um olhar lexical para o processo de alteamento: especialização

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Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 14 • novembro 2014
UM OLHAR LEXICAL PARA O PROCESSO DE ALTEAMENTO:
ESPECIALIZAÇÃO SEMÂNTICA1
Anna Carolina da Costa Avelheda (UFRJ)2
[email protected]
RESUMO: No estudo da variação linguística, sobretudo no nível fonético-fonológico da língua, duas são
as abordagens propostas: a neogramática, que considera que o único condicionamento atuante é o
fonético, e a difusionista, que considera que o condicionamento lexical é mais atuante, tendo em vista que
há processos fonológicos que não são explicados somente por condicionamentos sonoros. O processo de
alteamento, que faz as vogais médias de segundo grau [e, o] passarem a vogais altas [i, u] na posição
átona, é geralmente descrito como um fenômeno de harmonização vocálica. Segundo Camara Jr. (2006:
44), “as oposições entre /o/ e /u/, de um lado, e, de outro lado, /e/ e /i/, ficam prejudicadas pela tendência
a harmonizar a altura da vogal pretônica com a da vogal tônica”. Abaurre-Gnerre (1981), considerando
que o alteamento de uma vogal pretônica nem sempre se justifica em virtude da harmonização vocálica,
sugere outra abordagem para a análise do fenômeno: o processo de redução vocálica, segundo o qual se
reduz a diferença articulatória entre a vogal pretônica e as consoantes que lhe são adjacentes. Ao lado
dessa abordagem de cunho neogramático, Viegas (2001) aponta que há itens que possuem contexto, mas
não são atingidos pela regra de alteamento, enquanto outros não o possuem e são atingidos. Oliveira
(1991) afirma que o contexto fonético não garante que o processo se aplique ou não aos itens sob análise,
de modo que uma abordagem de natureza difusionista melhor poderia explicar seu funcionamento. O
processo atingiria primeiramente os itens utilizados em situações mais familiares ou menos prestigiadas.
Com base no corpus constituído por meio de entrevistas com informantes de Nova Iguaçu, disponíveis no
sítio eletrônico do Projeto Estudo Comparado dos padrões de concordância em variedades africanas,
brasileiras e europeias, o presente trabalho, inserido na análise sociolinguística variacionista de
orientação laboviana (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968), pretende elaborar uma análise que
considerará cinco casos de especialização semântica encontrados durante a pesquisa sociolinguística.
Tratam-se como especialização semântica os dados de pares homônimos como concerto vs. cunserto,
Senhor vs. sinhor, porção vs. purção, nos quais o alçamento se relaciona ao desprestígio do item ou ao
grau de intimidade do informante com ele. Segundo Labov (2008: 290), “os falantes não aceitam de
imediato o fato de que duas expressões diferentes „têm o mesmo significado‟ e existe uma forte tendência
a atribuir significados diferentes a elas”. Cristófaro-Silva (2001) argumenta que “o falante faz escolhas
lexicais específicas em situações específicas”. A análise se dividirá em duas partes: inicialmente, será
realizada uma revisão teórica a respeito do papel do léxico no condicionamento de um fenômeno e da
especialização semântica das variantes envolvidas; em seguida, serão levados em consideração os dados
de especialização semântica identificados no corpus supracitado, com vistas a observar como o critério do
prestígio social determina as escolhas específicas para cada situação.
PALAVRAS-CHAVE: Variação; Alteamento; Pretônicas; Difusão lexical; Especialização semântica.
ABSTRACT: In the study of linguistic variation, especially in the phonetic-phonological level of
language, two approaches are proposed: a neogrammarian, which believes that the only active
1
O presente artigo é parte de Dissertação de Mestrado intitulada O alteamento das vogais médias
pretônicas no Município de Nova Iguaçu: análises sociolinguística e acústica, orientada pela Professora
Doutora Eliete Figueira Batista da Silveira (UFRJ) e defendida em Março/2013.
2
Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde
atua como Professora Substituta do Setor de Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas.
E-mail: [email protected]
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conditioning is phonetic, and diffusionist, which considers the lexical conditioning is more active, having
in mind that there are phonological processes that are not explained only by sound conditioning. The
process of increasing height, which makes middle vowels of the second degree [e o] passing the high
vowels [i, u] in unstressed position, is usually described as a phenomenon of vowel harmonization.
According to Camara Jr. (2006: 44), "the opposition between /o/ and /u/, on one side, and on the other
hand, /e/ and /i/, are hindered by the tendency to harmonize the height of the vowel unstressed to the
stressed vowel." Abaurre-Gnerre (1981), considering that the lift of an unstressed vowel is not always
justified because of vowel harmonization, suggests another approach for the analysis of the phenomenon:
vowel reduction process, whereby it reduces the articulatory difference between unstressed vowel and
adjacent consonant. Alongside this approach neogrammarian, Viegas (2001) points out that there are
items that have context, but this items not affected by the increasing height rule, while others who do not
have it and are reached. Oliveira (1991) states that the phonetic context does not guarantee that the
process whether or not they apply to the items under analysis, so that a diffusionist approach to nature
could better explain its operation. The process first reach items used in more or less prestigious family
situations. The corpus consists of interviews with informants from Nova Iguaçu, available on the website
Project Comparative Study of Standards of Agreement in African, Brazilian and European varieties, and
this paper, inserted in labovian variationist sociolinguistics (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968),
aims to examine five cases of semantic specialization encountered in sociolinguistic research. We call
semantic specialization the data pairs of homonyms conserto vs. cunserto, senhor vs. sinhor, porção vs.
