Mantenha n.º 11 - Associação Caboverdiana de Setúbal
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Mantenha n.º 11 - Associação Caboverdiana de Setúbal
” A H N E T N “MA Nesta edição: Boletim Informativo da Associação Cabo Verdiana de Setúbal “25 de Abril 2 Rostos da Bela Vista 2 “Ler para Novos Horizontes Ter” 3 “Um Milénio Para Todos” 4 “Olhares” 7 Nós Terra 8 25 de Abril Há 34 anos, Portugal transformou -se pela mão do “Movimento dos Capitães” que o povo na rua transformou “na Revolução dos Cravos”. É uma data incontornável do século XX português à qual o “MANTENHA” e a ACVS não ficam indiferentes. A Revolução de Abril de 1974 devolveu ao povo português a liberdade e a democracia, pôs fim à guerra colonial e abriu caminho para a independência das então chamadas “províncias ultramarinas”. Passados que estão 34 anos, Portugal está ainda longe de ter concretizado todos os objectivos que decorreram do “25 de Abril” e que a Constituição da República Portuguesa consagrou. O país está mergulhado numa crise social, financeira e económica em boa parte resultante das opções políticas que os sucessivos governos constitucionais foram adoptando. Quanto aos novos países de língua oficial portuguesa, passados que foram os períodos conturbados de conflitos internos e da ocupação de Timor pela Indonésia, procuram, no contexto das nações e das regiões ode estão inseridos, o caminho do desenvolvimento. È justo que se registe que Cabo Verde foi de todos os novos países que emergiram da “Revolução de Abril” aquele que, pela estabilidade política e social e pela boa governança, mais se desenvolveu. || Directora - Felismina Mendes ANO 2 N.º 11 Mensal Abril de 2008 Uma certa maneira de estar... diferente! Eu não vou ao “Rock in Rio” As mobilizações massivas feitas por via dos “media”, não pelo valor intrínseco dos eventos ou das atitudes, mas pelo interesses económicos privados que lhe estão associados e, porque não dizê-lo, pelo domínio das consciências, é um dos atributo das sociedades mediatizadas e “modernas”. A padronização dos hábitos de consumo, a criação de necessidades e de “novos produtos” que prolongam o ciclo de vida dos “velhos produtos” e outras estratégias de marketing e da engenharia do saber vender, o que quer que seja. São, igualmente, características da sociedade da abundância, que também se pode classificar como, do desperdício e da insustentabilidade. Não faço juízos de valor sobre os acontecimentos, obras, produtos ou iniciativas que, e a título de mero exemplo, venha a referenciar ou que já tenha referenciado. Que fique claro são, apenas e só: exemplos. Não vou ao “rock in Rio” por uma opção de resistência construída no argumento do “Eu vou ao Rock in Rio”, não vejo os “Morangos com Açúcar” porque toda a gente vê, não vou pôr a bandeira nacional na janela, ou no carro, durante o mundial de futebol, porque toda a gente a vai colcar. Toda a gente vai, toda a gente faz, toda gente vê, toda a gente compra. Eu não! Mesmo que isso seja politicamente incorrecto e que olhem para mim como um animal tresmalhado do seu rebanho. De facto não me importa rigorosamente nada. Não é uma questão de teimosia ou de sentimento contraditório. É, apenas, porque gosto de ser autónomo e cultivo a independência das minhas opções, aliás características que são, ou melhor, eram, peculiares à minha profissão. Digo eram porque os “livres e modernos pensadores” que tutelam a educação na região e, mais recentemente, no país resolveram que os professores não passam de triviais funcionários públicos. E, toda a gente acha bem. Eu não! Enfim as habituais modernices com que ultimamente nos têm brindado. A propósito de modernices ouvi um dos ministros da República, perdoem-me não ter fixado o nome e a pasta, equacionar a possibilidade de retirar o chamado 14.