tendências em meios de pagamento 2015

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tendências em meios de pagamento 2015
Relatório Tecnocom sobre
TENDÊNCIAS EM
MEIOS DE PAGAMENTO 2015
Com a colaboração de
Relatório Tecnocom sobre
TENDÊNCIAS EM
MEIOS DE PAGAMENTO 2015
Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2015
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01.
Os maiores destaques do
Relatório Tecnocom 2015
01. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2015
A edição passada do Relatório TECNOCOM foi encerrada com referência ao lançamento iminente do Apple Pay no quarto
trimestre de 2014. Em 2015, fomos testemunhas de sucessivos lançamentos por outras operadoras e empresas de tecnologia (Samsung Pay, Google Pay, Line Pay), que se destacaram nos meios de comunicação. A isso deve-se acrescentar o
fato de que praticamente todas as entidades financeiras têm atualmente uma solução de carteira eletrônica, confirmando a
análise com que ilustramos esta seção no ano passado. A busca da interoperabilidade e a integração das redes de pagamento foi outro dos elementos comuns em muitos dos mercados analisados.
No Brasil, observamos movimentos corporativos que elevam o índice de concentração no mercado de adquirência de
cartões de crédito, apesar da reforma que procurou uma maior participação de agentes. As soluções de terminal de ponto
de venda em dispositivos móveis (mPOS) continuam protagonizando o esforço de terminalização em estabelecimentos
pequenos, como o abordado de forma massiva no México por Bimbo, iZettle e Banamex. No Chile, destaca-se a abertura
dos cartões de crédito do retail mediante alianças com cartões de crédito internacionais. No Peru, já foi disponibilizado por
Movistar e MasterCard o primeiro serviço de dinheiro eletrônico (“Tu Dinero Móvil”). E o esperado projeto “Modelo Perú”,
patrocinado pela Associação de Bancos do Peru (ASBANC), continua em fase de testes. Do outro lado do Atlântico, além do
boom das carteiras digitais, observamos o renascer dos cartões pré-pagos, especialmente comercializados por instituições
não financeiras, como os Correios na Espanha.
No âmbito normativo, também ocorreram importantes novidades regulatórias: após a adiantada aplicação na Espanha
dos limites às taxas de intercâmbio estabelecidos no Real Decreto Lei 8/2014 de 4 de julho, o Banco de Espanha anuncia
na Circular 2/2015, de 22 de maio, que publicará trimestralmente todas as informações relativas às taxas de desconto e
intercâmbio aplicadas em operações realizadas com cartão. Em outubro, até a data de fechamento deste Relatório, o Parlamento Europeu aprovou a revisão da Diretiva de Meios de Pagamento (PSD2).
Na América Latina, por sua vez, foram aprovados importantes projetos normativos, como a Lei 1735 na Colômbia, que criou
as Sociedades Especializadas em Depósitos e Pagamentos Eletrônicos (SEDPE) com objetivos de inclusão financeira; as
modificações regulatórias estabelecidas pelo Banxico, fruto da implementação da Reforma Financeira iniciada em 2013,
assim como a autorização à sociedade Operadora de Pagamentos Móveis do México para a organização e operação da
primeira câmara de compensação de transferências através de dispositivos móveis.
Uma tendência constatada é que as diferenças entre as duas regiões diminuem a cada ano. Dito isso, são muitas as particularidades nacionais e regionais referidas pelos dirigentes de meios de pagamento entrevistados, constatadas com dados
oficiais e informadas pelos usuários, que serão descritas e analisadas. As três grandes linhas de inovação que identificamos
em nossas conversas deste ano com os executivos de meios de pagamento são as transferências eletrônicas imediatas
(faster payments), o crescente desenvolvimento das wallets móveis e os avanços em comércio eletrônico
Do ponto de vista da oferta, globalmente são as transferências de crédito que continuam apresentando protagonismo absoluto no universo dos meios de pagamento varejistas, observado o valor das transações. Na América Latina, representam
81,9% do valor das operações de pagamento registradas em 2014 (USD 11,1 bilhões). Os débitos diretos continuam sem
grande disseminação e não alcançam cotas de representação como as encontradas em Espanha e Portugal.