purção, where the uprising relates to discredit the item or the degree of intimacy of the informant with
these items. According to Labov (2008: 290), "the speakers did not immediately accept the fact that two
different expressions 'have the same meaning' and there is a strong tendency to attribute different
meanings to them". Cristófaro-Silva (2001) argues that "the speaker makes specific lexical choices in
specific situations". The analysis is divided into two parts: first, we conducted a literature review on the
role of the lexicon in conditioning a phenomenon and the specialization semantic of the variants involved;
then, we will consider the data of semantics specialization identified in the corpus, in order to observe
how the criterion of social status determines the specific choices for each situation.
KEYWORDS: Variation; Raising; Unstressed; Lexical diffusion; Semantic specialization.
1 Introdução
Caracterizado pela elevação das vogais médias pretônicas, o processo de
alteamento vem sendo muito estudado nas mais variadas regiões do território brasileiro.
Viegas (1987; 2001) concentrou-se no dialeto de Belo Horizonte, Bisol (1981) dedicouse ao dialeto gaúcho, Silva (2008) observou o comportamento das pretônicas em Recife,
Callou (1986; 1991; 1995) focou o Rio de Janeiro, Brandão & Cruz (2005) analisaram
falares dos Estados do Amazonas e do Pará. Além desses, inúmeros outros foram
desenvolvidos levando em consideração cidades mais interioranas, com vistas a
reconhecer se havia diferença de aplicação do processo na fala de informantes dos
centros urbanos e na de informantes de regiões mais afastadas. Lemos (2003) dedicouse a Divinópolis, cidade localizada a 110 Km de Belo Horizonte, Silveira & Tenani
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(2007) concentraram-se em dialeto do interior Paulista, Avelheda & Batista da Silveira
(2011b) estudaram comparativamente os municípios do Rio de Janeiro e de São Fidélis.
As pesquisas supracitadas costumam considerar o fenômeno de alteamento como
um processo de harmonização vocálica, pelo qual a vogal pretônica assimila o traço de
altura da vogal que se lhe segue, mas há autores que compreendem que não é apenas a
vogal subsequente que exerce influência sobre a candidata à elevação, mas também as
consoantes que lhe são adjacentes. Viegas (1987, p. 63) afirma que parecem ser dois
processos diferentes controlando o alteamento: a harmonização vocálica, que atua mais
fortemente no caso da vogal anterior, e o enfraquecimento da vogal por assimilação de
traços consonantais adjacentes, que seria mais significativo entre as vogais posteriores.
Outra observação a respeito dos contextos em que se encontra a pretônica é vista em
Barroso (1999, p. 128), para quem o vocalismo pretônico tem de ser considerado
individualmente, dentro de cada um dos tipos de sílaba em que ocorre.
Em contrapartida, análises pautadas em uma abordagem difusionista preveem
que não é efetivamente o condicionamento fonético que prevalece, mas o
condicionamento lexical, de modo que palavras mais frequentes, utilizadas em
contextos menos formais de fala, seriam mais rapidamente alteadas. Desse modo, podese pensar na ocorrência de uma especialização semântica, de maneira que o alçamento
se relaciona ao desprestígio do item ou à intimidade do informante com ele. A esse
respeito, Labov (2008, p. 290) afirma que “os falantes não aceitam de imediato o fato de
que duas expressões diferentes realmente „têm o mesmo significado‟ e existe uma forte
tendência a atribuir diferentes significados a elas”. O processo de alteamento se
prestaria à atribuição de significados diversos aos itens atingidos? Se sim, quais
significados seriam introduzidos pela variante alteada em oposição à variante média? Se
não, se não há mudança de significado a depender da variante utilizada, o que faz com
que o informante ora opte pela variante alteada, ora prefira a variante média?
Objetivando contribuir para a solução dos problemas apontados, há muito
observados nas mais diversas pesquisas a respeito do processo, o presente estudo pautase na sociolinguística variacionista de orientação laboviana (WEINREICH, LABOV &
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HERZOG, 2006). A constituição do corpus foi realizada a partir da coleta de dados de
inquéritos de Nova Iguaçu, sendo um homem e uma mulher de cada faixa etária (18 a
35 anos; 36 a 55 anos; 56 a 75 anos), distribuídos pelos níveis fundamental, médio e
superior de escolaridade. Encontrando-se dados alteados que se tenham especializado
semanticamente com relação às realizações não-alteadas, empreendeu-se uma análise
lexical, visando à verificação dos significados veiculados pelos que foram atingidos
pelo processo e à análise do porquê de se ter escolhido, para expressão desse significado
específico, a variante alteada em detrimento da variante médio-alta.
