tendências em meios de pagamento 2014

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tendências em meios de pagamento 2014
Relatório Tecnocom sobre
TENDÊNCIAS EM MEIOS
DE PAGAMENTO 2014
Com a colaboração de
Relatório Tecnocom sobre
TENDÊNCIAS EM
MEIOS DE PAGAMENTO 2014
1.
Os maiores destaques
do Relatório Tecnocom 2014
Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2014
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1. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2014
1. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom
2014
2014 foi um ano caracterizado pelo lançamento de massa de tecnologias de pagamentos sem contato. Se na edição passada
indicávamos que os pilotos estavam concentrados em tecnologias com um grau de maturidade ainda incipiente, como NFC
e os diversos ecossistemas de wallets, este ano fica constatada sua subida para uma dimensão comercial por grande parte
das entidades dos dois lados do Atlântico. Comprovam isso os vários lançamentos de carteiras digitais, tanto na Espanha
(BBVA Wallet, iupay) como na América Latina, onde encontramos Mi Dinero Seguro (Brasil) e mpeso (República Dominicana),
entre outros, que posicionam a carteira móvel como o meio cada dia mais apto, tanto em ambientes emergentes (instrumento
de inclusão financeira) como naqueles mais desenvolvidos (onde se destacam a comodidade e a agilidade no momento do
pagamento). O interesse pela soluções de terminal de ponto de venda em dispositivos móveis (mPOS) consolida-se graças ao
aumento da aceitação, impulsionada pela adoção de pequenos comerciantes e profissionais liberais, junto com as inovações
incorporadas pelos fornecedores.
Observamos que as autoridades em geral mantêm um firme compromisso com a promoção do desenvolvimento dos meios de
pagamento eletrônico de forma segura e includente, motivo pelo qual têm ocorrido inovações também no âmbito regulatório,
que permitem atender mais e melhor as necessidades da população – sejam novas necessidades de população já usuária,
ou necessidades existentes de população desatendida – aproveitando os benefícios derivados dos contínuos avanços tecnológicos que a regulamentação procura acompanhar. No caso da Europa, que nos próximos dois anos experimentará um crescimento das contas de poupança básicas – conceito já estendido em Brasil, Colômbia, México e Peru – motivado pela nova
normativa do Parlamento Europeu que obrigará as entidades financeiras a oferecê-las a todos os residentes de forma gratuita
ou a um custo razoável. Neste contexto europeu, destacamos que a Espanha foi pioneira na transposição para a normativa
nacional (Real Decreto Lei 8/2014, de 4 de julho, que estabelece os limites para as taxas de intercâmbio em operações de
pagamento com cartão) da Diretiva Europeia de Serviços de Pagamento (PSD2) aprovada em 2013.
Por sua vez, na América Latina foram aprovados importantes projetos normativos, como a Lei de Inclusão Financeira na Colômbia, centrada nos meios de pagamento eletrônico como ferramenta para a inclusão financeira, o projeto de lei de emissores
não bancários de meios de pagamento com provisão de fundos no Chile e as disposições para regulamentar os serviços
relacionados com as redes de meios de disposição, cotas de intercâmbio e comissões de meios de pagamento eletrônico no
México. O Banco Central do Equador criou um novo Sistema de Dinheiro Eletrônico operado pelo telefone celular, que entrará
em funcionamento no próximo ano.
Uma tendência constatada é que as diferenças entre as duas regiões diminuem a cada ano. Dito isso, são muitas as particularidades nacionais e regionais referidas pelos dirigentes de meios de pagamento entrevistados, constatadas com dados oficiais
e informadas pelos usuários, que serão descritas e analisadas. A maior parte delas, no entanto, enfatizam as duas grandes
forças indicadas anteriormente, que, na opinião deles, estão incidindo de forma decisiva no desenvolvimento dos meios de
pagamento: a ação dos governos e a importância crescente da tecnologia na definição de novos modelos de negócios.
Do ponto de vista da oferta, globalmente são as transferências de crédito que exibem protagonismo absoluto no universo
dos meios de pagamento varejistas, observado o valor das transações. Na América Latina, representam 80,7% do valor das
operações de pagamento registradas em 2013 (USD 9,9 bilhões). Os débitos diretos continuam sem terminar de decolar e
alcançar cotas de representação como as que encontramos na Espanha e em Portugal; é um meio de pagamento ainda pouco estendido na região, apesar de seu uso ter crescido nos últimos cinco anos em países como Colômbia e México, embora
esteja estagnado em outros, como Brasil e República Dominicana.
