ESTUDO DA FADIGA CRÔNICA E SUA REPERCUSSÃO NA

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ESTUDO DA FADIGA CRÔNICA E SUA REPERCUSSÃO NA
ESTUDO DA FADIGA CRÔNICA E SUA REPERCUSSÃO NA
QUALIDADE DE VIDA
DE TRABALHADORES EXPOSTOS A AGROTÓXICOS ORGANOFOSFORADOS
Fernanda Guimarães de Andrade
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PRODUÇÃO, AMBIENTE E SAÚDE
ORIENTADORA:
PROFª DRª HELOÍSA PACHECO-FERREIRA
Professora Adjunta da Faculdade de Medicina da UFRJ
Professora Adjunta do IESC/UFRJ
Rio de Janeiro
2007
ii
Andrade, Fernanda Guimarães de
Estudo da fadiga crônica e sua repercussão na qualidade de vida de
trabalhadores expostos a agrotóxicos organofosforados / Fernanda
Guimarães de Andrade. – Rio de Janeiro: UFRJ / IESC, 2007.
xiv, 94 f. : il. ; 31 cm.
Orientadora: Heloisa Pacheco-Ferreira
Dissertação (mestrado) – UFRJ/IESC, Programa de Pós-Graduação
em Saúde Coletiva, 2007.
Referências bibliográficas: f. 90-94
1. Praguicida - toxicidade. 2. Inseticidas organofosforados – efeitos
adversos. 3. Fadiga - etiologia. 4. Qualidade de vida. 5. Exposição
ocupacional. 6. Saúde do trabalhador. 7. Riscos ocupacionais. 8. Humano. 9.
Produção, Ambiente e Saúde – Tese. I. Pacheco-Ferreira, Heloisa. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, IESC, Programa de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva. III Título.
iii
ESTUDO DA FADIGA CRÔNICA E SUA REPERCUSSÃO NA
QUALIDADE DE VIDA
DE TRABALHADORES EXPOSTOS A AGROTÓXICOS ORGANOFOSFORADOS
Fernanda Guimarães de Andrade
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto
de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
__________________________________________________________
Profª. Drª. Heloísa Pacheco-Ferreira
Professora Adjunta da Faculdade de Medicina da UFRJ
Professora Adjunta do IESC/UFRJ
_______________________________________________________
Profª. Drª. Carmen Ildes Rodrigues Fróes Asmus
Doutora em Engenharia de Produção - UFRJ
Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro
_______________________________________________________
Prof. Dr. André Luís dos Santos Silva
Doutor em Ciências Médicas - Área de Fisioterapia - Uba
Professor-Pesquisador do Centro Universitário de Caratinga - Unec - Mg.
Rio de Janeiro
2007
iv
AGRADECIMENTOS
Àquele que, muito antes que eu nascesse, projetou a minha existência,
cuidou de mim desde o ventre da minha mãe, guiou minha vida possibilitando a
realização de muitos sonhos e continua abençoando-me e fazendo-me prosperar:
Deus.
Ao Seu filho Jesus Cristo, que para mim não é um ser abstrato, imaginário ou
distante: é o melhor amigo que encontrei em minha vida, com quem compartilho
cada conquista. Nada que eu pudesse escrever seria suficiente para expressar
minha gratidão a quem um dia foi capaz de entregar a própria vida em meu favor.
Aos meus queridos pais, Joel e Marinalva, pelos quais tenho amor irrestrito.
Vocês moldaram meu caráter e deram-me os ensinamentos mais valiosos que
alguém poderia receber. Nada seria suficiente para agradecer tanto carinho e
dedicação. Sem vocês nada seria possível. Obrigada por acreditarem nos meus
sonhos!
Aos meus irmãos, Rafael e Filipe, pelos quais tenho profundo carinho e
cuidado. Obrigada pela ajuda com o computador, pela paciência nos momentos de
estresse... Ainda bem que vocês fazem parte da minha vida! Amo vocês!
Ao amor da minha vida, Jorge Alexandre, por todo carinho, paciência, zelo,
compreensão... você é o anjo que Deus enviou para fazer-me feliz. Agradecerei
amando-te até o último dia da minha vida.
Aos meus avós, tios e primos e também a todos os amigos da igreja, que
sempre me incentivaram e intercederam por mim. Não seria nada sem o carinho e
cuidado de vocês. Amo a cada um de todo o coração.
v
Ao Pastor Josué Gomes de Souza, por todos os preciosos ensinamentos ao
longo da minha caminhada. Obrigada por todo o carinho, por ensinar-me a crescer e
por ajudar-me a moldar meu caráter segundo o caráter de Cristo.
Ao meu eterno mestre, Prof. José Vicente Martins, pelo carinho, amizade e
brilhantes ensinamentos. Nada será suficiente para agradecer a força que sempre
me deu e por acreditar tanto em mim. Você me faz querer ser melhor a cada dia.
Aos amigos Angela Azevedo, Bruno Bueno, Vanessa Dornellas, Priscila
Souza, Bianca Gomes, Martiela Zilli, Natália Regufe, Roberto Takenori, Fernanda
Matheus, Danielle Nova, Paulo Moté, Renato Castro, Júlia Barreiro e toda a equipe
Cirta. Obrigada por compartilhar momentos bons e pelo apoio nos momentos ruins.
O que seria de mim sem vocês?
À Professora e Orientadora, Heloísa Pacheco-Ferreira, pelo carinho,
paciência e oportunidade de aprender e crescer profissionalmente.
Aos professores
André Silva e
Carmem Fróes,
pelo exemplo
de
profissionalismo e competência.
Aos amigos Fernando Zican e Carina Lino, por todo carinho, apoio e
incentivo. Vocês foram fundamentais para que este projeto se concretizasse.
Aos professores e funcionários do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva do
Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, pelo exemplo de profissionalismo.
Aos pacientes do ambulatório de toxicologia clínica do HUCFF pela paciência
disponibilidade em participar do estudo.
vi
Dedico este trabalho ao amor da minha vida Jorge Alexandre – por compartilhar dos meus sonhos;
e aos nossos futuros filhos.
vii
“Um trabalho bem feito é o mais alto testemunho
que podemos dar do nosso caráter”
O. S. Marden
viii
RESUMO
A fadiga é um sintoma encontrado com freqüência na população, presente em uma grande
variedade de desordens clínicas, podendo ocorrer também em indivíduos sadios. Trata-se
de um problema de saúde pública, que pode acarretar déficits cognitivos e dificuldade na
realização de atividades de vida diária. Fadiga crônica é uma condição que afeta
frequentemente os trabalhadores, e fatores predisponentes - como exposição a agrotóxicos
organofosforados (OF) - têm sido sugeridos. Este estudo epidemiológico descritivo
transversal, objetivou investigar a prevalência e intensidade de fadiga, bem como sua
repercussão na qualidade de vida de trabalhadores expostos a
agrotóxicos OF. A
população estudada constituiu-se de 31 trabalhadores – Agentes do controle de vetores do
Município do Rio de Janeiro – de ambos os gêneros, com idade variando entre 34 e 59 anos
(média 44,2 ± 6,7 anos). Para avaliação da fadiga e qualidade de vida, foram aplicados a
Escala de Severidade de Fadiga (ESF) e o Questionário SF-36, respectivamente, além de
um questionário com dados ocupacionais e sócio-demográficos. Verificou-se que 58,1% dos
pacientes foram expostos aos agrotóxicos OF durante um período igual ou inferior a 10 anos
e 41,9% foram expostos por mais de 10 anos. Em relação ao tempo de início dos sintomas,
67,7% dos pacientes os apresenta há 10 anos ou mais. A fadiga foi relatada como o pior
sintoma por 38,7% dos pacientes. A prevalência de fadiga crônica foi da ordem de 93,5% da
população, sendo a média geral da ESF de 48,7 pontos, o que expressa um nível alto de
severidade de fadiga. Não houve correlação significativa entre ESF e idade. Os pacientes
apresentaram baixo nível de qualidade de vida pelo SF-36, no máximo 47,7% para o
domínio capacidade funcional. Verificou-se correlação significativa entre a ESF e o SF-36,
demonstrando que quanto maior a fadiga, menores os índices de qualidade de vida. Porém,
mais estudos são necessários para investigar a fadiga crônica em indivíduos expostos a
agrotóxicos OF e sua repercussão na qualidade de vida dessa população.
PALAVRAS-CHAVE: ORGANOFOSFORADOS; FADIGA; QUALIDADE DE VIDA;
TRABALHADOR, OCUPACIONAL.
ix
ABSTRACT
Fatigue is a symptom frequently found in world population, it is present in a great variety of
clinical desorders, and it can also occur in healthy individuals. It's a public health problem
that may lead to cognitive deficits and difficulty in performing activities of daily life. Chronic
Fatigue is a condition that affects workers frequently, and some predisponent factors – such
as organophosphate pesticides exposure – have been sugested. This transversal descriptive
epidemiological study focused on the investigation of fatigue's prevalency and intensity, as
well as its repercussion on workers's – who were exposed to organophosphate pesticides life quality. The population in study consisted of 31 workers – vetor control agents of Rio de
Janeiro District – both genders were included, age ranged from 34 to 59 years old (average
44,2 +/- 6,7 years old). To evaluate fatigue and life's quality, Fatigue Severity Scale (FSS)
and SF-36 Questionary were applyed, respectively, and a questionary with occupational and
social-demographic data was also applyed. It was verified that 58,1% of pacients were
exposed organophosphate pesticides during 10 years or less, and 41,9% were exposed to
organophosphate pesticides over 10 years. In respect to the time of the symptoms onset,
67,7% of the pacients presents them for more than 10 years. Fatigue was mentioned as the
worst symptom for 38,7% of the pacients. Chronic Fatigue's prevalence was on 93,5% of the
population, and the FSS's general average was 48,7 points, wich expresses a high level in
Fatigue's severity. There was no significant correlation between FSS and age. Pacients
showed low level in life's quality by the SF-36, the highest score was 47,7% for functional
capacity control. It was seen significative correlation between FSS and SF-36, showing that
the stroger the fatigue, the lower are indices in life's quality. However, more studies are
necessary to investigate chronic fatigue in individuals exposed to organophosphate
pesticides and its repercussion on this population's quality of life.
KEY-WORDS: ORGANOPHOSPHATE PESTICIDES; FATIGUE; QUALITY OF
LIFE; WORKER, OCCUPATIONAL.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACh – Acetilcolina
AChE – Acetilcolinesterase
ATC – Ambulatório de Toxicologia Clínica
CEP – Comitê de Ética e Pesquisa
DL50 – Dose letal 50
DP – Desvio padrão
ELA – Esclerose lateral amiotrófica
EPI – Equipamento de proteção individual
ESF – Escala de Severidade de Fadiga
FC – Fadiga crônica
FSS – Fatigue Severity Scale
HUCFF – Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
IESC – Instituto de Estudos de Saúde Coletiva
MOS – Medical Outcomes Study
OF – Organofosforado
OMS – Organização Mundial de Saúde
OPIDN – Neuropatia tardia induzida por organofosforados
QV – Qualidade de vida
SF-36 – Short-form 36
SFC – Síndrome da fadiga crônica
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
LISTA DE TABELAS
Pág.
Tabela 1. Descritiva das variáveis sócio-demográficas dos 31 pacientes
avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007..................................................................49
Tabela 2. Descritiva das variáveis ocupacionais dos 31 pacientes
avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007..................................................................51
Tabela 3. Descritiva das variáveis de saúde dos 31 pacientes
avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007..................................................................52
Tabela 4. Descritiva da idade, ESF e dos domínios do SF-36
dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007......................................54
Tabela 5. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo o tempo de exposição
ao produto dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007...................56
Tabela 6. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo o tempo de
afastamento da exposição dos 31 pacientes avaliados
no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007..................................................................................58
Tabela 7. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo o tempo
de sintomas dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.................60
Tabela 8. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo a atividade atual
dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007......................................62
Tabela 9. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo a carga de
trabalho doméstico dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007......63
Tabela 10. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo a prática de
atividade física dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.............65
Tabela 11. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo o sexo dos
31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007............................................66
Tabela 12. Correlação entre SF-36 com a idade e a ESF dos 31 pacientes
avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007..................................................................68
LISTA DE GRÁFICOS
Pág.
Gráfico 1. ESV versus tempo de exposição ao produto............................................57
Gráfico 2. ESV versus tempo de afastamento da exposição....................................59
Gráfico 3. ESV versus tempo de início dos sintomas. ..............................................61
Gráfico 4. ESF versus domínio saúde geral do SF-36..............................................69
Gráfico 5. ESF versus domínio capacidade funcional do SF-36...............................70
Gráfico 6. ESF versus domínio aspecto emocional do SF-36...................................71
Gráfico 7. ESF versus domínio aspecto social do SF-36..........................................71
Gráfico 8. ESF versus domínio dor do SF-36............................................................72
Gráfico 9. ESF versus domínio vitalidade do SF-36..................................................73
Gráfico 10. ESF versus domínio saúde mental do SF-36.........................................73
SUMÁRIO:
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................15
2. AGROTÓXICOS ORGANOSFORADOS E SEUS EFEITOS A SAÚDE...............20
2.1 Considerações Gerais..........................................................................................20
2.2 Toxicocinética.......................................................................................................21
2.3 Toxicodinâmica.....................................................................................................21
2.4 Mecanismo de Toxicidade....................................................................................22
2.5 Manifestações Clínicas.........................................................................................23
2.5.1 Crise Colinérgica Aguda....................................................................................23
2.5.2 Síndrome Intermediária.....................................................................................24
2.5.3 Neuropatia Tardia Induzida por Organofosforados...........................................25
2.5.4 Efeitos dos Organofosforados nos Músculos Esqueléticos...............................26
3. FADIGA CRÔNICA E SUA CORRELAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA......29
3.1 Definição e Considerações...................................................................................29
3.2 Instrumentos para Avaliação de Fadiga...............................................................32
3.3 Qualidade de vida.................................................................................................35
3.3.1 Definição e Considerações................................................................................35
3.3.2 Instrumentos para Mensuração da Qualidade de Vida Relacionada
à Saúde......................................................................................................................37
3.3.3 Questionário SF-36 - Medical Outcomes Study 36-Item Short Form
Health Survey.............................................................................................................40
4. OBJETIVOS...........................................................................................................42
4.1 Objetivo Geral.......................................................................................................42
4.2 Objetivos Específicos...........................................................................................42
5. METODOLOGIA....................................................................................................43
Procedimentos Metodológicos
5.1 Tipo de estudo......................................................................................................43
5.2 Local da Pesquisa................................................................................................43
5.3 População estudada.............................................................................................43
5.4 Coleta de Dados...................................................................................................44
5.5 Protocolos Utilizados na Pesquisa............................................................................45
5.5.1 Questionário elaborado pelo pesquisador..............................................................45
5.5.2 Questionário SF-36.................................................................................................46
5.5.3 Escala de Severidade de Fadiga............................................................................46
5.6 Análise dos Dados................................................................................................47
5.7 Considerações Éticas...........................................................................................47
6. RESULTADOS.......................................................................................................49
6.1 Perfil geral da população estudada......................................................................49
6.2 Análise entre ESF, domínios do SF-36 e variáveis
sócio-demográficas e ocupacionais...........................................................................55
6.3 Correlação entre ESF e os domínios do SF-36....................................................67
7. DISCUSSÃO..........................................................................................................75
8. CONCLUSÃO........................................................................................................87
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................88
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 90
ANEXOS....................................................................................................................95
Anexo I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...........................................96
Anexo II – Questionário SF-36...................................................................................97
Anexo III – Escala de Severidade de Fadiga...........................................................103
APÊNDICE...............................................................................................................104
Apêndice I - Questionário elaborado pelo pesquisador............................................105
15
1. INTRODUÇÃO
A fadiga constitui um sério problema de saúde pública associada com déficit
funcional, danos na saúde mental, incapacidade para realização de atividades
normais e tem sido estudada sob a perspectiva de diversas disciplinas, como
fisiologia, psicologia e medicina (Souza et al, 2002). Ela pode ser definida como
sensação de cansaço físico profundo, perda de energia ou mesmo sensação de
exaustão, devendo ser diferenciada de depressão e fraqueza muscular (Mendes et
al, 2000; Krupp & Pollina, 1996). Trata-se de um sintoma incapacitante e
inespecífico, encontrado com freqüência na população. Acompanha diversas
doenças, podendo ocorrer também nos indivíduos sadios (TILBERY, 2005).
Diversos mecanismos patogênicos podem contribuir para o aparecimento de
fadiga, tais como distúrbios imunológicos, neuroendócrinos e psicológicos, além de
disfunções motoras centrais e periféricas. Relatos de fadiga são freqüentemente
encontrados
em
diversas
condições
crônicas,
como
câncer
e
doenças
reumatológicas. Pacientes que apresentam doenças neurológicas, como esclerose
múltipla, doença de Parkinson, síndrome pós-pólio, esclerose lateral amiotrófica e
miopatias, relatam que a fadiga interfere no trabalho, vida social, capacidade física e
diversas atividades de vida diária (KRUPP & POLLINA, 1996).
Fadiga crônica (FC) tem sido definida como fadiga severa, com redução da
capacidade funcional do paciente, não substancialmente aliviada pelo descanso,
com duração maior que seis meses (Souza et al, 2002). Lewis & Wessely (1992),
definem fadiga como uma sensação subjetiva, de natureza multidimensional, já que
engloba componentes emocionais, comportamentais e cognitivos. De acordo com
Meijman & Schaufeli (1996), fadiga crônica manifesta-se em padrões de ação
ineficientes, diminuição do interesse, participação e compromisso, redução da
concentração e motivação, além de emoções negativas, podendo assim afetar o
16
desempenho funcional do indivíduo em seu local de trabalho, bem como no
ambiente doméstico (BULTMANN & BEURSKENS, 2000).
Presente em grande variedade de distúrbios clínicos e neurológicos, a fadiga
constitui um sintoma-chave em diversas patologias, tais como síndrome da fadiga
crônica, lúpus eritematoso sistêmico, esclerose múltipla, distúrbios psiquiátricos e
síndromes somáticas funcionais (Taylor, Jason & Torres, 2000). A Síndrome da
Fadiga Crônica (SFC) tem sido reconhecida como uma doença crônica bem definida,
de etiologia incerta, caracterizada por fadiga severa e uma combinação de sintomas
relacionados a dificuldades neurocognitivas (tais como déficits de concentração e
memória a curto prazo), depressão, distúrbios do sono e dor músculo-esquelética
(Fukuda et al, 1994). Atualmente, há muitos testes diagnósticos para esta condição,
validados por estudos científicos; entretanto, ainda não existe tratamento definitivo.
Sintomas consistentes com esta síndrome são frequentemente relatados por
pessoas que consideram que sua saúde tem sido afetada pela exposição aos
agrotóxicos organofosforados (TAHMAZ, SOUTAR & CHERRIE, 2003).