A discussão aqui apresentada, embora fundamentada na abordagem difusionista
dos fenômenos variáveis, não girará em torno de quais são os itens primeiramente
atingidos e do porquê de o serem em detrimento de outros, mas na questão de o mesmo
item ora ser atingido pelo processo – expressando um significado jocoso, depreciativo,
zombeteiro ou menos prestigiado, ora não o ser – quando o significado a ser expresso é
mais valorizado ou prestigiado socialmente. Tais observações serão baseadas em quatro
casos de especialização semântica encontrados no corpus de Nova Iguaçu – a saber,
sentido, serviço, segurança e português.
Para o desenvolvimento de tal estudo, o presente trabalho será estruturado em
três seções. Na primeira, intitulada Olhar lexical sobre o processo de alteamento, será
apresentada a revisão da literatura concernente ao fenômeno sob análise, levando-se em
consideração a perspectiva difusionista. Na segunda seção, intitulada Procedimentos
metodológicos da análise lexical, será descrita a metodologia que norteou a constituição
do corpus específico para a análise a ser empreendida. Na terceira seção, intitulada
Especialização Semântica, serão apresentados os resultados a que se pôde chegar por
meio da implementação de um olhar lexical sobre os dados de Nova Iguaçu
supracitados.
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2 Olhar lexical sobre o Processo de Alteamento
As mudanças sonoras costumam ser abordadas sob duas perspectivas de análise:
a neogramática e a difusionista. A perspectiva neogramática propõe que as mudanças
sonoras: (i) são condicionadas apenas por fatores fonéticos, não estando submetidas a
nenhum fator de outra ordem – seja ele linguístico ou extralinguístico; (ii) são
foneticamente graduais e lexicalmente repentinas, atingindo todos os itens lexicais com
contextos semelhantes; e (iii) são realizadas de acordo com leis fonéticas que não
reconhecem exceções. A perspectiva difusionista, por sua vez, tem como unidade
controladora da mudança o léxico e propõe que (i) há processos fonológicos que não são
explicados somente por condicionamentos sonoros, mas por uma gama de fatores,
incluindo os de natureza discursivo-pragmática e sociogeográfica; (ii) as mudanças
sonoras são foneticamente abruptas e lexicalmente graduais, já que nem todos os
vocábulos que contêm o som em mudança são afetados simultânea e igualmente; e (iii)
há exceções a mudanças sonoras que não podem ser explicadas por analogia.
Kiparsky (1993) e Gonçalves (1997) afirmam que as duas doutrinas podem atuar
juntamente, complementando-se, haja vista que ambos os modelos podem dar conta dos
dados da língua. Chen & Wang (1975 apud OLIVEIRA, 1991, p. 101) afirmam que o
surgimento de uma mudança sonora tem a ver com as restrições inerentes aos aparelhos
fisiológico e perceptual dos falantes, ao passo que sua implementação se realiza através
de difusão lexical. Krishnamurti (1978 apud OLIVEIRA, 1991, p. 94) demonstra que
dois são os fatores envolvidos como possíveis determinantes do grau de exposição das
palavras à mudança sonora: frequência e domínio semântico, sendo este uma área de
experiência coberta pelo conjunto de termos de determinado campo semântico
(CRYSTAL, 2000, p. 88). Nesses termos, itens que apresentam maior frequência de uso
são mais vulneráveis do que os restritos a dados domínios semânticos.
Os defensores dessa perspectiva acreditam que cada item lexical tem sua própria
história e, portanto, é atingido de forma diferente pelas mudanças sonoras. Krishnamurti
(1978: 16 apud OLIVEIRA, 1991, p. 94) questiona-se quanto a
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Que tipo de itens lexicais tende a ser a primeira vítima de uma mudança
sonora? Outras condições estruturais equiparam-se para a implementação de
uma mudança sonora? Há algo no domínio semântico de certos itens, ou em
suas frequências, que os faça mais vulneráveis à mudança que outros?
Duas são as propostas para definir as „primeiras vítimas‟ de uma mudança
sonora. A primeira delas, assumida por Leslau (1969: 181 apud OLIVEIRA, 1991, p.
81), vale-se da noção de frequência: os itens lexicais mais frequentes são os mais
expostos e, portanto, são primeiramente afetados. Para Phillips (1984 apud OLIVEIRA,
1991, p. 97),
se uma mudança é motivada por fatores fisiológicos, agindo nas formas
fonéticas de superfície, os itens lexicais mais frequentes serão atingidos
primeiro; por outro lado, se ela é motivada por fatores não fisiológicos, que
atuam nas formas subjacentes, originando-se na esfera conceitual da
linguagem, as palavras menos frequentes serão atingidas em primeiro lugar.
A segunda proposta, assumida por Oliveira (1992) em análise do comportamento
do processo de monotongação em palavras como gueixa e deixa, vale-se da noção de
erudição: os itens lexicais marcados como [- Comum] são mais resistentes à mudança.
Uma questão que sobrevém às duas propostas para discriminação das primeiras vítimas
de uma mudança é: como identificar os itens que são mais ou menos frequentes, mais
ou menos eruditos? Ou seja, como determinar quais itens têm frequência mais alta em
determinada comunidade de fala e quais são os menos eruditos?
