Leiria-Fatima_ed_35 - Diocese Leiria

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Leiria-Fatima_ed_35 - Diocese Leiria
ANO XII • NÚMERO 35 • MAIO / AGOSTO • 2004
• D. Serafim, padre há 50 anos e Bispo há 25 | pág. 167
A proximidade do Pastor
e a cordialidade do cidadão
• Novo padre diocesano e dois diáconos | pág. 182
Ordenações - Diocese em festa
• Linhas de orientação pastoral 2004/2005 | pág. 185
“Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós”
em destaque • documentos pastorais • serviços e movimentos • notícias • reflexões • história • em
Leiria-Fátima
Órgão Oficial da Diocese
ANO XII • NÚMERO 35 • MAIO / AGOSTO • 2004
Ficha Técnica
Director
Luís Inácio João
Chefe de Redacção
Luís Miguel Ferraz
Administrador
Henrique Dias da Silva
Conselho de Redacção
Belmira de Sousa
Jorge Guarda
Luciano Cristino
Manuel Melquíades
Saul Gomes
Capa, Grafismo e Paginação
Luís Miguel Ferraz
Propriedade
Diocese de Leiria-Fátima
Sede
Seminário Diocesano de Leiria
2414-011 Leiria
Tel. 244 832 760
Fax 244 821 102
Mail: [email protected]
Periodicidade . Quadrimestral
Tiragem . 420 exemplares
Assinatura anual - 12 euros
Número avulso - 4 euros
Impressão - Gráfica de Leiria
Depósito Legal N.º 64587/93
Índice
Editorial
Juntos na corrida
165
Em Destaque
Congresso: Santo Agostinho – o homem, Deus e a cidade
D. Serafim, padre há 50 anos e Bispo há 25
Ordenações – Diocese em festa
Cónego Manuel Rodrigues Pires faleceu
166
167
182
184
Documentos Pastorais
“Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós” (cf Jo 15, 4)
185
Nomeações Episcopais
Nota Episcopal sobre o Euro 2004
Comunicado – Conselho Pastoral Diocesano
193
194
195
Linhas de orientação pastoral para 2004/2005
Serviços e Movimentos
Secretariado da Educação Cristã da Infância e Adolescência
Pastoral do Povo Cigano
Pastoral Carcerária – “Os Samaritanos”
Movimento dos Convívios Fraternos
Escola de Formação Teológica de Leigos
Ano Agostiniano
“Tarde Te amei”, em Ourém
Recital comemorativo da criação da diocese
“Música em Leiria” evoca presença dos Agostinhos
Festival de Teatro da Alta Estremadura
Comemoração do baptismo de S. Agostinho
A Diocese no dia do seu padroeiro
Próximos eventos
197
201
202
204
208
209
209
209
210
210
211
212
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Índice
Notícias 1
Bispo de Leiria-Fátima envia mensagem ao Santo Padre...
...Santa Sé responde ao Bispo de Leiria-Fátima
Centros de Preparação para o Matrimónio
D. Alberto Ricardo da Silva – novo Bispo de Dili
“Jornal de Minde” – 50º aniversário
Santuário de N.ª Sr.ª de Fátima em Maputo
Igreja da Santíssima Trindade – Primeira Pedra
Festa do Corpo de Deus
Peregrinação das Crianças
Encontro Nacional de Pastoral Juvenil
Dominicanas do Rosário Perpétuo – 50 anos em Fátima
Colóquio sobre a pobreza – Comissão Justiça e Paz
Assembleia da Acção Católica
Encontro de Sacerdotes Jubilários
“Liturgia para o Terceiro Milénio”
Missionários voluntários da Diocese
Acampamento Regional do CNE
Mosteiro de Monte Real em festa
XXXII Semana Nacional das Migrações
Curso de Missiologia no Centro Allamano
Colégio de S. Miguel aposta na inovação
Reflexões
Visita Pascal
A nova Concordata – Estado e Igreja em cooperação
A busca de Deus – Intervenção na Recolecção do Clero de 02.08.2004
1
213
214
214
217
218
218
219
220
220
221
221
222
222
223
223
224
224
225
225
228
228
229
235
237
Esta secção pretende reflectir a vida da Diocese e das suas comunidades durante o quadrimestre correspondente a cada edição do Órgão Oficial. Os textos não assinados destas secções
foram elaboradas pelo chefe-de-redacção da revista LEIRIA-FÁTIMA, tomando por base
textos publicados nos jornais diocesanos A VOZ DO DOMINGO e O MENSAGEIRO.
Agradecemos que as paróquias, serviços e movimentos nos enviem ecos das suas iniciativas
e programação, para o e-mail [email protected] ou para o endereço Revista LeiriaFátima - Seminário Diocesano - 2414-011 LEIRIA.
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Editorial
Juntos na corrida
Campeonatos, olimpíadas, medalhas... A sociedade tem realçado o
lúdico até à exaustão. Paulo, no seu tempo, não ficou insensível nem imune,
pelo menos na linguagem, a semelhante paixão, ao ponto de se considerar
também em “competição”.
Os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles,
para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa
incorruptível. Assim, também eu corro (...) (1Cor 9, 25-26).
Os leitores da primeira Carta aos Coríntios podem verificar que a “prova”
do Apóstolo não era individual, mas de “equipa”, incluindo a todos, para que
nenhum ficasse vencido: Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos.
Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo (9, 22). E tudo
faço por causa do Evangelho (...) (9, 23).
A diocese de Leiria-Fátima festejou as bodas de ouro presbiterais e
as bodas de prata episcopais de Dom Serafim de Sousa Ferreira e Silva.
Grata pelos cinquenta anos de disponibilidade ao serviço do Povo de Deus
no Sacerdócio de Jesus Cristo, e sobretudo pelos 14 anos de episcopado
em Leiria-Fátima, a Igreja diocesana reviu-se com o seu Bispo no mesmo
“estádio” e contemplou o mesmo “pódio”, não o dos louros corruptíveis
mas o da “coroa incorruptível” que esperam quantos correm por causa do
Evangelho e para que todos sejam vencedores e nenhum eliminado.
O “Órgão Oficial da Diocese” associa-se a tão significativas celebrações e
apresenta as suas felicitações ao Pastor e à Diocese. Ao referir o acontecido,
junta-se à acção de graças e aos belos sentimentos de alegria e cordialidade.
Sobretudo, procura não esquecer que é seu dever empenhar-se na “prova”
comum. Para isso, desce à mesma “pista” em serviço humilde à Igreja, nos
seus membros, comunidades, associações e serviços, de modo a contribuir
para que todos tenham acesso à vitória e a uma coroa mais valiosa que a
prata e o ouro.
O Director
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Ano Agostiniano | CONGRESSO
SANTO AGOSTINHO – O HOMEM, DEUS E A CIDADE
Auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria
11 de Novembro de 2004 - O HOMEM
O Homem em Santo Agostinho. Costa Freitas
Santo Agostinho: Conversão a Deus/Conversão à Sabedoria. Cerqueira Gonçalves
Relação entre natureza e graça em Santo Agostinho. Manuela Carvalho
Desafio de K. Rahner à antropologia cristã tradicional: o existencial sobrenatural.
João Duque
Será o agostinianismo um pessimismo? A questão do peccatum originale.
Joaquim Teixeira
Os sacramentos como origem do homem novo na Igreja. Jacinto Farias
[Concerto: Summa Augustiniana, de João Santos, na Sé de Leiria]
12 de Novembro - DEUS
O homem Cristo Jesus, mediador entre Deus e os homens. Arnaldo de Pinho
Reflexão de Santo Agostinho sobre o mistério trinitário de Deus. Noronha Galvão
Deus como beatitudo e outras felicidades. Manuela Brito Martins
Vero vides Trinitatem si caritatem vides: fragilidade e Trindade no pensamento
contemporâneo. José Rosa
Sabedoria da fé e ideologias. Verdadeira e falsas transcendências. Michel Renaud
Santo Agostinho: a Razão neoplatónica e a Fé cristã. Carlos Silva
[Concerto: Servus Tuus Humilis, de Alberto Roque, na Igreja de São Francisco, Leiria]
13 de Novembro - A CIDADE
Dois amores fizeram duas cidades. Santiago Carvalho
Dinamismo da história para a paz final de Deus. Santiago Sierra
Radicalismo e utopia na Cidade de Deus. Fernando Cristóvão
As metamorfoses da Cidade de Deus. Igreja e Estado. Mendo de Castro Henriques
A Jerusalém celeste como mãe. Maria e a Igreja. Manuel Pereira de Matos
Santo Agostinho, pastor. D. Manuel Clemente
[Concerto: 13 Motetos Agostinianos, de Pedro Figueiredo]
[Recepção oferecida pela Região de Turismo de Leiria/Fátima]
Informações e Inscrições:
Pólo de Leiria da UCP • Rua da Cooperativa, São Romão • 2414-018 LEIRIA
Tel: 244 813 794 • Fax: 244 823 193 • E-mail: [email protected]
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Em Destaque
D. Serafim, padre há 50 anos e Bispo há 25
A proximidade do Pastor
e a cordialidade do cidadão
Por Luís Miguel Ferraz
“Quando entrei nesta Sé pela primeira vez, chamou-me a atenção o
dístico “Gloria in Excelsis Deo”, no retábulo da capela-mor. Essa mensagem
ficou gravada no meu coração. Hoje, quero dar glória a Deus pelos dons que
me concedeu nestes anos, pedir perdão pelos momentos em que não fui fiel e
pedir para que me ajude a ser um ministro mais coerente e mais eficaz desta
Igreja”. >>>
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Felicitações e Bênção do Santo Padre
Ao Venerável Irmão SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA
Portugal é, sem dúvida, uma nação feliz, pois, no conhecido lugar de
Fátima, a Rainha do Santíssimo Rosário apareceu seis vezes, e entregou à
Humanidade, com solicitude maternal, uma mensagem de Esperança e Paz.
Recordando esse lugar de graça, para o qual frequentemente Nos voltamos,
alcançando indizível conforto espiritual, com a maior alegria Nos dirigimos a
ti, Venerável Irmão, que és ilustre Bispo de Leiria-Fátima, sobretudo porque
neste ano celebras o duplo jubileu sacerdotal e episcopal.
É de desejar que, na grande oportunidade destes dois acontecimentos,
te lembres do tempo em que, chamado ao sacerdócio por um impulso
divino, no Seminário da tua diocese, te dedicaste com diligência aos estudos
eclesiásticos, mas principalmente o dia felicíssimo em que recebeste a
ordenação presbiteral.
Como poderias não recordar, sem dúvida cheio de felicidade, quer os anos
passados em Roma, onde, na Pontifícia Universidade Gregoriana, alcançaste
a Licenciatura em Direito Canónico, quer os anos seguintes, em que, na tua
diocese, desempenhaste com esmero a tua missão, pregando o Evangelho e
explicando correctamente os preceitos divinos?
Por isso, a 30 de Abril de 1979, te nomeámos Bispo titular de Lemellefa
e Auxiliar da Arquidiocese de Braga. Em 1981 transferimos-te para a ínclita
sé patriarcal de Lisboa, com a mesma função de Auxiliar, e seis anos depois,
nomeámos-te Coadjutor da diocese de Leiria-Fátima, da qual és o Bispo
residencial há onze anos.
É particularmente grato sublinhar a geral simpatia que, onde quer
que exerceste o ministério episcopal, alcançaste, tanto com as excelentes
qualidades de espírito de que foste dotado, como com a solicitude pastoral
que sempre usaste em favor daqueles que te foram confiados para os
confirmares na fé.
Por ocasião destes solenes eventos da tua vida, recebe Venerável Irmão, os
Nossos votos de felicidade, enquanto te confiamos à Senhora do Santíssimo
Rosário, para que sempre te guarde como Mãe clementíssima.
De tudo isto seja sinal e testemunho da nossa mútua caridade, a Bênção
Apostólica que de todo o coração enviamos, em primeiro lugar, para ti,
Venerável Irmão, depois para o Venerável Irmão Alberto Cosme do Amaral,
Bispo Emérito de Leiria-Fátima, e para toda a Diocese de Leiria-Fátima.
Do Palácio do Vaticano, aos 13 dias do mês de Maio do ano 2004
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Em Destaque
>>>
Este poderia ser o resumo das palavras de D. Serafim de Sousa Ferreira
e Silva, Bispo de Leiria-Fátima, na celebração eucarística de comemoração
do seu jubileu de 50 anos de vida sacerdotal e 25 de missão episcopal, no
passado dia 19 de Junho.
Referindo os muitos momentos de alegria que tem vivido nesta Diocese,
e também os momentos de provação, o prelado afirmou ter procurado sempre
“ser pastor”, dando o melhor de si mesmo pelas ovelhas que o Senhor lhe
confiou, “num tempo de corpolatrias e desportolatrias, que precisa mais que
nunca de quem viva os valores do Espírito, de fiéis cada vez mais activos na
expansão do Reino de Deus”. O balanço, garantiu D. Serafim, “é positivo”.
Para além dos muitos fiéis que encheram a Catedral, marcaram presença
cerca de uma centena de sacerdotes, diocesanos e não só, e também mais de
uma dezena de bispos de todo o País, entre os quais o Núncio Apostólico,
representante da Santa Sé em Portugal, D. Alfio Rapisarda.
O momento final da eucaristia foi reservado para uma pequena sessão
de homenagem ao jubilado, com intervenções de Isabel Damasceno,
presidente da Câmara de Leiria, e José Leitão, governador Civil do Distrito,
em nome da “sociedade civil”, de Eugénio Lucas, membro do Conselho
Pastoral Diocesano, e cón. Luciano Cristino, do Cabido da Catedral, em
nome dos leigos e padres da Diocese, e, por fim, do Núncio Apostólico, em
representação da Igreja Universal.
Cidadão na cordialidade
Os valores humanos de D. Serafim foram enaltecidos, sobretudo, pelos
dois primeiros intervenientes. A sua relação fácil e directa com todos os
sectores da sociedade, a sua abertura ao diálogo, a sua cordialidade e
afabilidade, o seu “bom modo de receber e falar com toda a gente” não
passam despercebidos aos que se cruzam com o nosso Bispo. “Sempre no
respeito pela distinção entre o poder temporal e o eterno, D. Serafim não
deixa de dar sábias e discretas sugestões, repletas de humanidade e de amor
pelos filhos da Igreja, que sempre escuto com atenção”, confessou Isabel
Damasceno. Considerando-o um “sábio do nosso tempo, que sabe estar
comprometido com o mundo real, ser tolerante com todos, mas sempre
iluminando o caminho para Deus”, a presidente da Câmara referiu estar
convencida de que D. Serafim é “amigo de Leiria e dos leirienses”, ao
mesmo tempo que também ele “está no coração dos leirienses”.
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Em Destaque
Também em tom informal e pessoal, o governador Civil partilhou com
os presentes a “rica experiência” que foi o seu primeiro encontro com o
Bispo, em 15 de Maio de 2002. “Sem pressas e de modo tranquilo e simples,
falámos de muitos temas importantes, desde a política à cultura e à formação
da sociedade, e logo ali me senti perante um amigo, um homem cuja simpatia
provém da imediatez da sinceridade”, afirmou José Leitão.
Pastor na proximidade
Falando “em nome pessoal, mas certo do sentimento comum dos leigos
diocesanos”, Eugénio Lucas frisou também a cordialidade, afabilidade
e capacidade de comunicação do prelado. Como pastor, salientou “a
proximidade que procura manter em relação às pessoas, aos mais simples
que o abordam e para os quais tem sempre um gesto de acolhimento, uma
palavra amiga, uma presença sem pressas”. Exemplo disso, referiu, é “o seu
papel em Fátima, de doação e amor aos peregrinos” e a sua preocupação
numa “constante actualização, para acompanhar os problemas reais das
pessoas que Deus colocou ao seu cuidado nesta Igreja particular”. É essa
proximidade que leva os diocesanos a afirmar: “Pode contar connosco!”
O cónego Luciano Cristino, em nome dos padres da diocese, centrou a
sua intervenção na relação do Bispo com o presbitério, também ela marcada
pela “proximidade de pastor, que, nos momentos de festa e também nos de
dor e de dificuldade, marca sempre uma presença amiga e atenciosa junto
dos seus sacerdotes”.
A marcar a proximidade, agora, em relação à Igreja Universal, D. Alfio
Rapisarda leu uma carta assinada pessoalmente pelo Santo Padre (publicámos
na edição da semana passada), com votos de parabéns a D. Serafim pelas
datas comemorativas celebradas.
Tríplice comemoração
Este foi o segundo momento comemorativo destas efemérides do nosso
Bispo. O primeiro foi na igreja de Santo Agostinho, três dias antes, dia
em que D. Serafim celebrou o seu aniversário natalício e os 25 anos de
ordenação episcopal. Foi apresentada a encenação “Santo Agostinho, um
coração inquieto”, pelos alunos do Colégio de Nossa Senhora de Fátima,
seguindo-se um momento de convívio, durante o qual a Diocese ofereceu ao
seu Bispo um dos quadros que está patente em Fátima, na exposição sobre
este Santo Padroeiro.
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Em Destaque
O terceiro momento foi a 13 de Julho, dia da dedicação da Catedral, com
a apresentação, na Sé, do Concerto da Orquestra de Sopros da EMOL, que
integra uma composição original do seu maestro, Alberto Roque, dedicada
a Santo Agostinho, chamada Servus Tuus Humilis, estreada no Festival de
Música em Leiria deste ano.
Saudação de José António Leitão da Silva,
Governador Civil de Leiria
É com particular emoção e regozijo que me associo a esta Celebração
em honra do nosso Bispo de Leiria-Fátima, Dom Serafim de Sousa Ferreira
e Silva. A celebração destas Bodas de Ouro Sacerdotais e Bodas de Ouro
Episcopais mais que uma efeméride invulgar, constituem uma ocasião
própria para reflexão e partilha.
Nesta data, e coincidindo com a celebração dos 1650 anos do nascimento
de Santo Agostinho, Padroeiro da Diocese, antecipamos os 460 anos que a
Diocese celebrará em 2005 com os festejos e recordação da Ordenação de D.
Serafim em 1 de Agosto de 1954 e a sua consagração como Bispo em 16 de
Junho de 1979, data em que completou 49 anos de idade.
Confesso-vos não ter conhecido o Senhor D. Serafim quando foi
ordenado Padre em 1954. Apesar disso, e fruto de um relacionamento mais
próximo cultivado nestes últimos dois anos, habituei-me a considerar as
suas palavras, a estimar a sua sinceridade e a rir com a sua boa disposição e
porque não dizê-lo, saudável irreverência.
Porque me marcou de forma extraordinária, com a autorização do
Senhor D. Serafim, não resisto a deixar-vos um pequeno testemunho das
circunstâncias que rodearam o nosso primeiro encontro.
Na sequência do início das minhas funções, em Abril de 2002, solicitei
ao Senhor Bispo de Leiria/Fátima uma audiência para particularmente,
apresentar cumprimentos e para institucionalmente disponibilizar a
colaboração que me fosse procurada. Fruto de coincidência de Agenda
não foi possível reunir, quando da primeira marcação. Perante esta pontual
dessincronia marcámos nova data para que, nos encontrássemos no Paço
Episcopal de Leiria no dia 15 de Maio de 2002. Iniciando com o formalismo
próprio, ditado pelas sisudas regras protocolares, fui, inesperadamente
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Em Destaque
confrontado com uma simples pergunta por parte do Senhor D. Serafim:
“Senhor Governador, está com muita pressa?”
Não estava de facto com muita pressa mas, mesmo que estivesse não
creio que tivesse alterado a minha resposta: - Não, Senhor Bispo, não estou
com pressa. Estava quebrada a psicológica barreira do cronómetro para que,
calma e serenamente pudéssemos conversar sobre os muitos temas que,
a ambos, interessavam. Extravasando largamente os obrigatórios temas
politíco-partidários, abordamos diversificados e importantes temas, quer na
perspectiva diocesana quer, naturalmente na perspectiva política e social.
Foi durante esta primeira e original conversa que de modo tranquilo e
simples me apercebi das qualidades humanas e apostólicas do Homem e
Cidadão Serafim de Sousa Ferreira e Silva.
Fruto natural da sua experiência de 48 anos de sacerdócio e da sua
passagem pela Universidade Gregoriana em Roma, pelo Seminário Maior do
Porto, onde leccionou, pelo Tribunal Eclesiástico do Patriarcado, onde julgou,
pela Diocese do Porto onde exerceu as funções de Vigário-Geral, deparei-me
com um vulto de extraordinária cultura, formação e empenho na construção
e modelação de Homens e Mulheres de excepção. Pensei, aliás, que na sua
missão menos espiritual, as preocupações, interpretações, sensibilidade e
auscultação de interesses e vontades que um Bispo diariamente desenvolverá,
não seriam muito diferentes daquelas que, enquanto Governador Civil
me esperavam. Para todos os efeitos, ambos representamos Governos que
irremediavelmente estão determinados a encontrarem-se e a partilharem
esforços e projectos, há cerca de 900 anos.
Este encontro, habitualmente de circunstância e de formalismo protocolar,
tornou-se para mim, um importante momento para as minhas funções que
completavam 15 dias. Para além do natural e esperado conforto espiritual
que levava como expectativa para a audiência saí reforçado com as palavras
que escutei e com a solidariedade e cordialidade deste destacado ministro da
Igreja.
Não posso esquecer, nesta altura, as palavras escritas do padre Dr. Jorge
Guarda, Vigário-Geral da Diocese, quando define, em Dom Serafim, o
protagonismo da Cordialidade, escrevendo que “cordialidade é a relação que
brota imediatamente do coração, pelo que se exprime na maneira simpática
como a pessoa se exprime, na imediatez e sinceridade do contacto com os
outros. Estes sentem-se compreendidos, estimados e amados”. Foi assim que
saí do Paço Episcopal, trazendo ainda, o compromisso de apresentar a este
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Em Destaque
novo amigo, permita-me que o trate desta forma, o que faltava da Família
Leitão.
Desde então tenho tido a honra e privilégio de, com basta frequência,
aprofundar o meu conhecimento e afecto por D. Serafim.
Seja nas suas Notas Pastorais ou Administração Diocesana, no seu
empenho na construção da nova Igreja da Santíssima Trindade em Fátima
ou na Ajuda que tem promovido à divulgação da mensagem cristã por via
radiofónica nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, constato o
sistemático e devotado empenho à nobre causa da entreajuda fraterna e à
promoção do amor e sacrifício para com os outros.
Mas, quem o conhece sabe que, para além da predisposição sacerdotal
para estas missões, Dom Serafim reserva tempo e espaço para devoções mais
generalizadas.
Aprecio particularmente a sua boa disposição e alegria de viver não
esquecendo algumas das suas habituais e oportunas observações que,
granjeiam a simpatia de todos quanto o ouvem e, normalmente nos permitem
saudáveis e audíveis gargalhadas.
Termino dizendo-vos e em particular ao Senhor D. Serafim que o convite
que me foi endereçado para, enquanto Governador Civil de Leiria, assistir
e participar nesta homenagem ao homem e Sacerdote, perdurará como uma
das mais gratas recordações e memórias que reservarei da minha passagem
por estas funções.
O mais generoso e profundo agradecimento por tudo quanto nos deu
nestes 25 anos enquanto Bispo de Leiria/Fátima e nestes 50 anos enquanto
Sacerdote, e muito particularmente pela amizade simpatia e cordialidade que
sempre teve para comigo.
Obrigado e muitos parabéns Dom Serafim.
Saudação de Isabel Damasceno Campos,
Presidente da Câmara Municipal de Leiria
Sinto-me particularmente feliz por me ser dada a oportunidade de usar da
palavra nesta cerimónia comemorativa dos 50 anos da ordenação sacerdotal e
dos 25 anos de elevação a bispo do Sr. D. Serafim Ferreira e Silva. Feliz por
ter oportunidade publicamente, de expressar os meus sinceros agradecimentos
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Em Destaque
pessoais pelas atenções e gentilezas com que sempre me distinguiu,
testemunho gratificante dos seus humanismo e sensibilidade cristã.
Agradeço-lhe também na qualidade de Presidente da Câmara de Leiria
as sábias e discretas sugestões e conselhos sobre diversos actos e decisões
emergentes da complexa gestão autárquica e que para mim sempre foram da
mais valiosa utilidade. Sua Excelência Reverendíssima sempre entendeu que
aconselhar e ajudar os filhos da Igreja e todos os filhos de Deus a realizarem
o bem comum e a governarem na verdade e na justiça faz parte integrante do
seu múnus episcopal.
Se agradecer é a primeira motivação desta minha modesta e despretensiosa
intervenção, ela visa também pôr em evidência e exaltar a forma superior,
repleta de humanidade, de perfeito equilíbrio entre poder temporal e
espiritual com que o Sr. D. Serafim governa esta difícil Diocese.