Figura 1. Valor das operações de pagamento na América Latina entre 2009 e 2014, por instrumento, em bilhões de
dólares
13.629,18
14.000
12.000
5,0%
0,91%
10.000
8.541,56
8.000
6.000
1,5%
10,8%
1,4%
Dinheiro (M0)
24,7%
3,2%
0,51%
Cheques
81,9%
4.000
Débitos diretos*
70,1%
Transferências de crédito
2.000
0
2009
* Débitos diretos incluem operações intrabancárias no Peru.
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos.
Pagamentos com cartões
2014
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Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2015
Por sua vez, a evolução dos cartões de crédito e débito na América Latina experimentou um ritmo ascendente, de tal forma
que em 2014 representam 5,0% do montante total das transações, frente aos 3,2% registrados em 2009. Utilizado em
mais da metade das transações de pagamento realizadas no conjunto da região sem considerar o uso de dinheiro vivo, o
cartão impõe-se sobre os outros meios de pagamento, mostrando uma tendência ininterrupta de crescimento sustentado
em termos globais (63,1% em 2009), como se pode observar na Figura 2. O cheque, por sua vez, registra uma redução
no número de operações (5,4% do total), resultado de sua substituição gradual pelas transferências eletrônicas (17,4%),
que ocupam a segunda posição como meio de pagamento mais utilizado, e, em menor medida, pelos débitos diretos. O
volume de operações de débitos diretos interbancários na América Latina continua crescendo muito lentamente em boa
parte dos países em comparação com os outros meios de pagamento; neste item, continua existindo uma ampla margem
de manobra para a intensificação de seu uso na região, o que implicará em um esforço de investimento para a adaptação
plena das infraestruturas ACH a esta modalidade de pagamento (caso do Peru), assim como de educação financeira no
conjunto da população.
Figura 2. Número de operações de pagamento na América Latina, 2009-2014, em milhões
14.000
12.000
10.000
Pagamentos com cartões
8.000
6.000
5
4.000
Transferências de crédito
2.000
Cheques
Débitos Diretos
0
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos.
Tanto na Espanha e em Portugal como na América Latina, os meios de pagamento seguem uma evolução similar quanto
à substituição dos instrumentos baseados em papel, mas vemos que o montante total das operações na Espanha caiu
1,9% acumulado entre 2009 e 2014, freando assim a queda observada desde 2008. Em débitos diretos, a Espanha é um
caso singular em nossa amostra de países por sua ampla representatividade, na medida em que este tipo de transações
representa 18,2% do valor das operações de pagamento registradas na Espanha em 2014, como mostra a Figura 3. Sua
concepção como mecanismo de controle do gasto (conciliação fácil dos lançamentos registrados nos extratos de conta)
e de automação de pagamentos representa um atrativo maior, especialmente nos pagamentos recorrentes e cotidianos
(serviços básicos, telefonia, serviços financeiros, parcelas, assinaturas, etc.), cujo desconto automático por meio de um
mandato ou autorização de débito em conta converte-o em um instrumento de pagamento ágil, seguro e eficiente. É por
isso que débitos diretos, transferências de crédito e cartões ganharam relevância entre os meios de pagamento disponíveis, em parte pela extensão da disponibilidade e uso de canais remotos ou virtuais, como Internet ou serviços bancários
por celular, que liberam o usuário de ir à agência bancária para realizar este tipo de operações.
Na Espanha, o uso de dinheiro vivo cresceu 9,1% em 2014, contabilizando 117.870 milhões de euros e representando
11,15% do PIB, um valor superior ao registrado pelo pagamento com cartões neste mesmo ano (105.854 milhões de euros),
recuperando os valores dos movimentos contabilizados pelo Banco de Espanha em exercícios anteriores a 2010, quando
ocorriam crescimentos superiores a 10%, o dobro dos ocorridos no período 2010-2013.
01. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2015
Figura 3. Valor das operações de pagamento na Espanha em 2009 e 2014, em bilhões de euros
2.000
1.800
1.600
1.874,5
4,9%
5,6%
1.704,5
6,9%
2,7%
1.400
21,9%
1.200
4,9%
6,2%
Dinheiro (M0)
1.000
16,8%
18,2%
Títulos de crédito*
14,6%
Cheques
800
600
400
Pagamentos com cartões
51,4%
45,9%
Débitos diretos
200
Transferências de crédito
0
2009
2014
* "Efectos" são títulos de crédito que podem ser cobrados (quando são a receber) ou que devem ser pagos (quando são a pagar) até a data de vencimento.
Fonte: Banco de España.
A Espanha registrou uma queda no número de cartões em circulação no último ano (-3,0%), repercutindo negativamente
no índice de número de cartões por cada mil habitantes de forma mais destacada no caso dos cartões de débito, que têm
diminuído mais desde que coletamos dados no âmbito deste relatório (733,5 em 2005 vs. 518,3 em 2014) e mantendo-se, porém, no caso dos cartões de crédito. Tanto os cartões de crédito (43,2 milhões em circulação) como os de débito
(24,4 milhões) caíram neste último ano (-0,05% e -7,8% respectivamente), embora praticamente a totalidade dos cartões
abandonados sejam da modalidade de débito. Tomando como referência o número recordista de 76,4 milhões de cartões
em circulação existentes em 2008, o encarecimento de sua contratação junto com o intenso processo de integração bancária experimentado na Espanha e a contração do consumo até bastante tempo após o início de 2014, esse número foi
reduzido para 67,6 milhões no ano, o que corresponde a mais de 8,7 milhões de cartões a menos, dos quais 7,1 milhões
correspondem à modalidade de débito: algumas entidades financeiras aumentaram as comissões para compensar a queda
das receitas de intermediação financeira, o que levou usuários a não renovar alguns cartões; além disso, a integração de
entidades financeiras retirou cartões em circulação, porque agora são emitidos por uma única entidade, reduzindo o stock
global e individual de cartões disponíveis.
Considerando a evolução no último ano (2.090.000 cartões a menos em circulação, todos de débito) em contraste com a
registrada em 2013 (940.000 cartões a mais), e também a culminação de praticamente a totalidade das integrações e o
retorno ao caminho do crescimento econômico (e, portanto, do consumo) abandonado em 2008, poderíamos estar presenciando o fim do decrescimento nesta série.
Em conjunto, o número de operações de compra realizadas na Espanha com cartões espanhóis aumentou consideravelmente em 2014 (8,5%) a taxas de crescimento superiores às registradas no ano anterior (2,4%), segundo dados do Banco
de Espanha.
Tabela 1: Número de cartões de débito e crédito em circulação, 2014
Cartões de débito
Cartões de crédito
Total
Brasil
295.476.065
162.035.939
457.512.004
Chile*
18.445.899
10.012.086
28.457.985
Colômbia
20.869.341
12.684.370
33.553.711
134.524.245
28.549.240
163.073.485
21.500.000
8.300.3559
29.800.355
3.504.387
2.339.569
5.843.956
Espanha
24.410.000
43.240.000
67.650.000
Portugal
13.734.816
6.149.499
19.884.315
México*
Peru
República Dominicana
* Não inclui cartões de crédito de casas comerciais
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos.
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Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2015
Entre os países da América Latina analisados, destaca-se o bom comportamento generalizado dos cartões de débito, cujo
aumento continua se destacando com relação à evolução dos cartões de crédito. Com uma taxa de crescimento anual
composto de 17,8% para o período 2009-2014, o Chile se mantém como o país com maior avanço, superando os 18,4 milhões de unidades de débito, crescimento apenas superior ao registrado pelo México (17,2%), que acumula 163 milhões de
unidades no encerramento de 2014, quase todas afiliadas a Visa ou MasterCard. O Peru viu crescer a proporção de cartões
de débito em relação ao crédito nos últimos anos (2,6 em 2014 vs. 2,4 em 2009) provocado por um aumento no número
de plásticos de débito (10,3% no último ano) superior ao registrado em crédito (3,3%). A Colômbia acentua o crescimento
pronunciado no parque de cartões de crédito com relação aos de débito: enquanto em 2009 para cada cartão de crédito
existiam 2,1 cartões de débito, em 2014 esta proporção se reduz para 1,6. De forma similar, a República Dominicana experimenta um maior crescimento dos cartões de crédito (+7,1%) em relação aos de débito (+4,4%), embora em ritmo menor,
com os de débito mantendo seu predomínio quanto ao número de plásticos em circulação.