Agrotóxicos organofosforados (OF) são mundialmente utilizados em grandes
quantidades como inseticidas agrícolas, e o envenenamento por esses agentes,
particularmente em nações desenvolvidas, constitui um sério problema de saúde
pública (Kwong, 2002). Compostos OF são usados como agrotóxicos por mais de
2,5 milhões de trabalhadores agrícolas e por jardineiros amadores; os fabricantes
desses compostos e os membros das forças armadas também são expostos a essas
substâncias (Rowland, 2002). A exposição tóxica aos agrotóxicos OF acarreta mais
de três milhões de envenenamentos e duzentas mil mortes relatados a cada ano. Os
envenenamentos são comuns entre trabalhadores agrícolas, manufaturados e
crianças pequenas (Kwong, 2002).
Estima-se que de 150.000 a 300.000 pessoas
apresentem doenças induzidas por agrotóxicos a cada ano. Os compostos
17
populares incluem o malathion®, parathion® e outros. Muitos são lipossolúveis e
prontamente absorvidos após a ingestão, inalação ou contato com a pele e são
potentes inibidores da acetilcolinesterase (ROWLAND, 2002).
Embora
haja
uma
possível
relação
entre
exposição
a
agrotóxicos
organofosforados e desenvolvimento de fadiga crônica, estudos recentes concluíram
que este tipo de exposição não desencadearia a síndrome da fadiga crônica. Um
estudo retrospectivo, desenvolvido por Tahmaz, Soutar e Cherrie (2003) no
Departamento de Medicina Ambiental e Ocupacional do Reino Unido, investigou
uma população de fazendeiros criadores de ovelhas e concluiu a hipótese de que a
exposição
repetida
aos
agrotóxicos
OF
poderia,
entretanto,
aumentar
a
probabilidade de desenvolver fadiga crônica.
Diversos instrumentos, ou índices, têm sido propostos e utilizados com a
finalidade de avaliar a fadiga em pacientes com as mais diversas enfermidades. Este
estudo tem como finalidade avaliar a prevalência e severidade de fadiga crônica em
uma população de trabalhadores – Agentes de Saúde Pública envolvidos nas ações
de controle de vetores no Município do Rio de Janeiro - ocupacionalmente expostos
a agrotóxicos organofosforados. Para este propósito, utilizou-se a Escala de
Severidade de Fadiga (ESF), por tratar-se de uma medida com forte validação,
amplamente utilizada em estudos de indivíduos com fadiga crônica e síndrome da
fadiga crônica, além de ser também utilizada em diversas outras patologias
(TAYLOR, JASON & TORRES, 2000).
A utilização de instrumentos e questionários sobre qualidade de vida (QV) tem
sido reconhecida como uma importante fonte do conhecimento científico no campo
da saúde, pois indicam, na prática clínica, as necessidades dos pacientes, além de
avaliar os resultados da intervenção (Pagana et al, 2004). Medidas de avaliação da
qualidade de vida relacionada à saúde, incluem avaliações subjetivas e objetivas de
18
saúde, sendo particularmente usadas para avaliar os esforços na prevenção de
doenças crônicas incapacitantes (Hennessy; Moriarty; Zack, 1994). A importância de
avaliar a QV relacionada à saúde está levando à inclusão cada vez maior de
instrumentos com essa finalidade na prática clínica. Esses instrumentos usualmente
avaliam a percepção subjetiva dos pacientes sobre o impacto da doença e do
tratamento nas múltiplas dimensões do status de saúde, sendo baseados no relato
dos indivíduos em resposta a questões que incluem diversos domínios de
funcionamento físico, psicológico e social (CRAMER, 2002).
Para correlacionar a prevalência de fadiga crônica com a qualidade de vida
dos indivíduos expostos a agrotóxicos organofosforados, utilizou-se a versão em
português do Medical Outcomes Study 36 - item Short-Form Health Survey - SF-36
(Ware & Sherbourne, 1992), um questionário genérico de avaliação de qualidade de
vida relacionado à saúde utilizado mundialmente (Pagana et al, 2004).
Este
questionário foi validado e traduzido para a Língua Portuguesa por Ciconelli et al
(1997) e tem sido amplamente utilizado, demonstrando sensibilidade para avaliar
mudanças ocorridas na vida de pacientes portadores de diversas patologias, como
artrite reumatóide, artroplastia de joelho, osteoartrite, entre outras (PAGANA et al,
2004).
A investigação da possível relação entre fadiga crônica e exposição a
agrotóxicos organofosforados tem chamado a atenção e despertado o interesse de
diversos pesquisadores. Apesar disso, existem poucos estudos publicados sobre a
prevalência de fadiga crônica nos indivíduos expostos e sua correlação com a
qualidade de vida desses pacientes.
Este estudo epidemiológico descritivo transversal tem como objetivo avaliar a
prevalência
e
intensidade
de
fadiga
crônica
em
indivíduos
expostos
19
ocupacionalmente a agrotóxicos OF, relacionando com a possível repercussão na
qualidade de vida desses indivíduos.
Os riscos e efeitos adversos da exposição aos agrotóxicos tem sido foco de
crescente interesse no campo da saúde. A investigação de possíveis alterações
relacionadas à exposição a agrotóxicos apresenta grande importância e repercussão
na saúde coletiva e no meio ambiente. É neste quadro complexo que o presente
estudo se insere, envolvendo questões relacionadas à Saúde do Trabalhador e
Saúde Ambiental. Sendo assim, situa-se nesta área de conhecimento, já que
pretende discutir questões que englobam as relações entre o ser humano, sua
saúde e o meio no qual o mesmo habita, contribuindo para melhoria da qualidade de
vida da coletividade.
20
2. AGROTÓXICOS ORGANOSFORADOS E SEUS EFEITOS A SAÚDE
2.1. Considerações Gerais
Compostos organofosforados são usados como agrotóxicos por mais de 2,5
milhões de trabalhadores agrícolas (Rowland, 2002). As intoxicações ocorrem
geralmente de forma acidental por exposição laboral, ou intencional, com fins
suicidas (Kwong, 2002). Desde 1945, cerca de 15.000 compostos foram colocados
em uso; destes, o melhor exemplo é o triortocresilfosfato.
Alguns, como o
tetraetilpirofosfato, têm sido a causa de importantes surtos de distúrbio neurológico,
em especial nas crianças (Adams & Victor, 1998). Outro exemplo é o OF Clorpirifós
(O,O-dietil-O-(3-5-6-tricloro-2-piridil)-fosforotiodato), cuja exposição pode causar
sintomas respiratórios, no trato gastrintestinal, olhos e de origem neuromuscular e
neurocomportamental (Senanayake & Karalliedde, 1987). Os compostos mais
largamente utilizados incluem o malathion ®, parathion® e outros (Rowland, 2002). Há
mais de 200 organofosforados e 25 carbamatos, formulados em milhares de
produtos (KWONG, 2002).
Os organofosforados são usualmente ésteres de ácido fosfórico e ácido
fosfotióico. As cadeias laterais determinam a toxicocinética e toxicodinâmica do
pesticida (Kwong, 2002). Muitos são lipossolúveis e prontamente absorvidos após a
ingestão, inalação ou aplicação à pele. Os organofosforados produzem seus efeitos
tóxicos através da inibição da acetilcolinesterase (AChE), enzima responsável pela
hidrólise do neurotransmissor acetilcolina (ACh), produzindo ácido acético e colina,
produtos quimicamente inertes (CASARETT & DOULL’S, 2001).
21
2.2 – Toxicocinética
Estes agrotóxicos podem ser absorvidos rapidamente pelas vias respiratória,
gastrointestinal, ocular e dérmica. O início dos sintomas é rápido após a inalação
(Vale, 1998). A absorção dérmica é lenta, mas pode resultar em toxicidade severa se
a exposição for prolongada (Phillips, 2001). A ingestão oral ocorre freqüentemente
de forma acidental em crianças, mas também é usualmente associada a tentativas
de suicídio por adultos. Ocorre rápida distribuição e acúmulo no tecido adiposo,
fígado e rim. Muitos pacientes tornam-se sintomáticos dentro de 12 horas de
exposição. A eliminação é lenta para os compostos mais lipofílicos, devido ao
extenso acúmulo no tecido adiposo, podendo durar muitos dias (VALE, 1998;
AARON & HOWLAND, 1998).
2.3 – Toxicodinâmica
Os organofosfatos e carbamatos são potentes inibidores da AChE. A inibição
desta enzima resulta em acúmulo de ACh. A estimulação continuada e eventual
paralisia dos receptores de ACh, contribuem para os sinais e sintomas clínicos do
envenenamento por organofosforados, incluindo efeitos muscarínicos, nicotínicos e
no sistema nervoso central (CASARETT & DOULL’S, 2001).
As manifestações agudas mais comuns dos efeitos muscarínicos no sistema
nervoso parassimpático são salivação excessiva, lacrimejamento, diarréia, distúrbios
gastrintestinais, miose e bradicardia. Efeitos nicotínicos incluem fasciculações
musculares, fraqueza, paralisia, hipertensão arterial, taquicardia e midríase (Vale,
1998; Aaron & Howland, 1998). As manifestações no sistema nervoso central
incluem cefaléia, confusão, labilidade emocional, psicose, ataxia, tremor, delírio e
epilepsia (KWONG, 2002).
22
2.4 – Mecanismo de Toxicidade
O grau de toxicidade aguda dos agrotóxicos é, via de regra, estimada através
da DL50 (dose letal 50), através de testes realizados em animais de laboratório,
empregando métodos avalizados por Agências Internacionais especializadas no
tema. A DL50 é a dose letal média, representando a morte de 50% de um total de
100 cobaias, quando expostas à ação de um certo produto. Por exemplo, produtos
que apresentam DL50 entre 1 e 50 mg/Kg são considerados extremamente tóxicos,
enquanto que os que apresentam a DL50 entre 500 e 5000 mg/Kg são considerados
levemente tóxicos. Em ratas fêmeas, a DL50 oral do Clorpirifós é de 135 mg/kg, e
em camundongos, pela via respiratória, a DL50 do mesmo composto é de 94 mg/kg,
colocando o produto na Classe Toxicológica II - altamente tóxico (FELDMAN, 1999).
Todos os organofosforados compartilham do mesmo mecanismo, o qual é a
base de sua ação, tanto em insetos como em mamíferos: a fosforilação da enzima
AChE nas terminações nervosas. Com o bloqueio da enzima, o órgão efetor tornase superestimulado pelo acúmulo do neurotransmissor ACh, a substância que
transmite o impulso nervoso (KWONG, 2002).
Em geral, a estrutura química dos OF determina a afinidade pela AChE, o
tempo para a hidrólise e regeneração da enzima, a toxicidade e o tempo de início
para os sintomas (VALE, 1998).
O neurotransmissor ACh atua na mediação dos impulsos nervosos,
modificando o potencial de membrana nos terminais de fibras pré e pós-gaglionares
parasimpáticas, nervos motores somáticos do músculo esquelético, fibras préganglionares simpáticas e sistema nervoso central (SNC). A ACh encontra-se
armazenada em vesículas especiais no citoplasma do terminal nervoso do neurônio
e antes da membrana sináptica. O impulso nervoso provoca uma descarga de ACh,
que ativa um receptor colinérgico específico, uma molécula protéica localizada na
23
membrana pós-sináptica, facilitando a entrada de cátions sódio e potássio nesta
membrana. Consequentemente, a mudança iônica despolariza a membrana póssináptica, propiciando a passagem do impulso nervoso. Assim, a inibição da AChE
resulta em acumulação de AChE endógena no tecido nervoso e órgãos efetores,
com os resultantes sinais e sintomas que mimetizam as ações muscarínicas,
nicotínicas e sobre o sistema nervoso central da ACh (KARALLIEDDE & HENRY,
1993).
2.5 – Manifestações Clínicas
Os OF permeiam a barreira hemato-encefálica e diferentes formas de AChE
são encontradas em diferentes regiões do cérebro, sendo sensíveis a diferentes
compostos OF, ocasionando a redução da atividade da AChE no córtex cerebral, em
especial na região do giro do cíngulo e lobo occipital, no núcleo dentado e na
camada molecular do cerebelo, além de núcleo basal e tálamo. Os efeitos de uma
exposição a OF, na maioria das vezes, ocorrem em três estágios clínicos: crise
colinérgica aguda, síndrome intermediária e neuropatia periférica tardia. A crise
colinérgica aguda costuma durar de 1 a 4 dias e é seguida pela síndrome
intermediária. Porém, muitas vezes os sintomas desses dois estágios podem se
sobrepor (FELDMAN, 1999).
2.5.1- Crise Colinérgica Aguda
A
crise
colinérgica
aguda
inicia-se
horas
depois
da
exposição
a
organofosforados, tendo duração menor que 96 horas. Os sinais e sintomas desse
estágio devem-se a grande interação da ACh com seus receptores (nicotínicos e
muscarínicos), devido à inibição da AChE e conseqüente aumento da ACh. O efeito
anticolinesterásico imediato manifesta-se por cefaléia, vômitos, sudorese, cólicas
24
abdominais, sibilos secundários a broncospasmo, miose e debilidade e contraturas
musculares. A maioria desses sintomas pode ser revertida pela administração de
sulfato de atropina e pralidoxina (CASARETT & DOULL’S, 2001; ADAMS &
VICTOR,1998).
Esta crise compreende os efeitos nicotínicos, tais como fraqueza dos
membros, fasciculação e taquicardia, além de manifestações muscarínicas, como
miose, lacrimejamento e salivação excessivos. Os sinais relativos ao SNC incluem
ataxia, convulsões, alteração da consciência e por vezes coma (FELDMAN, 1999;
CASARETT & DOULL’S, 2001).
2.5.2 - Síndrome Intermediária
Outra manifestação de envenenamento por OF foi relatada por Senanayake &
Karalliedde (1987) e chamada de Síndrome Intermediária. Esta aparece após a
recuperação da crise colinérgica aguda, porém antes do aparecimento da neuropatia
tardia induzida por organofosforados (OPIDN). Os sintomas iniciam-se 24 a 96 horas
após a exposição, tendo duração de aproximadamente seis semanas, consistindo
em fraqueza ou paralisia dos músculos proximais dos membros, dos flexores do
pescoço, dos nervos cranianos motores e dos músculos respiratórios. A paralisia
respiratória pode vir a ser fatal. Nos pacientes que sobrevivem, os sintomas
paralíticos duram 2 a 3 semanas e em seguida diminuem. Os sintomas
intermediários e tardios não respondem à atropina ou a outras substâncias (Adams
& Victor,1998). O diagnóstico diferencial inclui a síndrome de Guillain-Barré, paralisia
periódica e miastenia grave (ROWLAND, 2002).
25
2.5.3 - Neuropatia Tardia Induzida por Organofosforados (OPIDN)
A OPIDN aparece 1 a 5 semanas após a exposição. A síndrome foi
originalmente descrita durante o período da Lei Seca nos Estados Unidos, quando
se fazia uísque ilegal em destilarias domésticas. Cerca de 50mil pessoas
consumiram “Jamaica Ginger” ou “Jinger Jake”, que foi verificado mais tarde como
contendo triortocresilfosfato. Parestesias e fraqueza na região distal das pernas
surgiam semanas depois. O distúrbio foi atribuído à inibição da “esterase alvo da
neuropatia”, interrupção do transporte axonal e uma neuropatia com degeneração
retrógrada.
Embora
possam
ser
notadas
parestesias,
o
distúrbio
é
predominantemente motor. Entre os sobreviventes, sinais do neurônio motor
superior indicam o envolvimento do SNC, podendo simular a Esclerose Lateral
Amiotrófica (E.L.A.) quando combinados a profundos sinais do neurônio motor
inferior, exceto por não haver progressão por anos (MORGAN & PENOVICH, 1978).
A recuperação da doença se dá de forma inversa, ou seja, os últimos
sintomas são os primeiros a desaparecer e, além disso, esta é demorada, ocorrendo
em meses ou anos e pode ser incompleta. Existem ainda casos, que acompanhados
durante 47 anos após a doença, vieram a desenvolver um quadro de lesão central
com hiperreflexia, sinal de Babinski e diminuição da sensibilidade proprioceptiva e
vibratória, além de dificuldades motoras, dados observados em apenas quatro
pacientes acompanhados (KARALLIEDDE & HENRY, 1993).
Ao contrário da inibição enzimática aguda da AChE, a OPIDN pode ser
irreversível ou pode regredir gradualmente. Os jovens são aparentemente mais
resistentes a OPIDN, podendo recuperar-se completamente (Senanayake, 1981),
enquanto que a recuperação em adultos é pequena. Com o tempo pode haver
alguma recuperação funcional dos nervos periféricos, porém geralmente os sinais de
envolvimento neurológico central e piramidal tornam-se mais evidentes. O grau de
26
envolvimento piramidal pode determinar o prognóstico definitivo para a recuperação
funcional (MORGAN & PENOVICH, 1978).
2.5.4 - Efeitos dos Organofosforados nos Músculos Esqueléticos
A exposição aguda a agrotóxicos organofosforados através de inalação, pode
levar a lesões nas fibras musculares esqueléticas em humanos (Wecker; Mrak;
Dettbarn, 1986). Relatos de fraqueza muscular relacionada aos OF datam desde
antes do século XIX, quando eram usados para o tratamento de tuberculose
pulmonar. Desde então, vários estudos experimentais e clínicos, com diferentes
substâncias, foram feitos para melhor avaliação desse quadro.
A integridade estrutural e a função dos músculos esqueléticos são
influenciadas pelos processos bioquímicos e fisiológicos que envolvem a
transmissão neuromuscular. Desordens nessa transmissão ocorrem como resultado
de defeitos em um ou mais dos seguintes locais: a fibra nervosa, a terminação
nervosa, a placa motora ou a miofibrila (KARALLIEDDE & HENRY, 1993).
Amostras de músculos intercostais, obtidas através da autópsia de um
indivíduo de 51 anos de idade exposto a um agrotóxico OF, foram analisadas em
relação à atividade da colinesterase e a integridade da fibra muscular. A atividade da
colinesterase, 5 dias após a exposição, foi reduzida para 53% dos valores de
referência. Análises histológicas indicaram a presença de fibras musculares com
inclusões basofílicas no sarcolema e apresentando necrose (WECKER; MRAK;
DETTBARN, 1986).
Os compostos organofosforados produzem fraqueza muscular de 3 formas: 1fase colinérgica : a fasciculação produzida pela atividade antidrômica e pelo disparo
repetido de fibras musculares progride para paralisia devido ao bloqueio de
despolarização e dessensibilização na junção neuromuscular. 2 - fase intermediária:
27
a entrada excessiva de íons cálcio na célula muscular, devido a prolongados
interações transmissor-receptor, produz necrose muscular. 3 - fase desmielinizante:
pode haver fraqueza muscular devido a desmielinização de nervos periféricos. Esta
fraqueza muscular neuropática surge em 2-3 semanas após a intoxicação e poupa
os músculos respiratórios. Entretanto a recuperação desta forma de paralisia pode
não ser completa. A paralisia neuropática é de difícil previsão e atualmente sua
prevenção não é póssivel. (KARALLIEDDE & HENRY, 1993).
