Diagnóstico molecular do nematoide Aphelenchoides besseyi em

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Diagnóstico molecular do nematoide Aphelenchoides besseyi em
Diagnóstico molecular do nematoide Aphelenchoides besseyi em
sementes de forrageiras
Cláudio Marcelo G. Oliveira1
Pesquisador Científico V
[email protected]
Erika Aparecida Consoli
Estagiária, acadêmica de Engenharia Agronômica (ESALQ, USP)
1
Laboratório de Nematologia
Centro Experimental Central do Instituto Biológico
Caixa Postal 70, CEP 13001 970
Campinas, SP
Fone (19) 3251 03 27
Os nematoides não são animais fáceis de serem identificados, seja pelo tamanho diminuto
ou pela dificuldade de observação de características essenciais para o diagnóstico sob
microscopia de luz convencional. Essas limitações são válidas para a maioria dos nematoides
parasitos de plantas, incluídas as espécies pertencentes ao gênero Aphelenchoides.
Nematoides do gênero Aphelenchoides apresentam ampla distribuição mundial. Suas
espécies alimentam-se principalmente de fungos, ou seja, são micófagas, embora umas
poucas também possam parasitar plantas cultivadas, quase sempre causando danos na parte
aérea. No Brasil, as principais espécies são Aphelenchoides fragariae, A. besseyi e A.
ritzemabosi.
Diferente da grande maioria dos nematoides parasitos de plantas, que ataca principalmente
raízes e/ou outros órgãos subterrâneos, Aphelenchoides besseyi parasita órgãos aéreos.
Trata-se de espécie cosmopolita, com muitas plantas hospedeiras, destacando-se entre
elas: arroz, morango, alho e várias plantas ornamentais. Também pode ser encontrado em
sementes de gramíneas forrageiras como Panicum maximum e Brachiaria decumbens.
Nestes casos, tais sementes podem atuar como agentes de disseminação do nematóide,
levando-o de um país a outro; por isso, existem restrições para a comercialização delas,
sobretudo no mercado externo, impostas por rígidas legislações fitossanitárias. No
entanto, cabe ressaltar que, até o presente, esses nematoides nunca foram associados a
perdas nessas forrageiras.
Para algumas espécies, como A. besseyi, um único exemplar do nematoide presente na
amostra leva à rejeição de todo o lote de sementes da forrageira. Esse único exemplar
pode estar presente na amostra junto a outras espécies de nematóides consideradas ‘não
alvo’, mas semelhantes morfologicamente. Nesse sentido, a técnica utilizada para
identificação da espécie presente necessita ser precisa e bastante confiável, de modo a
auxiliar o difícil serviço de análise fitossanitária.
Tradicionalmente, as características morfológicas têm sido utilizadas para discriminação e
identificação das espécies. Entretanto, tais diferenças no geral são relativamente
pequenas, sendo exigido considerável conhecimento em taxonomia para que se proceda à
identificação de forma segura. Ademais, devido à diminuição contínua que ora se observa,
mundialmente, no número de profissionais especializados na identificação clássica de vários
grupos de organismos, incluindo nematoides, há uma crescente procura pelo
desenvolvimento de técnicas moleculares visando à identificação de pragas e patógenos.
Várias metodologias baseadas em técnicas moleculares vêm sendo desenvolvidas para
aplicação na nematologia. Tais técnicas proporcionam diagnósticos rápidos e precisos, não
requerendo taxonomistas altamente treinados. Isso é particularmente importante para o
gênero Aphelenchoides, em que espécies como A. besseyi e A. fragariae, por exemplo,
continuam a ser, ainda hoje, distintas apenas por pequenas diferenças morfológicas e
morfométricas.
Até o momento, com poucas exceções, metodologias baseadas em técnicas moleculares
foram desenvolvidas principalmente para espécies dos gêneros Meloidogyne, Heterodera,
Pratylenchus e Globodera. No caso de Aphelenchoides, sabe-se que nematologistas norteamericanos já desenvolveram um primer específico para A. fragariae, o que, sem dúvida,
representou significativo avanço; contudo, há ainda clara necessidade de desenvolvimento
de metodologia semelhante para outras espécies igualmente importantes dentro do gênero,
a exemplo de A. besseyi.
Recentemente, visando atender a uma demanda do setor produtivo, o laboratório de
nematologia do Instituto Biológico, com apoio financeiro de representantes da Associação
Paulista dos Produtores de Sementes e Mudas (APPS), iniciou projeto de pesquisa que tem
como meta a identificação molecular de Aphelenchoides besseyi eventualmente presente
em amostras de sementes de forrageiras.
Assim, objetiva-se, ao final deste estudo, disponibilizar o uso de primers específicos que,
com credibilidade e rapidez, possam discriminar o nematoide Aphelenchoides besseyi
extraído das sementes.
Cada primer específico será localizado na região ITS-1 do DNA ribossomal (rDNA) e
utilizado em combinação com um primer universal localizado no gene 18S rDNA. A
credibilidade dos primers será confirmada pelo teste de diferentes populações da espécie
alvo (A. besseyi) extraídas de sementes de Panicum maximum e Brachiaria spp.
provenientes de várias regiões brasileiras produtoras de forrageiras, enquanto que a
especificidade será demonstrada pela ausência de reação cruzada com outras espécies de
Aphelenchoides. O projeto teve início no mês de setembro de 2009, com término previsto
para o primeiro semestre de 2010.
Espera-se que o avanço científico decorrente da obtenção e utilização dos primers
específicos pelas clínicas nematológicas na diagnose de Aphelenchoides besseyi venha a ser
de grande préstimo aos serviços de fitossanidade tanto do Brasil quanto dos países
importadores de sementes de forrageiras. Da mesma forma, aos produtores brasileiros de
forrageiras, prevenindo a disseminação dessa espécie de nematoide de importância
quarentenária.

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