º mês aos pensionistas. Mais uma das eficazes medidas de combate ao défice público e de grande visão estratégica para o tão desejado crescimento económico. Não há dúvida que este governo e este engenheiro são inovadores, modernos e criativos. Tiram aos pobres para dar aos ricos. O contrário é tão antigo e ortodoxo como o Robin Hood. Não me importo de não ser politicamente correcto ou de estar a remar contra a maré quando digo: - Não vou ao “rock in Rio”. Importa-me, porém, que os hábitos nos sejam induzidos artificialmente, com base em falsos pressupostos ancorados nos inevitáveis efeitos e benefícios da mundialização (benefícios que deixam de fora uma imensa maioria), e nos discursos vazios de conteúdo mas, prenhes de intenção em satisfazer os interesses de uma pequena minoria. Há pouco tempo um anúncio publicitário terminava com as seguintes palavras de uma conhecida figura televisiva. – “Isto é verdade. Não é publicidade.” Aos cidadãos (não digo às cidadãs e aos cidadãos, talvez porque não seja tão inovador, moderno e criativo com o engenheiro que chefia o governo ou, talvez porque não seja necessária a redundância para incluir os géneros. Tenho de verificar se isto é cientificamente correcto porque, politicamente é, de certeza, incorrecto), mas como dizia, aos cidadãos compete avaliar o que é publicidade no discurso e na prática política. || Publicado em Maio de 2006, no Expresso das 9, Ponta Delgada, Aníbal Pires Página 2 “MANTENHA” A esperança renascida a cada Abril Eis-nos em Abril dos cravos e da esperança a cada dia renascida de que “UM MUNDO MELHOR É POSSÍVEL”. nómico do que a nível cultural, ao esgotamento dos recursos naturais e, muito menos, ao caminho dos retrocessos civilizacionais que estão a ser E isto porque estou certa de que as praticados em nome da modernidade. realizações humanas não têm de ser, Portugal é, dos países da União Euronecessariamente, as que nos condu- peia, aquele onde se verificam as zem à auto-destruição, às profundas maiores assimetrias na distribuição assimetrias na distribuição do rendi- do rendimento, isto é, onde a discremento que discrimina de uma forma pância entre os ricos, cada vez mais mais acentuada a nível social e eco- ricos, e os pobres, cada vez mais pobres, é mais acentuada. É porque a esperança vive que continuamos no movimento associativo, é porque a esperança vive que recordamos e celebramos o 25 de Abril, com a mesma determinação e alegria que celebramos o dia da Independência de Cabo Verde. || Rostos da Bela Vista — A Isabel Chamo-me Isabel e estou em Portugal há 9 anos. Vim evacuada por motivos de saúde e acabei ficando em Portugal. O meu companheiro e os meus filhos já aqui residiam e faziam a sua vida e só eu estava ainda em Cabo Verde. Logo que cheguei e após os primeiros tratamentos, comecei a trabalhar na cantina da Setenave como cozinheira, preparando as refeições para os trabalhadores. Gostei de lá trabalhar, mas como a cantina depois fechou tive de ir fazer outras coisas, tais como trabalhar, como mulher-a-dias e, seguidamente, no serviço de limpeza numa grande superfície comercial. Contudo, devido à idade, tive de vir embora e voltei ao trabalho anterior. Em Cabo Verde, eu era funcionária da Agência Nacional de Viagens. Quando cheguei a Portugal e nos primeiros tempos, estive a morar na casa de uma prima minha. Só mais tarde e depois de ter começado a trabalhar é que fui viver com o pai dos meus filhos, ficando a vida mais fácil, pois éramos os dois a trabalhar e os meus filhos já eram adultos e tinham a vida deles. Tenho três filhos: dois rapazes e uma rapariga. O meu marido já cá está há 15 anos. Agora, pelo menos, já estou ao pé da família, embora com saudades da