminho semelhante, em que começam com pequenos e médios clientes e
passam posteriormente a clientes de maior porte. Isso será tendência, já que
pequenas e médias companhias não têm muito dinheiro para gastar em servidores, estabelecer seus próprios data centers ou licenciar muitos softwares. Pequenas empresas estiveram em desvantagem por um longo tempo. O modelo
de computação como serviço permite que elas mergulhem em sistemas muito
sofisticados como o da Amazon – que aluga parte da capacidade de processamento ociosa em seus data centers – por uma pequena taxa. No entanto,
gradualmente, veremos grandes companhias aderirem ao modelo.
30
A economia digital
Estamos vivendo cada vez mais na era da “economia do grátis”. Se
essas empresas de TI aderirem aos modelos gratuitos, como o do Google
Apps, quais devem ser as principais fontes de receita?
Existem duas maneiras de ganhar dinheiro mesmo distribuindo software gratuitamente. Uma é pelo modelo de anúncios em que o software se torna uma
espécie de mídia. Você atrai a atenção das pessoas para o produto gratuito e
quando elas estiverem atraídas, você apresenta anúncios dentro do próprio
software. Outra forma, que ainda não vimos, é a comercialização de informações.
Quando você oferece uma certa aplicação, coleta dados, e depois pode vendê-los
– claro que suprimindo o nome da empresa em questão. O Google realmente
oferece gratuitamente um pacote de software de produtividade com anúncios,
mas também tem uma opção paga sem propaganda e com suporte. Salesforce
e Amazon vendem seus serviços também. Então, resta saber se o modelo do
grátis realmente vai se consolidar entre os negócios. Pelo lado do usuário, uma
das grandes questões é: as empresas ficarão confortáveis em permitir que seus
funcionários fiquem expostos a anúncios? Alguns anos atrás eu diria que isso
nunca iria acontecer. Porém, hoje, as propagandas estão ficando tão populares
que as empresas – especialmente as de pequeno porte – podem dizer aos fornecedores: sim, coloque os anúncios, mas mantenha o sistema gratuito.
Você também diz que companhias que vendem produtos ou serviços passíveis de ser totalmente entregues via internet estão ameaçadas
nessa época da computação como serviço. Quais são algumas dessas empresas ameaçadas?
Os negócios de mídia enquadram-se nessa categoria, como músicas,
vídeos, filmes e mesmo notícias. Já estamos vendo alguns deles com problemas. Mas essa será uma tendência maior. Qualquer tipo de negócio que utiliza
análise de informação – seja no segmento financeiro ou saúde, por exemplo
– estão em risco de ter partes suas substituídas por sistemas informatizados
à medida que o processamento de dados on-line se populariza. A indústria
de mídia será a primeira a ser chacoalhada por essa tendência, mas provavelmente a tendência será vista em outras áreas também.
Quais mudanças existirão na economia com a consolidação da computação como serviço?
A boa notícia é que teremos a utilização muito mais eficiente dos ativos
computacionais: as empresas não precisarão mais gastar tanto de seu capital
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Gestão da Informação
com infraestrutura de tecnologia. O resultado pode ser o aumento da produtividade. Por outro lado, existe a preocupação de que a automação por meio do
software on-line possa cortar alguns postos de trabalho. Basta olhar para uma
companhia como o Skype, capaz de gerenciar uma rede global de telefonia
com poucas centenas de pessoas. Tempos atrás se você quisesse criar uma
companhia de telefonia, teria que contratar centenas de milhares de pessoas. A minha preocupação é que veremos vários cortes de postos de trabalho
como resultado. Poderemos continuar vendo o que temos visto nos Estados
Unidos nos últimos 20 anos: uma grande divisão na distribuição de renda
entre os muito ricos e o restante da população.
Quando os usuários estarão maduros o suficiente para aceitar a entrega de serviços via internet?
Se você olhar para certos indivíduos, particularmente os jovens, verá que
eles já fizeram a mudança do software instalado no disco rígido para aqueles
oferecidos via internet. Eles podem fazer tudo o que querem por meio de seus
navegadores de internet. Acredito que a aceitação é apenas uma questão de
ter conexão segura e confiável em banda larga. É uma transição natural. As
pessoas vão superar sua timidez sobre colocar suas informações na rede simplesmente porque o processo é conveniente e tem baixo custo.
Essa geração que está crescendo e está ciente dos benefícios dos serviços oferecidos via internet serão os líderes de amanhã. Você concorda
então que as empresas do futuro já estarão mais próximas da computação como serviço, naturalmente?
Toda mudança tecnológica é uma mudança também de gerações. Para ver
o futuro você precisa ver como as pessoas estão usando a tecnologia. Eles
já estão em uma sintonia com a tecnologia diferente dos mais velhos. Isso
realmente indica o futuro e o futuro acontecerá na internet, em vez de estar
dentro dos computadores.
Se o acesso à internet em banda larga tivesse se disseminado mais rapidamente tempos atrás, a computação como serviço seria mais usada
hoje?
Em certo aspecto sim. Mas acredito que outra coisa importante é a redução
constante das ferramentas de computação e do armazenamento de dados. Em
virtude disso é que é possível construir grandes data centers e servir software
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A economia digital
para milhões de usuários. Até que o processamento computacional e o armazenamento não se tornem baratos o suficiente, não será possível expandir a
computação como serviço. Esse é outro ingrediente chave para executar sistemas em larga escala e com baixo custo.
Com a popularização da computação como serviço entre as empresas,
a tecnologia ainda será fator de diferenciação no mercado?
Eu acredito que não se estivermos falando puramente sobre tecnologia.
Computadores, sistemas operacionais e aplicações ficarão invisíveis para as
companhias. Por outro lado, provavelmente veremos uma explosão de novos
serviços e produtos com a aplicação da tecnologia, da mesma forma como
a sociedade viu a explosão dos equipamentos elétricos com a ascensão da
eletricidade. De certa forma, tecnologia vai importar menos em seu papel tradicional, mas vai significar mais em termos comerciais amplos.
Atividades de aplicação
1. Observe todas as atividades desenvolvidas durante um dia de trabalho (ida ao banco, compras, consultas, pesquisas) e liste os recursos digitais e tecnologias de informação (computadores, celulares, internet,
sistemas etc.) envolvidos nos processos.
2. Elabore opções para a realização dessas atividades sem esses recursos
e tecnologias digitais.
3. Liste as principais vantagens obtidas na utilização das TIs nas tarefas
analisadas anteriormente.
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