Oliveira (1995, p. 87) propõe que “[± Frequente] e/ou [± Formal] sejam traços
atribuídos aos itens lexicais a partir das configurações contextuais em que eles se
encontram, e não que sejam vistos como traços intrínsecos”:
uma vez que a frequência do contexto que comporta determinado item léxico
não é a mesma de falante para falante, é de se esperar que a marcação de um
determinado item léxico como [± Frequente] também não seja idêntica de
falante para falante, ou de comunidade para comunidade. Assim, podemos
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preservar a ideia de que o traço [Frequência] tenha algo a ver com a
exposição dos itens lexicais a uma determinada mudança [...] sem ter que
marcar um determinado item léxico sempre do mesmo modo: ele será
marcado como + ou - dependendo da frequência do contexto onde ele ocorre
na „praxis‟ linguística dos falantes (ou de grupos de falantes).
Em se tratando do processo sob análise neste estudo, palavras mais frequentes
tendem a ser alçadas mais rapidamente, mesmo que tal realização das mesmas não seja
encontrada no uso de outros falantes. Essa abordagem alternativa, além de resolver o
problema de identificação das palavras que seriam mais frequentes, resolve, ainda, o
fato de palavras que não são alçadas na realização de um falante poderem sê-lo na de
outro que com elas tenha maior “intimidade”. Assim se justifica o fato de uma
costureira usar a variante alta em tecido e dedal, de um Sacerdote a utilizar em
seminário e confessionário, e de um cozinheiro a utilizar em cebola.
Oliveira (1991, p. 101), no entanto, acredita que “a frequência alta de ocorrência
não parece ser um fator interessante para a seleção dos itens lexicais que serão atingidos
primeiro pelo Alçamento de Pretônicas”. Para o autor,
as primeiras „vítimas‟ de uma mudança sonora do tipo X  Y/Z3 são as
palavras que apresentam os seguintes traços: X ocorre num nome comum; Z
oferece um contexto fonético natural para Y; X é parte de uma palavra que
ocorre em contextos informais de fala (p. 102).
Para Oliveira (1991, p. 102), portanto, há três fatores que podem inibir as
mudanças sonoras: (a) nomes próprios, que podem preservar uma forma antiga e resistir
à mudança; (b) reação contrária por parte de uma classe social, que provoca um efeito
retardador e pode trazer proteção temporária a algumas palavras; e (c) estilos de fala
formais, que provocam um efeito inibidor. Citado como relevante para que uma palavra
seja selecionada como „primeira vítima‟ de uma mudança sonora, o traço de
3
Leia-se tal “equação” como “X realiza-se como Y em contexto Z”, que indica que o contexto fonético Z
demonstra-se favorecedor do processo sob análise. No caso do fenômeno de alçamento das vogais
pretônicas, pode-se escrever uma equação do tipo /e/  [i] / #_ N, por exemplo, que deve ser lida como
“/e/ realiza-se como [i] em contexto inicial de vocábulo quando em sílaba travada por consoante nasal”,
como se observa em encontrar e entender.
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[Formalidade] passa a ser considerado “derivado da empatia entre o falante e o contexto
onde sua fala é produzida” (OLIVEIRA, 1995, p. 87):
Assim, nenhum item léxico será marcado como [± Formal] por natureza ou
por comparação: esse traço será atribuído a partir da marca a ser atribuída à
própria situação de fala (ou, dizendo de outra forma, à empatia entre o falante
e a situação de fala).
O autor defende que “todas as mudanças sonoras são lexicalmente
implementadas” e que os casos que, no presente, não demonstram difusão lexical,
demonstraram-na no passado. Sobre estes casos que ora não demonstram
condicionamento lexical, declara que “uma mudança sonora da forma X  Y/Z pode
atingir regularidade se, e somente se, Z fornece um ambiente fonético natural para Y”,
fazendo-se possível a destruição gradual das “barreiras lexicais de uma mudança
sonora”, visto que se atinge “regularidade a longo prazo” (p. 102).
Portanto, “o léxico controla as mudanças sonoras, abrindo ou fechando as portas
à sua implementação, acelerando ou retardando a sua implementação”, mas passa a ser
visto, com base na abordagem alternativa que determina que os traços [± Frequente]
e/ou [± Formal] dependem diretamente das configurações contextuais em que os itens
lexicais se encontram, como “um conjunto de traços que são construídos caso a caso,
nas situações concretas de interação verbal, e não como algo previamente determinado,
que não pode ser alterado” (OLIVEIRA, 1995, p. 88).
Também previsto no cerne dessa abordagem encontra-se o fato de que pode
haver uma especialização semântica, de modo a reservar cada variante para a expressão
de um sentido particular. Para Labov (2008, p. 290), “os falantes não aceitam de
imediato o fato de que duas expressões diferentes realmente „têm o mesmo significado‟
e existe uma forte tendência a atribuir diferentes significados a elas”. Cristófaro-Silva
(2001) argumenta que “o falante faz escolhas lexicais específicas em situações
específicas”.
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No que tange ao processo de alteamento, itens mais coloquiais tendem a
apresentar a realização da vogal pretônica como alta, ao passo que a variante média é
reservada para empregos linguísticos de maior prestígio. Itens como precisa, porção e
fogão são marcados por uma mudança semântica, decorrente da manutenção do timbre
da vogal média pretônica ou de sua realização como uma vogal alta, conforme se
observa nos exemplos abaixo, que não foram retirados do corpus utilizado na análise:
(1) É uma medida muito pr[e]cisa.