Os sintomas colinérgicos podem induzir a uma progressiva necrose nas fibras
musculares esqueléticas. A severidade da miopatia depende de um crítico
decréscimo na atividade e duração de inibição de AChE (DETTBARN, 1984).
Há dois padrões histológicos distintos na intoxicação por organofosforados. O
primeiro é o desenvolvimento de lesões desmielinizantes, que foram atribuídas à
ligação desses componentes a uma chamada esterase neurotóxica, promovendo
alterações axonais observadas nessa neuropatia periférica levando à fraqueza
muscular. O segundo é o aparecimento de lesões necróticas musculares, que se
manifestaram primariamente por necrose focal na região da placa motora,
progredindo para uma necrose completa da fibra muscular e intensa fagocitose, com
destruição do retículo sarcoplasmático, dano mitocondrial e perda dos miofilamentos
dessa área. O desenvolvimento dessa miopatia não é devido exclusivamente à
excessiva despolarização causada pela ACh na fibra muscular, mas sim a sua
associação com o efeito direto dos componentes oganofosforados nas membranas
pós-sinápticas. Essa somação de fatores, consequentemente, leva a um
prolongamento da interação transmissor-receptor, seja ACh ou o componente
organofosforado, que desencadeará o aparecimento dos sinais e sintomas nos
casos de intoxicação por esse tipo de substância (KARALLIEDDE & HENRY, 1993).
28
Foram observadas diferenças marcantes na susceptibilidade dos diferentes
músculos à ação necrótica dos agentes organofosforados. Entre os músculos
estudados, o diafragma foi o mais afetado. Músculos vermelhos e de contração lenta
como o diafragma se mostraram mais susceptíveis aos inibidores da AChE do que
os músculos que possuem uma maioria de fibras intermediárias e dos músculos
brancos e de contração rápida. Também foi observado que na junção neuromuscular
dos músculos vermelhos a atividade AChE é mais fraca do que na dos músculos de
contração rápida. A necrose, e conseqüente fraqueza e paralisia, começam 48-96
horas após a intoxicação. Em ambas as fases a função respiratória pode ser afetada
e haver morte por insuficiência respiratória. Enquanto a fraqueza da fase colinérgica
muitas vezes se recupera em 8 horas, dependendo da farmacocinética do agente, a
fraqueza devido a necrose muscular pode durar até 4 semanas. (KARALLIEDDE &
HENRY, 1993).
Discute-se, no presente estudo, o quanto essas possíveis manifestações
clínicas, causadas por exposição a agrotóxicos OF, podem aumentar ou não a
probabilidade de desenvolver fadiga crônica, trazendo assim prejuízos em relação à
qualidade de vida da população exposta.
29
3. FADIGA CRÔNICA E SUA CORRELAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA
3.1 – Definição e Considerações
Recentes estudos populacionais demonstram que a fadiga é um sintoma
comum associado à vida moderna (Tahmaz, Soutar & Cherrie, 2003). Todos
experimentam a fadiga, mas somente alguns a desenvolvem por períodos longos e
com maior intensidade do que outros (Wessely, 2001). Lewis & Wessely (1992),
definem fadiga como uma sensação subjetiva, com componentes emocionais,
comportamentais e cognitivos. A fadiga é um sintoma importante em uma grande
variedade de desordens, incluindo esclerose múltipla, lúpus eritematoso sistêmico,
síndrome da fadiga crônica, encefalomielite miálgica, distúrbios psiquiátricos e
síndromes somáticas funcionais (Taylor, Jason & Torres, 2000). Pode estar
associada a outras patologias crônicas, como anemia, enfisema, asma e artrite
(Lewis & Wessely, 1992), ocorrendo também em indivíduos sadios. A fibromialgia é
uma condição reumatológica crônica, caracterizada por dor generalizada e fadiga
(ADAMS & SIM, 1998).
Nos pacientes com doenças neurológicas, a fadiga é diferente daquela
relatada por outros doentes, levando a um maior impacto na vida diária (Tilbery,
2005). Além disso, a fadiga tem sido reconhecida como conseqüência inevitável do
trabalho, especialmente quando este demanda grande esforço muscular (SOUZA,
MESSING & MENEZES, 2002).
Fadiga crônica tem sido definida como uma fadiga severa, associada à
redução na capacidade funcional do paciente, não completamente aliviada pelo
descanso, com duração maior ou igual a seis meses (Souza et al, 2002). Em
contraste, a fadiga aguda é um fenômeno normal que desaparece após um período
de descanso ou através de estratégias particulares de compensação. Já a fadiga
30
crônica não é facilmente reversível e os mecanismos compensatórios utilizados para
reverter a fadiga aguda não são efetivos nesses casos (BULTMANN &
BEURSKENS, 2000).
Inúmeros são os fatores que podem levar ao desenvolvimento de FC; estes
afetam o indivíduo e a população em geral, podendo ser discretos, como por
exemplo, um quadro de fadiga associado à depressão. A FC é comum, muitas vezes
difícil de mensurar e pode ser associada a considerável morbidade (Wessely, 2001).
Trata-se de um importante problema de saúde pública, que além de redução na
capacidade funcional, pode acarretar déficits na saúde mental e dificuldades na
realização de atividades de vida diária. Alguns estudos mostram uma associação
entre FC e fatores sócio-demográficos, tais como idade e gênero, fatores sócioeconômicos e presença de patologias físicas ou psicológicas (Souza et al, 2002). De
acordo com Meijman & Schaufeli (1996), a fadiga prolongada manifesta padrões de
ação ineficientes, além de declínio no interesse, participação e compromisso,
redução da concentração e motivação, aliados a emoções negativas (BULTMANN &
BEURSKENS, 2000).
A Síndrome de Fadiga Crônica foi formalmente definida em 1988, descrita
como fadiga incapacitante, com duração maior que seis meses, de etiologia incerta
(Shafran, 1991). Trata-se de uma condição clinicamente bem definida, caracterizada
por fadiga severa e uma combinação de diversos fatores, como dificuldade na
concentração e memória recente, distúrbios do sono, cefaléia, depressão e dor
músculo-esquelética (Holmes et al, 1998; Sharpe et al, 1991; Ali, 1998). Constitui
uma doença crônica reconhecida, que pode afetar os profissionais de saúde
(Tahmaz, Soutar & Cherrie, 2003). Esta patologia afeta primariamente indivíduos
entre 20 e 50 anos de idade, sendo mais freqüente em mulheres. Doenças
infecciosas são frequentemente relatadas por indivíduos com SFC, mais não há
31
evidências convincentes para reconhecer agentes infecciosos como causadores da
síndrome. Alterações imunológicas são freqüentes nos pacientes, porém de
significância inconsistente e incerta. Depressão é encontrada em aproximadamente
50% dos pacientes. A SFC parece ser uma doença com duração prolongada,
apresentando considerável morbidade, mas não mortalidade (SHAFRAN, 1991).
O diagnóstico da SFC somente pode ser feito quando outras patologias,
inclusive psiquiátricas, após investigadas forem completamente excluídas (Holmes,
1989; Shafran, 1991). Porém, estudos longitudinais relacionados à fadiga crônica
pós-infecção viral, encontraram sintomas psicológicos pré-mórbidos, sugerindo que
desordens
psiquiátricas
pré-mórbidas
poderiam
aumentar
os
riscos
de
desenvolvimento da SFC (Lewis & Wessely, 1992). Por enquanto, não há
tratamentos definitivos. Estudo de Fukuda et al (1994) sugere que os indivíduos
afetados por esta síndrome podem melhorar ao longo do tempo, mas muitos
permanecem com dificuldades funcionais por vários anos (Fukuda et al, 1994). A
SFC apresenta problemas e controvérsias em relação à definição e mensuração,
sendo frequentemente associada à maior morbidade do que a fadiga crônica
somente. Muitos fatores podem levar à FC e isto provavelmente é verdadeiro
também para a SFC. Alguns estudos, como o de Wessely (2001), discutem as
diferenças e semelhanças entre FC e SFC; seria uma a forma severa da outra ou
elas são qualitativa e quantitativamente diferentes? (WESSELY, 2001).
A fadiga crônica afeta frequentemente os trabalhadores, refletindo tanto a
demanda de trabalho quanto os efeitos da exposição a agentes físicos e químicos
(Souza, Messing & Menezes, 2002). A etiologia da SFC não está claramente
identificada, e inúmeros fatores predisponentes e causais têm sido sugeridos,
incluindo infecções e toxinas ambientais, como os compostos organofosforados.
Entretanto, alguns estudos, como o de Tahmaz, Soutar & Cherrie (2003), sugerem
32
que a exposição aos agrotóxicos não foi uma causa comum para o desenvolvimento
de SFC. Nesse sentido, a exposição repetida aos compostos OF poderia aumentar a
probabilidade de desenvolver fadiga crônica (TAHMAZ, SOUTAR & CHERRIE,
2003).
3.2 – Instrumentos para Avaliação de Fadiga
Inúmeros instrumentos têm sido elaborados para a avaliação de fadiga e
mensuração de sua severidade. Entretanto, a fadiga é uma condição de difícil
definição e mensuração devido, dentre outros fatores, à sua subjetividade e sua
natureza heterogênea e multidimensional (Taylor, Jason & Torres, 2000). Os
inúmeros sinônimos atribuídos à fadiga, tais como cansaço, lassidão, fraqueza,
baixa energia e exaustão, indicam sua magnitude nosológica. Diversos estudos
demonstram que a fadiga está entre os sintomas somáticos mais comuns, e em
muitos casos a fadiga é o sintoma mais comum. A prevalência depende de sua
mensuração e definição, fatores por vezes controversos devido a grande divergência
entre diversos autores (WESSELY, 2001).
A fadiga pode ser mensurada por meio da experiência referida pelo paciente
ou por medidas objetivas em diversos sistemas. As escalas de auto-avaliação são
usualmente utilizadas na prática clínica, contemplando os aspectos subjetivos da
fadiga. As diversas escalas se propõem a analisar vários aspectos da fadiga, como
intensidade, evolução, sintomas associados, entre outros. Existem as escalas gerais,
para avaliação de fadiga em qualquer doença, como por exemplo, a Escala Visual
Análoga e a Escala de Fadiga de Chalder. Há também escalas específicas para a
doença de base, as quais fornecem maior especificidade e sensibilidade ao método,
como por exemplo, a escala de severidade de fadiga, desenvolvida especificamente
para esclerose múltipla (TILBERY, 2005).
33
A avaliação da fadiga pode ser realizada através de instrumentos uni e
multidimensionais (Bultmann & Beurskens, 2000). Alguns instrumentos têm a
proposta de avaliar aspectos objetivos da fadiga. Entretanto, recentemente, as
pesquisas progridem cada vez mais em relação à avaliação dos aspectos subjetivos
da fadiga, e numerosos instrumentos têm sido elaborados com este propósito
(Wessely, 2001).
A aplicação de escalas unidimensionais, como a escala de
severidade de fadiga, fornece informações limitadas, porém elas têm maior
sensibilidade para detectar pequenas variações de intensidade da fadiga. As escalas
multidimensionais permitem avaliar diversos aspectos da fadiga, como os sociais,
físicos ou cognitivos, ocorrendo, entretanto, perda da sensibilidade diagnóstica
(TILBERY, 2005).
Teoricamente, as escalas mensuram diferentes aspectos da fadiga; enquanto
a Escala de Fadiga de Chalder avalia a severidade de sintomas específicos
relacionados à fadiga, a Escala de Severidade de Fadiga foi desenvolvida com a
finalidade de avaliar os resultados funcionais relacionados à fadiga. Estudos revelam
que ambas as escalas são apropriadas e utilizadas na mensuração da
sintomatologia relacionada à fadiga, além de avaliar as incapacidades dentro de
uma população geral de indivíduos com níveis variáveis de fadiga (TAYLOR, JASON
& TORRES, 2000; CHALDER et al, 1993; MORRISS, WEARDEN & MULLIS, 1998).
A Escala de Severidade de Fadiga, utilizada no presente estudo, foi descrita
por Krupp e colaboradores em 1989, com o objetivo de facilitar as pesquisas na área
(Krupp et al, 1989). Por sua rapidez e facilidade de aplicação, consistência interna e
sensibilidade a pequenas variações, tem sido amplamente citada na literatura
médica, tendo sido adaptada para a língua portuguesa (Mendes, Tilbery & Felipe,
1998). Trata-se de uma medida popular, com forte validação, para avaliação de
fadiga e suas implicações funcionais, amplamente citada em diversos estudos de
34
indivíduos com FC e SFC (Taylor, Jason & Torres, 2000), além de outras
enfermidades (KRUPP et al, 1989).
Desenvolvida com a finalidade de quantificar a intensidade da fadiga, a ESF
avalia também o impacto deste sintoma na vida diária do paciente (Tilbery, 2005).
Esta escala é composta por nove itens, cada um variando de 1 a 7. O indivíduo é
indagado sobre cada uma das nove afirmações, e deve escolher para cada uma
delas um número de 1 a 7 que melhor descreve o grau de concordância ou
discordância para a referida afirmação: 1 indica que o paciente discorda
completamente e 7 indica que ele concorda plenamente com a afirmação feita
(Krupp et al, 1989). Os escores variam de 9 a 63, sendo considerado o escore maior
ou igual a 28, indicativo de fadiga. A partir de 28 pontos, quanto mais alto o escore
maior a severidade da fadiga (NEUBERGER, 2003; TILBERY, 2005).
Os nove itens de ESF foram inicialmente selecionados de um questionário
com 28 itens, administrado para comparar a fadiga em duas condições crônicas:
esclerose múltipla e lúpus eritematoso sistêmico. Submetida a testes de consistência
interna e validação, a ESF demonstrou forte consistência interna, diferenciando
claramente o grupo controle dos pacientes. Foram ainda encontradas características
que diferenciam a fadiga que acompanha a esclerose múltipla, da fadiga que
acompanha o lúpus eritematoso sistêmico (Krupp et al, 1989). Este instrumento
demonstrou sensibilidade na avaliação de diferentes aspectos em relação à
severidade e intensidade da fadiga (Taylor, Jason & Torres, 2000). A melhora clínica
após tratamento para fadiga foi associada com redução no escore da ESF
(NEUBERGER, 2003).
Em estudo desenvolvido pelo grupo de Taylor, de validação inicial, os
indivíduos com fadiga crônica e síndrome da fadiga crônica foram comparados a
adultos saudáveis. A consistência interna da ESF foi alta para ambos os grupos de
35
pacientes, havendo clara distinção entre pacientes e grupo controle (TAYLOR,
JASON & TORRES, 2000).
De forma geral, a ESF apresenta nove itens concernentes aos efeitos da
fadiga na motivação, exercício e funcionamento físico do indivíduo, bem como sua
interferência no trabalho, família e vida social. Foi inicialmente desenvolvida para
adultos com esclerose múltipla e lúpus eritematoso sistêmico, porém é amplamente
utilizada para avaliar indivíduos com as mais diversas condições clínicas, tais como
fibromialgia, doença de Lyme, síndrome pós-pólio, esclerose lateral amiotrófica,
câncer, traumatismo crânio-encefálico, doença de Parkinson, insônia e apnéia do
sono. A ESF não requer treinamento especial para ser aplicada e o tempo de
aplicação é estimado em 2 ou 3 minutos (NEUBERGER, 2003).
3.3 – Qualidade de vida
3.3.1 Definição e Considerações
Na literatura médica e social, a qualidade de vida tem sido sinônimo de uma
variedade de termos, incluindo: satisfação, bem-estar, felicidade, saúde, valor de
vida, sentido de vida, estado funcional e ajustamento social. Não existe um
consenso sobre o que verdadeiramente constitui qualidade de vida; uma tentativa de
definição engloba o estado de saúde, além de uma variedade de domínios como:
meio-ambiente, recursos econômicos, relacionamentos, além de tempo para o
trabalho e para o lazer (RODRIGUES NETO & FERREIRA, 2003).
Tradicionalmente, o conceito de qualidade de vida era delegado a filósofos e
poetas; no entanto, atualmente existe crescente interesse de médicos e
pesquisadores em transformá-lo numa medida quantitativa que possa ser usada em
ensaios clínicos e modelos econômicos, os quais os resultados obtidos possam ser
36
comparados entre diversas populações e até mesmo entre diferentes patologias
(CICONELLI et al, 1999).
O termo qualidade de vida originou-se nos Estados Unidos da América, no
período pós-guerra, para descrever o efeito da afluência material, evidenciada por
posse de carros, casas e outros bens de consumo, e, subsequentemente,
incorporando educação, saúde, bem-estar, crescimento econômico e industrial e
defesa da liberdade (Rodrigues Neto & Ferreira 2003). Dentro do contexto da saúde
pública, o termo qualidade de vida tem correlação com a definição da Organização
Mundial de Saúde (OMS), que em 1948 definiu saúde como sendo não apenas a
ausência de doença ou enfermidade, e sim, completo bem-estar e funcionamento
físico, mental e social. Qualidade de vida relacionada à saúde é uma condição
multidimensional, composta pelo funcionamento físico, bem-estar psicológico, social
e percepções de saúde. Além disso, QV tem sido cada vez mais reconhecida como
um válido e apropriado indicador da necessidade do serviço e resultado das
intervenções (HENNESSY; MORIARTY; ZACK, 1994).
Duas dimensões independentes constituem qualidade de vida: subjetiva e
objetiva. A dimensão subjetiva consiste em componentes afetivos (afeto positivo,
felicidade) e componentes cognitivos (nível de satisfação com a vida como um todo
ou com vários domínios da vida). A dimensão objetiva é composta de avaliação de
importantes domínios objetivos da vida. Quando considera-se qualidade de vida
relacionada à saúde, a dimensão objetiva pode conter componentes como estado de
saúde, estado funcional, atividades diárias, mobilidade, atividades sociais (BROOKS,
1996).
Cada vez mais os estudos científicos reconhecem que qualidade de vida é um
conceito altamente individual, pois varia entre os indivíduos devido às diferenças
culturais, bem como à existência de expectativas e objetivos pessoais. Diversos
37
estudos, entre os quais o de Carr (2001), têm demonstrado que a QV muitas vezes
não é diretamente proporcional ao estado de saúde. Muitos pacientes com
incapacidades severas ou moderadas relataram ter uma excelente ou boa QV, a
despeito de experimentarem dificuldades na realização de tarefas diárias, estarem
socialmente isolados e apresentarem diversas limitações (CARR, 2001).
Qualidade de vida é uma importante medida de impacto em doenças
crônicas. Medidas fisiológicas fornecem informações importantes para os clínicos,
mas são de interesse limitado para os pacientes. Além disso, dois pacientes com os
mesmos critérios clínicos comumente têm respostas diferentes ao mesmo
tratamento (RODRIGUES NETO & FERREIRA, 2003).
