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Expediente A Revista Brasileira de Física Médica (RBFM) é uma publicação editada pela Associação Brasileira de Física Médica. Criada em 2005, tem como objetivo publicar trabalhos originais nas áreas de Radioterapia, Medicina Nuclear, Radiologia Diagnóstica, Proteção Radiológica e Dosimetria das Radiações, incluindo modalidades correlatas de diagnóstico e terapia com radiações ionizantes e não-ionizantes, além de Ensino e Instrumentação em Física Médica. Os conceitos e opiniões emitidos nos artigos são de inteira responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos, desde que mencionada a fonte e mediante permissão expressa da RBFM. Corpo editoral Editor Científico Marcelo Baptista de Freitas – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Editores Associados Ana Maria Marques da Silva – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Denise Yanikian Nersissian – Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP) Lorena Pozzo – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN-CNEN) Patrícia Nicolucci - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) www.abfm.org.br/rbfm - [email protected] Conselho editorial Adilton de Oliveira Carneiro Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Alessandro André Mazzola Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre (RS) Alessandro Martins da Costa Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Diretoria Presidente Cecília Maria Kalil Haddad Vice-Presidente Renato Di Prinzio Secretário Geral Renato Assenci Ros Tesoureira Vilma Aparecida Ferrari Diretorias setoriais Diretoria da Área de Medicina Nuclear Lorena Pozzo Diretoria da Área de Radiologia Diagnóstica Marcia de Carvalho Silva Diretoria da Área de Radioterapia Edílson Lopes Pelosi Secretários regionais Região Sul Alessandro André Mazzola Região Centro-Sudeste Carlos Malamut Região Norte-Nordeste Nilo Antônio Menezes Endereço Rua Brigadeiro Galvão, 262 Barra Funda CEP 01151-000 São Paulo (SP), Brasil www.abfm.org.br - [email protected] PRODUÇÃO EDITORIAL Alexandre Bacelar Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS) Caridad Borrás School of Medicine and Health Sciences, Washington University, USA Carla Rachel Ono Centro de Medicina Nuclear do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) Carlos Eduardo de Almeida Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Carlos Malamut Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear, Comissão Nacional de Energia Nuclear de Minas gerais (CDTN/CNEN-MG) Leonardo Paschino Centro de Diagnóstico e Análises Clínicas, São Paulo (SP) Letícia Lucente Campos Rodrigues Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear de São Paulo (IPEN/CNEN-SP) Linda Viola Ehlin Caldas Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear de São Paulo (IPEN/CNEN-SP) Luiz Antonio Ribeiro da Rosa Instituto de Radioproteção e Dosimetria, Comissão Nacional de Energia Nuclear do Rio de Janeiro (IRD/CNEN-RJ) Cecil Chow Robilotta Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Cecília Kalil Haddad Hospital Sírio Libanês, São Paulo (SP) Martha Aurélia Aldred Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Cláudio Hissao Sibata East Carolina University, USA Martin Eduardo Poletti Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Cleber Nogueira de Souza TomoTherapy Incorporated, USA Dráulio Barros de Araujo Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Edmário A.G. Costa Radioterapia do Hospital São Rafael, Salvador (BA) Elisabeth Mateus Yoshimura Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Emico Okuno Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Gabriela Hoff Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Gian-Maria A.A. Sordi Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear de São Paulo (IPEN/CNEN-SP) Helen Jamil Khoury Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Helvécio Correa Mota East Carolina University, USA Rua Bela Cintra, 178, Cerqueira César São Paulo/SP - CEP 01415-000 Tel.: 55 11 2978-6686 www.zeppelini.com.br Laura Natal Rodrigues Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear de São Paulo (IPEN/CNEN-SP) Maria Inês Calil Cury Guimarães Centro de Medicina Nuclear do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) Gunther Drexler Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Uma empresa do Grupo ZP Laura Furnari Beneficência Portuguesa, São Paulo (SP) Homero Lavieri Martins Hospital A.C. Camargo, São Paulo (SP) José Carlos da Cruz Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP) José Willegaignon de Amorim de Carvalho Centro de Medicina Nuclear (HC-FMUSP) Michael Stabin Vanderbilt University, USA Oswaldo Baffa Filho Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Paulo Roberto Costa Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Regina Bitelli Medeiros Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Ricardo Tadeu Lopes Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ) Simone Kodlulovich Dias Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Tânia Aparecida Correia Furquim Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP) Teógenes Augusto da Silva Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear, Comissão Nacional de Energia Nuclear de Minas Gerais (CDTN/CNEN-MG) Thomaz Ghilardi Netto Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP) Walter Siqueira Paes Serviço de Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP) Sumário Sumário Editorial 219 Ao mestre Bitelli, com carinho... Thomaz Bitelli, 4 de janeiro de 1927 – 09 de setembro de 2011 Regina Bitelli Medeiros Artigo de Revisão 221 Dosimetria por ressonância magnética eletrônica Electron magnetic resonance dosimetry Jorge A. Gómez, Angela Kinoshita, Felipe Chen, Eder J. Guidelli, Amanda B. Rech, Guilherme Alves, Oswaldo Baffa Artigos Originais 233 Simulated intensity profiles for cylindrical objects in magnification mammography: the effect of the spectrum Simulação de perfis de intensidade de objetos cilíndricos em mamografia com amplificação: o efeito do espectro Karla-Denaly Palma-Alejandro, Alberto Valdeolivas, Tatiana Alieva, Margarita Chevalier, Eduardo Guibelalde, María-Ester Brandan 239 Análise dos efeitos da filtração adicional em feixes de raios X a partir dos cálculos de energia média por fóton em espectros de raios X Analysis of the additional filtration effects in X-ray beams from the calculation of average energy for photon in X-ray spectra Rodrigo F. Lucena, Maria da Penha A. Potiens 245 O uso de ilustrações no ensino e no setor de radiologia como uma proposta para construção dos conceitos de física radiológica e radioproteção The use of illustrations in teaching and the department of radiology as a proposal for construction of the concepts of radiological physics and radiation protection Leandro C. Luiz, Luís Fernando de Oliveira, Rafaela T. Batista Associação Brasileira de Física Médica® 217 Editorial Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):219-20. Ao mestre Bitelli, com carinho... Thomaz Bitelli, 4 de janeiro de 1927 – 09 de setembro de 2011 O Professor Thomaz Bitelli começou sua vida profissional na Divisão Health Physics, em 1957, no antigo Instituto de Energia Atômica (IEA, hoje Comissão Nacional de Energia Nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN), em São Paulo, levado pelo Professor Rômulo Ribeiro Pieroni. Iniciou como estagiário desse instituto, permanecendo assim entre 1957 e 1958. Foi uma das 17 pessoas que assistiram a primeira criticalização de um reator nuclear no hemisfério sul, o reator nuclear IEA-R1. Em 1959, por indicação do saudoso Professor Abrahão de Moraes, começou a trabalhar na Divisão de Física e Higiene das Radiações do Centro de Medicina Nuclear da Universidade de São Paulo (USP), lá permanecendo até 1970, na condição de chefe da Divisão de Física e organizador de inúmeros cursos na área de Higiene e Dosimetria das Radiações. O Centro de Medicina Nuclear tinha, em sua programação, cursos internacionais que se realizavam anualmente e, entre os mais procurados por profissionais de toda América Latina, além dos brasileiros, destacavam-se o de Higiene das Radiações e Proteção Radiológica e de Metodologia de Radioisótopos. Foram mais de 10 anos realizando cursos de especialização e pós-graduação por ano. Também nas décadas de 1960 e 1970, assumiu a titularidade das disciplinas Introdução a Física Nuclear e Dosimetria e Higiene das Radiações no curso de Bacharelado em Física da Universidade Mackenzie. A última disciplina citada foi por ele criada, sendo o berço do que hoje se chama de Física Médica, e serviu de primeiro contato e porta de entrada para inúmeros profissionais de renome que hoje labutam na aplicação da Física à saúde humana. Nesse mesmo esteio, o Professor Thomaz Bitelli ajudou a criar, em 1969, a então Associação Brasileira de Físicos em Medicina, hoje Associação Brasileira de Física Médica (ABFM), sendo seu primeiro presidente no biênio 1969–1971. A ABFM foi criada em 25 de agosto 1969 com alguns poucos físicos e promissores jovens do curso de Física do Mackenzie, após visita e sugestão do Dr. John Cameron, na época Presidente da Associação Americana de Física Médica, com apoio do Dr. Tede Eston, então diretor do Associação Brasileira de Física Médica® 219 Medeiros RB Centro de Medicina Nuclear da USP, e do Professor Shigueo Watanabe. Após 1970, o Professor Bitelli se dedicou ao ensino nas áreas de graduação, especialização e pós-graduação no campo da Higiene e da Dosimetria das Radiações a profissionais não só da área da Saúde, mas também da industrial, qualificando profissionais na área de controle de qualidade nos chamados ensaios não destrutivos. Foi professor da graduação do curso de Física e de Engenharia durante 38 anos na Universidade Mackenzie e 26 anos na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Foi ainda professor da Faculdade de Medicina da Organização Santamarense de Educação e Cultura (OSEC) da Escola Paulista de Medicina (EPM), e de outras tantas com menor participação. Em 50 anos de atividades na área da Física (19532003), o mestre Bitelli, como era conhecido, mesmo apos sua aposentadoria, passou a coordenar cursos de especialização, muitos deles patrocinados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear e pela Associação Brasileira de Ensaios não Destrutivos (ABENDE). 220 Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):219-20. Sempre expondo de forma didática assuntos relativamente complexos, o Professor Thomaz Bitelli procurou passar às dezenas de profissionais que formou, em seus quase 50 anos de dedicação, a ideia de que o emprego da radiação pode ser desastroso nas mãos de pessoas despreparadas, mas que, se na de profissionais competentes, pode realizar verdadeiros prodígios, beneficiando, assim, de forma extraordinária, toda a sociedade. Casado durante 62 anos, pai de 4 filhos e avô de 10 netos, deixou para a família, amigos e colegas o exemplo de competência, ética, dinamismo, positivismo e generosidade, traços marcantes de sua personalidade nos 84 anos que esteve entre nós. Regina Bitelli Medeiros Docente do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP) [email protected] Artigo de Revisão Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. Dosimetria por ressonância magnética eletrônica Electron magnetic resonance dosimetry Jorge A. Gómez1, Angela Kinoshita1,2, Felipe Chen1,3, Eder J. Guidelli1, Amanda B. Rech1, Guilherme Alves1, Oswaldo Baffa1 Grupo de Ressonância Magnética Aplicada, Departamento de Física da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) – Ribeirão Preto (SP), Brasil. 2 Universidade do Sagrado Coração (USC) – Bauru (SP), Brasil. 3 Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (UFABC) – Santo André (SP), Brasil. 1 Resumo A Ressonância Magnética Eletrônica (RME) tem sido utilizada como método dosimétrico utilizando diversos materiais, e vem mostrando seu grande potencial em aplicações médicas e industriais, tais como na dosimetria retrospectiva em casos de acidentes radiológicos e como método padrão de medida de altas doses de radiação na indústria de alimentos. Este artigo apresenta uma introdução dos princípios físicos da RME e sua aplicação na dosimetria das radiações ionizantes, através de uma completa revisão dos trabalhos sobre dosimetria por RME realizados desde 1992 pelo nosso grupo de pesquisa e por outros grupos brasileiros. Espera-se informar à comunidade de física médica brasileira sobre essa técnica dosimétrica e com isso fomentar possíveis colaborações entre físicos médicos que atuam na clínica e laboratórios de pesquisa. Palavras-chave: dosimetria, espectroscopia de ressonância de spin eletrônica, alanina, esmalte dentário. Abstract Electron Magnetic Resonance (EMR) has been used as a dosimetric method using various materials, showing its great potential in many medical and industrial applications such as in dose assessments in case of radiological accidents and standard method of measurement of high doses of radiation in the food industry. This work provides an introduction to the physical principles of RME and its application in dosimetry of ionizing radiation through a complete review of dosimetry studies on RME made since 1992 by our research group and other groups in Brazil. Expecting to inform the Brazilian medical physics community about this dosimetry technique hoping to foster collaborations between medical physicists who work in clinical and research laboratories. Keywords: dosimetry, electron spin resonance spectroscopy, alanine, dental enamel. Introdução A dosimetria das radiações ionizantes utilizando a técnica de ressonância magnética eletrônica (RME), também conhecida como ressonância paramagnética eletrônica (RPE) ou ressonância de spin eletrônico (RSE), é um método dosimétrico amplamente explorado e que vem mostrando seu grande potencial em diversas aplicações médicas e industriais tais como em avaliações de dose em caso de acidentes radiológicos e como método padrão de medida de altas doses de radiação na indústria de alimentos. Inclusive, na atualidade, a RME é a única técnica experimental capaz de realizar dosimetria retrospectiva de forma não destrutiva, usando integrantes do corpo (dentes, ossos, unhas, cabelos) como dosímetros. O grupo de pesquisa de Ressonância Magnética Aplicada1, pertencente ao Departamento de Física da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), tem como uma de suas principais linhas de pesquisa a dosimetria das radiações ionizantes utilizando a RME. Apesar de o grupo ter sido criado formalmente somente em 2006, este grupo de pesquisa vem desenvolvendo estudos na área de dosimetria por RME desde o ano de 19921-25. Em todos estes trabalhos, a RME tem sido utilizada para estudar as propriedades dosimétricas de diversos materiais, procurando: i) avaliar e/ou desenvolver novos materiais a serem utilizados como dosímetros; ii) realizar uma dosimetria retrospectiva aplicada à datação; iii) estudar a aplicação da dosimetria de RME com novos materiais em casos de Grupo de Pesquisa Certificado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Brasil. Correspondência: Jorge A. Gómez e Oswaldo Baffa – Departamento de Física – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – Avenida Bandeirantes, 3.000 – CEP 14040-901 – Ribeirão Preto (SP), Brasil – E-mail: [email protected] / [email protected] 1 Associação Brasileira de Física Médica® 221 Gómez JA, Kinoshita A, Chen F, Guidelli EJ, Rech AB, Alves G, Baffa O acidentes radiológicos; e iv) otimizar a sensibilidade de dosímetros. Assim, os estudos realizados por este grupo de pesquisa têm sido focados nas propriedades dosimétricas da alanina, esmalte dental, sacarose, ossos, peixes, conchas fósseis, ossos humanos, esterilização de cortes de frango, adoçantes, dentes restaurados, goma arábica e cabelo humano1-25. Existem outros grupos no Brasil que também realizam pesquisas nessa área: Instituto de Física da USP (IFUSP)26-36, Instituto de Pesquisas Nucleares (IPEN)27-36, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)37-43, Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia-Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPEUFRJ)37,39-42,44 e, mais recentemente, no Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)45. As referências associadas a esses grupos são uma amostra dos trabalhos realizados pelos mesmos e poderão informar o leitor do que tem sido feito e motivá-lo a um contato. O presente artigo pretendeu rever os princípios físicos que levam a entender o fenômeno da RME e sua posterior aplicação em dosimetria, assim como também revisar os progressos nas pesquisas de dosimetria por RME realizados por nosso grupo de pesquisa. Princípios físicos da ressonância de spin eletrônico Paramagnetismo eletrônico A magnetização na matéria surge da circulação de carga em escala atômica, que está associada diretamente com o momento dipolar magnético µ . De fato, classicamente em um material magnético em escala atômica é possível verificar a existência de pequenas correntes provocadas por elétrons orbitando ao redor do núcleo atômico e elétrons rotacionando em seus próprios eixos. Macroscopicamente, esses laços de corrente elétrica são tão pequenos, que a entidade básica que os representa em estudos magnéticos é o que conhecemos como dipolo magnético. Tipicamente, estes dipolos magnéticos anulam-se mutuamente devido às orientações aleatórias dos átomos. Mas, na presença de um campo magnético aplicado, cada dipolo magnético tende a se alinhar em certa direção, e o meio (material) fica magnetizado ou magneticamente polarizado. Na presença de um campo magnético, os dipolos magnéticos experimentam um torque mecânico, portanto, a direção destes dipolos magnéticos será, por definição, a direção do campo magnético H , sempre que o dipolo seja pequeno e fraco o suficiente para não perturbar o campo existente. A magnitude deste torque mecânico N , exercido sobre o dipolo magnético µ é dada por: N= µ x B . Este torque explica o pa- ramagnetismo eletrônico, quando tende a alinhar o dipolo magnético na direção do campo. Dado que cada elétron constitui um dipolo magnético, poderíamos esperar que o paramagnetismo fosse um fenômeno universal. Mas, as leis da mecânica 222 Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. quântica, em particular o princípio de exclusão de Pauli, nos dizem que os elétrons em um dado átomo se encontram em pares com spins opostos, neutralizando o torque do par eletrônico. Como resultado, o paramagnetismo ocorre em átomos ou moléculas com um número ímpar de elétrons, em que o elétron desemparelhado é alinhado, sob efeito do torque magnético. Porém, este alinhamento está longe de ser completo devido às flutuações térmicas, que provocam colisões aleatórias tendendo a destruir esse ordenamento. Cada elétron tem associado um dipolo magnético µ definido em termos de seu momento de spin s e de seu momento angular orbital l . Os momentos de spin e os momentos angulares es- tão acoplados de várias formas em átomos diferentes. O esquema de acoplamento mais comum é o acoplamento de Russell-Saunders, no qual os vários vetores l1,l2,...ln de diferentes elétrons se combinam formando um vetor resultante L , e os vários vetores de spins s1,s2,...sn se combinam formando o vetor resultante s . Desta forma, o acoplamento de Russell-Saunders define que o momento dipolar magnético µ associado a “n” elétrons está associado aos vetores L e S da seguinte forma: µ = µL+ µn . Esta é a forma mais geral que o vetor µ pode ter em uma simetria esférica, dado que fisicamente possui apenas duas componentes de carga presentes resultantes do movimento orbital e do spin. O vetor µL representa o momento magnético dipolar orbital e o vetor µs representa o momento magnético dipolar de spin, tal que: µL= -βL e µs= -geβS , onde o sinal negativo é produto da carga do elétron, β é o magnéton de Bohr β= eh 2mec é o fator de desdobramento espectroscópico do elétron. Através da interação de seus momentos magnéticos dipolares associados µL e µs , os vetores L e S são acoplados e formam o vetor de momento angular total J (J = L+S) . A energia do acoplamento entre L e S é: E = λ L ∙ S , em que λ é a constante de acoplamento spin–órbita. Assim, quando um campo magnético H é aplicado, o dipolo magnético µ tem uma energia de interação (Eq. 1). E = −μ∙H = −(μL + μs)∙H = β(L + geS)∙H (1) Ressonância magnética eletrônica A ressonância magnética eletrônica (RME) estuda as transições de dipolos magnéticos de origem eletrônica, diferentemente da ressonância magnética nuclear (RMN), que estuda a ressonância magnética utilizando dipolos magnéticos nucleares. As transições de dipolos magnéticos, induzidas por campos magnéticos aleatoriamente oscilantes, são transições produzidas por excitações térmicas de outros graus de liberdade do sistema, tais como vibração ou translação. Estes mecanismos constituem os processos conhecidos por relaxação spin–rede. Se o Dosimetria por ressonância magnética eletrônica sistema paramagnético está em equilíbrio térmico, os níveis de energia mais baixos do sistema magnético estarão majoritariamente ocupados, e, portanto, eles absorverão, majoritariamente, a energia dos campos oscilantes. Na RME, o desdobramento dos níveis de energia de um sistema paramagnético (níveis de energia Zeeman) é produzido pela aplicação de um campo magnético H . Assim, na presença deste campo magnético, os níveis de energia de um elétron, com momento angular de spin S = S , são separados em 2S + 1 níveis energéticos Zeeman. O elétron é um férmion com S = ½ , assim ele possui dois níveis energéticos Zeeman diferentes E+ e E-, denotados tradicionalmente por ms= +1/2 e ms= – 1/2, respectivamente. O sinal + denota o momento magnético de spin com sentido paralelo ao campo magnético aplicado H , e o sinal – com sentido antiparalelo. ms corresponde à projeção do spin na direção do campo magnético H . Assim, utilizando a expressão da energia de interação de um dipolo magnético quando um campo magnético é aplicado, Eq. 2, e desprezando o termo de momento angular, os dois níveis do elétron diferem em energia: 1 βH = g βH ΔE = E+ − E− = +−1 geβH − −−g e 2 e 2 (2) O fator de desdobramento espectroscópico do elétron ge é chamado comumente de fator-g. Desta forma, as transições de dipolos magnéticos entre os níveis de energia Zeeman podem ser induzidas utilizando radiação eletromagnética de frequência ν, desde que tenha um campo magnético associado perpendicular ao campo H que produz o desdobramento, e que cumpra a igualdade: ΔE=hv. Portanto, para um determinado valor de campo magnético H que produz o desdobramento dos níveis de energia Zeeman, e para uma determinada radiação eletromagnética de frequência ν, a condição de ressonância das transições de dipolos magnéticos de origem eletrônica é dada pela Eq. 3. hv = geβH1 (3) Energia E E0 Em equilíbrio térmico, os níveis Zeeman são ocupados de acordo com a distribuição de Boltzmann: ∆E N+ KT = e , em que N+ e N_ são as populações de spins N− B nos estados ms = +1/2 e ms = –1/2, respectivamente. Esta situação de equilíbrio térmico pode ser alterada quando, sobre o sistema, é aplicado um campo oscilante de micro-ondas de frequência ν que satisfaça a condição de ressonância entre os níveis Zeeman dada pela Equação 3. Em um experimento de RME, as condições de ressonância são atingidas aplicando uma varredura de campo magnético H=(t) para produzir o desdobramento dos níveis de energia Zeeman do sistema paramagnético, e utilizando uma radiação de micro-ondas de frequência ν, constante e perpendicular a H=(t) , de forma a sintonizar um valor do campo magnético H = (t˙) necessário para satisfazer a condição de ressonância: hv = geβH. Assim, a detecção do sinal espectroscópico de RME de um material é possível através da medida da variação na absorção da radiação de micro-ondas de frequência ν constante aplicada para provocar a ressonância. Esta medida é realizada por um diodo detector de micro-ondas, e o sinal de absorção obtido pode ter uma forma de uma curva Gaussiana ou Lorentziana, dentre outras, onde o valor da integral desta curva é proporcional à concentração de spins que produz este sinal. Para se aumentar a sensibilidade da detecção, o campo magnético H=(t) é modulado e o sinal é detectado utilizando-se um amplificador Lock-in. Isso faz com que o sinal de RME que é detectado seja a primeira derivada desta curva de absorção. A seguir, como exemplo, se considera um sistema isolado com spins S=1/2, isto é, elétrons sem interações com os spins dos núcleos atômicos. Assim, quando produzido o experimento de RME, e o valor do campo magnético aplicado seja H = (t˙) = H , este sistema satisfará a condição de ressonância: hv=geβH. A Figura 1 mostra como é obtido o sinal de RME para o sistema descrito anteriormente. E+= E0 + 1 geβH 2 ΔHpp hv ΔE = E+– E− = geβH E−= E0 − 1 geβH 2 App H H Campo Magnético Figura 1. Ressonância magnética eletrônica de um sistema com spin 1/2: desdobramento eletrônico Zeeman e sinal de RME. Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. 223 Gómez JA, Kinoshita A, Chen F, Guidelli EJ, Rech AB, Alves G, Baffa O Como mostra a Figura 1, o sinal de RME de um sistema de spins S=1/2 pode ser caracterizado por um determinado valor do campo magnético da ressonância H, a amplitude pico a pico do sinal App, e o valor da largura de linha pico a pico ΔApp. A medida da intensidade do sinal de RME, ou seja, a medida de concentração de spins que produz este sinal é associada ao valor da dupla integral deste sinal ou à medida da amplitude pico a pico do sinal App, que em certas condições, é diretamente proporcional à concentração de centros paramagnéticos. Varias frequências de micro-ondas são utilizadas nos espectrômetros de RME: banda L (ν~1GHz), banda S (ν~2 GHz), banda-X (ν ~ 9,45 GHz), banda-K (ν~24 GHz), banda Q (ν~36 GHz) e banda W (ν~95 GHz). Esses equipamentos permitem que se realizem medidas que podem resultar em uma maior sensibilidade e/ou resolução espectrais. A utilização de frequências de microondas mais altas que a banda-X, como as bandas K, Q e W, produz maior resolução das linhas dos espectro RME, melhorando a razão sinal-ruído do espectro. Isso porque a aplicação de um campo magnético mais intenso, aumenta a separação entre os níveis de energia. Dessa forma, o espectro se torna mais resolvido e detalhado, melhorando a acurácia nas medidas de amplitudes, da largura de linha e do fator g. Dosimetria por ressonância magnética eletrônica Radiações com energia suficiente podem ionizar a matéria, extraindo os elétrons de seus estados de ligação atômicos. Estes elétrons desemparelhados podem ser armadilhados por impurezas ou defeitos inerentes do material, formando átomos e/ou moléculas com excesso e deficiência de elétrons quase estáveis. É fácil observar que a produção de elétrons desemparelhados no material será função da quantidade de energia depositada, e, portanto, uma medida da concentração desses elétrons desemparelhados pode ser utilizada como uma medida da energia depositada pela radiação no meio, ou seja, como medida da dose absorvida. É neste contexto que a RME aparece como uma técnica a ser utilizada para quantificar dose absorvida, devido a sua capacidade de detectar espécies com elétrons (spins) desemparelhados. Desta forma, como a dosimetria por RME quantifica a dose absorvida através do monitoramento de elétrons desemparelhados que são gerados ou destruídos pela radiação ionizante. A curva dose-resposta de um material utilizando esta técnica será construída com os valores da intensidade do espectro de RME para cada dose, ou seja, pelas medidas da amplitude pico a pico App ou pelas medidas da dupla integral do sinal. Portanto, a curva dose-resposta será como mostrado na Figura 246. A Figura 2 mostra que quando ocorre a formação de elétrons desemparelhados, a intensidade I do espectro de RME, é linearmente proporcional à dose absorvida D e 224 Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. ao tempo de irradiação t. Assim, a curva dose-resposta é descrita simplesmente por I(t) = cDt, onde c é uma constante. Para se aplicar esta técnica em dosimetria retrospectiva, a dose equivalente DE é determinada por irradiações aditivas. Quando um material apresenta uma curva dose-resposta como a mostrada na Figura 2, é esperado que ele seja um bom dosímetro por RME. Porém, ele também deve apresentar estabilidade e sensibilidade, que dependerão do tempo de vida dos radicais originados pela radiação, das doses depositadas e da energia da radiação. A seguir é apresentada uma revisão dos trabalhos realizados por nosso grupo de pesquisa, nos quais a RME foi utilizada para o estudo das propriedades dosimétricas de alanina, esmalte dental e outros materiais alternativos, tais como sacarose, aminoácidos, ossos, adoçantes, goma arábica e cabelo humano. Dosimetría de RME de alanina O ácido 2-aminopropanóico comumente conhecido por alanina é um aminoácido essencial que participa da biossíntese molecular. A Figura 3 mostra como sua estrutura molecular é composta por um grupo carboxílico (COOH), um grupo amino (NH2), um grupo metil (CH3) e um átomo de hidrogênio, todos ligados a um átomo de carbono central. O grupo metil é o responsável por diferenciá-la dos demais aminoácidos, fazendo da alanina o menor e mais simples aminoácido. A alanina possui estrutura cristalina com célula unitária ortorrômbica formada por quatro moléculas47. A interação da radiação ionizante com as moléculas de alanina desencadeia uma série de reações que dão origem a radicais com centros paramagnéticos48. O radical paramagnético mais estável corresponde à quebra da ligação entre o grupo NH2 do restante da molécula48. Dessa forma, a presença de um elétron desemparelhado junto ao carbono central é o que lhe confere propriedades paramagnéticas e é responsável pelo surgimento da linha central do espectro, como mostrado na Figura 4. As linhas adjacentes são decorrentes de interações hiperfinas do elétron desemparelhado com os quatro átomos de hidrogênios presentes no radical CH3–C•H–COO-. Assim, o espectro de RME característico da alanina irradiada consiste em uma linha central de maior amplitude e quatro linhas laterais de menor intensidade3. Desta forma, os centros paramagnéticos assim criados podem ser detectados mediante os correspondentes espectros de RME. Particularmente, a técnica de dosimetria RME com alanina baseia-se na determinação da concentração de elétrons desemparelhados produzidos pela interação da radiação ionizante com as moléculas do aminoácido alanina49. Basicamente, consiste no registro do espectro de RME (sinal do primeiro harmônico-1h) da alanina irradiada (Figura 4) em determinadas condições experimentais. Para propósitos de dosimetria, a amplitude h da linha central do espectro pode ser correlacionada diretamente com a dose de radiação e Dosimetria por ressonância magnética eletrônica DE )] (D t/ I[ 1+ H3 N C C I= CH3 I0 Figura 2. Dosimetria por ressonância magnética eletrônica utilizando o incremento da intensidade do sinal após irradiação. Adaptada de Ikeya46. interpreta-se como a “leitura” do dosímetro50. Para um determinado intervalo de dose, a variação da amplitude h com a dose apresenta uma relação linear (Figura 5). Para alanina, o comportamento linear da curva dose-resposta se estende desde alguns poucos Gy até aproximadamente 100 kGy e, acima deste valor, a curva é sublinear alcançando uma região de saturação passando por um máximo em ~1000 kGy50. Além de mostrar este comportamento linear num amplo intervalo de dose, a alanina possui outras qualidades que a fazem um material dosimétrico adequado: resposta independente da energia da radiação acima de 100 keV, e independência com a taxa de dose50. Já no começo dos anos 80, a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA – International Atomic Energy Agency) escolheu a alanina, dentre vários tipos de dosímetros, para usá-la no programa de padronização de doses altas devido às seguintes qualidades: pouco decaimento do sinal de RME com o tempo (estabilidade temporal); os dosímetros não requerem nenhum tratamento químico nem térmico antes e depois da irradiação; o sinal não é destruído depois do registro do espectro, permitindo guardar os dosímetros para uma reavaliação posterior51. Na atualidade, a dosimetria RME com alanina é uma técnica amplamente aceita para a dosimetria de altas doses (da ordem de kGy), como aquelas usadas nos processos de irradiação de alimentos e esterilização de produtos médicos52-54. Esta técnica também tem sido testada comparando-a com outras técnicas dosimétricas na radioterapia14,55-60. Apesar disso, pesquisas têm sido realizadas com outros materiais que se mostram mais sensíveis que a alanina. Exemplos destes materiais são: 2-metil-alanina, sulfatos e lactatos de lítio e magnésio, tartarato de amônio, ácidos malônico e sulfanílico, formatos de amônio, lítio e magnésio, ditionato de lítio60-66. Minidosímetros de 2-metil-alanina junto com um espectrômetro de RME operando 8 DL - alanina 6 4 irradiada com 20 Gy 2 h 0 -2 -4 -6 -8 -10 -12 320 325 330 335 315 Campo Magnético (mT) Sinal de RPE (10-5 V) Dose Figura 3. Estrutura molecular da alanina, um aminoácido empregado para dosimetria das radiações ionizantes que é equivalente ao tecido. Figura 4. Espectro ressonância magnética eletrônica da alanina irradiada. As linhas tracejadas mostram as cinco linhas do espectro. A amplitude pico a pico da linha central (h) correlaciona-se diretamente com a dose. 6 Curva de calibração 5 Amplitude h (10-5 V) DE OH cD t 0 I= Intensidade RME O 4 3 2 1 0 0 5 10 15 Dose de radiação (Gy) 20 Figura 5. Curva de calibração mostrando uma relação linear entre a amplitude (h) e a dose de radiação. Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. 225 Gómez JA, Kinoshita A, Chen F, Guidelli EJ, Rech AB, Alves G, Baffa O em banda-K, já foram testados na dosimetria de campos pequenos usados em radiocirurgia17. Assim, pesquisas têm sido realizadas adicionando-se materiais como dopantes em minidosímetros de alanina, buscando uma melhora de sua sensibilidade19. A adição de iodeto de potássio (KI) em L-alanina, em pequenas proporções (5, 10 ou 15%), aumentou a produção de radicais livres quando irradiados com raios X de baixas energias, aumentando a sensibilidade do dosímetro19. A adição de iodeto de chumbo em diferentes proporções também foi testada e as amostras foram irradiadas com diferentes energias de raios X e com cobalto-6020. A sensibilidade dos dosímetros aumentou à medida que foi aumentada a quantidade do material dopante, apresentando um sinal de maior intensidade quando utilizado uma concentração de 15% de KI . Para fótons de raios X com energia efetiva em torno de 50 keV, o aumento na intensidade do sinal, com relação aos dosímetros não dopados e irradiados em cobalto-60, foi de 2,2, de 3,4 e de 4,5 vezes para as amostras contendo 5, 10 e 15% de KI19. Esses resultados podem ser explicados pelo fato de que a presença dos iodetos em meio à alanina promove um aumento do coeficiente de absorção fotoelétrico, aumentando assim a ocorrência desse fenômeno. Dessa forma, os elétrons ejetados pelo efeito fotoelétrico possuem energia cinética suficiente para produzir outros radicais livres em sua interação com a molécula de alanina, além do radical já produzido diretamente pela interação com os fótons. Esses estudos realizados possibilitaram então conclusões importantes a respeito da inserção de materiais dopantes em dosímetros de alanina. De acordo com a literatura, a produção de radicais livres na alanina é devido às interações diretas entre os fótons e as moléculas de alanina. A presença de dopantes com um alto número atômico promove então a liberação de um grande número de elétrons quando fótons de baixa energia incidem na amostra19. Estes elétrons liberados são então responsáveis pelo desencadeamento de uma série de reações químicas envolvidas na formação de radicais livres na alanina. Infelizmente, este ganho de sensibilidade implica na redução de sua equivalência ao tecido20. A aplicação de dosímetros de alanina pode ser encontrada desde procedimentos de radioterapia a irradiação de alimentos. Um exemplo disso foi a utilização de dosímetros de alanina no controle de qualidade dos procedimentos de irradiação de bolsas sangue3. A dose calculada no centro da bolsa de sangue era 20 Gy. As doses, mínima e máxima, foram de 14 e 23 Gy, respectivamente, e a dose média foi de 18±2 Gy com uma variância de 11,1%3. Assim, os dosímetros de alanina demonstraram ser de fácil manuseio, boa precisão e sensibilidade adequada para esta aplicação, assim como no caso de irradiação de alimentos9. Dosimetria de RME com minidosímetros de alanina Convencionalmente, a dosimetria RME com alanina é realizada usando um espectrômetro de RME operando 226 Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. em banda-X50-57. Como consequência, pode-se utilizar dosímetros com dimensões de 4,5 mm de diâmetro e entre 3–10 mm de altura, e com uma massa na faixa de 60–200 mg. Este sistema tem permitido detectar sinais de RME de dosímetros irradiados com doses de até 1 Gy com uma boa relação sinal/ruído, permitindo à aplicação destes dosímetros na radioterapia convencional, onde são utilizados campos grandes de radiação (10x10 cm2)50-57. Entretanto, essas dimensões usuais são relativamente grandes, dependendo da aplicação a ser dada, conforme descrito a seguir. O desenvolvimento constante de novos procedimentos de irradiação de tumores, que buscam poupar os tecidos sadios adjacentes, leva ao surgimento de novas técnicas de tratamento na radioterapia tais como radioterapia com intensidade modulada do feixe (IMRT – Intensity Modulated Radiotherapy) e radiocirurgia. Estas técnicas têm por característica a utilização de feixes de radiação de alta energia e campos pequenos de radiação (<4x4 cm2). Esta última característica obriga a realizar a dosimetria com dosímetros de tamanho milimétrico devido à presença de um alto gradiente de dose e à falta de equilíbrio eletrônico lateral. Foram Mack et al.60 os primeiros a reportar o uso de minidosímetros (raio e altura de 1 mm) de alanina na dosimetria em radiocirurgia. Porém, para se conseguir detectar um sinal no espectrômetro de banda-X, eles tiveram a necessidade de irradiar os minidosímetros com doses mínimas de 150 Gy, o que tornou inviável a aplicação prática da dosimetria de RME de alanina em campos pequenos de radiação. Com o intuito de vencer esse obstáculo, demonstramos o uso de minidosímetros de alanina junto com um espectrômetro de RME operando em banda-K, tornando possível a aplicação da dosimetria de RME de alanina na dosimetria de campos pequenos de radiação. Apesar dessa ideia ter surgido em meados de 2001, o primeiro artigo nesta área foi publicado no ano de 200511. Neste trabalho foram elaborados minidosímetros de DL-alanina com policloreto de vinil (PVC) em proporção de alanina/PVC de 40/60%. As dimensões nominais desses minidosímetros foram de 1,5 mm diâmetro com 2,5 mm altura e, massa de aproximadamente 5 mg. Com o espectrômetro banda-K foi possível detectar sinais correspondentes a doses da ordem de 5 Gy11. Este minidosímetro foi usado para determinar o perfil do feixe de um campo 3x3 cm2 num feixe de raios X gerado com 10 MV. Posteriormente, para diminuir ainda mais o limite inferior de detecção e melhorar a exatidão na determinação da dose, os minidosímetros de DL-alanina/PVC foram substituídos por minidosímetros de L-alanina/parafina e 2-metil-alanina/parafina na proporção em ambos de 80/20% e com dimensões nominais de 1 mm de diâmetro e 3 mm de altura, com massa entre 3–4 mg. Com esses dois tipos de minidosímetros e usando o espectrômetro de banda-K, foi possível detectar doses tão baixas quanto 0,5 Gy16. Esses minidosímetros foram utilizados para determinar o fator de campo e perfil do feixe para Dosimetria por ressonância magnética eletrônica campos pequenos (por exemplo: 0,5x0,5 cm2 e 1x1 cm2) com um feixe de raios X de 6 MV14-17. Outra área onde a dosimetria de RME com alanina ainda não tem sido aplicada é na dosimetria em radiodiagnóstico, a qual envolve o uso de feixes de fótons de baixa energia (entre 20–60 keV). Sabe-se que a sensibilidade da alanina pura diminui cerca de 40% para fótons com energias menores de 100 keV em relação à sensibilidade para a radiação produzida por uma fonte de cobalto-6049. Com o propósito de melhorar a sensibilidade da alanina aos fótons de baixa energia, minidosímetros de L-alanina com polivinil álcool (PVA) foram dopados com iodeto de potássio (KI) em diferentes proporções e irradiados com feixes de fótons de diferentes energias (raios X gerados com 80, 120, 250 kV e 10 MV; e raios gama de cobalto-60 ). O resultado encontrado foi um incremento em sensibilidade de quase cinco vezes para raios X gerados com 120 kV (Eeff ~ 43 keV) comparado com os raios gama do cobalto-60 nos minidosímetros dopados com 15% de KI em relação aos não dopados (só alanina)19. Um incremento em sensibilidade ainda maior foi encontrado usando o iodeto de chumbo (PbI2) como dopante20. Com estes minidosímetros dopados foi possível detectar sinais produzidos por doses tão baixas quanto 10 mGy abrindo a possibilidade de aplicação deles na dosimetria em radiodiagnóstico em áreas como mamografia, radiologia intervencionista e tomografia computadorizada20. Outra opção de aplicação seria na caracterização dosimétrica de fontes de braquiterapia de baixa energia tais como césio-131 (~30 keV), iodo-125 (~35 keV), paládio-103 (~21 keV). Uma colaboração entre o nosso grupo de pesquisa e um grupo do IPEN sobre a caracterização dosimétrica de fontes de iodo-125 usando minidosímetros dopados com PbI2 já está em andamento. Outro trabalho usando os minidosímetros de L-alanina/ PVA (95/5%) e banda-K foi desenvolvido para determinar curvas de porcentagem de dose profunda (PDP) em meios não homogêneos e com campos tão pequenos quanto 0,5x0,5 cm2 e raios X de 6 MV. O objetivo foi testar se o minidosímetro era capaz de detectar as descontinuidades na curva PDP nas interfaces tecido-ar e tecido-osso. Os resultados encontrados foram muito similares quando comparados com filme radiográfico e simulação Monte Carlo (PENELOPE)67. Aplicações clínicas da dosimetria de RME de alanina Tipicamente, a avaliação de doses administradas no decorrer de um tratamento radioterápico é realizada ex situ utilizando uma câmara de ionização55. Porém, este procedimento desconsidera o fato de que o valor da dose absorvida não é mensurado diretamente no meio de interesse, o que pode levar a uma avaliação errada da dose absorvida. Um método alternativo para a avaliação de doses in situ em órgãos ou regiões do corpo humano é a utilização da técnica dosimétrica de RME com alanina. Conforme já mencionando, a alanina pode ser considerada tecido equivalente, pode ser moldada em diferentes formas e tamanhos e, sua curva dose-resposta para doses da ordem de 1 Gy é linear55. O primeiro relato clínico de dosimetria de RME com alanina foi publicado em 1993, mostrando uma sensibilidade e acurácia maior (3% para 0,6 Gy) que a dosimetria termoluminescente56. Devido à ampla experiência de trabalhos com dosimetria de RME com alanina, iniciamos diversos trabalhos de aplicação clínica desta técnica. Por exemplo, um estudo da interferência de próteses metálicas nas doses radioterápicas utilizadas no decorrer de um tratamento de câncer de próstata esta sendo desenvolvido. Este estudo é realizado utilizando um simulador físico com próteses metálicas localizadas na cabeça do fêmur, Figura 6. Este objeto simulador possui as medidas de um ser humano e é constituído de acrílico e água, simulando o tecido mole e os elementos ósseos. Os dosímetros de alanina foram posicionados na região da próstata e foram analisados em três diferentes situações: sem próteses metálicas, com uma prótese metálica e com duas próteses metálicas. É de se esperar que os resultados deste trabalho produziram uma maior precisão no tratamento radioterápico do câncer de próstata. Outro estudo clínico de dosimetria de RME com alanina que está sendo desenvolvido é a verificação da dose administrada na região da cúpula vaginal de pacientes com câncer de colo uterino ou endométrio, e que são submetidas ao tratamento radioterápico de fonte externa. Neste trabalho os dosímetros são de L-alanina encapsulados na forma cristalina e inseridos na paciente com o auxílio de um aplicador vaginal (Figura 7). Para validar este trabalho, foi considerado o estudo prévio com o objeto simulador, em que a marcação das cápsulas na paciente é feita pelo sistema de planejamento computadorizado utilizado no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto (Figura 8). Deste modo, se espera verificar a dose administrada e comparar os valores obtidos com os informados pelo planejamento do tratamento de radioterapia, colaborando para o controle de qualidade exigido. Figura 6. Objeto simulador utilizado para o estudo da interferência de próteses metálicas nas doses radioterápicas utilizadas no decorrer de um tratamento de câncer de próstata. Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. 227 Gómez JA, Kinoshita A, Chen F, Guidelli EJ, Rech AB, Alves G, Baffa O A B Figura 7. Cápsula de L-alanina (a). Aplicador vaginal para a inserção dos dosímetros de alanina (b). A B Figura 8. Objeto simulador de pelve (a). Imagem axial e sagital para a demarcação da localização das cápsulas contendo L-alanina (b). Imagens feitas com sistema de planejamento computacional XiO versão 4.6 da Elekta. Dosimetria de RME de hidroxiapatita: esmalte dental A hidroxiapatita (Hap), Ca10(PO4)6(OH)2, é uma forma mineral da apatita de cálcio e que está presente nos tecidos mineralizados e compõem de 95 a 97% do esmalte dental, de 70 a 75% da dentina e de 60 a 70% dos ossos. Quando a radiação ionizante interage com esses tecidos, radicais livres são gerados na Hap e a concentração desses radicais gerados é função da dose depositada. Assim, a RME pode detectar esses radicais e sua concentração associada à dose depositada, possibilitando o uso de integrantes do corpo humano como dosímetros, condição extremamente interessante e importante em casos de exposições acidentais66. A fisiologia do tecido ósseo faz com que a matriz mineral (Hap) seja constantemente remodelada, e, com isso, a informação a respeito da dose pode ser destruída. Essa condição não ocorre no esmalte dental, onde radicais livres estáveis são gerados pela radiação e, portanto, esse é o tecido mais apropriado para a dosimetria por RME. Outra vantagem do esmalte dental está na sua constituição, já que a concentração de Hap é a maior de todos os outros tecidos. O principal radical gerado na Hap e que é utilizado na dosimetria por RME é o CO2-, que se deve à presença de impurezas de carbonatos (CO32-) na matriz da Hap. Esse grupo pode substituir o grupo OH- (sítio A) ou o 228 Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. PO43- (sítio B)68. Esse radical apresenta-se principalmente com simetria axial e ortorrômbica. Através de experimentos com apatitas naturais (dentes e ossos) e sintéticas irradiadas, Rudko et al.69 determinaram que mecanismo de formação do radical CO2- axial envolve o decaimento do radical CO33- ligados ao sítio B da Hap. Basicamente, o mecanismo de formação do radical proposto é constituído de dois estágios, com a participação do elétron gerado pela ionização: CO32- + e → CO33- → CO2O radical CO2- possui um tempo de vida estimado em 107 anos (25°C), o que permite o seu uso para fins de datação arqueológica, onde a dose é depositada no material fóssil (ossos e dentes) pela radiação ambiental (radiação cósmica e pelos radioisótopos presentes no ambiente)46. Tendo o conhecimento da taxa de dose, a dose depositada pode ser convertida em idade. Datação por RME tem sido realizada por nosso grupo, fornecendo bons resultados, através de dentes humanos70, de megafauna71-74, conchas75 e espeleotemas76. No espectro de RME do esmalte dental irradiado também pode ser observado um sinal largo com fator g=2,0045, o qual é atribuído aos componentes orgânicos do esmalte. Esse sinal não é estável e não se relaciona com a irradiação da amostra, assim, não é utilizado na dosimetria. Outros