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Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2014
Figura I: Valor das operações de pagamento na América Latina entre 2008 e 2013, por instrumento, em bilhões de
dólares
14.000
12.321,1
1,6%
12.000
13,2%
4,3%
10.000
Dinheiro (M0)
8.370,9
1,4%
8.000
Cheques
22,1%
Pagamentos com cartões
3,0%
6.000
80,7%
Débitos diretos
4.000
Transferências de crédito
73,3%
2.000
0
2008
2013
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos. Bank of International Settlements (BIS) para os dados de Brasil 2013.
Por sua vez, a evolução dos cartões de crédito e débito na América Latina experimentou um ritmo ascendente, de tal forma
que, em 2013, representam 4,3% do montante total das transações, frente aos 3,0% registrados em 2008. Utilizados em
71,6% do total de transações, os cartões destacam-se dos outros meios de pagamento, mostrando uma tendência ininterrupta
de crescimento sustentado em termos globais, como se pode observar na Figura II. O cheque registra de novo uma contração
no número de operações (11,8% do total), resultado de sua substituição gradual pelas transferências eletrônicas (16,1%), que
ocupam a segunda posição como meio de pagamento mais utilizado. Os débitos diretos na América Latina, como já adiantávamos, continuam sendo reduzidos, registrando inclusive uma queda relativa no número de operações no conjunto da região
durante o último quinquênio (0,73% do total de operações diferentes de dinheiro em 2008 vs 0,55% em 2013), embora o crescimento no número de operações em termos absolutos tenha sido próximo a 12%. Nesse ramo, existe uma ampla margem de
manobra para a intensificação de seu uso na região.
Figura II: Número de operações de pagamento na América Latina, 2008-2013, em milhões
12.000
10.000
8.000
Pagamentos com cartões
6.000
4.000
Transferências de crédito
2.000
Débitos diretos
0
2005
2006
2007
2008
Cheques
2009
2010
2011
2012
2013
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos.
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Em Espanha e Portugal, os meios de pagamento seguem uma evolução similar à da América Latina quanto à substituição
dos instrumentos baseados em papel, mas vemos que o valor total das operações diminuiu 21,2% acumulados entre 2008
e 2013, porque o aumento no uso de transferências de crédito, débitos diretos e pagamentos com cartões não compensa a
queda registrada no uso dos cheques e os títulos de crédito. Em matéria de débitos diretos, a Espanha é um caso singular
em nossa amostra de países devido à sua ampla representatividade, na medida em que este tipo de transações representa
17,2% do valor das operações de pagamento registradas na Espanha em 2013, como mostra a Figura III. Sua concepção
como mecanismo de controle do gasto (conciliação fácil dos lançamentos registrados nos extratos de conta) e de automação
de pagamentos representa um atrativo maior, especialmente nos pagamentos recorrentes e cotidianos (serviços básicos,
telefonia, serviços financeiros, parcelas, assinaturas, etc.), cujo desconto automático por meio de um mandato ou autorização
1. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2014
de débito em conta converte-o em um instrumento de pagamento ágil, seguro e eficiente. É por isso que tanto débitos diretos
como transferências de crédito e cartões ganharam relevância entre os meios de pagamento disponíveis, em parte pela extensão da disponibilidade e uso de canais remotos ou virtuais, como Internet ou serviços bancários por celular, que liberam o
usuário de ir à agência bancária para realizar este tipo de operações.
Em relação a dinheiro, aumentou 4,6% em 2013, contabilizando EUR 108 bilhões, embora o ritmo de crescimento registrado
envolva uma grande redução com relação aos movimentos contabilizados pelo Banco de Espanha em exercícios anteriores
a 2010, superiores a 10%.
Figura III: Valor das operações de pagamento na Espanha em 2008 e 2013, em bilhões de euros
2.500
2.174,7
2.000
1.500
Dinheiro (M0)
0,2%
7,8%
0,1%
25,0%
14,5%
4,5%
1.000
500
Resto
1.711,8
3,0%
5,8%
16,8%
17,2%
42,1%
53,1%
2008
2013
Títulos de crédito*
Cheques
Pagamentos com cartões
Débitos diretos
Transferências de crédito
0
* "Efectos" são títulos de crédito que podem ser cobrados (quando são a receber) ou que devem ser pagos (quando são a pagar) até a data de vencimento.