Terra. Tenho saudades de tudo, mas principalmente dos amigos, porque na minha terra sou uma pessoa muito querida, sou amiga de todas as pessoas e elas também me amam. Sou uma pessoa já de uma certa idade, mas tenho espírito jovem. Sou alegre, gosto de conviver e deixei muitas saudades. Quando estava de partida para Portugal, todas as pessoas que me amam estavam a chorar. Estou à espera de conseguir os meus documentos e, entretanto, vou fazendo o que aparece, pois a minha idade já é avançada. Eu gosto de Batuku, desde que vivia em Cabo Verde. Por isso, quando soube que havia cá em Setúbal uma Associação Caboverdiana com um grupo de Batuku, fui logo saber onde ficava e o que deveria fazer para entrar no grupo. Gostei da ACVS e entrei para o grupo. Hoje, faço parte das Rinka Finka. Como dizem os mais novos, sou uma”cota” fixe e que gosta de viver. Nós ensaiamos aos domingos. É fácil conciliar com a vida familiar porque deixo tudo organizado em casa e posso vir ensaiar e divertir-me com as minhas companheiras. Também gosto muito quando nos convidam para ir actuar num espectáculo fora e mostrar a nossa cultura, porque é a coisa mais preciosa que nós temos. O momento mais difícil, desde que estou em Portugal, foi quando adoeci e fiquei cega, pois estive muito tempo à espera para ser operada: três anos. Estive mesmo mal! Se não fosse tão amada pelos outros, não sei o que teria feito à minha vida. Os meus amigos, quando me iam ver, ajudavam-me em algumas tarefas. Como estava isolada, as amigas do Batuku iam-me buscar a casa para vir aos ensaios. Mesmo com a minha cegueira, eu divertiame porque tenho um brio muito grande em viver. Havia até quem pensasse que eu via. Agora, preocupa-me não ter ainda documentos. Eu tinha dois vistos de permanência, mas como fiquei cega e sem trabalhar, não consegui o terceiro. Hoje, com 63 anos, é difícil…Gostava de voltar a Cabo-Verde, mas sem documentos não é possível. Pedi ajuda à Associação para ver se os consigo, porque sei que ela tem ajudado muitos Imigrantes. Esta Associação significa muito para mim. Para além da nossa Presidente que eu adoro, tem um grupo de dirigentes muito dinâmicos e está a ter um desenvolvimento que nunca teve no passado. As pessoas que cá vivem há mais tempo do que eu estão sempre a comentar isso e eu tenho seguido de perto todo o esforço que ela faz no sentido de procurar coisas para o desenvolvimento da nossa comunidade e dos moradores do Bairro em geral Todos nós somos testemunhas dos progressos feitos nos últimos anos e um grande exemplo é o Gabinete Consular e todo o apoio prestado a nível de documentação. Eu, como gosto da ACVS, tento colaborar e ajudar no que for preciso, pagando as minhas cotas mesmo com muita dificuldade, pois não estou a trabalhar. Mas vale a pena. Também colaboro nas limpezas da sede porque aqui todos limpam, inclusive a Presidente. Quando fazem um “Djunta Mom” para fazer obras ou pintar, nós, as mulheres, fazemos o almoço para os que estão a trabalhar e ajudamos a arrumar, depois das obras. A nossa comunidade devia apoiar mais a ACVS, principalmente os moradores do Bairro. Para mim, a mulher cabo-verdiana é muito trabalhadora e lutadora, fazendo tudo para conseguir os seus objectivos e ser feliz. || Página 3 “MANTENHA” ATL — “Ler para Novos Horizontes Ter” No âmbito do Dia Internacional do Livro Infantil, que se comemorou no dia 2 de Abril, O ATL da ACVS iniciou a actividade "LER PARA NOVOS HORIZONTES TER". Esta actividade tem como objecti- vos a promoção do gosto pela leitura e sua importância na formação das crianças e jovens, aprender a aprender lendo e brincando e a criação de uma biblioteca infanto/ juvenil que ficará aberta à utilização das crianças e jovens que frequentam as actividades que são