O Sr. D. Serafim é um defensor da liberdade. Da liberdade na
responsabilidade, daquela liberdade que constitui a essência do homem
considerada na sabedoria cristã e que está na base da dignidade e dos direitos
da pessoa humana.
O Sr. D. Serafim é um bispo tolerante, defensor da liberdade religiosa,
considerada esta como o direito que todo o homem tem de perante o Estado,
ou qualquer outro poder temporal, procurar a verdade e nela viver em
sinceridade. Mas, concomitantemente pela palavra e pelo exemplo, inspirado
por uma verdadeira fé, sempre iluminou com a mais clara luz os caminhos
que levam o homem a Deus e à Santa Igreja.
O Sr. D. Serafim, com a sua cativante simplicidade, vive o seu episcopado
com sadio comprometimento com o mundo real, interpretando este, com a
lucidez de um sábio e influenciando com o mais puro amor cristão. Para
sua Excelência Reverendíssima todo o homem é um irmão, todos os
acontecimentos, políticos, culturais, desportivos e sociais são acontecimentos
criados pelos filhos de Deus e por todos eles passa o espírito salvífico dos
Santos Evangelhos.
O Sr. D. Serafim sempre respeitou o princípio da separação do poder
espiritual do poder temporal, mas nunca esqueceu que só com o diálogo
permanente entre estes poderes é possível a realização plena do homem e a
defesa dos seus direitos fundamentais.
O Sr. D. Serafim é um grande homem, é um esclarecido, zeloso e devoto
servidor da Igreja e de toda a comunidade diocesana, é um modelo de Bispo,
é um modelo de cidadão, é um grande amigo de Leiria e dos Leirienses.
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Em Destaque
Sr. D. Serafim, sei que tem Leiria no coração, mas, interpretando o sentir
de todos os Leirienses, neste momento solene carregado de verdade nos
sentimentos, lhe afirmo comovida, que Sua Excelência Reverendíssima está
igualmente no coração de todos os Leirienses.
Saudação de Eugénio Lucas,
membro do Conselho Pastoral Diocesano
Reúne-se hoje, a Diocese de Leiria-Fátima para homenagear o Pastor, que
há 11 anos, Deus colocou à frente desta Diocese e de que hoje celebramos os
jubileus de ouro e de prata, respectivamente presbiteral e episcopal.
À nossa celebração litúrgica quiseram associar-se o Ex.mo e Rev.mo
Senhor D. Alfio Rapizarda, Núncio Apostólico; os Rev.mos Senhores
Arcebispos e Bispos presentes, dezenas de sacerdotes, bem como as mais
altas autoridades civis da região, cuja presença muito nos honra. Entendemos
este gesto como um sinal claro de estima pela pessoa do Sr. D. Serafim. Em
nomes dos leigos da Diocese aqui fica o nosso agradecimento.
É para mim uma honra e um privilégio, poder em representação dos
leigos da Diocese de Leiria-Fátima, dirigir a Vossa Ex.a Rev.ma umas
singelas palavras de homenagem nesta celebração comemorativa. Não estou
mandatado de uma forma oficial por quem venho representar, apresento
por isso uma visão pessoal, mas que estou certo interpreta o sentimento de
muitos dos que aqui me encontro hoje a representar.
Do muito que poderia aqui mencionar, é impossível referir numa
breve intervenção mais do que apenas alguns aspectos que creio ajudam a
caracterizar o Pastor que tem conduzido esta porção do Povo de Deus, que é
a Diocese de Leiria-Fátima.
Num texto recente para a Agência Ecclesia, o Sr. Vigário Geral
da Diocese, Padre Jorge Guarda, referia-se ao Sr. D. Serafim como o
protagonista da cordialidade, realçando as suas qualidades humanas, a sua
constante manifestação de amizade e de calor humano, a que se opõe a frieza,
a distância e a reserva na relação interpessoal, e como esta maneira de ser
de Vossa Ex.a Rev.ma, faz com que nos sintamos compreendidos, estimados
e amados. Concordando inteiramente com esta caracterização, permito-me
ir ainda mais longe e, além da cordialidade, refiro o dom da afabilidade e o
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Em Destaque
dom da comunicação. Esta afabilidade revela-se nos gestos mais simples que
podem ocorrer numa cerimónia litúrgica, como sucedeu na última celebração
do sacramento do crisma na paróquia de Fátima, através de um cumprimento
pessoal a um jovem tetraplégico que ia ser padrinho de um crismando, no
facto de no final da celebração cumprimentar pessoalmente todos os jovens
que receberam o sacramento do crisma, ou de, após a celebração, falar com
uma senhora já idosa relativamente às respectivas idades e dizer como ela
não aparentava a idade que já tinha, ou de falar com as pessoas que no
final de celebração o pretenderam fazer. Mas não uma conversa formal,
distanciada e rápida, mas pelo contrário uma conversa interessada, sem
pressa e atenta. Esta afabilidade revela-se também na visita aos doentes que
efectua com frequência, no querer saber o nome dos filhos das pessoas com
quem está falar, e recordar-se desses nomes num futuro encontro. No dom da
comunicação refiro a facilidade com que consegue alcançar diferentes tipos
de audiência e transmitir sempre uma mensagem de base cristã.
As novas Directrizes para o ministério pastoral dos Bispos publicadas
após a 10ª Assembleia-geral do Sínodo dos Bispos de Outubro de 2001,
sobre “O Bispo, ministro do Evangelho para a esperança do mundo”,
refere que “Característica do Bispo do nosso tempo, em relação aos séculos
passados, é possuir um estilo de vida mais simples, e ser mais acessível a
todos, mais próximo do povo, atento às necessidades da população”. Creio
que todos concordamos, que já muito antes deste documento, estas eram
preocupações que o Sr. D. Serafim considerava importantes e diariamente
procurava e continua a procurar realizar.
Um outro aspecto que quero realçar é a preocupação constante de
actualização não só em matéria religiosa, mas também sobre a sociedade em
geral e da divulgação dessa informação, que constatamos nas intervenções do
Sr. D. Serafim, nas entrevistas, nas suas cartas pastorais, nas suas exortações
sinodais, e de que a Revista Síntese, que Vossa Ex.a Rev.ma fundou em
1968, há já 36 anos, e que desde essa data dirige, é um claro exemplo, revista
que já encontrei em locais onde não imaginava deparar com uma publicação
desta natureza, o que demonstra a amplitude de público que atinge.
Uma palavra para destacar a forte devoção a Nª Sª do Rosário de Fátima,
o empenho colocado no processo de beatificação dos pastorinhos Francisco
e Jacinta Marto, na construção da nova basílica de Fátima, o amor aos
peregrinos de Fátima.
Também em nome dos leigos quero realçar e agradecer a caminhada em
176 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Em Destaque
Cristo que foi o Sínodo Diocesano, que nos proporcionou um participação
mais activa na Igreja Diocesana.
O tríplice ministério dos Bispos definido no Concílio Vaticano II, na
Constituição Dogmática sobre a Igreja “Lumen Gentium”: o ministério
episcopal de ensinar, o ministério episcopal de santificar e o ministério
episcopal de reger, a todos eles, no que nos é permito apreciar, Vossa Exa
Rev.ma tem respondido com profundidade e dedicação.
Senhor D. Serafim, louvamos a Deus porque todos nós, de uma forma ou
de outra, já pudemos beneficiar do seu múnus pastoral, do seu zelo apostólico,
da sua sabedoria de mestre, da sua fidelidade ao serviço da Igreja, da sua
sensibilidade aos sinais dos tempos, da sua abertura aos dons do Espírito, do
seu amor à juventude, do seu diálogo pastoral com o mundo moderno.
Queremos dar graças a Deus pelo dom maravilhoso que concedeu à Igreja
na pessoa do nosso Bispo, a quem nos sentimos profundamente unidos na
fé. Ele é, para todos nós, o sinal visível da presença de Deus no meio do seu
Povo. Ele nos guia e nos ensina a viver em conformidade com os critérios
evangélicos.
Mas também lhe queremos dizer, com franqueza e sinceridade: pode
contar connosco. Seguiremos consigo o caminho para a salvação em Cristo.
Termino com uma expressão bem portuguesa, que sei que é querida ao Sr.
D. Serafim, uma expressão cujo significado Vossa Ex.a Rev.ma, inclusive, já
explicou ao Santo Padre João Paulo II. “Bem-haja”.
Por toda a sua actividade sacerdotal e episcopal: Bem-haja.
Saudação do Cón. Luciano Coelho Cristino,
membro do Cabido da Catedral
Fui incumbido de fazer uma saudação a V. Excelência Reverendíssima,
em nome de toda a diocese e, particularmente, em nome do presbitério
diocesano, nestas datas jubilares da sua vida. A resistência que apresentei
durante algum tempo ao convite que me foi feito, tinha como principal
dificuldade fazer uma síntese, em breves palavras, do muito que haveria a
dizer acerca do Pastor que o Senhor nos concedeu, há quase onze anos e
meio. Essa dificuldade foi aligeirada, quando me foi dito, pelo coordenador
desta homenagem e celebração, que eu devia restringir as minhas palavras
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 177
Em Destaque
à saudação propriamente dita, e não fazer uma evocação do seu itinerário
de vida até ao momento, uma vez que essa evocação teria o seu momento
próprio.
Prescindo, portanto, de traçar esse itinerário, que cheguei a redigir,
especialmente nos três ou quatro marcos que o pontuam, nestes 74 anos,
e que são comuns à sua vida pessoal e à da diocese, especialmente no que
se relaciona com a história e a mensagem de Nossa Senhora de Fátima. Por
isso, para alívio de todos e também do Senhor Bispo, a minha saudação é
muito simples e breve.
Principalmente a partir do “Decreto sobre o Ministério e Vida dos
Sacerdotes”, está definida a relação do Bispo com o seu presbitério. Sendo
o Bispo ordenado para o cumprimento de uma tripla missão pastoral que
lhe foi conferida por Cristo (testemunho, vitalização divina e caridade), a
ela corresponde, por parte de todo o povo fiel e do presbitério, em relação
ao seu bispo, também uma tripla atitude: respeito filial, obediência e união
espiritual.
V. Exª Revma, desde o momento em que assumiu o seu ministério
episcopal na diocese de Leiria-Fátima, como bispo residencial, já ordenou
19 sacerdotes diocesanos e alguns religiosos, de alguma maneira ligados
à mesma diocese. Viu partir para Deus 21 sacerdotes diocesanos e alguns
religiosos. Tem-se mantido assim, sensivelmente inalterado, o número dos
sacerdotes diocesanos ao serviço.
É principalmente em nome de todos os sacerdotes, que, há 11 anos, lhe
foram particularmente confiados - os vivos e os defuntos -, que saudamos V.
Exª Revma, pelos 74 anos de vida, 50 de sacerdócio, 25 de episcopado e 14
de ministério na diocese de Leiria-Fátima, e lhe agradecemos o testemunho
de amizade exemplar que tem dado a todos, especialmente, nas horas de
alegria e de festa, por ocasião dos aniversários sacerdotais, mas também nas
horas difíceis da doença, da aposentação e da morte.
Na nossa oração, pedimos a Deus Pai para que, no exercício do seu
ministério, animado pela força do Espírito Santo, V. Exª Revma possa
manifestar sempre o rosto de Cristo, Bom Pastor, diante de todos os seus
diocesanos e particularmente diante dos seus padres. Isto, durante o tempo
em que, pelas prescrições canónicas ou por vontade do Papa, ainda estiver
no serviço efectivo da Diocese, e também, depois de passar à sua condição
de bispo emérito, pelo tempo que Deus dispuser e que auguramos seja por
muitos anos.
178 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Em Destaque
Para memória 1
Permita-me que trace o itinerário de V. Exª, no rumo para a Diocese de
Leiria-Fátima. Esse itinerário é pontuado por três ou quatro marcos, pouco
conhecidos, que, em coincidência feliz, também fazem parte da vida da
diocese e do Santuário de que V. Exª Revma é guardião, desde há 11 anos.
Quando D. Serafim viu a luz do dia (é um modo de dizer), a 16 de Junho
de 1930, em Santa Maria de Avioso, o Sr. D. José Alves Correia da Silva,
também maiato, como o Sr. Bispo, e primeiro prelado da diocese restaurada
de Leiria, preparava-se para traçar um novo rumo ao Santuário e à Mensagem
da Senhora de Fátima, que acolheu no ano em que foi nomeado. Fê-lo a 13
de Outubro desse ano de 1930, ao declarar dignas de crédito as visões dos
pastorinhos de Aljustrel e autorizar oficialmente o culto de Nossa Senhora
do Rosário de Fátima.
Tinham passado treze anos, depois que Ela se tinha manifestado pela
última vez, na Cova da Iria; tinham passado dez anos, desde o momento
em que a imagem de Nossa Senhora do Rosário fora colocada pela piedade
mariana de um devoto de Torres Novas, na Capelinha das Aparições, depois
de ter “nascido” das mãos do Sr. José Ferreira Thedim, em São Mamede do
Coronado. Essa paróquia era servida, e continuou a sê-lo, ainda por muitos
anos, por um sacerdote piedoso que eu e os meus colegas seminaristas de
Leiria, nos habituámos a ver no Santuário de Fátima, nos grandes dias de
peregrinação, muito acarinhado pelo Sr. D. José que fazia questão de lhe
marcar pessoalmente alojamento gratuito, certamente por essa proximidade
com aquela oficina de santeiro que se tornou famosa: o Padre Joaquim de
Sousa Ferreira e Silva, seu tio.
Estou certo que foi no convívio com aquele sacerdote e no seu testemunho
de fé que se foi cimentando a sua vocação sacerdotal e a devoção à Santíssima
Virgem, sob o título do Rosário de Fátima.
Passados 24 anos, a 1 de Julho de 1954, recebia o seminarista Serafim
a ordenação sacerdotal na Sé do Porto, um mês e meio depois de ter estado
em Fátima com os cerca de 600 alunos dos seminários de Portugal, entre os
quais 100 finalistas, a celebrar o motu proprio de S. Pio X sobre a música
sacra e a consagrarem-se a Nossa Senhora, naquele Ano Santo mariano,
primeiro centenário da proclamação dogmática da Imaculada Conceição.
Não deixa de ser curioso que, nesse mesmo ano de 1954, fazia 50 anos
1
Esta parte não foi pronunciada.
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Em Destaque
de idade, 25 de sacerdócio e era nomeado segundo bispo da diocese o
seu venerando predecessor, D. João Pereira Venâncio, de quem estamos a
celebrar o primeiro centenário do nascimento.
No ano de 1979, a 30 de Abril, era V. Exª Revma nomeado bispo auxiliar
de Braga e ordenado a 16 de Junho na Cripta da basílica de Nossa Senhora da
Conceição do Sameiro, dedicada ao Imaculado Coração de Maria, a devoção
nuclear de Fátima.
Transferido, em Junho de 1981, para o patriarcado de Lisboa, V. Exª
Revma teve a felicidade de estar presente num outro momento de grande
importância para a história da mensagem de Fátima. Quando, em Março de
1984, a veneranda Imagem de Nossa Senhora, da Capelinha das Aparições,
diante da qual o Papa João Paulo II tinha feito a consagração do mundo e da
Rússia, que foi considerada definitiva, regressava de Roma, tinha a recebê-la
no aeroporto de Lisboa, o Sr. D. Serafim. Um mês e meio depois, o Papa João
Paulo II juntava o título de Fátima à velha diocese de Leiria.
A 7 de Maio de 1987 (outro ano mariano extraordinário), era V. Exª
Revma nomeado bispo coadjutor de Leiria-Fátima, e, no dia 13 de Maio
seguinte, esse facto foi revelado à multidão de peregrinos, reunidos na Cova
da Iria.
Iniciando o seu ministério episcopal, em colaboração com o Senhor D.
Alberto Cosme do Amaral, podia V. Exª Revma continuar, como ele e os seus
imediatos antecessores, a dirigir o povo de Deus desta igreja particular que
lhe foi confiada, a presidir aos mais variados actos realizados no Santuário
de Fátima e a contactar, em tantos países do mundo, com o entusiasmo das
multidões à volta da Senhora da Mensagem de Fátima.
Da sua acção pastoral, desde que assumiu o ministério como bispo
residencial, ficaram apontados os tópicos principais no primeiro número
e seguintes do órgão oficial da diocese “Leiria-Fátima”, restaurado, por
decreto seu de 29 de Abril de 1993: promulgação do “Estatuto Económico
do Clero”, do “Regulamento da Administração de Bens da Igreja na Diocese
de Leiria”, restauração pastoral dos centros urbanos de Leiria e Marinha
Grande, dinamização dos serviços diocesanos, educação cristã da juventude,
comunicação social da diocese, pastoral de Fátima, diálogo e cooperação com
as instituições sociais e culturais, inventariação do património cultural móvel
da diocese, a constituição dos conselhos pastorais diocesano e paroquiais.
No dia 22 de Maio de 1995 presidiu à celebração solene do 450º
aniversário da criação da diocese e da elevação da vila de Leiria a cidade,
180 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Em Destaque
tendo como ponto principal a concelebração eucarística na Igreja de Nossa
Senhora da Pena, no castelo de Leiria, primeira catedral leiriense.
Preparado desde o início de 1993, V. Exª Revma, convocou um Sínodo
Diocesano, no encerramento da peregrinação diocesana ao Santuário de
Fátima, a 2 de Abril de 1995, e veio a realizá-lo com toda a diocese, de 1996
a 2002.
Outro grande acontecimento, verificado durante o governo episcopal de
D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, foi a beatificação de Francisco e Jacinta
Marto, os pastorinhos de Fátima, feita pelo Papa João Paulo II, na Cova da
Iria, no dia 13 de Maio de 2000, em pleno jubileu do Ano Santo.
A 10 de Dezembro de 1998, D. Serafim criou a paróquia de Ribeira do
Fárrio, separando-a da Freixianda, e, a 26 de Dezembro de 2000, deu o
estatuto de quase-paróquia, à comunidade da Cruz da Areia, um dos bairros
mais populosos da cidade de Leiria.
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Em Destaque
Ordenações – Diocese em festa
Novo padre diocesano e dois diáconos
2 de Maio, 41º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Dia marcante para
a igreja diocesana que passou a contar com mais presbítero, padre Sérgio
Jorge Lopes Fernandes, da paróquia de Urqueira, e dois diáconos, Pedro
Miguel Ferreira Viva, da paróquia da Sé, e Manuel Henrique Gameiro de
Jesus, da paróquia de São Simão de Litém.
As ordenações foram presididas por D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, e
participadas por muitos padres e leigos que encheram a catedral.
“Quem permanece em Mim e Eu nele, esse dará muito fruto” (Jo 15, 5). D.
Serafim assentou nesta frase a sua homilia e referiu que nela se funda a atitude cristã
bem como a união dos ministros ordenados com o Bom Pastor no serviço ao seu
povo. Num tempo de escassez de vocações, este acontecimento não pode deixar de
ser “um momento de alegria e um sinal de esperança para esta Igreja particular”,
frisou o prelado.
Pedro Viva
182 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Sérgio Fernandes
Manuel Henrique
Em Destaque
Padre jesuíta natural do Alqueidão da Serra
No passado 10 de Julho, recebeu a ordenação
sacerdotal, na Sé Nova de Coimbra, com mais
três companheiros jesuítas, o padre José Manuel
Frazão de Jesus Correia, da paróquia de Alqueidão
da Serra, diocese de Leiria-Fátima.
No dia 18 de Julho, 88 anos depois da ordenação
de um seu tio avô, o novo padre celebrou a sua
Missa-Nova, no adro da Igreja de Alqueidão da
Serra. Foi uma festa simples e grande, com mais
de 700 pessoas - familiares, amigos, a comunidade
paroquial, Junta de Freguesia, Casa do Povo
e outras instituições locais. O novo sacerdote
exprimiu a sua felicidade por celebrar a Eucaristia no velho adro da sua infância. O
carinho e a solidariedade de todos manifestaram-se também nos presentes que lhe
ofereceram e na festa de convívio, à volta de uma mesa cuidadosamente preparada.
O novo presbítero é o sétimo de nove filhos de Daniel de S. José Correia e de
Celeste de Jesus Frazão, militantes da Acção Católica local. Nasceu 10 de Fevereiro
de 1970 e passou a infância naquele meio rural. Aos doze anos, ingressou nos
Missionários da Consolata. Em período de reflexão vocacional, leccionou Educação
Religiosa e Moral Católica no ensino público, e participou na segunda comunidade
neo-catecumenal dos Marrazes. Entretanto, ingressara na Companhia de Jesus.
A Bajouca festeja uma ordenação diaconal
João Evangelista da Costa Paiva é diácono permanente ordenado pelo Cardeal
Patriarca, D. José da Cruz Policarpo, na Igreja de Santa Maria de Belém, no passado
27 de Junho. Embora residente na região de Lisboa, o novo diácono está ligado por
casamento à paróquia da Bajouca, o que fez deslocar à capital uma considerável
representação de bajouquenses, constituída por numerosos familiares e amigos,
acompanhados pelo pároco, padre Abel José Silva Santos. Todos quiseram tomar
parte na celebração e manifestar publicamente a amizade e a consideração com que
é tido nesta comunidade leiriense o novo diácono do patriarcado.
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 183
Cónego Manuel Rodrigues Pires
Na tarde do passado dia 14 de Julho, no
Hospital de Santo André, faleceu com 91
anos o rev. cónego Pe. Manuel Rodrigues
Pires.
Nascera na Fonte dos Marcos, Porto
de Mós, a 18 de Maio de 1913 e foram
seus pais José Pires e Maria da Piedade.
Aos 15 anos entrou no Seminário e foi
ordenado presbítero em 2 de Abril de
1938. Em Outubro desse ano era prefeito e
professor do Seminário, e no ano seguinte,
secretário da Câmara Eclesiástica. Em
1940 foi nomeado inspector-mordomo do Hospital de D. Manuel de
Aguiar, onde realizou uma acção notável. Quando o hospital vivia
quase só de cortejos de oferendas, pôs sempre a instituição ao serviço
dos doentes. Culto e piedoso, era frequentemente solicitado para pregar
nas paróquias e colaborou em diversas capelanias. Em 1983 deixou o
hospital mas continuou com a mordomia da Misericórdia. Por essa altura
geriu a Gráfica de Leiria. Em 10 de Abril de 1988, foi nomeado cónego
honorário da Sé. Dispensado da gerência da Gráfica a 25 de Outubro de
1989, passou a membro do seu Conselho de Administração. Desde 12
de Outubro de 1993 foi membro do Conselho Económico da Diocese
por cinco anos. Responsável eclesiástico pela Misericórdia, promoveu
a construção do Lar de Nossa Senhora da Encarnação, de que foi
administrador e onde viveu ultimamente.
As exéquias, a 15 de Julho, no Seminário, foram presididas por
D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva e concelebradas pelo Presbitério
diocesano. O seu corpo seguiu para Porto de Mós, onde se celebrou
Missa de corpo presente e foi sepultado no cemitério da Fonte do Oleiro.
Que o Senhor o tenha na Sua glória.
184 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Documentos Pastorais
“Permanecei em Mim
e Eu permanecerei em vós” (cf Jo 15, 4)
Linhas de orientação pastoral para 2004/2005
1. Motivo e finalidade
Neste ano pastoral, terminamos a sequência temática aprovada pelo
Conselho Pastoral Diocesano para 4 anos (2001-2004). Durante eles,
sucessivamente, fomos tomando por referência para a acção pastoral
diocesana uma das partes do Catecismo da Igreja Católica. Assim, nos anos
passados, tivemos os temas: “Deus gosta de falar com os homens”, “Nas
celebrações da fé vivemos as maravilhas de Deus” e “Como Eu vos fiz, fazei
vós também”. No presente ano, fixamos a nossa atenção sobre a “oração na
vida cristã” (IV parte do Catecismo).
As Orientações Sinodais (nº 67 e 108) apontam a necessidade de um
plano diocesano de pastoral, que dê continuidade e aplicação metódica e
sistematizada às conclusões da reflexão sinodal, defina e aponte as metas,
o caminho e os passos; e constitua uma referência clara para a acção de
todas as paróquias, serviços, movimentos e comunidades. Estas linhas de
orientação pastoral são um passo, no caminho da experiência, em ordem
ao projecto de pastoral para a Diocese, no qual já se trabalha.
O referido Conselho apontou também que, em cada ano pastoral, a
partir da parte correspondente do Catecismo, os Serviços Diocesanos
definam o tema e apresentem sugestões para que o mesmo seja desenvolvido.
Cumprindo as indicações do dito Conselho, tendo auscultado e recolhido as
observações e os contributos de párocos, serviços e movimentos da Diocese,
propõem-se aqui o tema, os objectivos, as linhas de acção e algumas acções
concretas de programação para o próximo ano pastoral.