A utilização de instrumentos e questionários de avaliação de QV tem sido
reconhecida como uma importante fonte de conhecimento científico no campo da
saúde. Na prática clínica, tais instrumentos podem ser úteis para identificar as
necessidades dos pacientes e avaliar a eficiência da intervenção (PAGANA et al,
2004).
A percepção do estado de saúde e da qualidade de vida dos pacientes, bem
como o impacto tanto de sua doença como de seu respectivo tratamento, estão
sendo amplamente reconhecidos como um tópico de pesquisa em estudos clínicos e
epidemiológicos (CICONELLI et al, 1999).
3.3.2 Instrumentos para Mensuração da Qualidade de Vida Relacionada à
Saúde
A crescente importância da qualidade de vida relacionada à saúde está
conduzindo cada vez mais à inclusão de instrumentos voltados para este propósito
na prática clínica (Cramer, 2002). A utilização desses instrumentos e questionários
tem sido reconhecida como uma importante fonte do conhecimento científico no
38
campo da saúde (Pagana et al, 2004). Além disso, é cada vez maior a ênfase dada
a aspectos antes não priorizados, como por exemplo, o modo como o paciente
sente-se mediante o tratamento e seu grau de satisfação (CARR, 2001).
Tradicionalmente, a avaliação do tratamento do paciente tem-se baseado nas
medidas de avaliação de morbidade e mortalidade; nesse sentido, o julgamento
médico orientava-se pelas avaliações de parâmetros clínicos, laboratoriais e
radiográficos. Entretanto, o reconhecimento da necessidade de monitoração e
avaliação do tratamento pelo ponto de vista do paciente fez surgir vários
instrumentos, criados com a finalidade de medir subjetivamente as condições de
bem-estar dos indivíduos (CICONELLI et al, 1999).
As medidas de avaliação de qualidade de vida relacionada à saúde podem
ser utilizadas para priorizar problemas, facilitar a comunicação, identificar
preferências e monitorar respostas ao tratamento (Carr, 2001). Além disso, são
utilizadas para avaliar os resultados das intervenções e a necessidade de serviços
de saúde. Essas medidas são importantes porque avaliam disfunções e
incapacidades não refletidas pelas medidas de morbidade e mortalidade (Jackson,
1995). Os instrumentos frequentemente avaliam a percepção subjetiva do paciente
sobre o impacto da doença e tratamento nas múltiplas dimensões do status de
saúde, baseado nos relatos do paciente. São compostos de domínios gerais, como o
funcionamento físico, psicológico e social (CRAMER, 2002).
Diversos instrumentos ou índices têm sido propostos. Esses instrumentos
podem ser divididos em dois grupos: genéricos e específicos. Instrumentos
genéricos são desenvolvidos com a finalidade de refletir o impacto de uma doença
sobre a vida de pacientes em ampla variedade de populações. Os mais
frequentemente utilizados são: Sickness Impact Profile (SIP), Nottingham Health
Profile (NHP), McMaster Health Index Questionnaire (MHIQ), Rand Health Insurance
39
Study (rand HIS), The Medical Outcomes Study 36-Item Short Form Health Survey
(SF-36), Avaliação da Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde
(WHOQOL-100), entre outros. Os instrumentos específicos são capazes de avaliar,
de forma individual e específica, determinados aspectos da qualidade de vida,
proporcionando maior capacidade de detecção de melhora ou piora do aspecto em
estudo. Sua principal característica é sua potencial sensibilidade às alterações.
Podem ser específicos para determinada população, como idosos, por exemplo, ou
para alterações específicas, como dor (RODRIGUES NETO & FERREIRA, 2003).
As medidas de avaliação genérica de saúde disponíveis não são capazes de
refletir exatamente, para o profissional de saúde, o que fazer; entretanto, são
capazes de demonstrar se os pacientes conseguem executar determinadas
atividades que normalmente fazem e como se sentem quando as estão praticando.
As aplicações repetidas desses instrumentos no decorrer de um período podem
definir a melhora ou piora do paciente em diferentes aspectos, tanto físicos como
emocionais,
tornando-se úteis para avaliação de determinada intervenção
(CICONELLI et al, 1999).
Todos os instrumentos utilizados na medida de qualidade de vida devem
apresentar características básicas de reprodutibilidade, validade e sensibilidade a
mudanças. Reprodutibilidade é a medida de consistência dos resultados, quando o
questionário é repetido em tempos diferentes ou por observadores diferentes,
levando a resultados similares. A validade de um instrumento é a propriedade do
mesmo medir o que realmente se propõe medir. Sensibilidade a mudanças é
definida como a habilidade da escala de registrar alterações devido ao tratamento ou
mudanças associadas à história natural da doença (RODRIGUES NETO &
FERREIRA, 2003).
40
3.3.3 - Questionário SF-36 - Medical Outcomes Study 36-Item Short Form
Health Survey
No presente estudo, com a finalidade de avaliar a qualidade de vida de
indivíduos expostos a agrotóxicos OF, utilizou-se a Medical Outcomes Study 36 –
item Short-Form Health Survey – SF-36 (Ware & Sherbourne, 1992), um questionário
genérico de avaliação de qualidade de vida relacionado à saúde utilizado
mundialmente (PAGANA et al, 2004).
O SF-36 é um instrumento de fácil administração e compreensão, porém não
tão extenso como seus pares. Trata-se de um questionário multidimensional formado
por 36 itens, englobados em 8 escalas ou componentes: capacidade funcional,
aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos
emocionais e saúde mental. Apresenta um escore final de 0 a 100, no qual zero
corresponde a pior estado geral de saúde e 100 a melhor estado de saúde (Ciconelli
et al, 1999). Os oito componentes foram selecionados de 40 componentes presentes
no Medical Outcomes Study - MOS (WARE & SHERBOURNE, 1992).
Apresentando validade, reprodutibilidade e sensibilidade a mudanças
comprovadas, além de requerer cerca de 10 minutos para ser aplicado, o SF-36 é o
instrumento de medida de qualidade de vida que tem recebido maior atenção nos
últimos anos. O questionário avalia tanto aspectos negativos da saúde, como
doença ou enfermidade, quanto aspectos positivos, como bem-estar (RODRIGUES
NETO & FERREIRA, 2003).
O SF-36 foi traduzido e validado oficialmente para língua portuguesa em 1997
por Ciconelli e colaboradores, sendo utilizado amplamente para avaliar a qualidade
de vida em pacientes com várias doenças crônicas (Pagana et al, 2004). A tradução
e adaptação cultural para a população brasileira foi realizada de acordo com
41
metodologia internacionalmente aceita. O questionário foi administrado por meio de
entrevistas a 50 pacientes com artrite reumatóide (CICONELLI et al, 1999).
A utilização do SF-36 já foi documentada em mais de 1000 publicações que
envolvem cerca de 130 patologias e condições. Entre as condições mais comumente
estudadas, com mais de 20 publicações cada, estão artrite, dor lombar, depressão,
diabetes e hipertensão arterial. A tradução do SF-36 é objeto de 148 publicações
(Ware & Sherbourne, 1992). De acordo com Taylor, Jason e Torres, o instrumento
demonstrou adequadas propriedades psicométricas como medida de nível funcional
em populações de indivíduos com SFC (Taylor, Jason & Torres, 2000).
A tradução para o português do SF-36 e sua adequação às condições
socioeconômicas e culturais da população brasileira, bem como a demonstração de
sua reprodutibilidade e validade, tornam este instrumento um parâmetro adicional útil
que pode ser utilizado na avaliação da artrite reumatóide e de outras doenças
(CICONELLI et al, 1999).
Através da compreensão de todos estes importantes aspectos relacionados à
fadiga e qualidade de vida, além da escolha de instrumentos adequados de
avaliação, torna-se possível analisar a repercussão desses fatores na população
estudada, verificando-se também a contribuição de aspectos ocupacionais e sóciodemográficos para o aumento ou agravamento desta problemática.
42
4. OBJETIVOS
4.1 – Objetivo Geral
Avaliar a prevalência e severidade de fadiga crônica em indivíduos expostos
ocupacionalmente a agrotóxicos organofosforados, relacionando com a possível
repercussão na qualidade de vida desses indivíduos.
4.2 – Objetivos Específicos
1. Avaliar prevalência de fadiga crônica em trabalhadores expostos a
agrotóxicos organofosforados;
2. Avaliar a severidade de fadiga crônica nesses indivíduos;
3. Analisar a contribuição dos seguintes fatores para o desenvolvimento de
fadiga: condições de trabalho, aspectos sócio-demográficos, sócioeconômicos e psicossociais dos indivíduos;
4. Avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde destes indivíduos;
5. Correlacionar os níveis de fadiga com o nível de qualidade de vida dos
indivíduos;
6. Verificar os efeitos da fadiga sobre a qualidade de vida e nível funcional
dos sujeitos estudados;
43
5. METODOLOGIA
Inicia-se neste momento a descrição dos procedimentos realizados no intuito
de solucionar o problema da pesquisa, detalhando os materiais e os métodos
necessários, definindo os instrumentos de coleta de dados e os procedimentos de
análise dos dados, importantes na construção do presente estudo.
Procedimentos Metodológicos
5.1 – Tipo de Estudo
Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo transversal.
5.2 – Local da Pesquisa
A pesquisa foi realizada nas instalações do Ambulatório de Toxicologia
Clínica (ATC), localizado no 1º andar do Hospital Universitário Clementino Fraga
Filho (HUCFF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro –
Brasil. Este local foi selecionado por apresentar uma população significativa de
pacientes intoxicados por agrotóxicos organofosforados, sendo um centro de
referência e excelência no tratamento interdisciplinar desses indivíduos no Rio de
Janeiro, composto por profissionais de reconhecida competência técnica e
acadêmica nesta área de conhecimento.
5.3 – População estudada
Participaram da pesquisa todos os indivíduos com as seguintes características:
pacientes com diagnóstico de intoxicação crônica ocupacional por agrotóxicos
organofosforados, atualmente em tratamento no Ambulatório de Toxicologia Clínica
do HUCFF / UFRJ. Essa população é composta por trabalhadores – Agentes de
44
Saúde Pública envolvidos nas ações de controle de vetores no Município do Rio de
Janeiro. Todos os pacientes foram avaliados pelos médicos e demais profissionais
responsáveis pelo ambulatório. Considerou-se fadiga casos antigos – aqueles
registrados no prontuário segundo relato dos pacientes – e casos novos – aqueles
identificados pelo estudo.
Critérios de Inclusão:
-
Diagnóstico confirmado de intoxicação por agrotóxicos organofosforados;
-
Tempo de exposição igual ou superior a 1 ano;
-
Indivíduos acima de 18 anos de idade.
Critérios de Exclusão:
-
Diagnóstico de intoxicação a esclarecer;
-
Indivíduos com história de exposição a outras substâncias químicas;
-
Indivíduos abaixo de 18 anos de idade;
-
Indivíduos etilistas;
-
Diagnóstico de outras patologias crônico-degenerativas;
-
Outras desordens e quadros clínicos associados;
-
Indivíduos com alguma disfunção cognitiva, comportamental ou psiquiátrica
que não permitam o adequado preenchimento do questionário.
5.4– Coleta de dados
Inicialmente, foram realizadas entrevistas agendadas, no Ambulatório de
Toxicologia Clínica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF /
UFRJ), pela pesquisadora. Um questionário estruturado voltado ao histórico
ocupacional e fatores sócio-demográficos, assim como escalas específicas de
45
avaliação de fadiga e qualidade de vida, foram aplicados pela pesquisadora a cada
participante. Os sujeitos responderam os questionários em uma sala do ATC,
somente com a presença da pesquisadora. Os questionários foram lidos pela
pesquisadora, com a mesma entonação de voz para não haver nenhum tipo de
direcionamento das respostas. Em caso de dúvidas, era permitido apenas reler a
questão em voz alta. Os encontros tiveram duração média de 30 minutos.
Após a coleta de dados, estes foram analisados e os resultados foram
posteriormente apresentados a cada participante. Todas as informações colhidas
foram cuidadosamente arquivadas, garantindo o sigilo e a privacidade dos
entrevistados.
5.5 – Protocolos Utilizados na Pesquisa
5.5.1 - Questionário elaborado pelo pesquisador: (apêndice I)
Foi utilizado na pesquisa um questionário estruturado, elaborado pelo
pesquisador, contendo dados sobre identificação, perfil sócio-demográfico e histórico
ocupacional dos pacientes estudados. Em relação ao perfil sócio-demográfico, as
variáveis estudadas foram: gênero, idade, escolaridade, estado civil, filhos menores de
13 anos de idade, sintomas relacionados à doença, utilização de medicamentos,
tabagismo, etilismo, prática regular de atividade física, participação em programas de
reabilitação e carga de trabalho doméstico. Além disso, o questionário constou de
informações sobre o histórico ocupacional, tais como: ocupação atual, jornada de
trabalho, tempo de exposição a agrotóxicos organofosforados, tempo de afastamento
da exposição, retorno às atividades e ao contato com produtos químicos, utilização de
EPI (equipamento de proteção individual) e acidentes de trabalho. As variáveis foram
elaboradas com base na pesquisa das queixas mais frequentemente relatadas pelos
46
pacientes. Inicialmente, foram realizados pré-testes para melhor adequação do
questionário aos objetivos propostos pela dissertação.
5.5.2 - Questionário SF-36: (anexo II)
Os aspectos da qualidade de vida foram avaliados através da versão em
português do Medical Outcomes Study 36 – item Short-Form Health Survey (SF36), um questionário genérico de avaliação de qualidade de vida relacionada à
saúde. O SF-36 é um questionário de avaliação de qualidade de vida, de fácil
administração e compreensão, detalhadamente descrito no capítulo 3, item 3.3.3.
Trata-se questionário multidimensional formado por 36 itens, englobados em oito
escalas ou componentes: capacidade funcional (questão 3), aspectos físicos
(questão 4), dor (questões 7 e 8), estado geral de saúde (questões 1 e 11),
vitalidade (questão 9, ítens a, e, g, i), aspectos sociais (questões 6 e 10), aspectos
emocionais (questão 5) e saúde mental (questão 9, itens b, c, d, f, h). Apresenta um
escore final de 0 a 100, no qual zero corresponde ao pior estado geral e 100 ao
melhor estado de saúde (CICONELLI et al, 1999).
5.5.3 - Escala de Severidade de Fadiga: (anexo III)
Para avaliação da fadiga, foi utilizada a Escala de Severidade de Fadiga, uma
medida com forte validação, amplamente utilizada em estudos de indivíduos com
fadiga crônica e síndrome da fadiga crônica e também em diversas outras
patologias. Esta escala compreende 9 afirmativas, cada uma apresentando um
escore de 1 a 7, onde 1 indica que o paciente discorda completamente e 7 indica
que ele concorda plenamente com a afirmação feita (Krupp et al, 1989). Os escores
variam de 9 a 63, sendo considerado o escore maior ou igual a 28 indicativo de
47
fadiga (Tilbery, 2005). A partir de 28 pontos, quanto mais alto o escore maior a
severidade da fadiga (NEUBERGER, 2003).
A escolha destes instrumentos - SF-36 e ESF - deve-se à comprovada
confiabilidade, podendo ser utilizados para melhor avaliação do estado clínicofuncional do paciente.
5.6 – Análise dos dados
Após a etapa de coleta de dados, estes foram analisados e seus resultados
posteriormente expostos à população selecionada para participar do estudo, como
forma de retorno social. Foram criados bancos de dados e a análise estatística foi
realizada pelos seguintes métodos:
-
para comparação da ESF e dos domínios do SF-36 entre as variáveis
sócio-demográficas e ocupacionais foi aplicado o teste de MannWhitney; e
-
o coeficiente de correlação de Spearman foi utilizado para medir o grau
de associação entre os domínios do SF-36, idade e a ESF.
A análise estatística foi processada através do software SAS 6.04. Foram
utilizados métodos não-paramétricos, pois os domínios do SF-36 e a ESF não
apresentaram distribuição normal (distribuição Gaussiana) devido à grande
dispersão dos dados e/ou a falta de simetria da distribuição. O critério de
determinação de significância adotado foi o nível de 5%.
5.7 – Considerações éticas
A pesquisa foi apresentada ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Instituto
de Estudos de Saúde Coletiva (IESC / UFRJ), para submeter-se à aprovação por
parte dos seus integrantes. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
48
foi apresentado aos pacientes, que após receberem explicações acerca do estudo,
foram convidados a participar e assinar o TCLE, o qual foi impresso em duas vias,
uma das quais foi entregue ao sujeito entrevistado e a outra permaneceu com o
pesquisador. Um cronograma de ações também foi apresentado aos participantes da
pesquisa.
O estudo incorpora os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96
sobre Ética em Pesquisa com Seres Humanos e não apresenta atividades que possam
levar danos às dimensões física, psíquicas, morais, intelectuais, sociais, culturais ou
espirituais dos participantes. Os sujeitos da pesquisa tiveram garantia de livre
consentimento após total esclarecimento de todos os benefícios e possíveis riscos que
poderiam advir do processo de investigação. No TCLE está explícito o objetivo da
pesquisa, a justificativa, resguardando os direitos dos sujeitos frente à proposta de
estudo e a resolução especificada. O TCLE encontra-se disponível em anexo (anexo I).
49
6. RESULTADOS
A população estudada foi composta por 31 dos 39 pacientes com diagnóstico
de intoxicação crônica ocupacional por agrotóxicos organofosforados, identificados
no Ambulatório de Toxicologia Clínica do Hospital Universitário Clementino Fraga
Filho. Deixaram de participar da pesquisa 8 pacientes, 3 deles excluídos por
apresentar idade superior a 59 anos, 3 devido à impossibilidade de comunicação
para marcação da entrevista e 2 por terem sido intoxicados por processo de trabalho
diferente (lavoura).
6.1 – Perfil geral da população estudada.
As tabelas 1, 2, 3 e 4 traçam um perfil geral dos 31 pacientes avaliados no
ATC / HUCFF / UFRJ, 2007. Segue abaixo a tabela 1, fornecendo a freqüência (n) e
o percentual (%) das variáveis sócio-demográficas.
Tabela 1. Descritiva das variáveis sócio-demográficas dos 31 pacientes avaliados no
ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
Variável
Gênero
Estado civil
Filhos < 13anos
Escolaridade
Consumo anterior de bebida alcoólica
Tabagismo anterior
Categoria
masculino
feminino
casado
não casado
sim
não
2°G incomp
2°G comp
sup incomp
sup comp
sim
não
Sim
Não
n
17
14
25
6
14
17
3
21
5
2
7
24
5
26
%
54,8
45,2
80,6
19,4
45,2
54,8
9,7
67,7
16,1
6,5
22,6
77,4
16,1
83,9
50
Analisando o perfil da população estudada, verificou-se que a mesma é
relativamente homogênea em relação ao gênero, sendo composta por 17 homens
(54,8%) e 14 mulheres (45,2%), com idade média de 44,2 anos (tabela 4, pág. 54).
