Matéria - Lina de Albuquerque

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Matéria - Lina de Albuquerque
Encontrar uma identificação com a obra, reconhecer-se e
compreender melhor o mundo são proveitos da boa leitura
4 .-
o
cidades Invisíveis' (de
taIo Calvino,
Companhia das Letras).
O que achei legalé que o
autor não tem barreiras.
ão minicontos
'contados em um misto
le poesia e prosa. Como
a gente mora em São
'aulo e o livro fala sobre
iárias cidades, eu me
dentifiquei com as
iistórias. E comum
tncontrá-las pekts
Juliana Mattos, 25,
historiadora
Risadinhas' (de Roddy
Doyle, Estação
Liberdade), que conta a
história de uns
monstriflhos que
protegem as crianças,
colocando cocô de
cachorro no chão para
os pais pisarem. Achei a
Heitor Fantinati de Moraes, 7,
estudante
.z.
olivro'OQuarkeo
Jaguar - A Dança do
Universo' (de Murray
Geil-Man, Rocco), que
mistura física quântica e
filosofia. Percebi que a
ciência também é ume
forma de poesia, e isse
me comoveu bastante.
Liaobrahácincoano:
me senti diferente
depois disso. Passei
ercommastersç»
Alessandra Maestrini, 24,
atriz e cantora
d
peça 'Liberdade,
Liberdade' (de F!
Rangel e Millôr
Fernandes, LP&
Pocket. Li a obr
anos, em uma fase:
stionamentc-'
rcar-.
ArieStorch, 17,
estudante
Caio GuateUifFoIha Imagem
M2ReIO Bnrabani'F&ha Inaqerri
que fica à disposição dos alunos.
"Costumo comprar creatina e aminoácidos dentro da academia. O preço é igual
ao das outras lojas. Além disso, tenho a
vantagem de marcar em uma conta e só
pagar no final do mês", conta o aluno
Cláudio Andrade, 42.
A Competition também vai investir na
alimentação. Em abril do ano que vem,
deve inaugurar o Empório Equilibrium,
onde serão vendidos produtos naturais e
comidas balanceadas, feitas sob supervisão de nutricionistas. "O aluno que mora
sozinho poderá sair da academia e levar
sua refeição para casa", diz Fernando
Rossi, gerente de marketing da academia,
que também dispõe de serviço de lavaiideria e cabeleireiro.
Como a maioria das academias de Sào
Paulo, a Competition oferece aulas avulsas para quem está de passagem pela cidade, mas não quer deixar de se exercitar.
"O cliente fica o tempo que quiser e faz
seus exercícios preferidos", explica Rossi.
Outra comodidade que as academias
oferecem é o serviço de "child care", uma
sala onde as mães podem deixar os filhos
brincando enquanto se exercitam. Esse
serviço pode ser gratuito ou não. "Sempre trago o Haik comigo; enquanto eu
malho, ele brinca com outras crianças",
conta a aluna da Reebok Daniela Djehdian, 25, mãe do garoto de 11 meses. Mas
1-laik não fica sozinho, ele tem uma babá
que o acompanha na sala. Ter um acompanhante é uma das normas para as
crianças menores de dois anos de idade.
A academia Runner ampliou os cuidados com o corpo. Na unidade de Moema,
há um centro de estética que leva a assinatura de Ala Szerman. "Mesmo a pessoa
que malha há anos às vezes não consegue
perder aquele pneuzinho ou a celulite, e
nós oferecemos os tratamentos adequados", explica Cristina Scalon, gerente do
Beauty Runner.
Nas nove filiais da Runner, quem deseja seguir a carreira de modelo encontra
um curso especial que ensina inclusive
como se maquiar e se pentear e é ministrado pela Oficina da Imagem. "Já formainos mais de cem modelos desde junho
deste ano", conta a coordenadora Daniela Policela Vieira. Com aulas teóricas e
práticas, o curso dura dois meses e custa
R$ 350. "Temos alunos dos 12 aos 65 anos
de idade que querem aprender a andar
em uma passarela ou simplesmente desejam aprimorar a imagem", explica a
coordenadora.