Em relação ao tíquete médio dos pagamentos realizados com cartões de débito e crédito, observamos que em todos os
países do estudo, com exceção da Colômbia, o uso dos cartões de débito apresenta um comportamento similar quanto
ao gasto efetuado por transação de pagamento, em torno a USD 30 nos casos de Brasil, Chile, México, Peru e República
Dominicana. Os cartões de crédito apresentam um comportamento mais desigual entre os países da região.
Figura 4. Tíquete médio em cartões de débito e crédito em 2014, em USD
120
100
USD 79,3
80
7
60
USD 34,5
40
20
0
Brasil
Chile
Colômbia
México
Débito
Peru
República
Dominicana
Espanha
Crédito
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos, Visa e MasterCard
A intensidade de uso dos cartões apresenta comportamentos distintos em função de sua modalidade (crédito, débito). Em
débito, o Chile apresenta maior intensidade de uso, com cerca de 45 transações por habitante e ano, que contrasta com as
menos de 10 operações na República Dominicana. Na Espanha, como no Brasil, o uso situa-se em torno a 30 transações, à
razão de 2,5 por mês. No caso do crédito, existem dois grandes comportamentos: por um lado, a maior intensidade de uso
é apresentada pela Espanha, novamente alcançada no último ano pelo Brasil, com cerca de 27 transações por habitante e
ano. Por outro, com menos de 10 transações por habitante, encontramos o restante dos países, com exceção do Chile que,
desde 2011, experimentou um salto quantitativo.
A rede de caixas automáticos (ATM) e terminais de ponto de venda (POS) na América Latina registrou um incremento
notável nos últimos anos, tendência oposta à experimentada do outro lado do Atlântico desde o início da crise. Em relação
aos POS, México e Colômbia apresentam uma taxa de crescimento anual composto de 11,4% e 18,9% respectivamente
desde 2009. O Brasil, com quase 4,5 milhões de POS e um crescimento de 7,4% no período, lidera com grande distância
neste indicador, assim como no de ATM, embora no último ano só tenha aumentado o parque de POS. Na Espanha, como
já anunciáramos na edição anterior deste relatório, observamos uma notável mudança de tendência, muito provavelmente
fruto dos recém-inaugurados limites para as taxas de intercâmbio para os pagamentos com cartão e um maior impulso
no negócio de adquirência desenvolvido pelas instituições financeiras: apesar de no período 2009-2014 o crescimento
ter sido negativo (-1,8%), em 2014 o número de POS habilitados no país aumentou 6,6%, para 269.600 dispositivos. Algo
semelhante ocorreu em Portugal neste mesmo período, onde também desde 2010 vinha sendo observada uma redução
do número de POS no país.
01. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2015
Figura 5. Número de POS por milhão de habitantes, 2009-2014
35.000
30.000
Brasil
25.000
Colômbia
20.000
México
15.000
República Dominicana
10.000
Espanha
5.000
Portugal
0
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos.
Em termos de correspondentes não bancários, que não existem em Espanha e Portugal, observamos que a Colômbia
supera pelo primeira vez o Brasil no número de correspondentes em relação à população, registrando um crescimento
próximo a 100% no último ano. O Brasil, referência global neste âmbito, moderou significativamente seu crescimento nos
últimos dois anos. Muito perto está o Peru, onde praticamente a totalidade dos municípios estão cobertos, graças ao ritmo
de extensão das redes de correspondentes. O México, em contraste, avança a um ritmo muito menor na extensão da rede
de correspondentes bancários, apesar de ter um grande percurso para cobrir a fim de garantir o acesso em todo o território
com população. A República Dominicana testemunhou em 2014 o estabelecimento desta nova figura, com taxas de crescimento que permitem ao país, em apenas um ano, aproximar-se do número de pontos por 1.000 habitantes disponíveis no
México, onde esta figura foi autorizada em 2010.
