Relatório - PDBFF - Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos
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Relatório - PDBFF - Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos
1 Árvores grandes limitam a densidade e o tamanho das árvores vizinhas? Thiago de Azevedo Amorim permitem a ocorrência de espécies Introdução A zona tropical compreende as tolerantes ou não ao sombreamento latitudes que recebem maior incidência (Gilbert et al. 2001). Assim, a baixa luminosa do globo (Leigh Jr. 1999). luminosidade que incide no sub-bosque Nessa região a densa estrutura florestal da dificulta a entrada de luz no interior da ambientais que selecionam espécies de floresta. Plantas de florestas tropicais plantas adaptadas ao sombreamento possuem (Gentry 1988). diversos mecanismos floresta morfológicos e fisiológicos para o proporcionar Espécies que condições necessitam de aproveitamento dessa energia luminosa elevada incidência luminosa para o seu incidente desenvolvimento (Taiz & Zeiger 2002). podem crescer Espécies árbóreas, por exemplo, tem lentamente quando estão sob árvores de como em grande porte (Ribeiro et al. 2005). O crescimento vertical do que diamétrico efeito negativo de grandes árvores sobre para obtenção de maior de quantidade outras de menor porte já foi verificado luz (Hallé et al. 1978, Vieira 2007). em florestas temperadas. No estudo de estratégia investir mais Na floresta, as árvores de maior Schamp & Aarssen (2009), a presença porte podem ter mais vantagem na de uma árvore grande promovia menor aquisição de luz, através da exposição chance de ocorrência e crescimento de de grande parte da copa à luz direta. A outras espécies de árvores de menor copa de árvores altas pode funcionar porte. Os autores atribuíram a menor como um filtro retendo grande parte da ocorrência dos indivíduos de menor luz incidente, reduzindo a entrada de luz porte no interior da floresta e promovendo a luminosa que favorecia espécies de formação de gradientes verticais de luz grande porte. (Gentry 1988). A à competição por energia heterogeneidade O meu objetivo foi avaliar como espacial de disponibilidade de luz no a ocorrência de árvores de grande porte ambiente florestal gera condições que pode afetar a distribuição e crescimento 2 de árvores em uma floresta tropical de todos os indivíduos arbóreos com DAP terra firme. Minha hipótese é que o maior ou igual a 5 cm em um raio de 10 sombreamento de uma árvore de grande m a partir do indivíduo focal. Utilizei porte pode afetar negativamente a uma regressão linear simples para ocorrência de observar a relação do diâmetro das indivíduos arbóreos vizinhos. Por isso árvores focais com o número e o espero que quanto maior o diâmetro da diâmetro das árvores vizinhas. e o crescimento árvore, menor seja a densidade e o diâmetro de árvores vizinhas. Resultados A quantidade de indivíduos arbóreos ao redor das árvores focais Métodos Realizei este estudo na Área de variou de 26 a 46 indivíduos (35 ± 5,72 Relevante Interesse Ecológico (ARIE) cm; média±desvio padrão). O diâmetro Km 41 (02°24’ S-59°44’O), pertencente dos indivíduos amostrados no entorno ao Projeto Dinâmica Biológica de das árvores focais variou de 5 a 85,6 Fragmentos (PBDFF) cm (13,3 ± 10,66 cm). Não observei localizada 80 km ao norte de Manaus, relação entre o diâmetro das árvores Amazonas. A vegetação da área é focais e o número de árvores (r2= 0,009; formada por floresta ombrófila densa F(1,15)= 0,123; p= 0,731 Figura 1). Da (Ribeiro et al. 1999). mesma forma, também não constatei Florestais Selecionei 16 árvores entre 20 e nenhuma relação entre o diâmetro das 105 cm de diâmetro à altura do peito árvores focais e o diâmetro das árvores (DAP). vizinhas (r2 = 0,142; F As árvores focais foram distantes 20 m uma da outra para evitar a sobreposição das copas. Eu medi 0,15; Fig. 2). (1,15)= 2,322; p= 1 Figura 1: Relação entre o diâmetro das árvores focais e número de árvores vizinhas em uma floresta tropical na Amazônia Central. Figura 2: Relação entre o diâmetro das árvores focais e a média dos diâmetros das árvores vizinhas em uma floresta tropical na Amazônia Central. 