viem gan b

Transcrição

viem gan b
Ministério
da Cultura
Patrocínio
www.tdabrasil.com.br
Apoio
Editores
Eraldo Peres
Folias, Romarias e Congadas
Agradecimentos especiais
A todos os grupos populares, mestres e foliões que nos
receberam em suas celebrações.
Agradecimentos
Aos amigos, importantes colaboradores dessa jornada: Jorge Vidal, Roberto Castello, Bete Bhering, Luiz
Otávio da Justa Neves, Luis Turiba, Wagner Barjas,
Sérgio Almeida, Paulo Santos, Marcus Vinicius, Shirley
Fernandes, Juliana Peres, Bruno Peres, Davidyson
Willian, Ana Martha, Marcelo Cabral, Geovana Peres,
Lucas Peres e André Abrahão.
Ilustrações e iconografia
Cícero Lopes da Costa
Produção Gráfica:
TDA Brasil
Direção de arte: Marcos Rebouças
Projeto gráfico: João Campello
Diagramação:Bruna Pagy e João Campello
CDU: 398 (821.1)
6. Folia do Divino 7. Folia de Reis 8. Romaria 9. Congada 10. Fogaréu
1. Folclore 2. Cultura popular 3. Religião 4. Fotografia 5. Misticismo
ISBN: 978.85-98694-31-3
156 p.: il. 29,5 x 29,5 cm.
Eraldo Peres. – Brasília: Editora Senac – DF, 2009.
F862e Peres, Eraldo. FÉsta Brasileira, Folias, Romarias e Congadas; pesquisa e fotografias,
Produção, entrevistas e textos complementares
Carol Peres
Textos de abertura dos capítulos
Clovis Carvalho Britto
Texto “Festa Brasileira, festa universal”
Angélica Madeira
Projeto, pesquisa e fotografia
Eraldo Peres
FÉsta Brasileira
2009©Eraldo Peres
Proibido qualquer tipo de reprodução
140
149
Festas pesquisadas
Bibliografia
98
Padre Cícero
124
90
Nossa Senhora da Abadia
Fogaréu
80
Divino Pai Eterno
106
70
Bom Jesus da Lapa
Congadas
60
52
Círio de Nazaré
Romarias
42
22
Folias
Folia de Reis
20
Brasil, festas e tradições
32
10
Fé brasileira, Festa universal
Folia do Divino
8
Apresentação
Sumário
“
Sebastiana Geralda Ribeiro Silva, 67 anos,
Bom Despacho-MG, 2002.
A congada para mim é tudo. É tudo: vida,
alegria, paz, saúde, prazer... Fazer as pessoas sorrir, fazer as pessoas chorar. Uma hora
faz chorar, outra hora faz sorrir... Dentro da
música ela é uma paz, dentro do pensamento ela é uma saudade... Dentro da dança, é
uma lembrança dos que já foram e dos que
não podem mais dançar, dos que não podem
mais caminhar... É uma festa de muita alegria, mas dentro do negro mesmo, que conhece qual é o significado da festa, traz dor, traz
dor... Saudade!
7
8
apresentação
9
Folia do Divino Espírito Santo, Pirenópolis-GO, 2000
Angélica Madeira
Romaria de Bom Jesus da
Lapa-BA, 1998
Assim também as coreografias: elas apresentam
circunvoluções complexas, na alternância entre
as partes dançadas e cantadas pelos grupos e as
partes dramáticas, em que todos ficam parados e
personagens, reis, palhaços, embaixadores travam
As imagens das Festas Brasileiras que temos diante
dos olhos mostram um Brasil vivo e colorido, tradicional e longínquo, mesmo que esteja próximo,
dentro de Brasília, a cidade mais modernista de
todas as cidades. Mostram também os brasileiros,
de várias regiões, mulheres e homens, em interação social intensa como a que acontece nas festividades e cultos que insistem em praticar. Esse
significativo recorte de rostos e de corpos, em situações coletivas, evidencia como o povo brasileiro
é diverso e mestiço tanto quanto as festas que preserva. Se estas trazem um enredo cristão, trazem
ritmos de Angola e do Congo, além de tambores
indígenas. Atualizam modelos de cantoria encontrados nas tradições africanas, como o padrão da
alternância entre o solo e a resposta da multidão
em coro; atualizam ainda o jogo das duas vozes
básicas que constroem um padrão singular de harmonia – o canto em terça, que pode incluir um
falsete e tornar-se mais e mais complexo, comportando, por vezes, polifonias de quatro ou cinco
vozes. Estas festas introduzem e promovem misturas de instrumentos de proveniências diversas:
há instrumentos de corda como a viola, a rabeca,
o cavaquinho, há a sanfona, trazidos pelos europeus; há triângulos, pandeiros e ganzás, chocalhos
e maracás e outros instrumentos percussivos trazidos pelos africanos ou já de uso na Terra de Santa
Cruz, na Pindorama perdida.
- sobre a pesquisa e as fotografias de FÉsta
Brasileira de Eraldo Peres -
Fé brasileira,
Festa universal
Esses registros de imagens, de sons e as narrativas
elaboradas pelos foliões constituem um acervo
importante para os pesquisadores do patrimônio imaterial por se caracterizarem como fontes
primárias de pesquisa. É sempre uma surpresa
constatar como práticas tão antigas sobrevivem
na sociedade contemporânea. Todo esse material
Folias, congadas e romarias, este é o universo das
festas abarcadas pela câmera de Eraldo Peres. O
fotógrafo pesquisou e fotografou durante mais
de uma década, por esse Brasil afora, registrou
cerca de dez mil imagens, gravou quarenta horas
de depoimentos de foliões e pessoas envolvidas
com os ritos, dez horas de gravações de cânticos,
benditos, hinos, e de ritmos. Identificou os lugares mais importantes onde ocorrem as festas,
fornecendo assim um mapeamento dessas danças dramáticas, dos itinerários dos romeiros, dos
locais de peregrinação. O trabalho de Eraldo é
de um gênero híbrido, o ensaio fotográfico, sobre uma temática delimitada e que utiliza quase sempre enquadramentos clássicos, revelando
uma preocupação estética inseparável da forma
de apreender a realidade.
diálogos, muitas vezes combinando passos de danças de corte a passos e pulos ritmados, saltos em
altura. Há brincantes de todas as idades, crianças,
jovens e octogenários que executam com a mesma
destreza e virtuosismo aquelas danças. As Congadas, por exemplo: dois grupos opostos lutam com
espadas de madeira ou com facões, simulando
uma guerra, representando, de forma estilizada,
os acontecimentos que estão sendo objeto daquela
festa e comemoração. Comemorar, ensina a etimologia, significa reafirmar juntos (co) algo que
merece um lugar na memória (memorare): os feitos bélicos e diplomáticos da rainha Ginga, filha
do rei de Mataba; a história do Rei Carlos Magno
e os doze pares de França; a luta entre mouros e
cristãos; a aparição de Nossa Senhora do Rosário a
São Domingos ou a São Benedito.
“Já fui cravo, já fui rosa,
Hoje sou manjericão
Daquele mais miudinho
Que as moças trazem na mão.”
11
São festas reveladoras da forma singular e eclética
adquirida pelo catolicismo no Brasil, um catolicismo pragmático, tolerante, pouco dogmático, de
grande proximidade entre o devoto e a santidade,
o que lhes autoriza uma relação íntima e pessoal
(Freyre, 1992). Um catolicismo lírico, cercado de
enfeites e flores de papel crepon, e que se manifesta também nas quadrinhas anônimas, redondilhas
menores da tradição medieval:
As festas populares devem ser entendidas como
um evento único e total: os ritmos, os instrumentos, as danças com seus passos e malabarismos, a ambientação com bandeiras e fitas
coloridas, a performance como um todo, fazem
pensar em um tipo de arte que se articula intrinsecamente à vida. São formações lúdicas
que, surgidas nos idos da colonização, evidenciam a mistura da evangelização levada a cabo
pelos jesuítas – que entre outras estratégias pedagógicas introduziram o “auto”, peça de um
só ato – e as celebrações tradicionais africanas,
trazidas pelos escravos. Estas festas vêm mudando e se reconfigurando ao longo do tempo e –
é sempre impressionante constatar! - persistem
até os nossos dias.
As festas de que falamos são todas de cunho
religioso e estão ligadas a um ciclo que permite rememorar acontecimentos significativos da
vida de Jesus, da vida dos santos, passagens da
Bíblia, justamente as que estão sendo o objeto de
comemoração: Natal, Semana Santa, Pentecoste.
Apesar de serem chamadas “festas móveis”, elas
não estão soltas e sim ligadas a um calendário
que se regula de acordo com as fases da lua e com
a História Sagrada. O enredo cristão é a camada
de sentido mais explícita, mais aparente, que se
superpôs a celebrações ancestrais, ligadas aos ciclos da natureza, às passagens das estações e dos
solstícios, do plantio e da colheita, ritos muito arcaicos de povos que cultuavam a Terra e o Fogo.
As Folias do Divino celebram Pentecostes, a descida do Espírito Santo sob forma de línguas de fogo,
sobre os apóstolos e Maria reunidos no Cenáculo,
quarenta dias após a Ascenção de Cristo ao céu. Já
as Folias de Reis fazem parte das festividades do
ciclo de Natal que inclui a representação de vários
motivos bíblicos, desde a Anunciação do Anjo Gabriel, a visita de Nossa Senhora à prima Isabel, até
a matança das criancinhas por Herodes, o nascimento de Jesus na manjedoura e as visitas dos Pastores e dos três Reis Magos. Essas representações
se efetuam sob forma de rituais que exigem o respeito a um certo número de referências, símbolos,
objetos, cores, cantos e danças. Elas acompanham
um ciclo iniciado com os Pastoris, nas semanas
que antecedem, e fechado com os Reisados, as Folias de Reis, nas semanas que se seguem ao Natal,
encerrando-se às vezes no dia 6, dia de Reis, às
vezes estendendo-se até o dia 21 de Janeiro, dia
de São Sebastião. Embora disseminadas por todo
o país, essas tradições festivas mantiveram-se, em
maior escala e de forma menos alterada, mais próximas de sua formação original, nas regiões isoladas dos sertões nordestino, goiano e mineiro, no
interior de São Paulo e Rio de Janeiro, regiões que
trazem fortes marcas da cultura rural.
foi editado e serviu de base à escrita dos esclarecedores textos de Clóvis Carvalho Britto e de
Carol Peres, também responsável pela pesquisa
da literatura histórica e etnográfica sobre as festas populares e romarias do Brasil. Talvez pelo
contato direto com a realidade empírica de que
falam os autores, FÉsta Brasileira ressuma o vigor
e o entrosamento de uma equipe que trabalhou
de forma harmoniosa, profundamente envolvida
com o tema do ensaio fotográfico.
12
As dramatizações não tentam produzir um espetáculo ou uma peça teatral, preparar uma apresentação
para ser exibida diante do público ou para estimular
a visita dos turistas. As lentes nos introduzem, de
chofre, no cerne da festa. As imagens evidenciam
que ali estamos no domínio da festa popular: uma
As fotografias selecionadas contemplam desde
festas e romarias muito famosas, como a do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, ou a procissão
do Fogaréu na Cidade de Goiás até locais mais
reservados como Trindade ou Muquém, Goiás,
ou Bom Despacho e Unaí, em Minas Gerais.
As referências nos documentos históricos às festas mais oficiais como as do ciclo natalino ou
da Semana Santa são inúmeras. Elas se estendem ainda mais se tomarmos as festas do mês de
junho que cultuam Santo Antonio, São João e
São Pedro e, ao mesmo tempo, estão celebrando
– em torno de uma fogueira - as mudanças de
estação, passagens sempre ritualizadas nas mais
diferentes civilizações e que ganham essa feição
ingênua e forte, acompanhada de dramatizações
cômicas, por todo o interior do Brasil. No entanto, registros sobre festas e peregrinações em
algumas regiões afastadas são mais raros.
Estas festas são sobrevivências de um berço europeu, medieval e cristão, mescladas às comemorações e práticas festivas de outras tradições, africanas, ameríndias que, em uma situação precisa, no
Brasil e em outros países da América do Sul, se
encontraram face-a-face. Elas são o resultado de
processos históricos antigos que datam do evento
da colonização, sendo registradas por vários cronistas – Antonil, Fernão Cardim , Saint- Hilaire, von
Martius - o que faz supor que eram muito freqüentes no mundo colonial e imperial. As referências
positivas fazem pensar que as festas eram mesmo
incentivadas e consideradas benéficas para a paz das
senzalas, quando os escravos podiam beber, fumar
e dançar seus batuques, jongos e congos.
Se as Folias do Divino e os Reisados comportam a
dupla dimensão, sagrada e profana, sucedendo-se
Pedidos, promessas, agradecimentos, o exercício e
a demonstração da fé, o cumprimento de ritos, por
meio dos quais são compartilhados mistérios e fatos
significativos da vida de Cristo ou da vida de um
santo são relembrados. Há uma história a ser contada, uma narrativa a rememorar, uma experiência
que se quer perpetuar, conhecimentos religiosos e
estéticos que se transmitem entre as gerações. Vê-se
bem, nas fotografias, a presença de jovens, adultos,
velhos e crianças compartilhando o mesmo espaço,
o que garante a preservação dos sistemas simbólicos
que regem aquelas festividades. O significado dos
símbolos, dos objetos rituais, assim como os cantos
e as danças são transmitidos por meios exclusivamente informais e práticos. É participando desde a
mais tenra idade nas festas e folias que as crianças
aprendem e continuam a tradição cuja origem jaz
em tempos remotos. A celebração permite renovar
os laços com esses ancestrais ilustres que praticavam, dessa mesma forma, esses rituais. As Festas
são sempre no presente: tempo de experiências densas. Um tempo novo que se instala chamando para
a reatualizaçao da memória, para a renovação do
pacto com o divino. Além da memória comum que
é reativada nessas ocasiões, as festas populares são
também um espaço de afirmação de valores, uma
confirmação da fé, uma experiência de encantamento. Elas permitem relembrar, pela celebração,
um ethos coletivo e afirmar o elo daquela comunidade com a dimensão sagrada da vida..
performance coletiva, onde não existe palco e platéia e sim um espaço público bem demarcado, assim como um tempo especial, heterogêneo, cíclico
e mágico que se instala, distinto do tempo linear da
vida cotidiana. Entre os participantes reina o sentimento de pertencer a algo em comum – o motivo
daquele congraçamento, a celebração da data festiva - o que tem o efeito de potencializar, no coletivo,
a força de cada um.
As Congadas são mais explicitamente africanas,
não só nos tambores e danças mas até mesmo no
enredo principal. Elas adquirem nomes e formatos
diversos – ternos, guardas - nas diferentes regiões
do Brasil, permanecendo sempre um certo número
de elementos em comum. Este tipo de celebração
sempre se abre, segundo o clássico estudo de Mário de Andrade (1982), com ladainha à Virgem do
Rosário e uma saudação a S. Benedito. Seguemse homenagens à memória dos reis do Congo ou
da Rainha Ginga, em outras versões da Princesa
Ginga Ambângi .e sua comitiva, em suas conversações com o governador português, na Angola.