Ele não pr[i]cisa disso;
(2) Garçom, por favor uma p[o]rção de batatas fritas?
Vi uma p[u]rção de gente na festa de aniversário; e
(3) Silêncio, porque vai começar o jogo do f[o]gão.
Mulher tem mais é que pilotar o f[u]gão de casa.
Nos primeiros exemplos de cada par, é rara a ocorrência do alteamento, tendo-se
quase sempre a manifestação da vogal média; nos segundos exemplos, é comum que o
processo se realize, por tratar-se de usos mais frequentes e utilizados em contextos
menos formais. Observe-se que, no segundo par se pode falar em maior coloquialidade
quando utilizada a variante alteada, mas há também uma extensão de sentido: a
realização que remete à quantidade de determinado alimento, derivado do latim portio,
estende seu sentido para remeter à quantidade de gente em dado local, sentido que é
considerado brasileirismo pelos dicionários da língua portuguesa. Nos demais pares,
não parece se tratar especificamente desse aspecto de formalidade ou coloquialidade,
visto que não parecem tão marcados.
No primeiro par, que considera o verbo precisar, no sentido de necessitar, e o
adjetivo preciso, que tem sentido de fundamentado ou correto, a especialização
semântica se dá em virtude de o verbo, como comprovam os resultados estatísticos de
inúmeras pesquisas, serem mais suscetíveis ao alteamento do que os nomes. No terceiro
par, por sua vez, estão em jogo aspectos de formação de palavras: enquanto a realização
que remete ao eletrodoméstico é formada por extensão de sentido do aumentativo de
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fogo, tornando-se assim mais vulnerável ao alteamento, a realização que remete ao time
de futebol é formada pelo truncamento da forma composta Botafogo, o que faz com que
o alteamento seja bloqueado.
No que diz respeito ao processo de alteamento, embora o foco das análises
geralmente empreendidas esteja fundamentado na abordagem neogramática, dando-se
prioridade à pesquisa dos contextos fonéticos que favorecem ou desfavorecem a
aplicação do processo, é comum verificar que existe, como assim o nomeia Viegas
(2001), um resíduo de aplicação da regra: “itens que possuem contexto e, portanto,
poderiam ser atingidos pela regra e não o são, e itens que não possuem contexto e,
apesar disso, alçam”. Para a autora, esse mencionado resíduo de aplicação da regra não
estaria previsto no modelo neogramático, motivo principal para que se opte por uma
análise de orientação difusionista.
O modelo difusionista explica melhor a realidade do que o modelo
neogramático, pois admite a postulação de regras com um efeito
neogramático para alguns tipos de mudanças (para as que os fundadores do
modelo neogramático chamavam de mudança sonora, aquelas bem regulares)
e, além disso, abrange outros tipos de mudanças (aquelas que os
neogramáticos chamavam de mudanças esporádicas, não favorecidas por
fatos fonéticos apenas). As “exceções” não são exceções no modelo
difusionista pois, sendo lexical a implementação da mudança, espera-se que
os itens todos não tenham exatamente o mesmo “comportamento”. O modelo
difusionista descreve melhor o processo porque permite fazer uma análise
condizente com as realidades históricas e sociais das comunidades de fala, ou
seja, de acordo com a produção, o uso do item e sua valoração social
(VIEGAS, 2001, p. 210).
Oliveira (1991, p. 100) afirma que o contexto fonético não garante que o
processo de alteamento se aplique ou não aos itens sob análise, o que corrobora
comparando listas de vocábulos que apresentam o mesmo contexto fonético, mas uns se
realizam categoricamente pela vogal médio-alta [e, o] e outros concretizam a vogal alta
[i, u]: meninge vs. menino, medita vs. medida, semente vs. semestre, comício vs.
comida, pomar vs. pomada, forminha vs. formiga.
Para Oliveira (1991, p. 99), o alteamento das vogais médias pretônicas é um
processo de natureza difusionista, o que se justificaria pelo fato de haver (a) casos em
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que o contexto fonético favorecedor está presente e, mesmo assim, não ocorre o
alteamento; e (b) casos em que o contexto fonético desfavorece o processo, mas ele se
aplica. Além disso, há ainda casos em que o alteamento se aplica variavelmente, em
uma mesma palavra, a despeito de haver ou não um contexto fonético favorecedor. Para
esses últimos casos, Viegas (2003, p. 308) afirma que “o item alçado é aquele cujo uso
normalmente é feito em situações mais familiares ou menos prestigiadas”.
Nas formas em que a vogal média está em oposição distintiva em relação à
vogal alta, aqueles itens que têm um uso considerado menos prestigiado
socialmente alçam (purção, com significado de “muita quantidade”, traz o
rótulo brasileirismo em dicionários) e aqueles cujo uso é socialmente
considerado mais prestigiado não alçam (Peru é inclusive escrito com letra
maiúscula e porção é usado, normalmente, em restaurantes, mas não é usual
em casa, no dia-a-dia).
Houaiss (1958 apud BORTONI, GOMES & MALVAR, 1992, p. 13) faz
referência a uma “restauração erudita, a qual, por via ortográfica, estaria preservando as
vogais médias”. Segundo o autor, incluem-se na análise do processo de alteamento os
fatores frequência e estilo: as palavras comuns estão mais sujeitas à elevação do que
palavras raras, e o processo é mais frequente em estilo coloquial do que em estilos
formais. Para Viegas (2001, p. 204), “o item alçado é relacionado ao desprestígio”, ao
passo que “o não-alçamento do item” é relacionado “ao prestígio do seu uso”.
