Prezado Ronaldo - Educação em valores
Transcrição
Prezado Ronaldo - Educação em valores
Prezado Ronaldo Flávio Carneiro Temas Futebol; Amizade; Amor pela literatura; Primeiro amor Guia de leitura para o professor Série Laranja nº 13 2008996274988 128 páginas O livro Prezado Ronaldo é uma história contada por meio de cartas enviadas por Artur, um menino de 12 anos, ao jogador de futebol Ronaldo, conhecido como “Fenômeno”. A motivação inicial das cartas é a suspeita de um amigo de Artur de que existe uma armação internacional para controlar os resultados das partidas de futebol: microrrádios estariam sendo implantados no ouvido dos jogadores para comandá-los das arquibancadas. O menino pede a Ronaldo que confirme se é verdadeiro esse plano. À medida que as cartas se sucedem, Artur — ou Pingüim, apelido do menino — fala de seus amigos, do time de futebol em que joga, de seu cotidiano, de uma menina que ele começa a paquerar. Como quase todo garoto nessa idade, Artur sonha em se tornar jogador de futebol. Mas ele também gosta de escrever e cogita ser escritor. O livro é escrito em linguagem fluente e leve. O tom espontâneo com que Artur se dirige ao ídolo conquista o leitor e faz de Prezado Ronaldo um livro sobre duas paixões, o futebol e a literatura, que, aparentemente inconciliáveis, terminam por se completar. O autor Flávio Carneiro nasceu em Goiânia em 1962 e mudou-se para o Rio de Janeiro no início dos anos 1980. Escritor, crítico literário, roteirista e professor de literatura, Flávio publicou oito livros e escreveu dois roteiros para cinema. O ilustrador Daniel Bueno nasceu em 1974. É formado pela FAU-USP e atua como designer gráfico e ilustrador. Vencedor do Salão Internacional de Desenho para a Imprensa de Porto Alegre na categoria ilustração editorial (2003), expôs recentemente em Madri e Barcelona e na Society of Illustrators de Nova York. Prezado Ronaldo Mergulhando na temática romance epistolar Narrativa em que a história principal é desenvolvida por meio de cartas. O nome “epistolar” vem do latim epistolaris, “relativo a carta, epístola”. O auge do romance epistolar ocorreu no século XVIII. Alguns livros clássicos como Os sofrimentos do jovem Werther, escrito por Johann Wolfgang Goethe em 1744, e Relações perigosas, escrito por Choderlos de Laclos em 1782, são exemplos de romances epistolares. ronaldo fenômeno Modo como os fãs e a mídia passaram a chamar o brasileiro Ronaldo Luiz Nazário de Lima, eleito por duas vezes consecutivas o melhor jogador de futebol do mundo. Ronaldinho, como também é conhecido, começou a se destacar cedo, aos 16 anos, jogando no Cruzeiro, time de Minas Gerais. Aos 17 já atuava na seleção brasileira. Tornou-se Campeão Mundial com o Brasil na Copa de 1994, nos Estados Unidos, apesar de não ter entrado em campo no torneio. Atualmente é jogador do Real Madrid, na Espanha. poesia e futebol Há muitos poetas brasileiros que dedicaram composições ao esporte. Entre os poemas com esse tema, podemos citar “O anjo de pernas tortas”, de Vinícius de Moraes; “O gol”, de Ferreira Gullar; “O futebol evocado da Europa”, de João Cabral de Melo Neto. Alguns prosadores também escreveram textos de ficção sobre futebol, entre eles António de Alcântara Machado, João Antônio, Rubem Fonseca e João Ubaldo Ribeiro. Flávio Carneiro Interpretando o texto Do fã para o ídolo Artur é um menino de 12 anos, que mora em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, e joga no time de futebol infantil do São Cristóvão, mesma equipe em que Ronaldo Nazário, um dos maiores jogadores do mundo na atualidade, iniciou sua carreira. Assim como seu ídolo, conhecido como “Fenômeno”, Artur também tem um apelido: “Pingüim”. E a história de como ele ganhou esse apelido tem a ver com futebol, como quase tudo em sua vida. Essa paixão e o fato de seu grande ídolo ter pertencido ao mesmo clube motivam Artur a escrever ao jogador, iniciando um pequeno romance epistolar. Incentivado por um grande amigo, seu Almeida — que acredita no futuro de Artur como escritor —, Pingüim decide deixar de lado a hesitação e esclarecer algumas dúvidas a respeito de um boato que ouviu da boca de seu companheiro de time e melhor amigo, Parede. Alguns jogadores estariam usando, nos ouvidos, microrrádios que permitiriam receber instruções sobre lances da partida vindos de