Em seguida, a ala dos Embaixadores. Há volteios
e danças de ambos os lados e, não se obtendo resultado, inicia-se um ritual de rebaixamento por
xingamentos recíprocos, seguidos da seqüência da
guerra, seja entre dois reinos africanos ou entre
mouros e cristãos. Os personagens deixam transparecer toda a hierarquia de uma corte real e de
uma escala militar, caracterizados por símbolos
precisos, títulos honoríficos, cores, figurinos esdrúxulos, saiotes, calçonetes, guardas com peitorais
e capacetes de lata. Os cristãos são reconhecidos
pela cor azul e pelo símbolo da cruz que trazem
entre rezas e catiras, imiscuídas muitas vezes
no mesmo espaço, as Romarias são mais especificamente religiosas, mesmo que, como toda
festa popular, comportem um aspecto profano,
representado pela dinamização do comércio e
pelas práticas estéticas coletivas que acabam se
formando no itinerário e que são chamadas de
“Festas de peregrinação”. As viagens seguem um
roteiro para se chegar àquele lugar àquele local
único onde o Orago, o santo da devoção, manifesta-se na plenitude de sua força e de sua sacralidade. Só assim se pode explicar que tantas
pessoas se desloquem, em condições precárias, de
muitas centenas de quilômetros, para compartilhar o poder que emana da fé e da devoção a Padre Cícero Romão, Bom Jesus da Lapa, Divino
Pai Eterno ou Nossa Senhora da Abadia.
Folia de Reis,
Brasília-DF, 1999
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Estas festas tradicionais estão ameaçadas por todos os lados. Por representarem práticas ligadas
a condições culturais e relações sociais que estão deixando de existir, tendem a ser ultrapassadas pela mesma lógica do mercado e da mídia
Nas rezas e novenas de Natal, as bandeiras mostram quase sempre uma cena do nascimento de
Cristo ou da Sagrada Família. Todo esse Armorial
colorido, esse conjunto de estandartes pejados de
fitas de cetim de todas as cores, tão comuns às tradições medievais ibéricas, traz poucas variações e
sua simbologia guerreira, hierárquica, nobiliárquica
permaneceu muito arraigada na cultura popular,
podendo ser atestada nos figurinos e nas designações típicas dos personagens, reis, rainhas e princesas, comandantes, embaixadores, secretários.
As imagens capturadas pelo fotógrafo mostram
também os espaços onde acontecem as festas.
Mostram, em particular, as Folias que ocorrem
nas ruas das cidades do interior, as casas dos festeiros, as fazendas ricas e as fazendas pobres, as casas
de adobe, os barracos, todos recebem os foliões,
dando-lhes acolhida, muitas vezes a dormida, a
comida e a bebida. A Folia pede licença, traz a reza
e a bandeira com a Pomba do Divino, invocando–
a para que seus sete dons espirituais se imponham
sobre aquela morada. O arco de flores e rosas que
abre o cortejo representa a porta do céu pela qual
passam os foliões e que também serve para ornar
a cabeça dos donos da casa durante as orações e os
folguedos. À despedida, os brincantes agradecem,
sempre com cantos e versos espirituosos e seguem
seu caminho rumo à próxima paragem.
estampado em seus peitos e em seus brasões; os
mouros, por suas vestimentas vermelhas, tendo
como símbolo a lua nova. Ambos portam espadas
que não se distinguem. Há lutas e escaramuças,
sendo que, ao final, vencedores e vencidos se reconciliam e invocam, em um mesmo canto a Nossa Senhora, agradecendo e entoando louvores.
As fotografias que aqui se mostram são um pequeno porém expressivo recorte em um universo
muito maior de imagens tomadas nos anos de
pesquisa empreendida por Eraldo. Elas revelam
muito mais que a atenção e o treino do ôlho para
captar as manifestações da cultura popular. Revelam também o convívio com esses mesmos valores, a ausência de julgamento, o desejo de guardar,
colecionar, não deixar que se percam totalmente
festas tão belas e tão carregadas de tradição. Vê-se
logo que essas imagens não são obra de um agnóstico ou de um cerebrino, pois cada uma delas é
ao mesmo tempo o registro e sua interpretação. A
câmera não produz estranhamento, ao contrário,
Aqui estamos falando de outro universo. Um
universo especial descoberto, selecionado e documentado pelo fotógrafo que, com sua câmera,
recorta no conjunto das festas brasileiras, as festas populares de cunho religioso, muitas delas,
festas que ainda não se globalizaram. Tradicionalmente dedicadas a um santo ou santa de devoção, perdem naturalmente bastante prestígio,
nesse momento de avanço, entre as classes populares, das seitas evangélicas que desautorizam
o culto aos santos e a utilização de símbolos ou
representação do sagrado.
industrial e eletrônica que, inexoravelmente,
desloca todas as “formas artesanais de comunicação”. Elas estão também ameaçadas pelas
mesmas medidas que tentam preservá-las. Ao
serem registradas no livro do tombo do patrimônio imaterial, tornam-se uma referência da
cultura brasileira, o que se por um lado garante
sua sobrevivência, paradoxalmente, expõe-nas
ao risco de se estilizarem, de se tornarem um
evento folclórico para atender a necessidades do
setor turístico, atualmente regido pelo conceito
de auto-sustentabilidade. Essas festas podem
mesmo se transformar em mega-eventos como
as festas juninas de Campina Grande; Paraíba,
ou de Caruarú, Pernambuco.
As festas singularizam as comunidades que as
mantêm. Sabe-se que ali, naquele local, todos os
anos, recomeça o ciclo que permite à população
o congraçamento coletivo e a religação com sua
dimensão espiritual. Não é outra a origem da
palavra religião, cuja etimologia remete de modo
explícito à necessidade de religar opostos para
se aproximar dos mistérios da vida, de sua sacralidade cósmica. Naquele tempo extraordinário e naquele espaço demarcado, o sagrado pode
se manifestar. O sagrado é um reservatório de
forças, uma potência; e a pessoa religiosa está saturada dessa potência de realidade. Esse vínculo
lhe traz força interior, uma dimensão existencial
que permite enfrentar os riscos, os medos e as
misérias, carências humanas que também se revelam nas imagens desses santuários de peregrinação, esses lugares- santos.
As imagens deixam ver alguns detalhes em câmera alta: o olhar visionário dos crentes, a postura e os gestos dos peregrinos. As mãos, sempre as mãos, trazendo um terço ou apenas em
oração, mãos cansadas, envelhecidas, com veias
altas, os dedos tortos, de tanto trabalho. Mãos
de reza e de trabalho. Mudras, mãos postas, em
gesto de súplica, de agradecimento ou de adeus.
O certo é que para além da importância documental dessas fotografias, a câmera registra rostos expressivos de nossa gente morena, gente de todas as
idades, olhos amendoados, cabelos corredios, maxilar protuberante, lábios grossos, cabelo sarará. A
câmera eleva os rostos, de forma a fazer ressaltar a
dignidade desse povo, o respeito a seus ritos, à sua
busca de transcendência pela fé e pela festa.
sente-se inteiramente à vontade, nas cenas coletivas e em espaços externos, como nos interiores,
mais sóbrios, em que a luz é graduada por velas,
tochas ou lamparinas e o fotógrafo se esmera, tirando partido das sombras, projeções, distorções e
reduplicações das imagens.
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Folia do Divino Espírito Santo, Pirenópolis-GO, 1998
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Folia do Divino Espírito Santo,
Pirenópolis-GO, 2000
Festas também são espécies ameaçadas de desaparecimento e um trabalho como esse levado a cabo
por Eraldo Peres e sua equipe tem grande importância não só para os pesquisadores, como já ficou
dito, mas para toda a sociedade e particularmente
para as comunidades de brincantes e foliões que
assim verão seu saber e suas práticas lúdicas e religiosas como coisas valiosas, como arte.
Estas festas e danças são expressões estéticas e
existenciais que a história moderna ainda não
modificou radicalmente em sua estrutura e em
seu simbolismo arcaico. Fenômeno inextrincavelmente religioso e estético, as danças dramáticas referem-se a episódios da história do
cristianismo, a histórias de lutas, do tempo da
colonização Hoje sabe-se que . sob esses enredos
explícitos jaz um sentido mais fetichista e tribal
que rende o culto e se religa aos mistérios das
passagens e dos seres da natureza.
Chama ainda a atenção, olhando as imagens
das festas brasileiras dessa seleta, a capacidade
de poesia e fantasia contidas na cultura popular.
As roupas muito coloridas, chapéus de palha,
máscaras de animais, máscaras em geral, adereços, carapuças e chifres de bois que ornam a
cabeça dos brincantes ou dos cavalos, como nas
Cavalhadas de Pirenópolis, Goiás. Digno também de nota é o ambiente da festa que permite
o trânsito sem conflito entre o sagrado e o profano. A Festa é sempre um acontecimento denso
e concentra tanto sentido por estar assentada sobre um substrato sólido, do qual se diz ser capaz
até mesmo de remover montanhas. A fé, nesse
contexto, torna-se produtiva, trazendo soluções
para angústias e necessidades muito imediatas e
tornando possível a emergência de formas de sociabilidade específicas e de uma cultura singular, organizada em torno desses ritos coletivos.
Festas Datas
20
» Procissão do
Fogaréu
» Romaria do Divino
Pai Eterno
» Folia de Reis
1996
» Folia do Divino
Espírito Santo
» Círio de Nazaré
» Romaria de Bom
Jesus da Lapa
FÉsta Brasileira é o resultado de um processo fotográfico que reúne documentação e arte. Utilizando
1999
» Romaria do Padre
Cícero
» Folia de Reis
» Romaria de Bom
Jesus da Lapa
É também poder falar de como as lágrimas correram quando ouvi pela primeira vez o terço cantado, na rouca voz do Seu Zé Pretinho, na tarde de
uma quarta-feira, em um pouso de folia na área
rural de Pirenópolis. Após a chegada dos foliões,
a entrada da bandeira e a sua colocação sobre o
altar, todos ajoelhados em uma corrente para louvar e cantar o Divino Espírito Santo.
Não é somente um livro ou a um trabalho de
documentação. Sobretudo, é o retrato da vida de
foliões, mestres, guias, romeiros e promesseiros
que fazem da cultura popular um riquíssimo
universo de saberes e fazeres.
» Congada de Bom
Despacho
» Romaria de Muquém
» Folia do Divino
Espírito Santo
2002
Tempos e locais onde o passado dialoga com
o presente e prepara o futuro, em um país diverso e com um patrimônio cultural valioso,
herdado das inf luências culturais indígenas,
européias e africanas. Dialogo que converge
para o que foi criado, inventado e transformado
pelo povo brasileiro, resultando em um conjunto
de expressões e celebrações que lhe dá sentido,
memória e identidade.
2000
uma linguagem fotográfica singular e um processo
criativo onde a luz é o elemento principal de criação.
O trabalho apresenta uma linguagem fotográfica
que valoriza as pessoas nos contextos das suas tradições, trabalhando com cores fortes e ângulos e enquadramentos não comuns aos olhares cotidianos.
» Procissão do
Fogaréu
» Círio de Nazaré
» Folia do Divino
Espírito Santo
Eraldo Peres
FÉsta Brasileira é uma singela contribuição
quando comparado com o nosso imenso universo cultural. Porém, é uma rica referência e registro sobre o patrimônio imaterial brasileiro.
Ou mesmo estar no interior da gruta de Bom Jesus da Lapa, contemplando os romeiros olhando
para cima, a espera da queda da gota d’água sagrada sobre os seus rostos para operar milagrosamente a cura dos seus olhos.
Como estar sentado no interior de uma casa na
zona rural de Unaí, na pequena sala com as luzes
apagadas, ouvindo a chegada da Folia de Reis, a
música da anunciação e o máscara pedindo ao
patrão para acender a luz e abrir a porta. Poder
sentir a respiração ofegante das crianças e as expressões inquietas e ansiosas dos adultos.
» Folia de Reis
» Congada do Engenho da Ribeira
» Romaria do Divino
Pai Eterno
2004
O Brasil é um vasto território que oferece paisagens
geográficas e culturais diversas. Em mais de dez anos
de trabalho fotografando e documentando as festas
populares, fui levado a várias regiões do país, na busca do conhecimento e da convivência com grupos e
mestres das nossas tradições. Um encontro com sentimentos e com pessoas que cotidianamente se juntam
para celebrar a cultura popular brasileira.
2006
Brasil, festas e tradições
» Congada de
Ituiutaba
» Procissão do
Fogaréu
2008
O mapa apresenta as festas pesquisadas de forma agrupada. Nas
páginas 140 a 147 as festas são apresentadas detalhadamente com
suas respectivas datas e locais.
Fogaréu
Congadas
Romarias
Folia do Divino
Folia de Reis
21
Folias
24
Folia do Divino Espírito Santo, Pirenópolis-GO, 1997
“
Eu queria rezar – o tempo todo.
Eu cá, não perco ocasião de religião. (...)
Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa
Mas é só muito provisório.
Muita religião, seu moço!
Tudo me quieta, me suspende.
Qualquer sombrinha me refresca.
Isso é que é a salvação da alma.
Bendito Louvado Seja! De casa em casa, pedindo esmolas, distribuindo bênçãos. Magos que
atravessam o deserto, pomba que espalha dons,
estrela que guia dando vivas ao nobre morador.
Um ritual de anúncio e dádiva, de costura de
tempos e espaços. Um jeito sertanejo de rezar
entre cantorias e danças, de unir a seriedade do
debulhar do terço com a espontaneidade das
crianças temendo os palhaços e os mascarados.
É tempo de folia...
Céus e terra, fé e festa, promessas. Campo e cidade, foliões, devotos, distâncias interligadas na
urdidura da crença: entre-lugares. Instrumentistas e cantores dilatando alegria nos sertões. Na
frente, percorrendo o giro da lua, a bandeira,
guia estrelada, calcula o caminho dos anos. Ela
é a fé que se pega com os dedos. Na estampa, os
Três Reis do Oriente deixando presentes ao Menino Deus; ou uma pomba branca serpenteando
os ares vermelhos do infinito, as fitas laminadas e
as flores de papel crepom que exalam narrativas.
Perfazer um itinerário, ir junto com a divindade,
recebê-la em casa, orar com e para Ela, reviver a
Epifania e o Pentecostes.
“O sertão estava lindo e os paus-brancos do pátio
em flor, o verde cercando tudo, abertas as flores dos
aguapés das lagoas e levando longe aquele seu perfume especial. Não resisti, fui um pouco com medo – e
deu certo. Lá, realmente, é o meu lugar. Cada volta
minha é um regresso. E sinto que lá é o meu permanente”. (Tantos Anos – Rachel de Queiroz)
Clovis Carvalho Britto
Festas do Céu nas
moradas da Terra:
da jornada dos
Três Reis à fé no Espírito
Santo
“Com a vinda da família real para o Brasil, elas se intensificaram em forma de cerimônias públicas pelos motivos mais variados.
(...) Paradas públicas que misturavam a
As folias como instrumentos de catequese foram
incorporadas às procissões coloniais e, consequentemente, às festas dos santos padroeiros. Daí uma
possível explicação para a multiplicidade de festas
religiosas em que comparecem: Folia de Reis, Folia do Divino, Folia de São Sebastião etc. Alguns
autores acreditam que tanto a Folia de Reis, quanto a Folia do Divino exerceram outras funções.