radicais derivados dos carbonatos presentes no espectro RME são o CO369-77 e o radical CO2- isotrópico, que é observável apenas com uso de espectrômetros de alta frequência, banda-Q (~35 GHz) ou banda-K76. Conforme já mencionado, o radical CO2- é o responsável sinal dosimétrico. Através de simulação computacional é possível realizar a deconvolução espectral, ou seja, extrair a componente dosimétrica do sinal composto, a fim de se construir a curva dose resposta, conforme mostra a Figura 9. Alguns procedimentos relacionados ao preparo do esmalte, ou seja, sua extração do dente reduzem o sinal orgânico. Uma delas é através do uso de solução de pH alcalino (hidróxido de sódio, por exemplo, saturado) que destrói a parte orgânica do dente. Outros métodos para separação do esmalte envolvem uso de brocas de uso em dentística, que pode ser monitorado pela fluorescência com uso de fonte UV (360nm)78. Outro procedimento envolve tratamento térmico, uma vez que os coeficientes de dilatação térmica do esmalte e da dentina são distintos. A amostra é congelada em nitrogênio líquido e aquecida em temperatura ambiente. Após algumas repetições do procedimento o esmalte destaca-se da dentina70. A reconstrução da dose depositada é feita pelo método de doses aditivas. A amostra irradiada com uma dose desconhecida, como em um acidente, por exemplo, é submetida a novas irradiações, com doses conhecidas, através de uma fonte calibrada. O espectro de RME é registrado para cada dose aditiva e então se constrói a curva dose-resposta, associando a intensidade do sinal dosimétrico (usualmente em g^) com a dose aditiva. A extrapolação da curva obtida fornece o valor da dose originalmente depositada. Dosimetria por ressonância magnética eletrônica Geralmente, uma função exponencial ajusta-se aos valores experimentais da curva dose-resposta46: I = I0 1 – e- (D+De ) D0 g g , onde I é a intensidade do sinal de RME, I0 e D0 representam a intensidade e a dose na saturação, respectivamente, D a dose aditiva e De a dose inicialmente depositada na amostra. A dependência do sinal de RME em função da energia da radiação foi estudada por diversos autores. Baffa e Mascarenhas79 mostraram equivalência na produção de centros paramagnéticos pelas fontes de cobalto-60, césio-137 e estrôncio-90. Outro resultado similar encontrou equivalência nas respostas de ossos irradiados com fótons e elétrons de alta energia (2 a 10 MeV)80. Estudo similar foi realizado para outros materiais15. Essas informações asseguram o uso de determinadas fontes radioativas para reconstrução da dose depositada. A literatura relata vários exemplos do uso da dosimetria por RME em dentes e ossos dos quais se destaca um dos trabalhos pioneiros realizado por Mascarenhas (1973), que observou um sinal intenso em ossos da vítima da Bomba-A (Hiroshima)81. Posteriormente, trabalhos com dentes de vítimas de outros acidentes foram desenvolvidos, como os de Chernobyl82, complexo nuclear de Mayak e habitantes da região do rio Techa nos Montes Urais83, e no Brasil, de Goiânia84. Um dos trabalhos desenvolvidos no grupo envolvendo acidentes foi realizado por Kinoshita et al.8 através de uma amostra de osso de uma vítima em acidente com fonte de cobalto-60 em Arequipa, Peru. Nesse trabalho, a dosimetria por RME foi confrontada por dosimetria citogenética, pelo método FISH, resultando em boa concordância. A dosimetria por RME utilizando ossos também pode ser aplicada para casos clínicos, como o trabalho também realizado por nosso grupo, onde se determinou a dose depositada por fontes não seladas estrôncio-90 e samário-1534, que são radioisótopos utilizados em radioterapia sistêmica. Atualmente a dosimetria utilizando esmalte dental é uma das mais importantes ferramentas para a determinação de doses em casos acidentais e o limite de detecção em dose é de 100 mGy, utilizando de 100 a 200 mg de esmalte85. Os aspectos técnicos estão bem estabelecidos e encontram-se no protocolo da IAEA86 e discutidos em um recente artigo de revisão85. Métodos de dosimetria in vivo utilizando dentes e outros tecidos (unhas) e cabelos estão sendo desenvolvidos87-89, no entanto, métodos in vitro continuam sendo a melhor opção por fornecer resultados mais precisos. Com isso, recentemente nosso grupo desenvolveu dois trabalhos, ambos visando aperfeiçoar a dosimetria por RME in vitro utilizando esmalte dental23,24 . No primeiro, métodos para extração da menor massa possível, sem a necessidade de extração do dente, para se detectar o sinal dosimétrico oriundo de doses de 100 mGy (limite de Mn2+ Mn2+ Dosimetrico Sinal Nativo Simulado 330 332 334 336 338 340 Campo Magnético (mT) 342 Figura 9. Sinal dosimétrico de ressonância magnética eletrônica do esmalte dental experimental e simulado. Os sinais de Mn2+ são utilizados para calibração do sinal. detecção) minimizando interferência de artefatos foram testados23. Encontramos que 25 mg são suficientes para se detectar o sinal dosimétrico utilizando espectrômetro em banda-X e que de 5 a 10 mg são suficientes para essa determinação, utilizando espectrômetro em banda-K23. A remoção dessa quantidade de esmalte é facilmente restaurável utilizando procedimentos padrões em dentística, recuperando completamente a funcionalidade e estética do dente23. No segundo trabalho, estudamos a influência de material de restauro na dosimetria por RME, condição importante em casos onde a vítima não possua dente hígido para se proceder ao protocolo padrão24. Encontramos que para energias da radiação gama da fonte de cobalto-60 e raios X (35 kV, 30 mA), a atenuação produzida por resinas e amálgama é similar àquela produzida pelo próprio esmalte, sinalizando que a direção relativa entre a fonte radioativa e a posição de extração do esmalte podem influenciar na dosimetria por RME24. Dosimetria de RME de materiais alternativos As propriedades dosimétricas da alanina, tais como a tecido-equivalência50, estabilidade do sinal RME90 e independência energética para fótons com energias acima de 100 keV50 são bem conhecidas. No entanto, a sensibilidade da alanina não é adequada para realização da dosimetria de feixes estreitos de radiação, como os utilizados em radioterapia de intensidade modulada (IMRT) e radiocirurgia60. Dessa forma, assim como os trabalhos desenvolvidos por nosso grupo com minidosímetros de alanina dopados, outras pesquisas têm sido realizadas buscando-se novos materiais que apresentem as mesmas propriedades que a alanina, porém com maior sensibilidade. A 2-metil-alanina, por exemplo, apresenta sensibilidade cerca de Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. 229 Gómez JA, Kinoshita A, Chen F, Guidelli EJ, Rech AB, Alves G, Baffa O 70% maior que a alanina12, e doses em torno de 10 Gy é possível de ser detectada, possibilitando sua aplicação procedimentos de radiocirurgia12,17. Além de aplicações clínicas, é muito importante encontrar materiais alternativos para estimar a dose recebida pela população em casos de acidentes radiológicos. Nesse cenário surge então a dosimetria retrospectiva que utiliza técnicas de dosimetria como a termoluminescência91, a luminescência opticamente estimulada92 e ressonância de spin eletrônico21,22,93 em materiais retirados da região exposta à radiação. Os materiais analisados são dos mais diversos tipos, desde cerâmicas94 até plásticos95 e adoçantes2,8,21,22,93. Nesse contexto, foram analisadas as propriedades dosimétricas de açúcares e adoçantes adquiridos no comércio, o que os torna, portanto, um material facilmente encontrado nos domicílios21. Para isso, utilizou-se alíquotas de 100 mg de adoçantes baseados em sacarina e ciclamato para a obtenção dos espectros de RME antes e após a irradiação com raios gama21. Embora os adoçantes utilizados apresentassem composições diferentes, os espectros de RME obtidos após a irradiação foram iguais para todas as amostras analisadas. Analisando a composição dos adoçantes pode-se notar que todos apresentavam grande quantidade de lactose em sua formulação. Assim, a intensidade do sinal RME foi maior para as amostras que apresentavam maior quantidade de lactose em sua composição. Portanto, pode-se concluir que o sinal produzido pela ação da radiação ionizante é proveniente da lactose presente nos adoçantes21. Os adoçantes contendo lactose apresentaram resposta a doses de radiação tão pequenas quanto 500 mGy, podendo assim ser utilizados em casos de acidentes radiológicos. No entanto, o rápido decaimento da intensidade do sinal torna necessário o uso de correções para uma avaliação efetiva de dose21. A sacarose também apresenta propriedades dosimétricas que a torna de grande valia na realização da dosimetria retrospectiva2. Ela é tecido-equivalente, é encontrada com grande abundância (isto porque a sacarose é o açúcar mais comumente utilizado), e não requer nenhum tratamento prévio para torná-la radiossensível2. Além disso, a sacarose apresenta comportamento linear com a dose desde 0,1 Gy até 100 kGy2. Assim como os açúcares e adoçantes, a goma arábica também apresenta resposta de RME com a dose de radiação25. Ela é muito utilizada como espessante na indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica, tendo-se demonstrado recentemente que ela pode ser efetivamente descontaminada por radiação ionizante sem efeitos adversos nas propriedades físicas dos produtos finais96. Dessa forma, a dosimetria retrospectiva por RME pode ser aplicada como um método de medida de dose e controle de irradiação de produtos contendo goma arábica. O nosso estudo de amostras irradiadas de goma arábica revelou a formação de pelo menos dois tipos de radicais livres gerados pela radiação ionizante, mostrando também 230 Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):221-32. um comportamento linear da intensidade do sinal de RME com a radiação25. No entanto, a presença de radicais livres nas amostras irradiadas apresenta um decaimento temporal, limitando a aplicação da dosimetria retrospectiva por RME como método de controle até 60 dias após a irradiação inicial com doses de 5 kGy25. Conclusões O conhecimento de radicais gerados pela radiação ionizante, sua detecção e quantificação por RME consiste de uma ferramenta que pode ser aplicada a diversos problemas relacionados à Física Médica. Olhando em retrospectiva esses anos todos, podemos dizer que nosso grupo de pesquisa tem contribuído significativamente no desenvolvimento da área de dosimetria por RME, abrindo sempre novas possibilidades de aplicação e tornando a dosimetria por RME uma técnica de dosimetria tão importante quanto às outras já tradicionais (dosimetria termoluminescente, filme) dentro da área de Dosimetria das Radiações Ionizantes. Agradecimentos Os autores são gratos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte financeiro parcial nos trabalhos desenvolvidos pelo nosso grupo de pesquisa. Agradecemos ao Prof. Harley F. Oliveira e todos os físicos do Serviço de Radioterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo pela colaboração na irradiação de amostras. Também agradecemos aos técnicos do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, em particular a Carlos Alberto Brunello, pelo excelente suporte técnico em todos esses anos. Referências 1. Alexandre AC, Baffa O, Nascimento OR. The influence of measurement and storage conditions on alanine ESR dosimeters. 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Facultad de Medicina, Universidad Complutense de Madrid – Madrid, Spain. 3 Facultad de Ciencias Físicas, Universidad Complutense de Madrid – Madrid, Spain. 1 2 Abstract We present a user-friendly Matlab simulation interface tool to predict intensity profiles for magnified X-ray images of weakly attenuating cylindrical objects, including phase effects. Based on a previous monoenergetic formalism, we now consider polyenergetic X-ray beams and we study the effect of the spectral description on the predicted phase contrast. It was found that, for weakly attenuating objects with diameters <≈1 mm, detailed resolution in the spectrum description is not necessary. Simulations are compared with images of cylindrical objects, which were obtained under conditions found in a commercial digital mammography system. The magnification images of phantom plastic fibers show weak, however visible, edge enhancement due to phase contrast. The polyenergetic simulations provide an improved description of the data with respect to the effective energy monoenergetic assumption. Keywords: phase contrast, edge enhancement, X-ray spectra, digital mammography, image analysis. Resumo Apresentou-se uma ferramenta de simulação com interface amigável desenvolvida em Matlab para prever os perfis de intensidade de imagens de raios X magnificadas de objetos cilíndricos de pouca atenuação, incluindo efeitos de fase. Com base no formalismo monoenergético anteriormente desenvolvido, considera-se agora os feixes de raios X polienergéticos e estuda-se o efeito da descrição espectral no contraste de fase previsto. Para objetos de pouca atenuação, com diâmetros <≈1 mm, verificou-se que a resolução detalhada na descrição do espectro não é necessária. Imagens de objetos cilíndricos obtidas em sistemas de mamografia digital comerciais foram comparadas às simulações. As imagens de magnificação de fibras plásticas empregadas como simuladores mostraram pouco, porém visível, realce de borda devido ao efeito de contraste de fase. As simulações dos feixes polienergéticos forneceram uma melhor descrição dos dados em relação à aproximação de feixes monoenergéticos. Palavras-chave: contraste de fase, realce de borda, espectros de raios X, mamografia digital, análise de imagem. Introduction X-ray phase contrast (PC) imaging is perceived as a powerful tool for imaging weakly attenuating objects1-11, expected to represent a breakthrough in Diagnostic Radiology. Conventional X-ray relies on differences in attenuation between tissues to produce the image. However, the interaction of X-rays with matter also leads to changes of the electromagnetic wave phase, which can be radiologically visible under certain conditions3,6,8,10,11. PC provides a better visualization of the edges, due to the gradient of the real part of the refraction index between materials. Phase changes induce interference and generate bright and dark stripes around object edges. This effect is complementary to the contrast produced by attenuation. Both properties are contained in the medium complex refractive index n, which, for X-rays, can be expressed as n=1-δ+iβ, where δ is the index of refraction decrement that describes the X-ray phase shift, and the imaginary part β is responsible for the attenuation. The macroscopic phase shift of the X-rays after propagating in a given material is directly proportional to the integral of δ over the trajectory. The β component of n takes into account the added probabilities of Rayleigh, photoelectric and Compton interactions, and Corresponding author: María-Ester Brandan – Instituto de Física, Universidad Nacional Autónoma de México – Circuito de la Investigación Científica, s/n, Ciudad Universitaria – Coyoacán 04510 – México (DF), México – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 233 Palma-Alejandro K, Valdeolivas A, Alieva T, Chevalier M, Guibelalde E, Brandan M Numerical simulation The formalism to simulate the detected intensity profile, presented by Chevalier et al.11, is a two-dimensional theoretical treatment based on Fresnel diffraction theory restricted to weakly attenuating cylindrical objects, considering an incoherent, monochromatic, and extended X-ray source. Applying Van Cittert-Zernike theorem, we have obtained the mutual intensity at the object plane from the intensity distribution of the incoherent source11. An analytical solution for the normalized intensity at the detector plane of a radiation field after passing through the object is derived in paraxial approximation. The detector response effect is introduced by the measured modulation transfer function (MTF). In the polyenergetic simulation, we have calculated the profile for each energy bin using the relative photon fluence from zero to the maximum energy. Energy-dependent real and imaginary index of refraction values for polypropylene are obtained and interpolated from Henke, Gullikson and Davis16, and those for nylon are calculated using the online resources in the same paper mentioned16, assuming C6H11NO composition and density 1.14 g cm-3 (average for nylon17). For nylon, δ and β values are 1.045E-05 and 5.106E-08 at 5 keV, and 2.882E-07 and 9.375E-11 at 30 keV, respectively. Typically within this energy range, δ (β) 0.1 0.08 0.06 0.04 0.02 0 Materials and methods 234 Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):233-38. 