A autora distingue dois tipos de itens: os itens aprendidos ou transmitidos, que
são passados de geração a geração no meio familiar, e os itens adquiridos, que são
adicionados mais tardiamente ao léxico do falante. Desse modo, os primeiros itens a
serem alçados são exatamente os transmitidos de geração a geração, itens mais
populares e utilizados frequentemente no dia-a-dia:
As primeiras vítimas do alteamento não foram itens com sentido pejorativo,
pois esta marcação veio com a utilização de determinada forma alçada por
determinado grupo social pouco prestigiado, ou seja, com o processo já
iniciado e com o “confronto” com os novos itens tomados por empréstimo,
mais eruditos, e com as situações menos familiares (VIEGAS, 2001, p. 211).
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O alteamento se iniciou nos itens aprendidos, populares, cotidianos, menos
marcados; posteriormente, adquiriu certo grau de estigma social e o processo
passou a atuar nos itens mais pejorativos, palavrões, itens jocosos, irônicos
(VIEGAS, 2003, p. 316).
Em sua pesquisa, Viegas (2001) atestou que, entre pares de homônimos, como
concerto vs. cunserto, porção vs. purção, Senhor vs. sinhor, cobertura vs. cubertura, o
alçamento se relaciona ao desprestígio do item ou à “intimidade” do informante com
ele. Esse aspecto é tão sistemático que mesmo um informante analfabeto – que,
portanto, não se valia de recursos gráficos como a utilização de letras maiúsculas – era
capaz de distinguir os itens de significado mais prestigiados daqueles menos
prestigiados unicamente pelo processo de alteamento. Tal sistematicidade só é afetada
“quando a relação de prestígio/desprestígio dos itens não é muito nítida” (VIEGAS,
2001, p. 205), o que faz com que se troque um vocábulo pelo outro com mais facilidade:
comprimento é utilizado com o significado de aceno, e cumprimento com o significado
de extensão; dispensa é utilizado com significado de local em que se armazenam
mantimentos, e despensa é utilizado como isenção.
Conhecido como especialização semântica, esse processo consiste em reservar
cada variante para a expressão de um sentido particular, o que corrobora a afirmação de
Labov (2008, p. 290) de que “os falantes não aceitam de imediato o fato de que duas
expressões diferentes realmente „têm o mesmo significado‟ e existe uma forte tendência
a atribuir diferentes significados a elas”. Para Cristófaro-Silva (2001), “o falante faz
escolhas lexicais específicas em situações específicas”.
Os itens, quando usados de maneira depreciativa, alçam mais facilmente (“o
purtuga ali da esquina”) e, dependendo do momento da enunciação, itens que
normalmente não são alçados podem ocorrer alçados quando se quer dar um
sentido zombeteiro, jocoso (VIEGAS, 2001, p. 213)
Sendo assim, a abordagem lexical do processo de alteamento preocupa-se não só
em definir quais teriam sido os itens primeiramente atingidos, mas principalmente em
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avaliar as possíveis especializações semânticas decorrentes da preferência por uma ou
por outra variante.
3 Procedimentos metodológicos da análise lexical
Nesta etapa da pesquisa, expõem-se os casos de especialização semântica,
processo pelo qual se reserva uma variante para a expressão de cada sentido particular.
Busca-se observar se os itens entre os quais foi identificada a especialização obedecem
à teoria proposta por Viegas (2001), que prevê que
aqueles itens que têm um uso considerado menos prestigiado socialmente
alçam (purção, com significado de “muita quantidade”, traz o rótulo
brasileirismo em dicionários) e aqueles cujo uso é socialmente considerado
mais prestigiado não alçam (Peru é inclusive escrito com letra maiúscula e
porção é usado, normalmente, em restaurantes, mas não é usual em casa, no
dia-a-dia).
No corpus sob análise, puderam-se verificar quatro casos de especialização
semântica:
a) A gente adianta o serviço [e] na parte da manhã [3ª faixa etária, nível fundamental de
escolaridade, sexo feminino].
b) Estava no serviço [i] público, a prioridade é o paciente [3ª faixa etária, nível médio de
escolaridade, sexo feminino].
c) Eu sou horrível em p[o]rtuguês, gente, eu não decoro nada [1ª faixa etária, nível superior de
escolaridade, sexo masculino].
d) Insuflou os católicos, os p[u]rtugueses a matarem os indígenas [3ª faixa etária, nível superior de
escolaridade, sexo masculino].
e) Tem também o s[i]gurança dela ali [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo
feminino].
f)
Não vai ver nenhuma s[e]gurança [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo
feminino].
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g) Tem uma s[i]gurança no trabalho [3ª faixa etária, nível médio de escolaridade, sexo feminino].
h) Na parte do s[i]ntido da palavra [1ª faixa etária, nível fundamental de escolaridade, sexo
masculino].
i)
Se vocês forem no s[e]ntido de Nova Iguaçu [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo
masculino].