Folia é festa. Termo que se aplica a situações diversas e aparentemente conflitantes consiste em
folguedo que remete aos cancioneiros e danças do
renascimento europeu e ao carnaval brasileiro: “a
Folia entrou no Brasil como uma dança de fundo religioso, mais uma manifestação paralitúrgica
que profana. Da mesma maneira que falamos do
‘teatro de circunstância’ de Anchieta, poderíamos
também falar de uma música e de uma dança de
circunstância, todos eles recursos catequéticos jesuítas – e a Folia é o melhor exemplo” (Moreyra,
1983, p. 137). Para a maioria dos estudiosos, as
folias chegaram ao Brasil trazidas pelas mãos
dos missionários: “Em Portugal, o termo folia já
existia no século XVI – aparece, por exemplo,
no Auto da Sibila Cassandra, de Gil Vicente – e
denominava uma dança viva ao som de pandeiro
e canto, representando os próprios Reis que vão
adorar o Menino Jesus. Sua origem está no drama sacro encenado nas igrejas no Natal, durante
a Idade Média. Com o tempo, esses dramas deixam de ser apresentados exclusivamente em latim
e libertam-se da música litúrgica. Há também um
deslocamento da ênfase do Officium Pastorum – o
nascimento e a chegada dos pastores à manjedoura – para o Officium Stellae, que compreende o
anúncio aos Reis, a viagem seguindo a estrela, o
encontro com Herodes, a adoração do menino”
(Rios, 2006, p. 66; Moreyra, 1983).
25
Esticando a mensagem do Evangelho diretamente
à casa dos devotos, as folias também contribuem
para disseminar e aclimatar o catolicismo, criando
momentos de reafirmação da fé, congraçamento
coletivo e quebra da rotina. O folião cavalga dia e
noite seguindo os giros do sentimento e cumprindo uma missão para com a divindade. Para ele, “a
folia é em si mesma um acontecimento de valor
religioso. Quando o embaixador ou o gerente se
dirigem aos seus ‘companheiros’, sempre acentuam
duas coisas: o caráter sagrado do ritual e a obrigação contraída de realizá-lo uma vez por ano” (p.
383). A maioria das vezes é a promessa que move
esses muitos homens e escassas mulheres a deixarem suas casas e adentrarem outras como divulgadores da chegada de um Deus Menino que renasce
a cada ano nas lapinhas dos humildes ou de um
espírito que de tão santo desce à terra tal como
pomba branca a arrulhar nos telhados do mundo.
Todavia, mais que iluminar as suas origens, é importante reconhecer que as folias consistem em
“modos de simbolização pelos quais a sociedade
repete para si as verdades que os seus membros já
conhecem. Muitas dessas verdades não são certamente repetidas porque são verdadeiras, mas
acabam sendo verdadeiras porque são freqüente
e solenemente repetidas. Por debaixo de um rito
simbólico há sempre uma pedagogia de legitimação social que transforma mensagens simbolizadas
em cores, sons e gestos” (Brandão, 2004, p. 44).
representação da realeza com os festejos profanos e simbólicos. (...) As festas do Divino,
através de sua simbologia baseada na figura do imperador, do cetro e da coroa [assim
como a dos Reis Magos], adaptaram-se bem a
esse contexto. Mello Moraes Filho afirma que
desde a fundação do Império os ‘reis de verdade’ dialogaram com os ‘reis do imaginário’,
os quais, por sua vez, também ajudaram a
sedimentar a imagem da realeza brasileira”
(Silva, 2001, p. 24-26).
26
As folias, assim como outros folguedos e manifestações da religiosidade popular, possibilitam formas próprias de coesão social a partir da produção de sentidos e saberes. Desse modo, podem ser
“São para emocionar fundo, e há mesmo
uma regra cultural que sugere aos principais envolvidos, homens todos, algumas lágrimas, quando não, muitas. (...) É ali, sob
a emoção de um novo cantorio ‘na frente
do altar’, que ele chora, e na manhã do dia
em que estive presente, chorava também o
‘mestre’ e choravam dois ou três foliões mais
velhos. Nada havia na música cantada ou
nos gestos obrigatórios que sugerisse isso. (...)
O que a ‘chegada’ faz é solenizar ao extremo o feixe de afetos que liga as pessoas uma
às outras, através do que está acontecendo”
(Brandão, 1989, p. 129).
Alguns dos momentos da folia são muito tocantes,
a fé transborda e abre uma passagem que aproxima a festa do céu às moradas da terra:
Jornada entre pousos, que decompõe a trama de
nós da caminhada: pertencer a uma folia é se ligar afetivamente a um propósito de celebrar cada
dia como um renascimento. Seguir os passos da
bandeira pelas estradas, ajoelhar diante do altar e
reverenciá-la entre lágrimas e beijos, acompanhar
com um olhar piedoso sua subida no mastro da
vida, cantar, cantar novamente, não ver o tempo
passar, continuar... A folia é “um espaço valorativo de saberes, crenças, conhecimentos populares e
reconstrução de identidades. Por isso, ela é um elemento que credencia e possibilita a inclusão social
dos foliões. Desta forma, ao reviverem a viagem
epifânica dos Reis Magos ou as viagens dos apóstolos para pregar os ensinamentos de Jesus, os foliões
não apenas protagonizam uma história, eles assumem um papel e, consequentemente, são revestidos de um poder simbólico que os legitima como
mediadores do Sagrado” (Pereira, 2005, p. 15).
“Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia,
no tempo do rei Herodes, alguns magos do Oriente
chegaram a Jerusalém, e perguntaram: ‘Onde está
o recém-nascido rei dos judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos para prestar-lhe homenagem’. (...) E a estrela, que tinham visto no Oriente,
ia adiante deles, até que parou sobre o lugar onde
E foram guiados por uma estrela...
Seja a pé ou a cavalo, identificado por vestes
próprias e divisas, sob arcos com rosas feitas
à mão ou um céu de bandeirinhas vermelho e
branco, os ritos seguem... Cantorios de chegada, de saudação ao dono da casa, a louvação do
altar, a reza do terço, o bendito de mesa, a festa
no pouso, catira e forró, a alvorada, a lua com
olheiras quando o mastro é levantado, a despedida... Tudo converge na firme esperança, expressa
na música e nos gestos, de que no próximo ano
tudo será revivido. É o que diz a melodia do velho folião: “adeus povo todo em geral, se nós não
morrer, havemos de tornar voltar”.
“Alguns meses antes da saída da folia, já começam a construção de ranchos e fornalhas, o
festeiro inicia a engorda de porcos e a criação
de frangos para os dias antecedentes e para a
festa. Tudo isso já são ações constituintes do
ritual. (...) [A folia] É um espaço cultural de
múltiplas situações e aprendizagem. O aprendizado mais importante e que é acessado por
alguns poucos, dentre os iniciados na condução do ritual, refere-se ao seu corpo, digamos,
teológico e doutrinário. (...) Há também um
processo de aprendizagem que poderia ser
classificado como instrumental, no sentido
pragmático, feito para o desempenho de uma
função” (Pessoa, 2007, p. 71-76).
visualizadas também como práticas educativas em
que cada momento do percurso resulta em uma
situação de aprendizagem:
Se Jesus nasceu entre os humildes, em seu renascer a profecia se repete: “Entre os camponeses do
Centro-Sul do Brasil, o Natal é uma viagem de
As famílias acolhem a bandeira e todas as esperanças nela depositadas. No altar, ornado com
toalha feita com o algodão colhido no quintal, se
fazem presentes velas, flores, fitas e todas as imagens e quadros dos santos existentes na morada e,
não raro, os que habitam os altares da vizinhança.
Está preparado para receber Gaspar, Melchior e
Baltazar, Magos-Reis canonizados pelo povo, e
com eles muitos Josés e Marias de uma Belém de
Gerais e Veredas que sem ouro, incenso e mirra,
só tem para oferecer a solidária acolhida e a fé profunda em forma dos gestos de cada ano.
Se a estrela guiou os Magos em tempos passados,
hoje é a fé que impulsiona os sertanejos pastoresdevotos a atravessar as passagens/fronteiras do interior do Brasil. O Menino Deus está em cada presépio montado; cada pouso ofertado é confiança
estendida, é ponte. Nos olhos de cada devoto, os
resquícios de expressão do ano anterior somados
ao brilho renovado e expelido no binômio gratidão/saudade. Abrir portas e janelas e ascender à
luz, acolher os Reis e se tornar uma manjedoura
física e metafórica.
A Companhia cumpre o seu ritual anual. As mãos
agora trabalham para os Santos Reis. Seguir simbolicamente suas pegadas é anunciar a chegada do
Salvador. Em cada olhar uma expectativa, uma
emoção: receber a visita dos Reis em casa é unir
os fios da memória e ser testemunho vivo de que
a divindade está se manifestando ali, naquele momento, como uma estrela que passa e escolhe um
ponto para focar a sua luz.
estava o menino. (...) Ajoelharam-se diante dele, e
lhe prestaram homenagem. Depois, abriram seus cofres, e ofereceram presentes ao menino: ouro, incenso
e mirra”. (Matheus II, 1-11)
27
Folia do Divino Espírito Santo, Pirenópolis-GO, 1997
28
Congada de Bom Despacho-MG, 2001
O giro, iniciado pelo leste (Oriente) e concluído no
oeste (Belém), irmana os foliões, é um voto individual que desperta um sentimento coletivo. No
caso da folia, a atuação dos membros é conduzida pela música. Os ternos com capitães ou embaixadores, coro, gerentes, instrumentistas, alferes e
palhaços (representando Herodes), cumprem suas
obrigações cantando, dançando e tocando. Por isso,
O próprio fundamento do ritual consiste na reprodução simbólica de uma viagem de adoração, instituindo, desse modo, uma dupla crença:
acredita-se na santidade dos Três Reis e na eficácia
simbólica do ritual da jornada através da qual eles
se santificaram (Brandão, 2004). Não por acaso,
a comitiva ao costurar tempos e espaços, pedindo
esmolas e convocando bênçãos, leva uma mensagem de conciliação e solidariedade.
Este encontro é celebrado com festa, ele é o motivo da viagem de seis ou treze dias. Os foliões protagonizam uma história e por isso há “todo um
envolvimento de crença e assumência de papéis
diante desta missão. Por outro lado, há, por parte da comunidade, um sentimento de reverência
diante da bandeira e da Companhia, isso leva-nos
a confirmar a hipótese de que o ritual que envolve
os componentes acontece de forma tão intensa,
que a representação é transmitida e torna-se realidade tanto para aqueles que representam o papel
quanto para aqueles que recebem a Companhia
em suas famílias. Não receber a bandeira e a comitiva em suas casas é o mesmo que não receber
os reis peregrinos” (Pereira, 2005, p. 135).
Deus no mundo dos homens; é a interrupção de
uma viagem de seres humanos para o momento
do nascimento do ser divino; é o estatuto de uma
viagem de magos e supostos reis ao lugar do nascimento miraculoso. Por isso, eles entendem que o
‘nascimento’ deva ser festejado não em um lugar,
mas na busca ritual de um lugar, logo, como uma
folia” (Brandão, 1989, p. 28).
(...) Nas cantorias de Chegada, Saudação do Altar
e Nascimento, as estrofes são ‘dobradas’, ou seja,
cantadas na íntegra pelo embaixador e depois pela
Folia” (Moreyra, 1983, p. 153). Todavia, cada grupo tem uma unidade ritual autônoma. Não estão
“submetidos à orientação da Igreja institucional
Além disso, a maioria dos versos segue a seguinte divisão: “nas cantorias de Esmola e Agradecer
Pouso, o embaixador canta metade da estrofe e a
Folia completa.
“canta sozinho e em primeiro lugar os versos
que os outros foliões responderão com o complemento de uma estrofe. Durante a cantoria ele
se coloca de frente para outro folião que comanda a resposta do canto e que, por isso mesmo,
recebe este nome: ‘resposta’. Estes dois cantores
principais fazem-se acompanhar de violões e/
ou de violas”. Todavia, eles não cantam sozinhos, também comparecem cantores que fazem
as 3ª e 4.ª vozes “chamados de ‘contrato’ e são
também instrumentistas. Da 5.ª à 8.ª voz os
cantores de Santos Reis são chamados ‘requinta’. Os últimos terminam as estrofes respondidas ao embaixador emitindo, nas suas últimas
palavras do verso final, um longo e muito fino
grito” (Brandão, 2004, p. 350).
Violões, violas, pandeiros, caixas e sanfonas, são
os instrumentos mais comuns que marcam presença. Inspirados nas passagens bíblicas sobre a
vinda do Messias, a aparição do Anjo Gabriel, o
nascimento do Menino Deus e a visita dos Magos,
os versos, fixos ou improvisados, são tirados pelo
Embaixador que
poderíamos conceber a Folia de Reis como “um teatro musical paralitúrgico onde a ação se desenvolve
em termos grandiosos: durante vários dias e num
cenário que abrange uma vasta região. Há papéis
determinados e a Folia possui organização interna,
texto e música próprios” (Moreyra, 1983, p. 146).
29
Das três figuras da Santíssima Trindade, o Espírito Santo é a mais natural: “Divino sem um corpo
humano, como o Filho, ou sem a forma humanizada, como o Pai, o Espírito Santo é fogo, ‘língua
de fogo’, mas é também e principalmente uma
pomba, a ‘Pomba do Divino’” (Brandão, 1989, p.
Fé que se festeja de casa em casa, entre campo e
cidade, emoção e devoção. A Folia do Divino é
uma viagem através de lugares, um anúncio da
mensagem do Salvador do Mundo. Cada devoto,
caminhante ou cavaleiro, realiza a missão de ser
discípulo e portador da boa nova: “O Divino que
te proteja, dê vida e saúde!”.
Luz que vem do céu e reveste os homens com os seus
sete dons. Espírito Divino cujo resplendor reverbera
sabedoria, inteligência, conselho, ciência, fortaleza,
piedade e temor de Deus. Abrir caminhos e acolher
promessas, eis a mensagem do pássaro branco, de
asas abertas, estampado nas bandeiras.
“Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do
céu um barulho como um sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos
ficaram repletos do Espírito Santo.” (Atos II, 1-4).
O divino vai chegando com seu
lindo resplendor
e independem de outros grupos. (...) Mesmo que
inspirados e espelhados em outro grupo existente,
os códigos de relações, as normas, a estrutura da
festa e o imaginário vão sendo construídos entre
os homens e mulheres da própria Companhia,
medida pela experiência vivida no cotidiano. É
por isso que apesar de um único eixo (Mt II, 1-12)
elas se diferenciam no ritual, nas construções simbólicas e nos papéis desempenhados” (Pereira,
2005, p. 27).
30
As opas cor de sangue, empunhando cetros, coroas e bandeiras, não caminham sozinhas, vão
protegias pela pomba da fraternidade. Os giros
seguem um roteiro prévio, a cada encontro os
músicos entoam versos pedindo ao morador que
acolha a bandeira: “o dono da casa, que já está
preparado para receber os foliões, aceita o pedido e aí começa a festa. Algumas variações desses
E os dias se abrem em sorrisos enquanto os rostos
se alimentam de lágrimas. Sob os céus e sobre a
terra, a Folia do Divino irmana fiéis através das
interações e práticas que (re) elabora. Também é
polarizadora de outras festas, por isso é apontada
por alguns pesquisadores como uma festa de festas
(Cf. Silva, 2001). Nela se observa uma grande diversidade de símbolos, personagens e eventos. Comemorar o Divino é realizar procissões, novenas,
teatros, reinados, folias, cavalhadas...
Apesar de possuir pontos de contato com a Festa
dos Santos Reis – devido a alguns ritos, a inspiração bíblica e a promoção da costura dos lugares na
composição do itinerário da fé -, a folia tem fundamentos próprios. Abrindo as pálpebras das casas
distantes, o culto dos Santos Reis “difere do culto
do Espírito Santo. Ambos são ‘santos de promessa’. Ambos produziram folias. Mas, enquanto a de
Santos Reis começa e termina no âmbito de uma
jornada e de uma festa popular, a do Divino Espírito Santo começa nas fazendas [ou na igreja] e
termina na igreja” (2004, p. 381). Outro aspecto é
que, “ao contrário da Folia de Reis, que gira à noite,
as Folias do Divino giram durante o dia e em cada
noite o grupo de foliões realiza um pouso nos lugares previamente estabelecidos” (Silva, 2001, p. 32).