5 0.12 0.1 Fluence (a.u.) Spectral resolution Polyenergetic X-ray spectra, typical of those used in mammography, have been simulated following the formalism developed by Boone, Thomas and Jennings14. The spectrum is parameterized by a third-order polynomial dependent on the tube operating voltage and the beam attenuation by filter materials is analytically taken into consideration. Polynomial coefficients for same anode/filter/voltage combinations have been previously determined in the Medical Physics Laboratory at the UNAM Physics Institute15. The filtered spectra were binned (every 0.5 keV) to optimize the numerical computation time. Figure 1a shows two representative calculated spectra and Figure 1b illustrates the effect of different bin sizes on a molybdenum (Mo) spectra. a) W spectrum- 25 kV, 1 mm Al filter Mo spectrum- 25 kV, 0.025 mm Mo filter 0.12 Fluence (a.u.) it is directly proportional to the macroscopic linear attenuation coefficient μ12. Two requirements are necessary to observe the PC: the radiation field must have a certain degree of spatial coherence at the object position, and the detector must be placed at a certain distance away from the object (magnification conditions), for the interference fringes to be visible1-11. PC can be of relevance to radiological images of soft tissues, particularly in mammographic images, where certain breast tissues attenuate X-rays similarly. Some publications have reported the possible use of PC imaging for mammography clinical applications6,9. The radiological image of a cylinder is of particular interest, since blood vessels and other ducts in human anatomy have a cylindrical shape. Plastic fibers (with diameters <1 mm), which simulate vasculature of the mammary gland, are currently used in quality control phantoms for mammography systems, and edge enhancement in cylindrical objects has been observed using polychromatic X-ray spectra7,10,11. Previously10,11, we have reported PC effects in the magnification images of plastic fibers inserted into the TORMAM mammography phantom13, which was acquired with a Hologic Selenia mammographic unit (70 μm pitch size detector). These observations have been interpreted by a diffraction-based simulation, assuming a monoenergetic X-ray beam. Olivo and Speller have presented a formalism5 to simulate PC effects in magnification images of plastic fibers, taking into account the X-ray spectrum. They predicted a weak dependence, which is validated using an experimental arrangement optimized for the observation of PC effects. Based on our previous monoenergetic formalism10,11, the aim of this work was to consider polyenergetic beams to study the effect of the spectral description on the predicted PC effects and to compare them with data obtained under magnification conditions available in a clinical mammography unit. 10 15 Energy (keV) 20 25 b) 0.5keV bin size 1 keV bin size 5 keV bin size 0.08 0.06 0.04 0.02 0 5 10 15 Energy (keV) 20 25 Figure 1. (a) Calculated energy spectra for W and Mo anodes, 25 kV, using Al or Mo filters (0.5 keV bin size); (b) molybdenum spectra, 25 kV, 0.025 mm Mo filter, for different bin sizes. Simulated intensity profiles in magnification mammography for nylon is 1.2 (1.6) times that for polypropylene. The object diffraction pattern is the incoherent sum of discrete profile intensities, normalized to the background18. Fast Fourier Transform (FFT) of the pattern is numerically obtained and multiplied by the detector MTF to include the effect of spatial resolution in the image receptor. Inverse FFT of the product is the simulated object intensity profile (Figure 2). To facilitate the use of this simulation, a Matlab tool has been developed as a user-friendly interface (called Sook’Oochel-Prof Sim, Figure 3) offering the choice between anodes (W and Mo) and filters (Al, Mo, and Nb). It also offers the choice between a type of material (polypropylene and nylon) for the fiber composition. This tool displays the spectrum according to the selected number of bins as well as the simulated intensity profile, allowing graphical and numerical storage of the results. were those in the TORMAM phantom13. For each thickness, four fibers are arranged in a “chicken foot” geometry, one “horizontal” fiber, one “vertical”, and two at ±45º with respect to the vertical central fiber. The phantom was manually positioned so that central fibers were parallel (within 0.5–1.5º) to the cathode-anode axis, and the fiber groups were located close to the radiation field central axis. The edge enhancement (percentage) was quantified by the following expression (Eq. 1): EE= 100 Imax – I 0 (1) I0 Results and discussion Spectral resolution Figure 4 shows intensity profiles simulated for the experimental conditions described for different choices of bin size. In general, the U-shaped attenuation profile expected for a cylindrical object has been modified at the edges, due to phase effects5,11. The object attenuation at the center of the fiber is about 3%, and the edge enhancement is about 1% outside the object border. The predictions converge for bins smaller than 3.7 keV (in a 26 keV spectral interval). Comparison with data Simulations are compared with profile intensity measurements obtained in a Hologic Selenia digital mammography system, 100 µm nominal focal spot, 26 kV nominal operating voltage, Mo anode, Mo filter (0.025 mm thick), 25 cm source-object distance and 65 cm source-detector distance (i.e., magnification=2.6), and 10 mm long cylindrical fibers of diameter between 0.20 and 0.40 mm11. Fibers Intensity profiles for each energy 0.05 Sum of intensity profiles (object diffraction) x 10-7 1.25 Fluence (a.u.) Relative Intensity 6 0.04 sum 5 0.03 4 1 0 5 10 15 20 Energy (keV) 25 30 1.1 1 0.95 2 0.01 1.2 1.15 1.05 3 0.02 Relative Intensity 7 0.9 0.85 0 -2.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 Distance (m) 1 1.5 2 2.5 x 10-3 0.8 -2.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 Distance (m) 1 1.5 2 2.5 x 10-3 FFT Detector modulation transfer function 1 1.03 1.01 1 0.99 FFT - Diffraction pattern 101 100 0.8 1.02 MTF Relative Intensity 1.04 Multiplication 0.6 10-1 FFT Intensity profile recorded by the detector 10-2 0.4 0.98 0.97 10-3 0.2 0.96 0.95 -2.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 Distance (m) 1 1.5 2 2.5 x 10-3 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Spatial frecuency (mm-1) 18 10-4 -500 -400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400 500 Spatial frecuency (mm-1) Figure 2. Simulation algorithm. The example corresponds to a 0.8 mm diameter fiber, magnification=2.0 and Mo/Mo 30 kV X-ray spectrum. Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):233-38. 235 Palma-Alejandro K, Valdeolivas A, Alieva T, Chevalier M, Guibelalde E, Brandan M Figure 3. User interface (called Sook’Oochel-Prof Sim) for intensity profile simulation. 1.015 1.01 8.7 keV bin size (3 bins) 2.0 keV bin size (13 bins) 1.0 keV bin size (26 bins) 0.5 keV bin size (52 bins) 1.005 Relative Intensity 1 0.995 0.99 0.985 0.98 0.975 0.97 0.965 -1 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 Distance (m) 0.4 0.6 0.8 1 x 10-3 Figure 4. Intensity profiles for a 0.6 mm diameter polypropylene fiber, Mo anode, 0.025 mm Mo filter, magnification=2.0, polyenergetic spectra, 26 kV, different energy bin sizes. 236 Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):233-38. Simulated intensity profiles in magnification mammography 15 keV 26 kV, Mo/Mo, 13 bins Experimental data (26kV, Mo/Mo) 1.02 Polyenergetic Monoenergetic 1.02 1.01 Relative Intensity Relative Intensity 1.01 1.015 1 0.99 0.98 1.005 1 0.995 0.99 0.985 0.97 -1 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 Detector plane distance (m) 0.8 1 x 10-3 0.98 -1 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 Detector plane distance (m) 0.8 1 x 10-3 Figure 5. Simulated intensity profiles for a 0.6 mm diameter polypropylene fiber, magnification=2.0. Solid curve is for a Mo/Mo spectrum (26 kV-3.7 keV bins) and dashed curve is for a 15 keV monoenergetic spectrum. Figure 6. Data11 and simulation for the 0.3 mm diameter fibers, including the one shown in the inset. Symbols are the data, dashed curve is monoenergetic (at effective energy 15 keV), and solid curve is the polyenergetic intensity simulation of a nylon fiber at magnification equal to 2.6. Simulations as a function of the spectrum Figure 5 compares the mono- and polyenergetic simulations. For the monoenergetic case, the effective energy of the X-ray beam (evaluated from half-value layer measurements11) was used. Predicted edge enhancement is about 1.1% above the background for the monoenergetic case; this value decreases to about 0.9% if the complete spectrum is considered. Differences of similar magnitude are visible at the fiber center, where use of the complete spectrum reduces the transmission by about 0.2%. Even if the values of δ and β vary strongly over the energies relevant to these simulations, the observed features in the simulated fiber profile show a relatively weak dependence on the consideration of the polyenergetic spectrum. These predictions of a weak effect agree qualitatively with the previously mentioned results5, which were obtained with similar X-ray spectra under experimental conditions optimized for the observation of phase effects. A possible explanation could be the presence of scattered radiation, unaccounted for in the formalism. The polyenergetic simulation improves the agreement with the observations, but it still overpredicts the magnitude of the effect external to the edge. Comparison with data Figure 6 shows the measured intensity profile of the 0.3 mm diameter group of fibers at magnification=2.6. This profile is the average of the measurements for the central and ±45º fibers of the group (profiles for the three fibers were quantitatively similar and they were averaged to reduce intensity fluctuations). For comparison, the monoand polyenergetic simulations are also shown. Simulations reproduce the loss of the U-shaped attenuation and the presence of edge enhancement, both due to phase effects. Data display an edge enhancement of about 0.4% above background and calculations predict a ≈0.8% effect (0.75% polyenergetic and 0.85% by the monoenergetic simulation). The quantitative disagreement between data and simulations displayed in Figure 6 (observations are about 50% of predictions) occurs for all fiber diameters. Conclusions We have presented a versatile Matlab simulation tool to predict intensity profiles for magnified images of cylindrical objects obtained under conditions, which permit PC effects to be visible. We have found that, for objects with diameters <1 mm, the detailed resolution in the spectrum description is not necessary. We have obtained an improved description of the data in the polyenergetic simulation, with respect to the assumption of a single effective energy. However, this improvement is still insufficient to reach a quantitative agreement with observations. On the other hand, the measured profile shape is well-described by the simulation. Observations and calculations of PC effects are small (≈1% edge enhancement), nevertheless of interest for conditions found in a commercial mammographic unit. Acknowledgments Authors acknowledge partial support from Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), grant PAPIITIN102610. TA acknowledges the financial support of the Spanish Ministry of Science and Innovation, under project TEC2008-04105. KDPA acknowledges support from Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología, CONACyTMexico, for postgraduate studies scholarship. Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):233-38. 237 Palma-Alejandro K, Valdeolivas A, Alieva T, Chevalier M, Guibelalde E, Brandan M References 1. Fitzgerald R. Phase-sensitive X-ray imaging. Physics Today. 2000;53(7):23-6. 2. Lewis RA, Rogers KD, Hall CJ, Hufton AP, Evans S, Menk RHE, Tromba G, et al. Diffraction-enhanced imaging: improved contrast and lower dose X-ray imaging. Proceedings of the SPIE (Medical Imaging). San Diego, CA, USA: SPIE; 2002. p. 286-97. 3. Lewis RA. Medical phase contrast X-ray imaging: current status and future prospects. Phys Med Biol. 2004;49(16):3573. 4. Wilkins SW, Gureyev TE, Gao D, Pogany A, Stevenson AW. Phasecontrast imaging using polychromatic hard X-rays. Nature. 1996;384: 335-8. 5. Olivo A, Speller R. Polychromatic phase contrast imaging as a basic step towards a widespread application of the technique. Nulc Instr Meth A. 2007;580:1079-82. 6. Kotre CJ, Birch IP. Phase contrast enhancement of X-ray mammography: a design study. Phys Med Biol. 1999;44(11):2853. 7. Yadava PS, Yogesh K, Sarkar PS, Amarinha S, Godwal BK. Study of phase contrast imaging for carbon fiber, polystyrene and lung tissue using monochromatic and polychromatic X-ray sources. Nucl Instr and Meth A. 2006;564:496-505. 8. Ingal VN, Beliaevskaya EA, Brianskaya AP, Merkurieva RD. Phase mammography - a new technique for breast investigation. Phys Med Biol. 1998;43(9):2555. 9. Yamazaki A, Ichikawa K, Kodera Y. Investigation of physical image characteristics and phenomenon of edge enhancement by phase contrast using equipment typical for mammography. Med Phys. 2008;35(11):5134-50. 238 Revista Brasileira de Física Médica.2011;5(3):233-38. 10. Brandan ME, Chevalier M, Guibelalde E, Rodrigo JA, Alieva T. Observation of edge-enhancement in digital images obtained with a clinical mammography unit. In: Olaf Dössel, Wolfgang C. Schlegel, editors. Proceedings of the World Congress on Medical Physics and Biomedicine. Munich, Germany. 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Moya UE, Brandan ME, Martínez-Dávalos A, Ruiz-Trejo C, RodríguezVillafuerte M. Parameterization of X-ray spectra appropriate for microCT scanners. Nucl Instr Meth. 2010;613(1):152-5. 16. Henke BL, Gullikson EM, Davis JC. X-ray interactions: photoabsorption, 545 scattering, transmission, and reflection at E = 50-30000 eV, Z = 1-9. Atomic data and nuclear data tables 1993. [cited 2010 october]. Available from: http://henke.lbl.gov/optical_constants/getdb2.html. 17. MatWeb Material Property Data, Overview of materials for Nylon 66, Unreinforced. 1999. [cited 2011 November ]. Available from: http://www. matweb.com/search/DataSheet.aspx?bassnum=O2500&group=General 18. Born M, Wolf E. Principles of Optics. Oxford: Pergamon; 1980. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):239-44. Análise dos efeitos da filtração adicional em feixes de raios X a partir dos cálculos de energia média por fóton em espectros de raios X Analysis of the additional filtration effects in X-ray beams from the calculation of average energy for photon in X-ray spectra Rodrigo F. Lucena e Maria da Penha A. Potiens Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN/CNEN) – São Paulo (SP), Brasil. Resumo Este trabalho teve como objetivo analisar o comportamento dos espectros de raios X, por meio do cálculo da energia média em cada espectro gerado para diferentes filtrações adicionais inseridas no feixe de raios X. Para isso, foram utilizados: um sistema de radiação X do Laboratório de Calibração de Instrumentos do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), para a geração dos feixes de raios X, e um de espectrometria com detector de estado sólido (semicondutor), para fazer a aquisição dos dados e filtros de alumínio e cobre com diversas espessuras a serem inseridos na saída do feixe de raios X. A energia média por fóton foi calculada, integrando-se a curva de cada espectro e dividindo o valor pelo número total de contagens. Este cálculo possibilitou verificar que o uso de filtrações nos aparelhos de raios X contribui de forma significativa na energia média do feixe de raios X. Dessa forma, uma mesma dose recebida por um paciente ou registrada por um detector possui energias médias distintas com o uso de filtrações com materiais e espessuras diferentes, o que possibilita a manipulação do feixe de raios X por meio das filtrações adicionais. Palavras-chave: espectrometria de raios X, filtração adicional, energia média. Abstract The objective of this work was to analyze the behavior of X-ray spectra by calculating the average energy in each spectrum generated for different additional filtrations inserted in the X-ray beam. It was used an X-ray system present in the Laboratory of Instruments Calibration of the Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) for the generation of X-ray beams, a spectrometry system with a solid state detector (semiconductor) to the data acquisition and aluminum and copper filters, with different thicknesses to be inserted in the output of the X-ray tube. The average energy per photon was calculated integrating the curve of each spectrum and dividing the value by the total number of counts. This calculation enabled us to verify that the use of filtration in the X-ray equipment contributes significantly in the average energy of the X-ray beam. Thus, the same dose received by a patient or recorded by a detector has distinct average energies due to the use of filtrations with different materials and thicknesses, which allows the manipulation of X-ray beam through additional filtration. Keywords: X-ray spectrometry, additional filtrations, average energy. Introdução As atividades relacionadas à utilização de radiação ionizante são baseadas em três princípios essenciais de proteção radiológica: justificação apropriada à utilização da radiação; limites de dose, nos quais os riscos decorrentes da exposição à radiação são considerados aceitáveis; e otimização dos níveis de radiação, sempre que for possível1,2. Esses princípios devem ser respeitados, já que toda exposição a qualquer radiação ionizante pode provocar danos à saúde do ser humano por meio dos efeitos biológicos provocados por essa radiação. A otimização dos níveis de radiação estimulou o estudo mais aprofundado das características dos feixes de radiação a serem utilizados em clínicas de radioterapia, radiodiagnóstico e nos laboratórios de calibração de Correspondência: Rodrigo F. Lucena – Universidade de Avenida – Avenida Arlindo Béttio, 1.000 – CEP: 03817-000 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 239 Lucena RF, Potiens MPA detectores de radiação. Isso fez com que, com o passar do tempo, a precisão e a exatidão fossem melhoradas para a determinação das doses, ou seja, passou a existir uma tendência em se enfatizar a necessidade por alta precisão e exatidão. O conhecimento do espectro de raios X é de grande importância para entender os diversos estágios na produção de uma imagem diagnóstica, com o intuito de reduzir ao máximo a dose no paciente e, ao mesmo tempo, otimizar a qualidade de imagem3. Os espectros de raios X são obtidos a partir de dispositivos que possibilitam não só a contagem de fótons de raios X no volume sensível, mas também o registro e a distinção da energia desses fótons. A disponibilização do número de contagens, em função da energia dos fótons, resulta no espectro de raios X, o qual é essencialmente dividido em uma curva contínua, proveniente dos fótons gerados pelo freamento de elétrons, com picos no decorrer da curva dos fótons gerados como radiação característica. Além disso, o espectro de raios X apresenta fótons adicionais, provenientes da radiação de fundo presente no ambiente e de possíveis retroespalhamentos provocados pela geometria do laboratório e pelo posicionamento dos equipamentos no local de trabalho. Para gerar um determinado espectro de raios X, é necessário levar em consideração diversos parâmetros físicos (corrente elétrica, tensão nominal, filtração intrínseca e adicional etc.), os quais modificam algumas características do espectro. Dependendo de como esses parâmetros são configurados – os que são configuráveis –, características como amplitude, energia média, comprimento do intervalo energético do espectro, dentre outras, serão alteradas. A filtração adicional produz um efeito na forma do espectro induzindo a atenuação acentuada dos fótons de baixa energia, o que ocorre em menor intensidade com os fótons de alta energia. Dessa maneira, diminui-se o número de contagens diferentemente para cada valor energético, provocando a alteração da forma do espectro, assim como a redução de sua amplitude4. Segundo Birch e Marshall3, com o aumento da filtração adicional, a energia média dos fótons do espectro aumenta, ou seja, há um aumento na proporção de fótons de maior energia. A presença da filtração ajuda a atenuar o feixe de raios X, no qual essa atenuação é maior para os fótons de baixa energia, o que faz com que o detector consiga registrar um número proporcionalmente maior de fótons mais energéticos, ou seja, a energia média do feixe aumenta. O objetivo do presente trabalho foi analisar o comportamento dos espectros de raios X quando são manipuladas as filtrações adicionais inseridas no feixe de raios X, a partir do cálculo da energia média em cada espectro gerado. Esta análise é de grande importância, pois pode evitar a exposição de um paciente a grandes doses em feixes de raios X altamente energéticos. Materiais e métodos Os dados utilizados para a realização deste trabalho foram adquiridos no Laboratório de Calibração de Instrumentos (LCI), localizado nas instalações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares/Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN/CNEN), em São Paulo. Durante a aquisição dos dados, foram utilizados dois sistemas de irradiação: um de radiação X (Figura 1) de energias intermediárias, formado por um gerador de potencial constante Agfa NDT Pantak/Seifert GmbH & Co. KG (modelo ISOVOLT 160 HS) ligado a um tubo de raios X Comet, modelo MRX 160/22; e uma fonte radioativa 241Am para a calibração do sistema de espectrometria. O sistema espectrométrico utilizado foi fabricado pela empresa EG&G Ortec, modelo NOMAD-PLUS 92X (Figura 2), que possui um detector do estado sólido (semicondutor) HPGe (germânio de alta pureza), modelo GLP16195/10P. Os dados obtidos pelo espectrômetro foram registrados por um computador acoplado ao sistema Figura 1. Sistema de radiação X composto pelo gerador de potencial constante Pantak e o tubo de raios X Comet blindado com chumbo. 240 Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):239-44. Análise dos efeitos da filtração adicional em feixes de raios X de aquisição, e utilizou-se o software Maestro (modelo A65-B32, Ortec) da própria empresa fabricante do sistema espectrométrico. Foram utilizados ainda sistemas auxiliares como colimadores com 0,1 mm (liga de tungstênio, níquel e cobre) de diâmetro para delimitar o feixe de raios X durante a espectrometria, filtros adicionais de alumínio e cobre com pureza maior que 99,9% e instrumentações para a medição de grandezas como temperatura (precisão de ±0,0025ºC), umidade (precisão de 1%), pressão (resolução de 0,01%), comprimento (precisão de ±0,05 cm) e tempo (precisão de ±0,001 s). Isso permitiu que as aquisições fossem realizadas satisfatoriamente. Antes da realização das medições dos espectros nos feixes de raios X, o espectrômetro precisou ser calibrado com a fonte de 241Am. Utilizou-se o pico de 59,537 keV como referência para ajustar os canais no software Maestro, e a calibração forneceu uma precisão ao sistema de 0,12%. A calibração com apenas um pico foi possível, já que os intervalos entre os canais do espectrômetro são aproximadamente constantes, próximos do pico utilizado como referência, o que permitiu cobrir, com boa precisão, o intervalo energético utilizado neste trabalho. As medições foram efetuadas com o colimador de 0,1 mm de diâmetro posicionado próximo à janela de incidência de radiação do espectrômetro. O equipamento foi posicionado a 2,5 m do ponto focal do aparelho de raios X. Esse posicionamento distante foi escolhido pela alta sensibilidade do espectrômetro, que apresentava um tempo morto alto quando utilizado mais próximo do ponto focal. Pelo mesmo motivo de sensibilidade, uma corrente elétrica de 0,1 mA (menor valor do sistema de radiação X) Tabela 1. Energias médias por fóton, referentes aos espectros sem filtrações adicionais, às qualidades em radiodiagnóstico e às determinações de tensão de pico. Tensão nominal (kV) 25 28 30 35 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 Sem filtração Filtração (mm) Energia (keV) 0 13,54 0 20,60 0 26,09 0 34,77 0 39,73 0 45,97 Qualidades em radiodiagnóstico Filtração (mm) Energia (keV) 2,3 (Al) 28,15±0,03 2,4 (Al) 32,21±0,04 2,7 (Al) 36,52±0,04 2,8 (Al.) 40,08±0,05 3,0 (Al) 43,83±0,05 3,1 (Al) 47,27±0,06 3,2 (Al) 49,95±0,06 3,5 (Al) 54,95 4,2 (Al) 61,39 Determinação da tensão de pico Filtração (mm) Energia (keV) 2 (Al) 20,41±0,02 2 (Al) 22,02±0,03 3 (Al) 24,08±0,03 3 (Al) 26,66±0,03 10 (Al) 33,15±0,04 10 (Al) 38,18±0,05 16 (Al) 45,16±0,05 21 (Al) 58,72±0,07 2,5 (Cu) 64,55±0,08 2,5 (Cu) 68,52±0,08 3,5 (Cu) 74,56±0,09 5,5 (Cu) 80,97±0,10 6 (Cu) 84,25±0,10 6,5 (Cu) 87,10±0,10 7 (Cu) 89,79±0,11 8 (Cu) 91,69±0,11 Figura 2. Sistema espectrométrico da Ortec utilizado para a realização da espectrometria. Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):239-44. 241 Lucena RF, Potiens MPA 120000 A Contagens 100000 80000 60000 Resultados 40000 20000 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 Energia (keV) 8000 B 7000 Contagens 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 foi escolhida no painel do aparelho de raios X. Os tempos de aquisição variaram de 10 a 50 minutos, de acordo com o tipo de material da filtração adicional e sua espessura. A energia média por fóton foi calculada integrando a curva de cada espectro e dividindo o valor pelo número total de contagens. Foram efetuados três conjuntos de medições (filtros 1, 2 e 3), nos quais as filtrações foram baseadas nas necessidades do laboratório (sem filtração, qualidades em radiodiagnóstico e determinação das tensões de pico por meio de espectrometria), como pode ser visto na Tabela 1. 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 Energia (keV) 16000 14000 C As energias médias por fóton dos feixes de raios X gerados foram calculadas nos espectros adquiridos pelo espectrômetro. A Figura 3 mostra um exemplo do espectro de cada configuração de filtração, todos adquiridos respectivamente em 8, 10 e 50 minutos, em que é possível observar a diferença das formas dos espectros com o aumento da filtração adicional. Os demais espectros podem ser encontrados no texto de Lucena5. Os espectros apresentam um leve deslocamento energético para a direita em suas energias máximas, facilmente observado nos últimos pontos dos espectros. Isso se deve a uma pequena falha na calibração do sistema de radiação X, verificado também por outros medidores não invasivos de tensão de pico. A curva de cada espectro foi integrada, e o valor da energia total foi dividido pelo número de fótons registrado pelo espectrômetro, resultando nos valores da energia média por fóton, como pode ser observado na Tabela 1. Para ilustrar o aumento da energia média com aquele da espessura da filtração adicional, plotou-se um gráfico de 10000 8000 4000 55 55 2000 50 50 0 5050kVkV 7070kVkV 60 60 6000 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 Energia (keV) Energia (keV) Contagens 12000 45 45 40 40 35 35 30 30 25 25 20 20 -2 -2 Figura 3. Espectros gerados na tensão de 50 kV, na qual A foi gerado sem filtração adicional (aquisição de oito minutos), B com filtração adicional de 2,4 mm Al (aquisição de dez minutos) e C com filtração adicional de 10 mm Al (aquisição de 50 minutos). 242 Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):239-44. 00 22 10 12 12 14 14 16 16 18 18 20 20 22 22 44 66 8 10 Espessurada daFiltração Filtração de de Al Al (mm) Espessura Figura 4. Gráfico da energia média do feixe de raios X em função da espessura da filtração adicional (Al) nas tensões nominais de 50 e 70 kV. Análise dos efeitos da filtração adicional em feixes de raios X energia média por espessura de filtração das tensões nominais 50 e 70 kV (Figura 4). Os pontos foram melhores ajustados pelas Eqs. 1 e 2 para, respectivamente, as tensões de 50 e 70 kV, em que x representa a espessura da filtração adicional e E (em keV), a energia média por fóton de raios X. As barras de erro não aparecem, pois as incertezas (precisão do equipamento – 0,12%) são menores do que os próprios pontos. E=28,55+4,18 ln(x) E=30,55+9,25 ln(x) (1) (2) Discussão Nas três configurações para a geração dos espectros, observa-se que o uso de filtrações no aparelho de raios X contribui de forma significativa para a energia média do feixe de raios X, já que esta aumenta acentuadamente com o aumento da filtração adicional inserida. Tal fato ocorre devido à filtração cada vez maior dos fótons de baixa energia com o aumento da espessura da filtração. Esse fenômeno é facilmente observado nos espectros da Figura 3, em que há uma queda da amplitude nas baixas energias, inclusive dos picos característicos de baixa energia do tungstênio, com o aumento da espessura da filtração. Esse fenômeno também é observado quando troca-se o material de filtração adicional por um de maior número atômico, pois aumenta a probabilidade da interação dos fótons de baixa energia com o material e, consequentemente, aumentando a energia média. Na Tabela 1, observou-se exatamente isso. Ao substituir a filtração de alumínio pela de cobre, a energia média aumentou, mesmo o cobre tendo espessura um pouco inferior ao alumínio. Portanto, pode-se manipular a energia do feixe de raios X, utilizando os parâmetros espessura e material da filtração adicional. As equações referentes aos pontos ajustados no gráfico da Figura 4 sugerem o crescimento acentuado da energia média nos primeiros aumentos da espessura do material; porém, aos poucos, a energia média tende a se estabilizar, indicando que os fótons de baixa energia foram praticamente absorvidos e que o aumento da espessura da filtração nesse intervalo não influenciará tanto para o aumento da energia média. Conclusões Nas três configurações para a geração dos espectros neste trabalho, o estudo das energias médias por fóton em cada caso foi de importância significativa, pois mostrou que o uso de filtrações nos aparelhos de raios X contribui significativamente na energia média do feixe de raios X, já que uma mesma dose recebida por um paciente ou registrada por um detector possui energias médias distintas, com o uso de filtrações com materiais e espessuras diferentes. Logo, essas energias podem ser manipuladas indiretamente de acordo com o interesse do operador do aparelho de raios X. No entanto, foi visto também que essa possibilidade de manipulação é limitada a partir de uma determinada espessura da filtração, já que o comportamento da energia média por fóton com o aumento da espessura possui uma tendência logarítmica. Agradecimentos Os autores agradecem à Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT, INCT em Metrologia das Radiações na Medicina) pelo apoio financeiro parcial. Referências 1. International Commission on Radiological Protection. Recommendations of the ICRP. Publication No 26. ICRP; 1987. 2. International Commission on Radiological Protection. Recommendations of the ICRP. Publication No 103. ICRP; 2007. 3. Birch R, Marshall M. Catalogue of spectral data for diagnostic X-rays. London: The Hospital Physicists’ Association; 1979. 4. Bushong G. Radiologic Science for Technologists – Physics, Biology, and Radiation Protection. 6th edition. Missouri: Mosby Company; 1997. 