promovidas no âmbito da ACVS. A campanha de angariação de livros é dirigida às instituições, às editoras e livrarias mas também às pessoas. Os leitores do “MANTENHA” podem também contribuir com a oferta de livros para a Biblioteca que a ACVS está a construir. Não deixem de colaborar com esta iniciativa que mais não pretende do que proporcionar às crianças e jovens o acesso ao saber e à cultura. Este projecto vai trazer à ACVS alguns escritores infantis e juvenis. de estórias A realização de uma feira do livro cujos proveitos serão destinados à aquisição de livros e ao arranjo do espaço onde ficará instalada a Biblioteca, sessões de leitura colectiva e a dramatização de alguns textos completam este projecto que não acaba aqui. Em qualquer altura a oferta de livros é bem vinda. || Página 4 “MANTENHA” Objectivos do Milénio Comemorando-se em 2008 o Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, a Câmara Municipal de Setúbal vai marcar este acontecimento, através da Divisão de Inclusão Social – Gabinete do Imigrante e Minorias Étnicas e em parceria com a A4 (Associação de Angolanos e Amigos de Angola), a ACVS (Associação Caboverdiana de Setúbal), EDINSTVO (Associação de Imigrantes de Leste), FRATIA (Associação de Imigrantes Romenos e Moldavos), ICE (Instituto das Comunidades Educativas), IPJ (Instituto Português da Juventude), REAPN (Rede Europeia Anti-Pobreza Núcleo de Setúbal) e a SELES (Sociedades de Estudos e Intervenção em Engenharia Social) com diversas actividades, durante o mês de Maio, do dia 1 ao dia 30. Estas actividades serão distribuídas por Seminários, Debates, Ciclos de Conversas, Filmes, Workshops e Exposições e realizadas em Espaço Aberto e no SEI. Integrado nesta iniciativa, estará o “Projecto Local Milénio de Todos” que tem como finalidade a difusão das acções relacionadas com os 8 Objectivos do Milénio traçados pelo ONU e que são: a redução da pobreza extrema, da fome e da mortalidade infantil e materna, o acesso universal ao ensino primário, a promoção da igualdade de géneros, o combate de doenças graves como a sida, a garantia da sustentabilidade ambiental e o fortalecimento da parceria global para o desenvolvimento. A diversidade cultural constitui um motor fundamental do desenvolvimento sustentável das comunidades, dos povos e das nações, devendo desenvolver-se num quadro de democracia, de tolerância, de justiça social e de respeito mútuo. A Câmara Municipal de Setúbal conta com a participação de todos, pois é através de uma reflexão conjunta que se encontrará o caminho para um mundo mais justo e solidário. PROGRAMA Durante o mês Workshop de construção de fantoches No Espaço Aberto para encenação da história infantil “Os Ovos Misteriosos” 17h00 – 18h30 Org.: CMS (Espaço Aberto) Inscrições de 28 de Abril a 2 de Maio Espaço Aberto e SEI. Informação e Divulgação sobre os 8 Objectivos de Desenvolvimento do Milénio no Bairro da bela Vista Org: Associação Caboverdiana de Setúbal 1 a 15—Exposição da Meia Maratona Fotográfica 07 “Multiculturalidade” Associação Caboverdiana de Setúbal (R. do Antigo Olival, 8-E 11) Terça a sexta, das 09.30 às 12.30 e das 14h00 às 17h30. Sábado, das 09h00 às 12h30 Org.: Projecto “Um Milénio de Todos” Dia 4—Seminário “A Nova Lei da Imigração” Auditório Municipal Cinema Charlot 09h30 às 13h00 Org.: Associação EDINSTVO Associação de Imigrantes de Leste SEMANA OBJECTIVO 2015 – 8 a 14 Dia 8—Ciclo de conversas interculturais “Às Voltas com…A Sexualidade: Mitos e Realidades” Sociedade Musical Capricho Setubalense (R. Sociedade Musical Capricho Setubalense, nº 1) - 21h30 Org.: CMS, ACVS, REAPN Dia 9—Debate “Os 8 Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”: Um Milénio de Todos” Centro de Cidadania Activa (R. João Eloy do Amaral, 138) 09h30 – 15h00 Inscrições e mais informações: GIME/ SEI — Gabinete do Imigrante e das Minorias Étnicas/Setúbal, Etnias e Imigração (R. Amílcar Cabral, nº 4) 265545174 Org.: Projecto “Um Milénio de Todos” Dias 6 e 8—GRAFFIT’ARTE – Workshops de graffiti Sobre a temática dos 8 ODMs Inscrições de 28 de Abril a 5 de Maio Espaço Aberto (R. do Monte, nº 6) – 265721006 e GIME/SEI - Gabinete do Imigrante e das Minorias Étnicas/Setúbal, Etnias e Imigração (R. Amílcar Cabral, nº 4) -265545174 Dia 10—GRAFFIT’ARTE Paint Day 10h00 – Pátio do Avião (Bela Vista) e Centro Multicultural Debate “8 formas de Mudar o Mundo Nós Podemos!” Com a presença do MC Chullage/ Lançamento da segunda edição do jornal “Vozes do Bairro”/ Workshop de Breakdance/ Actuação de bandas Hip-Hop 15h00 – Centro Multicultural (R. das Piteiras) Org.: CMS (Espaço Aberto) Dias 13 e 14—Ciclo de Documentários da “Mostra de Cinema Objectivo 2015” Dia 13 15h00 “China Blue” 21h00 “Sisters in Law” Dia 14 15h00 “Oxalá cresçam pitangas” 21h00 “Pesadelo de Darwin” Instituto Português da Juventude (Largo José Afonso) Org.: CMS e Campanha Objectivo 2015 De 16 a 31—Exposição da Meia Maratona Fotográfica 08 “A Mulher” Centro da Cidadania Activa (R. R. João Eloy do Amaral, 138) Segunda a sexta, das 9h30 às 13h00 e das 14h30 às 18h00 Org.: Projecto “Um Milénio de Todos” Dia 24—“A Dançar a gente também se entende” 15h00 – Centro Multicultural (R. das Piteiras) 14h30 – Workshop Danças do Mundo Inscrições a partir de 5 de Maio no SEI - 265545174 16h30 – Apresentação da peça de teatro “Os Ovos Misteriosos” resultante do Workshop de Construção de Fantoches 17h00 – Actuação de grupos de dança de diferentes países e culturas Org.: CMS e Associações de Imigrantes do Concelho Dia 30—Ciclo de conversas interculturais “Às voltas com… Religiões e Espiritualidades” Sociedade Musical Capricho Setubalense (R. Sociedade Musical Capricho Setubalense, 1) 21h30 Org.: CMS, ACVS, REAPN. || Página 5 “MANTENHA” ATL — “workshop” de dança No fim do mês de Março uma outra experiência radical. Fomos até ao Salão da Paróquia da Nossa Senhora da Conceição, aqui na Bela Vista para, em conjunto com um grupo de crianças que lá frequen- tam actividades, participarmos na iniciação às danças tradicionais de Cabo Verde. As monitoras deram-lhe um nome estrangeirado, não percebemos muito bem porque é que os adultos têm a mania de complicar tudo, porque o que fomos fazer foi mesmo aprender a dançar. E foi radical pois acertar os passos ao som da música não é tarefa fácil. Para alguns de nós o “rapel” e o “slide” foi bem menos “radical” do que esta experiência que ao que nos disseram vai ter continuidade. Bem divertido E lá fomos acertando os passos A Actividade A princípio não gostámos da ideia mas depois desta experiência estamos aí prontos para aprender esta forma de comunicação e cultura que é a dança. Objectivos: E já decidimos, pelo menos as raparigas estão de acordo, vamos formar um grupo de dança no ATL da ACVS. - Estimular o gosto pela dança - Promover intercâmbios entre crianças de várias origens culturais - Promover a dança para um factor de expressão e desenvolvimento pessoal - Dar a conhecer a dança tradicional Cabo-verdiana Data e Local: - 25 de Março, na Paróquia da Nossa Senhora da Conceição Bela Vista Participantes: - 16 crianças do ATL da ACVS - 2 jovens do grupo de dança da ACVS - 8 crianças do programa Escolhas da Paroquia No princípio e para descontrair... - 4 monitoras Página 6 “MANTENHA” Mercado de trabalho e vínculos laborais As questões laborais e, particularmente, a precariedade dos vínculos, está na ordem do dia. Paulo Mendes Vamos aos números: em Portugal, 22,4% dos trabalhadores têm vínculos precários; ironicamente, a manutenção de uma parte desta precariedade