29). Referência baseada em alguns trechos bíblicos, como na passagem: “Assim que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Nesse instante abriram-se
os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como
pomba e pousando sobre Ele” (Mt, III, 16).
Atravessando os arcos floreados, jardins dobrados
em meia lua, os pés procuram mais uma morada disposta a abrigar o Divino. Dedos debulham
ave-marias e desfiam os sons das violas, no cantorio “nosso” de cada dia. Festejar entre braços e
Eleva-se o pensamento até a divindade, levantando as mãos ao céu e solicitando uma emocionada
proteção. A música tem uma função primordial, é
ela que conduz o ritual e o torna ponte: “as portas do céu abriu, pareceu um lindo véu, é o Divino Espírito Santo que vai descendo do céu”. O
embaixador se transforma em uma gramática dos
sentimentos. Como um repentista do sagrado, ele
mescla aos cantorios conhecidos temas improvisados a partir das situações experienciadas no percurso. Não por acaso o poeta sublinhou que se faz
caminho ao andar: é por isso que os momentos
não se repetem, são únicos. Sob as asas do Santo
Espírito, as veredas entre matéria e imaterialidade
se comunicam e ganham colo em uma memória
agasalhada de versos: “o fato de que os folguedos
tradicionais reclamam um mestre que esteja presente e atuante em cena, sublinha ainda mais a
constatação de que sua performance depende da
memória guardada pelo mestre em seu próprio
corpo, (...) e da ligação do corpo do mestre com
a memória coletiva e ancestral, de sua capacidade
de reter e desenvolver a herança que lhe foi passada por mestres e brincantes mais antigos, ou seja,
depende da riqueza e da complexidade do acervo
de gestos, vozes, movimentos e procedimentos que
possui” (Barroso, 2004, p. 87).
eventos acontecem, quando o dono da casa guarda um ‘segredo’ para os foliões. A existência desse
segredo está identificada com um símbolo qualquer, em forma de arco de flores, na entrada da
casa que deve ser procurado pelos foliões. A bandeira que conduziu o ritual é colocada em um
altar, e ali várias pessoas vão beijá-la, rezar e doas
esmolas” (p. 34).
Mas que força move os foliões de cada ou de todos os anos a aproximarem os termos fé e festa
transformando-os em FÉsta? Seria possível traduzir em palavras tais gestos? Lembremos, assim, as
lições de Bourdieu (2004) quando afirmou que
existe um modo de compreensão corporal em que
“o gesto reforça o sentimento que reforça o gesto”
e, por isso mesmo, “há uma infinidade de coisas
que compreendemos somente com o nosso corpo, aquém da consciência, sem ter palavras para
exprimi-las” (p. 219). Por isso que é melhor sentir,
sair de porta em porta, homenagear os Santos Reis
e o Espírito Santo, os donos da casa e os foliões,
dar “viva a quem deu viva” e aguardar as folias que
recomeçarão em cada ano que amanhece.
Alimento material e espiritual. Agradecer a comida com mais um Bendito de Mesa. Ser grato
pelo (re) pouso. Cantar novamente uma música
aprendida em uma folia perdida nos calendários. Inserir novos versos, transmitir, agregar
sentimentos a esse feixe de afetos. Cada palavra
proferida por um, se torna poesia de muitos. Em
algumas localidades a Festa do Divino abre passagem para outros rituais como as Cavalhadas,
representações dramatizadas de conflitos em
que dois grupos “estabelecem entre si uma luta
eqüestre e teatralizada, com diversas corridas e
embaixadas, que culmina com a vitória dos cristãos sobre os mouros” (p. 47). Neste caso, “por
debaixo de um rito histórico, há sempre uma
pedagogia de legitimação social que transforma
mensagens simbolizadas em cores, sons e gestos,
o conhecimento se repete para ser ao mesmo
tempo socialmente verdadeiro e pessoalmente
acatado” (Brandão, 2004, p. 44).
abraços. Os devotos que retiram o chapéu para a
oração, são os mesmos que realizam o gesto inverso nas horas de divertimento. Afinal, a vinda do
Espírito Santo sobre a humanidade é uma grande
festa, um momento de renovação.
31
Folia do Divino Espírito Santo, Pirenópolis-GO, 1997
32
33
Folia do Divino
34
1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002
Pirenópolis-GO/Planaltina-DF
Carol Peres
O giro rural é o momento principal da Folia do Divino. Geralmente são sete pousos que determinam
o percurso dos foliões que, durante o dia, levam a
bandeira do Divino a todos os moradores e a noite
param para descansar. Em Planaltina-GO, ao final
do giro rural, os foliões seguem para a Praça da Igreja Matriz de São Sebastião onde acontece a união de
todas as bandeiras do Divino Espírito Santo.
Em 1826 o Padre Manuel Amâncio da Luz trouxe
para a Folia do Divino o espetáculo “O Batalhão
de Carlos Magno”, hoje conhecido como “Cavalhada”. Os mascarados, conhecidos como cucurucus, personagens de origem desconhecida nas
cavalhadas eram, segundo a tradição local, os escravos e agregados que não tinham acesso à festa e
se fantasiavam para não serem reconhecidos.
As primeiras devoções ao Divino datam de 1321
em Portugal. A folia foi trazida ao Brasil no início
da colonização portuguesa. Apesar de realizadas
em vários estados brasileiros, foi em Pirenópolis
que encontrou maior força. A primeira folia realizada na cidade goiana foi em 1819, promovida
pelo Coronel Joaquim da Costa Teixeira, consagrado como Imperador do Divino.
Na religiosidade popular, o Espírito Santo é sabedoria, guia, leme e fio condutor da vida, além de
mistério. As folias do Divino anunciam a presença
do Espírito Santo. O giro da folia, percurso feito
pelos cavaleiros, representa as andanças de Jesus
Cristo e seus 12 apóstolos durante 40 dias, levando
a sua luz e a sua mensagem.
Espírito Santo de Deus
36
Trecho de música
de anunciação,
Folia do Divino
Desceu o Divino
Espírito Santo
com seu lindo
resplendor,
foi chegando
e foi parando,
num arco que
ele encontrou.
37
38
Inação,
guia de Folia do Divino,
Pirenópolis-GO
Tem que cantar
tudo, o que está
feito no ar,
o que está
presente no
altar.
Nós estamos
buscando
Deus na nossa
presença.
39
40
41
42
43
Folia de Reis
2002 e 2003
Brasília-DF/Unaí-MG/Altinópolis-SP
Carol Peres
45
Quando termina o roteiro da folia, realiza-se a festa de encerramento na residência da pessoa que fez
a promessa. No início da festa reza-se o terço, com
a presença dos foliões e dos convidados, em frente
ao altar ornamentado com flores, toalhas bordadas
e a bandeira dos Santos Reis. Em seguida, é servido
um jantar com uma mesa especial para os foliões.
O festejo de Santo Reis acontece em função do
pagamento de promessas, e diferentemente do giro
do Divino Espírito Santo, o giro é preferencialmente realizado à noite. O anfitrião da família que
recebe a bandeira percorre com ela toda a casa,
guardando-a em seguida, enquanto aos foliões é
servido bolo, biscoitos e bebidas que os mantêm
nas suas andanças pela noite. Ao se retirarem, o
proprietário da casa devolve a bandeira e os foliões
agradecem a acolhida, repetindo o gesto da entrada. Quando o dia amanhece, os foliões retornam
às suas casas para descansar e, ao anoitecer, retomam as andanças.
A Folia de Reis acontece entre o período do Natal
e o dia 6 de janeiro, dia de Reis, onde grupos de
cantadores e músicos trajando fardamento colorido percorrem as ruas entoando cânticos bíblicos que relembram a viagem dos três Reis Magos
(Baltazar, Belchior e Gaspar) à Belém para dar
boas-vindas ao Menino Jesus. De origem portuguesa, chegou ao Brasil no século XVIII, com caráter mais religioso do que de diversão. O Alferes
ou responsável pela condução da bandeira, guia
os foliões cantando e colhendo donativos para a
reza de Santos Reis.
Estrela Guia
46
Trecho de música
de agradecimento,
Folia de Reis
Mas quando
São José chegou
nascido
estava Jesus
Nossa Senhora
sofreu a dor
E São José
estava longe
47
48
49
50
Manoel Messias,
guia de Folia de Reis,
Unaí-MG
A Folia é a festa
mais gloriosa de
Deus.
São várias as
promessas pros
Santos Reis.
Pedindo graças aos
três Reis Santos e a
nossa Fé.
51
52
53
Romarias
54
Círio de Nazaré, Belém-PA, 2006
“
Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa
Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na
idéia dos lugares de saída e de chegada.
Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece.
A ansiedade da chegada, o (re) encontro e a partida
dos que caminham para matar saudades velhas e
Trajetórias que se encontram em um movimento
espontâneo de devoção. Um compartilhar de histórias que de tão diferentes se tornam iguais no
objetivo final: cada romeiro tem uma experiência
para relatar, faz questão de demonstrar a sua entrega descrevendo a infinidade de motivos para pedir
e para agradecer, transparecendo a sua fé inabalável e demorada. Um dizer com exagero e um sentir
com sobras que contribuem para que todos vejam,
para que todos saibam: “um presente alongado em
excesso através do poder singelo e tão sugestivo do
ritual solidário. (...) Não apenas a crença devota em
nome da qual algo é celebrado longe dos olhos canônicos do padre, mas a emoção de se sentir que se
está convivendo ‘isso aqui’, junto a outros, iguais ou
diferentes, de uma maneira concentrada, efêmera e
densa ” (Brandão, 2004, p. 28).
Passos que alavancam o moinho do tempo em busca de um lugar. Veredas de instantes onde a fé de
muitos é construída na fusão de corpos e espíritos.
Devotos-romeiros, sertanejos, homens, mulheres
e crianças, personagens com chapéus e lenços ao
vento trazendo consigo pés calejados e dispostos a
seguir. Lábios que sussurram preces e que se abrem
para cânticos de louvor. Olhares que descansam e
inundam a face em gratidão por graças alcançadas.
“Assim iam os nossos romeiros, pelo que depois de uma
viagem vagarosa, mas alegre e sem acidentes, chegam
enfim ao vale triste e retraído em que se achava
edificada a capelinha de Nossa Senhora da Abadia.”
(O Ermitão de Muquém - Bernardo Guimarães)
Clovis Carvalho Britto
“É a fé que nos conduz”:
romeiros, romarias e exvotos.
O momento mais esperado é a chegada ao Santuário, todos se dirigem para o mesmo espaço de
renovação dos louvores cotidianos, lócus de mediação entre sagrado e profano, céu e terra. Palco da
fé expressa na concretude dos gestos. Seja nos impressionantes testemunhos daqueles que percorrem
dias de caminhada a pé, em barcos, a cavalo ou em
carros de bois, enfrentando dificuldades das mais
variadas, mesmo sob o peso dos cabelos brancos;
Peregrinar é uma jornada de pedras e de palavras, um porto físico e uma ponte metafórica:
caminha-se por e para algo. Em todas as religiões
mais conhecidas, consiste em um ato de renúncia
e iluminação que sublinha uma densidade mítica. Refaz-se o exemplo dos peregrinos do Antigo
Testamento, relembrando o êxodo dos patriarcas e
aproxima-se das lições do Nazareno em seus passos ao encontro do Pai Celestial. Ao peregrinar, os
romeiros “escavam e exumam uma Jerusalém celeste, radicalmente localizada e cósmica. (...) Inicialmente religioso, o gesto que, mediante a cíclica
peregrinação, transforma a localidade em cosmos
e lhe confere um status universal, transforma-se
logo em político. (...) Espiritualidade e política se
fertilizam mutuamente” (Segato, 2007, p. 23).
Um itinerário de devoção onde o sofrimento e a
diversão compartilham o mesmo lugar. É preciso
uma entrega por inteiro para o momento do encontro da divindade com a humanidade. O reconhecimento das fragilidades faz com que, muitas vezes,
os joelhos se dobrem para acariciar a terra, enquanto os lábios esticam para tocar as fitas que os unem
de forma umbilical às imagens reverenciadas.
carregar saudades novas: “pessoas que se deslocam
levando os símbolos de um piedoso sagrado, cantando, tocando instrumentos, repetindo fórmulas conhecidas de devoção. (...) Devotos-artistas e
assistentes-devotos parentes, parceiros, vizinhos,
‘cumpadres’ que se visitam, que viajam de casa em
casa, que afinal chegam a um lugar de festa” (p. 29).
55
As mãos que enxugam o suor são as mesmas que
embalam os mistérios do terço, que dão graças aos
céus e estão sempre dispostas a dar, ajudar, unir e
A trajetória de cada romeiro é, ao mesmo tempo,
única e coletiva. Vincula-se por meio de uma experiência comum, de um sentido transformado em
comunhão que reverbera a idéia de uma “comunidade ampliada”, buscando uma dissolução simbólica do indivíduo num todo holístico (Steil, 2003).
O cumprimento de uma promessa, o recebimento
de uma graça ou a ocorrência de um milagre específico, extrapola as fronteiras de um ato individual para dialogar com uma expressão coletiva de
valores sociais, políticos e econômicos, propiciando
um momento privilegiado de construção identitária para os participantes. A despeito dos diferentes
sentidos e motivações investidas no ritual de peregrinação, entendido como uma jornada ao mesmo
tempo “interior” e “exterior”, a romaria centraliza
culturas, transmite idéias e promove encontros (Cf.
Martins, 2001; Carneiro, 2003).
Os Santuários são partes de um ritual sagrado e
a peregrinação é o ato de costurar, de promover
uma arqueologia dos fragmentos de sacralidade
“interligando os seus significados e construindo
uma representação global da cultura (...) manifestando-se indiretamente através das estórias, mitos,
relatos de milagres, aparições de imagens e santos,
sonhos, causos, anedotas que circulam em torno
destes lugares” (Steil, 2003, p. 201).
dos que suportam cruzes, imagens, problemas de
saúde ou da convivência com a fome, os romeiros
se arrastam pelas calçadas, sobem as escadarias de
joelhos e permanecem unidos aos símbolos de devoção. Seja através dos segundos singelos das missas
e confissões, das promessas que iluminam o Santuário com velas e aumentam os ex-votos da Sala dos
Milagres; dos cânticos, do balbuciar de orações, do
vestir as crianças como anjos ou do espalhar pétalas
de rosas pelo percurso.
56
Cada rosto esculpido foi dor alentada. Cada olhar
fixo estampado na fotografia foi instante de gratidão. Detalhes expostos e dispostos a se espraiarem
nas veredas da fé: publicação de milagres íntimos.
Os romeiros rasgam o céu na esperança de receber
bênçãos na terra.
Existe um chamado que constitui o homo peregrinus
e que transforma o romeiro em um signo flutuante do processo da romaria (Cf. Barbosa, 2007). Este
chamado é um acontecimento capaz de alterar o curso de toda uma vida e modificar as relações no grupo
e na família: “pode até suceder um lapso de tempo
entre o chamado e a primeira viagem. Pouco importa. Mesmo que se tenha passado anos, o agraciado se
percebe como que investido de uma missão, ainda
que adiada para momentos mais propícios”. Ele motivaria a viagem, em virtude de uma graça recebida:
“ao clamor do devoto, o santo escuta e por sua vez
o agraciado ouve também a voz da divindade que o
chama a uma alteração na rotina de sua vida” (p. 62).