O capítulo monográfico é dedicado à análise econômica da atividade dos meios de pagamento eletrônicos no negócio
bancário, centrado nos três principais meios disponibilizados pelas instituições bancárias: transferências, débitos e créditos
diretos, e pagamentos com cartão. O negócio dos meios de pagamento eletrônicos é muito relevante para as instituições
bancárias que o desenvolvem, seja de forma direta ou por meio de empresas em que têm participação, tanto por sua magnitude atual como pelas perspectivas de crescimento
Figura 6. Serviços de cobranças e pagamentos eletrônicos varejistas
Serviços de cobranças
e pagamentos
Pagamentos
com cartões
Transferências
Débito
Crédito
Débitos /
Créditos diretos
Pagamentos
Fonte: Afi.
Cobranças
Cessão
(interna)
Transferência
(externa)
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Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2015
As instituições financeiras, de forma associativa, exceto nos casos de República Dominicana e Colômbia, são proprietárias
ou administradoras exclusivas da infraestrutura necessária para a compensação e liquidação de transferências eletrônicas
e débitos/créditos diretos nos países analisados. São portanto as credoras dos benefícios gerados pelos serviços prestados
pela infraestrutura, por serem donas ou administradoras em condição de exclusividade. Isso em acréscimo às receitas por
comissões que os serviços reportam às instituições (banco emissor, banco receptor) que os prestam a seus clientes, que
podem ter preços diferenciados em função do grau de fidelização do cliente com a instituição.
No negócio de cartões, as instituições financeiras continuam sendo agentes essenciais na cadeia de valor nos casos em
que não delegaram integral ou parcialmente as funções a um terceiro. Contudo, a centralidade do papel das instituições
bancárias no negócio dos cartões está sofrendo fortes mudanças pela decomposição da cadeia de valor e a assunção de
funções essenciais por novos entrantes, em princípio, alheios ao negócio financeiro.
Há dois tipos de taxas ou comissões que são aplicadas nas transações de pagamento com cartão, além da comissão por
emissão - cobrada em geral uma vez ao ano do titular do cartão. Por um lado, a taxa de desconto é o pagamento realizado
pelo comerciante usuário do POS à instituição que exerce a função de adquirente, em geral um banco ou rede de cartões,
que costuma ter a participação de uma multiplicidade de bancos. Por outro, a taxa de intercâmbio é o pagamento realizado
pelo titular do POS (instituição que exerce a função de adquirente) ao fornecedor do cartão (instituição que exerce a função
de emissor) pelo uso do meio de pagamento. A taxa de desconto costuma estar liberada em praticamente todos os mercados, enquanto são mais comuns as limitações regulatórias (União Europeia) ou de mercado (México) à taxa máxima de
intercâmbio, distinguindo-se entre as aplicáveis às operações com cartão de débito e de crédito. Fazendo uma comparação
teórica com o volume total de comissões geradas pelas instituições bancárias pela prestação de serviços, observamos que
o negócio de pagamento com cartões (negócio emissor, negócio adquirente) representa uma fração importante do conjunto
de comissões cobradas pelas instituições, denotando o alto grau de dependência da geração das instituições na transacionalidade (operações de cobrança e pagamento).