5. Lucena R. Implantação de um Programa de Qualidade em Equipamentos de Raios X por Meio de Medidores não Invasivos. [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – Universidade de São Paulo; 2010. 104 p. Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):239-44. 243 Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):245-52. O uso de ilustrações no ensino e no setor de radiologia como uma proposta para construção dos conceitos de física radiológica e radioproteção The use of illustrations in teaching and the department of radiology as a proposal for construction of the concepts of radiological physics and radiation protection Leandro C. Luiz1,2, Luís Fernando de Oliveira1 e Rafaela T. Batista1 Departamento de Física Aplicada e Termodinâmica – Instituto de Física Armando Dias Tavares da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Curso de Farmácia da Faculdade Bezerra de Araújo (FABA) – Campo Grande (RJ), Brasil. 1 Resumo Recentemente o Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) fez um levantamento do número de clínicas e hospitais que utilizam fonte de radiação em exames diagnósticos ou em terapias. Milhares de instalações estão cadastradas e mais que a metade usa fonte de raios X para radiodiagnóstico. A população, e até mesmo alguns trabalhadores, não tem conhecimento dos efeitos que a radiação causa no organismo ao interagir com o mesmo. Assim, este trabalho tem como objetivo chamar a atenção quanto aos efeitos causados pela interação da radiação com o organismo e noções de proteção radiológica por meio de cartazes, cartilhas e histórias em quadrinhos. Palavras-chave: raios X, ensino, proteção radiológica Abstract Recently the Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), in Brazil, carried out the number of clinics and hospitals that applies radiation sources either to radiology exams or therapy. A lot of installations are subscribed and more than half use X-ray sources to radio diagnostic. The population and up to some professionals do not have knowledge about the radiation effects over the body when the radiation interacts with it. Thus, this work has the goal of calling the students to pay attention about the effects of the interaction of radiation with the body and brings notions of radiological protection through placards, folders and comic strip. Keywords: X-rays, teaching, radiation protection. A física moderna tem sido introduzida na sociedade por meio de suas diversas aplicações: odontologia, eletrodomésticos, microcomputadores, medicina diagnóstica, etc. Contudo, os conceitos ainda não são bem compreendidos pela população que usufrui da tecnologia oferecida por ela. Isto se deve ao fato da inclusão dos conceitos desta parte da física ainda ser um tema pouco abordado no Ensino Médio, bem como a má formação superior de alguns docentes que lecionam as disciplinas nos cursos especializados em radiologia e também por não apresentar esses conceitos à sociedade por meios que sejam acessíveis ao público em geral. A falta de informação sobre os riscos daquilo que se está utilizando (ou manuseando) não é apenas um fator preocupante para a exposição ocupacional, ou seja, a ocorrida no trabalho e, principalmente, como resultado do trabalho, mas também para a exposição médica e do público. O acesso a informações básicas de física nuclear no Ensino Médio, na radiologia e até mesmo para a população em geral, não somente pode evitar que muitas pessoas sejam expostas a doses de radiação desnecessárias, acordando com um dos princípios de radioproteção, o ALARA (As Low As Reasonably Achievable), que nos diz que, em relação a uma determinada fonte dentro Correspondência: Leandro da Conceição Luiz – Rua São Francisco Xavier, 524 – Bloco B – sala 3.019 – CEP: 20559-900 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: [email protected]. Associação Brasileira de Física Médica® 245 Luiz LC, Oliveira LF, Batista RT 246 Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):245-52. esse ramo da física não pode ser visto explicitamente no cotidiano (como é o caso da mecânica newtoniana) e é pouco explorado pelos professores do Ensino Básico. As noções de física moderna estão inclusas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para a área de ciências da natureza, matemática e suas tecnologias (PCNEM/PCN+) e, de acordo com eles, alguns aspectos da chamada física moderna serão indispensáveis para permitir aos jovens adquirir uma compreensão mais abrangente sobre como se constitui a matéria, de forma que tenham contato com diferentes e novos materiais, cristais líquidos e lasers presentes nos utensílios tecnológicos, ou com o desenvolvimento da eletrônica, dos circuitos integrados e dos microprocessadores. Os PCN apontam também a necessidade de ir mais adiante, para que todos possam aprender a identificar, lidar e reconhecer as radiações e seus diferentes usos5. Visto que a mídia, em seus meios diversos, tem alto poder de influência na sociedade6 e que a maioria dos alunos tem acesso a esses meios, foram desenvolvidos instrumentos de divulgação científica em física moderna (radiológica) e radioproteção a serem apresentadas por meio de quadrinhos, tirinhas e cartilha aos alunos, funcionários e pacientes do setor de radiologia. Metodologia Para descrever os fenômenos em tirinhas, quadrinhos e cartilha, criou-se um personagem, o Fóton-X, que pode ser visto na Figura 1. Ele representa um fóton de Raios-X e tanto desenvolve a história como personagem quanto a narra em algumas ocasiões. Diversos temas podem ser abordados com este projeto piloto, não ficando apenas limitado ao ensino de física moderna no ambiente escolar, mas também apresentando dicas de como se proteger de doses desnecessárias de radiação em radiologia diagnóstica e os riscos que a radiação pode causar. Um esboço é feito após a escolha de um tema. Este tema deve ser desenvolvido de maneira que o conceito seja transmitido para o leitor com fácil visualização e compreensão. Em seguida, o esboço é digitalizado e colorido por meio de softwares destinados ao processamento de imagens7. Fóton - X© Leandro, 23 de abril de 2008 de uma prática, o valor das doses individuais, o número de pessoas expostas e a probabilidade de ocorrência de exposições devem ser mantidos tão baixos quanto razoavelmente exequíveis, considerando os fatores econômicos e sociais, como também pode prevenir que aconteçam grandes acidentes causados por contaminação de fonte radioativa, por exemplo o ocorrido com o césio-137 em Goiânia, no ano de 1987. A escola, dentre suas principais funções, tem o papel da transmissão de conhecimentos produzidos pela humanidade. Moran1 compreende que “o conhecimento se dá fundamentalmente no processo de interação, de comunicação”. Os conhecimentos científicos, na medida em que são elaborados, passam por processos de codificação, sendo que os processos didáticos devem considerar os códigos científicos. Contudo, tais códigos passam por uma decodificação ou transposição para serem aprendidos pelos alunos. Um conteúdo do saber que foi designado como saber a ensinar sofre, a partir daí, um conjunto de transformações adaptativas que vão torná-lo apto para ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O trabalho que transforma um objeto do saber a ensinar em um objeto de ensino é denominado de transposição didática2,3. Um grande desafio do professor é transformar um conhecimento científico em um conteúdo didático. De fato, teorias complexas, sem perder suas propriedades e características, precisam ser transformadas para serem assimiladas pelos alunos. Assim, a transposição didática pode ser concebida como um conjunto de ações transformadoras que tornam um saber sábio em saber ensinável. O saber a ensinar é entendido como um novo saber e sua estrutura de origem está localizada fora do contexto acadêmico. No ambiente escolar, o ensino do saber sábio se apresenta no formato do que se denomina conteúdo ou conhecimento científico escolar. Este conteúdo escolar não é o saber sábio original, não é ensinado no formato original publicado pelo cientista, como também não é uma mera simplificação deste. O conteúdo escolar é um “objeto didático”, produto de um conjunto de transformações. Após ser submetido ao processo transformador da transposição didática, o saber sábio, regido agora por outro estatuto, passa a constituir o saber a ensinar2,4. O processo do aprendizado e do conhecimento se desenvolve a medida que o indivíduo se interessa por aquilo que lhe está sendo apresentado. Este pensamento é fundamentado em uma proposta sociointeracionista, em que o aluno, por intermédio do professor e pela interação com seus colegas de classe, e com os recursos a ele disponíveis, pode construir seus próprios saberes por experiências próprias. Na física clássica, os conceitos teóricos podem ser apresentados fazendo analogia com o que está ao nosso redor ou, então, vistos em prática nos laboratórios didáticos. Entretanto, a questão observada pelos docentes é que quando se trata da física moderna há uma dificuldade em assimilar o que está sendo estudado. Isto ocorre porque Figura 1. Esboço do personagem Fóton-X. O uso de ilustrações no ensino e no setor de radiologia como uma proposta para construção dos conceitos de física radiológica e radioproteção Resultados Tirinhas Os principais mecanismos pelos quais os raios X interagem com a matéria são: efeito fotoelétrico (ou absorção fotoelétrica), efeito Compton (ou espalhamento Compton) e produção de pares. A Figura 2 apresenta uma tirinha que aborda um dos mecanismos pelos quais os raios X interagem com a matéria, o espalhamento Compton, que é de grande importância para física radiológica. Ele consiste na interação entre um fóton de raios X e um elétron livre (fracamente ligado ao átomo, tais como os elétrons da camada de valência). O fóton de raios X atinge o elétron livre ejetando-o de sua órbita. O fóton incidente é defletido pelo elétron, desviando de sua trajetória inicial. É importante ressaltar que o modelo atômico apresentado na Figura 2 se refere ao modelo atômico com orbitais elípticas, sendo apenas uma mera ilustração para ajudar na visualização e compreensão do fenômeno. Para ocorrer a produção de pares é necessário que o fóton incidente tenha energia superior a 1022 keV, para geração de um par elétron-pósitron. Ao interagir com o campo elétrico do núcleo de um átomo, o fóton “desaparece”, dando origem a um par elétron-pósitron. Claramente o limiar para este processo é 2mec2, portanto 1022 keV. Embora a probabilidade deste efeito ocorrer na faixa de energia dos procedimentos radiológicos seja quase nula, é de grande importância à compreensão do fenômeno, pois se trata de um dos principais mecanismos de interação da radiação com a matéria. A tirinha da Figura 3 representa, de maneira lúdica, o fenômeno em questão. Nela, Fóton-X passa próximo do núcleo com três energias incidentes distintas. Ao passar com a energia acima de 1022 keV ele começa a “desaparecer”, dando origem ao par elétron-pósitron, cada um com energia mínima Figura 2. Tirinha referente ao espalhamento Compton. Figura 3. Tirinha referente à produção de pares. Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):245-52. 247 Luiz LC, Oliveira LF, Batista RT de 511 keV. Caso o pósitron colida com um elétron, as duas partículas são aniquiladas, produzindo dois fótons gama emitidos em sentidos opostos para conservar o momento linear. Contudo, optou-se por não representar este último na tirinha, uma vez que o fenômeno em questão é a produção de pares e não a aniquilação. Visto que a exposição à radiação pode causar danos biológicos nos seres vivos se utilizada de forma descontrolada, houve a necessidade de estabelecer meios de proteção aos que trabalham com radiação e a população em geral. Sendo assim, a Figura 4 apresenta uma tirinha elaborada visando à importância da proteção do ser humano mediante a exposição desnecessária à radiação, pois quando uma pessoa é exposta à radiação de maneira descontrolada, alguns efeitos referentes a essa exposição podem surgir, tais como: anemia, redução no número de plaquetas, queda de cabelo, dermatite (inflamação da pele) e esterilidade. Esses sintomas fazem parte da Síndrome de Irradiação Aguda. As tirinhas têm como objetivo despertar curiosidade no aluno para, então, o professor introduzir ou se aprofundar no assunto. Elas também servem para chamar a atenção do estudante para o papel do professor em sala de aula como facilitador, aquele que o ajudará no esclarecimento de dúvidas. Cartilha (folder) A cartilha foi elaborada de forma lúdica, sem prescindir do conteúdo científico e educacional. O intuito é alcançar o público em geral (técnicos, médicos, pacientes, etc) do setor de radiologia a fim de contribuir na formação de uma consciência crítica que resulte na construção de hábitos que deverão inibir a exposição desnecessária. O material traz esclarecimentos quanto aos procedimentos radiológicos de radioproteção durante o exame e visa apresentar visão geral da física que envolve a radiologia, explicando o que são os raios X, onde eles são utilizados, como são produzidos, os cuidados que devem ser tomados, entre outros temas. Tal preocupação ocorre pelo fato de que, mesmo diante dos meios de proteção estabelecidos por órgãos nacionais e internacionais, para aqueles que trabalham com radiação e também para a população em geral, a exposição à radiação no radiodiagnóstico é a que mais contribui para a exposição do homem, cerca de 86%, de acordo com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)8,9. A Figura 5 mostra a cartilha a ser utilizada no setor de radiologia. Quadrinho A Figura 6 traz uma breve abordagem sobre a natureza ondulatória dos raios X, suas aplicações e blindagem. Nela, o Fóton-X é ora narrador, ora personagem. O texto é de fácil leitura e compreensão. Sendo assim, as tirinhas, o quadrinho e o folder visam proporcionar aos alunos elementos para a construção do conhecimento, de forma a provocar a consciência necessária para a compreensão dos conceitos de física radiológica e uma disciplina em radioproteção que resultará em atitudes concretas na transferência deste aprendizado para outras pessoas. Apresentação dos formatos A utilização dos quadrinhos, cartilhas ou tirinhas em sala de aula ou no setor de radiologia serve de auxílio na compreensão dos conceitos de física radiológica e de radioproteção aprendidos na teoria, uma vez que são de difícil visualização no cotidiano. Como estratégia de ensino-aprendizagem sugere-se que, após ter sido compreendido o conceito teórico, o quadrinho ou tirinha referente seja apresentado de modo a ajudar na visualização e memorização daquele conceito. Entretanto, se eles forem apresentados antes, servirão para despertar o interesse e curiosidade do leitor. Então, o professor pode iniciar o assunto mais aprofundado utilizando a motivação do leitor (ou aluno) tendo como único material didático o quadro-negro, no qual desenvolve a teoria e os quadrinhos ou tirinhas. Figura 4. Tirinha alertando sobre o perigo do número excessivo de radiografias. 248 Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):245-52. O uso de ilustrações no ensino e no setor de radiologia como uma proposta para construção dos conceitos de física radiológica e radioproteção Figura 5. Cartilha. Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):245-52. 249 Luiz LC, Oliveira LF, Batista RT Figura 6. Quadrinho de física radiológica. 