tem à cabeça o próprio Estado. São milhares de trabalhadores que se encontram na mais primária relação laboral, tendo como patrão o Estado (117 mil) e, por isso, é exigível uma postura moralizadora do próprio Estado, ou seja, que a precariedade não seja na prática tolerada no seu interior. A precariedade laboral afecta de forma particular os jovens, atingindo cerca de 35,5% dos traba- “(…) em lhadores com menos de 34 anos. 40% dos trabalhadores não têm vínculos definitivos com as empresas e não há números seguros sobre a dimensão dos trabalhadores “verdes” (recibos verdes). A Associação Industrial de Construção Civil e Obras Públicas dos Açores (AICOPA), perante um estudo realizado, referenciou a existência de 11% de empresas com actividades ilegais, facto que tem necessariamente consequências negativas sobre os vínculos laborais, sendo certo que a área de construção civil é um terreno fecundo para a precarização das relações laborais. E o que dizem os responsáveis políticos sobre isso. Sócrates, recentemente, disse o que todos já sabem: que a existência de muitos trabalhadores em regime de recibos verdes e a pagarem toda sua protecção social é de um “injustiça gritante”, numa pela voz de Jerónimo de Sousa, chamou a atenção da utilização dos estágios profissionais para esconder a verdadeira dimensão do desemprego na região. A observação não deixa de ser pertinente, sendo que os próprios sindicatos a nível regional já evidenciaram, igualmente, esta preocupação. Por isso, é importante ter em atenção o número real de pessoas que estão a fazer o estágio e o peso que assume no apuramento das taxas de desemprego na região. No entanto, é inquestionável a importância que os programas de Estágios Profissionais têm na promoção do primeiro contacto dos jovens com o mundo laboral e na acumulação de experiência para os futuros empregos. O centro da discussão deve estar, na minha perspectiva, nos seguintes aspectos: saber se estagiários ficam ou não a trabalhar nas Portugal, 22,4% dos trabalhadores têm víncu- entidades onde fizeram o estágio; se prevalecem ou não expedientes los precários; ironicamente, a manutenção de uma regulares por parte das entidades no recurso ao parte desta precariedade tem à cabeça o próprio estágio sem a mínima Estado. São milhares de trabalhadores que se encon- hipótese de enquadrarem no seu quadro os estagiários. tram na mais primária relação laboral, tendo como Por outro lado, não podemos esquecer os trabalhadores que nem sequer existem à luz da lei para serem contabilizados como tendo os vínculos precários ou outros pois, simplesmente, não existem, por estarem desprovidos de qualquer tipo de vínculo. É um problema que aflige muitos trabalhadores e, com maior incidência, em particular, nos trabalhadores migrantes. O sector de construção civil é fértil para a “não existência” de trabalhadores, sendo que o problema reside não nas grandes empresas mas sim e, muitas vezes, nos subempreiteiros. O Estado, nos critérios de adjudicação das obras públicas, deveria levar isso em consideração, ou seja, tentar influenciar para a existência de boas práticas no relacionamento entre as empresas e os subempreiteiros e no combate à precariedade e exploração laboral. Nos Açores, onde vivo e trabalho, patrão o Estado (117 mil) (…)” altura que se iniciou o Conselho para a Concertação Social, tendo em cima da mesa o novo código laboral em que é expectável que venha a ter consequências positivas para a diminuição da precariedade laboral, em que por detrás de números, estão homens e mulheres que merecem mais esforço dos responsáveis políticos para a minimização deste problema. Nos Açores, Carlos César, no discurso de encerramento do Congresso dos socialistas açorianos, declarou “tolerância