80,6% dos pacientes são casados e 45,2% têm filhos menores de 13 anos. Quanto à
escolaridade, 21 pacientes (67,7%) possuem segundo grau completo.
Quando indagados sobre o consumo de bebida alcoólica, 7 pacientes
relataram etilismo anterior ao processo de adoecimento, porém atualmente nenhum
deles ingere bebida alcoólica. O mesmo ocorre em relação ao tabagismo, com 5
pacientes relatando hábito de fumar anterior ao processo; não há nenhum tabagista
atualmente. Os pacientes declararam ter abandonado tais hábitos há 10 anos, em
média, antes do início dos sintomas.
A tabela 2 fornece a freqüência (n) e o percentual (%) das variáveis
ocupacionais para o total da população estudada.
51
Tabela 2. Descritiva das variáveis ocupacionais dos 31 pacientes avaliados no ATC /
HUCFF / UFRJ, 2007.
Variável
Tempo de exposição ao OF
Tempo de afastamento
Contato com OF após afastamento
Retorno ao trabalho
Atividade atual
Jornada de trabalho
Utilização de EPI
Outros acidentes de trabalho
Carga de trabalho doméstico
Categoria
≤ 10 anos
> 10 anos
≤ 5 anos
> 5 anos
Sim
Não
Sim
Não
burocrático
biolarvicida
organofosforado
Segurança
Outros
4h/dia
6h/dia
8h/dia
Sim
Não
Sim
Não
ausente / leve
mod / pesada
n
18
13
17
13
9
22
28
3
14
6
2
2
4
3
3
21
3
28
5
26
17
14
%
58,1
41,9
56,7
43,3
29
71
90,3
9,7
50
21,4
7,1
7,1
14,3
11,1
11,1
77,8
9,7
90,3
16,1
83,9
54,8
45,2
A análise das variáveis ocupacionais demonstrou que 58,1% dos pacientes
foram expostos aos agrotóxicos organofosforados durante um período igual ou
inferior a 10 anos e 41,9% foram expostos por mais de 10 anos. 56,7% dos
pacientes estão afastados da exposição por um período igual ou inferior a 5 anos e
43,3% por mais de 5 anos; apenas 1 paciente relatou ainda não estar afastado da
exposição. Após o afastamento, 22 pacientes (71%) não voltaram a ter contato com
o OF e 9 pacientes (29%) relatam ter tido contato com o OF. O retorno ao trabalho
ocorreu para 90,3% dos pacientes, dos quais a maior parte (50%) passou a exercer
serviços burocráticos. 21,4% dos pacientes passou a trabalhar com biolarvicidas
52
após o afastamento e 2 pacientes voltaram a trabalhar com OF. A jornada de
trabalho é de 8 horas por dia para 77,8% dos pacientes.
Em relação ao uso de EPI, 90,3% dos pacientes declararam nunca ter
utilizado e apenas 3 pacientes relataram a utilização durante o processo de trabalho.
Quando indagados sobre acidentes de trabalho, 5 pacientes relataram ter sofrido
algum outro tipo de acidente de trabalho em empregos anteriores.
Observou-se também que 54,8% dos pacientes apresentam carga de trabalho
doméstico leve ou ausente e 45,2% apresentam carga de trabalho moderada ou
pesada. A maior parte dos pacientes relatou não realizar atividades domésticas ou
realizá-las apenas levemente devido à impossibilidade de auxiliar nos serviços
domésticos por causa da fadiga.
Segue abaixo a tabela 3, fornecendo as variáveis de saúde da população
estudada.
Tabela 3. Descritiva das variáveis de saúde dos 31 pacientes avaliados no ATC /
HUCFF / UFRJ, 2007.
Variável
Tempo de sintomas
Pior sintoma
Medicação contra fadiga
Outra doença
Prática de atividade física
Reabilitação
Tipo de reabilitação
Categoria
< 10 anos
≥ 10 anos
dor
cansaço
memória
emocional
sim
não
sim
não
sim
não
sim
não
fisioterapia
n
10
21
9
12
6
4
0
31
2
29
8
23
4
27
4
%
32,3
67,7
29
38,7
19,4
12,9
0
100
6,5
93,5
25,8
74,2
12,9
87,1
100
53
Em relação ao tempo de início dos sintomas, 67,7% dos pacientes os
apresenta há 10 anos ou mais. Destes sintomas, o pior deles, relatado por 38,7%
dos pacientes, foi o cansaço, seguido de dor (29%), alterações de memória (19,4%)
e alterações emocionais (12,9%). Nenhum dos pacientes fazia uso de medicação
contra fadiga e apenas 2 pacientes apresentavam outra doença, 1 deles apresentou
epilepsia e o outro relatou tuberculose com início em 1998, atualmente em processo
de alta do tratamento.
Quanto à prática de atividade física, 74,2% relataram não praticar nenhuma
atividade; os 25,8% restantes relataram a prática de caminhadas diárias. Apenas 4
pacientes participam de processos de reabilitação, 100% destes em programa
exclusivo de fisioterapia. Nenhum paciente participa atualmente de outro programa
de reabilitação, como psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, por exemplo.
A tabela 4 fornece a média, desvio padrão (DP), mediana, mínimo e máximo
da idade (anos), ESF e do SF-36 (%) para o total da população estudada. A
intensidade de fadiga foi expressa em duas escalas: ESF em pontos que variam de
9 a 63; e ESF em percentagem que varia de 0 a 100%.
54
Tabela 4. Descritiva da idade, ESF e dos domínios do SF-36 dos 31 pacientes
avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
Variável
Idade (anos)
ESF (pontos)
ESF (%)
SF-36 Geral (%)
SF-36 C. Funcional (%)
SF-36 Físico (%)
SF-36 Emocional (%)
SF-36 Social (%)
SF-36 Dor (%)
SF-36 Vitalidade (%)
SF-36 Mental (%)
N
31
31
31
31
31
31
31
31
31
31
31
Média
44,2
48,7
73,5
38,9
47,7
10,5
15,1
38,3
37,3
26,0
37,9
D.P.
6,7
12,2
22,6
20,1
29,1
25,6
24,1
24,4
20,0
16,6
20,1
Mediana
42
52
79,6
42,0
50,0
0,0
0,0
37,5
41,0
25,0
44,0
Mínimo
34
14
9,3
0
5
0
0
0
0
0
4
Máximo
59
63
100
82
95
100
100
100
84
70
68
Os pacientes estudados apresentaram idade entre 34 e 59 anos (média 44,2
± 6,7 anos). Dos 31 pacientes, 29 (93,5%) apresentaram fadiga crônica (ESF > 28
pontos), sendo os dois sem fadiga com ESF igual a 14 e 21 pontos. Observou-se,
que a média geral da ESF foi de 48,7 pontos, o que correspondeu, em média, a uma
grandeza de 73,5%, que expressa um nível alto de severidade de fadiga. Em relação
aos 2 casos sem fadiga, o paciente que apresentou 21 pontos na ESF, relatou como
piores sintomas as alterações de memória, atenção e concentração; o segundo
paciente, apesar de declarar a fadiga como pior sintoma, apresentou apenas 14
pontos na soma das respostas da ESF, parecendo contraditório em suas respostas.
Quanto aos domínios do SF-36, estes apresentaram, em média, um baixo
nível de qualidade de vida: no máximo 47,7% para capacidade funcional. Os
domínios que apresentaram os níveis mais baixos e, portanto, piores em relação à
qualidade de vida, foram: aspecto físico (10,5%), aspecto emocional (15,1%) e
vitalidade (26%).
55
6.2 – Análise entre ESF, domínios do SF-36 e variáveis sócio-demográficas e
ocupacionais.
As tabelas de 5 a 11 fornecem a média, desvio padrão (DP), mediana, mínimo
e máximo da ESF e dos domínios do SF-36 segundo as categorias das variáveis
sócio-demográficas e ocupacionais, e o correspondente nível descritivo do teste
estatístico (p valor). A análise estatística foi realizada pelo teste de Mann-Whitney.
Para algumas variáveis, como participação em programas de reabilitação e
utilização de EPI, a análise não foi processada devido ao número pequeno de casos
observados nas respectivas categorias.
Observou-se que existe
diferença
significativa na ESF e nos domínios do SF-36 entre as categorias das variáveis cujo
valor de p foi destacado em negrito, ou seja, p  0,05. Pode-se dizer que existe uma
tendência de diferença significativa na ESF e nos domínios do SF-36, quando o nível
descritivo (p valor) obtido ficou entre 0,05 e 0,10, conforme destacado em itálico nas
tabelas.
A tabela 5 traz a correlação entre ESF, SF-36 e a variável tempo de
exposição ao produto.
56
Tabela 5. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo o tempo de exposição ao
produto dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
Tempo de
exposição
ao OF
N
Média
ESF (pontos)
≤ 10 anos 18
> 10 anos 13
53,1
42,6
6,7
15,5
54,0
46,0
39
14
63 0,040
63
ESF (%)
≤ 10 anos 18
> 10 anos 13
≤ 10 anos 18
81,6
62,2
34,1
12,4
28,6
22,2
83,4
68,5
31,0
56
9
0
> 10 anos 13
SF-36 Funcional (%) ≤ 10 anos 18
> 10 anos 13
45,7
45,0
51,5
14,9
28,5
30,7
45,0
42,5
55,0
20
5
5
100
0,040
100
82
0,11
82
90
0,52
95
≤ 10 anos 18
5,6
10,7
0,0
0
25
> 10 anos 13
17,3
37,3
0,0
0
100
SF-36 Emocional (%) ≤ 10 anos 18
> 10 anos 13
SF-36 Social (%)
≤ 10 anos 18
13,0
17,9
32,6
20,3
29,2
22,7
0,0
0,0
37,5
0
0
0
> 10 anos
SF-36 Dor (%)
≤ 10 anos
> 10 anos
SF-36 Vitalidade (%) ≤ 10 anos
13
18
13
18
46,2
39,0
34,8
23,1
25,2
14,3
26,5
12,5
37,5
41,0
22,0
22,5
13
20
0
5
> 10 anos 13
≤ 10 anos 18
30,0
33,6
20,8
19,1
30,0
38,0
0
4
> 10 anos 13
44,0
20,7
48,0
8
67
0,73
100
75
0,22
100
72
0,58
84
50
0,38
70
60
0,12
68
Variável
SF-36 Geral (%)
SF-36 Físico (%)
SF-36 Mental (%)
DP Mediana MínimoMáximop valor
0,78
P < 0,05
Nota-se na tabela 5, que o subgrupo de pacientes com tempo de exposição
ao OF igual ou inferior a 10 anos, apresentou ESF = 53,1 pontos em média, o que
representa um índice de severidade de fadiga significativamente maior (p = 0,040)
que o subgrupo com tempo de exposição superior a 10 anos (ESF = 42,6 pontos em
média). Porém, apesar dessa diferença entre os subgrupos apresentar-se
significativa, ambos obtiveram altos índices de fadiga (ESF>28 pontos). Assim, em
57
relação ao tempo de exposição, observou-se que todos os pacientes apresentaram
fadiga severa.
Ao observar-se as correlações entre o tempo de exposição e os domínios do
SF-36, nota-se que para todos os domínios não houve diferença significativa entre o
subgrupo exposto há 10 anos ou menos e o subgrupo exposto há mais de 10 anos.
Para ambos os subgrupos, os níveis de qualidade de vida foram baixos.
Segue o gráfico 1, que demonstra a correlação entre ESF e a variável tempo
de exposição,
ilustrando o escore da ESF (em pontos) segundo as faixas
estabelecidas para a análise estatística, com o correspondente p valor.
Gráfico 1. ESF versus tempo de exposição ao produto dos 31 pacientes avaliados
no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
65
60
55
50
ESF (pontos)
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
p = 0,040
<= 10 anos
> 10 anos
tempo de exposição
O gráfico 1 demonstra que os pacientes expostos há 10 anos ou menos
apresentam maior pontuação na escala de fadiga em relação aos pacientes
expostos há mais de 10 anos, sendo esta diferença significativa (p = 0,040). Porém,
58
assim como descrito na tabela 5, ambos os subgrupos apresentaram altos índices
de fadiga pela ESF.
A tabela 6 analisa a correlação entre ESF, SF-36 e o tempo de afastamento
da exposição.
Tabela 6. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo o tempo de afastamento
da exposição dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
Tempo de
Variável
afastamento n Média
ESF (pontos)
≤ 5 anos 17
46,5
> 5 anos 13
50,4
ESF (%)
≤ 5 anos 17
69,5
> 5 anos 13
76,6
SF-36 Geral (%)
≤ 5 anos 17
43,5
> 5 anos 13
34,4
SF-36 Funcional (%) ≤ 5 anos 17
53,8
> 5 anos 13
43,1
SF-36 Físico (%)
≤ 5 anos 17
7,4
> 5 anos 13
15,4
SF-36 Emocional (%) ≤ 5 anos 17
17,6
> 5 anos 13
12,8
SF-36 Social (%)
≤ 5 anos 17
45,6
> 5 anos 13
29,8
SF-36 Dor (%)
≤ 5 anos 17
39,2
> 5 anos 13
37,6
SF-36 Vitalidade (%) ≤ 5 anos 17
28,5
> 5 anos 13
24,6
SF-36 Mental (%)
≤ 5 anos 17
43,3
> 5 anos 13
32,0
DP Mediana Mínimo Máximop valor
12,0
49,0
14
63
0,22
12,4
55,0
21
63
22,2
74,1
9
100
0,22
22,9
85,2
22
100
17,7
45,0
10
82
0,20
22,5
35,0
0
82
29,1
50,0
10
95
0,35
27,6
50,0
5
85
24,6
0,0
0
100
0,11
28,0
0,0
0
100
26,7
0,0
0
100
0,60
21,7
0,0
0
67
24,6
37,5
0
100
0,075
22,6
37,5
0
75
21,4
41,0
0
84
0,71
16,4
41,0
20
74
17,8
30,0
5
70
0,49
13,9
25,0
5
60
21,1
52,0
8
68
0,11
18,0
28,0
4
60
Analisando-se a tabela 6, observa-se que o subgrupo de pacientes afastados
da exposição há mais de 5 anos, apresentou uma média de 50,4 pontos na ESF,
enquanto o subgrupo afastado há um período igual ou inferior a 5 anos obteve 46,5
pontos em média na ESF. Porém, essa diferença entre os dois subgrupos não foi
59
significativa (p = 0,22). Ambos os subgrupos apresentaram altos índices de fadiga
pela ESF.
Em relação aos domínios da SF-36, ambos os subgrupos apresentaram
baixos níveis de qualidade de vida, principalmente para os domínios aspecto físico,
aspecto emocional, vitalidade e dor. Porém, não existe diferença significativa entre o
subgrupo afastado da exposição há mais de 5 anos e o subgrupo afastado há 5
anos ou menos, em relação aos domínios do SF-36.
O gráfico 2 ilustra a correlação entre ESF e a variável tempo de afastamento
da exposição.
Gráfico 2. ESF versus tempo de afastamento da exposição dos 31 pacientes
avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
65
60
55
50
ESF (pontos)
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
p = 0,22
<= 5 anos
> 5 anos
tempo de afastamento
O gráfico acima demonstra que o subgrupo de pacientes afastados da
exposição há mais de 5 anos apresenta índices de fadiga mais elevados em relação
60
aos pacientes afastados por um período igual ou inferior a 5 anos. Entretanto, como
demonstrado na tabela 6, essa diferença entre os subgrupos não é significativa (p=
0,22).
A tabela 7 analisa a relação entre ESF, SF-36 e a variável tempo de sintomas.
Tabela 7. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo o tempo de sintomas dos
31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
Variável
ESF (pontos)
Sintomas
< 10 anos
≥ 10 anos
ESF (%)
< 10 anos
≥ 10 anos
SF-36 Geral (%)
< 10 anos
≥ 10 anos
SF-36 Funcional (%) < 10 anos
≥ 10 anos
SF-36 Físico (%)
< 10 anos
≥ 10 anos
SF-36 Emocional
(%)
< 10 anos
≥ 10 anos
SF-36 Social (%)
< 10 anos
≥ 10 anos
SF-36 Dor (%)
< 10 anos
≥ 10 anos
SF-36 Vitalidade (%) < 10 anos
≥ 10 anos
SF-36 Mental (%)
< 10 anos
≥ 10 anos
N Média
10
53,1
21
46,6
10
81,7
21
69,6
10
38,8
21
39,0
10
48,5
21
47,4
10
7,5
21
11,9
p
DP Mediana MínimoMáximo valor
6,4
54,0
40
63
0,27
13,8
50,0
14
63
11,9
83,4
57
100
0,27
25,5
75,9
9
100
17,3
35,0
15
62
0,94
21,6
45,0
0
82
28,9
50,0
5
95
0,88
29,9
40,0
5
95
12,1
0,0
0
25
0,62
30,2
0,0
0
100
10
21
10
21
10
21
10
21
10
21
22,5
25,0
24,4
24,7
15,0
20,6
14,2
17,5
21,9
19,6
10,0
17,5
42,5
36,3
27,3
42,0
21,5
28,1
34,4
39,6
0,0
0,0
37,5
37,5
26,5
41,0
17,5
30,0
36,0
44,0
0
0
13
0
0
0
5
0
4
8
67 0,29
100
75
0,57
100
51
0,058
84
45
0,34
70
64
0,47
68
DP: Desvio Padrão
Em relação à variável tempo de sintomas, observou-se que 10 pacientes
iniciaram os sintomas há menos de 10 anos, enquanto 21 pacientes os iniciou há
dez anos ou mais. A população com tempo de sintomas inferior a 10 anos,
apresentou índice de fadiga relativamente maior (ESF = 53,1 pontos em média) do
que a população com tempo de sintomas superior a 10 anos (ESF = 46,6 pontos em
61
média), porém esse dado não apresenta significância estatística (p = 0,27). Essa
pontuação de fadiga expressa que ambos os subgrupos apresentaram altos índices
de fadiga pela ESF.
Quanto aos domínios do SF-36, ambos os subgrupos obtiveram baixos níveis
de qualidade de vida, principalmente em relação aos domínios aspecto físico,
aspecto emocional e vitalidade. Não há relação significativa entre os subgrupos em
relação ao tempo de sintomas e os domínios do SF-36. Porém, há uma tendência de
diferença significativa na ESF e nos domínios do SF-36, quando o nível descritivo (p
valor) obtido ficou entre 0,05 e 0,10. Portanto, observa-se que existe um tendência
de diferença significativa entre os dois subgrupos em relação ao domínio dor (p=
0,058), o qual o subgrupo que iniciou os sintomas há dez anos ou mais apresenta
maior índice de dor pelo SF-36 do que o subgrupo que iniciou os sintomas há menos
de dez anos. O gráfico 3 demonstra a correlação entre a ESF e a variável tempo de
início dos sintomas.