Fonte: Banco de España.
A Espanha registrou um pequeno aumento do número de cartões em circulação no último ano (+1,1%, cerca de 900.000
unidades), repercutindo positivamente na proporção de número de cartões por mil habitantes no caso dos cartões de crédito,
que havia diminuído desde 2008, pelo que se poderia falar de uma recuperação da tendência de crescimento. Os cartões de
débito por 1.000 habitantes diminuíram 3,9%. Tomando como referência o recorde de 76,4 milhões de cartões existentes em
2008, a contração no consumo privado e o encarecimento de sua contratação reduziram esse número para 69,7 milhões em
2013, o que corresponde a mais de 6,5 milhões de cartões de débito a menos: algumas entidades financeiras aumentaram
as comissões para compensar a redução de receitas de intermediação financeira, reduzindo o estoque individual de cartões
disponíveis.
Em conjunto, o número de operações de compra realizadas na Espanha com cartões espanhóis aumentou em 2013 (3,6%) a
taxas de crescimento superiores às registradas no período anterior (1,4%), segundo dados do Banco de Espanha.
Tabela I: Número de cartões de débito e crédito em circulação, 2013
Cartões de débito
Cartões de crédito
Brasil
291.217.770
Chile*
16.529.205
6.583.968
Colômbia
18.417.238
11.226.733
103.138.302
25.887.321
14.872.871
8.038.839
México*
Peru
República Dominicana
182.407.807
3.457.330
2.481.200
Espanha
26.480.000
43.260.000
Portugal
13.510.163
5.963.602
* Não inclui cartões de crédito de casas comerciais
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos.
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Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2014
A distribuição de cartões entre débito e crédito é desigual em nossos países objeto de estudo, predominando as primeiras
praticamente na totalidade, com exceção do Chile (considerando os cartões retail). Neste contexto, destaca-se o bom comportamento generalizado dos cartões de débito, cuja ascensão continua se destacando com relação à evolução dos cartões
de crédito, especialmente no Chile (crescimento anual composto de 15,1% no período 2008-14) e México (12,4%). Também
se pode apreciar um crescimento mais pronunciado no parque de cartões de crédito com relação aos de débito nos últimos
cinco anos tanto na Colômbia como no Peru, onde a proporção entre débito e crédito se reduziu a 1,6 (de 2,9 registrada em
2008) e 2,0, respectivamente.
Em relação ao tíquete médio dos pagamentos realizados com cartões de débito e crédito, observamos que em todos os
países do estudo, com exceção da Colômbia, o gasto com cartões de débito apresenta um comportamento similar, na faixa
entre os USD 27,64 no Brasil até USD 39,02 no Chile. O comportamento do gasto com cartões de crédito neste sentido é mais
desigual entre os países da região.
Figura IV. Tíquete médio em cartões de débito e crédito em 2013, USD
Crédito
Débito
140
120
100
80
60
40
20
l
a
ga
rtu
Po
nh
pa
na
ica
in
m
Re
p.
Do
Es
ru
Pe
ico
éx
M
ile
Ch
a*
bi
m
Co
lô
Br
as
il
0
* Os dados de Colômbia e Peru correspondem a 2012.
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos, Visa e Mastercard.
A Figura V evidencia a tendência de crescimento dos pontos de acesso de caixas automáticos (ATM) por milhão de habitantes na América Latina. Esta tendência é claramente oposta à experimentada do outro do Atlântico desde o início da crise
financeira internacional, cujos efeitos neste parâmetro foram acusados no último ano, especialmente em relação aos caixas
automáticos, em grande medida fruto do processo de emagrecimento da rede de agências dos sistemas financeiros de Espanha e Portugal. O Peru continua sendo o país que contabiliza um maior crescimento de caias no período, passando de 3.428
unidades em 2008 para 7.030 em 2013, o que representa uma taxa de crescimento anual composto de 15,4%, que duplica
a registrada pelos outros países, que se situaram na faixa entre 5% (Brasil, Chile, México e República Dominicana) e 10%
(Colômbia). O aumento do número de pontos de acesso (tanto ATM como POS) contribuiu para elevar a uma taxa incremental
o número e o valor das transações na região, em contraste com a tendência observada em Espanha e Portugal que, sem
deixar de crescer, apresentam ritmo menor.