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Como também temos analisado neste Relatório, destacamos a tendência dos serviços bancários por Internet, que cada vez
têm maior presença e protagonismo no conjunto de transações de pagamento de baixo valor nos dois lados do Atlântico. A
importância da Internet e dos serviços bancários pelo celular impulsiona a retroalimentação existente entre o setor TIC e o
negócio bancário, que oferece imensas oportunidades de colaboração entre os operadores dos dois setores. Na América
Latina, o comércio eletrônico experimentou um crescimento exponencial nos cinco últimos anos, quadruplicando o volume de vendas realizadas por este canal (CARG de 34% no período 2009-14). O e-commerce registrará um crescimento
interanual do volume de vendas em torno a 25% na região, onde o Brasil apresenta a maior parte do valor das vendas
registradas, seguido pelo México, a uma distância que diminui a cada ano. Em terceiro lugar está pela primeira vez o
Chile, superando a Colômbia. Na Espanha, o comércio eletrônico quase triplicou o volume de negócios nos últimos cinco
anos, principalmente graças ao aumento do número de internautas, à maior proporção dos que fazem compras online e
ao imparável crescimento da oferta de produtos e serviços à disposição do consumidor: em 2014, ocorreram 190 milhões
de operações de comércio eletrônico avaliadas em USD 21,1 bilhões, 25,9% a mais do que em 2013, ano em que também
ocorreu um crescimento similar, de 24,7% em relação a 2012.
O e-commerce já alcança um terço do faturamento nos estabelecimentos de varejo que o utilizam. O meio de pagamento
que tem maior aceitação por parte dos comerciantes online são os cartões de crédito e de débito, seguidos pelas transferências imediatas e PayPal.
Como novidade na presente edição do Relatório, a última parte analisa pela primeira vez a aceitação, o uso, o equipamento
associado e as atitudes perante os meios de pagamento em comércio varejista. As informações têm origem em uma pesquisa quantitativa dirigida ao setor formal de estabelecimentos varejistas nos países objeto de estudo.
Este novo foco frente ao considerado em anos anteriores sobre a propriedade e o uso de meios de pagamento entre a
população em geral tem o objetivo de dar uma visão complementar dentro do mercado dos meios de pagamento, já que o
comércio varejista é um agente muito relevante para entender as dinâmicas de adquirência e o crescimento potencial do
setor, assim como por sua função essencial na distribuição de bens e serviços, e na formalização efetiva das transações
da compra.
A situação é variada: Brasil, México e Espanha estão em uma situação positiva para o comércio varejista pelo alto nível
de aceitação dos cartões como meio de pagamento e a elevada satisfação dos comerciantes com aspectos do serviço.
O comércio dos países restantes tem ainda ampla margem para a incorporação e intensificação do uso desses meios de
pagamento.
01. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2015
Como seria de se esperar, por ser um mercado bilateral, os dados sobre a propriedade de cartões de crédito e/ou débito
desses países mostram que o desenvolvimento da aceitação no comércio varejista está associado com a propriedade de
cartões entre a população local.
No extremo de maior desenvolvimento, o alto nível de aceitação de cartões de crédito e débito no Brasil e na Espanha corresponde à maior penetração dos meios de pagamento nesses países. No extremo oposto, países como Peru e República
Dominicana estão no menor nível de aceitação dos cartões e também no quarto nível quanto a propriedade. Em um espaço
intermediário quanto a aceitação e propriedade, encontramos Colômbia e Chile, a primeira mais consolidada e a segunda
ligeiramente abaixo do nível de desenvolvimento esperado para o comércio. O México é o país que rompe este padrão de
relação entre propriedade e aceitação, com um setor formal de comércio varejista muito avançado, próximo aos países
líderes da região, enquanto por propriedade de cartões está em um terceiro nível, abaixo de Chile e Colômbia.
Figura 7. Propriedade de cartões de débito e/ou crédito (2014) vs aceitação de cartões de débito e/ou crédito em
estabelecimentos varejistas (2015)
Propriedade de cartões de débito
e/ou crédito (2014)
Aceitação de cartões de débito
e/ou crédito em PMEs (2015)
70,8%
60,1%
53,6%
78,7%
77,0%
76,8%
Brasil
51,7%
44,8%
50,9%
39,8%
38,8%
47,3%
46,3%
47,3%
Chile
29,1%
59,9%
59,0%
58,6%
Colômbia
39,7%
30,5%
29,0%
67,9%
65,7%
64,2%
México
30,9%
26,0%
19,2%
Peru
29,5%
24,1%
18,6%
República
Dominicana
81,2%
41,7%
41,7%
40,6%
47,0%
47,0%
44,0%
65,9%
65,6%
65,9%
Espanha
55,5%
71,0%
Total de cartões
Cartões de crédito
Cartões de débito
Posse de cartões de débito e/ou crédito (n = total por país ≈ 400 para 2014)
Fonte: Relatório Tecnocom sobre Tendências em Meios de Pagamento 2014
Aceitação de cartões de débito e/ou crédito em estabelecimento varejista (n = total por país ≈ 300 para 2015)
Fonte: elaboração própria a partir de pesquisa.