Gráfico 3. ESF versus tempo de sintomas dos 31 pacientes avaliados no ATC /
HUCFF / UFRJ, 2007.
65
60
55
50
ESF (pontos)
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
p = 0,27
< 10 anos
>= 10 anos
tempo de sintomas
62
Verifica-se no gráfico 3, que o subgrupo com tempo de início dos sintomas
inferior a 10 anos, apresenta índices de fadiga mais elevados que o subgrupo
exposto a 10 anos ou mais, assim como descrito na tabela 7.
A tabela 8 demonstra a correlação entre ESF, SF-36 e a variável atividade
atual.
Tabela 8. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo a atividade atual dos 31
pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
Atividade
Atual
burocrático
outros
ESF (%)
burocrático
outros
SF-36 Geral (%)
burocrático
outros
SF-36 Funcional (%) burocrático
outros
SF-36 Físico (%)
burocrático
outros
SF-36 Emocional(%) burocrático
outros
SF-36 Social (%)
burocrático
outros
SF-36 Dor (%)
burocrático
outros
SF-36 Vitalidade(%) burocrático
outros
SF-36 Mental (%)
burocrático
outros
Variável
ESF (pontos)
N Média
14
49,9
14
45,7
14
75,8
14
68,0
14
42,8
14
39,9
14
48,9
14
55,0
14
14,3
14
8,9
14
14,3
14
19,0
14
40,2
14
40,2
14
40,1
14
37,1
14
24,3
14
31,1
14
39,1
14
43,1
DP Mediana Mínimo Máximo p valor
11,8
51,5
14
63
0,36
13,3
44,5
21
63
21,8
78,7
9
100
0,36
24,6
65,8
22
100
22,7
43,5
10
82
0,98
15,3
46,0
10
57
27,0
47,5
5
95
0,58
28,4
55,0
5
95
27,2
0,0
0
100
0,23
27,0
0,0
0
100
28,4
0,0
0
100
0,31
21,5
16,7
0
67
29,1
37,5
0
100
0,76
20,3
37,5
0
75
18,1
41,0
22
84
0,81
23,3
41,0
0
74
17,2
20,0
5
70
0,12
15,7
30,0
0
60
18,6
40,0
12
64
0,59
18,6
48,0
8
68
DP: Desvio Padrão
Verificando-se a tabela 8, observa-se a análise da ESF e SF-36 para o
subgrupo cuja atividade atual é burocrática e o subgrupo que exerce outras
atividades. O subgrupo que trabalha com serviços burocráticos apresentou 49,9
pontos na ESF, em média, enquanto o subgrupo que exerce as demais atividades
63
obteve 45,7 pontos em média na ESF. Portanto, ambos os subgrupos apresentaram
elevada pontuação na ESF; não existe diferença significativa na ESF entre os dois
subgrupos, já que p = 0,36.
Quanto aos domínios do SF-36, ambos os subgrupos apresentaram baixos
níveis de qualidade de vida para todos os domínios. Também não houve diferença
significativa entre os dois subgrupos para os domínios do SF-36 em relação à
variável atividade atual.
A tabela 9 traz a análise entre ESF, SF-36 e a carga de trabalho doméstico.
Tabela 9. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo a carga de trabalho
doméstico dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
Carga trab.
doméstico
aus / leve
mod / pesada
ESF (%)
aus / leve
mod / pesada
SF-36 Geral (%)
aus / leve
mod / pesada
SF-36 Funcional (%) aus / leve
mod / pesada
SF-36 Físico (%)
aus / leve
mod / pesada
SF-36 Emocional (%) aus / leve
mod / pesada
SF-36 Social (%)
aus / leve
mod / pesada
SF-36 Dor (%)
aus / leve
mod / pesada
SF-36 Vitalidade (%) aus / leve
mod / pesada
SF-36 Mental (%)
aus / leve
mod / pesada
Variável
ESF (pontos)
n Média
17 45,2
14 52,9
17 67,0
14 81,3
17 40,4
14 37,1
17 55,9
14 37,9
17 14,7
14
5,4
17 23,5
14
4,8
17 41,2
14 34,8
17 48,0
14 24,2
17 32,6
14 17,9
17 45,6
14 28,6
DP Mediana Mínimo Máximop valor
13,6
47,0
14
63
0,098
9,0
54,0
31
63
25,2
70,4
9
100
0,098
16,6
83,4
41
100
23,2
45,0
0
82
0,64
16,1
35,0
15
62
26,6
55,0
5
95
0,094
29,9
35,0
5
95
33,1
0,0
0
100
0,76
10,6
0,0
0
25
28,3
33,3
0
100
0,023
12,1
0,0
0
33
25,7
37,5
0
100
0,41
23,1
37,5
0
75
17,6
51,0
20
84
0,001
14,5
22,0
0
51
16,5
30,0
10
70
0,009
13,0
17,5
0
45
17,9
48,0
12
68
0,022
19,2
26,0
4
64
64
Segundo a tabela 9, o subgrupo de pacientes com carga de trabalho
doméstico moderada/pesada apresentou maior pontuação na ESF (52,9 pontos em
média) em relação ao subgrupo com carga de trabalho doméstico ausente/leve
(ESF= 45,2 pontos em média). Com pvalor = 0,098, observa-se que há uma tendência
de diferença significativa entre os dois grupos, sugerindo-se que os pacientes com
maior carga de trabalho doméstico apresentam maiores índices de fadiga.
Quanto aos domínios do SF-36, verifica-se que o subgrupo com carga de
trabalho doméstico moderada/pesada apresenta os domínios aspecto emocional (p
= 0,023), dor (p = 0,001), vitalidade (p = 0,009) e saúde mental (p = 0,022)
significativamente menores que o subgrupo com carga ausente/leve. Isso significa
que quanto maior a carga de trabalho, menores os índices de qualidade de vida em
relação aos domínios apresentados. Cabe ressaltar que a maior parte dos pacientes
relatou carga de trabalho ausente ou leve, devido à impossibilidade de realizar
tarefas domésticas moderadas ou pesadas. Os pacientes que realizavam tarefas
moderadas e pesadas relataram não ter outra opção, precisavam realizar o serviço
doméstico e, talvez por isso, tenham apresentado maiores índices de fadiga e baixos
níveis de qualidade de vida em relação aos aspectos emocional, dor, vitalidade e
saúde mental.
Segue a tabela 10, que demonstra a correlação estatística da ESF e do SF-36
segundo a prática de atividade física.
65
Tabela 10. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo a prática de atividade
física dos 31 pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
Ativ.
Variável
Física
ESF (pontos)
sim
não
ESF (%)
sim
não
SF-36 Geral (%)
sim
não
SF-36 Funcional (%)
sim
não
SF-36 Físico (%)
sim
não
SF-36Emocional(%)
sim
não
SF-36 Social (%)
sim
não
SF-36 Dor (%)
sim
não
SF-36 Vitalidade(%)
sim
não
SF-36 Mental (%)
sim
não
N
8
23
8
23
8
23
8
23
8
23
8
23
8
23
8
23
8
23
8
23
Média
47,8
49,0
71,8
74,1
45,6
36,6
46,9
48,0
3,1
13,0
8,3
17,4
42,2
37,0
30,1
39,7
26,9
25,7
45,0
35,5
DP Mediana Mínimo Máximop valor
11,1
48,5
32
63
0,68
12,8
53,0
14
63
20,5
73,2
43
100
0,68
23,7
81,5
9
100
10,8
46,0
30
57
0,20
22,1
37,0
0
82
34,8
45,0
5
95
0,90
27,7
50,0
5
95
8,8
0,0
0
25
0,40
29,1
0,0
0
100
15,4
0,0
0
33
0,42
26,3
0,0
0
100
21,1
43,8
13
75
0,51
25,7
37,5
0
100
17,5
26,5
0
52
0,40
20,6
41,0
0
84
12,8
30,0
10
45
0,60
17,9
25,0
0
70
23,8
54,0
4
68
0,19
18,7
36,0
8
64
DP: Desvio Padrão
Observando-se a tabela 10, conclui-se que os pacientes que praticam
atividade física apresentaram índices de fadiga menores (média 47,8 pontos) em
relação aos pacientes que não praticam atividade física (média 49,0 pontos), porém
essa diferença não é significativa (p= 0,68). Embora a média de pontos tenha sido
diferente entre o subgrupo que pratica atividade física e o subgrupo que não pratica,
tal média mostrou-se elevada para ambos os subgrupos, demonstrado pelos altos
níveis de fadiga pela ESF.
66
Analisando-se os resultados do SF-36, nota-se que os níveis de qualidade de
vida foram baixos para ambos os grupos, não havendo diferença significativa entre
eles.
Tabela 11. Análise estatística da ESF e do SF-36 segundo o gênero dos 31
pacientes avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
Variável
ESF (pontos)
Gênero
masculino
feminino
ESF (%)
masculino
feminino
SF-36 Geral (%)
masculino
feminino
SF-36 Funcional (%) masculino
feminino
SF-36 Físico (%)
masculino
feminino
SF-36 Emocional (%) masculino
feminino
SF-36 Social (%)
masculino
feminino
SF-36 Dor (%)
masculino
feminino
SF-36 Vitalidade (%) masculino
feminino
SF-36 Mental (%)
masculino
feminino
N Média
17
43,2
14
55,3
17
63,4
14
85,7
17
46,2
14
30,1
17
61,2
14
31,4
17
14,7
14
5,4
17
25,5
14
2,4
17
49,3
14
25,0
17
44,0
14
29,1
17
33,8
14
16,4
17
49,9
14
23,4
DP Mediana Mínimo Máximop valor
12,2
46,0
14
58
0,002
8,6
55,5
31
63
22,6
68,5
9
91
0,002
16,0
86,1
41
100
18,5
47,0
15
82
0,020
18,7
28,5
0
62
25,5
60,0
15
95
0,005
25,1
27,5
5
80
33,1
0,0
0
100
0,76
10,6
0,0
0
25
27,7
33,3
0
100
0,003
8,9
0,0
0
33
20,0
37,5
25
100
0,003
23,0
18,8
0
75
21,6
51,0
0
84
0,029
14,7
26,5
0
51
16,3
30,0
10
70
0,002
11,2
15,0
0
40
14,3
52,0
8
68
0,0006
16,4
20,0
4
56
DP: Desvio Padrão
Nota-se na tabela 11 que tanto os homens quanto as mulheres apresentaram
altos níveis de fadiga crônica (ESF > 28 pontos), porém os homens apresentaram
pontuação significativamente menor (ESF= 43,2 pontos em média) do que as
mulheres (ESF= 55,3 pontos em média), com pvalor = 0,002.
Em relação aos domínios do SF-36, os homens apresentaram maiores
índices em relação à mulheres nos domínios: saúde geral (46,2% contra 30,1%),
67
capacidade funcional (61,2% contra 31,4%), aspecto emocional (25,5% contra
apenas 2,4%), aspecto social (49,3% contra 25,0%), dor (44,0% contra 29,1%),
vitalidade (33,8% contra 16,4%) e saúde mental (49,9% contra 23,4%). Constatase portanto que, exceto para o domínio físico (p = 0,76), os homens apresentaram
os domínios do SF-36 significativamente maiores que as mulheres, o que expressa
melhor qualidade de vida na população masculina em relação à feminina.
6.3 – Correlação entre ESF e os domínios do SF-36.
Para verificar se existe correlação significativa entre a ESF e os domínios do
SF-36, foi utilizado o coeficiente de correlação de Spearman (r s), que mede o grau
de associação entre duas variáveis numéricas. Este coeficiente varia de -1 a 1.
Quanto mais próximo estiver de 1 ou -1, mais forte é a associação; quanto mais
próximo estiver de zero, mais fraca é a relação entre as duas variáveis. Um
coeficiente negativo expressa uma relação inversa, ou seja, quanto maior o valor de
uma das variáveis, menor o valor esperado da outra.
A tabela 12 fornece o coeficiente de correlação de Spearman (r s) e seu
respectivo nível descritivo (p) para cada correlação avaliada entre os domínios do
SF-36 com a idade e a escala de severidade de fadiga (em pontos).
68
Tabela 12. Correlação entre SF-36 com a idade e a ESF dos 31 pacientes avaliados
no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
SF-36 (%)
SF-36 Saúde Geral
rs
p
Idade
-0,419
0,019
ESF
-0,606
0,0003
SF-36 Capacidade Funcional
rs
p
-0,526
0,002
-0,728
0,0001
SF-36 Aspecto Físico
rs
p
-0,282
0,12
-0,333
0,067
SF-36 Aspecto Emocional
rs
p
-0,187
0,32
-0,453
0,011
SF-36 Aspecto Social
rs
p
-0,380
0,035
-0,581
0,0006
SF-36 Dor
rs
p
-0,288
0,12
-0,498
0,004
SF-36 Vitalidade
rs
p
-0,439
0,013
-0,637
0,0001
SF-36 Saúde Mental
rs
p
-0,387
0,031
-0,600
0,0004
Observou-se que existe correlação significativa entre os domínios do SF-36
com a idade e a ESF, cujo o coeficiente de Spearman (r s) e seu respectivo nível
descritivo (p) estão destacados em negrito, ou seja, p  0,05. Sendo assim,
concluiu-se que existe correlação significativa entre a idade e os seguintes domínios
do SF-36: saúde geral (rs = -0,419; p = 0,019), capacidade funcional (rs = -0,526; p
= 0,002), aspecto social (rs = -0,380; p = 0,035), vitalidade (rs = -0,439; p = 0,013)
e saúde mental (rs = -0,387; p = 0,031). Isto significa, que quanto maior a idade
menor o valor esperado dos domínios do SF-36 (relação inversa).
69
Não existe correlação significativa entre a idade e a ESF (rs = 0,299; p =
0,10), ou seja, os níveis de fadiga não estão relacionados à idade dos pacientes
estudados.
Verificou-se ainda que existe correlação significativa entre a ESF e os
seguintes domínios do SF-36: saúde geral (rs = -0,606; p = 0,0003), capacidade
funcional (rs = -0,728; p = 0,0001), aspecto emocional (rs = -0,453; p = 0,011),
aspecto social (rs = -0,581; p = 0,0006), dor (rs = -0,498; p = 0,004), vitalidade (rs =
-0,637; p = 0,0001) e saúde mental (rs = -0,600; p = 0,0004). Isto significa, que
quanto maior a pontuação da ESF menor o valor esperado desses domínios do SF36.
Os gráficos de 4 a 10 ilustram as correlações significativas entre a ESF (em
pontos) e alguns domínios do SF-36.
Gráfico 4. ESF versus domínio saúde geral do SF-36 dos 31 pacientes avaliados no
ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
100
90
SF-36 Geral (%)
80
70
60
50
40
30
20
r s = -0,606; p = 0,0003
10
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
ESF (pontos)
Segundo o coeficiente de correlação de Spearman (rs ), as correlações mais
fortes são aquelas cujo coeficiente é ≤ -0,60. Portanto, verifica-se que há forte
70
correlação entre ESF e saúde geral (rs = - 0,606). Isto significa que, quanto maior a
severidade da fadiga, menor o valor esperado para o domínio saúde geral do SF-36.
O gráfico 5 demonstra a correlação entre ESF e o domínio capacidade
funcional do SF-36.
Gráfico 5. ESF versus domínio capacidade funcional do SF-36 dos 31 pacientes
avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
.
SF-36 Cap. Funcional (%)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
rs = -0,728; p = 0,0001
10
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
ESF (pontos)
A correlação entre ESF e capacidade funcional, apresenta rs = - 0,728,
indicando forte correlação entre as duas variáveis. Portanto, quanto maiores os
índices de fadiga, menores os valores esperados para o domínio capacidade
funcional do SF-36.
O gráfico 6 demonstra a correlação entre a ESF e o domínio aspecto
emocional do SF-36.
71
Gráfico 6. ESF versus domínio aspecto emocional do SF-36 dos 31 pacientes
avaliados no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
100
SF-36 Emocional (%)
90
80
70
60
50
40
30
20
rs = -0,453; p = 0,011
10
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
ESF (pontos)
Segundo o coeficiente de correlação de Spearman, a correlação entre ESF e
o domínio aspecto emocional do SF-36 é significativa, porém fraca, já que rs = 0,453.
Gráfico 7. ESF versus domínio aspecto social do SF-36 dos 31 pacientes avaliados
no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
100
90
SF-36 Social (%)
80
70
60
50
40
30
20
r s = -0,581; p = 0,0006
10
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
ESF (pontos)
45
50
55
60
65
70
72
Observa-se no gráfico 7, que assim como acontece em relação ao aspecto
emocional, há correlação significativa entre ESF e o domínio aspecto social, porém
esta é fraca, pois rs = - 0,581.
Gráfico 8. ESF versus domínio dor do SF-36 dos 31 pacientes avaliados no ATC /
HUCFF / UFRJ, 2007.
100
90
SF-36 Dor (%)
80
70
60
50
40
30
20
rs = -0,498; p = 0,004
10
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
ESF (pontos)
Com rs = - 0,498, verifica-se significativa correlação entre ESF e o domínio dor
do SF-36, porém esta correlação é fraca.
O gráfico 9 faz a análise entre a ESF e o domínio vitalidade do SF-36.
73
Gráfico 9. ESF versus domínio vitalidade do SF-36 dos 31 pacientes avaliados no
ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
100
SF-36 Vitalidade (%)
90
80
70
60
50
40
30
20
r s = -0,637; p = 0,0001
10
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
ESF (pontos)
Analisando o gráfico 9, observa-se forte correlação entre ESF e o domínio
vitalidade do SF-36, já que rs = - 0,637, o que significa que, quanto maior o índice de
fadiga, menor o valor esperado para o referido domínio.
Gráfico 10. ESF versus domínio saúde mental do SF-36 dos 31 pacientes avaliados
no ATC / HUCFF / UFRJ, 2007.
100
SF-36 Mental (%)
90
80
70
60
50
40
30
20
10 rs = -0,600; p = 0,0004
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
ESF (pontos)
45
50
55
60
65
70
74
O gráfico 10 indica que a correlação entre a ESF e o domínio saúde mental
do SF-36 é forte, pois rs = - 0,600; portanto, quanto maiores os índices de fadiga,
menor o valor esperado para este domínio.
Resumindo, verifica-se através da análise dos gráficos, que as correlações
mais fortes são, respectivamente: ESF versus capacidade funcional (rs = -0,728),
ESF versus vitalidade (rs = -0,637), ESF versus saúde geral (rs = -0,606) e ESF
versus saúde mental (rs = -0,600). As demais correlações foram significativas, porém
fracas.