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1. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2014
Figura V. Número de caixas automáticos por milhão de habitantes, 2008-2013
Brasil
1.800
1.600
Chile
1.400
Colômbia
1.200
México
1.000
Peru
800
600
República Dominicana
400
Espanha
200
Portugal
0
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Fonte: bancos centrais e superintendências de bancos.
Em termos de correspondentes não bancários, que não existem em Espanha e Portugal, observamos que a liderança é
mantida por Brasil, seguido por Colômbia e Peru, com maior atraso no crescimento por parte do México, apesar da recente
implementação da figura dos correspondentes com capacidade de abrir contas de processo simplificado aptas para receber e
realizar pagamentos eletrônicos. Os correspondentes não bancários são elementos essenciais na implementação de muitas
das políticas de inclusão financeira na região, sustentadas em grande medida nos meios de pagamento eletrônico, como
indicamos anteriormente.
Deste modo, o desenvolvimento dos pagamentos eletrônicos realizados pelos governos às pessoas (G2P), e mais concretamente aqueles que distribuem benefícios sociais (subsídios) aos segmentos vulneráveis da população na América Latina,
é essencial para melhorar o alcance, a eficiência e a administração dos recursos públicos. Os G2P em geral, e os subsídios
em particular, representam um importante volume de recursos e, sobretudo, um imenso número de transações de baixo valor,
com periodicidade muito elevada.
Observamos dois cenários diferenciados regionalmente: enquanto o uso de meios eletrônicos para pagamentos G2P,
fundamentalmente através de transferências bancárias (salários, pensões), encontra-se muito arraigado na administração
pública espanhola, na América Latina ainda é predominante o uso de dinheiro e/ou cheque no âmbito das transferências
sociais. Esta predominância deve-se fundamentalmente à dificuldade de alcançar a “última milha” na distribuição de pagamentos G2P em setores de população excluídos dos serviços financeiros formais por seu status socioeconômico e/ou
localização geográfica. Em geral, e embora existam programas sociais que fazem distribuição de produtos em espécie (alimentos, medicamentos, livros escolares, combustíveis), os programas de transferências sociais utilizam três modalidades
para o pagamento dos benefícios aos beneficiários: (i) pagamento em dinheiro, cheques ou cupões, ainda majoritário em
grande parte dos países; (ii) cartão de carteira eletrônica ou pré-pago; e/ou (iii) contas de poupança com ou sem cartão
associado, essas duas últimas apoiadas nos meios de pagamento eletrônico e que enfrentam ainda hoje importantes desafios, como analisaremos em detalhes no monográfico desta edição do relatório.
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Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2014
Figura VI. Tipologia de pagamentos G2P
Subsídios
Empréstimos
Reembolso de impostos
Salários
Pensões
Compras / Viagens
Apoios
Subsídios a empresas
Empréstimos
G2P
Pessoas
P2G
Pagamentos de impostos
Débitos por serviços
Infrações e multas
G2B
Governo
Empresas
B2G
Pagamentos de
impostos, taxas,
licenças
Fonte: Afi e Tecnocom.
Os maiores desafios derivam de fatores jurídicos, operacionais e inclusive culturais. Assim, encontramos o desafio de
acordar uma definição adequada, projeto e implementação de mecanismos de entrega de dinheiro que tenham eficácia de
custos e benefícios para as três partes participantes no processo (governo, entidade financeira e recebedora). Também
identificar, para posteriormente eliminar ou reduzir as restrições existentes – jurídicas, operacionais, culturais – ao uso de
meios de pagamento eletrônico que viabilizem as operações de forma bem-sucedida e sustentável. Por último, garantir
níveis adequados de educação financeira entre os recebedores dos pagamentos, assim como de transparência e proteção
ao usuário, para que os benefícios sejam entendidos pelos destinatários finais e, na medida do possível, alavancados para
outros âmbitos da inclusão financeira. Neste diagnóstico, concordam os executivos do setor que incursionaram neste tipo
de inovações, indicando também o enorme desafio operacional envolvido em transportar dinheiro para áreas remotas.