A aceitação de cartão de crédito e de débito por parte dos estabelecimentos é praticamente equivalente nos resultados
de cada país, confirmando que, em geral, não há uma diferença para o comércio varejista ao aceitar um cartão ou outro.
Outras variáveis de impacto no negócio e de custo financeiro manifestam as diferenças entre esses dois produtos.
Brasil e México são os países em que o comércio varejista aceita maior diversidade de meios de pagamento, seguidos
por Espanha, enquanto o Peru é o país que admite menor diversidade de meios de pagamento. Os cartões são meios de
segundo nível de aceitação, após o dinheiro vivo, com ampla flutuação em função do país analisado. O cheque e o depósito e/ou transferência bancária são meios de cobrança aceitos com penetração desigual: o primeiro, com altos registros
em Brasil, República Dominicana e México, e muito menor no Peru. Por sua vez, a transferência e/ou depósito bancário é
um meio muito aceito no México, com registros de aceitação entre 10% e 20% na maioria dos países e presença apenas
simbólica no Brasil.
10
Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2015
Há uma proporção interessante de comerciantes muito dispostos a incorporar o serviço no próximo ano: 7,1% do total de
comerciantes consideram muito possível (avaliação entre 7 e 10 pontos) incorporar o POS em seu negócio no próximo ano
(Figura 8). Os mais entusiastas estão na República Dominicana e no México (15,5% e 8,8% respectivamente). Se considerarmos esta informação como indicador de crescimento deste mercado no próximo ano, Brasil e México se manteriam
como os países líderes, com crescimentos de 5,6% e 8,8%, até chegar respectivamente a 84,1% e 76,7% de adquirência.
A Espanha não experimentaria crescimento especial (1,1%); Colômbia (6,8%) e República Dominicana (15,1%) poderiam
experimentar um crescimento importante ascendendo a um segundo nível; Chile e Peru manteriam os níveis de aceitação
com registros mais baixos.
Figura 8. Expectativas de crescimento de POS em comércio varejista por país, 2015
Potencial de estabelecimentos com POS para 2016
90%
Estabelecimentos que têm POS
84,1%
76,7%
80%
70%
78,7%
60%
54,0%
50%
62,1%
67,9%
59,9%
65,9%
47,4%
47,3%
40%
11
67,0%
66,7%
41,7%
47,0%
30%
Brasil
Chile
Colômbia
México
Peru
República
Dominicana
Espanha
n = total por país ≈ 300
Fonte: elaboração própria a partir de pesquisa.
Na busca de informações significativas para estimular a ampliação do mercado no setor do comércio varejista, foi analisada
a avaliação atribuída pelos comerciantes ainda não incorporados ao uso do POS a um conjunto de propostas comerciais.
Para identificar seu potencial incentivador, foi proposto avaliar nove ações comerciais / de serviço diferentes, segundo uma
escala de 0 (não incentiva nada) a 10 (incentiva muito).
A Figura 9 permite avaliar a ampla variabilidade das avaliações de cada incentivo proposto, expressiva de que os países
apresentam uma sensibilidade muito diferente perante o mesmo leque de alternativas. O Chile é o país que recebe com
mais entusiasmo o conjunto das propostas, com avaliações superiores a 7 em cinco das propostas. É seguido pela Colômbia, com uma média de pontos por incentivo de 6,2 e avaliações superiores a 7 em três dos incentivos. Entre os países
restantes analisados, domina uma atitude global de indiferença, ou ainda de prevenção e distância perante os incentivos
propostos. O Peru manifesta uma atitude geral ligeiramente positiva perante as iniciativas comerciais propostas, enquanto
os comerciantes em Espanha, República Dominicana e Brasil avaliam de modo menos favorável o potencial incentivador
das ações comerciais propostas. O México é o país que, em geral, apresenta-se mais resistente às ações comerciais propostas, dominando entre os comerciantes uma atitude de ceticismo, com uma média geral por incentivo de 3,6 pontos e
nenhuma avaliação acima de 4 pontos.