75
7. DISCUSSÃO
A exposição a compostos tóxicos pode gerar importantes efeitos sobre a
saúde. O uso de agrotóxicos pode causar riscos à saúde humana e ao ambiente,
sendo por isso foco de atenção na área da Saúde Coletiva. Ao longo de dez anos, a
população estudada - agentes de saúde pública que trabalharam nos programas de
controle de endemias vetoriais no município do Rio de Janeiro - foi exposta a
produtos químicos altamente tóxicos, como os organofosforados, carbamatos e
piretróides. O controle de vetores era centrado na aplicação de um organofosforadotemephos (abate®) em reservatórios domiciliares de água potável. Cabe ressaltar
que o organofosforado em questão apresenta classe toxicológica II, ou seja, é
altamente tóxico, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1999).
Os resultados desta exposição, relatados neste trabalho, levam a uma série
de questionamentos a respeito dos efeitos sobre a saúde da população estudada,
bem como a uma reflexão sobre quais possíveis fatores sociais e ambientais
poderiam estar relacionados a tal exposição.
Tambellini e Câmara (1998) mostram que a questão da saúde articula-se no
enfoque das relações de produção, ambiente e saúde, com repercussões reais e
profundas na qualidade de vida dos indivíduos e da coletividade, podendo criar
situações de risco ambientais e à saúde. A atividade do trabalho associada ao uso
de agrotóxicos, como acontece com os agentes de saúde, pode potencializar
problemas ambientais e de saúde com impactos muitas vezes irreversíveis.
Diversos estudos têm contribuído para o entendimento dos aspectos
epidemiológicos e alterações clínicas que podem estar associadas ao risco de
exposição ocupacional a agrotóxicos. Pacheco-Ferreira et al (2000), promoveram o
monitoramento dos riscos e efeitos à saúde de 15 agentes comunitários expostos
ocupacionalmente
aos
organofosforados.
O
trabalho
envolveu
equipes
76
multidisciplinares e inter-institucionais, o que foi importante dado a complexidade do
assunto.
As variáveis sócio-demográficas e ocupacionais relatadas nesta investigação,
são corroboradas pelo estudo de Haikel & Pacheco-Ferreira (2005), que
investigaram a trajetória da mesma população de trabalhadores em questão, com
enfoque nos aspectos históricos e na situação de saúde desses sujeitos, enfatizando
as repercussões neurocomportamentais. Aqui, o enfoque foi dado à presença e
intensidade de fadiga nesta população, bem como sua repercussão na qualidade de
vida desses trabalhadores. Ao se aplicar estudos que enfatizam diferentes aspectos
de uma mesma população, espera-se contribuir para uma abordagem de vigilância
em saúde, visto que é grande a complexidade dos fenômenos envolvidos na
exposição prolongada aos agrotóxicos.
Como
assinala
Pacheco-Ferreira
(2003),
torna-se
fundamental
a
compreensão do caráter histórico e social da doença, considerando-se as
particularidades das populações a serem estudadas. Por isso, as condições de risco
para a saúde de uma população exposta a agrotóxicos, bem como a construção
histórica dessa exposição, foram levantadas mediante revisão de literatura técnica;
além disso, através de análise de variáveis sócio-demográficas, ocupacionais e de
saúde, buscou-se descrever a população em estudo, para melhor discutir o cenário
desta exposição.
A população estudada, em sua maioria, foi exposta aos agrotóxicos por um
tempo médio de dez anos e atualmente, como avaliado pela equipe interdisciplinar
do Ambulatório de Toxicologia Clínica do HUCFF / UFRJ, apresenta uma série de
alterações clínicas, neurológicas e comportamentais provenientes desta intoxicação
crônica. Os sintomas tiveram início há mais de dez anos na maioria dos pacientes.
Apesar de estarem afastados da exposição há cinco anos em média, esses
77
trabalhadores convivem com alterações persistentes em sua saúde, que acarretaram
conseqüentes mudanças com relação à qualidade de vida.
Através da aplicação da ESF, pôde-se identificar os pacientes fatigados
(todos com pontuação maior que 28 pontos), além de verificar que os níveis de
severidade de fadiga nessa população são extremamente elevados (ESF= 48,7
pontos em média). Observou-se que a fadiga foi encontrada em 93,5% da população
exposta ao OF e que esta não somente apresenta fadiga crônica, como a apresenta
com severa intensidade. Estes dados estão de acordo com os valores encontrados
por Tahmaz, Soutar & Cherrie (2003), que encontraram fadiga crônica em 85% dos
fazendeiros criadores de ovelhas expostos aos agrotóxicos OF, além de associá-los
altos índices de fadiga aos elevados níveis de exposição. Mendes, Tilbery & Felipe
(2000) realizaram estudo preliminar em pacientes com esclerose múltipla,
encontrando fadiga em 70% desses pacientes. Estudo realizado em 611 indivíduos
sadios demonstrou que aproximadamente 10% da população analisada experimenta
a sensação de fadiga (David et al, 1990). Portanto, o presente estudo permitiu
analisar a expressiva prevalência de fadiga em trabalhadores expostos a agrotóxicos
organofosforados, em relação à população geral.
Segundo Fukuda et al (1994), a fadiga pode estar associada a uma
combinação de sintomas neurocognitivos, emocionais, distúrbios do sono e dor
músculo-esquelética. Conforme Lewis & Wessely (1992), que consideram a fadiga
como um fenômeno complexo, de natureza multidimensional, questiona-se quais
fatores poderiam estar envolvidos nesse alto índice de fadiga apresentado por essa
população? Sabe-se que esses pacientes podem apresentar distúrbios neurológicos
centrais e periféricos como conseqüência da intoxicação; manifestações clínicas
como neuropatia tardia e alterações musculares esqueléticas podem contribuir para
o desenvolvimento de fadiga. Mesmo a partir de inferências realizadas com base
78
nesses resultados extremamente relevantes, não se pode suscitar que a fadiga
crônica apresentada por essa população tenha sido afetada apenas pela exposição
aos agrotóxicos OF. Porém, observou-se que os resultados deste estudo são
corroborados por outros estudos, os quais altos índices de prevalência e intensidade
de fadiga crônica foram encontrados entre trabalhadores expostos aos agrotóxicos
OF e que consideram que sua saúde foi afetada por essa exposição (Tahmaz,
Soutar & Cherrie, 2003). Esses dados são consistentes com os valores encontrados
no presente estudo, com prevalência de fadiga crônica elevada na população de
agentes de saúde expostos ao OF.
Além de fadiga, a população estudada apresentou relatos de outros sintomas
igualmente incapacitantes, como déficits de memória, atenção e concentração,
alterações emocionais e dor músculo-esqueléticas. Pode-se suscitar, com base nos
estudos sobre fadiga crônica apresentados anteriormente, que estes sintomas
influenciam no aparecimento e severidade de fadiga, bem como podem ser
intensificados por esta.
Sabe-se que a fadiga está presente em grande variedade de distúrbios
clínicos e neurológicos, constituindo um sintoma-chave em diversas patologias
(Taylor, Jason & Torres, 2000), porém alguns a desenvolvem por períodos longos e
com maior intensidade do que outros, como observado por Wessely (2001) e
registrado neste estudo. Segundo Augusto et al (2000), os trabalhadores que
manipulam estas substâncias nos seus ambientes de trabalho apresentam
heterogeneidade e susceptibilidade individual. Pôde-se observar essas diferenças
individuais nas entrevistas realizadas, a qual cada trabalhador apresentava formas
peculiares de conviver e lidar com suas alterações clínicas, sendo uns mais afetados
que outros.
79
Tilbery (2005) afirmou que, nos pacientes com doenças neurológicas, a
fadiga é diferente daquela relatada por outros doentes, levando a um maior impacto
na vida diária. A população estudada apresentou baixos níveis de qualidade da vida
para os domínios avaliados pelo SF-36, no máximo 47,7% para capacidade
funcional. Considerando-se que os pacientes estudados apresentam diversas
alterações de natureza neurológica, causadas pela exposição aos OF, sugere-se
que a presença de fadiga, aliada a essas alterações, influenciou nos baixos índices
de qualidade de vida observados nessa população.
Sabe-se que as manifestações crônicas da intoxicação por agrotóxicos
apresentam extensos impactos decorrentes da exposição crônica, podendo ser
geradas por uma multiplicidade de fatores, que envolvem o tempo de exposição, a
susceptibilidade individual e o grau de toxidade do produto. Este estudo é rico em
informações e inferências geradas a partir da análise dos resultados. As variáveis
sócio-demográficas, ocupacionais e de saúde foram cautelosamente estudadas, as
quais permitiram suscitar informações relevantes a partir dos dados analisados.
Ao analisar o tempo de exposição ao OF, observou-se que os pacientes, de
uma forma geral, apresentaram altos índices de severidade de fadiga, independente
do tempo de exposição. Porém, o subgrupo com tempo de exposição igual ou
inferior a dez anos apresentou índice de severidade de fadiga significativamente
maior que o subgrupo com tempo de exposição superior a dez anos. Entretanto, não
se pode afirmar que quanto menor o tempo de exposição maior a fadiga, pois além
da avaliação clínica de pacientes expostos geralmente demonstrar o contrário (ou
seja, quanto maior o tempo de exposição, maior a fadiga), não houve descrição
exata da atividade laboral, a qual possui peculiaridades individuais; esse fato poderia
justificar a falta de correlação com o tempo de exposição. Pode-se sugerir que, uma
vez expostos, os indivíduos estão sujeitos a apresentar fadiga e os índices desta,
80
maiores ou menores, podem ser influenciados pela associação de um conjunto de
fatores.
Ainda em relação à variável tempo de exposição, observa-se que os níveis de
qualidade de vida foram baixos para ambos os subgrupos.
Quanto ao tempo de afastamento da exposição, os pacientes apresentaram
altos índices de fadiga e baixos níveis de qualidade de vida, independente do tempo
de afastamento. Imagina-se que, uma vez expostos e submetidos a episódios
recorrentes de sobre-exposição múltipla, os pacientes sofram conseqüências
persistentes, ou até mesmo permanentes, decorrentes dessa exposição crônica.
Talvez o afastamento altere o curso de sintomas agudos, porém faça pouca
diferença em relação aos sintomas crônicos, decorrentes de uma exposição
prolongada.
Verificou-se que o subgrupo com menor tempo de início dos sintomas,
apresentou índices de fadiga maiores do que o subgrupo com maior tempo de início
dos sintomas. Apesar dessa diferença não se mostrar significativa, tal resultado é
curioso. Estariam os pacientes com mais tempo de sintomas adaptados às
conseqüências da fadiga? É possível que esses pacientes, assim como relataram
durante as entrevistas, tenham modificado hábitos em relação às atividades de vida
diária para poupar energia, o que lhes proporcionaria menor gasto energético, com o
objetivo de adaptarem-se à suas novas realidades. Porém, tais dados devem ser
interpretados com cautela, pois houve dificuldade de aferição do tempo de início dos
sintomas, visto que a maioria dos pacientes não relata com exatidão a data de início
destes. Sendo assim, não se considerou esses dados como relevantes, pois podem
não ser fidedignos. Os níveis de qualidade de vida de ambos os subgrupos são
baixos; em relação ao domínio dor, o subgrupo com mais de dez anos de sintomas
apresenta maior índice do que a o subgrupo com menos de dez anos de sintomas,
81
fato que pode estar associado com as diversas alterações clínicas que podem ter
ocorrido
durante esse tempo.
Seria
interessante,
no
futuro,
analisar
as
características da dor desses pacientes, tais como tipo, intensidade, associação com
possíveis alterações músculo-esqueléticas adaptativas, etc., visto que esses
pacientes podem apresentar uma combinação de diversos fatores predisponentes a
dor.
Pode-se notar que a grande parte dos pacientes retornou ao trabalho, a
maioria apresentando jornada de trabalho correspondente a oito horas diárias. Além
disso, durante o trabalho alguns pacientes são obrigados a realizar longas
caminhadas e carregar bolsas pesadas. Pode-se sugerir que, na atual condição de
saúde desses trabalhadores, esse tempo diário de trabalho constitui uma jornada
fatigante. Observou-se que a maioria dos trabalhadores encontra-se em idade
produtiva, sendo-lhes portanto, muito cobrado em relação à produtividade, o que
associado ao estado precário de saúde, pode trazer profunda angústia e ansiedade
em relação ao futuro, como assinala Haikel & Pacheco-Ferreira (2005).
Quase todos os pacientes relataram nunca terem utilizado equipamentos de
proteção individual. Muitos alegaram que a empresa em que trabalhavam não cedeu
tais equipamentos nem promoveu treinamentos para correta manipulação dos
agrotóxicos. Sabe-se que o desenvolvimento de qualquer atividade que envolva a
manipulação de substâncias neurotóxicas, mesmo que em baixas quantidades,
requer cuidados com a saúde dos trabalhadores. Pacheco-Ferreira et al (2000)
constataram no monitoramento de agentes comunitários de saúde, que praticamente
todos eles demonstraram incômodo em relação ao uso dos equipamentos e que tal
material, quando presente, era acondicionado no mesmo local que as substâncias
tóxicas. Além disso, esses agentes não sabiam demonstrar a técnica correta para a
retirada e colocação de luvas e higiene das mãos.
82
Estudos como o de Souza et al (2002), demonstram que a carga de trabalho
doméstico pode constituir fator importante no aparecimento ou na intensificação da
fadiga, devendo essa variável constar no questionário feito aos trabalhadores.
Seguindo esse raciocínio, indagou-se a população estudada sobre a carga de
trabalho doméstico e constatou-se que o subgrupo com carga moderada/pesada,
apresenta índices de fadiga maiores em relação ao grupo com carga de trabalho
ausente/leve. Como já foi dito anteriormente, os pacientes que relataram carga de
trabalho doméstico ausente/leve declararam impossibilidade de realizar tarefas
domésticas moderadas/pesadas, portanto, a ausente ou leve carga de trabalho
doméstico provavelmente constitui uma estratégia de conservação de energia. Além
disso, observou-se que quanto maior a carga de trabalho, menores os índices de
qualidade de vida. Para o subgrupo com carga de trabalho doméstico
moderada/pesada, os níveis de qualidade de vida foram menores para alguns
domínios do SF-36, sugerindo que tal carga de trabalho pode exercer influência
significativa sobre o aspecto emocional, dor, vitalidade e saúde mental.
Observou-se que os pacientes que praticam atividade física apresentaram
índices de fadiga menores em relação aos pacientes que não praticam atividade
física. Apesar dessa diferença não ser significativa (p= 0,68), vale ressaltar que o
tratamento da fadiga deve incluir abordagem clínica medicamentosa em associação
com outras abordagens terapêuticas, tais como programas de exercícios físicos para
reduzir o descondicionamento, terapia comportamental para reduzir sintomas
associados à depressão, além de estratégias como instituir períodos de descanso
durante o trabalho e evitar condições que causem fadiga, como por exemplo o calor
em pacientes com esclerose múltipla (Krupp & Pollina, 1996). As vantagens do
exercício na fadiga foram demonstradas por Petajan et al (1996), que estudaram
pacientes com esclerose múltipla, submetendo-os a quinze semanas de treinamento
83
aeróbico. Quando comparados ao grupo controle, os pacientes que participaram do
treinamento aeróbico tiveram significativa redução na fadiga e melhora da qualidade
de vida. Vercoulen et al (1997) em estudo sobre atividade física em pacientes com
síndrome da fadiga crônica, encontraram correlação entre fadiga e baixos níveis de
atividade física.
Segundo
Souza,
Messing
&
Menezes
(2002),
a
fadiga
pode
ser
desencadeada por uma série de fatores; alguns estudos mostram uma associação
entre fadiga crônica e fatores sócio-demográficos, tais como idade e gênero, fatores
sócio-econômicos e presença de patologias físicas ou psicológicas. Em relação à
idade, observou-se neste estudo que não houve correlação significativa entre esta e
o nível de severidade de fadiga. Este dado é compatível com resultados encontrados
em estudos sobre fadiga em populações diversas, como trabalhadores bancários e
pacientes portadores de esclerose múltipla, artrite reumatóide e lúpus eritematoso
sistêmico (Souza, Messing & Menezes, 2002). Tilbery (2005) afirmou que a idade é
descrita como um fator que não influencia no aparecimento da fadiga em indivíduos
com esclerose múltipla. Em artigo de revisão, Lewis & Wessely (1992) não
encontraram variação consistente entre fadiga e idade, exceto que a fadiga é
incomum antes da adolescência.
Apesar de não apresentar correlação significativa com a fadiga, a idade
apresentou forte correlação com alguns índices de qualidade de vida na população
estudada, onde verificou-se que quanto maior a idade menores os índices de
qualidade de vida. Os pacientes mais idosos relataram maiores dificuldades em
relação às questões de trabalho, financeiras e emocionais, além de declararem-se
mais dependentes de terceiros para tais questões. Todos esses fatores associados
podem contribuir para conseqüentes mudanças em relação à qualidade de vida.
Trabalhadores com idade superior a 59 anos foram excluídos do estudo, a fim de
84
evitar conflitos em relação às possíveis comorbidades apresentadas com o decorrer
da idade.
Embora muitas vezes encontrada com maior freqüência entre as mulheres, há
estudos, como o de Souza, Messing & Menezes (2002), por exemplo, em que a
correlação entre fadiga e gênero não foi significativa. Porém, Lewis & Wessely
(1992), em estudo de revisão, verificaram que a fadiga é duas ou três vezes mais
prevalente em mulheres do que em homens. No presente estudo, encontrou-se
correlação significativa entre essas duas variáveis, já que os homens apresentaram
níveis de fadiga significativamente menores que as mulheres. Talvez por isso, os
índices de qualidade de vida tenham sido significativamente maiores na população
masculina. Souza, Messing e Menezes (2002), apontaram uma possível combinação
de variáveis contribuintes para maiores índices de fadiga na população feminina, tais
como a carga de trabalho doméstico e filhos menores de 13 anos de idade.
Existem controvérsias quanto à associação entre fadiga e depressão. Alguns
autores não encontraram essa correlação, ao passo que outros afirmaram haver
influência da depressão sobre o aparecimento do sintoma. A associação entre fadiga
e alterações de personalidade, é descrita como tendência ao negativismo,
irritabilidade, e comportamento mais introvertido e menos sociável (TILBERY, 2005).
Vercoulen et al (1997) demonstraram em seu trabalho que irritabilidade e
depressão foram mais comuns entre pacientes com síndrome da fadiga crônica do
que entre pacientes com esclerose múltipla. Alguns autores sugerem que a
depressão e a fadiga são importantes condições associadas com baixa qualidade de
vida (Naess, Andreassen & Thomassen, 2006). No presente estudo, encontrou-se
forte correlação entre fadiga e o domínio aspecto emocional nos pacientes
avaliados, sugerindo a influência de uma variável sobre a outra. Em seu estudo
sobre a mesma população em questão, Haikel & Pacheco-Ferreira (2005)
85
identificaram que os agentes de saúde tiveram que arcar durante todo este período
com as implicações sociais, políticas e financeiras provenientes de impasses legais
por parte da empresa onde trabalhavam; alguns encontravam-se afastados, outros
aposentados ou com desvio de função, porém alguns não conseguiram condições
que garantissem segurança e dignidade de vida. Todos esses fatores certamente
trazem angústia, incerteza e insegurança aos trabalhadores, o que pode ter tido
grande influência sobre o domínio aspecto emocional.