auxiliares técnicos sentados nas arquibancadas dos estádios. Pingüim decide escrever ao seu ídolo para esclarecer se tal história fantasiosa é verdade. Segundo Parede, o próprio Ronaldo Fenômeno estaria envolvido. Na primeira de suas cartas, Pingüim pergunta ao craque se existe mesmo o radinho. Empolgado, antes de receber resposta, o garoto passa a escrever outras cartas a Ronaldo. As cartas se sucedem, sem que o jogador, porém, as responda. Mas Pingüim não desanima (imagina que Ronaldo deva estar muito ocupado) e continua contando o que acontece no seu dia-a-dia. Cada carta traz novas informações sobre seus amigos, o técnico do time, a garota por quem se apaixonou. O leitor vai, aos poucos, conhecendo melhor esse menino que sonha ser jogador de futebol e — se puder conciliar as duas carreiras — também escritor. Assim, o leitor é apresentado ao sonhador e desajeitado Parede, zagueiro do mesmo time e melhor amigo do protagonista; a seu Almeida, o vizinho escritor, amigo que empresta livros de detetive a Pingüim e o incentiva a escrever; ao técnico do São Cristóvão, conhecido pelos jogadores como Professor Aloprado, porque impõe a seus comandados técnicas absurdas e obsoletas que provocam mais derrotas que vitórias — além de risadas entre os garotos. *Os destaques remetem ao item Mergulhando na temática. Prezado Ronaldo Curiosamente, dois dos maiores escritores brasileiros, Graciliano Ramos e Lima Barreto, não acreditavam que o futebol faria sucesso no País. Entre os jornalistas que se dedicam ao mundo do esporte, especialmente o do futebol, estão Armando Nogueira, Ruy Castro, Juca Kfouri, Soninha e José Roberto Torero. nelson rodrigues e joão saldanha Dois dos mais importantes cronistas do futebol brasileiro. Nelson Rodrigues (1912-1980), mais conhecido por sua obra teatral, também é muito admirado por suas crônicas, expressões e frases de efeito. Era torcedor do Fluminense. Foi o primeiro jornalista a chamar Pelé de Rei do Futebol. Suas crônicas estão reunidas em dois volumes, A pátria em chuteiras e À sombra das chuteiras imortais, ambos publicados pela Companhia das Letras. Muitas de suas frases que se tornaram célebres aparecem no livro As melhores frases do futebol, de Ivan Maurício, editora Garamond. Nesse livro, além de citações de Nelson Rodrigues, são compilados pensamentos de João Saldanha, Garrincha, Tostão, Pelé, entre outros, jornalistas, jogadores e técnicos. João Saldanha (1917-1990) foi jornalista esportivo e técnico de futebol. Dirigiu o time do Botafogo em 1957 e a seleção brasileira em 1969 e 1970. Suas crônicas foram reunidas em Histórias do futebol, da editora Revan. Sugestões de livros: CASTRO, Ruy. Estrela solitária. São Paulo: Companhia da Letras, 1999. Flávio Carneiro Artur conta fatos que acontecem na vizinhança, na escola, no clube, no campo de futebol. Uma das passagens mais engraçadas é a que explica a origem do apelido Pingüim. Artur passou a ser chamado assim depois de contar uma história na classe, como parte de uma atividade de aula. O professor propusera a invenção de histórias baseadas em objetos escolhidos entre vários itens contidos numa caixa – Artur escolheu um pingüim com uma bola nos pés. As atividades letivas e futebolísticas se encontram nesse ponto de Prezado Ronaldo. A solução narrativa é ao mesmo tempo criativa, bem-humorada e educativa em relação aos temas abordados no livro. A paixão pelo futebol alimenta o êxito de Artur em contar a história. O bom humor, porém, não se perde e o menino acaba se tornando conhecido pelo apelido, graças à hilariedade e à habilidade com que ele realiza a tarefa proposta pelo professor. Centroavante e escritor? Além de apresentar ao leitor os primeiros passos de um aspirante a jogador de futebol, as cartas de Pingüim permitem refletir sobre o percurso necessário para o sucesso nas atividades que nos propomos. O relato do garoto fala da importância de treino freqüente, alimentação adequada, conhecimento de técnicas e estratégias. Mostra também o valor da leitura e de exercícios constantes para desenvolver a habilidade da escrita. O “treinamento” é inerente aos dois caminhos de vida que o autor das cartas vê pela frente: o de esportista e o de escritor. Questionando-se sobre a possibilidade de conseguir conciliar as duas carreiras, Artur se submete tanto aos treinos do Professor