Estas Linhas constituem referência para os projectos e programas de
acção pastoral em toda a Diocese: nas paróquias, vigararias, movimentos,
serviços e outras instituições. De igual forma, serão aplicadas nas acções
diocesanas comuns.
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 185
Documentos Pastorais
Nos anos passados, as linhas de orientação pastoral foram tidas em conta
em actividades de diferentes comunidades e serviços. Permitiram unidade
na acção e identificação em objectivos comuns. O tema foi estudado pelos
sacerdotes nas reuniões vicariais e por outros grupos de fiéis em acções de
formação. Também serviu de inspiração em iniciativas vicariais e outras. Há,
no entanto, necessidade de maior esforço para que o documento orientador
imprima maior dinamismo à acção pastoral na Diocese. Cabe aqui o empenho
corresponsável e criativo dos diversos responsáveis, para que as linhas se
orientação encontrem concretização em cada comunidade, serviço ou obra.
2. Tema: “Permanecei em Mim...”
O bem-estar material e as experiências gratificantes que ele possibilita
seduzem as pessoas e parecem satisfazer os seus anseios. Neste contexto,
há quem mantenha as tradições religiosas católicas e quem vá perdendo
essas referências vitais. Outros, em número crescente, lançam-se na busca
e adesão a novas propostas religiosas e espirituais, com frequência distantes
da fé católica e mesmo cristã. Entretanto, nos nossos dias, muitos homens
e mulheres começam a manifestar mal-estar pelo vazio e insatisfação que
o simples bem-estar material lhes deixa. É assim que cresce o número dos
que buscam o aprofundamento da espiritualidade, de sabedoria e de terapia
para os males sentidos. De várias formas, procura-se fazer experiências de
envolvimento emotivo que ajudem a pessoa a estar bem consigo mesma.
A valorização da experiência e da componente emotiva é característica
marcante desta busca espiritual.
Mesmo entre os católicos, muitos perderam o hábito de rezar ou reduzemno a uma recitação mecânica de fórmulas ou expressões de súplica em
momentos de aflição. E há os que nem sequer sabem fazer oração ou têm
essa sensação, o que pode ser sintoma de que o seu modo de orar os não
satisfaz. Necessitam então de aprender ou de evoluir. Há sinais de desejo
bastante difuso e nem sempre manifesto de uma oração mais marcante para
a vida das pessoas. Sintoma disso é o interesse crescente por certos grupos,
movimentos ou iniciativas que fazem propostas de oração e de práticas
espirituais, novas ou recuperação das existentes nas tradições da Igreja.
Perante esta situação, faz grande sentido escolher a oração como tema
orientador para a vida pastoral da Diocese. Considerando que a oração
é, antes de tudo, uma relação e comunicação vital entre os fiéis e Deus, na
dimensão pessoal e comunitária, escolhemos como expressão do tema a palavra
186 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Documentos Pastorais
de Jesus:”Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós” (Jo 15, 4). Esta
frase exortativa faz parte da alegoria da videira (cf Jo 15, 1-8). Jesus designa-se
a si mesmo como a “videira verdadeira” e considera os seus discípulos como
“as varas”. Como estas não podem dar fruto, se não estão ligadas à videira,
assim os discípulos de Jesus não darão fruto, se não estiverem unidos a Ele.
A vida de Deus comunica-se aos cristãos na medida em que eles, obedecendo
ao impulso do Espírito Santo, permanecem intimamente em comunhão com
Jesus. É a partir desta condição que despontam os frutos, nomeadamente o
cumprimento dos mandamentos e especialmente o amor recíproco, de que se
fala na sequência do evangelho (cf Jo 15, 9-17).
Aquela palavra de Jesus é citada por João Paulo II na carta apostólica “À
Entrada do Novo Milénio” (Novo Millennio Ineunte), ao abordar a arte da
oração, isto é, uma expressão da alma crente que precisa de ser aprendida,
praticada e ensinada, e a sua ligação com a pastoral. Na oração – escreve
o Santo Padre – realiza-se aquele diálogo com Jesus que faz de nós seus
amigos íntimos: “Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós” (Jo
15,4). Esta reciprocidade constitui precisamente a substância, a alma da
vida cristã, e é condição de toda a vida pastoral autêntica. Obra do Espírito
Santo em nós, a oração abre-nos, por Cristo e em Cristo, à contemplação
do rosto do Pai. Aprender esta lógica trinitária da oração cristã, vivendo-a
plenamente sobretudo na liturgia, meta e fonte da vida eclesial, mas também
na experiência pessoal, é o segredo dum cristianismo verdadeiramente vital,
sem motivos para temer o futuro porque volta continuamente às fontes e aí
se regenera (NMI 32).
O anúncio pelo Santo Padre de um especial Ano da Eucaristia, a viver
desde o Congresso Eucarístico Internacional, em Outubro de 2004, ao
Sínodo dos Bispos, em Outubro de 2005, vem enriquecer as perspectivas
para viver e promover a comunhão com o Senhor, já que a oração cristã
é inseparável da celebração da Eucaristia e encontra, tanto na celebração
litúrgica como na adoração eucarística, um meio eficaz de contemplar o rosto
de Cristo, de entrar na sua intimidade e de colher n’Ele a força para se tornar
instrumento vivo da Sua presença de amor, de misericórdia e de paz entre
os outros homens (cf. Homilia do Santo Padre na solenidade do Corpo de
Cristo, L’Osservatore Romano – ed. sem. em Port., 12 Jun. 2004, pp. 1 e 12).
Aliás, na tradição da Igreja já se fala da Eucaristia como “escola de oração”
a par da referência à “oração do Senhor”, o Pai-Nosso, como escola em que
o Senhor no ensina a entrar na intimidade com o Pai.
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Documentos Pastorais
Refira-se, entretanto, que a mútua permanência entre Jesus e os seus
fiéis não se esgota na oração. Ela implica também, da parte do cristão,
a disponibilidade e empenho por fazer a vontade de Deus na sua vida
quotidiana e viver o amor evangélico na relação com os outros. O cristão
permanece em Jesus, tanto quando reza como quando conforma a sua vida
com Ele, orientando-se pelo Evangelho no trabalho, na família, no convívio
social e em todas as circunstâncias.
O tema deste ano liga-se facilmente aos dos anos passados: à mensagem
de que “Deus gosta de falar com os homens”, correspondem estes mediante
a escuta e a oração, entrando no diálogo com Ele; “nas celebrações da fé”,
que são formas comunitárias de oração, “vivemos as maravilhas de Deus” e
ficamos mais intimamente unidos a Ele e a Seu Filho; “como Eu vos fiz”, isto
é, como vos amei e Me relacionei convosco, “fazei vós também”, diz Jesus;
quer dizer, correspondei vós mesmos, com confiança e generosidade, a esta
minha iniciativa, entrando na comunhão comigo: permanecei em Mim, para
que Eu permaneça verdadeiramente em vós. É a presença do Senhor em nós
que nos permite viver e agir como Ele e unir-nos ao Pai, no Espírito.
A oração e a educação para ela apresentam-se hoje como empenhos de
grande actualidade e necessidade para a vida pastoral. Sem uma oração
profunda, capaz de encher as suas vidas, perante as numerosas provas que o
mundo actual põe à fé, os fiéis seriam não apenas cristãos medíocres, mas
‘cristãos em perigo’: com a sua fé cada vez mais debilitada, correriam o
risco de acabar cedendo ao fascínio de ‘sucedâneos’, aceitando propostas
religiosas alternativas e acomodando-se até às formas mais extravagantes
de superstição (NMI 34). Porque é necessário aprender a rezar e dada
a situação de risco de tantos cristãos que se contentam com uma oração
superficial, é preciso – afirma o Papa – que a educação para a oração
se torne, de um modo ou de outro, um aspecto qualificativo de toda a
programação pastoral (NMI 34).
O Sínodo Diocesano, entre os meios para renovar a fé, menciona a oração
pessoal e comunitária, afirmando: O crente, sob o impulso do Espírito, ouve
e dialoga com Deus e experimenta a comunhão com o Pai celeste. Depois,
cita João Paulo II, onde este refere ser necessário aprender a rezar e tornar as
comunidades autênticas ‘escolas’ de oração (cf NMI 32.34), e sublinha que é
preciso cultivar e aprofundar experiências de oração e de meditação da palavra
de Deus (Orientações Sinodais, 34; sigla OS). Por fim, recomenda a vivência
da espiritualidade da comunhão entre as pessoas e nas comunidades, a partir
188 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Documentos Pastorais
da ligação profunda com o mistério da Santíssima Trindade (OS 60). As
celebrações da fé constituem espaços e instrumentos da comunhão (OS 61).
3. Objectivos
1. Melhorar a prática da oração pessoal e comunitária
Cultivar, mediante a experiência prática e o aprofundamento doutrinal, a
“arte da oração”, tanto na vida de cada pessoa como nas variadas comunidades
cristãs (religiosas, paroquiais e outras), de modo que dela brote a linfa vital
para os compromissos pastorais e o testemunho no mundo (cf NMI 34).
2. Tornar as comunidades ‘escolas’ de oração
Fazer da educação, teórica e prática, para a oração um aspecto
qualificativo de toda a programação pastoral (cf NMI 34), tomando como
referências incontornáveis as “escolas de oração” que são a Eucaristia e o
“Pai-Nosso”.
3. Proporcionar experiências e caminhos de crescimento espiritual
Corresponder, mediante iniciativas pastorais oportunas e pedagogicamente
cuidadas, à generalizada exigência de espiritualidade, manifestada na
necessidade crescente de oração em numerosas pessoas.
4. Linhas de acção pastoral:
1. Promover o estudo e a catequese de jovens e adultos sobre a oração
com base na IV parte do Catecismo da Igreja Católica e noutros instrumentos
adequados. No que se refere ao Ano da Eucaristia, será oportuna a reflexão
sobre a encíclica A Igreja vive da Eucaristia, do Papa João Paulo II.
2. Na catequese da infância e adolescência cuidar da educação para
a oração, também com experiências práticas, valorizando o que existe nos
catecismos e aproveitando particularmente a preparação próxima para as
celebrações previstas pelo itinerário catequético.
3. Os pastores, educadores e animadores de grupos e comunidades
cultivem pessoalmente a arte da oração, de modo a que, tendo aprendido a
rezar por experiência própria no diálogo com o Senhor Jesus, se tornem mais
aptos a ensinar outros como o Mestre ensinou aos discípulos (cf Lc 11,2).
4. Promover acções de formação, retiros e outras iniciativas a nível
paroquial, vicarial e diocesano, ou nos movimentos (sem prejuízo das
temáticas e sensibilidades específicas), de modo a ensinar as pessoas a rezar,
também com experiências práticas consistentes.
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Documentos Pastorais
5. Aproveitar o guião de formação em grupo, sobre a liturgia, a publicar
pelo Centro de Formação e Cultura para constituir grupos de catequese de
adultos.
6. Valorizar e aproveitar o contributo carismático que podem dar os
grupos, movimentos e associações eclesiais, com as suas iniciativas e
pedagogias, para o desenvolvimento da arte da oração nos fiéis. O mesmo se
diga das comunidades religiosas, especialmente, as de vida contemplativa.
7. Tomar iniciativas em ordem a tornar as comunidades autênticas
escolas de oração, onde esta permeia o ambiente comunitário e constitui o
suporte espiritual tanto para os múltiplos compromissos pastorais como para
o testemunho no mundo (cf NMI 33-34). A Bíblia e a Liturgia são meios
pedagógicos insubstituíveis.
8. Com sabedoria e pedagogia, introduza-se a arte da oração em todas
as iniciativas pastorais, desde os momentos de catequese aos de anúncio do
evangelho, das reuniões administrativas à preparação das festas populares.
9. Cuide-se da harmonia e ambiente de silêncio nos espaços destinados
à oração, tanto as igrejas como os pequenos oratórios, de modo a dotá-los das
condições que favoreçam o diálogo e a união com Cristo.
10. Incentivem-se e ajudem-se as famílias a praticarem a oração e a
serem para os seus membros, sobretudo em relação aos filhos, educadores
na “arte da oração”. Recomende-se que, na sua casa, cada família tenha o
seu espaço apropriado para que nele se reúna com frequência para a oração. A
Bíblia, o crucifixo e uma bela imagem sagrada podem marcar esse espaço.
11. Exortem-se e ensinem-se os fiéis a prepararem-se pessoalmente
para participar com mais proveito nas celebrações litúrgicas,
incentivando-os a virem com alguma antecedência para a igreja e fazerem a
sua oração pessoal na casa de Deus.
12. Revalorizem-se, com o devido discernimento, as formas populares
de oração e eduquem-se os fiéis para as formas litúrgicas, nomeadamente
celebrando, quando oportuno, a oração de Laudes e Vésperas (cf NMI 34).
13. Nas acções de formação, qualquer que seja o seu nível, dê-se
particular relevo ao desenvolvimento de competências em ordem à
educação para a oração.
14. As peregrinações aos santuários, especialmente a Fátima, são
ocasiões propícias para a educação para a oração e para a sua prática.
190 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Documentos Pastorais
5. Acções concretas
- A Diocese, o Santuário de Fátima, Serviços e Movimentos promovem
retiros e recolecções espirituais muito úteis para o cultivo da oração e
crescimento espiritual; além das iniciativas para grupos específicos, há as
que se destinam ao povo de Deus: a apresentação do evangelho do ano, as
meditações sobre o mistério da encarnação (Advento), sobre a paixão de
Cristo (Domingo de Ramos) e sobre o Espírito Santo (Pentecostes).
- A propósito do Ano da Eucaristia, a Diocese vai promover um retiro
eucarístico destinado aos agentes pastorais, que antecederá a peregrinação
diocesana a Fátima.
- A vigília de Pentecostes será preparada e realizada, em acto de
significado diocesano presidido pelo Bispo, em colaboração com movimentos
ou associações que também a costumam realizar.
- A peregrinação diocesana a Fátima e a celebração do Corpo e Sangue
de Cristo, na cidade episcopal, serão ocasiões para a educação para a oração
e a prática da mesma em várias das suas formas, das populares à litúrgica, da
pessoal à do grupo e da comunidade diocesana.
- Na semana de preparação para o Corpo e Sangue de Cristo, no tempo
de adoração já habitual na igreja do Espírito Santo, procurar-se-á a educação
e a prática de várias formas de adoração, envolvendo vários serviços e
destinatários.
- Nas reuniões vicariais, a reflexão pastoral dos sacerdotes incidirá sobre
formas e expressões de oração (CIgC 2626-2646; 2700-2719), a partir de
um plano anual que lhes será oportunamente apresentado.
- Durante o Congresso Eucarístico Internacional, de 10 a 17 de
Outubro, e em sintonia com esse acontecimento da Igreja universal, deverão
promover-se algumas iniciativas de meditação, celebração e adoração, nas
comunidades e a nível diocesano. Iniciativas semelhantes deverão realizar-se
ao longo deste Ano da Eucaristia.
- O Secretariado Diocesano da Educação Cristã da Infância e
Adolescência toma a oração como tema central em várias das suas
actividades de formação de catequistas: encontro diocesano, retiro, jornadas
vicariais…
- Às acções mencionadas serão acrescentadas as iniciativas e projectos
dos Serviços e Movimentos, que constarão dos respectivos programas.
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Documentos Pastorais
6. Exortação final
Aprovamos, na nossa Diocese de Leiria-Fátima, as linhas de orientação
pastoral para o ano 2004-2005 sob o sugestivo tema que é palavra de ordem:
“Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós”.
Louvamos quantos colaboraram na redacção do texto, que agora se
divulga. Não precisaremos de sublinhar que o verbo “permanecer” (do latim
per+manere) significa perseverar e manter-se, até ao fim, com diligência e
esforço, com sacrifício e testemunho, com alegria e esperança. Permanecer
em Cristo, que é Palavra e Pão, é compreender a vida e vencer todas as
dificuldades, até à vitória. O cristão que é fiel vai-se transformando em outro
Cristo, para si mesmo e para toda a humanidade.
Circunscrevendo-nos ao tema do grande mistério que é a Eucaristia,
poderemos, mais concretamente, pedir e recomendar alguns gestos/
programas, a saber:
1. Que a Câmara Eclesiástica proceda, quanto antes, ao inventário/
relatório sobre a situação/vida das confrarias/irmandades do Santíssimo
Sacramento na nossa Diocese;
2. Que a Comissão Diocesana de Arte e Património Cultural faça o estudo
e dê instruções sobre o estado e o modo dos sacrários e capelas do Santíssimo
nas igrejas da Diocese;
3. Que o Secretariado Diocesano de Pastoral Litúrgica e de Música Sacra
difunda a encíclica “A Igreja vive da Eucaristia”, faça eco do Congresso
Eucarístico Mundial e do Congresso Internacional para os Presbíteros
(Malta, 18-23 de Outubro);
4. Que os párocos diligenciem melhor preparação das “primeiras
comunhões”, dos ministros extraordinários da comunhão, da assistência
sacramental aos doentes… e todas as acções/condições do culto eucarístico,
sem esquecer a possibilidade da adoração, em particular ou em grupo, ao
Santíssimo Sacramento;
5. Que a Vigararia Geral e a Vigararia de Leiria, em sintonia com a
solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, estudem e anunciem actos e tempos
de “lausperene” nas igrejas mais adequadas;
6. Que os meios de comunicação social da Igreja não deixem de informar
sobre as celebrações de adoração eucarística, por exemplo as procissões em
Fátima, bem como os congressos, o Sínodo dos Bispos, e as publicações/
realizações mais atinentes ao grande Mistério;
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Documentos Pastorais
7. Que todos os serviços (Pré-Seminário, Tempo Propedêutico e Seminário,
a Comissão para a Formação Permanente do Clero, o Centro de Formação
e Cultura, os Secretariados, Movimentos e Obras), as nossas comunidades
e cada um de nós, em caminhada de renovação sinodal, vivamos mais
intensamente este ano da Eucaristia, e que os mais responsáveis (re)leiam
a “Instrução sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da
Santíssima Eucaristia”.
Finalmente, fazemos votos que o ano pastoral 2004-2005, ano da
Eucaristia, seja tempo profético e sacramental de salvação e de graça.
Leiria, 5 de Agosto de 2004
† Serafim de Sousa Ferreira e Silva
Bispo de Leiria-Fátima
Nomeações Episcopais
Tendo bem ponderado e tomado conselho, achamos por bem:
1 - Proceder, nos termos do Direito Canónico, à incardinação do Rev.º P.
João Rodrigues, que pertence à Congregação dos Oblatos de Maria Virgem,
nesta Diocese de Leiria-Fátima, onde reside e trabalha há 16 anos;
2 - Dispensar das funções de Vigário Paroquial da Maceira, por motivos
de saúde e para se poder dedicar mais a outras tarefas pastorais, na Diocese,
o Rev.º P. Diamantino da Silva Maurício;
3 - Nomear Vigário Paroquial da paróquia da Maceira o Rev.º P. João
Rodrigues, que tem sido interinamente encarregado das paróquias de
Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso;
4 - Aceitar o pedido de dispensa da paroquialidade de Minde o Rev.º P.
Dr. Manuel dos Santos José, que fará um breve tempo sabático de tratamento
da saúde, especialização na área da Teologia Espiritual e dedicação mais
efectiva aos objectivos da Fundação Maria Mãe da Esperança;
5 - Nomear Pároco de Minde o Rev.º P. Dr. Albino da Luz Carreira;
6 - Nomear Pároco das paróquias de Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso o
Rev.º P. Orlandino Barbeiro Bom, que até inícios de Outubro manterá as suas
funções de Capelão Militar na BA5 e RA4;
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Documentos Pastorais
7 - Nomear Vigário Paroquial da Sé de Leiria o Rev.º P. Doutor Augusto
Ascenso Pascoal, que tem sido Pároco dos Pousos;
8 - Nomear nos termos do c. 508 o Rev.º P. Doutor Augusto Ascenso
Pascoal para Pró-Penitenciário da Diocese de Leiria-Fátima, em exercício
na igreja da Sé;
9 - Nomear Pároco da paróquia dos Pousos o Rev.º P. Davide Vieira
Gonçalves, que nesta data exerce funções de Pároco da Bidoeira de Cima e
Boavista;
10 - Nomear Pároco da Bidoeira de Cima o Rev.º P. Manuel Vítor de Pina
Pedro, Pároco de Carnide;
11 - Nomear Pároco da Boavista o Rev.º P. Nelson José Nunes Araújo,
Pároco das Colmeias.
Agradecemos a colaboração e a compreensão de todos, e rezamos para
que a pastoral de conjunto seja uma bênção salutar na nossa querida Diocese
de Leiria-Fátima, em caminhada permanente de renovação conciliar e
sinodal. A “tomada de posse” ou transferência de serviços deverá efectuarse no prazo de sessenta dias, a não ser que seja eventualmente justificado e
reconhecido de outra maneira.
Leiria, 27 de Julho 2004
† Serafim de Sousa Ferreira e Silva
Bispo de Leiria-Fátima
Nota Episcopal sobre o Euro 2004
Leiria vai acolher muitos milhares de atletas, dirigentes desportivos,
jornalistas e espectadores. A todos dizemos “bem-vindos”.
Esperamos que o Euro 2004, que é um desafio para todos nós, portugueses,
seja também uma vitória, não só nos estádios e na restauração, mas sobretudo
na amizade e na paz.
De há muito que nos estamos preparando para bem receber todos os
visitantes. As três das dezasseis equipas desportivas e seus acompanhantes
terão atendimento especial. E já temos recomendado que as outras dimensões
de cultura e religião não sejam esquecidas. Mas também os demais jogos vão
movimentar muita gente nesta região Centro com notáveis monumentos e o
Santuário de Fátima. A todos vamos receber com fidalga cidadania.
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Documentos Pastorais
O Euro 2004 vai ser uma festa, em que todos queremos participar. Vai
ser um encontro de pessoas e de culturas em que toda a gente tem algo a
receber.
Tentaremos mostrar, e demonstrar, que somos uma comunidade aberta,
sem fracturas e sem fronteiras. Queremos testemunhar a riqueza da amizade
e da lucidez do serviço. Sobremaneira teremos múltiplas ocasiões de pôr em
comum os valores maiores que as medidas “olímpicas”.
No final da festa, concluiremos que o grande vencedor foi o humanismo,
entre os grupos rivais, e entre as respectivas nações, que são células ou
corpos de uma Sociedade plural e solidária.
Sabemos que a competição gera e gere interesses. Também não ignoramos
que os atletas e os dirigentes investem para o êxito. Mas a vitória não conta
só os resultados do jogo. Para além do relacionamento e da criatividade o
engenho da harmonia é que oferece a obra de arte, partilhada e aplaudida
pelos espectadores.
Que o Euro 2004 seja um bom sinal do Portugal positivo, e seja uma
bênção para toda a humanidade.
Leiria, 1 de Junho de 2004
† D. Serafim Ferreira e Silva,
Bispo de Leiria-Fátima Comunicado
Comunicado
Conselho Pastoral Diocesano
Sob a presidência do Bispo D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, no dia
5 de Junho de 2004, reuniu-se no Seminário Diocesano de Leiria o Conselho
Pastoral da diocese de Leiria-Fátima, constituído por representantes das
diversas instâncias da Diocese.
Na abertura dos trabalhos o Sr. Bispo elegeu a mensagem do Papa João
Paulo II para a celebração do 38º dia das Comunicações Sociais como um
desafio que não pode ser ignorado: “Os mass media na família: um risco
e uma riqueza” – é um tema oportuno, dado que convida a uma reflexão
sóbria sobre o uso que as famílias fazem dos meios de comunicação e,
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Documentos Pastorais
em contrapartida, do modo como os mass media tratam as famílias e as
solicitudes familiares.
De seguida foram apresentadas em primeira-mão as Linhas de Orientação
Pastoral para 2004/2005. Concluindo o percurso dos três anos anteriores, em
que cada uma das partes do Catecismo da Igreja Católica é referência para a
acção pastoral, este ano o tema é a “oração na vida cristã”.
“Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós “ (Jo 15,4), será a
mensagem de referência que permitirá a unidade e identidade na acção de
toda a Diocese no próximo ano pastoral.
A reflexão que, em seguida, se desenvolveu, centrou-se no enriquecimento
da Proposta para o Projecto Diocesano de Pastoral. As Orientações Sinodais
do último Sínodo Diocesano, apontam a necessidade de um Plano de Pastoral,
que dê continuidade e aplicação metódica e sistematizada às conclusões
da reflexão sinodal. Constituído um grupo de trabalho e elaborada uma
proposta, a primeira fase de desenvolvimento do Projecto está concluída,
com a apresentação da Proposta para o Projecto Diocesano de Pastoral:
“Orientações Fundamentais”, cuja qualidade e valor foi reconhecida pelo
Conselho.
