Ultra-sonografia da tireóide - Medicina Diagnóstica em São Paulo

Transcrição

Ultra-sonografia da tireóide - Medicina Diagnóstica em São Paulo
EDITORIAL
Ultra-sonografia da tireóide: uma ferramenta
para resolver ou criar problemas?
Maria Cristina Chammas
permite, atualmente,
que modificações milimétricas no parênquima tireoidiano sejam identificadas.
Conseqüentemente, alterações antes não detectadas pela palpação passaram a
fazer parte da rotina do ultra-sonografista.
O
AVANÇO TECNOLÓGICO DOS EQUIPAMENTOS ULTRA-SONOGRÁFICOS
Entre os métodos mais utilizados para a identificação de nódulos dessa glândula (palpação, medicina nuclear, ultra-sonografia), a ultra-sonografia se mostra campeã, evidenciando nódulos em até 80% dos pacientes submetidos a qualquer tipo de exame da região cervical (carótidas, paratireóides, etc.). Paralelamente, sabemos que 50% da população acima de 40 anos possuem nódulo na tireóide.
O resultado da soma desses fatos é a descoberta de inúmeros nódulos não palpados pelo
médico, clínico ou cirurgião, denominados incidentalomas e que geralmente constituem
um problema diagnóstico e de conduta. Isto ocorre, sobretudo, quando o exame ultrasonográfico não informa o que o médico solicitante necessita saber. Mais do que isso, cria
uma ansiedade, muitas vezes desnecessária, para ele e para o seu paciente.
Por esse motivo, é importante que o ultra-sonografista cumpra o seu papel, mostrando
(ou negando) indícios que possam caracterizar nódulo suspeito.
Recomenda-se, assim, que todo nódulo seja caracterizado quanto à sua ecotextura/ecogenicidade: hipoecogênica, hiperecogênica, isoecogênica, mista (neste item, identificar
se o nódulo é sólido-cístico,.cujas partes são iguais, misto com predomínio sólido ou com
predomínio do componente cístico). Ainda quanto à textura, informar a presença ou
ausência de microcalcificações, descrever a presença de halo (e também sua espessura).
Os contornos devem ser relatados quanto a sua regularidade (regulares/irregulares) e
definição (bem definidos, parcialmente definidos ou mal definidos). As medidas dos
eixos devem incluir o halo, quando existente, sendo aceita a medida do maior eixo obtido
na varredura ultra-sonográfica. Além desses predicativos, é importante referir a localização precisa do nódulo, para os controles ultra-sonográficos futuros.
O modo-B é um método que requer técnica, transdutor de freqüência elevada (> 7,5
MHz) e ajuste do equipamento. Para realização do ultra-som-Doppler este cuidado deve
ser dobrado, pois além destas variáveis, a máquina deve ter o mapeamento Doppler
sensível e o médico operador deve ter conhecimento da técnica correta, que é fundamental. Segundo as recomendações da Radiological Society of North America (RSNA), o
mapeamento Doppler deve ser realizado por equipamento adequado e operador treinado
para este fim. Caso contrário, é melhor que não se realize este método, pois o benefício ao
paciente será duvidoso(1).
Outro dilema é decidir se interpretamos uma alteração focal observada no parênquima
como nódulo. Alterações hipoecogênicas, de morfologia arredondada e parcialmente
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definida, que mimetizam nódulo são freqüentes, particularmente nas glândulas acometidas por tireoidites. Nestes casos, a melhor forma de descrevê-las é evitar a terminologia “nódulo”, preferindo-se a nomenclatura “área hipoecogênica mal definida”
ou similar. Esta medida cautelosa é importante, uma vez que, diante do relatório ultra-sonográfico taxativo da existência de nódulo, o médico será obrigado a continuar
a investigação diagnóstica, gerando novo problema clínico, que queremos evitar. Como
método complementar, podemos lançar mão do mapeamento Doppler colorido, que
mostra, nos casos em que não se caracteriza nódulo verdadeiro, ausência de desvio
dos vasos naquela região do parênquima tireoidiano.
Na finalização do exame é conveniente que se faça uma varredura da região cervical
para estudo dos linfonodos. Este tempo do exame pode auxiliar o raciocínio diagnóstico do ultra-sonografista, pois com a identificação de linfonodo suspeito (com microcalcificações, áreas císticas, etc.) podemos reexaminar a tireóide e termos a chance de
valorizar um nódulo que tenha sido negligenciado à primeira vista.
Concluindo, a correta interpretação das imagens, o emprego adequado da técnica de
exame e o conhecimento das limitações do método, aliados ao relatório elaborado
com informações relevantes para o médico requisitante, certamente será uma ferramenta que auxiliará no diagnóstico das doenças da tireóide, resolvendo e não criando
problemas.
1. Management of thyroid nodules detected at US: Society of Radiologists in US Cosensus Conference
Statement. Radiology 2005;237:94–800.
VI
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