Encontrou-se correlação significativa entre a ESF e alguns domínios do SF-36
demonstrando que, quanto maior a fadiga, menores os índices de qualidade de vida
dos pacientes estudados. As correlações mais fortes ocorreram entre ESF e os
domínios capacidade funcional, vitalidade, saúde geral e saúde mental, sendo
importantes as alterações encontrados nos pacientes em relação a tais aspectos da
saúde. Redução significativa nos escores dos domínios do SF-36 tem sido
encontrada com freqüência em pacientes fatigados, fato observado em diversos
estudos realizados com pacientes portadores de esclerose múltipla, acidente
vascular encefálico e artrite reumatóide. Porém, não foram encontrados estudos
associando presença e intensidade de fadiga com a qualidade de vida em indivíduos
expostos a agrotóxicos OF.
A exposição repetida a agrotóxicos organofosforados tem sido investigada
como um fator que poderia aumentar a probabilidade de desenvolver fadiga crônica
(Tahmaz, Soutar & Cherrie, 2003). De forma geral, concluiu-se que na população
estudada – Agentes de Saúde Pública envolvidos nas ações de controle de vetores
no Município do Rio de Janeiro, ocupacionalmente expostos a agrotóxicos
organofosforados – é grande a prevalência de fadiga crônica, com altos níveis de
severidade de fadiga associados a baixos níveis de qualidade de vida. Mais estudos
86
são necessários para analisar a fadiga crônica em indivíduos expostos a agrotóxicos
OF, assim como a repercussão desta na qualidade de vida dessa população.
87
8. CONCLUSÃO

A população estudada apresentou alta prevalência de fadiga: 93,5%;

A média da ESF foi de 48,7 pontos, o que expressa fadiga severa nesta
população;

Não houve correlação entre ESF e idade;

Observou-se maior intensidade de fadiga na população feminina;

Todos apresentaram baixos níveis de qualidade de vida: no máximo
47,7% para o domínio capacidade funcional;

Houve correlação entre idade e alguns domínios de qualidade de vida do
SF-36;

Verificaram-se menores índices de qualidade de vida na população
feminina;

Houve correlação significativa entre a ESF e o SF-36: quanto maior a
fadiga, menores os índices de qualidade de vida.
88
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os efeitos potenciais à saúde causados pela exposição a substâncias
químicas, têm gerado crescente interesse por parte de pesquisadores das mais
diversas áreas, que através do processo de investigação e vigilância desses efeitos
em populações expostas a compostos tóxicos, contribuem de forma significativa
para a formação do conhecimento em toxicologia, assumindo assim importante
papel na área da saúde coletiva.
Sabe-se que os trabalhadores estão sujeitos a impactos e uma multiplicidade
de danos potenciais. Os efeitos dos diferentes agentes provocados pelos padrões de
produção e consumo atuais podem criar situações de riscos ambientais e à saúde,
que cada vez mais geram diferentes formas de exclusão social.
A sociedade atual exige altos níveis de produtividade e, dentro deste
contexto, a fadiga - fenômeno complexo associado à vida moderna - pode constituir
sintoma gravemente incapacitante. Espera-se que o reconhecimento de diversas
formas de manifestação da fadiga, com diferentes fisiopatologias e a influência de
múltiplos fatores envolvidos em seu aparecimento e intensidade, permita à
sociedade científica atuar de forma mais efetiva no alívio deste sintoma.
A intoxicação crônica por agrotóxicos OF constitui um universo abrangente e
complexo, onde muitos outros fatores prejudiciais e complexos, além da fadiga e
qualidade de vida, precisam ser melhor investigados na população exposta.
Somente através da geração de conhecimentos, poder-se-á contribuir com as
questões relacionadas à Saúde do Trabalhador e Saúde Ambiental. Tais
contribuições são fundamentais para elaborar procedimentos e buscar soluções que
favoreçam a qualidade de vida dos trabalhadores.
Este estudo, através da descrição e análise cuidadosa de um grupo
específico de trabalhadores, certamente contribui para o melhor entendimento sobre
89
as questões de saúde relevantes que os envolvem, ajudando, de certa forma, a
controlar, reduzir ou até mesmo eliminar os impactos ocasionados pelo risco de
exposição aos agrotóxicos organofosforados. Os dados encontrados demonstram a
importância do monitoramento da múltipla exposição a agrotóxicos - uma cadeia de
eventos de grande repercussão na saúde pública e para o meio ambiente – assim
como a importância de pensar em políticas de desenvolvimento sustentável, que
incluam tecnologias limpas e ecológicas para o controle de vetores.
90
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95
ANEXOS
96
Anexo I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva–
IESC / UFRJ.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser
esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final
deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em
caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma. Em caso de dúvida você pode procurar o
CEP / IESC – Telefone: (21) 2598-9328 .
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Título do Projeto: PREVALÊNCIA DE FADIGA CRÔNICA E SUA RELAÇÃO COM A QUALIDADE DE
VIDA EM INDIVÍDUOS OCUPACIONALMENTE EXPOSTOS A INSETICIDAS ORGANOFOSFORADOS.
Pesquisador Responsável : FERNANDA GUIMARÃES DE ANDRADE
Telefone para contato (inclusive ligações a cobrar): (21) 3601-4525
Orientadora: Profª. Drª. HELOÍSA PACHECO-FERREIRA
Telefone para contato: (21) 2598-9288
Esta pesquisa tem por objetivo avaliar a prevalência e os níveis de fadiga, correlacionando com a
possível interferência na qualidade de vida em indivíduos expostos a inseticidas organofosforados.
Inicialmente, serão realizadas entrevistas agendadas, no Ambulatório de Toxicologia Clínica do
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF / UFRJ), pela pesquisadora. Um questionário
estruturado voltado ao histórico ocupacional, assim como escalas específicas de avaliação de fadiga e
qualidade de vida, serão aplicados pela pesquisadora a cada participante, individualmente. Os encontros
terão duração média de 90 minutos. Após a coleta de dados, estes serão analisados e os resultados
apresentados a cada participante.
É importante ressaltar que ao aceitar participar da pesquisa o participante irá contribuir para o
desenvolvimento do conhecimento geral e específico a respeito da mesma. Todas as informações colhidas
serão cuidadosamente guardadas, garantindo o sigilo e a privacidade dos entrevistados. Em qualquer
divulgação dos dados da pesquisa, não será possível revelar o nome dos participantes. O participante tem
a garantia de liberdade de desistir de participar da pesquisa e de retirar o consentimento a qualquer
momento.
__________________________________
Fernanda Guimarães de Andrade
________________________________
Profª Drª Heloísa Pacheco-Ferreira
Eu,__________________________________________________________________________________,
RG_______________,CPF_______________,
n.º
de
prontuário___________,
n.º
de
matrícula__________,
abaixo
assinado,
concordo
em
participar
do
estudo
_____________________________________________________________,
como
sujeito.
Fui
devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador ______________________________ sobre a
pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de
minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que
isto leve à qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/ assistência/tratamento.
Local: _______________________________________________________________________
Data: ______/ ______/ ______
Nome e Assinatura do sujeito ou responsável: _______________________________________
97
Anexo II – Questionário SF-36
Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36).
SF-36 PESQUISA EM SAÚDE
SCORE:__________
Instruções: Esta pesquisa questiona você sobre sua saúde. Estas informações nos
manterão informados sobre como você se sente e quão bem você é capaz de fazer
suas atividades de vida diária. Responda cada questão marcando a resposta como
indicado. Caso você esteja inseguro em responder, por favor tente responder o melhor
que puder.
1. Em geral você diria que sua saúde é:
(circule uma)
Excelente ___________________________________________________________1
Muito boa ___________________________________________________________2
Boa ________________________________________________________________3
Ruim _______________________________________________________________4
Muito ruim __________________________________________________________ 5
2. Comparada há um ano atrás, como você classificaria sua saúde em geral, agora?
(circule uma)
Muito melhor agora do que há um ano atrás _______________________________ 1
Um pouco melhor agora que há um ano atrás_______________________________2
Quase a mesma de um ano atrás _________________________________________3
Um pouco pior agora do que há um ano atrás _______________________________4
Muito pior agora que há um ano atrás _____________________________________5
3. Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer atualmente durante
um dia comum. Devido a sua saúde, você tem dificuldade para fazer essas
atividades? Neste caso, quanto? (circule um número em cada linha)
98
Atividades
Sim.
Sim
Dificulta muito Dificulta
pouco
a. Atividades vigorosas, que
exigem muito esforço, tais como
correr, levantar objetos pesados,
participar em esportes árduos.
b. Atividades moderadas, tais
como mover uma mesa, passar
aspirador de pó , jogar bola,
varrer a casa.
Não
um Não dificulta
de
modo
algum
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
e. Subir um lance de escada.
1
2
3
f. Curvar-se,
dobrar-se.
ou
1
2
3
um
1
2
3
h. Andar vários quarteirões
1
2
3
i. Andar um quarteirão
1
2
3
j. Tomar banho ou vestir-se
1
2
3
c.
Levantar
mantimentos
d. Subir
escada.
g.
Andar
quilômetro
ou
vários
carregar
lances
ajoelhar-se
mais
de
de
4. Durante as últimas quatro semanas, você tem algum dos seguintes problemas com o
seu trabalho ou com alguma atividade diária regular, como conseqüência de sua saúde
física? (circule uma em cada linha)
99
Sim
Não
a.
Você diminuiu a quantidade de
tempo que se dedicava ao seu trabalho ou a
outras atividades?
1
2
b. Realizou menos tarefas
gostaria?
do que você
1
2
c. Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou em
outras atividades?
1
2
1
2
d. Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou
outras atividades (por exemplo: necessitou de um
esforço extra)?
5. Durante as últimas quatro semanas, você teve algum dos seguintes problemas com
seu trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de algum problema
emocional (como sentir-se deprimido ou ansioso)?(circule uma em cada linha)
Sim
Não
a.
Você diminuiu a quantidade de
tempo que se dedicava ao seu trabalho ou a
outras atividades?
1
2
b. Realizou menos tarefas do que gostaria?
1
2
c. Não trabalhou ou não fez qualquer das
atividades com tanto cuidado como geralmente
faz?
1
2
6. Durante as últimas quatro semanas, de que maneira sua saúde física ou problemas
emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em relação à família,
vizinhos, amigos ou em grupo?
De forma nenhuma ___________________________________________________1
Ligeiramente ________________________________________________________2
100
Moderadamente ______________________________________________________3
Bastante_____________________________________________________________4
Extremamente ________________________________________________________5
7. Quanta dor no corpo você teve durante as últimas quatro semanas? (circule uma)
Nenhuma____________________________________________________________1
Muito leve ___________________________________________________________2
Leve_________________________________________________________________3
Moderada ____________________________________________________________4
Grave _______________________________________________________________5
Muito grave __________________________________________________________6
8. Durante as últimas quatro semanas, quanto a dor interferiu com o seu trabalho
normal (incluindo tanto o trabalho, fora de casa e dentro de casa)? (circule uma)
De maneira alguma ____________________________________________________1
Um pouco ___________________________________________________________2
Moderadamente ______________________________________________________3
Bastante ____________________________________________________________4
Extremamente _______________________________________________________ 5
9. Estas questões são sobre como você se sente e como tudo tem acontecido com você
durante as últimas quatro semanas. Para cada questão, por favor dê uma resposta
que mais se aproxime da maneira como você se sente em relação às últimas quatro
semanas. (circule em número para cada linha)
101
Todo A maior Uma
tempo parte do boa
parte
tempo
do
tempo
a. Quanto tempo você tem
se sentido cheio de vigor,
cheio de vontade, cheio
de força?
Algum
a parte
do
tempo
Uma
Nunca
pequen
a parte
do
tempo
1
2
3
4
5
6
b. Quanto tempo você tem
se sentido uma pessoa
muito nervosa?
1
2
3
4
5
6
c. Quanto tempo você tem
se sentido tão deprimido que
nada pode animá-lo?
1
2
3
4
5
6
1
2
3
4
5
6
1
2
3
4
5
6
1
2
3
4
5
6
g. Quanto tempo você tem
se sentido esgotado?
1
2
3
4
5
6
h. Quanto tempo você tem
se sentido uma pessoa feliz?
1
2
3
4
5
6
i.Quanto tempo você tem se
sentido cansado?
1
2
3
4
5
6
d. Quanto tempo você tem
se
sentido
calmo
ou
tranqüilo?
e. Quanto tempo você tem
se sentido com muita
energia?
f. Quanto tempo você tem se
sentido
desanimado
e
abatido?
10. Durante as últimas quatro semanas, quanto do seu tempo a sua saúde física ou
os problemas emocionais interferiram com as suas atividades sociais (como visitar
amigos, parentes, etc.)? (circule uma)
Todo tempo __________________________________________________________1
A maior parte do tempo _________________________________________________2
102
Alguma parte do tempo _________________________________________________3
Uma pequena parte do tempo ____________________________________________4
Nenhuma parte do tempo _______________________________________________5
11. O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você? (circule um
número em cada linha)
Definitiva- A maioria Não sei
mente ver- das vezes
dadeiro
verdadeiro
a. Eu
costumo
adoecer um pouco
mais
facilmente
que
as
outras
pessoas.
b. Eu sou tão
saudável
quanto
qualquer pessoa que
eu conheço.
c. Eu acho que a
minha saúde vai
piorar.
A maioria Definitivadas vezes mente
falsa
falsa
1
2
3
4
5
1
2
3
4
5
1
2
3
4
5
103
Anexo III – Escala de Severidade de Fadiga
Total de Pontos:_________
Instruções:
“Farei agora nove afirmações. Você deverá dar uma nota de 1 a 7, onde 1
significa que você discorda completamente e 7 indica que você concorda plenamente
com a afirmação. Lembre-se de que estas afirmações referem-se às suas duas
últimas semanas.”
1. Minha motivação é menor quando eu estou fatigado.
Pontuação:
1
2
3
4
5
6
7
5
6
7
5
6
7
2. Exercícios me deixam fatigado.
Pontuação:
1
2
3
4
3. Eu estou facilmente fatigado.
Pontuação:
1
2
3
4
4. A fadiga interfere com meu desempenho.
Pontuação:
1
2
3
4
5
6
7
5. A fadiga causa problemas freqüentes para mim.
Pontuação:
1
2
3
4
5
6
7
6. Minha fadiga impede um desempenho físico constante.
Pontuação:
1
2
3
4
5
6
7
7. A fadiga interfere com a execução de certas obrigações e responsabilidades.
Pontuação:
1
2
3
4
5
6
7
8. A fadiga é um dos três sintomas mais incapacitantes que tenho.
Pontuação:
1
2
3
4
5
6
7
9. A fadiga interfere no meu trabalho, na minha família ou na minha vida social.
Pontuação:
1
2
3
4
5
6
7
104
APÊNDICE
105
Apêndice I – Questionário Elaborado pelo Pesquisador
Data: _____/ _____/ _____
Nº do Questionário: _________
Nº Prontuário:__________________
RG:___________________________
Nome:____________________________________________________________
I – PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO
2.
Sexo:
(1) masculino
3.
Idade:
(1) 18-29 anos
(2) feminino
(2) 30-39 anos
(3) 40-59 anos
4.
Estado Civil:
(1) casado
(2) não casado
4.
Possui filhos menores (<13 anos) de idade?
5.
Escolaridade:
(1 ) sim
(1) analfabeto
(2) 1o grau incompleto
(3) 1o grau completo
(4) 2o grau incompleto
(5) 2o grau completo
(6) universitário incompleto
(7) universitário completo
6. Há quanto tempo você apresenta sintomas relacionados à doença?
(1) < 1 ano
(2) 1-3 anos
(3) ≥ 3 anos
(4) ≥ 5 anos
(5) ≥ 10 anos
7. Entre os sintomas abaixo, qual mais o incomoda no momento?
(1) dor
(2 ) não
106
(2) cansaço
(3) fraqueza
(4) alterações de memória, atenção, concentração
(5) alterações emocionais
(6) outros
8.
Usa algum tipo de medicamento contra fadiga?
(1) sim
(2) não
Se sim, quais? __________________________________________________
9.
Você apresenta alguma outra doença?
(1) sim
(2) não
Se sim, qual (is)? ______________________________________________
10.
Faz ou já fez uso de bebida alcoólica?
(1) sim
(2) não
Se sim, com que freqüência?
(1) diariamente (2) somente nos fins-de-semana (3) às vezes
Durante quanto tempo? ________________________________________
11.
Você fuma ou já fumou? (1) sim
(2) não
Se sim, com que freqüência?
(1) diariamente (2) alguns dias na semana (3) às vezes
Durante quanto tempo? _______________________________________
12.
Você pratica ou já praticou algum tipo de atividade física regular (pelo menos 2 ou 3x por semana?)
(1) sim
(2) não
Se sim, quais? ______________________________________________
13.
Você participa de algum tipo de programa de reabilitação?
(1) sim
(2) não
Se sim, quais?
(1) fisioterapia
(2) fonoaudiologia
(3) terapia ocupacional (4) psicologia ( ) outros
107
14. Qual a sua carga de trabalho doméstico?
(1) nenhum
(2) leve
(3) moderado
(4) pesado
II – HISTÓRICO OCUPACIONAL
15.
Você trabalha?
(1) sim
16.
(2) não
Qual sua ocupação atualmente? __________________________________________________
17. Qual a sua jornada de trabalho?
(1) 4 horas por dia
(2) 6 horas por dia
(3) 8 horas por dia
(4) outro
18. Tempo de exposição a agrotóxicos organofosforados:
(1) < 1 ano
(2) 1 a 3 anos
(3) 3 a 5 anos
(4) 5 a 10 anos
(5) > 10 anos
19. Tempo de afastamento da exposição:
(1) < 1 ano
(2) 1 a 3 anos
(3) 3 a 5 anos
(4) 5 a 10 anos
(5) > 10 anos
(6) não está afastado
20. Após o afastamento você tornou a ter contato com o produto? (1) sim
21. Após o afastamento retornou ao trabalho? (1) sim
Se sim, que tipo de atividade passou a exercer?
(2) não
(2) não
108
(1) serviços burocráticos
(2) trabalho com biolarvicidas
(3) trabalho com organofosforados
(4) segurança / motorista
(5) outros
22. Utilizou algum tipo de equipamento de proteção individual?
(1) sim
(2) não
Se sim, qual(is)? __________________________________________________________________
23.
Quais os outros empregos você já teve?
24. Em que empregos você permaneceu por mais de seis meses, antes do início da doença?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
25.
Já sofreu algum acidente de trabalho?
(1 ) sim
(2 ) não