As romarias, lugares de múltiplos discursos, podem ser visualizadas como “textos”. A experiência
religiosa fornece elementos para a compreensão
do modo como homens e mulheres se apropriam
e compartilham valores, conferem significados e
reinventam tradições. Não podemos desprezar o
sentimento de pertencimento e de fusão com a paisagem inerente ao culto: “no movimento de corpos
que cruzam o sertão em direção aos Santuários, os
romeiros vão demarcando um espaço sagrado que
torna certos lugares e objetos mais próximos de
Deus que outros”. Nas romarias o sagrado “se apresenta sempre encharcado de concretude, ao alcance
da vista, da mão, podendo ser tocado” (Steil, 1996,
Os votos assumem expressões diversas e podem ser
representados sob formas concretas e materiais ou
como performances e cultos ora positivos (obrigações), ora negativos (interdições), a partir de vínculos
votivos nas figuras de santos canonizados pela Igreja
ou consagrados popularmente (Bonfim, 2008). Formas que se aproximam através de um mesmo modelo de representação pautado na dádiva e materializado, muitas vezes, em um objeto de valor: o ex-voto.
Apesar de fruto de uma decisão pessoal, na romaria os votos se confluem na foz do social. Possuem
um efeito público e se transformam em instrumento
relacionador por excelência, colocando na mesma
estrada homens e mulheres, humanos e santos: “os
votos colocam os romeiros em movimento e são o
motor permanente da criação, perpetuação e vitalidade das romarias. Através de seus votos, os romeiros
reconhecem sua condição terrestre e sua dependência em relação a uma ordem que transcende a sua experiência humana e social: ao mesmo tempo em que
contribuem com a sua parte na renovação do vínculo
que os une a esta ordem” (Steil, 1996, p. 104).
É por isso que a peregrinação se reinicia, impulsionando o ciclo de fé, tal qual a pedra de Sísifo. Gratidão, esperança, transmissão. É comum ouvir duas
frases que saltam incontidas da boca dos fiéis caminheiros: “retorno enquanto vida eu tiver” e “trago
elas pra desde cedo aprenderem a ter fé”. Seria o
milagre uma eterna dívida e a fé um patrimônio a
ser transmitido? Para os romeiros tais dúvidas são
certezas materializadas no sacrifício, nos votos.
Entre devotos e ex-votos
“Bom Jesus da Lapa. É a Meca dos sertanejos. (...)
Objeto predileto de romarias piedosas, convergentes
dos mais longínquos lugares. (...) Ali entra, contrito,
descoberto... tomba genuflexo, a fronte abatida sobre
o chão úmido do calcário transudante... E reza. Sonda longo tempo, batendo no peito, as velhas culpas.
Ao cabo cumpre devotamente a promessa que fizera.
(...) Sai desapertado de remorsos, feliz pelo tributo
que rendeu”. (Os Sertões – Euclides da Cunha).
A promessa se apresenta como uma das principais motivações para unir os fios entre a partida
e o retorno. Todavia o que move o romeiro não
é apenas uma promessa determinada, mas a gratidão eterna pela graça já alcançada: “o romeiro
tem seu modo peculiar de encarar o favor recebido: paga-se uma vez e parece que fica sempre
algo por resgatar, uma pendência ou obrigação
que não se apaga de tudo” (p. 70).
p. 23). Tecido do tempo, possibilita-nos visualizar
em sua configuração elementos intrínsecos à cultura brasileira como a religiosidade popular marcada pelas nuanças entre o sagrado e o profano; uma
fisionomia singular advinda de trocas simbólicas e
conflitos entre diferentes tradições; a busca da universalidade através das manifestações particulares;
e a idéia de uma unidade, da comunhão para além
das especificidades regionais.
“Enquanto muitos devotos distribuem água
ao longo do percurso, outros auxiliam os que
desmaiam de emoção ou que são sufocados pelo
calor. Há ainda aqueles que ajudam os que fizeram promessas de cumprir uma parte do trajeto de joelhos, segurando-os pelos braços, limpando o caminho ou abanando-os para aliviar
o calor” (Dossiê Círio de Nazaré, 2006, p. 70).
Os milhares de passos entrecruzam memórias. As
intensas manifestações de fé demonstradas tornam-se instrumento de coesão grupal: os devotos
compartilham valores, crenças, realizações. São
eles os responsáveis pela força da manifestação e
por sua continuidade. O encontro com a divindade desperta e reforça o valor da solidariedade e
aguça o sentido de comunhão:
abençoar. Os romeiros adquirem e partilham de
um mesmo “ethos peregrino” que é compreendido e percebido por todos os participantes: “daí o
caráter redundante do ritual, a repetição, a observação de gestualidade própria, a inscrição de um
calendário específico e a observação de uma mesma oralidade”. Nesse sentido, poderíamos pensar
em uma gramática e uma pedagogia do ritual, em
regras que o articulam para a produção de um sentido específico (Carneiro, 2003, p. 270).
Círio de Nazaré,
Belém-PA, 2001
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Romaria do Padre Cícero, Juazeiro do Norte-CE, 2000
Constantemente, é possível ouvir dos devotos o
som emocionado da gratidão “recebo muito mais
do que posso dar”. O ex-voto, assim, é um passado/
Fora do lugar esperado, os objetos cotidianos se sacralizam. Assumem a tarefa de representar o milagre
obtido. A funcionalidade do milagre é marcada pela
figura do pedinte (que perece e se mostra desamparado) que formula pedido de graças remetido a um
outro (divindade), em quem se acredita lhe poder
atender (realização que se sucede de um agradecimento) (Bonfim, 2008). O ex-voto é, desse modo,
um gesto público e de estabelecimento de um vínculo de confiança. Realiza-se o aspecto cíclico do darreceber-retribuir em que quem faz um voto, dá um
voto: “falar em dádiva é também falar em relação, de
uma relação em particular, a que mistura as almas
nas coisas, as coisas nas almas” (Mauss, 1974, p. 44).
Abreviação da expressão latina ex voto suscepto – por
um voto alcançado -, deriva da palavra votum: “é o
que se promete ao santo de devoção para se receber
a graça, ou o que se oferece por tê-la alcançado”
(Cascudo, 2000, p. 220). O voto seria a promessa
e o ex-voto o testemunho do milagre: “representa
uma retribuição às intervenções miraculosas buscadas pelos crentes em estado de aflição. (...) Quando
o santo invocado propicia o alcance da graça, há
uma retribuição que se manifesta sob várias formas:
escultura, pintura ou desenho (quase sempre alusivo à situação de aflição em que se encontrava a pessoa), fotografia, peça de roupa, mechas de cabelo.
Esses objetos são geralmente guardados nas ‘salas
dos milagres’ dos templos devotados aos santos, alvos da devoção popular” (Lima e Feijó, 1998, p. 11).
A romaria pode ser compreendida como um ato
performativo que alarga fronteiras e concentra
símbolos polissêmicos, verbais e não-verbais. A
própria peregrinação é um ato que tem sentido
em si mesmo. Além disso, as romarias organizam
os sentidos fundantes da cultura bíblico-católica,
Receber um chamado, peregrinar até o Santuário
para fazer um pedido ou cumprir uma promessa, receber a bênção e regressar. Regressar para
o cotidiano, na certeza de que a luz da divindade continuará guiando os seus passos e de que,
no próximo ano, o ritual acontecerá novamente: “crer é no imóvel, mas rezar é para quem se
move” (Brandão, 1989, p. 25).
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Misturado à multidão, o fiel participa também
de um espaço de espontaneidade, de emoção coletiva e informal, de alegria por estar ali, viver o
instante sem se preocupar com a sacralização do
profano ou com a profanação do sagrado. Afinal, Deus é alegria e vida em plenitude, e por
isso o romeiro não se despede para sempre, “tão
somente por agora”.
Mas a romaria não é apenas uma performance
do drama da Paixão, não é só sagrado e nem apenas penitência. A seriedade da ida se dissolve na
alegria da volta. Não sem motivos o termo romaria designa ao mesmo tempo o fenômeno das
peregrinações a um lugar de devoção e “a festa
popular que é elaborada nas proximidades do
Santuário ou local de peregrinação ou dia de comemoração religiosa do lugar, em geral com danças populares, feiras, comidas, comércio, arraial
etc.” (Bezerra de Menezes, 2005, p. 114). A romaria é também uma festa, uma celebração: “seu
caráter de festa complementa-se pelo aspecto da
celebração de uma lembrança. Se a festa corresponde à necessidade psicológica da quebra de
rotina, a lembrança de um acontecimento corresponde à necessidade social da auto-identificação”
(Wehling, 2004, p. 2).
“Defronte à casa do padre, na rua de calçamento
pé-de-moleque, juntava-se, desde cedo, bem cedinho, uma multidão. (...) O pessoal começava então
a bater no peito, chorando, contando pecados. E
ele ia abençoando, vestido na sua batina velha remendada, a cabecinha muito branca. É, ele tinha
mesmo o seu carisma: a gente sabia que havia um
santo dentro daquele padre”. (Tantos Anos – Rachel de Queiroz).
Lançai a vossa bênção, até eu
tornar a vir...
a partir de uma estrutura discursiva presente nos
mitos das origens/nascimento, da paixão/morte/
ressurreição, ou do juízo final: “Nossa Senhora
está associada ao mito das origens e do nascimento, Bom Jesus expressa o mito da morte/ressurreição, e o Pai-Eterno, identificado pelos romeiros
como o Justo Juiz, personifica o mito do juízo
final” (Steil, 1996, p. 2002).
presente dotado de significado que interage visível
e invisível, expressão estética em cujos vestígios
se podem escavar as peculiaridades narrativas de
seus depositários, as narrativas sociais do milagre
(Bonfim, 2008).
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Círio de Nazaré
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1996, 2001 e 2006
Belém-PA
Carol Peres
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Em 2004 a celebração do Círio de Nossa Senhora
de Nazaré foi registrada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – no
Livro das Celebrações e recebeu o título de Patrimônio Cultural do Brasil.
No sábado, a imagem segue para a Romaria Fluvial ou “Círio das Águas” onde centenas de embarcações enfeitadas com flores, balões e fitas acompanham a Virgem por um percurso de 10 milhas.
A romaria começa com a Missa do Círio. Em seguida, num percurso de aproximadamente quatro
quilômetros, dois milhões de romeiros seguem a
corda que guia a Virgem até a Praça Santuário de
Nazaré. Segurar a corda representa aos fiéis um ato
de esperança e gratidão a Nossa Senhora.
A história da devoção data de 1700 quando um
caboclo chamado Plácido encontrou uma imagem
da Virgem no igarapé Murutucu, onde hoje é a
Travessa 14 de Março em Belém. A primeira romaria foi realizada em 1793 como pagamento de
promessa feita pelo então governador português
Francisco Coutinho.
Há quase 300 anos, todo segundo domingo do mês
de outubro, um mar de romeiros inundam as ruas
de Belém do Pará para celebrar a crença a Nossa
Senhora de Nazaré. Considerada uma das maiores
procissões da fé cristã católica na região norte, o
Círio de Nazaré é uma festa de ex-votos – objetos
oferecidos a Nossa Senhora em agradecimento a
graças alcançadas ou pagamento de promessas.
Devoção, Fé e Amor
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Trecho da música
“Maria de Nazaré”
Ás vezes eu paro
e fico a pensar
e sem perceber,
me vejo a rezar
e meu coração
se põe a cantar
pra Virgem de
Nazaré.
Maria de Nazaré,
Maria me cativou.
Fez mais forte a
minha fé
e por filho me
adotou.
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Bom Jesus da Lapa
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1996 e 1999
Bom Jesus da Lapa-BA
Carol Peres
O ápice é a festa do Bom Jesus realizada no dia
06 de agosto. Não por acaso, mas porque neste
dia, segundo a Bíblia Sagrada, é celebrada a transfiguração do Senhor Jesus. Os acontecimentos
são marcados pela intensa presença de pequenos
lavradores e pescadores, que vêm até o Bom Jesus
agradecer e ofertar seus produtos, e pedir, principalmente, uma boa colheita para o próximo ano.
A peregrinação começa com a romaria da Terra ou
das Missões, no início Julho, quando os romeiros
da região se dirigem ao santuário; a romaria ao Bom
Jesus, a maior de todas elas, movimenta milhares
de pessoas. Inicia na segunda quinzena de Julho e
segue por todo o mês de Agosto. Na seqüência, a
romaria em louvor a Nossa Senhora da Soledade e
sua festa, celebrada em 17 de setembro, encerrando
este ciclo de fé e penitência pelo sertão da Bahia.
Há mais de 300 anos milhares de peregrinos chegam às margens do Rio São Francisco, na cidade
de Bom Jesus da Lapa – Bahia – para homenagear o Bom Jesus e Nossa Senhora da Soledade. Exvotos trazidos pelos romeiros enfeitam as paredes
da gruta descoberta em 1691, pelo português Francisco Mendonça Mar, mais tarde ordenado Padre
Francisco da Soledade, durante suas andanças pelo
sertão baiano. Pe. Francisco fundou na gruta o Santuário do Bom Jesus, que hoje guarda seu túmulo e
o crucifixo que carregava em suas peregrinações. A
devoção se desenvolveu durante o século XVII, devido ao ciclo da mineração e da intensa navegação
naquele trecho do Rio São Francisco.
A fé no Bom Jesus
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Cântico dos Romeiros
Senhor Bom Jesus da Lapa, aceitai esta romaria.
Jesus Cristo, rei da glória, salvador do mundo inteiro.
Senhor Bom Jesus da Lapa, aceitai esta romaria.
Sou romeiro de longe, não posso vir todo dia.
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Divino Pai Eterno
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1999 e 2001
Trindade-GO
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Carol Peres
A Romaria de Carros-de-boi e a Sala dos Milagres
são dois destaques da Romaria do Divino Pai Eterno. Todo ano cerca de 300 carreiros fazem a romaria
até a Igreja Matriz. Superar os desafios da estrada é,
para eles, renovar e reafirmar a fé no Divino Espírito
Santo. A sala dos milagres é um amplo espaço no
subsolo do Santuário que guarda objetos, ex-votos,
fotografias, roupas e pertences pessoais trazidos pelos romeiros. Cada objeto representa a gratidão de
alguém que foi atendido em suas preces
A primeira capela do Divino Pai Eterno foi construída em 1843. O dia da grande festa é o primeiro
domingo do mês de julho. Durante os nove dias
que antecedem a festa são celebradas missas, novenas, encontro com carreiros, foliões e tropeiros.
Os missionários redentoristas se unem num esforço para atender milhares de confissões e batizados.
Há mais de 178 anos, devotos de vários lugares
do país vão ao Santuário-Basílica do Divino Pai
Eterno em busca de graças. Segundo historiadores
a devoção do Pai Eterno teve início por volta de
1840 quando um casal de agricultores que morava nas proximidades do Córrego do Barro Preto,
encontrou uma imagem da Santíssima Trindade
– Pai, Filho e Espírito Santo coroando a Virgem
Maria. O Córrego ficava distante aproximadamente 22 quilômetros do município de Campininha das Flores, que hoje é o bairro de Campinas,
de onde se originou a cidade de Goiânia, capital
do Estado de Goiás.
Pai, Filho e Espírito
Santo
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Cântico dos Romeiros
Caminhando para terra santa
Velha Trindade da fé e do amor
Sou romeiro que caminha
Sou devoto do Senhor
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Nossa Senhora da Abadia
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2002
Niquelândia-GO
Carol Peres
Estima-se que a romaria atrai todos os anos mais
de 180 mil pessoas que vão ao Santuário homenagear Nossa Senhora da Abadia e pagar promessas. O percurso de 45 quilômetros tem início na
Igreja Matriz da Paróquia São José, na cidade de
Niquelândia, passa pela Paróquia Nossa Senhora
da Abadia e tem como destino o Santuário de Muquém, no Morro do Cruzeiro.