O Conselho reforça a importância do envolvimento de toda a Diocese
nas fases seguintes de desenvolvimento do Projecto e sua implementação.
Recomenda o acompanhamento de todas as paróquias, serviços, movimentos
e comunidades no trabalho futuro.
Dada a importância para a acção da Igreja no futuro e a oportunidade,
foi ainda efectuada uma breve análise da Concordata de 2004, assinada no
passado dia 18 de Maio entre a Santa Sé e a República Portuguesa.
Como nota final, o Conselho deixa uma palavra a toda a Comunidade
Diocesana, sobre a oportunidade que constitui o Euro 2004, evento de
reconhecido relevo na sociedade Portuguesa, para que cada cristão e as
comunidades locais possam dar testemunho com o exercício dos valores da
tolerância, promoção da paz e efectivo acolhimento dos visitantes.
O Conselho faz votos de que as vidas de todos os que passem pela
Diocese de Leiria-Fátima, por ocasião do Euro 2004, sejam tocadas por algo
mais que o acontecimento desportivo.
Secretariado Permanente
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Serviços e Movimentos
Secretariado Diocesano da Educação
Cristã da Infância e Adolescência
Relatório das actividades 2003/2004
I – APRESENTAÇÃO
No final do ano catequético, o Secretariado Diocesano da Educação Cristã
da Infância e Adolescência da diocese de Leiria-Fátima, com este Relatório,
torna pública a sua actividade catequética e avalia todo o trabalho realizado,
para que melhor se possa planificar o próximo ano.
Este serviço diocesano reconhece que, com o efectivo que tem e com
a falta de um director com mais disponibilidade, não conseguiu responder
suficientemente aos desafios da Diocese. Apesar de tudo, é de louvar o
empenho da equipa que, com poucos braços, imprimiu grande dinamismo.
A catequese continua com muitas fragilidades e pouca comunhão
diocesana; e a maior dificuldade é a falta de catequistas suficientemente
preparados e com testemunho cristão. Move-nos o Espírito, a Alma da
Catequese na Igreja, que queremos servir, embora com todas as limitações.
Desafiamos as vigararias a construirem mais comunhão e a acompanharem
mais os catequistas e os pais. Que a catequese construa a comunhão eclesial
e que essa comunhão nos comprometa nas comunidades.
II – ACÇÕES REALIZADAS NO ANO PASTORAL 2003 - 2004
1 - Encontro Diocesano de Catequistas
Realizou-se a 28 de Setembro, com cerca de 250 catequistas. O tema
escolhido – Catequista que vive em relação faz comunhão – foi apresentado
de forma viva e prática, pelo padre Rui Acácio Ribeiro.
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Serviços e Movimentos
2 - Escola Diocesana de Catequistas
Funcionou quizenalmente, ao longo do ano, em 16 serões, incluindo
a abertura e o encerramento. O Secretariado Diocesano determinou que a
escola se voltasse mais para formação específica dos catequistas, na área
da catequese. Por isso, na sequência do ano passado, foram leccionados: o
Curso de Iniciação Catequística “Mensageiros da Boa Nova”, o Curso de
Iniciação Catequística, edição do Secretariado Nacional, a que chamamos
“Curso Médio de Catequistas” e o “Curso Geral”. Este, para os catequistas
que já tenham feito, com aproveitamento, os anteriores cursos. Os dois
primeiros cursos foram orientados pela Equipa do Secretariado e o Curso
Geral foi pela Irmã Raúla Margarida, Irmã Reparadora do Sagrado Coração
de Jesus, que desenvolveu a área de psicologia. Participaram cerca de cento
e oitenta catequistas.
3 - Cursos de Iniciação Catequística
Realizaram-se dois Cursos de Iniciação, com 140 participantes:
• Texto: “Mensageiros da Boa Nova”. (Curso realizado em dois lugares:
na Escola de Catequistas, com 80 catequistas mais ou menos assíduos;
na Vigararia da Batalha, em Aljubarrota, com 23 catequistas). Dos 103
participantes, fizeram exame 94 (52 com aproveitamento, 10 com exame
incompleto e 32 com avaliação insuficiente).
• Texto: “Edição do Secretariado Nacional” – curso de iniciação que o
Secretariado Diocesano designou de Curso Médio. Funcionou na Escola de
Catequistas com participação assídua de 37 catequistas. Fizeram exame 25,
dos quais 22 com aproveitamento e 3 com avaliação insuficiente..
4 - Curso Geral de Catequistas
Foi niciado o ano passado, na Escola de Catequistas, com as seguintes
áreas: Pedagogia, Psicologia, Catequética e Doutrina. Depois da Pedagogia
no ano anterior, prosseguiu este ano com a Psicologia. Participaram
assiduamente 58 catequistas, dos quais 28 fizeram exame - 26 com
aproveitamento e 2 com avaliação insuficiente.
5 - Formação espiritual
O retiro para catequistas, na Quaresma, teve 52 participantes.
6 - Outros
O Secretariado promoveu ainda uma acção de formação para catequistas
de adolescentes, no Seminário, a 10 de Janeiro, orientada por uma equipa do
Secretariado do Porto. Dado o interesse despertado, a acção foi prolongada e
continuada no dia 31 de Janeiro. Nela participaram 120 catequistas.
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Serviços e Movimentos
III – ENCONTRO COM AS EQUIPAS VICARIAIS PARA A CATEQUESE
O Secretariado Diocesano promoveu, no Seminário, dois encontros com
as Equipas Vicariais de Catequese, em princípio compostas pelo sacerdote
delegado e dois catequistas, um da infância e outro da adolescência. Um
terceiro encontro foi anulado por falta de resposta e de envolvimento.
IV – A EQUIPA DIOCESANA
A equipa conta com dez elementos, incluindo o director, todos com muito
trabalho, mas cheios de vontade. As reuniões são mensais, com agenda
preparada: oração, avaliação, partilha e programação e preparação de acções
de formação na Escola de Catequistas, nas vigararias e nas paróquias.
V – AVALIAÇÃO GLOBAL
A Equipa diocesana reuniu-se a 17 e 24 de Junho, para avaliação do ano
findo e planificação do próximo. Globalmente, concluiu:
Aspectos positivos: há muito trabalho embora seja limitada a capacidade
de resposta; a afluência à Escola de Catequistas foi boa; algumas Jornadas
Vicariais corresponderam aos objectivos. De salientar: a coragem, a
disponibilidade e o sentido eclesial de muitos catequistas.
Aspectos negativos: pouco empenho nas equipas vicariais, patente na
falta de participação nos encontros; algumas paróquias não se empenham
na formação de catequistas; os sacerdotes mostram dificuldades na
pastoral catequética; há necessidade de mais diálogo entre as paróquias e o
Secretariado; a Catequese precisa duma grande e imediata reestruturação.
VI – A CATEQUESE QUE TEMOS
Há limitações que reclamam respostas atempadas e de qualidade:
1. A equipa formadora tem poucos elementos.
2. É notória a dificuldade em fazer da catequese uma escola de fé, vivida
no quotidiano.
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Serviços e Movimentos
3. Predominar a preocupação pelo “saber” conteúdos sobre a vida cristã e
a inserção e co-responsabilidade eclesiais.
4. A participação das crianças e adolescentes na vida das comunidades é
reduzida e diminui na Eucaristia e outros Sacramentos.
5. A maior parte dos catequistas carece de formação e alguns dão pouco
testemunho de vida.
6. Muitas paróquias não têm os dez anos de catequese, o que cria divisões
e prejudica a comunhão, nomeadamente no que respeita ao Crisma.
VII – PROPOSTAS
1. Que os padres acompanhem mais os catequistas e promovam a
colaboração dos pais e educadores na catequese.
2. Maior incentivo aos catequistas na formação específica e contínua.
3. Continuaremos a responder aos pedidos das Vigararias na realização de
cursos de Iniciação e Médio.
4. Às paróquias que não fazem os dez anos de catequese, o Secretariado
pede insistentemente que assumam o programa aprovado pela Conferência
Episcopal Portuguesa.
5. No próximo ano, sobretudo nas acções de formação, o Secretariado
terá em conta o tema pastoral proposto pela Diocese “Permanecei em Mim e
Eu permanecerei em vós”(Jo 15,4. )
Uma vez que a catequese é um serviço dos mais importantes na Igreja,
continua a mover-nos a coragem de servir e a esperança duma Igreja
acolhedora e mais próxima de todos os grupos etários.
Julho de 2004
Pe. Augusto Gomes Gonçalves
Director do SDECIA
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Serviços e Movimentos
Pastoral do Povo Cigano
Programa de Actividades 2004-2005
1 – Espírito da equipa de trabalho com o Povo Cigano
Jesus optou pela unidade como mística de felicidade: “Permanecei em
Mim e Eu permanecerei em vós” (Jo 15, 4); “Que todos sejam um, como Eu
e Tu, ó Pai, somos um” (Jo 17, 11); “Haverá um só rebanho e um só Pastor”
(Jo 10, 16); “Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em Mim e Eu nele,
esse dá muito fruto” (Jo 15, 5).
O Povo Cigano faz parte da família de Deus: “O Povo de Deus no deserto
andava; mas, à sua frente, alguém caminhava. Também sou teu povo, Senhor,
e estou nesta estrada; somente a Tua graça me basta e mais nada”.
A equipa de voluntários da Pastoral dos Ciganos é constituída por oito
elementos. A população cigana engloba à volta de sessenta famílias, sitas em
Leiria, Porto de Mós e noutras localidades, de forma dispersa.
2 – Missão do grupo da Pastoral do Povo Cigano
No campo social: Estudo e análise das necessidades bio-psico-sociais das
famílias visitadas; completar o seu ficheiro biográfico, com as respectivas
fotografias; procurar respostas concretas para as necessidades, segundo o
grau de prioridades e os fundos possíveis.
No campo humanitário: Luta decisiva por habitações mais dignas, junto
das autoridades do foro civil e religioso, da Caritas, das fábricas de materiais
de construção e da comunicação social; procura de melhor sanidade, a todos
os níveis; ajuda na obtenção ou actualização dos documentos pessoais; ser
um pouco a sua voz junto das autoridades.
No campo cultural: Insistir para que as crianças frequentem a escola;
procurar a alfabetização dos adultos; estimular actividades lúdicas, passeios
e festas de convívio.
No campo religioso: Evangelização aquando da visita às famílias ciganas;
catequese segundo o programa pastoral da Diocese; aquando da visita
domiciliária, serão distribuídos igualitariamente alguns géneros alimentícios;
inserir as crianças, na medida do possível, nos centros de catequese locais;
preparação para o Baptismo e outros sacramentos; celebrações ocasionais
nos tempos fortes da Liturgia, como Finados, Natal e Páscoa; acompanhar de
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Serviços e Movimentos
perto os momentos mais fortes da vida familiar, na doença, na hospitalização,
no casamento, na morte, na prisão, etc.; comemorar o dia do cigano; visitar
os ciganos presos e aproveitar a ocasião para contactar com as suas famílias;
passar pelo mercado de quando em vez, para assim ser possível maior
contacto com o povo cigano; acompanhar mais de perto e com assiduidade
os ciganos que frequentam Fátima na quadra do Verão; aproveitar o clima
de bom relacionamento existente entre o nosso grupo e o povo cigano para
fazer mais e melhor.
3 – Abertura oficial do Ano Pastoral 2004/2005 do Povo Cigano
Esta abertura será estudada até ao pormenor e envolverá a nossa equipa,
bem como o poder local, a imprensa regional e a associação dos ciganos
recém criada: “CIGLEI”.
Os objectivos são: Sensibilizar a opinião pública para a situação do Povo
Cigano; angariar fundos para as suas carências; contribuir para a sua maior
integração na sociedade.
Leiria, 5 de Julho de 2004
Pastoral Carcerária – “Os Samaritanos”
Actividades para 2004-2005
Com o lema “Para uma vida com sentudo”, a Pastoral Carcerária e a
Associação de Visitadores “Os Samaritanos” assumem uma tríplice missão:
Interactuante (acção de entreajuda), Coactuante (acção de conjunto) e
contractuante (gerir a rejeição quer construtiva quer destrutiva).
1 – Campo Social
1.1 – “Os Samaritanos” estarão atentos às necessidades bio-psico-sociais
e estudarão a maneira de responder às carências detectadas.
1.2 – Calendarização das respostas concretas às necessidades, segundo o
grau de prioridades e os fundos existentes.
1.3 – As áreas de intervenção serão estudadas, distribuídas e apreciadas
na reunião mensal dos visitadores.
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Serviços e Movimentos
2 - Campo Humanitário
2.1 – Motivar os reclusos para encontrarem resposta para as interrogações
fundamentais do ser humano: Viver porquê? Para quê? Como? Que valores
cultivar para viver com dignidade?
2.2 – Como a melhor teoria é uma boa prática, criar acções concretas
através de algumas actividades, como:
2.2.1 – Intercomunicação epistolar com grupos de jovens, de catequese,
de cursistas e de noivos de diferentes paróquias da Diocese.
2.2.2 – Para melhor coordenação desta iniciativa: os visitadores serão
a ponte entre os emissores e os receptores das cartas; haverá uma lista de
voluntários e de possíveis destinatários da comunicação.
2.2.3 – Na capela existirá uma caixa de correio. Nela quem quiser pode
apresentar questões, dúvidas, expectativas e desejos. Em tempo oportuno
será dada a resposta por pessoa especializada no assunto.
2.2.4 – Intensificar o contacto com a família e melhorar o relacionamento
com ela.
2.2.5 – Os não baptizados contactarão previamente os seus possíveis
padrinhos.
3 – Campo Cultural
3.1 – Continuar a privilegiar o teatro, os concursos de desenho, poesia,
prosa e outros trabalhos manuais.
4 – Campo Religioso
4.1 – Animar a celebração da Eucaristia: participação de grupos de jovens
das paróquias; celebração da festa do perdão, da vida, da reconciliação, da
luz, da liberdade, da palavra, da fé e do Pai-Nosso.
4.2 – Intensificar o amor à Eucaristia: adoração do Santíssimo Sacramento,
ocasionalmente; retiro espiritual, como preparação para os sacramentos da
iniciação cristã (Baptismo, Comunhão e Confirmação).
4.3 – Contribuir para a unidade nos estabelecimentos prisionais: abertura
oficial do Ano Pastoral 2004/2005 com a participação das diversas áreas de
intervenção nos respectivos estabelecimentos prisionais.
4.4 – Celebração comunitária do Natal e Páscoa, com visita aos pavilhões
no dia dos Reis Magos e no domingo de Pascoela, abrangendo o pessoal
de serviço e os senhores guardas. Nesta acção entram outros cristãos
devidamente autorizados, além dos visitadores.
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 203
Serviços e Movimentos
4.5 – Serviço de Evangelização: reuniões semanais de cariz doutrinal
nos pavilhões; dois encontros anuais de formação, a fim de os visitadores se
tornarem mais aptos para a sua missão.
4.6 - Serviço de apoio à evangelização: oferecer catecismos, bíblias,
terços, postais com mensagens, etc.; dádiva de coisas de primeira necessidade
(produtos de higiene, rádios, roupa, cartas, selos, etc.); colaboração no
encaminhamento para comunidades terapêuticas, de hospedagem, integração
profissional e social.
O programa apresentado será executado em estreita ligação com as
direcções dos dois estabelecimentos e sempre que possível em cooperação
com os serviços de educação e de reinserção.
O presente programa é extensivo a ambos os estabelecimentos prisionais
e à zona feminina do EPRL, com as necessárias adaptações.
Leiria, 30 de Junho de 2004
Movimento dos Convívios Fraternos
Relatório de Actividades
INTRODUÇÃO
Os Convívios Fraternos (CF) que celebram 10 anos de existência na
Diocese de Leiria são um movimento de jovens católicos que, de acordo com
a orientação e directrizes da Igreja, se propõem viver, anunciar e testemunhar
a Boa-Nova de Jesus Cristo como oportunidade de realização individual,
familiar e social.
Depois de participem num CF e aderirem livremente ao projecto, os
jovens são auxiliados na caminhada por alguns meios de perseverança à sua
disposição. O CF dura três dias e é liderado por uma equipa jovem e um
director espiritual que procuram responder ao desafio de Paulo VI - que os
jovens sejam apóstolos dos jovens.
Com o testemunho de vida, abertura e diálogo cria-se um ambiente
de reflexão e partilha em grupo que proporciona uma experiência de vida
cristã e comunitária. Em total liberdade e respeito de opinião, o jovem, de
qualquer condição social, é convidado a participar na oração e a responder
204 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Serviços e Movimentos
ao apelo de Jesus Cristo como modelo na vida privada, familiar e social,
com todas as exigências e consequências. Sobre a base da força de um ideal
e do dinamismo da esperança, desenvolve-se a sensibilidade para a defesa
da dignidade e direitos da vida humana e para o contributo generoso na
eliminação dos factores de injustiça e de miséria. Ao mesmo tempo, cria-se a
consciência da necessidade da vivência sacramental na comunidade eclesial,
para atingir esses objectivos.
O presente Relatório de Actividades e Contas, dá a conhecer, de forma
breve, a actividade dos Convívios Fraternos (CF) de Leiria em 2003/2004,
e apresenta uma previsão do que virá a realizar-se em 2004/2005, em quatro
partes fundamentais:
1) - Actividades realizadas no ano pastoral 2003/2004
2) - Constituição da equipa
3) - Calendarização de actividades para 2004/2005
4) - Relatório de contas do ano 2003/2004 e previsão para 2004/2005 1
1)
ACTIVIDADES REALIZADAS
13 e 14 de Setembro de 2003 - Convívio Nacional
Foi o XXX Encontro Nacional e teve lugar em Fátima, subordinado ao
tema “Rosário, Força da Paz”. Participaram Jovens e Casais dos CF de todas
as dioceses do País, incluindo a Madeira, e uma representação da Suíça. No
Ano do Rosário (2003), deu-se realce à meditação dos Mistérios.
01 de Novembro de 2003 - 4º Pós-Convívio do CF 880
Um ano depois do CF 880, dia por dia, realizou-se o 4º e último PósConvívio para os jovens que nele participaram. Nas instalações do Seminário,
o encontro desenvolveu-se à volta do que foi e se esperava viesse a ser o seu
4º dia, reforçando a necessidade de compromisso e envolvimento cristão.
08 e 09 de Novembro de 2003 - Formação para Equipa
Nas instalações da Cáritas, o encontro procurou reforçar o convívio e o
conhecimento dos membros da equipa, em momento de paragem e reflexão
pessoal. Outro objectivo foi a preparação do próximo CF de Dezembro.
1
Não publicamos o ponto 4), por não ser relevante nesta revista.
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 205
Serviços e Movimentos
28 de Novembro a 01 de Dezembro de 2003 - CF 919
Realizado no Seminário de Leiria, o CF 919 contou com 29 jovens: 6
jovens da paróquia de Santa Catarina da Serra; 5 jovens da paróquia de
Milagres; 5 jovens da paróquia de Regueira de Pontes; 3 jovens da paróquia
de Amor; 2 jovens da paróquia de Marrazes; 6 jovens das paróquias de
Azoia, Caranguejeira, Juncal, Marinha Grande, Meirinhas e Leiria; 2 jovens
de fora da Diocese, um de Pombal e outro da Maia.
07 de Março de 2004 - 1º Pós-Convívio de CF 919
Três meses após o CF 919, os mais recentes Convivas tiveram o seu 1º
Pós-Convívio, no Seminário de Leiria, sobre o Sacramento do Baptismo.
09 de Maio de 2004 - 2º Pós-Convívio do CF 919
O 2º Pós-Convívio do CF 919 teve por tema a Eucaristia. Por causa do
mau tempo a actividade prevista para o exterior foi adaptada para o interior
do Seminário, com apresentação e discussão do tema, almoço, passagem de
um filme e celebração da Eucaristia.
06 de Junho de 2004 - Convívio Diocesano
O VI Convívio Diocesano teve lugar neste dia, em São Pedro de Moel,
com o objectivo de proporcionar convívio, reflexão e descoberta. Merece
destaque o intercâmbio com os 20 Convivas da Diocese de Aveiro convidados
a juntar-se aos 40 de Leiria numa reflexão sobre a mensagem de João Paulo
II aos jovens “Queremos ver Jesus”. As actividades iniciaram-se com uma
pista como meio lúdico de intensificação do conhecimento mútuo e do
despertar para a mensagem do Papa. A tarde foi preenchida com momentos
de reflexão e com a celebração da Eucaristia na Igreja de São Pedro.
03 de Julho de 2004 - 3º Pós-Convívio do CF 919
Decorreu o 3º Pós-Convívio do CF 919 sobre a Penitência. Ao longo de
uma caminhada na serra, junto a Porto de Mós, viveu-se este sacramento, em
cada um dos seus momentos.
2)
CONSTITUIÇÃO DA EQUIPA
Neste ano pastoral, a equipa diocesana que conheceu novos rostos e viu
partir alguns elementos, é assim constituída: Pe. José Augusto P. Rodrigues
206 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Serviços e Movimentos
(Marinha Grande); Pe. Vitor Mira (Regueira de Pontes); Amândio Santos
(Santa Catarina da Serra); Carlos Santos (Golpilheira); Carolina Carvalho
(Golpilheira); Elsa Inês (Gândara dos Olivais); Eulália Filipe (Vieira de
Leiria); Ezequiel Gonçalves (Pousos); Filomena Rodrigues (Pousos); Guida
Alexandre (Barreiros); Guida Brás (Parceiros); Helder Ribeiro (Loureira);
Hugo Menino (Azoia); Humberto Santos (Barreiros); Leonel Lavos (Vieira
de Leiria); Márcio Bom (Casal dos Claros); Maria Natal Gaspar (Barreiros);
Mónica Baptista (Santa Catarina da Serra); Natália Manso (Caranguejeira);
Paulo Adriano Santos (Calvaria de Cima); Sandra Caseiro (Marrazes);
Sandra Jorge (Amor); Sónia Duarte (Amor).
3)
CALENDARIZAÇÃO PARA ANO PASTORAL 2004/2005
Algumas actividades já têm dia marcado, outras apenas o mês.
11 e 12 de Setembro de 2004 – XXXI Convívio Nacional
Em Fátima, sob o tema “Com Maria, Amor na Família”. Presidirá o Sr.
Bispo de Bragança.
Outubro de 2004 - Formação Espiritual da Equipa
Uma aposta na formação espiritual da Equipa Diocesana.
29 de Outubro a 1 de Novembro de 2004 - Convívio Fraterno
O seu número só será conhecido na altura. Por ora designa-se CF-Novo.
28 de Novembro de 2004 - 4º Pós-Convívio do CF919
Um ano depois do CF 919, realiza-se o seu 4º e último Pós-Convívio.
Janeiro de 2005 - 1º Pós-Convívio CF-Novo
Para os jovens que participarem no CF de Novembro de 2004.
Abril de 2005 - 2º Pós-Convívio do CF-Nov.
Para os jovens que participarem no CF de Novembro de 2004.
Maio ou Junho de 2005 - Convívio Diocesano
Convívio Diocesano, no desejo de unir os Convivas da Diocese.
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Serviços e Movimentos
Escola de Formação Teológica de Leigos
Disciplinas do ano lectivo 2004/05
1. Curso Geral de Teologia (Seminário: 19h00-21h00)
- 1º Semestre: Segundas: Teologia Fundamental, Pe. Jorge Guarda
- 1º Semestre: Quartas: Antropologia Teológica, Dra. Belmira Sousa
- 2º Semestre: Segundas: Mistério de Deus, Pe. António Samelo
- 2º Semestre: Quartas: Introdução à Bíblia, Pe. Virgílio Antunes
2. Formação específica (Seminário, Quintas: 21h00-23h00)
- 1º Semestre: A educação como projecto antropológico, Dr. José Maria
- 2º Semestre: O discurso da Fé, Pe. Augusto Pascoal
3. Curso Pensar a Fé (nas cidades, 21h00-23h00)
Marinha Grande (Segundas)
- 1º Semestre: Introdução aos Sacramentos, Pe. Carlos Cabecinhas
- 2º Semestre: Introdução ao Mistério de Cristo, Pe. Anacleto Oliveira
Leiria (Quartas)
- 1º Semestre: Introdução ao Mistério de Cristo, Pe. Anacleto Oliveira
- 2º Semestre: Introdução aos Sacramentos, Pe. Carlos Cabecinhas
Ourém (Sextas)
- 1º Semestre: Introdução à leitura da Bíblia, Pe. Virgílio Antunes
- 2º Semestre: Introdução à Doutrina Social da Igreja, Pe. Luís Inácio João
208 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Ano Agostiniano
“Tarde Te amei”, em Ourém
O Cine-Teatro de Ourém acolheu, no passado dia 28 de Maio, a peça
“Tarde te Amei” que traça o percurso de Santo Agostinho até à sua morte em
430. Assinada por Américo Frias, a obra foi representada com encenação de
Mário Catarino e a participação dos grupos de teatro do Grupo Desportivo
Sobralense, Grupo Desportivo e Cultural de Seiça, Grupo Cultural,
Desportivo e Recreativo Bairrense e do Centro Cultural e Recreativo de
Pêras Ruivas. “Tarde te Amei” entrou depois numa digressão que inclui
Leiria, Fátima, Freixianda e Caxarias.