Aloprado no campo de futebol como às orientações de seu Almeida, que se dispõe a ajudar o pequeno amigo a desenvolver outros talentos além da habilidade com a bola. Convencido do potencial de Pingüim como escritor, seu Almeida aproveita todas as oportunidades que aparecem para incentivar o garoto. Por exemplo, estimula a observação, o hábito de ler, o gosto pela leitura, a prática de diferentes tipos de escrita (narração, descrição). Seu Almeida recomenda ao pupilo que escreva sempre: “Para ser escritor é preciso escrever muito”. Para despertar em Artur o prazer da leitura, seu Almeida abre sua biblioteca e procura fazer com que o garoto se interesse por livros de mistério e de detetives. Ciente do interesse do futuro escritor por futebol, faz com que o menino descubra livros de grandes cronistas esportivos, como Nelson Rodrigues e João Saldanha. Procura apresentá-lo a poetas brasileiros, aliando poesia ao futebol. Prezado Ronaldo DUARTE, Marcelo. O guia dos curiosos: esportes. São Paulo: Panda Books, 2003. MORAES NETO, João Moraes dos. Visão do jogo. Primórdios do futebol no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2002. Sugestões de filmes: Pelé eterno, documentário de Aníbal Massaini Neto, Brasil, 2004. Boleiros – era uma vez o futebol, ficção de Ugo Giorgetti, Brasil, 1998. Flávio Carneiro Apesar de futebol e literatura serem áreas muito diferentes, o sonho de Artur talvez não seja tão difícil de realizar. Alguns dos maiores jogadores brasileiros, ao se aposentar (ou “pendurar as chuteiras”, como se diz), tornam-se excelentes comentaristas e cronistas esportivos. É o caso de ex-craques como Tostão (colunista da Folha de S. Paulo), Sócrates (que escreve na revista Carta Capital) e Falcão (comentarista da TV Globo). A “participação” de seu Almeida na história é bastante fecunda para o trabalho do professor. Ela pode ser útil para mostrar a importância da leitura para conhecer e aprofundar aspectos relacionados aos assuntos que nos agradam. Essas leituras podem levar a outras, como aconteceu com Pingüim, que passou a se interessar por cronistas, poetas e autores de livros de mistério. Dialogando com os alunos Antes da leitura Seria interessante realizar atividades que despertassem o interesse dos alunos para o tema. O professor pode conversar com eles sobre futebol, indagando quais são os times da preferência de cada um e os jogadores que os alunos conhecem e admiram. Depois disso, pode discutir as razões de o futebol ser uma verdadeira paixão nacional e os motivos da preferência masculina pelo esporte (é verdade que o futebol não é esporte de mulheres?). O professor pode lembrar que as mulheres também disputam campeonatos e que o futebol feminino já é esporte olímpico. Tal atividade pode anteceder uma pesquisa sobre curiosidades da história do futebol. Os alunos tentariam descobrir, por exemplo, em que ano começou o futebol no Brasil; como eram os uniformes; a partir de quando os goleiros começaram a usar luvas; qual o maior estádio do mundo; qual o time mais antigo do Brasil; qual é considerada a derrota mais triste do futebol brasileiro; qual o verdadeiro nome do Maracanã... O professor pode acrescentar outras perguntas à lista, algumas até sugeridas pela classe, e, depois que os alunos apresentarem e discutirem as pesquisas que fizeram, apresentar o livro. Prezado Ronaldo Flávio Carneiro Durante a leitura Uma boa sugestão é recomendar aos alunos que anotem os nomes dos escritores e jogadores famosos que aparecem no livro. Os alunos lembrariam, depois, em sala de aula, alguns acontecimentos relacionados a cada uma dessas personalidades. No que se refere aos vários exercícios de escrita propostos por seu Almeida ao Pingüim, vale lembrar mais uma vez a idéia de que “para escrever bem é necessário escrever muito”. Pode-se discutir com os alunos se consideram verdadeira essa afirmação, ou se eles acham que basta ler bastante para escrever bem. E, a partir daí, pensar outras habilidades necessárias para escrever bem. O levantamento dessas questões por parte dos alunos certamente tornará mais reflexivas as tarefas de escrita deles. Outro aspecto que poderia ser objeto de reflexão é a divisão entre atividades do corpo e da mente, entre trabalho braçal e intelectual. Quem pratica esporte deve preocupar-se apenas com o físico? Quem se dedica