Como também viemos analisando neste Relatório, destacamos a tendência dos bancos por Internet, que cada vez tem
uma maior presença e protagonismo no conjunto de transações de pagamento de baixo valor para os dois lados do Atlântico, provocado principalmente pelo aumento do uso de dispositivos móveis como canal de acesso e início das ordens de
transações de pagamento, um hábito que facilita para os usuários realizar diferentes operações a partir do lugar onde se
encontrem, sem necessidade de chegar ao ponto de atendimento físico da entidade financeira. A importância da Internet
e dos serviços bancários pelo celular impulsiona a retroalimentação existente entre o setor TIC e o negócio bancário, que
oferece imensas oportunidades de colaboração entre os operadores dos dois setores. Neste sentido, a partir do fim de 2013
somos testemunhas de importantes alianças entre bancos e operadoras de telecomunicações para desenvolver novos negócios digitais e de serviços bancários pelo celular, como no caso de Claro e Bradesco no Brasil, ampliando o serviço Near
Field Communication (NFC) no país, ou do Banco de Brasil, com a operadora Oi e Visa, que lançaram uma nova solução
de pagamentos sem contato; na República Dominicana, o Banco Popular Dominicano e Orange lançaram o mpeso; na
España, Caixabank, Santander e Telefónica criaram novos serviços digitais de pagamento (Yaap Money).
O comércio eletrônico experimenta um crescimento exponencial nos cinco últimos anos na América Latina, onde se quadruplicou o faturamento realizado por este canal, em linha com a melhoria dos índices de inclusão financeira (índices de
bancarização e de penetração dos meios de pagamento eletrônicos) e a maior segurança do canal que, segundo os executivos do setor, é um dos cavalos de batalha da indústria de meios de pagamento. Esta tendência evidencia a crescente
importância que, para o desempenho da vida diária, estão adquirindo outros meios de pagamento diferentes do dinheiro em
espécie na América Latina. De fato, entre internautas há mais peso da população bancarizada do que entre não internautas,
mantendo-se a desigualdade detectada em anos anteriores, destacando especialmente nos países com menor nível de
bancarização, entre os quais a proporção de bancarizados entre os internautas é maior, como ocorre em México, Peru,
Chile e República Dominicana. O meio de pagamento que mais usuários empregam nas compras online são os cartões de
crédito, seguidos pelos de débito, dinheiro (seja no momento do recebimento ou pagamento direto) e PayPal, como ficou
refletido na edição anterior deste Relatório. A exceção mantém-se para o caso do Peru, onde o pagamento em dinheiro e o
depósito ou transferência bancária são os meios com maior número de usuários.
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1. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2014
Na Espanha, o comércio eletrônico que mais duplicou o volume de negócios nos últimos cinco anos, principalmente graças
ao aumento do número de internautas e a maior proporção dos mesmos que fazem compras online. Os números publicados pela Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência relativos ao exercício de 2013, que contabiliza as compras
realizadas por Internet com cartão de crédito ou débito, comprovam este comportamento: foram registrados 190 milhões
de operações de comércio eletrônico, que envolveram um volume de negócios de USD 16,9 bilhões, 24,7% mais do que
em 2012. Cartão de débito e Paypal posicionam-se como os meios de pagamento preferidos pelos consumidores online.
Os atributos do comprador online frequente concorrem em todos os países analisados; homens com menos de 40 anos,
com um equipamento tecnológico mais avançado do que a média, o que favorece seu pertencimento a um segmento
socioeconômico médio-alto e alto, residente em grandes cidades ou áreas metropolitanas, com uma maior presença de
cartões de débito e crédito bancário. Isso deriva em uma tipologia de compra frequente associada ao perfil: produtos e
serviços relacionados com viagens, lazer, eletrônicos e moda são os mais adquiridos através de internet com cartão em
qualquer dos países considerados.