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A loja instalada na Companhia Atlética vende livros, COs e DVDs
C, &i,, v ,urelli;Folha In,açjem
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Ana Lua Negreili, 25, prefere sacar dinheiro no caixa da academia
Junqueira poupa tempo com
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salão da Reebok
Carolina Venta' '- 1,. F.,]l,a Imagem
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VOCÊ TAMBÉM PODE
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nto. Claudio Andtade abastece seu estoque de suplementos
CENTRO DE TRATAMENTO
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(11) 288-1255
Caio Goatelli/Folha Imagem
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Um Spa Hote/ em Campos do Jordáo diferente de tudo
oque você já viu!
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Guilherme Rocha costuma usar a lavanderia da Reebok
"Se lermos a obra-prima de um homem
de gênio, sentiremos prazer ao
descobrir nas suas reflexões alegrias e
tristezas que também são as nossas,
mas que estavam reprimidas"
Proust, romancista francês
"Num mundo que abomina o silêncio e a
solidão, a leitura é um dos poucos
exercícios que valoriza o espaço
individual"
Cristovão Tezza, professor do departamento de
linguística da Universidade Federal do Paraná
LINA ALBUQUERQUE - rAPE-LANCE PARA A FOLHA
nquanto a fórmula dos manuais de auto-ajuda —espécie de pílulas de
Prozac em forma de livro— brilha na lista dos mais vendidos, as grandes obras da literatura prosseguem alimentando a incurável e fundamental
questão —"quem sou eu?"— que começou a perseguir o homem antes de
Gutenberg ter inventado a máquina impressora.
No fundo, as pessoas lêem por prazer ao conhecimento. Trata-se de um impulso humano natural, o de conhecer, e
existe até um nome técnico para isso:
"epistemofilia". Mas elas também lêem
porque querem se encontrar, reconhecer-se e compreender-se por meio das
palavras escritas. Depois de Gutenberg,
ficou mais fácil para o simples mortal sonhar um pouco mais alto. E dividir a sua
existência com Ulisses, 1-lamiet, Fausto.
No recreio com Capitu "Os grandes
livros são portas para vivências que o homem comum não teve", diz o escritor e
jornalista Luiz Carlos Lisboa no recentemente reeditado "Tudo o que Você Precisa Ler sem Ser um Rato de Biblioteca"
(Editora Papagaio), um guia de literatura
saído das fichas de leitura que o autor faz
desde os 14 anos de idade (ele tem 72),
quando escalou a estante mais alta da biblioteca do pai a procura de livros de sexo
e acabou descobrindo Machado de Assis.
A companhia de "Dom Casmurro", de
Machado, além de render uma suspensão justificada pelo estatuto do Colégio
Santo Inácio, que não permitia a leitura
durante o recreio, levou o autor a se
transformar num rato —ou num "verme", conforme o termo inglês similar—
de biblioteca.
Pura sorte Lisboa ter sido "desvirginado" pela maliciosa Capitu na adolescência e despertado cedo para a complexidade da alma humana. Inexperiente, o então adolescente contava apenas com a
curiosidade a seu favor. "O leitor precisa
chegar aos livros essenciais levado pela
curiosidade que o faz sempre buscar a
resposta para o mistério de estar vivo",
escreveu no prefácio do seu guia, tratando de ocultar a sua vivência pessoal.
Hoje, o seu critério de seleção baseia-se
no repertório adquirido e também filtrado ao longo da vida. "São essenciais
aqueles livros que exerceram grande influência e, ao mesmo tempo, sofreram
influência de grandes autores", completa
a definição.
LeitoC de si mesmo Éde modo para-
doxal que a leitura acaba atuando como
um fator de qualidade de vida. Quem
apanha uni livro em busca de uma resposta, em geral, pouco ou nada encontra.
Quem lê por prazer, movido por interesse e curiosidade pelo mundo, recebe de
volta o poderoso estímulo da "identificação" que provém da arte, e aí, sim, a realidade pode ser, se não transformada,
compreendida com maior profundidade.
"Na verdade, todo leitor é, quando está
lendo, um leitor de si mesmo", afirmou
Marcel Proust, autor da importante obra
"Em Busca do Tempo Perdido". A frase
foi extraída pelo escritor britânico de origem suíça Alain de Botton e faz parte do
livro "Como Proust Pode Mudar a Sua
Vida" (Editora Rocco), uma mistura de
biografia e crítica literária que se faz de
auto-ajuda apenas no título.