Recital comemorativo da criação da diocese
No passado 22 de Maio, o auditório Miguel Franco, no Mercado Santana,
em Leiria, acolheu o recital “Da poesia cantada à força das palavras
agostinianas”. No Ano Agostiniano, o espectáculo evocou a criação da
diocese de Leiria, no dia preciso em que se contavam 459 anos da sua
fundação. Manuela Moniz, no canto, Lucian Luc, ao piano, e a companhia
leiriense Te-ato, na dramatização, foram os intérpretes de um recital que teve
o patrocínio do Cabido da Catedral e o apoio da Câmara de Leiria.
“Música em Leiria” evoca presença dos Agostinhos
A igreja de São Pedro, em Porto de Mós, acolheu em 27 de Maio, um dos
concertos do Festival Música em Leiria. Executado pela Orquestra de Sopros
da Escola de Música do Orfeão de Leiria, integrou uma obra original do seu
maestro, Alberto Roque, intitulada Servus Tuus Humilis, dedicada a Santo
Agostinho, no âmbito dos 1650 anos do seu nascimento. Deste modo, foi
evocada a presença da Congregação dos Agostinhos Descalços Portugueses
em Porto de Mós. Este concerto voltou a ser apresentado no dia da dedicação
da Catedral, dia 13 de Julho, em Leiria.
Nota histórica
Em Portugal, os Agostinhos agrupavam-se sob as designações de Cónegos
Regrantes de Santo Agostinho, Eremitas de Santo Agostinho e Agostinhos
Descalços, com conventos masculinos e femininos. No território da diocese
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 209
Ano Agostiniano
de Leiria estiveram os três ramos masculinos: os Cónegos Regrantes, em
Leiria, desde meados do século XII até à criação da Diocese; os Eremitas
em Leiria, desde 1576, no convento de Santo Agostinho; e os Descalços em
Porto de Mós, desde 1676. Sobre estes deixamos algumas notas.
A Congregação dos Agostinhos Descalços, criada em 1664 pelo padre
Manuel da Conceição, com o apoio da rainha D. Luísa de Gusmão, teve em
Porto de Mós o Convento do Bom Jesus, fundado em 1676 na ermida do Bom
Jesus que antes terá sido leprosaria dedicada a Santo André. A sua criação
inseriu-se num conjunto assinalável de fundações de conventos, colégios e
hospícios em Portugal e no Ultramar, entre 1665 a 1756. Exíguo, o convento
logo foi acrescentado, incluindo a nova igreja de São Pedro, iniciada em
1691 e acabada em 1694. A lei geral que aboliu as ordens religiosas extinguiu
o convento em 1834 mas não terminou a sua influência na região. Como
a velha matriz de São Pedro ameaçava ruína, a paróquia transitou para o
convento do Bom Jesus entretanto devolvido. Em 1875, a transição tornouse definitiva por demolição da matriz situada na actual praça da República e
noticiada desde o século XIII. Por sua vez, a igreja do convento que escapara
ao incêndio que devorou quase totalmente o resto dos edifícios, permanecia e
viria a conhecer grandes obras em 1976, sob a direcção do arquitecto Camilo
Korrodi. (Pe. Armindo Janeiro)
Festival de Teatro da Alta Estremadura
Até ao final de Maio, o VI Festival de Teatro da Alta Estremadura,
este ano inspirado na figura de Santo Agostinho, apresentou-se em vários
palcos da região. O município da Batalha recebeu no dia 26, um destes
espectáculos. A igreja do Mosteiro de Santa Maria da Vitória foi o local
privilegiado para “Ao Encontro da Luz”, peça encenada pelo conhecido
Norberto Barroca, do Teatro Experimental do Porto, e apresentada pelo Sport
Operário Marinhense.
Comemoração do baptismo de S. Agostinho
No passado dia 16 de Junho, na igreja de Santo Agostinho, em Leiria, os
alunos do 9º ano do Colégio de Nossa Senhora de Fátima levaram à cena
“Agostinho: um coração inquieto”, evocação do baptismo de Agostinho,
celebrado por Santo Ambrósio na catedral de Milão, na vigília pascal de 24
210 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Ano Agostiniano
para 25 de Abril 387. Com o santo foram também baptizados o seu amigo
Alípio e o seu filho Adeodato.
Nota histórica
O encontro de Agostinho com Ambrósio viria a influenciar a cultura dos
séculos futuros. Neles dialogam duas sensibilidades do Império Romano:
a europeia (Ambrósio nasceu na actual Alemanha) e a africana. Em 384,
Agostinho, influenciado pelos maniqueus, vai para Milão, sede da corte
imperial e capital ocidental do Império, para ocupar o cargo oficial de
professor de retórica. Uma das suas primeiras tarefas terá sido um discurso
de homenagem a Ambrósio. Este acolheu-o com benevolência paternal e –
admite – começou a amá-lo. Agostinho, tocado pela personalidade e carisma
do bispo, seguia a sua pregação e dava passos em direcção à fé cristã. De
Ambrósio aprende a interpretação do Antigo Testamento e a falsidade do
maniqueismo. Depois da inteligência faltava a conversão da vontade. Em
Julho de 386, ouvindo Simpliciano, padre milanês muito estimado nos
círculos eruditos, relatar a conversão e a profissão de fé de um intelectual de
Roma, de nome Vitorino, Agostinho faz uma escolha radical e decide-se a
cortar com o passado.
Com Mónica, Alípio, o filho Adeodato e alguns amigos, Agostinho retirase para Cassicíaco, nas proximidades da cidade, para uma casa disponibilizada
por Verecundo, também mestre de retórica em Milão. Aí passa o tempo entre
conversas, orações e meditações, num jeito monástico que o acompanhará
até ao fim dos seus dias. No Inverno de 387 regressa a Milão para dar o nome
e se juntar aos que se preparavam para o baptismo. A preparação próxima era
conduzida pessoalmente por Ambrósio. Na noite pascal, de 24 para 25 de
Abril, recebe o baptismo e confessa: “fomos baptizados, e abandonou-nos a
preocupação pela vida passada”. (Conf IX, 14). (Pe. Armindo Janeiro)
A Diocese no dia do seu padroeiro
27 e 28 de Agosto, festas de Santa Mónica e de seu filho, Santo Agostinho.
Datas importantes para a Diocese de Leiria-Fátima. A 27 foi inaugurada uma
exposição de pintura sobre as Confissões, na igreja dedicada ao seu autor. No
dia 28, na mesma igreja, o Sr. D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, presidiu
à Eucaristia da festa do Padroeiro da Diocese.
A organização do Ano Agostiniano quis assinalar esta data com o dom
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 211
Ano Agostiniano
de um conjunto de telas sobre as Confissões, que passam a valorizar aquele
templo da cidade de Leiria. Neste sentido, pediu à pintora Irene Gomes que
criasse um quadro sobre cada um dos treze livros das Confissões: doze para as
capelas laterais e o um outro, de maiores dimensões, para a capela-mor onde
terá já existido uma pintura que as vicissitudes os tempos fizeram desaparecer.
Tudo se tornou possível graças à benemerência dos seguintes patrocinadores:
o Millennium BCP que ofereceu o retábulo; Beatriz Godinho, Cabido da Sé
de Leiria, Edifício Comercial o Paço, Farmácia Higiene, Farmácia Sanches,
Fundação Arca da Aliança, Joaquim Fonseca da Silva, Junta de Freguesia de
Leiria, Maria Hercília Zúquet, Montepio Geral, Santuário de Fátima e Verde
Pino que ofereceram os restantes quadros, respectivamente.
De 28 de Agosto a 14 de Novembro é possível a visita guiada e a aquisição
do catálogo das obras já colocadas no seu lugar.
Próximos eventos
• 18 de Setembro - Concerto pela Banda Juvenil da Academia de Música
da Banda de Ourém (Claustros da Sé de Leiria, às 21h30)
• 1 de Outubro - Teatro sobre Santo Agostinho: Tarde Te Amei, pelo
grupo de teatro de Ourém (Colégio Conciliar Maria Imaculada, Cruz da
Areia, às 21h30)
• 2 de Outubro
- 15h00: Abertura da Exposição de Arte Sacra sobre Iconografia Trinitária
na Igreja de São Pedro, Leiria. (Estará patente ao público, das 14h30 às
18h30, todos os dias até 10 de Novembro 2004, com entrada livre)
- 16h00: Apresentação do Congresso sobre Santo Agostinho: O Homem,
Deus e a Cidade, na Sé de Leiria.
- 16h30: Concerto de Órgão por Domingo Losada, comemorativo do dia
da Diocese de Leiria-Fátima, na Sé de Leiria.
• 11 a 13 de Novembro - Congresso: Santo Agostinho - O homem, Deus
e a Cidade (Leiria)
• 14 de Novembro - Eucaristia de encerramento e cantata original para
orquestra e coros (Sé de Leiria)
• 18, 20 e 21 de Novembro - Repetição da cantata (respectivamente, em
Alcobaça, Pombal e Ourém)
212 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Notícias
Bispo de Leiria-Fátima envia mensagem ao Santo Padre...
Santo Padre
Estamos no Santuário de Fátima, cerca de 300.000 católicos, na
Peregrinação Aniversária Internacional, presidida pelo Sr. Cardeal Martino,
do Conselho Pontifício Justiça e Paz, estando também presentes quase todos
os Bispos Portugueses, alguns do estrangeiro, e centenas de Sacerdotes da
Igreja Una.
No tríduo preparatório, e durante a celebração, pudemos reflectir, mais
uma vez, sobre o tema da Família, à luz do mandamento de «honrar pai e
mãe». Rezámos concretamente, num empenho de propósito e de promessa,
pela nova evangelização, e pela paz em todo o mundo. Sabemos que há
graves problemas e grandes alarmes. Todavia, a esperança é maior.
Não nos esquecemos da pessoa e das intenções do nosso querido Papa.
Foi lembrado que há 23 anos João Paulo II foi vítima de um louco atentado,
e que no próximo dia 18 comemora mais um aniversário de nascimento.
Santo Padre: Agradecemos o testemunho de Fidelidade e a força do Vosso
Magistério.
Também estamos gratos pela gentil oferta de uma pedra extraída do túmulo
de S. Pedro para a nova Igreja da Santíssima Trindade, já em construção, e
que vai ser solenemente implantada no próximo dia 6 de Junho. Bem haja!
Invocamos as bênçãos maternais de Nossa Senhora para Vossa Santidade,
para a Igreja de Jesus Cristo, e para o Mundo.
O Santuário de Fátima é sinal do mais além, é mensagem do Evangelho, é
apelo à conversão, pode ser grito de alerta contra todas as formas de injustiça,
violência e retaliação, mas sobretudo é oração profética e sacerdotal para que
todas as pessoas e nações queiram a paz, e se empenhem, confiantemente, a
construir a civilização da fraternidade, com o único Salvador, Jesus Cristo.
Vamos celebrar a Semana da Vida. Seguindo a Vossa exortação, faremos o
possível para «suscitar nas consciências o sentido e o valor da vida humana,
em todos os momentos e em todas as condições».
Que os pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, aqui beatificados por Vossa
Santidade no ano do Jubileu, sejam bandeiras de esperança e mediadores do
amor de Cristo.
Fátima, 13 de Maio de 2004.
† Serafim de Sousa Ferreira e Silva
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 213
Notícias
...Santa Sé responde ao Bispo de Leiria-Fátima
Senhor D. Serafim,
O Sumo Pontífice tomou conhecimento da venturosa mensagem que Lhe
enviou do Santuário de Fátima no passado dia 13 de Maio, comprazendose ele sobretudo com os afirmados sentimentos de comunhão eclesial e de
entrega sem reservas à causa da nova evangelização, que supõe uma visão
‘aberta’ sobre o futuro e, simultaneamente, um afectuoso respeito pelo
passado que perdura nos corações humanos sob a forma de palavras e sinais,
de memórias e usos herdados dos nossos pais.
Nas «múltiplas formas de piedade popular com um rico exemplo nas
multidões de peregrinos de Fátima , se esconde a resposta à questão que por
vezes se põe sobre o significado da tradição nas suas manifestações locais;
tal resposta, no fundo, é simples: a sintonia dos corações constitui uma
grande força. Radicar-se naquilo que é antigo, forte, profundo e, ao mesmo
tempo, querido para o coração, dá uma energia interior extraordinária. Se tal
enraizamento aparecer, depois, unido a uma audaciosa força de pensamento,
não há razão para temer pelo futuro da fé e das relações humanas dentro
duma Nação; no rico húmus da tradição, de facto, se alimenta a cultura, que
sustenta a convivência dos cidadãos e cria neles a sensação de serem uma
grande família, dando apoio e vigor as suas convicções» (do livro «Levantaivos, vamos!» de João Paulo II, pp. 135-136). Implorando sobre essa amada
Igreja local uma renovada efusão do Espírito Santo que venha cobrir de frutos
tais propósitos para bem das famílias e da sociedade portuguesa, o Santo
Padre concede ao Pastor e seu rebanho a implorada Bênção Apostólica.
Aproveito o ensejo para lhe testemunhar, Senhor Bispo, os meus
sentimentos de cordial e fraterna estima em Jesus Cristo.
Vaticano, 8 de Junho de 2004
Leonardo Sandri
Centros de Preparação para o Matrimónio
“A fidelidade nas diferenças” – Jornadas Internacionais
“A fidelidade nas diferenças” foi o tema das Jornadas Internacionais
da Federação Internacional dos Centros de Preparação para o Matrimónio
– FICPM –, Em Clervaux, Luxemburgo, de 29 de Abril a 2 de Maio.
Entre 232 participantes de 14 países, Portugal foi a maior representação
214 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Notícias
estrangeira com 44 pessoas de nove dioceses entre as quais Leiria-Fátima.
Representou o Pontifício Conselho para a Família Karl-Josef Romer, Bispo
da Suíça e antigo missionário no Brasil que, dominando a língua lusa, teve
contacto privilegiado com o grupo português. Estiveram na abertura A GrãDuquesa do Luxemburgo, a ministra da Família, da Solidariedade Social
e da Juventude, o ministro da Cultura, Ensino Superior e Investigação, o
presidente da Câmara de Clervaux e o Arcebispo de Luxemburgo.
Paul Dewandre, economista e mestre em gestão, que deixou a carreira
empresarial para se dedicar aos problemas relacionados com a vida conjugal,
abordou em 3 conferências “as diferenças entre o homem e a mulher” juntando
o testemunho da sua vida em casal e concluiu que o desconhecimento da
psicologia feminina e masculina é nocivo à relação estável e duradoura.
Quatro outras intervenções viriam a revelar-se de grande riqueza. O
Vigário Geral do Luxemburgo e Presidente do Comité da Família, Mons.
Mathias Schiltz, dissertou sobre “os fundamentos bíblicos da fidelidade”.
O casal ex-Presidente da FICPM, Sim Majerus-Schmit e Mill Majerus,
enfermeira e sexólogo, fizeram uma intervenção testemunhal sobre o modo
de gerir as diferenças. O padre Nico Turmes, Assistente Nacional do CPM
de Luxemburgo, tratou “da realidade teológica à espiritualidade vivida”. Por
fim, Marianne Hubert, teóloga leiga, abordou “O lado moral da fidelidade
e infidelidade conjugal”. Todas as conferências se encontram no site
(www.cpm-portugal.pt).
A parte litúrgica foi especialmente cuidada. Presidiram às duas
celebrações eucarísticas o Arcebispo de Luxemburgo e o representante do
Vaticano, respectivamente. Teve especial significado o “A treze de Maio”
solicitado ao grupo de Portugal para encerrar a oração de vésperas do 1 de
Maio, início do mês de Maria.
As Jornadas houve incluíram Assembleia-geral da FICPM. Além da
apresentação de contas, foram reconduzidos para novo mandato o Assistente
Internacional, P. Raymond Heusghens, e o Casal Presidente Internacional,
Maria Leonor e José Carlos Seabra Pereira, de Coimbra.
A representação portuguesa aproveitou o ensejo para uma incursão na
região - Baviera, Alemanha romântica, Floresta Negra e Estrasburgo. Foram
dias que irmanaram ainda mais os que se dedicam à preparação de novas
famílias.
As próximas Jornadas serão em Tarragona, de 5 a 8 de Maio de 2005, sob
o tema “Que fazer agora para continuar a amar”.
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 215
Notícias
“Diálogo e gestos de amor” – Conselho Nacional
Ocorreu no Porto, a 29 e 30 de Maio de 2004, o Conselho Nacional
da Primavera da Associação Portuguesa dos Centros de Preparação para
o Matrimónio - CPM Portugal - com casais e assistentes vindos de treze
dioceses de Portugal.
D. João Miranda, Bispo Auxiliar do Porto e vogal da Comissão Episcopal
da Família, abriu os trabalhos apelando à exigência e à qualidade do serviço
aos noivos, bem como à reflexão sobre algumas situações novas.
O espaço de formação centrou-se no 3º tema CPM – “Diálogo e gestos de
amor” e contou com a colaboração de uma jovem universitária, de 21 anos,
e de um teólogo e professor da Universidade Católica. A jovem referiu-se
ao modo generalizado como os jovens entendem e vivem a sexualidade,
sem projectos, dando pouca importância ao matrimónio e sem noção das
consequências de tal mentalidade e procedimento. Afirmou ainda a falta de
informação consistente, a divergência quanto ao aborto e o sentimento de
conforto nas uniões de facto. Os presentes questionaram-se sobre as atitudes
da Família, da Igreja e da Escola, como agentes informadores e formadores.
Jorge Cunha apontou para uma mudança cultural de difícil comparação.
Admitindo que hoje as crianças sentem mais os afectos, reconheceu o
problema da desvalorização das instituições e a importância da afirmação
da autonomia, da liberdade e da personalização num processo acelerado
de mudança. Quanto à formação, pouco mais que falada, as famílias e os
indivíduos embarcam no mito do bem-estar, do consumo, e mesmo da
comunicação social sem critério. Referiu ainda a urgência da descoberta
do sentido da sexualidade, a importância do sacramento que dá aos gestos
humanos a dimensão do eterno e a necessidade de reflexão sobre o bem-estar
e a autenticidade dos sentimentos nos contextos actuais. Entretanto sublinhou
que todos deveriam estar de acordo em as áreas como a defesa da vida e a
busca de soluções solidárias para aceitação da criança não desejada. Em
síntese, afirmou que a vida sexual não pode ser arbitrária e anárquica e tem
o seu valor moral inseparável do afecto e do amor. É papel da Igreja revelar
o sentido do humano, educar para a verdadeira autonomia e para o afecto,
formar a consciência moral, e apresentar o Sacramento do amor conjugal.
O diálogo com a assembleia pôs em realce o lugar da fé e da esperança na
atenção e interpretação destes sinais dos tempos à luz do Evangelho.
Os casais presentes partilharam aspectos práticos – sucessos, dificuldades,
projectos – relacionados com as respectivas dioceses. Reconheceu-se que a
216 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Notícias
dificuldade de renovar os casais e as equipas se deve sobretudo à falta de
tempo e de disponibilidade interior. Antes que ceder à tentação de reduzir e
simplificar a preparação dos noivos, há que olhar mais fundo. As equipas que
começam por ser meio de formação e valorização dos próprios casais e depois
serviço aos noivos na linha sobretudo testemunhal, têm sido apoiadas pela
maioria das dioceses como uma forma de resposta aos apelos da “Familiaris
Consortio” sobre a preparação para o matrimónio. Com a continuação desse
apoio o CPM espera nunca ter que sacrificar o tempo e o espaço dado aos
noivos e continuar fiel à sua metodologia e pedagogia.
Constituíram ainda pontos importantes a viabilidade da edição de dois
opúsculos “O que é o CPM” e “Aspectos práticos do CPM”, a possibilidade
de uma sondagem da Universidade Católica sobre aos benefícios do CPM
nas famílias, informação sobre o site do CPM, a avaliação da “Formação
Nacional” e do “Encontro-Peregrinação Nacional” recentemente realizados,
e o anúncio e marcação de actividades, respectivos temas e distribuição de
tarefas às dioceses.
A Eucaristia de encerramento foi de acção de graças pelo trabalho
realizado e de esperança no Senhor a quem se confiam todos os projectos.
D. Alberto Ricardo da Silva – novo Bispo de Dili
D. Alberto Ricardo da Silva foi ordenado a 2 de
Maio e passou a ser o primeiro bispo residencial de
Dili, diocese criada em 1940 e até agora presidida
por administradores apostólicos. A comunidade
nacional viveu o acontecimento de forma notável.
Na praça junto à casa episcopal concentraram-se
cerca de vinte mil pessoas de todas as regiões do
novo país e um coro de mais de mil jovens deu
brilho à celebração presidida por D. Basílio do
Nascimento, Bispo de Baucau, ladeado por D.
Tomás Nunes, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa e pelo bispo
da vizinha diocese de Kupang, em Timor Ocidental. Presentes também
o Presidente da República, o Primeiro-Ministro e membros do Governo,
outras autoridades civis e militares, o representante das Nações Unidas, e
representantes dos bispos da Austrália, Indonésia, Japão, Macau e Portugal.
Representou a nossa diocese o reitor do Seminário diocesano onde o novo
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Notícias
Bispo fez os seus estudos teológicos antes de ser ordenado presbítero na
Sé de Leiria, a 15 de Agosto de 1972. O P. Virgílio Antunes foi portador de
uma lembrança - um conjunto de dez cálices e patenas para em outras tantas
igrejas de Dili - expressão da profunda ligação entre as duas dioceses.
“Jornal de Minde” – 50º aniversário
O Jornal de Minde completa 50 anos em Março de 2005 e assinala a data
com várias as iniciativas ao longo do ano. A 9 de Maio a missa dominical
foi de acção de graças e, em romagem ao cemitério, foram lembrados os
colaboradores e assinantes falecidos. Nessa tarde, no pavilhão Ana Sonça
houve uma sessão comemorativa e a abertura de uma exposição alusiva ao
jornal. Além dos testemunhos dos fundadores, padre Manuel A. Messias e
Abílio Madeira Martins, foram lidos textos publicados ao longo dos anos.
O Jornal de Minde é propriedade da Fábrica da Igreja Paroquial e foi
fundado em Março de 1955. Com uma periodicidade mensal, sai com 16
páginas, capas a cores. Tirado a mil exemplares, mais de metade é distribuído
pelo correio na localidade e é enviado a cerca de uma centena de emigrantes
espalhados pelo mundo.
Santuário de N.ª Sr.ª de Fátima em Maputo
O Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, e o reitor do Santuário de Fátima
endereçaram felicitações pelos 60 anos do Santuário de Nossa Senhora de
Fátima em Namaacha, na diocese de Maputo, em Moçambique. D. Serafim
saudou o Arcebispo de Maputo, bem como o pároco e a comunidade de
Namaacha: “Diante da imagem da Senhora “mais brilhante que o sol”, na
Capelinha das Aparições, Fátima, rezo por todos vós. Peço-Lhe uma bênção
especial para as crianças e os idosos, sobretudo que dê mais coragem a
quantos sofreram os horrores da guerra”. Dirigindo-se aos “queridos cristãos
de Moçambique”, D. Serafim escreveu: “Sois um grande povo que sofreu a
guerra e conquistou a paz. Sei que tendes alguns problemas, mas também
sei que tendes grandes valores e muita Esperança”. A mensagem terminou
com uma oração à “Mãe da reconciliação e da paz, para que vos ajude na
caminhada democrática e cultural”.
Monsenhor Luciano Guerra, em carta ao reitor do Santuário de
Namaacha, uniu-se “de todo o coração” às comemorações e fez votos para
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Notícias
que elas marquem um novo princípio, “se possível ainda mais espiritual e
pujante, na frequência e no fervor dos vossos peregrinos”. “De facto, os
milhares de lugares de culto de Nossa Senhora de Fátima que existem já no
mundo inteiro, outra coisas não querem que não seja acolher e difundir a
mensagem que nos foi transmitida pela Mãe do Senhor e pelo Anjo da paz,
nesta Serra de Aire, em Portugal”, escreveu Monsenhor Luciano Guerra. A
mensagem de Fátima é “possivelmente a mais rica de quantas até hoje foram
transmitidas em revelações particulares à Igreja Católica, e o seu conteúdo
percorre praticamente todos os mistérios da nossa fé cristã. Além disso, pela
sua referência clara aos acontecimentos recentes, a mensagem de Fátima é
uma afirmação vigorosa e serena da providência de Deus, Criador e Salvador,
sobre este mundo dos homens, que é o nosso”. A mensagem terminou com a
invocação da bênção de Nossa Senhora.