Existem duas versões para a origem da romaria. Os
relatos populares explicam que tudo começou quando um garimpeiro português importou de Braga
uma imagem de Nossa Senhora da Abadia. A imagem teria começado a atrair fiéis até a região. A outra
explicação está contida no livro “O Ermitão de Muquém”, de Bernardo Guimarães, escrito em 1858. A
obra apresenta uma versão contada a partir de depoimentos dos próprios romeiros no ano de 1840, onde
a romaria teria início com a história de um rapaz
que, durante uma batalha, matou a própria mulher
por engano e ao ser atacado pelos familiares da esposa, uma medalha que carregava ao peito o protege de
uma flechada. Depois disso, o rapaz se tornou um
ermitão dedicando sua vida a Nossa Senhora do Muquém e a propagar sua divindade.
Todos os anos uma multidão invade o povoado
de Muquém, a 20 quilômetros de Niquelândia,
durante dez dias do mês de agosto. A festa religiosa do Nordeste goiano carrega o título de ser a
romaria mais antiga de Goiás e foi realizada pela
primeira vez em 1748.
Louvor a Nossa Senhora
D’Abadia
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Hino à N. Senhora da
Abadia do Muquém
Oh! Virgem Mãe
da Abadia,
reina amorosa
sobre Goiás.
Louvor à Virgem
Nossa Senhora
que no Muquém
tem seu altar;
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Padre Cícero
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2000
Juazeiro do Norte-CE
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Carol Peres
Pe. Cícero não foi canonizado pela Igreja Católica,
mas é tido como Santo por sua imensa legião de fiéis
espalhados pelo Brasil. É um dos brasileiros mais
biografados da história e sua vida vêm sendo estudada por cientistas sociais do Brasil e do mundo.
Cassado incessantemente pela Igreja Católica, Pe.
Cícero aos poucos largou o apostolado e dedicou sua
vida a ajudar os romeiros. Desde a sua morte em 20
de Julho de 1934, aos 90 anos, a cada ano a população se veste de preto em sinal de luto ao seu patriarca
e eterno conselheiro. A Romaria de Pe. Cícero tornou-se uma das mais impressionantes e consagradas
manifestações religiosas do nordeste brasileiro.
Consagrou-se o “santo do nordeste” em 1889
quando em uma de suas missas, durante a comunhão, uma hóstia teria se transformado em sangue.
O episódio se repetiu por várias vezes e foi considerado milagre, não só pelo povo, mas por médicos
e autoridades que foram checar o fenômeno. Neste
mesmo ano, o Seminário do Crato organizou uma
romaria que levou cerca de 3000 fiéis para ver a
transformação da hóstia em sangue. Juazeiro rapidamente se transformou em centro de romaria e
devoção ao pai dos sertanejos.
Em 1871 Padre Cícero Romão Batista rezava sua primeira missa na cidade de Juazeiro do Norte, onde depois se estabeleceu como Capelão. No Sertão Cearense, marcado pela seca e pela fome, tornou-se pai dos
sertanejos, intimamente chamado de “Padim Ciço”.
“Padim Ciço”, o Santo
do Nordeste
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Cântico dos Romeiros
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Salve meu
padrinho Ciço
Lá em seu trono
de glória
No céu está
resplandecente
Junto com
Nossa Senhora.
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Congadas
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Congada de Bom Despacho-MG, 2001
“
Veranico de Janeiro, Bernardo Eli
Se afobava no dobrado brabo e sacolejante, enquanto mais surdamente, como um
risco no horizonte, roncava a zoada das zabumbas na congada.
Alguns congos ensaiavam seus passos de dança, seus trejeitos, seus toques de viola, reco-reco ou
pandeiro, engrolando diálogos e cantorias. (...) Cantavam, repetiam, tornavam a cantar. (...)
A fala de um é também fala de muitos. Congos,
Congados, Congadas, enunciam vários folguedos populares que se assemelham entre si por
constituírem grupos de atores, dançantes e cantores negros-devotos que “reproduzem, durante
os festejos populares da Igreja Católica, ritos antigos de louvor a entidades religiosas reconhecidas como padroeiras e protetoras dos negros,
como São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário” (Brandão, 2004, p. 323). Dificilmente haverá em tantas cidades brasileiras
Com os filhos e filhas do Rosário aprendemos que
tocar, dançar e cantar é também uma forma de
oração, de um unir-se a Deus numa séria brincadeira de tradição e resistência: movimentação que
deixa a rotina menos cinzenta e silenciosa. A face
refletida no instrumento e que louva os santos,
aguarda o ano todo para comemorar a liberdade,
por isso nem sempre as experiências podem ser traduzidas em palavras.
Festa da fé, memória inserida no corpo, orgulho
étnico, liberdade... Pulsão expressiva e congraçamento coletivo. As batidas em devoção à santa
branca inundam as ruas com a auto-estima dos
negros. Gestos luminosos que circulam de geração
em geração. Devotos que rasgam o céu à procura
dos pingos da chuva: arco-íris humano.
“Nada mais que os primeiros acordes da música
crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo.”
(O Cortiço – Aluísio Azevedo)
Viva a liberdade!
Clovis Carvalho Britto
Os mistérios do rosário
no (com) passo da
congada
O que é inegável é que os congos até hoje estão
nas ruas reverberando formas rituais e coletivas
de devoção católica “parte do folclore negro ou
do folclore branco incorporado por negros”. As
Congadas têm cor? Sim, a cor dos tecidos e fitas, das rosas e estandartes, das dores e sorrisos.
Têm cor e sentimento.
O Congo não é somente um país africano ou uma
dança brasileira, é um estado de espírito. Inúmeros autores já trilharam o caminho em busca das
suas prováveis origens. Muitos, a exemplo de Mário de Andrade (1959), o consideram uma dança
dramática de origem africana. Outros, como Roger Bastide (1959), como rituais de negros, mas
já brasileiros, ou seja, uma forma negra de recriar
rituais originalmente brancos e europeus. Não
sem motivos, Carlos Rodrigues Brandão destaca que “nem sempre um componente ou traço
de folclore exercido por negros é, originalmente, ‘dos negros’. Nem sempre, também, alguma
dança ou auto popular ‘dos negros’ é de origem
africana” (2004, p. 324).
Entre passos, cantos e batidas de tambor, por
trás das fitas coloridas e da alegria incontida na
alma e impregnada no corpo, a Congada é um
patrimônio secular manifesto no instante. Os
olhares que procuram o sagrado e os pés que
escavam o passado percorrem o moinho do tempo, como o pulsar da menina congadeira que
em sua dança salta lembranças e esquecimentos.
Onde estariam as origens, no começo do mundo, no principio das eras?
outra festividade ritual, popular e católica ainda tão presente e tão diretamente associada a
grupos de negros de confissão católica como a
Congada. Do mesmo modo, será difícil encontrar uma dança ou outro folguedo do folclore do
país que possua um mito, que procura justificar
sua origem, tão difundido como o da Congada
(Cf. Brandão, 1985; 2004).
109
Nessa forma de expressão, em cada terno (menor
unidade ritual da Congada) os devotos perpetuam e atualizam o que eles chamam de raiz: “sua
atuação demonstra a permanência do passado no
presente, eles [os capitães] aparecem como elo unindo seus grupos à origem. Esta, por usa vez, liga-se
aos antepassados criadores do terno, bem como aos
antigos fundadores da congada e dos estilos que a
compõem. Se a raiz liga-se ao passado e à sua atualização, o passado aparece associado ao chão ou a
terra, evocando um sentimento de territorialidade,
uma ligação com o local de origem” (p. 159).
Entre chapéus, penachos, coroas, fitas cruzadas no
peito, a memória que aciona o impulso criativo não
é uma memória de privação, mas de transformação,
por isso que é celebrada com festa. Daí decorre o sentido de missão, estar no grupo é um compromisso
com a divindade, mas é também um compromisso
com a origem, com os antepassados: “a ligação com
o passado no ‘cativeiro’ é suficiente para conferir à
congada profundidade histórica e ao negro escravizado valor positivo. A categoria raiz refere-se à origem e expressa a ligação contígua com esse passado,
sendo referencial central para entender a congada
no tocante à constituição dos seus diferentes ritmos,
hierarquia de grupos, formação de lideranças e dos
significados que dela emergem” (p. 30).
Enquanto vestem suas roupas e afinam os instrumentos, os devotos se transformam. Deixam de ser anônimos, para se tornarem filhos do Rosário que, através
da dança, conquistam o amor de Nossa Senhora. A
narrativa rememorada promove uma reconciliação
com o passado traumático na medida em que os fiéis
atualizam durante a festa a aparição da Virgem para
os cativos, fato que transformou a imagem do escravo: “a atualização periódica desse evento revela ser
possível encontrar no imaginário da escravidão elementos que possibilitam a elaboração de uma cosmologia sócio-cultural onde o negro e/ou o descendente
de escravos aparece de forma positiva e socialmente de
forma reconhecida” (Costa, 2006, p. 12).
110
“- Não faz assim, seu moço, não desespera. Reza, que
Deus endireita tudo... P’ra tudo Deus dá o jeito!
E a preta acendeu a candeia, e trouxe uma estampa
de Nossa Senhora do Rosário, e o terço”. (A hora e a
vez de Augusto Matraga - Guimarães Rosa).
No Rosário de Maria
Por isso, o renovado interesse das ciências sociais pela
temática. Além de “uma fala, uma memória, uma
mensagem” (Brandão, 1989), no caso particular da
Congada, seus instantes de devoção re-apresentam “à
cidade o peso de sua ordem social e das suas contradições. No entanto, a transformação social engendrada
por eles não busca a ruptura com a ordem estabelecida, mas a inserção dos congadeiros na mesma de forma mais valorizada e respeitada” (Costa, 2006, p. 13).
Sons, cânticos, danças, forma de oração coletiva e
corporada (Brandão, 1985). É o corpo que fala: o
olhar nos olhos da Virgem Maria; o identificar com
a pele de São Benedito e Santa Efigênia; os pés que
cortam o ar e as mãos que seguram as nuvens: “o
corpo encurvado, os ombros encolhidos, a cabeça
baixa e os olhos que quase não encaram os demais
[no cotidiano] cedem lugar [na Congada] à postura ereta, à cabeça erguida e ao sorriso constante
ao tocar, dançar e cantar versos em homenagem a
Nossa Senhora. O corpo torna-se aqui expressão da
igualdade estabelecida pela santa entre senhores e
escravos e a Congada é o meio primordial para a
sua atualização por trazer em si uma liberdade de
movimentos que se opõe à construção do cativeiro
físico e moral” (Costa, 2006, p. 35).
A Congada é intermezzo, aliança entre devotos,
entre estes e as divindades, entre dor e alegria, passado e presente, cativeiro e liberdade. Para muito além das teorias acadêmicas, o velho negro do
congado, com apito entre os lábios e o suor entre
as mãos, é quem nos transmite a lição: a Congada
é um chamado que “todos podem ouvir, mas só os
devotos conseguem escutar”.
Apesar de variações, este é o conteúdo mais comum na maioria das narrativas (re) contadas: “o
mito explica a origem da Festa de Nossa Senhora
do Rosário e, ao mesmo tempo, a posição privilegiada do moçambique dentro dela. O ritual do
congo deriva de um duplo milagre. O primeiro
milagre é dado pela santa para os negros, o segundo é obtido pelos negros sobre a santa. Em qualquer uma de suas versões, o problema colocado
pelo mito é a eficácia simbólica da Congada. (...)
Os dançadores ‘brincam’ na Congada para pagarem uma promessa, um ‘voto válido’, garantido pela eficácia da dança demonstrada no mito”
(Brandão, 1985, p. 86).
Para os integrantes da Congada, a santa branca e
coroada é a mãe que se compadecia dos sofrimentos
de seus filhos cativos ao ponto de suas lágrimas se
converterem em pétalas de rosas. O mito que fundamenta o legado não se encontra grafado na Bíblia,
ele se insere na memória e no coração dos fiéis. Sob
o manto azul da Rainha do Céu, ele rememora fatos
ocorridos com os escravos: Nossa Senhora do Rosário aparece aos negros (congos e moçambiques); os
congos dançam e Ela sorri, os moçambiques dançam
e a santa os acompanha até o local sagrado; a partir
desse momento os negros são libertos.
Rosário significa grinalda de rosas. Em suas aparições, a Virgem teria revelado que lhe era enviada
uma rosa a cada Ave Maria rezada pelo fiel, e a
cada rosário completo uma coroa de rosas lhe chegava aos céus. Através do rosário se rememoram
passos de gozo, dor e glória através da meditação
(oração mental) e da recitação (oração verbal).
As lágrimas que eclodem cadenciando os rostos
dos devotos são como os dedos a desvendar os
mistérios do terço. As mãos que bailam e tocam
os instrumentos são as mesmas que repolegam o
rosário de Maria. O rosário termina onde começa,
é cíclico assim como a fé da senhora que anualmente se renova nos passos dos moçambiques.
Orar é uma festa dos gestos. Deixar-se guiar pela
música e pelos ritos que reiteram o mito. Seguir os
passos ditados pelos mais velhos, cultuar, afirmar,
transmitir: “as músicas (letras e ritmos) são aprendidos por meio da fala, do toque, do olhar e principalmente pela convivência no grupo. Internalizam-se
os ritmos, pois estes são socializados através de técnicas corporais e aprendem-se as letras por meio da
repetição e pelo partilhamento do seu significado”
(Silva, 2007, p. 47). Por isso, ao longo da vida, “o
brincante vai enriquecendo o acervo de gestos, falas
e procedimentos de seu personagem, tornando-o
mais rico e complexo. Esta acumulação de recursos
é que distingue a qualidade do brincante ao encarnar seu personagem. Para brincar, ele tem seqüências de formalidades incorporadas. Ele possui um
alfabeto de gestos e um léxico corporal herdados da
tradição, desenvolvidos no correr dos anos e guardados na memória corporal. (...) Quando o brincante começa a brincar, toda esta memória adormecida aflora” (Barroso, 2004, p. 85).
O rosário desfiado pelos negros é metafórico, roda
viva de preces que inunda o corpo e a alma de sons
e cores. Não uma oração reiterativa, com o fiel de
joelhos ao chão e palavras sussurradas e apertadas
em cômodos e templos. Em agradecimento pela liberdade, os devotos (re) criaram uma oração que
combina corpos, que se espraia pelas ruas e pelos
sentidos, em que os mistérios transbordam de dentro de cada ser no bailado dos gestos e no pulsar
da lembrança: “o sucesso deriva do próprio ritual e
da atitude dos seus praticantes para com Nossa Senhora. (...) São os moçambiques, mais pobres, mais
humildes e mais lentos que os congos, os que conseguem uma eficácia plena diante da santa. (...) Esta
insistência sobre a pobreza de recursos de quem
consegue produzir um ritual eficaz não parece ter
apenas por objetivo demonstrar simbolicamente,
seja o valor da humildade como preceito cristão,
seja a condição de dominado do negro frente ao
branco. Quem tem menos poder, e tem menos recursos tem somente o próprio ritual” (p. 87).
111
Congada de Ituiutaba-MG, 2008
112
Congada de Ituiutaba-MG, 2008
Assim como em outras manifestações do catolicismo popular brasileiro, a dádiva votiva também se faz presente na Congada mantendo parte
dessa engrenagem de signos em rotação. Uma
promessa pode ser paga através da participação
no folguedo, uma única vez, diversas vezes ou
para o resto da vida.