zero” para a precariedade laboral. O PCP, durante as Jornadas Parlamentares que realizou nos Açores, Sobre o assunto, alguns dados confirmam que 85% dos licenciados que efectuaram o estágio estão empregados e 15% continuam desempregados. Mas, aqui, é relevante saber em que condições estes jovens estão a trabalhar e a fazerem o quê exactamente. Não obstante as alterações legislativas que podem ocorrer no sentido de combater a precariedade laboral, julgo que há três coisas que temos de reforçar: a valorização e qualificação das pessoas, enquanto instrumento central para combater a precariedade e potenciar a tão falada flexibilidade laboral; o desenvolvimento do tecido económico e capacitá-lo na absorção das pessoas qualificadas; e o reforço da fiscalização laboral. || ANO 2 N.º 11 Página 7 Pobres de novo tipo As transformações que estão a ser enquistadas nos sectores sociais do Estado têm um suporte ideológico e, não temos que ter medo das palavras só porque alguém um dia resolveu “por fim à história” e “decretar o fim das ideologias”. Sendo que o discurso do fim a história e das ideologias é, em si mesmo, um dos pilares que sustenta a ideologia dominante, ideologia uniformizadora do pensamento e do comportamento e que nos pretende transformar numa mole acrítica de meros factores de produção e consumidores formatados, por necessidades construídas nos monitores da televisão, da Internet ou, dos famigerados telemóveis. Pobres que trabalham, não esmolam, nem povoam as ruas das nossas urbes estendendo a mão à caridade! Cidadãs e cidadãos que auferem rendimentos do seu trabalho mas que, devido às políticas de baixos salários realizadas em nome da competitividade da economia global e de outras falácias se vêm obrigados a recorrer às instituições de protecção social para garantirem alimento para si e para os seus filhos. Se este fenómeno atingiu em Portugal uma visibilidade que não pode ser escamoteada, aliás é o próprio governo que nos fala dos “pobres”, já há muito se verifica quando olhamos público, nas áreas sociais em que o para o Mundo. As assimetrias no Estado lhe cabe, constitucionalmente, desenvolvimento mantêm-se e, em garantir a universalidade. alguns casos aprofundam-se e os A política públicas para a educação, Objectivos do Milénio, ficam-se pelas saúde e segurança social, bem assim como as anunciadas políticas de flexibilização da legislação laboral têm subjacentes as orientações ideológicas neoliberais da teologia do mercado em que aos Estados caberá apenas o papel de regulador pois, os mesmos teólogos da apologia do “menos Estado melhor Estado” reconhecem que o “mercado” deixa sempre um segmento da população que não acede às supostas “vantagens” e “virtualidades” do mercado. A oleada máquina de propaganda dos poderes fustiga os cidadãos com as incomparáveis vantagens das “reformas” em curso e a necessidade de tornar o Estado menos pesado, ou por outras palavras abrir espaço à livre iniciativa privada e ao empreen- O produto final destas políticas dorismo. está aí! Mais de 500 mil desempregados e 2 Em paralelo milhões de decorreu e decor“(…) Pobres que trabalham, não pobres. O tal re uma tenebrosa segmento da esmolam, nem povoam as ruas campanha de população a que os d e s a c r e d i t a ç ã o das nossas urbes estendendo a benefícios do merdos s e r v i ç o s mão à caridade! Cidadãs e cidacado e do neolibepúblicos e dos dãos que auferem rendimentos ralismo não chetrabalhadores da do seu trabalho mas que, (…)” gam administração central, regional e E depois… Bem! local. E depois, esta novidade - que a históO objectivo é, não tenhamos dúvidas, ria registará como uma das marcas abrir caminho à penetração do sector do actual Governo - pobres de um privado, em paridade com o sector novo