250 Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):245-52. O uso de ilustrações no ensino e no setor de radiologia como uma proposta para construção dos conceitos de física radiológica e radioproteção A fim de se ter uma noção de com tal conceito foi compreendido pelo aluno por meio do recurso lúdico, elaborou-se um questionário contendo dez perguntas objetivas de diversos assuntos referentes à física moderna e radioproteção abordados nos quadrinhos, cartilha e tirinhas, entre eles: proteção radiológica, natureza das ondas eletromagnéticas, física dos raios X, interação da radiação com a matéria e eletromagnetismo. As tirinhas, a cartilha e o quadrinho utilizados neste estudo correspondem às figuras apresentadas neste trabalho (Figuras 2 a 6). A observação por meio do questionário foi realizada em três grupos com dez alunos cada, em vários níveis escolares de formação: ensino superior da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (alunos dos cursos de Matemática, Química, Física e Engenharia), curso técnico em radiologia médica e Ensino Médio de diversas escolas estaduais do Rio de Janeiro. Cada grupo foi dividido em duas partes: formandos e iniciantes. Fora deste conjunto inicial de estudo, técnicos e funcionários de um centro médico municipal do Rio de Janeiro também responderam ao questionário, porém sem a divisão em grupos de iniciantes e formandos. Anterior à entrega do questionário foi perguntado a cada indivíduo de cada grupo se este tinha noção dos tópicos que seriam trabalhados nas perguntas. Todos os alunos formandos da graduação e do curso técnico declararam já ter tido aulas ou ouvido falar sobre o tema física moderna e radioproteção. Os demais nunca tiveram aula sobre o assunto, com exceção de poucos. Os formandos responderam as perguntas sem conhecimento do método de aprendizagem aqui sugerido, enquanto os iniciantes tiveram o acesso antes de realizarem o exame. No centro médico foi apresentada somente a cartilha. Os técnicos responderam todas as questões, enquanto os funcionários e pacientes responderam somente as referentes à radioproteção. Também foi observado se a instalação radiológica era provida de blindagens e equipamentos de proteção radiológica individual tanto para o técnico quanto para o paciente e acompanhante. A observação feita pelo questionário mostrou resultados distintos nos diferentes níveis de formação: os alunos do curso técnico em radiologia obtiveram o maior número de acertos, enquanto o menor deu-se aos alunos do Ensino Médio. No nível superior, o rendimento foi bem menor quando comparado ao dos alunos do técnico. Ao avaliar cada grupo, observou-se que os alunos iniciantes obtiveram melhores resultados em relação aos formandos. A intenção do questionário foi observar como os conceitos de física moderna são compreendidos pelos alunos, assim como verificar se eles teriam noção de como se proteger da radiação. Conclusões Embora o presente trabalho tenha utilizado um número pequeno de dados, estes apontam que o maior número de acertos obtidos no questionário foi dos alunos da radiologia, o que era previsto pelo fato dos mesmos terem contato constante com os conceitos de física radiológica e radioproteção. Na avaliação por grupo, os alunos iniciantes (aqueles que verificaram as tirinhas e cartilha) apresentaram melhor desempenho quando comparados com os formandos do mesmo curso. Isto se deve ao fato deles terem contato recente com o método de aprendizado aqui apresentado. Para um acompanhamento efetivo, seria de grande efeito realizar uma avaliação semelhante ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) no início e no final do curso. A questão que revelou total aproveitamento para todos os cursos foi sobre a proteção radiológica. Ela abordava o material mais utilizado como blindagem para raios X, por exemplo, o chumbo. Isto sugere que a população como um todo tem o conhecimento deste material de blindagem. Entretanto, talvez a falta de informação sobre os riscos que a interação da radiação com o tecido biológico pode causar faz com que os mesmos não utilizem ou não solicitem equipamentos de proteção individual (EPI), como avental plumbífero, protetor de tireóide e protetor de órgãos genitais, disponíveis nas unidades que utilizam os raios X como fonte e são sugeridos pela Portaria/MS/SVS nº 453 da ANVISA10. Ao aplicar a avaliação no centro médico, viu-se a necessidade de se informar de maneira lúdica os riscos citados acima. A unidade apresentava apenas o símbolo internacional de radiação com a seguinte inscrição: “raios X, entrada restrita”, não havendo a informação estabelecida pela Portaria/MS/SVS nº 453 da ANVISA, que diz: “Mulheres grávidas ou com suspeita de gravidez: favor informarem ao médico ou ao técnico antes do exame”. Seria de bom senso se os técnicos e estagiários perguntassem a respeito da suspeita de gravidez ou se a paciente é gestante, no entanto não se foi perguntado. Mesmo se a informação estivesse às vistas dos pacientes, seria por escrito, de acordo com a Portaria já citada. Visto que a população da região na qual a unidade se encontra ainda conta com um número elevado de analfabetos, poderia ser colocada na porta da sala de exames a figura da gestante que se encontra na contra capa da cartilha, pois por meio dela um analfabeto saberia, ou pelo menos perceberia, que há restrições para a realização deste exame em gestantes. Ainda no centro médico, observando os dosímetros apresentados no quadro, percebeu-se que nenhum profissional o estava utilizando no período em que foi realizado este trabalho. Isto mostra a falta de conhecimento em respeito à radioproteção e suas normas. Nenhum paciente entrevistado tinha conhecimento que as regiões do corpo fora do campo de radiação deveriam ser blindadas com os EPI que lá se encontravam, porém, os técnicos, além de não utilizarem, não passavam esta informação ao paciente, ignorando a exposição da radiação secundária que sofriam. Na parte interna da cartilha sugerida por este trabalho há um item mostrando e alertando, em uma figura, que o técnico, além de utilizar os EPI, deve disponibilizar aos Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):245-52. 251 Luiz LC, Oliveira LF, Batista RT pacientes. Esta estratégia de ensino aprendizagem, que pode ser considerada como um projeto piloto, apresentou bons resultados, pois o quadrinho e as tirinhas geraram motivação para o início da aula. Assim, o trabalho pode ser usado por professores, educadores e responsáveis por setores (tais como o de radiologia) como instrumento didático em tema transversal, complementando a ação de áreas governamentais que visam à melhoria da qualidade de vida. Referências 1. Moran JM. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas. In: Moran JM, Masetto M, Behrens M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus; 2002. 2. Alves JP. Regras da transposição didática aplicada ao laboratório didático. Caderno Catarinense de Ensino de Física. 2000;17(2): 174-88. 252 Revista Brasileira de Física Médica. 2011;5(3):245-52. 3. Chevallard Y. La transposición didáctica. Buenos Aires: Aique; 1998. 4. Valigura EN, Giordani EM. 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A revisão e aprovação das contribuições são realizadas por membros do conselho editorial, com procedimentos e prazos estabelecidos formalmente. Todo trabalho enviado para publicação será avaliado por pelo menos dois membros do Conselho Editorial que opinarão sobre o trabalho, reservando-se o direito de sugerir modificações aos autores, de modo que adéquem os artigos aos critérios editoriais da revista, ou recusá-los para publicação. Um Editor Associado auxiliará no processo de revisão, verificando a adequação do trabalho submetido aos critérios estabelecidos pela Revista e o cumprimento dos prazos estabelecidos. Os conceitos e opiniões expressos no trabalho são de total responsabilidade dos autores. Em caso de desempate, o Editor Científico se encarregará de emitir um parecer final recomendando ou não a publicação do trabalho em questão. Quando um artigo é submetido à RBFM, os autores confirmam que o texto, ou parte dele, não foi publicado ou aceito para publicação em alguma outra revista. O artigo só poderá ser enviado a outra revista após decisão final da RBFM. Após aceite para publicação, os direitos de copyright passarão a pertencer à Associação Brasileira de Física Médica, não havendo nenhum custo de publicação. Atualmente, os fascículos da RBFM apresentam uma periodicidade trimestral, com a publicação de artigos de revisão e tutoriais, artigos originais, comunicações técnicas, cartas ao editor, resenhas de teses, resenhas de livros técnicos e científicos. Artigos de Revisão e Tutoriais São artigos das áreas ou tópicos relacionados à especialidade da revista que se encaixem em uma perspectiva didática ou de atualização profissional. Sempre que possível, é conveniente traçar uma avaliação do estado da arte do tema abordado dentro do país. A submissão deste tipo de artigos deve ser efetuada a partir de convite da Revista, ou precedida de consulta ao Conselho Editorial. Tais artigos devem ser limitados a 25 páginas de texto (papel A4, fonte Arial 12, espaçamento duplo), incluindo figuras e tabelas. Artigos Originais Manuscritos contendo resultados de pesquisa básica e/ou aplicada originais e relevantes para as áreas de interesse da RBFM. Esses manuscritos terão prioridade para publicação. Comunicações Técnicas São trabalhos que constituem uma forma importante de disseminação de soluções para problemas de projeto, manutenção, técnicas experimentais e informática aplicada. Ainda que não constitua um artigo científico completo, tais soluções permitem aos profissionais da área se beneficiarem da engenhosidade e criatividade de seus colegas. São limitadas a quatro páginas de texto (papel A4, fonte Arial 12, espaçamento duplo), incluindo figuras e tabelas. Cartas ao Editor São comentários ou discussões não apenas acerca de artigos previamente publicados, mas também de outros temas de interesse para a comunidade de leitores. A decisão e a escolha das cartas para publicação será atribuição específica do Corpo Editorial, que considerará a propriedade, a extensão e a disponibilidade de espaço para o material submetido. Sempre que necessário, será dada a oportunidade de resposta aos autores, entidades ou indivíduos citados na carta. Resumos de Tese Resumos originais de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado defendidas e aprovadas há, no máximo, três anos, e respectivos abstracts são publicados na íntegra, à medida que são recebidos pela Revista. Somente serão publicados resumos de trabalhos que se relacionem à especialidade da Revista. Os resumos devem ser enviados eletronicamente, preferencialmente já estruturados no formato final de edição: título no idioma original e título em inglês, autor, orientador(es), título obtido (mestrado, doutorado, livre-docência), departamento, instituição, mês e ano da defesa, resumo completo, palavras-chave, abstract e keywords. Como não passarão pelo processo de revisão, devem necessariamente ser enviados pelo autor ou orientador, desde que as teses já tenham sido defendidas. No caso de defesas de brasileiros que estejam no exterior, o resumo deverá ser traduzido para o português. Resenhas de Livros Técnicos e Científicos O autor ou a editora do livro deve enviar um exemplar do livro ao editor da revista, solicitando uma análise. A decisão pela publicação e a escolha do autor da resenha são prerrogativa do Corpo Editorial, embora nomes de especialistas do tema possam ser sugeridos. Forma e preparação dos manuscritos Os artigos devem ser preparados segundo as Normas da Revista. O texto deve ser editado em espaçamento duplo, em papel A4 com margens de 2 cm e as páginas devem Associação Brasileira de Física Médica® 253 ser numeradas. As sessões devem abranger os seguintes aspectos, quando aplicados: Resumo (200 a 300 palavras) e até 6 palavras-chave para indexação, a fim de possibilitar a busca de trabalhos no banco de dados da revista. Recomendam-se os descritores presentes em Physics and Astronomy Classification Scheme (PACS, disponível em http://www.aip.org/pacs/ index.html), Descritores em Ciências da Saúde (DeCS, http://decs.bvs.br/) ou, ainda, Medical Subject Headings (MeSH) da National Library of Medicine (http://www.nlm. nih.gov); Abstract e keywords correspondentes ao Resumo e às palavras-chave; Introdução (justificativa do trabalho e objetivo); Material e Métodos; Resultados; Discussão; Conclusão; Agradecimentos, quando houver; Referências; Figuras e Tabelas (com as respectivas legendas). Os artigos podem ser redigidos em português, espanhol ou inglês. Cada original deve ser precedido de uma folha de rosto, apresentar o título do trabalho em português e em inglês, nomes completos dos autores sem abreviaturas, nome da instituição onde o trabalho foi desenvolvido, titulação dos autores, afiliação institucional dos autores. Indicar o nome, endereço, telefone, fax e e-mail do autor responsável pela correspondência. Título resumido para impressão no cabeçalho de cada página (running title). O título do artigo deve reaparecer na página seguinte, juntamente com o resumo. O artigo deve ser estruturado em sessões hierárquicas, não excedendo três níveis de cabeçalhos sem numeração. Trabalhos envolvendo experimentos com seres humanos ou animais devem citar o parecer favorável de um Comitê de Ética. Figuras e Tabelas O uso de cores é permitido na versão eletrônica. Gráficos e figuras devem ter fundo branco, evitando-se o emprego de caracteres pequenos (tamanho mínimo = 9), de difícil leitura após a eventual redução para visualização. Também deve ser evitado o emprego de molduras. As tabelas devem ser simples, sem linhas excessivas, com a indicação clara de cada variável envolvida e a respectiva unidade. Tabelas e figuras devem ser citadas no corpo do texto e enviadas ao final do artigo. As legendas das figuras devem ser inseridas abaixo delas e os títulos das tabelas, acima delas. Equações Deverão ser numeradas sequencialmente, com os números entre parênteses e justificados à direita: A(t) = A0e-lt(1) As unidades do Sistema Internacional de Unidades (SI) devem ser utilizadas para todas as grandezas no texto, nas figuras e nas tabelas. Referências As referências devem ser formatadas no estilo Vancouver, numeradas no texto em ordem de citação, usando algarismos arábicos sobrescritos1. Devem ser 254 Associação Brasileira de Física Médica® listadas nesta mesma ordem na última seção do artigo. As abreviaturas utilizadas para os periódicos citados nas referências devem seguir o padrão da base de dados PubMed. Para referências com dois ou mais autores, citar até seis nomes (seguidos da expressão et al. se o trabalho possuir mais de 6 autores)2. Para citar artigos de periódicos1,2, livros3, eventos4, relatórios técnicos5, dissertações e teses6, página na internet7, consulte o artigo8. 1. Heshmati HM, Hofbauer LC. Multiple endocrine neoplasia type 2. Eur J Endocrinol. 1997;137(6):572-8. 2. Krummer SC, Giulkiani ER, Susin LO, Folleto JL, Lermen NR, Wu VY, et al. Evolução do padrão de aleitamento materno. Rev Saúde Pública. 2000;34(2):143-8. 3. Naisman HA, Kerr GR. Fetal growth and development. New York: Mc Graw-Hill; 1970. 4.Kimura J, Shibasaki H, editors. Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995; Kyoto; Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996. 5. Instituto da Criança. Hospital das Clínicas. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Relatório Anual de atividades, 1993. São Paulo; 1994. 6. Carneiro MS. A imunidade mediada pelo linfócito T na asma brônquica. [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 1978. 7.Cancer-Pain.org [homepage on the Internet]. New York: Association of Cancer Online Resources, Inc.; c2000-01 [cited 2002 Jul 9]. Available from: http:// www.cancer-pain.org/ 8. International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. N Engl J Med. 1997;336:309-16. Envio dos manuscritos Os manuscritos devem ser submetidos eletronicamente pelo site da revista (www.abfm.org.br/rbfm). Para tanto, o autor principal deve se cadastrar e fornecer números de telefone, fax e endereço eletrônico para contato. Os autores devem indicar a seção que julgarem mais apropriada ao seu artigo, de acordo com a classificação dada a seguir: • Artigos de Revisão e Tutoriais; • Artigos Originais; • Comunicações Técnicas; • Cartas ao Editor; • Resenhas de Teses; • Resenhas de livros técnicos e científicos. O recebimento do trabalho será prontamente confirmado por comunicação eletrônica. A partir daí, todas as informações serão transmitidas desta forma. Os manuscritos que não estiverem de acordo com as normas serão devolvidos aos autores.