A Congada é, dessa forma, uma cultura do povo que
“só se preserva e se transmite na medida em que se
representa para o próprio grupo que a produz, e assim se dá a conhecer ao público que a ela assiste, no e
pelo ato de sua apresentação” (Montes, 2007, p. 100).
113
Nossa Senhora do Rosário é confidente, companheira de todos os momentos, talvez por isso ela
acompanhe o (com) passo da Congada não sobre os
lentos caminhos do andor, mas junto aos devotos,
bailando ao vento nas estampas das bandeiras: “reconhecidos da senzala ao carnaval, como seres do
corpo, dos gestos brutos das pernas e dos quadris,
da ginga, enfim, esses negros querem lembrar a si
mesmos, a Deus e aos outros, que mais do que todos são a própria memória dos gestos sutis do olhar
e da delicadeza cerimonial” (Brandão, 1989, p.
183). Diversidade de sinais e leveza expressiva, sentido e sentimento. Cumpriu-se, assim, a profecia.
Música de Congo
Ô moçambique, ô lá nas matas.
Ô moçambique, ô lá nas matas.
Nossa Senhora lá nas matas,
Numa gruta de pedra,
Mas os negros cantou pra ela,
Eu vim buscar a Senhora.
Mas os negros cantou pra ela,
Eu vim buscar a Senhora.
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Bom Despacho-MG/Engenho do
Ribeiro-MG/Ituiutaba-MG
2002, 2003 e 2008
Carol Peres
As congadas ainda estão presentes em diversos
estados do Brasil, mas encontram maior força na
região sudeste. Realizadas de maneiras diversas e
mescladas a outras festas, basicamente são compostas de cortejos e tem como padroeiros Nossa
Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia. Por isso geralmente os grupos se apresentam
nas festas desses santos. Em Minas Gerais a congada é realizada principalmente no mês de outubro, em homenagem a N. S. do Rosário
A Irmandade do Rosário dos Pretos é uma das principais propagadoras da congada e da memória do
povo africano. Com poucos documentos escritos
ou iconográficos, a maior fonte de conhecimento
para os grupos são os velhos e a transmissão oral do
rito. As famílias tornam-se os núcleos dos Ternos.
Originada na África, com o Cortejo aos Reis Congos, é uma festa de passos e cantos, se caracterizando pelo som forte dos tambores, procissões e lutas
simbólicas de espada. Trazidas para o Brasil no século XVIII com o comércio de escravos das colônias portuguesas, as etnias africanas encontraram
na cultura a forma de preservar suas raízes. As entidades dos cultos afros eram sincreticamente identificadas aos santos do catolicismo, por isso a Igreja,
as autoridades e os senhores de engenho em geral
aceitavam as celebrações de congo. A Fé nos santos
católicos contribui para a legitimação do rito. E o
som dos tambores, para a consagração do poder de
transformação da realidade que vivenciavam.
A celebração dos
tambores
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Música de Congo
Viemos na
sua casa
Trazendo a
nossa bandeira
É a Virgem do
Rosário
Nossa guia
verdadeira
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Fogaréu
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“
A riqueza cromática veste a cidade de
uma velha mística religiosa, sonora e
vaga, a que as procissões dão vida e cor.
Plena Semana Santa.
O Cântico da Volta, Cora Coralina
Euforia, levitação... Sinto-me renascer
para o Canto Novo! A Bênção do Fogo!”
A cidade lendária me toma nos braços,
me enlaça e prende.
O Fogaréu é o espetáculo resultante do encontro das chamas da festa e da fé na foz ardente
da comemoração e da rememoração. Festeja-se
a lembrança de um acontecimento e promovese a celebração de várias lembranças. Através da
evocação são reforçados valores e traços culturais
considerados significativos e o rito mantém acesa a memória. Quando os ponteiros do relógio
Zero hora de Quinta Feira da Paixão. A cidade
já se vestiu com verdes ramos e depois se cobrirá
de luto até o dia em que se comemora a Ressurreição. Agora, no intermezzo, são as chamas que
clamam. Os lampiões já foram apagados e cresce
o burburinho dos espectadores que se comprimem
no cenário tortuoso dos becos e ruas de pedras da
antiga Vila Boa de Goiás. Escuta-se a fanfarra e as
luzes dos archotes anunciam que é hora de acordar
as trevas. Um clima de excitação toma conta do
público, integrante na cena rememorada, talvez o
mesmo que envolveu os que teriam perseguido o
Filho de Deus. Com passos apressados e ao rufar
de tambores surgem os personagens do espetáculo
empunhando tochas, seres que lançam a dúvida e
provocam uma semiologia do sentimento: são os
que perseguiram o Representante da Luz ou são
eles mesmos iluminados, vaga-lumes nas trevas?
São personagens que evocam um texto ou são eles
mesmos textos, personas, na barroca dúvida da revelação versus ocultamento?
“E disse Deus: Haja Luz. E houve luz. Viu Deus que
a luz era boa, e fez separação entre a luz e as trevas”
(Gênesis, I, 3-4).
Chamas da fé
Clovis Carvalho Britto
A procissão do fogaréu e
os itinerários da paixão
É possível reconhecer na Procissão alguns elementos que possuem uma continuidade histórica
suficiente para que possamos considerá-los essenciais à celebração. Alguns estão presentes desde
as origens, outros foram incorporados à tradição
de forma que é impossível imaginá-la sem eles.
Em algumas cidades brasileiras, por exemplo, o
Fogaréu é realizado sem a presença dos farricocos. Já os moradores de Goiás, provavelmente,
não o conceberiam sem esses personagens. Também não imaginariam as luzes da cidade acesas ou o ambiente sem a fumaça do querosene
A Procissão do Fogaréu é uma poética do instante. Repositório de memórias da Península Ibérica
que se espraiaram pelas cidades coloniais brasileiras e que encontraram porto seguro no sertão
de Goiás. De acordo com Maria Cecília Londres
Fonseca (2003) não apenas o centro histórico de
Goiás deve ser considerado patrimônio cultural
da nação. A Procissão do Fogaréu também deve
ser considerada patrimônio já que, apesar de sua
fugacidade - ocorre apenas uma vez durante o
ano e em reduzido tempo -, confere ao centro
histórico e à cidade um particular significado
que é indissociável de sua identidade como patrimônio cultural. Desse modo, as igrejas, ruas
e largos, assim como os rituais, a indumentária
e as formas específicas de participação da comunidade constituiriam elementos fundamentais na
dinâmica cultural de Goiás e o Fogaréu, nesse
aspecto, seria um contundente exemplo de patrimônio (imaterial ou intangível) que também
deve ser preservado.
se enamoram à zero hora de Quinta Feira Santa,
Goiás se torna um rio de fogo cujas margens são
casas e igrejas e os navegantes são milhares de
moradores e turistas, guiados pelo farol metafórico que é a figura dos farricocos ou encapuzados.
O farricoco é a luz que procura a Luz nas trevas
e, ao mesmo tempo, a sombra humana ao encontro do Cristo-Luz (Cf. Britto, 2008).
127
E o reflexo do fogo nas águas do Rio Vermelho
cumpre a profecia do bandeirante, o Anhanguera, Diabo Velho: religiosidade e folclore, atualização e permanência. A distância que separa o olhar
entre as frestas, do olhar que está sob o capuz é a
mesma que mantém viva a certeza de que no próximo ano o ritual acontecerá novamente: “provocando a memória com sensações e imagens ligadas
ao dionisíaco, traduzidas em palavras como tensão, caos, extravasamento, violência etc., compondo quadros de uma Paixão de Cristo que remete
ás raízes mitológicas da tragédia” (Souza, 2008,
p. 130). Expressividade conquistada por um conjunto de fatores que embalam o feixe de afetos:
“figuras impressionantes marcham sem hesitação
e sem se desviar da multidão, sendo acompanhadas de outras pessoas também empunhando suas
tochas. Gente correndo de um lado para outro, o
cheiro de querosene, o vento querendo assoprar
o fogo nos cabelos, o ritmo obstinado e o rumor
da massa humana afastando-se – uma demonstração espetacular de força. Não há necessidade
de organizar os espaços. É o que se compreende
naquele momento: a própria procissão conquista
o seu território” (p. 137).
maculando a lua cheia na madrugada do dia de
Endoenças. Para muitos, o Fogaréu é o retorno
à terra natal, o reencontro com familiares, amigos e a cidade umbilical. Há os que o consideram como uma oportunidade de comunhão, fé
e autoconhecimento. Outros apreciam apenas
seu aspeto estético, como moinho do tempo que
marca a alegoria dos gestos e o clímax da Semana Maior. Mas independente do interesse, o percurso dos farricocos já está grafado na memória.
Mesmo que em uma memória de flashes, como a
daqueles que pretendem fixar o momento, congelando o instante na fotografia ou adquirindo
uma lembrança nos artesanatos, ou dos que, não
mais crianças, só conseguem acompanhar o espetáculo nas janelas ou se aventurando em atalhos
para não perder o clarão de vista.
128
A procissão provoca temor e esperança, incluindo
elementos geradores de tensão. Os homens encapuzados representando os soldados romanos iluminam as vielas escuras da cidade de Goiás com
suas vestes coloridas e com seus archotes. As imagens e percepções provocadas pelo compasso dos
tambores, o fogo, a água e o casario que espelham
as labaredas, a rapidez e a agitação, somadas às figuras dos anônimos que se movem sob as vestes,
revelando apenas olhos, mãos e pés, se alternam
e se superpõem conduzindo ao momento do clímax quando a cena é congelada pelo toque do
clarim que anuncia a prisão do Salvator Mundi.
No espetáculo, a pintura de um Cristo Flagelado “altamente expressivo em sua dor, remete a um
grotesco trágico atemporal (...) que converge para
a interação das partes num todo vital, do qual
emerge o belo no trágico e o trágico no belo. (...)
Representa, pois, a reconciliação da serenidade
apolínea com a embriaguez dionisíaca. O momento simbólico da captura do Cristo faz emergir uma
nova emoção coletiva” (Souza, 2008, p. 138-141).
A pele sente o calor, os olhos miram o fogo e as
labaredas envolvem o olhar. Durante milhares de
anos o fogo fascina a humanidade e constitui uma
das principais conquistas do homem. Do grego
pyr e do latim purus, significa pureza e purificação. Além de inspirar ricas metáforas, sempre alimentou o mecanismo da intuição simbólica, tornando-se elemento privilegiado para reconstruir o
inacessível. O fogo é um elemento contraditório
que, ao mesmo tempo, ilumina, aquece e queima.
Assim, representa a luz e a destruição, a purificação e a espiritualização, tornando símbolo tanto
do que é divino, quanto do que é demoníaco (Cf.
Faria, 2006). Analisando o fogo na Procissão do
Fogaréu, podemos percebê-lo sob dois aspectos:
“o primeiro do ponto de vista dos farricocos, que
representam os mantenedores da ordem, portanto o ‘fogo’ enquanto instrumento de coação, de
repressão. O último, do ponto de vista de Deus,
vinculado à luz, a purificação” (p. 55).
Uma procissão consiste em espraiar o sagrado pelas veredas da vida cotidiana. Em uma data específica e percurso determinado a divindade se
desloca, deixa os espaços comprimidos dos altares
para se amparar nos ombros e mãos dos fiéis. Seu
teto agora é o céu. Caminha com os homens, ao
seu lado, na frente de suas moradas, simbolizando
que o sagrado está em todo lugar. Não sem motivos Carlos Brandão (1989) afirma que o culto
religioso no catolicismo popular é nômade e o que
torna devota a sua cerimônia é a sua qualidade de
deslocamento:
Na Folia de Reis se comemora o nascimento do
Menino Jesus, o testemunho e o anúncio de Cristo
ao mundo. No Fogaréu se festeja o ato de se doar
pela humanidade: “o Natal festeja um Deus que
nasce, e a Semana Santa, um homem que morre, esquecida de que ele é oficialmente um Deus
que vence a morte. (...) Temos, portanto, um Deus
que nasce e provoca uma festa que encerra uma
viagem; um Deus que morre e provoca uma comemoração ritual do sofrimento; um Deus estável entre os homens que provoca festa e romaria”
(Brandão, 1989, p. 30).
Conforme assinala Mary Del Priore (1994), uma
origem européia comum teria embalado as festas
coloniais no Brasil. Com a centralização de jovens
Estados, como foi o caso de Portugal, tais eventos serviram à cristalização de idéias absolutistas,
a exemplo dos exagerados ritos em homenagem
aos bispos visitadores da Santa Inquisição. Tais
atividades festivas eram manifestas através de procissões que possuíam uma função pedagógica. Já
Plínio Corrêa de Oliveira (2003), ao comentar as
origens das comemorações da Semana Santa relata que desde a Idade Média os Papas e Concílios
aprovaram irmandades ou confrarias para incumbirem, dentre outras atividades, da representação
dos episódios da Paixão diante das catedrais. Os
fiéis se recobriam de roupas alegóricas das cores da
liturgia e seria esta a origem primeira das túnicas e
chapéus (capirotes) que encobrem o rosto.
As procissões são atos de culto público que podem ser de ação de graças, louvor, penitência ou
impetração de favores divinos. O Fogaréu é uma
das procissões que compõem os ritos da Semana
Santa de algumas cidades, portadora de características particulares centralizadas na figura mítica
do farricoco. Conforme nos ensina Paulo Bertran
(2002), as origens do farricoco estariam associadas à penitência, a uma punição imposta àqueles
que não seguissem as determinações da Igreja,
procedimento imposto aos burgueses de Braga assim como em Sevilha, na Espanha -, “prescrito
em uma das muitas revoltas que tiveram contra
o arcebispado daquela antiga Sé de Portugal” (p.
59). Em vez da pompa e luxo demonstrados pelas
irmandades, representando os vistosos cavaleiros
vestidos de seda com espadas de prata e alamares
a buscar Cristo para aprisioná-lo, os “desviantes”
deveriam comparecer s celebrações “com a estamenta de lã grosseira dos pecadores, e o chapéu
cônico, o capuz dos condenados (...) correndo descalço a machucarem os pés nas pedras à luz de
archotes. O farricoco” (p. 59).
No olhar a tensão e nos lábios um sorriso. Os punhos cortam o céu com o fogo rememorando a
Paixão. Mas como sentir felicidade ao relembrar
a prisão e morte do Salvador? Acompanhando o
sofrimento, não esquecemos de que ele morreu por
nós e ressuscitou. Por isso a procissão é também
festa, festa de representação que ata as pontas do
sagrado e do profano. Desse modo, a perseguição
e a prisão do Cristo estampado no estandarte se
tornam uma metáfora da busca crística cotidiana
de cada um ali presente.
Tendo, pois Judas recebido a corte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas” (Jo, 18, 3).
Em busca do Cristo
a) viajando através de lugares com o anúncio de um festejo religioso em algum local,
como nas folias de Reis e do Divino;
b) em busca de um lugar sagrado, como nas
romarias;
c) fazendo desfilarem pelas ruas pessoas vestidas de uma dignidade especial, como na
congada;
Se no princípio Deus disse, haja luz e separou
luz das trevas; se uma estrela incandescente rasgou o céu e guiou os magos até a manjedoura; e
se o Divino se manifestou em línguas de fogo;
d) conduzindo seres simbolicamente sagrados através dos espaços profanos, como na
Procissão do Fogaréu.