tipo. boas intenções e de bem com a consciência de quem dá uma moedinha à porta do Templo. A crise não é exclusivamente financeira. A crise é, sobretudo, uma crise de valores. || Olhares! www.anibalpires.blogspot.com Associação túbal Cabo Verdiana de Se Rua do Antigo Olival, nº 8 – E 11 2910-060 Setúbal Tel: 265771002 Fax: 265 771002 Geral: [email protected] Boletim: [email protected] Site: www.acvsetubal.org Ficha Técnica: Directora - Felismina Mendes Coordenação e Textos - Felismina Mendes, Maria da Luz Santos e Aníbal Pires 1000 exemplares Distribuição gratuita Informações/Agenda Exposição Fotográfica na ACVS A exposição fotográfica “Multiculturalidades”, que registou os momentos da 4.º Maratona Fotográfica, promovida pela Câmara Municipal de Setúbal, está patente ao público na sede da ACVS, no horário do expediente, de 1 a 15 de Maio. “Rinka Finka” em Lagos, no Algarve No âmbito do V Festival dos Descobrimentos que se realiza em Lagos, no Algarve, de 24 de Abril a 4 de Maio, o grupo de batucadeiras “Rinka Finka” vai actuar, a convite da organização, no dia do encerramento do festival. O filme “A Ilha dos Escravos” estreia a 8 de Maio "A Ilha dos Escravos" do realizador Francisco Manso vai ter a estreia comercial em Portugal no proximo dia 8 de Maio de 2008 : Lisboa: Cinemas do Colombo e Campo Pequeno Porto (Antas): Cinemas Dulce Vita. “Nós Terra” Cabo Verde e os Açores procuram pontes de cooperação O presidente do Governo Regional dos Açores estabeleceu como uma das prioridades para a sua visita oficial de sete dias a Cabo Verde a aproximação entre o empresariado cabo-verdiano e açoriano. Nesse sentido, Carlos César reuniu-se com o ministro cabo-verdiano da Economia, José Brito, e com operadores económicos e empresários dos dois arquipélagos. Carlos César quer que a sua visita a Cabo Verde seja “muito orientada para a detecção de oportunidades de negócios” e para a facilitação das relações entre os dois governos, cita a Inforpress. De acordo com o presidente do Governo Regional dos Açores, esta maior cooperação económica entre os dois arquipélagos terá de encontrar nos governos a sua sustentação, mas cabe aos agentes privados a “primeiríssima responsabilidade” no aproveitamento das oportunidades. A sua delegação integra, deste modo, representantes do sector agrícola e empresários dos sectores financeiro, energético, dos combustíveis, transportes aéreo e marítimo, pesca, construção civil, lacticínios e turismo, entre outros, que estarão hoje numa reunião com empresários cabo-verdianos. Na agenda de César para o primeiro dia de visita consta ainda um encontro técnico a nível dos Sectores, no Palácio das Comunidades com início às 10 horas. Realiza-se també, uma outra reunião técnica sobre as ques- tões da Parceria e relações União Europeia, RUP e Cabo Verde. O presidente do Governo Regional dos Açores aproveita a manhã para visitar ainda a Cidade Velha. À tarde participa na cerimónia de assinatura do Protocolo de Transferência e Cooperação entre a Caixa Económica, o Banco Espírito Santo e o Banco Espírito Santo dos Açores. Reúne-se depois com o presidente da Câmara Municipal da Praia, Felisberto Vieira. || O Euro poderá, a prazo, circular livremente em Cabo Verde No âmbito das comemorações dos dez anos do acordo cambial entre Cabo Verde e Portugal o primeiroministro, José Maria Neves, aventou a possibilidade do euro começar a circular livremente em Cabo Verde. O ministro das Finanças português, Fernando Teixeira dos Santos, que veio expressamente a Cabo Verde participar na cerimónia que celebra esta parceria financeira única na relação entre os dois países, disse que “esta é uma ambição natural de Cabo Verde, face aos bons resultados que tem alcançado”. || Parceiros e patrocinadores