Em linha com as edições anteriores, a última parte do relatório inclui uma análise da demanda de meios de pagamento em
Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru, República Dominicana e Espanha. Os resultados obtidos permitem identificar uma
tendência de desaceleração dos cartões de crédito em boa parte dos países, com aumento da presença do débito em vários deles. Do conjunto de países (ver Figura VII), destaca-se o comportamento do Brasil, onde duas em cada três pessoas
dispõem de algum plástico, o que faz dele o país da região com mais titulares de cartões. De fato, consolida-se como o
grande país da América Latina em sua relação com o setor bancário, seguido por Chile e Colômbia, onde a metade da população dispõe deste meio de pagamento. A certa distância, poderíamos enquadrar um terceiro grupo de países, composto
por México, Peru e República Dominicana, onde uma maioria da população ainda não está bancarizada. O Peru apresenta
um retrocesso em bancarização (como o Chile), enquanto República Dominicana destaca-se pelo notável crescimento da
bancarização nos últimos dois anos, superior a 5 pontos.
Figura VII. Posse de cartões de débito e/ou crédito, por país (2012 vs 2014)
2012
70,4%
58,9%
53,0%
2014
70,8%
60,1%
53,6%
Brasil
54,5%
47,4%
Chile
28,9%
50,2%
39,1%
31,3%
39,6%
29,4%
26,6%
33,0%
26,2%
15,8%
24,4%
18,4%
14,9%
Colômbia
México
54,2%
Total de cartões
50,9%
39,8%
38,8%
39,7%
30,5%
29,0%
Peru
30,9%
26,0%
19,2%
República
Dominicana
29,5%
24,1%
18,6%
84,1%
73,7%
51,7%
44,8%
29,1%
Espanha
Cartões de crédito
81,2%
55,5%
71,0%
Cartões de débito
n = total por país ≈ 400
Fonte: elaboração própria a partir de pesquisa.
Entre os titulares de cartões, domina a preferência do uso para gastos grandes, exceto em Colômbia e Chile, onde a maioria
opta por dinheiro em espécie, sendo líder o Brasil, pela maior preferência por realizar todos os tipos de pagamentos com
cartão. Por sua vez, México e Peru, em linha com as preferências dominantes, também apresentam uma proporção substancial de titulares (25%) que evitam ao máximo possível usar o cartão, em linha com o refletido pelos titulares de cartões
na República Dominicana.
A Espanha é o país em que um menor número de titulares de cartões as consideram como um método de pagamento a
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Relatório Tecnocom sobre TENDÊNCIAS EM MEIOS DE PAGAMENTO 2014
evitar, e o segundo, após o Brasil, onde mais preferem utilizá-lo para todos os tipos de pagamentos. De fato, é na Espanha,
país com a mais elevada penetração de plásticos, onde se faz um menor uso do cartão, mas onde, quando é usado, são
realizados pagamentos de maior valor. Isso nos leva a estimar que as mudanças normativas recentemente inauguradas
– limites para as taxas de intercâmbio – certamente contribuirão para modificar este comportamento nos próximos anos,
permitindo observar um uso mais intenso do cartão para pagamentos de menor valor.
O Relatório deste ano analisa, a partir de um estudo quantitativo, quais elementos podem incentivar o uso dos cartões de
crédito entre os titulares, e quais podem fomentar a contratação entre aqueles que ainda não os têm. Assim, a eliminação
de parcelas de manutenção e a redução das taxas de juros são os elementos que mais estimulariam o uso dos cartões de
crédito, enquanto os seguros contra roubo ou perda nas compras é o elemento que mais animaria aqueles que ainda não
possuem a contratá-los.
Para incentivar um maior uso dos cartões, destaca-se na América Latina a proposta relacionada com a oferta de um maior
controle da informação dos gastos realizados, o que evidencia a existência de uma demanda não plenamente coberta
de facilitar a gestão das finanças pessoais, especialmente em Chile, México, Peru e República Dominicana. Também se
evidencia um interesse (especialmente em Colômbia, República Dominicana e Espanha) pela obtenção de benefícios econômicos imediatos, cuja ausência atualmente é um freio ao uso deste meio de pagamento.
Por sua vez, entre os incentivos à contratação entre as pessoas que não dispõem de um plástico atualmente destacam-se
os seguros - a motivação é a falta de experiência que se traduz em um temor de que um produto de financiamento possa ser
roubado ou perdido – especialmente em Colômbia e República Dominicana - seguidos por reembolsos de gastos, isenção
do pagamento das parcelas de manutenção e redução das taxas de juros. Neste cenário (contratação), a informação sobre
os gastos não desperta interesse.
Em conjunto, destacam-se Colômbia e em menor medida República Dominicana como os países em que as propostas a
priori poderiam ter maior incidência tanto para incentivar a contratação como o uso de cartões.
