CBA Destaca

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Quem polui o quê? Cientistas do Centro de Biologia Ambiental, Faculdade de
Ciências desenvolvem novas metodologias para identificação de fontes de
poluição atmosférica.
A poluição e o seu impacto na saúde pública têm sido objecto de preocupação nas últimas
décadas. Um dos grandes desafios actuais da ciência é o de discernir as várias fontes de
emissão de poluentes de forma a atribuir a cada poluidor a sua quota de responsabilidade. Este
conhecimento é de particular importância em zonas onde coexistem várias indústrias e centros
urbanos, nas quais se torna difícil discriminar qual a contribuição de cada indústria e/ou de
cada centro urbano para os níveis de poluição local. Num estudo pioneiro publicado
recentemente na revista científica de estudos ambientais, a Environmental Science and
Tecnholog,,investigadoras do Centro de Biologia Ambiental (CBA), FCUL em colaboração com
o Instituto Superior Técnico e com a Agência Portuguesa do Ambiente, desenvolveram uma
metodologia que permite identificar o tipo e a natureza das fontes poluidoras. Esta metodologia
pode agora ser usada em todo o mundo, daí o interesse da comunidade científica nesta
investigação conduzida exclusivamente por cientistas portugueses.
Os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) são compostos químicos tóxicos emitidos
por diversas fontes de poluição. Até à data já se identificaram mais de 100 compostos de PAHs
no ambiente, 16 dos quais foram classificados pela Environmental Protection Agency (EPA)
como poluentes prioritários devido ao seu carácter cancerígeno e mutagénico. Diferentes
fontes de poluição emitem proporções distintas de cada tipo de PAHs.
A investigação, conduzida por Sofia Augusto e colegas, e liderada por Cristina Branquinho,
conseguiu estabelecer um perfil de PAHs contidos nos líquenes que permite distinguir fontes de
poluição urbana de fontes de poluição industrial, com uma precisão espacial nunca antes
atingida. De facto, esta pesquisa foi desenvolvida na região industrial e urbana de Sines, onde
estão localizadas várias fontes de poluição com grande proximidade entre elas (indústrias
petroquímicas e as cidades de Sines, Santo André e Santiago do Cacém).
Os autores deste estudo verificaram que os PAHs contidos em líquenes recolhidos em áreas
com fontes de poluição distintas diferiam não só na sua quantidade como também no tipo
químico, podendo conter entre 2 a 6 anéis aromáticos. Os resultados mostraram que as fontes
de poluição urbana apresentam um perfil dominado pelos PAHs de 4 anéis e com a maior
concentração destes compostos, enquanto as fontes industriais apresentam um perfil dominado
pelos PAHs de 2 ou 5 e 6 anéis (dependendo do tipo de indústria) e concentrações
intermédias. Nas áreas florestais, o perfil é dominado pelos PAHs de 3 anéis, em menores
quantidades do que em qualquer outra área.
Já se sabia que os líquenes, seres vivos resultantes da simbiose entre algas e fungos, são
bons bioindicadores do estado do ecossistema. No entanto, este trabalho foi pioneiro na
demonstração de que a informação que contêm é ainda mais valiosa do que se pensava, tanto
do ponto de vista espacial como ambiental. Assim, a metodologia proposta permite obter uma
radiografia do tipo de poluição ambiental com uma resolução espacial que não se imaginava
possível, o que permite estudar o impacte em diversos compartimentos do ecossistema (solo,
águas subterrâneas ou contaminação das cadeias alimentares). Esta informação pode ainda
ser útil em estudos de saúde pública visando o cálculo da exposição humana a estes
compostos orgânicos tóxicos.
Para saber mais: Augusto S, Máguas C, Matos J, Pereira MJ, Soares A, Branquinho C. 2009.
Spatial modelling of PAHs in lichens for fingerprinting of multi-source atmospheric pollution.
Environmental Science and Technology 43: 7762-7769.
Contacto: Cristina Branquinho, [email protected]