1 deciduidade Discussão A proximidade com as árvores de algumas espécies arbóreas. Segundo Gandolfi et al. grandes não afetou a abundância nem o (2009), tamanho das árvores vizinhas. Segundo “clareiras cíclicas” nas florestas, que Gentry (1988), árvores de grande porte permitem maior entrada de luz sob elas. formam estratos sob suas copas de Assim, a sazonalidade da queda foliar forma a de algumas espécies pode gerar janelas disponibilidade de energia luminosa é de oportunidade de crescimento às uma parcela de energia do estrato espécies que se encontram sombreadas. superior. Essa disponibilidade de luz Nos períodos de maior incidência de luz diferencial mais gerados pela deciduidade, as árvores aptas a ocupar cada estrato. Portanto com maior demanda luminosa para árvores que crescem sob a copa de crescimento poderiam crescer mais árvores grandes devem estar adaptadas (Gilbert et al. 2001, Ribeiro et al 2005). que em cada seleciona estrato espécies à condição de baixa luminosidade. espécies decíduas geram A capacidade adaptativa das Além de atuar como um filtro de espécies à condição de sombreamento e luz, as árvores de grande porte também a possibilidade de clareiras cíclicas podem influenciar a ocorrência de favorecendo o crescimento de espécies espécies árboreas ao seu redor limitando pioneiras, podem explicar a ausência de a disponibilidade de outros recursos, influência das árvores de grande porte como água e nutrientes, através da sobre a comunidade de árvores vizinhas. competição. a Essas grandes árvores ao utilizar parte disponibilidade desses recursos pode do recurso luminoso, podem promover dirigir a distribuição de árvores em um regiões tropicais (Turner 2001). ambiental que contribui para a de Consequentemente, Os ciclos fenológicos de árvores gradiente de heterogeneidade seleção de espécies. decíduas podem também contribuir para explicar a ausência de influência do Agradecimentos sombreamento de grandes árvores sobre Agradeço aos revisores deste as árvores vizinhas. A luminosidade que projeto final, Catarina e Paulo Estefano incide no interior da floresta pode variar e Manoela Borges. Suas correções e ao longo do tempo em decorrência da sugestões permitiram que este projeto 2 ficasse mais amadurecido. Ao Thiago Profunda G. pela humano. Ao João (Bodoque) sobre as imprescindível ajuda em campo e conversas sobre a infância e sobre a revisões deste trabalho. Ao Bruno poesia de Fernando Pessoa. Agradeço a Cintra, Camila, Demétrius e Laura pelo toda comissão organizadora do EFA auxilio também na revisão. Ao Paulo 2010 por propiciar a oportunidade de Enrique C. Peixoto pelo auxílio na viver análise dos dados, além dos valiosa Inesquecível! “Amazônia: felizes os contribuição olhos que te viram e os ouvidos que Kloss (meu à chará!) minha formação. Obrigado por me relembrar que fazer admiração um mês por na esse ser Amazônia. ouviram o som da tua chuva!” ciência pode e deve ser engraçado. Um obrigado muito especial à Dona Eduarda, por todo cuidado dispensado a Referências Gandolfi, S., C.A. Joly & H. F. Leitão- mim e a todos os participantes do EFA Filho. 2010 no preparo das refeições .Ao João deciduousness: cyclical gaps in e Junior por compartilharem comigo o tropical forests. Scientia Agricolae, conhecimento que tem sobre as plantas 66(2):280-284. 2009. Gaps of dessa terra. Às monitoras Claudinha Paz Gentry, A.H. 1988. Changes in plant e Dani Kasper que me ajudaram e community diversity and floristic aturaram por aqui. Aos professores que composition on environmental and passaram por essa edição do EFA. Aos geographical gradients. Annals of amigos que fiz aqui no EFA (já escrevo Missouri Botanical Garden, 75:1- com 34. saudades!). Obrigados pelas conversas, sorrisos, brincadeiras, lições Gilbert, I.R., P. G. Jarvis & H. Smith. e encontro de sotaques. Às minhas 2001. Proximity signal and shade professoras de dança, Camila e Thallita. avoidance À Alêny, por me avisar que ainda tenho early and late successional trees. jeito de criança levada. Ao Bruno Cintra Nature, 411:792-795. differences between que já tinha me recebido de braços Hallé,F., R.A.A. Oldeman & P.B. abertos em Manaus antes mesmo de Tomlinson. 1978. Tropical trees pisar aqui, valeu amigo. Ao André and (Deco) analisys. Berlin: Springer-Velag. pelos bate-papos “cabeça”. forests: an architectural 3 Leigh Jr., E.G. 1999. Tropical forest ecology: a Colorado view island. from Barro P.A.C.L. Assunção, E.C. Pereira, New York: C.F.D. Silva, M.R. Mesquita & Oxford University Press. L.C. Procópio. 1999. Flora da Schamp, B.S. & L.W. Aarssen. 2009. The assembly communities L.H.P. Martins, L.G. Lohmann, of according Reserva Ducke: guia de forest identificação das plantas vasculares to de uma floresta de terra-firma na maximum species height along resource and disturbance gradients. Amazônia Central. Manaus: INPA. Taiz, L. & E. Zeiger. 2002. Fisiologia Oikos, 118:564-572. vegetal. Porto Alegre: Artmed. Ribeiro, R.V., G.M. Souza, R. F. Turner, I.M. 2001. The ecology of trees Oliveira & E.C. Machado. 2005. in Photosynthetic Cambridge: Cambridge University responses of tropical tree species from different successional groups under the tropical rain forest. Press. Vieira, E.A. 2007. Tamanho de sobrevivência de contrasting irradiance conditions. sementes Revista Brasileira de Botânica, plântulas em áreas de pastagens 28:149-161. degradadas. Ribeiro, J.E.L.S., M.J.G. Hopkins, A. Vicentini, C.A. Sothers, M.A. Costa, J.M. Brito, M.A.D. Souza, e Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Mato Grosso Grande. do Sul, Campo