Para Alain de Botton, Proust ajuda
muito quando observa: "Não se pode ler
um romance sem atribuir à heroína os
traços da mulher amada". Ou então: "Se
lermos a obra-prima de um homem de
gênio, sentiremos prazer ao descobrir
nas suas reflexões alegrias e tristezas que
também são as nossas, mas que estavam
reprimidas: um mundo inteiro de emoções que desprezávamos e cujo valor se
torna subitamente evidente ao fato de as
lermos em um livro".
Os efeitos benéficos ou deletérios da leitura, segundo os críticos, têm menos a
ver com a trama da história do que com a
capacidade das palavras de invocar a curiosidade e a imaginação em tomo da vida.
Os filmes e os livros Todos os instrumentos que a humanidade até hoje inventou são uma extensão da mão, ao passo que o livro é um prolongamento da
imaginação, diz, citando Jorge Luis Borges, Luís Augusto Fischer, colunista da
Folha e professor de literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
"A diferença entre um filme e um livro
é que há vários sonhos no meio do acompanhamento da história escrita", diz Fischer. Os sonhos estão no meio da leitura
porque ler é sujeitar-se a um tempo diferente. Talvez seja justamente esse um dos
maiores benefícios que o livro traz. Primeiro, porque quem lê como que "ganha" o tempo para si. Controla assim o
tempo, fazendo dele o que bem desejar.
"Num mundo que abomina o silêncio e a
solidão, a leitura é um dos poucos exercícios que valoriza o espaço individual",
ressalta Cristovão Tezza, autor de "Breve
Espaço entre Cor e Sombra" (Editora
Rocco) e professor do departamento de
linguística da Universidade Federal do
Paraná.
Depois —e não menos importante— a
leitura faz com que presente, passado e
futuro se fundam e fluam justapostos à
"Os grandes livros são portas para
vivências que o homem comum não
teve"
Luiz Carlos Lisboa, escritor ejornalista
"O formato de um livro é tão formidável
como a bicicleta; não encrenca, não dá
pane e não precisa de combustível"
Luís Augusto Fischer, colunista da Folha e professor de
literatura na Univ. Federal do Rio Grande do Sul
Marelo arabanI/Folha Imagem
imaginação. Um mesmo livro lido em
momentos diferentes tem as suas interpretações revistas e atualizadas pelo desenrolar da vida.
Ao longo de uma leitura, é possível reter um amontoado de palavras capazes
de despertar para experiências antigas,
reconstituir algum sentido —ou falta de
sentido— no labirinto da memória. Um
livro revira o baú das lembranças e, de repente, estacionando os olhos numa ou
noutra página, o leitor reconcilia-se com
alguma experiência antiga. Compreende
assim um pouco mais do seu passado.
Ou, numa outra inversão do tempo linear, encontra algum tipo de "preparação" para os acontecimentos futuros
—Nietzsche dizia que a arte antecipa a
vida sob muitos aspectos.
Os adeptos
da leitura dinâmica podem não gostar,
mas o prazer de ler pouco ou nada se beneficia da rapidez. Isso vale, claro, para a
leitura de um livro —não de jornal, outdoor ou legenda de filme.
Também não se aplica àqueles que,
mesmo com o hábito de devorar diversas
obras ao mesmo tempo, sempre farão
sua parada mais demorada em uma ou
outra página aberta sobre o topo da pilha
de livros que vai aumentando ao lado da
cama. Ler muito não é o mesmo que ler
muito depressa.
A qualidade vagarosa da leitura dá ouvidos aos "concertos interiores", comparou Gaston Bachelard em "A Poética do
Devaneio" (Martins Fontes). O filósofo
insiste em um —único— conselho: não
ler rápido demais e cuidar para não engolir trechos demasiadamente longos.
"Sim, mastiguem bem e bebam em pequenos goles", orienta.
Mas que grandes livros são esses que, lidos sem nenhuma pressa e, quem sabe,
até com uma caneta na mão, podem
acender o estopim que falta para as coisas
serem mais profundamente compreendidas na vida ou na imaginação de uma
pessoa? São aqueles capazes de sobreviver à prova crucial do tempo. "Cruel para
a maioria das obras, o tempo traz à obraprima a suprema consagração", afirma o
filósofo Michel Guérin no ensaio "O que
É uma Obra?" (ed. Paz e Terra). Assim é a
natureza de um clássico. Mas, afinal, por
que lê-los?
preseote O escritor ftalo-cubano Italo Calvino transformou essa questão em nome de livro "Por Que Ler os Clássicos" (Companhia
das Letras)— e deixou bem claro que os
clássicos servem para entender quem somos e onde chegamos. São demarcadores de lugar - "Quem leu antes os outros
e depois lê aquele, reconhece logo o seu
lugar na genealogia"—, mas merecem
ser alternados com a leitura do presente.