Igreja da Santíssima Trindade – Primeira Pedra
O dia da celebração litúrgica da Santíssima Trindade, a 6 de Junho, era a
data mais apropriada. Após a habitual Eucaristia Internacional de Domingo,
a imagem de Nossa Senhora de Fátima foi levada em procissão até junto
das obras da Igreja da Santíssima Trindade. A primeira Pedra apresentada
pelo Bispo diocesano, ficará como mais um selo da unidade de Fátima
com a Cátedra de Pedro. O fragmento marmóreo foi retirado do sepulcro
do Apóstolo S. Pedro em Roma. D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva
implorou o auxílio divino para uma obra que, disse, “se destina a acolher
os verdadeiros servidores de Deus”. “Pela intercessão da Bem-aventurada
Virgem Maria e dos Beatos Francisco e Jacinta Marto, seja esta obra um
convite permanente à oração e à penitência, na reconciliação e na paz, como
pediu Nossa Senhora na Mensagem de Fátima; e uma conjugação de culto e
cultura”, rezou. Na homilia, o prelado deixou uma palavra aos mais cépticos:
“Apesar das críticas e das incompreensões, queremos uma obra digna que
cresça sem fronteiras, ao serviço da evangelização, ao serviço da fé”.
Considerando que a oferta do Santo Padre João Paulo II cumprirá melhor
a sua missão se à vista de todos, após a conclusão da Igreja, a primeira Pedra
será colocada em lugar de grande destaque. Por isso, na raiz do edifício foi
implantada outra tirada do maciço rochoso das escavações. D. Serafim pediu
ao Senhor para que a nova construção “facilite às multidões que nela se
reunirem o acolhimento da Mensagem de Fátima e, assim, dóceis ao Espírito
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Notícias
Santo, unidos a Cristo, pedra angular, membros vivos de uma única Igreja,
os peregrinos de Fátima proclamarão a esperança do reino eterno de Deus,
no amor e na paz”.
No mesmo dia inaugurou-se na Casa de S. Miguel uma exposição sobre o
futuro tempo. A mostra integra a descrição do projecto, as várias perspectivas
do interior e do exterior da futura igreja, uma maqueta com enquadramento
na zona envolvente do Santuário. Os visitantes poderão ainda contemplar
uma cópia da Bênção Apostólica do Santo Padre para a nova igreja que se
espera venha a ser inaugurada em Maio de 2007. Completa a exposição
um curriculum do arquitecto Alexandros N. Tombazis que afirma tudo
ter projectado para melhor servir as grandes multidões de peregrinos que
visitam Fátima. A entrada será facultada, em horário a afixar, em princípio
até à conclusão das obras.
Festa do Corpo de Deus
A cidade e diocese de Leiria celebraram, uma vez mais, no passado dia
10 de Junho, a Solenidade do Santíssimo Sangue e Corpo de Cristo. Com
grande tradição entre nós, a celebração tem dois momentos de destaque.
O primeiro deles é a Celebração Eucarística que este ano teve lugar em
frente à Sé, às 15h30.
O segundo é a tradicional procissão do Santíssimo Sacramento pelas
ruas da cidade. Como sempre, a participação foi muito numerosa. Fiéis
provenientes de todas as paróquias, religiosos e clero, em torno do Bispo,
deram uma imagem visível da Igreja diocesana.
Como preparação, foi elaborado um programa de adoração ao Santíssimo
durante a semana antecedente. Todas as paróquias foram convidadas a
definir tempos de oração e adoração. Em Leiria, na igreja do Espírito Santo,
a preparação foi diária e contou com a organização e presença de diferentes
grupos e intervenientes.
Peregrinação das Crianças
Apesar de o dia 10 de Junho, este ano, coincidir com um dia litúrgico
do “Corpo de Deus”, a Peregrinação Nacional das Crianças ao Santuário
de Fátima voltou a encher o recinto com vários milhares de miúdos e
seus familiares. “Pelo pai e pela mãe, demos graças ao Senhor” foi a frase
220 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Notícias
escolhida para despertar nas crianças a importância dos pais e do bom
relacionamento com eles. Para ajudar os mais pequenos, a organização
da Peregrinação, tendo enviado para as paróquias uma folha apropriada,
convidou as crianças a fazerem uma oração pelos seus pais. Essas folhas
foram levadas a Fátima, neste dia, e foram devidamente valorizadas no
momento da celebração eucarística.
Encontro Nacional de Pastoral Juvenil
Decorreu, nos passados dias 11 e 12 de Junho, o encontro dos
responsáveis de Pastoral Juvenil das dioceses, movimentos e obras. Após
um jantar de abertura e uma breve introdução, houve uma hora de música de
mensagem, “a capella”, pelo grupo DOMUS, da Igreja Adventista do Sétimo
Dia, momento de partilha entre comunidades cristãs reconhecem o mesmo
Senhor Jesus Cristo. Seguiu-se um momento de oração dinamizado por um
grupo de jovens de Leiria do Movimento da Mensagem de Fátima.
No sábado, os participantes tomaram contacto com os objectivos e o
programa para o próximo ano. “Discernir, com o dinamismo de comunhão
já constatado, o melhor caminho a fazer com os jovens, no encontro com
Jesus Cristo, no amadurecimento da fé e compromisso com a Igreja” são
os objectivos gerais. Como pontos concretos definiram-se “a estruturação
do Conselho Nacional da Pastoral Juvenil e a participação nas actividades
que podem deixar vislumbrar o protagonismo dos jovens na Igreja”. A ideiachave será “Nova cultura vocacional” e o tema “Viemos adorá-Lo”.
Neste sentido, estão agendadas várias actividades a nível nacional: Fórum
Ecuménico Jovem, em Santarém, com partilha e oração de jovens de várias
confissões religiosas; 27º Encontro Europeu de Jovens dito Peregrinação da
confiança; Fátima Jovem; e Jornada da Juventude em Colónia, Alemanha.
Dominicanas do Rosário Perpétuo – 50 anos em Fátima
A 16 de Junho, no Mosteiro Pio XII, em Fátima, D. Serafim de Sousa
Ferreira e Silva presidiu à Eucaristia de acção de graças pelos 50 anos de
presença das Monjas Dominicanas do Rosário Perpétuo.
O Rosário é uma herança preciosa da Ordem Dominicana. Segundo a
tradição a Virgem Maria terá ordenado a São Domingos que pregasse o
Rosário. Como a Igreja lembra que nasceu da oração contemplativa do
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Notícias
Cenáculo, S. Domingos, antes de fundar a Ordem dos Frades Pregadores,
fundou em 1206, em França, as Monjas Dominicanas contemplativas cuja
missão é vivificar pela oração e pelo sacrifício, a acção dos Pregadores.
Esta presença onde a “Senhora do Rosário” pediu a recitação diária do
terço para a paz do mundo, enche-se de sentido.
Colóquio sobre a pobreza – Comissão Justiça e Paz
A Comissão Diocesana Justiça e Paz promoveu a 8 de Julho um colóquio
sobre “O problema da pobreza a nível nacional e a nível local”. Alfredo
Bruto da Costa, da Comissão Nacional, e Mavíldia Frazão, assistente social,
foram os oradores.
A ideia começou com a divulgação de alguns dados sobre a pobreza
em Portugal na comunicação social. Também o Governo mandou elaborar
um estudo sobre a situação nacional. Embora esta não seja suficientemente
conhecida, estimam-se em 200.000 o número dos que passam fome e em 2
milhões os pobres, dos quais 1 milhão especialmente vulnerável. Não havia
a noção pública destes números que, pior ainda, têm tendência a agravar-se
com a crise económica e o aumento do desemprego. A Comissão Diocesana
Justiça e Paz não podia ficar indiferente.
Numa perspectiva de co-responsabilidade e de solidariedade, procurou-se
uma abordagem à escala nacional e à escala local. A preocupação maior serão
novas formas de pobreza decorrentes do envelhecimento da população, do
desemprego, da toxicodependência, da prostituição e outros vícios sociais,
da imigração, da exclusão social...
Para a acção futura, sugeriu-se que deverão ser melhor alertados o poder
político e as pessoas em geral. Depois, e independentemente dos estudos
em curso, procurar intensificar tudo o que possa minorar a dimensão do
problema, reforçando parcerias entre os sectores público e privado, e em
especial instituições de carácter social, existentes ou a criar. Para além do
Estado, poderão desempenhar importante papel instituições como as que
estão ligadas à Igreja.
Assembleia da Acção Católica
Os Delegados da Acção Católica Rural (ACR) tiveram a sua IV
Assembleia nacional, a 10 e 11 de Julho, em Viseu. Participaram, além
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Notícias
da equipa nacional, os dirigentes diocesanos e respectivos assistentes,
um representante de cada grupo de base e dois militantes da escolha das
equipas diocesanas. Estes foram o colégio eleitoral que elegeu a nova equipa
executiva nacional que vai dirigir a ACR nos próximos três anos. Foi a
primeira vez que a equipa nacional foi eleita directamente pelas bases e em
lista completa.
Além das eleições, a Assembleia teve como objectivos principais, avaliar
os planos e programas realizados nos últimos três anos e determinar as linhas
programáticas para o futuro triénio. Para o efeito foram consultados os
bispos e todos os assistentes, e realizaram-se inquéritos junto dos militantes,
dirigentes e estruturas do movimento, sobre as prioridades a estabelecer, com
vista à solução dos problemas da sociedade portuguesa e da Igreja, sobretudo
onde a ACR está implantada.
Encontro de Sacerdotes Jubilários
Por iniciativa de D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, reuniram-se no dia
12 de Julho de 2004, em Fátima, cerca de setenta padres jubilários (19542004), provenientes das dioceses e ordens religiosas de todo o país. Junto
de Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições, todos recitaram o Rosário
e renovaram a sua Consagração, aqui mesmo feita, há 50 anos, quando
estudantes finalistas. Presidiu o Bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho,
também jubilário, como D. Serafim. Após a Consagração, os muitos fiéis
presentes, num gesto de comunhão, irromperam com uma salva de palmas.
O ponto alto do encontro foi a Eucaristia, na Basílica, presidida pelo
Bispo de Leiria-Fátima, que terminou a homilia citando as palavras de
Nossa Senhora, confortantes para todas as tarefas pastorais: “por fim o
Meu Imaculado Coração triunfará”. Seguiu-se um almoço de convívio e um
encontro informal com apresentações e testemunhos. No final foi sugerida
e aprovada a publicação de uns tantos testemunhos, para informação e
incentivo aos jovens futuros sacerdotes.
“Liturgia para o Terceiro Milénio”
Nos 40 anos do Vaticano II, O Secretariado Nacional de Liturgia realizou
o 30º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, de 26 a 30 de Julho, em
Fátima. A “Liturgia para o Terceiro Milénio” foi o mote da realização que
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Notícias
procurou melhorar a resposta às orientações conciliares, numa perspectiva de
futuro. A Carta Apostólica do Santo Padre no XL aniversário da Constituição
Sacrossantum Concilium desafia a Igreja a olhar para o futuro e a passar da
renovação dos ritos ao aprofundamento da liturgia. A renovação litúrgica faz
parte da fidelidade da Igreja a Cristo. O sentido da liturgia renovada carece de
um aprofundamento espiritual que ponha em relevo a grandeza do Mistério
da salvação. A liturgia é o primeiro ministério da Igreja e o seu rosto mais
visível. As sua celebrações são a maior revelação do Mistério escondido.
Entender a linguagem da liturgia é uma arte que se aprende na escola da
Igreja em Oração. A formação teórica e prática dos agentes da pastoral
litúrgica foi o grande objectivo do Encontro Nacional. As tardes foram
dedicadas a sectores específicos da liturgia, as “Escolas de Ministérios”,
destinada a presidentes, acólitos, leitores, ministros extraordinários da
comunhão e cantores.
Missionários voluntários da Diocese
“Fazer o bem… em Maputo” é o lema do Voluntariado Teresa de
Saldanha, das Dominicanas de Santa Catarina de Sena, dinamizado por três
jovens da nossa Diocese: João Madruga (Leiria), João Rocha (Barreira) e
Jorge Rocha (Barreira). Segundo eles, o projecto, implementado em duas
cidades de Maputo e Xai-Xai, durante o mês de Agosto, pretendeu, “ir ao
encontro das necessidades das comunidades locais; dar a conhecer o Cristo
que cada um vive e sente diariamente; viver esse Cristo como é sentido pela
comunidade; contactar um povo com uma cultura diferente e abrir caminho
para potenciar novos intercâmbios a médio e longo prazo”. Os jovens
missionários agradecem a todos os que apoiaram a iniciativa, nomeadamente,
à comunidade cristã da Barreira.
Acampamento Regional do CNE
“Para lá do Sonho” assim se intitulou o XVIII Acampamento Regional
(ACAREG) do Corpo Nacional de Escutas, que decorreu em Pataias, de 2
a 8 de Agosto. Viver o ideal escutista, partilhar experiências e saberes, e
acreditar que é possível tornar o mundo melhor, foram os objectivos dos
1400 escuteiros acampados.
O Ambiente, o Escutismo, a Comunidade e a Fé foram os grandes temas
das muitas actividades programadas e o KIM, personagem do livro “Em
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Notícias
Busca do Rio da Flecha” de Rudyard Kiplling”, foi o herói do imaginário.
A encerrar, D. Serafim Ferreira e Silva presidiu à Eucaristia e fez uma
visita guiada ao campo.
As actividades decorreram como previsto e foram ultrapassadas todas as
expectativas quanto ao número de participantes e ao nível de interactividade
e de unidade. A organização não deixou de lado nenhum pormenor, nem
mesmo a previsão de um local onde pudesse prosseguir a Eucaristia iniciada
com uma chuvada inclemente.
Mosteiro de Monte Real em festa
No passado dia 11 de Agosto, o Mosteiro de Santa Clara e do Santíssimo
Sacramento vestiu-se de festa na celebração de “dois jubileus”: 50 anos de
sacerdócio e 25 de episcopado de D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, e 750
anos da entrada de Santa Clara de Assis na glória celeste e da aprovação da
sua Regra.
Numa “celebração simples, mas festiva”, D. Serafim presidiu à solene
Eucaristia, precedida pela oração de Vésperas e do Terço, na Igreja do
Mosteiro.
Clara de Assis comprova que “O santo é um homem de todos os tempos”.
A sua personalidade forte e sensível emerge do mundo medieval para o
mundo de hoje, como verdadeiro “sinal de contradição”. Aos 18 anos, em
1210, enfrenta a nobre e guerreira família paterna, abandona as riquezas e
abraça a mais alta pobreza, no Mosteiro de S. Damião onde viveu 42 anos de
clausura absoluta, em penitência, oração e trabalho. Falecida a 11 de Agosto
de 1253, deixou ao mundo uma herança que, 750 anos depois, continua cheia
significado para a sociedade de hoje.
D. Serafim quis associar-se às Irmãs Clarissas de Monte Real, com a sua
homenagem à “mulher nova” e original que é Santa Clara. Mas... também
ela, Clara de Assis, canta os “parabéns” ao Bispo de Leiria-Fátima.
XXXII Semana Nacional das Migrações
A XXXII Semana Nacional das Migrações, iniciativa da Obra Católica
Portuguesa de Migrações, culminou com a Peregrinação Internacional do
Migrante a Fátima – 12 e 13 de Agosto – presidida pelo Cardeal japonês
Stephen Fumio Hamao, presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral
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Notícias
dos Migrantes e Itinerantes.
No enquadramento do tema “Consolidar a Paz para não ter que emigrar”
o Cardeal Hamao afirmou aos jornalistas que “o fenómeno da mobilidade
humana esteve constantemente no centro dos cuidados da Santa Sé”,
como comprovam intervenções e documentos onde transparece “quer a
profundidade de leitura desta notável realidade social, quer a capacidade de
propostas pastorais, em vista de uma plena aceitação do estrangeiro e do seu
património cultural e religioso”.
Aos peregrinos, na sua maioria emigrantes, que encheram o Santuário,
D. Hamao lembrou na sua homilia intitulada “guerra camuflada”, que as
migrações são prioridade na acção da Igreja cujas linhas fundamentais são
“a centralidade da pessoa, a defesa dos direitos fundamentais do homem,
a tutela e a valorização das minorias na sociedade civil e eclesial, o valor
das culturas na obra de evangelização, a contribuição das migrações para
a pacificação universal, a dimensão eclesial e missionária do fenómeno
migratório, a importância do diálogo e do confronto no interior da sociedade
civil, da comunidade eclesial e entre as diversas confissões e religiões”. O
cardeal japonês assinalou anda que “a Igreja está interessada e é solícita
para com todas as categorias da mobilidade humana: além dos migrantes,
económicos e políticos, refiro-me aos refugiados, aos turistas e peregrinos,
aos marítimos, ao povo rom e sinti (ciganos), aos circenses e feirantes e aos
estudantes estrangeiros”. “Ela olha para o mundo inteiro, ela tem diante de
si todos os homens e mulheres, de cada cor, raça, nacionalidade e religião”.
E pediu “a construção de um mundo de paz e de fraternidade”, para fazer
face às ameaças que afligem o mundo. “Vivemos hoje sob o pesadelo de uma
guerra camuflada, que nos esmaga num sentimento de medo. O terrorismo
astucioso que pode ferir em toda parte e em cada instante; o problema
não resolvido do Médio Oriente; as doenças que propagam o contágio e a
morte; o grave problema da fome e outros tantos flagelos que ameaçam a
sobrevivência da humanidade, a serenidade das pessoas e a segurança da
sociedade” acrescentou. Defendendo a solução do diálogo entre as culturas,
disse aos migrantes: “Sois portadores de um novo modo de dialogar: trata-se
de um ‘diálogo de vida’, isto é, de um diálogo entre pessoas de diferentes
culturas e religiões”. E vincou que o migrante, “com a sua humildade e
simplicidade de vida e com o seu sacrifício no trabalho quotidiano”, tem
um papel fundamental para “converter o mundo à paz, à fraternidade, à
solidariedade”. Na sua intervenção abordou ainda perigos e dificuldades
como “o problema da integração, cada vez mais difícil na nova sociedade; a
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Notícias
relação cada vez mais problemática entre os pais e os filhos; a convivência
entre os mesmos que se torna cada vez mais difícil e conflituosa, por causa
da diferente cultura que os filhos recebem no novo ambiente; o problema da
transmissão dos valores familiares na intervenção educativa; o problema da
inserção dos filhos no processo escolar”.
Na referida conferência de imprensa o Cardeal Stephen Fumio Hamao
considerou que “Os emigrantes são, para a Igreja Católica, os novos
evangelizadores”. Segundo disse, eles criam situações que “obrigam
ao diálogo ecuménico e inter-religioso”, e os emigrantes católicos “têm
capacidade de dar testemunho” e “converter os outros”, enquanto os novos
fluxos migratórios “podem ajudar a ultrapassar questões de racismo e
xenofobia”. Quanto à postura da Igreja, disse que ela “tem criado estruturas
pastorais para o serviço religioso dos migrantes, tem elaborado modelos
operativos, em vista de uma presença mais incisiva no território e na
construção de comunidades integradas e tem exposto uma dimensão universal
e missionária à acção pastoral, no momento em que o pluralismo étnico e
cultural se está tornando traço característico da sociedade moderna”.
O Pe. Ângelo Negrini, do mesmo Conselho Pontifício, defendeu que a
pastoral da Igreja para o sector tem de assentar em dois planos: o religioso,
com base no exemplo dos cristãos; e o social, económico e político, com
a defesa de uma sociedade que sublinhe a igualdade entre as pessoas sem
ignorar as diferenças culturais.
D. Januário Torgal Ferreira, presidente da Comissão Episcopal das
Migrações, criticou, no passado dia 12, em Fátima, o facto de Portugal ainda
não ter assinado a Convenção Internacional sobre a protecção dos direitos
dos trabalhadores migrantes e suas famílias, questionando: “Por que razão
o nosso país não assinou até hoje, por exemplo, a Convenção Internacional
sobre a protecção dos trabalhadores migrantes e membros das suas famílias,
convenção esta adoptada pela ONU em 1991 e que entrou em vigor no ano
passado. Porquê?” Perante uma assembleia de milhares de fiéis, D. Januário
disse ainda ser difícil entender que pessoas que vêm para Portugal apenas
em busca de oportunidade “de ganhar o pão” não tenham “obtido bilhete
de entrada”, enquanto “os mais responsáveis prosseguiram o seu discurso,
proclamando o humanismo de maneiras e o sentido da responsabilidade,
impedindo o avanço dos pobres”. E alertou para o facto de desde 1990, “em
confronto com os cerca de quinhentos mil estrangeiros que entraram no
nosso país, cerca de trezentos mil portugueses” terem saído de Portugal “em
novos fluxos migratórios”.
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Notícias
Curso de Missiologia no Centro Allamano
Decorreu em Fátima, entre 23 e 28 de Agosto, um Curso de Missiologia,
promovido pelo Centro Missionário Allamano, dos Missionários da
Consolata. Iniciativa dos Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG) em
Portugal, com o apoio das Obras Missionárias Pontifícias (OMP), o curso
vem ao encontro de uma lacuna no estudo da missão “ad gentes” e destinouse, essencialmente, aos membros dos Institutos Missionários, religiosos,
sacerdotes diocesanos, missionários em férias, seminaristas e estudantes
de Teologia, candidatos ao laicado missionário e a voluntários da missão.
Foram abordados os temas básicos da Missiologia – Bíblia, História,
Espiritualidade e Metodologia. O curso dura dois anos em sistema de ciclo, o
que permite a inscrição e ingresso em qualquer um dos anos. Os temas deste
ano correspondem ao 1º ano do ciclo bienal. No final de dois anos é entregue
o diploma correspondente.
Colégio de S. Miguel aposta na inovação
O Colégio de S. Miguel antecipa-se no contexto das mudanças no
sistema educativo. A par dos cursos com currículo nacional estabelecido,
apostou no desenvolvimento e actualização dos Cursos Tecnológicos já
em funcionamento - Contabilidade/Administração e Design, Cerâmica e
Escultura, este com um currículo único no país e a proporcionar formação
polivalente nas áreas das Artes Plásticas – ajustando-os à nova estrutura do
ensino e a adequando-os à procura do mercado. Estas medidas visam dar
aos jovens uma formação adequada tanto ao trabalho imediato como ao
prosseguimento no Ensino Superior.
Com o contributo de especialistas da Universidade de Aveiro, da Escola
Superior de Enfermagem de Leiria e de outras instituições, o Colégio
construiu um curso de cuidados à 3.ª idade, formação de nível III (12.º ano)
com excelentes perspectivas de empregabilidade e continuidade de estudos.
A pensar na necessidade de Técnicos de Acção Educativa com forte
preparação pedagógica, construiu-se um currículo, variante do Curso
Tecnológico de Acção Social, capaz de proporcionar formação para
acompanhamento, ocupação e orientação de crianças, adolescentes e jovens
em contexto escolar, em centros de ocupação de tempos livres, em apoio ao
estudo, etc.
228 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Reflexões
Visita Pascal
A. Pascoal
Li com muita atenção e interesse o estudo do caríssimo P. Carlos Cabecinhas
sobre a Visita Pascal, publicado em Diocese de Leiria-Fátima, Ano XII, 34 (Janeiro/
Abril), 2004, pg. 109-114.
Apreciei a erudição que documenta e realço o sentido pastoral do uso que dela
faz.
Também aceito sem reservas o princípio segundo o qual “qualquer esforço de
renovação da chamada ‘Visita Pascal’ não pode prescindir de procurar conhecer a
origem histórica de tal prática”.
E todos devemos estar gratos ao P. Cabecinhas pelo seu trabalho de investigação,
que é um óptimo contributo para a nossa busca de pistas por onde gostaríamos de
renovar, não pura e simplesmente modificar, ou, o que seria pior, eliminar.
O texto que apresento a seguir e que, com pequenas alterações, coincide com
o que tinha preparado há mais de um ano, muito antes de o assunto ser proposto
à reflexão do Conselho Presbiteral, não é pois, senão uma tentativa de completar,
se assim me posso exprimir, o trabalho do actual responsável pelo Secretariado
Diocesano da Pastoral Litúrgica, ao qual faria ainda o seguinte comentário:
E começaria por exprimir uma dúvida, de ignorante, bem entendido, mas real,
que, por ser real, acaba necessariamente com um efeito redutor sobre o que queremos
como pistas seguras de renovação:
Trata-se daquilo que é apontado, com carácter quase absoluto, como origem da
Visita Pascal. Ou seja, a visita e bênção das famílias, por parte do pároco, tanto
quanto possível anualmente.