Figura VIII. Avaliação de propostas para incrementar o uso de cartões de crédito com valor máximo, mínimo e
médio (escala 0-10)
9,0
8,5
8,0
Máx. 8,3
7,5
7,4
7,0
Mín. 7,1
6,5
Máx. 7,6
6,8
6,0
Máx. 7,6
6,7
Mín. 5,8
5,5
Máx. 7,9
Máx. 7,6
6,9
Mín. 6,0
Máx. 7,2
6,7
7,3
Mín. 6,8
Mín. 5,8
Mín. 5,0
5,0
4,5
4,0
Conseguir melhorias
ao usar o cartão (não
pagar parcelas,
reduzir taxas)
Ter informações sobre
os gastos realizados
(datas, valores, tipos de
compra e comparações)
Seguro para as
compras realizadas
em caso de roubo
ou dano
Presentes ao
acumular pontos
pelo uso do cartão
de crédito
Cupões de desconto
por uso mais habitual
Devolução dos gastos
com os cartões de crédito
em determinados
estabelecimentos
n = Dispõem de cartão de crédito bancário ou privado
Fonte: elaboração própria a partir de pesquisa.
Os serviços bancários por celular duplicaram o número de usuários no último ano em Colômbia e México, graças à expansão do smartphone. Este crescimento tão significativo tendeu a igualar o nível de acesso ao sistema bancário através do
terminal móvel, hoje em níveis próximos a 50% dos bancarizados que acessam a Internet pelo celular em todos os países
com exceção de Brasil e Chile, que apresentam uma certa estagnação, explicada pelo maior incremento no número de
usuários de Internet em relação aos usuários de serviços bancários por celular.
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1. Os maiores destaques do Relatório Tecnocom 2014
O Indicador Tecnocom de demanda por meios de pagamento eletrônicos (Figura IX) apresenta algumas melhorias em alguns países e evidencia uma piora da situação em outros. Segundo este indicador, que permite a comparação direta entre
o nível de desenvolvimento dos meios de pagamento eletrônicos nos países analisados, a Espanha é o país com maior
pontuação; ainda que, com quase meio ponto de retrocesso em relação ao ano anterior, sem dúvida amortize a sua queda,
principalmente devido à estabilidade de seus dados de meios de pagamento em relação ao ano passado (sobretudo débito)
e à compra online, embora o pagamento móvel ainda não tenha conseguido se consolidar até o momento como alternativa
aos outros meios de pagamento eletrônico.
Em segundo lugar, está o Brasil, embora apresentando uma certa estagnação com relação ao exercício anterior. Depois do
crescimento da penetração e do uso durante os últimos anos, ocorreu uma redução, apesar de que continua mantendo uma
posição muito sólida dentro do mercado latino-americano. É seguido por Chile e Colômbia, estreitando as distâncias entre
eles. Enquanto o Chile também melhora em dois pontos seu resultado em relação a 2012 - devido ao crescimento moderado da frequência de uso dos cartões e da compra online, apesar da perda de peso detectada nos cartões de crédito não
bancários - a Colômbia melhora em quase quatro pontos, registrando o maior crescimento no indicador este ano, devido
ao aumento no número de usuários de cartões, sobretudo de débito, assim como a melhoria da compra online. O México
registra um crescimento de dois pontos no indicador, provocado principalmente pelo maior uso dos plásticos, enquanto o
Peru cresce menos de um ponto, favorecido pela extensão no pagamento com celular, mas afetado por uma estagnação
na penetração e no uso dos cartões.
Por último, a República Dominicana mantém um crescimento sustentado e positivo de um pouco mais de dois pontos, com
origem em três elementos: melhoria da presença dos diferentes cartões, uma relativa extensão de seu uso e maior extensão do pagamento com celular e a compra online.
Figura IX. Indicador Tecnocom de demanda por pagamentos eletrônicos
Espanha
77,3
Brasil
66,3
Chile
54,0
Colômbia
50,0
México
74,2
69,1
República
Dominicana
69,4
58,1
56,4
51,4
47,6
37,4
Peru
73,8
35,0
31,0
33,2
28,4
37,0
31,9
30,6
26,8
2012
2013
2014
n ≈ 400 por país (2.800 no total)
Fonte: elaboração própria a partir de pesquisa.
13
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