a atividades intelectuais pode abandonar o corpo? Quais as conseqüências de se dedicar somente a um tipo de prática? Como aliar as duas? Os alunos conhecem exemplos de pessoas que trabalham harmoniosamente o corpo e o intelecto? Recordam jogadores que não abandonaram os estudos? Lembram-se de cronistas ou escritores que dedicaram textos literários ao esporte? Neste ponto, o professor pode apresentar aos alunos os autores citados no texto e propor uma pesquisa sobre quais escritores escreveram sobre esporte, aproveitando, inclusive, a lista de autores que está na seção “Mergulhando na temática”. Vale chamar a atenção dos alunos para os recursos estilísticos adotados pelo autor. Neste livro, a espontaneidade e o tom coloquial são recursos utilizados para transmitir verossimilhança a um texto “escrito” por um personagem de 12 anos. Esse efeito de simplicidade, alcançado com esforço e talento, vem combinado com outros recursos, como a maneira peculiar de emprego do discurso direto. Seria interessante retomar com os alunos trechos em que esse emprego ocorre e conversar sobre os motivos da escolha dessa forma de construir os diálogos. Vale ainda chamar a atenção para outro recurso muito presente no texto, o da antecipação (“depois eu conto”), utilizada para prender a atenção do leitor. Ou apontar os trocadilhos feitos pelo personagem Parede para propor que os alunos brinquem com as palavras, criando novos jogos verbais. Depois da leitura Uma boa maneira de começar a interpretar o texto é ouvindo as opiniões da classe sobre o livro, percebendo os aspectos que mais chamaram a atenção dos alunos e os trechos que mais lhes agradaram. É importante insistir para que eles justifiquem os pontos de vista apresentados, estimulando comentários mais elaborados. Prezado Ronaldo Flávio Carneiro Em seguida, pode-se pedir aos alunos que desenvolvam as atividades sugeridas ao Pingüim pelo seu Almeida, como descrever alguma coisa sem dizer do que se trata e, depois, ler a descrição para que os colegas adivinhem qual o objeto ou acontecimento descrito; contar uma história a partir de algo que se observou durante um passeio ou no caminho para a escola. Como a narrativa é baseada nas cartas de Pingüim, seria interessante explicar aos alunos como se redige uma carta pessoal e pedir que também eles escrevam uma carta a Ronaldo, desenvolvendo um dos assuntos comentados em classe sobre futebol. Além disso, vale apresentar aos alunos outros romances epistolares e falar um pouco sobre esse gênero. Outra atividade interessante para ampliar o vocabulário dos alunos é inspirar-se na mania do personagem Parede de usar novas palavras, estimulando os alunos a procurar duas ou três palavras desconhecidas no dicionário e empregá-las numa redação de tema livre. Os textos produzidos podem ser lidos em sala para que os demais alunos avaliem se as palavras foram usadas com propriedade. Aproveitando outra idéia do personagem Parede, que começa a procurar poemas de amor para a namorada, pode-se pedir aos alunos que tragam um poema que lhes agrade. O professor pode apresentar alguns autores previamente (Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Manoel de Barros). A pesquisa pode ser feita em casa, na biblioteca da escola, na internet, nos livros escolares usados em classe. Num dia previamente combinado, os alunos, em grupos, podem ler os poemas selecionados, reler o poema de Drummond transformado por Parede e, em seguida, escolher um dos novos poemas para ser objeto de uma paródia ou de uma “co-autoria”. A proposta da atividade é que os alunos, assim como fez o personagem de Prezado Ronaldo, transformem os poemas escolhidos. Depois de reelaborados e ilustrados, os poemas poderão ser expostos (no mural ou em um varal de poesia), com os autores originais e os “co-autores” devidamente identificados. Durante a montagem do mural, vale a pena chamar a atenção dos alunos para as ilustrações do livro. Elas foram feitas em computador, e nelas há vários elementos colados, de livros antigos, revistas e jornais. É interessante falar do modo como foram feitas e sugerir que eles façam algumas ilustrações que se valham da mesma técnica. Elaboração do guia Dileta Delmanto Mattos, professora e autora de livros didáticos; preparação Bruno Zeni; revisão Gislaine Maria da Silva e Carla Mello Moreira.