"É clássico tudo aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho
de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo",
diz Calvino.
Um objeto
formidável
-J
4
-
"O meu livro preferido é
'Cem Anos de Solidão',
(de Gabriel García
Márquez, editora
Record). Eu me
impressionei como
realismo fantástico
proposto pelo livro. O
que mais me tocou
foram as histórias da
família contada no livro
recheado de vários
personagens"
Alexandre de Oliveira Souza,
27, advogado
lo
/
-
Uma pilha de folhas impressas, presas pelo meio
e protegidas por uma capa
—o livro é um objeto. Mas
não é qualquer objeto. O
seu formato, na opinião
do professor de literatura
Luís Augusto Fischer, é
perfeito, e o seu design, insuperável.
"Ele é tão formidável comoa bicicleta", compara
Fischer. "Não encrenca,
não dá pane e não precisa
de combustível"
Esse material impresso
exerce fascínio justamente
porque faz a ponte entre a
realidade rastejante e o
entendimento que se eleva
sobre ela. "Livros são objetos transcendentes", carimbou Caetano Veloso.
São também objetos afetivos. O filósofo Gaston Bachelard afirmou na "Poética do Devaneio" que só
consegue conceber o paraíso como uma imensa
biblioteca. O "sonhador
das palavras escritas", como Bachelard se denomina, imagina que a prece do
leitor voraz possa se iniciar assim: "A fome nossa
de cada dia nos dai hoje".
Na biblioteca ideal, para
o escritor Italo Calvino,
devem estar até os "objetos" livros ainda não lidos:
"Metade composta delivros que já lemos, e outra
metade que pretendemos
ler".
Especialistas sugerem listas de títulos clássicos
"Escolhi os Iivros
que me deixaram
'siderado"
"Selecionei os livros
que marcaram minha juventude"
"A dotei como crítérioarepresentatividade histórica"
De Luís Augusto Fischer, professorde literatura da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul e colunista da Folha
PorCristovão Tezza, escritore
professordo Departamento de
Linguística da Universidade
Federal do Paraná e autorde
"Breve Espaço entre Core
Sombra"
De Ivan Teixelra, professor de
literatura na Escola de Comunicação e Artes da USP, autor
do "Mecenato Pombalino e
Poesia Neoclássica" (vence- dor do Prêmio Jabuti 2000)
"O Coração das Trevas", de josephConrad(1902) "Euolio
contexto do filme 'ApocalipseNow de
Coppola, e entendique a artepodedialogarcom a arte, sendo ao mesmo tempo um profundo comentário sobre a vida."
"Zen e a Arte da Manutenção
de Motocicletas", de Robert
M.Pirsig (1974) "Mistura de viagem com diário íntimoemeditaçâo fi!osó fica, num clima meiohippie queé
perfeito."
"Grande Sertão: Veredas", de
João Guimarães Rosa (1956)
"Tenteioito vezes aleiturae, sóna oitava, entreinoclima necessário. Éuma
viagem pelalinguagem, pelo interior
dopaísepelainteligênciade uma eSpé
"O Vermelho
a. C.) 'Toda a formadepensaresen-
primeiro granderomancepsicológicO
tiro mundo grego está lá. O conjunto
da literatura moderna, apresenta uma
análiseprofunda dos personagens de
mitológico apresentado nesse épico é
uma das fontes do pensamento freudiano. Considerado um dos maiores
romances doséculo2ü, "Ulisses" de Jamesioyce, éuma derivação modernis-
um mundo que ainda estava por vir. É
atualíssimo. Parece tersido escrito no
mês passado."
toda 'Odisséia'."
"Os Irmãos Karamázovi", de
Dostoiévski (1880) "É uma leiturolibertadora.AbordaaScriseseXis
tenciaiseasquestôesreligiosaS emorais com uma intensidade fantástica."
"Lord Jim", de Joseph Conrad
(1900) "Mostra o peso carregado
porum homem que comete um erro
numasituação-limiteepasSaa vida
cie de sábio caboclo."
pensando em repará-lo."