Que esta visita é urgida e regulamentada desde há muitos séculos, documenta-o
suficientemente o trabalho do P. Cabecinhas; mas já não é tão claro, pelo menos para
mim, que seja ela que tenha dado origem a uma prática que, afinal, nem sequer nos
países latinos, é ou foi algumas vez geral, ao contrário do que parece insinuar o autor
(cf. pg 109).
E não deixa de chamar a atenção o facto de em regiões como, por exemplo, o
Limousin, centro-sul da França, onde, antes da implantação da reforma tridentina,
o clero era excepcionalmente numeroso – diríamos mesmo, demasiado numeroso
– não haver qualquer vestígio de tal prática.
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 229
Reflexões
Salvaguardando a opinião de quem estudou melhor o assunto do que eu, acho
que o aconteceu foi o seguinte:
Primeiramente o desiderato da visita e bênção anual das famílias por parte do
pároco, de um modo geral, nunca passou disso: um desiderato.
Algumas comunidades, em circunstâncias especiais de cultura e piedade, terão
ido um pouco mais longe, aproveitando as festas pascais, para realizarem essa visita
e bênção com certa solenidade. Mas isso trouxe-lhe outras conotações, acabando por
tornar secundário o que era fundamental.
Nas zonas rurais, o aspecto festivo foi-se desenvolvendo, com cruzes
profusamente ornamentadas, música e foguetes, como se de um grande arraial se
tratasse; a figura do pároco, como tal, passa a segundo plano, e a bênção reduz-se, na
mente das pessoas, à aspersão com água benta.
Esta secundarização do padre justifica a utilização, iniciada há muitas décadas,
pelo menos em Portugal, de outro tipo de ministros, sobretudo seminaristas, mesmo
leigos, ainda que com vestes litúrgicas, como se fossem clérigos.
Na maior parte dos casos, estes seminaristas iam, ou continuam a ir, para
comunidades que os não conhecem; mas o autor destas linhas fez esse trabalho
algumas vezes, ainda que de modo excepcional, na sua terra, onde todos o
conheciam como simples “estudante”... era assim que, nessa altura, as pessoas por lá
designavam os seminaristas.
E, já agora, acrescento que foi então que no meu íntimo começaram a surgir
dúvidas sobre o valor pastoral de tal prática, que me agradava, pois a achava muito
divertida, mas pouco mais do que isso.
Algumas propostas em ordem à renovação da Visita Pascal
Falando da própria experiência
1. A não ser nas regiões do país com uma tradição de vida comunitária ainda
muito forte, como é o caso do Minho, há várias décadas que daquilo que terá sido
uma forma de levar para as ruas a alegria pascal, ficou apenas o hábito de uma visita
às casas, sublinho, às casas, por parte do pároco ou seu representante, que, a troco de
algumas orações pronunciadas à pressa e uma pouca de água benta, recebia, por esta
altura, parte daquilo com que os paroquianos proviam à sua sustentação.
Quando eu era criança, mesmo no seio de famílias piedosas, como, graças a
Deus, era a minha, esta prática designava-se, sem nenhuma conotação negativa,
“tirar o folar”: o Senhor Prior andava a tirar o folar... Recordo-me apenas de um
comentário negativo, que rezava mais ou menos assim: os padres são piores que os
garotos. Logo que chega o Dia de Páscoa, vão a correr buscar o folar. Ficou-me na
memória este comentário pelo que nele achei de estranho, vindo de quem vinha; mas
agora, com a mediação do tempo e tendo presente o que essa prática significava para
as pessoas, acho-o razoável.
230 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Reflexões
Na linguagem oficial falava-se de outra coisa, e chegou mesmo a preconizar-se
que não se recebesse o “folar” por essa altura. Não era a supressão dessa oferta, mas
a tentativa de deslocar a sua entrega para uma ocasião mais apropriada; tentativa
que, salvo raras excepções, não surtiu efeito.
Por outro lado, com a diminuição de padres em condições físicas para aquilo que
alguns queriam que fosse uma visita do pároco às famílias da sua paróquia, criou-se
o hábito de encarregar seminaristas, ou equiparados, vestidos como o padre, de tal
missão... iniciando-se assim uma forma de conivência pouco honesta com a visão
clerical da Igreja por parte do povo, em vez de se aproveitar a oportunidade para lhe
mostrar alguns dos aspectos mais fecundos, quer do sacerdócio baptismal de todos
os cristãos, homens ou mulheres, quer da ecleseologia de comunhão.
2. Na paróquia de que fui encarregado, vai para dez anos,1 só na primeira Páscoa,
dado que éramos dois e distribuímos as visitas pelos três primeiros fins de semana do
tempo pascal, foi possível a Visita Pascal ser realizada por sacerdotes. No segundo
ano já não foi possível, devido à impossibilidade física do vigário paroquial.
Além disso, os lugares da paróquia que eram visitados depois do segundo
Domingo da Páscoa, nem sequer queriam que lhes falássemos de Boas Festas
Pascais, porque achavam que a Páscoa já tinha passado.
Em Novembro de 1996, o Conselho Pastoral, que iniciara as suas actividades
no começo do ano pastoral, depois de estudar várias hipóteses, adoptou a seguinte
prática: a Visita Pascal, que nos Pousos se começou a chamar solene anúncio pascal,
far-se-ia, caso se encontrassem padres ou “equiparados” suficientes, ao longo da
primeira semana da Páscoa, aproveitando as últimas duas horas, antes do pôr do sol.
No momento da visita convidavam-se as pessoas para um convívio, à noite, durante
o qual se faria a entrega do “folar”.
3. Pode dizer-se que este programa teve, no primeiro ano, um êxito modesto, se
nos atemos aos objectivos que estavam por detrás dele: ou seja, aproveitar a Páscoa
para arrancar as famílias ao anonimato a que as conduz a progressiva urbanização
da paróquia, ajudando, ao mesmo tempo, a criar uma certa consciência de pertença a
uma comunidade humana que vai muito para além da comunidade crente. As pessoas
não aderiram à ideia de entregar o “folar” no convívio, e as presenças, muito poucas
já no primeiro ano, foram-se reduzindo progressivamente nos anos seguintes.
4. Uma sugestão romana
Agosto de 1995. Uma paróquia dos arredores da Cidade Eterna, enorme, em
número de habitantes, construída segundo as normas mais sofisticadas do urbanismo
moderno: grandes edifícios, com centenas de apartamentos, voltados para o espaço
circular, no centro do qual se erguem as estruturas adequadas a uma pastoral urbana
o mais completa possível.
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Reflexões
O Pároco, sacerdote de meia-idade, fala das suas inquietações. E, a certa altura,
vem à baila a questão da Visita Pascal, referida a propósito das dificuldades de
contacto pessoal em áreas urbanas como era aquela:
Não levara muito tempo a encontrar solução, aquele pastor, que iniciara aí o seu
ministério uns anos antes:
Em vez da visita pascal, procurava visitar cada família ao longo do ano, em dias
e horas combinados, de modo a poder estar presente o maior número possível de
membros. O conteúdo da visita variava consoante as circunstâncias, mas sempre se
rezava em comum, e o pároco incluía, na altura oportuna, a bênção prevista no ritual
para estes momentos.
Fiquei a pensar naquela visita anual e na referência a uma bênção prevista para
essa visita.
Outras ideias me nasceram daquela conversa, em plena canícula romana, mas a
que mais cresceu ao longo dos anos que se seguiram foi a necessidade de encontrar,
para a Visita Pascal, uma alternativa que me permitisse estar, de facto, ao menos uma
vez por ano, com as famílias que o desejassem.
Era uma necessidade sentida, mas para a qual não encontrava solução, por mais
voltas que desse ao pensamento, sobretudo porque não me parecia pastoralmente
correcto acabar com o que se fazia para começar depois com uma novidade.
5. Até que, no início do ano 2000, o Conselho Pastoral, agora em conjunto com
o Conselho Económico, decide organizar uma reflexão mais demorada, procurando
alargá-la a outras pessoas, que, já numa segunda fase, atingiram o número de cento
e vinte.
As decisões que se tomaram partiam de alguns pressupostos que não podemos
escamotear:
a) Necessidade de envolver na Visita Pascal um grande número de pessoas,
dando-lhe um cariz festivo que não pode ter com o sistema actualmente em vigor.
b) Conveniência em mobilizar toda a paróquia ao mesmo tempo: o que exigiria
que o solene anúncio pascal se fizesse no mesmo dia e à mesma hora, e durante
pouco tempo.
c) Falta de sacerdotes suficientes para encabeçar as equipas que um tal programa
exigiria.
6. Programou-se então para a tarde do segundo domingo da Páscoa o Solene
Anúncio Pascal às Famílias da Paróquia, foi o nome que se lhe deu, com um
número suficiente de equipas de leigos que tornasse possível este anúncio em apenas
três ou quatro horas.
Rito de envio, na igreja paroquial, terminando tudo com festa de confraternização
na sede da freguesia, que devia incluir especial homenagem aos casais de celebravam
as Bodas de Prata ao longo do ano.
232 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Reflexões
7. Quanto à reacção da paróquia, é evidente que ninguém esperava que uma
alteração tão profunda fosse bem acolhida pela maioria dos católicos, ditos
praticantes, sobretudo numa paróquia como os Pousos, onde nunca terá havido uma
verdadeira consciência de comunidade, e a maioria da população, ou abandonou
a prática religiosa ou a mantém por razões puramente sociológicas, com muita
superstição à mistura.
Mas, de facto, apesar de todas as resistências, a experiência do primeiro ano foi
altamente positiva, e todos os componentes das equipas se mostraram satisfeitos,
digamos que até agradavelmente surpreendidos pelo modo como tudo decorreu.
8. Acontece, porém, que, por variadíssimas razões, nas quais é necessário
incluir o que se pode designar por contra-informação, além do facto de a Páscoa
ter sido mais cedo e não ter havido tempo para se prepararem bem as coisas, a
experiência, no segundo ano, pode considerar-se um fracasso. De tal modo que foi
preciso muita persistência para se manter o sistema; o que se conseguiu com uma
dupla argumentação, lançada pelos próprios membros dos Conselhos Pastoral e
Económico: em primeiro lugar, seria pastoralmente errado voltar atrás em decisões
que não haviam sido tomadas de ânimo leve, mas com a consciência de que nas
actuais circunstâncias esse seria o melhor caminho. Além disso, às pessoas que
queriam o padre em sua casa pela Páscoa haveria que dizer com toda a clareza que
isso era impossível, tendo em conta a escassez de clero e a rapidez com que todos
queriam ver realizada a Visita.
Corrigiram-se alguns pormenores e decidiu-se seguir o método adoptado dois
anos antes. E a verdade é que se abriram mais portas do que na Páscoa anterior, e
estamos convencidos de que, se continuarmos a cuidar os pormenores, incluindo
a preparação dos componentes das equipas, as pessoas acabarão por aceitar, até
porque, na sua maioria, preferem isso a acabar com tudo, o que, na paróquia dos
Pousos, seria a única alternativa. A não ser que se encontrem pessoas dispostas a
continuar a colaborar na mentira dos leigos a fingir de padres, como tem acontecido
no esforço por manter o sistema tradicional.
9. A concluir, gostaria apenas de acrescentar duas observações. Em primeiro
lugar, quanto à paróquia dos Pousos, a percentagem de casas abertas, após a adopção
deste método, não desceu assim tanto, como se poderia pensar a partir dos números
absolutos referentes aos três últimos anos. Em segundo lugar, relativamente ao
futuro, não estou certo de que, pelo menos no que se refere à zona urbana de Leiria,
possamos manter por muito tempo as chamadas Boas Festas, por altura da Páscoa.
Mas estou profundamente convencido de que, se queremos ser verdadeiros e tirar
algum “rendimento” pastoral desta tradição, há que renová-la em todos os sentidos;
e isso não será possível sem uma ampla colaboração dos leigos.
Pousos, 30 de Junho de 2003.
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Reflexões
10. Adenda: Bênção anual das famílias.
Ainda com a lembrança de Roma a bailar-me na mente, fui imaginando como
seria tentar aquilo a que o Ritual das Bênçãos designa por Bênção Anual das
Famílias; mas, claro, desligando-o da Páscoa, já que outra cosia seria pura fantasia.
No início do ano pastoral de 2003-2004, ao longo de vários domingos, foi-se
avisando as pessoas de que, a partir do Advento seguinte, o Pároco e o Vigário
Paroquial estavam disponíveis para visitar as famílias que o desejassem, ao longo do
ano, a fim de celebrarem a chamada bênção anual das famílias.
Frisava-se a necessidade de se combinar bem o dia e a hora, para que fosse possível
um encontro real com a família e não apenas com um ou dois representantes.
De facto foram poucas as famílias que, até agora, manifestaram o desejo dessa
visita. Cremos que, ma maior parte dos casos, porque não entenderam bem o que
se pretendia. Mas não temos dúvidas de que a razão fundamental está na rotina das
nossas comunidades; e a prova temo-la no facto de as famílias que se mostraram mais
sensíveis a esta prática não pertencerem, no geral, ao estrato mais tradicionalista da
paróquia.
Por outro lado, aos que, a propósito das alterações referidas acima, reagiam
negativamente como pretexto de que queriam a visita do padre, tirou-se-lhes o
argumento principal.
Poderia assim incrementar-se esta visita anual, com a bênção reservada ao pároco,
não como alternativa, mas como algo independente da Visita Pascal, cuja renovação,
com a ajuda dos leigos, iria mais no sentido que se lhe tem dado ultimamente, de
solene anúncio pascal, com os ingredientes de festa adequados a cada região.
Pousos, 15 de Julho de 2004
Notas
1
O essencial deste texto foi escrito no Verão de 2003.
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Reflexões
A nova Concordata
Estado e Igreja em cooperação
Pe. Jorge Guarda
A Igreja Católica e o Estado português têm uma nova Concordata. Trata-se de
um acordo onde se estabelecem as relações entre ambas as partes sobre assuntos
de interesse comum. A base do entendimento é o reconhecimento da autonomia e
independência de cada uma das entidades nos objectivos que persegue. Ao mesmo
tempo, no respeito mútuo, propõem-se a cooperação bilateral numa finalidade
comum: a “promoção da dignidade da pessoa humana, da justiça e da paz”. As
consequências do documento atingem não apenas as cúpulas mas também as bases,
pois ele implica, da parte da Igreja, as paróquias, as associações e as múltiplas
instituições; da parte do Estado, tem incidências sobre as autarquias, escolas,
hospitais e outras instituições.
A nova Concordata garante a liberdade religiosa e cria condições para que a
Igreja possa livremente exercer a sua missão espiritual em relação às pessoas e
contribuir para o desenvolvimento social e cultural do país. Daí o reconhecimento
jurídico do Estado à Igreja e suas instituições e o acordo sobre a assistência religiosa
católica nas forças armadas e de segurança, nos estabelecimentos hospitalares,
prisionais e de assistência; a liberdade de instituição de escolas e a possibilidade da
educação religiosa e moral católica no ensino público; o cuidado dos bens culturais
e a afectação de espaços para fins religiosos são igualmente contemplados bem como
a garantia do respeito pelo Domingo e festividades católicas. Ao casamento católico
são reconhecidos efeitos civis. O relevante serviço da Igreja às pessoas faz-lhe
merecer isenções fiscais, mas apenas no que se refere às actividades religiosas.
Esta Concordata, quanto aos seus conteúdos, tem poucos aspectos novos
relativamente à anterior, em vigor desde 1940: clarificam-se alguns assuntos,
distinguem-se as finalidades religiosas de outras também presentes nas instituições
católicas e institui-se uma comissão paritária para a resolução de dúvidas e promover
a aplicação do acordo. A salvaguarda e valorização do património mereceram um
maior destaque neste documento. Na relação entre as duas entidades, acentuam-se
bastante os princípios da autonomia e da cooperação, mesmo a nível internacional. O
diálogo é uma porta muito aberta, pelo que se menciona a possibilidade da consulta
mútua e o estabelecimento de acordos sobre assuntos específicos entre o Estado e a
Igreja, sempre que se veja necessário. A Conferência Episcopal é reconhecida como
representante da Igreja em Portugal e interlocutora para acordos sobre algumas
matérias.
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 235
Reflexões
Novo é o clima que transparece do documento, na sequência das mudanças
recentes quer na Igreja, com o Concílio Vaticano II, quer na sociedade portuguesa,
com o 25 de Abril e a adesão à União Europeia. Por isso, as relações entre as duas
partes reflectem também as mudanças. Nem a Igreja pretende ser o suporte moral
do Estado e consequentemente condicionar a sua actividade, nem este visa manter
aquela sob o seu controlo, para não se tornar incómoda nas suas actividades e ensino.
As relações entre a Igreja e o Estado estabelecem-se no quadro do respeito pela
liberdade das pessoas e instituições e do pluralismo. A missão de uma e do outro são
diferentes e a sua actuação autónoma.
A assinatura desta Concordata tem os seus antecedentes históricos no papel
relevante que a Igreja teve e continua a ter na sociedade portuguesa. O documento
garante bases mais sólidas e claras para o seu agir. O Estado, por seu lado, pode
contar com o contributo da Igreja para o crescimento espiritual dos cidadãos, que são
seus membros, e para o enriquecimento social e cultural do país. Cada uma das partes
sabe com maior clareza o que pode contar com a outra, dentro da especificidade que
lhe é própria. Compreende-se, assim, que a assinatura do acordo tenha sido saudada
como acontecimento de grande significado histórico. As comunidades religiosas
não católicas deverão poder, também elas, ser respeitadas e reconhecidas nas suas
características próprias, na base da liberdade e do pluralismo. Também com elas o
Estado pode fazer acordos.
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Reflexões
Intervenção na Recolecção do Clero de 02.08.2004
A busca de Deus
A. Pascoal
I
In lectulo meo, per noctes,
Quaesivi quem diligit anima mea1.
Tibi dixit cor meum, exquisivit te facies mea;
Faciem tuam, Domine, requiram2.
«Cognoscam» te, cognitor meus, «cognoscam, sicut et cognitus sum»3
Foi-me pedido que, no âmbito do Ano Agostiniano, desenvolvesse algumas
ideias, que pudessem constituir uma proposta para a vossa oração desta manhã, caso
as quisésseis aproveitar.
No intuito de responder a esse desiderato, aproveitei, antes de mais nada, o
facto de estarmos num local especialmente marcado pela presença de Maria, num
dia em que muitas terras celebram a memória de Nossa Senhora dos Anjos, no mês
carregado de festas marianas e em que a liturgia celebra a morte, – o dies natalis – do
santo bispo de Hipona.
Agostinho, figura incontornável da Igreja e do pensamento ocidental, cujo
nascimento para a história dos homens aconteceu a 13 de Novembro de 354, vai,
portanto, para 1650 anos.
Aquilo a que se deu o nome de Ano Agostiniano é, como sabeis, a série de eventos
com que a diocese de Leiria-Fátima quis assinalar a passagem deste aniversário, já
que Santo Agostinho é, com Nossa Senhora de Fátima, seu Padroeiro Principal.
A ideia que escolhi como centro destas reflexões foi-me sugerida pela liturgia,
que, ao longo das últimas semanas, nos recordou, mais do que uma vez, que a busca
de Deus é a atitude fundamental do homem, como ser inteligente e capaz de amar.
Ideia que marca a vida e o pensamento de Agostinho, como testemunharam todos
os seus biógrafos, e ele próprio deixou expresso em muitos passos dos seus escritos,
de modo especial nas Confissões e nos Comentários aos Salmos.
Vejamos este precioso comentário ao versículo oitavo do salmo 27 ( ou 26,
segundo a numeração da Vulgata): «No segredo, onde só Tu podes escutá-lo, dizTe o meu coração: buscarei, Senhor, o Teu rosto. Perseverarei nesta busca sem me
cansar, a fim de amar-Te gratuitamente, pois nada encontro mais precioso do que
isso»4. Isso é amar o Senhor de modo gratuito, unicamente porque é Ele.
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Reflexões
O que só aparentemente contradiz esta frase das Confissões: «Quando te procuro,
meu Deus, procuro uma vida feliz. Que eu te procure, para que a minha alma viva.
Pois o meu corpo vive da minha alma, e a minha alma vive de ti»5.
A frase, buscarei, Senhor, o Teu rosto, sobretudo na versão da Vulgata – vultum
tuum, Domine, requiram – constituiu, ao longo dos séculos, uma jaculatória com
que muitos homens e mulheres manifestavam ao próprio Deus o seu desejo de
contemplá-lo face a face, na eternidade... O que, como é evidente, não exclui a
perspectiva do salmista, ainda que, de facto, ele use uma expressão metafórica, para
designar a acção protectora de Yavéh, tanto sobre ele como, de modo especial, sobre
o Povo da Aliança.
Mas a perspectiva de Agostinho é, se assim me posso exprimir, a mais
abrangente de todas: porque se dá conta de que o maior desejo do coração humano
é a descoberta do outro. Ou seja, o encontro do tu, sem o qual não poderá nunca
aperceber-se integralmente do seu próprio eu.
E todos sabemos que, dadas as limitações das criaturas, o que o homem procura,
no fundo, é o Outro Absoluto, o único interlocutor em que o eu pessoal de cada um
se pode fundir sem perder nada da sua identidade. Muito ao contrário, nela descobre
o indivíduo a autêntica dimensão do seu ser pessoal, que o mesmo é dizer, da sua
verdade.
Esta é a fusão de que os místicos fazem a experiência inefável e que podemos
identificar com o objectivo último da busca de Deus de que se ocupa Agostinho.
Porque é ela que nos põe no caminho da verdade de Deus e do homem.
Uma leitura possível das Confissões é a que vê nesse livro uma espécie de
poema, cujo lirismo iguala a sua profundidade teológica e que atinge também tons
épicos – quando Deus e o homem parecem descobrir-se um no outro –, poema da
alma remirando-se no amor com que Deus cria, procura e salva.
Procura... como no relato da queda6, como em tantos outros episódios bíblicos,
do Antigo e do Novo Testamento, como afirma o Doutor de Hipona, num texto tão
conhecido, quão carregado de beleza:
«Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei. E eis que estavas
dentro de mim e eu fora, e aí te procurava, e eu, sem beleza, precipitava-me nessas
coisas belas que tu fizeste. Tu estavas comigo e eu não estava contigo. (...) Chamaste,
e clamaste, e rompeste a minha surdez; cintilaste, e afastaste a minha cegueira;
exalaste o teu perfume, e eu aspirei e suspiro por ti; saboreei-te, e tenho fome e sede
de ti; tocaste-me, e abrasei-me no desejo da tua paz»7.
Citação talvez demasiado longa, mas, em meu entender, necessária para
apreendermos, tanto a riqueza do pensamento de Agostinho, como a beleza do seu
discurso; esta presente sobretudo no texto latino.
Repare-se no modo como o santo vai referindo a acção da graça utilizando
metáforas tiradas da linguagem relativa aos sentidos do homem: o ouvido«chamaste, e clamaste, e rompeste a minha surdez»-, a vista- «cintilaste, e afastaste
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Reflexões
a minha cegueira»-, o olfacto- «exalaste o teu perfume, e eu aspirei e suspiro por ti»-,
o gosto - «saboreei-te, e tenho fome e sede de ti» -, e o tacto - «tocaste-me, e abraseime no desejo da tua paz» -,... do interior para o exterior, do físico para o espiritual.
Como escreve o Prof. Costa Freitas, “as Confissões representam (...) o esforço
de Agostinho para se situar na verdade de Deus (X, I, 1)8.
Verdade de Deus que é também a verdade do homem.
E a busca desta verdade é a única coisa que interessa.
Por isso, depois de falar da ausência de tempo em Deus, com uma fórmula que
só o casamento do génio do artista com a profundidade do pensador tornou possível,
acrescenta: «Não importa se houver alguém que não entenda. Esse mesmo rejubile
dizendo: “que significa isto?”, rejubile ainda assim e goste mais de te encontrar, não
encontrando, do que de não te encontrar, encontrando»9
E no capítulo VI, do livro III, § 11, onde se lamenta das consequências das falsas
buscas, uma dos seus desabafos mais conhecidos: «Mas Tu eras mais interior do que
o íntimo de mim mesmo e mais sublime do que o mais sublime de mim mesmo»
Um desabafo cuja expressividade só lendo-o na língua original de Agostinho
somos capazes de perceber10.
Segundo o pensamento do grande Doutor Africano, a busca de Deus, a ânsia de
encontrá-lo, é o único critério seguro que temos para certificar-nos de que é a fé e
não outra coisa qualquer que nos movimenta na vida.
Para ele, Deus está na própria busca, e se o procuramos, é porque já O
encontrámos.