129
nada mais apropriado do que reverenciar a Sacra Paixão com este elemento. Comemora-se
não somente “a maior dor do mundo”; festejase o amor incondicional daquele cujas lições há
dois mil anos, aquecem e orientam o percurso
dos corações na Terra. Por isso, a cada ano Ele
é louvado de diferentes formas, com fé e festa,
no meio de nós.
130
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132
1999, 2002 e 2008
Goiás-GO
133
Carol Peres
Além de Goiás, outras cidades realizam a procissão: Várzea Alegre-CE, Caxias-MA, Olinda-PE,
Pedreira-SP, Florânia-RN, Paraty-RJ, Oeiras-PI,
São Cristóvão-SE, Ouro Preto-MG e SerrinhaBA. A procissão de Goiás é a única a manter a figura dos Farricocos.
Ao contrário de outras procissões, o Fogaréu tem
um ritmo rápido e não cadenciado e a procissão
dura em média uma hora e meia.
A cidade é o próprio cenário da procissão. À meia
noite da chamada quarta-feira das trevas, as luzes
das ruas principais são desligadas e cerca de 450
tochas são distribuídas aos seguidores. A prisão de
Jesus é simbolizada pela exibição de um estandarte
com sua imagem. Neste momento, um clarim executa o toque de silêncio.
Na cidade de Goiás, anteriormente conhecida por
Goiás Velho, e primeira capital do Estado quando
ainda era nominada Vila Boa de Goiás, a Procissão do Fogaréu se destaca. Realizada ainda em sua
forma original, os homens saem às ruas encapuzados representando os soldados enviados por Caifás
para prender Cristo. São os Farricocos, personagens trazidos para Goiás pelo padre João Perestelo
de Vasconcelos Espíndola, em 1745.
A perseguição e prisão de Jesus Cristo pelos romanos são relembradas há mais de 260 anos pelos brasileiros. A Procissão do Fogaréu, tradição que data
do século XVIII, é realizada na quarta-feira que
antecede a sexta-feira da Paixão, na Semana Santa.
Procissão do Fogaréu
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Festas Pesquisadas
Procissão de Nossa Senhora Do Rosário
Concurso Regional de Folia de Reis
Encontro Regional de Folias de Reis
Encontro de Folia de Reis
Festiva de Folia de Reis
Jan
Jan
Jan
Fev
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Procissão de Bom Jesus Dos Navegantes
Jan
Jan
Festa de Reis
Jan
Jan
Festa de Santos Reis
Jan
Encontro de Folias de Reis
Encontro de Folia de Reis
Jan
Jan
Folia de Reis
Jan
Encontro Folia de Reis
Folia de Reis
Jan
Encontro de Folias de Reis
Encontro de Folia de Reis
Jan
Jan
Folia de Reis
Jan
Jan
Folia de Reis
Encontro de Folia de Reis
Jan
Festa de Reis
Jan
Folia de Reis
Jan
Festa de Reis
Festa Dos Santos Reis
Jan
Reis de Ze Magal
Encontro de Folia de Reis
Jan
Jan
Encontro Regional de Folias de Reis
Jan
Jan
Folia de Reis
Jan
Festa Dos Santos Reis
Festa Dos Santos Reis
Jan
Jan
Encontro de Folia de Reis
Jan
Festa de Reis
Encontro de Folia de Reis
Jan
Festa da Lapinha - Festa de Reis
Chegada Das Folias de Reis
Jan
Jan
Festa de Santos Reis
Jan
Jan
Festa de Santos Reis
Encontro de Ternos de Reis
Jan
Festa de Santos Reis
Jan
Jan
Festejos de Santos Reis
Festa
Jan
Data
Ituverava-SP
Cachoeira de Macacu-RJ
Aparecida Do Taboado-MS
Apucarana-PR
Barra-BA
Penedo-AL
Brasilia-DF
São Sebastiao Do Paraiso-MG
Altinópolis-SP
Gravata-PE
Barretos-SP
Nova Friburgo-RJ
Chapada da Natividade-TO
Araguacema-TO
Uberaba-MG
Quixeramobim-CE
Pereira Barreto-SP
Contagem-MG
Catu-BA
Canavieiras-BA
Barra-BA
Nossa Senhora da Glória-SE
Salvador-BA
Juazeiro Do Norte-CE
Belem-PA
Varginha-MG
Uberlândia-MG
Tres Rios-RJ
Sarandi-PR
São Sebastiao Do Paraiso-MG
São Fidelis-RJ
Salinas-MG
Pocos de Caldas-MG
Olinda-PE
Jequie-BA
Catende-PE
Barra do Corda-MA
Barra do Corda-MA
Festas pesquisadas
Folias, Romarias, Congadas e Fogaréu
Localidade
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Romarias
Romarias
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Tipo
Continua
Festa Dos Penitentes
Festa do Divino Espírito Santo
Folia do Divino
Encontro de Congados E Moçambiques
Festa de S. Benedito
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino
Festejo do Divino Espirito Santo
Festa de S. Benedito
Festa do Divino Espírito Santo E São José
Festa Em Louvor de S. Benedito E N. S. do Rosario
Congada
Congada Serena de S. Benedito
Festa de S. Benedito Dos 13 de Maio
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Senhor Divino
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Cuiabá-MT
Alcântara-MA
Sta. Isabel-SP
Ouro Fino-MG
Cotia-SP
Ituiutaba-MG
São José-SC
Ibitinga-SP
São Joao do Araguaia-PA
Varginha-MG
Saquarema-RJ
São Luiz do Paratinga-SP
São Lourenço do Sul-RS
Poços de Caldas-MG
Monte Carmelo-MG
Monte do Carmo-TO
Luziania-GO
Belém do São Francisco-PE
Itaguaí-RJ
Ouro Preto-MG
Serrinha-BA
São Cristovão-SE
Oeiras-PI
Paraty-RJ
Florânia-RN
Pedreira-SP
Olinda-PE
Caxias-MA
Várzea Alegre-CE
Goiás-GO
Cariacica-ES
São José Dos Campos-SP
Santa Fé do Araguaia-TO
Xique-Xique-BA
Juazeiro-BA
Ibiaça-RS
Esperantina-PI
Carpina-PE
Festas pesquisadas
Folias, Romarias, Congadas e Fogaréu
Localidade
Abr
Festa de S. Benedito
Abr
Fogaréu
Abr
Fogaréu
Fogaréu
Abr
Fogaréu
Fogaréu
Abr
Abr
Fogaréu
Abr
Abr
Fogaréu
Fogaréu
Abr
Fogaréu
Abr
Abr
Fogaréu
Fogaréu
Abr
Carnaval de Congo
Abr
Abr
Romaria Padre Cícero
Festa de São Benedito
Abr
Os Penitentes
Abr
Abr
Romaria de N. Sra. Consoladora
Penitência Alimentadeira de Almas
Fev
Vi Romaria da Terra
Fev
Fev
Festa de Santos Reis
Festa
Fev
Data
Continuação
Folia do Divino
Folia do Divino
Congada
Congada
Congada
Congada
Folia do Divino
Congada
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Congada
Congada
Folia do Divino
Folia do Divino
Romarias
Congada
Procissão
Procissão
Procissão
Procissão
Procissão
Procissão
Procissão
Procissão
Procissão
Procissão
Procissão
Congada
Congada
Romarias
Romarias
Romarias
Romarias
Romarias
Folia de Reis
Tipo
143
Continua
144
Círio de Nazaré, Belém-PA, 2001
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Mai
Jun
Romaria A Pé Feminina da Dona Ordália
Romaria A Pé
Festa do Divino Espírito Santo
Jul
Jul
Carros de Boi
Jul
Jul
Festa do Divino Espírito Santo
Jul
Romaria do Divino Espirito Santo
Encontro de Folia de Reis
Jul
Jul
Congado
Jul
Festa do Divino
Procissão de São Pedro
Jun
Romaria de N. Sra. do Carmo
Romaria do Divino Pai Eterno
Jun
Jul
Festa do Divino Espírito Santo
Jun
Jul
Festival de Folguedos de Barros
Carros de Boi - Divino Pai Eterno
Jun
Jun
Festa de N. Sra. do Rosario Dos Pretos
Jun
Jun
Encontro de Folguedos
Encontro Nacional de Folguedos
Jun
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Mai
Jun
Festa do Divino Espírito Santo
Mai
Festival de Folguedos
Festa do Divino Espírito Santo
Mai
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Mai
Jun
Folia do Divino
Mai
Jun
Festa do divino Espírito Santo
Romaria de Nossa Senhora do Caravaggio
Mai
Festa do Divino
Mai
Três Corações-MG
Três Corações-MG
Redencao-PA
Carmópolis-SE
Diamantina-MG
São Luiz-MA
Vazante-MG
Piracicaba-SP
Copacabana-RJ
Abaeté-MG
Manaus-AM
Trindade-GO
Santana-AP
Damolândia-GO
Barras-PI
Minas Novas-MG
Teresina-PI
São João do Piauí-PI
Lagoa Santa-MG
Itajaí-SC
Esperantina-PI
Camaçari-BA
Viana-ESP
Oeiras-PI
Mogi Das Cruzes-SP
Itajuípe-BA
Carolina-MA
Barra-BA
Paraty-RJ
Caçapava do Sul-RS
Porto Velho-RO
Laguna-SC
Planaltina-DF
Pirenópolis-GO
Farroupilha-RS
Santo Amaro da Imperatriz-SC
Saquarema-RJ
São Gonçalo Dos Campos-BA
Festas pesquisadas
Folias, Romarias, Congadas e Fogaréu
Localidade
Mai
Festa do Divino Espírito Santo
Festa
Mai
Data
Continuação
Romarias
Romarias
Romarias
Romarias
Folia do Divino
Folia do Divino
Romarias
Folia do Divino
Folia de Reis
Congada
Romarias
Romarias
Folia do Divino
Romarias
Congada
Congada
Congada
Congada
Folia do Divino
Folia do Divino
Congada
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Romarias
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divino
Tipo
145
Continua
Folia do Divino
Romaria Bom Jesus da Lapa
Jul
Jul
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Divino Espírito Santo
Festa do Congado
Festa de N. Sra. do Rosario
Romaria São Francisco
Romaria de Bom Jesus do Matozinhos
Folia do Divino
Festa Das Cavalhadas
Festa N. Sra. do Rosario
Encontro de Congados
Encontro de Congadeiros
Festa N. Sra. do Rosario
Coroação de N. Sra. do Rosário
Ago
Ago
Ago
Set
Set
Set
Set
Set
Set
Set
Out
Out
Out
146
Encontro de Congados
Festa do Divino/Congados
Ago
Ago
Romaria Abadia da Agua Suja
Ago
Ago
Festa de S. Benedito
Romaria de Muquem
Ago
Romaria Bom Jesus da Lapa
Festa do Divino Espírito Santo
Jul
Ago
Festival de Congado
Jul
Romaria de N. Sra. da Boa Morte
Folia de Reis
Jul
Romaria do Bom Jesus do Bonfim
Missa dos Vaqueiros E Vaquejada Pe. Cícero
Jul
Ago
Festa do Divino Espírito Santo
Jul
Ago
Festa do Congo E S. Benedito
Festa do Divino Espírito Santo
Jul
Festa do Divino
Jul
Piracicaba-SP
Ouro Preto-MG
Belo Horizonte-MG
Bom Despacho-MG
Icó-CE
Ouro Preto-MG
Uruana-GO
Congonhas-MG
Canindé-CE
Oliveira-MG
Betim-MG
São José-SC
Laguna-SC
Dores de Indaia-MG
Bom Despacho-MG
Abadia da Agua Suja-MG
Muquem-GO
Alcantara-MA
Rio da Conceição-TO
Bonfim-TO
Cachoeira-BA
Bom Jesus da Lapa-BA
Unaí-MG
Palmas-TO
Conselheiro Lafaiete-MG
Unaí-MG
Juazeiro do Norte-CE
Coxim-MS
Corumbá-MS
Vila Bela da S. Trindade-MT
Brazlândia-DF
Anápolis-GO
Festas pesquisadas
Folias, Romarias, Congadas e Fogaréu
Localidade
Jul
Folia do Divino
Festa
Jul
Data
Continuação
Congada
Congada
Congada
Congada
Congada
Congada
Folia do Divino
Romarias
Romarias
Congada
Congada
Folia do Divino
Folia do Divino
Folia do Divno
Congada
Romarias
Romarias
Congada
Romarias
Romarias
Romarias
Romarias
Folia do Divino
Folia do Divino
Congada
Folia de Reis
Romarias
Folia do Divino
Folia do Divino
Congada
Folia do Divino
Folia do Divino
Tipo
Continua
Folia de Reis
Dez
Romaria Marítima do Senhor do Bonfim
Dez
Dez
Camamu-BA
São Sebastiao do Paraiso-MG
Janauba-Guaxupé-MG
Bom Despacho-MG
Valenca-RJ
Três Corações-,G
Sabara-MG
Muriae-MG
Carolina-MA
Passos-MG
Juara-MT
Campo Belo-MG
Tupa-SP
Osório-RS
Bragança-PA
Belo Horizonte-MG
Esperantinopolis-MA
Pedreiras-MA
Santa Rosa do Tocantins-TO
Juazeiro do Norte-CE
Caicó-RN
Jatai-GO
Belém-PA
Aparecida-SP
Três Corações-MG
Itaberaba-BA
Aparecida-SP
São Luiz-MA
Cururupu-MA
Canindé-CE
Osório-RS
Sabará-MG
Fonte: Calendário de Eventos Culturais Brasil 96/97 e 97/98, MinC.; Informações verbais coletadas com grupos e mestres de festas populares e pesquisa na internet, Google e Yahoo.
Folia de Reis
Festa Das Congadas E Moçambiques
Dez
Folia de Reis
Dez
Dez
Folia de Reis
Dez
Festa de Santos Reis
Folia de Reis
Dez
Encontro de Folias de Reis
Festa de Santos Reis
Dez
Dez
Festa Floclorica Terno Cavalhada Moçambique
Dez
Dez
Folia de Reis
Folia de Reis
Dez
Folia de Reis
Folia de Reis
Dez
Dez
Festa de S. Benedito
Nov
Festa São Benedito
Festa do Congo
Nov
Festival Estadual de Terno de Reis
Romaria de Finados Ao Túmulo de Pe. Cícero
Out
Dez
Festa de N. Sra. Rosario
Out
Dez
Procissao de N. Sra. do Rosario
Out
Festa de N. Sra. do Rosario
Out
Círio de Nazaré
Festa São Benedito
Out
Out
Festa do Glorioso S. Benedito
Out
Romaria Sinhá Chica
Festa do Glorioso S. Benedito
Out
Romaria Nossa S. Aparecida
Romaria São Francisco
Out
Out
Festa de N. Sra. Rosario E Moçambiques
Out
Out
Festa N. Sra. do Rosario
Festa
Festas pesquisadas
Folias, Romarias, Congadas e Fogaréu
Localidade
Out
Data
Continuação
Romarias
Congada
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Congada
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Folia de Reis
Congada
Folia de Reis
Folia de Reis
Congada
Congada
Romarias
Congada
Congada
Romarias
Romarias
Romarias
Congada
Congada
Congada
Congada
Romarias
Congado
Congada
Tipo
147
148
Folia do Divino Espírito Santo, Planaltina-DF, 2002
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Folia do Divino Espírito Santo,
Planaltina-DF, 1997
151
152
FÉsta Brasileira é o resultado de um processo fotográfico que reúne documentação e arte, utilizando
uma linguagem fotográfica singular onde a luz e as cores são os elementos principais de criação.
Apresenta um olhar apaixonado e diferenciado, que valoriza as pessoas nos contextos das suas
tradições, expondo ângulos e enquadramentos não convencionais.

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