A análise não será fundamentada em termos de quais são os itens primeiramente
atingidos e do porquê de o serem em detrimento de outros, mas se pautará na teoria de
Viegas (2001), que afirma que, considerado o mesmo item vocabular, a expressão de
significados jocosos, depreciativos ou menos prestigiados é realizada por meio do
processo de alteamento, enquanto a expressão de sentidos mais valorizados ou
prestigiados é realizada pelo não-alteamento.
4 Especialização Semântica
Viegas (1987) afirma, com base em Malkiel (1967), que “cada palavra tem sua
própria história”, informação que evidencia por formas como p[o]rção e p[u]rção,
P[e]ru e p[i]ru, nas quais “o conteúdo semântico parece estar influenciando o
alçamento ou o não alçamento” (p. 7). Segundo a autora (2001, p. 23-4),
O processo de alteamento poderia ter se iniciado nos itens mais ordinários, do
dia-a-dia, mais populares [...], constituindo um processo de harmonização
vocálica com a vogal alta seguinte [...] que se implementou de maneira
gradual através do léxico. Adquiriu o alçamento um desprestígio, associado
ao desprestígio dos grupos sociais que o adotaram, e esse desprestígio se
reflete hoje, por exemplo, no alçamento de itens como p[i]ru (X Peru);
c[u]nserto (X concerto); p[u]rção (X porção) (p. 23-4).
Dentre os dados coletados em Nova Iguaçu, observa-se que serviço apresenta
duas acepções diversas – uma que diz respeito ao serviço público; outra que generaliza
o significado de trabalho, conforme se observa abaixo:
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j)
A gente adianta o serviço [e] na parte da manhã [3ª faixa etária, nível fundamental de
escolaridade, sexo feminino].
k) Começo a fazer o serviço [e] de novo [3ª faixa etária, nível fundamental de escolaridade, sexo
feminino].
l)
A gente prestava serviço [e] para a Light [3ª faixa etária, nível médio de escolaridade, sexo
masculino].
m) Estava no serviço [i] público, a prioridade é o paciente [3ª faixa etária, nível médio de
escolaridade, sexo feminino].
n) Acha que o serviço [i] público também é como se fosse assim, você ter aquela moleza [3ª faixa
etária, nível médio de escolaridade, sexo feminino].
o) Tem que recorrer a serviços [e] públicos mesmo [2ª faixa etária, nível médio de escolaridade,
sexo masculino].
Os exemplos indicam que, quando o item vocabular apresenta um significado
mais genérico como o de trabalho, mais prestigiado socialmente, o não alteamento é
categórico. Por outro lado, quando o item apresenta o significado mais específico,
voltado para o funcionalismo público, setor pouco valorizado no país e muito criticado
devido à burocracia que lhe é característica, encontra-se uma variação entre o
alteamento e o não alteamento.
Outro caso interessante de especialização semântica é o do vocábulo segurança,
que, no corpus de Nova Iguaçu, apresenta nuances de significado dependendo da
variante utilizada. Nos dados abaixo, observa-se que, quando o vocábulo remete ao
significado de estabilidade profissional, assim como quando remete à profissão de
segurança pessoal, o alteamento se processa nos itens. No entanto, em nenhum dos dois
casos se pode dizer que se trate de itens menos valorizados, já que (i) a estabilidade
profissional é almejada por todos as pessoas que se encontram no mercado de trabalho,
ainda que esteja atrelada, na maioria das vezes, a um serviço público, que pode não ser
tão suficientemente remunerado; e (ii) só possuem seguranças as pessoas mais
abastadas, ainda que a profissão possa não ser tão valorizada socialmente.
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p) Tem também o s[i]gurança dela ali [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo
feminino].
q) Tem uma s[i]gurança no trabalho [3ª faixa etária, nível médio de escolaridade, sexo feminino].
r)
Eu passo pra essas fichas individuais, que são uma s[e]gurança, acabam sendo uma s[e]gurança
a mais [3ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo feminino]
s)
Não vai ver nenhuma s[e]gurança [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo
feminino].
Quando o vocábulo se refere a alguma função específica de sua profissão, o
informante prefere a variante média à alteada, visto que tende a valorizar o seu serviço,
como forma de fazê-lo bem visto e de ressaltar a importância do mesmo aos olhos de
seu interlocutor. Assim também acontece quando o vocábulo remete ao policiamento,
visto que o informante parece querer indicar a importância de tal serviço público para o
controle da violência na cidade.
Por último, entre as vogais anteriores, vê-se o caso de sentido. Estudos
(OLIVEIRA, 1991; VIEGAS, 2001) revelam que, quando se refere ao significado de
uma palavra, o vocábulo tende a se realizar pela variante alteada; quando, no entanto, se
refere a um imperativo militar, tende a se manifestar a variante média. Na presente
pesquisa, verificou-se que, quando se refere ao significado da palavra, realmente se
processa o alteamento, ao passo que há preferência pelo não-alteamento para expressar
a noção de direção.
t)
Na parte do s[i]ntido da palavra [1ª faixa etária, nível fundamental de escolaridade, sexo
masculino].
u) Se vocês forem no s[e]ntido de Nova Iguaçu [1ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo
masculino].