Em concordância com o que foi observado nas razões de não aceitação dos cartões, confirmamos a importância do aspecto econômico na aceitação do serviço, sendo “reduzir as comissões diretas por operação” a proposta melhor avaliada em
todos os países, exceto no caso do México. As propostas relacionadas com o uso de cartões sem contato ou pagamentos
móveis são em todos os casos as ações promocionais com menor poder incentivador da aceitação de cartões como meio
de pagamento.
01. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2015
Figura 9. Avaliação de incentivos à adquirência de cartões, 2015
Reduzir as comissões
diretas por operações
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Reduzir os custos de aluguel
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Poder ter algum seguro/garantia
sobre a cobrança, se a operação foi
realizada mediante pagamento com cartão
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Uma tarifa que unifique os custos
de dispor de Internet e os
terminais POS/Datafone
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Reduzir os custos de conexão
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
7,8%
7,7%
7,1%
5,5%
5,2%
6,2%
3,6%
7,7%
7,1%
6,6%
3,3%
6,8%
7,0%
6,5%
5,3%
6,4%
4,5%
6,5%
Chile
Colômbia
4,8%
6,0%
4,1%
3,8%
3,4%
Brasil
6,0%
3,8%
7,0%
6,1%
4,3%
3,8%
7,1%
5,5%
3,9%
3,6%
México
Peru
5,6%
5,4%
República Espanha
Dominicana
12
Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2015
Figura 49 (Continuação). Avaliação de incentivos à adquirência de cartões, 2015
13
Que o banco disponibilize um assessor
especializado em nosso setor,
que informe sobre o estado do setor,
novas vias de trabalho
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Que minha instituição bancária
me oferecesse (ainda não ofereceu)
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Que os clientes pudessem
pagar com cartão contactless
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Que os clientes pudessem pagar com
o telefone celular (com tecnologias
tipo NFC, códigos QR, mPOS, etc.)
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
7,2%
6,4%
4,1%
5,8%
3,8%
3,7%
6,6%
6,1%
5,4%
4,7%
3,3%
4,3%
4,4%
3,9%
5,9%
4,4%
2,9%
5,3%
4,0%
3,0%
Brasil
Chile
Colômbia
3,2%
4,3%
3,4%
3,8%
México
Peru
3,5%
3,7%
4,0%
4,1%
República Espanha
Dominicana
n = Estabelecimentos que não aceitam cartões de débito, crédito ou pré-pago
Fonte: elaboração própria a partir de pesquisa.
Atendendo a potenciais incentivos vinculados de forma direta com o negócio, os estabelecimentos colombianos, chilenos
e brasileiros são os mais interessados em acessar os dados estatísticos de vendas como ferramenta para suas estratégias
comerciais, sendo os aspectos mais interessantes para a análise o binômio “horários e dias da semana de maior atividade”.
Figura 10. Aspectos do negócio que resultam mais interessantes para a análise estatística das vendas
Brasil
31,9%
Chile
44,0%
Escolha dos dois aspectos mais
interessantes. Resposta múltipla
41,3%
60,7%
64,8%
18,6%
Colômbia
México
62,9%
51,6%
10,6%
50,4%
26,4%
61,0%
63,4%
Peru
28,3%
República
Dominicana
37,9%
Espanha
10%
20%
30%
n = total por país ≈ 300
Fonte: elaboração própria a partir de pesquisa.
40%
Dias da semana de mais atividade
74,2%
63,9%
50,7%
59,6%
64,0%
30,0%
0%
Horários de mais atividade
50%
60%
70%
80%
Valor médio das compras
realizadas com cartões
Madrid
c/ Miguel Yuste, 45
28037 Madrid
Tlf: (+34) 914 368 100 / 901 900 900
Att. Comercial. 902 135 555
Fax: (+34) 914 368 151
[email protected]
www.tecnocom.es