"Crime e Castigo", de Dostoiévski (1866) "Édaqueles livros
"Palmeiras Bravas", de William Faulkner(1 939) "São tragé-
que nos arras tapara o mais fundo que
podemos imaginarsobrea experiência
humana. Enosdevo!veàsuperfkiemelhoresdo que érarnos."
"A Metamorfose", de Franz
Kafka (1915) "Na primeira vez em
que li, deixou-me impressionado comigo mesmo, com asensaçãode que a arte nos reinventa."
"Conde de Monte Cristo", de
Alexandre Dumas (1848) "Lem-
"Odisséia", de Homero (séc. 80
e O Negro", de
Stendhal (1830) "Considerado o
dias modernas. Duas histórias intercaladas de figuras condenadas pelo destino ea luta para transcendê-lo."
"A Divina Comédia", de Dante
Alighien(1320) "Condensa as
idéias cristãs da Idade Média, que, nesse livro, são transformadas em linguagem poética. Opensamento cristão até
hoje permanece essencialmente o
mesmo."
"Os Lusíadas", de Camões
(1572) "Éa maiorepopéia do Renascimento europeu. Exalta o expansionismoe o cristianismo. As navegações
dos séculos 15e 76 representaram um
feito tãoimportantena época como a
chegadado homem à Lua. Camões faz
umpoemasobre o início daglobalizaÇâO."
"O Estrangeiro", deAlbertCamus (1942) "Talveza mais perfeita
fábula sobre a solidãodosécu!o20."
"Antologia Completa";de Carlos Drummond de Andrade
(1962) "Éo maior poeta brasileiro.
Umasíntese doqueháde melhorna
linguagem poética brasileira."
bro-me até hojedo arrebatamentodo
personagem, capazde renúncias tre-
"Dom Quixote", de Miguel de
Cervantes (1605) "Éo primeiro
grande livro que tematiza o próprio livro:Dom Quixote teriaperdido ojuízo
porcausa doexcesso de leitura das novelas de cavalaria."
"Tom Jones," de Henry Fielding (1749) "É um dos consolidadores de um novo gênero em acensão,
o romance. Cria um tiponovo, o 'narradorbisbilhoteiro, que conversaebrin-
mendas em favorde sua vingança."
cacomoleitOr."
Retrato da
alfá ue
de ieliUra
Brasileiro lê pouco. A
conclusão, que não chega
a surpreender, faz parte
de uma nesauisa realizada no imcio deste ano peIa Camara Brasileira do
Livro em 46 cidades 'e d'.
terentes regioes do Brasil.
Os dados do levantamenrevelam que o desinteresse pela leitura está ligado a razões econômicas e
culturais. Entre os mcmbros da classe A, 50% tinham o hábito de ler; na
B,37%;naC,27%,ena
classe D, 21%. As porcen- i
tagens sao
gualmente
proporcionais ao nível de
.
escolandade:
grau supe-
nor, 55%; ensino médio,
29%; 9 a 8 séries, 15%; le
a 4 séries, 10%. Apenas
um terço das pessoas alfabetizadas e com mais de
14 anos leram um livro
nos três meses anteriores
ao levantamento, e 20%
- tidos entrevistados nao
,
.
nham um umco livro em
casa. Os que poderiam ler,
- liam, alegavam
mas nao
falta de tempo (39%) e
nheiro para comprar livros (11%). Mais de 60%
do total dos compradores
de livros têm mais de 30
anos de idade, sem distinção de sexo. Somente 1%
.
5.980
,e um umverso
i
, ,uecarou
Ler
enuevlsiat.&os
uma biblioteca com mais
vo 1umes.
de 500
"Memórias Póstumas de Brás
Cubas," de Machado de Assis
(1881) "Promove uma súmula bri-
—
ai
lhante do pensamento e das formas literá riasdomundo europeu naAméricadoséculo 19. Conquista amaturidadepara a literatura brasileira,
cr
11
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B~
1 amia
•r
O ideal de pai perfeito gera montanha de culpa
Andrea/Iolha mgem
ais perfeitos? Isso não existe. Mas,
apesar
de essa idéia ser bem-aceita e muito bem
compreendida pelos pais, eles travam, quase
diariamente, uma dura batalha contra ela. E o
pior: arcam com uma consequência nada
agradável e muito perturbadora da imagem
12
idealizada de pais que criaram para si. É, a culpa atrapalha. Mas que culpa é essa, afinal?