Entre as posteriores também se puderam observar alguns casos de especialização
semântica. Nem sempre as formas em que a vogal média está em oposição distintiva em
relação à vogal alta apareceram diretamente no corpus, mas as características
apresentadas permitem inferir a ocorrência desse processo. Verifica-se que, tal como
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porção, segundo os mais variados trabalhos desenvolvidos (VIEGAS, 1987;
OLIVEIRA, 1991), português apresenta duas acepções distintas – uma que diz respeito
à língua pátria dos falantes brasileiros; outra, referente a pessoas nascidas em Portugal.
A esses diferentes significados, relacionam-se diferentes realizações fonéticas,
conforme se observa nos exemplos abaixo:
v) A zona sul tem uma p[u]rção de gente, de bons empregos [3ª faixa etária, nível superior de
escolaridade, sexo masculino].
w) Vai conhecer uma p[u]rção de gente que teve o mesmo problema que você [3ª faixa etária, nível
superior de escolaridade, sexo masculino].
Embora não haja exemplos do item porção utilizado para indicar quantidade,
considerado mais prestigiado socialmente por ser utilizado em ambientes formais, como
restaurantes, percebe-se que o alteamento, como afirma Viegas (2001), está relacionado
ao desprestígio do item que traz, em seu verbete nos dicionários, o rótulo de
brasileirismo.
x) Eu acho que o brasileiro fala o p[o]rtuguês melhor [3ª faixa etária, nível fundamental de
escolaridade, sexo masculino].
y) Eu sou horrível em p[o]rtuguês, gente, eu não decoro nada [1ª faixa etária, nível superior de
escolaridade, sexo masculino].
z) Insuflou os católicos, os p[u]rtugueses a matarem os indígenas [3ª faixa etária, nível superior de
escolaridade, sexo masculino].
A) Eu tenho um vizinho que é p[o]rtuguês também [1ª faixa etária, nível fundamental de
escolaridade, sexo masculino].
B) Tudo que antes vinha da cultura greco-romana passou para a cultura p[u]rtuguesa por causa do
neolatinismo [3ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo masculino].
Conforme indicam os exemplos acima, quando o item lexical remete a algo mais
prestigiado socialmente, como a língua-mãe do povo brasileiro, o não-alteamento é
categórico. Por outro lado, quando se refere ao povo ou às características de Portugal,
geralmente tratados de maneira jocosa e mesmo depreciativa, encontra-se uma variação
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entre o alteamento e o não-alteamento da pretônica. Acredita-se, ainda, que pode haver,
no caso do significado que remete ao povo português, uma estereotipação de sua norma
de fala, assim como acontece entre os brasileiros, que procedem à abertura das vogais
pretônicas quando decidem imitar a fala dos nordestinos. Segundo Viegas (2001: 213),
“se são itens vulgares, chulos, jocosos, depreciativos, zombeteiros, menos prestigiados,
alçam mais facilmente; se mais valorizados, prestigiados, não alçam”. Assim é que
mesmo Portugal, contrariando a hipótese de Oliveira (1991) de que nomes próprios
tendem a inibir a variação, sofre alteamento quando o contexto envolve certa
jocosidade:
C) Se P[u]rtugal fala de um jeito, se Angola fala do jeito deles, parabéns para eles! Que continuem
falando, porque senão não vou nem visitar [3ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo
masculino].
D) Se eu chegar em P[u]rtugal e entrar numa fila e o cara diz que eu tô numa bicha, porque fila lá é
bicha [3ª faixa etária, nível superior de escolaridade, sexo masculino].
Como se pôde notar, a maioria dos casos de especialização semântica se
realizou entre as pretônicas travadas por /R/. Considerando-se que há poucas palavras
com o rótico em posição de travamento silábico e que geralmente ficam restritas a
campos semânticos mais específicos, acredita-se que sejam mais suscetíveis a certo
estigma social e, por isso, estejam igualmente mais vulneráveis à tendência dos falantes,
apontada por Labov (2008: 290), de atribuírem diferentes significados a duas
expressões diferentes.
Conclusão
Com base na hipótese de Viegas (2003), que afirma que o alteamento está
relacionado ao desprestígio do significado veiculado, a análise lexical aqui empreendida
procurou investigar os quatro casos de especialização semântica encontrados no corpus
de Nova Iguaçu: serviço, segurança, sentido e português. Embora haja poucos dados, o
que impede que se postule categoricamente a existência de uma especialização
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semântica, apresentam-se indícios de que, também no Município de Nova Iguaçu, o
conteúdo semântico parece influenciar a aplicação do processo de alteamento. Os fatos
indicaram que, quando o significado veiculado pelo item é menos prestigiado
socialmente, o alteamento tende a ocorrer, ao passo que a expressão de significados
mais valorizados se dá sistematicamente pela manutenção da vogal média.
Dos quatro casos de especialização, dois – serviço e português – se deram com
pretônicas travadas por rótico /R/, contexto que apresentou menor produtividade de
alteamento em todo o corpus considerado. Levando-se em consideração o fato de haver
poucas palavras com o rótico, geralmente restritas a campos semânticos específicos, a
hipótese aventada é a de que seriam mais suscetíveis à estigmatização e, por isso,
estariam mais vulneráveis à tendência de atribuir diferentes significados a duas formas
distintas de expressão.
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Aprovado Para Publicação em 26 de novembro de 2014.
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