Séculos mais tarde, santo Anselmo, comentando o mesmo salmo 127, escreve:
«Ensina-me, Senhor, a buscar-te e mostra-te a quem te busca. Porque não posso ir
em tua busca se Tu me não ensinas, nem posso encontrar-te se Tu não Te manifestas.
Desejando Te buscarei, buscando Te desejarei, amando-te Te acharei, achando-te Te
amarei» (Proslogion, I, 97-100).
Será, dito de outro modo, aquele preferir “encontrar não encontrando, a não
encontrar encontrando”, de Agostinho, que citei antes.
Anselmo, referindo deste modo a procura de Deus, não está longe das afirmações
que os historiadores da filosofia consideram fundadoras da Escolástica medieval:
Creio para entender; entendo para crer11.
Serão, em meu entender, textos como este que nos ajudarão a compreender o
episódio de Betânia, cuja leitura, na versão de São Lucas, a liturgia nos propôs,
há pouco, por duas vezes, no espaço de duas semanas: XVI Domingo do Tempo
Comum (18 de Julho) e memória litúrgica de Santa Marta (29).
Sem nos metermos em questões de exegese, que não vêm a propósito e para as
quais não tenho competência, damo-nos bem conta de que quando Jesus diz a Marta
que a irmã escolheu a melhor parte, não está a desvalorizar o trabalho; e, muito
menos ainda, a elogiar a preguiça:
Que põe a contemplação acima da acção, é evidente. Mas não, penso eu, como
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 239
Reflexões
alternativa.
Nem acção nem contemplação valem nada separadas, se a opção por uma
significa a rejeição da outra.
De facto, segundo a caracterização do quarto Evangelho, o discípulo amado é
aquele que está sempre pendente – digo pendente, não dependente – do olhar de
Jesus: que acredita nele, que intui, como nenhum outro, os ardis do traidor, que escuta
o pulsar do coração do Mestre, que O não abandona em nenhuma circunstância, que
lhe fica com a Mãe... (e todos sabemos o que é, para o autor do quarto Evangelho, a
Mãe de Jesus, na Sua hora.).
Reparando bem, não teremos grande dificuldade em descobrir como essa
contemplação do discípulo amado é fecunda em gestos que os condiscípulos não
souberam realizar,
Voltemos ao episódio das duas irmãs, em Betânia:
Tudo leva a crer que Marta era quem governava aquela casa: de facto, é ela que
recebe Jesus, e o seu cuidado nas lides daquele momento tem todas as características
de uma dona de casa dinâmica, briosa... verdadeiramente ocupada nas exigências do
seu cargo.
Mas será que toda aquela agitação nascia da lembrança do Amigo? Não seria
antes o desejo de ficar bem, de não haver nada a destoar, naquela casa que lhe estava
confiada?
A atitude de Maria, ao contrário, tem muito do discípulo amado joanino: só o
Mestre lhe interessa, o Mestre: contemplá-lo, escutar a Sua palavra.
Quer dizer: a melhor parte escolhida por Maria é esse estar pendente do olhar
divino, que fará não só que o nosso trabalho seja contemplação, mas ainda que não
se perca em coisas que, por importantes que pareçam, não pertencem às nossas
tarefas; e, o que é mais importante, inspirar-nos-á, em cada momento, os gestos
oportunos, precisamente aqueles que o Senhor quer fecundar com a Sua graça.
Quando eu era ainda jovem, falou-se muito de um livro, um pequeno grande
livro que dava pelo nome de A Alma de Todo o Apostolado e que, em meu entender,
merecia ser reeditado. Dele retive uma ideia que, na altura, me chocou e na qual
tenho pensado muitas vezes, ao longo da minha vida sacerdotal, prestes a perfazer
os quarenta e três anos: a ideia de que corremos o risco de perder a Deus por causa
das coisas de Deus.
Será o que quer dizer Agostinho, quando fala daquele encontrar não encontrando,
preferível a não encontrar encontrando.
Uma só coisa é necessária: estar com Deus, escutar a Sua palavra, entrar em
diálogo permanente com Ele... de tal maneira que as coisas, o que fazemos e o
que projectamos, tudo, incluindo a teia de relações que se criam à volta da nossa
actividade, se vão progressivamente purificando da ganga das nossas paixões,
daquilo que nasce da hipertrofia do eu... E a nossa vida torna-se cada vez mais rica
de pormenores de carinho, de gestos gratuitos, que são a marca da finura do amor.
240 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Reflexões
Se, como é legítimo pensar, as figuras de Marta e Maria, apesar de históricas,
pertencem à economia narrativa de Lucas, que pretende simbolizar aquilo que
verdadeiramente Jesus espera dos Seus discípulos, diríamos que, apesar das
aparências, Ele não quer propriamente que optemos entre a contemplação e a acção,
mas que, escolhendo a melhor parte, tudo em nós seja viver em permanente busca
d’Ele, que é, não só a luz, mas também a verdade do nosso ser e a resposta única aos
anseios do nosso coração.
II
Neste segundo momento de oração, perante o olhar amoroso de Senhor, que nos
contempla no mistério da Sua presença real, ainda que sacramental, e abusando mais
um pouco da vossa paciência, gostaria de reflectir convosco sobre este tema da busca
de Deus, agora na perspectiva do chamamento divino de que fomos objecto.
Abordaremos alguns assuntos polémicos, sobre os quais me limitarei a propor
pistas de reflexão, já que não sou especialista de teologia espiritual nem de história
da espiritualidade: trago apenas o resultado de leituras pessoais, feitas ao longo dos
tempos e, a maior parte das vezes, no quadro de outros trabalhos.
1. Ficou, portanto, claro que, segundo Agostinho, o homem, com a sua
capacidade de conhecer e amar, só buscando a Deus está no caminho da descoberta
da verdade de si mesmo. Buscar a Deus, é, pois, para o ser humano, sinónimo de
buscar a verdade, cujo encontro, como vimos, o santo bispo de Hipona identifica
com a felicidade: «Quando eu te procuro, meu Deus, procuro uma vida feliz. Que eu
te procure, para que a minha alma viva»12.
2. Mas não podemos esquecer que o nosso Deus é o Deus de Jesus Cristo; isto é,
para nós têm um significado programático incontornável as palavras de João: Eu sou
o caminho a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim13. Se a vocação do
homem é buscar a Deus, a vocação do discípulo de Jesus é buscar o rosto de Cristo,
no qual se espelha o amor de Deus pelos homens.
Jesus Cristo é Deus na história dos homens, a eternidade no tempo, o divino
revelando o humano.
Significado programático incontornável, repito, porque a insistência com que
por aí se diz que somos monoteístas, que acreditamos no mesmo Deus que judeus e
muçulmanos – o que talvez não seja totalmente exacto - poderia criar-nos a tentação
de truncar a nossa fé de cristãos, enveredando por uma ascese que ignorasse a
dimensão trinitária dessa fé.
E já agora, convinha recordar que, enquanto o judaismo ortodoxo sempre
considerou Jesus um herege, os muçulmanos consideram a fé cristã na Trindade a
mais grosseira das blesfémias.
Buscar o rosto de Cristo é, portanto, a vocação de todo o discípulo, cada qual
segundo a sua vocação concreta.
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 241
Reflexões
Contemplemos Marta e Maria: se esta escolheu realmente a melhor parte,
como afirma Jesus, quer dizer que Marta devia também escolher segundo o mesmo
critério. Mas é evidente que, para ela, escolher a melhor parte não seria propriamente
fazer como Maria: sentar-se aos pés do Mestre. Pois, se o fizesse, quem iria dar conta
das tarefas da casa?
3. O grande equívoco de uma certa espiritualidade, desenvolvida no Ocidente,
sobretudo durante o segundo milénio, e que ainda hoje encontramos em algumas
interpretações do episódio de Betânia, foi considerar Marta e Maria como símbolos
de atitudes de fundo, inconciliáveis: a primeira simbolizaria a vida activa, enquanto
a segunda seria o símbolo da vida contemplativa14.
Ou, acentuando ainda mais a dicotomia, Maria apresenta-se como símbolo da
vida religiosa, contemplativa ou não, e Marta, como símbolo da vida secular, laical
ou não.
Perante tais leituras, é inevitável que pensemos numa dupla distorção de toda
a espiritualidade: primeiramente, a ideia implícita de que nem todas as formas de
existência cristã são, de facto, verdadeiramente cristãs; depois, a conclusão necessária
de que Jesus afirma expressamente a Sua preferência pela vida contemplativa, em
oposição à vida activa.
Esta distorção, ainda que nunca avalizada pelo magistério oficial da Igreja,
agravou-se, como vimos já, ao longo do segundo milénio e deixou marcas profundas
na linguagem teológica e canónica do cristianismo ocidental.
É o que acontece, por exemplo, com a tendência a confundir a vocação à
santidade com a vocação religiosa; e nesta, a apontar as ordens contemplativas como
o quadro das mais perfeitas formas de existência cristã.
5. Para não gastarmos demasiado tempo com questões teóricas, apesar da sua
importância, e para enquadrarmos correctamente as nossas reflexões, acho que,
tratando-se de vocação cristã, seria útil considerar o seguinte:
O Baptismo não foi apenas o passo essencial da nossa história: ele introduziunos também definitivamente na família dos chamados; poderíamos mesmo dizer que
a nossa vocação é essencialmente a vocação baptismal. Foi no Baptismo que tudo
começou, incluindo o nosso sacerdócio.
É por isso que não gosto do termo “vocacionado”, importado do Brasil e usado
para designar as pessoas chamadas ao sacerdócio ou à vida religiosa.
Por razões idênticas me parece equívoco o termo “consagrado”, que nas últimas
décadas, pelo menos nos meios clericais portugueses, se foi especializando na
designação das pessoas que optaram pelo celibato apostólico, mesmo que não
estejam integradas em nenhum “instituto de vida consagrada”, segundo a linguagem
actual do Código de Direito Canónico, que depende muito deste conceito de
consagração.
Afinal, em termos teológicos correctos, para além do Baptismo e do Crisma, só
a Ordenação sacerdotal implica uma verdadeira consagração, quer dizer uma nova
242 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Reflexões
configuração de alguém que já fora configurado naqueles sacramentos.
Sabemos que o termo consagrar-se, no português corrente, até à década de
sessenta, significava apenas dedicar-se a alguém ou a alguma tarefa; ou então, na
terminologia religiosa, confiar-se, pôr-se sob a protecção de..., como, por exemplo,
consagrar-se ao Coração Imaculado de Maria.
O uso que actualmente se está a fazer dos termos consagrar e consagrado,
incluindo o seu emprego pelo Código de Direito Canónico, está a provocar uma
alteração profunda dos seus conteúdos semânticos; alteração que só não arrastará
consigo graves imprecisões de ordem teológica se os esvaziarmos por completo das
suas conotações religiosas.
6. Mas deixemos estas questões, que, embora não sejam puramente teóricas, não
correspondem propriamente à finalidade primeira da nossa presença aqui.
Deixemos estas questões e voltemos à nossa configuração baptismal:
Esta configuração, nos escritos paulinos, que são os que se ocupam mais
dos efeitos do Baptismo na vida de cada um de nós, implica um chamamento a
reproduzirmos em nós a imagem de Cristo, a vivermos segundo as exigências do
homem novo, de que fomos revestidos15. Nisto consiste a vocação à santidade; ou,
na linguagem agostiniana, que repete a do justo do Antigo Testamento, a permanente
busca do rosto de Deus.
Portanto, baptizados, consagrados, todos chamados à santidade.
Todos chamados a “escolher a melhor parte”, mas segundo o modo de existência
cristã específico de cada um.
E quanto a estes modos de existência cristã, a teologia distingue, por instituição
divina, fiéis leigos e fiéis sacerdotes; mas a estes dois modos, de instituição divina,
há que acrescentar outro, de instituição eclesiástica, ainda que de tal modo unido
à tradição da Igreja, que não vemos como se poderia prescindir dele. Falo, como
é bom de ver, da vida religiosa, que é condição de muitos fiéis, quer leigos, quer
sacerdotes.
Sumariando, poderíamos dizer que, no que se refere à vocação cristã – esta
permanente busca do rosto de Deus no rosto de Cristo – e empregando imagens
frequentes na linguagem actual, há o plano global, que inclui todos os baptizados,
independentemente da sua condição.
Quanto a esta, poderíamos, por exemplo, falar de dois círculos concêntricos
em que o mais interno englobaria os fiéis em situação especial, como seriam os
religiosos, e o mais externo, estes e os outros fiéis: tanto num círculo como no outro
há sacerdotes e leigos.
7. Durante muitos séculos, os autores espirituais, confundindo os modos
de existência cristã com o quadro jurídico que lhes dava protecção, acabaram
despersonalizando os chamamentos, em favor das instituições, às quais atribuíam o
que só faz sentido em relação às pessoas.
Foi desta espécie de metonímia16 que nasceu o termo Estados de Perfeição,
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 243
Reflexões
felizmente desaparecido da última versão do Código de Direito Canónico, ainda que
o seu substituto, Institutos de Vida Consagrada, segundo o que se disse já, a respeito
da consagração baptismal, não esteja isento de equívocos.
Em todo o caso, é absolutamente necessário ter presente que leigos e sacerdotes,
religiosos ou não, têm todos em comum, o facto de, graças ao Baptismo, serem
discípulos de Jesus, chamados a contemplar no Seu rosto, o rosto de Deus; a viverem
a radicalidade do Evangelho, na realização daquela parte da história humana que lhes
compete, no tempo e no espaço em que foram chamados à existência e à Igreja.
8. Em meu entender, só existe uma espiritualidade comum a todos os fiéis, leigos
ou sacerdotes, religiosos ou não: a espiritualidade baptismal.
E quais são as características fundamentais desta espiritualidade? Ou, dito de
outro modo, que significará para o discípulo de Jesus, escolher a melhor parte?
Não será por acaso que a tradição que recolheu o episódio de Betânia é a mesma
que nos fala do envio dos setenta e dois, dos quais se não dá qualquer nome, mas cuja
missão, no essencial, não se distingue da dos Doze.
Uma tradição por vezes apresentada como complementar a esta é a tradição
joanina, onde aparece, com uma frequência notável, a figura do discípulo amado
(ou, o discípulo que Jesus amava).
Costuma dizer-se que o discípulo amado, é um criptónimo, uma espécie de
pseudónimo de João, que seria o autor humano do quarto Evangelho.
Não se contesta essa identificação; mas, dado o carácter preferentemente
simbólico deste Evangelho, alguns autores vêem na figura do Discípulo Amado,
mais do que uma assinatura velada de João: Ele seria o discípulo, por antonomásia,
aquele que se define unicamente pela sua condição de discípulo.
O mariólogo Cândido Pozo, sintetiza assim as características do Discípulo,
segundo o autor do quarto Evangelho:
O discípulo do Senhor, para sê-lo verdadeiramente, a) tem de guardar os Seus
mandamentos (Jo 14, 14.21 e 23), partindo do amor a Deus (1Jo 15,2); b) amar os
seus irmãos (Jo 13, 35); c) crer no carácter divino da missão de Jesus (Jo 17, 8); d)
adoptar uma atitude de humildade e serviço, como Jesus (Jo 13, 13-17); e) acolher
Maria (Jo 19, 27)17.
A par isto, o discípulo é também aquele que reclina a cabeça no peito do Mestre,
que intui a profundidade das horas que vive a Seu lado.
João escolhe de tal modo a melhor parte, que, mesmo quando se lança na faina
da pesca com Simão, é o primeiro a dar-se conta da presença do Senhor (Jo 21, 7),
como fora o único a perceber a trágica grandeza do momento em que Judas saiu para
entregar o Mestre (Jo 13, 30). Para o nosso objectivo, não importa o pormenor da
informação prévia de Jesus.
9. Perdoar-me-eis se insisto: todos os discípulos de Jesus, qualquer que seja a sua
condição – no mundo e na Igreja – têm uma espiritualidade comum, que poderíamos
com propriedade designar de baptismal e cujo modelo nos é dado pelos escritos
244 | LEIRIA-FÁTIMA • 35 |
Reflexões
joaninos.
Esta espiritualidade comum serve de base a inúmeros grupos e movimentos,
geralmente correspondendo a outras tantas espiritualidades, resultado da acção do
Espírito Santo, que permanentemente fecunda a Igreja de Cristo, inspirando sempre
novos caminhos de realização da vocação baptismal de cada um.
Uma nota comum e fundamental a todas estas espiritualidades é o seu carácter
facultativo. Isto é: em meu entender, tirando as exigências da sua vocação baptismal,
ninguém está a obrigado a aderir a uma espiritualidade concreta, pelo simples facto
de adquirir uma nova função no seio do Povo de Deus.
Assim como ninguém pensa que dois jovens cristãos, ao unirem-se em
matrimónio, ficam inseridos num qualquer movimento de espiritualidade conjugal,
também não seria lógico afirmar que um leigo, não religioso, cuja característica
fundamental é a secularidade18, perca essa característica pelo simples facto de
receber o sacramento da Ordem. O deixar de ser leigo não arrasta consigo a perda
da condição secular.
É evidente que o sacerdote terá de se santificar como sacerdote, através do
exercício do seu ministério; de modo semelhante ao que acontece, por exemplo,
com os leigos casados, que, sem deixarem de ser leigos, terão de se santificar
vivendo as exigências da sua condição matrimonial.
10. Recentemente apareceu, em alguns estudos de espiritualidade sacerdotal,
o conceito de diocesaneidade, que designaria a condição específica do sacerdote
diocesano como raiz de uma espiritualidade própria19.
Não vamos agora discutir esse conceito, mas gostaria de apresentar duas
objecções fundamentais:
Primeiramente, se um sacerdote diocesano, só pelo facto de o ser, tivesse de aderir
a uma espiritualidade concreta, a sua condição no seio do Povo de Deus seria inferior
á de qualquer outro fiel. E nós sabemos que, ao longo dos séculos, muitos sacerdotes
diocesanos se santificaram, por exemplo, como membros do que antigamente se
designava por ordens terceiras e hoje, creio que com mais rigor teológico, leva o
nome de ordens seculares. Em qualquer dos casos, uma espiritualidade religiosa, que
pode ser adoptada, sem que por isso se perca o carácter secular.
Por outro lado, e esta é a segunda objecção, quando reparamos no que estes
autores apontam como características dessa diocesaneidade, não descobrimos nada
de específico, pois tudo o que se aponta como tal pertence ao exercício normal do
ministério, seja qual for a condição do sacerdote, secular ou não.
11. Em conclusão: O sacerdote secular, entenda-se, não religioso, pode optar
por qualquer espiritualidade que, na sua perspectiva, constitua a melhor ajuda
para realizar a sua vocação à santidade, tal como o pode fazer qualquer leigo não
religioso.
Agora do que nem o sacerdote nem o leigo podem considerar-se dispensados é
de fazer da sua vida uma busca contínua de Deus, que terá de encontrar na fidelidade
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 245
Reflexões
à sua condição concreta.
O Vaticano II recomenda aos sacerdotes, que entre outras formas de ajuda mútua,
promovam a constituição de grupos e associações no seio das quais essa ajuda se
torna um objectivo comum20.
Recomenda, não impõe.
Como qualquer outro fiel não religioso, o sacerdote diocesano, enquanto tal, não
está obrigado aderir a nenhuma espiritualidade concreta. Não está obrigado, mas
também não está proibido.
Mais uma vez, como qualquer outro fiel não religioso, o sacerdote diocesano é
totalmente livre de aderir a qualquer espiritualidade, mesmo religiosa, que, no seu
ponto de vista, o ajude a santificar-se no exercício do seu ministério.
Mas, associado ou não, o sacerdote, como qualquer discípulo de Cristo, é
chamado à perfeição da caridade, que está precisamente na escolha da melhor parte,
como a irmã de Marta, como o Discípulo Amado, como a Mãe do Senhor.
E, para terminar, recordemos essa característica do discípulo, segundo João:
Acolhe a Mãe de Jesus, tem-na presente em tudo aquilo que lhe diz respeito, in
sua, eis ta idia, é muito mais do que para sua casa, como habitualmente se traduz
por aí.
Maria, que junto à cruz, na economia narrativa de João, é a Mãe de Jesus,
evidentemente; mas é também a Igreja, no seio da qual Cristo nos gerou para a vida
divina e nos consagrou no sacerdócio.
Dois pensamentos muito apropriados, no lugar em que nos encontramos.
Notas
1
Cântico dos cânticos, 3, 1: No meu leito, no meio da noite, procurei o amado da minha
alma. Início do texto que a liturgia propõe para primeira leitura, na festa de Santa Marta,
ou seja Cant. 3, 1-4.
2
Ps 27 (26) 8-9. Disse-te o meu coração: busco a tua face, Senhor.
3
Confissões, X, I, 1: Que eu te conheça, ó conhecedor de mim, “que eu te conheça, tal como
sou conhecido por ti” (1C 13,12).
4
Enarrationes in Psalmos, 26, 8.
5
X, XX, 29: Cum enim te, Deum meum, quaero, vitam beatam quaero. Quaeram te, ut vivat
anima mea (Ps 68, 33). Vivit enim corpus meum de anima mea et vivit anima mea de te.
6
Cf Gen 3, 8-10. Aqui se mostra, de modo poético, como Deus não Se resigna com o afastamento do homem.
7
X, XXVII, 38. Sero te amavi, pulchritudo tam antiqua et tam nova, sero te amavi. Et ecce
intus eras et ego foris et ibi te quaerebam et in ista formosa, quae fecisti, deformis inruebam. Mecum eras, et tecum non eram. (...) Vocasti et clamasti et rupisti surditatem meam,
coruscasti, splenduisti et fugasti caecitatem meam, flagrasti, et duxi spiritum et anhelo tibi,
gustavi et esurio et sitio, tetigisti me, et axarsi in pacem tuam.
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Reflexões
8
Santo Agostinho: Confissões. Tradução de Arnaldo Espírito Santo, João Beato e Maria Cristina
de Castro-Maia de Sousa Pimentel. Introdução de Manuel Barbosa da Costa Freitas. Edição
da INCM. Novembro 2000. Introdução, XIII.
9
Confissões, I, VI, 10: Quid ad me, si quis non intellegat? Gaudeat et ipse dicens: “quid est
hoc?”. Gaudeat etiam sic et amet non inveniendo invenire potius quam inveniendo non
invenire Te.
10
Tu autem eras interior intimo meo et superior summo meo.
11
Credo ut intellegam; intellego ut credam.
12
Confissões, X, XX,29: Cum enim te, Deum, meum, quaero, vitam beatam quaero. Quaeram
te, ut vivat anima mea( Ps 68, 33).
13
Jo 14, 6.
14
Comentário típico daquela mentalidade, apesar das aparências: “As duas irmãs, Maria e
Marta, representam a vida activa e a vida contemplativa. Em geral, a perfeição consiste em
saber unir estas duas vidas, como o fez Jesus, que, de noite, Se entregava à oração e, de
dia, às obras de caridade, ao apostolado, a curar enfermos, etc.” (Bíblia Sagrada, edição
da Província Portuguesa dos Padres Missionários Capuchinhos, Lisboa 1986). No fundo o
autor deste comentário imagina dois tipos de vida diferentes que só externamente se podem
unir, ou, melhor dito, justapor. Comentário menos dependente dessa mentalidade parece o
da Bíblia Sagrada, Edições PAULUS, 3ª edição, 1993: “Mais importante do que fazer as
coisas, é fazê-las de modo novo. Para isso, é preciso ouvir a Palavra de Jesus, que mostra o
que fazer e como fazê-lo”.
15
Ver, por exemplo, Ef 4, 21-24.
16
Também se poderia chamar-lhe hipálage, já que se atribuem a coisas conceitos que, em sentido
próprio, só se podem dizer de pessoas. No entanto, o que verdadeiramente se passa aqui é a
contaminação de conceitos por contiguidade, tipo conteúdo - continente/parte – todo como
aconteceu, por exemplo, com a palavra igreja, que, a princípio, designava a comunidade
crente, e mais tarde passou a designar o espaço onde ela se reunia.
17
Cândido Pozo: Maria en la Escritura en la Fe de la Iglesia. BAC popular, Tercera Edicion,
Madrid, MCMLXXXV, p. 169.
18
“É própria e peculiar dos leigos a característica secular”. LG 32 b.
19
Cf. AZEVEDO; Carlos A. Moreira: Ser padre. Lisboa; Universidade Católica Editora, 2004.
Pp. 87 e sgs.
20
“Devem Ter-se em especial apreço e promover diligentemente as associações que, com
estatutos aprovados pela competente autoridade eclesiástica, promovem a santidade dos
sacerdotes no exercício do ministério, por uma apropriada regra de vida e ajuda fraterna, e
assim estão ao serviço de toda a ordem do presbiterado” (PO, 8 c).
| 35 • LEIRIA-FÁTIMA | 247
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