Bem, um belo dia um casal resolve ou aceita
colocar um filho neste mundo. Um mundo
um tanto quanto insano, violento, inseguro.
Isso significa assumir a árdua tarefa de preparar o filho para enfrentar o que der e vier. Quer
dizer, enfrentar é pouco: o que os pais almejam é, na verdade, preparar o filho para que ele
se dê bem na vida, para que seja feliz. Esse anseio só aumenta a responsabilidade dos pais e
a exigência que fazem sobre o papel a cumprir.
E o filho nasce, começa a crescer, e, com isso,
surgem os contratempos para atrapalhar a
imagem criada. Os pais, que sonhavam e desejavam ser democráticos, justos, pacientes, tolerantes, enfrentam um filho rebelde, teimoso,
curioso, insistente. E, no lugar da idéia de que
uma boa conversa com o filho tudo pode resolver, surge a realidade muito diferente. Os
pais precisam ensinar regras, impor limites,
assumir a autoridade, proteger a criança, fazer-se respeitar. E como uma criança de três
anos, por exemplo, pode entender e aceitar tudo isso com uma simples conversa? Como um
adolescente impetuoso e cheio de vitalidade e
vontade de descobrir o mundo pode ouvir as
razões dos pais sem brigar pelo que pensa e
pelo que quer? Com essa parte o sonho não
contava, e a atitude educativa dos pais que se
impõe nessas horas provoca culpas. Ou, então, os pais passam a ser tolerantes além da
conta, o que também provoca culpas.
Quem tem filhos quer dar a eles o melhor,
dentro do possível: boa escola, conforto, segurança, saúde e um bom lazer. Para dar conta
de tudo isso, os pais trabalham. E trabalham.
Consequência: ficam estressados, passam
pouco tempo com os filhos, perdem facilmente a paciência quando estão com eles. Tem
mais: depois de um longo dia longe do filho, os
pais acreditam que devam desfrutar da companhia dele no tempo que resta, que precisem
expressar o afeto que sentem por ele. Mas como fazer isso e, ao mesmo tempo, orientar,
conter, cobrar? Atitudes como essas geram
culpas. Os pais, então, optam por não dizer
"não", o que também provoca culpas. Tudo is-
so torna ainda mais distante a imagem idealizada de pais que já foi tão sonhada. E isso gera
mais culpas.
É possível escapar de tanta culpa? Talvez
não, pois assumir o papel de pai ou de mãe significa educar, passar valores, restringir impulsos, sustar comportamentos. Mas talvez seja
possível assumir esse papel com um pouco
mais de liberdade de ação. Para tanto é preciso
aceitar a idéia de perder aquela imagem tão
idealizada de como ser pai que foi criada, mas
que fica longe da realidade.
Os pais podem sonhar ser —e ser de fato—
compreensivos, tolerantes, justos, pacientes.
Mas na medida da realidade, do possível, e
sem perder de vista o papel educativo que têm
a cumprir. Claro que essa função provoca ao
filho desconforto, sofrimento, frustração.
Quem aceita uma restrição de bom grado, sem
lamentar? Quem gosta de ter um pedido nega-
do? Mas isso tudo faz parte do jogo, tanto
quanto amar os filhos e por eles ser amado.
A culpa paralisa, impede, congela a ação. Por
isso não é produtiva, por isso deve ser evitada
pelos pais. Pelo menos seus efeitos. Já a responsabilidade facilita a busca de soluções, implica os pais em seu dever. E isso é tudo de que
os filhos precisam. Muito melhor assumir essa
responsabilidade no mundo real do que uma
culpa que se alimenta apenas no mundo de
imagens idealizadas, portanto impossíveis.
Pais perfeitos? Isso não existe. Pais que tentam acertar, mas que erram, pais que se affigem, pais cheios de dúvidas, pais que se inventam a cada dia, pais que se perdem, mas não
desistem, pais que não têm certas respostas.
Esses são os pais que assumem seu papel tão
humano. Com toda a humanidade possível.
ROSELY SAYAO é psicóloga, consultora em educacao e
autora de 'Sexo E Sexo" (cd. Companhia das Letras);
e- mail: roseIysuoI.com.br